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FUNDAMENTOS DA

NEUROPISCOMOTRICIDADE

Professora: Me. Jéssica Cristina Leite


DIREÇÃO

Reitor Wilson de Matos Silva


Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo
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Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey
Projeto Gráfico Thayla Guimarães
Design Educacional Rossana Costa Giani
Design Gráfico Arthur Cantareli Silva

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação


a Distância; LEITE, Jéssica Cristina;

Neuropsicomotricidade. Jéssica Cristina Leite;


Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.
24p.
“Pós-graduação Universo - EaD”.
1. Neuropsicomotricidade. 2. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 370.15


CIP - NBR 12899 - AACR/2

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900
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sumário
01 |9 NEUROPSICOMOTRICIDADE: CONCEITOS E
DEFINIÇÕES

02 |13 BREVE HISTÓRICO DA NEUROPSICOMOTRICIDADE

03 |17 NEUROPSICOMOTRICIDADE E APRENDIZAGEM


FUNDAMENTOS DA NEUROPISCOMOTRCIDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Entender a evolução dos conceitos em neuropsicomotricidade, bem como
a sua função e a sua importância no desenvolvimento humano.
• Analisar a história da neuropsicomotricidade em âmbito mundial e no Brasil.
• Compreender a importância da neuropsicomotricidade para o desenvol-
vimento da aprendizagem, auxiliando na educação, bem como conhecer
as práticas que podem ser aplicadas em contexto escolar.

PLANO DE ESTUDO

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


• Neuropsicomotricidade: conceitos e definições
• Breve histórico da neuropsicomotricidade
• Neuropsicomotricidade e aprendizagem
INTRODUÇÃO

Caro (a) aluno (a), neste primeiro encontro você estudará de forma breve sobre o
percurso histórico da neuropsicomotricidade em um contexto mundial e no Brasil. A
psicomotricidade tal qual conhecemos hoje, tem uma história de aproximadamen-
te 150 anos, porém o conceito apresenta-se enraizado desde a idade antiga, há mais
de 5 milhões de anos atrás.
O formação de conhecimento acerca da neuropsicomotricidade ainda não está
completa. A literatura denota que ao longo do tempo essa ciência vem tomando
um espaço cada vez maior, fazendo parte da prática de diversos profissionais da
educação e da saúde: pedagogos, psicopedagogos, educadores físicos, psicólogos,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e tantos outros mais.
Mesmo tendo consciência do muito que há para vocês explorarem na expe-
riência de outros profissionais, com este estudo, espero que vocês entendam este
conceito de que a integração entre os aspectos emocionais, cognitivos e motores
do ser humano é demasiadamente primordial em seu desenvolvimento global. Isto
é o que a neuropsicomotricidade defende.
Os sintomas de alterações psicomotoras, tais como, hiperatividade, déficit de
atenção, transtornos de lateralidade ou de noção espacial, entre outros, aparecem
quando ocorre um déficit nesta integração somato-psíquica.
A criança passa muito tempo na escola e se é através da interação com o meio
que os elementos neuropsicomotores se desenvolvem, este ambiente deve pro-
porcionar às crianças as mais diversificadas experiências corporais. Os elementos da
neuropsicomotricidade serão temas de encontros seguintes.
Além disso, os transtornos neuropsicomotores afetam diretamente o desempe-
nho da criança na escola, pois interferem nos processamentos mentais. A escola, vem
buscando cada vez mais inserir práticas de educação e reeducação psicomotora em
seu contexto, a fim de otimizar o aprendizado do aluno, pois trabalhando aspectos
motores, a escola consegue melhorar também os aspectos intelectuais.
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NEUROPSICOMOTRICIDADE:
CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Olá querido (a) aluno (a) dando início a nossa disciplina de neuropsicomotricidade, vamos enten-
der o que significa este conceito e o quão ele vem se tornando cada vez mais amplo e essencial
para o desenvolvimento global das pessoas.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (2012), a psicomotricidade é a
ciência que tem como objeto de estudo o homem por meio do corpo em movimento e em
relação ao mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, no qual o corpo
é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos
básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. A psicomotricidade, portanto, busca entender os as-
pectos emocionais, cognitivos e motores nas diversas etapas da vida do ser humano.

““
“A Psicomotricidade baseia-se em uma concepção unificada da pessoa, que
inclui as interações cognitivas, sensorio-motoras e psíquicas na compreen-
são das capacidades de ser e de expressar-se, a partir do movimento, em um
contexto psicossocial. Ela se constitui por um conjunto de conhecimentos
psicológicos, fisiológicos, antropológicos e relacionais que permitem, utili-
zando o corpo como mediador, abordar o ato motor humano com o intento
de favorecer a integração deste sujeito consigo e com o mundo dos objetos
e outros sujeitos” (COSTA, 2002).

O psiquismo nesta ciência é entendido como o conjunto de emoções, sensações,


afetos, medos, aspirações, representações do ser humano. Já os aspectos cognitivos
estão relacionados ao processamento de informações realizado pelas diversas áreas
cerebrais, incluindo as áreas de linguagem, memória, atenção, percepção visual e
auditiva. Cognição e inteligência são dois termos relacionados, mas não significam
a mesma coisa. É muito importante para a avaliação, diagnóstico e encaminhamen-
to de uma criança entendermos a diferença entre estes dois conceitos.
Pela cognição a criança adquire conhecimento através da percepção, da atenção,
associação, memória, raciocínio, como já comentei. Já a inteligência é o que se pode
melhorar por meio de estudos, do raciocínio, compreensão e aprendizagem. Toda
criança que tem um problema de inteligência, tem problema cognitivo, porém nem
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sempre que uma criança apresenta um distúrbio cognitivo, ela tem um déficit in-
telectual. Crianças com dislexia ou hiperatividade são exemplos de crianças com
alterações cognitivas e não necessariamente intelectuais. E cabe aos profissionais
da educação e saúde conhecerem e aplicarem o trabalho da neuropsicomotricida-
de com estas crianças.
Em relação ao aspecto motor, Wallon (1925) já trazia que o movimento é a pri-
meira expressão do psiquismo e a primeira estrutura de relação com o meio, que
funções mentais se formam a partir das funções motoras. Nós conheceremos este
estudioso mais a frente em nossa disciplina. Nesta ciência, o movimento humano é
considerado diferenciado, pois está permeado de inteligência, de intencionalidade.
O movimento de pinça, por exemplo, que utilizamos para escrever, é um movimen-
to complexo e exclusivo do ser humano.
A neuropsicomotricidade é uma ciência que estuda estes aspectos em todas as
etapas da vida do ser humano. Por exemplo, ajuda desde um bebê prematuro, com
dificuldade de sucção e deglutição na amamentação até um idoso que frequen-
temente engasga quando come ou ingere líquido. Perceba que ambos possuem
dificuldade em uma função básica, a alimentação e possuem necessidades psico-
motoras que podem ser trabalhadas.
A Educação Psicomotora, a Reeducação Psicomotora e a Psicomotricidade
Relacional são práticas de aplicação da neuropsicomotricidade que podem ser rea-
lizadas nas escolas, clínicas, nos hospitais, outras instituições e até na própria casa
da criança.
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E como está inserida a neuropsicomotricidade na fase adulta? Adultos com


qualidade de sono ruim, com problemas de ansiedade ou distúrbios no com-
portamento alimentar, associados a alterações na imagem corporal, como
bulimia, anorexia, podem lançar mão de terapêuticas envolvendo a psico-
motricidade. Pesquisem mais sobre este assunto querido aluno.

Fonte: a autora.

Como qualquer conhecimento, o conceito da neuropsicomotricidade, a sua função e


a sua importância são passíveis de erro para qualquer profissional ou estudioso que
o enuncie, que tente o explicar. No entanto, estes diferentes pontos de vista devem
ser considerados e devem se complementar para que o aluno formule o seu próprio
conceito de maneira embasada.
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BREVE HISTÓRICO DA
NEUROPSICOMOTRICIDADE
Entendo que é importante conhecermos um pouco do contexto histórico da neu-
ropsicomotricidade para avançarmos para os próximos encontros. Pretendo que com
tais conhecimentos, o aluno crie uma linha de raciocínio própria, porém fundamen-
tada, em torno da neuropsicomotricidade nos dias atuais.
O contexto histórico da neuropsicomotricidade é marcado por diferentes con-
cepções teóricas desenvolvidas por pensadores e cientistas, desde Platão, Aristóteles
e Descartes, passando por Dupré, Wallon, Piaget, Ajuriaguerra, até Ali e Grunspun,
entre muitos outros. Até o século XVIII, a psicomotricidade, não com essa nomencla-
tura, era tratada apenas sob a ótica filosófica. Já o termo psicomotricidade, aparece
pela primeira vez em 1870, devido a uma necessidade médica de encontrar uma
área que explicasse certos fenômenos clínicos. Em 1909, quando o neuropsiquiatra
Dupré iniciou estudos sobre debilidade motora, é que se traçou uma estreita asso-
ciação entre o desenvolvimento da psicomotricidade, inteligência e afetividade.
Porém, o grande marco inicial da neuropsicomotricidade, como campo científico,
se dá em 1925 com a publicação L’Enfant Turbulent de Henry Wallon, relacionada ao
desenvolvimento psicológico da criança. Os estudos de Wallon o permitiram relacio-
nar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos das pessoas.
Segundo este pioneiro da neuropsicomotricidade, o movimento, o pensamento
e a linguagem são unidades inseparáveis, sendo o movimento o primeiro campo
funcional a se desenvolver, servindo de base para o desenvolvimento dos demais
(afetividade, inteligência e pessoa).
Atualmente, defender que a escola deve proporcionar formação integral, con-
templando estes três aspectos (afetivo, intelectual e social) é comum. No início do
século XX, porém, essa ideia foi uma verdadeira revolução no ensino, trazida por
Wallon. Ele foi o primeiro a levar a neuropsicomotricidade para dentro da sala de
aula. Suas obras foram muito importantes para o contexto da neuropsicomotrici-
dade e serviram como influência nas práticas de educação e reeducação propostas
por diversos estudiosos.
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A teoria de Wallon propõe cinco estágios de desenvolvimento: impulsivo-emo-


cional, sensório-motor, do personalismo, categorial e da adolescência. No entanto,
diferentemente de Piaget, Wallon não considerava que estes estágios ocorresse da
mesma maneira em todas as pessoas, e que não necessariamente evoluíssem de forma
suave e linear, mas com rupturas e retrocessos nos estágios, que isso seria natural.
Estágio impulsivo-emocional (0 a 1 ano): predominantemente afetivo, no
qual a criança expressa suas emoções por meio de movimentos descoordenados. O
vínculo com o outro, o contato pele a pele, o carregar, o balançar são exemplos dos
principais recursos de aprendizagem nesse período.
Estágio sensório-motor (1 a 3 anos): fase em que o ambiente externo tem
grande influência no desenvolvimento cognitivo e afetivo. Tem a diversidade de
objetos, situações e espaços como recursos de aprendizagem.
Estágio do personalismo (3 a 6 anos): estágio fundamental na formação da
personalidade da criança. Nesse período, ela percebe que é diferente das outras
crianças e aprende com isso. Ela opõe-se constantemente ao adulto, com expres-
sões como não gosto, não quero, não vou.
Estágio categorial (6 a 11 anos): possui caráter intelectual. Em um processo
lento, no qual a criança reconhece, diferencia e classifica as coisas, ela começa a criar
conceitos e princípios.
Estágio da adolescência (11 anos em diante): fase de transformações físicas
e psicológicas, de busca de identidade e de novo, de oposição de ideias, principal-
mente em relação aos adultos.
Jean Piaget foi um dos mais importantes pensadores do século XX, biólogo e psi-
cólogo, que desenvolveu a teoria denominada Epistemologia Genética, a qual defende
que todas as crianças passam obrigatoriamente por quatro estágios de desenvolvi-
mento cognitivo: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório
formal. Contribuindo para a neuropsicomotricidade, ele estudou a interdependência
entre o desenvolvimento da percepção e do movimento. Ele relacionou, por exemplo,
a percepção visual com a motricidade do globo ocular. Por sua vez, a percepção e o
movimento se relacionam com o meio externo, dando origem à representação sim-
bólica e ao pensamento e permitindo assim um controle e uma intencionalidade
progressiva da ação do indivíduo.
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Ainda, segundo Piaget é uma adaptação, “a inteligência é o resultado de uma


certa experimentação motora integrada e interiorizada que, como processo de adap-
tação, é essencialmente movimento” (PIAGET, 1970, p. 15).

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Como dito anteriormente, para Piaget, o desenvolvimento cognitivo segue


uma sequência fixa e universal, onde os fatores internos predominam sobre
os fatores externos, sendo que o meio social pouco interfere na aprendi-
zagem. Lev Vygotsky é outro pensador importante que contrapôs Piaget,
defendendo que o desenvolvimento cognitivo da criança é bastante in-
fluenciado pela cultura e pelo meio social da mesma.
Resumindo, para Piaget o desenvolvimento é um processo que se dá de
dentro para fora, já para Vygotsky, o desenvolvimento se dá de fora para
dentro. Qual é a sua opinião sobre isso? Pela sua experiência, quanto o meio
social interfere nos processos de desenvolvimento cognitivo das crianças?
Fonte: A autora.

Percebemos que o estudo da psicomotricidade sempre esteve e está em constante


discussão e evolução. Como eu já disse, foram diversos estudiosos responsáveis por
essa trajetória. Wallon e Piaget ambos trouxeram ideias que predominaram por muitas
gerações e ainda influenciam muito no estudo e na prática da neuropsicomotricidade.
No Brasil, a neuropsicomotricidade tem sua origem na década de 50, com Grunspun
e Lefevre que utilizavam atividades psicomotoras nas terapêuticas de crianças es-
peciais. Porém, considera-se que só em 1968 é que a neuropsicomotricidade foi
difundida no país, por meio de cursos. Inicialmente considerada um recurso peda-
gógico para distúrbios do desenvolvimento, hoje é definida pela Sociedade Brasileira
de Psicomotricidade como ciência que estuda o homem através do seu corpo em
movimento em relação ao seu mundo interno e externo, e está inserida na forma-
ção de diversos profissionais da saúde e da educação.
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NEUROPSICOMOTRICIDADE
E APRENDIZAGEM
Como vimos nos encontros anteriores, a neuropsicomotricidade estuda o corpo em
movimento. O corpo é o ponto de referência que o ser humano possui para conhe-
cer e interagir com o mundo, servindo de base para o desenvolvimento intelectual.
Quando a criança percebe o meio através de seus sentidos, ela passa a responder e
a agir sobre o mundo e sobre os objetos, com os movimentos de seu corpo. Desta
maneira, estará experienciando, ampliando e desenvolvendo também suas funções
intelectuais (OLIVEIRA, 2015).
A neuropsicomotricidade na escola, fazendo jus ao seu conceito, tem como ob-
jetivo promover o desenvolvimento global da criança por meio de experiências
motoras, cognitivas e socioafetivas. E é comum uma criança apresentar dificuldades
na vida escolar como consequência de um desenvolvimento motor inadequado.
As aquisições motoras e intelectuais ocorrem de maneira progressiva e interliga-
da. Para que a criança inicie a alfabetização, é necessário que ela possua um certo
domínio da coordenação motora fina, do esquema corporal, da percepção espacial
e da lateralização. Na escrita, por exemplo, seguimos uma direção gráfica, escreve-
mos e lemos horizontalmente, em linhas, da esquerda para a direita. Por isso, noções
sobre em cima e embaixo, de antes e depois, esquerda e direita, ou seja, de orienta-
ção espacial, temporal e lateralização, são essenciais para este aprendizado. Como
a criança vai escrever se não tiver desenvolvido habilidades motoras finas, como o
movimento de pinça para segurar o lápis?
Em um estudo recente, Morse et al. (2015), demonstraram a importância da
postura para o aprendizado, mais especificamente para a função de memória, mos-
trando como a disposição do corpo no espaço pode afetar o mapeamento cerebral
dos nomes das pessoas e dos objetos, em crianças reais e em modelos robóticos.
Ainda, na aprendizagem, as funções intelectuais relacionadas à memória, como
a memória visual e auditiva, desempenham um papel muito importante. A primeira
permite que a criança forme uma imagem visual das palavras, o que facilita o reco-
nhecimento rápido e instantâneo durante a leitura. Na escrita, permite a utilização
correta da grafia, que depende do fato da palavra a ser escrita, estar ou não retida
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na memória visual. E a segunda torna o aluno capaz de reter as informações auditi-


va recebidas, como por exemplo fazê-lo lembrar quais os sons correspondentes aos
símbolos gráficos visualizados.
Neste sentido, Le Boulch (1987) defende que a Educação Psicomotora deve ser
instituída desde o início da vida escolar da criança e desta forma, deve ser encarada
como a educação base, pois condiciona todas as aprendizagens seguintes. Também
para Fonseca (1996, p.142), a primeira necessidade na escola seria: “(...) alfabetizar a
linguagem do corpo e só então caminhar para as aprendizagens triviais que mais não
são que investimentos perceptivo-motor ligados por coordenadas espaços-tempo-
rais e correlacionados por melodias rítmicas de integração e resposta”.

saiba mais

A Psicomotricidade Relacional é outra área de aplicação da neuropsicomotri-


cidade, foi criada na década de 70 por André Lapierre e tem como proposta
preventiva e terapêutica, que a criança expresse e supere seus conflitos re-
lacionais por meio do brincar. Acredita-se, que durante a brincadeira, por
meio da linguagem corporal, a criança demonstra de forma espontânea
seus medos, necessidades, inseguranças e afins.
A Psicomotricidade Relacional pode ser desenvolvida no âmbito escolar,
clínico e empresarial, com crianças, jovens, adultos e idosos. Na escola, esta
terapêutica visa a melhora do rendimento escolar e do aprendizado, abrindo
espaço para as vivências afetivas que permeiam a personalidade e a socia-
bilidade da criança.

Fonte: Lapierre (2002).

A prática da educação psicomotora está sendo preconizada nos processos brasileiros


de escolarização, de forma preventiva, facilitando o desenvolvimento global dos indi-
víduos, sendo ofertada às crianças desde o ingresso na Educação Infantil. No entanto,
mesmo com este esforço, infelizmente ainda muitas escolas mantêm o caráter me-
canicista instalado, ignorando a importância do desenvolvimento neuropsicomotor
para o processo ensino-aprendizagem e para a formação do ser da criança.
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Aos educadores cabe propiciar atividades diversificadas e criar ambientes esti-


mulantes, cada vez mais ricos e desafiadores para os aspectos afetivos, cognitivos
e motores. Porém, ainda muitos professores, preocupados com a leitura e a escrita,
muitas vezes não sabem como resolver as dificuldades com bases neuropsicomo-
toras apresentadas por seus alunos, rotulando-os como portadores de déficit de
aprendizagem, quando na verdade, muitos desses problemas poderiam ser resolvi-
dos dentro na própria escola e até poderiam ser evitados se houvesse um olhar mais
atento e qualificado deste professor.
Falamos até agora de educação psicomotora. Já a reeducação psicomotora é
dirigida às crianças que já apresentam algum transtorno psicomotor ou atrasos no
desenvolvimento. Ela deve ser iniciada o mais precocemente possível, para minimi-
zar os efeitos desta alteração no desenvolvimento global da criança.
É mais fácil estimular as crianças sem déficits motores e intelectuais, com desen-
volvimento típico do que aquelas que já adquiriram padrões neuropsicomotores
alterados. Por isso, a reeducação psicomotora exige mais conhecimento e preparo
dos profissionais que a aplicam.
atividades de estudo

1. Compreendendo o conceito de neuropsicomotricidade, podemos dizer que um distúrbio psi-


comotor trata-se de uma forma geral de:
a) Disfunções motoras, falta de coordenação, força muscular e equilíbrio.
b) Um desenvolvimento intelectual precário que impossibilita a aprendizagem.
c) Um fenômeno observado em crianças que apresentam carência afetiva ou pouca participa-
ção social.
d) Uma alteração que atinge a unidade indissociável, formada pela afetividade, pela cognição
e pela motricidade.
e) Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor apresentado por crianças com deficiências
físicas e intelectuais.

2. Associe os conceitos sobre psicomotricidade de acordo com o estudioso correspondente e


escolha a alternativa correta:
1. Jean Piaget
2. Henri Wallon
( ) Defendia a maturação biológica como condição para o desenvolvimento cognitivo
( ) O desenvolvimento é diretamente afetado por aspectos culturais e biológicos da criança
( ) Movimento, afetividade, inteligência e linguagem são estritamente interligados
( ) O desenvolvimento segue uma segue uma sequência fixa e universal de estágios
a) 1, 1, 2, 1.
b) 1, 2, 2, 1 .
c) 2, 2, 2, 1.
d) 2, 1, 1, 2.
e) 1, 2, 1, 2.

3. O desenvolvimento dos aspectos neuropsicomotores são essenciais para o aprendizado da leitura


e da escrita. Por isso, é correto afirmar preconiza-se que a neuropsicomotricidade na escola deva
ser trabalhada:
a) Quando o aluno apresenta dificuldade em aprender a ler e escrever.
b) Após a aquisição do domínio da alfabetização, potencializando os ganhos neuropsicomotores.
c) Desde o início da vida escolar, atuando como educação base a criança.
d) Nas aulas de educação física apenas, visto o conhecimento do corpo e do movimento que
este profissional possui.
e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.
resumo

Neste primeiro encontro, procurei demonstrar o percurso histórico da neuropsicomotricidade,


com o intuito de levá- los a uma reflexão de que como uma ciência que associa as potenciali-
dades intelectuais, afetivas, sociais e motoras da criança tomou espaço tão grande e importante
nos dias atuais.

Apresentei a vocês Wallon e Piaget, dentre outros importantes estudiosos da neuropsicomotrici-


dade, e suas contribuições para o conhecimento atual. Lembrando que, o processo de construção
de conhecimento em torno desta ciência continua em crescimento.

Visto que a neuropsicomotricidade relaciona o movimento com aspectos cognitivos, esta prática
é fundamental para todo o processo de desenvolvimento e aprendizagem e deve ser iniciada
precocemente para facilitar o processo ensino-aprendizagem da criança. Os elementos neuropsi-
comotores que iremos conhecer no próximo encontro estão diretamente relacionados às funções
intelectuais, como a memória, a atenção, ao processamento de informações.

Vimos aqui que na escola a neuropsicomotricidade pode ser aplicada de forma educativa à todas
crianças, de forma reeducativa para aquelas que já apresentam alguma manifestação de altera-
ção psicomotora ou algum déficit de aprendizagem e ainda, pode-se considerar a aplicação da
psicomotricidade relacional, com objetivo de trabalhar aspectos afetivos por meio da brincadeira.

O papel da escola e dos educadores em relação a neuropsicomotricidade é o de proporcionar con-


dições facilitadoras para o desenvolvimento do ato motor, do gesto, do movimento, do domínio
da criança sobre o seu corpo e de seu corpo em relação ao meio externo.

Assim, com este estudo, podemos dizer que a neuropsicomotricidade é uma ciência que procura
entender o desenvolvimento humano em sua totalidade e que tem por finalidade, associar di-
namicamente afeto, cognição e movimento, ligar o ato ao pensamento, o gesto à palavra, o
movimento como expressão e o corpo como base para a comunicação.
material complementar

Título: Psicomotricidade: perspectivas multidisciplinares


Autor: Vitor da Fonseca
Editora: Artmed
Sinopse: Esta nova obra de Vitor da Fonseca integra os conhecimentos
e os fundamentos bioantropológicos, psiconeurológicos e terapêuti-
co-reeducativos da psicomotricidade. Além da conceitualização desse
campo, este livro descreve as problemáticas e as necessidades especiais
mais freqüentes e propõe planos de trabalho com objetivos educativos,
reeducativos e terapêuticos, oferecendo subsídios valiosos para psico-
motricistas, psicopedagogos, educadores, profissionais de saúde mental.

NA WEB

Um dos diversos vídeos da web que aborda os conceitos e benefícios da neuropsicomotricidade.

Web: <https://www.youtube.com/watch?v=mKL3XfPQ5xM>.
referências bibliográficas

COSTA, E.; MELLO, H. Profilaxia Psicomotora Hospitalar: projeto Brincar é Viver– Complexificando
a hospitalização, estabelecendo referenciais e instrumentalizando a ação na infância e adolescên-
cia. Em: Psicomotricidade Clínica. São Paulo: editora Lovise, 2002.

FONSECA, VITOR DA. Psicomotricidade. 4ª edição. São Paulo: Editora Martins Fonte, 1996. 372 p.

LAPIERRE, A. Da Psicomotricidade Relacional à Análise Corporal da Relação. Curitiba, UFPR/


CIAR, 2002.

LE BOULCH, J. Rumo a uma ciência do movimento humano. Porto Alegre: editora Artes Médicas,
1987. 239 p.

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Words to Objects. PLoS ONE, v. 10, n. 3, p. 1-17, 2015.

OLIVEIRA, G. D. Psicomotricidade: Educação e Reeducação Enfoque Psicopedagógico. 20ª edição.


Rio de Janeiro: editora Vozes, 2015. 152p.

PIAGET, J. L’épistémologie génétique. Paris: Press Universitaire de France, 1970.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. Publicação Eletrônica. São Paulo, 2012. Disponível


em <http://psicomotricidade.com.br/sobre/o-que-e-psicomotricidade/>. Acesso em 12 abr. 2017.

WALLON, H. L’Enfant Turbulent. Paris: Press Universitaires de France, 1984 (originalmente publi-
cado em 1925).
resolução de exercícios

1. D

2. B

3. C

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