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Fundamentos da
Neuropsicopedagogia
Soiara Vaz de O. Rodrigues
Código Logístico
ISBN 978-65-5821-218-8
I0 0 0 9 7 2 9 786558 212188
Fundamentos da
Neuropsicopedagogia
IESDE BRASIL
2023
© 2023 – IESDE BRASIL S/A.
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Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-218-8
CDD: 370.1523
23-81986 CDU: 37.015.3
13/01/2023 18/01/2023
5 Desafios da neuropsicopedagogia 82
5.1 Aprendizagem de crianças autistas 83
5.2 Aprendizagem de crianças com deficiência intelectual 86
5.3 Aprendizagem de crianças com altas habilidades 92
5.4 Papel do neuropsicopedagogo na inclusão escolar 95
8 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
1
Bases teóricas da
neuropsicopedagogia
A neuropsicopedagogia é uma área que integra saberes da neurociên-
cia, psicologia cognitiva, pedagogia e demais áreas da educação e saúde,
sendo, portanto, uma área interdisciplinar, que busca compreender os
processos relacionados à cognição, ao comportamento e à linguagem.
Neste capítulo, nosso objetivo será conhecer os pilares da ciência
neuropsicopedagógica, refletindo sobre a atuação do neuropsicopeda-
gogo e seu perfil e formação, por meio de uma discussão sobre os seus
fundamentos, conhecendo as ciências que influenciam o olhar, o fazer
neuropsicopedagógico, a relação entre as ciências que a fundamentam e
sua contribuição para a educação.
Contribuir para tornar o conhecimento da neuropsicopedagogia
mais acessível é um dos principais objetivos neste livro. Este capítulo
pretende elucidar algumas dúvidas e diminuir a distância entre a neu-
ropsicopedagogia e o mundo educacional, mostrando a importância
desse conhecimento como apoio nas intervenções em sala de aula, be-
neficiando não apenas crianças atípicas, mas pensando em uma melhor
efetivação da aprendizagem. Por meio da descoberta de suas habilida-
des, o educando melhora sua motivação para aprender e essa desco-
berta se dá pelo neuropsicopedagogo auxiliando o sujeito a vencer suas
dificuldades, possibilitando o aprendente a criar rotas funcionais que o
auxiliem a chegar no objetivo final.
Nossa proposta é expandir as ideias derivadas da neuropsicopeda-
gogia para dentro dos processos pedagógicos, nos ambientes escola-
res, pois sabemos que esses processos não se dão exclusivamente nas
salas de aula.
Neurociências
Psicologia cognitiva
Pedagogia
10 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
escopo saberes básicos da psicologia comportamental e da pedagogia,
contribuindo para um olhar mais amplo quando se trata da aprendiza-
gem humana, que necessita não apenas das sinapses, mas também de
um ambiente preparado e um emocional organizado para que as ha-
bilidades sejam desenvolvidas, conforme mostra o esquema a seguir.
Contribuição da
neuropsicopedagogia
PixMarket/Shutterstock
Aprendizagem neural
1.1.1 A neuropsicopedagogia
O tema que apresentamos nesta subseção é muito especial, por
tratar de uma nova perspectiva em educação, um olhar minucioso e
específico sobre a aprendizagem. Estamos em constante transforma-
ção na sociedade, e é imprescindível que a educação acompanhe essas
mudanças e se mantenha em sintonia com os novos processos educa-
cionais. Um desses processos é reconhecer que cada indivíduo apren-
de de uma forma e que temos casos especiais dentro dos ambientes
escolares, o que faz da nossa prática um desafio constante.
12 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Dessa junção de pesquisa nasce a neuropsicopedagogia, uma jun-
ção dos conhecimentos da neurociência, da psicologia comportamen-
tal e da pedagogia, que tem como objetivo uma educação que respeita
as diferentes formas de aprender.
Figura 2
Sistema nervoso central e periférico
Sistema
nervoso central
Encéfalo
Medula espinhal
Sistema nervoso
periférico
Gânglios
Nervos
VectorMine/Shutterstock
14 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
É preciso pontuar que a neuropsicopedagogia não é uma especia-
lização dessas diferentes áreas, mas é um novo olhar sobre o estu-
do do funcionamento do cérebro e do comportamento humano em
uma perspectiva da aprendizagem e dos processos de ensino-apren-
dizagem, podendo o neuropsicopedagogo atuar tanto na área clínica
(consultórios) quanto na institucional (dentro da escola). Conforme o
Código de Ética Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia, no capí-
tulo II, artigo 10, encontramos a seguinte definição dessa ciência:
A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar, funda-
mentada nos conhecimentos da Neurociência aplicada à educa-
ção, com interfaces da Pedagogia e Psicologia Cognitiva que tem
como objeto formal de estudo a relação entre o funcionamento
do sistema nervoso e a aprendizagem humana numa perspectiva
de reintegração pessoal, social e educacional. (SBNPP, 2016, p. 3)
16 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
ção cerebral e o comportamento humano, sua base é a teoria e a prática
do aprendizado, assim como as estratégias de ensino e aprendizagem. A
formação pode ocorrer em cursos voltados para áreas clínicas e institucio-
nais, sendo estas últimas entendidas como espaços de prática educativa,
não necessariamente escolas. Os neuropsicopedagogos institucionais fa-
rão parte da equipe institucional em instituições acadêmicas, trabalhando
exclusivamente em ambientes educacionais, como escolas públicas e pri-
vadas, centros educacionais, instituições de Ensino Superior e organiza-
ções do terceiro setor. Suas atividades incluem:
• construção de projetos;
• orientação de estudos;
• campanhas relacionadas à saúde, à educação e ao lazer;
• orientações à família, aos professores e especialistas;
• encaminhamentos a especialistas quando necessário e acompa-
nhamento desses casos;
• acompanhamento de crianças em oficinas.
18 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Gardner (1995) aponta oito tipos de inteligências, descritos a seguir:
• Cinestésica-corporal: grande capacidade de utilizar o corpo para
se expressar ou em atividades artísticas e esportivas.
• Lógico-matemática: voltada para conclusões baseadas em dados
numéricos e na razão. As pessoas com essa inteligência possuem
facilidade em explicar as coisas utilizando-se de fórmulas e nú-
meros e costumam fazer contas de cabeça rapidamente.
• Linguística: capacidade elevada de utilizar a língua para comuni-
cação e expressão.
• Intrapessoal: pessoas com essa inteligência possuem a capacida-
de de se autoconhecer, tomando atitudes capazes de melhorar a
vida com base nesses conhecimentos.
• Interpessoal: facilidade em estabelecer relacionamentos com ou-
tras pessoas. Indivíduos com essa inteligência conseguem facil-
mente identificar a personalidade das outras pessoas.
• Naturalista: inteligência voltada para a análise e compreensão dos
fenômenos da natureza (físicos, climáticos, astronômicos, químicos).
• Espacial: habilidade na interpretação e no reconhecimento de fe-
nômenos que envolvem movimentos e posicionamento de objetos.
• Musical: inteligência voltada para a interpretação e produção de
sons com a utilização de instrumentos musicais.
20 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Com esses conhecimentos, o professor poderá avaliar de manei-
ra segura as dificuldades de aprendizagem que o grupo de alunos
apresenta. Assim sendo, o professor poderá escolher a melhor for-
ma de intervenção junto ao grupo de alunos que necessitam de seu
apoio imediato, minimizando déficits nas diferentes fases do pro-
cesso de aprendizagem. Com os conhecimentos da neuropsicope-
dagogia, o professor poderá lançar mão de sua prática pedagógica
no ambiente de aprendizagem, direcionando estímulos para grupos
específicos de neurônios localizados nas diferentes regiões do cére-
bro, sendo capaz então de criar situações motivacionais que atinjam
o maior número possível de alunos em sua sala de aula, desenvol-
vendo suas habilidades.
Hermin/Shutterstock
Endereçada às exigências experiência dos objetos e
do ambiente da experiência social
Acomodação
Piaget
Momento da ação do
objeto sobre o sujeito
1.3 Neuropsicopedagogia,
Vídeo psicopedagogia e neurociências
Antes de iniciarmos esta seção, faz-se necessário refletir que o ser
humano é 100% social, e não há um ser humano fora do social. Como
exemplo podemos recordar o filme O náufrago: o personagem principal
do filme, após um naufrágio, ficou isolado em uma ilha; com o passar
dos dias, ele achou uma bola e a transformou em seu companheiro.
22 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
das ciências biomédicas responsável pelo desenvolvimento dos estudos
referentes ao sistema nervoso, abordando seu desenvolvimento, sua
evolução, sua morfologia e seu funcionamento. Neste século, a neuro-
ciência tem participação importante nas tentativas de elucidar paradig-
mas educacionais que se prolongaram pelos séculos anteriores. Está
ligada aos processos de avaliações, alterações da mente e do comporta-
mento dos indivíduos frente à carga de estresse que o momento impõe.
24 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
• Princípio do desenvolvimento: está intimamente ligado ao princípio
anterior; um sujeito pode não apenas superar as dificuldades de
aprendizagem, como também aprimorar seus talentos, indo além.
• Princípio da ação social: tem a ver com a forma de o indivíduo
interagir com os outros e construir relações positivas.
psicopedagogia assume, então, o desafio de atuar e articular, com sua LEITE, L. B.; GALVÂO, E.; DAINEZ, D.
Campinas: Mercado das Letras, 2017.
ação de interpretação, a compreensão do processo de aprendizagem,
Artigo
http://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/234
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste capítulo, ressaltamos que a neuropsicopedagogia pode
auxiliar o professor na sua prática em sala, na prevenção de ingerência,
na prevenção das dificuldades e na inclusão de alunos com transtornos
da aprendizagem, entendendo que, enquanto uma defasagem é supera-
da, previnem-se algumas outras questões importantes, principalmente as
comportamentais. Com esse conhecimento, o professor pode auxiliar o
seu aluno a superar suas dificuldades, independentemente dos obstácu-
los que surjam, com estratégias direcionadas às necessidades do momen-
to, oportunizando a reflexão.
ATIVIDADES
Atividade 1
A neuropsicopedagogia foi o primeiro projeto que envolvia as neu-
rociências aplicadas à educação, unindo neurociências, psicologia
comportamental e pedagogia. Este foi o início de uma nova confi-
guração para os educadores profissionais que têm a oportunidade
de se tornar mais capacitados para lidar com inclusão, nossa
realidade escolar desde sempre, mas só agora falada. Com base
no que foi aprendido até agora, qual é o papel do neuropsicopeda-
gogo na aprendizagem de pessoas com deficiência, pensando que
a deficiência causa bloqueios em determinadas regiões do SNC,
causando assim dificuldade no trajeto preexistente?
26 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Atividade 2
Retomando a imagem do processo da aprendizagem, segundo Piaget,
qual o papel da adaptação e do desequilíbrio na aprendizagem?
Atividade 3
Qual noção de conhecimento, se faz necessária na área da educação,
não só da saúde?
REFERÊNCIAS
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28 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
A neuropsicopedagogia, com base na neurociência e áreas afins,
afirma que se faz necessário, além do trabalho preventivo, uma melhor
compreensão tanto do processo de aprendizagem quanto das janelas
maturacionais, além da estimulação, desde a mais tenra idade, para
que o desenvolvimento cognitivo tanto maturacional quanto cronológi-
co siga em equilíbrio.
Figura 1
Divisão do sistema nervoso
Vectosome/Shutterstock
Sistema nervoso
central Sistema nervoso
Sistema Sistema nervoso autônomo parassimpático
nervoso somático
Sistema nervoso
periférico
Sistema nervoso Sistema nervoso
autônomo autônomo simpático
30 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Apesar de nascermos com o cérebro já formado, é necessário que
haja um tempo para que ele se desenvolva e forme as redes neurais,
ou seja, as células do sistema nervoso que estão relacionadas com a
propagação do impulso nervoso e da entrada e saída sináptica.
Zonda/Shutterstock
Lobo
occipital
Cérebro
Cerebelo
Lobo temporal
Medula espinal
Fonte: Elaborada pela autora.
32 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
setor é responsável por uma demanda. Assim também é o nosso cérebro,
pois existem setores que são responsáveis por determinadas funções.
34 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Inúmeros fatores podem influenciar nossa atenção. Primeiramen-
te, nosso cérebro é incapaz de prestar atenção em mais de uma in-
formação ao mesmo tempo de modo satisfatório. Quando tentamos
executar duas tarefas (ou mais) juntas, é muito provável que uma delas
não fique bem-feita. É por esse motivo que não se deve dirigir e usar o
celular, mesmo que o indivíduo se julgue hábil o suficiente para isso. Já
algumas pessoas, por exemplo, conseguem se concentrar melhor ou-
vindo música, enquanto para outras isso é bastante prejudicial. Cada
pessoa tem um desenvolvimento da atenção diferente, pois ele está
relacionado à anatomia cerebral e a exercícios mentais.
1 2
36 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Figura 3
Caminho da memória
Informação
entra
Darya Palchikova/Shutterstock
Memória
sensorial
Descarta
Codificação Memória de
curto prazo
Armazena
Memória de
longo prazo
38 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
• Linguagem receptiva: é abrangente e está focada na capacidade de Livro
compreender as relações do que é dito entre o emissor e o receptor No livro Piaget, Vygotsky e
Wallon: Teorias psicogenéti-
da mensagem, com estreita sintonia entre recepção e expressão. cas em discussão é possível
se aprofundar sobre os
• Linguagem expressiva: o indivíduo está preparado para a comu-
pontos em comum entre
nicação com outro, tendo em vista que adquiriu experiências esses três autores, referen-
significativas, e consegue discriminar a recepção da informação, tes à ação do meio e suas
características no desenvol-
sem ruído na compreensão. vimento e na aprendiza-
gem humana, entendendo
O sistema cerebral da linguagem é associado com outros sistemas as trocas ativas entre o
cognitivos motores, porém dentro do cérebro podem ser encontradas humano e o ambiente.
áreas mais específicas. Segundo Piaget (1998), o desenvolvimento não LA TAILLE, Y. de; OLIVEIRA, M. K.
de; DANTAS, H. de L. São Paulo:
é apenas a maturação do sistema nervoso, mas é uma condição de Summus, 1992.
possibilidades de responder ao meio, de potencial para assimilar e es-
truturar novas informações.
40 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
2.3 Aprendizagem e plasticidade cerebral
Vídeo
O cérebro apresenta habilidades para modificar sua organização es-
trutural e funcional, utilizando novas rotas para chegar ao objetivo, em
nosso caso a aprendizagem. Por exemplo, alguém que sempre utilizou
o braço direito para escrever se depara com a impossibilidade de con-
tinuar utilizando-o; nesse caso, o cérebro ativa uma rota diferente para
que outro membro faça o movimento, antes realizado pelo lado direito,
necessário para esse corpo. Por meio de estímulos, o ambiente pode
ser transformado para que a criança desenvolva suas habilidades. Au-
tores como Feuerstein et al. (1980), Mantoan (1997), Vygotsky (2019) e
outros apontam o meio como mediador da aprendizagem, como ins-
piração que ajuda o sujeito em novas tentativas visando a um desen-
volvimento significativo. As conexões do cérebro, ainda que complexas
e precisas, são altamente flexíveis, contudo, podem ser afetadas por
fatores ambientais, como lesões ou carências sensoriais.
Figura 4
Reorganização da estrutura neural
Plasticidade
Novas sinapses
Aprendizagem ligada às experiências do sujeito
42 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Mora (2004) afirma que ao analisar a flexibilidade do cérebro para reagir 3
3
aos processos do ambiente – explicada pela sinaptogênese e pelo fato de Capacidade de formação
de novas conexões, ou
que o conhecimento deve ser codificado nas ligações entre os neurônios –, seja, sinapses, entre as
a aprendizagem é possibilitada pela plasticidade cerebral, modificando quí- células cerebrais.
44 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Os professores, apresentados à neuropsicopedagogia, tomam cons- Livro
ciência de possuir em suas mãos um instrumento eficaz. Esse segmento Com a leitura do livro
Neurociências na Prática
da ciência lhes proporciona ferramentas de identificação e de alterações Pedagógica, você conhece-
nos processos de aprendizagem. Possibilita também testagem de alunos rá técnicas fáceis de serem
colocadas em prática na
acometidos por possíveis distúrbios e capacidade de intervenção junto a atuação como mediador.
uma grande variedade de disfunções ou transtornos de aprendizagem. RELVAS, M. P. Rio De Janeiro: Wak, 2012.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando refletimos, com base na neurociência, sobre o processo da
aprendizagem, percebemos que nosso papel como mediadores é o de
provocar desafios e reflexões e possibilitar o diálogo entre as emoções e
os afetos nos sujeitos. Para a aprendizagem, é necessário que ocorra uma
combinação de diferentes elementos, sejam eles emocionais, culturais,
biológicos ou pedagógicos.
Pesquisas referentes ao processo de aprendizagem nos apontam que
trabalhar com a memória de diferentes maneiras ajuda na estimulação da
plasticidade cerebral, abrindo muitas possibilidades para estudos sobre
os mecanismos pelos quais aprendemos e lembramos, independente de
bloqueios que podem acontecer em algum desses processos.
Entender a memória e a aprendizagem, estudadas pela neuropsicopedago-
gia, contribui para auxiliar a atuação dos profissionais não apenas clínicos, mas
institucionais, tendo com esse conhecimento um maior leque de ferramentas
e auxiliando o sujeito a ter uma aprendizagem mais significativa. É importante
ter novas informações para complementar as informações que já temos, con-
sequentemente a informação é razoável e não deixada livremente.
Atividade 2
A plasticidade cerebral é definida como a capacidade de o sistema
nervoso modificar sua estrutura e função em decorrência dos
padrões de experiência. Sabendo disso, o que muda em relação às
deficiências diante do aprender?
Atividade 3
Qual a importância da neuropsicopedagogia para o professor?
REFERÊNCIAS
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BIANCULLI, C. H. Realidad y propuestas para continencia de la transición adolescente en
nuestro medio. Adolescência Latinoamericana, 1997.
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FEUERSTEIN, R. et al. Instrumental enrichment: an intervention program for cognitive.
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KANDEL, E.; SCHWARTZ, J.; JESSELL, T. Princípios da neurociência. 4. ed. São Paulo: Manole
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LURIA, A. R. Fundamentos de neuropsicologia. São Paulo: Edusp, 1981.
MANTOAN, M. T. E. A interpretação de pessoas com deficiência: contribuições para uma
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MORA, F. Como funciona o cérebro. Porto Alegre: Artmed, 2004.
46 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
PAÍN, S. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. 3. ed. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1989.
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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos
superiores. 12. ed. Porto Alegre: Editora Fi, 2019.
PIAGET, J. A epistemologia genética. São Paulo: Editora Abril S.A., 1983. (Os pensadores).
PIAGET, J. Sobre a Pedagogia: textos inéditos. São Paulo: Casa do Psicólogo. 1998.
Objetivos de aprendizagem
48 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
3.1 Dificuldades de aprendizagem e
estratégias de intervenções
Vídeo
No campo da intervenção terapêutica, o neuropsicopedagogo bus-
ca compreender a relação entre o cérebro e a aprendizagem frente ao
processo cognitivo e à ampliação do conhecimento e das práticas edu-
cacionais, a fim de identificar problemas de aprendizagem escolar e
possíveis intervenções. Isso ajuda a fortalecer a aprendizagem e a evi-
tar o fracasso escolar, e configura-se como questão fundamental nos
debates epistemológicos sobre educação.
Referem- se a estímulos
respostas essenciais aos processos de desenvolvimento humano, com
internos ou externos, com foco na relação inerente entre interesses, função motora, linguagem,
influência positiva ou nega-
tiva sobre a situação. Por
memória, cognição e emoção, psicologia e cérebro. A ciência ainda ten-
exemplo, exclamar “muito ta entender o processo cognitivo da matéria desde os primeiros anos
bem, você conseguiu!”,
como reforçador social.
de vida de um ser humano, seus obstáculos e as principais implicações
para o aprendizado. Mesmo com grandes avanços já conquistados até
hoje, há muito ainda o que pesquisar.
50 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Figura 1
Diferenças entre dificuldade e distúrbio/transtorno de aprendizagem
Hermin/Shutterstock
Falta de estimulação;
fatores culturais;
metodologia da escola;
didática do professor;
Dificuldade ambiente físico ruim;
problemas emocionais;
famílias disfuncionais etc.
Dificuldade na linguagem;
dificuldade no uso da
audição, fala, escrita,
raciocínio lógico;
Distúrbio/
deficiências.
transtorno
52 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
ção do método de ensino, a aversão a um assunto particular, as dife-
renças culturais, problemas sociais como subnutrição, acidentes, entre
outros. Devido a essa variedade, muitas crianças chegam aos consul-
tórios médicos, neuropsicopedagógicos e psicológicos sem realmente
precisar de um tratamento.
54 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
A seguir estão listados alguns dos principais desafios da educação
brasileira e da rede pública de ensino que certamente impedem os alu-
nos com dificuldade de aprendizagem a se desenvolverem e supera-
rem plenamente suas carências.
Vectosome/Shutterstock
• Ausência de recursos financeiros suficientes. • Materiais didáticos inapropriados.
• Número insuficiente de professores e outros • Ausência de suporte para as crianças com
profissionais. deficiência.
• Condições físicas das escolas inadequadas.
[...]
[...]
Esse trecho nos faz refletir sobre o que se passa nos pensamentos
da criança que não consegue estudar, não consegue aprender e não
apresenta diagnósticos de dificuldades ou problemas de aprendizagem
ou transtornos – pensamentos esses ocasionados por interesses aos
quais a escola não atende.
56 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Percebemos que muitas dificuldades de aprendizagem podem ser
ocasionados pela negligência escolar, pelas curiosidades inexploradas
pela escola ou por acontecimentos da realidade vivida pela criança que
a escola parece desconhecer.
58 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
abordaremos alguns dos transtornos e distúrbios mais comentados
nos meios educacionais. São eles: dislexia (distúrbio de percepção vi-
sual, contudo pode ser também auditiva), discalculia (distúrbio de per-
cepção visual) e disgrafia (distúrbio de percepção visual e motora); e os
transtornos: Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
(pode aprensentar distúrbio de memória) e Transtorno do Espectro Au-
tista (pode apresentar distúrbio visual, sequencial ou de memória).
Vectosome/Shutterstock
Distúrbios de percepção visual: em que há dificuldade em localizar/reconhecer
a forma do que se vê – a criança confunde letras parecidas.
60 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
• Disartria: essa é uma dificuldade motora fonoarticulatória; o indiví-
duo com esse distúrbio não apresenta habilidade em articular as pala-
vras e ligar sílabas, como também mostra dificuldade na mastigação.
• Discalculia: está relacionada às dificuldades com habilidades
matemáticas. As crianças podem entender as lições aprendidas,
mas quando tentam colocar em prática o que aprenderam, aca-
bam reordenando e invertendo as tarefas. Dentro desse distúrbio
podemos encontrar a acalculia, que também é uma dificuldade
relacionada às habilidades matemáticas e está diretamente rela-
cionada à discalculia. A acalculia é a peça das habilidades já adqui-
ridas, por exemplo quando ocorre um dano cerebral por acidente
ou doença. Diferente da discalculia, na acalculia o SNC apresenta
um bloqueio que dificulta a aquisição dessa habilidade.
• Apraxia: envolve a incapacidade de realizar ações motoras sob
comando ou imitação. Isso pode ser causado por dormência ou
fraqueza muscular.
• Dispraxia: é caracterizada por problemas neurológicos que difi-
cultam o planejamento de uma série de movimentos coordena-
dos, como amarrar cadarços.
• Gagueira: é um distúrbio de linguagem caracterizado por fala
bloqueada, hesitação, alongamento e repetição de timbres, síla-
bas e palavras.
62 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Esses tipos de estratégia de aprendizado ajudam os alunos a memo-
rizar o conteúdo, como fatos ou termos específicos. Por exemplo, são
úteis para memorizar os nomes das cidades, de datas importantes, sí-
labas, palavras etc. Quando é necessário memorizar fatos sem sentido,
as estratégias mnemônicas nos oferecem uma maneira de estabelecer
algum grau de significado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As dificuldades e os transtornos e distúrbios de aprendizagem, sejam
estes de entrada das informações ou de processamento e saída, estão
diretamente ligados às razões pelas quais os mediadores por vezes não
conseguem estimular crianças e alunos de maneira efetiva, mesmo com
tanto conhecimento à disposição.
Entendemos que os pais – e até mesmo os profissionais –, em razão da
relação entre o tempo e o desenvolvimento infantil, ao buscar alcançar obje-
tivos para ontem, ou não prevenindo nem realizando a avaliação certa, “quei-
mam” importantes etapas, deixando as crianças cada vez mais perdidas.
A falta de compreensão das fases do desenvolvimento da primeira
infância (zero a seis anos), que é um período de grande crescimento,
tanto físico como neurológico, faz com que muitos coloquem barreiras
ao invés de auxiliar no desenvolvimento da criança, ainda mais aquelas
com deficiência.
É preciso entender que uma avaliação cuidadosa é essencial nesse
processo, principalmente na primeira infância, para que as dificuldades
de cada sujeito sejam trabalhadas de modo pontual. Assim, compreender
como o cérebro da criança amadurece, o que vai afetar o modo como
ela aprende e se comporta, é essencial para ajudá-la a se desenvolver.
Contudo, observamos que além das barreiras neurobiológicas, existem
barreiras estruturais e de currículo, que intensificam esse descompasso
de aprendizagem e geram a exclusão.
64 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
ATIVIDADES
Atividade 1
Os principais desafios enfrentados pela instituição escolar refor-
çam a dificuldade de aprendizagem, impedindo os alunos com
deficiência a se desenvolverem. Explique quais são esses desafios.
Atividade 2
Aborde algumas características que a família do estudante apre-
senta e que podem causar prejuízos à aprendizagem das crianças.
Atividade 3
As crianças com deficiência seguem o mesmo padrão de desenvol-
vimento que as crianças sem deficiência, porém apresentam uma
diferença. Qual seria essa diferença?
REFERÊNCIAS
APA – AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.
MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.
KAPLAN, H. I. Compêndio de psiquiatria – Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica.
7. ed. Porto Alegre: Séries Médicas, 1997.
PIAGET, J. Biologia e conhecimento: ensaio sobre as relações entre as regulações orgânicas e
os processos cognoscitivos. Petrópolis: Vozes, 1993.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos
superiores. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
WALLON, H. As origens do pensamento na criança. São Paulo: Manole, 2006.
66 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Objetivos de aprendizagem
Ausência de recursos
financeiros suficientes
Ausência de suporte
para as crianças com
deficiência
Condições físicas
inadequadas
Obstáculos
utterstock
Sh
a/
kov
alc
hi
Darya P
68 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Quadro 1
Marcadores de possíveis dificuldades de aprendizagem
70 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Cronbach (1996) reforça que a sondagem é um processo mais amplo
do que a testagem, porque é necessário integrar e valorar informações.
O termo sondagem ou avaliação é entendido como método de investi-
gação, sendo por vias qualitativas (escuta e observação) e quantitativas
(testes padronizados por medição), e sugere apropriadamente uma com-
binação de informações com julgamentos de valor que vão muito além
da testagem. A avaliação realizada nos moldes da teoria de Luria (1987)
privilegiou a influência dos fatores socioculturais sobre o desempenho e
análise dos erros levando em conta a particularidade como sujeito.
Figura 2
Operações computacionais
Estocagem Processamento
Input (entrada): (armazenamento): (organização): Output (saída):
recepção memória pensamento funções expressivas
Hermin/Shutterstock
72 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Essas funções permitem que uma pessoa pense antes de agir, pro-
cesse ideias diferentes mentalmente, resolva desafios inesperados,
pense em diferentes perspectivas, reconsidere opiniões e evite distra-
ções. Essas capacidades são fundamentais para a tomada de decisões
e para ter pensamentos autônomos durante toda a vida. Seu principal
desenvolvimento ocorre do nascimento aos seis anos, na primeira in-
fância, e é intensamente influenciado pela qualidade e quantidade de
experiências que as crianças podem ter, incluindo aquelas relaciona-
das aos aspectos biológicos e emocionais.
74 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
já na alfabetização, tiver dificuldade de leitura e/ou escrita, todo o seu
processo de aprendizagem será deficitário, e aos poucos sua autocon-
fiança ficará baixa, podendo o levar a manifestar ações negativas de
comportamento na sociedade, bem como levá-lo ao desinteresse e
muitas vezes até à evasão escolar. Os distúrbios de leitura e de escri-
ta podem ocorrer de maneiras diversas, não necessariamente sendo
diagnosticada uma patologia, como a dislexia.
Leitura e
nomeação rápida
Escrita
Habilidades
Atenção Cálculo motoras
visual
Consciência
fonológica
Memória
imediata
76 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Existem dois tipos de disgrafia, a motora e a perceptiva, que ocor-
rem dependendo das áreas afetadas: a disgrafia motora é causada por
lesão ou comprometimento no lobo parietal, e a disgrafia perceptiva é
causada por lesão ou comprometimento na área do lobo frontal.
78 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
um professor que, ao perceber a dificuldade do seu aluno, não o rotula,
mas coloca em prática um projeto para resgatar a vontade de aprender
em Ishaan, ensinando-o a ler e a escrever.
O filme nos mostra que o que salvou o menino não foram testes pa-
dronizados ou receitas prontas para diagnosticá-lo como disléxico, mas
sim a metodologia utilizada pelo educador, que o tratou com respeito e
soube valorizar e entender suas diferenças.
Estimular
Descobrir
Resolver
Informar
Sistema de
recompensa
Sensação
positiva
Prêmio
Livro
Fonte: Elaborada pela autora. O livro Neurociência e
Educação: como o cérebro
Portanto, ao analisar os processos de aprendizagem, várias abor- aprende traz uma base
dagens para descobrir as características psicológicas, neurológicas mais sólida, assim você irá
compreender melhor o
e sociais das pessoas devem ser levadas em consideração, porque o funcionamento do sistema
desenho da aprendizagem leva em conta os aspectos biológicos, cog- nervoso central, seu po-
tencial e as melhores es-
nitivos, emocionais e ambientais que constroem e fundamentam a tratégias de favorecer seu
existência da sua evolução, pautados em fatores-base para uma apren- pleno desenvolvimento.
dizagem significativa. Alguns fatores que influenciam na aprendizagem CONSENZA, R. M. Porto Alegre:
Artmed, 2011.
são: atenção e prática; método; motivação; e oportunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo observamos que a avaliação, com base na neuropsico-
pedagogia, pode ser resumida como uma estratégia investigativa destina-
da a identificar, obter e proporcionar, de maneira válida e confiável, dados
e informações suficientes e relevantes sobre o funcionamento cognitivo,
emocional e comportamental do indivíduo. Contudo, a avaliação realizada
pelo profissional dentro da escola não deve ser determinista, pois se faz
necessária uma avaliação interdisciplinar e psicométrica, com neuropsi-
copedagogo clínico e áreas afins, visto que o ambiente não clínico não
permite a aplicação controlada de muitos métodos experimentais.
Consequentemente, a avaliação e a interpretação do comportamento
humano não são fáceis, sendo necessária, muitas vezes, a investigação
com familiares, amigos, conhecidos e outros, para que o olhar seja de um
todo. Essas informações geralmente podem revelar dados mais confiá-
veis, claros e significativos no processo avaliativo.
Porém, a escuta, seja na clínica ou na escola, ainda é a melhor ferra-
menta para que hipóteses sejam levantadas, podendo ter uma melhor
base no processo avaliativo do sujeito, levando em conta a individualidade
e construção de cada um.
80 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
ATIVIDADES
Atividade 1
As funções executivas incluem que tipo de habilidades?
Atividade 2
Diferencie dislexia de disgrafia e dê exemplos.
Atividade 3
A neuropsicopedagogia auxilia o que durante o aprendizado,
utilizando métodos de processamento?
REFERÊNCIAS
CRONBACH, L. J. Fundamentos da testagem psicológica. 5. ed. Porto Alegre: Editora Artes
Médicas, 1996.
FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.
LEZAK, M. D. Neuropsychological assessment. 3. ed. Nova York: Oxford University Press, 1995.
LURIA, A. R. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1987.
82 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
5.1 Aprendizagem de crianças autistas
Vídeo
Quando tratamos do Transtorno do Espectro Autista (TEA), é preciso
saber que ele atinge um a cada cem indivíduos. No mundo há mais de 70
milhões de pessoas já diagnosticadas com autismo, sendo que no Brasil
esse número chega a mais de 2 milhões de pessoas. Existem dados que
mostram que o autismo atinge mais meninos que meninas, e para quatro
meninos com autismo, uma menina nasce autista (BRASIL, 2004). Contu-
do, essa relação pode não ser tão grande assim, visto que novas pesqui-
sas mostram que as meninas conseguem lidar melhor com os sintomas,
assim, muitas vezes, elas são subdiagnosticadas.
Desafios da neuropsicopedagogia 83
a desenvolver o autismo. O TEA, como conhecido hoje, apresenta
três características comuns: inabilidade para interagir socialmente,
padrão de comportamentos restritivos ou repetitivos e dificuldade
de linguagem e comunicação.
EMOCIONAL
Mushakesa/Shutterstock
SOCIAL
COMUNICAÇÃO
ASPECTO MOTOR
COMPORTAMENTAL
84 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Apesar de serem colocados separadamente, é preciso entender que
são campos que se interligam, o déficit em um gera dificuldades nos
outros campos. Ensinar crianças com autismo envolve vários objetivos.
Por exemplo, linguagem, responsabilidade social e adaptabilidade são
algumas das metas que muitas vezes precisam ser monitoradas e desen-
volvidas com crianças com autismo e que não fazem parte do programa
educacional. As crianças sem autismo aprendem muitos dos compor-
tamentos sozinhas, ao interagir com outras pessoas; já as crianças que
estão dentro do espectro precisam ser instruídas mais especificamente.
Desafios da neuropsicopedagogia 85
Todas as crianças com autismo são capazes de aprender, cada uma
à sua maneira, desde que tenham seu próprio programa de tratamen-
to individual com atividades claras. Todos ganham com uma inserção
adequada e específica. Com um ambiente bem estruturado e prepara-
do para lidar com as diferenças, esses programas devem ser repetidos
na escola, em casa e na comunidade.
86 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
ações e avaliações. A deficiência intelectual (DI) é entendida, segundo
Luckasson et al. (1992, p. 14), da seguinte forma:
Não é consensual entre os profissionais uma definição concreta do
termo deficiência mental (comprometimento intelectual). No entan-
to, a definição que reúne maior número de adeptos é aquela, pro-
posta pela American Association on Mental Retardation (AAMR) em
1992, que define assim este conceito: “A deficiência mental refere-se
a um estado de funcionamento atípico no seio da comunidade, mani-
festando-se logo na infância, em que as limitações do funcionamento
intelectual (inteligência) coexistem com as limitações no comporta-
mento adaptativo. Para qualquer pessoa com comprometimento
intelectual, a descrição deste estado de funcionamento exige o co-
nhecimento das suas capacidades e uma compreensão da estrutura
e expectativas do meio social e pessoal do indivíduo”.
Desafios da neuropsicopedagogia 87
características das pessoas com deficiência intelectual, sempre lembrando
que não é regra apresentar todos esses itens:
• Falta de equilíbrio.
• Dificuldade de locomoção, coordenação e manipulação.
• Falta de autocontrole.
• Atraso no desenvolvimento em relação às outras crianças da
mesma idade: nas atividades lúdicas, no lazer e na sexualidade.
• Perturbações de personalidade.
• Ansiedade.
Idade
QI Denominação Estágio de desenvolvimento
maturacional
Crianças que se enquadram neste nível não se pode dizer que
apresentam deficiências mentais, porque são crianças com muitas
68-85 Limite 13
possibilidades, revelando apenas um ligeiro atraso nas aprendizagens
ou algumas dificuldades concretas.
Não são claramente deficientes mentais, mas pessoas com proble-
mas de origem cultural, familiar ou ambiental. Podem desenvolver
52-67 Ligeiro 8-12 aprendizagens sociais ou de comunicação e têm capacidade de
adaptação e integração no mundo social. Apresentam um atraso
mínimo nas áreas perceptivo-motoras.
88 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
Idade
QI Denominação Estágio de desenvolvimento
maturacional
Este nível só é aplicado em caso de deficiência muito grave em que o
desempenho das funções básicas se encontra seriamente compro-
metido. Os indivíduos apresentam grandes problemas sensório-mo-
20 Profundo 0-3
tores e de comunicação com o meio onde estão. São dependentes
dos outros em quase todas as funções e atividades, pois suas apti-
dões físicas e intelectuais são gravíssimas.
Desafios da neuropsicopedagogia 89
O foco do trabalho com a criança com deficiência intelectual deve ser
o contato e a interação com outra pessoa. Qualquer acréscimo às ativi-
dades pedagógicas desenvolvidas deve ser informal, por meio de brinca-
deiras espontâneas, contato com o colega e materiais apropriados.
90 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
• Mentorear as crianças, o que é complexo e evolutivamente di-
nâmico, baseado em aptidões individuais. Essa mentoria deve
ser constante, porque precisa de uma avaliação contínua, não do
sujeito, mas do mediador, para avaliar se sua metodologia está
sendo eficiente no processo de aprendizagem da criança.
Desafios da neuropsicopedagogia 91
5.3 Aprendizagem de crianças
Vídeo com altas habilidades
Diversos autores têm feito referência a pessoas com altas habilidades
e precocidade, genialidade, prodigalidade e transtorno de Asperger, assim
como às diversas nomenclaturas que têm sido utilizadas para fazer menção
à pessoa com altas habilidades, altamente capaz, pessoa ou portador de al-
tas habilidades, alto habilidoso, bem-dotado, brilhante, dotado, portador de
genialidade, portador de superdotação, talentoso, superdotado. Também
há os mais recentes, mas não menos discriminatórios e preconceituosos:
nerd, geek, sabichão, CDF. Segundo Pérez (2012, p. 47), a maioria das pa-
lavras ou expressões que são utilizadas para nomear a pessoa com altas
habilidades é herdada da literatura estrangeira, principalmente em língua
inglesa (gifted, talented e high ability), francesa (précoce, doué, surdoué, haut
potentiel) e espanhola (superdotado, sobredotado, talentoso, altas capacida-
des), de onde vem um número grande das publicações.
92 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
na Educação Especial, sendo segregados, incompreendidos. Atual-
mente, no entanto, há um avanço, e essas pessoas têm ganhado
espaço, lutando por seus direitos. Pessoas com altas habilidades es-
tão em todos os lugares, mas muitas vezes passam despercebidas.
Logo, é importante um olhar atento às suas características e poten-
cialidades, para os ajudar a desenvolver suas habilidades e serem
compreendidos em suas especificidades.
Desafios da neuropsicopedagogia 93
Já as pessoas que apresentam a superdotação produtivo-criativa pos-
suem as seguintes características:
• Não necessariamente apresentam QI superior.
• Pensam por analogias.
• São criativos e originais.
• Usam o humor.
• Demonstram diversidade de interesses.
• Gostam de fantasiar.
• Gostam de brincar com as ideias.
• Não ligam para as convenções.
• São inventivos, constroem novas estruturas.
johavel/Shutterstock
Paradigma tradicional:
• Superdotação igual ao alto QI.
• Teoria da personalidade, estável e invariável.
• Identificação baseada nos testes.
• Orientação elitista.
• Superdotação que se expressa sem intervenção especial.
• Autoritário, hierárquico, de cima para baixo.
• Etnocêntrico.
Paradigma atual:
• Superdotação multifacetária.
• Teoria evolutiva, orientada a processos.
• Identificação baseada no rendimento.
• Orientação centrada na excelência.
• Contexto é crucial.
94 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
• Colaborativo em todos os níveis.
• Orientado a campos de conhecimento.
• Ênfase na diversidade.
Desafios da neuropsicopedagogia 95
Livro • Promover ferramentas metodológicas que facilitem a experiência
O livro Neurociência e de ensino dos alunos.
educação: como o cérebro
aprende, de Ramon • Analisar os aspectos comportamentais, cognitivos, motores e so-
Consenza, associa estu-
ciais que dificultam o percurso escolar da criança.
dos da neurociência com
a educação, mencio- • Cultivar a melhoria e o desenvolvimento humano das crianças
nando a importância da
plasticidade do cérebro e
em contexto pedagógico.
os tipos de inteligência. • Promover a aprendizagem e a regeneração com intervenções
CONSENZA, R. M. Porto Alegre: adequadas.
Artmed, 2011.
• Apontar aos mediadores como a aquisição é ocasionada por me-
canismos cerebrais.
• Promover a inclusão e facilitar a reintegração das crianças nos
espaços escolares.
96 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
central (SNC), terá que investigar as metodologias que cada instituição
possui. É preciso entender qual é o perfil/foco da escola. Nesse contex-
to, entender o processo de aprendizagem das p
essoas requer romper
com a homogeneização, pois cada aluno é único e possui uma forma de
aprender. A perspectiva de educação para todos constitui um grande de-
safio, quando a realidade aponta para uma numerosa parcela de excluí-
dos do sistema educacional sem possibilidade de acesso à escolarização,
apesar dos esforços empreendidos para a universalização do ensino.
Desafios da neuropsicopedagogia 97
No entanto, não podemos afirmar que a prática é a aplicação de
uma teoria. Na prática escolar, por exemplo, as crianças riem, brin-
cam, choram, brigam e inventam, e os professores perdem a paciência,
divertem-se, passam tarefas, desentendem-se e estão satisfeitos ou
não com o processo de trabalho, e todas as experiências são práticas
cotidianas e não aplicação de uma teoria.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim. Esperamos que as informações aqui contidas te-
nham sido de grande importância, aumentando seus conhecimentos
no mundo do aprendizado humano. Foi possível perceber que o pro-
cesso de aprendizagem é muito mais complexo que ir para a escola e
conquistar conteúdos. Antes, é um processo evolutivo que começa na
formação inicial, processo que deve começar com o professor no pla-
nejamento das atividades que desenvolvem o cérebro e as habilidades
psicomotoras da criança.
Inevitavelmente, imaginar a inclusão de alunos com deficiência tem
consequências comparativamente abruptas e incoerentes, assim como
imaginar a educação com base em uma única perspectiva.
Logo, o neuropsicopedagogo, clínico ou institucional, deve ter em mente e
na ação o compromisso com uma aprendizagem verdadeiramente inclusiva e
não exclusiva do aluno, principalmente quando se trata do ambiente escolar.
98 Fundamentos da Neuropsicopedagogia
ATIVIDADES
Atividade 1
Com base no levantamento do Conselho Nacional de Saúde,
qual número de crianças diagnosticadas com autismo temos
hoje no Brasil?
Atividade 2
Segundo o DSM-5, qual é a pontuação do QI de crianças com nível
moderado de deficiência intelectual?
Atividade 3
Qual é o papel do neuropsicopedagogo na inclusão de crianças
com deficiência intelectual, autismo e altas habilidades na escola?
REFERÊNCIAS
APA – American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
BRASIL. 12ª Conferência Nacional de Saúde: Conferência Sérgio Arouca – Relatório final.
Brasília, DF: Ministério da Saúde; Conselho Nacional de Saúde, 2004.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GARDNER, H. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1994.
GARDNER, H. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
LUCKASSON, R. et al. Mental retardation: definition, classification, and systems of
supports. 9. ed. Washington DC: American Association on Mental Retardation, 1992.
PÉREZ, S. G. P. B. E que nome daremos à criança? In: MOREIRA, L. C.; STOLTZ, T. (org.). Altas
habilidades/superdotação, talento, dotação e educação. Curitiba: Juruá, 2012.
SCHWARTZMAN, J. S. (ed.). Síndrome de Down. São Paulo: Memnon, 1999.
VIRGOLIM, Â. M. R. Altas habilidades/superdotação: encorajando potenciais. Brasília, DF:
Ministério da Educação; Secretaria de Educação Especial, 2007.
Desafios da neuropsicopedagogia 99
Resolução das atividades
1 Bases teóricas da neuropsicopedagogia
1. A neuropsicopedagogia foi o primeiro projeto que envolvia as
neurociências aplicadas à educação, unindo neurociências,
psicologia comportamental e pedagogia. Este foi o início de
uma nova configuração para os educadores profissionais que
têm a oportunidade de se tornar mais capacitados para lidar
com inclusão, nossa realidade escolar desde sempre, mas só
agora falada. Com base no que foi aprendido até agora, qual é
o papel do neuropsicopedagogo na aprendizagem de pessoas
com deficiência, pensando que a deficiência causa bloqueios em
determinadas regiões do SNC, causando assim dificuldade no
trajeto preexistente?
Quando pensamos em educação, devemos incluir toda a
sociedade, sem segregação, lembrando que todos podemos
aprender independentemente de nossas habilidades/dificuldades.
A neurociência veio trazer esse olhar para a educação, antes
segregadora em suas gênesis. Com um novo olhar sobre a
aprendizagem, o educador transforma sua prática em práxis
reflexiva, na qual o educando e o educador aprendem juntos, cada
um respeitando sua forma de aprender, conhecendo não só seus
déficits, mas também suas habilidades.
5 Desafios da neuropsicopedagogia
1. Com base no levantamento do Conselho Nacional de Saúde, qual
número de crianças diagnosticadas com autismo temos hoje no Brasil?
Segundo o Conselho Nacional de Saúde, temos hoje no Brasil,
aproximadamente, 2 milhões de pessoas diagnosticadas.
Código Logístico
ISBN 978-65-5821-218-8
I0 0 0 9 7 2 9 786558 212188