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Técnicas de Oratória
Essa é a primeira aula. O nosso principal objetivo é fazer com que você faça
apresentações em público, em alto nível, seja no seu trabalho ou se você for
apresentar um projeto, um seminário, um congresso. Se você for fazer uma
palestra, se você for chamado a falar em formatura ou mesmo no seu aniversário,
eu quero que você consiga entender alguns princípios de oratória e que você
venha a aplicá-los no seu cotidiano.
Primeiro, quando você for fazer uma apresentação, prepare-se. Isso faz toda
a diferença, porque muito do que a gente sente, na hora de falar, vem do
nervosismo. Então, esse nervosismo fica claro e transparece para o nosso ouvinte
direito, o qual percebe que você está nervoso. Isso vai escalando, escalando,
escalando e, aí, acontece que você começa a ficar ainda mais nervoso e começa a
se esquecer do que falaria. Você começa a ter dificuldade na hora da expressão e
a pessoa que está ouvindo, percebe essa dificuldade. Isso vem muito da falta de
preparo.
Essa é uma saída para quando você não souber a resposta da pergunta,
mas o primeiro ponto é se preparar.
Você vai fazer uma apresentação sobre tudo o que você sabe sobre
Fernando Pessoa. Talvez você levasse um minuto para falar, ou talvez, você levasse
cinco minutos para falar, mas se eu lhe desse um dia para preparar a sua
apresentação, você faria uma apresentação de Fernando Pessoa muito mais
aprofundada. Você falaria dos heterônimos, falaria de Bernardo Soares, uma
espécie de semi-heterônimo, falaria de Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo
Reis. Você falaria da obra poética de Fernando Pessoa. Você falaria das
publicações em inglês, da sua vida, da sua história, da sua última morada ou
moradia em Lisboa. Você falaria do seu tempo na África e da importância que ele
tem para a literatura portuguesa e de língua portuguesa, de maneira a não
apenas se resumir a Portugal, mas a todos os países que empregam a língua
portuguesa e no mundo como um dos grandes símbolos da literatura.
Então, quando você estuda o tema, a maneira como você trata do assunto
é muito melhor e muito mais aprofundado. Isso torna a sua apresentação muito
mais convincente.
Prepare-se, pois improvisação é algo que nós fazemos quando nós não
temos outra opção. Quando nós temos opção, quando nós sabemos que nós nos
apresentaremos, é preciso se preparar.
Segundo ponto: faça tópicos. Porque, gente, existe uma coisa muito chata
em apresentações que é a seguinte: o sujeito vai para a apresentação ler e ele fica
lendo. Então, eu vou falar sobre um tema. Aí, eu vou falar, por exemplo, sobre o
Direito Penal Brasileiro, sobre a Teoria do Crime. Então, eu abro aqui o papel, me
preparei para a palestra. No momento da fala eu pego um papel e começo a ler:
“O conceito analítico de crime é composto, segundo a doutrina majoritária, por
três elementos - fato típico, ilícito e culpável. O fato típico, por sua vez, é
composto por conduta, resultado, nexo causal que liga a conduta ao resultado e
a tipicidade no tocante à tipicidade”. Calma aí, você está lendo! Ler a pessoa sabe.
Às vezes, você é advogado e vai fazer a sustentação oral perante o tribunal e
aquele momento é a apresentação dele. No momento em que ele vai fazer a
apresentação, a sustentação oral, ele tem 15 minutos. O advogado não pode
colocar o papel sobre a tribuna e ler a sustentação oral.
Você vai para uma sustentação oral. Você pode levar uma folha de papel
escrita, por exemplo, prescrição, falta de provas, testemunha, fulana de tal, pedido
subsidiário, diminuição da pena. Então, você vai para a sustentação oral. Você
cumprimenta os eminentes julgadores, começa e aí você olha a prescrição
(“Quero chamar a atenção para o fato de que o crime está prescrito segundo a
pena concretamente fixada, de maneira que não há mais e os puníveis não têm
mais o direito de punir. Está extinta a punibilidade”).
Aí você percebe que você não leu, mas você se valeu dos tópicos. Quando
você for fazer uma apresentação, isso é fundamental. Leve consigo os tópicos, por
que isso tira de você o nervosismo, mas não tira de você a naturalidade. Tira de
você o nervosismo, mas não torna a sua fala enfadonha. Tira você o nervosismo,
mas não tira de você a atenção das pessoas.
Nós precisamos entender que uma coisa é o discurso falado, outra coisa é a
linguagem escrita e nós não podemos, simplesmente, ler o que escrevemos em
voz alta, como se isso significasse conversar com alguém, pois, mesmo diante de
ambientes ou inserindo em ambientes notadamente formais, o ser humano não
pode perder a sua naturalidade. Então, tenha tópicos. Escreva os tópicos e leve-os
em uma folha de papel. Não há problema algum.
É apenas para que você não venha a se esquecer disso. É claro que hoje em
dia você pode levar os tópicos no celular. É claro que você pode levar os seus
tópicos no tablet. É claro que você pode fazer uso de um PowerPoint,
eventualmente. Estou falando de uma sustentação oral do Fórum, de uma
apresentação em um congresso em que você coloca o nome dos tópicos a cada
avanço da sua palestra, tudo é possível. Agora, o celular você usar o celular,
mesmo que seja em modo avião, acho que passa uma má impressão, passa a
impressão de consulta e passa a impressão de desatenção ou de despreparo.
Qual é o próximo passo? O próximo passo é treinar. Eu digo isso a você com
tranquilidade. Treine muito e há duas formas de você treinar.
Hoje em dia, a gente tem uma segunda forma de treinar que é igualmente
valiosa e que, talvez, seja até um pouco mais que é em frente ao celular. Você
pode ter um tripé em casa, você pode colocar o seu celular, te filmar e você pode
fazer a apresentação em vídeo de cinco minutos. Você não precisa reproduzir a
palestra toda. Cinco minutos são suficientes para você perceber quais são as suas
manias ou a sua linguagem corporal que vão incomodar quem está assistindo a
sua palestra, a sua apresentação, a sua fala.
É o sujeito que toda hora passa a mão no cabelo. É o sujeito que toda hora
coloca a mão no bolso, que coça a cabeça, que faz assim assado. Ah, você começa
a perceber várias coisas no seu discurso ou na sua apresentação ou na sua
postura que vão incomodar o seu ouvinte. Aí você consegue corrigir essas falhas,
mas por que você consegue corrigir essas falhas? Porque você filmou a sua
apresentação. Porque você treinou.
Agora vejamos. Suponhamos que você seja convidado a falar num evento.
Então, é a primeira vez que você fala em evento. A pessoa chama você para falar
no evento sobre um tema, um tema que você não sabe qual é. Você vai falar sobre
um projeto X, um projeto de governo, uma nova lei. Você vai falar sobre um novo
procedimento, um procedimento estético. Você vai falar sobre um tema X na
universidade, etc. Aí, você já sabe o tema. Então, você fala gente, eu vou explicar
isso para as pessoas. Você nem revisa o tema, então você não estuda. Você vai
sem tópicos, você vai de peito aberto, digamos assim. Aí quando você chega lá, é
muita gente e isso, de certa forma, te constrange, te impacta, te intimida. Você
não treinou em casa. Você nem sabe dos seus tiques, das suas manias, dos seus
incômodos. Essa é uma apresentação.
Agora imagine você que tendo sido convidado a falar, sabendo que na
próxima terça-feira terá uma oportunidade de falar. Imagine que você tenha se
preparado, tenha estudado o tema e levado tópicos com você. Imagine que você
tenha treinado em casa, filmando a sua fala. Então, você vai falar e é a sua vez.
Quando você sobe, a sua apresentação é impecável do início ao fim.
Ah, mas eu tenho facilidade na fala. Se você fala bem e treina, você fala
maravilhosamente bem. A sua fala se torna impecável. Você se torna um grande
orador. Então, treine. Treine em frente ao espelho. Treine com o celular.
Como assim que nós tínhamos aquele diploma? Quais foram os nossos
desafios e quais têm sido? Esta é a palavra sobre o que acontece nos dez anos
seguintes à colação de grau. Mas quando eu vou falar a estudantes de Direito, o
meu objetivo é falar sobre o futuro, não sobre o passado, não sobre o que eles
viveram, mas sobre o que eles viverão. É para falar sobre sonhos.
Ora, você vai prender a atenção até de quem não estava prestando atenção
na palestra. Essa é uma habilidade. Vocês vão ver na aula dois que a Viola Davis
faz muito bem, que é começar de uma maneira surpreendente o seu discurso,
tanto no Emmy quanto no Oscar. Ela consegue começar de uma forma
surpreendente o discurso, às vezes, citando uma escrava, abolicionista, mas é
sempre de forma surpreendente.
Ela começa falando: “Eu quero saber onde estão os maiores potenciais e os
maiores potenciais? Perguntaram-me. Eu disse que os maiores potenciais estão
no cemitério. Eu quero saber das pessoas que tiveram sonhos e não realizaram
sonhos, que tiveram aspirações e elas não se concretizaram”. Ela começa de uma
forma surpreendente.
Uma delas é assim, com inícios inusitados, inícios e novidades. Você vai
vendo. Quando você vai estudar a biografia, por exemplo, de Steve Jobs, ele vai
fazer o seguinte. Só para você ter uma ideia, nas entrevistas da Apple, os
entrevistados não eram entrevistados sobre suas capacidades técnicas. Eram
feitas perguntas para as quais não havia uma resposta óbvia.
A partir dessa ideia, comece de uma forma surpreendente que seria uma
surpresa. Às vezes, você pode começar com algo da vida comum, algum medo
que você tinha, a exposição de uma vulnerabilidade. Por quê? Porque quando
você começa dessa forma, as pessoas se sentem conectadas a você, a uma maior
empatia, porque elas percebem que você é gente como a gente. Faça isso.
Há uma frase do ministro Barroso de uma palestra em que ele diz que “ele
fala em pé para que as pernas acusem o momento de parar”. Ao fazer em pé a sua
apresentação e isso confere uma maior dinamicidade. A sua fala, a sua
apresentação, mesmo a sua aula.
Além disso, alterne o tom de voz. Poucas coisas são mais chatas do que uma
palestra monótona. Às vezes, a pessoa nem lê, mas ela começa a palestra falando
assim: “Hoje o tema da nossa palestra sobre teoria do crime. Eu quero ressaltar
que a teoria do crime traz o seguinte o conceito analítico de crime é crime, é fato
típico, ilícito e culpável, sendo fato típico composto por conduta. Resultado o nexo
causal que liga a conduta ao resultado e a tipicidade, que pode ser uma
tipicidade material e formal”. Cara, no mesmo tom.
Outra apresentação seria o seguinte: “Hoje nós trataremos de teoria do
crime. Qual o conceito analítico de crime? Crime é fato típico, ilícito e culpado. A
teoria tripartite. Mas veja você o seguinte, dentro do fato típico que temos, temos
uma conduta culposa, dolosa, um resultado é, evidentemente, um nexo causal,
que é um vínculo que liga o resultado a aquela conduta. Mas é preciso que essa
conduta esteja prevista numa norma penal. É preciso que haja tipicidade.
Portanto, os elementos do fato típicos são conduta. Resultado. O nexo causal é
tipicidade”.
Veja você que a mesma palestra. Em ambos os casos, eu não li, mas o
primeiro eu falei no mesmo tom do início ao fim, de maneira que você não
prestou atenção em nada que eu falei, No segundo até você falar do direito,
parece interessante o tema. Por quê? Porque eu fui mudando de tom de voz e
isso vai fazendo com que o meu ouvinte preste atenção.
Existem pessoas que são assim. A pessoa quando ela é assim, você a
cumprimenta se despedindo. Por quê? Porque você quer sair dele. Você quer sair
dali? Por quê? Porque aquela pessoa prolixa é chata. Ela faz do acessório o
principal e ela dá 1 milhão de voltas antes de chegar naquilo que é preciso chegar.
Não fique repetindo seus argumentos e não faça do acessório o principal, do meio
o fim.
Agora vou chamar sua atenção para dois pontos. Se você for fazer uma
apresentação visual, ela deve ser impecável visualmente. Por quê? Porque para
isso você teve tempo. Você se preparou. Você pode colocar a imagem com a
melhor resolução possível. Você pode escolher o melhor fundo possível. A melhor
fonte possível e tem que ser impecável.
Segundo destaque, não use textos longos e não fique lendo no slide. O
sujeito coloca o slide e fica lendo. Não precisa fazer isso, pois eu sei ler. Não
coloque textos longos na sua apresentação do slide. É chato ler e ninguém
consegue ler e se você for ler, a sua palestra ficará péssima. Então, o recurso
audiovisual deve ser feito para tornar aquilo que você está falando mais palpável,
mais claro às pessoas e para conferir maior dinamicidade.
Empregue com humor inteligente. A ideia de humor inteligente. Vocês vão
ver na próxima aula com a Ellen DeGeneres que ela faz isso muito bem. Humor
inteligente é você fazer humor. Fazer graça de si mesmo. Um dia, um endócrino
me perguntou como ele faria uma apresentação num congresso de
endocrinologia e eu disse a ele: “Comece com elemento de humor, algo do seu
cotidiano”. E ele preparou dizendo a seguinte: “Gente, eu já preparei essa
apresentação, já treinei essa apresentação umas 12 vezes. Se não der certo hoje,
vocês me desculpem porque eu estou muito nervoso”. E aí a pessoa já gera uma
conexão.
O cara tá definido que é de nutrologia, aí, ele coloca a foto dele gordinho
para dizer que eu me solidarizo com os gordinhos, porque eu pertencia a essa
classe a vida inteira e agora é que eu consegui mudar. Então, eu fui o que vocês
são e vocês serão aquilo que sou. Se vocês observarem isso, então você começa
fazendo graça de si mesmo, contando a respeito de uma falha sua, contando uma
história engraçada, quebrando o gelo. Fazer graça de si mesmo é uma enorme
arma para quebrar o gelo, gerar conexão, produzir humor inteligente.
Isso faz muita diferença e isso abre portas que você hoje não tem ideia.
Faça uso deste item e um último conselho: assista a outras palestras. Há muita
coisa que nós aprendemos assistindo a outras pessoas. Há vídeos no YouTube,
assista a cinco, seis, dez palestrantes que você admira, que trazem bom conteúdo
e que falam muito bem.
Quando você assiste às palestras dessas pessoas, você consegue ter ali um
elemento muito poderoso para você aplicar a sua. Você não vai perder a
naturalidade porque um dos elementos é ser natural, pois você vai conseguir
trabalhar. “Nossa, que legal essa colocação que ele fez. Que legal a maneira como
ele se movimenta no palco! Que legal os slides que ele utilizou! Que legal! Que
legal essa interrupção que ele faz no meio da palestra! Que legal ele pedir para
participação de uma única pessoa. Que legal ele fazer uma pergunta. Que legal
ele fazer uma pesquisa!”. Enfim, você vai aprendendo à medida que você assiste a
outras palestras.
Então, sobre as técnicas de oratória, eu quero que você se prepare para sua
apresentação. Estude, faça tópicos, treine e filme. Planeje a sua apresentação, seja
natural, conheça o público, empregue pautas quentes, comece com humor ou de
forma surpreendente e tenha postura na apresentação.
Na maioria das vezes, fique em pé, alterne o tom de voz, fale com
convicção. Não seja prolixo, não fique repetindo os argumentos e também não
faça do meio o fim do acessório, o principal. Empregue se houver necessidade for
recomendável. Recursos audiovisuais. Use de humor inteligente também. Faça
uso do storytelling, encante as pessoas e assista a outras palestras. Essas são as
melhores técnicas de oratória para que você faça uma grande apresentação, seja
para cinco, dez, cinco mil ou dez mil pessoas.
A gente termina a nossa primeira aula aqui, espero você na nossa segunda
aula e em todas as outras. Um grande abraço e até mais!