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FROSSARD, Lilian. Diferenças entre neuropsicologia e neuropsicopedagogia.

Neuropsicologia pelo Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental


(CETCC). 2020. Disponível em: <cetcc - blog>. Acesso em 10 jun. 2023.

DIFERENÇAS ENTRE NEUROPSICOLOGIA E NEUROPSICOPEDAGOGIA


Neuropsicologia

30/09/2020

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DIFERENÇAS ENTRE NEUROPSICOLOGIA E NEUROPSICOPEDAGOGIA

LILIAN FROSSARD

A aprendizagem tem sido uma área de investigação e intervenção clínica


importante nas últimas décadas, especialmente porque, com o entendimento de que
todos são capazes de aprender, mas nem todos o fazem da mesma maneira, o esforço
para incluir todos os sujeitos no universo das oportunidades para aprender vem se
dando de modo amplo e irrestrito.
Sara Pain (1985) afirma que o processo de aprendizagem se constitui como a
mais ampla definição da palavra educação. Diante dessa premissa, saberes como a
Pedagogia e a Psicologia ganharam grande espaço, corroborando, cada uma delas
com sua especificidade, para a ampliação do olhar sobre as formas de aprender.
Somou-se às ciências já tradicionalmente envolvidas na busca pela
compreensão da aprendizagem como processo, uma nova ciência, a Neurociência,
trazendo a compreensão de como os processos cerebrais se organizam e se
modificam com e no ato de aprender. A partir daí, é possível o surgimento de áreas
de atuação que se valem das contribuições e convergências de tais ciências; nasce a
Neuropsicopedagogia.
A área da Educação foi intensamente beneficiada por esse campo de atuação,
principalmente quando se evidencia a possibilidade do rastreio das habilidades
acadêmicas diante das quais sujeitos precisam ser considerados para exercer seu
potencial de aprendizagem no ambiente escolar. A Neuropsicopedagogia vem,
portanto, ancorar-se na Pedagogia, na Psicologia Cognitiva e na Neurociência para
investigar a relação entre cérebro e aprendizagem humana numa perspectiva de
reintegração pessoal, social e escolar (SBNPp, cap. II, art. 10).
Em suma, a Neuropsicopedagogia tem seu olhar voltado para questões
relacionadas à aprendizagem, utilizando-se como recurso de investigação do
funcionamento cerebral e seus desdobramentos para o ato de aprender, buscando
potencialidades e limitações dos indivíduos e colaborando com sua inclusão no
universo educacional. A atuação desses profissionais pode se dar em ambientes
clínicos, escolares, hospitalares e acadêmicos. A formação anterior na área da
educação favorece a especialidade do neuropsicopedagogo porém, tem sido comum
profissionais clínicos como fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais buscarem tal
especialização para complementar sua formação e seu olhar sobre as dificuldades de
aprendizagem de seus pacientes.
O uso de testes não restritos à psicólogos envolve a formação do
neuropsicopedagogo porém, a aplicabilidade tem como foco clínico as dificuldades de
aprendizagem e o contexto educacional.
A Neuropsicologia, por sua vez, teve seu campo de atuação muito
fundamentado na relação entre cérebro e comportamento. Carmargo, Bolognani e
Zuccolo (Fuentes, 2014) reconhecem que, os estudos experimentais de Luria a partir
de 1966, com pacientes que sofreram lesão cerebral da Segunda Guerra Mundial,
proporcionaram o desenvolvimento de métodos de investigação eficazes ao
diagnóstico de doenças neurológicas e neuropsiquiátricas e a reabilitação pós
cirúrgica desses pacientes.
A avaliação neuropsicológica ganha outro marco, posteriormente, sustentado
pelo avanço tecnológico dos estudos de neuroimagem, podendo então, investigar
disfunções cerebrais a partir de marcadores comportamentais, cognitivos e sociais.
As funções neuropsicológicas recebem, portanto, atenção especial.
A investigação diagnóstica e intervenção da Neuropsicologia se dá por diversos
motivos, seja para o auxílio diagnóstico que busca diferenciar hipóteses sobre o
funcionamento de um sujeito em comparação com sujeitos de seu mesmo grupo
etário, nível de escolaridade ou sexo, seja para orientar prognósticos para indivíduos
pós cirurgias neurológicas, para orientação de tratamentos e reabilitações ou perícia.
Por se tratar de uma especialidade que se apoia no funcionamento cognitivo e
afetivo-social dos indivíduos, tem sido muito frequente que as especializações em
Neuropsicologia sejam realizadas por Psicólogos, que trazem uma bagagem de
formação mais robusta do ponto de vista metodológico e clínico sobre os aspectos
que embasam a pesquisa e investigação da Neuropsicologia.
A Neuropsicologia busca, na interface entre Neurociência e Psicologia, a partir
de modelos neurais e cognitivos muito bem estabelecidos, investigar e propor
intervenção às funções neuropsicológicas, como por exemplo, a atenção, a memória,
a linguagem, dentre outros. O campo da reabilitação neuropsicológica ainda está em
grande expansão, como sustentam Haase (2012), quando dizem que “há um vasto e
ainda pouco explorado campo de reabilitação neuropsicológica.
Tal domínio tem objetivos de capacitar pacientes e familiares a desenvolver
estratégias para conviver, lidar, contornar, reduzir ou superar as deficiências
cognitivas resultantes de dano neurológico/neuropsiquiátrico”. O uso de testes
restritos à psicólogos é instrumentação primordial para a investigação
neuropsicológica, o que torna a graduação em Psicologia uma particularidade para
esta especialidade, no âmbito clínico.
Portanto são duas áreas que, embora contenham como premissas campos de
aplicabilidade distintos, possuem uma atuação que dialoga, possibilitando trocas de
experiências, união de forças e podem contribuir imensamente para o sucesso, bem
estar e avanço na qualidade de vida dos indivíduos que recebem o seu olhar.

Sobre a autora:
Lilian Queiroz Frossard é psicóloga, graduada pela Universidade de Fortaleza
(Unifor) e Mestre em Psicologia pela mesma instituição. Pós-graduada em
Psicopedagogia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Neuropsicologia
pelo Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC). Atuante na
área da Psicologia Escolar desde 2001, com experiências em Psicologia Clínica e
Docência. Atualmente, coordena o curso de Neuropsicopedagogia do CETCC e atua
como Psicóloga Clínica. É, ainda, Orientadora Educacional no Colégio Petrópolis em
São Bernardo do Campo – SP. Contatos: (11) 975928408 e lilianqueiroz@cetcc.com

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