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NEUROPSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL, CLÍNICA E

HOSPITALAR

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Sumário
INTRODUÇÃO................................................................................................. 3

HISTÓRIA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA NO BRASIL ............................... 6

NEUROPSICOPEDAGOGIA CLÍNICA ............................................................ 8

NEUROPSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL ............................................. 12

PSICANÁLISE E NEUROPSICOPEDAGOGIA ............................................. 13

NEUROPSICOPEDAGOGIA HOSPITALAR.................................................. 15

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 22

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 24

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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INTRODUÇÃO

Marcado pelas grandes descobertas das Neurociências, o século 21 se tornou


cenário da integração de diferentes campos do conhecimento que até então eram
tratados de forma isolada. A fim de melhor compreender as funções mentais,
concebendo o ser humano a partir de uma perspectiva biopsicossocial, a
Neurociência tem nos ajudado a compreendê-lo como o produto total de um cérebro
complexo em sua fisiologia, mas também, de um cérebro “social” que se constitui na
relação (inter e intra) com o meio (CORRÊA; CELY; CUADROS, 2018).

Com isso, a “caixa preta” do funcionamento da mente humana tem sido, aos
poucos, desvelada, trazendo novos olhares para áreas como a saúde e a educação.
Nesta última, em particular, duas vertentes têm ganhado força, trazendo elementos
analíticos e interpretativos para o âmbito escolar: a Neurociência Cognitiva e a
Neuropsicopedagogia.

Neste contexto, surge a necessidade de profissionais da área da educação em


compreender princípios básicos da Neurociência, de modo que teoria e prática
educacional se comuniquem em sinergia. Embora a Neurociência e a Educação
sejam áreas distintas e com propósitos particulares, ambas possuem relação
relevante quando considerado o vínculo de proximidade entre o cérebro humano e o
processo cognitivo (OLIVEIRA, 2011).

Simões (2016) nos chama a atenção ao pontuar que as duas áreas apresentam
formas de ação e finalidades distintas, por isso, a autora enfatiza que os produtos da
Neurociência não se aplicam direta e imediatamente à Educação, necessitando ser
reinterpretados, conforme defendem Corrêa, Cely e Cuadros (2018), para que
possam contribuir, efetivamente, ao campo educacional.

É nesse sentido que Guerra (2011) defende que a Neurociência pode auxiliar
os profissionais da educação a refletir e inovar sobre sua intervenção, mas não
proporcionar prescrições, receitas ou processos que vão garantir resultados em sala
de aula. Essa construção de quais melhores instrumentos e métodos a serem
adotados dentro de sala, ficará à cargo desses profissionais que lidam diretamente

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com a aprendizagem, podendo ser, inclusive, um neuropsicopedagogo ou mesmo o
professor.

Sendo escopo do presente texto, a Neuropsicopedagogia é uma ciência


transdisciplinar e fundamentada na Neurociências, aplicada à educação e atrelada à
pedagogia e a psicologia cognitiva, tendo como objeto central de estudo a relação
entre sistema nervoso e a aprendizagem humana, sob um ângulo apoiado na
integração pessoal, social e educacional do discente (FÜLLE et al., 2018).

Como apontado por Fonseca (2014), a Neuropsicopedagogia evidencia as


habilidades do cérebro, seja dos educandos ou dos educadores. Nos alunos, quando
se portam de forma socialmente positiva e utilizam instrumentos cognitivos culturais
aos quais estão inseridos, como: a linguagem corporal, a falada, a escrita e
quantitativa; nos professores, quando repassam, mediam e ensinam competências e
formas de saber, já que está implícito no ato de educar a interação entre dois
indivíduos.

Segundo o Código de Ética estabelecido pela Sociedade Brasileira de


Neuropsicopedaogogia (SBNPp, 2014, p.4), em seu artigo nº 3:

Definiu-se por parametrizar como Neuropsicopedagogo aqueles


profissionais que através de uma formação pessoal, educacional,
profissional e um corpo de práticas próprias da Neuropsicopedagogia busca
atender demandas sociais, norteado por padrões técnicos e pela existência
de normas éticas que garantam a adequada relação de um profissional com
seus pares e com a sociedade como um todo de acordo com as
especificidades das funções.
A escola tem valor fundamental para a formação cognitiva e social da criança.
Dessa forma, torna-se fundamental que o professor conheça o funcionamento
cognitivo de seu aluno, quais áreas do cérebro atuam quando ele aprende ou não,
como se estabelece a aprendizagem, o que pode ser feito para superar os obstáculos
epistemológicos e as dificuldades encontradas nos diversos infantes, e, como
potencializar as estratégias de ensino através de metodologias específicas. A
instituição escolar, então, coloca-se como espaço privilegiado de troca, aprendizagem
e conformação da identidade de cada um que por ali passa, transformando o
professor, nesta ótica, em um neuroeducador.

Daí, surge também, a importância de se conhecer a atuação institucional do


Neuropsicopedagogo, como se deu a formação da profissão, sua ocupação, e de que
forma ele poderia ser efetivo dentro de uma instituição de ensino em parceria com os

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demais profissionais. Posto isso, objetiva-se com este estudo conhecer melhor a
atuação do referido profissional dentro de espaços educacionais, por se tratar de uma
profissão muito recente, e permeada de incertezas sobre a real contribuição e limites
de atuação, bem como assinalar as contribuições da neuroeducação para o processo
de ensino e aprendizagem.

Como aporte metodológico para este trabalho, optou-se pela modalidade de


pesquisa exploratória, que seria aquela que não requer a formulação de hipóteses a
serem testadas, restringindo-se a definir objetivos e buscar mais informações sobre
determinado assunto em específico, ou que tenha sido, ainda, pouco explorado.
Normalmente esse método é o passo inicial para um projeto de pesquisa, e posterior
desdobramentos em hipóteses (CERVO; BERVIAN; DA SILVA, 2007).

Gil (1999) reitera as reflexões realizadas pelos autores supracitados ao


sinalizar que a pesquisa exploratória tem o objetivo de desenvolver uma visão mais
geral acerca de determinado fato, utilizando-se de levantamento bibliográfico,
documental e de entrevistas. O produto final desse processo, ainda segundo o
referido autor, seria uma problemática mais esclarecida e que resultaria em hipóteses
pesquisáveis em estudos ulteriores.

Para elucidar a problemática posta, foram selecionados trabalhos publicados


em periódicos nacionais de livre acesso com aporte temático na
neuropsicopedagogia, na neurociência atrelada à educação e no ambiente escolar
como espaço facilitador da/para a aprendizagem.

O ímpeto em pesquisar a temática surgiu através da realização de uma


pesquisa para conclusão do curso de pós-graduação em Neuropsicopedagogia
Institucional e Educação Inclusiva, realizado em 2019. Dessa forma, os
questionamentos que emergiram durante a realização do curso culminaram na
realização do presente artigo, que busca compreender em quais contextos dentro do
âmbito escolar o neuropsicopedagogo institucional pode atuar.

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HISTÓRIA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

Os primeiros registros sobre a menção da Neuropsicopedagogia no Brasil são


bem recentes. Segundo Fulle et al. (2018), eles se deram no início da primeira década
do século XXI, em cursos de Pedagogia da PUC e UFGRS, no estado do Rio Grande
do Sul, e se intitulavam “Estudos Neuropsicopedagógicos”. Nessas aulas eram
passados conteúdos que abarcavam conceitos da estrutura biológica cerebral e o
desenvolvimento neuropsicológico, com ênfase na neuroplasticidade.

Saber como o cérebro evolui e continua evoluindo com o passar do tempo é


preponderante para que se constitua o processo de ensino e aprendizagem, que é
característica única da atribuição humana de transmitir a cultura de forma
intergeracional, entre seres maduros e experientes, e também entre seres imaturos e
inexperientes (FONSECA, 2014). Outras espécies animais já não compartilham
dessa atribuição tipicamente humana, ficando restritos a características e
comportamentos ditados por influências inatas à sua espécie.

Em decorrência da grande necessidade de como intervir no processo de


aprendizagem, e não somente conhecer os conceitos do sistema nervoso, surgiu a
necessidade de se ter no Brasil uma formação específica em Neuropsicopedagogia.
Sendo assim, em 2009, a Faculdade Ciências, Educação, Saúde, Pesquisa e
Extensão (CENSUPEG) institui o curso de Pós-Graduação lato sensu em
Neuropsicopedagogia. Com o aumento exponencial de alunos matriculados e
diversos professores-pesquisadores atuando em várias perspectivas teóricas nas
áreas de saúde e educação, decidiram se constituir juridicamente com o título de
Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp). Tinham por intento propiciar
uma corporificação social dessa ciência e que promovesse uma normatização e
codificação das diretrizes em relação à profissão (FÜLLE et al., 2018).

O código de ética da Neuropsicopedagogia está em sua resolução nº 3, datada


de 2014. Os capítulos são enumerados, e abrangem, respectivamente: capítulo 1 –
Apresentação, denominação e objetivos; capítulo 2 – Definição, princípios
fundamentais e diretrizes; capítulo 3 – Exercício das atividades, responsabilidades e
promoção profissional; capítulo 4 – Dos instrumentos; capítulo 5 – Formação

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educacional e reconhecimento institucional; capítulo 6 – Pesquisa, dos trabalhos e
das publicações científicas, e capítulo 7 – Das disposições gerais.

Como são vários os capítulos detalhados no código de ética, serão elencados


somente os mais pertinentes à problemática do artigo. Tal código postula que
(SBNPp, 2014, p:4):

Os princípios éticos que orientam a formação e a atuação profissional,


também, fundamentam a imagem técnica profissional do
Neuropsicopedagogo. O presente Código de Ética Técnico Profissional
reúne as diretrizes que devem ser observadas nas ações profissionais, na
formação educacional e no que se refere as instituições que ofertam a
formação, a fim de atingir padrões éticos cada vez mais elevados no âmbito
geral da Neuropsicopedagogia.

Objetiva-se com tal código de ética, como preconiza seu artigo 2º:

[...] estabelecer critérios e de orientar os profissionais da


Neuropsicopedagogia no Brasil quanto aos princípios, normas e valores
ponderados à boa conduta profissional, estabelecendo diretrizes para o
alcance profissional da Neuropsicopedagogia e para as interações com a
SBNPp. Faz-se necessário a revisão deste Código, a cada biênio, ou quando
solicitado mediante aos critérios fixados no Estatuto Oficial e Regimento
Interno da SBNPp, a fim de que se mantenha atualizado com as expectativas
dos profissionais e da sociedade em geral (SBNPp, 2014, p. 5).

Como o artigo tem por objetivo fomentar as questões que abarcam a


importância do Neuropsicopedagogo no âmbito escolar, serão escolhidos os capítulos
e devidos artigos que contemplem a função do Neuropsicopedagogo Institucional. No
capítulo 5, artigo 69, § 1, evidencia-se em qual ambiente o profissional poderá atuar:
“A atuação Institucional, na qual tem como espaço de atuação instituições que tem
no princípio de suas atividades o trabalho coletivo. São intitulados
Neuropsicopedagogos Institucionais e podem receber o enfoque da forma com
Educação Especial e/ou Educação Inclusiva” (SBNPp, 2014, p.15).

Fica evidenciado através de excertos de capítulos e respectivos artigos, que a


atuação do Neuropsicopedagogo Institucional está condicionada à atuação no
coletivo, ou seja, empresas, escolas públicas e particulares, centros de educação,
instituições de ensino superior, e terceiro setor em geral, como referenciado pelo
código de ética.

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Quanto à conquista do Código Brasileiro de Ocupação (CBO) do
Neuropsicopedagogo, tal façanha só veio recentemente, em julho de 2019. O CBO
tem por finalidade identificar as ocupações e atuações dos profissionais. Isso facilita
as contratações via Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e demais benefícios
previdenciários, assim como prestações de serviços e concursos públicos. O
Neuropsicopedagogo Institucional foi assinalado com o código (2394-45), e o Clínico
com o código (2394-40). Tal ganho só foi possível porque profissionais se reuniram e
instituíram uma sociedade organizada com objetivos comuns, e que, com auxílio de
órgãos governamentais e pesquisas realmente efetivas, possibilitou devido
reconhecimento (SBNPp, 2019).

NEUROPSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

A Neuropsicopedagogia Clínica, aos poucos vem conquistando espaço no


território brasileiro surgindo como uma nova área do conhecimento e pesquisa na
atuação interdisciplinar, abarcando conhecimentos neurocientíficos e tendo seu foco
nos processos de ensino aprendizagem. Está pautada em atividades que avaliam e
intervêm nos processos de aprendizagem procurando obter informações de todas as
ciências que possam contribuir para formar o entendimento mais detalhado da
aprendizagem de cada indivíduo. Assim sendo, a Neuropsicopedagogia que "agrega
conhecimentos da neurociência aplicada à educação, psicologia cognitiva e
pedagogia" (SBNPp, 2016) realiza um trabalho de prevenção, pois avalia e auxilia nos
processos didático-metodológicos e na dinâmica institucional para que ocorra um
melhor processo de ensino-aprendizagem.

A Neuropsicopedagogia, já era conhecida em alguns países tais como


Espanha, Colômbia, México, sendo assim, o portal mexicano de Psicopedagogia,
voltado para definições de conceitos acerca das ciências, tendo como referência o Dr
Alberto Montes de Oca Tamez (2006), PhD em Neurociência, define a
Neuropsicopedagogia como:

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... um exercício de trabalho interdisciplinar sobre o processamento de
informações e modularidade da mente em termos de Neurociência Cognitiva,
Psicologia, Pedagogia e Educação, que ocorre na formação multidisciplinar
de profissionais voltados à área educacional. O neuropsicopedagogo deve
ter amplo conhecimento dos diferentes modelos, teorias e métodos de
avaliação, planejamento, currículo dos diferentes níveis de ensino. Além
disso, deve ter amplo conhecimento da base neurobiológica do
comportamento psico-educacional e da reabilitação neurocognitiva tanto em
crianças, adolescentes, sujeitos idosos e pessoas com necessidades
especiais.
No Brasil a Especialização em Neuropsicopedagogia é muito recente, mas em
países tais como Espanha, através da Universidade de Girona, o curso de Mestre em
Diagnóstico e Intervenção Neuropsicopedagógica irá para sua 14ª edição e em
Barcelona ocorrerá a 5ª edição. Nestes dois municípios também constam o curso em
Especialização em Neuropsicopedagogia Clínica na modalidade à distância.

Na Colômbia, através da Universidade de Manizales, desde 2007 já se tem


notícias de especializações nesta área. Inclusive numa das páginas do site desta
Universidade, a Neuropsicopedagogia é citada da seguinte maneira:

...um campo interdisciplinar de ação, em que as contribuições da Psicologia


e Neuropsicologia permitem uma maior compreensão dos processos de
ensino-aprendizagem proporcionando ao ser humano melhores condições
educacionais e sociais. Partindo de uma reflexão conceitual particular,
disciplinar, social e cultural no processo de aprendizagem escolar, exigindo
uma abordagem que não pode ser concebida através da fragmentação do
indivíduo, mas a partir da necessidade de análise crítica de fenômenos
complexos que influenciam e afetam a capacidade de aprender e suas
demandas clínicas e educacionais. A Neuropsicopedagogia está se tornando
uma prioridade, através da integração de diferentes abordagens e
colaboração de várias disciplinas que ampliam a compreensão e as
estratégias de intervenção clínica e / ou educacional, obtendo assim
respostas práticas, conceituais e metodológicas.

No Brasil, por volta do ano 2007, surgem relatos de um trabalho, a nível de


mestrado, intitulado “A avaliação neuropsicopedagógica de crianças surdas: O estudo
dos processos corticais simultâneos de sucessivos, visuo-motores e verbais, através
de testes neuropsicológicos”. O presente trabalho promovido pelo Laboratório de
Neuropsicologia Cognitiva e Neurociências da Surdez do INES (NEUROLAB – INES)
em parceria com o Centro de Informação das Nações Unidas (UNIC Rio) e com o
NCE-LABASE-UFRJ apresentava várias linhas de pesquisa tendo como base o
desenvolvimento de dez plataformas computadorizadas.

A metodologia consistia em “um conjunto de mil jogos neuropsicopedagógicos


e metacognitivos, construídos de acordo com um modelo lúdico isomórfico às funções

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mentais superiores e aos sistemas de processamento da consciência”, porém o
objetivo era oferecer meios que facilitassem o desenvolvimento cognitivo-linguístico
de crianças com deficiência, patologias ou atrasos no desenvolvimento, através da
ludicidade e da informática.

Este projeto na área tecnológica contribuiu e muito para o processo de inclusão


utilizando dos conhecimentos neurocientíficos, sendo que uma das colaboradoras do
projeto menciona a Neuropsicopedagogia como uma área que: “...estuda a interação
entre o cérebro, a mente e o aprendizado, possibilitando, através de métodos
rigorosamente científicos, o planejamento de intervenções precisas que promovam o
desenvolvimento de sujeitos epistêmicos” (MARQUES, 2008, p.11).

Em entrevista para a Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPb, através


de Racy e Vieira (s.d.), Dr Marco Tomanick Mercadante, contextualiza a
Neuropsicopedagogia com as seguintes palavras:

Um campo do conhecimento que procura reunir os avanços advindos das


neurociências com a psicopedagogia. Assim, o profissional com essa
perspectiva deve ter conhecimento amplo das bases neurobiológicas do
aprendizado, do comportamento e das emoções, e dominar os elementos
clássicos da psicopedagogia. Além disso, uma coerência epistemológica que
garanta uma adequada articulação dessas áreas dispares do conhecimento
é fundamental para a atuação na área.

Em 2009, percebendo a necessidade de um curso que resgatasse as interfaces


do cérebro e do desenvolvimento humano, a Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, apresenta como curso de extensão, na condição de Educação à
Distância, o curso “Desenvolvimento Neuropsicopedagógico: Contribuições das
Neurociências para a Educação”.

Pode-se perceber que a terminologia Neuropsicopedagogia, apesar de não


estar explicita em nenhum dos dicionários já vem sendo utilizada no contexto
brasileiro. Nos estados do sul do Brasil, universidades tais como: PUC e UFRGS
apresentam como disciplina nos cursos de graduação, voltados a Pedagogia, os
Estudos Neuropsicopedagógicos, os quais Forner (2009, p71-72) faz a seguinte
referência:

No nível I, a disciplina Estudos Neuropsicopedagógicos chama a atenção,


por enfatizar aspectos que contemplam as ideias do estudo. Eis a sua
ementa: Estudo do desenvolvimento humano na perspectiva da genética e
da Neuropsicopedagogia, aproximando estes saberes com foco nas bases

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biológicas da aprendizagem, na busca de melhores formas de ensinar e de
aprender. Os objetivos da disciplina convertem para a real necessidade de
os futuros professores reconhecerem as dificuldades de aprendizagem de
seus alunos, bem como as possíveis alternativas de trabalho. Isto é, terem
subsídios para planejamento que atenda às demandas que surgem nas salas
de aula. A disciplina se propõe a fazer com que os estudantes de Pedagogia
conheçam o funcionamento neural, o desenvolvimento neuropsicológico,
desde a concepção até a morte, destacando a neuroplasticidade, bem como
as bases biológicas e influência do uso de drogas pelos pais de crianças,
bases neurológicas da entrada, processamento e saída da visão, audição,
tato, movimento e atenção. A partir desses conhecimentos, enfim, busca
contribuir para que os professores possam realizar as intervenções,
considerando aspectos do desenvolvimento normal e das dificuldades de
aprendizagem.

O grande avanço da Neuropsicopedagogia no Brasil se deu através do Centro


Sul Brasileiro de Pesquisa e Extensão - CENSUPEG. Dentro deste contexto
educacional, os profissionais da Neuropsicologia Clínica são capacitados para:

• Compreender o papel do cérebro do ser humano em relação aos processos


neurocognitivos na aplicação de estratégias pedagógicas nos diferentes espaços da
escola, cuja eficiência científica é comprovada pela literatura, que potencializarão o
processo de aprendizagem.

• Intervir no desenvolvimento da linguagem, neuropsicomotor, psíquico e


cognitivo do indivíduo.

• Adquirir clareza política e pedagógica sobre as questões educacionais e


capacidade de interferir no estabelecimento de novas alternativas
neuropsicopedagógicas e encaminhamentos no processo educativo.

• Compreender e analisar o aspecto da inclusão de forma sistêmica,


abrangendo educandos com dificuldades de aprendizagem e sujeitos em risco social.

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NEUROPSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL

Enquanto psicopedagogia clínica tem um olhar individual voltado para o


paciente, a psicopedagogia institucional em uma visão global que pode envolver o
contexto escolar, empresarial, hospitalar entre outros direcionando, orientando e
assessorando a direção, coordenação, educadores etc. O psicopedagogo
Educacional tem por finalidade oferecer qualidade de ensino, criar espaços
pedagógicos e desenvolver propostas de formação continuada à equipe docente,
observar as questões metodológicas aplicadas, procedimentos, distribuição de
trabalho, estrutura organizacional.

Entretanto, para tal fim, é necessário trabalhar com a pessoa do profissional


que está atuando com o indivíduo que não consegue aprender sendo assim a atuação
do psicopedagogo não se restringe, somente a análise de grades curriculares e
planejamento de ensino, mas abrange o trabalho com educador este que o é
intermediário entre o conhecimento, proporcionando a este profissional uma relação
mais ativa com o saber que ele adquire academicamente e na vida com as
experiências dando assim significado a sua prática. Diante deste contexto cabe ao
psicopedagogo à intervenção, após chegar a um diagnóstico, desenvolver uma
abordagem crítica e reflexiva junto aos docentes que traga melhorias para o âmbito
escolar no processo de aprendizagem com o intuito de reduzir os problemas
existentes.

O neuropsicopedagogo que tem a titulação Institucional trabalhará com a


coletividade dentro dos seguintes espaços de atuação:

– Instituições escolares
– Centros e Associações Educacionais – Terceiro Setor, como ONGs e
– Instituições de Ensino Superior OSCIPs

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PSICANÁLISE E NEUROPSICOPEDAGOGIA

Para tecermos a respeito da contribuição tão preciosa da psicanálise, cabe


aqui, uma pequena introdução elucidativa sobre o que é a mesma e quais
contribuições ela oferece na atrativa de atendimento e suporte psicopedagógico e
neuropsicopedagógico.

Partindo da etimologia da palavra psique refere-se à alma, portanto,


investigação da alma, esse método terapêutico foi criada por Sigmund Freud - 1856-
1939, neurologista austríaco e empregado em casos de neurose e psicose, que
consiste fundamentalmente na interpretação, por um psicanalista, dos conteúdos
inconscientes de palavras, ações e produções imaginárias de um indivíduo, com base
nas associações livres e na transferência, exemplificando o objeto de estudo da
psicanalise concentra-se na relação que se dá entre o desejo ou os desejos
inconscientes e os comportamentos vividos pelas pessoas.

Partindo desse pressuposto, podemos entender que a psicanálise pode ser


utilizada como uma ferramenta importante para auxiliar no olhar psicopedagógico ou
neuropsicopedagógico na tratativa clínica e institucional, uma vez que a psicanálise
visa o sujeito para o sujeito, havendo esse entendimento, que os problemas de
aprendizagem estão, também, relacionados a este contexto, a contribuição da
psicanálise será assertiva e eficaz no processo de atendimento.

É preciso que nós quanto psicopedagogos e neuropsicopedagogos que


somos, estejamos atentos às demandas emocionais que o paciente, o aprendente,
ou o professor trazem durante o processo de orientação, sermos sensíveis às
subjetividades da nossa época e trazermos para nossa prática diária essa visão
sensível e perceptível que possa proporcionar o ambiente acolhedor e sensível às
demandas que o paciente traz, assim norteando sua prática, sua fala, enriquecendo
sua visão e intervenção nas demandas que a jornada psicopedagógica apresenta
tanto em clinica quanto em instituição.

O natural é o brincar, e o fenômeno altamente aperfeiçoado do século XX é


a psicanálise. Para o analista, não deixa de ser valioso que se lhe recorde
constantemente não apenas aquilo que é devido a Freud, mas também o que
devemos à coisa natural e universal que se chama brincar. Winnicott
(p.63,1975)

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Dentro da prática clínica a psicanálise possibilita que se entenda o que há por
trás desse sujeito que chega ao consultório, que entenda as práticas e hábitos da
família que esse paciente traz, portanto eu não penso apenas no paciente, mas nas
demandas que traz em sua história, sobre o meio em que está inserido, as influências
sociais que recebe, nada disso deve ser descartado, ao contrário, essas demandas
serão necessárias para entender os porquês de vários comportamentos e atitudes
que o paciente manifesta.

A psicanálise irá proporcionar esse olhar, uma vez que iremos perceber a
singularidade desse indivíduo sem excluir as influências sobre o mesmo, ouvir os
sintomas para entender as causas.

Ao receber a família, no primeiro momento, quando ela compartilha suas


angustias e pontua o que acontece com o paciente, a observação na escuta, na
linguagem corporal, na forma que correspondem às perguntas feitas e mais a frente
aos direcionamentos serão melhores interpretadas quando se tem a ajuda dessa
ferramenta preciosa, a psicanálise.

No momento de escuta, lembrando que a escuta vai muito além da fala do


paciente, da família, mas a escuta observadora dos atos, das atitudes, expressões,
questões relevantes para melhor compreender o paciente, que pode ser feita por meio
de estímulo de perguntas e repostas, nas brincadeiras, nos jogos nas orientações,
desenhos, tudo que é proposto para que ele sinta-se confortável e encontre um
espaço onde é escutado e possa ouvir-se e descobrir-se, a psicanálise irá auxiliar
nesse processo tão importante.

A brincadeira é o caminho mais eficiente e prazeroso para se alcançar o


paciente e é em meio às brincadeiras que é possível escutar o paciente, observar
como se esse lida com suas emoções – como lida com suas vitórias e derrotas, o
psicopedagogo ou neuropsicopedagogo precisa promover dentro da prática em
clínica, o momento que o paciente sinta-se a vontade para que esse se mostre como
é, sinta-se livre e aceito sem precisar de suas defesas, é dentro no ambiente clínico
que estas armaduras devem ser rompidas e esvaídas para que se consiga êxito no
processo terapêutico.

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“A psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, e
a numa ação profissional deve que englobar vários campos do conhecimento,
integrando-os e sintetizando-os”. (Scoz, aput. Bossa. 2000: 19).

Não significa, entretanto, que todo profissional da psicopedagogia ou


neuropsicopedagogia deva cursar psicanálise, pontuo aqui, a contribuição da mesma
no processo de atendimento, mas é possível mensurar e ter, por exemplo, um
profissional psicanalista fazendo parte da equipe, no entanto, o fato de não ter
formação da mesma não interfere na qualidade da atuação do profissional, aquele
que faz a escolha em ter a psicanálise como ferramenta, agrega em seu trabalho.

O importante é estar atento a todos os tipos de falas que o paciente traz e


manifesta em seu ambiente clínico para entender quando, também, precisa-se da
intervenção de um psicanalista.

NEUROPSICOPEDAGOGIA HOSPITALAR

Para que possamos compreender melhor o público alvo de uma Classe


Hospitalar, farei uma breve explanação sobre a hospitalização infantil e a interação
com a Aprendizagem, no intuito de entender como a Psicopedagogia pode contribuir
para este tipo de acompanhamento pedagógico.

O processo de hospitalização pode ser um evento traumático para qualquer


pessoa. Durante este momento, a pessoa perde sua singularidade e passa a
responder aos procedimentos médicos que muitas vezes são dolorosos. Além disto,
o indivíduo passa a ser identificado por números, ser reconhecido por sua doença e
até mesmo a vestir-se igual a todos os internados. Tais procedimentos e regras são
adotados para que os profissionais de saúde possam tratar das enfermidades de seus
pacientes, visando disciplina e garantindo, assim, o tratamento correto e coerente
com a cientificidade exigida.

Considerando todos estes aspectos, podemos compreender que uma


hospitalização pode ser ainda mais traumática para uma criança porque a imagem
que temos dela é de um ser que está no mundo, explorando-o e brincando com toda

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a energia possível. Quando hospitalizada, a criança depara-se com o impedimento
de brincar e continuar a explorar este mundo porque deve cumprir regras e se
submeter a procedimentos médicos.

A hospitalização vem como uma "bruxa malvada", que retira da criança o seu
cotidiano de fantasias, brincadeiras e explorações e a coloca em um lugar sombrio,
cheio de pessoas doentes e que pedem ajuda a pessoas vestidas de branco para
aliviar a dor.

Alguns autores estudam os impactos no desenvolvimento infantil quando


ocorre uma intervenção hospitalar. Segundo Mitre e Gomes, a hospitalização para
uma criança pode levar a traumas, porque a afasta do seu cotidiano e de seu
ambiente familiar, sendo um momento de crise que, independentemente do tempo de
duração, será singular em sua vida. Lerner retrata que a criança vivencia situações
angustiantes e assustadoras, como o medo do abandono dos pais e familiares e o
medo do desconhecido.

A sensação de abandono se dá pelas regras do hospital: muitas vezes os pais


não podem estar o tempo todo com a criança porque podem aumentar o risco de
infecções e atrapalhar os procedimentos hospitalares. E o medo do
desconhecido "está presente (...), pois o hospital é um ambiente diferente, estranho
e ameaçador, sendo que as fantasias e imagens que as crianças elaboram a respeito
do hospital são fundamentalmente persecutórias".

Além destes pontos levantados, podem ocorrer, ainda, complicações no


desenvolvimento físico e psíquico da criança hospitalizada, dependendo do tempo de
internação ou se o quadro for crônico ou agudo, podendo levar a um atraso no
crescimento e no desenvolvimento psicomotor e também gerar complicações
psíquicas, como depressão e comportamentos regressivos.

Levando-se em conta tais aspectos apontados sobre a hospitalização infantil,


podemos iniciar uma reflexão sobre o processo de aprendizagem das crianças que
estão enfermas e sob cuidado constante. Conforme Paín, a aprendizagem possibilita
a transmissão da cultura a todos e também disponibiliza a sua transformação por
intermédio da Educação. O ato de aprender está presente em nossas vidas desde o
momento do nascimento e nos acompanha até o momento da morte. Aprendendo,

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estamos nos adaptando e adequando o mundo externo às nossas próprias
demandas.

Porto5 salienta que a aprendizagem possui uma função integradora, estando


diretamente relacionada ao desenvolvimento psicológico, denotando as
possibilidades de interação e adaptação da pessoa à realidade ao longo da vida,
sofrendo múltiplas influências de fatores ambientais e individuais.

Esta integração descrita por Porto envolve dois aspectos: o mundo interno e o
mundo externo do indivíduo. Ambos se relacionam dialeticamente, um alimentando o
outro simultaneamente. Paín considera tais fatores como inerentes à aprendizagem:
o aspecto social (como fator externo), o orgânico, a condição cognitiva e a dinâmica
do comportamento, sendo os últimos retratados como fatores internos. Desta forma,
a autora ressalta a aprendizagem como um processo dinâmico e que possibilita um
processamento da realidade e, concomitantemente, uma alteração no
comportamento do sujeito, que atuará ativamente sobre a realidade a qual está
inserido.

Se levarmos em conta a perspectiva de que com a aprendizagem o sujeito


poderá atuar em seu contexto e, por fim, transformá-lo, podemos entender que
disponibilizar um momento para o aprender à uma criança hospitalizada significará
uma retomada à sua condição de agente de sua realidade. Durante uma atividade, a
criança conseguirá explorar o seu meio e intervir, permitindo assim que seja no
mundo, diferentemente quando está submetida a procedimentos médicos - neste
instante ela age e não simplesmente, reage.

Para Ceccim, manter a aprendizagem por meio das classes hospitalares


possibilita uma alteração na vivência de hospitalização da criança, porque resgata os
aspectos de saúde mantidos, mesmo em face da doença, enquanto respeita e
valoriza os processos afetivos e cognitivos de construção de uma inteligência de si,
(...) do mundo, (...) do estar no mundo e inventar seu problemas e soluções.

Assim sendo, podemos compreender que o processo de aprendizagem torna-


se um fator terapêutico para criança hospitalizada, já que "ser e se sentir real dizem
respeito essencialmente à saúde (...)". Porém, este processo somente poderá
acontecer adequadamente se o ambiente lhe propiciar condições favoráveis para sua
ação e espontaneidade.

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Conforme Winnicott, uma criança somente pode voltar-se para o aprender
quando se sente cuidada e com suas necessidades atendidas. Somente estabelecida
a integração, é que o indivíduo poderá explorar e compreender o mundo exterior,
apropriando-se dele e por fim, modificando-o. E esta integração somente será
possível com o estabelecimento de um ambiente suficientemente bom, no qual irá lhe
favorecer e intermediar suas experiências e angústias.

Com isto, a proposta de um atendimento pedagógico hospitalar propõe o


estabelecimento de um espaço adequado para este aprender. As chamadas classes
hospitalares configuram este lugar adaptado para que a criança hospitalizada possa
explorá-lo e agir da melhor maneira possível, conforme suas demandas internas.

Esta adequação do ambiente hospitalar contribui para uma melhora


significativa da experiência de uma internação. É com este enfoque que o próximo
tópico será relatado, para que possamos compreender o contexto ao quais as
recentes classes hospitalares estão inseridas.

O acompanhamento pedagógico hospitalar já é realidade em muitos hospitais


brasileiros. Porém, este tipo de intervenção é recente e, no intuito de entendermos
como ocorreu esta conquista, será necessário voltarmos no tempo.

Ao realizarmos um breve retrospecto do histórico do ambiente hospitalar,


notaremos que este ambiente, antes caracterizado por uma função de assistência e
exclusão, sofreu transformações e se constituiu em uma instituição médica com uma
função terapêutica, chegando hoje a compor um ambiente institucional que se
preocupa com as relações humanas de atendimento e não somente com o tratamento
e a cura da doença.

Visando uma cura efetiva, os hospitais enxergaram novas demandas de


atuação de outros profissionais além dos médicos, já que apenas a cura física não
estava sendo eficaz no tratamento terapêutico e que havia a necessidade de um olhar
mais individualizado e singular para cada paciente.

Esse olhar implica em um processo de humanização no ambiente hospitalar,


sendo o termo "humanização" mais antigo do que parece. A ideia desse conceito vem
da época hipocrática, na qual imperava o discurso de que o médico deveria ser o
conhecedor da alma humana e da cultura em que estava inserida; a cura era um

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processo que envolvia o indivíduo doente em sua totalidade, isto é, que o
compreendia de maneira biopsicossocial.

De acordo Manzano e Lima, atualmente na área da saúde, o tema é bastante


difundido, principalmente após o lançamento do Projeto Piloto de Humanização
Hospitalar, em 2000, pelo Ministério da Saúde. Tal projeto de humanização das
relações hospitalares teve como objetivo criar uma nova cultura de relações entre os
trabalhadores de saúde e os usuários, na busca da valorização da vida humana. Por
isso, podemos pensar que no campo da saúde os relacionamentos não devem ficar
somente no campo do conhecimento e da linguagem técnica.

Após este projeto inicial, o Ministério da Saúde lançou em 2002 uma Política
Nacional de Humanização (PNH) que tem como foco a atenção e gestão no Sistema
Único de Saúde (SUS). A campanha de humanização dos ambientes hospitalares
ganha então o nome de "HumanizaSUS". Esta política tem como objetivo a
integralidade, a universalidade, o aumento da equidade (igualdade na assistência à
saúde) e a incorporação de novas tecnologias e especialização dos saberes
presentes no campo da Saúde.

Os gestores desta política compreendem a humanização como a valorização


dos usuários, profissionais e gestores de saúde que participam deste contexto,
visando ao desenvolvimento da autonomia entre os indivíduos, estabelecendo
responsabilidades mútuas e criação de vínculos solidários, contando com a
participação coletiva nas ações tomadas e não atribuindo responsabilidade ou
especificações às diferentes funções e profissões embora influencie todas elas.

A operacionalização deste programa previsto pelo Ministério da Saúde ocorre


com uma troca e construção de saberes provindos de um trabalho de equipe
multiprofissional, com a construção de redes solidárias e que interagem com o SUS
de forma participativa e protagonista de muitas ações, com a valorização do subjetivo
e do social nas práticas de atenção à saúde e também na gestão do SUS,
fortalecendo assim a autonomia e o protagonismo dos sujeitos envolvidos.

Humanizar é, portanto, o ato de tornar humano. E deve ser entendido em saúde


como uma valorização do respeito à vida e das condições humanas, considerando os
aspectos individuais e particulares de cada pessoa, como a história de vida deste

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indivíduo, os seus medos, suas angústias, suas crenças e sonhos, os seus anseios e
demais singularidades.

Partindo destes princípios, podemos considerar que a proposta de


acompanhamento pedagógico hospitalar pode contribuir consideravelmente para a
manutenção deste projeto de humanização. E acompanhando todo este movimento
para regulamentação de uma política nacional de humanização, as classes
hospitalares também surgem como mais uma ferramenta a ser implementada pelos
hospitais.

Segundo Fonseca, em 1995, há um reconhecimento pela legislação brasileira


acerca do direito da continuidade de escolarização às crianças e adolescentes
hospitalizados e no ano anterior, no documento do MEC, há a denominação de
classes hospitalares, sendo aquelas que "objetivam atender pedagógico-
educacionalmente às necessidades do desenvolvimento psíquico e cognitivo de
crianças e jovens que (...) se encontram impossibilitados de partilhar as experiências
sócio intelectivas de sua família, de sua escola e de seu grupo social".

Em 2001, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação


instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial e no artigo 13 há uma
referência sobre a escola no ambiente hospitalar, com caráter obrigatório a partir de
2002. Conforme o movimento nacional, cada estado viu-se obrigado a estabelecer
legislação específica para atender esta nova determinação. Segundo Noffs e
Rachman, em 2000, o então deputado Milton Flávio elaborou a lei nº 10.685 que
dispõe sobre o acompanhamento educacional da criança e do adolescente internados
para tratamento de saúde. Diante a esta nova realidade, o Ministério da Educação,
por intermédio da Secretaria da Educação Especial, elaborou em 2002 um documento
denominado "Classe Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e
orientações".

Assim, concomitantemente à divulgação da PNH (Política Nacional de


Humanização), as classes hospitalares também obtiveram o respaldo legal para sua
implementação e estruturação no ambiente hospitalar e, com isso, a autorização
necessária para possibilitar a continuidade do aprendizado e auxiliar na melhoria do
quadro das crianças e adolescentes internados.

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Contudo, tais legislações não esclarecem de forma detalhada e prática a
maneira como cada instituição hospitalar deve implementar este tipo de
acompanhamento pedagógico. Até por falta de estudos mais apurados, os hospitais
recorrem à Diretoria de Ensino das regiões correspondentes para buscar não
somente os profissionais capacitados para realizar as atividades curriculares, mas,
também, para seguir o currículo estipulado para as demais escolas de aula regular.

E com esta falta de orientação, algumas adaptações do currículo destinado aos


alunos de grade regular à realidade de um ambiente hospitalar podem tornar-se
prejudiciais a este tipo de intervenção. Conforme Noffs e Rachman, "faz-se
necessário esclarecer que tal oferta de ensino no ambiente hospitalar deve ser
pensada com cautela, pois não pode ser reduzido à mera transferência das práticas
do ensino regular ao ensino hospitalar, considerando as diferentes demandas dos
diversos alunos-pacientes".

Frente a esta situação, encontramos uma oportunidade para a Psicopedagogia


intervir e auxiliar os professores e demais profissionais destinados a este tipo de
acompanhamento pedagógico. Por isto, a seguir, tratarei sobre a rotina e demais
características importantes de uma Classe Hospitalar e entender como a
Psicopedagogia pode contribuir para a melhoria desta intervenção em franca
expansão.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

São variadas as contribuições do Neuropsicopedagogo Institucional que


objetivam a melhoria do processo ensino e aprendizagem sob o ponto de vista
neurobiológico, seja no coletivo ou no individual, assim como, na adequação curricular
e das práticas pedagógicas. Tais contribuições são realizadas mediante observação,
identificação e análises dos espaços e grupos que compõem a instituição, elaboração
do projeto pedagógico e protocolos de inclusão, oficinas com pais/equipe pedagógica,
mapeamento do comportamento socioafetivo e encaminhamentos para outros
profissionais.

É importante salientar que o trabalho deste profissional não é isolado, sendo


realizado em uma gestão participativa, como preconiza Russo e Fülle (2018), onde
outros profissionais realizam suas funções de forma integrada, não havendo nesse
processo um único agente, mas, um grupo uníssono que atua em benefício de seu
alunado no que diz respeito às suas dificuldades cognitivas e particularidades.

O psicopedagogo ou neuropsicopedagogo é um explorador na busca de


informações relevantes e essenciais para chegar-se a um diagnóstico, sendo assim
é possível afirmar que o mesmo é instrumentalizado por várias áreas de
conhecimentos, quanto mais ele busca mais entenderá as diferentes manifestações
e seus significados na tratativa do atendimento.

Ter conhecimentos dos sinuosos caminhos das teorias freudianas e lacanianas


é de suma importância e valia para o profissional da psicopedagogia e
neuropsicopedagogia que precisa basear sua prática de maneira segura, a partir da
construção do seu conhecimento, à medida que se faz necessário estabelecer os
limites do que lhe cabe como profissional.

Certo é que se não optar por mais essa formação, debruçar-se em leituras da
psicanálise será de grande valência na capacitação e apuração do olhar deste
profissional, tanto no atendimento clínico quanto no institucional, proporcionando
melhor segurança e direcionamento ao paciente, a família, aos professores e
instituição.

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O estudo reflexivo de Freud com relação à psicanálise, assim como seus
discípulos, que ao longo do caminho foram criando suas teorias oriundas das
observações de seus atendimentos, sem desprezar a escora que o mestre ricamente
contribuiu para suas buscas, tem sido, ao longo dos anos, contribuições prestigiosas,
agregando a medicina, neurociência, pedagogia, psicologia, filosofia, entre outros,
tornando a psicopedagogia/ neuropsicopedagogia uma ferramenta de pesquisa, ou ,
porque não, uma ciência, de extrema necessidade de imensurável importância tão
necessária para nortear a aprendizagem, para aqueles que em suas aflições
apresentam dificuldades em aprender, assim como outros que devidos a transtornos
apresentam a necessidade de novas ferramentas de aprendizagem, assim como
direcionamento para se saber o diagnóstico que o indivíduo apresenta, para assim,
ter um norte em sua jornada na aprendizagem.

Embora, infelizmente, essa área não seja considerada, ainda, uma ferramenta
agregada à saúde, e ainda é presente a extrema insipiência de alguns profissionais
da medicina que não entendem sua valia, a psicopedagogia/ neuropsicopedagogia
trabalha atrelada a educação e saúde, uma vez que se alimenta de várias fontes para
construir uma ponte entre as duas áreas em que o paciente/ aprendente possa
transitar ganhando força em meio à jornada e entendendo que todo conhecimento já
listado das várias vertentes são responsáveis para suplementar e construir esse
trajeto tão significativo que trará marcas preciosas e bússola para toda sua vida.

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REFERÊNCIAS

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Prática para Diagnóstico em Distúrbios de Aprendizado. São Paulo: Póluss Editorial,
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