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[Processo]

O início dessa série, foi concebida de uma forma quase que “psicografada”, olhei para o
meu quarto e rabisquei suas formas em um papel com caneta nankinsem olhar o que estava no
papel, somente seguindo com o olho fixo nos contornos do quarto, ao terminar olhei aquele
emaranhado de linhas percebi um desenho quase pronto. Fui destacando-o do emaranhado de
linhas e percebi na aparente narração do desenho, uma situação que me acontecera a poucos
dias atrás, repeti o processo e consegui novamente outra situação semelhante. Com isso fiz
vários outros conseguindo o mesmo resultado, comecei a ligar as situações dos desenhos com a
situação em que me encontrava e fui percebendo que esses momentos introspectivos e
reflexivos, que me fazem pensar nos erros e nos acertos, podem ser de certa forma
“exorcisados” no desenho. Não sendo desenhados diretamente, e sim desenhando “às cegas” o
local onde estou situado pensando nelas, nessa forma estranha de evocar tais momentos, como
espíritos na brincadeira do copo, consegui uma quantidade interessante de situações.

Percebendo o quanto o desenho era linear, hachurado e expressivo, resolvi executar a


série usando a gravura em metal. Outro fator que me chamou a atenção foi o fato de os desenhos
terem uma leitura muito estranha, difícil, parecendo estar invertida, outros com leitura tão
rápida que os olhos mal paravam no desenho. Novamente me assustei ao digitalizar um dos
desenhos e inverte-los para transferir na gravura, a imagem invertida me revelou uma leitura
muito mais interessante do que a do desenho. O que me fez perceber que ainda estava sendo
processado pela obra, de certa forma ela já veio como um desenho que obrigatoriamente seria
uma gravura, pois foi concebido já invertido para a gravura sem que eu nem sem desse conta.
Sendo assim deixei fluir, só fui ter o domínio da obra ao executar a gravura de fato, pois o
desenho fora praticamente uma psicografia.

O motivo que me impulsionou a descarregar tais situações no papel, talvez tenha sido o
período em que me encontrava, fazendo minha monografia, dando aula, produzindo,
pesquisando e tentando entender por que o dia tem vinte e quatro horas apenas. Meus neurônios
estavam a mil por hora e muita coisa me incomodava por não saber exatamente o que e como
fazer. A relação professor-aluno fora primordial no processo, pois me encontrava nos lados da
fronteira e me deparava com situações ora complicadas e ora esclarecedoras. Pude perceber que
como professor em alguns casos eu era incompreendido e como aluno eu não compreendia,
passei a analisar os pontos em comum dos dois lados, até bolar uma estratégia para que isso não
acontecesse mais. Nos casos de distração durante a explicação, indisciplina, incompreensão de
nível intelectual, intolerância, foi tudo ficando mais simples de se resolver com o passar do
tempo. Onde pude concluir que quanto maior a prática e a reflexão das falhas, mais sábias são
as próximas jogadas.

[Temática]

Quando nos deparamos com certas situações em que não sabemos o que dizer, falamos
algo que é mal interpretado, nos assustamos com as reações imprevisíveis que isso gera. Não
sabemos exatamente o que fazer, como nos justificar e ficam por muito tempo em nossa
memória, como se fosse uma jogada mal planejada onde perdem-se muitas peças.
Vejo o diálogo como um jogo de damas, onde cada argumento é uma jogada, por mais
amistoso que seja queremos sempre que nossa fala seja eficiente e surta efeito no outro, o que
não acontece sempre. Muitas vezes saímos perdendo e quando isso acontece, aquela jogada mal
planejada fica arquivada na memória como um lembrete para que nunca mais se repita.
Passamos a usar jogada que nos foi aplicada quando sentimos que a nossas jogadas
inexperientes estão sendo usada pelo outro, caminhando sempre rumo a jogadas cada vez mais
bem planejadas. Seguindo esta linha de raciocínio, esse é o nosso processo natural de
aprendizado, onde nos tornamos gradativamente mais cultos, educados, rápidos e experientes.
Um artifício que nos ajuda muito e que mesmo inconscientes disso estamos sempre usando, são
as nossas máscaras ocasionais, quanto mais experientes nos tornamos melhor sabemos qual
máscara usar.

[Maquiagem de palhaço]

Certa vez ouvi dizer que as variações do nosso comportamento para cada ocasião,
inconscientemente nos coloca em uma espécie de máscara ou maquiagem, que muda de acordo
com o ambiente em que nos encontramos e até onde percebo, não existem momentos sem
máscara. Mesmo quando dormimos, se for em alguma residência que não seja a nossa,
dormimos com roupas desconfortáveis ou tomamos cuidado para não roncar. O que talvez
explique o porque de ficar sério ao falar com um desconhecido, manter a cautela próximo a
alguma autoridade, não falar palavrões perto de crianças acompanhadas das mães, coisas que
não correspondem a o que desejamos fazer naturalmente mas nos sentimos na obrigação de
comportar dessa forma para não sermos taxados de anormais. Usei o palhaço, pois acho uma
figura interessante para representar tal situação, pois muitas vezes aquele personagem maluco,
hiper-ativo e divertido, ao abandonar a maquiagem se revela uma pessoa extremamente carente,
complexada e depressiva.

[Caveira]

A nossa vulnerabilidade muitas vezes passa despercebido ao viajarmos, ao andarmos


em ruas desertas a noite, ao comermos algo de origem desconhecida ou qualquer outra coisa que
nos coloca em risco. Estamos expostos ao risco o tempo todo e nem nos damos conta disso, de
certa forma é até mais saudável agir dessa forma para não nos tornarmos paranóicos, mas não
deixa de ser interessante essa inconsciente conivência com a vulnerabilidade que o ser humano
se sujeita.

[no caso a caveira tanto pode ser eu com algum professor, pois me considero em
condição de risco social, ou algum aluno comigo pois ambos estão em risco social, eles mais do
que eu, claro]

[Balão do inconsciente]

Fazendo uma alusão aos quadrinhos, onde o balão direcionado corresponde à fala ou ao
pensamento do personagem, o balão que uso até então é exclusivamente de pensamento, ora a
figura do inconsciente (um rosto semelhante ao do personagem, porém mais abstrato) dizendo-
lhe o que fazer instintivamente e ora a distração, o devaneio em que muitas vezes nos envolvem
sorrateiramente quando devemos prestar atenção em alguma coisa.

[Portas e janelas]

As portas representam a fala dos personagens, numa brincadeira envolvendo a


expressão de quando alguém “abre as portas do seu mundo”. O que sai daquela porta é o
pensamento puro do personagem sem qualquer tipo de influencia externa, elas sempre aparecem
fazendo uma espécie de moldura da boca do personagem. As janelas correspondem ao
conhecimento individual almejado ou já adquirido pelo personagem.

relação aluno/professor

funcionário/chefe

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Bom ate antes da linha era o Thiago de 2009, a partir de agora é o Thiago de 2024
completando o que largou de escrever em 2009:

[Lâmpadas]

Idéias e pensamentos com maior e menor destaque quando estão muito acesas, brilho
médio ou apagadas. O formato de cada uma indica também sua complexidade.

[bocal da lâmpada] - início da ação, execução

[Textura xadrez] – no chão quando é a vida prática, situações a serem


vividas/cumpridas, quando está disforme e flutuante é o processamento da situação a ser
executada.

[Distração] – essa figura disforme, meio densa meio transparente cheia de curvas e
camadas que cresce perante os olhos e ouvidos mas se retrai quando tragada pela respiração.

[Pipas de espinha de peixe] – uma viagem que tenho desde pequeno observando a
molecada soltando pipa comparando com peixes sendo pescados. Nunca soube nenhuma das
duas práticas, achava chatíssimo fazer papagaio e/ou pescar e não entendia como todo mundo
gostava. Anos depois dando aula em comunidade voltei a ver muito ambas as cenas, aí além de
relembrar, conectei com sobrevivência (pescavam no córrego do onça), projeção do corpo no
céu/vontade de voar e etc, etc e vai por aí... época exata onde essa série surgiu e cresceu

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Agora o Thiago de 2024 em terapia revendo a série pode pontuar algumas coisas:

As gravuras (as entrelinhas de um flerte telepático e RH) e os desenhos (médico tarado e RH)
são o uso dessa forma de criar como linguagem de expressão, a idéia veio antes e o desenho
depois, diferente dos demais que o desenho foi extraído do emaranhado de linhas que guiaram a
procura do pensamento... e isso faz toda a diferença.

Retomei esse modo mais sincero dos desenhos para executar os 3 desenhos grandes e o
rascunho para o paredão.

Por hora é isso, falo mais em uma próxima, preciso subir para dar aula!

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