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Aula 1

Técnicas de Oratória

Senhoras e senhores, sejam muito bem-vindos à Aula 1 do Curso de


Oratória Criativa. É sempre um prazer e uma responsabilidade ter vocês aqui. O
objetivo do curso é fazer com que você desenvolva uma oratória clara, criativa e
convincente, de maneira que você seja compreendido. Por isso, claro, que você
mude o ambiente em que você está ou a sua realidade. Que você seja ousado,
surpreendente e convincente. Que você consiga convencer as pessoas da sua
ideia quando isso for necessário.

Então, há esse triplo objetivo no Curso de Oratória Criativa. Não é um curso


convencional de oratória. Esta primeira aula é uma aula em que eu trato de
Técnicas de Oratória. Também não são técnicas tradicionais no sentido de
mecânicas, pois são voltadas à prática, a fazer com que você tenha um discurso
melhor.

Essa é a primeira aula. O nosso principal objetivo é fazer com que você faça
apresentações em público, em alto nível, seja no seu trabalho ou se você for
apresentar um projeto, um seminário, um congresso. Se você for fazer uma
palestra, se você for chamado a falar em formatura ou mesmo no seu aniversário,
eu quero que você consiga entender alguns princípios de oratória e que você
venha a aplicá-los no seu cotidiano.

Primeiro, quando você for fazer uma apresentação, prepare-se. Isso faz toda
a diferença, porque muito do que a gente sente, na hora de falar, vem do
nervosismo. Então, esse nervosismo fica claro e transparece para o nosso ouvinte
direito, o qual percebe que você está nervoso. Isso vai escalando, escalando,
escalando e, aí, acontece que você começa a ficar ainda mais nervoso e começa a
se esquecer do que falaria. Você começa a ter dificuldade na hora da expressão e
a pessoa que está ouvindo, percebe essa dificuldade. Isso vem muito da falta de
preparo.

A improvisação vai acontecer em determinados momentos. Ela é inevitável,


porque você é chamada a falar quando você menos espera, mas, muitas vezes, a
gente sabe que vai ter um momento de falar. A gente sabe que a gente vai fazer
uma apresentação, a gente sabe que eles vão nos conceder o microfone.

A gente sabe que teremos que apresentar um projeto, um trabalho ou uma


explicação, um trabalho sobre um projeto, de maneira que a gente precisa se
preparar. Como é que eu me preparo para uma apresentação? O primeiro ponto a
estudar é o tempo. Você vai ser questionado pelas pessoas, vão chegar até você e
vão perguntar, vão levantar a mão. É preciso que você tenha estudado o tema e
não precisa ficar com medo de uma pergunta e você não saber a resposta,
porque você é capaz de construir respostas e raciocínios razoáveis a partir daquilo
que lhe foi questionado. Mas mais do que isso, ainda que você não saiba, nada
impede que você tenha uma saída em grande estilo. Algo do tipo:
“Especificamente sobre esse tema, eu terei que pesquisar e eu trago para você.
Anote meu e-mail, anote o meu telefone. Ao final da palestra, eu vou passar a você
o meu e-mail, o meu telefone. Esse é um tema muito sensível, muito delicado,
que demanda pesquisa e eu prefiro que tratemos disso pessoalmente”.

Essa é uma saída para quando você não souber a resposta da pergunta,
mas o primeiro ponto é se preparar.

Você vai fazer uma apresentação sobre tudo o que você sabe sobre
Fernando Pessoa. Talvez você levasse um minuto para falar, ou talvez, você levasse
cinco minutos para falar, mas se eu lhe desse um dia para preparar a sua
apresentação, você faria uma apresentação de Fernando Pessoa muito mais
aprofundada. Você falaria dos heterônimos, falaria de Bernardo Soares, uma
espécie de semi-heterônimo, falaria de Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo
Reis. Você falaria da obra poética de Fernando Pessoa. Você falaria das
publicações em inglês, da sua vida, da sua história, da sua última morada ou
moradia em Lisboa. Você falaria do seu tempo na África e da importância que ele
tem para a literatura portuguesa e de língua portuguesa, de maneira a não
apenas se resumir a Portugal, mas a todos os países que empregam a língua
portuguesa e no mundo como um dos grandes símbolos da literatura.

Então, quando você estuda o tema, a maneira como você trata do assunto
é muito melhor e muito mais aprofundado. Isso torna a sua apresentação muito
mais convincente.
Prepare-se, pois improvisação é algo que nós fazemos quando nós não
temos outra opção. Quando nós temos opção, quando nós sabemos que nós nos
apresentaremos, é preciso se preparar.

Segundo ponto: faça tópicos. Porque, gente, existe uma coisa muito chata
em apresentações que é a seguinte: o sujeito vai para a apresentação ler e ele fica
lendo. Então, eu vou falar sobre um tema. Aí, eu vou falar, por exemplo, sobre o
Direito Penal Brasileiro, sobre a Teoria do Crime. Então, eu abro aqui o papel, me
preparei para a palestra. No momento da fala eu pego um papel e começo a ler:
“O conceito analítico de crime é composto, segundo a doutrina majoritária, por
três elementos - fato típico, ilícito e culpável. O fato típico, por sua vez, é
composto por conduta, resultado, nexo causal que liga a conduta ao resultado e
a tipicidade no tocante à tipicidade”. Calma aí, você está lendo! Ler a pessoa sabe.
Às vezes, você é advogado e vai fazer a sustentação oral perante o tribunal e
aquele momento é a apresentação dele. No momento em que ele vai fazer a
apresentação, a sustentação oral, ele tem 15 minutos. O advogado não pode
colocar o papel sobre a tribuna e ler a sustentação oral.

No entanto, se eu não tenho uma anotação, eu fico nervoso na hora e eu


posso me esquecer do que eu quero falar. Eu concordo, mas você não precisa
levar o texto escrito, você precisa levar tópicos sobre o que eu quero falar.

Você vai para uma sustentação oral. Você pode levar uma folha de papel
escrita, por exemplo, prescrição, falta de provas, testemunha, fulana de tal, pedido
subsidiário, diminuição da pena. Então, você vai para a sustentação oral. Você
cumprimenta os eminentes julgadores, começa e aí você olha a prescrição
(“Quero chamar a atenção para o fato de que o crime está prescrito segundo a
pena concretamente fixada, de maneira que não há mais e os puníveis não têm
mais o direito de punir. Está extinta a punibilidade”).

Aí você percebe que você não leu, mas você se valeu dos tópicos. Quando
você for fazer uma apresentação, isso é fundamental. Leve consigo os tópicos, por
que isso tira de você o nervosismo, mas não tira de você a naturalidade. Tira de
você o nervosismo, mas não torna a sua fala enfadonha. Tira você o nervosismo,
mas não tira de você a atenção das pessoas.

Você já foi a um julgamento em que o relator, o desembargador relator,


começou a ler o voto? Ninguém consegue prestar atenção e é, inclusive, chato.
Que você leve o seu voto por escrito e fique lendo o voto. Se for para ler, libere o
voto antes para as pessoas lerem. Por esse motivo, sintetize.

Nós precisamos entender que uma coisa é o discurso falado, outra coisa é a
linguagem escrita e nós não podemos, simplesmente, ler o que escrevemos em
voz alta, como se isso significasse conversar com alguém, pois, mesmo diante de
ambientes ou inserindo em ambientes notadamente formais, o ser humano não
pode perder a sua naturalidade. Então, tenha tópicos. Escreva os tópicos e leve-os
em uma folha de papel. Não há problema algum.
É apenas para que você não venha a se esquecer disso. É claro que hoje em
dia você pode levar os tópicos no celular. É claro que você pode levar os seus
tópicos no tablet. É claro que você pode fazer uso de um PowerPoint,
eventualmente. Estou falando de uma sustentação oral do Fórum, de uma
apresentação em um congresso em que você coloca o nome dos tópicos a cada
avanço da sua palestra, tudo é possível. Agora, o celular você usar o celular,
mesmo que seja em modo avião, acho que passa uma má impressão, passa a
impressão de consulta e passa a impressão de desatenção ou de despreparo.

A folha de papel mostra a que você se preparou para aquele momento. Eu


acho cabível, adequado, sensato e bonito que você tenha apenas uma folha de
papel, no máximo, quando você for se apresentar.

Qual é o próximo passo? O próximo passo é treinar. Eu digo isso a você com
tranquilidade. Treine muito e há duas formas de você treinar.

As duas formas são igualmente importantes. A primeira das formas é a


seguinte: você vai treinar em frente ao espelho. Você, em frente ao espelho,
começa a fazer a sua apresentação. Você faz toda a sua apresentação. Por
exemplo, eu tenho uma palestra cujo nome é As Cinco Áreas da Vida e quando eu
chego para ministrar essa palestra, muitas vezes eu começo com um certo
humor. Faço referência ao local, um elogio à cidade e sempre é sincero mesmo,
mas quando eu começo a falar, superada essa parte introdutória, eu começo com
Santo Agostinho. Perguntaram a Santo Agostinho qual o segredo da vida feliz e aí
eu continuei.

Mas então, se eu vou me apresentar ou em uma palestra, é a primeira vez.


Eu não tenho o costume, não tenho o hábito, não é um tema que eu domino há
muitos anos. Eu nunca palestrei sobre isso. Então, eu vou treinar em frente ao
espelho. Perguntaram a Santo Agostinho “Qual é o segredo da vida feliz? “Então,
Agostinho de Hipona, o homem que se converteu aos 30 e poucos anos antes
disso. Mundano e pai, cuja conversão é atribuída às orações de sua mãe Mônica,
mais tarde canonizada como Santa Mônica. Ele, o bispo de Hipona, vai estudar e
se debruçar sobre a temática e chega a uma conclusão: a felicidade está na
sabedoria. Mas onde está a sabedoria? A sabedoria está no meio termo, no limite,
na proporção, na boa proporcionalidade. E aí eu continuo a palestra falando sobre
a proporção de cuidado que você deve ter para cada ou com cada área da sua
vida. Veja você que eu estou falando de uma palestra, mas eu estou mostrando a
você como é fundamental que você treine em frente ao espelho.

Hoje em dia, a gente tem uma segunda forma de treinar que é igualmente
valiosa e que, talvez, seja até um pouco mais que é em frente ao celular. Você
pode ter um tripé em casa, você pode colocar o seu celular, te filmar e você pode
fazer a apresentação em vídeo de cinco minutos. Você não precisa reproduzir a
palestra toda. Cinco minutos são suficientes para você perceber quais são as suas
manias ou a sua linguagem corporal que vão incomodar quem está assistindo a
sua palestra, a sua apresentação, a sua fala.
É o sujeito que toda hora passa a mão no cabelo. É o sujeito que toda hora
coloca a mão no bolso, que coça a cabeça, que faz assim assado. Ah, você começa
a perceber várias coisas no seu discurso ou na sua apresentação ou na sua
postura que vão incomodar o seu ouvinte. Aí você consegue corrigir essas falhas,
mas por que você consegue corrigir essas falhas? Porque você filmou a sua
apresentação. Porque você treinou.

Agora vejamos. Suponhamos que você seja convidado a falar num evento.
Então, é a primeira vez que você fala em evento. A pessoa chama você para falar
no evento sobre um tema, um tema que você não sabe qual é. Você vai falar sobre
um projeto X, um projeto de governo, uma nova lei. Você vai falar sobre um novo
procedimento, um procedimento estético. Você vai falar sobre um tema X na
universidade, etc. Aí, você já sabe o tema. Então, você fala gente, eu vou explicar
isso para as pessoas. Você nem revisa o tema, então você não estuda. Você vai
sem tópicos, você vai de peito aberto, digamos assim. Aí quando você chega lá, é
muita gente e isso, de certa forma, te constrange, te impacta, te intimida. Você
não treinou em casa. Você nem sabe dos seus tiques, das suas manias, dos seus
incômodos. Essa é uma apresentação.

Agora imagine você que tendo sido convidado a falar, sabendo que na
próxima terça-feira terá uma oportunidade de falar. Imagine que você tenha se
preparado, tenha estudado o tema e levado tópicos com você. Imagine que você
tenha treinado em casa, filmando a sua fala. Então, você vai falar e é a sua vez.
Quando você sobe, a sua apresentação é impecável do início ao fim.

Quando a gente falou nas aulas de abertura do Curso de Oratória Criativa


do discurso de Steve Jobs, o que a Lauren, esposa dele disse? O meu marido
treinou diversas vezes em frente a família esse discurso e, apesar disso, hoje ele
acordou com um frio na barriga por estar ali, por saber que estaria ali para falar
com as pessoas. Se você é menos inteligente do que Steve Jobs ou tão inteligente
quanto Steve Jobs, você tem que se preparar. Você não pode abrir mão dessa
necessidade.

Ah, mas eu tenho facilidade na fala. Se você fala bem e treina, você fala
maravilhosamente bem. A sua fala se torna impecável. Você se torna um grande
orador. Então, treine. Treine em frente ao espelho. Treine com o celular.

Prossigamos próximo ponto dentro da oratória que eu quero que você


saiba para preparar uma apresentação: planeje a sua apresentação. Qual é a
diferença de preparar e planejar? Primeiro, eu quero saber quem é o meu público.
Eu fui chamado a falar agora na comemoração do aniversário da Faculdade de
Direito da Universidade Federal de Goiás. Eu sou egresso de lá. A faculdade
comemora 125 anos. Inicialmente, queriam que eu falasse de uma aula magna
com todos os presentes, egressos e atuais estudantes, professores, enfim, mas eu
não tenho agenda para essa data. Então, me pediram e eu, claro, prontamente
aceitei o convite da minha universidade para falar um outro dia com os
estudantes. Então, vou dar uma aula aos estudantes de Direito da Universidade
Federal de Goiás. É diferente. Quem é o meu público? Porque quando eu vou falar
com egressos da Faculdade de Direito, o meu discurso é dirigido aos desafios que
todos nós enfrentamos assim que colocamos o diploma na mão ou pegamos o
diploma.

Como assim que nós tínhamos aquele diploma? Quais foram os nossos
desafios e quais têm sido? Esta é a palavra sobre o que acontece nos dez anos
seguintes à colação de grau. Mas quando eu vou falar a estudantes de Direito, o
meu objetivo é falar sobre o futuro, não sobre o passado, não sobre o que eles
viveram, mas sobre o que eles viverão. É para falar sobre sonhos.

Sobre sonhos que nascem na carteira e na cadeira, a depender do lugar de


uma faculdade de Direito. Então, eu sei quem é meu público. Uma coisa é
palestrar a estudantes de medicina. Outra coisa é palestrar a médicos. Uma coisa
é fazer uma apresentação para os meus colaboradores. Outra coisa é fazer uma
apresentação para um fundo de investimentos. Uma coisa é eu falar com um
pequeno grupo de dez, quinze, vinte pessoas. Outra coisa é eu falar para um
grande grupo de quatro, cinco, seis mil pessoas. Eu já tive essas oportunidades
todas e o discurso muda. Porque quando eu falo para um grupo pequeno, eu
tenho que ter um tom um pouco mais ameno, um pouco mais próximo, um
pouco menos formal. Quando eu falo para cinco, seis mil pessoas, o tom é mais
enérgico e o discurso é mais apaixonante, pois eu estou diante de uma multidão.

Eu preciso saber quem é o meu público. Planeje a sua apresentação


sabendo ou procurando saber quem é o seu público. Isso vai fazer uma diferença
gigantesca na sua apresentação. Se você erra o objeto da sua fala em razão do
público, que é destinatário do seu discurso, as pessoas não se interessam pelo
que você fala. Elas acharão a sua palestra desinteressante, a sua apresentação
formal, a sua apresentação descolada da realidade, a sua apresentação tediosa e
nem prestam atenção. Elas começam a se levantar, elas vão embora. Não é
porque você fala mal. Não é porque o tema não é interessante. Não é porque você
erra quanto ao conhecimento técnico. É que você não conhece o público. Eu
preciso saber com quem eu falo quando eu vou falar com o meu filho que tem
seis anos de idade. Eu não falo como se eu estivesse falando com o meu pai, que
tem oitenta anos de idade. Quando eu vou falar com o meu filho a linguagem é
outra, a postura é outra, a visão é outra.

Um outro ponto que é o seguinte seja natural. Eu quero destacar isso


porque toda a oratória e toda a técnica da oratória não podem, em hipótese
alguma, tirar de você a sua naturalidade. Se você perder a sua naturalidade, você
vai perder a sua credibilidade. Você vai perder o seu poder de convencimento. Se
você ficar artificial, as pessoas não se conectam a você. Então, por favor, não perca
a sua naturalidade. Vai falar? É um discurso formal, pois é para um congresso. Eu
estou falando da Médicos. Estou falando de advogados. Não interessa. Eu estou
falando para mil pessoas na igreja. Ainda que a minha palavra seja uma palavra
em um ambiente formal, eu não posso perder a minha naturalidade. Porque se
eu perder a minha naturalidade, eu perdi a minha conexão.

As pessoas têm que se conectar a mim e essa conexão só existe com


naturalidade. Pode ver que eu converso com você, que a gente se fala aqui como
se estivéssemos próximos, frente a frente. Eu falo em pé para dar maior
dinamicidade, porque é uma aula de oratória, mas eu não perco a naturalidade.
Se eu perder a naturalidade, se for um discurso travado, eu não sei o que falar.
Fico nervoso ou artificial. Isso faz com que nós percamos a conexão ou que ela
nem exista. Então, seja natural na sua fala.

O próximo ponto dentro do planejamento da sua apresentação é o de


pautas quentes. Mas eu vou tratar disso no próximo bloco e eu espero você lá até
lá.

Prossigamos aqui. A gente está falando sobre o planejamento da


apresentação. O primeiro ponto é preparar sua apresentação. Estudar, fazer
tópicos, treinar, filmar o seu treino. Não fique lendo durante a apresentação.

O segundo ponto é planejar a sua apresentação. Olha, primeiro conheça o


seu público. O segundo é: seja natural. O terceiro é pauta. Isso muda
completamente.

Só para você entender que pauta quente é o assunto do momento.


Quando eu trato do assunto do momento, isso faz com que as pessoas tenham
maior interesse pelo que eu estou falando. Então, vou te dar um exemplo. No ano
de 2022, uma pauta super quente era a das eleições. Falar sobre eleições, isso era
uma pauta quente. Então, as pessoas estavam falando disso o tempo inteiro.
Concorda? Ótimo! Então, vejamos o que nós podemos falar aqui sobre pautas.

Se eu fosse dermatologista, vou fazer uma apresentação sobre


envelhecimento, pele, efeito sobre a pele, etc. Eu pego uma foto do Lula
presidente em 2002, 2003 e pego a foto do Lula Presidente 2023, 20 anos depois.
Vou comparar a pele e os efeitos sobre a pele do envelhecimento. Agora imagine
você, o congressista, o apresentador, o palestrante abria a sua palestra fazendo
essa comparação com a temática “Qual o efeito do envelhecimento sobre a
pele?”. Passados 20 anos, suponhamos que essa seja uma palestra voltada a
estudantes de medicina. Então, você diz assim: “Eu selecionei uma mesma foto
com o mesmo ângulo, com a mesma posição de uma mesma pessoa. Uma em
2003, outra em 2023. E eu quero que você veja a diferença”. Aí você coloca a foto
do Lula.

Ora, você vai prender a atenção até de quem não estava prestando atenção
na palestra. Essa é uma habilidade. Vocês vão ver na aula dois que a Viola Davis
faz muito bem, que é começar de uma maneira surpreendente o seu discurso,
tanto no Emmy quanto no Oscar. Ela consegue começar de uma forma
surpreendente o discurso, às vezes, citando uma escrava, abolicionista, mas é
sempre de forma surpreendente.

Segundo o discurso dela, ela começa citando o cemitério. Veja bem, a


mulher ganha o Oscar e sobe para falar. Começa falando sobre onde estão os
maiores potenciais e diz que os maiores potenciais estão no cemitério. Calma aí,
gente, é o Oscar. É uma festa. Você acabou de ganhar o Oscar. Você sobe. O que
as pessoas estão esperando? “Eu quero agradecer a equipe. Eu quero agradecer a
minha família. Esse projeto é maravilhoso. Foi muito importante representar esse
papel. E é isso. Muito obrigado e pronto.”

Ela começa falando: “Eu quero saber onde estão os maiores potenciais e os
maiores potenciais? Perguntaram-me. Eu disse que os maiores potenciais estão
no cemitério. Eu quero saber das pessoas que tiveram sonhos e não realizaram
sonhos, que tiveram aspirações e elas não se concretizaram”. Ela começa de uma
forma surpreendente.

Se você for fazer essa apresentação, nesse primeiro momento, esses


primeiros cinco minutos de apresentação determinam quão presa ficará a
atenção do seu ouvinte ao que você está falando. Então, você vai começar a
apresentação. Você já entendeu, já planejou. Vou ser natural e já planejei porque
eu vou ser quem eu sou. Eu já entendi o meu público. Esse é um outro ponto
super importante para que o conteúdo seja de interesse deles.

Terceiro, eu vou trabalhar com pautas quentes. Isso é fundamental. Por


quê? Porque a pauta quente atrai a atenção do público, marca o público. As
pessoas olham para você e acham espetacular. Como ele conseguiu prender a
atenção do início ao fim? Aí você acrescenta um elemento, que é aquilo que é
surpreendente. Existem formas de falar, sobre explorar o humor, para você se
conectar ainda mais com a audiência desde o início.

Uma delas é assim, com inícios inusitados, inícios e novidades. Você vai
vendo. Quando você vai estudar a biografia, por exemplo, de Steve Jobs, ele vai
fazer o seguinte. Só para você ter uma ideia, nas entrevistas da Apple, os
entrevistados não eram entrevistados sobre suas capacidades técnicas. Eram
feitas perguntas para as quais não havia uma resposta óbvia.

Por exemplo, no meio da entrevista, perguntavam: “Por que os bueiros da


rua são redondos e não são quadrados?” E aí, já que eu não estava à espera dessa
resposta, a ideia é fazer com que o sujeito seja forçado a refletir e para que o
entrevistador perceba a sua capacidade de construir uma resposta. Ah, porque se
fossem quadrados e saíssem, provavelmente furaria os pneus de carros que
passassem por ali. Ainda que saíssem levemente, o carro passaria com o pneu.
Haveria uma ponta e o carro poderia ter o pneu furado. É uma resposta razoável,
mas não é uma resposta que você espera ser obrigado a dar numa entrevista para
uma empresa de tecnologia. Então, você percebe que a ideia deles ali era
trabalhar a sua capacidade criativa de construção de uma resposta. Quando você
começa de forma inusitada, você chama a atenção.

Planeje a sua apresentação e veja que planejar é diferente de estudar, de


ter tópicos, de treinar, planejar e dar. Eu já sei o tema. Agora, pra quem que eu vou
falar? Para essa pessoa? Então, vou refinar isso. Agora deixa eu fazer uma
pergunta. Quais são as pautas quentes do momento sobre o que a sociedade está
conversando? Eu consigo pegar essa pauta quente e trazer para minha palestra?
Eu consigo, na palestra de Longevidade, trazer a rainha Elizabeth. Suponhamos
que você fosse dar essa palestra no momento da sua morte, mas sempre que
você for trabalhar com uma pauta quente, por gentileza, tenha noção que é
preciso ter uma nobreza no trato da matéria, tá? Porque, às vezes, as pessoas
perdem a noção no trato da pauta quente e aí elas são grosseiras e escandalosas.
Não é esse o objetivo. O objetivo é prender a atenção do seu ouvinte.

A partir dessa ideia, comece de uma forma surpreendente que seria uma
surpresa. Às vezes, você pode começar com algo da vida comum, algum medo
que você tinha, a exposição de uma vulnerabilidade. Por quê? Porque quando
você começa dessa forma, as pessoas se sentem conectadas a você, a uma maior
empatia, porque elas percebem que você é gente como a gente. Faça isso.

Prepare-se para a sua apresentação, planeje a sua apresentação, tenha


postura no momento da apresentação. O ideal é que você faça as suas
apresentações de pé. É possível que você faça sentado, se for num ambiente
reflexivo e menor, numa espécie de conversa entre amigos. Mas se não, se você
vai fazer uma apresentação, vai conversar para 50, 100 pessoas, fale em pé, pois
isso muda a sua postura diante da plateia.

Há uma frase do ministro Barroso de uma palestra em que ele diz que “ele
fala em pé para que as pernas acusem o momento de parar”. Ao fazer em pé a sua
apresentação e isso confere uma maior dinamicidade. A sua fala, a sua
apresentação, mesmo a sua aula.

Por que eu faço o Curso de Oratória em pé? Porque é o momento da


oratória, do convencimento, da dinamicidade. Por que eu faço o Clube dos
Pensadores sentado? Porque é uma conversa rentável, é uma conversa entre
amigos. E eu e você somos eu e você, sentados frente a frente, com o livro na mão
e conversando sobre a obra. A postura corporal diz muito.

Além disso, alterne o tom de voz. Poucas coisas são mais chatas do que uma
palestra monótona. Às vezes, a pessoa nem lê, mas ela começa a palestra falando
assim: “Hoje o tema da nossa palestra sobre teoria do crime. Eu quero ressaltar
que a teoria do crime traz o seguinte o conceito analítico de crime é crime, é fato
típico, ilícito e culpável, sendo fato típico composto por conduta. Resultado o nexo
causal que liga a conduta ao resultado e a tipicidade, que pode ser uma
tipicidade material e formal”. Cara, no mesmo tom.
Outra apresentação seria o seguinte: “Hoje nós trataremos de teoria do
crime. Qual o conceito analítico de crime? Crime é fato típico, ilícito e culpado. A
teoria tripartite. Mas veja você o seguinte, dentro do fato típico que temos, temos
uma conduta culposa, dolosa, um resultado é, evidentemente, um nexo causal,
que é um vínculo que liga o resultado a aquela conduta. Mas é preciso que essa
conduta esteja prevista numa norma penal. É preciso que haja tipicidade.
Portanto, os elementos do fato típicos são conduta. Resultado. O nexo causal é
tipicidade”.

Veja você que a mesma palestra. Em ambos os casos, eu não li, mas o
primeiro eu falei no mesmo tom do início ao fim, de maneira que você não
prestou atenção em nada que eu falei, No segundo até você falar do direito,
parece interessante o tema. Por quê? Porque eu fui mudando de tom de voz e
isso vai fazendo com que o meu ouvinte preste atenção.

O terceiro ponto dentro da postura no momento da apresentação é a


convicção da fala. Você tem que ter convicção daquilo que você está falando. Essa
é uma característica muito presente nos discursos de políticos. Às vezes, o sujeito
não sabe o que está falando. Às vezes, o sujeito está até mentindo porque é
político, ou seja, é treinado e, às vezes, o sujeito não domina a matéria. Mas ele fala
com uma convicção que você fica constrangido em discordar. Agora, veja a
postura no momento da comunicação. Muda tudo! Então, não é o que você fala,
mas é como você fala. Eu quero que você tenha convicção, que você fale em pé,
que você alterne o tom de voz.

Próximo ponto: não seja prolixo. Suponhamos que a todo momento eu


voltasse a falar a mesma coisa, mas novamente para ver se você entendeu. É isso,
eu quero só ressaltar. Calma aí meu amigo, já foram sete vezes a mesma coisa,
não dá! Quando você reitera o argumento, uma sustentação oral, por exemplo,
fica enfadonho. Fale uma vez, mas fale com convicção. Fale com firmeza e fale
com fineza, com bom trato, com uso adequado do vernáculo. Você vai lá e faz
diferença na sua fala. A reiteração, a repetição dos argumentos fazem com que
seu discurso seja prolixo.

O que é um discurso prolixo? É um discurso em que as pessoas torcem


para você se calar. Você não pode ter a torcida do silêncio. As pessoas não podem
desejar que a sua palestra termine. Isso quer dizer que você está sendo prolixo.
Pode ser que você esteja sendo prolixo. Um outro ponto da prolixidade e do ser
prolixo é quando o sujeito faz do meio o principal. Vou explicar a você, preste
atenção. Ele faz do meio o fim. É mais ou menos assim. Eu quero contar a você
que eu fui ao supermercado e que eu comprei a bebida que você me pediu.
Então eu chego até você e digo assim: “Olha, eu fui ao supermercado já e comprei
a bebida que você me pediu”. Acabou! Posso acrescentar algumas informações?
Posso: “Olha, eu fui ao supermercado, comprei a bebida que você me pediu. Tinha
promoção e foi ótimo. Ainda bem que eu fui hoje”. Acabou. Isso não é ser prolixo.
O que é ser prolixo? A pessoa vai te contar que foi ao supermercado. Ela diz
assim: “Olha, eu fui ao supermercado. Na verdade, como eu estava no caminho,
eu encontrei o João. Sabe o João que foi casado com a Maria? Pois é, ele estava
na rua e, aí, a gente começou a conversar. Ele me contou que ele foi demitido.
Pois, agora, ele está empreendendo. Eu não sei exatamente. Primeiro que você
sabe como essas coisas são de tecnologia. Isso é muito diferente. Eu não sei
explicar, mas disse. Outro dia, pesquisando, me falaram que o pessoal que
trabalha com tecnologia ganha muito bem porque está faltando mão de obra.
Você sabia que algumas pessoas querem euro e dólar? Pois é, você que mora
aqui, é ganhar em dólar. E eu nem sei como é que é feito o pagamento do
imposto, como é feito o câmbio. Até porque estou cogitando. Complicado porque
o contador estava falando que semana passada meu filho e eu não tinha
nenhum objetivo de descontar tudo isso. Eu só queria te contar que eu consegui
comprar a bebida que você me pediu”.

Existem pessoas que são assim. A pessoa quando ela é assim, você a
cumprimenta se despedindo. Por quê? Porque você quer sair dele. Você quer sair
dali? Por quê? Porque aquela pessoa prolixa é chata. Ela faz do acessório o
principal e ela dá 1 milhão de voltas antes de chegar naquilo que é preciso chegar.
Não fique repetindo seus argumentos e não faça do acessório o principal, do meio
o fim.

Prossigamos. Algumas palestras vão admitir o uso de recursos audiovisuais.


Por exemplo, você vai fazer uma apresentação, seminário. Eu não sei o que você
pode colocar. Às vezes, a imagem é imprescindível para você mostrar como o
paciente estava antes, como o paciente estava depois.

Às vezes, a imagem é imprescindível para você colocar um trecho da fala


de alguém, uma fala que foi reputada importante para você mostrar. Às vezes, é
importante para você mostrar a imagem do local. Não há problema. O recurso
audiovisual pode tornar a sua apresentação muito mais dinâmica.

Agora vou chamar sua atenção para dois pontos. Se você for fazer uma
apresentação visual, ela deve ser impecável visualmente. Por quê? Porque para
isso você teve tempo. Você se preparou. Você pode colocar a imagem com a
melhor resolução possível. Você pode escolher o melhor fundo possível. A melhor
fonte possível e tem que ser impecável.

Segundo destaque, não use textos longos e não fique lendo no slide. O
sujeito coloca o slide e fica lendo. Não precisa fazer isso, pois eu sei ler. Não
coloque textos longos na sua apresentação do slide. É chato ler e ninguém
consegue ler e se você for ler, a sua palestra ficará péssima. Então, o recurso
audiovisual deve ser feito para tornar aquilo que você está falando mais palpável,
mais claro às pessoas e para conferir maior dinamicidade.
Empregue com humor inteligente. A ideia de humor inteligente. Vocês vão
ver na próxima aula com a Ellen DeGeneres que ela faz isso muito bem. Humor
inteligente é você fazer humor. Fazer graça de si mesmo. Um dia, um endócrino
me perguntou como ele faria uma apresentação num congresso de
endocrinologia e eu disse a ele: “Comece com elemento de humor, algo do seu
cotidiano”. E ele preparou dizendo a seguinte: “Gente, eu já preparei essa
apresentação, já treinei essa apresentação umas 12 vezes. Se não der certo hoje,
vocês me desculpem porque eu estou muito nervoso”. E aí a pessoa já gera uma
conexão.

O cara tá definido que é de nutrologia, aí, ele coloca a foto dele gordinho
para dizer que eu me solidarizo com os gordinhos, porque eu pertencia a essa
classe a vida inteira e agora é que eu consegui mudar. Então, eu fui o que vocês
são e vocês serão aquilo que sou. Se vocês observarem isso, então você começa
fazendo graça de si mesmo, contando a respeito de uma falha sua, contando uma
história engraçada, quebrando o gelo. Fazer graça de si mesmo é uma enorme
arma para quebrar o gelo, gerar conexão, produzir humor inteligente.

Por isso, quando eu falo em preparar ou planejar a sua apresentação esse é


o ponto. Você pode, em casa, ter a ideia daquilo que é engraçado e que você
gostaria de contar. Insira elementos de humor, humor inteligente e,
preferencialmente, falando de si mesmo. Isso vai ajudar você a se conectar com
sua audiência. Faça uso do storytelling que é uma história envolvente e uma
história envolvente em que há um ambiente, em que há um personagem, em
que há uma disputa, em que há um resultado. O storytelling não é só contar uma
história. É muito mais do que isso. É envolver e encantar. Nós vamos ter uma aula
só de storytelling com Leandro Aguiar. Preste atenção na aula, pois você vai ver
como é possível envolver e encantar a pessoa com a história que você conta.
Conte uma história, uma história envolvente. Encante! As pessoas têm que sair da
sua palestra encantadas com a sua fala.

Isso faz muita diferença e isso abre portas que você hoje não tem ideia.
Faça uso deste item e um último conselho: assista a outras palestras. Há muita
coisa que nós aprendemos assistindo a outras pessoas. Há vídeos no YouTube,
assista a cinco, seis, dez palestrantes que você admira, que trazem bom conteúdo
e que falam muito bem.

Quando você assiste às palestras dessas pessoas, você consegue ter ali um
elemento muito poderoso para você aplicar a sua. Você não vai perder a
naturalidade porque um dos elementos é ser natural, pois você vai conseguir
trabalhar. “Nossa, que legal essa colocação que ele fez. Que legal a maneira como
ele se movimenta no palco! Que legal os slides que ele utilizou! Que legal! Que
legal essa interrupção que ele faz no meio da palestra! Que legal ele pedir para
participação de uma única pessoa. Que legal ele fazer uma pergunta. Que legal
ele fazer uma pesquisa!”. Enfim, você vai aprendendo à medida que você assiste a
outras palestras.
Então, sobre as técnicas de oratória, eu quero que você se prepare para sua
apresentação. Estude, faça tópicos, treine e filme. Planeje a sua apresentação, seja
natural, conheça o público, empregue pautas quentes, comece com humor ou de
forma surpreendente e tenha postura na apresentação.

Na maioria das vezes, fique em pé, alterne o tom de voz, fale com
convicção. Não seja prolixo, não fique repetindo os argumentos e também não
faça do meio o fim do acessório, o principal. Empregue se houver necessidade for
recomendável. Recursos audiovisuais. Use de humor inteligente também. Faça
uso do storytelling, encante as pessoas e assista a outras palestras. Essas são as
melhores técnicas de oratória para que você faça uma grande apresentação, seja
para cinco, dez, cinco mil ou dez mil pessoas.

A gente termina a nossa primeira aula aqui, espero você na nossa segunda
aula e em todas as outras. Um grande abraço e até mais!

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