Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 4
Introdução.................................................................................................................................... 7
Unidade I
Introdução à Reabilitação Neuropsicológica............................................................................. 9
Capítulo 1
Aspectos históricos da reabilitação neuropsicológica............................................... 9
Capítulo 2
Conceito e definição da reabilitação neuropsicológica.......................................... 12
Unidade iI
Embasamento psicobiológico da reabilitação neuropsicológica......................................... 15
Capítulo 1
Neuroplasticidade e reorganização cerebral.............................................................. 15
Capítulo 2
A relevância da reserva cognitiva na reabilitação neuropsicológica.................... 19
Unidade iII
Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica.......................................... 22
Capítulo 1
Objetivos da reabilitação neuropsicológica................................................................ 22
Capítulo 2
Principais modelos e técnicas de intervenção em Reabilitação
Neuropsicológica................................................................................................. 26
Unidade iv
Planejando a reabilitação neuropsicológica........................................................................... 42
Capítulo 1
A importância da avaliação e da reavaliação nos programas de reabilitação
neuropsicológica............................................................................................................. 43
Capítulo 2
Planejamento da reabilitação neuropsicológica........................................................ 65
Unidade V
Primeiros passos para a Reabilitação Neuropsicológica.......................................................... 81
Capítulo 1
Como conduzir o processo de reabilitação neuropsicológica.............................. 82
Capítulo 2
A importância da família e de outros profissionais para o sucesso da
intervenção................................................................................................................ 85
Unidade Vi
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica................................................. 91
Capítulo 1
Reabilitação neuropsicológica dos processos atencionais...................................... 92
Capítulo 2
Reabilitação neuropsicológica da memória............................................................... 106
Capítulo 3
Reabilitação neuropsicológica das funções executivas........................................... 117
Anexo........................................................................................................................................... 125
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Nesta apostila, o leitor encontrará informações que lhe proporcionarão ideias sobre
o processo de reabilitação neuropsicológica do início ao fim, desde o surgimento da
reabilitação neuropsicológica, passando por métodos e técnicas mais usadas, pelo
planejamento das sessões, maneiras de mensurar o desenvolvimento dos pacientes,
além de trazer muitos exemplos de manejo e de atividades.
É uma apostila cheia de conteúdo interessante que trará ao aluno a noção de como a
profissão de reabilitador em neuropsicologia funciona na prática. É trabalhosa, exige
muitas horas de dedicação antes das sessões, os atendimentos são individualizados e o
profissional que se identifica fica bastante satisfeito ao ver a evolução de seu paciente.
Certamente, após ler esta apostila do começo ao fim, o aluno saberá se deseja seguir em
frente, aprofundando mais seu conhecimento na reabilitação ou se não tem afinidade
com a área.
Objetivos
»» Apresentar conteúdo teórico sobre a reabilitação neuropsicológica.
8
Introdução à
Reabilitação Unidade I
Neuropsicológica
Introdução
Nesta primeira unidade, o aluno terá acesso a conhecimentos básicos sobre o surgimento
da reabilitação neuropsicológica. Vai entender que longos processos de pesquisa,
experimentações e traduções entre diversos idiomas foram necessários para chegarmos
ao ponto em que estamos hoje, ainda nos desenvolvendo e ainda sem algumas certezas.
Objetivo
»» Apresentar conteúdo teórico breve sobre o surgimento da reabilitação
neuropsicológica.
Capítulo 1
Aspectos históricos da reabilitação
neuropsicológica
Figura 1. Luria.
Fonte: <http://www.isfp.co.uk/images/alexander_luria.jpg>.
9
UNIDADE I │ Introdução à Reabilitação Neuropsicológica
Era filho de pais judeus e viveu grande parte de sua vida em Moscou (Rússia).
Nascido em 1902 e falecido em 1977, Luria acompanhou o decorrer das duas grandes
guerras mundiais ocorridas:
Na década de 80, era unânime na comunidade científica que exercícios cognitivos eram
tão fundamentais para a melhoria da cognição quanto os exercícios físicos são para a
melhoria do tônus muscular.
Porém, o olhar inicial estava voltado a treinar o paciente para que voltasse a realizar as
tarefas que realizava antes da lesão, tais como pegar um ônibus, pagar e conferir o troco,
preencher um talão de cheques, entre outros. O problema é que ainda não pensavam na
importância de reabilitar os processos cognitivos necessários para a realização de tais
atividades.
Fonte: <https://www.konkero.com.br/revistawp/wp-content/uploads/2016/07/cheque.jpg>.
10
Introdução à Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE I
Mais recentemente, na década de 90, Ben-Yishay propôs uma abordagem holística para
a reabilitação neuropsicológica, apontando para a necessidade da realização de mais de
uma terapêutica para o tratamento completo do paciente. Assim, o paciente não faria
apenas os exercícios cognitivos, como também psicoterapia e outras terapias que se
fizessem necessárias.
11
Capítulo 2
Conceito e definição da reabilitação
neuropsicológica
O que é reabilitação?
Bárbara Wilson é um grande nome de referência quando o assunto é a reabilitação
neuropsicológica. Diversos artigos científicos e livros especializados no assunto citam a
autora, que tem publicados ótimos conteúdos na área.
Fonte: <http://comercioyjusticia.info/blog/mundopsy/dano-cerebral-las-ejercicios-practicos-son-claves-en-la-rehabilitacion/>.
ao meio psicossocial flui mais harmoniosamente tanto para o paciente quanto para as
pessoas de sua convivência.
Fonte: <https://www.laus-deo.world/2017/01/26/dificil-mision-educar-a-nuestros-hijos-en-los-dias-de-hoy/>.
Quanto mais o paciente tiver apoio afetivo e social (de familiares, cuidadores, amigos...),
maiores serão as chances de uma boa experiência com o processo de reabilitação.
Fonte: <http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/2016/09/14/internas_educacao,803818/apoio-familiar-e-foco-
nos-temas-sao-importantes-para-o-enem.shtml>.
13
UNIDADE I │ Introdução à Reabilitação Neuropsicológica
mesmo quando não viajaram, mas deixaram de ir a algumas sessões seguidas por algum
motivo, percebe-se notável piora do funcionamento cognitivo global. Neste momento,
fica evidente que, caso não faça as sessões de reabilitação ou estimulação cognitiva, seu
padrão de declínio será este apresentado no período em que esteve longe das atividades.
14
Embasamento
psicobiológico Unidade iI
da reabilitação
neuropsicológica
Introdução
Nesta unidade, o leitor aprenderá um pouco sobre as mudanças neuronais que ocorrem
ao longo da vida, desde o desenvolvimento e também após lesão cerebral, entendendo
os mecanismos de reorganização do funcionamento cerebral após alguma lesão.
Objetivos
»» Expor informações sobre desenvolvimento neuronal.
Capítulo 1
Neuroplasticidade e reorganização
cerebral
15
UNIDADE II │ Embasamento psicobiológico da reabilitação neuropsicológica
Fonte: <https://pt.aliexpress.com/cheap/cheap-tendonitis-hand.html>.
Em suas pesquisas, Luria percebeu que o cérebro poderia passar por uma certa
transformação após submeter-se a diferentes demandas.
Atualmente, o que se sabe é que o nosso Sistema Nervoso Central (SNC) é capaz de se
modificar de acordo com os aprendizados e experiências que vamos tendo ao longo da
vida. Este fenômeno permanece durante toda a vida, tanto em condições patológicas
quanto em indivíduos saudáveis.
Desenvolvimento
A plasticidade do SNC acontece em etapas diferentes da vida e o grau de plasticidade
neural varia com a idade do indivíduo. A primeira delas é durante o desenvolvimento,
em que o sistema nervoso é mais plástico. Desde o período embrionário e até o
envelhecimento, nosso SNC passa por mudanças em suas estruturas e funções.
Fonte: <https://descomplica.com.br/blog/biologia/o-que-e-embriogenese/>.
16
Embasamento psicobiológico da reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE II
Processos de aprendizagem
Fonte: <http://www.ceanne.com.br/revista/neuroplasticidade-e-reabilitacao/>.
17
UNIDADE II │ Embasamento psicobiológico da reabilitação neuropsicológica
Após lesão
Mudanças neuronais também podem acontecer após acidente em que houve perda de
massa encefálica. Comumente, nas três primeiras semanas, o paciente parece ficar bem
fisiologicamente, podendo apresentar sintomas após este período.
Em casos em que a pessoa perde a visão por problemas no trato ótico que não envolvam
a estrutura cerebral, a região occipital passa a exercer funções de áreas vizinhas, como o
lobo temporal. Por causa da plasticidade neste caso, a audição da pessoa que ficou cega
fica mais aguçada, pois há uma maior área cerebral responsável pelo sistema auditivo.
A noção espacial também fica mais refinada nos cegos, proveniente de adaptação
cerebral para que o indivíduo possa se adaptar à nova condição de vida.
Regiões corticais que não foram danificadas, podem passar a assumir funções que
ficaram prejudicadas após lesão em outra área cerebral próxima, dependendo
das influências ambientais.
18
Capítulo 2
A relevância da reserva cognitiva na
reabilitação neuropsicológica
Não há uma única porção específica da massa cinzenta responsável por uma função
cognitiva, pois há milhões de comunicações entre os neurônios e entre redes neuronais,
inclusive ligações entre neurônios de áreas distintas do cérebro para que possamos
exercer desde atividades mais simples até as mais elaboradas.
Será que existe diferença para o nosso cérebro entre realizar uma atividade
simples e uma atividade complexa?
Quando executamos atividades complexas, nosso cérebro precisa que mais sinapses
sejam feitas e mobiliza mais redes neuronais para responder às demandas. Nestes
casos, ocorrem crescimentos de dendritos e maiores conexões entre os neurônios,
fortalecendo nossa reserva cerebral.
Fonte: <https://www.epochtimes.com.br/celulas-cerebrais-assemelham-pequeno-universo/#.WXfzWITyvIU>.
19
UNIDADE II │ Embasamento psicobiológico da reabilitação neuropsicológica
A mesma atividade pode ser executada com menor gasto energético por outra
pessoa que já esteja habituada, pois pode considerar a tal atividade como
simples.
Pode também acontecer de uma pessoa esforçar-se para executar uma tarefa
complexa para si e, após um tempo tendo contato e se familiarizando com a
demanda, a tarefa passe a ser simples. Um exemplo é quando uma criança está
aprendendo a amarrar o cadarço do tênis, que é uma tarefa bastante complexa
inicialmente, mas, após um tempo de prática, pode ser capaz de amarrar mesmo
sem olhar.
»» Atividades físicas.
20
Embasamento psicobiológico da reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE II
Fonte: <http://www.sare.com.br/saude-artigo/depressao-na-terceira-idade-e-preocupante>.
»» É alguém com alta escolaridade (no cenário atual, idosos com mais de 08
anos de escolaridade já são considerados como tendo alta escolaridade)?
Fica claro, então, que o tratamento é único para cada indivíduo, com base nos resultados
da avaliação, que inclui anamnese detalhada, aplicação de testes, raciocínio clínico para
conclusão.
21
Principais métodos
e técnicas da Unidade iII
reabilitação
neuropsicológica
Introdução
Como o nome já diz, esta unidade apresenta os métodos e técnicas utilizados com
mais frequência no trabalho de reabilitação neuropsicológica. Há diversos exemplos
para que o aluno possa imaginar como o profissional lida com as diversas situações
no dia a dia.
Objetivos
»» Apresentar modelos de reabilitação neuropsicológica.
Capítulo 1
Objetivos da reabilitação
neuropsicológica
22
Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE III
A palavra autonomia é de origem grega, sendo que “autos” tem o significado de algo
que é próprio do indivíduo. E “nomos” traz o sentido de domínio. Então, autonomia
é a capacidade de o indivíduo ter o domínio sobre si, de poder ter sua capacidade de
escolha, tomar decisões sobre si e assumir o controle de sua vida.
»» O sabor do sorvete.
»» Onde passear.
Dessa maneira, precisamos analisar que tipo de paciente temos, dentre as seguintes
possibilidades:
23
UNIDADE III │ Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica
Quadro 1.
Restrita Preservada Precisa de orientações para seguir (por exemplo: vista esta camisa, coloque o prato na pia).
Em alguns casos, o paciente se julga capaz de decidir por si, mesmo que não o seja,
como em casos de Alzheimer na fase leve, fases de euforia (de algumas patologias),
psicoses, entre outros. Nestes casos, é importantíssima a entrevista devolutiva
cuidadosa após a avaliação neuropsicológica, buscando conscientizar este paciente
de sua condição.
24
Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE III
Fonte: <http://www.neurorehabdirectory.com/stroke-recovery-using-constraint-induced-movement-therapy-cimt/>.
É muito importante que haja uma generalização para que o conteúdo trabalhado
durante as sessões possa ser útil na vida prática do participante.
Quanto mais o paciente for capaz de ir retomando sua vida funcional e social, mais
poderá se fortalecer em sua autoestima e qualidade de vida.
25
Capítulo 2
Principais modelos e técnicas
de intervenção em Reabilitação
Neuropsicológica
Segundo Lúria, o processo de reabilitação das funções que foram perdidas deve
ser iniciado pela linguagem (verbal ou não verbal), pois é a porta de entrada para a
internalização do conteúdo a ser desenvolvido.
Um bebê inicia seu aprendizado a partir da fala da mãe. A mãe fala, o bebê ouve diversas
vezes, até que aprende. Depois, o bebê é capaz de falar e reproduzir, pois o conteúdo
está internalizado.
Luria orientava os pacientes e solicitava que falassem em voz alta o que estavam
fazendo, até que ficasse internalizado. Por exemplo: ao trabalhar com paciente que não
reconhece visualmente a região em que reside, treinar para que fale em voz alta: “vou
sair da minha casa para a direita, na esquina vou ler uma placa escrito X, vou atravessar
para a banca de jornal do outro lado...”.
Fonte: <http://ego.globo.com/famosos/noticia/2014/07/tori-spelling-sai-de-casa-descalca.html>.
26
Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE III
Repetição
A primeira abordagem da qual vamos falar está focada em tentar restituir a função
danificada. Geralmente ocorre em pacientes com lesão parcial ou que apresentam
Comprometimento Cognitivo Leve.
Fonte: <http://www.suacorrida.com.br/trabalho-muscular/acerte-na-relacao-repeticao-x-carga/>.
Uma pesquisa de mestrado realizada por Brum (2012), no Hospital das Clínicas de São
Paulo, estudou dois grupos de idosos:
27
UNIDADE III │ Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica
Neste estudo notou-se que os indivíduos com comprometimento cognitivo leve não
apresentaram alteração quanto às crenças que tinham sobre o estado de sua memória,
mesmo que a testagem final apresentasse os benefícios obtidos com o treino.
Substituição/compensação
Em casos mais graves, dependendo da lesão, fica evidente para os profissionais que a
exposição do indivíduo ao exercício não vai trazer benefícios nas funções que foram
danificadas em seu funcionamento primário. Nestes casos, a reabilitação vai permear a
utilização de outros circuitos neuronais que permaneceram funcionais.
É como se pudéssemos substituir a função danificada por outra, para que o indivíduo
fique o mais próximo possível de sua autonomia e independência.
A seguir, serão fornecidos alguns exemplos para melhor explicar a reabilitação que se
utiliza da substituição/compensação, desenvolvendo um repertório de novas estratégias
para que o paciente possa suprir as perdas ocorridas.
Etiquetas
28
Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE III
Fonte: <https://www.elo7.com.br/etiquetas-para-armario/dp/55AD23>.
Esta compensação pode ser feita em diversos cômodos, seja no banheiro, na cozinha, na
estante da sala... o importante é que facilite o cotidiano do paciente. Se for um indivíduo
que não foi alfabetizado, podem ser colocados adesivos com imagens do conteúdo da
gaveta ou armário.
Etiquetas também podem ser úteis para auxiliar a marcação da data de validade dos
alimentos e remédios. Escreve-se a data de validade em uma etiqueta grande e com
letra grande e de alto contraste (escrever em preto na etiqueta branca, por exemplo)
para facilitar a leitura e identificação por parte do paciente que apresenta diminuição
da acuidade visual, por exemplo.
Bilhetes
Bilhetes também são bastante eficazes. Imagine um idoso com Alzheimer que não
é capaz de ficar sozinho em casa, pois os familiares têm medo de que ele saia e não
encontre novamente o caminho de volta para casa. Vamos pensar em um momento em
que a esposa, cuidadora principal, quer ir rapidamente à esquina para comprar algo.
Para que ela possa ir sem que ele fique preocupado toda vez em que procurá-la pela
casa, pode ser colocado um bilhete na porta escrito:
29
UNIDADE III │ Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica
Assim, sempre que este paciente chegar até a porta, verá o bilhete e se tranquilizará.
Listas
Em sujeitos alfabetizados, com recursos intelectuais minimamente preservados,
pode-se treinar a rotina de se utilizar listas, sejam estas de tarefas, de itens a serem
comprados, entre outras.
Há teorias que dizem que nosso pensamento é verbal. Quando penso que preciso
comprar café, este pensamento é verbal, como se estivesse conversando mentalmente
consigo. Nesta linha de raciocínio, se o indivíduo apresenta comprometimento da
memória verbal, terá dificuldades para se lembrar de itens a serem comprados no
supermercado. Seria como se não fosse possível dizer a si mesmo quais produtos devem
ser comprados. Diante desta situação, o uso de lista de compras como compensação da
falha de memória é o mais adequado.
Fonte: <https://br.pinterest.com/pin/112941903136205029/>.
Como no exemplo da figura acima, uma lista de compras pode ser impressa pelo
cuidador ou outro familiar e ser marcado apenas o que precisa ser comprado. Pode-se
30
Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE III
marcar com caneta marca-texto, circular o item... desde que seja uma forma visualmente
fácil de identificar o que precisa ser comprado. No caso de alguém com acuidade visual
reduzida, a lista precisa ser impressa com letras grandes e a marcação dos produtos a
serem comprados é mais eficiente se for feita com caneta marca-texto.
Deve-se sempre considerar se a lista com vários itens vai ser benéfica para o
paciente ou se vai atrapalhá-lo, ao ter diversas opções que não são necessárias
de serem compradas no momento.
Agenda
Para quem é capaz de trabalhar em um nível mais complexo do que o uso de listas, o uso
eficiente da agenda pode ser bastante benéfico. Deve-se orientar o paciente a:
Fonte: <https://www.vivaparigi.com/numeri-e-indirizzi-utili-per-italiani-a-parigi/>.
31
UNIDADE III │ Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica
Para utilizar a agenda, pode-se orientar que o paciente use duas cores de caneta, sendo
uma cor para compromissos e outra cor para tarefas a serem realizadas.
Assim, sempre que marcar uma consulta, uma visita, cabeleireiro ou marcar para pegar
uma encomenda, estará escrito com uma cor de caneta (por exemplo: vermelho).
E sempre que anotar tarefas a serem realizadas, tais como: preparar a capa de um
trabalho, imprimir um artigo, organizar o guarda-roupas, lavar a louça, ligar para
marcar uma consulta... estará escrito de outra cor (por exemplo: azul).
Por exemplo: a pessoa deve ser orientada a anotar que ligará para marcar uma
consulta apenas em horário comercial e durante a semana. Se precisar falar com
um familiar que trabalha em horário comercial, deve anotar na agenda para ligar
à noite (mas não muito tarde) ou ao final de semana.
Se há um bebê, idoso ou alguém com sono leve na casa, não adianta anotar
na agenda para passar o aspirador de pó no período noturno, quando já estão
dormindo, nem de manhã quando ainda não acordaram.
E não basta apenas o paciente anotar tudo na agenda, deve, também, checar o que já foi
realizado. Pode riscar por cima do que foi realizado ou escrever um “ok” do lado para
sinalizar o cumprimento de tal anotação. Quando não for realizado, pode-se marcar um
“X” do lado. Um exemplo de agenda pode ser o seguinte:
05 Segunda-feira 06 Terça-feira
08:00 08:00
08:30 08:30
09:00 Fazer resumo do capítulo 11 09:00 Fazer resumo do capítulo 12
09:30 09:30
10:00 10:00
10:30 Ligar para marcar dentista 10:30
11:00 11:00 pagar conta do Telefone
11:30 11:30
12:00 12:00
12:30 Me arrumar para sair (pegar caderno) 12:30
13:00 13:00 lavar a louça
13:30 Grupo de estudos 13:30
14:00 14:00
32
Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE III
14:30 14:30
15:00 15:00 Terapia
15:30 Pagar conta do telefone X 15:30
16:00 16:00
05 Segunda-feira 06 Terça-feira
08:00 08:00
08:30 08:30
09:00 Fazer resumo do capítulo 11 ok 09:00 Fazer resumo do capítulo 12 ok
09:30 09:30
10:00 10:00
10:30 Ligar para marcar dentista ok 10:30
11:00 11:00 pagar conta do Telefone ok
11:30 11:30
12:00 12:00
12:30 Me arrumar para sair (pegar caderno) ok 12:30
13:00 13:00 lavar a louça ok
13:30 Grupo de estudos ok 13:30
14:00 14:00
14:30 14:30
15:00 15:00
15:30 Pagar conta do telefone X 15:30
16:00 16:00
O que não foi feito precisará ser remarcado para outro momento. Neste caso, é
importante analisar o porquê de não ter dado certo para planejar um dia e horário mais
eficientes para a realização da tarefa ou comparecer ao compromisso.
Outra maneira bastante visual para o paciente utilizar a agenda é desenhar um triângulo
na frente da tarefa que pretende realizar. Quando a tarefa for concluída, deve-se pintar
o interior do triângulo. Quando alguma tarefa não for cumprida, pode-se marcar com
dois sinais de “maior que”: “>>”. Este exemplo ficará assim:
Quadro 4. Planejamento.
05 Segunda-feira
08:00
08:30
09:00 ∆ Fazer resumo do capítulo 11
09:30
10:00
10:30 ∆ Ligar para marcar dentista
11:00
11:30
33
UNIDADE III │ Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica
12:00
12:30 ∆ Me arrumar para sair (pegar caderno)
13:00
13:30 Grupo de estudos
14:00
14:30
15:00
15:30 ∆ Pagar conta do telefone
16:00
05 Segunda-feira
08:00
08:30
09:30
10:00
11:00
11:30
12:00
13:00
14:00
14:30
15:00
16:00
Neste caso, na segunda feira não foi feita a ligação para marcar o dentista, conforme
planejado. No dia seguinte, foi verificado que a tarefa não foi cumprida e novo
agendamento deverá ser feito na agenda.
Qual seria o melhor momento para ligar para a professora de seu filho?
34
Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE III
Modificação do ambiente
Este modelo de reabilitação geralmente tem a intenção de remover distratores, para que
o paciente tenha foco apenas no que lhe será útil, sem interferências desnecessárias.
Responsabilidades
Um paciente com falhas mnésticas de cunho verbal, mas com preservação da memória
não verbal, é um indivíduo capaz de manter sua responsabilidade de ir ao supermercado.
»» O fato de haver falhas na memória verbal faz com que seja imprescindível
que o paciente leve consigo uma lista de compras como compensação
(como já vimos anteriormente).
Se este mesmo paciente for analfabeto, não tem como continuar sendo o responsável
por fazer as compras da casa.
Já imaginou o que pode acontecer caso um paciente esteja dirigindo, mas foque
a atenção exclusivamente no GPS, sem alternar ou dividir a atenção ao seu redor
enquanto está ao volante?
Isto tudo deve ser orientado à família, especialmente se for uma família com
resistência a perceber as dificuldades do membro adoentado ou se tiverem
dificuldades em contrariá-lo.
35
UNIDADE III │ Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica
Remoção de distratores
Quando o uso de bilhete ou etiquetas é eficaz, deve-se cuidar para que não haja um
excesso (e este excesso deve ser medido a partir do ponto de vista do paciente).
Se for necessário deixar um bilhete (por exemplo, na porta da geladeira), oriente para
que se deixe apenas o que for essencial para o momento. Se muitos bilhetes forem
deixados, o efeito pode não sair como esperado.
O que pode acontecer com efeito benéfico é ter um bilhete na porta da geladeira (“não
comer” doces), um em cima do telefone (“Fulana está no banho, já retorna”), um
no espelho do banheiro (“escove os dentes”)... sem que haja muitos bilhetes em um
mesmo local.
Ao colocar etiquetas nas gavetas da cozinha, por exemplo, colocar apenas nas gavetas
que o paciente usa com mais frequência. Se for necessário colocar em todas, escrever o
mínimo necessário.
Vamos agora imaginar dois cenários. No primeiro, as gavetas da cozinha estão todas
com etiquetas, em cada uma delas há a descrição de todos os itens que estão ali dentro.
No segundo caso, há etiquetas apenas em algumas poucas gavetas, com o nome do
grupo de utensílios. Por exemplo:
Quadro 6.
Colher de sopa
Garfo
Faca
Colher de sobremesa
Garfinho de sobremesa
Colher de chá
Colher de café
Espátula de patês
TALHERES
Qual lhe parece mais fácil de ler e compreender seu conteúdo sem se confundir?
36
Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE III
O mesmo deve ser feito ao conversar com o paciente. Vamos pensar no caso de
uma criança acometida. Qual das duas falas lhe parecem mais adequadas de serem
entendidas facilmente?
»» Filho, para de assistir esse desenho na televisão, levanta do sofá, pega seu
prato, leva na pia e não esquece de lavar o garfo que você usou!
O mesmo também pode ser feito em outras situações, como, por exemplo, manter no
guarda-roupa apenas as roupas passíveis de serem utilizadas na estação corrente.
Ou seja, se está chegando o inverno, é necessário retirar, da parte mais usual do
guarda-roupa, aquelas peças utilizadas no verão. No verão, o inverso também pode
ser feito, isto é, pode-se guardar as blusas mais grossas e pijamas quentes em um
espaço que não seja o mais prático de ser utilizado no guarda-roupa.
Fonte: <http://www.ultracurioso.com.br/6-desculpas-esfarrapadas-que-todo-mundo-ja-deu-alguma-vez-na-vida/>.
No caso de uma pessoa idosa, a gaveta mais baixa do guarda-roupa não deve
conter peças a serem usadas no dia a dia, pois, ao abaixarem, têm maior chance
de quedas e, consequentemente, fraturas.
Pessoas com baixa estatura devem guardar, na parte mais alta, aquelas peças
que não serão usadas na estação do ano em que se encontram. Assim, podem
utilizar uma escada para guardar ou pegar as peças apenas uma vez e deixá-las
lá por alguns meses, sem precisar usar a escada cotidianamente.
37
UNIDADE III │ Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica
Pode-se colocar uma etiqueta grande com o nome do conteúdo de cada tubo ou pote.
Por exemplo: colar uma etiqueta escrito “shampoo” no tubo do respectivo produto.
Lembretes
Apoio externo pode ser bastante útil se pensado especificamente nas necessidades do
paciente que está sendo atendido, e os lembretes são ótimas estratégias para evitar que
algo não seja feito ou que haja conflitos.
Quando o alarme for de um temporizador para lembrar de desligar uma panela no fogo,
o aparelho deve ser colocado o mais próximo possível do fogão (tomando os devidos
cuidados, obviamente). Assim, quando o paciente se aproximar do temporizador,
alertado pelo estímulo sonoro, estará perto do fogão e, então, poderá lembrar mais
facilmente de desligar o fogo.
Fonte: <http://www.eletroeletro.com/casa/temporizador-de-cozinha-coruja>.
É importante que o temporizador não seja um distrator, precisa ser o mais simples
possível para não correr o risco de o paciente se entreter com ele e esquecer do fogo
38
Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE III
aceso no fogão (e queimar a comida que está sendo preparada). O ideal é que seja um
objeto neutro, que não desperte muito a atenção além do seu objetivo de alertar.
Fonte: <https://www.aliexpress.com/cheap/cheap-1-minute-alarm.html>.
Se estamos cuidando de um paciente idoso que não se lembra que almoçou e fica pedindo
para almoçar repetidas vezes, podemos deixar de lavar seu prato e talheres, deixando-
os sujos na pia até a próxima refeição. Assim, toda vez que o paciente falar que ainda
não fez a refeição, podemos mostrar-lhe os utensílios para que ele veja e entenda que
está sendo alimentado corretamente.
Fonte: <http://lauriekoek.nl/de-ballen-van-ikea/>.
O manejo com pacientes que estão matriculados em um curso ou que necessitam de uma
melhor eficiência da memória em seu trabalho, vai ser permeado pelo uso de técnicas de
memorização e de criação de imagens visuais. Em alguns casos é importante conversar
39
UNIDADE III │ Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica
»» Repetição sistemática.
»» Fazer associações:
Fonte: <http://contadorpublico.com.br/v3/wp-content/uploads/2017/02/Calendario-do-PIS-2016.jpg>.
40
Principais métodos e técnicas da reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE III
Treina-se a circular o dia corrente assim que desperta. Quando for dormir, o paciente
marca um “X” por cima deste dia, simbolizando seu término.
Concluindo esta parte, ressalto que o trabalho ideal de reabilitação é o trabalho holístico,
o qual consiste em um conjunto de terapeutas, cada um cuidando de sua especialidade
para que, no todo, o indivíduo seja cuidado integralmente em suas necessidades.
Infelizmente, nem todos os pacientes que precisam deste serviço têm condições de
arcar com os custos. Quando não é possível, os profissionais que o atenderem devem
ter um posicionamento bastante honesto e focado nas necessidades primordiais do
paciente para que uma prioridade de tratamento seja dada, mesmo que precise deixar
seus serviços para um próximo momento.
»» Melhoria do alerta.
41
Planejando a
reabilitação Unidade iv
neuropsicológica
Introdução
Terá uma lista de locais em que pode encontrar materiais para o trabalho, terá exemplos
de como mensurar alguns tipos de atividades e como fazer um relatório descritivo
de acompanhamento para os familiares e profissionais, quando solicitado. Estas
informações são pioneiras, de autoria da elaboradora desta apostila e espera-se que
possam servir de inspiração para que o aluno elabore formas de mensurar as atividades
com as quais for trabalhar.
Objetivos
42
Capítulo 1
A importância da avaliação e da
reavaliação nos programas de
reabilitação neuropsicológica
Podemos fazer um paralelo com outra profissão: a educação física, por exemplo.
Imagine que um indivíduo tem vontade de correr uma maratona. Por não saber por onde
começar, procura o médico, que lhe diz que este precisa fortalecer os músculos para
poder alcançar seus objetivos. O paciente é, então, encaminhado para um profissional
da educação física para fortalecer a musculatura.
Agora imagine que, após alguns dias, este mesmo indivíduo vai a um educador físico e
lhe diz:
OU
»» Entre outros.
43
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
Fonte: <http://www.estilofitness.com/wp-admin/setup-config.php>.
Fonte: <https://br.pinterest.com/wiscrtesti/httpwisc-rtesticom/?lp=true>.
44
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Se o paciente não passar pela avaliação, o profissional não saberá quais são as funções
a serem pautadas mais primordialmente, podendo:
Avaliação da reabilitação
Para cada função a ser trabalhada, algumas atividades devem ser pensadas (ou
compradas). Alguns profissionais que elaboram atividades podem ser encontrados
através de uma busca por estes nomes, inclusive sendo encontrados nas mais utilizadas
redes sociais:
»» Estímulos.
»» Memória Boa.
45
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
»» Carol Fonoterapia.
»» Treinocognitivo.com.br
»» Interativamente.
»» Terapiando.
»» NeurocogniAção.
»» Brink Reabilit.
»» Crop Art.
»» Oficina da linguagem.
»» Exercitamente.
»» Brinquedos terapêuticos.
Ao decidir por uma atividade, deve-se pensar em como aplicar, em como registrar as
respostas do paciente e como quantificar os acertos e erros. Desta forma teremos como
saber, com precisão, o desempenho do paciente ao longo das sessões. Se o paciente for
apresentando menos erros ao longo das sessões, pode significar que o trabalho está
surtindo efeito.
Com o passar das sessões, pode ser que o paciente ainda apresente instabilidade em seu
desempenho. Neste caso, é importante observar alguns fatores, tais como:
»» Motivação.
46
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
»» Entre outros.
Vamos ver um exemplo para que fique mais claro. Temos a seguinte atividade:
Quadro 7.
E V G D U L J R A M J O
G A U R H V A S O B R H
O R E A B O J A L E F A
L A O G L C R O U T L O
U O H U F A C A J R V B
H V A U A R V H G U A F
A R L O S A J B A R B A
B E R U U H A G J U P J
V J F A L U H U O H A H
U H A H M V L E D J E C
P O B E A O P A E S O A
A U G R D R A J H A F M
G L E T C U O S U B R L
R A O V S E L D L U H E
U P R U H A E B O H A T
47
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
O profissional precisa ter um gabarito constando o estímulo alvo em destaque (no caso
desta atividade, o estímulo alvo é a letra A), e o total de estímulos a serem marcados.
Um exemplo de gabarito pode ser este a seguir:
Quadro 8.
Erro = estímulo que o paciente marca errado, mesmo que perceba e se corrija. Neste
caso, ao ser solicitado que marque a letra ‘A’, um erro ocorre quando o paciente marca
outra letra. Pode ocorrer quando o paciente quer fazer a tarefa rapidamente, quando
não registrou adequadamente a instrução ou quando está pensando em outras coisas.
Omissão = quando o paciente deixa de marcar um estímulo que deveria ter marcado.
Geralmente ocorre por desatenção.
48
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Quadro 9.
Total marcado errado Total omitido antes Total marcado errado Total omitido
Linha
antes de revisar de revisar após revisar após revisar
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
Total
Quadro 10.
E V G D U L J R A M J O
G A U R H V A S O B R H
O R E A B O J A L E F A
L A O G L C R O U T L O
U O H U F A C A J R V B
H V A U A R V H G U A F
A R L O S A J B A R B A
B E R U U H A G J U P J
V J F A L U H U O H A H
U H A H M V L E D J E C
P O B E A O P A E S O A
A U G R D R A J H A F M
G L E T C U O S U B R L
R A O V S E L D L U H E
U P R U H A E B O H A T
A marcação da primeira etapa da atividade foi feita com um risco por cima da letra.
Após finalizar, o profissional solicita que o paciente faça uma revisão de seu trabalho.
Esta segunda etapa, neste exemplo, foi realizada com um círculo por cima dos
estímulos alvo. Poderia, também, ter sido feita com duas cores diferentes de lápis ou
caneta. Informações e dicas mais detalhadas serão fornecidas nos próximos capítulos
da apostila.
49
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
Quadro 11.
Total marcado errado Total omitido antes Total marcado errado Total omitido
Linha
antes de revisar de revisar após revisar após revisar
1
2
3 1 0
4
5 1 0
6
7
8
9
10
11
12 2 0
13
14
15 1 0
Total 5 0
50
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Agora sabemos que, em sua primeira realização, o paciente acertou 82,7% dos estímulos.
Entretanto, após revisar sua performance, seu desempenho é perfeito, ou seja, após
revisar, não comete erros!
O profissional também precisa se organizar para anotar esta informação de forma que
fique fácil observar o desempenho do paciente ao longo do programa de reabilitação,
observando a performance nas atividades que recrutam uso daquela função
especificamente (neste caso, a atenção concentrada e seletiva). Precisa ter um material
que lhe mostre apenas as porcentagens finais ao longo de, por exemplo, um ano de
reabilitação, 50 sessões...
Quadro 12.
Os dados das primeiras sessões foram preenchidos apenas como um exemplo para
elucidar a construção de um gráfico a ser colocado em um relatório para apresentar
51
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
visualmente o desempenho do paciente ao longo das sessões, conforme pode ser visto
a seguir.
Figura 24.
Os gráficos nos mostram todo o resultado que foi mensurado ao longo das sessões
(aqui exemplificamos com apenas 15 sessões, mas o ideal é que se faça com um número
maior). Fica mais fácil explicar aos familiares, ao paciente e a outros interessados
(médico, escola, empresa...) como está ocorrendo o andamento das sessões.
Neste caso, foi feito um gráfico com os acertos antes de revisar a tarefa e outro gráfico
com os acertos após revisar a tarefa. Nota-se que o paciente em questão sempre teve
performance perfeita após revisar a tarefa.
A conduta pode incluir a sinalização de seu desempenho para que seja reforçado o
entendimento de que uma rotina rigorosa precisa ser seguida sempre que fizer alguma
atividade que requeira o uso intenso da atenção concentrada e seletiva, seja na realização
de uma tarefa doméstica, na lição de casa, na prova da escola, no preenchimento de um
formulário no trabalho, e outras situações.
52
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
»» Cabeçalho:
›› Nome do paciente.
›› Idade do paciente.
›› Função 1:
·· Gráfico.
·· Gráfico.
·· Gráfico.
A seguir, será apresentado um relatório como modelo, seguindo o exemplo que estamos
trabalhando até o momento (tarefa de atenção concentrada e seletiva):
53
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
Figura 25.
uando revisa o que fez, é capaz de encontrar os elementos que ficaram desapercebidos, indicando que, em sua vida prática, é importante que ela
revise o que faz antes de apresentar a alguém que vá avaliá-la, para evitar erros desnecessários.
Conclui-se que ela vem se beneficiando das atividades com o passar das sessões, pois tem apresentado menor porcentagem de erros ao longo
do tempo e tende a apresentar mais acertos em sua primeira realização. Fica evidente a melhoria em seu desempenho após revisar seu trabalho.
Nome do neuropsicólogo e data.
Para considerarmos que um paciente está com a atenção concentrada boa, deve
haver 100% de acertos?
54
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Na reabilitação, por mais que seja prazeroso para o paciente realizar as atividades
e confortável para o profissional, o limite de perfeição deve ser pensado com
base nas necessidades da vida cotidiana deste paciente.
Em casos em que o paciente tem uma maior variância entre seu desempenho ou de
alguém que começa com um desempenho bastante limitado e vai melhorando com
maior significância, a legenda pode ser elaborada de uma maneira que fique mais
simples a visualização. Pode ser desta maneira, por exemplo:
»» 3 = 0% a 25% de acertos.
Quadro 13.
2 17 12 65 22
3 24 13 71 23
4 26 14 76 24
5 32 15 80 25
6 37 16 26
7 45 17 27
8 46 18 28
9 48 19 29
10 53 20 30
55
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
3 = sessão 1, 2 e 3.
2 = sessão 4, 5, 6, 7, 8, 9.
Figura 26.
Neste caso, como o ‘0’ (zero) foi escolhido como a pontuação ideal, ou seja, em que o
paciente comete menos erros, a legenda relacionando as pontuações às porcentagens
deve estar no relatório logo abaixo do gráfico, para evitar falhas de interpretação.
Mesmo que seja explicado na sessão de devolutiva, ao entregar o relatório pode ser
que, em momento posterior, o paciente não se lembre da explicação sobre a legenda.
Ou algum familiar que não esteve na sessão quer ler e pode entender erroneamente.
Da mesma forma deve ter a legenda se a pontuação ideal for a mais alta, ou seja, ‘0’ (zero)
é quando o paciente apresenta mais erros. Pode ser que alguém que não participou da
sessão ou que não lembre de sua explicação fique confuso, achando que a pontuação 3 é
pouca, e acabe interpretando que o paciente ainda tem baixo desempenho, quando, na
verdade, apresentou melhoria.
56
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Nem todas as funções são passíveis de serem trabalhadas com atividades em que há
respostas corretas e incorretas a serem expressadas, assim como no caso das atividades
de atenção, como vimos anteriormente.
Para o exercício de algumas funções, como as habilidades sociais, por exemplo, não há
uma única resposta correta, mas um espectro de respostas adequadas.
Quadro 14.
Quadro 15.
Neste tipo de atividade, também temos como mensurar, e podemos fazer utilizando
uma legenda para pontuação de cada sessão. A legenda pode ser a seguinte:
As anotações das sessões podem ser feitas de maneira semelhante à que foi mostrada
no item “Tarefas com certo e errado”:
57
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
Quadro 16.
Sessão Pontuação
1 2
2 2
3 1
4 1
5 1
6 1
7 0
8 1
9 0
10 0
Sem o gráfico, mas com apoio da legenda, já somos capazes de perceber que, no início,
o paciente apresentou dificuldades em fornecer respostas adequadas, mesmo após
auxílio da neuropsicóloga. Entretanto, conforme foram passando as sessões, o paciente
foi capaz de fornecer respostas adequadas sem intervenção.
Figura 27.
58
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Fonte: <http://papierpixel.com/blog/2017/04/26/hacer-mejor-slogan-negocio-5-pasos/comparando-documentos/>.
Quando estivermos cuidando de um caso cuja avaliação inicial foi realizada por outra
profissional, podemos tentar entrar em contato para saber quais foram exatamente os
testes utilizados ou tentar entender de acordo com a descrição no relatório.
59
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
reavaliação, para que os resultados não fiquem restritos aos testes cognitivos (e afetivos,
quando for o caso).
Quadro 17.
2) Ele (Ela) é capaz de comprar roupas, comida, coisas para casa sozinho(a)?
6) Ele (Ela) é capaz de prestar atenção, entender e discutir programa de rádio, televisão, um
jornal ou uma revista?
9) Ele (Ela) é capaz de passear pela vizinhança e encontrar o caminho de volta para casa?
10) Ele (Ela) pode ser deixado (a) sozinho (a) de forma segura?
0= normal / ou nunca o fez mas poderia fazê-lo agora1= faz com dificuldade/ ou nunca
o fez e agora teria dificuldade
2= necessita de ajuda
3= não é capaz
60
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Quadro 18.
Questões – Pfeffer 0 1 2 3
1) Ele (Ela) manuseia seu próprio dinheiro? X
2) Ele (Ela) é capaz de comprar roupas, comida, coisas para casa sozinho(a)? X
3) Ele (Ela) é capaz de esquentar a água para o café e apagar o fogo? X
4) Ele (Ela) é capaz de preparar uma comida? X
5) Ele (Ela) é capaz de manter-se em dia com atualidades, acontecimentos da comunidade X
ou da vizinhança?
6) Ele (Ela) é capaz de prestar atenção, entender e discutir programa de rádio, televisão, um X
jornal ou uma revista?
7) Ele (Ela) é capaz de lembrar-se de compromissos, acontecimentos familiares, feriados? X
8) Ele (Ela) é capaz de manusear seus próprios remédios? X
9) Ele (Ela) é capaz de passear pela vizinhança e encontrar o caminho de volta para casa? X
10) Ele (Ela) pode ser deixado (a) sozinho (a) de forma segura? X
Total: 0 5 2
61
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
Quadro 19.
62
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-15042009-172745/pt-
br.php>.
63
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
Fonte: <http://running.competitor.com/2014/02/training/7-tips-for-fitting-fitness-into-your-busy-schedule_15054>.
Com idosos demenciados, é importante deixar claro para a família que haverá um
declínio progressivo. O sucesso da reabilitação ocorre quando há uma lentidão deste
declínio, pois o objetivo do trabalho com idosos demenciados é mantê-los ativos pelo
maior tempo possível.
64
Capítulo 2
Planejamento da reabilitação
neuropsicológica
Se a pessoa fica muito tempo sem se alimentar, o índice glicêmico vai ficando reduzido,
o que pode causar maior distratibilidade, menor sustentação atencional, lentidão no
raciocínio, entre outros, podendo influenciar com baixo aproveitamento das intervenções
propostas. É importante também orientar para o paciente evitar alimentação
pesada/gordurosa antes da sessão, para evitar sonolência.
É importante que tenha tido uma noite de sono adequada e não marcar a sessão para
horários de soneca (especialmente no caso de crianças e idosos).
É ideal que se tenha uma avaliação prévia das questões cognitivas. Se tiver avaliação das
questões afetivas e emocionais, é melhor ainda! Se o paciente não tiver sido avaliado
por você, tente entrar em contato com o profissional que o avaliou para ter maiores
detalhes sobre:
Se sentir falta da avaliação de algum aspecto, converse com o paciente e seus familiares
e explique a importância da avaliação da referida função ou aspecto.
65
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
Para começar o processo de reabilitação, o profissional deve ter claros alguns aspectos
sobre:
»» Características de personalidade:
›› Histórico psiquiátrico.
›› Histórico neurológico.
Se não for possível obter estas informações através da avaliação ou do contato com os
profissionais que atenderam este paciente antes de ele chegar para a reabilitação, é
importante incluir os tópicos faltantes na entrevista a ser realizada na primeira sessão
de reabilitação.
Entrevista inicial
Cuidados iniciais
Mesmo que se tenha todas as informações pertinentes para o atendimento do caso, a
primeira sessão é dedicada à realização de entrevista com o paciente e, quando necessário,
também com algum familiar ou cuidador que estejam diretamente envolvidos.
66
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Fonte: <http://www.kessner.com.br/estruture.html>.
A entrevista
67
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
Os familiares precisam saber o que está sendo trabalhado, por dois motivos principais:
Alguns pacientes têm muitos déficits a serem trabalhados, sendo necessário estabelecer
prioridades. Vamos lembrar que a reabilitação tem o objetivo de auxiliar os pacientes
a serem mais autônomos e funcionais em seu cotidiano. Sendo assim, a principal
prioridade estará voltada para tornar mais hábeis possível as funções cognitivas e
habilidades que interfiram na funcionalidade do paciente.
O ideal é que haja a conscientização do paciente sobre sua atual participação no meio
em que vive e, em alguns casos, é necessário o acompanhamento psicoterapêutico em
paralelo às atividades de reabilitação neuropsicológica ou treino cognitivo.
No caso de pacientes com anosognosia (quando não reconhecem que têm uma doença),
as metas são negociadas com os membros mais próximos e envolvidos da família.
Em caso de paciente ou familiar mais ansioso, que quer “fazer atividades” logo, o
profissional precisa acalmá-los, ressaltando a importância dos processos iniciais da
reabilitação.
68
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Tente entender como o paciente era antes do evento que o levou a procurar
atendimento. Se possível, converse com mais alguém que convivia com
ele (pode ser por telefone, se não for possível um encontro presencial),
buscando entender aspectos de personalidade pré-mórbida, estilo de vida
do paciente, entre outras questões. Assim, o profissional não fica apenas
com informações do ponto de vista exclusivo do paciente.
69
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
horários...), como era sua personalidade, sua dedicação, como lidava com
frustrações, com hierarquias...
Após terem sido colhidas as queixas iniciais, o neuropsicólogo vai precisar entender
mais detalhadamente como o paciente lidou com cada uma dessas queixas.
70
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Fonte: <http://oqueeojantar.blogs.sapo.pt/pode-a-escola-educar-para-a-709496>.
Então o profissional tem esta lista e, de uma por uma, vai perguntar ao paciente como
realiza tal tarefa, por exemplo:
Se o paciente executasse de maneira adequada, não seria algo difícil para ele a ponto de
levá-lo a procurar um (ou mais) profissional (is) para ajudá-lo. Então, o próximo passo
é perguntar se o paciente já tentou realizar esta tarefa de uma maneira diferente desta
que foi citada.
Se não, precisamos perguntar o porquê de não ter tentado outro jeito. Será que o paciente
imaginou que não teria capacidade? Será que o paciente imaginou que daria errado?
Será que ficou com vergonha de tentar? O que o impediu de tentar fazer diferente?
Se já tentou realizar de outra maneira, vamos procurar entender o que não deu certo,
onde houve uma falha (ou desânimo, incapacidade...) que o levou a procurar ajuda.
Quando o profissional está munido dos resultados da avaliação e dos dados da entrevista
inicial pode, então, passar para uma próxima etapa que é a de estabelecer prioridades
e objetivos.
Vamos supor que seja um paciente com inúmeras queixas. O profissional precisa deixar
claro que não tem como trabalhar todas as queixas ao mesmo tempo. É importante
71
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
estabelecer quais, dentre as funções deficitárias, são as mais impactantes em seu dia a
dia, ou seja, precisa definir qual é a função que mais o atrapalha.
Por exemplo: se for necessário escolher entre memória visual e memória verbal para
começar o processo de reabilitação, precisa-se pensar qual é o impacto de cada uma
destas funções no dia a dia. Então, o raciocínio é:
»» Quando a memória visual está ruim, como isto impacta na rotina deste
paciente?
»» Quando a memória verbal está ruim, como isto impacta na rotina deste
paciente?
Geralmente, dificuldades na memória visual não aparece para outras pessoas e é mais
fácil de ser disfarçada se o paciente tiver habilidades verbais bem desenvoltas. Já as
dificuldades na memória verbal, comumente são mais fáceis de serem percebidas, pois
será utilizada durante um relato em uma conversa, tanto para o paciente explicar algo
que deveria se lembrar, quanto para o paciente lembrar algo que o interlocutor lhe disse
há pouco.
Pode haver casos em que o paciente é autônomo, mas precisa de auxílio para que seu
cotidiano flua com menos empecilhos, como no caso a seguir:
Quadro 20.
Neste caso, pelas queixas, pode-se ter uma ideia de que se trata de paciente com a
autonomia preservada, mas com dificuldade em algumas das funções executivas e
72
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Planejando as atividades
Independentemente do modelo a ser utilizado para a reabilitação neuropsicológica,
faz-se importante manter o foco nas funções a serem trabalhadas. A partir de então,
serão pensadas as atividades que serão instrumento de trabalho.
O ideal é que haja algum esforço do paciente, mas que não seja exagerado a ponto de
causar grande frustração ou desmotivação. Se for muito fácil também desmotiva.
O reabilitador precisa encontrar o melhor ponto de partida nas tarefas, bem como
organizar a ordem em que as tarefas planejadas serão realizadas e a ordem em que os
objetivos serão trabalhados ao longo das sessões.
Então, após a primeira etapa da tarefa de memória, pode-se ocupar o tempo com a
tarefa de planejamento e, ao final da sessão, retomar a atividade de memória.
Este foi apenas um exemplo ilustrativo. Para cada sessão, diante da demanda de cada
paciente, é preciso organizar a ordem de apresentação das atividades, assim como é
feito para a avaliação neuropsicológica.
73
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
Em hipótese alguma o profissional vai decidir por uma atividade para levar ao
paciente sem antes pensar em qual é a finalidade daquela atividade!
»» Não se pode levar um jogo sem ter pensado criteriosamente sobre seu
uso só porque o paciente “gosta de jogo”. Se o paciente gosta de jogos,
estes podem sim serem utilizados em seu processo de reabilitação,
desde que tenham recursos suficientes para auxiliar a trabalhar as
funções específicas para aquele paciente.
Pode haver dias em que o paciente está mais fragilizado emocionalmente ou algo
aconteceu e mobilizou questões emocionais no dia da sessão. Quando o paciente tiver
demanda de cunho emocional, o profissional reabilitador pode fazer o acolhimento,
tomando o devido cuidado de não transformar a sessão em uma sessão de psicoterapia.
»» Não utilizar material de tema infantil para trabalhar com adultos e idosos.
74
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Sempre que possível, é importante que o profissional organize atividades para que o
paciente realize em casa, para que a estimulação seja contínua. Estas atividades podem
estar relacionadas ao exercício de alguma função cognitiva, como se fosse uma extensão
da sessão de estimulação/treino, em que o paciente leva exercícios como alunos fazem
no período escolar.
As atividades para casa também podem ter relação com alguma tarefa que o
indivíduo tem necessidade de melhorar, como no caso de um indivíduo que quer
desenvolver habilidades em falar com pessoas novas, com o objetivo de trabalhar como
vendedor/representante comercial ou outra profissão relacionada. Então, a tarefa para
casa pode ser a de que este paciente tente ter uma conversa rápida com alguém em um
supermercado ou shopping, por exemplo.
Fonte: <http://gshow.globo.com/novelas/aquele-beijo/Vem-por-ai/noticia/2011/10/claudia-e-vicente-se-conhecem-na-fila-do-
aeroporto-rumo-colombia.html>.
75
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
»» Pode-se orientar para que o paciente anote neste painel (ou calendário)
as tarefas que precisa realizar, tentando agendá-las ou organizando como
cumpri-las.
»» Conforme for realizando o que está neste painel, pode colar post-its por
cima, para focar nos conteúdos que o paciente ainda precisa resolver.
Assim, diminuem as chances de o paciente se atrapalhar visualmente.
Um painel para visualização de realização das tarefas pode ser montado com uma
coluna para anotações das tarefas a serem realizadas, uma coluna com tarefas que estão
sendo feitas e outra com as tarefas já finalizadas. As tarefas são anotadas em um post-it
e passam de uma coluna a outra, conforme forem sendo cumpridas, assim como mostra
a figura a seguir:
Fonte: <http://leansoftwareengineering.com/wp-content/uploads/2008/04/scrumban-005a.jpg>.
Condutas/comportamento do profissional da
reabilitação
Vimos que é fundamental que o neuropsicólogo que se especializa para trabalhar com
reabilitação:
76
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Vamos sempre procurar estabelecer uma parceria com o paciente e com os familiares
mais próximos, para que se possa receber as percepções que estes têm acerca do trabalho
de reabilitação e para que os clientes possam entender e confiar no trabalho que está
sendo realizado.
Fonte: <http://capacicla.com.br/psicologia/>.
77
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
É importante ter certeza sobre o porquê de o paciente não estar avançando, pois
não adianta querer negociar que se esforce mais quando o paciente não é capaz
de realizar um pouco mais. Assim, as chances de criarmos maior resistência e
inserirmos uma frustração é muito maior (e não queremos isso no processo de
reabilitação!)
O processo de reabilitação vai ter maior eficácia quando o paciente for capaz de
generalizar, levando o aprendizado nas sessões para seu dia a dia. Entretanto,
alguns apresentam dificuldades de generalização. Nestes casos, o profissional pode
auxiliar estimulando para que o paciente traga suas dificuldades para organizar no
consultório, com suporte do reabilitador. Assim, poderá treinar como fazer melhor
e, quando se sentir apto, levar de volta para sua vida para continuar realizando
sozinho.
Um exemplo pode ser o caso de um rapaz, com ensino superior completo, que está
há alguns anos estudando para passar em alguma prova de concurso, mas ainda
não passou. A queixa é de que ele estuda muito, mas o estudo não rende. Pode-se,
então, solicitar que este paciente leve os editais para o consultório para que se possa
organizar a lista de matérias de Peso II, depois as matérias que são solicitadas em
mais de um edital e, por último, as matérias que são específicas de um edital ou
outro.
78
Planejando a reabilitação neuropsicológica │ UNIDADE IV
Fonte: <http://refemdarotina.blogspot.com.br/>.
Este é o ponto ideal que se busca na reabilitação, que o paciente seja capaz de se
organizar e planejar em sua vida prática.
Algo que motiva as pessoas a continuar se esforçando é ter sucesso, ter o reconhecimento,
e perceber que seu esforço valeu a pena.
»» Focando nos acertos, o paciente sentirá que está no caminho certo e terá
maiores chances de continuar se esforçando para alcançar níveis mais
altos. Consequentemente, maiores são as melhorias
79
UNIDADE IV │ Planejando a reabilitação neuropsicológica
80
Primeiros passos
para a Reabilitação Unidade V
Neuropsicológica
Introdução
Nesta unidade, serão apresentadas informações que o neuropsicólogo reabilitador
precisa estar ciente antes de iniciar o processo. Assim, será capaz de generalizar estes
aprendizados para a condução de diversas atividades.
Precisamos sempre pensar nos benefícios que proporcionaremos aos pacientes, mesmo
que o benefício seja deixando nosso atendimento de lado em prol de outro que lhe seja
mais benéfico para a retomada de sua autonomia.
Exemplos assim ocorrem com maior frequência em pacientes que não podem pagar por
mais de um atendimento, idosos com comprometimento cognitivo avançado (demencia
avançada ou grave) e crianças com necessidade de aumento de notas na escola.
Objetivos
»» Exemplificar manejos básicos para conduzir atividades no processo de
reabilitação neuropsicológica.
81
Capítulo 1
Como conduzir o processo de
reabilitação neuropsicológica
Qualquer pessoa, quando sabe que vai precisar se lembrar de algo depois, tende
a se esforçar mais para que o estímulo seja plenamente registrado.
Podemos fazer uma analogia com alunos em uma sala de aula. Quando já estão
dispersos, basta que o professor lhes diga que o conteúdo que está transmitindo
cairá na prova para que grande parte dos alunos se cale e concentre maior
energia nas palavras do professor.
Fonte: <http://novosalunos.com.br/o-que-e-uma-sala-de-aula-atrativa/>.
82
Primeiros passos para a Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE V
Os avisos incluem não só o que o paciente precisará realizar, mas também se na próxima
página terão figuras da mesma cor, entre outras informações.
Não é recomendado solicitar que o paciente trabalhe o mais rápido possível, como é feito
na aplicação de alguns testes que se propõem a avaliar a velocidade de processamento.
Conforme o paciente for ficando hábil nestas funções específicas, a tendência é que
precise de menos tempo para executar tarefas que recrutem o uso destas funções.
Portanto, o paciente acaba ficando menos lento nestas referidas tarefas.
Claro que, para registro de evolução do paciente, é possível que o profissional registre
o tempo necessário para realização da tarefa para acompanhar ao longo das sessões.
O importante é que o foco não esteja no tempo, mas na realização correta (o máximo
possível) da tarefa.
Conforme vamos tendo contato com diferentes atividades (e testes), vamos percebendo
que, ao se trabalhar uma função, muitas vezes, outras funções cognitivas acabam
também sendo envolvidas.
83
UNIDADE V │ Primeiros passos para a Reabilitação Neuropsicológica
»» Pacientes cuja queixa principal está pautada nas atividades de vida diária:
o melhor é encaminhar para um profissional da terapia ocupacional.
Em todos os casos, se for necessário e possível, o paciente pode ser orientado a fazer
outro(s) acompanhamento(s) complementar(es), como a reabilitação neuropsicológica,
psicoterapia, entre outros.
84
Capítulo 2
A importância da família e de outros
profissionais para o sucesso da
intervenção
Psicoterapia
85
UNIDADE V │ Primeiros passos para a Reabilitação Neuropsicológica
Terapia ocupacional
Figura 37. Treino Atividades de Vida Diária elaborado pela Terapia Ocupacional.
Fonte: <http://www.espacoelabora.com.br/terapia-ocupacional/>.
Psicopedagogia
86
Primeiros passos para a Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE V
»» Dificuldades de aprendizado.
Fonoaudiologia
»» Expressão.
»» Articulação.
»» Fluência.
»» Tonalidade de voz.
›› Palavras faladas.
›› Palavras escritas.
›› Linguagem de sinais.
›› Figuras.
87
UNIDADE V │ Primeiros passos para a Reabilitação Neuropsicológica
Nutrição
»» Falta de motivação.
»» Cansaço.
»» Irritabilidade.
»» Dificuldade de concentração.
»» Esquecimento.
Além de outros incômodos físicos, como prisão de ventre, fraqueza, anemia, diminuição
da coordenação e equilíbrio, entre outros.
88
Primeiros passos para a Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE V
Também é de boa conduta encaminhar para avaliação nutricional pacientes que estão
acima ou abaixo do peso, pacientes idosos ou pacientes com queixas ou histórico familiar
de colesterol alto, pressão alta, pressão baixa, diabetes, alto consumo de açúcar ou de
gordura, rejeição de algum grupo alimentar, entre outros.
É importante que esta pessoa seja orientada a explicar com o máximo de transparência
possível, sem querer amenizar as dificuldades para “proteger” o paciente, nem
supervalorizar os erros, colocando o paciente em um papel de “incompetente”.
89
UNIDADE V │ Primeiros passos para a Reabilitação Neuropsicológica
Estas orientações precisam ser passadas para a família com grande ênfase
para que não permitam que apenas uma pessoa (mesmo que seja um
cuidador profissional, com curso) seja cuidadora de um idoso em situação de
semi-dependência ou dependência absoluta.
90
Intervenções
e Propostas de Unidade Vi
Reabilitação
Neuropsicológica
Introdução
Esta é a unidade mais prática da apostila! Com os conteúdos abordados aqui, o aluno
poderá ter maior clareza do trabalho da reabilitação neuropsicológica, o que pode
auxiliá-lo a perceber se é uma área que está disposto a aprofundar com mais cursos,
workshops e supervisões.
Não é possível abordar por completo as funções cognitivas, pois esta apostila é uma
amostra do universo da reabilitação neuropsicológica. Além disto, divergências teóricas
causariam grande confusão na elaboração e entendimento do conteúdo (e este não é o
objetivo aqui).
Certamente o conteúdo apresentado lhe será útil como inspiração para o atendimento das
principais patologias. Maiores aprofundamentos precisarão ser feitos individualmente,
caso a caso.
Objetivos
91
Capítulo 1
Reabilitação neuropsicológica dos
processos atencionais
Uma das primeiras e mais importantes estratégias a serem transmitidas para o paciente
com falhas atencionais é que se acostume a fazer sua busca de maneira organizada,
seguindo a ordem da esquerda para a direita e de cima para baixo, conforme o costume
da leitura no Ocidente.
Ao trabalhar com materiais que vão ser manuseados (botões, tampas, canudinhos,
prendedores de roupa, pompons...), deve-se primeiramente separar o material a ser
utilizado para o modelo específico a ser reproduzido, para que o trabalho seja feito
organizadamente.
92
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
Algumas dicas:
»» Se, mesmo assim for difícil, pode-se auxiliar fazendo o controle dos
estímulos, ou seja, tampando as peças que não serão utilizadas para que
o paciente veja e pegue apenas aquelas que irá utilizar.
Este mesmo procedimento pode ser realizado com pacientes que apresentam
grande dificuldade em se manterem focados na atividade que vão executar. Assim, a
neuropsicóloga auxilia o paciente a se concentrar.
Após mais algumas tentativas com sucesso e sem necessidade de controle dos estímulos
por parte da neuropsicóloga, o nível pode subir, ou seja, pergunta-se ao paciente quais
materiais serão utilizados para a realização daquela atividade que está sendo proposta.
Quando o paciente já for capaz de informar antes de pegar, o neuropsicólogo pode
deixar de orientar, pois o paciente já saberá o que fazer.
O paciente precisa se acostumar a separar apenas os materiais que irá usar, para
evitar que se distraia com outros desnecessários.
93
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
Figura 38.
7 4 2 7 8 1 7
3 7 1 2 7 7 0
7 5 4 7 9 1 7
1 3 7 0 6 5 1
8 6 3 9 7 1 9
0 7 4 7 2 8 7
7 5 1 6 4 7 3
3 4 7 2 7 0 4
Após o paciente fazer uma primeira tarefa para o reabilitador perceber como este a
executa, ambos conferem em um gabarito como foi a execução.
Gabarito:
Figura 39.
7 4 2 7 8 1 7
3 7 1 2 7 7 0
7 5 4 7 9 1 7
1 3 7 0 6 5 1
8 6 3 9 7 1 9
0 7 4 7 2 8 7
7 5 1 6 4 7 3
3 4 7 2 7 0 4
Feita esta primeira conferência, o profissional pode aproveitar para treinar a capacidade
de planejamento, perguntando ao paciente qual é a melhor maneira de realizar aquela
atividade específica que está sendo mostrada.
Ao lidar com pacientes, nunca devemos pular uma etapa importante por julgar
previamente que ele não responderá.
94
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
Duas formas bastante comuns de serem usadas para a realização de atividade de atenção
com eficiência são:
»» Revisar o trabalho.
Para que a execução da tarefa de atenção concentrada seja bem feita, é preciso que o
paciente siga as instruções do profissional, olhando os estímulos alinhadamente, da
esquerda para a direita e de cima para baixo, como se estivesse lendo um livro.
Após o paciente entender e aplicar isto em algumas tarefas (não precisa ser na mesma
sessão), estimular o paciente a pensar em quais outros lugares as pessoas precisam
observar da mesma forma para que nenhum estímulo lhes escape. Alguns exemplos de
respostas são: supermercado, farmácia, banca de jornal, padaria, entre outros.
Outra gama de atividades a ser apresentada aos pacientes com falhas atencionais de
cunho visual é apresentar figuras e pedir que observem atentamente e descrevam o que
for solicitado.
Por exemplo, na figura a seguir, pode-se pedir que o paciente identifique todos os
elementos que têm a cor vermelha.
Fonte: <https://rolloid.net/capaz-encontrar-las-6-palabras-jardineria-escondidas-esta-imagen/>.
95
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
O profissional reabilitador precisa ter um gabarito com as respostas para poder conferir
com o paciente. Neste caso, os elementos em vermelho são:
»» Tomates no balde.
»» Camiseta da garota.
»» Carrinho de mão.
»» Camiseta do espantalho.
»» Passarinho.
Imagens também podem ser apresentadas como modelos para que o paciente as
reproduza com algum material, por exemplo: palitos, argolas, prendedores de cabelo...
Fonte: <http://www.pictaram.org/hashtag/paicopedagogiaclinica>.
Repare que podem ser mostrados modelos em que haja sobreposição dos palitos (ou
argolas, dependendo do material a ser utilizado). O profissional deve pensar em qual
grau de dificuldade quer apresentar ao paciente.
96
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
Se for alguém com dificuldades práxicas, o ideal é que este tipo de atividade se inicie
sem sobreposição, apresentando, primeiramente: modelos em que os palitos não se
encostam, depois, conforme avanço do paciente, apresentar modelos em que os palitos
estão mais próximos. Quando o paciente alcançar uma habilidade mais refinada,
pode-se começar com sobreposições simples e ir avançando no ritmo do paciente.
Outro tipo de apresentação de atividade para exercitar a atenção visual pode ser feito
com prendedores de cabelo e uma base de madeira com pinos (dependendo do modelo,
um cabideiro ou um porta-chaves também podem ser utilizados).
Fonte: <http://www.pictaram.org/post/BO0oAi0AC_7>.
97
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
Fonte: <https://atividadesdaprofessorabel.blogspot.com.br/>.
Trabalhando-se com este material, o nível mais fácil é aquele em que todas as tampas
estão pintadas da mesma cor. Um nível mais elaborado pode apresentar tampas
pintadas de cores diferentes.
Manter as tampas da forma original pode ser mais difícil para aquele paciente que
não consome bebidas engarrafadas, então precisa fazer um esforço para memorizar os
nomes impressos nas tampas, além de diferenciar a tampa vermelha de um produto,
da tampa vermelha de outro produto, por exemplo. Por outro lado, aquele paciente que
faz uso de bebidas engarrafadas pode considerar mais fácil trabalhar com as tampas
em sua apresentação original, pois pode associar com as bebidas que gosta mais, as
que costuma comprar, as bebidas mais caras/baratas, as bebidas que seus familiares
gostam, entre outras associações.
Modelos com sequências podem ser úteis para ajudar o paciente a generalizar.
Neste caso, após ter concluído a reprodução do modelo, solicita-se que continue
a sequência com as demais peças. Pode continuar para o lado, para baixo ou
para cima, conforme a sequência apresentada.
Fonte: <https://www.facebook.com/jkellartes/photos/pcb.1821607441390417/1821606921390469/?type=3&theater>.
98
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
Com este mesmo material, pode-se sugerir que o paciente crie uma figura ou
um modelo a ser reproduzido pela neuropsicóloga. Este manejo pode auxiliar
no fortalecimento do vínculo, na confiança do paciente perante às solicitações
e ainda aguçar a atenção do paciente ao precisar conferir se o trabalho da
profissional está idêntico ao seu.
Quadro 21.
Sessão 2
Sessão 3
Sessão 4
Sessão 5
Sessão 6
99
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
Começa-se com uma pequena história e, conforme o paciente for tendo sucesso, vai
aumentando a quantidade de informações e de tempo em que o paciente escuta antes
de responder as questões.
Alguns jogos de tabuleiro possuem algumas cartas com informações para que os
participantes adivinhem do que se trata. Por exemplo:
»» É uma torre.
»» Localizada na Europa.
»» Fica na França.
Atenção alternada
No consultório, a maior frequência de necessidade de trabalhar a atenção alternada
vem, por exemplo, daquele indivíduo que se desorganiza quando é interrompido em
seu trabalho ou pensamento, justamente porque tem dificuldade em alternar a atenção.
Para o exercício da atenção alternada, temos dois exemplos de conduta que costumam
ser eficazes.
Fazer uma linha com caneta ou lápis, alternando entre as letras, da menor para a maior:
Figura 45.
A B
A B
A B
A B
Então, o paciente precisa se manter atento a duas sequências para realizar a tarefa.
Outros exemplos também podem ser elaborados seguindo a proposta desta tarefa, tais
como:
Quando o paciente já tem habilidade para lidar com a atenção alternada na mesma
atividade, o profissional pode trabalhar solicitando que o paciente alterne a atenção
entre duas atividades diferentes. Inicialmente, alternando entre duas atividades de
cunho visual ou duas atividades verbais.
Para alternar entre duas atividades visuais, podem ser propostas, por exemplo:
»» Escrever seu nome completo de trás para frente, alternando com uma
atividade de cancelamento.
Fonte: <http://www.topimagens.com/flores>.
O profissional vai fornecer uma atividade para o paciente fazer e, antes que termine,
solicita que faça uma pausa para iniciar uma segunda atividade. Em algum momento da
segunda atividade, o profissional solicita que o paciente interrompa e retome a primeira
atividade. Após fazer mais um pouco da primeira atividade, é solicitado que continue a
segunda atividade e segue-se alternando.
102
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
103
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
Para a atenção alternada verbal, o profissional pode solicitar que o indivíduo fale, por
exemplo: nomes de pessoas e, quando for dado um sinal, passar a dizer alimentos,
atentando para não repetir.
Esta é uma atividade bem rápida. O sinal pode ser um gesto com o dedo ou dizer
“troca”, e o ideal é que seja feito a cada 3, 4 ou 5 palavras que o paciente disser.
É importante não manter uma mesma quantidade para que o paciente não saiba de
quanto em quanto tempo precisará alternar, pois, na vida prática, geralmente não
sabemos quando seremos interrompidos enquanto estamos fazendo algo, nem quanto
tempo a intromissão (alguém que vem tirar dúvida, telefone que toca, criança que
chora...) vai durar até que possamos voltar ao que estávamos fazendo antes.
O profissional anota todas as palavras ditas, na ordem em que forem ditas, a fim de
acompanhar, ao longo das sessões, a evolução do paciente quanto à atenção alternada.
Um nível mais elaborado para exercitar a atenção alternada é fazendo uso dos recursos
atencionais visuais e verbais, alternando-os, semelhante ao que pode ocorrer em um
escritório, por exemplo, em que o funcionário está compenetrado em seus afazeres
visuais (planilhas, documentos impressos etc.) e, então, o telefone toca ou alguém lhe
chama em uma conversa e, depois, o indivíduo precisa retomar ao seu trabalho com
foco visual.
Durante a sessão, o profissional pode trabalhar solicitando que o paciente alterne entre:
104
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
105
Capítulo 2
Reabilitação neuropsicológica da
memória
Associação
A associação é uma estratégia bastante eficaz para o registro de informações. A boa
notícia é que a capacidade de fazer associações também pode ser estimulada.
Alguns pacientes já fazem associações em seu cotidiano, outros podem ter mais
dificuldade em entender e aplicar o conceito, ainda mais porque a associação é algo
muito particular, vai depender bastante dos conhecimentos e experiências que o
indivíduo já passou ao longo da vida.
Claro que existem as associações mais objetivas, que muitas pessoas podem compartilhar,
como, por exemplo, fixar na memória os antônimos:
»» Mal – bem.
»» Mau – bom.
Uma associação que ajuda as pessoas a fixarem estes antônimos em sua memória é
dizer-lhes para lembrar das palavras em ordem alfabética. Desta forma:“mal” vem
antes de “mau”, assim como;
106
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
O profissional vai explicar ao paciente como fazer associações, orientando que pense
em relacionar o elemento a ser memorizado a algo que lhe pareça familiar ou a alguma
característica semelhante. Alguns exemplos bem simples podem ser trabalhados nas
sessões com a finalidade de ampliar o repertório do paciente para que este perceba que
diversas associações podem ser feitas. Eis um exemplo:
Com as tampas, o profissional pode fazer uma distribuição espacial sob a mesa e
solicitar que o paciente faça uma associação entre a maneira em que as tampas estão
distribuídas e alguma característica que estas bebidas lhe remetam.
Feito isto, coloca-se uma folha por cima do exemplo (ou qualquer outro material)
para que o paciente reproduza sem ver, utilizando apenas sua associação como apoio.
Se acertar com facilidade, solicita-se que o paciente memorize a associação para
relembrar ao final da sessão e/ou na sessão seguinte.
Um nível um pouco mais avançado pode ser um em que o profissional utilize tampas
de outras bebidas que o paciente não consome com frequência ou que não gosta,
ampliando a complexidade da associação, como: “Meu filho mais novo gosta de Fanta
Uva e meu filho mais velho gosta de H2O, e a tampa da Fanta Uva está mais para baixo
da tampa de H2O porque estão representando a altura dos meus filhos. A tampa da
Coca-Cola está ao lado da tampa da H2O porque eu e meu filho mais velho bebemos
Coca-Cola”.
107
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
A disposição das tampinhas, neste caso, ficaria parecido com o esquema a seguir:
Quadro 22.
Então, a primeira coluna significaria os gostos dos filhos, associando à altura deles
(o mais velho gosta da bebida que está “acima” e o mais novo gosta da bebida que está
“abaixo”), e a primeira linha significaria o gosto do filho mais velho (que gosta de H2O
e Coca Cola)
Fonte: <https://www.mundoludico.com.br/jogo-da-memoria-pessoas-36-pecas-mlm3604-mundo-ludico>.
108
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
Se o trabalho estiver sendo feito com um paciente que conhece (pelo menos um pouco)
o idioma inglês, pode-se apresentar a foto de uma mulher segurando um guarda-chuva
e dizer que ela se chama Gabriela, sugerindo que o paciente associe umbrela ao nome
da pessoa da foto.
Fonte: <http://www.cosmogirl.co.id/artikel/read/5954/Tetap-Sehat-di-Musim-Pancaroba>.
Quando a associação é efetiva, o paciente não fica na dúvida, não demora, não responde
por tentativa e erro. É importante frisar ao paciente que informe que não lembra, se
for o caso, evitando dar respostas aleatórias na tentativa de acertar. Quando o paciente
deixa de responder porque não se lembra, suas habilidades mnésticas vão se esforçar
mais para tentar lembrar a resposta correta no próximo exercício, pois a demanda
continuará.
109
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
Memória visual
O foco é estimular a habilidade de estocar e recordar informações de caráter visual.
O profissional pode (elaborar ou comprar) apresentar uma atividade com várias
páginas. Em uma delas, terá uma figura. Na página seguinte, terá esta mesma figura
em meio a outras três, para que o paciente se lembre qual figura lhe foi apresentada
anteriormente.
110
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
Memória espacial
Para estimular a memória espacial, pode-se organizar ou comprar um material com
várias páginas e, em cada uma, algumas figuras. Podem ser várias figuras distribuídas
aleatoriamente em cada página ou cenas que contém objetos/imagens, por exemplo:
cena de uma sala de estar com abajour, televisão, telefone, tapete...
111
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
112
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
imagens para baixo e fornece ao paciente os pares destas figuras para que coloque por
cima das que estão viradas, tentando encontrar os pares de acordo com sua memória.
Feito isto, confere-se se o paciente acertou ou não, solicitando que o paciente vire as
figuras para comparar com as que pareou.
Nesta tarefa, o nível fácil é constituído por imagens diferentes fonêmica, semântica e
fisicamente, tais como: um telefone, uma bicicleta e um livro, por exemplo.
113
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
No nível intermediário, podem ser usadas imagens semelhantes em algum aspecto, por
exemplo:
»» Apenas pássaros.
Pode-se manter a cor de fundo semelhante nas imagens a serem apresentadas, tanto as
cartas modelo quanto as usadas para reconhecimento.
Por exemplo: apresenta-se a figura de um cavalo. Feito isto, apresentam-se três palavras,
sendo que uma destas palavras é o nome da figura apresentada.
Quadro 23.
114
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
»» O nível mais difícil desta tarefa pode ser composto por palavras
semelhantes fonêmica e semanticamente, como: camelo, cabrito, cavalo.
Por exemplo: pode-se apresentar por escrito, a palavra maçã, e depois apresentar
imagens de uma pera, uma maçã e um caqui, para o paciente identificar qual fruta havia
sido apresentada anteriormente.
Pode-se perguntar ao paciente que nome se pode dar a este conjunto de palavras.
Uma resposta correta constitui um título a uma suposta história (Carolina usa capacete
para andar a cavalo) ou o nome da categoria, neste caso: animais.
Pode-se aproveitar o contexto para estimular a linguagem, solicitando que o cliente diga
e/ou escreva o máximo de palavras que puder que façam parte da categoria trabalhada.
Aqui seria solicitado que dissesse nomes de animais, ou que dissesse palavras que:
»» Começam com C.
»» Terminem em LO.
115
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
»» Tenham 3 sílabas.
»» Tenham 6 letras.
Inicialmente esta tarefa de fluência pode ser realizada livre de controle do tempo e da
quantidade de palavras. Conforme o paciente for evoluindo, algum limite mínimo ou
máximo podem ser estabelecidos.
Pode-se atentar para utilizar palavras com encontros consonantais e dígrafos, como,
por exemplo: aguado, ambíguo, linguado. Neste exemplo, as três palavras contêm o
“gu”, além de semelhança fonêmica. Todas têm a mesma quantidade de sílabas, duas
delas começam com a letra A, e duas terminam com “ado”.
116
Capítulo 3
Reabilitação neuropsicológica das
funções executivas
1. Passe o barbante em zigue-zague pelos pregos, mas faça uma volta com o
barbante no prego 3, no 5 e no 9.
4. Faça um zigue zague pelos pregos e, ao passar por pregos pares, diga o
nome de uma fruta (sem repetir a fruta).
Esta última instrução também estimula a fluência verbal e força a memória operativa
a lembrar da instrução da tarefa e o controle mental vai trabalhar para lembrar quais
frutas já foram ditas.
117
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
Também pode ser feita com outras categorias, tais como profissões, esportes, nomes de
mulheres, nomes de países, peças de roupas, objetos de cozinha, natureza, sabores de
sorvete, marcas de carros, entre outros.
A memória operativa pode ser trabalhada com peças (ou botões, tampas de garrafa
coloridas, canudos, palitos etc.) em que o paciente reproduz um modelo apresentado
pela neuropsicóloga e, feito isto, o trabalho é escondido sob uma folha de papel ou
outro material disponível e pergunta-se ao paciente:
Quadro 24.
Para o paciente, podem ser lidas as seguintes instruções, sempre observando o nível em
que é capaz de responder com algum esforço (não muito nem pouco):
118
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
Quadro 25.
Data: Data:
APONTE a... Acerta? Precisa Acerta? Precisa
S/N repetir? S/N repetir?
S/N S/N
2 instruções
Carta vermelha na terceira linha (6 ouro)
Carta preta da segunda linha (5 paus)
3 instruções
Primeira carta vermelha da primeira linha (10 copas)
Segunda carta preta da última linha (A paus)
Segunda carta preta da primeira linha (9 espadas)
Carta par, vermelha, maior que 8 (10 copas)
Carta vermelha par, abaixo do 9 (6 copas)
Terceira carta vermelha da segunda linha (4 ouro)
Carta preta, menor que 8 na primeira linha (4 paus)
Carta preta, maior que 5 e menor que 9 (7 paus)
Carta vermelha, acima da maior carta preta (4 ouro)
4 instruções
Carta preta, par, ao lado do 6 na terceira linha (10 espadas)
Carta ímpar, vermelha, ao lado esquerdo do 6 (5 ouro, na 2ª linha)
Carta vermelha, ímpar, maior que 4, na segunda linha (5 ouro)
Carta par, ao lado esquerdo da carta preta da segunda linha (6 copas)
Carta preta, impar, maior que 5, na primeira linha (9 espadas)
Carta impar, na segunda linha, ao lado direito do 6 (5 paus)
Carta par, menor que 10, acima de uma carta preta (6 copas ou 4 ouro)
Carta par na 3ª linha, ao lado da carta vermelha (10 espada)
Carta preta, impar, maior que 5 e menor que 9 (7 paus)
5 instruções
2ª carta vermelha, par, ao lado do 5, na 2ª linha (6 copas)
Carta impar, abaixo da 1ª carta vermelha da 2ª linha (7 paus)
6 instruções
Carta preta na terceira linha, abaixo da segunda carta vermelha da segunda linha (A
paus)
Carta impar, na segunda linha, que está acima de uma carta preta e abaixo de outra
carta preta (5 ouro)
Observe que, após a pergunta, o profissional tem a resposta correta entre parênteses.
Assim, pode conferir as respostas corretas e as dificuldades do paciente, quando é
necessário que o profissional repita as instruções.
119
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
Controle inibitório
Anteriormente, na parte de atenção concentrada verbal, citamos a existência de alguns
jogos de tabuleiro que possuem cartas com informações para que os participantes
adivinhem do que se trata. Demos o exemplo da Torre Eiffel, cujas dicas para adivinhar
poderiam ser:
»» É uma torre.
»» Localizada na Europa.
»» Fica na França.
Este tipo de jogo pode ser utilizado para trabalhar o controle inibitório, além da atenção
concentrada verbal. Por exemplo:
Se o paciente não esperar ler todas as dicas antes de dar a resposta, o profissional pode
pegar outra carta e dizer que “não valeu”, pois ele não esperou.
Um nível mais difícil desta atividade para exercitar o controle inibitório é ler as dicas
em uma ordem em que a segunda dica lida seja a mais fácil de adivinhar o que é, mas
o paciente deve aguardar ler a quantidade determinada de dicas até o fim, antes de dar
a resposta.
Categorização
A capacidade de categorizar é base para se trabalhar o planejamento. Por exemplo:
no caso de paciente com dificuldades em se organizar para lavar a louça, é importante
trabalhar a categorização, em que será dada instrução para separar os utensílios por
categorias, ou seja, separando:
»» Utensílios volumosos.
»» Pratos.
»» Talheres.
»» Potes de plástico.
»» Potes de vidro.
120
Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
»» Tampas.
»» Copos.
Após o paciente entender e ser capaz de estabelecer categorias, pode-se planejar, por
exemplo, a ordem em que a louça será lavada, de acordo com as prioridades para este
paciente, podendo:
Planejamento
Ao separar todos os materiais que irá utilizar para a realização de alguma tarefa, é ideal
que o paciente planeje a sequência de uso dos materiais, deixando alguns mais próximos
ou mais afastados de suas mãos, conforme o momento em que serão utilizados.
Por exemplo: para a realização de uma receita, primeiro o paciente pode separar todos
os ingredientes que irá utilizar. Depois, organizar quais serão utilizados primeiro,
deixando-os mais próximos de si. Ficarão mais afastados os que serão utilizados a
posteriori.
121
UNIDADE VI │ Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica
O profissional precisa ter uma folha com as respostas em destaque, para que possa
conferir os acertos, omissões e erros do paciente ao longo das trocas de instruções.
O objetivo é perceber se o paciente comete uma quantidade maior de erros ao trocar de
instruções, o que significa uma dificuldade em flexibilizar para seguir a nova instrução.
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Intervenções e Propostas de Reabilitação Neuropsicológica │ UNIDADE VI
Da mesma maneira que no âmbito visual, o profissional também deve marcar os acertos,
erros e omissões, a fim de analisar se a quantidade de erros aumenta com a troca de
instruções, visando perceber se há uma dificuldade em flexibilizar ou se o paciente se
adapta às novas demandas, mesmo já tendo se acostumado a trabalhar de algum jeito.
Considerações finais
Ao longo desta apostila, tentei transmitir a maior quantidade de informações práticas,
com grande quantidade de exemplos. Espero que seja útil como inspiração para que
você, aluno, possa elaborar seus materiais ou ter um olhar crítico sobre os materiais
disponíveis para compra, evitando gastar seu tempo e dinheiro com materiais que não
lhe serão úteis para o atendimento de seus pacientes.
Sugiro que comprem apenas o necessário para seu primeiro paciente, depois para o
segundo, sem necessidade de ter uma gama ampla de materiais antes da demanda.
Quando o paciente chegar, dá tempo de sua encomenda chegar enquanto realiza a
entrevista inicial.
Parabéns por ter chegado até aqui, desejo muita prosperidade em seu caminho.
Se quiser compartilhar alguma experiência ou esclarecer alguma dúvida, estaremos à
disposição por e-mail ou rede social. Bons atendimentos!
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Referências
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Anexo
Unidade I
Unidade II
Unidade III
Unidade IV
›› Estímulos.
›› Memória Boa.
›› Carol Fonoterapia.
›› Treinocognitivo.com.br
›› Interativamente.
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anexos
›› Terapiando.
›› NeurocogniAção.
›› Brink Reabilit.
›› Crop Art.
›› Oficina da linguagem.
›› Exercitamente.
›› Brinquedos terapêuticos.
Unidade V
Unidade VI
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