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Disciplina: Fundamentos da Neuropsicopedagogia

Autores: M.e Elys Regina Andretta

Revisão de Conteúdos: Carolinne Prado Engelhardt

Revisão Ortográfica: M.e Jacqueline Morissugui Cardoso

Ano: 2017

Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas


páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de
Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em
cobrança de direitos autorais.

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FICHA CATALOGRÁFICA

ANDRETTA, Elys Regina.


Fundamentos da Neuropsicopedagogia / Elys Regina Andreatta –
Curitiba, 2017.
44 p.
Revisão de Conteúdos: Carolinne Prado Engelhardt.

Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso.

Material didático da disciplina de Fundamentos da


Neuropsicopedagogia – Faculdade São Braz (FSB), 2017.

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Fundamentos da
Neuropsicopedagogia

2017

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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO

Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz!

Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio


Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº
299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e
Extensão Universitária.
A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas
também brasileiros conscientes de sua cidadania.
Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e
grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e
estudantes.

Bons estudos e conte sempre conosco!


Faculdade São Braz

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Apresentação da Disciplina

A neuropsicopedagogia é uma especialidade na qual convergem várias


ciências como: a neurologia, pedagogia, psicologia cognitiva. Como cada uma
dessas ciências contribui com a neuropsicopedagogia, respectivamente com o
estudo do funcionamento do sistema nervoso, saberes relacionados à
educação e a prevenção e tratamento de enfermidades mentais e
comportamentais.
O material da disciplina de Fundamentos da Neuropsicopedagogia teve
o intuito de auxiliar a compreensão da importância da neuropsicopedagogia
como ferramenta fundamental para um maior entendimento e desenvolvimento,
para a reflexão, identificação, intervenção, prevenção e avaliação dos
processos de ensino e aprendizagem. Todas essas ações permitirão ao
profissional neuropsicopedagogo contribuir holisticamente com a educação e,
principalmente, atuar adequadamente e eficazmente na intervenção nas
situações de dificuldades ou problemas específicos de aprendizagem.
Este material apresentará os conceitos da Neuropsicopedagogia, sua
trajetória histórica e, também, algumas considerações sobre a atuação do
profissional neuropsicopedagogo. Será conhecida a legislação da área da
saúde que abrange esta área e quais os campos de atuação desse
profissional. De maneira geral, todos os temas que serão tratados nesta
disciplina são imprescindíveis para aqueles que desejam uma maior
compreensão acerca da neuropsicopedagogia e sua contribuição para a
sociedade.
Espera-se que os assuntos estudados e que as reflexões realizadas no
decorrer dos capítulos contribuam para sua formação e atuação como
profissional neuropsicopedagogo.

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AULA 1 – O que é Neuropsicopedagogia? Conceitos e Definições

Apresentação da Aula 01

Esta aula apresentará os conceitos e definições da


Neuropsicopedagogia, além de compreender historicamente a trajetória dessa
área das neurociências, que estuda o sistema nervoso e sua atuação no
comportamento humano com enfoque na aprendizagem. Será conhecida
também a legislação educacional que abrange essa área, muito importante
para os profissionais que desejam ampliar sua compreensão acerca da
complexidade da aprendizagem.
Para iniciar os estudos, serão feitas algumas reflexões acerca do
conceito de Neuropsicopedagogia e sua contribuição para o campo da
educação. Falar-se-á sobre a legislação que rege essa profissão e qual o
campo de atuação desse profissional.

1. Introdução à Neuropsicopedagogia

Atualmente, a educação, em suas diversas modalidades, se ocupa da


maneira de como atender mais adequadamente aos aprendizes dentro do
ambiente escolar por meio de metodologias e práticas que se ajustem ao
contexto do indivíduo. A neuropsicopedagogia se ocupa da criança ou
adolescente que tem dificuldade de aprendizagem e de relacionamento
interpessoal, ela busca analisar os processos cognitivos, verificar as causas e
fatores provenientes de disfunções neurais consequentes de uma lesão
neurológica de origem genética, congênita ou adquirida. A partir de um
diagnóstico, há uma intervenção clínica em educandos com padrões de baixo
desempenho e que apresentam disfunções neurais.
Os profissionais dessa área constantemente buscam atualizações, pois
cada vez mais estão sendo procurados por instituições de ensino que tem por
objetivo ofertar uma educação de qualidade para crianças e adolescentes que
possuem alguma deficiência cognitiva. Com o seu vasto conhecimento sobre
as bases neurológicas do aprendizado e do comportamento, esses

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profissionais contribuem para que a aprendizagem, em diversos contextos, seja
satisfatória e efetiva.
Os cursos de especialização em neuropsicopedagogia se destinam
àqueles profissionais que desejam um maior entendimento sobre o que é a
aprendizagem. Ademais, essa ciência, permite que as funções cerebrais sejam
investigadas, além de fornecer dados que auxiliam na tomada de decisão para
a escolha de um tratamento adequado à necessidade de cada indivíduo.

Neuropsicopedagogos são profissionais da Neuropsicopedagogia,


que têm o compromisso com a constante busca do saber, do
aprimoramento, de melhorar o ensino-aprendizagem e ter
conhecimento sobre o neurodesenvolvimento do indivíduo [...]
(OLIVEIRA, 2014, p.16)

1.1 O que é Neuropsicopedagogia?

A Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp), em seu


Código De Ética Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia, a define como:

RESOLUÇÃO SBNPp n° 03/2014

Dispõe sobre o CÓDIGO DE ÉTICA TÉCNICO PROFISSIONAL DA


NEUROPSICOPEDAGOGIA:

Artigo 10
CAPÍTULO II. DA DEFINIÇÃO, DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS E DIRETRIZES
Artigo 10. A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos
conhecimentos da Neurociências aplicada à educação, com interfaces da Pedagogia e
Psicologia Cognitiva que tem como objeto formal de estudo a relação entre o funcionamento
do sistema nervoso e a aprendizagem humana numa perspectiva de reintegração pessoal,
social e educacional. (SBNPp – 2016, p.3)
Disponível em: http://www.sbnpp.com.br/wp-content/uploads/2016/11/Codigo-de-etica-
atualizado-2016.pdf

Pode-se dizer que a Neuropsicopedagogia é área de estudo da


neurociência que estuda o sistema nervoso e sua atuação no comportamento
humano, tendo como enfoque a aprendizagem. Mas, para se chegar a um
melhor entendimento do que é a Neuropsicopedagogia, serão feitas algumas

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considerações acerca das neurociências e sua contribuição para essa área de
estudo.
O neuropsicopedagogo, por meio dos seus conhecimentos, consegue
identificar no indivíduo, seja ela criança ou adolescente, as dificuldades
relacionadas com a aprendizagem e, por meio da intervenção ele passa a
atendê-lo de maneira mais adequada para que a aprendizagem ocorra. Porém,
isso não quer dizer que a aprendizagem não ocorre para algumas pessoas, ela
sempre acontece sim, mas com a diferença que para uns ela vem
acompanhada de estimulação e com atividades orientadas de acordo com o
grau de dificuldade de cada um.

1.2 O que é Neurociência?

As pesquisas realizadas para entender o funcionamento do cérebro


humano ocorrem há muito tempo. Há mais ou menos 7.000 anos algumas
pessoas tinham seus cérebros perfurados por meio da trepanação, que é um
processo no qual eram feitos orifícios no cérebro com objetivos filosóficos,
religiosos ou místicos. Assim como as sangrias, a trepanação era realizada
para dizimar os demônios e maus espíritos do corpo do paciente, mas essa
cerimonia não tinha nenhuma intenção terapêutica.

Fonte:http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Arqueologia/noticia/2015/06/solucao-
para-problemas-mentais-na-antiguidade-furar-cabeca-dos-pacientes.html

Muitos estudiosos, ao longo dos anos, se dedicaram ao estudo do


funcionamento do mecanismo cerebral. Porém, foi Alexander Romanovich
Luria que fez pesquisas relevantes sobre o tema. Luria, durante a Segunda
Guerra Mundial, observou o comportamento dos pacientes com lesões
cerebrais e, por meio de anotações fez um levantamento sobre as alterações

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comportamentais oriundas dessas lesões. Com esse procedimento, Luria
pretendia identificar as bases neurológicas do comportamento. Ademais, esses
estudos deram início, de certa maneira, ao elo entre a psicologia e a
neurociência.

Vídeo
Assista ao vídeo Cérebro – Máquina de aprender – Parte 01 de
05, o qual mostra sobre uma professora de Juiz de Fora em
Minas Gerais, que usa da neurociência e faz a diferença na vida
das crianças.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=nCKY3TmRX2M&list=PLxYtbI
gLQaIAJj2_7tOVKDg-nUi7wNQ_r

Para Ventura (2010, p.123), a neurociência possui uma importante


interface com a Educação, Psicologia Cognitiva e Pedagogia em uma
abordagem transdisciplinar, e a define assim:

A neurociência compreende o estudo do sistema nervoso e suas


ligações com toda a fisiologia do organismo, incluindo a relação entre
cérebro e comportamento. O controle neural das funções vegetativas
– digestão, circulação, respiração, homeostase, temperatura-, das
funções sensoriais e motoras, da locomoção, reprodução,
alimentação e ingestão de água, os mecanismos da atenção e
memória, aprendizagem, emoção, linguagem e comunicação, são
temas de estudo da neurociência. (VENTURA, 2010, p.123).

A Neurociência, somada à Educação, promove um melhor entendimento


sobre o que é o processo de aprendizagem. No que diz respeito ao docente,
esse deve ser autônomo para tomar decisões quando reconhecem que existe
um problema com seu aluno e, que esse problema deve ser tratado de maneira
diferenciada, pois muitos professores ficam sem saber o que fazer por falta de
uma formação adequada nessa área.
Os estudos sobre os processos cerebrais é um assunto bastante
pesquisado e, consequentemente, sofre constantes mudanças e novas
concepções surgem ou são reformuladas em consonância com as

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neurociências. Diferentes áreas de conhecimentos constataram que os estudos
das neurociências são necessários para complementar os seus e, sendo
assim, surgiu o interesse por parte das diferentes áreas da ciência, são elas:
neurobiologia, neurofisiologia, neuroquímica, neuropediatria, neuropsicologia,
neuropedagogia e também a Neuropsicopedagogia.

Saiba Mais
Neurociências é o estudo científico do sistema nervoso de
uma forma ampla e, assim, compreende cinco disciplinas:
1) Neurociência molecular: trata a função das moléculas;
2) Neurociência celular: estuda a constituição e função das
células no sistema nervoso;
3) Neurociência sistêmica: descreve e analisa as regiões do
sistema nervoso e está ligado à neuroanatomia. Em outras
palavras, divide o sistema nervoso em partes e nomeia
essas partes e busca compreender as suas funções;
4) Neurociência comportamental: ligada diretamente à
psicologia, especialmente a psicologia comportamental.
Relaciona o estudo do organismo com o meio, centrando o
seu estudo sobre os comportamentos internos, como
pensamentos, emoções e os comportamentos visíveis
como a fala, gestos e outras ações, em geral.
5) Neurociência cognitiva: centra o seu estudo sobre os
comportamentos ainda mais complexos, como memória,
aprendizagem, enfim, a capacidade cognitiva de uma
determinada pessoa em um determinado momento.
Disponível em: http://www.psicologiamsn.com/2014/01/o-
que-e-neurociencia.html

1.3 Neuropsicopedagogia e Legislação

A Neuropsicopedagogia enfoca no entendimento do processo de


aprendizagem e o funcionamento do sistema nervoso na interface que
compreende uma abordagem transdisciplinar que perpassa as neurociências, e
desta maneira realiza o diagnóstico e faz a intervenção adequada para a
prevenção diante das dificuldades e distúrbios da aprendizagem.

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A Neuropsicopedagogia ainda não está devidamente
regulamentada. O Conselho Regional de Psicologia
regulamentou apenas o Especialista em Neuropsicologia.

Segundo a SBNPp (Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia), o


campo de atuação do neuropsicopedagogo deve estar centrado em um plano
de intervenção específico e ele pode atuar nos seguintes locais:

 Consultório particular, clínicas;


 Posto de Saúde;
 Centro de Referência de Assistência Social - CRAS (caso tenha
autorização);
 Terceiro Setor e Hospitais.

O profissional neuropsicopedagogo que possui titulação institucional,


está autorizado a trabalhar com a coletividade e dentro dos seguintes locais de
atuação:

 Instituições escolares;
 Centros e Associações Educacionais;
 Instituições de Ensino Superior;
 Terceiro Setor, como: ONGs (Organização não Governamental),
OCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse público) entre
outros.

O Código Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia estabelece os


critérios que orientam os profissionais da Neuropsicopedagogia no Brasil. Em
seu artigo 30 constam as orientações sobre o trabalho que o profissional
Neuropsicopedagogo deve desenvolver de acordo com seu contexto de
atuação, são eles:

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NEUROPSICOPEDAGOGIA CLÍNICA
 Observação, identificação e análise dos ambientes sociais no
qual está inserido a pessoa atendida, focando nas questões
relacionadas a aprendizagem e ao desenvolvimento humano nas
áreas motoras, cognitivas e comportamentais;
 Avaliação, intervenção e acompanhamento do indivíduo com
dificuldades de aprendizagem, transtornos, síndromes ou altas
habilidades que causam prejuízos na aprendizagem escolar e social,
através de um plano de intervenção específico que prevê sessões
contínuas de atendimento
 Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do
processo ensino-aprendizagem do aluno;
 Utilização de protocolos e instrumentos de avaliação e
reabilitação devidamente validados, respeitando sua formação de
graduação;
 Elaboração de relatórios, laudos e pareceres técnicos
profissionais;
 Encaminhamento a outros profissionais quando o caso for de
outra área de atuação/especialização.
NEUROPSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL
 Observação, identificação e análise dos ambientes e dos
grupos de pessoas atendidas, focando nas questões relacionadas a
aprendizagem e ao desenvolvimento humano nas áreas motoras,
cognitivas e comportamentais, considerando os preceitos da
Neurociência aplicada a Educação, em interface com a Pedagogia e
Psicologia Cognitiva.
 Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do
processo ensino-aprendizagem dos que são atendidos nos espaços
coletivos.
 Encaminhamento de pessoas atendidas a outros profissionais
quando o caso for de outra área de atuação/especialização contribuir
com aspectos específicos que influenciam na aprendizagem e no
desenvolvimento humano.

Assim, a neuropsicopedagogia clínica atua em equipe multiprofissional,


avalia e intervém em crianças e adolescentes com dificuldades escolares,
porém necessitará de supervisão clínica.
Todavia, é importante ressaltar, que em agosto de 2016, a SBNPp
publicou uma Nota Técnica nº 01/2016, a qual especifica as atividades do
neuropsicopedagogo e a regulamentação da sua formação.

Saiba Mais
Acesse o site da SOCIEDADE BRASILEIRA DE
NEUROPSICOPEDAGOGIA – SBNPP e leia na íntegra a

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NOTA TÉCNICA Nº 01/2016.
Disponível em: http://www.sbnpp.com.br/wp-
content/uploads/2016/11/Nota-T%C3%A9cnica-01-2016-
agosto.pdf

Ao fazer uma reflexão sobre a neuropsicopedagogia, é possível concluir


que essa área de estudo é muito importante para o campo da educação, pois
ela auxilia àqueles que possuem alguma deficiência cognitiva e de
relacionamento interpessoal, fatores que interferem na aprendizagem do
indivíduo.

Resumo da Aula 01

No decorrer desta aula discutiu-se acerca da neuropsicopedagogia e


sobre o seu surgimento no âmbito das neurociências. Foram feitas algumas
reflexões sobre a formação do psicopedagogo, de acordo com a legislação
vigente. Por fim, conheceu-se e refletiu-se sobre o histórico das neurociências
e sua contribuição para a área da educação.

Atividade de Aprendizagem
Pesquise sobre a relação entre o cérebro e a aprendizagem e
discorra sobre os tópicos que foram estudados em aula.

Aula 2 – Ciências e Práticas que Compõem a Neuropsicopedagogia

Apresentação da Aula 02

A neuropsicopedagogia é uma área de estudo recente e ainda bastante


pesquisada. Nesta aula serão feitas algumas reflexões acerca da formação da
neuropsicopedagogia e as demais áreas do conhecimento que a compõem.
Falar-se-á também sobre a importância e as contribuições dessa área e do
profissional neuropsicopedagogo para a formação do cidadão.

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2 Conhecendo as Ciências que Formam a Neuropsicopedagogia

Serão iniciados os estudos fazendo algumas reflexões sobre a


neuropsicopedagogia e sobre as ciências que a compõem. Falar-se-á sobre
sua trajetória ao longo do seu desenvolvimento e quais são suas contribuições
para a educação e para o educando com problemas de aprendizagem.
Para compreender a área, deve-se compreender a origem do seu nome:

 NEURO – Do grego Neuron, nervo e Logos, estudo. A neurologia é a


especialidade médica que trata das enfermidades do cérebro. Estuda a
estrutura, função e desenvolvimento do sistema nervoso (central,
periférico e autônomo) e músculos. O neurologista é um médico que se
especializou no estudo das enfermidades e transtornos que afetam o
sistema nervoso.
 PSICO – Etimologicamente psicologia deriva das palavras gregas
psyché (alma, espírito) e logos (estudo, razão, compreensão). É uma
ciência que estuda a conduta e os fenômenos mentais subjacentes. O
psicólogo previne e trata as enfermidades mentais, distúrbios
emocionais e de personalidade.
 PEDAGOGIA – a palavra pedagogia tem sua origem no grego antigo
paidagogós. Esta palavra é composta por paidos, criança; gogia,
conduzir ou levar. Portanto, o conceito fazia referência ao escravo que
levava as crianças para a escola. Atualmente a pedagogia é o conjunto
de saberes relacionados à educação, entendida como um fenômeno que
pertence intrinsicamente a espécie humana e que se desenvolve
socialmente. Portanto, é uma ciência aplicada com características
psicossociais que tem a educação como principal objeto de estudo.

NEURO + PSICO + PEDAGOGIA


É a especialidade na qual convergem várias ciências, como
a neurologia, pedagogia, psicologia e educação. Ela avalia,
diagnostica e oferece tratamento especializado para os
problemas de aprendizagem, de linguagem, conduta e
desempenho escolar.

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2.1 Contextualização

A neuroeducação é o estudo das relações neurológicas e a


aprendizagem que promove uma melhor integração entre as ciências da
educação e o setor da neurociência vinculada a cognição, aproveitando os
conhecimentos sobre o funcionamento cerebral para ensinar e aprender
melhor.
A pedagogia é a ciência responsável pela formação, educação, instrução
e desenvolvimento dos cidadãos de uma sociedade. Em razão disso, a
pedagogia necessita de um maior envolvimento com as diferentes disciplinas
do conhecimento científico, sobretudo as que podem contribuir com uma visão
mais global do ser humano e que facilite sua abordagem desde uma teoria
heurística.
As práticas e/ou estratégias pedagógicas utilizadas durante o processo
de ensino e aprendizagem influenciam na organização do sistema nervoso,
resultando em novos comportamentos e atitudes.
No século passado, nos anos 20, ocorreu a união da pedagogia com a
psicologia. A partir dessa união houve o aparecimento e desenvolvimento de
novos campos do conhecimento, tanto a nível empírico quanto teórico para
ambas as disciplinas. Entretanto, a relação com a neuropsicologia se deu a
partir dos anos 80 do século passado, embora seja relevante mencionar que a
ideia de uma educação baseada nas propriedades da cognição e o cérebro
humano como um órgão do conhecimento remonta às últimas décadas do
século XIX.
Foi da psicologia que a neuropsicopedagogia herdou os conhecimentos
sobre o comportamento humano, emocionais, afetivos e motivacionais, que
geralmente estão envolvidos com a aprendizagem. A partir do envolvimento
com as neurociências, a psicologia trouxe consigo abordagens diferenciadas
que contribuíram para que a área pedagógica, e as demais envolvidas com o
processo educacional, percebessem o ser humano como uma visão sistêmica.
A partir dessa constatação essas áreas começaram a interagir de forma
interdisciplinar e como resultado dessa interação surgiu a Neuroeducação.
Caracterizada pela multi e interdisciplinaridade, a Neuroeducação
chegou para oferecer alternativas para a docência e, também, para as

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pesquisas relacionadas à educação em uma abordagem que envolve o
conhecimento e a inteligência, integrando as três áreas: a Psicologia, a
Educação e as Neurociências, e as demais áreas que se estabeleceram com a
integração dos campos: Neuropsicopedagogia, Neuropsicologia e
Psicopedagogia.
Hennemann (2015), em seu artigo Considerações sobre o Livro
Neuropsicopedagogia Clínica – Introdução, Conceitos, Teoria e Prática,
elaborou um quadro comparativo, baseado na obra de Russo (2015), das
diferentes áreas, a saber:

Quadro 1 - Diferenciações e semelhanças entre a Neuropsicopedagogia,


Neuropsicologia e Psicopedagogia

Neuropsicopedagogia Neuropsicologia Psicopedagogia


Bases Neurociência + Neurociência + Psicologia +
Psicologia + Pedagogia Psicologia Pedagogia
Instrumentos Faz uso de testes não Faz uso de Faz uso de
de avaliação privativos (instrumentos instrumentos métodos,
que podem ser especificamente instrumentos e
utilizados tanto pela padronizados recursos próprios
Psicologia quanto por avaliando as funções para a
outras profissões), neuropsicológicas compreensão do
realizando avaliação, (habilidades de processo de
intervenção e atenção, percepção, aprendizagem,
acompanhamento do linguagem, cabíveis na
indivíduo com raciocínio, abstração, intervenção.
dificuldades de memória,
aprendizagem, aprendizagem,
transtornos, síndromes habilidades
ou alta habilidades que acadêmicas,
causam prejuízo na processamento de
aprendizagem escolar e informações,
social. visuoconstrução,
afeto, funções
motoras e
executivas.
Atuação Atua na avaliação, Atua no diagnóstico Atua em Educação
intervenção, no tratamento e na e Saúde que se
acompanhamento, pesquisa da ocupa do processo
orientação de estudos e cognição, das de aprendizagem
no ensino de estratégias emoções, da considerando o
de aprendizagem. personalidade e do sujeito, a família, a
comportamento sob escola, a
o enfoque da relação sociedade e o
entre esses aspectos contexto socio-
e o funcionamento histórico, utilizando
cerebral. procedimentos

16
próprios,
fundamentados em
diferentes
referenciais
teóricos
Semelhanças Natureza Multiprofissional, inter e transdisciplinar e o estudo do
desenvolvimento humano e dos processos de ensino e
aprendizagem.
Fonte: Russo, 2015.

A neuropsicopedagogia é uma área de estudos ainda muito recente, ela


propõe uma visão diferente do ser humano que está em formação e, deve ser
complementada com outras visões, de outras áreas, que permitam aproximar-
se do estudante de maneira mais integral.

Amplie Seus Estudos


SUGESTÃO DE LEITURA
Leia a obra Neuropsicopedagogia
Clínica – Introdução, Conceitos, Teoria
e Prática (Rita M.T.Russo), a autora faz
considerações acerca do profissional
Neuropsicopedagogo, suas funções e
atuações.

2.2 Neuropsicopedagogia e a Escola/Professor

A aprendizagem humana é intrínseca à experiência, porém, quando se


trata do ensino/aprendizagem nas escolas, essa questão é compreendida
como um ensino tradicional, centrado na quantidade de informações e o
professor como detentor do conhecimento. Ainda existem professores cujo foco
é somente a escola, e não estão aptos para reconhecer àqueles que possuem
alguma dificuldade relacionada à aprendizagem, pois esses esperam que todos
os alunos aprendam de uma mesma maneira. Se está vivendo em uma época
de muitos avanços na área dos estudos do cérebro e, considerando esse

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aspecto, é incabível querer que os alunos somente memorizem informações, já
que existem outros recursos para ajudá-los a assimilar conhecimentos.
É nesse contexto que a Neuropsicopedagogia pode contribuir para
auxiliar esses alunos com problemas de aprendizagem, pois é uma área que
está formada por outras áreas que contribuem para esse reconhecimento, são
elas: a Neurociência e as Ciências da Cognição. Por isso, a
neuropsicopedagogia, além de focar no aluno, ela também tem como foco
instruir o professor para que tenha conhecimento e condições de reconhecer as
dificuldades dos aprendizes que estão relacionadas ao cérebro, à inteligência e
à memória no complexo sistema cognitivo humano.

Saiba Mais
Para se compreender mais sobre a neurociência, acesse o
artigo Neuropsicopedagogia: novas perspectivas para a
aprendizagem e saiba mais sobre os princípios de Tokuma-
Espinosa.
Disponível em:
http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/201
2/10/neuropsicopedagogia-novas-perspectivas.html

Segundo Marcuschi (2007), os estudos cognitivos do ser humano são


vistos como um fenômeno essencialmente social, elaborado intersubjeti-
vamente no plano do discurso. A cognição é considerada um sistema criativo,
pois cria e recria suas aprendizagens. A sala de aula, por exemplo, é um local
no qual ocorre a interação, então cabe ao professor criar situações de
aprendizagem com significação. Uma forma de fazê-lo é utilizar metáforas, pois
além de figuras de linguagem elas são ferramentas muito eficazes para a
compreensão, porque acercam a cognição do aluno ao seu componente
cultural direto. Portanto, conhecer os alunos e mapear suas cognições,
contribui para a escolha de temas para as próximas aulas, com o uso das
metáforas, por exemplo, e que contribuam efetivamente com o aprendizado.

2.3 Neuropsicopedagogia e Práticas: Algumas Considerações

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Os conhecimentos neuropsicopedagógicos permitem entender como se
dá a aprendizagem em cada indivíduo e, dessa maneira, oferecem
possibilidades educacionais positivas para todos, quebrando o paradigma de
que a aprendizagem só acontece para algumas pessoas. Na verdade, ela
sempre acontece, porém para alguns com mais dificuldade devido à presença
de algum problema de aprendizagem. Considerando esse contexto, é oportuno
mencionar os princípios da neuroeducação postulados por Espinosa (2008),
que são utilizados como componentes muito importantes nas intervenções
neuropsicopedagógicas, a saber:

 Estudantes aprendem melhor quando são altamente motivados do que


quando não têm motivação;
 Stress impacta o aprendizado;
 Ansiedade bloqueia oportunidades de aprendizado;
 Estados depressivos podem impedir o aprendizado;
 O tom de voz de outras pessoas é rapidamente julgado no cérebro como
ameaçador ou não ameaçador;
 As faces das pessoas são julgadas quase que instantaneamente (i.e.
intenções boas ou más);
 Feedback é importante para o aprendizado;
 Emoções têm papéis-chave no aprendizado;
 Movimento pode potencializar as oportunidades de aprendizado;
 Nutrição impacta o aprendizado;
 Sono impacta consolidação de memória;

Curiosidade
A consolidação das memórias ocorre pouco a pouco, a cada
período de sono, quando as condições químicas cerebrais
são propícias à neuroplasticidade. O sono e o aprendizado
são importantes fatores para o processo de aquisição e
armazenamento de conhecimento.
Disponível em: http://inescozzo.com/sono-memoria-e-
aprendizagem/

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 Estilos de aprendizado (preferências cognitivas) são devidas à estrutura
única do cérebro de cada indivíduo;
 Diferenciação nas práticas de sala de aula são justificadas pelas
diferentes inteligências dos alunos.

Considerando os princípios acima mencionados, pode-se afirmar que a


aprendizagem não envolve somente a memorização de conteúdos, envolve
também outros fatores, tais como: motivação, emoção, interação, entre outros.
A escola deve dar acesso aos neuropsicopedagogos, pois esses profissionais
possuem competência para identificar como se dá a aprendizagem do aluno e,
também, com relação à metodologia que está sendo utilizada pelo professor,
pois suas ações, baseadas nos princípios mencionados acima, podem orientar
o professor quanto a sua metodologia para que haja uma aprendizagem mais
significativa, visando possibilitar a verdadeira inclusão escolar e social.

Vídeo
Assista ao vídeo Cérebro – Máquina de aprender – Parte 05 de
05, e veja sobre como o cérebro funciona e duas formas que
auxiliam para se pensar melhor, que é a leitura e o exercício
físico.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=JmF2B-
fuaxQ&list=PLxYtbIgLQaIAJj2_7tOVKDg-nUi7wNQ_r&index=5

2.4 O Neuropsicopedagogo

A Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp) Conselho


Técnico – Profissional, na Nota Técnica nº 01/2016, faz orientações acerca das
atividades do Neuropsicopedagogo de acordo com as demandas nos diferentes
contextos de atuação. A nota técnica visa informar os órgãos competentes
interessados, sobre a inclusão do cargo de Neuropsicopedagogo no quadro
efetivo de profissionais, pois são essenciais para o encaminhamento de
educandos com problemas de aprendizagem.

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Saiba Mais
Leia a Nota Técnica nº 01/2016 da Sociedade Brasileira De
Neuropsicopedagogia na íntegra, e saiba mais sobre as
funções do profissional Neuropsicopedagogo
Disponível em: http://www.sbnpp.com.br/wp-
content/uploads/2016/05/SBNPP-CTP-Nota-
T%C3%A9cnica-n.-01-2016.pdf

O Neuropsicopedagogo pode atuar em dois contextos: no âmbito


Institucional, voltado especificamente à Educação, Especial Inclusiva, e no
âmbito Clínico. Conheça a descrição detalhada das funções desse profissional
no Art. 29 e 30:

Resolução 03/2014 da SBNPp – NOTA TÉCNICA

Art. 29 Ao Neuropsicopedagogo com formação na área Institucional, conforme descrito no


Capítulo V, fica delimitada sua atuação com atendimentos neuropsicopedagógicos
exclusivamente em ambientes escolares e/ou instituições de atendimento coletivo.
§1°. Entende-se que sua atuação na área de Institucional, ou de educação especial, de
educação inclusiva escolar deve contemplar:
a) Observação, identificação e análise do ambiente escolar nas questões relacionadas ao
desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais;
b) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino-
aprendizagem do aluno;
c) Encaminhamento do aluno a outros profissionais quando o caso for de outra área de
atuação/especialização.
Art. 30 Ao Neuropsicopedagogo com formação clínica, conforme descrito no Capítulo V, fica
delimitada sua atuação com atendimentos neuropsicopedagógicos individualizados em
setting adequado, como consultório particular, espaço de atendimento, posto de saúde,
terceiro setor. Os atendimentos em local escolar ou hospitalar devem acontecer de forma
individual e em local adequado.
§1°. Entende-se que sua atuação na área clínica ou de atendimento multiprofissional deve
contemplar:
a) Observação, identificação e análise do ambiente escolar nas questões relacionadas ao
desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais;
b) Avaliação, intervenção e acompanhamento do indivíduo com dificuldades de
aprendizagem, transtornos, síndromes ou altas habilidades que causam prejuízos na
aprendizagem escolar e social;

21
c) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino-
aprendizagem do aluno;
d) Utilização de protocolos e instrumentos de avaliação e reabilitação devidamente
validados, respeitando sua formação de graduação;
e) Elaboração de relatórios e pareceres técnicos-profissionais;
f) Encaminhamento a outros profissionais quando o caso for de outra área de
atuação/especialização.

O especialista em Neuropsicopedagogia, como visto anteriormente,


pode atuar em diferentes contextos. Ele é um profissional que está apto a
compreender o processo cognitivo e suas implicações na aprendizagem, pois
os conhecimentos adquiridos durante sua formação, lhe permitem reconhecer
os transtornos, síndromes, patologias e distúrbios manifestados no indivíduo. A
partir da identificação dos sintomas, esse profissional proporá uma intervenção
neuropsicopedagógica que será realizada em conjunto com os professores,
escola (equipe pedagógica), familiares e demais profissionais que participam
do cotidiano do educando.

Vídeo
Assista ao vídeo indicado e saiba quais são as contribuições
da Neurociência para o processo de formação da nova
competência do professor-educador do século XXI.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=M5F2S5D5CDE

Dessa forma, a aula refletiu sobre a formação da área


neuropsicopedagogia e sua importância para o tratamento dos problemas de
aprendizagem, além de discutir sobre as funções e o papel do
neuropsicopedagogo no ambiente escolar. Foi visto também que a
neuropsicopedagogia é uma área de estudos ainda muito recente e que ainda
tem um longo caminho a percorrer até que seja reconhecida como uma ciência.

Resumo da Aula 02

22
Esta aula abordou os principais temas relacionados à formação da área
da neuropsicopedagogia e do profissional neuropsicopedagogo. Foram feitas
algumas considerações a respeito das práticas aplicadas ao contexto escolar, e
apresentou-se alguns itens que são fundamentais para as intervenções
neuropsicopedagógicas.

Atividade de Aprendizagem
Discorra sobre o papel do neuropsicopedagogo e sua
importância no ambiente escolar.

Aula 3 – O Neuropsicopedagogo e sua Atuação nos Casos de Transtornos


e Distúrbios

Apresentação da Aula 03

O neuropsicopedagogo é um profissional muito importante no que diz


respeito ao tratamento dos transtornos e distúrbios relacionados à
aprendizagem. Nesta aula serão abordadas algumas considerações acerca da
diferença entre dificuldade e transtorno de aprendizagem e qual o papel desse
profissional nos casos especiais.
Será iniciado os estudos fazendo algumas reflexões sobre a atuação
profissional do neuropsicopedagogo e sua atuação nos problemas de
aprendizagem. Serão vistas as principais diferenças entre transtornos e
dificuldades de aprendizagem e, por fim, falar-se-á sobre a identificação,
intervenção, encaminhamento e atuação do neuropsicopedagogo.

3 O Neuropsicopedagogo e os Problemas de Aprendizagem

Para que se possa entender a função do neuropsicopedagogo e sua


atuação com alunos que apresentam problemas de aprendizagem, é

23
imprescindível um esclarecimento acerca do que é a dificuldade de
aprendizagem e transtorno, e qual é o papel do cérebro no processo de
aprendizagem.
Alguns teóricos da área afirmam que os problemas de aprendizagem
são decorrentes da “ensinagem”, pois a falta de estímulos pode gerar o
fracasso escolar. Portanto, é necessária uma análise cuidadosa sobre as
possíveis causas, sintomas e, também, as consequências e tratamento.
Segundo Sara Paín, os problemas de aprendizagem não devem ser
considerados erros:

[…] são perturbações produzidas durante a aquisição e não nos


mecanismos de conservação e disponibilidade […]; é necessário
procurar compreender os problemas de aprendizagem não sobre o
que se está fazendo, mas sim sobre como se está fazendo (SARA
PAÍN 1992, p. 32).

3.1 Transtornos de Aprendizagem

“O que significa transtorno de aprendizagem?”. O conceito de transtorno


de aprendizagem é ainda muito difícil de definir, pois essa situação é resultado
das controvérsias teóricas que existem entre as diferentes disciplinas
envolvidas nesse assunto (neurologia, psicologia, neuropsicologia,
neuropsicopedagogía, fonoaudiologia, pedagogia, educação, entre outras).
O Transtorno de Aprendizagem está relacionado com a falta de
habilidade específica, como leitura, escrita ou matemática, em aprendizes que
apresentam resultados inferiores ao esperado para o seu nível de
desenvolvimento. A National Joint Comittee on Learning Disabilities (1988,
s/p), conceituou os problemas de aprendizagem como:

Dificuldade de aprendizagem é um termo geral que se refere a um


grupo heterogêneo de transtornos manifestados por dificuldades
significativas na aquisição e uso da escuta, fala, leitura, escrita,
raciocínio ou habilidades matemáticas. Estes transtornos são
intrínsecos ao indivíduo, supondo-se que são devido à disfunção do
sistema nervoso central, e podem ocorrer ao longo do ciclo vital.
Podem existir junto com as dificuldades de aprendizagem, problemas
nas condutas de autorregulação, percepção social e interação social,
mas não constituem por si próprias, uma dificuldade de aprendizado.
Ainda que as dificuldades de aprendizado possam ocorrer
concomitantemente com outras condições incapacitantes como, por

24
exemplo, transtornos emocionais graves ou com influências
extrínsecas (tais como as diferenças culturais, instrução inapropriada
ou insuficiente), não são o resultado dessas condições ou influências.

A Organização Mundial da Saúde (1992) descreve os transtornos de


aprendizagem no CID-10, e a Associação Psiquiátrica Americana (2013) no
DSM-V. Esses manuais utilizam o termo “transtorno” para evitar problemas
maiores quanto ao uso dos termos “doença” ou “enfermidade”
As primeiras acepções sobre transtornos surgiram do campo da
medicina e tem como finalidade dar explicações biológicas de etiologia e as
causas das dificuldades de aprendizagem. No século XX, a psicologia se ocupa
de encontrar formas de classificar e selecionar os indivíduos que entram na
escola e, para isso, Alfred Binet e Théodore Simon criaram um teste para medir
a capacidade mental em crianças, a escala Binet-Simon surgiu em 1905. A
escala de inteligência, resultado do teste, permitia classificar as crianças que
podiam frequentar a sala de aula convencional daqueles que deveriam receber
um tratamento especial.

Saiba Mais
O QUE É A ESCALA BINET-SIMON
Consistia em um teste desenvolvido para medir a
inteligência em geral. Possui uma série de problemas que
deveriam ser resolvidos em um determinado espaço de
tempo e acompanhado pelo psicólogo.
Disponível em:
http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/39/res02_
39.pdf

A partir dos estudos de Binet, surgiu uma corrente psicométrica que


desenvolveu uma série de escalas para medir a inteligência e, o resultado
classificava os indivíduos. Porém, houve uma série de críticas a esse tipo de
teste, pois acreditava-se que eles não mediam o que era proposto a medir.
Quanto as críticas positivas, elas afirmam que por meio desses testes foi
possível fazer um resumo de ideias que possibilitaram que sua utilização seja

25
mais fácil de ser aplicada. Também foi possível a criação de scores para medir
e tabelar os vários esquemas e estruturas (ROTH, RAAB, GRECO, 1998).

Curiosidade
Ainda no século XX, foram utilizadas várias denominações
relacionadas aos problemas de aprendizagem, muitos dos
quais surgiram da descrição de problemas específicos para
a aprendizagem de leitura, escrita, cálculo ou dificuldades
comportamentais que afetam o rendimento escolar. Em
1896, Pringle Morganf defrontou-se com um adolescente de
14 anos que, apesar de parecer muito inteligente,
apresentava incapacidade com a linguagem escrita. Morgan
chamou este evento de “cegueira verbal”, mais tarde foi
chamada de “cegueira verbal congénita”, “dislexia
congênita”, “estrefossimbolia”, “alexia do desenvolvimento”,
“dislexia constitucional”, e até “parte do contínuo das
perturbações de linguagem, caracterizada por um défice no
processamento verbal dos sons”.

3.2 Quais as Origens dos Transtornos de Aprendizagem?

Segundo o DSM IV, o transtorno de aprendizagem ocorre quando o


rendimento do indivíduo em leitura, cálculo ou expressão escrita é inferior ao
esperado por faixa etária, escolarização ou nível de inteligência. A falta de
oportunidades, o ensino deficiente, fatores culturais, problemas de visão ou
audição alteradas ou retardo mental são as possíveis causas de variações no
rendimento escolar. (DSM IV, 1992).
Por outro lado, o DSM V afirma que o transtorno da aprendizagem é um
transtorno de origem biológica e que está relacionado com as anomalias no
nível cognitivo e que resultam em manifestações comportamentais. Conforme
Fontes (2007), a origem biológica se dá por fatores genéticos, epigenéticos e
ambientais, que agem no potencial cerebral, na percepção ou no
processamento das informações verbais e não verbais com eficácia e precisão.

26
Amplie Seus Estudos
SUGESTÃO DE LEITURA
Leia na íntegra o Manual Diagnóstico e
estatístico de transtornos mentais (2014),
no qual se encontrará informações
importantes sobre enfermidades e
diagnósticos.

3.3 O que é Aprendizagem?

A Aprendizagem implica em uma construção progressiva de


organizações cognitivas que vão se estruturando de acordo com a interação
entre o meio ambiente e as experiências do indivíduo. Tal fato explica que, o
homem dotado de uma estrutura biológica, ao entrar em contato com diferentes
situações, tem a capacidade de processar as diversas informações e estruturá-
las pelo seu grau de importância, ou seja, assimila somente as informações
que lhe pareçam relevantes e significativas. Por esse motivo é que são muito
importantes os fatores emocionais e sociais, pois tais fatores implicam em uma
tomada de consciência na sua relação consigo mesmo e com os outros, em
função dos seus interesses, valores, atitudes e crenças.

3.4 Transtorno de Aprendizagem ou Dificuldade Escolar?

Segundo Bateman apud Brunet (1998), as crianças com dificuldades


específicas de aprendizagem são aquelas que apresentam uma divergência
educacional significativa entre seu potencial intelectual e seu nível de
desempenho, relacionada com desordens básicas nos processos de
aprendizagem e que podem, ou não, estar acompanhados de uma disfunção
verificada no sistema nervoso central e não são secundários a um retardo
mental generalizado, a uma desvantagem cultural ou educativa, a
perturbações emocionais severas ou uma perda sensorial.

27
Para identificar se é transtorno ou dificuldade, é importante
compreender quais são os problemas que a criança está
apresentando e, se esses problemas são mais gerais ou
específicos de desenvolvimento.

Nos casos de dificuldade de aprendizagem não há alterações funcionais,


propriamente ditas, de base neurológica, que possam impedir ou limitar a
aprendizagem. Nesses casos o problema é externo à criança, embora a
criança não esteja aprendendo, o problema não está efetivamente nela. O
problema pode ter origem em fatores socioeconômicos, problemas de natureza
familiar, limitações ou, principalmente, problemas de natureza pedagógica, ou
seja, as escolas nem sempre estão devidamente preparadas para dar conta da
diversidade de perfis de aprendizagem e da diversidade de aprendizes. Muitas
vezes a proposta que a escola apresenta pode ser útil e efetiva para algumas
crianças, mas para outras pode não ter a mesma eficiência. As dificuldades
podem ser transitórias e podem ser superadas caso os alunos sejam bem
ensinados. As dificuldades podem ser geradas pela própria escola em sua
forma de ensinar.
Já os Transtornos de Aprendizagem são transtornos provocados por
alterações funcionais e são intrínsecas às crianças, são de base neurológica e
fazem parte de sua constituição neurológica. As condições sociais e
pedagógicas podem estar presentes, podem ser boas ou desfavoráveis, mas
não são elas os verdadeiros fatores causadores dessas limitações. Se o
professor possui uma boa formação para trabalhar nessas situações, o fator
escolar será altamente favorável. Se a escola/professor não tem preparo para
esta situação isso pode agravar o problema apresentado pelo indivíduo.

Curiosidade
Os Sinais e Sintomas na primeira infância que identificam
distúrbios de aprendizagem:

28
 Atraso no desenvolvimento motor;
 Atraso ou deficiência na aquisição da fala;
 Dificuldade para entender o que ouve;
 Chora muito, tímida e irritadiça;
 Inquieta, agitada e muda de atividade com frequência;
 Dificuldade de adaptação aos primeiros anos escolares;
 Distúrbios do sono com pesadelos, terror noturno,
sonambulismo e enurese noturna.

O transtorno de aprendizagem é a dificuldade persistente que traz


prejuízo na evolução do desenvolvimento do aprendiz, é um fator complicador
no processo de aprendizagem da criança. O déficit de atenção, dislexia,
hiperatividade, disgrafia e discalculia são alguns dos problemas mais comuns
que as crianças podem apresentar na vida acadêmica, são transtornos
considerados de base neurológica e que se apresentam na forma de um
distúrbio funcional. Essas dificuldades tendem a ser mais permanentes, são
dificuldades mais duradouras e elas persistem apesar dos possíveis avanços
que a criança pode ter, apesar da ajuda que está recebendo do ponto de vista
pedagógico, intervenção fonoaudiológica, psicopedagógica, etc.
É importante que as diferenças entre dificuldades e transtornos possam
ser identificadas e diferenciadas e, também, compreender quais são os
problemas que a criança está apresentando e, se esses problemas são mais
gerais ou específicos de desenvolvimento. “As limitações fazem parte do
quadro de transtorno de aprendizagens?” “São de natureza funcional?” “Ou
essas dificuldades são mais transitórias e passageiras?” Dependem, acima de
tudo, de modificações dentro do contexto escolar ou da sala de aula.

A diferença mais marcante entre as dificuldades de


aprendizagem e os transtornos de aprendizagem é o tempo
de reação.

As crianças com dificuldades escolares, quando sofrem uma intervenção


bem dirigida, tendem a responder rapidamente, e na maior parte das vezes as

29
dificuldades desaparecem. Portanto, é a resposta à intervenção que vai ajudar
a fazer a diferença entre os verdadeiros transtornos de aprendizagem daqueles
problemas que estão muito presentes da sala de aula, ou seja, as dificuldades
de aprendizagem. Outro ponto relevante é que a formação de professores deve
ser aprimorada para que a aprendizagem seja otimizada para diminuir as
dificuldades escolares e facilitar a aprendizagem de alunos com transtornos.

3.5 Quando Encaminhar os Indivíduos com Dificuldades de


Aprendizagem?

É normal encontrar alunos com dificuldades variadas com a leitura e


com a escrita. Muitas crianças, apesar da idade, não estão alfabetizadas.
Outros fatores importantes são: dificuldade para memorizar, de atenção e
desinteresse por tudo que diz respeito à sala de aula. Além desses fatores, há
também a queixa com relação à preguiça em sala de aula, o indivíduo não
consegue acompanhar a turma, há uma defasagem entre o seu desempenho e
o da turma. Apresentam problemas de lentidão e comportamento, além de
limitações com a matemática.
É importante que pais e professores fiquem atentos aos pequenos sinais
de dificuldades de aprendizagem que muitas vezes são confundidos com
preguiça e relaxamento. A preguiça ou relaxamento sempre acompanha uma
dificuldade, porque o nosso cérebro sempre procura esconder a deficiência
atrás da preguiça. Toda criança que apresentar dificuldade com aprendizagem,
deve se submeter a um trabalho de elevação da autoestima para que ela saiba
que pode aprender.

Vídeo
Acesse o vídeo Veja as características específicas de cada
transtorno de aprendizagem, o qual mostra um pouco das
características específicas de cada transtorno de aprendizagem
e como se deve atuar para auxiliar o aprendizado e
desenvolvimento dessas crianças.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Zi8nJ0Jg7HI&t=109s

30
As reflexões feitas sobre as dificuldades e transtornos e suas
consequências para indivíduos afetados, tiveram o intuito de proporcionar uma
maior compreensão sobre a atuação do profissional e dos familiares envolvidos
neste contexto, pois toda criança com problemas de aprendizagem deve ser
submetida a um tratamento imediato para que, futuramente, ela tenha
qualidade de vida.

Resumo da Aula 03

Nesta aula falou-se sobre as diferenças entre as dificuldades e


transtornos de aprendizagem e suas consequências para os indivíduos
afetados. Nesse contexto se fez algumas considerações acerca do papel da
escola, do professor, da família e do neuropsicopedagodo quando o problema
é identificado.

Atividade de Aprendizagem
Discorra sobre a diferença entre o Transtorno de
aprendizagem e a Dificuldade Escolar.

Aula 4 - As Dificuldades de Aprendizagem e suas Implicações nos


Contextos Social, Educacional e Familiar

Apresentação da Aula 04

Sabe-se que as dificuldades de aprendizagem estão presentes no


cotidiano das famílias, das escolas e, que muitas crianças, ou até mesmo
adultos, se não forem tratados, são ou serão marginalizados pela sociedade.
Portanto, a identificação, o diagnóstico, a intervenção e o encaminhamento,
são ações fundamentais para garantir um futuro melhor e de mais qualidade de
vida para esses indivíduos. Por isso é importante que se conheça as

31
particularidades das dificuldades de aprendizagem, como identificá-las e tratá-
las.
Inicia-se os estudos fazendo algumas reflexões sobre a avaliação
neuropsicopedagógica, sobre a importância de um diagnóstico correto das
dificuldades e o posterior encaminhamento dos indivíduos afetados aos
profissionais habilitados. Serão conhecidos também alguns transtornos mais
frequentes nas crianças e quais são os sintomas de cada uma delas.

4 A Avaliação Neuropsicopedagógica

A neuropsicopedagogia é uma área que tem denominadores comuns


com as demais disciplinas que a compõem: a convalidação dos conhecimentos
teóricos, os modelos de intervenção e demais ferramentas de trabalho
profissional. Sua base conceitual e técnico-procedimental se fundamenta no
conhecimento interdisciplinar das bases neuropsicológicas e comportamentais
no que concerne à aprendizagem escolar, bem como às alterações cognitivas e
comportamentais do desenvolvimento que afetam os processos de
aprendizagem escolar. A neuropsicopedagia prioriza as questões pedagógicas
e funções psicológicas, com enfoque na escola, em suas práticas e em suas
metodologias.

4.1 Dificuldades de Aprendizagem Escolar - Identificação e Diagnóstico

Identificar corretamente as causas da “não aprendizagem” é


imprescindível para a elaboração de um diagnóstico correto, pois podem
ocorrer casos de alunos que apresentam dificuldades semelhantes, mas as
causas das manifestações são diferentes.
Quando os pais ou professores constatam algum tipo de dificuldade de
aprendizagem na criança, a reação nem sempre é positiva, pois muitos pais,
por total desconhecimento sobre o assunto, se negam a acreditar na existência
de um problema real que pode ser um transtorno ou até uma síndrome
neuropsíquica, e acabam rotulando seu próprio filho de preguiçoso ou
desinteressado.

32
Por outro lado, existem os professores despreparados e desinformados,
mesmo que sua profissão exija tais conhecimentos, geralmente incorrem
exatamente no mesmo erro dos pais da criança. Sem saber como atuar nesses
casos, os professores insistem que o aluno realize algum um tipo de atividade
e, percebendo que não está obtendo resultados positivos com a ação, o
professor passa a rotulá-lo de preguiçoso e relapso, sem procurar identificar se
existe alguma dificuldade de aprendizagem.
A preguiça contumaz e a desatenção podem estar mascarando um
mecanismo de defesa que esteja escondendo uma dificuldade verdadeira. E
essa dificuldade, que tanto pode ter origem num simples bloqueio ou em
alguma patologia neuropsíquica precisa ser descoberta, pois ela necessita ser
identificada e acompanhada por um profissional. Caso não haja uma
intervenção nessa situação, certamente os resultados serão desastrosos, pois
gerará sentimentos de inferioridade na criança devido aos rótulos de
desatenciosa e preguiçosa e até mesmo de “burra”.
Para essas crianças com problemas de aprendizagem, frequentar a
escola representará um período de desespero, sacrifício, tristeza e revolta, e
desta maneira se terá, então, um aluno cujas perspectivas de vida são muito
negativas. Esse aluno pode apresentar apatia em relação à aula e à escola e,
para tentar mascarar sua dificuldade ele tenderá a demonstrar inquietude,
comportamento inadequado e, dificilmente conseguirá superar sozinho suas
dificuldades para poder crescer intelectual e emocionalmente. Geralmente esse
tipo de aluno desiste de estudar porque se sente incapaz de aprender.
É preciso que pais, professores, e demais envolvidos com a criança com
problemas de aprendizagem entendam que essa realidade pode ser revertida
e, que cada uma dessas crianças tem a sua individualidade, pois dessa
maneira as características específicas podem ser identificadas. Quando
identificadas as dificuldades e, se estão acima da média, é imprescindível a
intervenção e encaminhamento para profissionais especializados para que
deem início ao acompanhamento especial em casa e na escola.

4.2 Identificação e Diagnóstico

33
A partir da identificação e, dependendo do tipo de dificuldade, surgem
diversos caminhos a serem percorridos. Se for o caso, o médico identificará e
dará início ao tratamento de alguma anomalia neuropsíquica, e o psicólogo
identificará e tratará alguma dificuldade comportamental, se for o caso. De
acordo com a situação apresentada e diagnosticada em um primeiro momento,
será necessário a ajuda de outros profissionais, como: fonoaudiólogos,
nutricionista, etc. Os pais e professores devem se preocupar com o
desenvolvimento pessoal, emocional e intelectual da criança. É importante que
haja a identificação de suas habilidades atuais, mostrando-lhe, a todo
momento, a sua capacidade e inteligência, pois esse processo servirá de
auxílio para a elevação da autoestima da criança. A continuidade do processo
pode reduzir ou eliminar os sintomas que antes eram impeditivos ao seu
desenvolvimento.

Importante
O CID 10 menciona que a categoria Transtornos específicos
do desenvolvimento das habilidades escolares (F81), divide-se
em subcategorias, são elas:
CID 10 – F81 Transtornos específicos do desenvolvimento das
habilidades escolares
CID 10 - F81.0 - Transtorno específico da leitura
CID 10 - F81.1 - Transtorno específico do soletrar
CID 10 - F81.2. - Transtorno específico de habilidades
aritméticas
CID 10 - F81.3 - Transtorno misto das habilidades escolares
CID 10 F81.8 - Outros transtornos do desenvolvimento das
habilidades escolares
CID 10 - F81.9 - Transtornos do desenvolvimento das
habilidades escolares, não especificado.
Fonte: http://www.cid10.com.br/

34
4.3 Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

“O que acontece quando a criança apresenta dificuldades para estudar,


para fazer as tarefas da escola e, apesar do seu esforço ela não consegue
progredir?” Uma das causas desse problema pode ser o Transtorno de Déficit
de Atenção e Hiperatividade.
Segundo Paín (1992), o TDAH, é um transtorno de origem
neurobiológica que se caracteriza, principalmente, pela falta de atenção,
impulsividade e hiperatividade. Esses sintomas se refletem em diferentes
comportamentos e/ou problemas que a criança apresenta e que interferem em
seu processo de aprendizagem, são eles:

 Dificuldades para organizar-se com seu horário a curto, médio e longo


prazo, em casa ou na escola.
 Dificuldade para organizar seu trabalho e seu material escolar.
 Dificuldades para manter a atenção, principalmente nas atividades de
longa duração.
 Dificuldades para obedecer a ordens ou instruções que são dadas pelos
adultos.
 Precipitação na hora de realizar tarefas.
 Demonstra falta de concentração em suas atividades.
 Geralmente perde ou esquece o material escolar.

Vídeo
Assista ao vídeo TDAH, o qual fala sobre o Transtorno de Déficit
de Atenção e Hiperatividade, mostrando como acontece, suas
causas e facilitadores, e a importância de o compreender.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=zl02W9WsbD4

Algumas dificuldades específicas na aprendizagem das crianças com


TDAH são:

35
 Leitura: Geralmente, devido à impulsividade e à desatenção, a criança
com TDAH apresenta uma leitura precipitada e incorreta, o que resulta
em pouca compreensão do texto. Os erros mais comuns são: omissão
de letras e/ou palavras, adição de letras e/ou palavras, repetições,
substituição de palavras, vacilações (demora para ler) e, devido a
rapidez na leitura, ocorre a vocalização incorreta das palavras que leu.
 Cálculo e matemática: Apresentam dificuldades para converter o
concreto em abstrato e para utilizar o pensamento lógico, ou seja, para
interpretar e imaginar o enunciado de um problema, pois não fazem
abstração dos dados. Apresentam dificuldades nas operações básicas:
somar, diminuir, dividir e multiplicar
 Escrita: Apresentam dificuldades com as atividades manuais, como:
pintar, cortar, jogar com peças pequenas. Sua caligrafia é irregular e
pouco organizada. Tem dificuldade para memorizar conteúdos e regras
e, mesmo que as saibam, cometem erros na hora de utilizá-las.
 Fala: Apresentam falta de organização na fala, pensa pouco para falar,
pois seu pensamento vai mais rápido que sua fala. Falam muito e de
maneira impulsiva, falam de assuntos que não estão relacionados com a
tarefa que estão executando e se distraem com seu próprio discurso.

Importante
As manifestações do TDAH em escolares variam em torno de
9% para o déficit de atenção até 40% para a hiperatividade, mas
nem toda criança com TDAH tem dislexia ou distúrbio de
aprendizagem em comorbidade (associação entre problemas –
relação negativa com outros problemas de saúde).

4.4 O que é Dislexia?

A dislexia é um transtorno que se manifesta com a dificuldade para


aprender a ler, por meio de métodos convencionais de instrução, apesar da

36
criança possuir um nível normal de inteligência e oportunidades socioculturais
adequadas.
É um problema de aprendizagem por ser patológico, que apresenta
inibição cognitiva ou sintomática, envolve a leitura e escrita, além de
dificuldades com cálculos, leitura lenta e compassada.
Segundo a IDA - International Dyslexia Association (2002) a dislexia:

A Dislexia do desenvolvimento é considerada um transtorno


específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada
por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na
habilidade de decodificação e em soletração. Essas dificuldades
normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da
linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades
cognitivas. (IDA – International Dyslexia Association, 2002, s/p.)

Em termos técnicos, a Dislexia é um distúrbio neurológico que leva a:

 Dificuldade na decodificação da leitura e escrita e resulta no prejuízo da


compreensão do que é lido.
 Dificuldades no processamento da informação;
 Afeta as operações de precisão e rapidez no ato de ler e escrever, assim
como a escrita ortográfica e as produções de textos;
 Pode ocorrer a Discalculia;
 De origem genética e hereditária.

Saiba Mais
Para compreender um pouco mais sobre a Discalculia, veja
o artigo do CogniFit, A Discalculia Infantil: tratamento,
exercícios, causas, sintomas, tipos de discalculia, avaliação
e definição.
Disponível em:
https://www.cognifit.com/br/pathology/dyscalculia

37
Importante
1. Elogiar e premiar sempre o trabalho e esforço;
2. Supervisionar as tarefas com paciência;
3. Não fazer comparações com outros irmãos e/ou alunos;
4. Importante considerar que para essas crianças é muito difícil
estudar.

Fonte: http://www.thepicta.com/media/1378616207271646117_4029610883

Assim, a dislexia é o efeito de múltiplas causas que podem ser


agrupadas em dois polos. De um lado estão os fatores neurofisiológicos e, por
outro lado, estão os conflitos psíquicos provocados pelas pressões e tensões
presentes no ambiente onde a criança se desenvolve. Esses fatores levam a
formação de grupos de problemas fundamentais, que se encontram na maior
parte no transtorno do disléxico, cuja gravidade e interdependência é diferente
em cada indivíduo. Portanto, a dislexia é uma manifestação de um serie de
transtornos que podem se apresentar de um modo global, embora seja mais
frequente o aparecimento, de alguns deles, de forma isolada, são eles:
Lateralidade ruim: A lateralidade é o processo pelo qual a criança
desenvolve a preferência ou dominância de um lado de seu corpo sobre o

38
outro. Se o predomínio é do lado direito, é um sujeito destro, se é do lado
esquerdo é canhoto, e se não conseguiu um domínio lateral em alguns dos
lados, se chama ambidestro. Quando bebê a criança é considerada
ambidestra.
Segundo Gesell (1987), geralmente a lateralidade se define após os 5 ou
6 anos de idade, embora algumas crianças manifestem um predomínio lateral
mais precocemente. As crianças que apresentam alguma alteração na
evolução de sua lateralidade, geralmente apresentam transtornos de
organização na visão do espaço e da linguagem que são fatores que
constituem o eixo da problemática do disléxico. Grande parte dos casos
disléxicos se dá em crianças que não tem um predomínio lateral definido. A
lateralidade influi na motricidade, de modo que uma criança com a lateralidade
mal definida, geralmente apresenta dificuldades para realizar trabalhos
manuais e seus traço gráficos são descoordenados.
Falta de ritmo: é percebida tanto na realização de movimentos quanto
na linguagem, com pausas mal colocadas, que são evidenciadas na leitura e
na escrita.
Existem outros fatores que fazem parte dos problemas fundamentais
que se encontram no transtorno disléxico, porém foram vistos apenas alguns
devido à complexidade do tema.
Falta de atenção: Devido ao esforço intelectual que utilizam para
superar suas dificuldades perceptivas específicas, apresentam um alto grau de
fadiga. Por essa razão aprender a ler e escrever se torna um momento difícil e
desinteressante.
Desinteresse pelo estudo: A falta de atenção, unida a um meio familiar
e escolar pouco estimulantes, faz com que percam o interesse pelas tarefas
escolares e, consequentemente seu rendimento e qualificações escolares são
baixos.
Inadaptação pessoal: o disléxico, por não ter uma boa orientação no
espaço e no tempo, não possui ponto de referência ou de apoio, apresentando,
consequentemente, insegurança e falta de estabilidade em suas reações.
Como mecanismo de compensação, tem excesso de confiança em si mesmo e,
muitas vezes é vaidoso, aspectos que o levam a defender suas opiniões
radicalmente.

39
O diagnóstico é feito de uma forma multiprofissional, ou seja, depende
da avaliação de vários profissionais, são eles: psicólogo, neuropsicólogo,
psicopedagogo, neurologista, oftalmologista, psiquiatra, entre outros. É
necessário avaliar se a criança apresenta disfunção visual ou auditiva,
desordem neurológica, se houve algum tipo de alteração afetiva que promoveu
o fracasso escolar e, por isso, ela apresenta dificuldade no aprendizado. São
muitos os fatores envolvidos no diagnóstico e, por isso, é importante fazer um
levantamento ou anamnese.
Uma vez traçado o diagnóstico, são vários os caminhos a serem
percorridos. Em um primeiro momento devem ser avaliadas quais são as
dificuldades que a criança apresenta, cada criança apresenta um tipo de
dificuldade. Uma criança pode apresentar dificuldade ortográfica com inversão
de letras, outra criança pode ter uma dificuldade específica no cálculo, etc. A
partir dessa observação é importante o profissional mapear as dificuldades
para poder fazer as intervenções específicas para cada dificuldade. Essas
ações podem amenizar o problema.
É muito importante que haja uma identificação precoce do problema,
pois as crianças com dislexia frequentemente fracassam na escola e perdem a
motivação. São rotulados de preguiçosos e burros, provocando a perda da
autoestima e, consequentemente o abandonam a escola.

Saiba Mais
Acesse o link indicado e leia o texto: Déficit de Atenção e
Dislexia na Escola Escrito pela ABDA (Associação Brasileira
do Déficit de Atenção) e aprenda mais sobre o assunto.
Disponível em:
http://www.tdah.org.br/br/artigos/textos/item/374-
d%C3%A9ficit-de-aten%C3%A7%C3%A3o-e-dislexia-na-
escola.html

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Algumas das consequências da negligência no correto tratamento da
dislexia são: evasão escolar, depressão precoce, baixa autoestima, transtornos
de conduta e baixo alcance ocupacional.
Assim, ao fazer uma reflexão sobre as dificuldades de aprendizagem,
percebe-se que qualquer alteração identificada nas condições internas do
indivíduo, em termos de sua estrutura neurobiológica e psicológica, bem como
interferências em sua realidade ambiental, familiar e social, pode ocasionar
dificuldades no processo de aprendizagem. Por isso, é de suma importância a
avaliação de caráter mais complexo e específico, como é a neuropsico-
pedagógica.

Resumo da Aula 04

No decorrer desta aula foi discutido acerca das dificuldades de


aprendizagem e a importância de se conhecer as características de cada
dificuldade e/ou transtorno. Se aprendeu sobre como se dá o processo de
diagnóstico, intervenção, encaminhamento e tratamento. Por fim, foram
conhecidas as consequências decorrentes do não tratamento ou de um
diagnóstico equivocado.

Atividade de Aprendizagem
Faça uma comparação entre os sintomas característicos da
dislexia e o TDAH. Elabore um texto apontando as principais
diferenças de diagnóstico.

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Resumo da Disciplina

Chegou-se ao fim da disciplina Fundamentos da Neuropsicopedagogia,


na qual foram apresentados os conceitos e definições sobre a
Neuropsicopedagia e as ciências que a compõem, ou seja, a Neurociência, a
Psicologia e a Pedagogia. Também foram feitas considerações acerca do
profissional neuropsicopedagogo e sua atuação mediante o tratamento dos
problemas de aprendizagem no contexto escolar. Discutiu-se sobre as
dificuldades e transtornos de aprendizagem e as diferenças de diagnósticos
existentes entre esses dois tipos de problemas.
Os estudos da neurociência ligados ao processo de aprendizagem são
considerados uma revolução para o meio educacional, porque a educação e
aprendizagem estão relacionadas com os processos neurais, com redes que se
estabelecem, com neurônios que se comunicam e fazem novas sinapses, o
que resulta em aprendizagem.
A Neurociência, somada à Educação, promove um melhor entendimento
sobre o que é o processo de aprendizagem. Nesse contexto relacionado ao
docente a neurociência contribui para auxiliar o professor na tomada de
decisões quando identificado um transtorno e/ou dificuldade de aprendizagem.
Todos esses temas foram estudados com o intuito de promover uma
reflexão acerca dos problemas relacionados à aprendizagem, suas origens e
quais as ações necessárias para entender a realidade neuropsíquica cognitiva
do sujeito, visando identificar suas potencialidades cognitivas,
independentemente do tipo de dificuldade de aprendizagem, tais como,
distúrbio, transtorno ou qualquer anomalia neuropsíquica que esteja presente.
Cabe ao profissional neuropsicopedagogo treinar professores despreparados e,
também, orientar os pais sobre o entendimento neuropsicocognitivo de seus
alunos e filhos, visando possibilitar a verdadeira inclusão escolar e social.

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Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em
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