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AULA 1 - TÉCNICAS DE ORATÓRIA

Senhoras e senhores, sejam muito bem-vindos ao nosso curso de Oratória


Criativa. É a nossa primeira aula. Em regra, o curso de oratória é gravado por mim
em pé. Isso confere maior dinamicidade, maior persuasão, porque em pé você é
mais dinâmico. No entanto, preferi fazer essa aula sentado por um simples
motivo: eu quero aproximar o curso à realidade da maioria de vocês e a maior
parte do tempo vocês vão precisar articular sentados, seja na reunião de
escritório, seja em família, seja na sua comunidade, de alguma forma.

Pode ser na mesa de casa, de um jantar, de um restaurante, até mesmo na


mesa de um bar. São oportunidades que você pode conversar, explicar e
convencer alguém.

É por isso que nós vamos tratar assim a nossa aula inaugural. Ela é uma
aula sobre técnicas de oratória. Como é que eu faço para melhorar a minha
técnica de oratória? Como é que eu faço para melhorar a minha oratória?

Quando falo em oratória, eu estou falando da capacidade de convencer, de


ser compreendido, de ser ouvido, de convencer alguém como se fosse um
degrau. Primeiro, você tem que conseguir ser ouvido, (muitas vezes, você não
consegue sequer ser ouvido). Segundo ponto, um segundo degrau você precisa
ser compreendido. Já o terceiro degrau é você convencer a pessoa.

Você tem que ser bom o suficiente para ser ouvido, sendo ouvido. Você tem
que ser bom o suficiente para ser compreendido e, sendo compreendido, a sua
ideia tem que ser boa o suficiente para que ela seja acatada. Então, são três níveis.
Muita gente não consegue nem ser ouvida. Falta habilidade para que seja
ouvida. Por que você não é ouvido? Porque, às vezes, você erra o lugar e o
momento.

Por exemplo, eu preciso conversar com o João. Eu vou me dirigir ao João.


Vou ao trabalho do João tratar de uma questão particular. Será que João vai me
ouvir? Não! Eu errei o lugar. Então, muitas vezes, as pessoas abordam as outras
pessoas no lugar inadequado, às vezes no trabalho, na igreja ou em casa para falar
do trabalho.

Então, você tem que descobrir qual o local ideal para você conversar com
essa pessoa. Nem sempre há lugar ideal e aí você vai trabalhar com aquilo que
você tem em mãos.

Em outras situações, deve-se prestar atenção à questão do momento. Você


chegou e percebeu que o João está com pressa ou está estressado por algum
motivo. Ele pode até estar resolvendo um problema.

Se o João está saindo de casa ou está saindo do trabalho, não é o


momento, pois você tenta falar e não é ouvido. O lugar poderia até ser apropriado,
mas em outro momento. Às vezes, você erra o lugar. Às vezes, você erra no
momento.

Se você consegue corrigir o lugar e o momento, então você será ouvido.


Quando você consegue ser ouvido, a pessoa destina tempo a você. Eu quero que
você tenha o cuidado de respeitar esse tempo, pois geralmente não temos esse
cuidado.

Imagine que você vai falar, por 1h, para uma plateia de 100 pessoas. Isso
significa que você está subtraindo ou se valendo de 101 horas de vida, 01h sua e
01h de cada uma das 100 pessoas, 101 horas de vida que estão sendo destinadas à
sua fala.

Agora, você precisa ser compreendido. Ser compreendido significa falar de


uma maneira que o seu ouvinte consiga entender. Parece bobagem, mas não é.
Já reparou que, às vezes, você vai para uma palestra que você não consegue
compreender o que essa pessoa está dizendo? Imagine você que em vez de
português, eu estivesse falando russo e você não compreende o russo, ou que eu
estivesse falando em árabe e você não compreende árabe.

Eu poderia dar a você as informações mais importantes da sua vida.


Suponhamos que eu fosse um profeta, alguém que sabe o que vai acontecer com
a sua vida nos próximos cinco anos e que eu dissesse tudo isso a você. Você
ouviria, mas se eu dissesse tudo isso em mandarim, você não compreenderia
nada. Eu fui ouvido, mas eu não fui compreendido.
É claro que, em regra, as pessoas falam na língua corrente, ou seja, a gente
vai empregar o português porque nós estamos no Brasil ou somos brasileiros fora
do Brasil e estamos falando com outros brasileiros. É normal que isso aconteça. Só
que muitas vezes o diálogo peca pela falta de simplicidade ou de direção de
comunicação assertiva na fala.

É preciso ter esse cuidado. Às vezes você vai ao médico e o médico vai
explicar a você o que você tem e você não entende nada do que ele falou. Ou você
vai ao advogado e ele emprega um juridiquês. As pessoas que não são do Direito
têm uma compreensão vaga do que você está dizendo, pois essa é uma
linguagem natural para o advogado, para o bacharel em direito, para o juiz. Não é
uma linguagem com a qual está acostumada a pessoa que nunca ingressou em
uma faculdade de Direito. Eu quero que você seja compreendido.

Eu falo isso porque muitos dos meus alunos aqui resolveram produzir
conteúdo na internet, pois perceberam que a internet é uma espécie de vitrine
para o mundo. Então, não importa se você é advogado, você é dentista, se você é
nutricionista, se você é médico, se você é empreendedor, você vai ter que mostrar
o seu trabalho, o seu produto, seu serviço ali no meio digital.

Quando você está falando para um número de pessoas incontável,


digamos assim, o mundo inteiro pode assistir aquilo que você é, aquilo que você
grava. Você precisa ser facilmente compreendido, empregar uma linguagem mais
simples, mais tranquila (não menos profunda, mas tem que ser compreendido).

A próxima etapa é ser convincente. Como é que você é convincente? Aí


você vai aplicar técnicas de oratória. Você tem que ter uma firme crença na sua
fala. Você tem que trabalhar com a verdade. Você percebe isso muito claramente
no discurso de Churchill.

Primeiro, como é que eu vou trabalhar a minha oratória? Primeira


orientação é praticar em casa, gente. A gente precisa aprender a treinar em casa.

Não há vergonha alguma, não há problema algum. Aos poucos a gente


precisa sair da nossa zona de conforto. Eu sei, parece ridículo que você fale ou
repita ou se filme em casa. Bom, eu gosto de sentar na mesa de jantar, abro o
celular e dou uma aula para mim mesmo. Isso mesmo. Talvez você seja um
endocrinologista que precisa dar uma aula para os alunos. Então, nesse caso, você
vai dar uma aula, em primeiro lugar, para si mesmo.

Essa prática em casa é importante por diversos motivos. Primeiro, contribui


para a sua melhor compreensão do tema. Muda porque uma coisa é você saber o
que tem a dizer. Outra coisa é você dizer e ter experiência da fala. Às vezes, a
gente fala bem, aliás, a gente sabe o que tem que falar, mas na hora de falar,
travamos. Isso nunca aconteceu com você? Você sabe o que tem a dizer, mas na
hora trava. Não fala muito bem, parece que fala com insegurança ou há falta do
vernáculo mesmo. Você não tem o domínio do idioma.

Por isso, enfatizo a importância da leitura de boas obras. Vale muito a pena
ler a obra poética de Fernando Pessoa, pois isso aumenta o seu vocabulário.
Quando você pratica em casa, você percebe que o seu vocabulário vai bem ou
que o seu vocabulário não está bom.

Eu quero que este curso tenha um caráter eminentemente prático, pois


não quero ensinar a você a teoria da oratória ou da eloquência, como escreve
Santo Agostinho em Confissões. Ele era professor de eloquência, primeiro em
Cartago, depois em Roma, depois em Milão.

Eu não quero ensinar a teoria, quero ensinar a prática. Eu quero que você
saia do curso com essa transformação prática. Esse é o sentido do curso e essa é a
nossa pretensão.

Assim, eu tenho alguns desafios para vocês e vou ensiná-los. O primeiro


deles é essa prática em casa. Eu quero que você em casa pegue e se sente em
frente à mesa. Eu sei que eu vou recomendar que você grave o seu vídeo. Tudo
bem grave. Pegue o celular e coloque na sua frente. Você pode fazer de duas
formas: uma se olhando, porque aí você coloca o celular na sua frente se filmando
e você está se vendo ali. Quando você faz isso, você tem praticamente a
experiência do espelho. Você está se movimentando, articulando e, ao mesmo
tempo, você está se vendo. Depois, quando você for assistir, você já terá um pouco
mais de noção do que você fez. Essa é uma experiência muito parecida com a
experiência do espelho de falar em frente ao espelho, de articular em frente ao
espelho.

Depois eu quero que você vire (para não se ver enquanto fala). Aqui, você
pode gravar um discurso, um discurso seu sobre um tema que é importante para
você. Pode ser um tema sensível a você.

Eu também não quero que você fale sobre trivialidades. Talvez você
comece assim: “Como foi seu dia? Para onde você foi? Como foi seu trabalho?”
Eu quero que você trate de um assunto sensível à sua pessoa. Por que eu estou
dizendo isso? Porque neste momento você estará sozinho e a gente tem que ter
coragem de conversar com a gente mesmo sobre assuntos sensíveis..

Tudo bem? Depois, se você quiser, você apaga! Então, você pode falar de
um desejo que você tem um sonho, que você tem algo que você não costuma
revelar a ninguém. Você pode falar sobre um episódio que foi marcante na sua
vida. Um episódio que foi triste. Talvez um episódio que tenha sido traumático até.

Eu quero que você seja capaz de explicitar e de falar sobre assuntos


sensíveis e difíceis, pois quando somos capazes de falar de um assunto que é
importante, que é sensível, que marca a minha história, eu rompo essa barreira.
No entanto, quando eu vou tratar de um assunto mais simples ou sobre
trivialidades da vida, eu consigo falar de uma forma mais natural, mais confortável
e melhor. Então, este é um primeiro desafio.

Eu quero que você se grave, mas eu quero que você se grave sentado,
primeiro. Depois, você pode até se gravar em pé, mas sentado, como eu disse a
você, a gente vai ter aqui a oportunidade de convencer pessoas, na maior parte
das vezes sentados. Então, a gente tem que treinar assim.

Superado esse primeiro desafio, eu quero que você assista ao vídeo. Pode
ser a parte que você se vê, pode ser a parte que você não se vê. Assista as duas
partes e depois veja o que você tem que mudar. Lembre-se de que todos nós
temos alguns vícios, tais como vícios de linguagem, vícios de comportamento de
outra natureza. Então, em vícios de linguagem você pode usar palavras em
repetições como “entende”? Pelé fazia muito isso, “entende”?

Isso é um vício de linguagem, compreende? “Entende”? “Tipo”, “tipo” “tipo


assim”. Ao analisar o seu discurso, você vai perceber que há vícios de linguagem.
Esses vícios devem ser eliminados.

Há outros vícios que não são tão somente vícios de linguagem, são de
outra natureza, por exemplo, ficar coçando a cabeça, passando a mão no cabelo,
passando a mão na boca, passando a mão no rosto enquanto fala. Esse vício
começa a incomodar a pessoa que está me ouvindo.

A consequência disso é que o meu traço de comportamento ou o meu


vício de linguagem passa a chamar mais atenção da pessoa do que propriamente
a minha própria fala.

Assista ao vídeo e, em seguida, corrija as suas falas.

Bom, esse é o primeiro desafio. Vamos ao segundo. A ideia do curso é tirar


você da zona de conforto. Eu quero que você pense na sua rotina, onde você
trabalha, que lugares você frequenta ou não frequenta mais? Pode ir. Pense na
padaria, no supermercado, na academia, no seu trabalho, se ele for presencial, na
biblioteca, se você estuda na igreja, se você frequenta, são locais de convivência
pública. Concorda comigo? Sim.

O que eu quero que você faça? Eu quero que você. Faça o que os
psicólogos chamam de dessensibilização sistemática. Então não adianta eu
colocar você para falar de uma forma persuasiva para 5.000 pessoas. Você vai ficar
parado, aquilo vai te travar, vai faltar para você naturalidade. Talvez lhe faltem
ideias. Você ficará constrangido, envergonhado, sem palavras. Isso vai ser
traumático. Eu não posso pegar um aluno que revela a mim que tem timidez e
colocá-lo desde já para palestrar para 5.000 pessoas como se isso lhe fosse natural,
ou como se essa experiência pudesse romper toda e qualquer timidez que nele
há. Na maioria das vezes, uma postura tão abrupta assim pode ser traumática ao
ponto da pessoa não repetir a experiência.

Então, o que eu quero que você faça? Eu quero que você tenha o desafio
de conversar, de puxar um assunto com quem você nunca conversou. Não é
simples. Parece simples. Você vai ao supermercado na hora do caixa, de pagar,
você vai perguntar: “Como é que está o movimento hoje? Está tudo bem? Nossa,
eu comprei isso aqui. Isso aqui vende muito, porque eu adoro isso. Nossa, como
subiu o arroz ou como abaixou a carne?”

Enfim, puxe um papo, faça o mesmo com a mulher ou com o homem que
atende na padaria. Faça o mesmo com o motorista do Uber: “Está quanto tempo
no Uber você gosta? Como é que está sendo sua experiência?” Faça o mesmo na
igreja, na saída da igreja, veja se você encontra alguém, se você desce na escada
com alguém, se você fica um pouco mais de tempo, então você caminha com
uma pessoa do seu lado e aí você pode conversar sobre como a pregação foi boa
hoje, né? “Amei a homilia, eu adoro esse louvor. Então como esse sujeito canta
bem”. Eu quero que você puxe esse papo, você vai ver. Mas esse papo vai durar
um minuto, pois é, mas imagine você fazer disso um hábito. Além de conhecer
pessoas que hoje você não conhece, porque numa dessas você começa a
conversar com alguém, a conversa flui, vocês estabelecem uma boa relação.

Isso faz muito bem a vocês e a você. Você vai começar a se sentir mais livre
para conversar com pessoas que você não conhece, para puxar o assunto, para
perguntar a respeito dela. A forma mais eficiente de ser uma pessoa simpática é
perguntando ao outro, é o ouvido do outro estando aberto ao outro. Eu quero que
você faça isso. Pode ser na igreja, na academia, na padaria, supermercado, no
Uber, onde você estiver.

Não perca a oportunidade de puxar uma conversa. Isso vai fazer com que
você tenha uma maior liberdade para falar com pessoas desconhecidas. Eu quero
que você faça isso e eu quero que você tenha o cuidado de começar a conversar
com um público cada vez maior. A gente vai começar com o público pequeno,
mas eu quero que você vá expandindo esse público.

Então, primeiro você vai começar a conversar com pessoas desconhecidas


e isso vai fazer com que você vá aos poucos se soltando, saber mais e isso vai
contribuir para a oratória. Você tem dúvidas porque muito da sua oratória é
prejudicado pela timidez, pelo medo, pela insegurança. Quando você fala, você vai
perdendo essa insegurança e superando essa timidez. Vai diminuir esse medo,
pois a sua fala vai se tornando uma fala com maior autoridade.

É tudo técnica. Intencionalmente, eu estou começando diálogos com


pessoas desconhecidas. Mas eu quero que você pense em grupos pequenos.
Quantos amigos você tem? Dois, três. Então, tá bom. Tenha a coragem de
defender suas ideias perante os três em um almoço de família. Que haja quatro
ou cinco, faça o mesmo. E mais do que isso, quando você sai com amigos, quando
você sai com a família. Quando você vai para uma experiência com um grupo que
você conhece, vira e mexe você tem alguém que está lá pela primeira vez. Ele é
um desconhecido. Ele é uma pessoa que, para você, inexistia até a data de ontem.
Eu quero que você fale diante deste grupo. Esta é uma terceira colocação que eu
quero fazer e não vou fazer como desafio, porque eu já lancei dois desafios, mas
eu quero que você tenha esse cuidado e entenda isso.

É tudo intencional. Você sabe por quê? Porque a vida vai te trazer
oportunidades que você não consegue prever neste momento. Em algum
momento você estará sentado em uma mesa e nesta mesa você terá que
conversar com uma pessoa desconhecida. Pode ser um cliente, pode ser um
investidor. Pode ser uma pessoa que você esteja interessado por qualquer motivo.
Neste momento, você tem que ter segurança na fala.

Quando eu tenho o costume de conversar com pessoas que eu não


conheço, quando eu tenho o costume de expandir o meu círculo social, esta fala
se torna mais natural. Então, eu espero de você esse comportamento. Esse é um
comportamento do qual você não pode abrir mão.

Expanda o seu horizonte. Fale com as pessoas. Comece com um grupo


pequeno e vá sempre aumentando este grupo. Como é que eu faço para ir
aumentando este grupo? Peça a palavra. Quantas vezes você teve a oportunidade
de fazer uma pergunta? Sala de aula, uma palestra em um evento, uma
assembleia de condomínio e você ficou calado? Mesmo tendo uma ideia, mesmo
tendo uma queixa, uma crítica, uma sugestão, você ficou calado? Por quê?
Porque você não havia se preparado para isso.

A primeira vez que você pedir a palavra, você vai ficar um pouco nervoso,
mas depois isso vai se tornar natural.

Quero destacar mais um ponto para você: Foque no conteúdo. O que você
fala é muito importante para a pessoa que ouve. Essa pessoa precisa do seu
conteúdo e só isso. Então, você está fazendo muito bem a ela. Ao dizer isso, eu
quero que você tenha este cuidado, combinado?

Você vai se gravar, com o celular virado para você, com o celular de costas e
você vai assistir. Você vai corrigir os seus vícios de linguagem e outros vícios. Você
vai perceber o seu discurso, a sua dificuldade, o seu vocabulário. Se for o caso,
você vai inserir a leitura de obras. Não é o caso para todas as pessoas. Eu quero
que você, como desafio, comece a conversar, puxar assunto com pessoas que
você não conhece, numa dessensibilização sistemática, e eu quero que você
comece a pedir a palavra diante de um público pequeno, porque aí você vai tendo
uma progressão continuada.
Eu quero que essa progressão, ainda que lenta, seja continuada. Então você
começa com três, depois com cinco, depois com sete, depois com 15. Isso vai
permitir que você se torne mais confortável diante de um público cada vez maior.

Bom, voltando aqui, o terceiro ponto de técnica de oratória é: estude e


prepare o que você vai falar, em tópicos. São duas coisas diferentes. Por exemplo,
eu vou fazer uma apresentação, então pode ser uma sustentação oral no tribunal
e eu vou defender o meu cliente ali na sustentação oral. Eu estudei o processo. Eu
sei do que se trata, eu sei em que folhas estão os documentos que são
importantes para mim. Qual foi a fala da testemunha? Qual foi a fala da vítima?
Eu conheço o caso. Só que isso é estudar o caso. O que significa que se eu for
inquirido a respeito do caso, eu saberei defendê-lo. Só que ali eu não vou ser
inquirido. Eu vou apresentar o caso e se eu vou apresentar o caso, eu não posso
me esquecer de falar de coisas importantes.

Então, eu vou preparar a minha sustentação. De que maneira? Com um


roteiro que vai ter tópicos e tão somente tópicos. Eu não quero que você leia. Dei
o exemplo do advogado, mas serve para qualquer reunião importante e para
qualquer palestra. Se eu não posso me esquecer de pontos importantes, eu tenho
que ter esses pontos importantes em um papel. Pode ser que eu não leve um
papel, se forem três pontos e recordo dos três. Não precisa do papel. São quatro
pontos. Eu sei quais são os quatro. São cinco pontos? São seis pontos? É
fundamental para você ter essa anotação.

Agora, preste atenção, eu estou falando de uma anotação tópica. Não é por
escrito. Não dá para você chegar a uma reunião ou a uma palestra e começar a ler.
É muito, muito, muito chato quando você está lendo. Pode ser sua sustentação
oral, pode ser sua palestra, pode ser uma apresentação no trabalho. É aquela
história de uma pessoa para fazer uma apresentação no PowerPoint e tudo que
ela está dizendo, está escrito no PowerPoint e vira e mexe ela olha para o
PowerPoint e fica lá lendo a aula que ela está ministrando.

O professor que fica só lendo o slide não é um bom professor porque você
sabe ler. A pessoa que fica na palestra só lendo o seu discurso ou lendo o
PowerPoint não é uma boa palestrante. Então, saber os tópicos são fundamentais
para eu não esquecer coisas importantes e fundamentais para o meu discurso.

Então, eu teria tópicos. Isso me tranquiliza para um eventual discurso.

O segundo ponto é que eu vou ensaiar isso em casa antes. Como eu já


disse, esse ensaio permite que eu tenha naturalidade. Agora, veja, ensaiar não é
decorar o seu discurso (não precisa ser decorado), porque tudo que tira a
naturalidade da sua fala compromete a sua oratória.

Então, às vezes, a pessoa ensaiou, ela se preparou, ela treinou, ela gravou o
que ela tem que falar. Quando ela começa o discurso, ela simplesmente está
reproduzindo a gravação. É como se você desse um play e aí o sujeito está
reproduzindo o que ele gravou. Isso tira dele a naturalidade, pois ele não
consegue nem acompanhar a emoção do palco, a emoção da plateia, a emoção
do ouvinte, a circunstância.

Pode acontecer de você ter preparado tópicos, roteiro para sua fala e você
estava esperando um ambiente formal, mas quando você chegou, as pessoas
estavam em um ambiente informal. Então, você pode falar dos mesmos
assuntos? Pode. Pode se valer dos mesmos tópicos? Pode. Mas você vai ter que
mudar o estilo da fala. Por quê? Porque ali o momento é de informalidade.

Então, eu preciso me adaptar. Quando eu gravo o discurso, quando ele se


torna robótico, a pessoa simplesmente não consegue prestar atenção no que eu
falo, porque a minha falta de autenticidade, a minha mecanicidade, ou seja, o
meu falar mecânico como se eu fosse uma máquina. Isso chama mais a atenção
do que o conteúdo do meu discurso. Tudo que tira a sua naturalidade
compromete a sua oratória.

Ainda que o meu discurso seja formal, vamos supor que você vá fazer um
discurso de formatura. Vamos supor que você vá fazer um discurso em um
congresso. Vamos supor que você vá fazer um discurso no parlamento. São
espaços de discurso formal. Isso significa que o emprego do vernáculo deve ser
adequado e o formal é o português formal. Se eu não sei, o português formal é
uma questão de estudo e de leitura. Por isso recomendo a leitura da obra poética
de Fernando Pessoa, 50 contos de Machado de Assis, discursos que marcaram a
história do mundo moderno.. Você vai perceber como essas pessoas se valem da
fala. Você precisa expandir o seu repertório, tanto do ponto de vista da riqueza do
vocabulário quanto da riqueza das citações.

É uma forma maravilhosa de começar a falar com o humor e espetacular


de encerrá-la com uma citação.

Então, você pode fazer humor. O melhor humor é o humor que eu faço
comigo mesmo, porque aí eu não ofendo ninguém e eu demonstro uma enorme
segurança na minha fala.

Uma maneira espetacular de encerrar é com uma citação e aí eu vou me


valer de Churchill, Margareth Thatcher. Eu vou me valer de um filósofo, eu vou me
valer de Machado de Assis, de Fernando Pessoa, de Eça de Queiroz, de Santo
Agostinho, de São Tomás de Aquino. Eu vou me valer de diferentes autores e eu
faço o encerramento. Agora, veja, eu estou diante de um discurso formal, mas eu
não vou perder a minha naturalidade. Não perca a sua naturalidade.

Quando você for falar, preste atenção em dois pontos: primeiro, postura
corporal, pois as pessoas devem reparar mais no conteúdo da sua fala do que na
sua posição. Além disso, a sua postura demonstra o tamanho da convicção que
você tem naquilo que você fala. Isso muda completamente o meu
comportamento. Eu vou falar com convicção e essa minha fala com convicção vai
prender as pessoas. A minha postura mostra a minha convicção. Veja que até a
linguagem corporal, como eu cerro os punhos, como eu falo, mostra que eu estou
convicto da minha fala.

É uma questão de postura. A sua postura deve revelar a sua crença na sua
palavra e não a sua postura. Além de descredibilizar a sua fala, chama mais a
atenção do que o seu conteúdo e isso de forma alguma não é bom.

Não seja prolixo. Como é que eu sei se eu estou sendo prolixo se eu não
estou sendo prolixo? Prolixo é um sujeito que faz do acessório principal ou que
explica reiteradas vezes a mesma coisa. Então, eu vou tocar o assunto, eu vou
fazer um discurso, eu vou conversar com você sobre o tema.

Já conheceu uma pessoa que é super educada, mas quando ela começa a
falar, você se cansa. Por quê? Porque essa pessoa é prolixa. Porque o prolixo cansa
e ele se torna chato. Porque ele faz do acessório o principal e explica a mesma
coisa reiteradamente. Então, eu vou dizer a você, por exemplo, que o mercado
brasileiro se expandiu ou experimentou uma expansão em razão do agro. A
pessoa explica que a expansão da economia brasileira se deve, em grande
medida, ao agro que cresceu tantos por cento, etc. Essa é a explicação para a
expansão da economia brasileira. Essa é uma informação que pode ser
interessante. Você não sabia. Estava sentado numa mesa de bar, numa mesa de
restaurante e a pessoa te explicou.

Agora, se ela começa a ir aos detalhes, então ela reiteradamente te explica


isso porque, por exemplo, a soja fez isso. Por exemplo, o boi é “XX”, por exemplo, o
milho é “X”. Por exemplo, no Tocantins foi assim, por exemplo, Mato Grosso assim
e assado, por exemplo, na Bahia, assim assim, assado. Bom, eu não quero uma
aula sobre o agro no Brasil. Esse cara está explicando a mesma coisa
reiteradamente e de forma aprofundada. Se existir interesse da minha parte, o
assunto era outro. Eu tenho que tomar cuidado para não explicar a mesma coisa
reiteradas vezes.

Às vezes, o professor faz isso em sala de aula, que é muito chato. Agora,
claro, se a aula é sobre a razão de o agro ter causado a expansão da economia
brasileira, essas informações são todas relevantes. Eu só preciso ter o cuidado de
saber se é adequada ou não essa explicação. Se ao fundo eu estou explicando a
mesma coisa reiteradas vezes e gerando desinteresse por parte das pessoas, ou se
na verdade eu estou aqui, o foco que é justamente para isso, para esse tipo de
aprofundamento.

A pessoa prolixa faz do acessório o principal. Então, por exemplo, eu


encontrei, eu me encontrei com você e eu gostaria de dizer a você que o preço da
carne abaixou. Então, eu digo a você: “Olha, ontem eu fui ao supermercado e o
preço da carne abaixou. Vale a pena você ir comprar”. Essa é a mensagem.
Então, você encontrou um vizinho. Ele chegou até você e disse isso

Agora, imagine você encontrar aquele vizinho que é prolixo no elevador. Ele
não diz “Eu fui ao supermercado. O preço da carne baixou. Vale a pena você ir”.
Ele diz assim: “Eu fui ao supermercado sabe, eu não tenho horário para ir. Eu só
consigo ir depois da “X”h, porque o horário que eu chego do trabalho … você sabe
que eu trabalho até às seis e aí para chegar em casa eu pego aquele semáforo
que fica fechado um tempão e aí quando libera, já está tudo engarrafado. Eu
fico parado. Eu cheguei aqui em casa porque eu tinha que trocar de roupa,
porque eu preciso trocar de roupa depois do trabalho. Até que eu subi, eu fui
trocar de roupa. Eu não encontrei minha roupa. Porque tinha mandado para a
lavanderia e tinha me esquecido de buscar. E aí eu tive que ficar procurando
roupa. E lá em casa eu tenho um guarda-roupa aqui e eu uso um outro quarto.
Tem um guarda-roupa no outro quarto. Então, eu fiquei procurando no outro
quarto até que eu achei, achei na segunda gaveta”. Aí, a pessoa não chegou ao
supermercado. Essa é uma pessoa prolixa, sabe?

Nós estamos cheios de palestrantes e de pessoas em trabalhos, em


comunidade ou em família que são pessoas prolixas. Qual é o problema? O prolixo
gera aversão. Quando você está diante de uma pessoa prolixa, você não suporta
conversar com ela. É desesperador. Por quê? Porque ela vai começar e você não
sabe como ela vai terminar. Você passa a cumprimentar a pessoa, despedindo,
pois você não quer correr o risco de ser o escolhido dela para aquela ocasião
chata. Se ela te puxar, acabou. Acabou o seu almoço. Ela dá 1 milhão de curvas e
ela é educada, mas ela é cansativa e não percebe quão inoportuna também é.

Pois é, às vezes, a pessoa cansativa, inoportuna e chata é você quando está


transformando o acessório em principal. Você pode estar explicando a mesma
coisa reiteradas vezes. Não seja prolixo!

Bom, quando você for fazer a sua fala, empregue o humor e isso o
aproxima do seu público. É uma boa técnica para você fazer discursos. Isso vale
para apresentações das mais variadas. Vale para apresentação em congressos,
para palestras.

Ainda que o ambiente seja formal, ele traz ou dá espaço a um humor


inteligente. Isso vai fazendo com que você se identifique com o seu orador ou
com o orador. Já assistiu a alguma palestra de pessoas que você pensou em
assistir a essa palestra novamente? “Eu preciso ouvir essa pessoa de novo. Foi
fantástico e foi fantástico pelo conteúdo”. Mas também foi fantástico porque ele
trouxe elementos de humor e à medida que ele vai trazendo elementos de
humor, isso vai fazendo você se prender.
Haverá uma aula sobre storytelling com Leandro Aguiari, neste curso. Ele
diz que um discurso ou faz você chorar, ou faz você rir, ou faz você ser impactado,
que é nossa conquista um tapa na cara.

Então, quando você fala para um público ou você tem que gerar uma
comoção, ou você tem que ser engraçado, ou você tem que ser muito persuasivo,
que é aquela ideia da informação que eu tiro cada frase da pessoa. Você consegue
combinar os três em uma apresentação. Faça uso dos três recursos do humor, da
emoção e da comunicação persuasiva, digamos assim, no seu discurso, na sua
apresentação, Insira e veja.

Essa é uma técnica de oratória. Por quê? Porque eu intencionalmente


estou inserindo isso no meu discurso. Então, eu terminei a apresentação do meu
trabalho e vou apresentar o meu trabalho. Eu terminei a palestra que eu vou
proferir. Esta é a palestra que eu vou fazer agora. Eu vou voltar à minha
apresentação e vou pensar como é que eu posso inserir elementos de humor
aqui, mas um humor inteligente. Como é que eu posso emocionar as pessoas
aqui? Como é que eu posso impactar as pessoas trazendo essa informação de um
jeito mais forte? E aí eu vou ajustando o meu discurso e isso fará com que a
minha palestra seja muito melhor. Agora, veja uma forma de você emocionar as
pessoas e se valendo de storytelling que não é simplesmente contar uma história,
é contar uma história com uma moral. Moral da história e isso vai ser transmitido
de forma inesquecível.

Qual é a mensagem que você quer passar? Em que ambiente isso ocorre?
Quem é a personagem? Qual é o conflito que ela vive? Então, eu vou contar uma
história. Isso é uma forma maravilhosa de você começar o discurso. Então, você
pode começar uma aula assim. Pode começar uma palestra assim. Você pode
começar a apresentação do seu trabalho assim. Você pode começar numa mesa
com desconhecidos assim. Você quer passar uma mensagem.

Imagine que uma mulher de 50 anos vem conversar com você e ela diz a
você “Ah, eu me sinto velha para começar a empreender agora, velha para
começar a estudar para concurso”. Agora, essas perguntas e esses sentimentos
eles sempre vêm aí em vez de você. Tente começar contando uma história.
“Conheci fulana que mora em Recife e que quer fazer direito. Aí você vai contar a
história dela como um todo. Essa mulher se divorcia no final da faculdade e ela
passa a ser responsável pela filha e pelo filho. Ela vai começar a trabalhar e
cuidar dos filhos. Mas ela tinha um sonho que era ser juíza. Ela já tinha 40 anos.
Ela sabia que não seria algo de curto prazo. Durante dez anos ela estuda sem
perder a qualidade de vida, sem perder contato com os filhos, sem perder o
trabalho, com as suas responsabilidades. E aí ela vai melhorando ano a ano e
ela conta isso. Ela passa numa primeira fase, depois de dois anos vai avançando,
vai melhorando as suas notas na segunda fase, até que ela passa na segunda
fase”.
Depois, vamos supor, estou criando uma história hipotética. Essa pessoa
que ouviu a sua história entendeu a mensagem. “Eu posso. Se eu começar agora,
eu posso”. Storytelling é uma forma de você prender a atenção de alguém
contando uma história, mas uma história com intencionalidade. Você tem uma
mensagem para passar e essa é uma técnica de oratória.

Eu vou fazer uma apresentação. Existe alguma história que eu possa contar
minha ou de alguém da minha família, de algum amigo ou de uma celebridade e
que vá ficar marcado na minha palestra, no meu discurso que vá prender a
atenção das pessoas? Existe. Então, eu farei uso dela. Eu sugiro que você tenha
esse cuidado, essa atenção e isso vai fazer enorme diferença.

Como técnica de oratória, eu vou sugerir a você mais um ponto. Assista a


outros palestrantes, Gente! Imagine o seguinte: que você deseje vender caro. Você
quer ser um vendedor de carros, um vendedor de apartamentos, um corretor de
imóveis. Enfim, uma coisa é você me dizer o seguinte: “Samer, eu quero ser
corretor de imóveis”. Imagine que eu pegue o melhor corretor de imóveis do
Brasil e eu diga para você o seguinte: “Você vai ser corretor de imóveis, mas eu
pedi ao melhor corretor de imóveis no Brasil que deixe você acompanhar por seis
meses”.

Então, você vai ser uma espécie de pupilo dele. Você vai com ele nas visitas,
você vai com ele no imóvel, você vai com ele nas reuniões com o cliente, você vai
ser uma espécie de braço direito dele durante seis meses. Depois de seis meses,
você vai começar a aprender sozinho o que vai acontecer com você. Esses seis
meses vão valer mais que qualquer universidade, do que qualquer curso teórico,
pois você terá aprendido na prática como vender imóveis, como se portar, como
se vestir, como falar, como abordar o cliente, como superar uma objeção, como
apresentar os pontos fortes daquele imóvel.

Se você for uma pessoa observadora, uma pessoa que toma notas de uma
pessoa que reflete, aquilo ali vai mudar a história da sua vida. Eu não tenho
dúvidas, concorda? Ótimo para palestras. Você tem essa condição e você não
precisa se limitar a um único palestrante. Você pode procurar assessoria. Pense
em dez palestrantes que você gosta

Pense em um que não seja brasileiro também, mas pense em brasileiros


também. Pense em atuais, pense em passado. O YouTube está aí com vídeos de
pessoas que já morreram e você vai encontrar trechos de discursos, de palavras,
de pregações, de homilias, de falas no parlamento e de sustentações orais. Tudo
isso você encontra no YouTube. O advogado encontra diversas sustentações orais
no YouTube, o médico vai encontrar o profissional de saúde, diversas palestras no
YouTube e não apenas de pessoas da sua área, mas de todas as áreas. Filósofos
falando, sociólogos falando, historiadores falando, psicólogos falando, gente que é
boa na arte de falar.
O terceiro desafio é que você, uma vez por semana, assista a uma palestra,
nem que seja 30 minutos de uma pessoa que você reputa ser um grande orador.
A sua qualidade de comunicação vai mudar completamente.

Eu quero deixar, então, esses três desafios para você na sala. Eu quero que
você se grave e que você se observe depois disso e que você supere os vícios
que apresentar. Eu quero que você puxe conversa com pessoas que você não
conhece em diferentes ambientes e faça isso reiteradamente, intencionalmente.
Por fim, quero que você destine um dia na semana para você assistir a 30
minutos de uma palestra de uma pessoa que você admira, que você ache que
seja um grande orador. Há milhares de opções dentro do YouTube e você vai
encontrá-las. Com isso, meus amigos, chegamos ao fim da nossa primeira aula. Eu
espero você na nossa próxima aula. Até lá.

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