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CADERNO

DE
ESTUDOS
SUMÁRIO

1 GRAVAÇÕES DAS TRANSMISSÕES E PALESTRAS AO VIVO .............. 2


2 CURSO EXPRESS .......................................................................................... 3
3 PALESTRANTES ........................................................................................... 4
4 INTRODUÇÃO................................................................................................... 6
5 SINERGIAS PARA ABORDAR DESAFIOS EDUCACIONAIS ..................... 8
DIÁLOGO ENTRE NEUROCIÊNCIA E PSICOPEDAGOGIA: EXPLORANDO

6 FORMAÇÃO DOCENTE: COMO A COMPREENSÃO DO FUNCIONAMENTO


CEREBRAL PODE IMPACTAR O ENSINO E A APRENDIZAGEM .......... 11

7 NEURODESENVOLVIMENTO E PLASTICIDADE CEREBRAL .................. 19


8 QUAL É A RELAÇÃO ENTRE A PLASTICIDADE E O PROCESSO DE
APRENDIZADO? .......................................................................................... 21

9 NEUROPLASTICIDADE E A DIDÁTICA ..................................................... 24


10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 27
11 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 29
1. GRAVAÇÕES DAS TRANSMISSÕES E
PALESTRAS AO VIVO
Clique sobre o vídeo para assistir.

PARTE 01

PARTE 02

PARTE 03

PARTE 04
2. CURSO EXPRESS

"EDUCACIONAL
EMOCIONAL"
MINISTRADO PELO PROFESSOR JULIO
LUCHMANN, NEUROCIENTISTA E
PSICOPEDAGOGO.

O CURSO ESTÁ DIVIDIDO EM 11 VÍDEOS. PARA ASSISTI-LOS, CLIQUE NO TEMA


DESEJADO.

1 - "EDUCAÇÃO EMOCIONAL" 6 - "POSIÇÃO DE TRENDELEMBURG"

2 - "MANTENHA TUDO ORGANIZADO" 7 - "MUDE SEU AMBIENTE"

3 - "LINGUAGEM ASSERTIVA" 8 - "USE SUA IMAGINAÇÃO”

4 -"EFEITO PSICOSSOMÁTICO" 9 - "CIRANDA DA APRENDIZAGEM"

"10 - "A PRÁTICA LEVA A


5 - "QUATRO LEIS DA EMOÇÃO"
TRANSFORMAÇÃO"

"11 - "RAZÃO E EMOÇÃO"


CLIQUE PARA VISITAR AS REDES SOCIAIS DE NOSSOS PALESTRANTES

André Codea Claudia Diniz Daniela Barreto Ferreira


Mestre em Ciência da Motricidade Mestre em Saúde Mental, Neuropsicopedagoga e mestre
Humana pedagoga e fonoaudióloga em Educação

Danilo Dias Fátima Vasconcelos Lucília Panisset


Psicopedagogo e intérprete de Doutora em Educação e Doutora em Gestão do Conhecimento
Libras psicomotricista e psicopedagoga

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utilizado pelos palestrantes no
CLIQUE PARA VISITAR AS REDES SOCIAIS DE NOSSOS PALESTRANTES

Marta Relvas Michelle Rebello Nelly Narcizo de Souza


Doutora em Educação e Especialista em Neurociência Doutora em Educação, especialista
neurocientista Pedagógica em Neuropsicologia e professora

Regina Felício Renata Cyríaco Renata Vetere


Psicopedagoga, designer de jogos e Fisioterapeuta e psicopedagoga Doutora em Psicologia Social
especialista em Gamificação

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utilizado pelos palestrantes no
4. INTRODUÇÃO
Bem-vindo(a) ao caderno de estudos do II Seminário
Internacional sobre Neuroeducação do Instituto
Casagrande. A neuroeducação é uma área interdisciplinar
que une a neurociência com a pedagogia para transformar o
cenário educacional. Neste caderno, embarcaremos em
uma jornada pelo mundo da aprendizagem e do
desenvolvimento humano, explorando alguns tópicos
importantes e que promovem uma abordagem
fundamentada cientificamente para a educação.

A união da neurociência com a pedagogia, conhecida como


neuroeducação, tem sido um catalisador para o progresso
na maneira como entendemos, projetamos e
implementamos a educação. Como resultado, a educação
não é mais vista apenas como um processo de ensino, mas
como um processo de aprendizagem, individualizado e
sensível às nuances do funcionamento cerebral e das
necessidades emocionais dos alunos.

A neuroeducação não é apenas uma teoria, mas um campo


em evolução que tem o potencial de melhorar
significativamente a qualidade da educação, tornando-a
mais eficaz, inclusiva e adaptada às necessidades
individuais dos alunos. Compreender o funcionamento
cerebral e como ele interage com os ambientes de
aprendizado é a chave para transformar a educação em
uma jornada de descoberta, crescimento e realização para
todos os estudantes.
Que este caderno de estudos seja uma fonte valiosa de
conhecimento e inspiração para todos os educadores,
estudantes e pesquisadores que buscam uma educação
mais informada pela ciência e mais atenta às necessidades
individuais de cada aluno.

APROVEITE O CONTEÚDO!
5. DIÁLOGO ENTRE NEUROCIÊNCIA E
PSICOPEDAGOGIA: EXPLORANDO SINERGIAS
PARA ABORDAR DESAFIOS EDUCACIONAIS
A interseção entre neurociência e psicopedagogia tem se
revelado uma área promissora para abordar os desafios
educacionais contemporâneos de maneira mais eficaz e
embasada cientificamente. A colaboração entre esses
campos oferece reflexões valiosas sobre como o cérebro
aprende e como as práticas pedagógicas podem ser
planejadas para melhor atender às necessidades dos
alunos.

A neurociência nos proporciona uma compreensão profunda


dos processos neurais subjacentes à aprendizagem, como a
plasticidade cerebral, que evidencia a capacidade do
cérebro de se adaptar e reorganizar em resposta às
experiências. A psicopedagogia, por sua vez, concentra-se
na compreensão dos aspectos cognitivos e emocionais do
aprendizado. A união desses campos possibilita a
identificação de estratégias pedagógicas que consideram
tanto a natureza cerebral única de cada aluno quanto suas
características individuais.

Na atualidade, existem diversas perspectivas sobre o


processo de aprendizagem. A pedagogia, por exemplo, se
concentra nos métodos de ensino, enquanto a
psicopedagogia estuda a aprendizagem em geral,
independentemente de ser normal ou patológica (França e
Araújo, 2020).
De acordo com os autores França e Araújo (2020), a
aprendizagem a nível patológico ocorre quando o sujeito
apresenta algum transtorno ou distúrbio de aprendizagem,
como dislexia, discalculia, disortografia, autismo ou
transtorno de fala.

O avanço dos estudos em ensino e aprendizagem trouxe à


tona a neurociência educacional, uma área que se ocupa de
entender como o sistema nervoso funciona na
aprendizagem humana. O cérebro humano foi estudado
durante muitos séculos, e hoje sabemos que cada área do
cérebro é responsável por uma função específica, como
linguagem, matemática, artes e psicomotricidade. A
neurociência educacional busca estimular as áreas do
cérebro responsáveis pelas funções cognitivas, a fim de
melhorar o processo de aprendizagem.

Ao explorar essa sinergia, educadores podem adotar


abordagens diferenciadas em sala de aula, considerando a
diversidade de estilos de aprendizagem e necessidades
específicas dos estudantes. Incorporar intervalos de
descanso para otimizar a retenção de informações, utilizar
métodos de ensino baseados em evidências que estimulem
a atenção e a memória, e fomentar a autonomia do aluno no
processo de aprendizado são algumas das maneiras pelas
quais a união entre neurociência e psicopedagogia pode ser
efetiva.
Nesse diálogo, é essencial promover a formação contínua
dos educadores, capacitando-os para interpretar achados
neurocientíficos e aplicá-los de maneira relevante no
contexto educacional. Além disso, a pesquisa
interdisciplinar contínua entre neurocientistas e
psicopedagogos pode levar a avanços na compreensão das
dificuldades de aprendizagem e ao desenvolvimento de
intervenções mais precisas.

A colaboração entre neurociência e psicopedagogia


representa um marco na busca por um ensino mais inclusivo
e eficaz. À medida que novas descobertas sobre o
funcionamento cerebral se entrelaçam com práticas
pedagógicas, abre-se um vasto horizonte de possibilidades
para aprimorar a educação e capacitar os alunos para
enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.
6. FORMAÇÃO DOCENTE: COMO A COMPREENSÃO
DO FUNCIONAMENTO CEREBRAL PODE IMPACTAR
O ENSINO E A APRENDIZAGEM

Nesse diálogo, é essencial promover a formação contínua


dos educadores, capacitando-os para interpretar achados
neurocientíficos e aplicá-los de maneira relevante no
contexto educacional. Além disso, a pesquisa
interdisciplinar contínua entre neurocientistas e
psicopedagogos pode levar a avanços na compreensão das
dificuldades de aprendizagem e ao desenvolvimento de
intervenções mais precisas.

A colaboração entre neurociência e psicopedagogia


representa um marco na busca por um ensino mais inclusivo
e eficaz. À medida que novas descobertas sobre o
funcionamento cerebral se entrelaçam com práticas
pedagógicas, abre-se um vasto horizonte de possibilidades
para aprimorar a educação e capacitar os alunos para
enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.

6. 1. COMPREENSÃO DOS PROCESSOS COGNITIVOS

A compreensão dos processos cognitivos desempenha um


papel central na formação docente informada pela
neurociência. Os processos cognitivos se referem às funções
mentais que permitem aos seres humanos adquirir,
processar, armazenar e utilizar informações. Estes processos
incluem memória, atenção, linguagem, resolução de
problemas, raciocínio, tomada de decisões e outros. Ao
entender as bases neurais dos processos cognitivos, os
educadores podem aprimorar suas abordagens
pedagógicas de várias maneiras:
a. Adaptação de Estratégias de Ensino: conhecendo a
maneira como a memória funciona, por exemplo, os
educadores podem usar estratégias de ensino que otimizam
a retenção de informações. Isso pode envolver o uso de
técnicas de metodologias de ensino ativas.

b. Foco na Atenção e Concentração: a neurociência fornece


insights sobre como a atenção funciona, incluindo sua
capacidade limitada. Os educadores podem projetar
ambientes de aprendizagem que minimizem distrações e
ajudem os alunos a manter o foco nas tarefas educacionais.

c. Promoção do Pensamento Crítico: compreender os


processos de raciocínio e resolução de problemas permite
que os educadores incentivem o pensamento crítico e a
abordagem analítica. Estratégias que desafiam os alunos a
resolver problemas complexos e a questionar informações
podem ser aplicadas com base nesse conhecimento.

d. Abordagens Multissensoriais: saber como o cérebro


processa informações sensoriais, como visão e audição,
pode levar à implementação de abordagens
multissensoriais no ensino. Isso pode ser particularmente
benéfico para alunos com diferentes estilos de aprendizado.

e. Metodologias Baseadas em Evidências: a neurociência


também contribui para o desenvolvimento de metodologias
de ensino baseadas em evidências, que são apoiadas por
pesquisas científicas sólidas. Isso garante que as
abordagens pedagógicas sejam eficazes e confiáveis.
f. Identificação de Dificuldades de Aprendizagem: a
compreensão dos processos cognitivos ajuda os educadores
a identificar mais precisamente as dificuldades de
aprendizagem em seus alunos. Por exemplo, a dislexia, um
transtorno de leitura, está relacionada a diferenças no
processamento da linguagem no cérebro. O reconhecimento
precoce dessas dificuldades permite a implementação de
intervenções adequadas.

A compreensão dos processos cognitivos, apoiada pela


neurociência, oferece aos educadores uma base sólida para
melhorar suas práticas pedagógicas. Isso não apenas
otimiza o processo de ensino e aprendizagem, mas também
ajuda a identificar e apoiar os alunos em suas necessidades
educacionais específicas. A formação docente informada
pela neurociência reconhece que o cérebro é o epicentro da
aprendizagem e adapta as estratégias pedagógicas de
acordo para promover o sucesso acadêmico.

6. 2. PERSONALIZAÇÃO DO ENSINO

A personalização do ensino é uma abordagem pedagógica


que reconhece as diferenças individuais entre os alunos e
adapta as estratégias de ensino para atender às suas
necessidades específicas. A compreensão do
funcionamento cerebral desempenha um papel crucial na
eficácia da personalização do ensino, uma vez que cada
aluno possui um perfil cognitivo único.
A neurociência revela que o cérebro humano é altamente
variável. Os padrões de processamento de informações, as
habilidades cognitivas e os ritmos de aprendizado podem
diferir consideravelmente de um aluno para outro. Além
disso, fatores como memória de trabalho, atenção seletiva e
estilos de aprendizado são influenciados pelo
funcionamento cerebral individual.

Do ponto de vista fisiológico, o cerebelo ou


pequeno cérebro é a parte do encéfalo
responsável pela aprendizagem e memória
procedimental ou dos comportamentos
cotidianos como caminhar, falar, andar de
bicicleta e nadar, dentre outros
comportamentos. Benarós et al. (2010, apud
Grossi, Leroy, Almeida, 2015, p. 37).

Ao integrar o conhecimento neurocientífico na formação


docente, os educadores podem desenvolver uma
compreensão mais profunda das variações cognitivas entre
os alunos. Isso permite a criação de estratégias de ensino
que se adaptam às necessidades específicas de cada aluno,
levando em consideração suas forças e fraquezas.

Por exemplo, alguns alunos podem se beneficiar de


abordagens de aprendizado mais visuais, enquanto outros
podem preferir estratégias mais auditivas. A personalização
do ensino também leva em conta o ritmo de aprendizado de
cada aluno, permitindo que avancem em um tópico quando
estiverem prontos, ou recebam suporte adicional quando
necessário.
Além disso, a personalização do ensino pode ser
especialmente relevante para alunos com necessidades
educacionais especiais. A compreensão das diferenças
cerebrais em alunos com condições como dislexia, TEA
(Transtorno do Espectro Autista) ou TDAH (Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade) permite que os
educadores adaptem suas abordagens para atender às
necessidades específicas desses alunos, proporcionando
um ambiente de aprendizagem mais inclusivo.

Em resumo, a personalização do ensino, informada pela


neurociência, reconhece a singularidade de cada aluno e
ajusta as estratégias pedagógicas de acordo. Isso não
apenas melhora a eficácia do ensino, mas também promove
um ambiente de aprendizagem mais inclusivo e equitativo,
onde todos os alunos têm a oportunidade de alcançar seu
potencial máximo. A compreensão das diferenças cerebrais
entre os alunos é, portanto, fundamental para a evolução da
educação personalizada no século XXI.

6.3. MOTIVAÇÃO E ENGAJAMENTO

A compreensão do cérebro humano revela como ele


responde à motivação e ao engajamento. Estratégias
pedagógicas que estimulam o interesse e a participação dos
alunos têm bases neurocientíficas sólidas, tornando o
processo de aprendizagem mais envolvente e eficaz.
A motivação está intrinsecamente ligada à ativação de
circuitos cerebrais específicos. O sistema de recompensa do
cérebro, que envolve estruturas como o núcleo accumbens e
a liberação de dopamina, desempenha um papel central na
motivação. De acordo com Lucas Neto (2014, p. 11):

O Núcleo Accumbens Humano (Acc) é a principal


estrutura do Estriado Ventral. Constitui uma interface
límbico-motora e tem um papel central nos circuitos
de recompensa cerebral. Cumpre funções
emocionais, motivacionais e psicomotoras, estando
envolvido em diversas patologias neuropsiquiátricas.

Quando os alunos experimentam uma recompensa


intrínseca (uma sensação de realização pessoal) ou
extrínseca (como elogios ou notas boas), seus cérebros
liberam dopamina, o que reforça o comportamento
motivado.

A compreensão dessa neurobiologia tem implicações


importantes para os educadores. Eles podem usar
estratégias que ativam o sistema de recompensa dos
alunos, tornando o processo de aprendizagem mais
motivador. Isso inclui a criação de metas alcançáveis,
oferecendo feedback positivo e proporcionando
oportunidades para os alunos explorarem tópicos que
despertem seu interesse.

DICA DE LEITURA: "A NEUROBIOLOGIA


DA APRENDIZAGEM PARA UMA
ESCOLA HUMANIZADORA –
OBSERVAR, INVESTIGAR E ESCUTAR”
DE MARTA RELVAS, PUBLICADO
PELA WAK EDITORA.
O engajamento dos alunos está relacionado à ativação de
áreas cerebrais associadas à atenção e ao processamento
de informações. Quando os alunos estão ativamente
envolvidos em uma tarefa, seus cérebros estão mais
propensos a criar conexões neurais duradouras. Isso ocorre
porque a atenção e o esforço mental direcionados para uma
tarefa promovem a plasticidade cerebral, a capacidade do
cérebro de se adaptar e aprender.
Estratégias pedagógicas que promovem o engajamento
incluem:

Aprendizado Ativo: envolver os alunos em atividades práticas


e discussões que os desafiem a aplicar o que aprenderam.

Relevância: tornar o conteúdo relevante para a vida dos


alunos, mostrando como ele se aplica ao mundo real.

Variedade: utilizar diferentes abordagens de ensino, como


multimídia, debates e atividades práticas, para manter o
interesse e a atenção dos alunos.

Feedback Construtivo: fornecer feedback específico que


ajude os alunos a melhorar e se sintam competentes.

Autonomia: oferecer escolhas e oportunidades para que os


alunos assumam o controle de seu próprio aprendizado.
A neurociência também destaca a importância da
motivação intrínseca, que vem de um desejo interno de
aprender e crescer. Estudiosos do cérebro identificaram que
a motivação intrínseca está associada a um aprendizado
mais profundo e duradouro. Ela pode ser promovida através
de estratégias que permitem que os alunos explorem seus
próprios interesses e escolham seu caminho de aprendizado.
Relvas (2010) cita,
O processo de aprendizagem é desencadeado a partir
da motivação. Esse processo se dá no interior do
sujeito, estando, entretanto, intimamente ligado às
relações de troca que o mesmo estabelece com o
meio, principalmente seus professores e colegas. Nas
situações escolares, o interesse é indispensável para
que o estudante tenha motivos de ação para
apropriar-se do conhecimento. (RELVAS, 2010, p. 92).

Em resumo, a neurociência nos ensina que a motivação e o


engajamento dos alunos são processos neurais complexos
que podem ser influenciados por estratégias pedagógicas
eficazes. Educadores que compreendem a neurobiologia da
motivação e o impacto do engajamento no cérebro podem
criar ambientes de aprendizado mais estimulantes e
eficazes. Isso não só melhora o processo de ensino-
aprendizagem, mas também ajuda a cultivar uma paixão
pelo aprendizado que pode durar toda a vida.

DICA DE FILME: “DIVERTIDA MENTE”,


DA DISNEY PIXAR. FILME DE 2015,
DIRIGIDO PELO DIRETOR PETE
DOCTER.
7. NEURODESENVOLVIMENTO E PLASTICIDADE
CEREBRAL
Por mais de um século, prevaleceu na Neurociência o dogma
de que o cérebro mantinha sua estrutura inalterada em
adultos, e que a adição de novos neurônios ao cérebro de um
mamífero adulto era impossível de ser observada devido às
limitações das técnicas da época para visualizar neurônios
em fase mitótica (processo de divisão celular).

De acordo com Henze (2023) a revolução nesses conceitos


ocorreu entre as décadas de 1960 e 1990. No final dos anos
1960, surgiu o conceito de "neuroplasticidade", que
implicava em mudanças morfológicas em neurônios do
sistema nervoso. No início dos anos 1960, um estudo foi
publicado relatando a presença de novos neurônios em
várias regiões do cérebro de ratos jovens e adultos, incluindo
o neocórtex e o bulbo olfatório. Estes neurônios foram
chamados de "microneurônios" e ganharam
reconhecimento por seu papel no aprendizado e na
memória. Utilizando microscopia eletrônica, Raisman (1969)
demonstrou uma reorganização anatômica no cérebro de
ratos adultos após lesões nos axônios do núcleo do septo.

INDICAÇÃO DE VÍDEO:
"NEUROPLASTICIDADE CEREBRAL: O
QUE É E O QUE NÃO É”, DO CANAL
“MINUTOS PSÍQUICOS”
CLIQUE SOBRE O ÍCONE PARA
ASSISTIR
Mesmo com estes resultados, ainda existia muita
incredulidade de boa parte dos pesquisadores em
relação à neurogênese em cérebros humanos
adultos. Somente na década de 90, viu-se um
aumento das evidências relacionadas à plasticidade
do sistema nervoso central. Em 1998, foram
encontrados novos neurônios, sendo formados no
hipocampo do cérebro de seres humanos adultos.
Após a década de 90, o dogma de que o cérebro de
humanos adultos é imutável e que neurônios não
podem ser adicionados ao cérebro de mamíferos
eram falsos e o grande dogma da Neurociência se
despedaça. (Henze, 2023, p. 50).

A descoberta de que o cérebro é realmente capaz de mudar


ao longo da vida levou os cientistas a introduzirem o termo
"neuroplasticidade". Essa concepção pode ser definida de
forma ampla como uma adaptação na estrutura e nas
funções do sistema nervoso, que ocorre em qualquer estágio
do desenvolvimento, como resultado de interações com o
ambiente interno ou externo, ou ainda como resposta a
lesões ou danos que afetam o ambiente neural (Phelps, 1990,
Henze, 2023). Conforme Fuchs e Flugge (2014, apud Henze,
2023) a plasticidade pode levar a modificações na forma de
áreas cerebrais, incluindo alterações nas redes de
neurônios, tais como mudanças na conectividade entre
essas células, a criação de novos neurônios (neurogênese) e
transformações bioquímicas nas células neurais. A
plasticidade se manifesta em três formas distintas:
morfológica, que envolve alterações na estrutura de
dendritos, axônios e sinapses; funcional, que diz respeito à
fisiologia neural e sináptica; e comportamental, que engloba
fenômenos relacionados à aprendizagem e memória.
8. QUAL É A RELAÇÃO ENTRE A PLASTICIDADE E O
PROCESSO DE APRENDIZADO?
A compreensão da transmissão sináptica se aprofunda
quando consideramos dois mecanismos fundamentais: o
Potencial de Longa Duração (LTP, do inglês "Long-Term
Potentiation") e a Depressão de Longa Duração (LTD, do
inglês "Long-Term Depression"). De acordo com Henze
(2023), O LTP se refere a uma melhora persistente na
transmissão sináptica, resultante de uma resposta
excitatória sincronizada. Acredita-se que esse mecanismo
desempenhe um papel crucial na modulação da memória,
do aprendizado e dos processos cognitivos em geral.

O LTP é identificado pelo aumento na liberação de


neurotransmissores, aprimorando a eficácia da
comunicação entre os neurônios. Esse fenômeno ocorre
devido ao aumento no número de receptores na superfície
da célula pós-sináptica, tornando-a mais sensível ao
neurotransmissor utilizado na transmissão. Por outro lado, o
LDP envolve uma redução na liberação de
neurotransmissores.

A plasticidade sináptica é estabelecida quando algumas


conexões sinápticas são fortalecidas, ao passo que outras
enfraquecem. A manutenção dessas conexões fortalecidas é
fundamental para o processo de aprendizado e formação de
memória. Por exemplo, quando uma pessoa pratica
repetidamente uma habilidade, ao longo do tempo, ela
aprimora seu desempenho. Isso ocorre porque as sinapses
que foram reforçadas durante essa prática aumentam a
liberação de neurotransmissores pelo neurônio pré-
sináptico e aumentam o número de receptores no neurônio
pós-sináptico (KANDEL, 2012; ROQUE, 2016, apud Henze,
2023).
Não é somente no aprendizado e na memória que a
plasticidade sináptica está presente, a recuperação
funcional de pessoas que perderam movimentos ou
tiveram lesão de um nervo ocorre por crescimento e
reorganização neuronal, auxiliada por células da glia,
levando à formação de novas sinapses, processo este
mais fácil no Sistema Nervoso Periférico. No Sistema
Nervoso Central de mamíferos, a situação é bem
diferente. A lesão do axônio até estimula a reativação
da expressão gênica, mas o cone de crescimento que
se forma não encontra no microambiente do tecido
nervoso condições favoráveis para o seu
deslocamento, e, por isso, a regeneração se frustra,
sendo a recuperação funcional no Sistema Nervoso
Central após uma lesão bem pior que no Sistema
Nervoso Periférico (Henze, 2023, p. 52).

Quando abordamos a educação, é imperativo incluir a


Neurociência na discussão, pois o processo de aprendizado
ocorre no cérebro, e a plasticidade é o fundamento desse
processo.

INDICAÇÃO DE VÍDEO: "A


NEUROCIÊNCIA DA APRENDIZAGEM”,
DO CANAL “MINUTOS PSÍQUICOS”
CLIQUE SOBRE O ÍCONE PARA
ASSISTIR
Conforme explica Henze (2023), neurocientistas descrevem
o cérebro como um sistema dinâmico que, ao nascer, possui
um conjunto básico de conhecimentos prévios e começa
imediatamente a explorar o ambiente ao seu redor. Desde os
primeiros momentos de vida, os bebês estão ativamente
envolvidos na tarefa de compreender o que está
acontecendo ao seu redor. Por muito tempo, acreditou-se
que a capacidade de desempenho do cérebro era
geneticamente predeterminada, assim como
características físicas como a cor dos olhos ou dos cabelos.
No entanto, experimentos demonstraram que a genética
estabelece apenas a estrutura básica para a construção do
cérebro. O fluxo contínuo de informações sensoriais e a
interação constante com o ambiente determinarão como o
cérebro se desenvolverá, ou seja, o que aprenderemos e que
habilidades desenvolveremos.

Os processos de aprendizado modelam o cérebro


dotado de sinapses, eles dissolvem conexões pouco
utilizadas e fortalecem as ativas e de uso frequente.
Assim, o desenvolvimento das capacidades
cognitivas e do cérebro está interconectado e
indissociável, e ele se aplica às Neurociências e à
Didática. Apenas em conjunto, elas podem
desenvolver novas estratégias de aprendizado
apropriado a crianças, que permitam a educadores
reconhecer melhor e estimular os talentos individuais
de seus alunos. E os que sabem de que forma e
segundo quais condições o cérebro se modifica
durante o aprendizado, sem dúvida, poderão ensinar
melhor. (Henze, 2023, p. 55).
A autora ainda pontua que o desenvolvimento cerebral
requer interação contínua com o mundo exterior,
especialmente durante o que é conhecido como "período
crítico". Se, durante esse período, a exposição ao ambiente
for insuficiente, a capacidade cerebral pode ser
comprometida, resultando em deficiências cognitivas e
motoras. Este período de desenvolvimento é
particularmente relevante até o início da fase escolar.

9. NEUROPLASTICIDADE E A DIDÁTICA

Quando a educação e a formação proporcionam às crianças


os estímulos intelectuais necessários para o cérebro, as
capacidades mentais podem se desenvolver e a
aprendizagem parece ocorrer de maneira natural. É
importante destacar que o cérebro adulto também possui
algum grau de plasticidade e é capaz de aprender
continuamente, desde que seja exposto aos estímulos
apropriados.

Algumas condições facilitam a aprendizagem. Por


exemplo, o desconhecido estimula de maneira
particular redes neurais e, por isso, deposita-se mais
facilmente na memória. Um ambiente rico em
variedades, capaz de despertar todo dia a
curiosidade pelo novo, conduz quase que
automaticamente ao aprendizado. Decorar os
conteúdos ensinados faz pouco sentido, pois, se o
aluno não compreender algo bem, decorá-lo irá
fortalecer precisamente as conexões estabelecidas
de maneira equivocada. Aprender de novo é muito
mais fácil que obrigar uma rede neural consolidada a
reaprender (Henze, 2023, p. 56).
A simples observação de estímulos de maneira passiva e
neutra dificilmente resultará em retenção na memória. É
necessário que essas informações tenham significado, ou
seja, evocando sentimentos, especialmente de satisfação.
Isso ocorre porque as emoções e a motivação
desempenham um papel na modulação do sistema de
atenção, que determinará quais informações serão
armazenadas nos circuitos neurais e, portanto, aprendidas
(Henze, 2023).

Outro elemento crucial para a plasticidade cerebral e, por


conseguinte, para o processo de aprendizado, é o fator
tempo. De acordo com Henze (2023), muitas horas são
necessárias para que as conexões entre as células nervosas
envolvidas possam realmente se estabilizar ou enfraquecer.
Não é produtivo introduzir novo material no exato momento
em que o cérebro está se esforçando para consolidar o que
acaba de ser aprendido. O aprendizado com intervalos, com
pausas para brincadeiras ou momentos de relaxamento,
demonstra ser mais eficaz.

Por último, quanto mais recursos forem empregados


na transmissão de uma informação, tanto melhor ela
se fixará na memória de longa duração. É mais fácil
aprender com a colaboração do maior número de
órgãos dos sentidos. Como todos os neurônios se
comunicam por sinais elétricos, tanto faz ativá-los
mediante a visão, o tato, a audição, o movimento ou a
mera reflexão (Henze, 2023, p. 56).
Portanto, reconhecer a interação complexa entre
plasticidade cerebral, estímulos intelectuais, emoções e
gestão do tempo é crucial para otimizar o processo de
aprendizado. Esses princípios não apenas moldam o que
sabemos sobre o funcionamento do cérebro, mas também
têm implicações práticas para educadores, alunos e todos
aqueles envolvidos no campo da educação. O entendimento
desses conceitos pode levar a abordagens mais eficazes de
ensino e aprendizado, promovendo o desenvolvimento
cognitivo e intelectual ao longo da vida.

DICA DE LEITURA: "SENTIR E SABER:


AS ORIGENS DA CONSCIÊNCIA”, DE
ANTÓNIO DAMÁSIO, PUBLICADO PELA
EDITORIA COMPANHIA DAS LETRAS.

DICA DE LEITURA 2: "NEURODIDÁTICA


– FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS” DE
ANDRÉ CODEA, PUBLICADO PELA
WAK EDITORA.
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste caderno de estudos, exploramos temas cruciais que
ligam a Neurociência e a Psicopedagogia e a Educação,
destacando sua importância para enfrentar os desafios
educacionais contemporâneos. Começamos examinando a
relação entre essas áreas, demonstrando como sua
colaboração pode resultar em abordagens mais eficazes
para o ensino e a aprendizagem. Em seguida, discutimos
como a compreensão do funcionamento cerebral pode
impactar diretamente a formação docente, capacitando
educadores a promover um ambiente de aprendizado mais
enriquecedor e produtivo.

Abordamos o conceito fundamental de


neurodesenvolvimento e plasticidade cerebral, enfatizando
como o cérebro é uma estrutura dinâmica, capaz de se
adaptar e evoluir ao longo da vida. Exploramos a relação
intrínseca entre a plasticidade e o processo de aprendizado,
destacando como a plasticidade sináptica permite que o
cérebro forme novas conexões e adapte seu funcionamento
em resposta a estímulos e experiências.

Aprendemos que a plasticidade é um fator essencial na


retenção e na consolidação da informação, e que o ambiente
de aprendizado desempenha um papel crucial em
desencadear esse processo. Promovendo um ambiente
educacional enriquecedor, diversificado e emocionalmente
envolvente, podemos otimizar a plasticidade cerebral,
tornando a aprendizagem mais eficaz.
Em última análise, a plasticidade cerebral e o processo de
aprendizado estão intrinsecamente ligados, e o
conhecimento dessa relação pode informar práticas
educacionais mais eficazes. Educadores e profissionais da
Psicopedagogia que compreendem como o cérebro se
adapta e evolui têm o poder de transformar a educação,
capacitando os alunos a alcançar seu pleno potencial. A
jornada da aprendizagem é dinâmica e interminável, e ao
abraçar a plasticidade cerebral, estamos preparados para
enfrentar os desafios educacionais com confiança e
inovação.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, A. FRANÇA, Gustavo. Neurociência Educacional Enquanto
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