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ANTONIO
HORVATICH

REMINISCÊNCIA

2022
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PREFÁCIO

Encontrava-me, aparentemente, com a mente vazia,


disperso, sentado no sofá, num tempo perdido, sem nada
de útil por fazer ou fazendo. Foi quando me senti sacudido
pelo remorso de estar perdendo o tempo precioso que
Deus me proporcionava.

Importunado, pensei em algo de útil por fazer. Uma luz


brilhou trazendo à lembrança os muitos arquivos
guardados, de escritos em pedaços de revistas e jornais,
ou copiados de diversos “sites”, ou conseguidos de outras
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maneiras. Eram reminiscências de um passado não tão


distante.

Por que não os reunir em volume único e guardá-los


para posteridade, ou até mesmo para consultas futuras?

Mãos à obra. Levantei-me e comecei a procurar tais


arquivos, selecioná-los e transcrevê-los. Foi assim que
surgiu o presente opúsculo.

O presente conteúdo, em hipótese alguma é obra


minha, o meu trabalho foi de apenas reunir e ordenar os
textos aqui apresentados, acrescidos de alguns
comentários que julguei necessário.

Procurei ter o cuidado de citar, após cada texto, o


referido autor, ou fonte utilizada, levando em conta o que
foi permitido por seus autores, e seus direitos autorais.

Aqui não está nenhum interesse comercial, mas


apenas um desejo organizacional, além de ter mais um
conteúdo de reflexão e direcionamento em meio a tanto
pensamento vazio de uma mídia inescrupulosa que nos
rodeia.

Comecemos...?

No meio do caos desse mundo é difícil acreditar que


existe Deus. Assistimos a guerra, fome, miséria e a
violência todos os dias, e sabemos que isso assusta, não é
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mesmo? Por isso queremos convidá-lo a uma viagem no


tempo, a falar sobre esperança, não em algo passageiro,

mas sim em algo eterno: O Deus vivo.

Os textos esparsos aqui reunidos foram selecionados


com a finalidade de proporcionar um questionamento
diante dos insondáveis mistérios de Deus, ora refletindo a
natureza criada, ora nos colocando dentro dessa realidade,
afinal, contemplar a Natureza é uma das maneiras de sentir
o Amor de DEUS. Ora, lançando um olhar na pessoa de
Jesus, seus ensinamentos, seu relacionamento com o Pai.
Ora questionando o mistério da vida etc.

Espero que o meu tempo que foi inútil, se torne útil


através deste trabalho àqueles que porventura venham
debruçar na leitura destas páginas.

Que Deus nos abençoe.


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MISTÉRIO

“Ò abismo de riqueza, de sabedoria e de ciência em


Deus! Quão impenetráveis são os seus juízos e
inexploráveis os seus caminhos” (Rom 11, 33-Ave Maria
pag.1461).

“Podemos acreditar que tudo que a vida nos oferecerá


no futuro é repetir o que fizemos ontem e hoje. Mas, se
prestarmos atenção, vamos nos dar conta de que nenhum
dia é igual a outro. Cada manhã traz uma bênção
escondida; uma bênção que só serve para esse dia e que
não se pode guardar nem desaproveitar. Se não usamos
este milagre hoje, ele vai se perder. Este milagre está nos
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detalhes do cotidiano; é preciso viver cada minuto porque


ali encontramos a saída de nossas confusões, a alegria de
nossos bons momentos, a pista correta para a decisão que
tomaremos. Nunca podemos deixar que cada dia pareça
igual ao anterior porque todos os dias são diferentes,
porque estamos em constante processo de mudança.”
(Paulo Coelho).
Tal pensamento de Paulo Coelho tem sua verdade em
Deus, que em sua insondável sabedoria, nos proporciona a
cada manhã, a cada dia, surpresas, experiências inéditas,
inesperadas.
Não sei o que acontecerá hoje, mas tenho a certeza
que Deus já tem preparado o melhor para mim hoje. Nem
sempre permito que Deus haja com seu plano de amor e
isto me leva a surpresas desagradáveis.
Sabendo e crendo que Deus conduz minha vida,
procuro a cada manhã que Deus me proporciona viver,
fazer um mesmo propósito: que a vontade suprema de
Deus se realize em minha vida. Assim inicío o meu dia,
conversando com meu Deus.
Eu tenho lido escritores e ouvido oradores que tentam
transformar nossa ignorância sobre os caminhos de Deus
no principal fundamento de nossa admiração e adoração.
Eles geralmente fazem isso usando positivamente a
palavra mistério para se referir à profundidade e altura de
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Deus, de modo que devemos ficar maravilhados e


admirados com o quanto não sabemos sobre Deus.

Eu não sou atraído por pessoas que fazem isso. Ao


lermos o pensamento de S. Paulo, por exemplo,
percebemos que sua abordagem é muito diferente. Ele diria
que Deus é mais glorificado quando estamos surpresos,
admirados, adorando e alegremente submetidos a ele por
causa do que sabemos sobre ele, não por causa do que
não sabemos.

A vida neste mundo está envolta de mistérios que às


vezes nos fascinam e outras, no entanto, nos perturbam a
alma. Estamos sempre querendo saber o motivo por trás
de tudo o que nos acontece, especialmente, aquilo que nos
traz dor e sofrimento. O conhecimento que temos de nossa
própria vida é pequeno e imperfeito, razão pela qual, nosso
entendimento se mostra tão debilitado para compreender
alguns acontecimentos que nos sobrevém.
Bem diferente de nós, Deus possui um conhecimento
assombroso acerca de tudo, de modo que todas as coisas
estão patentes aos Seus olhos. Deus vê o que nós não
vemos, Deus sabe o que nós não sabemos e Deus conduz
Seu conhecimento na realização de Seus propósitos, de
maneira que nós nem sempre podemos compreender.
Nesse sentido, os caminhos traçados por Deus, são para
nós, um verdadeiro mistério.
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Deus administra o seu conhecimento, fazendo com


que todas as coisas contribuam para a execução dos seus
desígnios e no final tudo redunde em glória para Si mesmo,
normalmente a Bíblia chama isso de sabedoria, por isso,
quando Deus é chamado de Sábio, o que está sendo dito é
que Ele gerencia o Seu saber de forma tão magnífica que
sempre resultará em gloria para o Seu Nome e em bem
para o Seu povo. “Aliás, sabemos que todas as coisas
concorrem para o bem daqueles que amam a Deus,”... (Rm
8,28a).
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-PRIMEIRAS PALAVRAS-

O sofrimento do mundo
O Papa Francisco em sua encíclica Laudatus si,
mostra-nos o grande perigo do modelo tecnocrático
vigente.
O modelo tecnocrático, com o seu espírito de
competição feroz e agressiva e a sua ambição cega de
dominar e submeter a si todas as coisas tem gerado um
sofrimento crescente, continuado e incontrolável.
Há muita gente, cujo horizonte de vida é sobreviver e
isto se repete dia após dia, até ao dia em que já não é
possível fazê-lo mais. Os vencedores desta partida
desigual não se dão conta – ou não querem se dar conta –
da dor que deixam atrás de si, dor que não é passageira
nem ligeira, dor cauterizada pela desesperança e
resignação. Os vencedores desta partida injusta «não
reconhecem às outras criaturas o seu valor, não sentem
interesse em cuidar de algo para os outros, não
conseguem impor limites para evitar o sofrimento ou a
degradação do que nos rodeia» (LS (laudatus si) 208).
Como só dos fortes reza a história, esta história do
imenso sofrimento da humanidade e da natureza não será
nunca escrita, porque, no final de contas, é vergonhosa.
Além disso, por causa das suas grandes dimensões e do
pouco que se tem feito para inverter a situação, também
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não se pode, pura e simplesmente, varrer para debaixo do


tapete. A verdade é que «nunca maltratamos e ferimos a
nossa casa comum como nos últimos dois séculos» (LS -
laudatus si 53). A verdade é que uma grande parte da
humanidade carrega às suas costas um sofrimento injusto
e imerecido, enquanto outra parte contempla essa situação
a partir da tranquilidade ilusória do seu sofá. Ainda que
sejam os mais pobres a pagar a fatura mais pesada da
crise ecológica, esta parece não fazer acepção de pessoas
e tem-se manifestado também em países e regiões
consideradas ricas e desenvolvidas. Talvez assim acordem
do seu sono…
Parece que, em algumas etapas marcantes da
história, os homens foram capazes de se unir uns aos
outros e assim conseguiram superar os obstáculos que
lhes surgiram pela frente. A capacidade de interajuda e
colaboração mútua foram preponderantes para a afirmação
do ser humano como tal, elevando-se bem acima dos
animais. Sempre que os seres humanos optaram por
cooperar entre si – em lugar de competir uns contra os
outros –, produziu-se um grande avanço de civilização.
Hoje chegamos novamente a um momento da história em
que todos teremos de nos unir, se quisermos realmente
superar esta prova de grandes dimensões abrangentes.
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Os crentes sabem que Deus está atento ao sofrimento


do seu povo e não se limita a reconhecer a sua existência.
O sofrimento dos seus filhos muito amados chega ao
coração do próprio Deus e Ele não permanece insensível
ou distraído a esses clamores de dor e angústia: (“Eu vi, eu
vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi os seus
clamores por causa de seus opressores, Sim eu conheço
seus sofrimentos, E desci para livrá-los da mão dos
egípcios...” (Gen 3, 7-8). Esse Deus que outrora se
importava pelo dor de seu povo, é o mesmo Deus que hoje
se importa por cada um de nós. Também Maria, «a mãe
que cuidou de Jesus, cuida com carinho e preocupação
materna deste mundo ferido”. Assim como chorou com o
coração trespassado a morte de Jesus, assim também
agora Se compadece do sofrimento dos pobres
crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas
pelo poder humano» (LS 241). (José Domingos Ferreira,
scj
GUARATUBA (Pr), MARÇO DE 2021
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O que é preciso para se iniciar um relacionamento


com Deus?

Esperar que um raio caia? Devotar-se a obras de


caridades em diferentes religiões? Tornar-se uma pessoa
melhor para ser aceita por Deus? Nada disso. Deus deixou
muito claro na Bíblia como podemos conhecê-lo. Aqui
estão quatro princípios que irão explicar como você pode
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iniciar um relacionamento pessoal com Deus, agora


mesmo…

Somos todos passageiros nesta jornada da vida.

Algum tempo atrás li um editorial que me agradou e eu


resolvi guarda-lo e hoje aqui o transcrevo, pois fala de uma
realidade existencial e vale a pena refletir. Assim diz o
editorial:

“Ontem recebi uma notícia que me chocou: uma boa


amiga me ligou para dizer que o sogro dela, que eu
também conhecia, havia falecido. Ele caiu de uma escada,
dentro de casa, bateu a cabeça no chão e morreu de
imediato.”

Pois é, por mais que saibamos que todos nós vamos


um dia abandonar este mundo, por mais que a morte faça
parte da vida e por mais que tenhamos maturidade
suficiente para aceitá-la, sempre nos chocamos quando
morre alguém que conhecemos, principalmente quando a
morte vem de uma forma inesperada.

O editorial continua assim:

Fico imaginando a vida como um trem longuíssimo,


com vários vagões. Neste trem só se embarca pela frente e
tem-se então que caminhar por todos os vagões (as etapas
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da vida) até chegar ao último, onde então desembarcamos


e deixamos de viver (neste mundo). Até aí, tudo bem: todos
já embarcamos sabendo disso – ou ficamos sabendo bem
cedo – e sabemos também que é inevitável. Aceitamos
assim nosso destino e caminhamos de vagão para vagão,
aprendendo, crescendo, vivendo. E, neste trem, viajam
também diversas pessoas, algumas que embarcaram já
antes de nós, outras que embarcaram conosco e já outras
que vão embarcando depois nas diversas estações da vida.
É também nessas estações que desembarcam aqueles que
já se encontram no último vagão e que já passaram por
todo o trem. Alguns vão felizes, pois sabem que tiraram o
melhor proveito da viagem, outros vão amargos e solitários,
pois só entenderam tarde demais que tinham muito o que
aprender com aqueles outros passageiros que rejeitou e
hostilizou o tempo todo. Já outros relutam, não querem
desembarcar de forma alguma, tentando voltar para o
vagão anterior (ou mesmo vários vagões atrás!), mas
percebem que isso não é possível, pois a porta entre os
vagões só permitem a passagem em um único sentido: do
início para o fim, do nascimento para a morte.

Os passageiros que se encontram mais à frente, que


ainda têm vários vagões para percorrer, sabem que há
pessoas queridas no fim do trem e ficam tristes, pois têm
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consciência de que eles logo descerão, mas aceitam,


principalmente, por saberem que não há outro jeito mesmo.
O destino da vida é a morte, a morte faz parte da vida.
Quando alguém então vai, isso dói e se fica triste, mas a
dor é mais amena quando já contávamos com isso, porque
houve então um tempo de familiarização, houve um tempo
de despedida.

Mas às vezes acontece de alguém, que ainda teria


uma longa viagem pela frente, que estava ali, no meio do
trem, no meio da vida, ser de repente levado para o último
vagão ou mesmo para fora do trem, assim, sem que
ninguém esperasse, de um momento para o outro. Alguém
se vai e não conseguimos entender. Ficamos então
chocados, primeiro pela perda, mas também por
percebermos nossa fragilidade e por nos lembrar de que
somos todos passageiros, passantes, viajantes no trem da
vida. É como se passasse o chefe do trem pedindo para
ver o bilhete e o destino de cada passageiro, lembrando a
todos que estamos a caminho e que cada um de nós vai ter
que descer um dia.

Às vezes, acontece alguma coisa (uma catástrofe,


uma epidemia, uma guerra…) e muitos abandonam o trem
de uma vez só. E tem aqueles que, por tanto medo do que
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os espera nos vagões seguintes, terminam desistindo e


descendo do trem muito antes de chegar sua estação.

Tenho a impressão de que a maior parte das pessoas


evita pensar nisso e mais ainda falar disso. Entendo isso
muito bem. Não acho que seria saudável se ocupar com a
morte o tempo todo. Isso não seria bom. É mais fecundo
pensar na vida. A morte é inevitável, todos vamos morrer e
creio que não faz sentido alguém negar isso e fazer de
conta que a morte não existe, pois isso seria fugir de algo
que precisamos aceitar para que possamos viver
plenamente.

Mas não precisamos ficar falando da morte o tempo


todo. Só não devemos ignorá-la. É importante aceitá-la e
ter consciência de que tudo este mundo é passageiro, tudo
passa, tudo acaba. Tudo mesmo, também eu, também
você. Quem aceita isso desenvolve uma maior
capacidade de relativizar muitos problemas da vida e de
perceber que é substancial dar a prioridade certa às coisas,
que nem tudo é realmente tão importante assim. “Essa
pessoa entende que seu tempo no trem da vida é curto
(talvez muito mais curto do que imagina) e que ainda tem
muitos vagões para viver.”
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Pe. Carlos, um dia, em uma homilia, falando sobre a


vida, nos explicou que em alemão, passageiro se diz:
‘Fahrgast‘. ‘Gast‘ é visitante, hóspede. Ao entrar em um
trem, ônibus ou táxi na Alemanha, você é um Fahrgast, que
eu traduzo aqui como visitante, viajante. Dizia ele: Nós
estamos visitando este mundo e viajando por ele. Ele não é
nosso. Mesmo assim, entre, chegue à frente, sinta-se em
casa, mas com o respeito de quem só está passando,
aproveitando a viagem intensamente, mas sem se prender
a nada que não seja realmente essencial, pois uma hora
você vai ter que descer. E você terá que deixar para trás
tudo que guardou e não cabe em sua bagagem. Por isso, é
mais sábio guardar somente aquilo que realmente tem um
significado verdadeiro e mais profundo. Viva sua vida
plenamente, busque relações sinceras, não deixe que o
medo lhe prenda, tenha coragem, viva cada momento
intensamente, de uma forma madura, sendo bom para você
mesmo, tratando você com carinho, não por vaidade ou
egoísmo, mas por saber que você mesmo é a melhor
companhia que você tem, é a única que com certeza plena
ficará ao seu lado até seu desembarque do último vagão do
trem da vida.

“O Psicólogo alemão” Gustl Rosenkranz], expressa-se


assim: “Momentos como esses, de choque, de saber que
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alguém morreu, são sempre tristes. Mas é também um


desses momentos que nos convida a parar e refletir, talvez
com o sentimento saudável de que precisamos nos
concentrar mais no que é essencial e de que vivemos
correndo atrás de muita coisa que não faz sentido, que
desperdiçamos nosso precioso tempo cuidando de coisas
sem real importância e descuidando do que realmente
conta. Para mim o sentido da vida é viver e não ficar
procurando pelo tempo. E muito “menos ficar esperando
pelo momento certo de começar a viver”

Para completar, permita-me transcrever outro editorial


que a estudante Aline Fátima escreveu em -27-10-2017,
que li e guardei:

“Hoje após pensar muito cheguei à conclusão de que


nossa vida (assim como os textos) é cheia de pontos
finais”. É impossível negar o fato de que passamos por
diversas fases ao longo da vida. Não estou falando apenas
de infância, adolescência e vida adulta. Essas são fases
obrigatórias pelas quais temos que passar. Estou falando
daquelas que nós próprios escolhemos passar. Todas
essas fases nos levam a um ponto final, geralmente o
ponto no qual mudamos.

Há quem resista e evite mudar. Mas eu, como diz uma


conhecida música “prefiro ser esta metamorfose
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ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre


tudo”. Desde que comecei a estudar no Mackenzie minha
vida passou por diversas fases. De uma menina em busca
de um mundo perfeito no colegial para uma mulher no
início da vida adulta que entendeu que mundo não é, nem
nunca será perfeito.

Mudar é mais do que preciso. Eu diria que é


necessário para nosso processo de amadurecimento.
Mudar torna-nos mais fortes, sábios e acima de tudo
corajosos. É necessário ter coragem para admitir que uma
fase chegou ao fim e que agora é hora de tomar novos
rumos. Não se pode viver no passado e no presente ao
mesmo tempo. “Da mesma forma que é impossível passar
por todas as fases da vida sem mudar pelo menos uma
coisa de uma para a outra.”

Amigo, amiga, eu aprendi isso da maneira mais difícil


o possível. Senti que estava mudando, mas me agarrei ao
passado e teimei que poderia manter a principal
característica da fase antiga comigo. Foram necessários
meses para que eu percebesse que aquilo não me
pertencia mais. Mas depois de deixar a bagagem para trás
minha vida ficou mais leve e bem mais feliz.

Por isso se a vida hoje te diz que mais um capítulo foi


encerrado e é hora de virar a página. Aqui vai um conselho
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de alguém que passou várias vezes por isso no último ano:


não resista. As diferentes fases que a vida nos oferece
podem ser difíceis, mas no fim valerá a pena ter vivido
intensamente cada uma delas.

Não temos certeza de nosso amanhã, mas temos


certeza de que o amanhã está sendo escrito por Deus e,
todos os planos de Deus são prefeitos e nos levam a
realização de sonhos, projetos de vida, de realizações,
entretanto, e para tanto é necessário estar ligado,
conectado com Deus, para que haja luz... Com Deus
sempre haverá uma oportunidade, uma nova opção. O que
nos cabe é não fechar os olhos para que não percamos a
luz. O que nos cabe é estarmos atentos, ligados para não
perdermos a oportunidade, é saber olhar à nossa volta para
perceber as opções, então iremos perceber que o que
queremos está bem mais perto, esperando apenas a
oportunidade para acontecer.

Deus está no controle, Ele é a luz, não necessito de


ver, preciso crer. Meu amanhã Deus proverá. Ele abre
portas que ninguém fecha, e fecha portas que ninguém
abre (conf. Apo 3,7). Quando você atravessar águas
profundas, Deus estará do teu lado, e você não se afogará,
quando atravessar no meio do fogo não se queimará (conf.
Isaias 43,2). O Senhor estará contigo todos os momentos.
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Quando tudo parece fora de controle lembre-se: o


tempo de Deus é perfeito, Ele nunca atrasa. Mesmo
quando a vida parece fora de controle, Deus ainda está
trabalhando e tem um plano para a tua vida.

“Quando deixo Deus tomar conta da minha vida, Ele


cuida, Ele livra, Ele protege, Ele nos faz vencer”.
Precisamos acolher o mistério de Deus em nossas vidas.

No trem da vida, todos somos passageiros. Talvez até


andemos pelos mesmos caminhos que outras pessoas já
estejam trilhando, porém o modo como vemos a vida é
sempre diferente de outros olhares. Uma mesma paisagem
sempre será vista com um olhar diferente. A beleza do
viver está nos olhos de quem descobriu que a vida é o
canteiro mais belo para semear as flores da eternidade.

Há quem olhe pela janela do trem da vida e veja


simplesmente um riacho. Outros verão a vida que corre e
passa por inúmeras barreiras para seguir o seu curso
normal. A ponte que une os dois lados de um mesmo
território será sempre superior ao muro que separa as
fronteiras do amor e da paz.

A vida é uma tela, nela você pode pintar uma linda


paisagem que um dia se gloriará ao vê-la. Ou, você pode
apenas deixar a vida passar e um dia você se
decepcionará com você mesmo. Você pode deixar Deus
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conduzir o pincel ou pode rejeitar Deus. Com Deus uma


linda obra de arte será a tela de tua vida.

Saulo de Tarso aceitou deixar Deus conduzir o pincel


de sua vida, e o resultado já conhecemos: Uma linda obra
de arte.

“Durante a viagem, quando já estava perto de


Damasco, de repente viu-se cercado por uma luz que vinha
do Céu. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia:
‘Saulo, Saulo, por que me persegues? ’ Saulo perguntou:
‘Quem és tu, Senhor? ’ A voz respondeu: ‘Eu sou Jesus, a
quem tu estás perseguindo’” (Atos 9,3-5). Dessa forma S.
Lucas conta o encontro de Paulo apóstolo com Jesus.
Aprenda a buscar e encontrar Deus na sua vida
diariamente. O Senhor se deixa facilmente encontrar (Sb
6,12-13) quando voltamos nossa vida para a direção
correta e caminhamos até Ele.
Você já encontrou Jesus? Como Paulo, você é fiel a
Jesus?
Todos nós, sem nenhuma exceção, somos peregrinos
nesta terra. Fomos pensados, amados e criados por Deus
para um dia vivermos na plenitude de Sua glória, rendendo
a Ele todo louvor e adoração, unidos aos seus anjos
celestiais, plenamente felizes e realizados em Sua santa
presença.
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Segundo o livro do Gênesis (1,26), fomos criados pela


ação conjunta e amorosa da Trindade Santa, sendo o
homem – enquanto ser humano –, o ápice da criação de
Deus. Não é por acaso que, na carta aos Filipenses, o
apóstolo Paulo nos revela esta grande verdade de fé
afirmando que “nós somos cidadãos do Céu!” (Filipenses
3,20). A verdade é que somos passageiros embarcados no
trem da vida, seguindo em direção à pátria definitiva que é
o Céu, lugar onde não haverá choro nem dor, e onde
gozaremos da eternidade na presença de Deus como nos
mostra o Apocalipse (21,2-4).

“Enquanto para alguns homens e mulheres o ato de


viver é uma grande festa que deve ser celebrada com
entusiasmo e gratidão, para outros, entretanto, o ato de
viver tem sido um fardo pesadíssimo devido aos
problemas, às tribulações e decepções geradas por
pessoas ou acontecimentos inerentes à dinâmica da vida,
ao ato de viver.” (Texto, com adaptações, extraído do livro “Homens de valor”,
de Pe. Flavio Sobreiro - Canção Nova)

No trem da vida a beleza é passageira e o tempo são


os trilhos a percorrer. O que está presente daqui a pouco
num mesmo instante será passado. Cada dia que nasce é
o futuro que hoje se torna presente para ser passado
amanhã.
25

Não deixe o dia passar como um a mais, viva-o


intensamente na possibilidade de fazer a diferença

Todos somos passageiros neste trem da vida, e todos,


sem exceção, um dia chegarão no último vagão. A estação
que nos espera é a eternidade com Deus ou sem Deus.
No Mistério da vida, escolha ir ao encontro do mistério de
Deus, isto faz toda a diferença.

Faça da vida um aconchego em Deus, e Deus será o


teu aconchego na eternidade.
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ACOLHENDO O MISTÉRIO DE DEUS

“O homem contemporâneo está esquecendo-se do


mistério. O homem desenvolveu admiravelmente a razão
técnica, mas está perdendo a capacidade de captar o
Mistério. E, no entanto, o Mistério nos investiga e nos
acompanha. Na vida não há apenas “enigmas” e
“problemas”. A vida nos remete para um mistério último. O
homem pode conhecer e dominar cientificamente a
realidade, quase tudo… Mas não pode conhecer e dominar
sua origem nem seu destino último. Nem tudo se reduz à
razão. O mais razoável seria movermo-nos humildemente
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na direção do Mistério último.” (Frei Almir Ribeiro


Guimarães OFM).

Recordo-me de uma história contada por Pe. Bernardo


Merkel, (primeiro pároco do Santuário Nossa Senhora
Aparecida em Arapongas-PR), no tempo de catequese, que
nos ajudou a entender e ilustrar a impossibilidade de se
conhecer por completo o mistério de Deus. Foi dele que
ouvi pela primeira vez a história transcrita abaixo.
Certa vez, Santo Agostinho andava pela praia, se
perguntando sobre este mistério. Ao se perguntar sobre
isso, ele se depara com um garoto que, com um pequeno
balde, recolhia a água do mar para depositá-la em um
pequeno buraco cavado por ele na areia.
Andando pela areia da praia, Santo Agostinho
mergulhava certa vez em pensamentos profundos e
altíssimos que se elevavam ao céu. Entre seus raciocínios,
pensava ele no mistério da Santíssima Trindade.

“Como é que pode haver três pessoas distintas – Pai,


Filho e Espírito Santo – em um mesmo e único Deus?”

Ele avistou, de repente, um menino com um baldinho,


que ia até a água do mar, enchia o seu pequeno balde e
voltava, despejando a água em um buraco na areia.
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Santo Agostinho, observando atentamente o menino,


lhe perguntou:

– O que estás fazendo?

O menino, com grande simplicidade, olhou para Santo


Agostinho e respondeu:

– Coloco neste buraco toda a água do mar!

Diante da inocência do menino, o santo lhe sorriu e


disse:

– Isto é impossível, menino. Como podes querer


colocar toda essa imensidão de água do mar neste
pequeno buraco?

O menino, o olhou então profundamente e lhe disse


com voz forte:

– Em verdade, te digo: é mais fácil colocar toda a


água do oceano neste pequeno buraco do que a
inteligência humana compreender os mistérios de Deus!

Em seguida, a criança desapareceu, pois na verdade


era um anjo.
29

Santo Agostinho refletiu sobre a lição que o anjo havia


lhe ensinado. O santo entendeu que a mente do ser
humano é muito limitada para conseguir compreender toda
a dimensão de Deus.

Após observar a ação repetitiva do menino de pegar a


água do mar e depositar no buraco, Santo Agostinho ficou
incomodado, se aproximou e perguntou ao menino sobre o
objetivo de sua ação. A resposta do garoto foi clara: colocar
toda a água do mar naquele buraco. No mesmo instante, o
santo o interpelou dizendo ser impossível executar o que
tinha se proposto. E sua resposta veio no mesmo
momento. O garoto disse que seria mais fácil colocar todo
o mar naquele pequeno buraco que a sua inteligência
compreender totalmente o mistério da Santíssima
Trindade. 

Ao tomar a palavra “mistério” em alguns dicionários de


língua portuguesa, encontramos como uma das
explicações, que mistério se refere a algo que não pode ser
conhecido totalmente, mas em partes. No decorrer dos
tempos, a partir de uma aprofundada exegese, aliada ao
Magistério e à Tradição, avançamos muito na compreensão
deste importante mistério de fé.
Só mesmo, a partir da Revelação de Deus, que foi se
manifestando ao ser humano ao longo da História,
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plenificada em Jesus Cristo e confirmada através da força


do Espírito Santo é que podemos afirmar, com toda a
certeza de nosso coração, a existência de um Deus que,
transbordando de profundo amor para conosco, se revela
em três pessoas: no Pai, no Filho e no Espírito Santo. É
neste Deus, é nesta fé, que somos, existimos e nos
movemos (Atos 17,28-30). Uma Trindade que é puramente
uma comunhão de amor: “de um que ama, um que é
amado e uma fonte de amor”.
Ainda que se dedique, o homem não compreenderá
esta grandeza por si mesmo. Só entenderemos totalmente
a Deus na vida eterna, ao seu lado no céu com o Pai, o
Filho e o Espírito Santo.

Deus sabe que cada qual precisa acolher o seu


mistério. Ao longo dos séculos, os teólogos fizeram um
grande esforço para aproximar-se do mistério de Deus,
formulando com diferentes construções conceituais as
relações que vinculam e diferenciam as Pessoas Divinas
no seio da Trindade. Esforço, sem dúvida, legítimo,
nascido do amor e desejo de Deus.

Deus colocou em nosso coração o desejo da verdade,


o desejo de conhecê-lo. Em sua encíclica “Fides et Ratio”,
o grande e santo Papa, João Paulo II, nos ensina que este
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desejo só será saciado quando nos utilizarmos de nossas


duas asas: as asas da fé e da razão.
Responda-me: por acaso, um pássaro conseguiria
voar com uma só asa? Nesse sentido, se absolutizarmos a
compreensão e conhecimento de Deus somente em um
âmbito teremos uma fé defeituosa; mas, quando nos
utilizamos das duas asas, alcançaremos voos maiores e
mais altos até onde a nossa capacidade humana consegue
alcançar.
Um belíssimo comentário de Kelly Kruschewsky-
Comunidade Canção Nova) me tocou, por isso, passo a
transcrevê-lo:

“Jesus, a partir da sua própria experiência de Deus,


convida seus seguidores a relacionar-se de forma confiada
com Deus Pai, a seguir fielmente seus passos de Filho de
Deus encarnado, e a deixar-nos guiar e alentar pelo
Espírito Santo”. Ensina-nos assim a abrir-nos ao mistério
santo de Deus.
Antes de tudo, Jesus convida seus seguidores a viver
como filhos e filhas de um Deus próximo, bom e afetuoso,
a quem todos podemos invocar como Pai querido. O que
caracteriza este Pai não é seu poder e força, mas sua
bondade e compaixão infinitas. Ninguém está sozinho.
Todos têm um Deus Pai que nos compreende nos quer e
nos perdoa como ninguém.
32

Jesus mostra-nos que este Pai tem um projeto


nascido do seu coração: construir com todos seus filhos e
filhas um mundo mais humano e fraterno, mais justo e
solidário. Jesus chama-lhe «reino de Deus» e convida
todos a entrar nesse projeto do Pai, procurando uma vida
mais justa e digna para todos, começando com seus filhos
mais pobres, indefesos e necessitados.
“Ao mesmo tempo, Jesus convida seus seguidores a
que confiem também nele: «Não se perturbe vosso
coração. Credes em Deus; crede também em mim»(Jo 1-
Ave Maria pag.1404)). Ele é o Filho de Deus, imagem viva
do seu Pai. Suas palavras e gestos mostram-nos como nos
quer o Pai de todos. Por isso convida a todos a segui-Lo.
Ele nos ensinará a viver com confiança e docilidade ao
serviço do projeto do Pai.
Com seu grupo de seguidores, Jesus quer formar
uma família nova onde todos procurem «cumprir a vontade
do Pai». Esta é a herança que quer deixar na terra: um
movimento de irmãos e irmãs ao serviço dos mais
pequenos e desamparados. Essa família será símbolo e
germe do novo mundo, querido pelo Pai.
Para isso, precisam acolher o Espírito que anima o Pai
e o Seu Filho Jesus: «mas descerá sobre vós o Espírito
Santo e vos dará força e sereis minhas testemunhas em
Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os confins do
33

mundo» (At 1,8 – Ave Maria pag. 1413). Este Espírito é


o amor de Deus, o alento partilhado pelo Pai e o Seu Filho
Jesus, a força, o impulso e a energia vital que fará dos
seguidores de Jesus suas testemunhas e colaboradores ao
serviço do grande projeto da Santíssima Trindade.
Desde o Batismo, à toda hora, nós cristãos traçamos
sobre nossa fronte e nosso peito o sinal maior de nossa fé
– a Cruz - com a invocação: “Em nome do Pai e do Filho e
do Espírito Santo. Amém”. Assim, do coração do homem
cristão brota este sinal e estas palavras que evocam e
invocam o mistério maior de sua fé: o mistério da Trindade,
que, silenciosamente, ama. E ama, por ser amor. O ápice,
pois, da revelação de Deus em Cristo e por Cristo se
expressa nas palavras de São João: “Deus é amor”. Para
saborear, pois, o mistério da Trindade é preciso ser amante
dela. É preciso que a fé se transforme em amor: nesse
amor, do Deus amor, que é Um e que é a Trindade do Pai
e do Filho e do Espírito Santo.

Se no passado, a espiritualidade cristã centralizava-se


no Deus Uno, hoje, a partir do Vaticano II, descobre-se e
parte-se cada vez mais da riqueza profunda do Trino Deus:
Pai-amante, Filho-amado, Espírito-dom, o amor-gratuidade,
o amor-ternura, em que Amante e Amado se doam e se
recebem mutuamente, numa unidade de ser e numa
comunhão de viver: a Comunidade, a Família divina.
34

Trindade: Vida divina que ferve, e, fervilhando,


transborda, derrama-se na criação do universo para a
santificação de todas as coisas e deificação dos homens e
mulheres que aprendem a lição do amor gratuito e
misericordioso, tornando-se “luz do mundo e sal da terra”.

É com este modo de ser e de viver que fomos


assinalados pelo Batismo, convocados, portanto a virmos
ser pais no Pai, filho no Filho, sopros divinos no Espírito
Santo. Foi este modo de ser e de viver que São Francisco
descobriu e assumiu quando na igrejinha da Porciúncula,
por ser adorador da Trindade, abriu por três vezes o santo
Evangelho e que depois retomou para si e para os seus
frades como Forma de Vida quando escreveu a primeira
Regra: “Em nome do Pai e do filho e do Espírito Santo!
Esta é a Vida do Evangelho que Francisco pediu ao senhor
Papa...”. “Assim, com este sinal, que deu origem em nós o
ser de Cristo, é que nós cristãos iniciamos e concluímos
sempre de novo os dias, os trabalhos caseiros ou
evangélicos, as Liturgias e demais orações, as noites, os
meses, e anos de nossa existência, enfim, a vida e a
morte.” (Kelly Kruschewsky-Comunidade Canção Nova).

Um dia, alguém levou crianças até Jesus para que ele


as abençoasse. Os discípulos opuseram-se. Jesus
indignou-se e disse-lhes para deixarem as crianças chegar
35

até ele. Depois lhes disse: «Quem não receber o Reino de


Deus como um pequenino, não entrará nele» (Marcos
10,13-16). É assim que é necessário acolher a presença de
Deus quando ela se apresenta, quer seja numa boa quer
seja numa má hora. É necessário entrar no jogo. Acolher o
Reino de Deus como se acolhe uma criança é manter-se
atento e rezar para acolhê-lo quando ele chega, lembre-se
não sabemos nem o dia e nem a hora.
36

NO MISTÉRIO DA VIDA, O MELHOR É ACOLHER


DEUS.

Cada um entende o sentido da vida de acordo com


suas experiências pessoais, crenças, paradigmas e
valores. Cada um constrói a sua verdade de acordo com a
expansão da própria consciência. Nem a ciência detém a
verdade absoluta, uma vez que sempre ela está se
atualizando. 
37

O que seria de nós se o Sol deixasse de existir?


Algum dinheiro poderia garantir a nossa
sobrevivência? E quanto o Sol cobra da humanidade para
nascer e se pôr todos os dias? Absolutamente, nada. Deus
dá o sol para os bons e para os maus. Quanto você paga
pela chuva? Nada. Deus faz chover sobre bons e maus.

Assim sendo, por que disputar o lugar do outro?

Dito isso, posso concluir que cada pessoa é única e


tem o seu próprio propósito de vida, que certamente para o
sucesso supremo é totalmente desnecessário querer
ocupar o lugar do outro, basta apenas se comprometer com
o seu progresso pessoal em benefício
da coletividade, expandindo cada vez mais a sua
consciência.  Alinhado com as leis supremas, a sua vida vai
florescer. (fonte: Ong Kaluana Upiara).

No mistério da vida, dom Helder Câmara diz : “sementes


de paz, amor e esperança chegariam em boa hora. Há
tanto desespero, desengano, decepção, frustração e
desesperança! Sementes de esperança chegariam em boa
hora” –: “Ah se eu pudesse, afugentaria da terra a
desconfiança que embaça os olhares mais claros e torna turvos
os horizontes mais límpidos!”. “Viver na turbulência das ondas,
na instabilidade do barco da vida, parecendo, muitas vezes,
38

que vai naufragar, é um grande milagre, é dom e graça de


Deus, obra da ação do Espírito Santo em nós.” (Dom Helder

Câmara).

Existem momentos que, o que necessitamos é: de um


colo que acolhe, de um abraço que envolve, um olhar que
acaricia, um sorriso que contagia, uma palavra que
conforta, um silêncio que respeita, um amor recíproco, algo
que seja intenso, puro e verdadeiro
O que torna a vida especial é o acolher com o
coração, o vivenciar com gratidão. O agir para o bem, o
respeito pelas diferenças. É essencial saber dar as mãos e
espalhar pelo caminho as flores do perdão!
Para não perder o costume vou iniciar mais uma vez,
transcrevendo um editorial que recortei e guardei em meus
arquivos. Não sei quem o escreveu, mas sei que é
instigante.

“O Universo é gigantesco, segundo os cientistas, ele


continua a se expandir constantemente”. Seus mistérios
acalentam os sonhos de muitos indivíduos que param para
contemplar tamanha possibilidade de sons, cores e formas.
Se a vida estrelar se fizesse apenas no planeta Terra, por
si só já seria estupenda a criação. Um simples passeio em
um bosque, nele poderemos ver tantos fenômenos que
fariam nossos neurônios ferver por não termos respostas
satisfatórias para as primeiras inquirições.
39

Para que o pão chegue à nossa mesa, muita energia


fora gasta em seu trajeto de criação. O bezerro nasceu
fruto do acasalamento do touro com a vaca. Cada situação
exige um autor, ou para cada efeito há uma causa. Não
germina efeito sem causa tampouco causa sem efeito. Se
algo existe, é sabido que também vive uma história de
nascimento.

Em certa cidade, em dada família, vive um


adolescente que se diz não acreditar em Deus. Para ele
este negócio de um Ser soberano não cola. Os pais muito
preocupados sempre buscaram meios para mudar o
pensamento convicto do garoto. Convidaram padres,
pastores, psicólogos e até um psiquiatra. Não teve jeito, a
índole do menino era firme igual a concreto.  Irredutível,
refuta acreditar nos pareceres que não se podem verificar
racionalmente, é um verdadeiro cético.

Estava em um momento qualquer, um homem


sentado em um banco, tinha seus cinquenta e poucos
anos, bem afeiçoado, dava pinta de ser professor. O pai do
jovem da nossa história passava pelo local. Eram velhos
conhecidos. Parou para ter um dedo de prosa, como dizem
por estas bandas do Sertão.

- Estevão, o senhor por aqui – disse o pai do jovem.


40

- Estou aqui pensando na vida. O senhor viu como


Deus é generoso com a nossa terra. Que chuva boa foi
esta da madrugada.

- Realmente. Uma chuva que revigora a esperança do


sertanejo.

- Quando Deus quer tudo é possível.

- Deus? – indagou ironicamente o jovem. – Você


também com este negócio de Deus? Se Deus existisse,
sequer seca teríamos que passar. Se Deus existisse, não
haveria fome pelo mundo. Se Deus fosse o que todos falam
que é, o mundo seria de paz e de amor. Deus é uma
invenção do homem. Não acredito em Deus. Tudo que
acontece há uma pessoa para afirmar que foi a vontade de
Deus. Se alguém morre em um acidente, foi porque Deus
quis. Se alguém passa no vestibular, foi Deus que obrou.
Tudo na vida é de responsabilidade de Deus. A vontade
das pessoas é anulada pela existência de Deus.

- O jovem tem pensamento, disse Estevão. Encantei-


me com a sua postura. Gostaria de se sentar para
debatermos um pouco. Sempre podemos aprender um
pouco mais, simplesmente, dialogando.

- Você fica mais o Professor enquanto eu vou ao


supermercado fazer as comprar – disse o pai.
41

E, Estevão começou:

- Quando eu era da sua idade, ou um pouco mais


velho. Você deve ter uns dezesseis? Dezessete. Eu tinha
dezenove naquela época. Perdia tempo em imaginações
que não me levava a lugar algum. Meu maior medo era
morrer. Já parou para pensar na morte de si mesmo?
Todos poderão morrer um dia, jamais a gente. O mundo
sem mim, como seria? Eu sem as belezas do mundo?
Quase enlouqueci. Minha cisma maior era com a morte;
Deus não era um real empecilho para a minha vida. Se
Deus existisse ou não, não faria a menor diferença. Mas a
morte minha seria o fim de tudo. E isso, eu não o queria
nunca.

- Se Deus existisse, a morte não existiria – afirmou o


jovem.

Estevão continuou:

- Deus é tão inteligente que até nisso Ele foi eficiente.


Já pensou em um mundo perfeito? Qual seria a razão da
existência da vida? Se eu soubesse todos os segredos do
universo, qual seria meu novo desafio? A vida só tem
sentido porque temos imperfeições a ser corrigidas. A culpa
de existir a fome é toda nossa e não de Deus. Observe que
nosso egoísmo criou os ricos e os pobres. A perfeição do
mundo é justamente ser ele imperfeito. Se não
42

pudéssemos impor transformações, não seriamos nada, no


máximo uma rocha inerte e morta.

- As suas palavras não irão mudar minha convicção –


disse seriamente o garoto.

- Façamos deste momento um simples bate papo.


Creio eu que você também não conseguirá fazer com que
eu abandone minhas convicções para abraçar as suas.

- As religiões, disse o jovem, criaram Deus como


forma de se darem bem diante da sociedade. Elas querem
o dinheiro dos fieis. Para isso falam em nome de Deus,
como se elas próprios fossem o próprio Deus em carne e
osso. Não posso aceitar. São todas hipócritas.

- De fato muitas pessoas ligadas às religiões


aproveitam para tirarem vantagem da situação, mas se não
existisse esta ideia de Deus na sociedade, tenha certeza, a
vida social seria uma catástrofe. Deus é o freio do mundo.
O ser humano tem medo da força de Deus e não
reverência ao amor incomensurável do dono da criação.

- Digamos que Deus realmente exista. Responde-me


apenas uma indagação. Se conseguir explicitar
razoavelmente, mudarei de opinião. Se Deus é o todo
poderoso, criador do Céu e da Terra, quem, ou o quê criou
43

Deus. Como o senhor mesmo disse: cada causa tem um


efeito.

- Como minha inteligência é limitadíssima;


reconhecendo eu que sequer sei o básico de matemática;
sendo minha pessoa nada diante ao espetáculo universal;
como poderei eu saber uma resposta para tamanha
indagação? As respostas estão soltas pelo cosmo, há
tempo para cada colheita. Muito do que para nós
atualmente é verídico, no passado sequer imaginavam ser
possível um dia descortinar a descoberta. Estamos no
caminho da evolução. Essa é a graça da vida, evoluir,
aprender, conhecer, para quem sabe um dia termos um
maior entendimento da magnitude de Deus.

- O senhor fala bonito, tem pinta de filósofo. Talvez


seja plausível idealizar um Deus para reger esta multidão
de bestas-feras, até conveniente para uma aparente paz,
contudo acreditar nas leis e formas como nos são servidas,
faz-nos meros fantoches abestalhados. Muitos não tiram a
palavra Deus da boca um segundo só, não acredito que
sejam eles santos; desejam passar obediência, na verdade
vivem atolados em dúvidas. Hipócritas!

- Realmente. O ser humano se reverte por


indumentária para tapar a feiura que o domina. O que
vemos quase nunca reflete a realidade. A sociedade é um
44

palco em que a população encena uma dramática e cômica


peça teatral. Para sobressairmos usamos a palavra de
Deus no reboco de nossa morada e no interior revestimos
com as sutilezas de Lúcifer. A natureza social é uma piada.

- Todos querem parecer algo que não os são. Usam o


nome de Deus para se engrandecer, para tirar proveito da
conjuntura. Eles desejam Deus para seu bem próprio.
Vivem de orações em busca de conforto material, de
sucesso no relacionamento, de gozo em saúde. O que eles
buscam em Deus são as benesses para suas fracassadas
vidas. Enquanto poucos têm muito, muitos têm quase nada.
Caso Deus existisse, não seria da vontade Dele um ato
ignóbil com o que acabo de relatar. Há muita crueldade no
mundo para que nele caiba um verdadeiro, bondoso e justo
Deus. Desculpe-me, mas estou longe de acreditar neste
Deus criado por vocês.

- Em meio há tantas perversidades humanas é sábio


questionar, todavia devemos lembrar que o ser humano é
um animal como todos os outros. Somos dotados de
instintos, um deles nos governa com maior intensidade, o
da conservação. Somos dominados pelo medo: pelo medo
da perda, pelo medo da falta, pelo medo da visão da
sociedade, pelo medo da morte…
45

- Não, não, não! Somos dominados pela dúvida. É


difícil encontrar uma pessoa que relate piamente a verdade
que o domina, elas carregam em si o pavor da reprovação
do grupo em que se encontra. Por eu ter assumido minha
posição de não acreditar em Deus, todos querem me
crucificar, apenas por não está de acordo com os preceitos
estabelecidos por outrem.

- Quando iniciamos nosso bate papo, pensei que a


sua revolta estava na sua situação social. Por ser jovem,
pensava eu que você desejasse possuir bens para
saborear uma vida mais confortável e cheia de prazeres.
Percebo que eu estava totalmente equivocado. Ter muito
dinheiro, carro de luxo, tempo para ser gasto em festas e
jogatinas, é o que a grande maioria deseja e sonha.

- Isso tudo faz brilhar meus olhos. Gostaria sim de ter


essas coisas a meu dispor. Como não acredito em Deus,
como não vejo muita esperança na vida, pelo menos
pudesse eu desfrutar dos elementos bons que a existência
humana, no momento, nos apresenta. Não é fácil para um
jovem ver outros em melhor situação, gozando as delícias
simplesmente por carregar no bolso o soldo da felicidade.

- Você está em que série? Já entrou para faculdade?


Tudo indica que é muito competente no que faz e no que
vier a fazer.
46

- A sala de aula é uma chatice só, um nojo. Não tenho


empolgação, visto que não vejo perspectiva para meu
futuro. Para que impor esforço, se no final seremos
derrotado? Preciso de uma luz para que eu saia deste
abismo em que me encontro. Talvez fosse melhor ser como
todos: viver iludido, fingir felicidade, sorrir sempre, cantar
em pleno velório… Não sei ser falso comigo mesmo, ainda
não aprendi a mentir para mim mesmo. Que adiantaria
viver em um picadeiro cômico de um circo de quinta
categoria? Neste mundo já há tantos palhaços que mais
um menos um tanto faz, não faz diferença alguma.

- Busque o conhecimento, seu espírito carece


respostas, então se aprofunde nos livros. Não seja um
inútil, não gaste seu precioso tempo com banalidades. Se
Deus existe ou não, isso agora não pode saber; quem sabe
no futuro; mas tentar entender o mundo o qual estamos
inseridos é talvez a maior virtude e o maior duelo que um
ser pensante tem como meta. Não seja ignorante ao ponto
de ignorar o aprendizado, não digo esta fantasia de
diplomas, sim, o verdadeiro saber. Quando se busca por
respostas, quando fertiliza o cérebro, quando deixa de ser
um cachorro, as linhas da vida começam a se ligar em uma
teia infinita, um quebra-cabeça que será a energia para a
nossa eternidade. O sentindo do homem pensante é
pensar, é desvendar a cortina que tapa os sentidos, é
47

adentrar na escuridão trevosa em busca de uma luz no fim


do túnel. Você precisa se encontrar consigo mesmo. A vida
lhe oferece vários caminhos, caberá a você escolher o
melhor, ou se preferi, continuar a ser levado nas calmas
ondas desta sua jangada sem sal e sem açúcar. É preciso
acordar. Você não acredita em Deus, mas vou lhe dizer
uma singela frase: “Foi Deus que me colocou em seu
caminho”. Ele sabe do seu potencial, por isso Ele não
deseja perder uma das suas boas ovelhas. No começo
será difícil, contudo com o passar dos passos tudo irá se
clarear paulatinamente. Seu pai vem chegando. Você
precisa ir.

- E aí, como foi o bate papo? – indaga o pai do jovem


sorridente, nas mãos levava algumas sacolas com as
compras. – Por favor, filho, leve algumas. Já não sou mais
um jovem.

- Claro pai.

- Seu filho é um tesouro que em breve brilhará. Ele só


precisa de um rumo, de algo que desabroche dentro da
agonia que comprime o coração. Os caminhos estão soltos
pelo ar, jovem. Busque o seu com afinco. O propósito maior
da vida é a evolução do ser. Lembre-se sempre: o
conhecimento, o conhecimento, o conhecimento. Até mais
ver.
48

- Muito obrigado por ter sido franco comigo – disse o


jovem. – Espero que voltemos a conversar novamente.

- Procure-me, pois adoro conversar. Como eu lhe


disse antes: “Dialogando sempre aprendemos algo mais”.
Vão com Deus.

- Obrigado, professor – disse o pai do jovem.

Com um vulcão dentro da alma, pela primeira vez na


vida, o jovem não rebateu o nome Deus. A vida segue seus
pareceres. As mudanças necessitam acontecer para que
cresçamos. “A Energia Vital possui seus mecanismos para
reajustar a magnifica obra” (autor desconhecido)

O professor de nossa história foi luz para jovem.

Meu amigo (a), somos chamados a ser luz, entretanto,


muitas vezes começamos justamente assim: deveríamos
ser portadores da luz e ao invés, a apagamos. Muitas
vezes começamos certamente assim: em vez de levar o
amor, apagamos o amor e, levamos o ódio. Em vez de
levar a esperança, matamos a esperança e ficou o
desespero.
Em vez de discutirmos Deus, acolhamo-lo. Deixemos
de lado nossa autossuficiência, somos limitados, mas não
incapazes. Encaremos a realidade da vida, sabendo que
49

em nossa pequenez, podemos ser grandes, em nossa


fragilidade, podemos ser fortes se nos apoiarmos em Deus.

Em nossa realidade, talvez alguém se sinta como


depois de ter falado com um médico; descobriu que estava
doente. Mas, não há necessidade de estar desesperado,
porque existe uma resposta: Jesus está conosco. Existe
esperança inspiradora, doce, singela e especial. Repleta de
significados, a palavra esperança está embutida em
diferentes realidades. Está na fé corajosa no futuro, na cura
de uma doença, na realização de um sonho, na espera
pela vitória, nas questões financeiras, na expectativa sobre
dias melhores.

É frutífera uma reflexão sobre nossa responsabilidade


quanto aos problemas enfrentados, mas não devemos ficar
paralisados, lastimando. Entreguemos nossas falhas nas
mãos de Deus, mediante a confissão, e a misericórdia
divina as dissipará. Recomecemos a jornada, com a
sincera intenção de não pecar mais.
Um primeiro passo para uma vida nova é abandonar a
soberba, que nos faz pensar que somos infalíveis e ver
somente as falhas dos outros. Reconhecer os erros contra
nós mesmos e contra os irmãos, perdoar-nos e pedir
desculpas a quem magoamos são atitudes de coragem,
50

que promovem reconciliações. Sejamos instrumentos para


a construção de uma cultura de paz.
Sejamos gratos. O sentimento de gratidão é um bom
companheiro para iniciar uma nova caminhada: gratidão a
Deus pelo dom da vida, aos nossos pais pelo cuidado e
formação para a vida, aos que nos oferecem amizade, a
todas as pessoas que nos ajudam na caminhada neste
mundo.
Gratidão eterna devemos ter para com a nossa Mãe
Maria, pela humildade de seu coração, que foi capaz de
acolher os dons de Deus e gerou o nosso Salvador.
Tenhamos o Mestre como modelo maior e Maria como um
exemplo de ser humano que soube acolher e seguir Jesus,
vivendo em santidade.
“Quando vivemos nossa experiência com Cristo, com
certeza, vamos nos lembrar desse dia. Eu me lembro que
tinha 16 anos quando Ele me invadiu e me fez querer ser
d’Ele, mas, como um adolescente comum, eu não
enxergava a trave que estava nos meus olhos. O que tem
assistir à novela? A minha família inteira assiste! Era até
assunto de conversa. As conversas nem era tão indecente
assim… Mas o linguajar eu sabia que tinha de mudar.

Quando resolvemos ser do Senhor, Ele vai nos


incomodando, cutucando, até percebermos que aquilo nos
faz mal. De repente, ou aos poucos como eu, você vai
51

abandonando tudo aquilo que não vem do Senhor, que não


nos edifica. Aí, tornamo-nos luz, e as pessoas percebem
que mudamos. Até nos questionam sobre estarmos
diferentes.

Lembre-se de que a Palavra diz: “Agora sois luz no


Senhor” (EF 5,8) (pág., 1501 Edição Ave Maria). Então,
todas as vezes que nos afastamos do Senhor, afastamo-
nos da luz também; portanto, deixamos de ser luz. Não há
como seguirmos dois caminhos, servir a dois senhores.
Temos de optar, romper com o mundo para poder caminhar
na Luz e ser luz. (Mat 6,24).

As pessoas precisam enxergar essa luz em nós, olhar


para nós e ver que somos diferentes, que há “alguma
coisa” em nós, que nos torna diferentes, que nos torna luz!
Precisamos viver e, sem falar nada, as pessoas precisam
perceber a Luz que nos habita.

Na própria Palavra, o Senhor já nos indica como ser


luz: bondade, justiça, verdade e discernimento são coisas
que precisam estar entranhadas em nós, em nosso
coração, tem de estar no automático. Aí, resplandecemos
neste mundo de trevas.

Não é fácil, não é simples, por isso precisamos, e


muito, da ajuda do Alto, para não nos perdermos. O mundo
52

é atrativo, o inimigo sabe como nos perseguir, sabe onde


“aperta o nosso calo”. “Ele conhece nossas vaidades e
aquilo que mexe com o nosso orgulho.”

Na dúvida, na dor, na angústia, descanse em Deus.

Que a contemplação do belo e do Santo faça brotar


em nós a imagem de Deus que é Pai-Filho-Espírito. (Fonte:
Instituto Humanitas Unisinos -)
53

O A mor de
Deus
54

O AMOR DE DEUS

Deus é meu querido Papai, antes de tudo e sobretudo.


E o fato de que tenha bilhões de filhos no mundo, isso não
impede que a mim me olhe e faça sentir mimado por ele
como se eu fosse seu único filho neste mundo. Se ele é
todo poderoso é também todo carinhoso, se com suas
mãos sustenta o universo, nessas mesmas mãos leva
escrito, gravado o meu nome como sinal de predileção, de
filho único, “Eis que estás gravado na palma de minhas
mãos. (Isa 49, 16-pag. 1007). De noite fica vigiando meu
sono, e de dia me acompanha onde quer que eu vá. (Sal
138). Quando alguém se queixa dizendo: “estou só no
mundo”, o Pai responde pelo profeta: “Eu estou contigo,
não tenha medo” (Jer 1,8 pag. 1032). Quando uma pessoa
se queixa dizendo: “não sei se desde que morreu minha
mãe, alguém me queira no mundo”. O Pai responde pelo
profeta: “Porque és precioso aos meus olhos, porque eu te
aprecio e te amo (Isa 43, 4 –pag. 996). “Ó Pai, estás mais
perto de mim do que minha própria sombra. Cuidas de mim
mais que a mãe mais dedicada desse mundo”. Meu
amigo(a), além disso e sobretudo, é um amor gratuito, isso
55

quer dizer, que o fato do Pai do céu me amar, não depende


de que eu mereça ou não. Não depende de que eu seja
santo ou pecador. O Pai do céu me ama porque me ama,
porque Ele é meu pai e eu sou seu filho. O Pai do céu me
ama porque Ele é assim, essencialmente, amor, e não me
pode tratar de outra maneira, a não ser pelo caminho do
amor. O Pai do céu me ama sem nenhum porquê, sem um
para quê, o Pai do céu me ama não porque eu sou bom,
nem para que eu seja bom. O Pai me ama sem nenhum
interesse, sem nenhuma condição, sem nenhuma
finalidade. O pai me ama gratuitamente, porque Ele é
assim, essencialmente amor.

Há nos Evangelhos um detalhe do qual não nos


damos conta suficientemente: o fato é que os afastados de
toda religião, os expulsos, os excomungados. Os
pecadores públicos são os que recebem os melhores
cuidados e preferência do Pai. Isso nos surpreende porque
costumamos atribuir a Deus nossos critérios humanos.
Somos assim: “Se fores bom eu te premiarei. Se fores mal
eu te castigarei”. Mil vezes temos ouvido dizer: “pecastes
és inimigo de Deus, não mereces viver, és pior que um
verme. Faz penitência para que dessa maneira consigas
acalmar a ira de Deus”.
56

Nós não cremos no amor, cremos no temor,


acreditamos ainda que o temor é a arma mais eficaz para
impor um limite aos pecadores. Entretanto, meu amigo(a),
Deus crê no amor. Jesus crê que a maneira de atrair os
pecadores não é com ameaças, mas com a sedução
irresistível do amor. Jesus se fez presente entre os
pecadores para lhes dizer que o Pai os esperava em casa,
não como num tribunal para julgá-los e condená-los, e sim,
com festas e presentes e um abraço que jamais
esquecerão (confira Luc 15,11-32-pag.1369).

Quem é Jesus e Nazaré? Os fariseus responderam: “o


amigo dos publicanos e pecadores. Aquele que senta à
mesa com os pecadores e come com eles”, E Jesus lhes
respondeu com naturalidade fazendo-lhes uma pergunta:
“quem necessita do médico os sadios ou os doentes?” E
acabou dizendo solenemente; “vim para as ovelhas feridas
de Israel (confira: Luc 5, 30-32-Pg 1353 e Mat 15,24-
pag.1303). E lhes disse uma coisa incrível, que os últimos
serão os primeiros (conf. Mat 20, 16 –pag. 1308). Esta é
uma maneira chamativa de dizer que o amor é gratuito, que
o paraíso não se merece, mas se recebe. E, assim, o
primeiro a entrar no paraíso é um ladrão: “Em verdade te
digo: hoje estarás comigo no paraíso” (Luc 23, 43-
pag.1381). Com tudo isso Jesus nos faz saber que Deus
apostou nos pobres e pecadores e, acima de tudo, para se
57

saber que Deus não necessita de razões para amar, seu


amor é gratuito. Meu amigo(a), qualquer que seja a história
da nossa vida, somos amados por Deus
incondicionalmente. O recém-nascido precisa ter méritos
para ser amado por sua mãe? A mãe o ama sem um
porquê, o ama simplesmente por ser filho das suas
entranhas.

Pois bem, onde há amor não há temor. O mal do


fracasso não é o fracasso, mas o temor do fracasso. O mal
da morte não é a morte, mas o temor da morte. O mal da
doença, não é a doença, mas sim o temor da doença. O
fracasso chegará, a doença chegará, a morte chegará. O
amor não poderá evitar, porém, quando o filho for inundado
pelo amor, desaparecerá o temor e, o filho se sentirá tão
livre como se o fracasso não existisse, como se a doença
não existisse, como se a morte não existisse.

Desde a eternidade meu Deus e Pai me levou no seu


coração como não sonho dourado. Chegada a hora bem
exata da minha existência aqui na terra, Deus me colocou
no ventre de minha mãe e foi me tecendo com mãos
delicadas, desde as células mais primitivas até a
complexidade do meu cérebro: “Foste vós que me
plasmastes as entranhas do meu corpo, vós me tecestes
nos seio de minha mãe” (Sal 138, 13-pag. 770). Sou uma
58

maravilha dos seus dedos. Deus é meu papai e Deus é


minha mamãe. E, desde sempre e para sempre sou
gratuitamente amado por meu Pai: “Sim, fostes vós que me
tirastes das entranhas de minha mãe e, seguro, me fizestes
repousar em seu seio. Eu vos fui entregue desde o meu
nascer, desde o ventre de minha mãe vós sois meu Deus.”
(Sal 21, 10-11-pag 671).

Depois disso responde-me, medo de que? Angústia


de que? Tristeza por quê? A angústia foi enterrada, as
tristezas foram desterradas, os ventos levou o medo e,
sobre o horizonte da vida de todos vocês começam a
ondear as bandeiras imortais da alegria da liberdade e da
paz. Shalom para todos vocês, aleluia pelo que tenham
feito pelo que tenham sido como tenham sido, pois são
todos ternamente amados por Deus que é nosso Pai.

Vivam felizes, durmam felizes e amem-se uns aos


outros.
59

SE CONHECÊSSEMOS O PAI

(Frei Ignácio Larrañaga)

Se conhecêssemos o Pai! Já falamos: só os amados


amam. Os amados amam sempre, não podem deixar de
60

amar. A quem lhe ocorre pedir que a luz o ilumine? A luz é


aquela coisa que por natureza se difunde e ilumina. Tudo
que ilumina, se chama luz. A ninguém ocorre pedir a uma
pessoa feliz, que faça feliz os outros. Os felizes
automaticamente fazem os outros felizes; os livres libertam,
os descontentes causam descontentamento; os que tem
conflitos promovem conflitos, os que tem paz, irradiam paz;
os que tem ternura, inundam em tudo ternura. São
mecanismos automáticos da condição humana. Esta lógica
reativa, Jesus expressa com estas palavras preciosas:
“Como, o Pai me ama, assim também eu vos amo.
Perseverai no meu amor ... Este é o meu mandamento
perseverai no meu amor (Jo 15,9;12- pag1405). Aqui está o
mistério de Jesus. Jesus é aquele que nos dias de sua
juventude se sentiu inebriado pela infinita e ardente ternura
do Pai e, como efeito dessa experiência soube o que
significa ser livre e feliz.

Depois disso lhe foi impossível permanecer em


Nazaré. Necessitava sair e, sem poder conter-se, saiu pelo
mundo para gritar aos quatro ventos a feliz notícia do amor
eterno e gratuito do Pai. Amor que faz livres e felizes todos
os homens. E agora, dispõe a revelar aos homens e
mulheres aquela maravilha do amor que havia
experimentado.
61

Como devia ser aquilo? Vemo-lo com dificuldades


para transmitir aquela enormidade que ele tinha vivido e o
vemos lançar mãos de parábolas, comparações, pequenos
contos, historinhas, vemo-lo lançado mãos de qualquer
meio que pudesse servir como veículo de transmissão
daquela novidade. Mas é impossível. Resumindo, a
experiência havia sido tão alta, tão grande, tão ampla, tão
longa, e as palavras humanas tão curtas, que melhor é ficar
em silencia, ou ao máximo aquelas reticências como
aquele que diz: “Se vocês conhecessem o Pai”! “Viram
vocês alguma vez uma criança pedir um pedaço de pão ao
seu Pai, e este lhe dar uma pedra para quebrar os dentes?
Uns com os outros são bem capazes de fazer essas
coisas, mas com seus filhos, ó com seus filhos são sempre
incansavelmente carinho e amor”. Vocês viram alguma vez
uma criança pedir um pedaço de peixe, e o pai lhe dar uma
serpente para envenená-lo? Vocês viram uma criança pedir
um ovo e o pai lhe dar um escorpião? Vocês nunca fazem
com seus filhos estas coisas. Se vocês que são maus não
são capazes de fazer estas coisas com teus filhos, já
pensaram como é o Pai do céu? O que fará Ele por seus
filhos? Ah! Se vocês conhecessem! Eu o conheço, eu o
conheço muito bem , por isso posso garantir-lhes, peçam,
insistam chamem , batam na porta e a porta se abrirá,
encontrarão o que buscam, receberão o que necessitam
62

(confiram Lc 11, 9-10 –pag. 1363). Antes de vocês abrirem


a boca para pedir algo, o Pai já está inquieto para dar
aquilo de que vocês precisam. Antes de vocês saírem ao
encontro do Pai, faz tempo que Ele saiu ao encontro de
você. Ó, se vocês conhecessem o Pai!

Não sejam como os pagãos que cheios de angústias


ficam gritando todos os dias: “que comeremos, que
beberemos? Como nos vestiremos, onde dormiremos?
Vejam, estas são necessidades primárias. Temos que
comer, vestir, dormir, para isto naturalmente é preciso
trabalhar. Trabalho sim mas angústia não. Ocupação sim,
preocupação não. Trabalho com paz, ocupação com
alegria. Espinhos negros, inquietudes pungentes,
preocupações angustiantes? Tirem isto da cabeça e
entreguem nas mãos do Pai. Ele se preocupara por você.
Trabalhem alegremente porque tuas mãos estão
protegidas.

Olhem os passarinhos, que despreocupados voam


pelos ares. Esses passarinhos não são como nós, que para
comer um pedaço de pão necessitamos semear, ceifar,
debulhar. Esses passarinhos não semeiam, não ceifam,
não colhem, no entanto nenhum deles morre de fome.
Quem os alimenta? O Pai celestial mesmo os alimenta
todos os dias.
63

Quanto vocês acham que custa um pássaro no


mercado? Muito pouco. Se o pai se preocupa em alimentar
os passarinhos que voam alegremente pelos ares, já
pensaram o que não fará como vocês homens e mulheres
de pouca fé? Não valem vocês muito mais que um pardal?

Como são belas as flores do campo. Vocês sabem


como se chamou o rei das elegâncias? Chamou-se
Salomão. Posso garantir-lhes que nem Salomão no
esplendor de sua glória, vestiu-se tão elegantemente como
uma dessas singelas flores. E elas não são como nós, que
para vestir-nos necessitamos e fábricas e oficinas de tecer,
fiar, elas não são como nós que necessitamos trabalhar.
Elas nem tecem, nem fiam, nem trabalham. Quem as
vestem tão primorosamente? O Pai do céu mesmo, todas
as manhãs as vestem tão lindamente. Agora, se o Pai do
céu, se preocupa em vestir aas flores do campo, que de
manhã brilham e à tarde morrem, já pensaram o que não
fará como vocês mulheres e homens de pouca fé? Não
valem vocês mais que uma flor do campo? Acaso, não são
filhos imortais de um Papai imortal? Ah, se vocês
conhecessem o Pai!

Havia um rapaz tão louco, como petulante, que se


aproximou de seu pai, que era um nobre senhor, já de
idade avançada dizendo-lhe: “Papai, lutando como um
herói, levantaste este castelo, multiplicaste estas fazendas,
64

praticamente és um rei em todos estes territórios, porém,


és tão infeliz meu pai, que nem em um só dia de tua vida
desfrutaste como é justo o homem desfrutar. Papai, não
espere nada para depois da morte, que ali não há nada.
Dá-me pois a parte da herança que me é devida, porque
quero viver os melhores anos de minha vida, enquanto sou
jovem, onde ninguém me conhece.

Aquele nobre senhor ficou a o0lhá-lo e lhe disse: “Meu


filho feche a boca por um momento, e olha-me
atentamente, já sou um homem idoso, não me restam
muitos anos de vida. Se me permites vou me ajoelhar
diante de ti pára suplicar uma só coisa: “fica comigo até o
dia da minha morte, naquele dia fecha-me os olhos, dá a
este corpo sepultura digna, depois, toma a parte da
enrança que lhe é devida e faça o que quiseres viva como
desejares e, se quiseres me levantarei da sepultura para
dar-te minha autorização e também a minha bênção. Mas,
até lá, fique comigo, por favor!

O rapaz ingrato e cruel tomou a parte de sua herança,


partiu para terras longínquas, viveu dissolutamente durante
longos anos, e quando experimentou tudo em sua própria
carne e, apesar de todas as satisfações, sentia arder-se em
uma tremenda insatisfação, que as compensações da vida
para nada eram capazes de recompensar o gozo de sentir-
se num lar presidido por um papai potente e carinhoso.
65

E, quando a pobreza e a saudade abateram sobre ele,


sabem o que fez aquele leviano? Aprendeu de memória
uma série de justificações e tranquilamente regressou à
casa de seu papai. Sabem por que? Porque conhecia muito
bem a seu pai. E, não se equivocou.

Quando informaram àquele senhor de que o rapaz


regressava para casa, deu um salto de alegria, desceu7
correndo as escadas, pegou o cavalo mais veloz e saiu ao
encontro dele. Abraçou-o e o beijou; dirigiu-se aos
trabalhadores, servidores fiéis que estavam trabalhando
por longos anos de sol a sol, e disse-lhes: “quero que
tomem conhecimento que este é o dia mais feliz da minha
vida. Pois, tinha um filho que havia morrido e acaba de
ressuscitar, eu o tinha perdido e acabo de o encontrar.
Preparem o banquete mais esplêndido de que se tenha
memória em minha vida, coloque anel de ouro em seu
dedo, vestes de príncipe sobre a sua nudez. Saiam pelos
caminhos, convidem todos para participar da festa, porque
este é o dia mais importante da minha vida (confiram
Luc11-32- pag. 1369).

Não sei dizer de outra maneira o Pai do céu é assim.


Se vocês o conhecessem!

“Quem de vós que, tendo cem ovelhas e perdendo


uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai
66

em busca da que se perdeu, até encontrá-la...? (Luc 152-7


–pag.1369). Assim também, se uma filha se extravia entre
os matagais da vida, creem vocês que o Pai vai ficar
tranquilo no conforto do seu palácio imperial? Não. O Pai
morre e tristeza por sua filha. Perdida será mais querida e,
ainda que prostituta pública é antes de tudo uma filha
querida. Filha querida e favorita e, sofre de saudades por
sua filha e, não aguenta ficar longe dela. O Pai lança-se no
mundo a procura dela. Sobe montanhas; desce ribanceiras;
percorre os vales; enfrenta precipícios; arrisca subidas; até
encontrar a filha perdida e querida. E, quando a encontra
com infinita ternura a põe em seus ombros e volta para
casa, cantando; assobiando; dizendo que aquela filha lhe
dava mais alegria que o mundo inteiro (confira Lc 15 5-7 =
pag. 1369). Não sei dizer de outra maneira. O Pai é assim.
Ah, se conhecessem o Pai!

Lembrem-se daquela velhinha que tinha dez moedas


de prata e perdeu uma delas? Foi tanta a sua aflição que
se meteu debaixo das camas e cadeiras e nada. Pegou a
vassoura, varreu a casa toda. Por fim, a encontrou. Sua
alegria foi tanta que saiu pelas ruas gritando, amigos;
vizinhos; vizinhas; alegrem-se comigo, aqui está a moeda
que havia perdido. Venham `aminha casa, façamos festa
porque meu peito rebenta de alegria. O Pai é assim
mesmo, diz Jesus.
67

Quando uma filha perdida entre as diversões e as


distrações da vida, decide-se a regressar à casa paterna e
regressa, bate à porta o pai atende. Vocês acham que o
Pai vai começar com recriminações; ameaças e castigo,
dizendo: presta conta de teus passos dia após dia? Como
aquela ovelhinha perdida e encontrada, o coração do pai
se enternece; dos olhos brotam lágrimas; sai correndo por
todos os cantos do paraíso gritando: anjos, arcanjos,
querubins, serafins; corte celestial, venham façamos uma
grande festa, porque a filha chegou à sua casa. AO invés
de ameaças e castigos, ao contrário: orquestra; banquete;
música; uma grandiosa festa.

Não sei de que outra maneira possa dizer-lhes. O Pai


é assim; Ah, se vocês conhecessem o Pai!

Olhem o sol, creem vocês que o sol inunda com sua


luz e fecunda apenas os campos dos bonzinhos, piedosos?
Não. Esse sol dá vida aos campos dos traidores;
mentirosos; aproveitadores e blasfemos. O Pai é assim.
Os homens não se cansam de disparar contra Deus e Pai,
blasfêmias e flechas envenenadas e, em troca o Pai lhes
dá um sol de ouro para encher o mundo de alegria e para
dourar os pomares e trigais dos campos dos ingratos. O
Pai é assim.
68

Olho por olho, dente por dente; pecastes tens que me


pagar! De que montanha selvagem tiraram este Deus
vingativo, cruel e sanguinário? Tirem uma prova de Jesus
Cristo. Disparem contra o Pai, blasfêmias e flechas
envenenadas e, em troca receberam um sol de ouro,
palavras de misericórdia de Jesus Cristo. Em lugar de
castigar, devolve o mal com o bem. O Pai é assim. Jesus é
assim.

Quando vocês forem presos, condenados, conduzidos


aos tribunais, em tal momento não quebrem a cabeça
dizendo: que palavras diremos? Que argumentos
usaremos? Como nos defenderemos? Não temos estudo
universitário, não temos advogado! Que será de nós? Em
tal momento, fiquem despreocupados, porque o Pai do céu
colocará em tuas bocas palavras tão preciosas, tão
precisas e tão magistrais, que confundirão todos os
magistrados do mundo. Talvez você são ignorantes nas
ciências humanas, pode ser verdade, porém vocês são
filhos e filhas da sabedoria do meu Pai diz Jesus (confiram
Mat 10, 19 pág. 1295.

E, vocês os últimos, os pisoteados, pelas botas dos


poderosos, os eternamente esquecidos e abandonados,
levantem a cabeça para ouvir o que vou lhes dizer: vocês
serão os primeiros no reino de meu Pai. E, Alegrem-se,
porque seus nomes estão escritos com letras de ouro no
69

livro da vida (conf. Mat 20, 16- pag. 1308; Luc 10, 20b –
pag. 1362). Ó, se conhecêsseis o Pai, assim falou Jesus.

UM dia me levantarão entre o céu e a terra,


crucificado, abandonado, exilado de todas as pátrias. Não
importa. O Pai sempre estará comigo. Chegou a hora.
Vocês se dispersarão como pombos espantados
precipitadamente, e, em todas as direções e, eu ficarei
sozinho a mercê de lobos vorazes. Mas, não importa, não
ficarei sozinho o Pai estará comigo, o Pai não me
abandonará em nenhum instante (confiram Mc 14, 27-
pag.1341).

O Filho olha o Pai. O Pai olha o filho. E, esse olhar é


como um manto que envolve os dois num efusivo abraço
de ternura. Fracasso, agonia, desolação já podem rugir as
tormentas no exterior. Não há perigo. Estas tempestades
não chegarão ao lago interior, por isso vemos Jesus fazer a
travessia da paixão vestido de dignidade e silêncio.

No cenáculo, no dia da despedida, Jesus devia estar


mais inspirado do que nunca. Foi uma noite iluminada.
Jesus abriu de par em par as portas de sua intimidade lá de
dentro, do mais profundo do seu interior, não se viu outra
coisa a não ser um espaço infinito de solidão povoado por
um só habitante: o Pai.
70

De agora em diante os chamarei amigos. E sabem por


quê? Porque um homem é amigo de outro homem, quando
o ´primeiro revela ao segundo todos os sus segredos e, eu
lhes abri as portas de minha intimidade escondida e, agora
vocês sabem qual é o único e grande segredo da minha
vida: O Pai. (Confiram:” (Jo 15,15 –pag. 1405). E, como
pessoa possuída de uma obsessão sagrada, Jesus repete
obsessivamente, o nome Pai. Na casa de meu Pai há
muitas moradas (Jo 14,2 (pag. 1404). Vou para o Pai (Jo
16,16c – pag. 1406. Ninguém vai ao Pai a não ser por mim
(Jo 14, 6 –pag. 1404). O Pai é mais do que eu (Jo 14, 28 –
pag. 1405). Eu sou a videira o Pai é ao agricultor (Jo 15,1 –
pag. 1405). Sai do Pai e ao Pai retornarei (JO 16,28 –
pag.1407. Pai é chegada a hora (Jo 17, 1 –pag. 1407).
Nunca ninguém pronunciou, nem pronunciará este nome
com tanta veneração, com tanta ternura, com tanta
confiança, com tanta admiração e com tanto amor como
Jesus naquela noite de quinta-feira. (Frei Inácio Larrañaga_
Oficina de oração e Vida).

Que homem contemplativo há no mundo, que nos


possa dizer algo do que vibrava no coração de Jesus,
quando tantas vezes repetia naquela noite, esta bendita
palavra: PAI. Como bem observa o teólogo belga Pe.
Ignácio de la Potterie, a oração de Jesus não tem paralelo
com a oração de qualquer criatura. “Todo o tom da longa
71

oração sacerdotal é tão simples e confiado como grandioso


e majestático; assim, a redação põe em realce a
consciência que Jesus tem da grandeza e dignidade do
Pai, bem como da sua própria grandeza e dignidade, num
nível de igual para igual. Evidencia a consciência bem clara
de que Ele é o Filho sem par – como nenhum homem ou
qualquer criatura o é. Por isso se dirige ao Pai como jamais
algum homem se dirigiu, não só falando-Lhe de igual para
igual, como acabámos de ver, mas chamando-O
carinhosamente com um apelativo tão ousado como
contrário à cultura em que se movia: PAI Este tratamento,
seis vezes repetido ao longo da oração
sacerdotal, corresponde ao original aramaico abbá. O
conteúdo deste apelativo, potenciado pelo acento com que
Jesus o pronunciava, era tão rico e tão original, que se
manteve na primitiva tradição, mesmo quando esta já se
expressava na língua helenística.

Quem poderá descrever a expressividade daquele


olhar feito de admiração e carinho, quando no princípio do
capítulo 17 de João, Jesus levanta os olhos para
pronunciar a oração de despedida. Os discípulos deviam
contemplá-lo naquele momento, tão radiante, tão iluminado
que Felipe resumindo e assumindo o estado de ânimo de
todos os demais diz: Mestre, basta de palavras, morremos
72

de saudades, mostra-nos de uma vez o Pai porque


queremos abraça-lo (Confira: Jo 14, 8 – pag. 1404).

Jesus, no seu ministério ao falar com o Pai com tanta


inspiração levantou no coração dos discípulos uma
irresistível nostalgia, um anseio profundo pelo Pai. Por isso,
irmãos(ãs), as primitivas comunidades se sentiam como
peregrinos, arrastados por uma saudade da casa paterna,
se sentiam longe do Senhor, como desterrados que sempre
sonham com a pátria almejada. Saudades da almejada
Pátria, até que no grande dia da libertação apareça em
todo seu esplendor a face do Pai. Céu é presença do Pai.
Inferno é ausência do Pai, é solidão, vazio, desolação para
sempre.

Aqueles discípulos nunca teriam entendido esses


conceitos tão elevados se anteriormente, Jesus não
houvesse infundido nos seus corações uma imensa
nostalgia pelo Pai. O céu é o Pai. O Pai em si mesmo é o
céu “ora a vida eterna consiste em que conheçam a ti, um
só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste” (Jo 17,
3 –pag. 1407). Portanto, céu é conhecer o Pai no sentido
de posse experiência. A Pátria...! Não existe pátria alguma.
A Pátria é o próprio Pai. E a casa do Pai, tão pouco existe.
A casa é o Pai. A casa do Pai é o mesmo Pai. Ele, o Pai, é
o lar aconchegante, Ele é o céu inteiro.
73

Todo problema da salvação e da condenação, gira,


portanto, em torno da ausência ou presença do Pai.

Que é morte? Aniquilação ou nada? A morte é entrar


na contemplação do Pai.

Jesus Cristo quem é? Jesus Cristo é o Filho enviado a


este mundo par anos revelar a face mil vezes bendita do
seu Pai e nosso Pai. Jesus é o enviado do Pai para abrir
poços de nostalgia, de saudades em nossos corações, que
serão saciadas na eternidade, eternidade que não será
outra, senão a posse simultânea e total do amor
interminável de Deus. Todas essas expectativas nos
corações serão saciadas. O mal supremo do homem e da
mulher que é a solidão existencial de milhões de órfãos, de
milhões de anciões abandonados, de esposas traídas, tudo
será coberto e saciado. O amor como uma maré impossível
de se conter irá avançando e inundando tudo. No final tudo
será amor. Portanto é necessário deixar-se amar.
Responder ao amor é essencial, porque a santidade não é
outra coisa senão uma resposta de amor ao anúncio do
amor.
74

PEREGRINOS DA FÉ
75

A fé não é sentir, mas saber. Não é evidência é


certeza. A fé não é emoção, mas convicção. Crer é
entregar-se, quer dizer caminhar incansavelmente ao
encontro da face do Senhor. Crer é um sempre novo partir.
Crer é levantar-se todas as manhãs e de novo pôr-se a
caminho e, busca da face do Senhor. A fé é o caminho que
nos faz ver a vitória ainda antes de ela ter acontecido. Na
fé somos Peregrinos, portanto, caminhantes. Não turistas
Um turista sabe em que cidade dormirá hoje. O turista sabe
que cidades percorrerá amanhã, que museu visitará no dia
seguinte. Um peregrino não sabe nada, não sabe onde
dormirá hoje, o que comerá amanhã. A fadiga, a incerteza
e a insegurança são características de qualquer peregrino.

Sabemos que a Palavra de Deus corresponde a uma


substância e as fórmulas da fé correspondem a um
conteúdo. Porém, nunca enquanto estivermos neste
mundo, teremos as evidências sensíveis de possuir
experimentalmente, vitalmente a substância que
corresponde a palavra de Deus.

Abraão tinha vivido 75 anos em Ur na caldeia. Tinha


prestígio, propriedades, enfim tinha uma magnifica
instalação vital. Um dia o Senhor se lhe apresentou
dizendo: Abraão deixa tudo e vem comigo para uma terra
que eu te mostrarei. (Conf. Gen 12,1 –pag. 58). E, com
76

seus 75 anos Abraão se pôr a caminho atrás de Deus, em


direção de um mundo incerto, sem saber aonde o levava.
De maneira semelhante, pressentimos que alguém vem
conosco (Deus), porém não o sentimos. Nós o
pressentimos como o cego, tateando, apalpando, porém
face a face só na eternidade, estamos no escuro, o escuro
da fé.

Dizem por aí, sabem o que? Que alguém passou está


noite por aqui. E lhe perguntarmos, você o viu? Não.
Disseram a você? Não. Então, como você sabe que
alguém passou esta noite por aqui? Olhem aqui. Aqui estão
a pegadas. É verdade, ninguém o viu e todos sabem que
alguém está noite por aqui. Meu irmão (ã), eis aqui as duas
forças que sustentam o ato de fé: Obscuridade e certeza.
Ninguém o viu – obscuridade – porém, todos sabem –
certeza. Crer naquilo que não se viu. Sabem o que mais...
quem passou est anoite por aqui foi um menino. Você o
viu? Não. Disseram a você? Como você sabe que era um
menino? Olhem de novo estas pegadas, não veem que são
pegadas do sapato de um menino? Ninguém o viu, mas
todos sabem que um menino passou est anoite por aqui.
Completa obscuridade e completa certeza. Isto é fé.

E assim vamos avançando até as grandes certezas,


pelos caminhos das analogias (comparações), pelos
77

caminhos das deduções, ainda que ninguém o tenha visto


face a face.

Dizemos, se há sede, deve haver uma fonte de água.


A sede seria incompreensível se não houvesse água. Se
arde em nosso peito a nostalgia, a saúde de Deus, é sinal
que antes da minha nostalgia, da minha saudade existia
Deus. Só o infinito pode colocar em nossa alma a sede do
infinito. Antes do meu desejo por Deus, Ele já existia.

Imagine entrando em um bosque fechado. Logo se


infiltra um raio de sol e todos gritam: o sol! Apareceu o sol!
E outros respondem não é o sol, é apenas um pequeno
reflexo do sol Porem, agora, todos sabem que o sol brilha
no firmamento, ainda que ninguém tenha visto este disco
de fogo. Por onde o sabemos? Por este pequeno raio de
luz que se filtrou furtivamente. Só um relojoeiro pode
explicar o mecanismo de um relógio, Assim também não é
possível explicar este universo de geometria de milhõ9es
de anos luz, se por traz não existisse um grande geômetra,
um grande matemático. E, assim vamos avançando
lentamente, até as grandes certezas da fé. Mas, face a face
não se pode vê-lo. Estamos de noite, a noite da fé.

Uma oração de profundidade não é outra coisa, senão


uma tentativa de possuir a Deus. É um prelúdio de
eternidade. Eternidade que não será outra coisa senão a
78

posse simultânea e total da vida interminável. E, nessa


oração de profundidade, quando parecia que esse Deus
estava ao alcance das mãos, Deus se desvanece, como
um sonho e desfaz e, se torna ausência e silencio. E,
parece um rosto perpetuamente fugitivo que aparece e
desperece, se concretiza e desvanece, se aproxima e se
afasta, torando a aventura da fé em uma desventura e a
própria fé em um verdadeiro drama. Um drama que dá ao
homem um aperitivo e o deixa sem banquete. Já podemos
imagens, que tensão, que contradição. É o que diz o
evangelho: “O reino de Deus já está no meio de vós (Luc
17,21- pag. 1372)”. As primícias sim, mas o Reino não. A
figura sim, a presença não. Pelas costas sim, dirá Deus a
Moisés, mas o rosto não.

Pois bem, que procura caminha e, o que sempre


procura e nunca encontra (encontrar o no sentido de
possuir), então a fé é um eterno buscar, uma eterna
peregrinação. Então a fé é um constante procurar, uma
constante peregrinação, um sempre buscar. Como diz
Santo Agostinho: “Encontrar consiste em buscar”. Afinal,
trata-se do drama da fé, cheio de aparentes contradições .
(Frei Ignácio Larrañaga- Oficina de oração e vida).
79

MISTERIOS DE DEUS
Criação- oração- contemplação

O vínculo existente entre oração e cuidado da criação


alcança uma forte densidade naquilo a que se costuma
chamar contemplação. Uma rápida ida ao dicionário serve
para definir o ato de contemplar como “olhar muito tempo e
com atenção”. Neste sentido, há uma oração que é
contemplativa como também o ato de olhar
demoradamente a natureza se pode descrever como uma
ação contemplativa.
Contemplar, portanto, aponta para uma atitude mais
pausada, feita de respeito, admiração e serenidade. Trata-
se – como está fácil de ver – de um modo de viver em claro
contraste com a velocidade, a agitação e a dispersão da
vida atual. A pessoa “contemplativa” poderá ser menos
produtiva, mas saboreará melhor a vida de cada dia, na
medida em que compreende que «o mundo é algo mais do
que um problema a resolver; é um mistério gozoso que
80

contemplamos na alegria e no louvor» (LS 12). Por maior


força de razão, a pessoa “contemplativa” apresenta maior
resistência ao vírus do consumismo, que é uma verdadeira
pandemia, a ponto de não deixar ninguém completamente
imune.
A pessoa que reza de forma perseverante e fiel dá-se
conta que o seu olhar sobre as pessoas e as coisas, pouco
a pouco, se vai transformando e renovando até ser capaz
de ver toda a realidade com os olhos de Deus. Ninguém sai
da oração da mesma forma com que entrou. Por isso, um
olhar moldado pela oração é um olhar capaz de ver mais
além, capaz de olhar em profundidade, precisamente
porque descobre que tudo é graça e dom de Deus.
Percebemos então mais claramente o que significam
aquelas palavras de S. Boaventura, quando diz que «a
contemplação é tanto mais elevada quanto mais o homem
sente em si mesmo o efeito da graça divina ou quanto mais
sabe reconhecer Deus nas outras criaturas» (LS (Laudatus
si) 233).
Quando uma pessoa chega a este ponto, diz o Papa
Francisco, que o mundo para ela deixa de ser natureza
para ser criação, porque verdadeiramente reconhece a
presença de Deus em cada criatura. Já não se trata mais
de uma distinção meramente semântica ou ideológica, mas
de um enriquecimento ao nível da própria compreensão da
81

realidade. Se “na grandeza e na beleza das criaturas, se


contempla, por analogia, o seu Criador” (Sab 13,5),
então «a contemplação da criação permite-nos descobrir
qualquer ensinamento que Deus nos quer transmitir através
de cada coisa, porque, para o crente, contemplar a criação
significa também escutar uma mensagem, ouvir uma voz
paradoxal e silenciosa» (LS 85).
Se a crise ecológica é concomitante de uma crise da
oração (especialmente ao nível da oração pessoal), então
podemos inferir o total e completo naufrágio da dimensão
contemplativa, ainda que nunca como hoje os nossos olhos
fossem tão solicitados por écrans, visores, monitores…
nunca tão solicitados, mas também nunca tão
desrespeitados… (José Domingos Ferreira, sc)
82

“Mestre, onde moras? – Vinde e vede”


(Jo 1,38).

Trata-se de uma experiência tão marcante que


transborda os limites estreitos do próprio eu e se torna
anúncio libertador para os irmãos. O encontro com Jesus
se é verdadeiro, conduz sempre a uma dinâmica de repartir
com o outro o que foi experimentado anteriormente. Tal
experiência torna-nos discípulos missionários.
83

O evangelista S. João apresenta a vocação dos


primeiros discípulos totalmente ligada à experiência de
Jesus. Os discípulos querem saber: “Mestre, onde moras?”.
Como um bom animador vocacional, Jesus convida os
discípulos: “Vinde e vede”. O convite de Jesus é categórico
e a resposta é imediata: “Venham após mim, e eu farei de
vocês pescadores de gente” (Mat 4,19). O convite de Jesus
desperta algo novo logo no início da caminhada dos
discípulos. A partir desse momento, começa a formação
dos discípulos para o seguimento do Reino de Deus.

Para nós cristãos que somos chamados a seguir


Jesus não pode ser diferente. Para iniciar um
acompanhamento vocacional, é preciso que
compreendamos que só é possível permanecer no caminho
quando se faz a experiência do encontro com Jesus.

O encontro pessoal com Jesus despertou nos


discípulos um desejo maior pela vocação e pela missão.
Por isso, o cristão deve fazer o mesmo questionamento
que os discípulos fizeram: “Mestre, onde moras?”.

Jesus trouxe vida nova, novos horizontes e um rumo


decisivo para os discípulos. Por isso, o processo de
formação dos discípulos acontece de forma dinâmica e
decisiva. Isso só foi possível porque os discípulos não
84

tiraram os olhos do Mestre. Conosco não é diferente. Para


permanecermos no caminho, não basta ter o desejo de ver
Jesus, não basta identificar-se com um carisma, é preciso
aceitar Jesus como Senhor da nossa história. A pessoa e a
vida de Jesus trazem mais alegria para o cristão. A pessoa
de Jesus traz a vontade de permanecer no caminho como
homens e mulheres de fé.

Com isso, fica evidente que para o cristão fazer o


discernimento vocacional não é possível desvincular-se de
Jesus e de sua companhia.

Todos nós sabemos que o mundo é um campo de


missão, mas antes disso é o lugar do encontro, onde Jesus
Cristo se deixa encontrar por nós. O encontro com Jesus
nos lança de cabeça erguida a um diálogo aberto com a
nossa própria vocação. Aí começa o grande fascínio da
vida – descobrimos, na pessoa de Jesus Cristo, a grandeza
e o fascínio da verdade, da entrega, da beleza, da alegria e
da bondade.

A busca sincera de viver com Jesus Cristo possibilita-


nos encontrar novos horizontes de sentido e a razão para a
nossa existência. Essa descoberta transforma o nosso jeito
de viver e abre o nosso coração para compreender a voz
de Deus que nos chama para uma missão. Seja qual for a
razão inicial para o nosso fascínio, é Jesus Cristo quem
85

nos move, quem nos coloca em ação e torna possível a


realização dos nossos sonhos.

A Vocação pede resposta ao chamado de Deus para


seguir Jesus. O seguimento é um caminho a percorrer.
“Que procurais?” São as primeiras palavras de Jesus no
Evangelho de João. Como discípulos, queremos saber
quem é Jesus. O que buscamos? “Mestre, onde moras?” A
resposta dos discípulos leva à comunhão com Jesus. Eles
não buscam teorias sobre Jesus. Eles querem criar laços
de intimidade com Ele. “Onde moras?” Jesus quer esta
intimidade: “Vinde e vede!” A resposta é imediata: então
eles foram e viram onde Jesus morava. E permaneceram
com ele naquele dia.

O discípulo é capaz de reconhecer Cristo que passa e


liberta e está disponível a segui-lo no amor e na entrega.
Para isso, precisa aceitar o seu convite, entrar em sua
casa, viver em comunhão com Ele, testemunhá-lo e
anunciá-lo aos outros irmãos. Assim foi Samuel que
reconheceu a voz de Deus e acolheu logo (1sam 3,3b-10.
19). João Batista reconheceu Cristo presente no meio do
povo e o indicou como Salvador. Os Discípulos
reconheceram Jesus e com alegria o seguiram
prontamente e o anunciaram a seus amigos.
86

Apaixonar-se por Jesus e por sua causa, deixando


que o despertar nascido do encantamento nutra um
profundo e autêntico amor, capaz de fazer com que a ele
fiemos nossa vida, é convite sempre aberto – e necessário
– a cada pessoa, sobretudo àquelas que se reconhecem
como cristãs. Ele nos viu por primeiro e isso nos abre a
uma grande possibilidade: deixarmo-nos por ele ser
cativados, adentrando a profundidade de sua intimidade.
Que o seu convite ecoe em nós: “Vinde e vede!”.

Deus nos chama a entrar na Comunidade de Jesus.


Cabe a nós ter a mesma disponibilidade de Samuel: “Fala,
Senhor, que teu servo escuta!” (1sam 3,3b-10. 19). Cabe a
nós ter o mesmo ardor missionário dos primeiros discípulos
que foram anunciar aos amigos o tesouro encontrado com
entusiasmo.

“Mestre, onde moras”? A resposta breve, mas


profunda de Jesus, “vinde e vede”, é o fundamento de
minhas poucas e simples palavras nesta manhã. (Jo 1,38–
39.)

“Vinde e vede”, venham desejosos de conhecê-Lo, e


prometo-lhes que O encontrarão e O verão em Seu
verdadeiro papel de Salvador do mundo, ressurreto e
redentor. “Vinde e vede”, e O reconhecerão como o Cristo
87

do sepulcro vazio, que venceu o Calvário, rompeu as


ligaduras da morte e ergueu-Se triunfante da tumba para
trazer a imortalidade a todos e a vida eterna para os fiéis.
Ele é o “cordeiro imaculado e sem defeito algum”, aquele
que foi predestinado antes da criação do mundo e que nos
últimos tempos foi manifestado por amor de vós (1Ped 10-
20). Ele “foi castigado por nossos crimes, e esmagado por
nossas iniquidades: o castigo que nos salva pesou sobre
Ele; fomos curadas graças às suas chagas” (Isaías 53:5).

A resposta de Jesus aos discípulos foi: “Vinde e vede”.


E, quando vierem, depositem o seu fardo aos Seus pés.
Abandonem seus pecados para que possam vê-Lo e
conhecê-Lo “Vinde a mim, vós todos os que estais aflitos
sob o fardo, e eu vos aliviarei Tomai o meu jugo sobre vós
e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde
de coração e achareis repouso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e meu peso é leve (Mat 11,28-
30).

Vinde a Ele, e Ele os livrará dos pecados e os lavará


em Seu sangue redentor. Ele curará a tua alma, embora
enferma pelo pecado e te fará sentir-se bem. Substituirá o
ódio pelo amor e o egoísmo pelo serviço. Fortalecerá teus
ombros para que possa melhor suportar teu fardo e te dará
coragem e esperança renovadas para a próxima jornada.
88

“Vinde e vede”, e ao fazê-lo, teus olhos se abrirão e


você irá saber verdadeiramente, talvez pela primeira vez,
quem você, verdadeiramente, é. Você perceberá que é filho
de Deus, de ascendência divina, com capacidade ilimitada
para crescer espiritualmente e ficar mais parecidos com
Ele.

Somos vocacionados a seguir o Senhor, a fazer sua


vontade, não apenas dentro de um aspecto espiritual,
invisível, mas com expressão material, encarnada, pois
somos seres humanos e não anjos.

Deus nos criou à sua imagem e semelhança para que


o Verbo pudesse tomar carne e Ele, Jesus Cristo, foi um
homem perfeito em tudo, jamais contrariando os planos de
Deus, para que nós pudéssemos tê-lo como modelo.

Somos vocacionados a seguir Jesus Cristo em tudo,


deixando que ele viva em nós e, com isso, possibilitando
seu contato com os demais, nossos companheiros de
caminhada.

“Voltando-se para eles e vendo que o estavam


seguindo, Jesus perguntou: ‘O que estais procurando?”
Esta pergunta que se torna chave de leitura e reflexão de
todo o Evangelho, pois corrige a generalidade do
seguimento e exige o compromisso com todas as
89

consequências de quem optou livre e conscientemente por


Jesus. Tomar consciência do que buscamos, confrontando-
o com o que encontramos, é a condição necessária para
assumir a vocação com perseverança e fidelidade, pois
quando não sabemos o que buscamos, nunca seremos
capazes de testemunhar que encontramos.

Bom, eu espero que ao final desse conteúdo você


consiga ter um aprendizado maior referente a essa
passagem, e que além de aprendermos juntos possamos
também colocar em prática o que nos foi ensinado.

“Mestre onde moras? – Vinde e vede”.


90

Omb
ro
Amigo

Quando eu era muito jovem, minha mãe me perguntou


qual era a parte mais importante do corpo. Eu achava que
o som era muito importante para nós seres humanos, então
eu disse:
– Minhas orelhas, mãe.
Ela disse:
91

– Não. Muitas pessoas são surdas. Mas continue


pensando sobre este assunto. Em outra oportunidade eu
volto a lhe perguntar.
Algum tempo se passou até que minha mãe me
perguntou outra vez. Desde que fiz minha primeira
tentativa, eu imaginava ter encontrado a resposta correta
Assim, desta vez eu lhe disse:
– Mãe, a visão é muito importante para todos, então
devem ser nossos olhos.
Ela me olhou e disse:
– Você está aprendendo rápido, mas a resposta ainda
não está correta porque há muitas pessoas que são cegas.
Dei mancada outra vez
Eu continuei minha busca por conhecimento ao longo
do tempo e minha mãe me perguntou várias vezes e
sempre sua resposta era:
– Não. Mas você está ficando mais esperto a cada
ano, minha criança.
Então, no ano passado, meu avô morreu.
Todos estavam tristes.
Todos choravam.
Até mesmo meu pai chorou.
Eu me recordo bem porque tinha sido apenas a
segunda vez que eu o via chorar.
92

Minha mãe olhou para mim quando fui dar o meu


adeus final ao vovô. Ela me perguntou:
– Você já sabe qual à parte do corpo mais importante,
meu filho?
Eu fiquei meio chocado por ela me fazer aquela
pergunta naquele momento.
Eu sempre achei que era apenas um jogo entre ela e
eu.
Observando que eu estava confuso ela me disse:
– Esta pergunta é muito importante. Mostra como você
viveu realmente a sua vida. Para cada parte do corpo que
você citou no passado, eu lhe disse que estava errado e eu
lhe dei um exemplo que justificava. Mas hoje é o dia que
você necessita aprender esta importante lição.
Ela me olhou de um jeito que somente uma mãe pode
fazer. Eu vi lágrimas em seus olhos.
Ela disse:
– Meu querido, a parte do corpo mais importante é seu
ombro.
Eu perguntei:
– Porque eles sustentam minha cabeça?
Ela respondeu:
– Não, é porque pode apoiar a cabeça de um amigo
ou de alguém amado quando eles choram.
93

Todos precisam de um ombro para chorar em algum


momento de sua vida, meu querido.
Naquela ocasião eu descobri qual a parte do corpo
mais importante.
Descobri, também, a importância de ser “simpático” à
dor dos outros.
Porque, naquela hora, quem precisou de um ombro fui
eu.
Eu espero que você tenha bastante amor e amigos e
que você tenha sempre um ombro para chorarem quando
precisarem.
E, para completar, em algum lugar eu li. As pessoas
se esquecerão do que você disse… As pessoas se
esquecerão do que você fez… Mas as pessoas nunca se
esquecerão de como você as fez sentir.
“Os bons amigos são como estrelas… você nem
sempre as vê, mas sabe que sempre estão lá”.
 
“Os bons amigos são como estrelas… você nem
sempre as vê, mas sabe que sempre estão lá”. (Autor
desconhecido)
94

CHEIO
DE DEUS

“Eu quero, eu amo, eu sou, eu faço, eu tenho eu, eu,


eu…!”

Muitos de nós estamos cheios: com a carteira cheia,


com o roupeiro cheio, com a barriga cheia, com o ego cheio
95

e mesmo assim nos sentimos vazios. “Mas Sofia, você não


acabou de dizer que muitos estão cheios? Como podemos
estar vazios então?”

Isso se deve ao fato de que o ser humano está tão


obcecado com si mesmo e com as suas próprias coisas
que isso acaba enchendo seu coração, na medida em que
não há mais lugar para Deus e para as coisas eternas. Isso
é visível uma vez que trocamos nosso momento de oração
pelo Facebook, trocamos nosso tempo na igreja por uma
ida ao shopping, trocamos a comunhão com os irmãos em
Cristo para ficar assistindo futebol, olhamos mais tempo
para o espelho do que para a Bíblia.

De fato, estamos mais “pés no chão”, do que “pé no


céu”. Calma, não estou dizendo que fazer essas outras
coisas é errado; porém, quando colocamos nossas vidas
acima de Deus, realmente podemos ver que a frase do Pr.
Alton Trimble faz sentido: “Deus está à procura de
recipientes vazios para preencher. Podemos estar tão
cheios de nós mesmos que Deus não consegue colocar
nada lá dentro”.

Como podemos resolver isso?

Uma das passagens que eu considero mais lindas da


Bíblia relata a história de um homem que se esvaziou de si
96

mesmo. Esse homem foi JESUS! Em Filipenses 2:5-


11 diz:
“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus,
que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a
Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si
mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos
homens. E, sendo encontrado em forma humana,
humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e
morte de cruz!” – Filipenses 2:5-11.
Vejam só como Paulo nos exorta a termos a mesma
atitude de Cristo. De esvaziarmos a nós mesmos e de
humilharmos a nós mesmos. Outra passagem, em João
3,30, diz que “é necessário que ele cresça e que eu
diminua”.
Para que Cristo cresça e que eu diminua temos que
nos esvaziar: de nossas vontades, de nossas vidas carnais,
desta “terra”, de nós mesmos e da nossa essência
humana. Esvaziamo-nos de nós mesmos quando nos
constrangemos na presença de Deus e quando admitimos
que Ele é o centro, não nós. Esvaziamo-nos de nós
mesmos quando pensamos nas coisas do alto (que são
eternas) e não nas coisas terrenas (que são passageiras).
Se esvazie e deixe Cristo agir na sua vida!

Atos 6.3-7
97

Muitos homens são cheios de si, de vaidades, orgulho


e carnalidade. Deus está chamando os homens para ser
cheios do Espírito Santo.
Você quer ser cheio da presença de Deus?
Vamos aprender o que significa ser cheio de Deus:

I. Cheio de compaixão
"Então se ajoelhando, clamou em alta voz: Senhor,
não lhes imputes este pecado com estas palavras adorou"
(Atos 7.60).
Jesus era cheio de compaixão: "Jesus, saindo, viu
uma grande multidão e, possuído de íntima compaixão
para com ela, curou os seus enfermos" (Mateus 14.13).
Teve compaixão da viúva de Naim (Lucas 7.11).
Moisés foi um homem que teve compaixão de seu povo. O
profeta Jeremias chorava por causa do sofrimento do povo
(Jeremias 9.1). II. Cheio de luz
"Todos os que estavam nos assentados no Sinédrio,
fitando os olhos em Estevão, viram o seu rosto como se
fosse rosto de anjo" (Atos 6.15).
Quando Moisés foi orar no monte, Deus colocou a sua
luz sobre o rosto dele para brilhar e mostrar sua glória
(Êxodo 34.30).

III. Cheio de visão


98

"Mas Estevão, cheio do Espirito Santo, fitou os olhos


no céu e viu a glória de Deus, e Jesus que estava a sua
direita" (Atos 7.55-56).
Deus tem chamado homens para ter uma visão
espiritual da vontade do Senhor e não apenas a lógica
humana.

IV. Cheio de sabedoria


"E não podia sobrepor-se a sabedoria e ao Espírito
com que ele falava" (Atos 6.10).
A sabedoria de Deus vem do alto (Tiago 3.14-17).
Basta somente pedir sabedoria a Deus (Tiago 1.5). Pois "o
temor do Senhor è o princípio de toda a sabedoria"
(Provérbios 1.7) e Jesus a fonte da sabedoria.

V. Cheio de graça e poder.


"Estevão cheio de graça e poder, fazia prodígios e
grandes sinais entre o povo" (Atos 6.8).
VI. Cheio de fé e do Espirito Santo
"O parecer agradou a toda comunidade, e elegeram
Estevão homem cheio de fé e do Espirito Santo" (Atos 6.5).
VII. Cheio de fervor
"Era ele instruído no caminho do Senhor, e sendo
fervoroso de espírito, palavra e ensinava com precisão a
respeito de Jesus" (Atos 18.25).
99

"Sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor"


(Romanos 12.11) (Postado por Sofia Sebben – 22-06-2015)

A verdadeira alegria é consequência da intimidade


com Deus. A vida com Deus não é uma das opções para
alcançar a tão desejada felicidade, mas sim a única opção
para isso, porque somente nEle podemos experimentar a
verdadeira paz, o verdadeiro amor, a verdadeira confiança,
a verdadeira alegria, a verdadeira provisão e a verdadeira
satisfação.

Contudo, para termos uma vida com Deus,


precisamos morrer para nós mesmos, a fim de que
experimentemos algo muito melhor que é a boa, perfeita e
agradável vontade dEle. O apóstolo Paulo entendeu isso e
disse: "Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a
fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo,
já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse
viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de
Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim."
(Gálatas 2:19:20).

Não é pela fama e nem pelo dinheiro que se alcança a


intimidade com Deus, mas sim pela renúncia dos nossos
desejos desenfreados, "Porque a carne milita contra o
Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos
100

entre si; para que não façais o que, porventura, seja do


vosso querer" (Gálatas 5:17).

Se você reconhece Jesus como Senhor e Salvador da


sua vida e confirmou sua aliança com Ele por meio do
batismo, então você já recebeu o Espírito Santo (2
Coríntios 1:21-22) e, consequentemente, toda a
capacidade para dar os frutos de uma vida com Deus. Tais
frutos são aqueles que estão listados em Gálatas 5:22:
amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão e domínio próprio.

Para frutificarmos o amor (1 Coríntios 13:4-7),


precisamos nos esvaziar do ciúme, da desconfiança, do
orgulho, do egoísmo, da mentira, da malícia e da
incredulidade. Precisamos nos esvaziar da excessiva
busca pelo conforto, passando a pensar no outro, o
próximo.

Para frutificarmos a alegria, devemos nos esvaziar da


murmuração e da ingratidão, que contaminam nossos
pensamentos e impedem-nos de viver os presentes de
Deus no presente.

Para frutificarmos a paz, precisamos nos esvaziar da


ansiedade e da busca pelo controle das situações, a fim de
que confiemos totalmente em Deus e sejamos cheios da
Sua paz (Filipenses 4:7).
101

Para frutificarmos a longanimidade, a mansidão e o


domínio próprio, precisamos alongar o "pavil curto",
calarmo-nos quando nos irarmos, evitarmos as respostas
duras e nunca incitarmos as discussões e brigas.

Para frutificarmos a benignidade, devemos fazer o


bem não importando a quem, precisamos nos esvaziar da
parcialidade. Para frutificarmos a bondade, precisamos nos
esvaziar dos pensamentos maliciosos, renunciar a raiva e o
ódio. Para frutificarmos a fidelidade, devemos nos esvaziar
da falta de compromisso e da inconstância.

Está vendo? Ainda há muito para esvaziar também na


sua vida. Então, por que você ainda está cheio de si
mesmo? O Espírito Santo está gritando dentro de você:
"Esvazia!".
102

Apêndice
103

Eu te
deio
meu
coração
Um rapaz de 16 anos pergunta ao pai:” Pai, o que o
senhor vai me dar de presente quando eu fizer 18 anos? O
pai responde: -Ainda falta muito tempo, filho! Passa-se mais
um ano e o rapaz completa 17 anos.

Um dia, ele passa mal e o seu pai o leva para o hospital


de emergência mais próximo.
104

Os médicos o atenderam rapidamente e o examinaram.


Ao descobrir a causa ocorrida, uma médica chegou ao pai e
disse:

-Senhor, teu filho tem um grave problema cardíaco.

O filho que não estava muito longe ouviu a conversa,


deitado em uma maca. Ele chama o pai acenando com as
mãos e pergunta: - Pai, eles disseram que eu vou morrer? O
Pai não segurou as lágrimas e começou a chorar diante do
filho.

O rapaz ficou internado aguardando um transplante.

Finalmente, ao completar 18 anos o rapaz sai do


hospital. Volta para casa e encontra uma carta que seu pai
deixou em cima da mesa, que dizia: “Se você está lendo
esta carta agora, é sinal de que tudo correu bem durante a
tua cirurgia. Lembra do dia em que me perguntou o que eu te
daria quando fizesse 18 anos? Então...Tá aí o meu coração
com muito amor! Feliz aniversário, meu filho!

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu


seu Filho unigênito Para que tudo o que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna.” (Jo 3,16).

Na cidade de São Paulo, numa noite fria e escura de


inverno, próximo a uma esquina por onde passavam várias
pessoas, um garotinho vendia balas para conseguir alguns
105

trocados. Mas o frio estava intenso e as pessoas já não


paravam mais quando ele as chamava. Sem conseguir
vender mais nenhuma bala, ele sentou na escada em frente a
uma loja e ficou observando o movimento das pessoas. Sem
que ele percebesse, um policial se aproximou. " Está perdido,
filho?" O garoto respondeu: "Só estou pensando onde vou
passar a noite hoje... normalmente durmo em minha caixa de
papelão, perto do correio, mas hoje o frio está terrível... O
senhor sabe me dizer se há algum lugar onde eu possa
passar esta noite?" O policial mirou-o por uns instantes e
coçou a cabeça, pensativo: "Se você descer por esta rua",
disse ele, apontando o polegar na direção de uma rua, à
esquerda, "lá embaixo vai encontrar um casarão branco;
chegando lá, bata na porta e quando atenderem apenas diga
'João 3,16'. Assim fez o garoto. Desceu a rua estreita e
quando chegou em frente ao casarão branco, subiu os
degraus da escada e bateu na porta. Quem atendeu foi uma
mulher idosa, de feição bondosa. "João 3,16", disse ele, sem
entender direito. "Entre, meu filho". A voz era meiga e
agradável. Assim que ele entrou, foi conduzido pela senhora
idosa até a cozinha onde havia uma cadeira de balanço
antiga, bem ao lado de um velho fogão de lenha aceso.
"Sente- se, filho, e espere um instantinho, tá?" O garoto se
sentou e, enquanto observava a velha e bondosa mulher se
afastar, pensou consigo mesmo: "João 3,16 ... Eu não
106

entendo o que isso significa, mas sei que aquece a um garoto


com frio". Pouco tempo depois a mulher voltou. "Você está
com fome?", perguntou ela. "Estou um pouquinho, sim... há
dois dias não como nada e meu estômago já começa a
roncar..." A mulher então o levou até a sala de jantar, onde
havia uma mesa repleta de comida. Rapidamente o garoto
sentou-se à mesa e começou a comer; comeu de tudo, até
não aguentar mais. Então ele pensou consigo mesmo: "João
3,16... Eu não entendo o que isso significa, mas sei que mata
a fome de um garoto faminto". Depois a bondosa senhora o
levou ao andar superior, onde se encontrava um quartinho
com uma banheira cheia de água quente. O garoto só
esperou que a mulher se afastasse e então rapidamente se
despiu e tomou um belo banho, como há muito tempo não
fazia. Enquanto esfregava a bucha pelo corpo pensou
consigo mesmo: "João 3,16” ... Eu não entendo o que isso
significa, mas sei que torna limpo um garoto que há muito
tempo estava sujo." Cerca de meia hora depois, a velha e
bondosa mulher voltou e levou o garoto até um quarto onde
havia uma cama de madeira, antiga, mas grande e
confortável. Ela o abraçou, deu-lhe um beijo na testa e, após
deitá-lo na cama, desligou a luz e saiu. Ele se virou para o
canto e ficou imóvel, observando a garoa que caía do outro
lado do vidro da janela. E ali, confortável como nunca, ele
pensou consigo mesmo: "João 3,16” ... Eu não entendo o que
107

isso significa, mas sei que dá repouso a um garoto cansado".


No outro dia, de manhã, a bondosa senhora preparou uma
bela e farta mesa e o convidou para o café da manhã.

Quando o garoto terminou de comer, ela o levou até a


cadeira de balanço, próximo ao fogão de lenha. Depois
seguiu até uma prateleira e apanhou um livro grande, de
capa escura. Era uma Bíblia. Ela voltou, sentou-se numa
outra cadeira, próximo ao garoto, olhou dentro dos olhos
dele, de maneira doce e amigável. "Você entende João 3,16,
filho?" "Não, senhora... eu não entendo... A primeira vez que
ouvi isso foi ontem à noite... um policial que falou...". Ela
concordou com a cabeça, abriu a Bíblia em João 3,16 leu o
versículo: “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que
lhe deu seu filho único, para que todo o que nele crer não
pereça, mas tenha a vida eterna”. E começou a explicar
sobre Jesus. E ali, aquecido junto ao velho fogão de lenha, o
coração do garoto enche-se de amor por Jesus. E enquanto
lágrimas de felicidade deixavam seus olhos e rolavam
face à baixo, ele pensou consigo mesmo: "João 3,16... ainda
não entendo muito bem o que isso significa, mas agora sei
que isso faz um garoto perdido se sentir realmente seguro”
(Fonte: Mundo jovem- 1997).

Deus "ama" você, tanto que se ELE tivesse uma


geladeira, seu retrato estaria pregado nela como nós
pregamos certos adesivos nas nossas geladeiras. Se Deus
108

tivesse uma carteira levaria sua foto nela como nós


colocamos em nossas carteiras a foto da pessoa que
amamos. Deus lhe manda flores em toda primavera; Ele lhe
manda o nascer do sol a cada manhã; Ele dá a chuva que
rega os campos; ele dá o ar que todos os dias respiramos.

A qualquer momento que você quiser conversar ELE te


escuta; Ele pode morar em qualquer lugar do universo, mas
ELE escolheu teu coração para fazer moradia. Será que você
é capaz de entender o quanto Deus te AMA, meu amigo (a).
Deus o ama como você é, mas se recusa a deixa-lo desse
jeito". A razão? É simples ele é teu Pai. Espero que você
nunca dele se esqueça, e que ao receber o Sacramento do
Crisma você não o abandone como costuma acontecer.
109

Os
pais
enveTalvez a mais rica, forte e profunda experiência da
110

caminhada humana seja a de ter um filho. Plena de emoções,


por vezes angustiante, ser pai ou mãe é provar os limites que
constituem o sal e o mel do ato de amar alguém.

Quando nascem, os filhos comovem por sua fragilidade,


seus imensos olhos, sua inocência e graça. Basta vê-los para
que o coração se alargue em riso e cor. Um sorriso é capaz
de abrir as portas de um paraíso. Eles chegam à nossa vida
com promessas de amor incondicional. Dependem de nosso
amor, dos cuidados que temos. E retribuem com gestos que
enternecem. Mas os anos passam e os filhos crescem.
Escolhem seus próprios caminhos, parceiros e profissões.
Trilham novos rumos, afastam-se da matriz.

O tempo se encarrega da formação de novas famílias.


Os netos nascem. Envelhecemos. E então algo começa a
mudar. Os filhos já não têm pelos pais aquela atitude de
antes. Parece que agora só os ouvem para fazer críticas,
reclamar, apontar falhas.

Já não brilha mais nos olhos deles aquela admiração da


infância e isso é uma dor imensa para os pais. Por mais que
disfarcem, todo pai e mãe percebe as mínimas faíscas no
olho de um filho. É quando pais, idosos, dizem para si
mesmos: Que fiz eu? Por que o encanto acabou? Por que
meu filho já não me tem como seu herói particular? Apenas
111

passaram-se alguns anos e parece que foram esquecidos os


cuidados e a sabedoria que antes era referência para tudo na
vida. Aos poucos, a atitude dos filhos se torna cada vez mais
impertinente. Praticamente não ouvem mais os conselhos. A
cada dia demonstram mais impaciência. Acham que os pais
têm opiniões superadas, antigas. Pior é quando implicam
com as manias, os hábitos antigos, as velhas músicas. E
tentam fazer os velhos pais se adaptarem aos novos tempos,
aos novos costumes.

Quanto mais envelhecem os pais, mais os filhos


assumem o controle. Quando eles estão bem idosos, já não
decidem o que querem fazer ou o que desejam comer e
beber. Raramente são ouvidos quando tentam fazer algo
diferente. Passeios, comida, roupas, médicos – tudo passa a
ser decidido pelos filhos. E, no entanto, os pais estão apenas
idosos. Mas continuam em plena posse da mente. Por que
então desrespeitá-los? Por que tratá-los como se fossem
inúteis ou crianças sem discernimento? Sim, é o que a
maioria dos filhos faz. Dá ordens aos pais, trata-os como se
não tivessem opinião ou capacidade de decisão. E, no
entanto, no fundo daqueles olhos cercados de rugas, há tanto
amor.

Naquelas mãos trêmulas, há sempre um gesto que


abençoa, acaricia.
112

Um frágil e velho homem foi viver com seu filho, nora, e


o seu neto mais velho de quatro anos. As mãos do velho
homem tremiam, e a vista era embaralhada, e o seu passo
era hesitante.

A família comeu junto à mesa. Mas as mãos trêmulas do


avô ancião e sua visão falhando, tornou difícil o ato de comer.
Ervilhas rolaram da colher dele sobre o chão. Quando ele
pegou seu copo, o leite derramou na toalha da mesa. A
bagunça irritou fortemente seu filho e nora:

“Nós temos que fazer algo sobre o Vovô,” disse o filho.


“Já tivemos bastante do seu leite derramado, ouvindo-o
comer ruidosamente, e muita de sua comida no chão”. Assim
o marido e esposa prepararam uma mesa pequena no canto
da sala. Lá, Vovô comia sozinho enquanto o resto da família
desfrutava do jantar.

Desde que o Avô tinha quebrado um ou dois pratos, a


comida dele foi servida em uma tigela de madeira. Quando a
família olhava de relance na direção do Vovô, às vezes
percebiam nele uma lágrima em seu olho por estar só.

Ainda assim, as únicas palavras que o casal tinha para


ele eram advertências acentuadas quando ele derrubava um
garfo ou derramava comida.

O neto mais velho de quatro anos assistiu tudo em


silêncio. Uma noite antes da ceia, o pai notou que seu filho
113

estava brincando no chão com sucatas de madeira. Ele


perguntou docemente para a criança: “O que você está
fazendo? “Da mesma maneira dócil, o menino respondeu:”
Oh, eu estou fabricando uma pequena tigela para Você e
Mamãe comerem sua comida quando eu crescer.” O neto
mais velho de quatro anos sorriu e voltou a trabalhar.

As palavras do menino golpearam os pais que ficaram


mudos. Então lágrimas começaram a fluir em seus rostos.
Entretanto nenhuma palavra foi falada, ambos souberam o
que devia ser feito. Aquela noite o marido pegou a mão do
Vovô e com suavidade o conduziu para a mesa familiar.

Para o resto de seus dias de vida ele comeu sempre


com a família. E por alguma razão, nem marido nem esposa
pareciam se preocupar mais quando um garfo era derrubado,
ou leite derramado, ou que a toalha da mesa tinha sujado.
114

O
Segred
o de
Quando fazemos o melhor para Deus? *
Maria
Maria descobriu este segredo. Não é uma questão

em
115

material; muito ou pouco, não é tamanho ou largura...é


“profundidade”!

No evangelho de João 12 encontramos Maria em


ação. Esta Maria não é Madalena, é irmã de Lázaro.

Uma ceia estava sendo oferecida a Jesus: Lázaro


estava com ele à mesa, e Marta, como gostava de fazer,
estava servindo à mesa, mas desta vez, do jeito que
Jesus tem prazer, isto é, sem se queixar de que sua irmã
Maria não a estava ajudando.

Uma ceia estava sendo oferecida a Jesus: Lázaro


estava com ele à mesa, e Marta, como gostava de fazer,
estava servindo à mesa, mas desta vez, do jeito que
Jesus tem prazer, isto é, sem se queixar de que sua irmã
Maria não a estava ajudando.

E Maria, bem, mais uma vez Maria demonstra a


devoção que tinha para com Jesus: ela tomou um vaso
de nardo, um perfume caro, muito cheiroso, e foi até o
lugar à mesa onde estava o nosso Salvador.

Então, muito graciosamente derramou aquele


perfume sobre os pés do Senhor, e os enxugou com seus
cabelos (Mateus e Marcos nos dizem que ela também
derramou do perfume sobre a cabeça de Jesus). Foi um
gesto muito semelhante ao praticado algum tempo antes,
116

por uma outra mulher, em outro lugar, conforme Lucas


cap. 7.

Maria numa atitude de desprendimento material,


social, emocional... pega um vaso de unguento e unge os
pés de Jesus e enxuga-os com seus cabelos.
Para muitos, uma atitude desequilibrada, louca, sem
sentido! Já que o unguento era de grande valor material e
custava ao equivalente 300 dias de trabalho. 
Em média recebemos mensalmente e se fizermos os
cálculos daria mais ou menos 10 meses de salário.

Enquanto “nós avaliamos” o valor das cifras do


perfume, o que não foi diferente dos que ali estavam a
contar também com os discípulos, em particular um
citado por João, o próprio traidor Judas; Jesus avalia o
valor daquela atitude: 300 dias de luta, 300 dias
economizando, 300 dias de sonhos... e tudo derramado
aos seus pés. 

Um vaso quebrado e um perfume caro derramado


mexem com o bolso e pensamento dos homens; uma
vida quebrantada e um ser contrito movem o coração de
Deus!

Eis então o resultado de tamanha grandeza de


atitude: Críticas de muitos que embora dizem andar com
Jesus, não alcançaram tal grandeza. Estão alheios a
117

esse relacionamento de intimidade e comunhão com


Deus, não entende tais atitudes.

Eles estão juntos novamente, como em muitas


outras vezes em que Jesus vai a Jerusalém, que ficava
próxima, para as festas religiosas.

Desta vez, Jesus sabe, será a última. Maria não


sabe ainda, mas, como Jesus disse tão claramente,
conforme veremos no evangelho de Marcos, ela estava
como que antecipando o que iria acontecer.

O evangelho de Marcos 14:4-6 nos deixa claro que


alguns que estavam presentes se indignaram, e Jesus a
defende: “Deixai-a, para que a molestai?” Acho que eles
queriam tirar Maria dos pés de Jesus, por estar fazendo o
melhor para Deus - mas não conseguiram! E esta não foi
a primeira e única vez que ela é quase arrancada de
Seus pés. 

Maria também teve que resistir a sua irmã Marta: “E


tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-
se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta,
porém, andava distraída em muitos serviços; e,
aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que
minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude. E
respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás
ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é
118

necessária; E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe


será tirada (Luc. 10,39-42)”

E para finalizar podemos encontrá-la novamente e


agora num grande momento de dor e perda de seu
irmão; porém em mesma atitude. "Tendo, pois, Maria
chegado onde Jesus estava, e vendo-o, lançou-se aos
seus pés. (Jo.11,32)

Casa de Betânia “o lugar favorito de Jesus” Os


Textos de Mateus 26,6  diz: “E, estando Jesus em
Betânia, em casa de Simão, o leproso,” e João 11:1
diz: “Estava, porém, enfermo certo Lázaro, de Betânia,
aldeia de Maria e de sua irmã Marta”.

Durante a narrativa bíblica presente nos evangelhos,


percebemos vários momentos em que Jesus esteve em
Betânia. Constantemente, ele era atraído por aquela
cidade. Mas, o que havia em Betânia que tanto atraia
Jesus? Por que o Mestre gostava tanto de estar ali a
ponto de ser a última cidade em que esteve antes de sua
morte?

Certamente os relacionamentos tidos por Jesus em


Betânia nos servem como referência para compreender a
preferência de Jesus por aquela cidade.

BETÂNIA Significa casa dos pobres ou casa de


aflição. Em Betânia, habitava Simão o leproso; Lazaro, a
119

quem Jesus ressuscitou e quem Jesus chamou de


amigo; Marta a serva fiel; e Maria, que foi um exemplo de
intimidade com Ele.

Ali estava uma comunidade de pessoas com


atitudes que atrai a Jesus, este lugar especial, não pela
riqueza e aparência, mas pelo tipo de pessoas e
comportamentos que estavam ali.  Qual tipo de pessoa
havia em Betânia, a ponto de Jesus fazer dali um lugar
favorito?

Por que havia ali personagens que atraiam o


Mestre. Betânia era o lugar favorito de Jesus, porque se
encontrava ali Simão, o leproso. “E, estando ele em
Betânia, assentado à mesa, em casa de Simão, o
leproso,” (Marcos14: 3a).  Simão havia sido leproso. A
lepra era terrível, era a pior marca que um homem
poderia receber na época de Jesus. Além de toda
humilhação, os que se encontravam nessa situação não
desfrutavam de momentos de paz e alegria. Os leprosos
eram considerados impuros, assim, colocados para
viverem longe de suas famílias e amigos, eram tristes e
amargurados repudiados pela sociedade, não podiam
trabalhar estudar, nem mesmo passear perto de outras
pessoas.
120

A lepra, nos tempos de Jesus, era uma evidência do


pecado do homem. Essa doença aponta para a condição
pecaminosa dos homens diante de Deus.

A lição que temos a respeito do Simão, o leproso, é


maravilhosa embora sendo curado pelo Senhor e
restaurado de sua doença ficou conhecido como o
Leproso.

Em Lucas 17,15-17 lemos: “E um deles, vendo que


estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz; E caiu
aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e
este era samaritano. E, respondendo Jesus, disse: Não
foram dez os limpos? E onde estão os nove?” Alguns
estudiosos do Novo Testamento argumentam que este
leproso “curado e grato” do texto que lemos acima era
Simão. Vemos que a graça de Deus veio sobre este
homem e Jesus frequentava aquela casa pois Jesus
gosta de pecadores arrependidos e gratos que
reconheceram a graça de Deus. Você conhece algum
Simão agradecido? Você é este leproso agradecido e
arrependido? Hoje você pode tomar uma decisão que vai
atrair Jesus para sua casa. O livro “O evangelho
Maltrapilho” diz: “A graça nos atinge quando estamos em
grande dor e sofrimento”.
121

Como Jesus amava estar em Betânia! Jesus poderia


estar em qualquer lugar de Israel, mas escolheu estar em
Betânia pois era lá que era amado e honrado. Mas o que
podemos aprender com Simão? O que Jesus viu em
Simão a ponto de usar a sua casa como um lugar de
edificação?

Tinha Simão algo que precisamos ter para atrair a


presença do Mestre. Certamente a gratidão de Simão, o
leproso, atraiu o mestre. Além de agradecer com
palavras, ele se tornou um anfitrião fiel para jesus em
Betânia ele abriu as portas do seu coração para Cristo e
as portas de sua casa para Igreja. Na casa de Simão
Jesus abençoou muitos. Uma pessoa como Simão
agrada o coração do Pai.

Betânia era o lugar favorito de Jesus porque se


encontrava ali Lázaro que Jesus ressuscitou dos mortos.
“Foi, pois, Jesus seis Dias antes da páscoa a Betânia,
onde estava Lázaro, o que falecera, e a quem
ressuscitara dentre os mortos.”    (João 12,1).    

Lázaro era um dos moradores de Betânia, diz a


bíblia, lugar onde Jesus costumava estar se dirigir para
estar com Lázaro e suas irmãs.

Lázaro – O amigo jantava com Jesus: “Fizeram-lhe,


pois, ali uma ceia, e Marta servia, Lázaro era um dos que
122

estavam à mesa com ele.” (João 12,2).  Sentar-se a


mesa com alguém, nos dá ideia de intimidade e
comunhão. Frequentemente sentamos a mesa com
amigos, discípulos, famílias. Ali Jesus se sentia em casa
em um ambiente seguro e confortável.

Lazaro – O que tira lágrimas do mestre “Jesus


chorou.  Disseram, pois, os judeus: Vede como o amava”.
(João 11,35-36).

O início do capitulo 11 mostra a vida de lazaro e sua


doença e pôr fim a morte. Jesus o amava. Jesus foi até
acusado de chegar atrasado, mas Ele nunca chega
atrasado Ele chega sempre no momento certo.

Betânia casa de aflição. São estas casas que Jesus


chega e gosta de fazer milagres. Lazaro – O testemunho
vivo do poder de Deus: “E muita gente dos judeus soube
que ele estava ali; e foram, não só por causa de Jesus,
mas também para ver a Lázaro, a quem ressuscitara
dentre os mortos.” (João 12,9).

Você pode desfrutar do poder de Jesus hoje é só


convidá-lo e se tornar amigo dele. Em que área de sua
vida precisa de um milagre? O que está morto em sua
vida vai se tornar em um testemunho vivo do poder de
Deus, assim como Lázaro se tornou?
123

Lazaro – Novidade de vida. Aqueles que foram


conquistados por Jesus tem a oportunidade de andar em
novidade de vida e experimentam a vida abundante. Esta
vida não procede do esforço humano ou do esforço da
religião e sim da vida de Deus em nós. Esta vida pode
entrar dentro de você hoje e nunca mais a tristeza e a
solidão vão te assolar.

Sabe aquelas áreas de sua vida que já perdeu as


esperanças de ver mudanças? Hoje você pode tocar no
Senhor e tudo que está morto vai florescer e ganhar vida.

Betânia era o lugar favorito de Jesus, porque se


encontrava ali Marta, aquela que servia.

“E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou


Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o
recebeu em sua casa” (Lucas 10,38).       

Certamente Betânia tinha o seu lugar especial no


coração de Jesus, não pela beleza ou localização
privilegiada da cidade, mas pelas pessoas que ali
habitavam. Jesus não tinha um lugar fixo de residência,
pois o seu ministério exigia uma movimentação continua
de cidade em cidade. Marta foi uma anfitriã solicita ela
soube receber o mestre em sua casa e queria lhe garantir
o bem estar.
124

A atitude de Marta nos faz pensar a nossa atitude


em relação a Cristo. Hoje, Jesus se hospeda em nossa
casa e, se tivermos o coração de Marta poderemos ter
toda nossa família salva. Através da atitude de Marta
Lazaro ressuscitou.

“Marta, porém, andava distraída em muitos


serviços;” (Lucas 10,40). A disposição de Marta em servir
ao Senhor com excelência é resultado de um encontro
verdadeiro que ela teve com Jesus. Hoje você pode abrir
sua casa para entrada de Jesus.

Marta – A Leal, transparente e sincera: “Marta,


porém, andava distraída em muitos serviços; e,
aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que
minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude.”
(Lucas 10,40).

Jesus frequentava a casa de Betânia, pois ali havia


pessoas leais e sinceras. Talvez, existem muitos
questionamentos em seu coração, mas a sua sinceridade
agrada ao Senhor. Fala pra Ele das suas necessidades,
das suas lutas, das suas carências, esta sinceridade
agrada a Deus.

Betânia era o lugar favorito de Jesus, porque se


encontrava ali Maria, aquela que se rendia ao senhor. “E
tinha Marta uma irmã chamada Maria, a qual,
125

assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua


palavra.” (Lucas 10,39).

Que Amor Jesus tinha por Betânia! Além do seu


amor para com todos os homens, havia em Betânia
pessoas apaixonadas por Jesus. Uma das pessoas era
Maria, irmã mais nova de Lázaro e Marta.

Maria estava entre aquelas pessoas que fazia Jesus


sentir saudades. A visita de Jesus causava grande
impacto na vida dela e pode causar em nossas vidas,
mas precisamos nos render como Maria fazia. “Tendo,
pois, Maria chegado onde Jesus estava, e vendo-o,
lançou-se aos seus pés, dizendo-lhe: Senhor, se tu
estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.” (João
11,32). Maria tinha Jesus não somente como salvador,
mas como Senhor. Muitas pessoas querem servir ao
Senhor somente com salvador, mas ele quer se tornar o
seu Senhor. Se quisermos ver a glória de Deus em
nossas vidas precisamos nos render a Ele. É rendendo-
nos a Jesus, prostrados aos pés que ficaremos de pé.

Maria – Aquela que se lançou aos pés do mestre.

“Tendo, pois, Maria chegado onde Jesus estava, e


vendo-o, lançou-se aos seus pés,” (João 11,32a). A
maneira de nos encontrarmos com Jesus é se jogando
para Ele. Nos pés Dele.
126

“Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de


nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e
enxugou lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a
casa do cheiro do unguento.” (João 12,3). Quando damos
o melhor pra Ele, o bom perfume de Cristo toma nossa
casa e todos podem ver a glória do Senhor em nós. Onde
tem Simão o leproso arrependido e cheio de graça, onde
tem Lazaro aquele que morreu, onde tem Marta aquela
que serve e, onde tem Maria a arrependida, ali vai se
tornar um lugar favorito de Jesus.

Casa de Betânia significa casa de aflição, casa do


pobre, mas poderia se chamar casa de milagres, casa de
alegria, casa da riqueza.

Desfrute hoje e sempre dos milagres do Senhor. E


onde Jesus entra a miséria, a pobreza, o divórcio, a
droga, as brigas, o a doença, tudo vai embora por causa
Dele.

Amados, nada contra aqueles que se dedicam a


trabalhar para o bem da sociedade, mas na história que
temos aqui menos uma pessoa houve uma pessoa que
não achou um desperdício a atitude de Maria: Jesus.
Diante daquela pretensa preocupação social revelada
pelos discípulos, ele responde:
127

- “Deixem-na; que ela guarde isto para o dia em que


me embalsamarem. Quanto aos pobres, vocês sempre
terão oportunidade de ajudá-los, mas a mim, vocês nem
sempre terão por perto”.

Ao olhar para esta narrativa tão bonita, eu gostaria


de fazer duas observações sobre Jesus e Maria, e
partindo delas, trazer também inspiração para a nossa
vida, em nosso viver com Deus: Maria conhecia o
coração de Jesus, e Jesus conhecia o coração de Maria,
ou, Maria amava a Jesus, e Jesus amava Maria.

Digo que Maria conhecia o coração de Jesus, e que


Maria amava a Jesus.

Isso me faz pensar num contraste que Jesus faz, em


relação ao comportamento dos discípulos, em certa
ocasião, conforme registrado em Mc 8:18. Ali ele
pergunta aos doze: “Vocês, tendo olhos não enxergam?
Tendo ouvidos não ouvem”?

Sim: existem muitas pessoas que seguem a Jesus,


mas que estão muito ocupadas para poder parar e ouvir
a sua Palavra, para escutar e saber o que ele tem no
coração, e então, ainda que ouçam suas palavras
intelectualmente, elas não descem para o coração deles,
elas não se tornam o que eles pensam, elas não se
128

tornam o que eles sentem, e estas pessoas então não


fazem o que mais agradaria ao Senhor.

Maria de Betânia não era assim: ela não era uma


mulher “muito prática”, talvez não tenha vindo a ser uma
“senhora dona de casa”, e talvez não tenha vindo a ser
uma “assistente social” (é claro: nada tenho contra estas
duas coisas, nem o Senhor), mas era uma mulher cujo
coração sabia o que ia no coração de Jesus.

Eu tenho certeza de quanto a este gesto não deve


ter havido uma consulta a Jesus. Não foi nada intelectual,
no sentido de que ela se aproximou dele e perguntou-lhe
o que ele gostaria que ela fizesse. E isto por que ela o
amava, ela o ouvia sempre. Fico imaginando que muitas
coisas um dizia para o outro só através do olhar.

Assim, eles se conheciam tão bem que ela sabia,


em si mesma, o tipo de coisas que ele gostava.

E naquele dia, o que se passou dentro dela, senão


em forma de palavras, mas na forma de sentimento foi
isto: “Como posso honrar ao meu Salvador? Vou
presenteá-lo com um frasco de nardo”. E ela o fez, e ele
teve prazer.

Digo que Jesus conhecia o coração de Maria, e


Jesus amava Maria
129

E quando afirmo que Jesus amava Maria, não estou


me referindo em primeiro lugar àquele grande amor que
ele tem para com todos os seus eleitos.

Pois há este amor em geral, amor que é muito


grande, que é infinito, que Jesus tem para com todos os
de sua igreja.

Jeremias nos diz que o Senhor se deixou ver por


ele, e por ele disse a Israel: “Com amor eterno eu te
amei, por isto com benignidade te atraí” (Jr 31:3).

E aqui neste evangelho de João 13:1 está


escrito: “Tendo Jesus amado aos seus que estavam no
mundo, amou-os até o fim”.

Jesus, portanto, ama a todos os que são seus.

Mas há um sentido, na Palavra de Deus, em que


Jesus ama de modo ainda muito mais especial àqueles
que são mais achegados a ele.

Desejo citar algumas mostras disto na Palavra de


Deus:

Jo 13:23

Ora, ali estava conchegado a Jesus um dos seus


discípulos, aquele a quem ele amava.
130

Em quatro outros lugares, o autor deste evangelho,


João, refere-se a si mesmo como o discípulo amado
(19:26; 20:2; 21:7; 21:20).

Isto quer dizer que Jesus não amava aos demais?


Não, mas que, em relação a João, era um
relacionamento muito mais estreito, a ponto de este
discípulo poder reclinar-se sobre o seio de Jesus.

Em 2Cor 9:7 lemos que “Cada um contribua


segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou
por necessidade; porque Deus ama a quem dá com
alegria.”

Em Jo 14:21 também lemos: “Aquele que tem os


meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama;
e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu
também o amarei e me manifestarei a ele”.

Nestas passagens, quando Deus nos diz que ele


ama certas pessoas que preenchem certas condições, o
que ele está nos ensinando é o fato de que ele tem uma
satisfação toda especial em pessoas que são segundo o
seu coração, que estas pessoas são o seu deleite, a sua
alegria, que ele tem prazer nelas. Como também está
escrito em outro lugar: “A oração dos retos é o
contentamento do coração de Deus” (Prov 15:8).
131

É deste modo que então lemos que estes três,


Marta, Maria e Lázaro eram muito especiais para Jesus

Jo 11:5

Ora, amava Jesus a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro.

Interessante isto: “Jesus amava Marta...” Ela era


aquela a quem Jesus havia repreendido por que havia
reclamado de Maria. Marta era agitada, ocupada,
operosa, diferente de Maria.

Mas por que Jesus a amava também? Eu acho que


nesta cena da unção de Jesus por parte de Maria nós
temos a resposta:

Marta está aqui, fazendo o que? Servindo. Se fosse


outra pessoa, ao ser repreendia por Jesus, ela
diria: “Então não vou fazer mais nada”. E cruzaria os
braços, “emburrada”, de cara feia. E nunca mais Jesus
iria comer aquele “feijãozinho” preparado por ela.

Mas ela não faz isto: ela entende o que Jesus quer
dizer, ela aprende a lição, e passa a trabalhar, mas sem
murmuração, com um espírito manso e tranquilo, que é
de grande valor diante de Deus (1ª Ped 3:4).

Veja: nós estamos aqui, hoje, ouvindo o que Maria


fez, para aprender com Deus pela vida dela. E desta
maneira a memória dela é honrada.
132

Este é mais um de uma série de personagens


bíblicos, que revelam o que Deus ama e o que ele deseja
de nós.

Lembra-se de Moisés, aquele homem que aprendeu


a depender totalmente do Senhor, a andar com o Senhor,
a fazer do jeito do Senhor? Intimidade com Deus.

Lembra-se de Maria, mãe de Jesus, aquela mulher


discreta, silenciosa, que colocava as promessas de Deus
no coração e serenamente obedecia, aguardando o
cumprimento da Palavra de Deus? Intimidade com Deus.

Lembra-se de Abraão a quem o Senhor disse: “Anda


na minha presença e sê perfeito”? Intimidade com Deus.

Lembra-se também de Eliseu, que tinha sempre em


mente, no dizer de suas palavras “o Senhor meu Deus,
perante cuja face estou continuamente”? Intimidade com
Deus.

Maria de Betânia: Intimidade com Deus.

É para isto que o Senhor nos chama continuamente:


para andar com ele, para ouvir sua voz, para conhecer o
coração dele, para amá-lo e conhecer seu amor.

Maria buscava esta intimidade, devotando-se a


Jesus. Ouvir a Jesus era a coisa mais importante para
ela.
133

Pare para ouvir a Jesus. Vá para o seu quarto, para


algum lugar silencioso, ore, adore, leia a Palavra, ouça
com a sua mente e com o seu coração; deixe Jesus falar
com você. Só para vocês estarem juntos, só para se
conhecerem.

No seu dia a dia, procure ouvir a Jesus falando na


igreja, falando através das pessoas com quem você
convive, falando nos cânticos, nos hinos, falando em
casa, através de seus familiares.

Procure ouvir Jesus falando nos problemas, nas


vitórias, nas circunstâncias.

Aprenda a ouvir a voz de Jesus, aprenda a discernir


a voz de Jesus, pois ele diz que as suas ovelhas ouvem
a sua voz e ele as conhecem, mas as ovelhas não
conhecem a voz do diabo, e por isto não o ouvem, não o
obedecem.

Assim, aprenda a discernir também quando a


Palavra é Deus e quando não é: quando é a voz do
orgulho, da autocomiseração, do egoísmo, da
murmuração. Peça: Senhor, quero ouvir tua doce voz,
que ilumina, que cura, que traz quebrantamento, que
restaura.

Entregue-se a Jesus: entregue seu tempo, seus


bens, tudo o que você é e tudo o que você tem.
134

E aí você vai experimentar assim: você conhece o


coração de Jesus, e Jesus conhece o seu coração; você
ama a Jesus, e faz o que ele gosta, e Jesus se deleita
em você. E se algum irmão não gostar que você sirva ao
seu Redentor da maneira que ele se apraz, perdoe. Um
dia essa pessoa cresce.

 Quem é intimo tem que ter uma paixão Santa por


Jesus

Deus deseja que tenhamos uma paixão santa por


Ele. Como podemos cultivar a intimidade e aproximação
com o nosso Senhor? Vamos ver como desenvolver uma
interação aberta e pessoal com aquele a quem amamos
tanto.

Somente uma coisa é necessária. (Lucas 10:38-42)

Intimidade com Deus é a primeira prioridade. Tem


que ter intimidade nas nossas vidas antes de ministrar.
Se estivermos atraídos a Ele em intimidade, então nós
podemos andar com Ele no ministério. Nós necessitamos
estar atraídos a Ele como íntimos a ele.

Nós fomos ensinados para servir o Senhor. Nós não


podemos evangelizar, ensinar, ou testemunhar com
muito impacto antes da intimidade com ele.
135

Quando nós nos tornamos mais íntimos de Deus,


nós adquirimos um contato com o Senhor no nosso
espírito, atitudes e comportamento. Cada uma destas
coisas nos torna mais como Cristo, e temos então uma
percepção melhor do que o Senhor deseja a todo o
momento.

 Intimidade abrange alguns aspectos interessantes.

Intimidade é mais importante do que o


nosso trabalho e obra. “Maria tinha escolhido o que era
melhor”. (Lucas 10,42). Negócios e atividades são
inimigos da intimidade.

Intimidade é uma escolha que tem que ser feita.


Você não é atraído para uma intimidade. É uma escolha.

Maria e Marta eram irmãs (com os mesmos


antecedentes). Maria escolheu de se aproximar.

Intimidade é o antídoto para a ansiedade. “Marta,


estás ansiosa e afadigada com muitas coisas.” (Lucas
10,41). O tempo passado com Jesus traz paz e
descanso. Estando com Ele rapidamente tudo fica em
uma perspectiva correta.

Intimidade é o motivo que leva Jesus nos procurar.


Quando nós O procuramos na nossa empenhada
intimidade, Ele vem a nós.
136

Deus não tem “favoritos”, mas “íntimos”.

Aqueles que não tem uma intimidade com jesus,


tem um espírito murmurador – reclama muito (“Senhor Tu
não te importas?”)

Aqueles que não tem uma intimidade com jesus,


não têm reverência pela autoridade – não respeita
autoridade (Marta censurou o Senhor),

Aqueles que não tem uma intimidade com jesus,


tem um espírito egoísta – só pensa nela mesmo (“A
minha irmã tem deixado a Te servir sozinha?”),

Aqueles que não tem uma intimidade com jesus, é


exigente – exige muito das outras pessoas e de suas
autoridades (“Diz a ela…” Marta fez uma exigência ao
Senhor),

Aqueles que não tem uma intimidade com jesus,


concentra-se em coisas em vez de relacionamentos.

Aqueles que não tem uma intimidade com jesus, é


sujeito as emoções (altos e baixos). Marta abriu a sua
casa para Jesus, depois O repreendeu.

Maria estava sentada aos pés do Senhor. Ela


possivelmente estava ajoelhada.

Quando tentamos encontrar palavras para expressar a


comunhão com Deus, a inteligência encontra-se
137

rapidamente limitada. Mas, nas profundezas da pessoa


humana, pelo Espírito Santo, Cristo reza mais do que nós
imaginamos.

A voz de Deus não se cala, mas Deus nunca se quer


impor. Frequentemente, a sua voz escuta-se como um
murmúrio, num sopro de silêncio. Permanecer em silêncio
na sua presença, para acolher o seu Espírito, é já uma
forma de rezar.

Não se deve procurar um método para alcançar o


silêncio interior a qualquer preço, suscitando um vazio em
si próprio. Durante o silêncio, somos convidados a deixar
Cristo rezar em nós, com a confiança de uma criança e,
assim, um dia descobriremos que as profundezas da
pessoa humana são habitadas.

Estar perto do Senhor desenvolve em nós uma


intimidade com Ele. Passem tempo com Ele.
138

A
ma
O tempo é como o rio: você nunca poderá tocar
a mesma água duas vezes, porque a água que

re
passou não passará novamente. Por isso trate de
viver sabiamente cada minuto desse presentão de
DEUS que é a sua vida. Então entregue a direção de

ser
sua vida a DEUS e caminhe com ELE… Porque com
ELE a alegria supera a tristeza e o consolo supera a
am 139

dor. A fé supera a dúvida, a esperança supera o


desespero, o entusiasmo supera qualquer desânimo
e o sucesso supera todo o fracasso. O amor supera
fronteiras, derruba pontes, concretiza a paz.

O agir de Deus é lindo na vida de quem é fiel.


No começo tem provas amargas, mas no fim tem o
sabor do mel. Eu nunca vi um escolhido sem
resposta, porque em tudo Deus lhe mostra uma
solução, até nas cinzas ele clama e Deus atende e
lhe protege, lhe defende com as suas fortes mãos.
Você é um escolhido e a tua história não acaba aqui
você pode estar chorando agora, mas amanhã você
irá sorrir, Deus vai te levantar das cinzas e do pó,
Deus vai cumprir tudo que tem te prometido, você vai
ver a mão de Deus te exaltar Quem te vê há de falar,
Ele é mesmo escolhido. 

E mesmo que ela o esquecesse, eu não te


esqueceria nunca”. (Isaias 49,1b5)

O versículo acima prova um grande desafio, em


que somos convidados a participar a refletir. E nesse
desafio alçar esperança e experiências com o próprio
Deus. Para que possamos presenciar o poder
cuidador e curador de Deus, Isaias nos mostra algo a
fazer muito importante: “É na conversão e na calma
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que está a vossa salvação; é no repouso e na


confiança que reside a vossa força”. (Isa 30,15).
Precisamos voltar aos braços de Deus, como um
filho e filha. Precisamos aprender a descansar em
Deus. Precisamos depositar aos seus pés nossos
fardos pesados e árduos, nossas dívidas, nossas
inquietudes marcadas pelas decisões meramente
humanas e mesquinhas. Precisamos ter silenciosas e
sossegadas confissões de alma. Precisamos, atirar-
nos em seu colo de Pai.

Tudo isso nos recoloca no devido lugar, na


presença de Deus e no mundo onde Deus nos
despertou à vida. Não há força e poder que possa vir
ao nosso encontro quando somos abastecidos pela
copiosa presença e certeza de que Deus conosco
está. 

Deus sabe disto, por isso ele diz que nenhuma


mãe pode esquecer do filho que ainda amamenta e
se isto assim acontecesse, jamais isso aconteceria
em relação a nós.

No seio de Deus somos timbrados e selados (Ef


4,30), pode o mundo nos esquecer, familiares, pai e
mãe, a morte tragar nossos corpos, reduzir-nos à
terra, à cinza e ao pó, mas Deus jamais se esquecerá
141

de nós, de você (Rom 8,31-39). Exercite-se na


presença curadora, graciosa e paternal de Deus. Não
há tesouro maior do que estarmos no coração de
Deus e por Ele guardados, amados e alimentados,
abastecidos pela sua esperança em cada dia de
nossa vida!

Quando uma pessoa ama, o seu coração


transborda. Ela deseja partilhar a alegria com os
outros. Nisso ela parece-se com o seu Criador

Uma senhora, observando os caminhos de sua


vida, contou: Fui visitar minha filha. Já fazia um
tempo que não a via. Queria também rever minha
netinha Beth, que era um encanto de criança.
Descansando na varanda que dava para um jardim
muito florido, divisei a pequena Beth de três anos,
que dançava pelo jardim. Parecia uma pequena fada,
saltitando depressa, quase voando por entre as
flores, tão feliz. Começou a cantar alto com sua voz
tão sonora: “Eu amo a mamãe, o papai, o Luizinho, a
vovó e...” Ela parou um instante. Sua expressão
pensativa logo se transformou num sorriso brilhante e
num rodopio muito leve. Ela continuou num sorriso
angelical: “... e eu amo a mim mesma.”

Fiquei surpresa e emocionada pela facilidade com


142

que minha netinha expressava o amor a si mesma,


como Cristo pediu. Pensei: será que nós amamos
aos outros e a nós mesmos assim tão prontamente?
As lembranças e experiências de minha infância
haviam limitado minha percepção do amor. A
separação de meus pais, quando eu tinha a idade de
Beth, me levou a duvidar do amor deles. Meu
próximo passo foi acreditar que ninguém me amava,
que eu devia ter feito algo muito ruim para merecer
tal castigo. Sentia terror e culpa intensa.

Daí para frente, para evitar ser magoada novamente,


mantive as pessoas a distância. Amar e ser amada
ficaram bloqueados. Muitos anos depois, uma sábia
amiga me ensinou: “Quando nós nos permitimos
inundar pelo amor, damos espaço ao amor próprio,
para curar nossa dor interior e nos libertar para amar
a nós mesmos e aos outros.” Gostei deste
pensamento, e durante muito tempo procurei senti-lo
em minha vida.

E hoje descobri que suas palavras eram


verdadeiras. Vendo minha netinha tão feliz confirmei
esta minha certeza. Quando aceitamos nos amar de
verdade, somos libertados para amar aos outros. A
vida nos ensina que de fato amar e ser amado é
143

fundamental em nossa vida. Quando somos feridos


pelo desamor, precisamos buscar a cura rápida, pois
é um veneno mortal para nossos sentimentos. Se
isso acontece na infância, marca por muito tempo
nosso espírito. Devemos estar dispostos a amar
sempre as pessoas, e jamais magoá-las. Que ao
errar possamos corrigir com mais amor o mal que
tivermos feito.

“Quando encontrar alguém, lembre-se de que se trata


sempre de um encontro divino. Como você vê a pessoa, você
se verá. Como a trata, você se tratará. O que pensa sobre
ela, pensará sobre você. Jamais se esqueça disso, porque
nela você se encontrará ou se perderá.”(Fonte Konektar)
144

Um homem sussurrou: "Deus, fale comigo!"

E então um passarinho cantou. E o homem não


escutou...

E então, o homem gritou: "Deus, fale comigo!


145

E então se ouviram trovões através de um


colchão de nuvens. Mas, de novo, o homem não
escutou...
O homem olhou ao seu redor e disse: "Deus, deixe-me
vê-Lo." E uma estrela brilhou no firmamento como nunca
antes havia brilhado. Mas, o homem não olhou para o
céu e não a viu... Então, o homem, indignado, fortemente
gritou:

"Deus, deixe-me ver um milagre!"


E nasceu seu filho! Mas o homem não se deu conta da
nova e irrepetível vida que começava...
Então, gritou desesperado: "Deus toque-me, deixe-me
senti-lo. "Nesse momento, Deus desceu do céu e tocou o
homem em sua bochecha através de uma borboleta
suavemente. Mas o homem tirou a linda borboleta de sua
bochecha, e seguiu seu caminho.

Isto deve nos recordar que Deus sempre está ao


nosso lado, em todos, no grande e no singelo, até nas
coisas que não prestamos muita atenção. Principalmente
nesta era eletrônica. Por isso, quando o homem,
chorando, gritou: "Deus, necessito de Tua ajuda", nesse
momento chegou a ele
uma mensagem por e-mail com boas notícias, dando-lhe
alento, e com a oração e abraço de alguém que se
importava com ele, o homem não o viu...
146

Ele seguiu trabalhando e deletou a mensagem,


sem a ler. Não perca a oração nem um bom amigo,
porque a embalagem não é o que você espera...
Deus nos fala através das coisas mais simples e menos
esperadas." (Autor desconhecido).

As oportunidades de sentir, de ver e admirar


Deus por tudo o que Ele criou, não podem passar
despercebidas. Sua Criação estende-se pelo Universo
inteiro, e são maravilhosamente perfeitas e belas.

Se bem observarmos, veremos perfeição e


beleza em toda a Criação. Olhe para a natureza e se
encante com o perfume, a tonalidade e toda a espécie de
flores e frutos que existem no mundo. O próprio corpo
humano é uma máquina, onde todos os órgãos internos
funcionam perfeitamente durante décadas, sem
apresentar defeitos, os quais quando se manifestam,
correm por conta de seu dono que não respeita o dom
maravilhoso da vida e incorre em descuidos e erros
contra si mesmo.

E assim acontece com a infinitude de coisas


criadas por Deus para que o Universo funcione
impecavelmente dentro de critérios e estabilidade que Ele
determinou.
147

O que precisamos é sermos atentos e mais


compreensíveis com a vida que nos cobra apenas a
nossa resposta interior. Que sejamos amáveis, ternos,
amorosos e sensíveis às mensagens que o Pai nos
envia.

Que amemos a toda a criação divina por um


único motivo: todos somos irmãos, uma vez que viemos
do mesmo Criador. Que saibamos respeitar a
humanidade como um todo, tendo amor e afeição pela
natureza, pelos animais e por nós mesmos.

Que possamos ter olhos de ver e ouvidos de


ouvir para entender as mensagens que Deus
continuamente nos manda. Que nunca duvidemos de
nosso sensor interno (consciência) que nos leva ao bom
caminho, sempre que escutarmos a sua voz. Que assim
seja!
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