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INTRODUÇÃO A NEUROPSICOPEDAGOGIA -

CONCEITOS BÁSICOS E ATUAÇÃO PROFISSIONAL


Sumário
NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 3

Introdução a Neuropsicopedagogia: Conceitos Básicos e Atuação Profissional


................................................................................................................................... 4

Neurociência do comportamento ................................................................. 5


Neurociência Cognitiva ................................................................................ 6
Cérebro e emoções .................................................................................. 7

As emoções e a neurociência................................................................... 7

Linguagem e fala ...................................................................................... 8

Desenvolvimento cognitivo .......................................................................... 9


Alguns temas da neurociência cognitiva .................................................... 14
Atenção .................................................................................................. 14

Consciência ............................................................................................ 15

Tomada de decisões .............................................................................. 16

Memória.................................................................................................. 16

Neurociência, Pedagogia e Neuropsicopedagogia .................................... 21


Relação entre neurociência e educação .................................................... 24
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 28

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos
que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino,
de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Introdução a Neuropsicopedagogia: Conceitos
Básicos e Atuação Profissional

A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos


conhecimentos da Neurociência aplicada à educação, com interfaces da Psicologia
e Pedagogia que tem como objeto formal de estudo a relação entre cérebro e a
aprendizagem humana numa perspectiva de reintegração pessoal, social e escolar.

A Neuropsicopedagogia estuda a relação entre o funcionamento do sistema


nervoso e a aprendizagem humana. Para isso, busca relacionar os estudos das
neurociências com os conhecimentos da psicologia cognitiva e da pedagogia. Seu
objetivo é promover a reintegração pessoal, social e educacional a partir da
identificação, do diagnóstico, da reabilitação e da prevenção de dificuldades e
distúrbios da aprendizagem.

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A Neuropsicopedagogia apresenta -se como um novo campo de
conhecimento que através dos
conhecimentos neurocientíficos, agregados aos
conhecimentos da pedagogia e psicologia vem
contribuir para os processos de ensino -
aprendizagem de indivíduos que apresentem
dificuldades de aprendizagem e que estão
inseridos no processo de inclusão.
Neuropsicopedagogia traz importantes
contribuições à educação, pois existe a
possibilidade de se perceber o indivíduo em
sua totalidade.

Através dos conhecimentos neuropsicopedagógicos existe a possibilidade


de entender como se processa o desenvolvimento de aprendizagem de cada
indivíduo, proporcionando-lhe melhoras nas perspectivas educacionais e dessa
forma desmistificar a ideia d e que a aprendizagem não o corre para alguns;
na verdade sempre acontecerá a aprendizagem, entretanto par a uns ela vem
acompanhada de muita estimulação, atividades diferenciadas, respeitando o ritmo
de desenvolvimento do indivíduo.

Neurociência do comportamento

A neurociência do comportamento é o estudo que busca compreender as


bases biológicas da nossa consciência e de nossos processos mentais, pelos quais
ocorrem todas as nossas ações.

Isso não implica apenas em aspectos motores e psicológicos, mas também


nas ações mais complexas de nosso corpo como aprendizado, memória, cognição,
autoconsciência, intelecto e personalidade. E as mais simples também como os
cinco sentidos, o ato de andar, falar, comer.

O comportamento humano é um dos assuntos mais estudados pela


neurociência contemporânea. Mesmo porque, dada a importância do tema e as

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múltiplas interpretações que encontramos sobre ele, a discussão nesse campo se
torna especialmente interessante. Ela estuda todas as áreas do sistema nervoso,
que controlam todos os nossos comportamentos, sejam voluntários ou não.
Compreendendo como os processos mentais influenciam em nossas ações,
emoções, sentimentos etc. Dotado de terminações nervosas, nosso cérebro controla
todo o nosso corpo, e a neurociência vem explicar, através dos processos mentais o
porquê isso ocorre.

Neurociência Cognitiva

A neurociência transita pela área biológica, em que algumas questões


relevantes consistem no modo como os circuitos são formados e operam anatômica
e fisiologicamente a fim de produzirem as funções fisiológicas, tais como os
reflexos, integração dos sentidos, coordenação motora, respostas emocionais,
aprendizagem e memória. Ao nível cognitivo a neurociência lida com questões
acerca do modo como as funções psicológicas/cognitivas são geradas pelos
circuitos neuronais. A neurociência cognitiva é a ciência que busca entender como a
função cerebral dá lugar às atividades mentais, tais como a percepção, a memória,
a linguagem, incluindo a consciência (ALBRIGHT; KANDEL; POSNER, 2000;
SIERRAFITZGERALD; MUNÉVAR, 2007), considerando aspectos da normalidade e
de alteração.

Dentro da neurociência, a neurociência


cognitiva tenta descobrir como funcionam as
funções superiores como a linguagem, a
memória ou a tomada de decisões. A
neurociência cognitiva tem como objetivo
principal estudar as representações nervosas
dos atos mentais. Ela se concentra nos
substratos neuronais dos processos mentais.
Foram detectadas áreas específicas do
cérebro encarregadas de funções sensoriais ou motoras, mas somente representam
uma quarta parte do total do córtex.

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São as áreas de associação, que não possuem uma função específica, as
encarregadas de interpretar, integrar e coordenar as funções sensoriais e motoras.
Seriam as responsáveis pelas funções mentais superiores. Áreas cerebrais que
governam as funções como a memória, o pensamento, as emoções, a consciência e
a personalidade são muito mais difíceis de localizar.

A memória está vinculada ao hipocampo, situado no centro do encéfalo. Em


relação às emoções, sabe-se que o sistema límbico controla a sede e a fome
(hipotálamo), a agressão (amígdala) e as emoções em geral. No córtex, onde se
integram as capacidades cognitivas, é o lugar em que se encontra nossa
capacidade de ser conscientes, de estabelecer relações e de realizar raciocínios
complexos.

Cérebro e emoções

As emoções são uma das características essenciais da experiência humana


normal, todos as experimentamos. Todas as emoções são expressadas por meio de
mudanças motoras viscerais e respostas motoras e somáticas estereotipadas,
sobretudo o movimento dos músculos faciais. Tradicionalmente, as emoções eram
atribuídas ao sistema límbico, o que continua se mantendo, mas sabe-se que há
mais regiões encefálicas envolvidas.

As outras áreas às quais se estende o processamento das emoções são a


amígdala e a face orbitária e medial do lóbulo frontal. A ação conjunta e
complementar de tais regiões constitui um sistema motor emocional. As mesmas
estruturas que processam os sinais emocionais participam de outras tarefas, como a
tomada racional de decisões e, inclusive, os julgamentos morais.

As emoções e a neurociência

Os núcleos viscerais e motores somáticos coordenam a expressão do


comportamento emocional. A emoção e a ativação do sistema nervoso autônomo
estão intimamente ligadas. Sentir qualquer tipo de emoção, como medo ou

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surpresa, seria impossível sem experimentar um aumento na frequência cardíaca,
transpiração, tremor… Faz parte da riqueza das emoções.

Atribuir a expressão emocional a estruturas cerebrais confere sua natureza


inata. As emoções são uma ferramenta adaptativa que informa às outras pessoas
sobre o nosso estado emocional. Foi demonstrada a homogeneidade na expressão
de alegria, tristeza, ira… em diferentes culturas. É uma das maneiras que temos de
nos comunicar e criar empatia com as pessoas.

Linguagem e fala

A linguagem é uma das habilidades que nos diferencia do resto dos animais.
A capacidade de nos comunicar com tanta precisão e a grande quantidade de
nuances para expressar pensamentos e sentimentos faz da linguagem nossa
ferramenta de comunicação mais rica e útil. Essa característica de exclusividade da
nossa espécie estimulou muitas pesquisas a se concentrarem no seu estudo.

As conquistas da cultura humana se baseiam, em partes, na linguagem que


possibilita uma comunicação precisa. A capacidade linguística depende da

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integração de várias áreas específicas dos córtices de associação nos lóbulos
temporal e frontal. Na maioria das pessoas, as funções primárias da linguagem
estão localizadas no hemisfério esquerdo.

O hemisfério direito é responsável pelo conteúdo emocional da linguagem. O


dano específico de regiões encefálicas pode comprometer funções essenciais da
linguagem, podendo causar afasias. As afasias podem apresentar muitas
características diferentes, como, por exemplo, dificuldades na articulação, na
produção ou na compreensão da linguagem.

Tanto a linguagem quanto o pensamento não são sustentados por uma única
área concreta, mas sim pela associação de diferentes estruturas. Nosso cérebro
trabalha de uma forma tão organizada e complexa que quando pensamos ou
falamos, ele realiza múltiplas associações entre áreas. Nossos conhecimentos
prévios vão influenciar os novos, em um sistema de retroalimentação.

Desenvolvimento cognitivo

Entender sobre o desenvolvimento de habilidades mentais é fundamental


para compreender a organização e o funcionamento da mente humana. Uma
abordagem comum em neurociência é correlacionar à maturação de funções
cognitivas específicas com um estágio particular do desenvolvimento neural.

Segundo Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006), a diferença existente entre as


capacidades dos recém-nascidos e a dos adultos são visíveis. Recém-nascidos não
caminham, não seguram objetos, não falam nem compreendem quando falamos
com eles. Essas diferenças podem ser elucidadas de duas maneiras: os recém-
nascidos podem ter todas as capacidades dos adultos, mas ainda não obtiveram,
pela experiência, suas habilidades; e, em contraste, recém-nascidos podem diferir
dos adultos em capacidades neurais e/ou cognitivas.

A primeira hipótese coloca os recém-nascidos como possuidores de um


circuito neural completamente formado, à espera das aferências e dos sinais do
ambiente para que o desenvolvimento ocorra. A última propõe que recém-nascidos
ainda não possuem estruturas neurais e cognitivas para agir como um adulto e que

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esse desenvolvimento abarca mudanças radicais e qualitativas. Essa visão tem sido
amplamente aceita pelas teorias do desenvolvimento com base em evidências tanto
neurais quanto psicológicas.

Uma teoria clássica de que recém-nascidos diferem significativamente dos


adultos vem do cientista suíço Jean Piaget. Piaget considerava que a aquisição do
conhecimento é um processo e como tal deveria
ser estudado de maneira histórica, abarcando o
modo como o conhecimento muda e evolui. Desse
modo, define sua epistemologia genética como a
disciplina que estuda os mecanismos e processos
mediante os quais se passa de “[...] estados de
menor conhecimento aos estados de conhecimento
avançado.” (PIAGET, 1971, p.8).

Para Piaget, no processo de aquisição de


novos conhecimentos, o sujeito é um organismo
ativo que seleciona as informações que lhe
chegam do mundo exterior, filtrando-as e dando-lhes sentido. (PIAGET, 1971).
Conhecer, em sua percepção, é atuar diante da realidade modificando-a por meio
de ações. Nesse sentido, atuar não significa essencialmente realizar movimentos e
ações externas. Esse seria o caso de crianças pequenas que precisam manipular a
realidade que as envolve, para entendê-la. Na maioria dos casos, essa atividade é
interna, mental, ainda que possa se basear em objetos físicos. Ao contar, comparar,
classificar, embora haja imobilidade do sujeito, ele está ativo mentalmente.

De acordo com Piaget, todas as crianças passam por quatro estágios


cognitivos mais ou menos na mesma idade, independentemente da cultura em que
vivem. Nenhum estágio pode ser omitido, uma vez que as habilidades adquiridas
em estágios anteriores são essenciais para os estágios seguintes. No estágio
sensório-motor a criança explora o mundo e desenvolve seus esquemas
principalmente por meio de seus sentidos e atividades motoras. Vai do nascimento
até o período de “linguagem significativa” (por volta de 2 anos). Durante esse
estágio, as crianças têm conceitos rudimentares dos objetos de seu mundo. Um

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conceito adquirido durante esse estágio é o de permanência do objeto: habilidade
de saber que um objeto não deixa de existir simplesmente porque saiu de nosso
campo de visão. Aos quatro meses, crianças que brincam com um objeto que será
depois escondido, agem como se ele jamais estivesse existido. Ao contrário, um
bebê com 10 meses procura ativamente um objeto que foi escondido embaixo de
um pano ou por trás de uma tela. “Ele tem a consciência de que o objeto continua
existindo, mesmo quando não está visível.” (PIAGET; INHELDER, 2003, p.20).

O sucesso em tarefas como essa marca o fim do estágio de inteligência


sensório-motora, pois é o resultado de uma habilidade recém-desenvolvida para
representar objetos e atos que não estão mais em seu campo de visão. Assim, as
crianças exibem a permanência de objetos quando não tem mais dificuldade de
conceitualizar a presença de um objeto fora do campo de visão. Estudos sugerem
que Piaget possa ter subestimado as habilidades infantis, questionando sobre a
natureza limitada das capacidades de um recém-nascido no domínio da integração
sensório- -motora, da integração intermodal e da percepção de objetos.

Os críticos de Piaget argumentam que um recém-nascido tem alguma forma


de integração de experiências sensoriais por meios das modalidades da visão, da
audição e do tato. Por exemplo, crianças recém-nascidas, quando dado suporte de
cabeça é adequado, podem buscar localizar, visualmente, a origem de sons

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emitidos no ambiente. Isso sugere uma habilidade bem-desenvolvida de integração
intermodal visual e auditiva. (GAZZANIGA; IVRY; MANGUN, 2006).

Baillageron (1990) demonstrou que crianças pequenas de apenas alguns


meses, normalmente percebem objetos parcialmente escondidos. Ela mostrava um
objeto para as crianças e colocava-o atrás de um painel vertical que impedia sua
visão. O painel era, então, derrubado, de duas formas distintas. Na primeira, o
painel era derrubado e batia no objeto colocado atrás dele, como seria esperado. Na
segunda, o painel era derrubado, mas o objeto havia sido removido secretamente,
fazendo com que o painel caísse direto na superfície da mesa. Nestas tarefas, as
crianças mostravam mais surpresa na segunda condição que na primeira.

Após vários estudos em cognição, Flavell et al. (1999) assim se manifestam a


respeito da teoria de Piaget, quanto aos estágios: A teoria de Piaget, entretanto, não
faz afirmações apenas gerais, mas muito fortes e específicas a respeito da
preponderância dos estágios da cognição em bebês, e estas afirmações não têm se
sustentado em pesquisas recentes. Existem simplesmente muitos exemplos de
competência mais precoce do que a esperada, muitas discrepâncias no nível de
desempenho que não parecem depender dos processos construtivos de ação sobre
o mundo com os quais Piaget definiu seus estágios. (FLAVELL, et al., 1999, p.64).

No modelo de Piaget, temos ainda três estágios que seguem o estágio de


inteligência sensório-motora. No estágio pré-operacional (dos 2 aos 7 anos), a
linguagem progride substancialmente e a criança começa a pensar simbolicamente,
usando símbolos, tais como palavras, para representar conceitos. No entanto, a
criança ainda não consegue fazer operações ou processos mentais reversíveis.
Neste estágio, a criança também é egocêntrica, isto é, não consegue distinguir suas
próprias perspectivas das de outras pessoas, nem consegue entender que há
pontos de vista diferentes dos seus. (PIAGET, 1971).

Dos 7 aos 11 anos, encontra-se o estágio de operações concretas. Nesse


período, há a emergência de muitas habilidades importantes de raciocínio. O
pensamento da criança, agora mais organizado, possui características de uma
lógica de operações reversíveis. Entretanto, durante esse estágio, elas inicialmente

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podem realizar operações quantitativas somente com eventos concretos. Não é
capaz de operar com hipóteses. (PIAGET, 1971).

E dos 11 anos em diante, durante o estágio de operações formais, as


crianças aprendem a fazer representações abstratas de relações, de acordo com
Piaget. Crianças nessa idade podem generalizar relações matemáticas e manifestar
pensamento hipotético-dedutivo – a habilidade de gerar e testar hipóteses sobre o
mundo. Piaget trouxe contribuições importantes, delimitando a linha do tempo do
desenvolvimento cognitivo e tentando mostrar quando as crianças são capazes de
realizar tarefas perceptivos, motoras e cognitivas complexas.

O fato de que a idade exata para um processo particular possa ocorrer ser
antes do que Piaget propôs, ou de que os estágios descritos por Piaget possam ser
mais graduais do que os mencionados, não diminui significativamente o valor de seu
conceito de desenvolvimento cognitivo. Além disso, descrever uma linha do tempo
de maturação cognitiva é, com modificações adequadas, útil, porque um objetivo da
neurociência cognitiva é relacionar a linha do tempo de desenvolvimento cognitivo
com o desenvolvimento neural para esclarecer as bases biológicas da cognição.

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Alguns temas da neurociência cognitiva

Atenção

A atenção define-se pelo direcionamento da consciência e estado de


concentração mental sobre determinado objeto. Caracteriza-se por selecionar,
organizar e filtrar as informações, funcionando como uma filmadora. É um processo
de extrema importância em determinadas áreas, como na educação, já que se
exige, por exemplo, a um aluno que preste atenção às matérias lecionadas pelo
professor, ignorando estímulos visuais, sonoros ou outros, como o que se está a
passar fora da sala de aula (estando, neste caso, relacionado também com o
problema da disciplina).

Além da atenção concentrada, em que se selecciona e processa apenas um


estímulo, também pode existir atenção dividida, em que são seleccionados e
processados diversos estímulos simultaneamente - como quando se conduz um
automóvel e se ouvem as notícias do rádio simultaneamente.

Para que a atenção atue são necessários três fatores básicos:

Fator fisiológico, onde depende de condições neurológicas e também da


situação contextual em que o indivíduo se encontra;

Fator motivacional: depende da forma como o estímulo se apresenta e


provoca interesse;

Concentração: depende do grau de solicitação e atuação do estímulo,


levando a uma melhor focalização da fonte de estímulo.

Quanto a fonte de estímulo podemos ter estímulo visual, auditivo e


sinestésico. É importante ressaltar que a atenção não é uma função psíquica
autônoma, visto que ela encontra-se vinculada à consciência. Por exemplo, o
indivíduo que está em obnubilação geralmente se encontra com alterações ao nível
da atenção, apresentando-se hipervigil. Contudo, um paciente em torpor se
encontra hipovigil.

Sem a atenção a atividade psíquica se processaria como um sonho vago,


difuso e contínuo. Segundo Alonso Fernández, ao concentrar a atenção escolhemos

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um tema no campo da consciência e elevamos este ao primeiro plano da mesma,
mantendo este tema rigorosamente perfilado, sem deixar-se desviar pelas
influências dos setores excêntricos do campo da consciência, podendo modificar o
tema escolhido com plena liberdade. Este tema poderia ser um objeto, uma ação,
um lugar, uma palavra, etc.

Distinguem-se duas formas de atenção: a espontânea (vigilância) e a ativa


(tenacidade). No primeiro caso ela resulta de uma tendência natural da atividade
psíquica orientar-se para as solicitações sensoriais e sensitivas, sem que nisso
intervenha um propósito consciente. A atenção voluntária é aquela que exige certo
esforço, no sentido de orientar a atividade psíquica para determinado fim.
Entretanto, o grau de concentração da atenção sobre determinado objeto não
depende apenas do interesse, mas do estado de ânimo e das condições gerais do
psiquismo.

O interesse e o pensamento são os dirigentes da atenção, sendo que a


intensidade com que a efetuamos é o grau de concentração alcançado. As
alterações da atenção desempenham um importante papel no processo de
conhecimento. Em geral estas alterações são secundárias, decorrem de
perturbações de outras funções das quais
depende o funcionamento normal da
atenção. A fadiga, os estados tóxicos e
diversos estados patológicos determinam
uma incapacidade de concentrar a
atenção.

Consciência

A consciência é uma qualidade da mente, considerando abranger


qualificações tais como subjetividade, autoconsciência, senciência, sapiência, e a
capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente. É um assunto muito
pesquisado na filosofia da mente, na psicologia, neurologia e ciência cognitiva.

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Alguns filósofos dividem consciência em consciência fenomenal, que é a
experiência propriamente dita, e consciência de acesso, que é o processamento das
coisas que vivenciamos durante a experiência (Block, 2004). Consciência fenomenal
é o estado de estar ciente, tal como quando dizemos "estou ciente" e consciência de
acesso se refere a estar ciente de algo ou alguma coisa, tal como quando dizemos
"estou ciente destas palavras". Consciência é uma qualidade psíquica, isto é, que
pertence à esfera da psique humana, por isso diz-se também que ela é um atributo
do espírito, da mente, ou do pensamento humano. Ser consciente não é exatamente
a mesma coisa que perceber-se no mundo, mas ser no mundo e do mundo, para
isso, a intuição, a dedução e a indução tomam parte.

Tomada de decisões

Tomada de decisão é um processo cognitivo que resulta na seleção de uma


opção entre várias alternativas. É amplamente utilizada para incluir preferência,
inferência, classificação e julgamento, quer consciente ou inconsciente. Existem
duas principais teorias de tomada de decisão - teorias racionais e teorias não
racionais- variando entre si num sem
número de dimensões.

Teorias racionais são por excelência


normativas, baseadas em conceitos de
maximização e otimização, vendo o decisor
como um ser de capacidades omniscientes
e de consistência interna.

Teorias não racionais, são por


excelência descritivas, e têm em consideração as capacidades limitantes da mente
humana em termos de conhecimento, memoria e tempo. Utilizam heurísticas como
procedimento cognitivo, fornecendo uma estrutura mais realística dos processos de
tomada de decisão.

Memória

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A memória é um processo psicológico básico que remete à codificação, ao
armazenamento e à recuperação da informação aprendida. A importância da
memória em nossa vida cotidiana motivou muitas pesquisas sobre esse tema. O
esquecimento também é o tema central de muitos estudos, já que muitas patologias
provocam amnésia, o que interfere gravemente no dia a dia.

O motivo pelo qual a memória configura um tema tão importante é que nela
reside boa parte da nossa identidade. Por outro lado, apesar do esquecimento no
sentido patológico nos preocupar, a verdade é que nosso cérebro precisa descartar
informações inúteis para dar lugar a novos aprendizados e acontecimentos
significativos. Neste sentido, o cérebro é um especialista em reciclar seus recursos.

As conexões neuronais mudam com o


uso ou o desuso destas. Quando retemos
informações que não são utilizadas, as
conexões neuronais vão se enfraquecendo
até desaparecer. Da mesma forma, quando
aprendemos algo novo criamos novas
conexões. Todos aqueles aprendizados que
podemos associar a outros conhecimentos ou
acontecimentos vitais serão mais facilmente
lembrados.

O conhecimento sobre a memória aumentou a causa do estudo de casos de


pessoas com um tipo de amnésia muito específico. Em particular, ajudou a
conhecer melhor a memória de curto prazo e a consolidação da memória
declarativa. O famoso caso H.M. reforçou a importância do hipocampo para
estabelecer novas lembranças. Em contrapartida, a lembrança das habilidades
motoras é controlada pelo cérebro, pelo córtex motor primário e pelos gânglios de
base.

A memória é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar (evocar)


informações disponíveis, seja internamente, no cérebro (memória biológica), seja
externamente, em dispositivos artificiais (memória artificial). Também é o
armazenamento de informações e fatos obtidos através de experiências ouvidas ou

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vividas. Focaliza coisas específicas, requer grande quantidade de energia mental e
deteriora-se com a idade. É um processo que conecta pedaços de memória e
conhecimentos a fim de gerar novas ideias, ajudando a tomar decisões diárias.

Os neurocientistas (psiquiatras, psicólogos e neurologistas) distinguem


memória declarativa de memória não-declarativa. A memória declarativa, grosso
modo, armazena o saber que algo se deu, e a memória não-declarativa o como isto
se deu.

A memória declarativa, ou de curto prazo como o nome sugere, é aquela que


pode ser declarada (fatos, nomes, acontecimentos, etc.) e é mais facilmente
adquirida, mas também mais rapidamente esquecida. Para abranger os outros
animais (que não falam e logo não declaram, mas obviamente lembram), essa
memória também é chamada explícita. Memórias explicitas chegam ao nível
consciente. Esse sistema de memória está associado com estruturas no lobo
temporal medial (ex: hipocampo, amígdala).

Psicólogos distinguem dois tipos de memória declarativa, a memória


episódica e a memória semântica. São instâncias da memória episódica as
lembranças de acontecimentos específicos. São instâncias da memória semântica
as lembranças de aspectos gerais.

Já a memória não-declarativa, também chamada de implícita ou procedural,


inclui procedimentos motores (como andar de bicicleta, desenhar com precisão ou
quando nos distraímos e vamos no "piloto automático" quando dirigimos). Essa
memória depende dos gânglios basais (incluindo o corpo estriado) e não atinge o
nível de consciência. Ela em geral requer mais tempo para ser adquirida, mas é
bastante duradoura.

Memória, segundo diversos estudiosos, é a base do conhecimento. Como tal,


deve ser trabalhada e estimulada. É através dela que damos significado ao
cotidiano e acumulamos experiências para utilizar durante a vida.

Hoje é possível afirmar que a memória não possui um único locus. Diferentes
estruturas cerebrais estão envolvidas na aquisição, armazenamento e evocação das
diversas informações adquiridas por aprendizagem.

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Memória de curto prazo

Depende do sistema límbico, envolvido nos processos de retenção e


consolidação de informações novas. Hoje em dia também se supõe que a
consolidação temporária da informação envolve estruturas como o hipocampo, a
amígdala, o córtex entorrinal e o giro para-hipocampal, sendo depois transferida
para as áreas de associação do neocórtex parietal e temporal. As vias que chegam
e que saem do hipocampo também são importantes para o estudo da anatomia da
memória. Inputs (que chegam) são constituídos pela via fímbria-fórnix ou pela via
perfurante. Importantes projecções de CA1 para os córtices subiculares adjacentes
fazem parte dos outputs (que saem) do hipocampo. Existem também duas vias
hipocampais responsáveis por interconexões do próprio sistema límbico, como o
Circuito de Papez (hipocampo, fórnix, corpos mamilares, giro do cíngulo, giro para-
hipocampal e amígdala), e a segunda via projeta-se de áreas corticais de
associação, por meio do giro do cíngulo e do córtex entorrinal, para o hipocampo
que, por sua vez, projeta-se através do núcleo septal e do núcleo talâmico medial
para o córtex pré-frontal, havendo então o armazenamento de informações que
reverberam no circuito ainda por algum tempo.

Memória de trabalho

Compreende um sistema de controle de atenção (executiva central), auxiliado


por dois sistemas de suporte (Alça Fonológica e Bloco de Notas Visuoespacial) que
ajudam no armazenamento temporário e na manipulação das informações. O
executivo central tem capacidade limitada e função de selecionar estratégias e
planos, tendo sua atividade relacionada ao funcionamento do lobo frontal, que
supervisiona as informações. Também o cerebelo está envolvido no processamento
da memória operacional, atuando na catalogação e manutenção das sequências de
eventos, o que é necessário em situações que requerem o ordenamento temporal
de informações. O sistema de suporte vísuo-espacial tem um componente visual,
relacionado à região occipital e um componente espacial, relacionado a regiões do
lobo parietal. Já no sistema fonológico, a articulação subvocal auxilia na

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manutenção da informação; lesões nos giros supramarginal e angular do hemisfério
esquerdo geram dificuldades na memória verbal auditiva de curta duração. Esse
sistema está relacionado à aquisição de linguagem.

Memória de longo prazo

Memória explícita: Depende de estruturas do lobo temporal medial (incluindo


o hipocampo, o córtex entorrinal e o córtex para-hipocampal) e do diencéfalo. Além
disso, o septo e os feixes de fibras que chegam do prosencéfalo basal ao
hipocampo também parecem ter importantes funções. Embora tanto a memória
episódica como a semântica dependam de estruturas do lobo temporal medial, é
importante destacar a relação dessas estruturas com outras. Por exemplo,
pacientes idosos com disfunção dos lobos frontais têm mais dificuldades para a
memória episódica do que para a memória semântica. Já lesões no lobo parietal
esquerdo apresentam prejuízos na memória semântica.

Memória implícita: A aprendizagem de habilidades motoras depende de


aferências corticais de áreas sensoriais de associação para o corpo estriado ou para
os núcleos da base. Os núcleos caudado e putâmen recebem projeções corticais e
enviam-nas para o globo pálido e outras estruturas do sistema extrapiramidal,
constituindo uma conexão entre estímulo e resposta. O condicionamento das
respostas da musculatura esquelética depende do cerebelo, enquanto o
condicionamento das respostas emocionais depende da amígdala. Já foram
descritas alterações no fluxo sanguíneo, aumentando o do cerebelo e reduzindo o
do estriado no início do processo de aquisição de uma habilidade. Já ao longo
desse processo, o fluxo do estriado é que foi aumentado. O neo-estriado e o
cerebelo estão envolvidos na aquisição e no planeamento das ações, constituindo,
então, através de conexões entre o cerebelo e o tálamo e entre o cerebelo e os
lobos frontais, elos entre o sistema implícito e o explícito.

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Neurociência, Pedagogia e Neuropsicopedagogia

A neuropsicopedagogia é o campo das neurociências em que ocorre a


intersecção das ciências cognitivas com as ciências do comportamento, e ela
engloba ambas. A neuropsicopedagogia tem ramificações que alcançam muitas
outras facetas do conhecimento como a psiquiatria. Os psiquiatras se preocupam
em saber como, onde e em quais circuitos cerebrais ocorre a ação medicamentosa.
Esquizofrenia, depressão, ansiedade, transtornos obsessivo-compulsivos e outras
manifestações psiquiátricas são hoje estudadas à luz de seu substrato biológico
cerebral. Nesse contexto, o
neuropsicopedagogo participa da
avaliação das funções cognitivas e
da terapia cognitivo-comportamental.

A tarefa da ciência neural hoje


é a de fornecer explicações do
comportamento em termos da
atividade cerebral, de explicar como
milhões de células neurais
individuais, no cérebro, atuam para produzir o comportamento e como, elas são
influenciadas pelo ambiente. Existem alguns questionamentos da parte de alguns
pesquisadores acerca da análise da função cerebral que a neurociências se ocupa,
isto, questiona-se se estas são suficientemente refinadas para verdadeiramente
esclarecer sobre a relação entre comportamento humano e função cerebral.
(BARROS, et al., 2004).

No entanto, encontramos respostas esclarecedoras a esses


questionamentos. O desenvolvimento da neurociência cognitiva conduz a uma
epistemologia não-reducionista, que trabalha com distintos, mas inter-relacionados
níveis de análise. Diferentes metodologias são usadas para a observação de
diferentes níveis de organização da estrutura e funções cerebrais, obtendo-se
entendimento detalhado de mecanismos cognitivos no cérebro animal. Modelos
mais amplos procuram integrar esse conhecimento empírico e descobrir os
princípios fundamentais das funções cognitivas de cérebro. (JÚNIOR, 2001).

21
A neuropsicopedagogia, um dos campos de estudo da neurociência é uma
área de conhecimento que trata da relação entre cognição e comportamento e a
atividade do sistema nervoso em condições normais e patológicas. A
neuropsicopedagogia cognitiva está preocupada com os padrões de desempenho
cognitivo intacto e deficiente apresentados pelos pacientes com lesão cerebral, pois
para os neuropsicopedagogos cognitivos, o estudo de pacientes com lesão cerebral
pode revelar muito sobre a cognição humana normal. (EYSENCK; KEANE, 2007;
COSENZA; FUENTES; MALLOY-DINIZ, 2008).

Este campo compreende o estudo da relação entre as funções neurais e


psicológicas e o estudo do comportamento ou mudanças cognitivas que
acompanham lesões em partes específicas do cérebro sendo que estudos
experimentais com indivíduos normais também são comuns. Assim, se um indivíduo
com lesão em determinada área cerebral mostra um déficit cognitivo específico,
então essa área poderá estar envolvida na função cognitiva afetada. O estudo
aprofundado de indivíduos com lesão permite compreender o funcionamento
cognitivo normal.

A pedagogia também tem utilizado dos conhecimentos dos mecanismos


cerebrais envolvidos na aprendizagem. À medida que ocorre maturação e a
especialização das redes neuronais ao longo do desenvolvimento infantil e a
participação das diferentes áreas cerebrais na aprendizagem, o material aprendido,
por exemplo, a alfabetização, influencia a organização cerebral. (MENDONÇA;
AZAMBUJA; SCHLECHT, 2008).

Há uma relação direta entre as neurociências e a educação, se


considerarmos a significância do cérebro no processo de aprendizagem do
indivíduo, assim como o contrário. O estudo da aprendizagem une de modo
inevitável a educação e a neurociência. Esta última incide o seu estudo na relação
entre o funcionamento neurológico e a atividade psicológica, dando ênfase à analise
do comportamento, como a manifestação última da atividade do sistema nervoso.
(POSNER; ROTHBART, 2005).

A aprendizagem depende da neuroplasticidade e pode ser entendida como


um processo pelo qual o sistema nervoso reestrutura funcionalmente suas vias de

22
processamento e representação da informação. A neuroplasticidade é a capacidade
que o encéfalo possui em se reorganizar ou readaptar frente a novos estímulos,
sejam eles positivos ou negativos. As sinapses ou conexões entre os neurônios se
modificam durante o processo de aprendizagem, quando há evocação da memória,
quando adquirimos novas habilidades. Ao analisar os neurônios após um processo
de aprendizagem, pode-se observar várias modificações estruturais que ocorreram,
tais como o brotamento de espículas dendríticas, brotamento axonal colateral e
desmascaramento de sinapses silentes.

A neuroplasticidade possibilita a reorganização da estrutura do encéfalo e


constitui a fundamentação neurocientífica do processo de aprendizagem. As
estratégias pedagógicas devem utilizar recursos que sejam multissensoriais, para
ativação de múltiplas redes neurais que estabelecerão associação entre si. Se as
informações/experiências forem repetidas, a atividade mais frequente dos neurônios
relacionados a elas, resultará em neuroplasticidade e produzirá sinapses mais
consolidadas.

A sociedade criou expectativas em relação ao que as neurociências podem


trazer à educação, sendo algumas dessas crenças falsas. A procura de respostas
não deve incidir na questão de como a ciência do cérebro é aplicada à prática
educativa, mas sim naquilo que os educadores precisam saber e como podem ser
informados pela investigação neurocientífica. O ponto de partida para o
entendimento mútuo passa pela utilização de um vocabulário que seja igualmente
entendido por neurocientistas e educadores. Os próprios problemas de investigação
devem responder a questões elaboradas pelo trabalho conjunto de modo a ir de
encontro aos reais problemas que ocorrem nos contextos educativos. Quanto maior
for o diálogo, menos espaço haverá para interpretações erradas, sendo mais
esclarecedor por todas as partes.

23
O desenvolvimento da neurociência é verdadeiramente fascinante e gera
grandes esperanças de que, em breve, novos tratamentos estarão disponíveis para
uma grande gama de transtornos e distúrbios do sistema nervoso que debilitam e
incapacitam milhões de pessoas anualmente. Concluindo, não há como separar o
comportamento de sua base biológica. Entretanto é importante ressaltar que o
sistema nervoso é apenas condição necessária para que o comportamento, os
pensamentos e sentimentos ocorram. Nunca foi e nunca será pretensão da
neurociência afirmar que o sistema nervoso seja condição suficiente para a
emergência de tais processos. Não cabe à neurociência discutir construtos como a
consciência e nem tampouco tentar solucionar dilemas metafísicos, tais como a
possível dualidade mente/cérebro, a questão dos qualia ou a causação psicofísica.

A despeito do que dizem os críticos da neurociência, esta tem somente um


único objetivo: tentar compreender o sistema nervoso, e nada mais! O máximo que
podemos afirmar é que os nossos pensamentos e sentimentos são produtos de
estímulos que delineiam e modelam o encéfalo, sendo que o ambiente social,
atuando sobre um substrato genético, é uma poderosa força moduladora para este
processo.

Relação entre neurociência e educação

Os comportamentos que adquirimos ao longo de nossas vidas resultam do


que chamamos de aprendizagem ou aprendizado. Aprender é uma característica
intrínseca do ser humano, essencial para sua sobrevivência. A educação visa ao
desenvolvimento de novos comportamentos num indivíduo, proporcionando-lhe
recursos que lhe permitam transformar sua prática e o mundo em que vive. Educar

24
é proporcionar oportunidades e orientação para aprendizagem, para aquisição de
novos comportamentos. Aprendizagem, por sua vez, requer várias funções mentais
como atenção, memória, percepção, emoção, função executiva, entre outras. E,
portanto, depende do cérebro.

O Sistema Nervoso (SN), por meio de seu integrante mais complexo, o


cérebro, recebe e processa os estímulos ambientais e elabora respostas
adaptativas que garantem a sobrevivência do indivíduo e a preservação da espécie.
A evolução nos garantiu um cérebro capaz de aprender, para garantir nosso bem-
estar e sobrevivência e não para ter sucesso na escola. A menos que o bom
desempenho escolar signifique esse bem-estar e sobrevivência do indivíduo. Na
escola o aluno aprende o que é significativo e relevante para o contexto atual de sua
vida. Se a “sobrevivência” é a nota, o cérebro do aprendiz selecionará estratégias
que levem à obtenção da nota e não, necessariamente, à aquisição das novas
competências.

Tabela - Princípios da neurociência com potencial aplicação no ambiente de sala de aula.

Fonte: Bartoszeck, 2006.

25
O comportamento humano resulta da atividade do SN, do conjunto de células
nervosas, ou redes neurais, que o constituem. O comportamento depende do
número de neurônios e de suas substâncias químicas, da atividade destas células,
da forma como neurônios se Informação, para o neurônio, é a alteração das suas
características eletroquímicas. Quando o indivíduo está em interação com o mundo,
exibindo um comportamento, vários conjuntos de neurônios, em diferentes áreas do
SN estão em funcionamento, ativados, trocando informações. As funções mentais
são produzidas pela atividade do SN e resultam do cérebro em funcionamento.
Funções relacionadas à cognição e às emoções, presentes no cotidiano e nas
relações sociais, como sentir e perceber, gostar e rir, dormir e comer, falar e se
movimentar, compreender e calcular, ter atenção, lembrar e esquecer, planejar,
julgar e decidir, ajudar, pensar, imaginar, se emocionar, são comportamentos que
dependem do funcionamento do cérebro. Educar e aprender também.

As neurociências são ciências naturais, que descobrem os princípios da


estrutura e do funcionamento neurais, proporcionando compreensão dos fenômenos
observados. A. Educação tem outra natureza e sua finalidade é criar condições
(estratégias pedagógicas, ambiente favorável, infraestrutura material e recursos
humanos) que atendam a um objetivo específico, por exemplo, o desenvolvimento
de competências pelo aprendiz, num contexto particular. A educação não é
investigada e explicada da mesma forma que a neurotransmissão. Ela não é
regulada apenas por leis físicas, mas também por aspectos humanos que incluem
sala de aula, dinâmica do processo ensino aprendizagem, escola, família,
comunidade, políticas públicas.
Descobertas em neurociências não se
aplicam direta e imediatamente na
escola. O trabalho do educador pode ser
mais significativo e eficiente se ele
conhece o funcionamento cerebral, o que
lhe possibilita desenvolvimento de
estratégias pedagógicas mais
adequadas.

26
Aprender não depende só do cérebro. É importante esclarecer que as
neurociências não propõem uma nova pedagogia e nem constituem uma panaceia
para a solução das dificuldades da aprendizagem e dos problemas da educação.
Elas fundamentam a prática pedagógica que já se realiza, demonstrando que,
estratégias pedagógicas que respeitam a forma como o cérebro funciona, tendem a
ser mais eficientes.

A neurociência por si só não pode fornecer o conhecimento específico


necessário para elaboração de ambientes de aprendizagem em áreas de conteúdo
escolar específicas, particulares. Mas fornecendo “insights” sobre as capacidades e
limitações do cérebro durante o processo de aprendizagem, a neurociência pode
ajudar a explicar porque alguns ambientes de aprendizagem funcionam e outros
não. Descobertas em neurociências não se aplicam direta e imediatamente na
escola. A aplicação desse conhecimento no contexto educacional tem limitações. As
neurociências podem informar a educação, mas não explicá-la ou fornecer
prescrições, receitas que garantam resultados. Teorias psicológicas baseadas nos
mecanismos cerebrais envolvidos na aprendizagem podem inspirar objetivos e
estratégias educacionais.

A inclusão dos fundamentos neurobiológicos do processo ensino-


aprendizagem na formação inicial do educador proporcionará nova e diferente
perspectiva da educação e de suas estratégias pedagógicas, influenciando também
a compreensão dos aspectos sociais, psicológicos, culturais e antropológicos
tradicionalmente estudados pelos pedagogos.

27
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