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REABILITAÇÃO
COGNITIVA
Material de Estudo
Professora Responsável:
Psicopedagoga Jéssica Cavalcante
www.institutoneuro.com.br
REABILITAÇÃO
COGNITIVA
Disponível em www.institutoneuro.com.br
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Sabe-se que o sistema nervoso é complexo e formado por pelo menos 100
bilhões de neurônios. Um único neurônio pode se ligar a centenas ou milhares de
outros por meio de sinapses, formando redes neuronais complexas e dotadas de
funcionalidade.
Uma única ligação entre um neurônio e outro tem pouco impacto
funcional se comparável com as outras milhares de comunicações existentes,
que compõem essas redes neuronais. Portanto, quando ocorre um fenômeno
de plasticidade neuronal, há uma mudança na estrutura ou função dessas
redes neuronais e não de apenas um neurônio.
O termo “plasticidade neuronal” é frequentemente associado ao
fenômeno de recuperação funcional após uma lesão do sistema nervoso (p. ex.,
a melhora cognitiva ou motora de um indivíduo após um acidente vascular
encefálico ou traumatismo cranioencefálico). Um dos objetivos deste nosso
estudo é ampliar esse conceito de plasticidade. Em diversas situações, pode-se
observar tal fenômeno, como no comportamento depressivo ou ansioso após
eventos traumáticos; no aprendizado de uma nova língua; na habilidade para
andar de bicicleta; no resgate da memória de uma viagem inesquecível; ou ao
se observar a excepcional habilidade auditiva e tátil desenvolvida por
indivíduos com cegueira congênita. Ao se adquirirem novas habilidades
cognitivas ou motoras, as redes neuronais são modificadas.
Pode-se dizer que o sistema nervoso inicia sua formação já nas
primeiras semanas de vida, mas seu desenvolvimento e sua maturação
continuam por vários anos após o nascimento.
No período pré-natal (antes do nascimento), grande parte da formação
do sistema nervoso é guiada com influência dos fatores genéticos (expressão
gênica de fatores de crescimento) e pouca influência de fatores externos. Em
geral, fatores externos, como infecções e uso de drogas ilícitas ou tabaco,
podem causar efeitos negativos ou deletérios a esse desenvolvimento.
Pode-se dizer que grande parte da formação estrutural do sistema
nervoso acontece ainda no período pré-natal. Inicialmente há uma fase de
formação de novas células neuronais, por meio da divisão celular, chamada de
fase proliferativa ou neurogênese. Essa proliferação acontece em uma região
chamada de matriz germinativa, que fica localizada nas bordas dos ventrículos
laterais. Estima-se que aproximadamente 250.000 novas células sejam
formadas a cada minuto nessa fase.
Além das células neuronais, são formadas células da glia, como os astrócitos,
importantes para dar suporte e nutrição ao tecido neuronal. À medida que essas
células são formadas, passam a migrar ancoradas em uma célula chamada de glia
radial. Os primeiros grupamentos de células a realizar essa migração localizam-se na
região abaixo da placa cortical (abaixo da superfície do tubo neural), enquanto outras
células migram para um local logo acima da placa cortical, denominado camada
marginal (células de Cajal-Retzius).
Essas células teriam a importância de guiar e sinalizar o posicionamento das
células nas camadas corticais específicas, além de estimular o crescimento dendrítico e
axônico. Durante esse processo de migração, essas células passam a se diferenciar em
neurônios com características celulares específicas para aquela determinada região
(fenômeno de diferenciação celular).
Esses neurônios adquirem morfologia específica, com a formação dos dendritos e do
axônio. Existem, por exemplo, células neuronais, como os neurônios piramidais (de
Betz), que apresentam axônios com vários centímetros de comprimento, enquanto
outras têm axônios muito curtos (interneurônios).
É importante que os neurônios sejam formados (proliferação neuronal), migrem e se
diferenciem; porém, para que eles tenham funcionalidade como redes neuronais, precisam de
conectividade, a qual depende da formação de estruturas essenciais para a sinapse (terminal pré
e pós-sináptico). O terminal pré-sináptico, principal estrutura receptora do neurônio, depende,
em grande parte, da formação da árvore dendrítica (fenômeno de arborização dendrítica). Isso
possibilita que um único neurônio receba estímulos de centenas a milhares de outros neurônios
ao mesmo tempo, por meio das espinhas dendríticas. Esse processo inicia-se por volta da 25
a à 30 semana de gestação, mas se mantém ativo até vários anos após o nascimento (no lobo
frontal até 7 anos de idade aproximadamente). O crescimento e a formação de novas árvores
dendríticas sofrem influência da experiência e do ambiente e parecem ter um pico de formação
entre a 5a e a 21 semana após o nascimento.
Após a formação dos terminais pré e pós-sinápticos, é necessário o desenvolvimento
das sinapses, processo chamado de sinaptogênese. Ele tem início no 2 trimestre de gestação,
mas se intensifica após o nascimento. O pico de formação das sinapses acontece em tempos
diferentes em determinadas regiões cerebrais. A área visual primária (lobo occipital) e a área
auditiva primária (lobo temporal) apresentam pico por volta dos 3 a 4 meses de vida, enquanto o
lobo frontal, por volta dos 3 anos e meio.
Durante esses picos, há um fenômeno de “explosão” sináptica (formação
exagerada das sinapses), em que os estímulos (auditivos, visuais), influenciam a
densidade dessas sinapses. A ausência de estímulo pode induzir a perda de sinapses
(fenômeno de poda sináptica). Além da poda sináptica, uma subpopulação de células
neuronais, que se tornaram demasiadas ao longo do desenvolvimento, pode sofrer
morte celular programada (apoptose). Esses processos parecem estar ligados a uma
otimização funcional do sistema nervoso.