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CDD: 250-Teologia
ISBN: 85-263-0228-0
Ia Edição 2001
SUMÁRIO
Dedicatória------------------------------------------------------------------------------- 05
Agradecimentos------------------------------------------------------------------------- 07
Apresentação ----------------------------------------------------------------------------- 09
Prólogo------------------------------------------------------------------------------------- 11
Terceira Parte:
a alma e o tempo
O dilema da alma ante o tempo------------------------------------------------- 141
Razões de algumas reações da alma ante o tempo-------------------------- 151
Quando o Deus da alma é o Deus do tempo-------------------------------- 155
Posfácio
APRESENTAÇÃO
A vida é boa para quem sabe vivê-la. Aliás, esso é um conceito bíblico
sobre todas as coisas. Porém temos que lembrar sempre: precisamos viver
nossa própria vida, assumindo e reconhecendo nossa personalidade, nunca
tentando adotar o papel alheio, fingindo ser o que não somos.
O grande desafio que temos na vida é viver aquilo que Deus reservou
para nós. Viver cada momento, aproveitar as oportunidades e aquilo que o
Senhor coloca ante nós. Isso não nos impede de espelharmo-nos na vida
dos que triunfaram e deixaram suas fortes marcas. Neste livro, percorreremos
tópicos filosóficos e depois entraremos nos ensinamentos bíblicos, com
exemplos embasados em teólogos conceituados.
Ao ler esta obra, percebi seu propósito: extrair da Bíblia lições e exemplos
edificantes. Aprender com esses homens a viver com maior sabedoria,
desfrutando cada minuto e cada dia como autênticos cristãos. Em vez da
busca do eu no eu mesmo, o que hoje em dia está muito em moda no esoterismo
e no misticismo oriental, faremos essa busca sadia na Palavra de Deus.
Manter uma identidade é um grande desafio. Não só porque temos a
tendência de nos esconder ou imitar imagens estranhas a nós. Também
pelo fato de as pessoas terem o hábito generalizado de encaixar máscaras
umas nas outras. A grande maioria vive envaidecida ou deprimida por uma
imagem que nem é real; isso é o que crêem ver.
0 Menifno
(Troduçõo. Autor desconhecido)
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PROLOGO
Refletir é pensar, meditar. Pensar é um exercício mental que engloba
questionamentos e conseqüentes resoluções. Quando se pensa, elabora-se
perguntas sobre o assunto em pauta na mente, e se tenta responder a essas
indagações com sucesso, em boa parte das vezes. Meditar é ir além da
superficialidade, é ver fundo pela análise, perceber coisas que uma tênue
observação não consegue perceber. E extrair respostas através de contensões,
é exercitar a massa cefálica no propósito de chegar a conclusões sobre assuntos
conflitantes, expoentes, grandes ou simples, pequenos e usuais. Isto não é
prerrogativa só dos filósofos. É um privilégio de todo ser humano. Refletir:
É tudo o que tento fazer neste livro em relação aos temas propostos.
Os dois assuntos em foco podem ser vistos como tremendos: Alma e
Tempo. Contudo, acrescento que esses dois temas, ao serem analisados e de
certa forma destrinchados, nos levam a coisas do dia-a-dia cristão, coisas
Reflexões sobre o .?ííma e o
comuns. Por isso, este livro não chega a ser enervantemente teórico, mas
aceitadamente prático. Além disso, tentei fazer o máximo para que as
reflexões não se tornassem muito alongadas ou simplistas. Procurei a
ohjerividade sem tirar a densidade. Em outras palavras, tive o cuidado de
fazer com que cada pensamento não fosse muito prolixo, porque, às vezes,
para o leitor, acaba indo “pro lixo”.
O sistema de debulhamento utilizado são questionamentos. Perguntando
e me perguntando, tendo como ponto de partida, base e ajuda para solução
dessas perguntas a cognição. o emgyjjmo, opiates e, principalmente, a
Palavra de Deus, cheguei a cada inferência registrada nessa obra e que são
adoçadas por textos de outros que pensaram nesses assuntos muito antes de
mim, e chegaram às mesmas conclusões. Isso significa que não são reflexões
plenamente novas ou conclusões inéditas que você encontrará neste livro.
As inúmeras citações de comentários de outros escritores comprovam isso.
A maioria esmagadora são apenas coisas antigas que aparecem aqui vestidas
do meu jeito de falar e escrever. As conclusões podem não ser inéditas, mas
o desenvolvimento das idéias, o modo de refletir propriamente dito, o é,
pois traz consigo minha marca, meu jeito.
Os cenários em que eu estava quando brotaram cada conclusão são os
mais variados e interessantes, ou mesmo estranhos. Por que digo “estranhos”?
Porque não surgiram como pomos de momentos de enclausuramento,
embrenhado numa biblioteca particular, trancado em contigüidade com o
silêncio, o que alguém chamaria de “ambiente propício para afloramento
de grandes reflexões”. Essas simples reflexões divididas em alguns capítulos •
são frutos que pude colher na floresta da existência em meio aos seus barulhos
naturais. Escritos em lugares os mais diversos, desde um pátio de escola a
um sofá, numa biblioteca comunitária ou diante de um computador, numa
sala de aula em momentos de intervalo ou após uma conversa fértil com
alguém, nas mais variadas situações, são palavras que surgiram em meio à
vida, pensamentos extraídos do viver, do bulício da vida cotidiana, adornados
por citações e aglutinados em formato editorial.
É saudável afirmar também nesse proêmio que essas reflexões não são
absolutas, ou seja, completas em si mesmas, mas estão sujeitas a acréscimos.
Elas foram escritas em um exíguo período de tempo, entre muitas ocupações
diárias e compromissos para pregar. Por que não me demorei um pouco
mais na elaboração e ampliação destes capítulos? Porque o livro perdería o
sentido. Ele não foi feito com o propósito de ser absoluto ou completo. Se
minha intenção fosse escrever um livro que dissecasse totalmente estes dois
temas, a mudança começaria no título do livro. Além de ser mais espesso,
deixaria de ser “Reflexões Sobre a Alma e o Tempo” para ser “Tratado Sobre
a Alma e o Tempo”. Não tive a mais fugaz intenção de esgotar esses dois
^írfinindn • ^Uma r
riquíssimos temas nesta simples obra. Estes capítulos não são tratados sobre
os temas que versam. São ensaios. São capítulos que discorrem sobre pontos
fundamentais desses dois temas. Em nenhum sentido devem ser olhados
como perfeitos, mas sempre como sucintas definições de facetas bonitas
(ou esquisitas) da vida interior e do tempo, e que são, de alguma forma,
simpáticos.
Talvez o leitor mais exigente insista e replique: “Por que esse objetivo ao
escrever este livro? Por que não um livro mais denso para tão vastos temas?”
Ora, a alma sempre foi um assunto exótico e atraente para filósofos, poetas
e religiosos. O tempo também é um tema sedutor para as mesmas classes de
pessoas. Destarte, eis um bom motivo para ser um tanto fugidio neste livro:
você perceberá que tentei tornar esses temas interessantes e práticos àqueles
que não são filósofos, natos ou coisa parecida, pois você não encontrará
definições mirabolantes nem uma linguagem extremamente longa, cansativa,
saturada de “entretantos” ou exageradamente rebuscada, lapidada e polida.
Não me limitei a colocar no papel somente os ângulos belos de cada
assunto. A alma não é vista apenas sob o ponto de vista da admiração. As
suas ambigüidades também foram percebidas, expostas e ligeiramente
sondadas por mim nas páginas que se seguem. A esta primeira parte, que
comenta a alma e seu contexto, resolvi dar o nome de “teologia das
interioridades”. A segunda parte do livro, que reporta sobre o tempo, chamei
“teologia do tempo”. Çhego a fazer algumas relações entre alma e tempo
nessa segunda parte. Na última parte do livro, tentei fazer uma relação mais
profunda entre os dois assuntos, e concluo com uma síntese dessa relação
no posfácio. O tempo também não passou despercebido. Nessa terceira
parte, as coisas boas que nos trazem foram frisadas, embora de leve, e as
“ruins” (coisas boas que nos são proporcionadas e que vêm travestidas
parecendo coisas ruins) também. A essa última parte chamo “teologia de
cronos e de kairós".
Algo ainda a ser notificado neste intróito é que os dois primeiros capítulos
soam mais como uma “aula” do que como uma reflexão, são mais técnicos
do que práticos.
Depois de citar e esclarecer brevemente algumas características deste livro,
resta ainda fazer e responder a uma pergunta: “Quais as intenções principais
em se escrever este livro?”
A primeira é a convencional — registrar pensamentos de uma maneira
mais permanente, ou seja, em forma de livro, porque verba volant, scripta
manent (provérbio latino: “as palavras voam, os escritos ficam”); a segunda
é compartilhar reflexões; a terceira é tentar, de alguma maneira, abençoar
você.
Se a primeira intenção foi vã ou não, só o tempo poderá nos responder.
Reflexões sobre a e o 3émfx>
M
ilhões de pessoas em toda parte do mundo têm buscado algo
voltado para o mundo interior. Hoje você chega às
universidades e não encontra, como há algum tempo, um
grande número de ateus. A moda a mexer com o inconsciente
coletivo de boa parte das pessoas de hoje não é mais o
materialismo ou o ateísmo, mas as coisas do mundo espiritual.
Os seres humanos parecem estar cada vez mais conscientes
do vazio no ser que possuem, de suas crateras internas, dos
seus buracos escuros na alma, e tentam preenchê-los com
um indefinido “algo-abstrato-real”á Parecem descobrir,
finalmente, que a felicidade independe do externo e visível.
Daí a freqüência dos jargões: “estar de bem consigo mesmo”;
“estar de bem com a vida”; “alto astral”, etc., que denotam
uma maior preocupação com o lado abstrato e interno de
cada pessoa.
Mas, como já deu para perceber, embora isso pareça ter
■ uma cura interior por meio de uma busca incessante por Jesus
através da oração e de uma vida pia.
Os jovens buscam cada vez mais o saber hindu ou budista,
sobre a vida endógena, a vida “por dentro”. O sucesso do
movimento New Age, instigado pela tendência globalizadora,
DlCOTOMIA OU TRICOTOMIA?
A
alma e o espírito estão cimentados entre si. Onde se encontra
a alma aí está o espírito. Os dois surgiram juntos e
permanecem juntos. Quando a primeira alma veio a existir,
ali estava o espírito.
Poderiamos nos contentar com essas certezas. Apesar disso,
há outras questões que normalmente vêm à tona quando
falamos da alma humana. Uma delas é: Qual a origem da
alma? Como se dá a formação da substância imaterial desde
Adão e Eva até nós?
Correntes
Uma corrente antiga, traçada no meio cristão a partir de
Orígenes (185-254 d.C.), aceita também por Justino Mártir
e outros, ensinou que a substância imaterial preexiste ao
momento da formação do feto, ao instante da concepção
física.
Essa teoria ruiu por não ter apoio bíblico. O fato de as
Escrituras informarem que Deus já nos conhecia ântes de
Tiascermos não prova a preexistência da substância imaterial.
Quando a Bíblia fala assim é para cientificar-nos de que Ele
sabe e conhece tudo mesmo antes de qualquer coisa vir a
existir ou ocorrer.
Dois gjupos de idéias têm prevalecido para explicar a
origem da alma e do espírito. As duas teorias as quais me
refiro são o criacionismo e o traducionismo.
O criacionismo assevera que Deus é quem cria diretamente
as substâncias imateriais de todos os seres humanos até hoje.
Deus assim faz, afirmam os criacionistas, em algum momento
que antecede o parto, em algum instante do processo de
formação do feto no ventre.
Reflexões sobre a .dtma e o .Jrmpo
E O ARREBATAMENTO ESPIRITUAL?
Vamos a outra questão: Quando o ser humano está vivo, isso significa
dizer que alma e espírito estão no corpo; quando o homem morre, isso
significa dizer que os dois abandonaram o corpo, ou seja, toda a substância
imaterial saiu da matéria. Mas, e no caso dos arrebatamentos espirituais?
Estarão os dois unidos?
Existem dois meios opostos de se ver um arrebatamento espiritual.
Podemos compreendê-lo como uma saída literal do espírito humano do
corpo (nesse caso o espírito humano pode, guiado pelo Espírito Santo, até
mesmo fazer excursões às regiões desconhecidas) ou como uma revelação
trazida ao espírito humano (nesse caso o arrebatamento não seria literalmente
a saída do espírito do corpo).
Os apóstolos Paulo (2 Co 12), João (Ap 1.10) e Pedro (At 10.10) são
casos de pessoas que experimentaram o arrebatamento espiritual. O próprio
Paulo chegou a dizer que não sabia explicar precisamente o que acontecera:
“Se no corpo ou fora dele, eu não sei, Deus o sabe” (2 Co 12.2,3b).
((ttà/aí(o com as (speculates!
percepção física. O termo, então, aponta para uma experiência num outro
nível, num grau de percepção maior, isto é, percebida apenas com o espírito,
não com o corpo.
Além disso, esse termo é traduzido também como “fora de n”ou, melhor
.linda, como “êxtase”, o que sub tende alienamento em relação ao mundo
físico. Sendo assim, não há essa sugestão, não existe necessidade de
entendermos a experiência de Pedro como algo em que há participação da
alma.
Arrebatamento espiritual (ou êxtase produzido pelo Espírito Santo, como
queiram) acontece quando o ser humano, por causa de uma ação direta de
I )eus, passa a ter um alto grau de percepção espiritual ao ponto de obter
visões, de receber uma revelação particular ao seu espírito. É uma experiência
exclusiva do espírito humano com Deus.
Seja como for, fora do corpo ou não, isso não importa. Não devemos
dar ênfase a essas coisas porque, quando se mergulha nesse campo, abrem-
se espaços para experiências duvidosas, na maioria das vezes não genuínas,
não da parte de Deus. Se essas coisas acontecerem natural e realmente, tudo
bem; mas não devem ser procuradas, nem propaladas.
Alguém já me perguntou: “E quando o indivíduo sofre um acidente e
está em estado de coma?”
Uma pessoa num estado de coma está como alguém que dorme. Logo,
assim como num sono profundo estamos com alma e espírito no corpo,
vivos, mas inertes e até mesmo inconscientes, também pode estar um ser
humano em estado de coma. O espírito e a alma ainda estão ali, a pessoa
está viva, sendo que o ser está, como num sono profundo, inconsciente.
Passar disso é dar um tiro no escuro, é imprudência, é dar margem para o
extrabíblico.
No mais, não somos Deus para dizermos,éxatamente tomo é tudo. Pensar
sobre assuntos ocultos para nós pela Palavra de Deus é tentar “rachar fio de
cabelo” com machado e perda de tempo. Lembremo-nos de que existem
assuntos relevantes a serem debatidos e definidos, e podemos passar muito
bem sem conhecer esses miúdos perfeitamente, que não influenciam em
coisa alguma a nossa vida cristã. \ (
DEFININDO ALMA E
ESPÍRITO
é divino.
r O espírito é a faceta do homem interior que tem a capacidade de se
relacionar responsavelmente com Deus e conhecê-lo. Mas por quê? Porque
nela reside a consciência e a fé.
A consciência é o “tribunal” que há dentro de cada um de nós, que
condena ou aprova as nossas ações, motivadas e instigadas pela alma, e que
pode ser cauterizada ou arrefecida pela prática constante do pecado, bem
como pode vir à tona pelo toque inconfundível do Espírito Santo.
A consciência age na mente humana. Consciência é a ação do espírito
na mente, que é uma das facetas da alma.
Fé é a capacidade de crer, religiosamente falando. Ao referirmo-nos à fé,
falamos não da fé que é obtida pela ministração do Evangelho, não da fé
sobrenatural, mas de uma característica inata, congênita, inerente a todos
os seres humanos, uma capacidade de crer religiosamente falando, uma
tendência natural que todos possuem para a religiosidade e para a adoração
—a fé natural.
É por isso que é dito ser o espírito do homem a natureza religiosa do ser
humano. O homem só pode chegar a Deus através de Jesus, é evidente. Mas
para perceber Cristo, só com o despertar dessa fé pela ação do Espírito Santo.
Todo ser humano tem dentro de si uma inclinação natural para a
religiosidade. E por isso que se diz, também, ser o homem um religioso
incurável. Entendido isso, podemos compreender o que a Bíblia quer dizer
quando se refere à espiritualidade.
Espiritual e nâo-espiritual
Diz-se ser um homem espiritual aquele cujo espírito não é reprimido
ou rechaçado pela alma./O homem não-espiritual, então, é aquele no qual
seu espírito está adormecido, inerte, e dominado pela alma. É quando os
sentimentos, a alma, o nosso EU, a nossa personalidade/ o nosso ego,
preponderam, e não a consciência de que se deve viver na vontade de Deus.
É quando o desejo de fazer a vontade de Deus é abafado pelos impulsos da
alma./
Só através da regeneração — do encontro com Cristo e atuação do
Espírito Santo no homem interior — o espírito humano pode ser
restaurado e renovado (SI 51.10), voltar a ter vida espiritual, vida com
Deus, e a consciência da vontade divina prevalecerá sobre os seus
desejos.
É por isso que o reverendo John Wesley (1703-1791) chegou a ser enfático
demais ao ponto de afirmar algo que parece estranho à primeira vista: que o homem
é dicótomo antes da regeneração e tricótomo na pós-regeneração. Eu creio que ele
tinindo. r,tíma t
nao (x-nsava no sentido literal, não queria referir-se a um elemento extra, acrescido
,i nossa constituição quando aceitamos Jesus como Salvador e Senhori
Essa idéia erroneamente atribuída a Wesley nos incentiva a uma heresia,
pois nos leva a imaginar que esse terceiro elemento surgido trata-se do
Espírito Santo e, então, passaríamos a pensar na existência de um deus que
faz parte da nossa constituição, quando é o inverso: Ele é Deus vindo habitar
cm nós, que traz vida ao meu espírito, o qual estava morto.
Wesley evocava a ressurreição da vida espiritual do ser humano nesse
processo. De qualquer forma, é bom evitarmos tal definição por precaução
contra heresias. Mentes fantasiosas podem entender o contrário.
Algo importante a ser dito ainda sobre o espírito é que na Bíblia não
aparece algo que fale sobre pecado do espírito. Sobre a alma muitas
vezes é dito nas Escrituras que ela pecai rnas não o espírito. O pecado
parte da alma. '■ >>
No entanto, o espírito pode tomar características perversas, mas todas
frutos da influência da alma corrompida, visto que, quando o homem
não é espiritual, isso significa dizer que o seu espírito está inerte e subjugado
pel as influências de sua alma corrompida, como já foi dito. A consciência
abafada não mais condena as ações, o senso pelas coisas divinas é apagado
c, então, o espírito, avassalado, dominado, absorve atributos daquele que
o governa, que pode ser qualquer sentimento preponderante na alma
humana. ‘
Nas Escrituras, se o sentimento reinante em uma pessoa (em sua alma),
por exemplo, é a inveja, se é dito que essa pessoa tem um “espírito de inveja”,
o espírito dela está abafado e tolhido pelo sentimento de inveja que brota
de uma alma pecadora.
O pecado não parte do espírito, visto que nele está enraizada a lei moral,
que é aplicada pela consciência. O pecado, contudo, mancha o espírito. O
espírito perde suas características naturais pela terrível influência poluidora
da “carne”, que definiremos mais adiante.
Desfazemos aqui a idéia de que o espírito do pecador na hora da morte
vai para Deus e desaparece nEle enquanto a alma deste vai para o Inferno
sofrer seus castigos. Ora, se o espírito é cúmplice, não há dois destinos
diferentes para os elementos imateriais. A substância total vai ganhar um
destino único após a morte, definido pela maneira como se posicionou
diante de Deus durante a vida aqui na Terra.
O espírito é, portanto, um lado da substância imaterial do ser humano
que mais se relaciona com Deus, mas que se encontra acachapado na vida
daqueles cujos sentimentos, impulsos e instintos de sua alma prevalecem, e
não a vontade de Deus.
Reflexões sobre a .Hina e o .‘írmfx
O QUE É A ALMA?
"boneco” de barro, a Bíblia nos diz que ele se tornou “alma vivente”. Isso
significa dizer que o homem é uma alma revestida de carne |e dotada de
espírito.
(.) corpo é o invólucro da alma e o meio pelo qual ela se comunica com
o mundo ao redor. A alma é o agente, o corpo é o vetor, a agência, o veículo.
(iorpo e alma estão casados entre si, associados entre si. Um depende do
outro. r
Os gestos, as ações, os movimentos do corpo, são todos gerado^na alma,
mas, por outro lado, os pensamentos, as deliberações e as intenções são
produtos do que o corpo, através dos cinco sentidos (visão, audição, olfato,
lato e paladar), pode absorver do meio.
Compreendido isso, podemos partir agora para a definição de alma a
partir do que se processa nela.
AS TRES FACETAS
DA ALMA HUMANA
A
alma é, basicamente, o composto de várias facetas da
personalidade que se distribuem em três “compartimentos”
definidos: vontade, emoção e razão, sendo essas dois últimos
presididos pelo primeiro.
Em outras palavras, a vontade, a emoção e a razão, que
compõem a alma humana, formam juntas o que nós
I chamamos de personalidade, ou seja, ha alma reside a
I
I personalidade do homem, ou ainda, alma e personalidade
são termos praticamente sinônimos. Quando se fala de alma,
alude-se à personalidade e vice-versa.
Alguns desses “compartimentos” têm um termo
normalmfente a ele relacionado.
Coração
Para as emoções, geralmente o termo utilizado para se
referir a esse “compartimento” da alma é coração.
O termo “coração”, na maioria das vezes, surge na Bíblia e
nos livros seculares relacionado aos sentimentos. Não é à toa
que comumente se diz que o coração é a “sede das emoções”.
Quando se fala de “coração”, refere-se à alegria, tristeza,
medo, calma, amor, indiferença etc. No entanto, embora o
“coração” seja basicamente a sede das emoções, devemos
lembrar que ele também surge nas Escrituras relacionado a
outras coisas que não são sentimentos.
O “coração” na Bíblia também é visto deliberando,
decidindo e refletindo. Agora, por que isso? Porque o termo
“coração”, em si, além dos seus significados convencionais, que
são o de órgão central do corpo humano que cuida de bombear
o sangue para todas as partes do organismo e o de “sede das
emoções”, também significa, na sua essência, etimolo-
Reflexões sobre a .^Uma e o .Jfmftc
Mente
Para a razão, o “compartimento” é a mente. Assim como um
computador guarda seus arquivos no winchester, também nós, seres humanos,
guardamos nossos conhecimentos na nossa mente.
A mente é o que, particularmente, chamo de o '"winchester do
homem”. É nela que nós gravamos imagens, cores, cheiros, impre&ões,
palavras proferidas por alguém, gestos, fisionomias e fatos, às vezes de
uma maneira tão quase perfeita que, ao abrirmos aqueles arquivos na
) nossa mente, ao relembrarmos cada fato vivenciado, parece que os
contemplamos se desenrolando novamente diante dos nossos olhos. E
nela que se processa o nosso raciocínio, que desenvolvemos idéias e
opiniões.
Aqui chegamos ao segundo ponto que diferencia o ser humano dos outros
seres. O primeiro, só relembrando, é o já citado fato de o homem ter espírito
e os outros seres não, o que o leva à comunhão com Deus. O segundo, no
caso, é a racionalidade.
Os animais irracionais têm alma; o princípio da vida animal, contudo
não têm suas almas dotadas de racionalidade. A alma do homem difere da
do animal. O homem maquina, pondera, medita, pensa; os demais seres
não. Somente o homem é, na Terra, ser racional.
O outro ponto que distingue os humanos dos demais animais é a
imortalidade. A alma do animal dura até o último suspiro de o seu corpo,
. ifarcfab fia ^llma IHamana
mas a do homem é imortal; ela continua viva após a morte devido ao fato
de receber energia do espírito.!
Neste ponto, antes de falar sobre a vontade, desejo rever com você, como
prometi, a questão do coração.
Ao citarmos “mente” e “coração” como termos para designar e distinguir
respectivamente razão e emoção, estou plenamente consciente do fato de a
Bíblia muitas vezes referir-se ao coração como um lugar onde também
desenvolvemos pensamentos e decisões. Por exemplo, Hebreus 4.12, já
iiiado, fala de “pensamentos e intenções do coração”. Relembramos e
t.itificamos que, quando isso ocorre, é para se falar de pensamentos mais
íntimos, desde que o termo coração é utilizado, prioritariamente, para se
referir ao centro e profundidade da personalidade humana.
Compreendido isso, vamos à terceira faceta da alma.
Vontade
A vontade é um dos “compartimentos” da alma que forma a
personalidade humana e que está inserida entre a mente e as emoções, e,
por vezes, muda de partido. Ela tem sua sede na alma, mas indefinida entre
os sentimentos e a razão.
Dependendo da pessoa (se é emotiva ou racionalista) ou da situação
(posto que a vontade, às vezes, é produto do meio e do momento), a vontade
pode fazer sua sede com‘as emoções ou então com a razão. Uma hora habita
com a emoção, outra hora tende para a razão.
Os sentimentos e a razão substancializam^ a almas e a vontade os
administra. Os substantivos do ser são adjetivados pela vontade. Os
sentimentos são qualificados ou desqualificados pela vontade. E ela que
reprime ou dá evasão aos sentimentos.
Na administração dos sentimentos e pensamentos, a vontade é um rei
maleável. É ela que decide e determina as ações; mas essas decisões e
determinações são fomentadas pela razão ou pelos sentimentos..Enfim» ela
administra, mas sofre influências, gosta de pular o muro.
Emoção, intelecto e vontade — essas são as facetas da alma humana.
CONFLITOS
INTERIORES
1
de fazer “altares” para seus ídolos e desfazê-los com a mesma
rapidez que os produziu. A alma tem seus amores e inimigos,
mas pode, de repente, promover um de seus inimigos como
seu novo amor e um de seus amores como seu novo inimigo.
Ela se apaixona facilmente por coisas e seres com a mesma
intensidade com que os trai. A alma normalmente é vacilante,
indefinida.
Mas, além das preferências da alma e das indefinições da
vontade, onde são percebidas contradições, temos outras
batalhas interiores orocessadas no âmapo do nosso ser.
Um certo homem sabe, por evidência mais que comprovada, que uma
certa moça bonita que conhece é mentirosa e que ela não sabe guardar
segredos, que não merece confiança; mas quando está com ela sua mente
perde a fé na evidência e começa a pensar “talvez seja diferente agora”, e
mais uma vez faz uma tolice e conta-lhe algo que não devia. Seus sentimentos
e emoções destruíram a sua fé no que sabia ser verdade.
Porque bem sabemos que a lei [as ordenanças de Deus] é espiritual; mas
eu sou carnal, vendido sob o pecado. Porque o que faço, não o aprovo, pois
o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço [...] Porque eu sei
que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito,
o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem Porque não faço o
bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço [...] Porque, segundo o
homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas vejo nos meus membros
outra lei [princípio mau enraizado na alma, tendência natural para o mal, a
carne] que batalha contra a lei da meu entendimento [Paulo se refere à
consciência, um apanágio do espírito humano que aplica a lei moral na
mente] e mc prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros
(Rm 7.14,15,18,19,22,23).
O drama é intenso por si só. O simples fato de sabermos que essa luta
existe traz-nos agonia. Todavia, o drama se avoluma quando notamos a
enorme quantidade de sucessos dessa associação corpo-alma. Daí surge uma
avalanche de angustiantes questionamentos: “Como acreditar na vitória na
minha vida espiritual diante de tantos fracassos? Devo continuar ou desistir?
Será que adianta tentar mais uma vez? Não serão as próximas tentativas tão
em vão como foram as primeiras?’]
Parece tolice tentar mais uma vez. Os insucessos consecutivos querem
nos provar isso constantemente. “Eu quero tentar, mas vale a pena?”
“Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”
(Rm 7.24)
P' O caso é seriíssimo. Por causa dessa luta existem muitas pessoas que sofrem,
com traumas, sentimentos de culpa, autocomiserações, autovitimações,
psicoses, depressões e amarguras incontroláveis. Essas reações são, na maioria
das vezes, sintomas do conflito e não outra coisa.
Há coisa mais inquietante do que fazer o que não se quer realizar e não
conseguir o que se quer fazer? O espírito humano deseja realizar a vontade
de Deus, mas não pode por si mesmo vencer a conspiração da carne. Não
existe saída.
Se alguns se entregarem defmitivamente à carne, sabem que, agindo dessa
forma, nunca serão felizes. Se outros lutarem para vencê-la com suas próprias
forças, correrão o risco de padecer problemas até de ordem psicossomática,
‘Uma .flihi. {aíiría
São essas lutas esquisitas e fatídicas que fazem o ser humano confundir-
«• consigo mesmo,; não confiar em si mesmo,, desgostar-se e até odiar-se.
I iido porque realmente não se conhece, não se entende. Ninguém se conhece
pcrfeitamente.-
Por mais anos que vivamos neste planeta, nunca nos conheceremos
pcrfeitamente. Sempre haverá momentos em que, sem esperarmos, as nossas
emoções nos trairão, nos darão sustos. Seremos surpreendidos por nós
mesmos.
Quantos já não foram enganados pelos seus próprios sentimentos e
impulsos? Quantas pessoas já não se enganaram com elas mesmas? Quando
pensavam que se conheciam muito bem, as suas almas revelaram
i aractcrísticas nunca antes percebidas. ]
Quando pensávamos que éramos resistentes, descobrimos ser um puro
engano. Quando nos achávamos fortes, descobrimo-nos fracos. Quando
nos sentíamos sábios, repentinamente nos sentimos ignorantes, sem
eloquência, sem argumentos, inconsistentes, premidos pelas circunstâncias,
win vermos saída alguma. Por outro lado, quando nos víamos débeis,
emrcmamente frágeis, quando o certo era voltar atrás, fomos surpreendidos
desagradavelmente pelos nossos impulsos, por reações bruscas e
tompletamente indesejáveis que não sabíamos a razão de chegarmos a
«Itliações como “aquela”. Nunca entrou pela nossa cabeça reagirmos assim,
lalannos daquela maneira, etc. Mas aconteceu.
! ., acontece com todos. Por quê? Porque todos somos humanos.
I ânto faz reagirmos bem hoje como de repente agirmos tresloucadamente.
Ai vezes, sentimo-nos, aqui e agora, arrebatados, no vértice da vida, na
pane superior da existência, para, momentos depois, nos sentirmos lançados
num abismo, arrebentados, afundando-nos nas partes mais abissais, escuras
c profundas do ser.
() profeta Jeremias, inspirado pelo Espírito Santo, já dizia no livro que
leva o seu nome: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
perverso; quem o conhecerá?* 0r 17.9).
Reflexões sobre o .d/ma e o démpo
Que bálsamo!
Mas a nossa solução, esperança e consolo estão no verso seguinte: “Eu, o
Senhor, esquadrinho o coração...” (Jr 17.10).
Que notícia extraordinariamente confortante, aliviadora! Que bálsamo!
Provavelmente eu não me conheça plenamente e por isso não consiga
resolver a complexidade da minha alma, mas existe uma saída, uma luz
no fim do túnel, uma escapatória, uma única, mas certa solução: .D.euL
conheceprofundamente todo o meu ser, com todas as suas complexidades. Aleluia!
Escute: para termos, almas sadias, jamais procuremos vencer a nós
rfiesmos. JBasta lançarmo-nos nos braços de Deus .corn todas as nossas
ambigüidades, porque, afinal de contas, Ele nos conhece. Foi Ele quem fez
cada fibra da nossa alma.^
Deus pode estabelecer coerência no lugar da nossa ambigüidade; Ele
pode implantar equilíbrio onde antes havia confusão; Ele pode estabelecer
paz sobre os nossos conflitos interiores; Ele pode resolver todas as questões
e problemas mal resolvidos e que gravitam soltos no mundo infinito do
nosso coração; Ele sabe, pode e quer colocar tudo em seu devido lugar,
porque foLEle quem nos criou e, por isso, conhece cada sala da alma, cada
baú fechado, o que sobra e o que falta, o que deve sair e o que deve
permanecer, o que está no lugar certo e o que transita solto e colide alucinada
e violentamente com as paredes do nosso peito; enfim, a estrutura nossa
por completo.
- Já dizia Agostinho, bispo de Hipona e teólogo do quinto século depois
de Cristo: “Ó Senhor [...] nossos corações só descansarão quando
[encontrarem descanso em ti”. Todas as lutas que envolvem a alma só se
encerram quando nos jogamos nos braços do nosso Criador.
C Assim, o conflito da carne contra o espírito tem por vencedor o espírito,
porque, quando recorremos a Deus, não nos encontramos mais no combate
sozinhos contra nós mesmos. O espírito humano soma forças com o Espírito
de Deus e então a batalha é ganha, o homem é reestruturado. E o que
Uma .fyta , \oticia
"Sonda-me, ó Deus!"
Diante de tão maravilhosa possibilidade, resta-nos somente proferirmos
as palavras do salmista Davi registradas no Salmo 139: “Senhor, tu me
sondaste e me conheces [...] Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração;
prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum
caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (SI 139:1,23,24).
Davi fala de duas sondagens nesse salmo. Há dois tipos de sondagens, e
que são distinguidas pelos seus respectivos objetivos. A sondagem pode ser
para conhecimento ou para purificação.
A primeira sondagem na qual Davi fala é uma referência ao fato de Deus
já nos conhecer inteiramente sem precisarmos ainda revelar-lhe algo. A
primeira já foi feita antes mesmo de nós nascermos. Ele já nos conhecia.
Mas a segunda tem outro propósito, e esse é bem claro:'“Vê se há em mim
algum caminho maii\e guia-me pelo caminho eterno”. É para purificação.
Ela sempre se faz necessária. Quem sabe você precisa dela neste momento?
Pare um pouquinho agora. Pense em você mesmo aí onde está. Feche os
seus olhos, se quiser, e “viaje” para dentro de você mesmo.
Fez a incursão? Como será que estão as coisas lá por dentro?
Talvez você esteja assustado nestes últimos dias com as contradições,
de sua alma, com a sua inconstância^ Você está profundamente perplexo,
quem sabe, com a maneira desordenada pela qual seus sentimentos fluem e
o assustam.
Talvez você se sinta meio confuso quanto a não saber que caminho tomar,
o proposto pelas emoções ou o proposto pelo intelecto. Você se sente numa
' encruzilhada sem letreiro, perdido, indeciso. As bifurcações aparecem
constantemente no seu caminho sem sinalização...
‘Ilina , \(4iciu
Nao se preocupeÁOs nós da alma tanto devem como podem ser desatados./1
A possibilidade é real.
I )cus já o sondou e o conhece. Ele sabe a sua história, o seu drama
palmilhado no mundo escondido e sombrio das suas interioridades. E Ele
tpiri que você saiba que existe solução para tais conflitos.
Você não precisa enfrentar-s^ e olhar sempre assim, de uma maneira
melancólica e quase histérica, Você não precisa ter auto-aversãc/ojerizar a
ti mesmo e machucar-se tanto e constantemente/^presentETsüa alma para
4 X us, apresente seu mundo interior para Ele, entregue-lhe siiascsqujsgiges
embrenhadas no coração,^g.diga:
"( )h. Espírito Santo, sonda-me! Investiga-me, vai até onde eu não posso
li c examina se existe em mim algum caminho mal traçadd, algum erro,
al^mn complexo, alguma guerra, memória amarga, trauma, indefinição,
mixórdia, trama dos meus sentimentos, conspiração interna, algum
llmcncontros das emoções, algum desejo de não fazer a tua vontade
plcn.unente. Faze uma amputação espiritual, um transplante. Arranca tude
h»o de mim, coloca o que falta e guia-me pelo caminho que desemboca ru
rlocc eternidade contigo, por amor de Jesus”.
Sc você fizer isso, nunca mais será o mesmo! Tudo isso que hoje <
Incomoda será uma página virada na história do seu íntimo. A paz reinar;
para sempre!
FÉ, E
E
Emoção não é fé
Gostaria de iniciar esta reflexão com algumas perguntas: Sempre hí
congruência entre fé e emoções? Fé sempre gera emoções? Quais o:
momentos em que posso estar certo de que minhas emoções são coadunáveii
ou não com a minha fé? Há conciliação entre as duas coisas?
Avaliaremos e tentaremos responder a essas questões e, à medida que <
fizermos, inseriremos aos poucos um outro assunto essencial à verdadeira fi
— a razão.
Meditemos neste e nos próximos dois capítulos sobre uma questão d<
cada vez.
r A primeira questão é: Todos os momentos da vida de fé produzen
emoções? São emoções indispensáveis à fé, ou esta pode subsistir sen
emoções?
Para nos sairmos bem, é necessário, antes de tudo, distinguirmos fé <
emoções.
Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele
nos livrará do forno de fogo ardente e da tua mão, ó rei. E, se não, fica
sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem
de ouro que levantaste (Dn 3.17,18).
qur cia seja um fim em si mesma/ não qúe seja fé na fé,/mas porque é o
lllélodo de Deus para que nós cheguemos até Ele e, assim, consigamos
lüquirir todo suprimento interior ou exterior que nos seja realmente
Hr* mário, conforme a óptica da vontade de Deus.
Quando priorizo o que vejo, crio um conflito entre o que vejo e o que
verdadeiro. Deflagro o confronto entre emoções e fé. O que sinto torna-í
contraposição do que eu creio. Não é à toa que C. S. Lewis definiu fé com
“a arte de continuar a admitir as coisas que a razão já aprovou, apesar dí
mudanças de ânimo”. Não que as emoções sejam inimigas da fé mesm
depois de rendermo-nos a Deus, mas é a visão que, algumas vezes, <
contrapõe à razão e à fé e pode atiçar e usar as emoções. Tenho que rr
precaver para que isso não aconteça. i .
< .flayic
I )cus diz: “O justo viverá da fé; e, se ele recuar, a minha alma não tem
piit/cr nele”. Não feche os olhos. Veja. Mas não só isso! Medite na Palavra e
d*l mc as suas emoções serem |estruturadas|a partir dela, e não do que voçêjvê^
Analisemos alguns trechos que destacam a importância da razão na fé e
Jgiins aspectos dessa importância.
Podemos encontrar, em Isaías 1.18, Deus falar ao povo de Israel, “Vinde,
HIIAo, e argüi-me”. Aqui Deus claramente assevera que a razão é importante
pai a l .le e para a fé. Não entenda este “argüir” como discussão. Deus chama-
Hihi para argumentar com Ele, não discutir! Ele nos convoca para nos
HHliiinicarmos com Ele, para conversarmos com Ele e para uma reflexão
profunda, para considerarmos a sua vontade e meditarmos. , I
I in Romanos 12.1,2, Paulo assevera que o nosso/culto deve ser racional/
Nchsc texto bastante conhecido, ele insiste: “Rogo-vos...” Paulo insistiu no
Hcrcício da razão na vida cristã.
() culto autêntico é racional, pois devo refletir no que canto, refletir na
llllnistração da Palavra, saborear a leitura das Escrituras, etc. Se não medito
duninte o e no culto, não cultuo, inclusive, para melhor envolvimento
rinocional nosso com o culto, deve haver um melhor envolvimento
Intelectual nosso com o culto. Um culto a Deus saudável prioriza tanto as
rtnoções como a razão, nenhuma mais do que a outra.
A razão tem um papel importante no projeto da fé; porém, quando ela
*r rebela contra a fé, pende sua identidade, torna-se estultícia. Um homem
Intelectual que morre sem Jesus foi um tremendo tolo, apesar de tanto
mnhecimento. Ele foi intelectual, mas não sábio; tinha conhecimento, mas
nao sabedoria. E por isso que o profeta chegou ao ponto de dizer: “Nem os
loucos errarão o caminho”. Até um louco, ao crer em Jesus e deixar o pecado,
pode chegar aos céus pela fé.
Existe um pouco de razão básica mesmo no louco. O louco não é
lotalmente divorciado do intelecto. Ele pode chegar ao conhecimento da
Verdade. O louco ou ignorante que aceita Jesus é mais sábio do que qualquer
tipo de pessoa que assim não faz. Com isso, não pense que o Cristianismo
deve ser visto ironicamente como um Erasmo de Roterdã, que depreciou a
tuzão e elogiou a loucura. Muito pelo contrário! Refiro-me ao fato de a
l a/ão da fé ser superior à lógica humana, sendo até possível um louco, um
ignorante, mas que crê e observa a Palavra de Deus, ser salvo, pois ele pode
direcionar seu resquício de razão para o lado certo e ser salvo, enquanto
nina pessoa cheia de entendimento pode chegar a canalizar toda a sua
i .ipacidade cognitiva para o lado errado e perder-se.
Para simplificar, em primeiro lugar,|a fé inclui a mente^ Ao concluir a
Mnie.se, em segundo lugar, eu diria que a fé algumas vezes ultrapassa a razão.
Reflexões sobre a ^Uma e o drmfro
Ela não deprime a razão, ela a ultrapassa. A razão é importante para a fé at1
onde ela não invente suplantar ou dispensar a fé, porque, a partir dJ
momento em que ela tende para esse lado, paulatinamente se transformarl
em estultícia, como já afirmamos. Com isso, aludo ao fato de não podermol
sempre usar a razão para explicar as coisas de Deus. A razão, nesse caso, A
pós-fé. Ela deve ser usada para extrair conclusões ou lições daquilo qua
aceitamos por fé. I
Quando cremos em algo, conforme a coerente definição de fé de C. SI
Lewis, a razão aprovou esse algo. Eu diria que você deve perceber que issd
não significa explicar. Posso aceitar algo sem conseguir explicá-lo. 1
Há coisas na fé que podem ser explicadas, mas existem outras que são]
inexplicáveis pela nossa razão, que não são suscetíveis a silogismos, mas]
recebemos pela fé e, porque as recebemos, porque as experimentamos!
sabemos serem verdade. Temos, então, nesses casos, um conhecimento!
experiencial, empírico. Não sabemos perfeitamente (“porque, em parte!
conhecemos” — 1 Co 13.9a) como se processam essas coisas que aceitamos,]
mas sabemos existirem, porque são fatos comprovados e, acima da minhd
experiência própria e da de outros, têm base bíblica. Por isso mesmo não é
uma fé cega, sem base. A base de tudo que a fé cristã nos proporciona, quer
a razão explique, quer não, sempre é a Bíblia', a Palavra de Deus.
Se eu estiver diante de uma experiência que não tem base bíblica, devo|
abandonar tal experiência, pois não sei qual é a sua real procedência. Podd
até ser real, mas pode não ser de Deus\Serei enganado se não rechaçá-la.I
Mas, se tem fundamento na Palavra, é diferente. Cri no que estava escrito]
na Palavra de Deus e achei exato, recebi o que cri. É exato e é de Deus. Cri
para sentir e, então, pensar. A razão aprovou o que não conseguiu explicar,
apoiada no que diz a Palavra, e depois comprovou, o que a levou a tirar Jições
e abalizar princípios.! Primeiro ela aprova^ depois comprova (“se crçreSjverái
a glória de Deus”) e, porquê comprova, não agiu irracionalmente. O que
aprovou mostrou-se comprovável.
A razão da fé não é loucura, pois está abalizada no que Deus diz e em
fatos que fazem, inclusive, com que esperemos confiantemente por outras
promessas que a Palavra nos faz. Agora, para quem não reconhece a razão
da fé, parece ser loucura. Só quem conhece um determinado assunto pode
opinar sobre ele. A desconfiança e a insegurança são decorrentes do
desconhecimento. Se estou imerso no mar de Deus, compreendo tudo que
se passa nesse mar augusto, porque estou nele. No entanto, para que eu
entre nesse mar, é necessário esvaziar-me de todo preconceito que possa
existir entre a minha pessoa e essa nova experiência.
A mente humana não pode alcançar os profundos e escondidos mistérios
de Deus. Há lógica na fé, mas há coisas que a lógica não alcança, a não ser
•ti,
|H'h lé. E por isso que afirmamos que a fé tem a sua própria lógica - a lógica
ih lé on a razão da fé. O intelecto humano participa da fé, mas a fé nãò é
Mt Id va do intelecto. O intelecto é que tem de estar sujeito à fé, mas, como
|4 Irhamos, não numa relação de esmagamento. Ele existirá sempre no
|tti)irsso da fé, mas nem sempre como causa (pensar para crer). Às vezes
Wi4 efeito (crer para pensar). Vale a pena lembrar o bordão deste capítulo:
"Nem sempre pensar é crer, mas crer sempre é também pensar”.
Sr quero superar todos os obstáculos desse longo percurso rumo ao
i unliccimento de todas as verdades, a minha razão deve absorver a razão da
porque existem obstáculos nesse percurso que a razão consegue transpor,
lllrt* existem outros que ela só ultrapassa com o auxílio da fé. Ela participa
ilr»»r processo de ultrapassagem, mas atrelada à fé. Como alguém já disse,
"oiulc a razão não_pode andar, fé pode voar”. A razão salta as muralhas da
tlüviila amarrada na fé.
lazendo uma sinopse dos dois assuntos, no caso das emoções, a regra é
yci para sentir, nunca sentir para crer, porque, por mais que seja possível,
hA<> é seguro. No caso da razão, a regra é crer pensando, nunca crer sem
|wn*ar, e na seguinte relação: crer para pensar e pensar para continuar crendo;
At rcditar para pensar e pensar para impulsionar a fagulha inicial da fé.
I .m forma de súmula, eis aqui as duas principais premissas sobre a relação
l«* razão-emoções e que nunca devem ser postas de lado:
coisa alguma disso. Era Deus que aproveitava aquela situação para prová-lo
Observe, após a prova de fogo experimentada por ele, o que disse: “Bem se
eu que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedid<
[...] Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos’
(Jó 42.2,5).
Esses desertos emocionais servem para estreitamento do nossi
relacionamento com Deus, servem para vermos que se pode viver com <
Senhor sem o mimo de grandes emoções, servem para forjar, moldar e tornea
um caráter inabalável. E Deus que exercita a nossa fé, a fim de amadurecê-l
através desses ermos emocionais. [Afinal, o justo não vive do que vê nem do qu<
sente, mas pela fé. Fé, indiscutivelmente, pode sobreviver sem grandes emoções
Pensemos agora no outro lado do assunto.
Embora a fé independa de emoções, apesar de emoções na vida de um;
pessoa que se diz crente não poderem sinalizar uma grande qualidade d<
vida cristã, isso não me autoriza dizer que fé não gera emoções. As emoçõe
podem ser compatíveis com a fé; a fé promove emoções.
Emoções na conversão
O problema de muitas pessoas é o de polarizar as coisas. É erradíssimc
divorciar emoções da fé. Emoções estão relacionadas à fé / mas não num;
relação de necessidade. Dizer que a fé vem antes das emoções não signifies
afirmar que a fé desaprecia as emoções. A fé as valoriza. As emoções sã<
importantes para a fé. Não sejamos extremistas.
O aceitar Jesus, o entregar a nossa vida a Ele, é um acontecimento qu;
marca a vida de qualquer pessoa. Como falei linhas acima, pode have
conversões sem muita emoção, sem “frenesi”, sem as “convulsões” relatada
nas conversões ocorridas durante as pregações de George Whitefield ou d<
John Wesley (no século XVIII, na Inglaterra), sem muitas lágrimas; contudo
em todas elas é preciso que haja evidências de impressões profundas n;
alma, mais cedo ou mais tarde. Uma conversão que não muda, que nã<
marca, que não faz diferença das outras experiências vivenciadas, que nãc
coloca impressões novas, intrínsecas e indeléveis na alma, não é conversão
Uma pessoa que se considera convertida, mas nunca sentiu o toque d<
Senhor a mover o seu íntimo, tem uma conversão duvidosa. A verdadeir;
conversão desmonta o nosso ego, transforma a nossa vida por completo <
para melhor, muda muitas das nossas convicções, mexe com as nossa
estruturas, ou seja, a partir daquele dia (ah, aquele dia inesquecível!...), nó
nunca mais seremos os mesmos. A vida é revolucionada, reencaminhada,;
visão da vida é outra, é alargada, começamos a observar a existência por un
prisma nunca antes percebido, o linguajar é outro, os pensamentos sã<
trdilecionados, o jeito de viver é afetado, tudo clareia, desde a mente ao
i oração. A revolução passa pela razão, mas não só por ela, pelos sentimentos
iMinbém. A fé mexe com as emoções.
I Jma conversão que não é caracterizada por expressões fortes de emoção
lio início, não significa que a fé expressa é falsa. E uma conversão que atingiu
4 ra/lío e haverá de provocar impacto mais profundo nas emoções também,
4 torto ou longo prazo. Devemos apercebermo-nos de que nas conversões
|»'niiínas a pessoa se sente tocada quando decide estar ao lado de Cristo,
llian nem sempre esse toque é muito forte, nem sempre é um impacto.
Muitos só depois, durante o cultivo da espiritualidade em suas vidas, é que
wiilcin momentos sublimes na presença do Senhor. Caso contrário, se não
limarmos interesse algum por esse tipo de cultivo em suas vidas, temos o
direito de duvidarmos de tal conversão.
Alguns têm suas emoções abaladas no mesmo instante em que aceitam a
(IrÍMo, outros recebem o impacto nesse compartimento da alma no decorrer
ila vida convertida, ou seja, a fé, em curto ou longo prazo, se a decisão para
|i'»ux for sincera, atingirá em cheio as emoções e provocará sentimentos
lllblimes.
A comprovação bíblica de que fé gera emoções é vasta. Vejamos algumas.
Note esta história por demais conhecida, a experiência do cego de Jericó.
O cego Bartimeu, esse era o seu nome (Mc 10.46), ao usar a sua fé,
ittlin.indo-a em Jesus, foi salvo e curado, e isso produziu lhe uma alegria
M'lti limites em seu coração. Ele externou a sua gratidão com brados de
llnrificação ao nome do Senhor. Essa história é uma bela ilustração do que
4i uiilece com todo aquele que se encontra com nosso Senhor Jesus Cristo,
hli.i vida é mudada. Ele deixa de ser “cego, mendigo e à beira do caminho”,
Rpii itualmente falando. Ele é abençoado por Deus, e essa bênção mexe
i oin <>s seus sentimentos, provoca gratidão, satisfação, uma alegria indizível,
tini gozo sem fronteiras, independente de circunstâncias e que só alcança
t|iirin está em Cristo.
Reflexões sobre a e o Jcm/»c
E eis que, no mesmo dia, iam dois deles para uma aldeia que distava de
Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaús. E iam falando entre si
de tudo aquilo que havia sucedido. E aconteceu que, indo eles falando
entre si e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou e ia
com eles. Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não
conhecessem. E ele lhes disse: Que palavras são essas que, caminhando,
trocais entre vós e por que estais tristes? E, respondendo um, cujo nome era
Cleopas, disse-lhe: Es tu só peregrino em Jerusalém e não sabes as coisas
que nela têm sucedido nestes dias? E ele lhes perguntou: Quais? E eles lhe
disseram: As que dizem respeito a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta
poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; e como os
principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o entregaram à condenação
de morte e o crucificaram. E nós esperávamos que fosse ele o que remisse
Israel [...] E ele lhes disse: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o
que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse
essas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés e por todos
os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras. E
chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe. E
eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e já declinou
o dia. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, estando com eles à
mesa, tomando o pão, o abençoou e partiu-o e lho deu. Abriram-se-lhes,
então, os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes. E disseram um
para o outro: Porventura, não ardia em nós o nosso coração quando, pelo
caminho, nos falava e nos abria as Escrituras? (Lc 24.13-21a,25-32).
Hulk ia. Seus corações perderam o fervor inicial que os inundara ao abraçarem
4 lé cm Jesus. A única coisa que restara do passado era a lembrança: “Nós
Hjwrávamos...” Não esperavam mais? Talvez não. A esperança certamente
liiM confinada ao passado. A fé deles sucumbira.
Foi quando o ambiente interior deles estava assim, em completa
ili>M>lução provocada pela incredulidade, pelo ceticismo que expulsara a fé
ik icus corações, que Jesus se aproximou deles. A primeira atitude do Mestre
lul questionar as razões pelas quais eles estavam tão entristecidos. A partir
iUl, eles, sem reconhecer o Mestre, contam-lhe os porquês, desabafam. Jesus,
»lllilo, após ouvi-los, repreende a falta de fé deles e expõe-lhes a Palavra de
I hui». Quando, por fim, reconhecem o Mestre e este desaparece, isto já em
I liirilis, eles comentam: “Oh, como ardia nosso coração quando Ele nos
• «punha as Escrituras!” Quando Ele falava, a chama que estava morta,
-qmgiida, reacendeu! Sim, aquele fervor espiritual!
1'rrccba que o fervor voltou porque a fé tomara os corações deles de
niivi» pela Palavra. A fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus (Rm
10,17). A fé produzida pela Palavra gerou emoções. Fé gera emoções.
acometido de febre. O rei James II ficava apavorado ao ver uma espada. <
filósofo Hobbes não conseguia dormir no escuro, pois, se teimava fazê-1
era atacado por tremendas crises angustiantes. O erudito francês Pierre Bay
não podia ver uma torneira aberta, porque pensava que a casa seria inundar
e não podia imaginar os resultados disso. Júlio César liderava grand
aventuras guerreiras, mas desfalecia ao ser envolvido pela multidão inofensn
e que em muitas oportunidades o ovacionava. Esses são alguns dos inúmerc
casos célebres de fobia na História.
E a covardia? A covardia é um medo exagerado diante de um perigo rea
mas superável. O medo faz-nos correr, põe-nos em fuga, mas para escaparmr
do mal real e impossível de ser superado. A covardia ou nos paralisa ou nc
faz correr da possibilidade de vencermos.
Quando eu digo que ter medo é saudável, eu não me refiro nem à covardi
nem à fobias, mas ao medo puro. Covardia e fobias são alguma
manifestações de um sentimento mal direcionado (no caso, a sensação d
medo). É sentir medo do que não é motivo para medo.
É importante destacarmos aqui, já que falamos de medo, o fato de qu
deve existir temor no nosso relacionamento com Deus. Não é pavor, ma
amor. Não é medo, mas respeito. Não é libertinagem, é intimidade. Não
indiferença ou fuga, mas temor, compromisso, apreço, consideração acim
de qualquer outra que se possa ter. “Antes importa obedecer a Deus do qu
aos homens”.
Temor e medo não são a mesma coisa no contexto bíblico. Ninguém pod
se relacionar com Deus por causa do medo. A base do nosso relacionàment
com Ele é o amor. O temor a Deus é algo que é provocado pelo amor a Deu
O temor a Deus não é um medo total, não é um pingo de medo miscigenad
com uma dose forte de afeto, ou seja, misturado com o amor.
O medo, propriamente dito, faz-nos fugir. O amor faz-nos aproxima
porque, nesse caso, pela presença do amor, o medo reage afastando-se
dando lugar ao apreço, à adoração, à veneração. O amor e o medo nã<
podem viver em concubinato no relacionamento com Deus. “O amor lanç
fora o medo” (1 Jo 4.18). O amor, lança mão da adoração. Aliás, de acord<
com os estudiosos no assunto, etimologicamente, o termo traduzido na
Escrituras como temor tem uma conotação de adoração.
O medo deve existir na vida cristã apenas naquela relação já referida entr
o crente e o pecar e o não se arrepender do pecar. Enfim, a base do noss<
relacionamento com Deus deve ser o amor, e a base do nosso relacionamentí
com o pecado deve ser o ódio e o medo. Quantas pessoas que
lamentavelmente, fazem o inverso: amam o pecado e têm medo de Deus!
Fora da vida cristã, na vida cotidiana, o medo só serve para os desafios e
mesmo assim, sem existir preponderância. Você deve se lembrar que, quand
•ft éntcçnfà
Fé e emoções na pregação
A pregação é algo que deve ser feito sempre sob o prisma
da união perfeita de fé com emoções. Imagine uma pregação
cheia de emoção, mas sem um bom conteúdo bíblico. E uma
pregação sem eficiência, uma mensagem que, ainda que
alcance algum resultado, não é consistente.
Agora imagine o oposto. Pense numa pregação com bom
conteúdo doutrinário, mas sem alma, feita sem participação
do coração. É uma mensagem fria, igualmente ineficiente,
não terá muitos resultados. Uma mensagem cheia de
intelectualidade apenas atinge a mente, mas uma mensagem
dada de coração atinge o coração.
Devemos atingir, na ministração da Palavra, mente e
coração de nossos ouvintes. Se a mensagem é bíblica, é um
pouco eficiente; mas se é bíblica e com coração, é super
eficiente. A pregação ideal é aquela na qual vemos o conúbio
entre a fé expressa com a razão e as emoções. Esse é o ponto
de equilíbrio.
É importante aqui citarmos uma das discussões bem
concorridas quando se vai falar de mensagem e quando os
que vão falar sobre esse assunto são pessoas de linhas
Reflexões sobre o .dlma e o Jtmfiv 1
evangélicas divergentes, ou seja, um é pentecostal e o outro é uH
denominacional ou um pentecostal mais retraído. “Pode-se falar em língul
estranhas em meio à ministração da Palavra ou não?” Tudo é respondidl
quando analisamos os casos sob a ótica equilibrante da fé expressa coii
razão e emoções. I
Antes de tudo, devo saber que quem concede as línguas estranhas é I
Espírito Santo; mas, por outro lado, quem fala em línguas é a própria pessoJ
não é o Espírito Santo que fala em sua boca. Logo, posso compreenda
facilmente por que o apóstolo Paulo afirmou que o espírito é sujeito al
profeta. Ele se refere ao meu espírito, ao espírito humano, pois, se fizessi
menção ao Espírito Santo, certamente não poderia dizer isso. O Espíritl
Santo é soberano.
Paulo também nos afirma que quem fala em línguas edifica a si mesmd
Porém, alguém pode objetar: “Mas eu me alegro muito quando vejo uml
pessoa falando em línguas”. Claro, o homem espiritual tem como uma dl
suas características principais o fato de alegrar-se com os que se alegrara
(Rm 12.15a). Quando eu vejo e percebo uma pessoa cheia de Deus, quf
fala em línguas concedidas pelo Espírito Santo, alegrando-se, sendo edificada
isso produz uma alegria tremenda em mim. Só alguém insensível é que não
se alegra com isso. Uma pessoa plenamente natural ou carnal vai achai
exagero ou, dependendo do que presencia, loucura.
Paulo refere-se, em 1 Coríntios 14.5, ao fato de que, se quero edificai
alguém, ou seja, se desejo que ele não simplesmente se alegre com a minhi
edificação mas sinta também o que eu sinto, seja edificado como eu sóu erí
outras palavras, se quero ser eficiente, devo dar ênfase à Palavra.
Se quero que a minha comunidade perceba e sinta o que percebo e sinto|
devo passar para ela tudo o que Deus me transmite, e isso é feito pels
ministração da Palavra. “A boca fala do que o coração está cheio”, signified
dizer também que a verbalização é o melhor método para traduzir para ol
outros o que recebo ou sinto.
O melhor meio de se passar o que se recebe internamente é através da fala
Paulo não diz que eu não posso em algum momento deixar escapar alguma:
palavras estranhas. Eu não vou me segurar quando elas vierem, mas o que c
apóstolo quer transmitir é que eu não devo também ficar só falando em língua:
ou falando mais línguas do que pregando a Palavra, nem muito menos usá-la:
como meio de despertar emoções nos meus ouvintes, o que é erradíssimo
Quando elas vierem espontaneamente, sem forçar, posso até falá-las, mas isse
deve ser um momento fugaz da pregação e só.
Devo conter-me porque a ênfase concentra-se na Palavra em qualquei
circunstância e, no caso de ela ser ministrada ao pecador, que não sabe <
$mnfãts na .Urdira r na .‘Rrrt
Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem
salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se
tudo para edificação.
É claro que a pessoa que experimenta uma coisa tão gloriosa como a
salvação em Cristo deve também sentir essa salvação. Muitas vezes ficamos
influenciados por coisas que são menos importantes na nossa vida. Não se
critica uma pessoa que se emociona ao ver numa bela manhã o Sol nascer,
ao contemplar as folhas molhadas do orvalho e ao ouvir o cântico dos pássaros
nas árvores do bosque. Ninguém censura essa pessoa por emocionar-se. E a
pessoa sensível não pode deixar de comover-se: ninguém acha que isso a
prejudica, pelo contrário, é uma ajuda à sua inspiração. Se alguém se
emociona pela música ou pela poesia, também não é criticado; pelo contrário,
sabe-se que os que têm dotes para as artes demonstram freqüentemente
fortes sentimentos e emoções. Os músicos, os cantores, os poetas têm dentro
de si forças que influenciam os seus sentimentos. A inspiração desses artistas
é profundamente tocante e demonstrada a nós nas obras que produzem. Se
o artista não der lugar aos seus sentimentos, não pode produzir grandes
obras.
Essas pessoas têm todo o direito de demonstrarem o que sentem nessas
oportunidades, o que lhes produz inspiração, e ninguém reclama disso.
Multidões vão ao teatro, e a arte de representar é muito louvada, ainda nos
nossos dias. Quando as pessoas se pintam, ou põem barba falsa, ou vestem-
se com roupas de disfarces, imitando personagens, tudo é considerado certo i
frmoçcf* na tftidica r na .iflw
minha vida, porém não devo gritar ou apenas falar alto, porque deixarei de
agir com decência e ordem.
Não me refiro ao ritmo da mensagem, mas a como usar a altura da voz.
Quanto ao ritmo, posso pregar em uma ótima altura de voz e ser monótono
se eu falar com muitas pausas, assim como posso pregar rápido demais
embora fale bem em termos de altura de voz, e ser considerado por isso
monótono também.
Quando falo alto do começo até o fim da prédica, às vezes passo para o
público uma idéia de nervosismo; talvez demonstre ter esquecido algo que
transmitiría; por isso falar em alto som partes da mensagem que não precisam
muito ser enfatizadas; posso dar a impressão de que me falta unção; ou
posso ainda ser inconveniente, se falo dessa maneira num salão pequeno e
assistido por um bom aparelho de som.
Há momentos em que é possível manter uma altura de voz
consideravelmente alta (ou mesmo gritar momentaneamente, no caso de
estar numa reunião ao ar livre, por exemplo) durante a pregação e enfatizar
bem o que sinto. Depende do momento e do ambiente. Existem, por
outro lado, situações em que não dá para fazer isso. Devo controlar-me e
não serei frio, “bombeiro”, “geladeira” ou “freezer" espiritual agindo dessa
forma nesses momentos específicos. Pelo contrário, serei decente, prudente
e espiritual.
Concluídos esses esclarecimentos, vamos à oração.
Fé e emoções na oração
A oração deve ser vista como uma ocupação que deve ser encharcada de
emoção. Isso está bem definido na Palavra de Deus: “Buscar-me-eis e me
achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29.13).
A oração só é eficiente quando, inclusive, é feita com profundidade. Já
disse William Booth ser melhor um coração sem palavras do que palavras
sem um coração. Todos nós, particularmente, reconhecemos que a melhor
prece é a de lágrimas. Não desejo afirmar que se você não chorou na
oração, isso significa que Deus não o ouviu. Nem todos os momentos de
oração são úmidos, nem sempre são marcados por lágrimas. O que digo é
que esses momentos sempre devem ser permeados de sentimento, de
sinceridade, de honestidade, do melhor de mim. Devem ser vistos como
um escancaramento de coração. Inclusive, se procurarmos agir assim,
quando em oração, nessa perspectiva do “escancaramento-ainda-que-sem-
lágrimas”, dando sempre o melhor, orando com todas as forças do ser,
quase sempre encontraremos lágrimas nesses momentos, elas serão mais
freqüentes.
na .‘Rrdica r na .‘fito
sepultados, para que, disfarçados com letras bíblicas, essas músicas tenham
êxito, isto é, possam enganar os incautos, apanhando-os em sua rede.
Ç O estilo gospel hard rock, por exemplo, não estimula a santidade, nã
^acorda sentimentos puros no nosso coração. Sejamos taxativos: não há, nem
/pode haver, conciliação entre o hard rock e o culto bíblico.
Pensemos mais um pouco sobre o assunto. Vejamos o caso por outro ângulo
O que é uma música? De que é constituída?
A música é composta de ritmo, melodia e harmonia. Sem essa formação
não há música. Alguns afirmam ser o ritmo o único elemento da músiq
que, sozinho, pode ser considerado música; todavia, música mesmo, se quise
ser completa, perfeita, ideal, tem de ter, obrigatoriamente, esses elementos
Pode haver sons, palavras, mas não música. Música tem de ter melodia
ritmo e harmonia.
Vejo nessa formação algo que pode ser facilmente associado à noss;
natureza. O ritmo estaria mais relacionado ao corpo, e a melodia e harmonia
à alma. A letra, quando é exposta e analisada sob uma meditação profunda
fala à alma, e também ao espírito, quando Palavra de Deus (Hb 4.12).
Entendido isso, perguntemos: Temos visto, hoje, uma ôpfase maior n;
letra, na harmonia, na melodia ou no ritmo? Parece que posso ouvir su;
resposta no íntimo - “No ritmo!” Pois aí é que reside o perigo. A noss;
ênfase deve ser na. letra - na Palavra, no caso. Depois, sem falta, na melodi;
e harmonia, logo em seguida, no ritmo. Será que você não tem visto ess,
roteiro ser seguido à risca ao inverso, de cabeça para baixo? Claro. Por quê
Porque quem o está seguindo dessa forma é bem provável que esteja di
cabeça para baixo, espiritualmente falando (desculpe se parece pesado, maj
seria a única explicação). Precisam ser aprumados pelo Espírito Santo.
Uns, mais espertos, têm posto uma letra escrituristicamente razoável;
entretanto, ainda com uma extravagância no ritmo. Estes gostam de começar
seus argumentos pela letra: “Não é bíblica? Por que não usá-la nas igrejas?”
Contudo, ao reportarmo-nos ao ritmo acentuado, eles respondem
ironicamente: “Temos de adorar a Deus com todos os ritmos!” - como que
a dizer - “Podemos louvar a Deus de qualquer jeito'” Não se louva a Deus
“de qualquer jeito”! Uma grande prova disso está quando se executa em um
culto as músicas deles.
Sejamos honestos com nós mesmos: é possível ter um clima de adoração
forte e genuíno, 09 íntimo, com um hard rockl
i
Equilíbrio
Uma observação a ser feita: não existe no mundo um estilo de música
unicamente evangélico. Existem estilos musicais que podem ser usados para
0 ( o ^hu/tn ((iMâm
Hlória de Deus ou não, assim como existem estilos que não podem ser usados
pura o louvor a Deus, pois têm um caráter definidamente doentio, insano.
Mo esses que devem ser veementemente evitados.
I.xistem ritmos que são mais acelerados que outros. Nada em
contraposição. Na igreja, devemos ter, concomitantemente, um clima de
qucbrantamento constante e um clima de celebração constante.. Deve haver
hinos inspirados que nos estimulem à humildade, ao serviço, à rendição e,
llmultaneamente, devem existir hinos inspirados que nos estimulem ao
júbilo, à alegria efusiva. Devem existir hinos com letra e ritmo alegres. Por
outro lado, existem músicas que o mais salientado nelas é o ritmo. Tudo na
música - letra, melodia, harmonia - entra em detrimento. Isso é erradíssimo!
Uma coisa é se ter um ritmo mais acelerado, uma música mais ritmada,
outra é enfatizar cxorbitantemente o ritmo.
Até as músicas de rock, no começo, não eram todas exageradas no ritmo.
(jim o passar do tempo, elas progrediram para esse barulho alucinante.
Minha crítica é a esses barulhos alucinantes.
maneira como era cantada ou acompanhada com o corpo. Tudo isso era
fruto do grupo que tinha adotado esse novo estilo musical para o representar.
Suas letras e o grupo que a adotou, juntando a ela todos os seus costumes e
tendências, é que a tornavam ofensiva. Músicas preocupantes mesmo são
essas novas vertentes do rock, cada vez mais alucinantes.
f O rock derivou do gospel (é bom frisar que uso o termo gospel no sentido
clássico: estilos de música evangélica encetados pelos negros norte-
americanos); porém, quais os expoentes desse estilo? O que a chegada desse
estilo trouxe? Os resultados foram positivos? Qual seu pancude. fundo
psicossociológico? Será que você pode lembrar-se dessa palavra sem se
lembrar de drogas, libertinagem sexual, rebeldia, etc.? Não, claro que não.
Essa é a cultura do rock, o seu pano de fundo.
Por outro lado, o rock tem variantes que podem até ser aceitas. Há vários
tipos de rock. Muitos que criticam o rock aceitam algumas músicas evangélicas
atuais que eles nem sabem que tecnicamente são variantes do rock. Há vários
tipos de rock, uns leves, inocentes até, e outros escandalosos. A questão é:
Por que trazer para o âmbito do Evangelho esses visivelmente escandalosos?
São desenfreados, mundanos e despertam sentimentos de rebeldia, histeria
ou melancolia e depressão, e até apetites sexuais pervertidos e acentuados^
Despertam a carne. Não são sadios, indubitavelmente. Sejamos sinceros —
não servem à adoração a Deus.
Encaixando as peças
Talvez tenha-lhe sobrevindo um último questionamento ao término
deste comentário sobre sons alucinantes: “Onde encaixo o princípio da fé e
das emoções neste último ponto?”
Nunca, decisivamente, as emoções podem suplantar a fé. Se minhas
emoções são fortes ao ouvir uma música, mas a doutrina expressa nela não
é pautada na Palavra de Deus, devo voltar atrás/Minhas emoções podem
enganar-me e fazer-me perdido para sempre/ Ciente disso é que o
arquiinimigo de Deus (e nosso) investe tanto na música e nos filmes, porque
sabe que estes têm em si mesmos o poder de afetar as nossas emoções e, em
decorrência, o nosso modo de pensar e de agir.
Outra coisa é que, quando tenho uma letra escriturística, mas enfatizo os
ritmos, corro um alto grau de risco de exagerar nas minhas emoções e ter estas
sempre direcionadas para o lado errado. As paixões da carne sobressaem-se com
constância durante essas músicas extrema e anormalmente ritmadas. Esse estilo
traz em si desequilíbrio, pois foge do princípio básico da fé e das emoções.
Uma última consideração a ser feita é que devemos ter cuidado com
algumas músicas sem letra que surgem agora e são usadas para fins
'demoníacos. Refiro-me àquelas melodias usadas para meditação,
(relaxamento, desopilagem ou passatempo, em que podemos sentir a
procedência negativa, porque, na verdade, estimulam a depressão ou
promovem um clima místico-esotérico. As músicas da New Age, por exemplo.
Fé e emoções no caminhar
E o que dizer sobre fé e emoções no testemunho cristão? Mais uma vez,
esse princípio estabelece um ponto de equilíbrio.
(1 Çflrww* f o . vlndai fiúfáot
N minha vida diária deve ser uma vida que estimule o próximo, que não
«nulicce a Deus, a buscá-lo e amá-lo de todo o seu coração. Devemos ser
«mostras ambulantes do que é ter Jesus dentro de nós. Para que isso aconteça,
«levemos procurar viver intensamente a nossa fé, e com isso refiro-me a
emoções na fé.
Uma vida sem fervor, pálida, fria, sem alegria, sem demonstrações
««meretas de felicidade, não consegue influenciar para Cristo, com eficiência,
«« pessoas ao redor. A vida cristã deve ser férvida, marcada pela motivação,
deve ter como referência uma felicidade verdadeira, de dentro para fora,
icdntora (uso esse termo no bom sentido, não no sentido pejorativo, quando
<* usado para significar ludibrio, engano).
1 )evo ser, individualmente, uma manifestação do amor de Deus. Cabe a
llós sermos aqui na Terra, na nossa vivência própria e diária, coletiva e
Individualmente, a materialização dos braços de Deus, dos ombros de Deus,
dos pés de Deus que se apressam em ir ao encontro do ser humano no
Intuito de ajudá-lo. É nossa obrigação deixarmos Deus amar através de nós,
«rimos bons samaritanos. Assim, os que vivem em trevas enxergarão a luz de
I )cus, que os penetrará e os transformará.
Meditando ainda sobre esse assunto, a nossa vida cristã deve estimular e
Incentivar não só os desconhecedores de Cristo e seu Reino, mas os nossos
Irmãos na fé também. Para que isso aconteça, é irrevogável a presença de fervor.
(',omo uma vida poâe tocar a outra sem fervor? O fervor é o que passa
estímulo para o outro. Se alguém pensa em parar, mas vê em você ou em
mim fervor, incentivo, animosidade, um “vamos em frente”, permanecerá
com mais probabilidade. Haverá um bom contágio. E onde está o
desequilíbrio possível na vida de testemunho, em termos de emoções? Se
queremos ver esse desequilíbrio, precisamos voltar ao princípio do que é
pecar, o princípio do “errar o alvo”.
O extremo do fervor, o fervor deturpado, polarizado, é o que
« ostumeiramente chamamos de fanatismo. Fanatismo é a ação do pecado
«obre o nosso fervor para desviá-lo de sua rota certa, a fim de mudar as suas
motivações. Fanatismo é um “fervor” que não estimula, mas obriga; que,
por mais que o fanático não queira admitir, não é movido por amor, mas
por ódio. Fanatismo é pecado. Aqui encontramos um bom ponto de retorno
para a razão na fé cristã. Falamos muito de emoções na fé. Quero voltar
para a razão na fé e terminar.
sobre as coisas divinas não é sinal de grande qualidade de vida cristã, viste
que a razão não pode reger uma vida cristã. É a fé que deve reger a vidí
cristã, o que implica Deus como idealizador e alimentador do meu modele
de vida. Ele é o autor e consumador da minha fé.
Muitas pessoas conhecem toda a doutrina bíblica, mas nem todas í
praticam. Uma coisa é saber algo, outra bastante diferente é refletir sobr<
aquele algo ao ponto de ter minha vida mudada por essa reflexão, a qua
gera emoções que produzirão um novo comprometimento e um diferente
comportamento. Claro que primeiro preciso conhecer para refletir. O simple;
fato de saber não basta. É necessário também refletir no que sei.
Dizendo de outra forma, eu devo me consagrar para pensai
profundamente nas coisas de Deus e dar livre espaço para o Espírito Santt
infundir em minha mente essas verdades incontestes ao ponto de ela;
modificarem meu viver; e isso já é a fé que rege o meu modelo de vida.
Relembrando: a fé inclui a razão, a fé não pode ser divorciada da mente.
R
ecapitulando, nas reflexões passadas, falamos da importância
da razão e das emoções na fé (se você não é daqueles que
gostam de ler capítulos salteados em vez de lê-los em ordem,
lembra-se muito bem disso). Dissemos que as emoções
devem ser valorizadas, mas nunca olhadas como superiores à
própria fé. Devem ser exercitadas conforme os parâmetros
divinos para que sejam saudáveis.
Ora, se devem ser exercitadas dessa forma, urge a seguinte
pergunta: “Quais as maneiras certas de exercitar minhas
emoções e minha intelectualidade na fé?”
Quango à questão intelectual, como afirmei no fim do
capítulo passado, é algo simples, e não precisa de muitos
comentários. Se formos falar dela e burilarmos bem o assunto,
é possível que se faça necessário outro livro, e o assunto pode
ser resumido da maneira feita no final do capítulo anterior a
este. Se existem algumas observações a mais, muito bem, que
sejam colocadas em prática, mas prefiro prender-me um
pouco mais nas nossas emoções.
Mas existe um motivo maior para destacarmos o cultivo
dos sentimentos, neste capítulo. E é disso que quero falar
inicialmente.
O outro motivo é que a Bíblia e a experiência nos ensinam
que devemos fazer com que os sentimentos encham
constantemente o nosso dia-a-dia, porque as reflexões devem
encher o nosso viver.
O salmista e profeta Moisés rogou a Deus no Salmo 90:
“Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que
alcancemos coração sábio”. Normalmente, contamos meses
e anos, e esquecemos os dias. Na maioria das vezes, só fazemos
avaliações da nossa vida no fim de cada ano ou, no máximo,
Reflexões sobre a .vllm» e o .'jimf*.
Duas primazias?
Atualmente há uma ênfase demasiada ou na razão ou nas emoções. Não
llfvcmos enfatizar a razão mais do que as emoções, nem as emoções mais
tin que a razão. Elas devem andar equilibradas e em concubinato. As duas
Mi t como duas colunas que sustentam um pequeno edifício. Este edifício é
II nosso caráter. Se uma for maior que a outra, esta outra entrará em
llrliiniento e as fissuras e rachaduras começarão a despontar, o prédio
Hlliicçará a ruir, pender, perigar, e logo tudo desabará.
() reverendo Dr. R. C. Sproul, no seu livro A alma em busca de Deus,
irllcti ndo em um assunto já frisado em outro livro do qual é co-autor, faz o
Mgiiinte comentário:
Aprendendo a cultivar
Já que estamos com essas coisas resolvidas, sigamos em frente: “Quais
os métodos de regar emoções na fé?”
Existem muitas maneiras bíblicas de cultivarmos emoções santas na nossa
lê No nosso caso, frisarei algumas que considero como básicas. Elas são as
práticas devocionais e as práticas da comunhão.
As práticas devocionais e de comunhão têm um objetivo singular. A
s ida cristã é atingida de todos os lados por pressões que objetivam esfacelá-
Reflexões sobre a .Ihna e o ■
la. O cristão, vendo isso, percebendo-se cercado, tenta lutar com todas
forças que tem para se ver livre de uma queda fatal. ■
Para que ele seja eficiente no seu propósito, Deus, através da Bíbli®
fornece-lhe métodos que podem auxiliá-lo tremendamente. São exercíciiB
que precisam ser praticados freqüentemente para que o desenvolvimento■
respectivo avanço espirituais aconteçam. Esses são feitos ou em relação ■
Deus ou ao próximo. Os que são feitos em relação ao próximo tangenciai®
também o nosso relacionamento com Deus. I
Práticas devocionais I
As práticas devocionais são feitas em relação a Deus. Sem elas, a nos®
comunhão com o Senhor é estigmatizada pela fracasso. Cada um dessoB
exercícios devocionais tem um significado sublime. Nenhum deve ser vist®
como inferior. É impossível uma vida espiritual vitoriosa ser divorciada dele®
Os exercícios são vários, e este livro não bastaria para falar de todo®
Seria necessário outro volume. Pensando nisso, resolvi salientar apenal
alguns: oração, regozijo e gratidão. Quando essas práticas se tornai®
realmente práticas na nossa vida diária, os sentimentos fluem agradavelment®
para glória de Deus, e progredimos. I
Orar estimula a nossa sensibilidade espiritual, deixa-nos com os nervos I
flor da pele para as influências do Espírito Santo. Quando regamos a vidl
com oração, ficamos muito sensíveis à voz de Deus. I
Dar graças mantém-nos saudáveis emocionalmente. Um coração.cheia
de ingratidão é um coração azedo. Um coração que dá graças a Deus, receba
graças de Deus. Um coração que sempre louva a Deus é doce, mesmo eni
meio às tragédias. |
O regozijar-se é algo que pode ser relacionado com o dar graças. É uni
dos maiores segredos para o desenvolvimento e avanço espiritual do cristão!
O cristão, que tem como um exercício cotidiano o regozijar-se, triunfa sobra
os obstáculos freqüentemente. Em 1 Tessalonicenses 5.16, Paulo dizi
“Regozijai-vos sempre”. Isso fala de uma atitude costumeira. |
Incrível como muitos desconhecem esse preceito. Poucos se lembram!
dele como um segredo para o sucesso espiritual. Mais do que nunca, devemos
reverter esse quadro.
Cientes disso, aproximemo-nos do versículo.
Inicialmente, é interessante observarmos o que se traduz como regozijo.
O que é e o que não é regozijo? Regozijo, para sermos lacônicos e objetivos,!
não é gracejo, não é algo produzido por anedotas, lérias ou algo cômico!
mas é alegria bela, simples, pura, sem malícia, genuína e sentí
superficialidade. j
Cultivando Emoções na Fé (/) .Intu/açfio t •‘fíuiinu
Se teu coração estiver em paz, tudo à tua volta será mais bonito.
CULTIVANDO
EMOÇÕES NA FÉ (2)
Práticas de Comunhão
ó
detém os mesmos objetivos nossos, somos fortalecidos a nos
empenharmos cada vez mais até chegarmos a alcançar os
nossos propósitos. Sei que a vida em comunidade muitas
vezes não é fácil, pois devemos suportar as diferenças e os
erros de muitas pessoas que não têm a mesma maturidade
Reflexões sobre a ^Uma e o .‘ím/*
que eu, você e outros irmãos possuímos. Mas, como já disse alguém,
viver em uma comunidade de evangélicos parece difícil, o não viver
impossível para aquele que quer entrar no Céu.
Deixando de lado os que fazem parte de uma comunidade evangélii
sem qualquer compromisso, não prestando atenção nos que dizem ser cristã
sem ser, nem me impressionando com a falha de um ou de outro (porqi
todos somos falhos), todos têm o mesmo ideal servir a Jesus com fidelidadi
abençoar vidas, entrar no Céu. Então, surge para mim uma enorm
possibilidade de, junto a minha comunidade, construir um caráter mai
aproximado das configurações do caráter de Cristo e desenvolver e exercita
minhas emoções na fé, bem como ajudar o meu irmão a conseguir a mesm
coisa (eu abençoo e sou abençoado). Tudo isso porque na comunidade d
irmãos vou encontrar a possibilidade do perdão, da confissão, do diálogo
da cooperação ativa. Analisemos dois desses quatro pontos de cada vez.
Perdão e confissão
O perdão e a confissão andam juntos. São “a corda e a lata”. Se eu deseji
tirar água de um poço, preciso ter uma lata e uma corda. Se tiver apenas
corda, não serve; não consigo tirar água do poço. Se tiver só a lata, nãi
adianta; não consigo tirar água do poço. Precisamos ter os dois ao mesmi
tempo. Da mesma forma, sem confissão não há perdão, sem perdão não h;
confissão e sem os dois não há reconciliação.
Se eu não tiver coragem de confessar o meu erro, não tenho como recebei
perdão. Por outro lado, se desejo ouvir a confissão de alguém, devo, de
antemão, perdoá-lo. Se não o perdoo, ele pode manter-se orgulhoso e jamais
assumirá sua culpa. Não devo esperar a confissão para perdoar; devo perdoar
antes da confissão. Até porque, se o perdoo, ele, o ofensor, pode sentir-se
mais à vontade (ou mais tocado) para assumir a sua culpa. Sabe por quê?
Porque o amor, que não constrange, de certa forma consterna.
Quando amo, procuro não constranger, mas esta minha atitude, o
retribuir o mal com o bem, sempre provocará constrangimento para o que
deseja o meu mal.
Em outras palavras, alguém tem de abrir mão; caso contrário, não se tira
“água do poço”, porque o relacionamento desaba e nossa comunhão com
Deus igualmente. Você se lembra da oração do Pai-nosso? “Perdoa as nossas
dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores”.
Se o meu relacionamento com o meu irmão estiver um desastre e eu não
abrir mão da minha parte, continuarei seco espiritualmente. Deus fechará
sobre mim a porta dos céus. Sentirei falta de emoções espirituais na minha
vida cristã. Muitas pessoas são azedas em termos de emoções na vida cristã
Cultivando Emoções na Fé 0) Jlnlian >!< '(’omunhão
|hik|uc não perdoaram ou porque não confessaram os seus erros com sincero
di rcpendimento. Se devemos cultivar emoções na nossa fé, devemos cultivar
práticas de comunhão, e uma das principais é o perdão, que está atrelado
iincparavelmente à confissão.
I )uas coisas devem ser ditas ainda sobre a confissão e o perdão.
A primeira é a possibilidade de se perdoar sem existir logo em seguida
inníissão ou a de se confessar sem existir retorno, ou seja, sem haver
Mibseqüente perdão. A outra é que o simples fato de perdoar ou de confessar
já exige emoção, porque deve haver sensibilidade nesses momentos. Só assim
aprenderemos a amar na Terra para entrarmos no Céu, pois lá só há amor,
porque Deus está lá e Ele é amor.
Em outras palavras, o Céu só é Céu porque Deus está lá, assim como o
Inferno só é Inferno porque Deus não está lá. Com Deus, o Inferno vira
(iéu. Sem Deus, o Céu vira o Inferno. Nosso alvo é essencialmente o Senhor,
não o Céu, porque Ele é o Céu. Se Ele é amor, e quero chegar até Ele, tenho
que amar.
Quando afirmei que só há perdão se houver confissão e vice-versa, é
porque sem a iniciativa de um dos dois lados, do ofendido ou do ofensor, é
impossível haver a reconciliação. Com isso, você pode notar que não
impossibilito a não-existência de retorno após a iniciativa tomada.
Simplesmente, é impossível reconciliação absoluta (os dois lados buscarem
o entendimento) sem tofrnada de iniciativa da parte de algum dos dois lados.
O que acrescento agora é a possibilidade de eu amar aquela pessoa com
quem me desentendí ao mesmo tempo em que ela me odeia. Posso querer
a reconciliação, mas ela não. Posso estar interiormente reconciliado com
aquela pessoa, mas provavelmente ela não deseja entender-se comigo, não
quer se reconciliar comigo.
Quanto a essa possibilidade de não reconciliação, você deve entender
que, apesar de existir a possibilidade de não ser perdoado, você deve manter
no seu coração, até o fim, o arrependimento. Não seja um daqueles que,
depois de pedir perdão e receber uma resposta negativa, arrepende-se de ter
se arrependido. Não, continue arrependido e, ainda que não o tenham
perdoado, Deus já o perdoou.
Por outro lado, se você perdoou alguém e este não abriu mão de seu
erro, não retire o seu perdão, não volte atrás. O perdão você já deu. Cabe ao
ofensor recebê-lo. É com ele e Deus. Não guarde mágoa nem rancor, mas
permita que o amor de Deus invada o seu coração. Viva a próxima página
de sua existência. Você recebeu o perdão de Deus. O apóstolo Paulo disse
certa vez: “Se depender de vós, tende paz com todos”. Isso é Palavra de
I )eus.
Reflexões sobre a eo
Diálogo e cooperação
N
de-necessidade, quando nada é melhor do que uma monção,
uma mão altruísta, um ombro amigo, uma demonstração
de sensibilidade com o próximo. Todos os seres humanos
passam por isso, uns menos, outros mais; porém todos
experimentam, em algum dia inesperado, esses momentos
de profunda çarênci^. Deus assim permite para que
percebamos.que não podemos viver sem ajuda de outro.
inguém é auto-suficientè>Dependemos uns dos outros
1e, acima de tudo, de Deus. O simples fato de existirmos, de
sermos humanos, proporciona-nos situações assim descritas
e que nos levam a uma profunda reflexão e conseqüente
compreensão de nossa fragilidade.
Às vezes, as nossas tribulações são necessidades de Deus
Z para moldar nossa vida. Existem momentos de dificuldade
I necessários para nós. Esse modo de pensar é corretíssimo, é
/ bíblico. Penso, contudo, que o fato de nós sabermos disso
í não é suficiente nesses momentos. Há algumas reações certas
que devem existir. “Reações em que sentido?” — você
possivelmente monologa. Reporto-me às reações que
deveriamos tomar para conseguirmos o que nos falta ou
superarmos essa deficiência, Devemos analisar que tipos de
atitudes podem ser consideradas como desnecessárias ou
erradas nessas situações. Após cada análise, ou seja, depois de
reconhecermos cada erro, passaríamos a traçar o perfil das
atitudes admissíveis e necessárias. Então, quais as atitudes
\ erradas ou desnecessárias?
Citarei apenas as duas mais comuns.
Reflexões sobre a e o .fm/»
"Agrada-te do Senhor"
A primeira delas é o “agradar para”. Geralmente, quando desejamos algo,
a primeira coisa que fazemos é tentar agradar àquele ou àqueles que
percebemos serem necessários para a resolução de nossos problemas. É uma
reação lógica e natural. Tudo é uma questão de necessidade. E o meio mais
viável (pensamos) para alcançarmos o favor daqueles de quem dependemos
— agradar-lhes.
Apesar de concordar com esse método em relação às pessoas (contanto
que o agradar seja sincero e não um de bajular), em relação a Deus devo
estar absolutamente consciente de que esse método não funciona, no sentido
de que não é suficiente; portanto, não é eficiente. Querer agradar a Deus
para receber favores dEle é um método falho. Deus não nos atenderá se
simplesmente fizermos de tudo para agradá-lo.
O salmista Davi disse em salmos 37.4: “Deleita-te também no Senhor, e
ele te concederá o que deseja o teu coração”.
Se desejamos receber algo de Deus, devemos não só agradá-lo, mas
também agradar-nos dEle. Quando buscamos a Deus somente porque é o
jeito; quando somos interesseiros na oração, sem sentirmos prazer algum
nesse exercício espiritual; quando oramos para somente receber, sem o
mínimo interesse em dar ou dar-se; quando cantamos apenas para granjear
bênçãos, sem qualquer desejo real de também demonstrar ao Senhor que,
mesmo que o nosso anelo não seja cumprido, ainda o louvaremos, é difícil
esperar por uma resposta afirmativa da parte dEle. “Melhor coisa é dar do
que receber”. Jesus, Deus encarnado, ensinou isso. Por quê?
A primeira resposta provoca até risos de tão óbvia: porque esse princípio
é verdadeiro. Funciona. A segunda é uma mera explicação da primeira:
porque ao receber apenas recebo e não crio outras expectativas de receber
mais; porém, ao conceder, recebo e posso ficar certo de que, enquanto dou
ou me dou, receberei.
Além disso, teríamos uma idéia errada de agradar a Deus se não
observássemos essa regra. Jesus afirmou que nunca poderei agradá-lo
perfeitamente se não agradar-me dEle. Enfim, concluímos que o nosso amor
a Deus deve ser, não só um amor-necessidade, mas também um amor-doação
(e aqui pego emprestado dois termos do vocabulário de C. S. Lewis). Em
outras palavras: ser vencido por Deus é triunfar sobre todos os meus
problemas.
Não desanime!
A segunda reação errada comum é não esperar.
,T< ndrnriai r!a .vílmti ,'ính ai . lírctaàíat/fi
sempre disponível do Espírito Santo. Agora, quando o caso são coisas, não
pessoas, serei tolo se me prender a elas.
Bem, poderiamos pensar em muitas outras tendências da alma diante
das necessidades, mas, como lhe disse, preferi essas porque são as mais
comuns. Elas são básicas. Todas as demais que poderiamos comentar são
alguma derivação dessas duas. Portanto, bastam essas.
Um adendo: lembremo-nos que tendências são sempre apenas tendências.
Tender é oscilar para uma opção. Cabe a mim ceder ou não. Elas se tornam
parte do nosso mundo, tornam-se preponderantes nas entranhas da nossa
alma, quando as alimentamos e entregamo-nos totalmente a elas, quando
somos vencidos pelos seus apelos. Resista! Lute! Não se entregue! Enfrente
essas tendências com as armas de Deus — oração, Palavra e louvor — e
você vencerá. Não há vitória sem luta.
VALORIZE
SUA ALMA
Amar é valorizar-se
Uma pergunta oportuna seria: “O que é prejudicial à alma?”
Nunca terei prejuízo quanto à minha alma e em relação à eternidade,
quando tudo o que eu fizer for feito sob o ângulo do verdadeiro amor.
O que é prejudicial à alma é tudo que não é amor, isto é, tudo que não
é feito por amor a Deus ou ao próximo, mas por meros desincumbimentos,
de responsabilidade^] faor conveniências ou proveitos próprios. E claro que
ó prioritário é o amor a Deus, até porque só amamos o nosso próximo
perfeitamente quando amamos a Deus. O apóstolo João faz questão de
enfatizar isso diversas vezes em sua primeira epístola.
Mas o meu amor a Deus não é prioritário só por causa disso. Também é
prioritário porque, se faço algo que aos olhos de meu próximo é um ato de
generosidade, mas vai interferir negativamente no meu relacionamento com
Deus, devo dar preferência ao meu compromisso com Deus. Nem sempre
o que é amor para meu próximo é verdadeiramente amor. O padrão justo
do amor é Deus. “Deus é amor”.
Uma coisa para a qual eu queria chamar sua atenção ainda, inclusive
para enfatizar melhor o que dissemos no último parágrafo, é que Deus é
amor, mas o amor não é Deus. Com isso entenda que o padrão, o modelo
ideal do verdadeiro amor, só o encontramos em Deus. Se queremos saber se
algo é amor puro de verdade, devemos analisá-lo pelas configurações divinas
do amor.' Se encaixar-se com o figurino divino, é amor; se não se ajusta a
esse figurino perfeito, devemos rechaçar o tal “amor”.
mui ^ma
Quando faço descaso dessa regra, tendo a acreditar que o meu conceito
ilc amor, ou o do meu próximo, sempre é verdadeiro, quando nem sempre
o é. Tem que ter base na ótica de Deus, na vontade divina.
O mundo tem vários conceitos de amor, mas será que tudo que eles chamam
de amor é amor mesmo? Com certeza, a resposta é não. O mundo pensa que o
amor é Deus e, porque pensa assim, tende a divinizar tudo o que chamam de
amor. Se eu agir ou pensar dessa maneira, começarei até considerar Deus a
minha imagem e semelhança. Deus passará a ser como eu acho que Ele é ou
como eu sou. Ele se tomará um deus a meu modo. Isso é um enorme erro.
Outra coisa interessante quando concluo que Deus é amor mas o amor
não é Deus é a que foi preconizada em um trecho do livro Os quatro amores
do filósofo cristão, in memoriam, C. S. Lewis:
exclusivo do Mestre, tanto quanto para o que é abandonado pelos seus pofl
ser fiel a Ele: E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, oil
pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receber®
cem vezes tanto e herdará a vida eterna” (Mt 19.29). I
Jçsus fala nesse versículo de valorização da alma e conseqüent®
investimento para a eternidade] Ele ensina aqui que valorizar a alma, investí®
para a eternidade, é sinônimo de amá-lo mais do que tudo e todos. Ele él
igualmente direto em Mateus 10.37: “Quem ama o pai ou a mãe mais dol
que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do qual
a mim não é digno de mim”. I
Vejamos agora outro lado mais profundo da desvalorização. I
Devoção sem amor I
Se você se lembra bem, falei que existem coisas que as pessoas fazem 1
sendo movidas por amor, mas por interesses próprios ou por conveniências.!
O mal não pode ser feito com amor, mas o bem pode ser feito sem amor. I
Há pessoas que se vendem por quase tudo. Eles valem cifras. Estes são os I
interesseiros declarados. Descobrimos facilmente suas motivações. Mas háI
os que camuflam suas motivações com “capas” de boas ações. São falsos.I
Passam “verniz de boas atitudes” para cobrir o que é a essência, o que desejam 1
realmente.
Entretanto, a desvalorização mais sutil do ser ainda não é a prática do
bem sem amor. É a desvalorização voltada para o lado religioso, é a “devoção
sem amor”. >
Muitos dizem que valorizam a alma quando, na verdade, buscam, através,
do espiritual, o material. ~
Devemos buscar o espiritual, e as outras coisas virão em seguida de todo
jeito, mesmo que a reboque, se forem realmente necessidades. A Palavra
promete. Mas o que vemos hoje? O inverso explícito ou implícito. Vemos
pessoas que desejam saber do material mais do que do espiritual e as que
buscam aparentemente o espiritual* Não querem realmente saber tanto do
espiritual;\óusam oespiritualcomo ponte para chegar aos seus alvos toçáyeis.
Buscam a Deus com segundas intenções, não porque o amam realmente.
Elas pensam em ser recompensadas pela “devoção”. Não buscam o Reino
de Deus. Pensam “nagxlemais coisas” que foram prometidas para quem
buscasse o Reino. ÍMtov* [ cL. v-'
Uma coisa é vermos a declaração de Cristo em Mateus 6.33 como algo
que nos auxilie na busca do Reino, que nos livre de interferências na
comunhão com Deus, de pensamentos direcionados para problemas
materiais, pois a preocupação atrapalha a devoção, e outra coisa é vermos
'laioiitje Mia ,’4!ma
Í
o Céu. Ele “se ama tanto”, mais do que a tudo e todos, que faz mal a
mesmo - seu fim é a perdição. Se eu não me amo, não o amo; se me am
devo amar mais a Ele do que a mim mesmo. Acima de tudo, amar-me d
verdade significa amá-lo mais do que tudo e todos, sem reservas ou exceçõe
REFLETINDO
SOBRE O TEMPO
uid est ergo tempusV' Essa pergunta tem sido feita por
Agostinho e o tempo ■
Antes, provaremos a dificuldade de se definir o tempo. Como lhe disse*
não vou fazer inúmeras citações. Para provar isso, basta ouvirmos um únic«
pensador. Será Agostinho, pois é considerado o maior pensador cristão sobrÉ
o tema. Atentemos para suas palavras: 1
Agostinho diz que o (tempo é ambíguo, pois nos dá uma sensação de que
i infinitamente divisível, o que nos levaria a usar o termo infinito para o
que é finito; pois o tempo é finito e por outro lado indivisível, se meditarmos
na concepção de que se compõe de presentes (ou instantes) que não são
divisíveis.
Agora, veja como conclui Agostinho, depois de considerar essa
contradição e aparente irracionalidade do tempo.
Como você pode notar, o máximo que Agostinho conseguiu chegar aind|
é escuro. Ele foi o que trouxe um pouco mais de luz. Mesmo assim, a nossf
visão ainda permanece obtusa. Aprendemos apenas que o tempo é formado
por três ângulos de presentes que obviamente não são iguais e que encontrank
sua síntese dentro de nós através da nossa memória, da nossa percepção fl
da nossa expectação. Como posteriormente diria G. Khalil Gibran: “0
ontem é apenas a recordação de hoje, e amanhã, o sonho de hoje”.
Portanto, se o maior pensador sobre a questão do tempo não consegui®
uma definição absoluta, só trouxe o assunto para mais próximo, para dentro
de nós, não devemos ter a pretensão de consegui-lo. Em outras palavras, a
definição que apresentarei aqui não será profunda, porque não adianta
tentarmos ser mais profundos ou sofisticados do que isso. 1
A DEFINIÇÃO MAIS SIMPLES E PRÁTICA DO TEMPO 1
Citar definições que são bonitas, um pouco interessantes, mas hã<l
acrescentam algo de novo para nossa alma é frugalidade. Darei algumas
definições mais simples e práticas para nós. E, para chegar a essas, como já
afirmei, desejo começar a pensar com você sobre o tempo baseado em sua
definição mais simples possível.
' A definição mais simples de tempo é “sucessão dos anos, dias, horas,
minutos, segundos etc”. Se fôssemos procurar uma resposta melhor, partindo
jfessa simples definição, perguntaríamos ainda: “O que é um dia? O que é
uma hora? Como posso definir um minuto? Como é possível descrever um
milésimo de segundo?” Como você pode notar, trabalharíamos com medidas:
ano, dia, hora, minuto, etc. Isso nos leva a uma conclusão óbvia: O tempc
léo aghirinamenro dessas medidas^ .
Ora, o que pode ser mecfictoeuma dimensão. vlxempo, então, é ui
_xlimensão\ A nossa idéia de tempo não deve ser, ainda que nós tenhamos)
uma sensação contrária, ide ügoInfinito tempo é algo criada por Deus-ã
humanidadeparadimensionar sua existência naTerr^jO tempo feve começo
A humanichtde está na dimensão que chamamos tempo. Deus não. Foi
Ele quem criou o tempo, o que nos leva à conclusão óbvia de que, se antes
HSo existia tempo, pois Deus o criou, logt^Deus não vive no tempo,porque
nunca precisou viver nele antes. r
1 )eus é eterno^fi eterno significa sem começo e sem fim. Mas como pode
ter isso? Não é algo estranho? É estranho para nós que somos acostumados z
tom o tempo, é esquisito para nós que somos criaturas, humanos,
costumados com as fronteiras, com a transcientps, limitados. Não podemos,/
(descrever o divino com parâmetros humanos. Ç) parâmetro de lá é outro
qile excedée transcende os nossos.IPara ser mais objetivo,, nada lá pode ser
medido nem comparado com as coisas daqui/ Somos humanos, Deus é
divino. Nossas lógicas e deduções só servem perfeitamente para o humano
r visível.
Quem somQs nóspara descrevermos e detalharmos tudo de Deus e suas
|>cculiaridades?(Q_que Èle quis revelar podemos alcançar\O que não revelou,
ou não revelou como, a nossa mente não pode tangenciar. Deus vive na
eternidade, lem outra “dimensão” (uso nesse caso essa palavra aspeada, quando
4 relaciono a Deus, porque a "dimensão de Deus”, por assim dizer, é diferente
de qualquer dimensão que existe ou possa existir, porque eu não a meço.
Por issoT não é realmente uma dimensão. Uma dimensão pode ser medida.
Essa não. E, então, um ambiente).
Deus vive em um ambiçnte onde não existe envelhecimento, passado '
nem futuro —jjido é um presente glorioso. Nossas medidas não valem lá.
Para Ele, tanto faz um dia como mil anos. Para Ele, mil anos é um dia,e um
dia é mil anos.^Jão sabemos como pode ser, mas éj Resta-nos somente
adorá-lo em profunda expectação e amor, porque se Ele pudesse ser
plenamente explicado não era Deus. Jile é indescritível, insondável. Por isso
é Deus. Glória e honra pois a Ele para sempre e sempre!
A palavra tempo aparece na Bíblia 446 vezes. O termo mais usado no
grego para tempo é cronos, daí as palavras cronômetro, cronologia, crônica,
etc. No entanto, quando a Bíblia se refere a Deus, costuma usar no grego,
para sua “dimensão”, o termo aiónios, que é similar aos vocábulos hebraicos
'adh e 'óãm. De acordo com os dicionários bíblicos, esses dois termos falam
de eternidade. Eles surgem no Antigo Testamento para descrever a
longevidade dos montes e, quando isso acontece, muitas vezes estão em um
sentido poético, para referir-se à eternidade; surgem para se falar de um
tempo de duração desconhecida e, na maioria das vezes, para serem
relacionados à pessoa de Deus, que é eterno e não está sujeito ao tempo, ou
âs coisas relacionadas a este.
O termo grego aiónios surge no Novo Testamento e significa, geralmente,
tempo indefinido no passado ou no futuro. Justamente por isso, além de
\ .- t i I
Reflexões sobre a dlma e o fopúítc
Tempo e tempo
fc)eus nosjlêu o tempo} Ele não vive no tempo. O tempo é nosso,
dom que Deus nos concedeu, concluímos que, como dom, devemos sabef
como administrá-lo?. Deus nos cobra por tudo que fazemos de erraddf
inclusive a má administração do nosso tempo. Por isso o apóstolo Paulo
disse: “Remindo o tempo porquanto os dias são rriãus”/'
Existem muitas pessoas as quais pensam que o tempo é de Deus. De
certa forma, estão certas. Quem criou esta dimensão e nos colocou nela foi
Deus. Mas Deus fez o tempo
para o tempq;!ete foi criado pa
é próprio da humanidade. Ela deve saber como aproveitá-lo, como usufruí
clele o máximo que puder, sem erros?se não desvalorizará as suas própriaj
almas.
Pensemos nisso um pouco mais e no sentido da individualidade.
Quando pondero no compromisso da humanidade em relação ao tempo
que recebeu de Deus e na minha parte nesse compromisso, desde que façaj
parte da humanidade, isso me leva a uma fragmentação do tempo. ]
Se estou nesta dimensão chamada tempo, junto com tantos outrol
seres humanos, e estarei por pouco tempo nela, entrei no tempo muitd
depois de ele ser criado e vou partir daqui antes que ele desapareça, o qud
me resta é.um fragmentando tempo. A minha vida na Terra é um fragmento
do tempo. O tempo é da humanidade e eu, como ser humano, tenho
uma parte desse todo. Eu tenho ojagg tempo, isto éfa duração da minha
vi_dam€stadimensão.\É minha chance de parricipar^de existi r^É pequeno.
porque é pequeno, a Bíblia chama-o de um “sopro” ou “um
.fiejitiinflo d<i>f o .‘ir nif/r
() tempo é uma dimensão para a humanidade, mas para mim, ser humano /
fin particular, o termo significa o fragmento no qual eu vivo nesta dimensão. I
Não quero entrar agora na questão da sensação que às vezes temos de
i|iie o tempo parece uma eternidade ou algo curtíssimo. Esse é um tema
burilado noutro capítulo. O que digo aqui é uma alusão ao fato de que a
llossa existência, em particular, realmente é um fragmento minúsculo, se a
analisarmos sob a ótica do tempo como um todo. Ele não parece pequeno;
rlv é pequeno, conq uanto às vezes nem pareça.
('ada ser humano, individualmente, tem direito a um pedaço do tempo,
l ogo, por apenas termos um espaço curto e por ele ser-nos concedido só
^[jiia vez, como ensina a Palavra de Deus (não as doutrinas espiritualistas),
l(t uç. lutarmos pela va|orização do ixqsso espaço, do-nosso. tempo.
Usar o tempo fora do ideal de Deus para minha vida é perder-me, é
ijçsvalorizar a minha alma. Devemos nas conscientizar disso. Afinal de
tontas,[somos mordomos~quer desejemos ou não.^E, como mordomos,
nina das nossas mordomias é o nosso tempo. Escreveu o Dr. Bruce Milne
no seu livro Know the truth, publicado em 1982, e em 1987 no Brasil com
o título Conheça a verdade-.
Eu sei que existem algumas virtudes num saudosismo sadio. Sei que fl
ontem nos ensina hoje a não cometermos os mesmos erros amanhã. Sei qufl
nem tudo que pensamos ser hoje novidade é realmente inédito. São n|
maioria antigas coisas vestidas de roupagens novas. Salomão já disse isso em
Eclesiastes. Mas ele também disse que “o melhor está no fim” e que não 4
sábio pensarmos que o passado sempre será melhor do que o presente ou do
que o futuro em todos os sentidos (Ec 7.8,10). Ele quis dizer que podemod
ser conservadores sem deixarmos de ser progressistas.
Quando o pretérito é nosso único ângulo na vida, quando só olhamoi
para trás, tornamo-nos museus, só fazemos guardar, armazenar, internalizara
mas nada produzimos. Não fazemos porque acreditamos que já foi feito ou!
achamos que não pode ser feito de novo, que não pode vir a acontecer mail
uma vez ou não pode ser superado hoje e amanhã. Devemos evoluir,l
melhorar. O passado deve servir apenas de base, não de ideal definitivo. ;
Temos que ser usinas, não museus. Não devo apenas guardar e admirai]
idéias do passado, mas transformar isso, que está em mim e veio de lá, em1
coisas boas para cá, para o presente. Devemos explodir, não implodir.
Senão, mofaremos por dentro, caducaremos a nossa alma, embora ainda
jovens; cansaremos de viver antes mesmo de termos começado a viver;
produziremos nas nossas interioridades não só pensamentos pessimistas e
esclerosados, mas também sentimentos com as mesmas características e que
azedarão a nossa existência.
Conjugando só no presente • ]
Mas digamos que o nosso ângulo seja simplesmente o presente.
Olhar o presente é uma coisa boa. O realista é o que observa e encara o
presente; não foge, mas enfrenta e assume. É uma virtude. Agora, o problema
está em vermos só o presente. Aí o quadro muda. Adotaríamos ou uma
filosofia tipo a de Jean Paul Sartre ou uma filosofia desanimadora
absolutamente.
Concordo plenamente com a descrição do terrível perigo da filosofia do
francês Sartre, feita pelo Sr. Paul E. Billheimer no seu livro Seu destino é o
trono (publicado no Brasil em dezembro de 1984):
e por aí ele vai caminhando. O “realista pessimista” não. Ele não usai
panacéias. Ele é alguém que não fugiu. Prefere viver casmurro, sorumbático,
melancólico. Optou por vivenciar a realidade da desilusão. Decidiu vestir a
camisa do desespero.
Como você pode sentir, o que olha para o presente pode ser quem encara
a vida, e isso é positivo; porém, quando apenas olho o presente, eu posso
viver, em primeiro lugar, um paradoxo. Posso tornar-me uma pessoa que
“encara fugindo”. Não deixo de admitir o perigo, assumo o perigo, mas
enfrento-o vivendo como se ele não existisse; vivo sob o efeito de narcóticos
psicológicos (isto é, os entretenimentos), sob a influência dos prazeres como
anestésicos para a alma.
Porque eu admito o lado negativo, tento esquecê-lo. Tento me enganar,
mentir para mim mesmo. Quando penso e procedo assim, com certeza
tenho um conflito no coração. Não posso ser feliz totalmente. Sempre estarei
tentando. Minha única felicidade será a ilusão. Com certeza, terei muitos
altos e baixos na alma e nunca chegarei à felicidade verdadeira, porque não
quero ver a vida também para a frente, na perspectiva da eternidade. Esse é
o mal da filosofia de Sartre.
Por outro lado, quando resolvo optar por um encarar sem fugir, quando
sou um “realista pessimista”, quando eu encaro mesmo, mas não tenho
ainda uma visão e esperança para a frente, que me dê forças e sentido para
continuar lutando no presente, luto sozinho, vulnerável, frágil. Então morro.
O óbito primeiro é por dentro. Fico frustrado, desiludido. A vida torna-
se o pior e a morte o melhor. Como já descreveu o teólogo e filósofo
dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), viver torna-se sinônimo de
angústia, e morrer se torna a melhor opção. Resolvo, então, porque já morri
por dentro, porque já me suicidei por dentro, morrer por fora, suicidar-me
literalmente. O suicídio é o resultado e o final de um processo de
autoflagelação que teve início interior e se consumou por fora.
O suicídio começa dentro, depois atinge o clímax na ação física. Alguém
morto por dentro procura louca e angustiadamente morrer por fora. Existem
pessoas que nem sabemos, mas já estão se suicidando. Só descobrimos quando
a notícia chega: “Fulano se matou!” — para fazer menção do que é a fase final
do processo, a autoflagelação física, a consumação do ato por fora.
É imprescindível dizer que, não poucas vezes, quem começa “encarando-
fugindo” torna-se “realista pessimista”. Eu darei uma ilustração que não
pode ser considerada perfeita, porque se torna falha quando, a partir dela,
alguém tentar explicar o só olhar o futuro; mas creio que servirá para
esclarecer melhor o que digo em relação ao só olhar o presente.
Eu vejo o “realista pessimista” como alguém que está em um poço
profundo com um monstro, não muito rápido, o qual deseja pegá-lo. Esse
.foi Vijnt nfn i/<‘ Jtmfic
Conjugando só no futuro
Agora, digamos que o ângulo seja apenas o futuro.
Sermos esperançosos é uma excelente coisa. Ser sonhador alucinado é
outra bastante diferente. Quando olho só para o futuro, acabo-me. Minto
para mim mesmo e faço sempre confissões positivas nos momentos em
que a razão diz que não devo fugir da realidade. Tendo a uma loucura.
Uma coisa é acreditar em um futuro melhor, outra bastante diferente é
apegar-se a essa idéia ao ponto de olvidar o presente. Destarte, eu vivo
hoje mas não vivo o hoje. Parece que não estou com os pés no chão. Vivo
utopias, ilusões.
Em alguns casos, não assumo o que sou. Vejo-me sempre vivendo algo
do futuro, que posso até chegar a vivenciar, mas que não é uma realidade
para mim hoje. Calço-me interiormente com coisas que não são verdadeiras.
Piso em falso. Penso que o vento no rosto é sinal de que estou voando ou
llutuando, quando é sinal, às vezes, de que estou caindo, de que meu “pára-
quedas” psicológico falhou, o que só vou perceber quando sentir o choque
da queda. Enfim, corro o risco de quebrar a cara mais à frente. Não preciso
iletalhar mais. Você já deve ter entendido tudo muito bem.
O que Maclver quis dizer é que o tempo não é mau em si. Claro, ele nãl
corre nem trota. Ele sempre está no mesmo ritmo. Quem sempre muda dfl
ritmo somos nós. Quando variamos o ritmo, chateamo-nos porque ele nãfl
nos acompanha, não está sujeito aos nossos caprichos. I
O tempo não é prolixo ou curto demais. Nós é que não nos interessamol
pela aula, por isso ela “demora”; nós é que não gostamos de nossa atividadi
na repartição, por isso o dia parece uma “eternidade”; nós é que não gostamol
do culto, por isso o tempo é tão “arrastado”. O problema não é o tempo]
são as minhas preferências, os meus gostos. Os meus desgostos e gostos i
que desgostam o tempo para mim. O tempo não é um inimigo. Ele não I
maligno. '
Que fazer então para reverter esse quadro? A mudança tem que partir dq
nós. Quais são as mudanças precisas? Existem três respostas para a última
pergunta. Vejamos uma de cada vez. ,
llin desses três pontos de minha agenda, mesmo o lazer, com certeza piorarei
«situação. Tudo deve ser feito com prudência e ordem.
John Ruskin disse: “Não há música em uma ‘pausa; porém a pausa entra
nu composição da música. E as pessoas estão sempre omitindo essa parte da
melodia da vida”. Nessa melodia da vida, existem notas de todos os tipos.
Sc todas fossem iguais, a música seria sem nexo. Essa variação de notas
pode representar as ocupações-obrigações (ocupações caracterizadas mais
pelo dever do que pelo prazer) e as ocupações-prazeres (deveres caracterizados
pelo prazer).
As pausas, obviamente, são os momentos de lazer absoluto. Omitir
qualquer dessas partes da música seria desgraçá-la. Devemos encontrar tempo
Iwra todas essas três coisas. Só assim haverá equilíbrio e decorrente satisfação.
C. McKenzie disse: “O tempo não é um inimigo, a menos que você
tente matá-lo”.
Preenchamos o nosso tempo conforme essa regra e deixaremos de
iísassiná-lo, pois não o gastaremos com coisas desnecessárias. Acrescento
unia citação de Machado de Assis: “Matamos o tempo; o tempo nos enterra”.
Cesare Cantu disse que “de todas as prodigalidades, a pior é a do tempo”.
|’or que o ser humano desperdiça tanto o seu tempo? A resposta é que
Iloucos deixam de omitir ou mudar qualquer ponto da seqüência exposta
inhas acima. Quem gastou o tempo, simplesmente existiu; quem aproveitou
o tempo, viveu. ‘
O DILEMA DA
ALMA ANTE O TEMPO
Deus não é afetado pelo tempo, mas Ele afeta o tempo. Deus enche o
mundo com uma parte de sua infinitude e por meio de sua onipresença.
Ele está no seu ambiente natural (natural para Ele; sobrenatural para nós),
C dilema dei ,dlma ante n Jémpe>
mas assiste a tudo que se passa por aqui por um dos seus atributos
"oni”(presente, no caso) e habita homens que assim permitem, aqui, nesta
dimensão, para que cheguem lá, na sua “dimensão”, e habitem nEle. O que
me habita é aquEle no qual vou habitar.
Com o afetar o tempo e o habitar homens, chegamos aqui ao “X” da crise
entre a alma e o tempo.
Vejamos estes dois pontos pausadamente e de cada vez.
Voltei-me e vi debaixo do sol que não é dos ligeiros a carreira, nem dos
valentes, a peleja, nem tãopouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes,
a riqueza, nem dos inteligentes o favor, mas que o tempo e a sorte pertencem
a todos.
0 difama da .dfmaanh <> .‘fa mfa
Que também o homem não conhece o seu tempo; como os peixes que
se pescam com a rede maligna, e como os passarinhos que se prendem com
o laço, assim se enlaçam também os filhos dos homens no mau tempo,
quando cai de repente sobre eles.
até que Deus o transladasse para aquela vida espiritual em que teria vivido
sem a animalidade natural, se posso expressar-me assim...E, entretanto, ele
teria sido um homem com corpo e ossos, e não um espírito puro como são
os anjos.
Creio, tal qual Lutero, que Deus criou Adão imortal, mas visando a
eternidade para ele. Se Deus nos fez com parte imaterial, com alma e espírito,’
isso implica que fomos feitos para o espiritual, para a eternidade, para o
ambiente de Deus, não para a Terra. A vida na Terra seria um estágio. A
constituição do homem faz-nos pensar dessa forma./E por isso que é mais
certo dizer que o tempo foi feito para nós do que nós para o tempo./
“Pos a eternidade no coração do homem”. Deus criou o ser humano
para a imortalidade e eternidade. Esse é um dos aspectos da imagem de
Deus no homem, da marca divina carimbada no âmago do nosso ser. Mas
estamos no tempo. Isso sugere uma luta real dentro de nós contra este
ambiente em que vivemos hoje, isto é, o tempo. Enquanto o ser humano
não chegar lá, ele se digladiará nessa curta dimensão, porque não foi feito
para ela.
É bem verdade que existem algumas poucas pessoas que não sentem
fortemente este anelo pelo imortal e o eterno. Tudo isso porque se
envolveram com o pecado, que enegreceu tal sentimento. Vivem para se
esquecer de que um dia vão enfrentar a morte. Envolvem-se ao máximo
com os prazeres sem pararem para pensar no futuro e no que mais preocupa
no futuro — a morte. Se parassem para pensar sobre a morte, sentiríam p
abafado clamor interno pela imortalidade e debater-se-iam diante desse
patente fato.
Agora, imagine você como clamam pelo eterno as almas que já conhecem
Deus. O clamor pela eternidade nesses corações não está obscurecido. Eles
clamam pelo mundo que não passa.
O desejo é ardente. Mas não é um desejo baseado numa desesperança.
Eles não clamam por algo que sabem não conseguir. É um desejo baseado
na verdade de um dia alcançar o eterno, do qual uma porção dele já foi
recebida como penhor.
Todo ser humano tem essa eternidade no coração e por isso clama pela
imortalidade. Mas aquele que já internalizou o Eterno — já experimentou
um poucochinho da glória celestial como amostra do que o espera, passou
a ser morada de um pedaço desse ambiente divino, tem Deus no coração, o
Céu na alma — clama com mais tonicidade. O crente salvo clama (e o
Espírito, dentro dele, também): “Vem, Senhor Jesus!” O crente sabe que
Cristo invadiu corporalmente, por 33 anos, o tempo, para garantir, a todo
aquele que nEle crer, a eternidade.
Não obstante esta certeza, o salvo está ainda aqui e, porque está aqui,
sofre, confronta-se com males do ambiente passageiro. Daí surgem os
sentimentos de desconforto nesta vida.
É bem verdade que devemos amar mais lá do que aqui. Lá é a nossa
estação final, o nosso verdadeiro lugar. Aqui só é uma ante-sala desse
ambiente ideal e definitivo. Mas isso não deve fazer com que eu odeie essa
dimensão ou deseje loucamente a morte o mais breve possível. Este ambiente
é necessário, foi criado para mim por causa de um objetivo concreto, ele
tem um fim. Mas isso já é assunto para um outro capítulo.
Para sua meditação, uma estrofe do belo poema de Bernardo de Cluny,
como aparece no livro de A. W. Tozer já citado:
O SOFRIMENTO PRESENTE
A DEMORA
surgirem, jogo-os aos pés de Cristo, mas sempre sujeito a novas reações
desse tipo, se aparecerem novas demoras.
E importante explicar isso. Existem pessoas as quais pensam que, quando
despejo todas as minhas ansiedades no Senhor, não estou sujeito a novas
sensações desse tipo. Estou. O que a Bíblia diz, para mim e você, é que
devemos lançar sobre Ele todas as nossas preocupações à medida que
surgirem. Ela não me garante que jamais terei novas ansiedades, mas que,
quando elas chegarem, não devo permiti-las se instalarem. Devo desinstalá-
las rapidamente e colocá-las no Senhor. Se surgirem outras, o processo é o
mesmo. Não posso evitar que apareçam. Eu não devo é deixar que alguma
permaneça. Se não, vão fazer ninho em minha alma e trarão sensações
enormes de infelicidade.
Se o Espírito Santo habita em seu ser e você cultiva sentimentos dEle em
sua alma através daqueles exercícios já descritos na primeira série deste livro,
Ele o alertará para que abandone apressuradamente quaisquer dessas
sensações.
Uma última explicação desse pensamento sobre o lançar ansiedades em
Deus é a de como usei o termo “outras” no penúltimo parágrafo. Quando
alguém usa o termo “outra”, possivelmente pensa em dois sentidos. Ou se
refere a outra igual ou a outra diferente.
Quando eu digo que podem surgir outras ansiedades mesmo depois de
lançar todas no Senhor, não falo de outras iguais, com a mesma motivação.
Assim o servo de Deus pegaria de volta aquilo que entregara ao Senhor. O
“lançarmos sobre Ele toda nossa ansiedade” deve ser uma atitude definitiva,
sem volta.
Se as mesmas sensações em relação a uma coisa x voltam, é porque não
lancei realmente todas em Deus ou as peguei de volta. O que digo é que
podem surgir muitas outras diferentes, isto é, em relação a y, z, k, etc, e, à
medida que surgirem, lanço cada uma defmitivamente sobre Ele, que cuida
de mim. Nós, que nos rendemos a Jesus, não estamos isentos de novas
ansiedades, mas temos a fórmula de acabar com todas elas na proporção em
que vierem à tona.
Outra observação deve ser feita.
Perceba que falamos em outro capítulo que a sensação de demora é
resolvida, tanto quanto a da brevidade do tempo, com um saber administrar
o meu tempo vivido em relação ao meu tempo medido, mediante o amar e
viver para Deus e os homens o máximo que eu puder do meu tempo. A
situação aqui é um pouco diferente.
Quando cito a demora como alavanca de insatisfação da alma com o
tempo, refiro-me àquela inevitável frequência de momentos de espera que
Reflexões sobre a .^Umu e o Jr,
o tempo nos proporciona e que parece tentar fazer-nos sofrer, não às sensações
de espera em particular.
Quando penso que a demora é uma destas alavancas, desejo chamar a
sua atenção, não para o não esperar, isso é, o desistir, do capítulo 13, mas
para a espera em si.
Se, diante da demora, não espero, não resolvo o problema e entro em
turbulência, sofro tremendamente. Se espero, sofro, mas sofro pouco em
relação ao não esperar. Se entrego as sensações dessa espera a Deus, atenuo
o sofrimento; consigo ser feliz apesar de tudo. Mas não quer dizer que não
sofro. Sofro, mas sou feliz, e não sou feliz, porque sofro. Sou feliz porque
tenho Deus em minha vida, que me dá sentido de vida, garante-me a vida
na eternidade sem nenhum sofrer, soergue-me quando preciso, anima-me
quando quero parar e outorga-me paz em meio à tempestade. Eu vejo os
problemas e a demora e suporto-os porque Deus me dá capacidade para
tanto.
Nesta dimensão, eu espero, o que não acontece na eternidade, e isso já é
algo desagradável, que me faz depreciar o meu tempo — é a isso que me
refiro.
Enfim, pelo que apresentamos, é possível ser feliz apesar disso tudo que
já dissemos anteriormente, mas amar esta dimensão diante de tudo isso que
ela me traz?
Finalmente, depois que terminamos as causas, vamos às soluções.
QUANDO O DEUS
DA ALMA É O DEUS
DO TEMPO
Deus não quer o meu mal. Ele deseja o meu bem. Então, se Ele permite
tudo isso como parte do roteiro dEle para minha vida, devo aceitar isso
como métodos de Deus me ensinar algo novo. O pecado criou o sofrimento.
Deus não é o causador do sofrimento, mas ele usa (entenda-se “aproveita”)
alguns sofrimentos para abençoar-nos.
Quando a Bíblia diz que Ele “cria o mal”, isso significa que Ele algumas
vezes “permite o mal”, como instrumento de juízo ou não, mas sempre
visando o bem. Deus não é sadista, nem quer que sejamos masoquistas. Ele
quer que nós, assim como Ele, usemos (aproveitemos) o sofrimento.
Quando eu vejo o Deus da minha alma como o Deus do meu tempo,
vejo o tempo como meu amigo. Se eu já conseguia vislumbrar isso por
meio da administração correta do meu tempo, consigo agora ver isso
perfeitamente por meio dessa consideração.
Na oitava reflexão, não contavamos com o sofrimento e a espera na
perspectiva descrita no capítulo anterior. Se contando com elas o tempo
pode parecer ainda maligno, com a descoberta de Deus, não só no tempo,
mas também por trás do tempo, desmorona toda máscara de malignidade
que o tempo demonstra possuir. Ele se torna bom e amável. Só não pode (e
não deve) ser mais amado do que a eternidade, claro. Ele não pode ser
odiado e nem pode ser mais amado que aiónios.
Começamos a ver os lados positivos do tempo.
Antes da queda tínhamos liberdade para pecar e não pecar. Mas depois
da queda e antes da redenção a única liberdade que nos resta é a de pecar.
Quando somos redimidos a graça de Deus passa a atuar em nós, levando-
nos do estado miserável em que nos encontramos para um estado novo, em
que nossa liberdade é restaurada, tanto para pecar como para não pecar. No
Céu, por fim, somente teremos liberdade para não pecar. Como no caso
anterior, isto não quer dizer que não teremos liberdade alguma. Ao contrário,
na vida celestial teremos diversas alternativas. Mas nenhuma delas será
pecado.
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-Itiandc o da • dima r o Seat dt> .Jtmfat
Quem não percebe isso, complica-se e decompõe-se aos poucos por agonias
e ansiedade. Quem já está apercebido disso, enquadra-se no projeto divino
e vive um desdobramento rumo à garantia de todas as coisas boas e belas. O
atrito, o barulho, os choques, tudo se esvai, e um perfeito e eterno estado
delicioso é concretizado.
O tempo trabalha o íntimo quando se aprende que aprendemos por ele.
Devemos e podemos volver uma face estampada por um sorriso ao
contemplarmos o tempo por esse ângulo da alma. Fechar o rosto, enlutar a
face ou ranger os dentes é acionar um dispositivo na alma contra nós mesmos;
começar uma autoflagelação interior causará enfermidade de alma.
Ou nos encaixamos no organograma do tempo ou nos destruímos.
Só mais uma coisinha antes de fecharmos este capítulo. Você recorda
que falei, no capítulo 9, que, quando pensamos nesta dimensão como algo
mau e/ou desnecessário, não desejamos brigar por alguma coisa aqui?
Quando descubro que tudo nesta dimensão serve para meu
enriquecimento espiritual, tudo muda. Esforço-me para melhorar o que
me circunda hoje, pois estou certo de que o que fizermos e construirmos
aqui, ainda que pareçam coisas desnecessárias (porque não vamos morar
nesta dimensão para sempre), vão servir para quem ficar aqui e acarretar-
me-á uma compensação (galardão) sem limites na eternidade. Abençoarei
vidas e entesourarei no Céu através do meu mourejar na Terra. Esta visão
correta fará com que a minha resposta à vida seja positiva. Posso sorrir para
o tempo.
Qual é, hoje, a sua posição diante do tempo? Como você o compreende?
Devo entender que administrar o meu tempo é vivê-lo conforme a
vontade de Deus, e isso significa também aceitar o que Ele permitir (não o
que eu provocar ou não tentei mudar).
Mais do que nunca, estejamos constantemente conscientizados de que
temos que assumir uma posição de compreensão de acasos como
instrumentos-tratadores do Senhor da alma. Ele fala conosco através da
oração, do louvor, da Palavra, pela natureza, mas não só assim. Ele também
nos fala pelo nosso tempo.
POSFÁCIO
e cxmsàlctaçMS finai.\
bclxc a alma e o lemfo
Kairós guia cronos. Kairós usa cronos como método para tocar a alma.
Kairós é a ação de Deus no tempo; é Deus fazendo os horários e a agenda da
nossa vida.
Em síntese, a alma e o tempo são dois assuntos que são contemplados
por dois prismas diferentes: a alma em relação ao tempo ou o tempo em
relação à alma; ou melhor, o tempo da alma ou a alma do tempo.
Alma e tempo, tempo e alma; a alma do tempo, o tempo da alma. Isso é
mais do que um trocadilho de palavras.
A alma do tempo é a essência do tempo, o que podemos extrair dele; são
lições que tentam nos transmitir uma mensagem. São elas que dão significado
à existência do tempo. O tempo existe para nós sermos burilados e
amadurecidos por ele para Deus.
O tempo da alma são segundos, minutos e horas que se estendem à
eternidade, porque a alma é imortal, e são tecidos pela agonia ou pelo amor,
os quais são, além de eternos, angustiantes ou prazerosos. O que vai
determinar um ou outro desses adjetivos é o ambiente onde a alma se nutre.
Quais os ambientes possíveis para ela?
O primeiro é o clima do Inferno. Quando alguém não se rende a Jesus e
entrega-se aos vícios, implementa uma extensão do Inferno em sua alma. O
tempo do existir torna-se angustiante. Se eu culrivo,o Inferno na^alma, a
alma irá para o Infernçx.
(Tsegundo é o clima do Céu, as “regiões celestiais”. Quando me lanço
nos pés de Deus. o.Çéu desce àjninhaalrpa e o jjrazerse estabelece. 'Se eu
cultivo o Céu na alrnajaalma íiTpamoCéuj
f“ Sempre o ambiente da minha alma será uma maquete do meu destino
ós-morte e o definidor das minhas angústias ou prazeres que sinto.
O tempo rege a alma enquanto ela se encontra no tempo. Entretanto,
quando a alma romper a esfera do tempo pelo toque da morte (às vezes
doloroso, às vezes suave), o tempo deixará de ser, mas para algumas outras
almas (que ainda esperam o toque liberador damorte) ainda existirá, até
que venha o instante em que o Deus da alma e do tempo acabará com este
último, pois não se fará mais necessárioÁO tempo existe por causa da alma?
e não a alma por causa do tempo. ’
A partir desse período, quando o Tempo dará seu último suspiro e não
se falará mais dele, não existirá mais hora, minuto ou milésimo de segundo,
nem o dia terá mais seus fins e começos interligados por noites. A definição
e limitação que acompanharam nossa vida no tempo darão lugar para uma
indefinida e doce prolixidade ininterrupta da eternidade.
O horário, que muitas vezes nos dizia quando sermos e quando não
sermos, quando termos e quando não termos (pois já dizia Salomão que há
tempo para tudo debaixo do sol), dará lugar ao ser para e um ter para sempre.
As separações também não mais ocorrerão.
Como escreveram no relógio de sol do Seminário de Princeton,
acontecerá: “Unidos pelo tempo. Separados pelo tempo. Unidos, novamente,
quando não houver mais tempo!” E eu acrescentaria: “E para sempre!”
Os “atés” darão espaço para as reticências, o finito dará lugar ao infinito,
a transitoriedade ao sem-fim, a trivialidade no ambiente do tempo será
substituída pelas novidades sem término da liberdade que existe na
eternidade.
As estações desvanecerão; nunca mais outono ou inverno, mas só
primavera e verão; sempre haverá dia, nunca noite.
Os nossos passos não serão mais cronometrados, nossa vida não será
mais regida pelo som incessante de tique-taques do relógio a nos provocarem
ansiedade; não haverá mais pressa, demora, disputa, corrida, correria,
adiantamento, atraso, agitação ou espera.
Não entenda essas minhas palavras como se eu estivesse a contradizer-
me, afirmando que, naquele dia, acharemos que o tempo foi péssimo. Pelo
contrário, estaremos certos de que, de alguma maneira, ele foi bom para
nós; mas agora nos espera o melhor —ío Céu. com Deus
O Céu é um lugar preparado para um povo preparado, e esse preparo é
feito no chão deste planeta. Por isso, quando sairmos daqui, não nos
sentiremos como pessoas que passaram décadas dentro de uma cela escura e
agora são postas em liberdade. Sentir-nos-emos como pessoas que passaram
anos numa faculdade até receberem seus diplomas.
Quem é salvo sabe que a felicidade existe; começa na Terra e existe apesar
dos problemas. Lá no Céu, ela existirá em maior grau e sem a presença do
sofrimento e da espera. O tempo terá cumprido o seu papel de universidade
da alma.
Diante dessa possibilidade, a alma exclamará: “Vitória!” — O alvo
finalmente será alcançado.
Mas para alguns, em algum lugar no Universo, a saída do tempo não
representará vitória, porém a concretização de uma terrível, sem precedentes
e inesperada tragédia. Tudo será o oposto: noite sem fim, gemidos sem
resposta, dores lancinantes, ranger de dentes, desespero, horror, angústia.
Eles perceberão como o tempo, que foi desprezado, era importante, e
desejarão que volte, mas será impossível.
Enquanto para uns o infinito será o começo, para outros será o fim.
Enquanto para alguns a eternidade será o começo sem fim, para outros será
o fim sem fim e sem recomeço. Destinos, visões, percepções e situações
distintas de quem viveu no tempo antagonicamente.
Reflexões sobre o ^sUma e o 3fm/n>
“Deus, ajuda-me a não odiar o meu tempo e amar a eternidade contigo mais
do que qualquer coisa. Ajuda-me a viver para ti nesse mundo com toda intensidade
do que eu sou. Ajuda-me a conhecer o meu tempo, a refazer-me quando preciso,
a esquivar-me quando for necessário, a saber quando dizer ‘sim’ e quando dizer
‘não’. jQuero_a££rtar o relógio da minha alma com o_teu\ Não quero nunca me
adiantar ou me atrasar em relação à tua vontade, Senhor. Fecha todas as portas
para mim, a não ser a certa. Quero sempre perceber e aproveitar o tempo oportuno
e ideal. Que haja sempre sincronia entre cronos e kairós.
Amante e Amado da minha alma, ajuda-me a suportar o que esta dimensão
pode me reservar e aproveitar cada situação abstraindo-a e, assim, obter inferências,
novos conteúdos para meu caráter. Auxilia-me a reconstruir cenários neste chão
passageiro que sirvam de marcos que ajudem muitos e estimulem o louvor ao teu
nome. Conceda-me em tudo que eu sempre veja que somos do Eterno, mas estamos
emprestados ao tempo, para que o tempo, que foi feito pelo Eterno, nos molde,
até o momento tonicamente anelado em que sairmos do tempo ao Eterno para no
Eterno permanecermos. E o que te peço, sinceramente, em nome de Jesus. Amém!”
Se essa for a sua oração, o Deus do tempo terá com certeza se tornado o
Deus da alma. Você sempre encontrará Deus no seu tempo e pode estar
seguro de que viverá eternamente com Ele no além-tempo. Ele o ajudará!
Você conseguirá, em nome de Jesus!
“O Senhor te guardará de todo o mal; Ele guardará a tua alma” (SI 121,7a).
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