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FISIOLOGIA HUMANA

Professor Dr. Samuel Rodrigues Lourenço de Morais


Universidade de Marília
Avenida Hygino Muzzy Filho, 1001
CEP 17.525–902- Marília-SP

Reitor Pró-reitor Administrativo


Márcio Mesquita Serva Marco Antonio Teixeira
Vice-reitora Direção do Núcleo de Educação a Distância
Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva Paulo Pardo
Pró-Reitor Acadêmico Coordenação Pedagógica do Curso
Prof. José Roberto Marques de Castro Fabiana Aparecida Arf
Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico
Comunitária B42 Design
Profª. Drª. Fernanda Mesquita Serva

F385m sobrenome, nome


nome livro / nome autor. nome /coordenador (coord.) - Marília:
Unimar, 2021.

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BOAS-VINDAS
Ao iniciar a leitura deste material, que é parte do apoio pedagógico dos
nossos queridos discentes, convido o leitor a conhecer a UNIMAR –
Universidade de Marília.

Na UNIMAR, a educação sempre foi sinônimo de transformação, e não


conseguimos enxergar um melhor caminho senão por meio de um ensino
superior bem feito.

A história da UNIMAR, iniciada há mais de 60 anos, foi construída com base


na excelência do ensino superior para transformar vidas, com a missão
de formar profissionais éticos e competentes, inseridos na comunidade,
capazes de constituir o conhecimento e promover a cultura e o intercâmbio,
a fim de desenvolver a consciência coletiva na busca contínua da valorização
e da solidariedade humanas.

A história da UNIMAR é bela e de sucesso, e já projeta para o futuro novos


sonhos, conquistas e desafios.

A beleza e o sucesso, porém, não vêm somente do seu campus de mais de


350 alqueires e de suas construções funcionais e conectadas; vêm também
do seu corpo docente altamente qualificado e dos seus egressos: mais
de 100 mil pessoas, espalhados por todo o Brasil e o mundo, que tiveram
suas vidas impactadas e transformadas pelo ensino superior da UNIMAR.

Assim, é com orgulho que apresentamos a Educação a Distância da UNIMAR


com o mesmo propósito: promover transformação de forma democrática
e acessível em todos os cantos do nosso país. Se há alguma expectativa
de progresso e mudança de realidade do nosso povo, essa expectativa
está ligada de forma indissociável à educação.

Nós nos comprometemos com essa educação transformadora,


investimos nela, trabalhamos noite e dia para que ela seja
ofertada e esteja acessível a todos.

Muito obrigado por confiar uma parte importante do seu


futuro a nós, à UNIMAR e, tenha a certeza de que seremos
parceiros neste momento e não mediremos esforços para
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Não vamos parar, vamos continuar com investimentos


importantes na educação superior, sonhando sempre.
Afinal, não é possível nunca parar de sonhar!

Bons estudos!

Dr. Márcio Mesquita Serva


Reitor da UNIMAR
Que alegria poder fazer parte deste momento tão especial da sua vida!

Sempre trabalhei com jovens e sei o quanto estar matriculado


em um curso de ensino superior em uma Universidade de
excelência deve ser valorizado. Por isso, aproveite cada
minuto do seu tempo aqui na UNIMAR, vivenciando o ensino,
a pesquisa e a extensão universitária.

Fique atento aos comunicados institucionais, aproveite as


oportunidades, faça amizades e viva as experiências que
somente um ensino superior consegue proporcionar.

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do campus universitário localizado na cidade de Marília,
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e compartilhe suas experiências. Viva a UNIMAR!

Muito obrigada por escolher esta Universidade para a Profa. Fernanda


realização do seu sonho profissional. Seguiremos, Mesquita Serva
Pró-reitora de Pesquisa,
juntos, com nossa missão e com nossos valores, Pós-graduação e Ação
sempre com muita dedicação. Comunitária da UNIMAR

Bem-vindo(a) à Família UNIMAR.

Educar para transformar: esse é o foco da Universidade de Marília no seu


projeto de Educação a Distância. Como dizia um grande educador, são
as pessoas que transformam o mundo, e elas só o transformam
se estiverem capacitadas para isso.

Esse é o nosso propósito: contribuir para sua transformação


pessoal, oferecendo um ensino de qualidade, interativo,
inovador, e buscando nos superar a cada dia para que você
tenha a melhor experiência educacional. E, mais do que isso,
que você possa desenvolver as competências e habilidades
necessárias não somente para o seu futuro, mas para o seu
presente, neste momento mágico em que vivemos.

A UNIMAR será sua parceira em todos os momentos de


sua educação superior. Conte conosco! Estamos aqui para
apoiá-lo! Sabemos que você é o principal responsável pelo
seu crescimento pessoal e profissional, mas agora você
tem a gente para seguir junto com você. Prof. Me. Paulo Pardo
Coordenador do Núcleo
Sucesso sempre! EAD da UNIMAR
006 Aula 01: Introdução à Fisiologia Humana e Homeostase

014 Aula 02: Sistema Nervoso

022 Aula 03: Sistema Nervoso Autônomo e Somático

033 Aula 04: Comunicação Sistema Nervoso: Sinapses

040 Aula 05: Tecido Muscular Esquelético

046 Aula 06: Tecido Muscular Esquelético - Controle Neuromotor

055 Aula 07: Sistema Circulatório I

064 Aula 08: Sistema Circulatório II

075 Aula 09: Sistema Neuroendócrino I

087 Aula 10: Sistema Neuroendócrino II

095 Aula 11: Sistema Respiratório

105 Aula 12: Sistema Digestório

117 Aula 13: Sistema Renal

128 Aula 14: Sistema Reprodutor Feminino

138 Aula 15: Sistema Reprodutor Masculino

147 Aula 16: Sistema Imunológico


01

Introdução à Fisiologia
Humana e Homeostase
6
Fisiologia Humana: A Ciência que
Investiga o Ser Humano
A Fisiologia Humana é a ciência pertencente às cadeiras básicas da saúde que se
dedicam ao estudo do funcionamento do corpo humano, mais especificamente
sobre como as células, os tecidos e os sistemas interagem entre si, assim como o
organismo humano se comporta em situações de saúde (homeostase fisiológica) e
durante processos ou instalação de doenças (PRESTON; WILSON, 2014).

A fisiologia é o estudo da função biológica: como o corpo funciona, da


célula ao tecido, do tecido ao órgão, do órgão ao sistema e de que
maneira o organismo como um todo realiza tarefas particulares
essenciais à vida. No estudo da fisiologia, são enfatizados os
mecanismos – ou seja, as questões da fisiologia giram em torno do
modo de funcionamento do organismo, e as respostas envolvem
sequências de causa e efeito. Essas sequências podem ser
entrelaçadas em relatos cada vez mais amplos, que incluem descrições
de estruturas envolvidas (anatomia) e que se sobrepõem a outras
ciências, como a química e a física (FOX, 2007, p. 04).

Um dos pontos interessantes nas investigações e estudos em Fisiologia referem-se


ao estudo do organismo em estado saudável (Homeostase fisiológica) e quando há
a instalação de doença, o que altera o comum funcionamento do órgão a ser
investigado. E para que isso seja possível há diversos modelos experimentais,
porém, o modelo experimental clássico utilizado para saber qual função realmente
um órgão exerce sobre todo o sistema é a remoção dele. Após a remoção do órgão
ocorre um período observacional sobre os parâmetros fisiológicos e
comportamentais dos animais em estudo (FOX, 2007).

Esse tipo de investigação permitiu que tanto a Fisiologia quanto a Patologia (estudo
sobre as doenças) evoluíssem, e permitiu que fosse compreendido o
funcionamento normal e em estado patológico do organismo humano,
promovendo a construção da base da medicina moderna.

7
Fonte: TORTORA, 2016.

A Homeostasia Fisiológica
O termo homeostase remete a equilíbrio, e aplicando esse termo aos estudos da
Fisiologia podemos compreender que se refere ao estado de equilíbrio
momentâneo ou permanente do ambiente interno e de todos os seus sistemas.
Mais especificamente, se refere ao controle dentro de padrões de normalidade do
volume e dos líquidos corporais, soluções aquosas e substâncias químicas que
estão dentro e fora do ambiente celular (células). O líquido que se encontra dentro
do conteúdo celular é denominado de líquido intracelular (LIC) e o conteúdo que se
localiza no meio externo chama-se líquido extracelular (LEC) (FOX, 2007; TORTORA,
2016).

8
A constituição do líquido intersticial se altera de maneira constante, dependendo
diretamente sobre como as substâncias se movem de dentro e para fora das
células em direção ao plasma sanguíneo. Tal troca é fundamental para o
fornecimento de substratos para as células, como, por exemplo, moléculas de
glicose, oxigênio e íons (TORTORA, 2016).

Mas como o organismo consegue manter a homeostase de nosso organismo, uma


vez que há constantes mudanças nos conteúdos celulares internos e externos?

A resposta para essa pergunta é que o controle do estado de homeostase do


organismo é feito por refinados mecanismos fisiológicos denominados de alças de
retroalimentação, as quais informam a todo momento o que ocorre em nosso
organismo aos centros superiores de controle (sistema nervoso central (SNC).

Sistemas de Controle da Homeostase


O sistema de homeostase humano é desafiado a todo momento por estímulos
oriundos do meio ambiente externo em que vivemos ou por estímulos que se
originam no nosso próprio organismo (meio externo). Esses estímulos representam
perturbações ao estado de equilíbrio do organismo (homeostase), como, por
exemplo, temperatura elevada (dia quente), frio extremo (inverno), redução na
oferta de oxigênio (altitudes elevadas) e demandas energéticas aumentadas
(exercício físico) (TORTORA, 2016).

Tais desarranjos na homeostase do organismo podem ocorrer momentaneamente


ou por períodos prolongados, resultando em estados de estresse severo, podendo
desencadear a instalação de doenças crônicas. No entanto, de maneira satisfatória,
nosso organismo é dotado de mecanismos fantásticos que regulam
minuciosamente as variações de nosso organismo, sempre com o objetivo de
manter o equilíbrio interno. Dentre os componentes desses sistemas podemos
citar os sistemas endócrino e o sistema nervoso central, que de maneira associada
ou isolada, trabalham para a manutenção do meio interno (FOX, 2007; TORTORA,
2016).

O Sistema Nervoso Central (SNC) atua por meio de sinais sensoriais/elétricos


(impulsos nervosos), tanto os recebidos quanto os enviados aos órgãos e tecidos
para que seja normalizado o funcionamento do organismo. Já o sistema endócrino,
por meio de suas glândulas secretoras, libera moléculas sinalizadoras (hormônios)
que atuam tanto no próprio local de liberação ou de maneira sistêmica (em todo o

9
organismo). Interessantemente, os impulsos nervosos desencadeados pelo SNC
promovem respostas muito rápidas, enquanto os hormônios desencadeiam
respostas mais demoradas, porém, mais prolongadas, ambas intermediadas por
alças de retroalimentação positiva e negativa (FOX, 2007; TORTORA, 2016).

Todo o controle ocorre graças aos sistemas de


feedback positivo e feedback negativo que, de acordo
com a nomenclatura, ou estimulam ou inibem a
intensidade das respostas fisiológicas que ocorrem a
todo momento em nosso corpo.

A imagem 2 representa uma alça de retroalimentação.

10
Imagem 2 – Ciclo de retroalimentação da homeostase

Fonte: TORTORA, 2016.

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Graças aos sistemas de controle da homeostase humana conseguimos
realizar diversas atividades motoras, como, por exemplo, correr em dia
ensolarado e com temperaturas elevadas. Graças a esses mecanismos o
nosso corpo consegue regular a temperatura corporal e manter a
integridade do nosso organismo.

Os mecanismos de feedback pertencentes ao sistema de


retroalimentação são vias de sinalização fantásticas! Uma maneira
segura e divertida de verificar esses sistemas é estimular o sistema
sensorial (pele - extremidades) com diferentes tecidos e objetos com a
pessoa vendada. Perceberá que dependendo da superfície que o
avaliado tocar, causará conforto, estranheza ou repulsa!

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Você sabe como ocorre o surgimento das febres? Isso mesmo, das
febres, que ocorrem em resposta a focos inflamatórios de origem viral
ou bacteriana e, caso não sejam controladas, podem resultar em
convulsões e até mesmo em óbito. A inflamação deflagra a produção de
mediadores inflamatórios que são percebidos pelo sistema de defesa
do organismo que, por sua vez, sinaliza o evento agressivo à região
hipotalâmica, iniciando o processo de febre!

13
02

Sistema Nervoso

14
Sistema Nervoso Central (SNC): A
Integração do Mundo
O Sistema Nervoso Central (SNC) é o local onde todos os sinais internos
(endócrinos) e externos (meio ambiente) são percebidos, modulados, interpretados
e, então, soluções e respostas bioquímicas e motoras são iniciadas, e refletem em
ações motoras coordenadas.

Além disso, o SNC é o responsável pela maneira pela qual percebemos o mundo ao
nosso redor, sobre o nosso comportamento frente a diversas situações, memórias
e é o modulador de todos os movimentos volitivos (TORTORA, 2016).

O estudo da Neurociência que envolve toda a comunicação e processamento


central é muito amplo e complexo, portanto, nesta aula, serão apresentados
postos-chave do SNC e de seus desdobramentos fisiológicos, iniciando pela sua
organização.

15
Fonte: SEELEY, 2016.

Organização do SNC
O sistema nervoso é um dos menores sistemas que compõem nosso organismo,
porém, o mais complexo, constituído por milhões de células, os neurônios,
formando um imenso emaranhado de redes de transmissão de impulsos
neuronais, as sinapses, a linguagem utilizada pelos neurônios durante sua
comunicação.

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Classicamente, o sistema nervoso divide-se em SNC e Sistema Nervoso Periférico
(SNP), no qual o SNC é o responsável por receber, processar e elaborar respostas
decorrentes aos sinais internos e externos. A elaboração das respostas realizadas
pelo SNC é efetivada pelo SNP, como, por exemplo, as ações motoras voluntárias e
involuntárias. Além disso, o SNP desempenha o importante papel de transmitir
sinais sensoriais ao SNC (TORTORA, 2016; FOX, 2007).

O SNC é constituído pelo encéfalo e pela medula espinal, enquanto o SNP é


formado pelos nervos, plexos entéricos e receptores sensitivos, enviando
informações periféricas ao centro de integração de informações (SNC).

Em relação ao SNC, podemos compreendê-lo da seguinte maneira:

O encéfalo é a parte do SNC que está localizada no crânio e contém


cerca de 85 bilhões de neurônios. A medula espinal conecta-se com o
encéfalo por meio do forame magno do occipital e está envolvida
pelos ossos da coluna vertebral. A medula espinal possui cerca de 100
milhões de neurônios. O SNC processa muitos tipos diferentes de
informações sensitivas. Também é a fonte dos pensamentos, das
emoções e das memórias. A maioria dos sinais que estimulam a
contração muscular e a liberação das secreções glandulares se origina
no SNC (TORTORA, 2016, p. 405).

Em relação aos nervos, constituintes do SNP, caracteriza-se por ser um feixe


composto por centenas de milhares de axônios (neurônios), situados em tecidos
conjuntivos e vasos sanguíneos, localizados em regiões fora do encéfalo e da
medula espinal. Da região craniana emergem 12 pares de nervos (nervos
cranianos) e 31 pares de nervos espinais emergem da região craniana, onde cada
um desses nervos tem um caminho definido de uma região corporal
(SILVERTHORN, 2017; TORTORA, 2016).

Já os gânglios são pequenas estruturas que fazem parte do tecido nervoso que são
formados principalmente por corpos celulares, situados fora do encéfalo e da
medula espinal, apresentando grande relação com os nervos cranianos e espinais.
Os plexos entéricos correspondem à comunicação do SNC com o trato
gastrointestinal, presentes nas paredes que revestem os órgãos do sistema
digestório, auxiliando em todo o controle do processo digestivo. Nesse sentido,
todas as atividades do SNC, SNP, SNE e plexos nervosos são suscetíveis aos
processos de feedback positivo e feedback negativo.

17
Feedback Negativo e Positivo
Como citado anteriormente, as alças de retroalimentação têm como função
principal promover o equilíbrio homeostático fisiológico por meio de sinalizações
que informam o SNC sobre o que está ocorrendo no SNP e SNE.

O sistema de feedback negativo (Imagem 2) tem como principal característica


reverter uma situação ou condição que antes era controlada fisiologicamente. Um
exemplo dessa situação refere-se ao controle da pressão arterial (PA). A PA é
resultante da pressão que o sangue exerce sobre as paredes dos vasos, e essa
variação é monitorada de maneira constante e precisa. Caso algum evento interno
ou externo provoque o aumento da PA acima dos valores normais (normotensão),
nessa situação, os barorreceptores (células nervosas) presentes nas paredes de
determinados vasos presentes no sistema circulatório enviam impulsos em direção
ao SNC (centros de controle específicos) que, por sua vez, recebe, analisa,
interpreta e responde por meio de impulsos nervosos para o coração e vasos
sanguíneos (os órgãos efetores). Em resultado a todo esse processo, ocorre a
redução da PA.

No entanto, em uma situação oposta, de hipotensão (redução da PA abaixo de


valores fisiológicos mínimos), ocorre a sinalização de feedback positivo:

Ao contrário de um sistema de retroalimentação negativa, um sistema


de retroalimentação positiva tende a aumentar ou a reforçar uma
mudança em uma condição controlada do corpo. Em um sistema de
retroalimentação positiva, a resposta afeta a condição controlada de
modo diferente do sistema de retroalimentação negativa. O centro de
controle ainda fornece comandos para um efetor, mas desta vez o
efetor provoca uma resposta fisiológica que se soma ou reforça a
modificação inicial na condição controlada. A ação de um sistema de
retroalimentação positiva continua até que seja interrompida por
algum mecanismo (TORTORA, 2016. p. 9).

A seguir, a Imagem 2 apresenta um exemplo de alça de retroalimentação negativa


relacionado ao controle da pressão arterial.

18
Imagem 2 – Controle da pressão arterial por meio de feedback negativo

Fonte: TORTORA, 2016.

19
Mas o que acontece caso não ocorra a normalização da homeostase de um
sistema? E se esse evento se tornar constante? Em situações em que os sistemas de
controle por alças de retroalimentação não conseguem promover a normalização e
manutenção da homeostase, ocorre o surgimento e instalação de patologias de
caráter crônico.

Os sistemas de feedback positivo e negativo são essenciais para a nossa


sobrevivência diária! Por meio desses sistemas conseguimos nos
adaptar a diversas alterações e desafios endógenos e exógenos,
permitindo à raça humana resistir às grandes mudanças
experimentadas desde seu surgimento no planeta Terra.

A interação entre o SNP e SNC é fundamental para a sobrevivência


humana, sem essa conexão, ambos os sistemas não seriam capazes de
“sentir” e “compreender” o meio que nos rodeia e muito menos enviar
tais sinais (sensitivos, olfativos, visuais) para regiões cerebrais
especializadas na interpretação de cada um desses estímulos. Dessa
maneira, vale a pena se aprofundar no assunto para que o futuro
pro ssional de educação física saiba como as atividades motoras
prescritas podem in uenciar nosso organismo.

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Quer testar se realmente os sistemas de retroalimentação que atuam
na manutenção da homeostase funcionam? Faça o seguinte, caminhe
por 20 minutos, mas antes de iniciar a caminhada faça a aferição da PA
e da frequência cardíaca (FC) em repouso e, ao final da caminhada e
cerca de 10 minutos após ter finalizado a caminhada, realize as
mensurações novamente. Perceberá que houve aumentos,
diminuições, mas que, os valores da PA e da FC de repouso voltaram a
valores normais.

21
03

Sistema Nervoso
Autônomo e Somático
22
Sistema Nervoso Autônomo
O Sistema Nervoso Autônomo (SNA) é responsável pelas respostas e
comportamento neurovegetativo de nosso organismo, ou seja, por atos
involuntários que ocorrem para que seja possível a manutenção da homeostasia
fisiológica. Em um primeiro momento, o SNA se assemelha a uma vasta quantidade
de fios que se conectam com o SNC e SNP, formando um emaranhado de
conexões, assemelhando-se com cabos de internet, conectando o mundo à grande
rede.

Em relação à morfologia do SNA, esse sistema é composto por dois tipos de


neurônios motores, os neurônios pré-ganglionares e os neurônios pós-
ganglionares (Imagem 2). O corpo celular dos neurônios pré-ganglionares emerge
da região encefálica ou da medula espinal, e seu axônio é uma fibra do tipo B
mielinizada, realizando sinapse com neurônios pós-ganglionares, o segundo tipo de
neurônio do SNA. Os neurônios pós-ganglionares, diferentemente dos neurônios
pré-ganglionares, localizam-se totalmente fora do SNC, em que seu corpo celular e
dendritos se situam dentro de um gânglio autônomo onde ocorrem as sinapses
com um ou mais neurônios pré-ganglionares. Os axônios dos neurônios pós-
ganglionares são do tipo C não mielinizados, com pequeno diâmetro e finalizam em
um órgão efetor visceral (FOX, 2007; SILVERTHORN, 2017; TORTORA, 2016).

23
Imagem 2 - Representação dos neurônios pré e pós-ganglionares

Fonte: SEELEY, 2016.

Uma distinção que determina a grande diferença entre o SNA e o Sistema Motor
Somático (SMS) refere-se a como os neurônios dos dois sistemas atuam sobre os
órgãos alvos. Enquanto o SNA atua de maneira involuntária, ou seja, não necessita
de comandos diretos do SNC para efetuar suas tarefas, o SMS executa movimentos
voluntários sob o comando planejado do SNC. Além disso, há diferenças sobre a
morfologia e localização dos neurônios somáticos e autonômicos.

Os corpos celulares dos neurônios motores (Imagem 3) emergem do SNC e se


caracterizam por serem longos e transmitirem os impulsos nervosos sem que
ocorram sinapses pós-ganglionares, transmitindo os impulsos do SNC, de
característica voluntária, por meio de um único neurônio (neurônios somáticos ou
motores) (FOX, 2007; SILVERTHORN, 2017; TORTORA, 2016).

24
Imagem 3 - Exemplos de neurônios somáticos e autonômicos

Fonte: FOX, 2007.

No entanto, as diferenças entre os dois sistemas vão além dos aspectos


morfológicos, como apresentado na imagem 4.

25
Imagem 4 - Efeitos desencadeados pelos sistemas motor e autonômico.

Sistema
nervoso Sistema nervoso autônomo
somático

Músculo Músculo liso, músculo cardíaco e


Efetor
esquelético glândulas

Controla todos
os movimentos
Regulação inconsciente, embora
conscientes e
Regulação seja influenciado por funções
inconscientes,
mentais conscientes
dos músculos
esqueléticos

Contração dos
Resposta à Os tecidos-alvo são inibidos ou
músculos
estimulação estimulados
esqueléticos

Existem dois neurônios dispostos


Um neurônio
em série; o neurônio pré-
estende-se do
ganglionar estende-se do SNC ao
Organização sistema nervoso
gânglio autônomo, e o neurônio
neuronal central (SNC) ao
pós-ganglionar estende-se do
músculo
gânglio autônomo aos órgãos
esquelético
efetores

Localização do Os corpos Os corpos celulares dos


corpo celular do celulares dos neurônios pré-ganglionares estão
neurônio neurônios estão em núcleos autônomos de
em núcleos nervos cranianos e no corno
motores dos lateral da medula espinal; os
nervos corpos celulares dos neurônios
cranianos e no pós-ganglionares estão nos
gânglios autônomos

26
corno ventral da
medula espinal

Uma sinapse
entre o
Duas sinapses; a primeira, no
Número de neurônio motor
gânglio autônomo, e a segunda,
sinapses somático e o
junto ao tecido-alvo
músculo
esquelético

Axônios pré-ganglionares
Bainhas axonais Mielinizadas mielinizados; axônios pós-
ganglionares não mielinizados

Neurônios pré-ganglionares
liberam acetilcolina; neurônios
Neurotransmissor Acetilcolina
pós-ganglionares liberam
acetilcolina ou noradrenalina

No gânglio autônomo, os
receptores para acetilcolina são
Os receptores
nicotínicos; nos tecidos-alvo, os
para acetilcolina
Receptores receptores para acetilcolina são
são do tipo
muscarínicos, enquanto os
nicotínico
receptores para noradrenalina
são α ou β-adrenérgicos

Fonte: FOX, 2007.

27
Sistema Nervoso Autônomo
Parassimpático e Simpático

O interessante é que os sistemas simpático e


parassimpático promovem efeitos antagônicos, ou
seja, em um mesmo tecido (órgão-alvo) enquanto o
sistema parassimpático diminui a atividade local, o
sistema simpático induz efeito oposto. O aumento ou
redução das respostas do sistema autônomo sobre
os tecidos depende diretamente do tipo do tecido e
do neurotransmissor que será liberado junto ao
órgão-alvo.

No entanto, é preciso deixar claro que nem sempre o sistema parassimpático irá
promover o aumento das atividades junto ao órgão efetor, assim como o
parassimpático induzindo a redução das atividades, há exceções em ambas as
situações, como demonstrado nas imagens 5 e 6.

28
Imagem 5 - Sistema autonômico: Sistema Parassimpático

Fonte: FOX, 2007.

29
Imagem 6 - Sistema autonômico: Sistema Parassimpático

Fonte: FOX, 2007.

30
Infelizmente, quando algumas pessoas sofrem acidentes acabam
lesionando a região medular a tal ponto que podem perder a
comunicação entre o SNC e a periferia. Em outras palavras, perdem a
capacidade volitiva dos movimentos, como, por exemplo, andar, correr,
segurar um objeto. Pesquisas desenvolvidas nessa área demonstram
resultados muito promissores, em que pacientes que haviam perdido o
controle motor começam a recuperar os movimentos motores.

A prática de massagens remonta a milhares de anos, e essa prática é


fundamentada em muitos aspectos fisiológicos compreendidos pela
sociedade moderna. Sabe-se que a compressão de nervos que
emergem da região lombossacral promovem uma efetiva liberação de
substâncias opioides, que causam sensação de prazer e bem-estar.

31
Algumas pessoas sofrem de dores que têm como ponto de origem
nervos que emergem da medula espinal. O relato de pacientes que
possuem hérnias discais (discos presentes entre as vértebras) é de
dores constantes que têm como sintomas clínicos dor que irradia pelos
membros inferiores ou superiores, que depende do local do surgimento
das hérnias. A dor ocorre devido ao abaulamento do disco, ou até
mesmo pelo extravasamento de seu conteúdo para o canal medular,
promovendo a compressão de nervos que passam pela região,
resultando em dores severas!

32
04

Comunicação Sistema
Nervoso: Sinapses
33
Neurônios e Células de
Sustentação
Apesar do alto grau de complexidade, o SNC é composto apenas por dois tipos
celulares, os neurônios e as células de sustentação (neuróglia). Os neurônios são
altamente especializados em responder a estímulos químicos e físicos, sinais os
quais nos permitem sentir e interpretar o mundo que nos rodeia, por meio de
diversos tipos de estímulos. Além disso, a comunicação entre os neurônios recebe
o nome de sinapse, e essa comunicação ocorre ou por liberação de
neurotransmissores (sinais químicos) ou por estímulos elétricos (FOX, 2007).

Já as células de sustentação (imagem 2) auxiliam as funções desempenhadas pelos


neurônios e apresentam uma população cerca de 5 vezes maior do que a dos
neurônios. As células de sustentação, apesar de apresentarem diferenças
significativas entre si, recebem o nome de células gliais (glia significa “cola”) e têm
como principal função promover a sustentação dos neurônios, porém, elas
também participam nos processos sinápticos (SILVERTHORN, 2017; FOX, 2007).

34
Imagem 2 - Células Gliais e Neurônios

Fonte: TORTORA, 2016.

Tipos de Neurônios
Os neurônios apresentam grande diversidade morfológica, especialmente em
relação às diferentes regiões encefálicas que apresentam funções distintas entre si,
porém, com grande conectividade. Os neurônios podem ser classificados da
seguinte maneira (TORTORA, 2016):

1. Neurônios multipolares: apresentam grande quantidade de dendritos e um


axônio, presentes principalmente na região encefálica e na medula espinal,

35
assim como os neurônios motores (imagem 3A).‍
2. Neurônios bipolares: apresentam morfologia mais simples, compostos por
um axônio e um dendrito principal (imagem 3B).‍
3. Neurônios unipolares: apresentam dendritos e axônios que se fundem para
formar um prolongamento contínuo que emerge do corpo celular (imagem
3C).

Na imagem 3 é possível observar as diferenças morfológicas dos 3 tipos de células


neuronais.

Imagem 3 - Os diferentes tipos de neurônios

Fonte: TORTORA, 2016.

Sinapses
A comunicação entre as células nervosas, mais especificamente os neurônios,
ocorrem por meio das sinapses (químicas e elétricas), as quais conduzem
informações, participam no processo de memórias, sentimentos, respostas
motoras, processamento de informações sensoriais e elaboração de tarefas
cognitivas e motoras de alta complexidade (TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017).

Para que as sinapses ocorram é necessário que as células neuronais saiam do


estado de repouso (potencial de membrana negativo), que geralmente gira em
torno de -70 mV. Portanto, para que o potencial de membrana se torne menos

36
negativo e então, ocorra a criação de um potencial de ação (PA), é necessário que o
neurônio receba um estímulo despolarizante e então, o PA inicie a propagação do
sinal para outros neurônios até que o estímulo chegue a seu destino (órgão-alvo).

Caso o PA seja despolarizante, ou seja, tenha


estímulo suficiente para estimular a criação de um
estímulo que torne o neurônio menos negativo,
ocorre a abertura de canais de sódio (Na+)
dependentes de voltagem, aumenta o influxo deste
íon para o interior dos neurônios tornando-os cada
vez mais positivos.

Após os neurônios atingirem o platô de influxo de Na+, cerca de +30 mV, os canais
de Na+ começam a se fechar e ocorre a abertura dos canais de K+, tornando os
neurônios negativos, promovendo o retorno do potencial de membrana a valores
de repouso (-70 mV).

O retorno do potencial de membrana dos neurônios aos valores de repouso


chama-se repolarização, enquanto a criação do potencial de ação, evento que tira o
neurônio de seu estado de repouso, chama-se despolarização (TORTORA, 2016;
SILVERTHORN, 2017).

A imagem a seguir (imagem 4) apresenta o resumo dos eventos apresentados:

37
Imagem 4 - Eventos de um potencial de ação

Fonte: SILVERTHON, 2017.

Por mais estranho que pareça, nosso corpo utiliza eletricidade para se
comunicar! Sim, isso pode ser visto em diferentes tipos celulares, como,
por exemplo, entre os neurônios. As sinapses são o tipo de linguagem
utilizado pelos neurônios para criarem ações voluntárias, promoverem
reações a estímulos sensoriais recebidas do meio ambiente, enfim,
capacitar os seres humanos a interagir e compreender o mundo que
nos rodeia.

38
Os neurônios estão presentes não somente no SNC, mas também em
locais específicos, como, por exemplo, nas extremidades dos dedos e na
pele! Uma maneira interessante e simples de testar os neurônios
sensitivos é expor as extremidades dos dedos a diferentes
temperaturas (frio, calor), texturas e substâncias (aquosas, gelatinosas,
ásperas) e não permitir que a pessoa visualize o que está tocando, e ao
mesmo tempo questionar sobre o que ela está tocando.

Para que um potencial de ação seja criado é necessário uma série de


eventos que incluem o estímulo despolarizante e a oferta suficiente de
íons que participam do processo de despolarização e repolarização.
Nesse sentido, o aumento ou a diminuição da oferta de Na⁺ ou K⁺,
podem alterar a sensibilidade nos processos de despolarização e
repolarização, modulando os valores das voltagens necessárias para
criação dos potenciais de ação.

39
05

Tecido Muscular
Esquelético
40
Tipos de tecido muscular
O organismo humano é formado por quatro tipos principais de tecido muscular
(imagem 2):

a. tecido muscular;
b. tecido nervoso;
c. tecido epitelial;
d. tecido conjuntivo.

Salientando que esta aula terá foco nas características fisiológicas do tecido
muscular estriado e cardíaco, o músculo liso será abordado nas aulas sobre o
sistema circulatório.

Imagem 2 - Tipos de tecidos presentes no organismo humano

Fonte: SEELEY, 2016.

Esses tecidos diferem tanto em morfologia, histologia quanto em relação a


aspectos contráteis. Por exemplo, os músculos esqueléticos (estriado e cardíaco)
apresentam como característica principal serem inseridos no tecido ósseo, por
meio de cartilagens e tecido conjuntivo, enquanto os músculos lisos são
encontrados revestindo os órgãos e vasos sanguíneos.

Os tecidos que constituem o coração e os músculos são classificados como


estriados devido à presença de estrias em sua estrutura (filamentos grossos e finos
de miosina e actina), apresentando cores claras e escuras. Já o músculo liso
apresenta como principal função induzir a movimentação dos conteúdos de dentro
para fora do corpo, como observado no sistema digestório (SILVERTHORN, 2017).

41
Em relação ao tecido muscular estriado, tanto as fibras cardíacas quanto as
musculares estriadas esqueléticas apresentam características histológicas muito
semelhantes, principalmente sobre os componentes celulares que as constituem.

Em relação ao processo de acoplamento e relaxamento das fibras musculares, o


processo se assemelha bastante, diferindo apenas sobre alguns aspectos
bioquímicos. Em relação à morfologia externa, as fibras cardíacas apresentam
núcleo centralizado e a presença das junções comunicantes que auxiliam na
propagação das ondas de despolarização do coração, como um sincício.

Já as miofibrilas apresentam vários núcleos que se localizam perifericamente e, não


há a presença de junções comunicantes (STANFIELD, 2013; TORTORA, 2016;
SILVERTHORN, 2017). As miofibrilas apresentam núcleos dispostos na periferia das
fibras e ausência das junções comunicantes (Figura 1) (STANFIELD, 2013;
SILVERTHORN, 2017). Além disso, a constituição desse tecido apresenta mais
detalhes importantes:

O tecido muscular esquelético é constituído por fibras musculares,


envoltas pelo sarcolema, uma membrana de tecido conjuntivo
denominada, e o citoplasma dessas células recebe o nome de
sarcoplasma. Cada fibra muscular é revestida por tecido conectivo,
assim como suas fibras adjacentes, originando os fascículos
musculares, e entre os fascículos, são encontrados os nervos, vasos,
fibras colágenas e elásticas (SILVERTHORN, 2017, p. 371).

Na região do mioplasma do tecido muscular, há grande volume de estruturas


denominadas retículos sarcoplasmáticos (RS) que envolvem as miofibrilas
musculares, e se caracterizam por serem grandes tubos longitudinais responsáveis
pelo armazenamento e liberação de íons de cálcio por meio das cisternas
terminais.

As cisternas, por sua vez, têm como função sequestrar o cálcio citosólico e liberar
quando necessário (e.g. processo de contração e relaxamento muscular).
Acoplados aos RS, os túbulos transversais (Túbulos T) se direcionam ao sarcolema e
ao mioplasma, promovendo a comunicação do meio interno com o externo
(imagem 3) (STANFIELD, 2013; TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017).

42
Imagem 3 - Tecido muscular esquelético

Fonte: TORTORA, 2016.

Na imagem 4 é possível observar as diferenças histológicas quando comparados os


tecidos que constituem o coração e o músculo esquelético.

Imagem 4 - Tecido muscular cardíaco

Fonte: TORTORA, 2016.

Como citado anteriormente, os tecidos musculares apresentam similaridades e


diferenças tanto histológicas quanto estruturais, que são apresentadas na imagem
5.

43
Imagem 5 - Características dos tecidos musculares

Você sabia que o coração é o único órgão que não depende do SNC
para efetuar suas atividades? Pois é, as fibras cardíacas são
autoexcitáveis, ou seja, uma pequena porcentagem das fibras cardíacas
possui a capacidade de gerar potenciais de ação e estimular as fibras
cardíacas a se contraírem.

44
A cena de um coração se contraindo fora do tórax de uma pessoa
promoveu grande sucesso em “Indiana Jones e o Tempo de Perdição”,
filme clássico dos anos 1980. Na cena, o sacerdote de uma tribo realiza
o sacrifício humano e apresenta o coração aos demais integrantes como
forma de oferenda aos deuses. Mas como isso é possível? O coração
ainda continuou a se contrair devido aos estímulos despolarizantes
deflagrados pelas células marcapasso do coração, mais especificamente
o nodo sinoatrial.

O coração apresenta o mecanismo de acoplamento e relaxamento das


pontes cruzadas semelhantes ao tecido muscular esquelético. Nesse
sentido, para que um potencial de ação seja criado é necessário uma
série de eventos que incluem o estímulo despolarizante e a oferta
suficiente de íons que participam do processo de despolarização e
repolarização. Por isso, o aumento ou a diminuição da oferta de Na⁺ ou
K⁺, podem alterar a sensibilidade nos processos de despolarização e
repolarização, modulando os valores das voltagens necessárias para
criação dos potenciais de ação.

45
06

Tecido Muscular
Esquelético - Controle
Neuromotor
46
Tipos de movimentos musculares
Os seres humanos apresentam três tipos padrões de movimento muscular:
movimentos reflexos, voluntários e rítmicos. Os movimentos reflexos (imagem 2)
caracterizam-se por apresentar menor complexidade em comparação com os
demais padrões de movimento, em que os movimentos são integrados na região
medular. No entanto, mesmo que a maioria dos movimentos reflexos seja
modulado em nível modular pode sofrer referências de centros superiores
(SILVERTHORN, 2017).

Os movimentos reflexos recebem grande influência de aferências sensoriais (sinais


de entrada), como, por exemplo, a ação dos fusos musculares e os órgãos
tendinosos de Golgi (OTG), e então, os sinais são encaminhados para o encéfalo e
participam do processo de coordenação dos movimentos voluntários e reflexos
posturais, que participam na manutenção da postura corporal em atividade
estática ou em movimento.

Imagem 2

Fonte: TORTORA, 2016.

A integração dos sinais ocorre ao nível do tronco encefálico (imagem 4), local onde
sinais sensoriais oriundos do meio ambiente e endógenos se integram (visão, tato,
região vestibular, músculos). Em relação aos músculos, os OTGs, receptores
musculares e articulares fornecem informações sobre a propriocepção muscular,
como o corpo se coordena e em que posição se comporta em relação ao ambiente,
detalhes importantes para os centros superiores (córtex motor, cerebelo)
(SILVERTHORN, 2017; FOX, 2007).

47
Os sinais enviados pelo sistema vestibular e pela visão permitem que sejamos
capazes de manter nossa posição em relação ao espaço:

Por exemplo, usamos o horizonte para nossa orientação espacial em


relação ao chão. Na ausência de pistas visuais, contamos com as
informações táteis. As pessoas que tentam se movimentar em uma
sala escura instintivamente buscam a parede ou algum móvel que as
ajudem a se orientar. Sem as pistas visuais ou táteis, as nossas
habilidades de orientação podem falhar. A falta dessas informações é
o que faz os aviões não poderem ser pilotados sem instrumentos
quando há neblina ou muitas nuvens (SILVERTHORN, 2017, p. 427).

48
Imagem 2 - Características dos movimentos musculares

Controle neural do movimento

Recebe
Envia eferência
Função aferência
integrativa para
de

Tronco encefálico,
Reflexos espinais; Receptores
Medula cerebelo,
geradores de padrão sensoriais e
espinal tálamo/córtex
locomotor do encéfalo
cerebral

Cerebelo,
receptores
Tronco Postura, movimentos
sensoriais Medula espinal
encefálico das mãos e dos olhos
visuais e
vestibulares

Tronco encefálico,
Áreas medula espinal
Planejamento e
motoras (trato
coordenação de Tálamo
do córtex corticospinal),
movimento complexo
cerebral cerebelo, núcleos
da base

Medula
Monitora a sinalização espinal Tronco encefálico,
eferente de áreas (sensorial), córtex cerebral
Cerebelo
motoras e ajusta os córtex (Nota: Todo débilo
movimentos cerebral é inibidor)
(comandos)

Tálamo Contém núcleos de Núcleos da Córtex cerebral


retransmissão que base,
modulam e passam cerebelo,

49
mensagens para o medula
córtex cerebral espinal

Núcleos Córtex Córtex cerebral,


Planejamento motor
da base cerebral tronco encefálico

Fonte: SILVERTHORN, 2017.

Os movimentos voluntários apresentam padrões diferentes em relação aos demais


padrões (imagem 3), de acordo com a sua nomenclatura, e apresentam o maior
grau de complexidade dentre os padrões de movimentos musculares. Para que os
movimentos voluntários sejam realizados há a necessidade do envolvimento de
diferentes áreas encefálicas até que o envio das informações chegue ao destino
(tecido muscular - órgão efetor) de maneira correta. Dentre as regiões cerebrais
envolvidas no processo voluntário do movimento, podemos citar o córtex cerebral,
o cerebelo e o tronco encefálico (STANFIELD, 2013; TORTORA, 2016; SILVERTHORN,
2017).

Erroneamente propagado pelas mídias, o termo “memória muscular” não se refere


a nenhum tipo de armazenamento de memória no tecido muscular e, sim, em
centros superiores envolvidos no processo de aprendizagem motora. Isso pode ser
observado em momentos iniciais da prática de algum movimento, esporte ou
atividade lúdica, como, por exemplo, andar de bicicleta. Nas primeiras tentativas
parece ser impossível coordenar tantas tarefas motoras ao mesmo tempo e ainda
se equilibrar. Porém, com a prática, o aprendizado motor ocorre pela ação do
encéfalo inconsciente de reproduzir posições e movimentos voluntários aprendidos
(STANFIELD, 2013; TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017).

50
Imagem 3 - Sistematização da formação de um movimento voluntário

Fonte: SILVERTHORN, 2017.

A imagem 4 a seguir demonstra a grande complexidade a que o SNC é submetido


por meio da chegada de diversos sinais sensoriais e respostas endógenas. Um
exemplo muito utilizado para explicar os eventos presentes na modulação do
controle neuromotor é a de atletas frente a momentos que devem tomar decisões:

Com o auxílio dos estímulos visuais e somatossensoriais chegando às


áreas sensoriais do córtex, ele está ciente de sua posição corporal à
medida que se estabiliza para o arremesso (1). A decisão sobre qual
tipo de arremesso e a antecipação das consequências ocupa muitas
vias no seu córtex pré-frontal e nas áreas associativas (2). Essas vias
formam alças, passando pelos núcleos da base e pelo tálamo para
modulação antes de retornarem ao córtex. Uma vez que o
arremessador toma a decisão de lançar uma bola rápida, o córtex
motor encarrega-se de organizar a execução desse movimento
complexo. Para iniciar o movimento, a informação descendente é
transportada das áreas associativas motoras e do córtex motor para o
tronco encefálico, a medula espinal e o cerebelo (3 - 4). O cerebelo
ajuda a fazer ajustes posturais, integrando a retroalimentação vinda
de receptores sensoriais periféricos. Os núcleos da base, que auxiliam

51
as áreas do córtex motor no planejamento do arremesso, também
fornecem informações ao tronco encefálico sobre postura, equilíbrio e
deslocamento (5) (SILVERTHORN, 2017, p. 429).

Imagem 4

Fonte: SILVERTHORN, 2017.

A infância é um período muito importante para a aquisição de


habilidades motoras e habilidades específicas que irão refletir na
qualidade de vida durante a fase adulta e do envelhecimento. Nesse
sentido, o estímulo das valências motoras durante esse período é
fundamental para que o indivíduo se desenvolva de maneira adequada
e tenha uma vida saudável durante a vida.

52
Uma maneira simples e prática de testar toda a interação sensorial com
o processo de coordenação motora realizada pelo sistema nervoso
central é por meio de atividades que demandem deslocamentos frontal,
lateral e por meio de comando de voz. O avaliado fica extremamente
atento e ansioso pelo estímulo verbal, e ao escutar o comando, leva
alguns segundos para tomar a decisão e então executar a tarefa
motora.

53
Diabetes: neuropatia autonômica: As disfunções primárias do
sistema nervoso autônomo são raras, mas a condição secundária,
chamada de neuropatia autonômica diabética, é bastante comum. Essa
complicação do diabetes geralmente inicia como uma neuropatia
sensorial, com formigamento e perda da sensibilidade das mãos e dos
pés. Em alguns pacientes, a dor é o sintoma primário. Cerca de 30% dos
pacientes diabéticos desenvolvem neuropatias autonômicas, que se
manifestam por disfunções dos sistemas circulatório, digestório,
urinário e genital (frequência cardíaca anormal, constipação,
incontinência, impotência). A causa da neuropatia diabética ainda não
está clara. Os pacientes com níveis glicêmicos cronicamente elevados
estão mais propensos a desenvolver neuropatias, porém, a via
metabólica envolvida ainda não foi identificada. Outros fatores que
contribuem para a neuropatia incluem estresse oxidativo e reações
autoimunes. Atualmente, não há cura para a neuropatia diabética e a
única forma de prevenção é o controle dos níveis glicêmicos. O único
recurso para os pacientes é o uso de fármacos que controlam os
sintomas (SILVERTHORN, 2017).

54
07

Sistema Circulatório I

55
O Sistema Circulatório
O Sistema Circulatório é composto pelo coração, sangue e os vasos sanguíneos,
configurando um sistema fechado com uma bomba propulsora central, que
permite que o sangue e seus elementos figurados circulem por todo o organismo,
nutrindo os tecidos, transportando substâncias e removendo metabólicos
celulares.

Para que se tenha ideia da magnitude desse sistema, o sangue deve ser bombeado
continuamente pelo coração cerca de cem mil vezes ao dia, resultando em 35
milhões de contrações em 1 ano e aproximadamente 2,5 bilhões de vezes ao longo
da vida (TORTORA, 2016). Isso significa que o coração de um adulto saudável com
cerca de 70 kg bombeia em torno de 7200 litros de sangue ao dia, 5 litros por
minuto, ou seja, a quantidade de sangue média total de um indivíduo adulto. E,
quando nos exercitamos, qual a magnitude de bombeamento sanguíneo? Durante
a realização de exercícios vigorosos o volume de sangue bombeado aumenta de
maneira impressionante, cerca de 7x a mais do que o observado em repouso!

Nesta aula, vamos iniciar os estudos sobre o sistema cardiovascular abordando as


funções dos vasos e da circulação sanguínea. O sistema circulatório é primordial
para que seja obtida e mantida a homeostase fisiológica, devido ao transporte e
distribuição de sangue por todo o organismo com o intuito do fornecimento de
oxigênio, transporte de hormônios e nutrientes (TORTORA, 2016).

Todo esse aporte ocorre graças aos vasos sanguíneos que constituem o sistema
fechado de tubos que leva o sangue para todo o sistema a partir do coração,
permitindo que o sangue seja ofertado a todos os tecidos do corpo e, em seguida,
retornando ao lado direito do coração. Enquanto isso as câmaras cardíacas
esquerdas ejetam o sangue para uma distância aproximada de 100.000 km de
vasos. Já o lado direito do coração ejeta o sangue em direção aos pulmões,
permitindo que o sangue receba oxigênio e libere dióxido de carbono (TORTORA,
2016; SILVERTHORN, 2017). O sistema circulatório é representado na imagem 2, a
seguir.

56
Imagem 2

Fonte: Disponível aqui

Em relação aos vasos sanguíneos, apresentamos cinco tipos distintos: as artérias,


arteríolas, os capilares, as vênulas e as veias (imagem 2). As artérias conduzem o
sangue que sai do coração para todo o corpo (tecidos e órgãos), e se caracterizam
por serem de maiores calibres e mais elásticas quando situadas próximas ao
coração e, ao passo que se ramificam e se distanciam do coração, esse calibre se
reduz, caracterizando-se em artérias de médio porte.

As artérias de médio porte se ramificam em pequenas artérias que, por sua vez,
também se ramificam em artérias menores, denominadas arteríolas, enquanto
estas irrigam os tecidos e seu diâmetro diminui ainda mais. E quando as arteríolas
entram em contato com o tecido elas originam vasos minúsculos conhecidos como
capilares, que por meio de suas finas paredes permitem as trocas entre as células
teciduais e o sangue (TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017; FOX, 2007).

No parágrafo anterior descrevemos o caminho que o sangue percorre partindo do


lado esquerdo do coração em direção a todo o sistema, no entanto, o caminho
oposto que se refere ao retorno do sangue ao lado direito do coração é realizado
pelas veias. Dessa maneira, os capilares teciduais se unem, resultando na formação
de pequenas veias denominadas vênulas. As vênulas se fundem resultando em

57
vasos sanguíneos maiores denominados veias que, por sua vez, são os vasos que
conduzem o sangue dos tecidos de volta ao lado direito do coração (retorno
venoso) (TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017; FOX, 2007).

Artérias
A nomenclatura das artérias é resultante da sua descoberta no momento da morte,
e acreditou-se que ela continha apenas ar, por isso, o nome dado a esse tipo de
vaso. As paredes das artérias são constituídas por uma espessa camada de túnica
média muscular e elástica (imagem 3). Devido à presença dessas fibras elásticas, as
artérias apresentam grande complacência, capacitando que essas paredes se
estiquem ou expandam facilmente sem que haja danos aos vasos quando ocorrem
aumentos da pressão arterial.

58
Imagem 3

Fonte: FOX, 2007.

59
As artérias elásticas (imagem 4) são as maiores artérias do corpo humano, variando
de tamanho comparando-as a uma mangueira de jardim (tronco pulmonar) ao
tamanho dos dedos de uma mão (ramos da artéria aorta).

As artérias elásticas desempenham uma função importante: ajudam a


impulsionar o sangue no sentido anterógrado enquanto os ventrículos
estão relaxados. Conforme o sangue é ejetado do coração para as
artérias elásticas, suas paredes se distendem, acomodando facilmente
o pulso de sangue. Quando elas se esticam, as fibras elásticas
momentaneamente armazenam energia mecânica, funcionando como
um reservatório de pressão. Em seguida, as fibras elásticas recuam e
convertem a energia armazenada (potencial) no vaso em energia
cinética do sangue. Assim, o sangue continua se movendo ao longo
das artérias, mesmo quando os ventrículos estão relaxados. Como
conduzem sangue do coração para as artérias médias, mais
musculosas, as artérias elásticas são também chamadas artérias
condutoras (TORTORA, 2016, p. 738).

60
Imagem 4

Fonte: FOX, 2007.

61
Veias varicosas, flebite e gangrena: As veias dos membros inferiores
estão sujeitas a certos distúrbios vasculares. As veias varicosas ocorrem
quando as veias das pernas são estiradas a ponto de suas válvulas se
tornarem incompetentes. Em função do estiramento das paredes das
veias, as abas das válvulas ficam incapazes de se sobrepor e ocluir a
passagem do sangue no sentido reverso. Como consequência, a
pressão venosa nos membros é superior à normal, resultando em
edema. O sangue fica estagnado a ponto de se formarem coágulos. Essa
condição pode resultar em flebite, que é uma inflamação das veias.
Caso a inflamação se torne mais intensa e em grande área venosa, pode
desencadear a gangrena, uma morte tecidual ocasionada pela
diminuição ou perda do suprimento sanguíneo (SEELEY, 2016, p. 714).

A arteriosclerose é uma das mudanças degenerativas que tornam o


vaso menos elástico. Ela ocorre em muitos indivíduos e torna-se mais
grave com o avanço da idade. A arteriosclerose aumenta muito a
resistência ao fluxo sanguíneo. Como resultado, nos estágios avançados
dessa condição, há uma redução na circulação de sangue pelo
organismo e um aumento exagerado no trabalho cardíaco (SEELEY,
2016, p. 715).

62
A inflamação do pericárdio é chamada pericardite. O tipo mais comum,
a pericardite aguda, começa repentinamente e não tem causa
conhecida na maior parte dos casos, mas, às vezes, está ligada a uma
infecção viral. Como resultado da irritação ao pericárdio, há dor torácica
que pode se irradiar para o ombro esquerdo e pelo braço esquerdo
(muitas vezes confundida com um infarto agudo do miocárdio) e atrito
pericárdico (um som de arranhado ou rangido auscultado por meio do
estetoscópio quando a lâmina visceral do pericárdio seroso atrita contra
a lâmina parietal do pericárdio seroso) (TORTORA, 2016, p. 696).

63
08

Sistema Circulatório II

64
Coração: Sistema de Condução
O coração apresenta atividade rítmica compassada e determinada por um tipo de
fibras cardíacas denominadas células marcapasso (1% das fibras cardíacas). Essas
fibras autorrítmicas são autoexcitáveis e criam potenciais de ação que promovem a
despolarização das fibras cardíacas. Esse processo de auto excitação é tão eficiente
que mesmo quando essas células são removidas do sistema (corpo) continuam a se
contrair, como por exemplo, as contrações que o coração realiza mesmo após sua
remoção da caixa torácica durante um transplante cardíaco (TORTORA, 2016).

Imagem 1 - O Coração

Fonte: TORTORA, 2016.

As fibras musculares cardíacas, mais especificamente os discos intercalares e as


fibras cardíacas (imagem 2), tem como funções principais atuar como marcapasso,
ditando o ritmo de contração do coração, e atuando como o sistema de condução.
As células cardíacas funcionam como uma rede de fibras musculares especializadas
que se assemelham a vias que conduzem os ciclos de excitação cardíaca. Esse
processo permite que as câmaras se contraiam de maneira coordenada e eficaz.
No entanto, o descompasso dessas fibras pode resultar em arritmias, aumentando
ou reduzindo as contrações (TORTORA, 2016; FOX, 2997; SILVERTHORN, 2017).

65
Imagem 2 - As fibras cardíacas

Fonte: TORTORA, 2016.

Mas como ocorre a criação do potencial de ação que resulta na sístole (contração) e
diástole (relaxamento) do coração? Bom, tudo se inicia com a criação do potencial
despolarizantes pelo nodo (ou nó) sinoatrial, localizado no átrio direito, seguido por
uma série de eventos a serem apresentados a seguir, em cinco passos sequenciais
(TORTORA, 2016; FOX, 2997; SILVERTHORN, 2017), resumidos na imagem 3:

O estímulo despolarizante se inicia no nodo sinoatrial


(SA), localizado na parede atrial direita, se despolarizam
repetida e espontaneamente até atingirem um limiar. A

1
despolarização espontânea é um potencial
marcapasso, onde, quando o potencial marcapasso
alcança seu limiar dispara um potencial de ação (PA).
Cada PA do nodo SA se propaga pelos átrios por meio
das junções comunicantes nos discos intercalares das
fibras musculares atriais, e em seguida, os dois átrios
se contraem ao mesmo tempo.

66
Em seguida, o PA é conduzido ao longo das fibras

2
musculares atriais alcançando o nodo atrioventricular
(AV - septo interatrial), logo após a abertura do seio
coronário. No nodo AV, o PA perde velocidade,
resultando em atraso e fornecendo tempo hábil para
que os átrios drenem o sangue para os ventrículos.

3
A partir do nodo AV, o PA alcança fascículo
atrioventricular (AV) (feixe de His), local específico para
que os PAs possam ser conduzidos dos átrios para os
ventrículos.

4
Após a propagação do PA na região do AV, o PA
estimula os ramos direito e esquerdo, os quais, se
estendem ao longo do septo interventricular em
direção ao ápice do coração.

Por fim, os ramos subendocárdicos calibrosos, as fibras

5
de Purkinje, conduzem rapidamente o PA, iniciando o
processo no ápice do coração e subindo em direção ao
miocárdio ventricular, resultando em contração dos
ventrículos, ejetando o sangue em direção às válvulas
semilunares.

67
Imagem 3 - Despolarização e Repolarização das fibras cardíacas

Fonte: TORTORA, 2016.

O resumo dos eventos de condução do PA cardíaco está descrito na imagem 4.

68
Imagem 4 - Condução de estímulos elétricos pelo coração

Fonte: TORTORA, 2016.

O interessante é que os eventos elétricos do coração são mensuráveis, ou seja, o


processo de contração e relaxamento que é resultante da criação de estímulos
elétricos pelas células marcapasso podem ser monitorados por meio do
eletrocardiograma (ECG). O ECG (imagem 5) consiste em amplificar os sinais
elétricos que o coração produz, resultando em 12 traçados distintos, que são
obtidos por meio de eletrodos que são aderidos a diferentes regiões do tórax em
relação à posição do coração.

69
Por meio do ECG é possível determinar se a via
condutora está normal; se o coração está dilatado; se
há danos em regiões do coração e se há presença de
dores torácicas.

E como interpretar os resultados do ECG? O exame resulta na produção de três


ondas reconhecíveis que surgem a cada batimento cardíaco, ondas P, Q, R, S e T:

A primeira, chamada onda P, é um pequeno desvio para cima no ECG.


A onda P representa a despolarização atrial, que se propaga do nó SA
ao longo das fibras contráteis em ambos os átrios. A segunda onda,
denominada complexo QRS, começa com uma deflexão para baixo,
continua como uma grande onda vertical triangular, e termina como
uma onda descendente. O complexo QRS representa a despolarização
ventricular rápida, conforme o potencial de ação se propaga ao longo
das fibras contráteis ventriculares. A terceira onda é um desvio para
cima em forma de cúpula chamada de onda T. Indica a repolarização
ventricular e ocorre apenas quando os ventrículos começam a relaxar.
A onda T é menor e mais larga do que o complexo QRS, porque a
repolarização ocorre mais lentamente do que a despolarização.
(TORTORA, 2016, pg. 711).

70
Imagem 5 - Traçado de um ECG

Fonte: TORTORA, 2016.

Controle da Pressão Arterial e do


Débito Cardíaco
De acordo com o que foi apresentado no conteúdo dessa aula, o coração é auto
excitável, sendo capaz de se auto estimular. Dessa maneira, pode-se concluir que
ele não necessita de outros sistemas para que consiga se contrair e bombear
sangue suficiente para todo o sistema, correto? Em partes, sim, porém, a demanda

71
metabólica (aumento ou diminuição da oferta de sangue aos tecidos) sofre
influência direta de estímulos sensoriais e motores, como o estresse e a prática de
exercícios, por exemplo. Dessa maneira, o sistema autônomo e hormônios também
fazem parte do controle da frequência cardíaca (FC) e da pressão arterial (PA).

E tais influências determinam diretamente o volume do débito cardíaco (DC), que é


a quantidade de sangue ejetado no sistema pelo ventrículo esquerdo (VE) a cada
minuto. O DC é obtido pelo volume sistólico (VS - quantidade de sangue ejetado
pelo VE a cada ciclo cardíaco) multiplicado pela frequência cardíaca (FC -
batimentos do coração por minuto), conforme fórmula a seguir (TORTORA, 2016;
SILVERTHORN, 2017; FOX, 2007):

DC (mℓ/min) = VS (mℓ/batimento) × FC (batimentos/min)

Durante a prática de exercícios, o DC chega a


aumentar sete vezes em relação ao estado de
repouso, ou seja, o VE ejeta cerca de 35 litros de
sangue a cada minuto durante a realização de
exercícios (intensidade média). Dessa maneira, é
perceptível que o DC é dependente do VS e da FC,
portanto, ajustes finos na FC são muito importantes
no controle a curto prazo do DC e da PA. Parte desse
controle ocorre por influência do sistema autônomo,
onde a inervação vagal tende a manter a FC em torno
de 100 bpm.

Em uma situação de necessidade de aumento das atividades motoras, como


observado durante a prática de exercícios, o sistema simpático é ativado,
resultando em aumento da FC, aumento do fluxo sanguíneos para os tecidos em
atividade com o objetivo de fornecer nutrientes, oxigênio e remoção de
metabólitos (TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017; FOX, 2007).

Dentre os diversos fatores que participam da regulação cardíaca podemos destacar


a divisão autonômica e os hormônios secretados pelas glândulas suprarrenais
(epinefrina e norepinefrina). As alterações da FC e da PA são monitoradas a todo

72
momento por estruturas denominadas proprioceptores, quimioceptores,
barorreceptores e inferências dos centros superiores encefálicos (Córtex cerebral,
Sistema Límbico e Hipotálamo) (imagem 6).

Imagem 6 - Controle da frequência cardíaca

Fonte: TORTORA, 2016.

Angiogênese é o crescimento de novos vasos sanguíneos. É um


processo importante no desenvolvimento embrionário e fetal, que na
vida pós-natal desempenha funções importantes, como a cicatrização
de feridas, a formação de um novo revestimento no útero após a
menstruação, a formação do corpo lúteo após a ovulação e o
desenvolvimento de vasos sanguíneos em torno de artérias coronárias
obstruídas. Várias proteínas (peptídios) são conhecidas por promover e
inibir a angiogênese (TORTORA, 2016, pg. 736).

73
Na aterosclerose, as paredes das artérias elásticas se tornam menos
complacentes (mais rígidas). Qual efeito a complacência reduzida tem
sobre a função de reservatório de pressão das artérias? (TORTORA,
2016, pg. 737). Com a redução da complacência a pressão que o sangue
exerce sobre o lúmen dos vasos é maior, promovendo aumento da
pressão arterial.

Massagem do seio carótico: Como o seio carótico está próximo da face


anterior do pescoço, é possível estimular os barorreceptores nesse local
por meio de compressão do pescoço. Os médicos às vezes usam a
massagem do seio carótico para reduzir a frequência cardíaca em uma
pessoa com taquicardia paroxística supraventricular, um tipo de
taquicardia que se origina nos átrios. Qualquer coisa que distenda ou
comprima o seio carótico, como a hiperextensão da cabeça, colarinhos
apertados ou o transporte de cargas pesadas sobre o ombro, também
pode desacelerar a frequência cardíaca e causar síncope do seio
carótico, desmaio decorrente da estimulação inadequada dos
barorreceptores do seio carótico (TORTORA, 2016, pg. 753).

74
09

Sistema
Neuroendócrino I
75
Sistema Neuroendócrino
Como o próprio nome sugere, a Neuroendocrinologia estuda a interação entre o
sistema nervoso e as glândulas endócrinas, e ambos atuam juntos para manter em
harmonia os sistemas de nosso organismo. As sinapses são caracterizadas por
impulsos nervosos que resultam na liberação de mediadores químicos,
denominados de neurotransmissores, resultando em alterações das atividades
celulares. Já o sistema endócrino controla as atividades celulares dos tecidos por
meio da liberação de mediadores químicos conhecidos como hormônios
(SILVERTHORN, 2017; TORTORA, 2016).

Um hormônio é uma molécula mediadora liberada em alguma parte


do corpo que regula a atividade celular em outras partes do corpo. A
maioria dos hormônios entra no líquido intersticial e, depois, na
corrente sanguínea. O sangue circulante leva hormônios às células de
todo o corpo. Tanto os neurotransmissores quanto os hormônios
exercem seus efeitos ligando-se a receptores encontrados nas suas
“células-alvo” (TORTORA, 2016, pg. 619).

Enquanto a estimulação e respostas mediadas pelo sistema nervoso (SN) são


rápidas, a atuação do sistema endócrino é mais lenta, porém, mais duradoura,
ampla e atua sobre praticamente todos os tecidos do corpo humano. Apesar das
diferenças, os dois sistemas atuam de maneira integrada e são extremamente
efetivos.

O SN interage com o sistema endócrino por meio da liberação de fatores tróficos


que atuam sobre as glândulas endócrinas (imagem 1), que por sua vez, secretam os
hormônios no líquido intersticial que circundam as células secretoras. A partir do
líquido intersticial, os hormônios se difundem para os capilares sanguíneos,
chegando até o órgão-alvo. Exemplos de glândulas endócrinas são a hipófise,
tireoide, paratireoide, suprarrenais e pineal.

76
Alguns órgãos não são considerados totalmente
órgãos endócrinos, mas possuem células que
secretam hormônios, como por exemplo, hipotálamo,
timo, pâncreas, ovários, testículos, rins, estômago,
fígado, intestino delgado, pele, coração, tecido
adiposo e placenta (SILVERTHORN, 2017; TORTORA,
2016; FOX, 2007).

Imagem 1 - Glândulas endócrinas

Fonte: TORTORA, 2016.

77
A importância dos receptores nas ações
hormonais
Como citado, após sua secreção, os hormônios ganham o líquido intersticial e em
seguida a corrente sanguínea, percorrendo todo nosso organismo. Porém, os
hormônios irão promover mudanças nos tecidos-alvo por meio de ligações
específicas em receptores proteicos de membrana ou nucleares.

A interação entre hormônio e receptor se compara com a relação entre chave e


fechadura, em outras palavras, as células-alvo de um determinado hormônio
possuem receptores que se ligam a apenas a um hormônio específico
(SILVERTHORN, 2017; TORTORA, 2016; FOX, 2007).

“Os receptores, assim como outras proteínas celulares, são


constantemente sintetizados e degradados. Em geral, uma célula-alvo
possui 2.000 a 100.000 receptores para um determinado hormônio. Se
a concentração de um hormônio estiver muito elevada, o número de
receptores na célula-alvo pode diminuir – efeito chamado de
infrarregulação. Por exemplo, quando determinadas células dos
testículos são expostas a uma elevada concentração de hormônio
luteinizante (LH), o número de receptores de LH diminui. A
infrarregulação torna uma célula-alvo menos sensível ao hormônio.
Em contrapartida, quando a concentração de um hormônio é muito
baixa, o número de receptores pode aumentar. Esse fenômeno,
conhecido como suprarregulação, torna uma célula-alvo mais sensível
a um hormônio” (TORTORA, 2016, pg. 621).

Classificação Química dos


Hormônios
Em relação às suas respectivas características químicas, os hormônios podem ser
lipossolúveis e hidrossolúveis, onde os diferentes tipos de hormônios resultam em
efeitos distintos nas células-alvo. Os hormônios lipossolúveis são os esteroidais,
hormônios da tireoide e o óxido nítrico (NO - neurotransmissor). Já os hormônios
esteroidais (esteroides) derivam-se do colesterol, onde cada hormônio esteroide é

78
único em decorrência de diferentes grupos químicos fixados em vários locais nos
quatro anéis no núcleo da sua estrutura, resultando em grandes diferenças em
suas funções. Os hormônios da tireoide (T3 e T4) são derivados de aminoácidos, e
da conexão de iodo ao aminoácido tirosina, e a presença de anéis de benzeno
tornam essa classe de hormônios extremamente lipossolúveis (SILVERTHORN,
2017; TORTORA, 2016; FOX, 2007).

Os hormônios hidrossolúveis caracterizam-se por serem aminados, proteicos e


peptídicos e eicosanoides. A classe de hormônios aminados resulta da
descarboxilação ou modificação de aminoácidos específicos, e recebem esse nome
por apresentarem um grupo amina em sua composição. Exemplos dessa classe
hormonal são a epinefrina, norepinefrina e dopamina.

Em relação aos hormônios peptídicos e proteicos, apresentam como derivação


os aminoácidos, variando sua constituição entre 3 a 49 aminoácidos e os maiores
entre 50 a 200 aminoácidos. Exemplos de hormônios peptídeos são o hormônio
antidiurético e a Ocitocina, e o hormônio do crescimento e a insulina são proteicos.
Já o hormônio tireoestimulante classifica-se como glicoproteico por apresentar
grupos de carboidratos afixados em sua estrutura. Outra classe de hormônios são
os eicosanoides que se derivam do ácido araquidônico, onde os dois principais
hormônios são as prostaglandinas (PG) e os leucotrienos (LT) (SILVERTHORN, 2017;
TORTORA, 2016; FOX, 2007).

Mecanismos de Ação Hormonal


Os mecanismos de ação hormonal dependem diretamente do tipo do hormônio e
de sua célula-alvo, as quais respondem diferentemente ao mesmo hormônio. Um
exemplo dessa resposta hormonal pode ser observado na ação insulínica, onde o
hormônio estimula a síntese de glicogênio nos hepatócitos e a síntese de
triglicerídeos nos adipócitos.

79
Um fator que deve ser ressaltado é que comumente
se espera que a ação hormonal promova o aumento
da atividade celular dos órgãos-alvo, porém, nem
sempre é essa a resposta observada. Alterações na
permeabilidade da membrana plasmática, aumento
na taxa de transporte de substâncias para o meio
interno ou externo celular, velocidade das reações
metabólicas alteradas e estímulos de contrações da
musculatura lisa e/ou cardíaca, são exemplos de
efeitos hormonais (SILVERTHORN, 2017; TORTORA,
2016; FOX, 2007).

Porém, para que todas as ações que foram citadas anteriormente ocorram, é
necessário que ocorra a interação entre o hormônio específico, que se situa nas
membranas plasmáticas dos tecidos ou no interior das células. Os receptores dos
hormônios lipossolúveis localizam-se dentro das células-alvo, e os receptores dos
hormônios hidrossolúveis estão presentes na membrana plasmática das células-
alvo.

Ação dos Hormônios Lipossolúveis


Os hormônios lipossolúveis iniciam suas ações por meio da ligação com receptores
específicos presentes no interior celular, mais especificamente no citosol ou núcleo,
resultando na ativação dos mesmos, formando o complexo hormônio-receptor. Em
resposta, ocorre modificações na expressão gênica, ativando ou desativando genes
específicos do DNA nuclear (imagem 2).

Em resposta ao estímulo transcricional, ocorre a formação de novo RNA


mensageiro, migrando do núcleo e entra na região citosólica, ocorrendo a síntese
(ou não) de nova proteína ou enzima, que ocorre nos ribossomos. As proteínas
resultantes das ações hormonais promovem alterações significativas nas células,
promovendo alterações específicas do hormônio em questão (SILVERTHORN, 2017;
TORTORA, 2016; FOX, 2007).

80
Imagem 2 - Mecanismo de ação dos hormônios lipossolúveis.

Fonte: TORTORA, 2016.

81
Ação dos Hormônios
Hidrossolúveis
Por não apresentarem afinidade com colesterol, os hormônios aminados,
peptídicos, proteicos e eicosanoides não conseguem transpassar a barreira da
bicamada lipídica das membranas plasmáticas e se ligar ao receptor específico no
interior das células-alvo. Dessa maneira, os hormônios hidrossolúveis se ligam em
receptores localizados na superfície do órgão-alvo, chamados de proteínas
transmembrana integrantes, atuando como primeiro mensageiro no processo de
atuação hormonal.

A ligação do hormônio a esse primeiro receptor resulta na produção de um


segundo mensageiro no interior da célula, como por exemplo, o AMP cíclico (cAMP)
que atua comumente como segundo mensageiro. A ação dos hormônios
hidrossolúveis ocorre da seguinte maneira (TORTORA, 2016):

O hormônio hidrossolúvel se liga ao receptor específico

1
que se localiza na superfície externa da célula-alvo,
formando o complexo receptor-hormônio, resultando
na ativação de proteínas que irá atuar como segundo
mensageiro no interior da célula. Essa proteína é
denominada de proteína G, que por sua vez ativa o
adenilato ciclase.

2 O adenilato ciclase converte o ATP em AMP cíclico


(cAMP), que ativa as proteinoquinases, que apresentam
a função de fosforilar outras proteínas celulares.

82
As proteínas fosforiladas pelas proteinoquinases

3
resultam em respostas fisiológicas, respostas que são
dependentes dos diversos tipos de proteinoquinases.
Elas resultam em síntese de glicogênio, outra pode
causar a degradação de triglicerídio, uma terceira pode
promover a síntese de proteína.

4
Após determinado período a enzima fosfodiesterase
inativa o cAMP e a resposta da célula é desativada,
desde que não ocorra a ligação de novas moléculas
hormonais a seus receptores na membrana plasmática
continue.

83
Imagem 3 - Mecanismos de ação hormônios hidrossolúveis

Fonte: TORTORA, 2016

84
O diabetes melito – condição metabólica associada com alterações da
função da insulina – é conhecido desde os tempos antigos. Descrições
clínicas detalhadas do diabetes por deficiência de insulina estavam
disponíveis aos médicos, mas estes não tinham meios de tratar a
doença. Os pacientes inevitavelmente morriam em decorrência da
doença. Em 1921, Frederick G. Banting e Charles H. Best identificaram
uma substância antidiabética nos extratos do pâncreas. Banting, Best e
outros pesquisadores injetaram extratos pancreáticos em animais
diabéticos e descobriram que os extratos reverteram a elevação dos
níveis de glicose sanguínea causada pela doença.

Os hormônios são pequenas moléculas que em pequenas


concentrações são capazes de desencadear respostas muito
significativas sobre as células que se ligam. Dessa maneira o uso de
hormônios deve ser realizado de maneira muito específica e com a
orientação médica de profissional especialista na área. Erros podem
significar risco de doenças graves e até mesmo óbito!

85
O hipotálamo é referido como um dos principais centros reguladores do
controle hormonal de todo o organismo. Isso ocorre devido a região
receber aferências sensoriais e de centros superiores do encéfalo,
caracterizando a região como centro integrador de informações. A
partir dessa imensa quantidade de informações que o hipotálamo
recebe, o mesmo envia ordens a hipófise para coordenar a secreção
hormonal sistêmica.

86
10

Sistema
Neuroendócrino II
87
Controle da Secreção Hormonal
A secreção da maior parte dos hormônios ocorre em “salvas breves”, com pausas,
onde ocorre a interrupção da secreção ou apenas poucas secreções. No entanto, as
secreções dos hormônios pelas glândulas ocorrem em resposta a estímulos que
são coordenados pelos sistema hipotalâmico-hipofisário. Dessa maneira, a
secreção hormonal é regida pelos sinais oriundos dos SNC, alterações bioquímicas
sanguíneas e pela secreção de outros hormônios (TORTORA, 2016).

Podemos citar como fatores que influenciam a secreção hormonal os impulsos


simpáticos que inervam a suprarrenal para a liberação da epinefrina, as
concentrações plasmáticas de Ca2+ que são moduladas pelo paratormônio (PTH), o
estímulo da liberação do Cortisol pelo hormônio adrenocorticotrófico pelo córtex
da glândula suprarrenal. Outro exemplo clássico sobre a atuação hormonal refere-
se ao processo de parto, onde a Ocitocina estimula o útero a realizar contrações, e
tal estimulação aumenta ainda mais a estimulação de ocitocina por meio do
sistema de feedback positivo (TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017).

Nesse cenário, a glândula hipófise é considerada a principal em relação ao controle


e comando da secreção de todos os hormônios. É ela quem coordena a secreção
hormonal das glândulas, porém, sofre influência direta do hipotálamo, considerada
a glândula ”mestre”:

Essa pequena região do encéfalo abaixo do tálamo é a principal


conexão entre os sistemas nervoso e endócrino. As células no
hipotálamo sintetizam, pelo menos, nove hormônios diferentes e a
hipófise secreta sete. Juntos, esses hormônios desempenham funções
importantes na regulação de praticamente todos os aspectos do
crescimento, desenvolvimento, metabolismo e homeostasia.
(TORTORA, 2016. pg. 627).

88
Sistema porta Hipofisário

Fonte: SEELEY, 2016.

Hormônios da Adeno-hipófise
A adeno-hipófise é constituída por cinco tipos celulares distintos: Somatotrofos;
Tireotrofos; Gonadotrofos; Lactotrofos e Corticotrofos. Como vimos
anteriormente, o comando para a secreção hormonal é realizado pelo hipotálamo,
onde os hormônios liberadores e inibidores que são sintetizados pelas células do
hipotálamo neurossecretoras, e em seguida, são transportadas por axônios e
liberados nos terminais axônicos.

Os hormônios se difundem por meio dos capilares do sistema porta hipofisário e


encaminhados para as veias porto-hipofisárias, em direção ao plexo secundário do
sistema porta-hipofisário, que em seguida, são distribuídas às células-alvo na
adeno-hipófise. A seguir são listados os hormônios e as células secretoras
localizadas na adeno-hipófise (TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017):

1. Os somatotrofos secretam hormônio do crescimento (GH), hormônio


fortemente relacionado ao crescimento e por influenciar o metabolismo de
carboidratos e lipídeos, também conhecido como somatotrofina. O GH

89
promove a secreção de fatores de crescimento em tecidos-alvo, como por
exemplo o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF), envolvido no
processo de desenvolvimento da estatura e metabolismo muscular.
2. Os tireotrofos secretam hormônio tireoestimulante (TSH - tireotrofina), o
qual, controla a secreção dos hormônios tireotróficos (T3, T4, calcitonina),
influenciadores do metabolismo energético geral do organismo.
3. As células gonadotróficas secretam o hormônio foliculoestimulnate (FSH) e o
hormônio luteinizante (LH). Ambos atuam sobre as gônadas resultando em
secreção de estrogênios, progesterona, maturação dos ovócitos no
organismo feminino, e a produção dos gametas masculino e secreção de
testosterona nos testículos.
4. Os lactotrofos estão intimamente relacionados com a secreção de prolactina
(PRL), que inicia a produção de leite nas glândulas mamárias durante o
período gestacional ou por estímulos externos.
5. Os corticotrofos secretam o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH -
corticotrofina) que é responsável pelo aumento da secreção de
glicocorticoides (Cortisol) por estímulo do córtex da glândula suprarrenal.
Além disso, uma pequena parcela das células corticotróficas secreta o
hormônio melanócito-estimulante (MSH).

As principais funções dos hormônios da adeno-hipófise, assim como seus


inibidores são apresentados na tabela 1.

90
Tabela 1 - Características dos diferentes tipos de hormônios: comparação entre
hormônios peptídicos, esteroides e derivados de aminoácidos

Hormônios Hormônios Hormônios amínicos


peptídicos esteroides (derivados de tirosina)
Hormônios da
Catecolaminas
tireoide
Sintetizados a Síntese prévia;
Síntese prévia; Síntese prévia;
partir de precursor
Síntese e armazenamento armazenamento
precursores, armazenado em
armazenamento em vesículas em vesículas
de acordo com vesículas
secretoras secretoras
a demanda secretoras
Liberação pela Difusão Proteínas
Exocitose Exocitose
célula-mãe simples transportadoras
Ligados a Ligados a
Transporte no Dissolvidos no Dissolvidos no
proteínas proteínas
sangue plasma plasma
carreadoras carreadoras
Meia-vida Curta Longa Curta Longa
Citoplasma ou
núcleo; alguns
Localização do Membrana Membrana
também têm Núcleo
receptor celular celular
receptor na
membrana
Ativação de
Ativação de
genes para a
sistemas de Ativação de Ativação de
Resposta da transcrição e
segundo sistemas de genes para a
ligação ligante- tradução;
mensageiro; segundo transcrição e
receptor pode ter
pode ativar mensageiro tradução
efeitos não
genes
genômicos
Modificação de
proteínas Indução da
Modificação de Indução da
Resposta geral existentes e síntese de
proteínas síntese de
do alvo indução da novas
existentes novas proteínas
síntese de novas proteínas
proteínas
Insulina, Estrogênio, Adrenalina,
Exemplos hormônio da androgênios, noradrenalina, Tiroxina (T.)
paratireoide cortisol dopamina

Fonte: SILVERTHORN, 2017.

91
Hormônios da Neuro-hipófise
A neuro-hipófise (tabela 1), diferentemente da adeno-hipófise, não sintetiza seus
próprios hormônios, apenas os armazena e secreta quando recebe estímulos
hipotalâmicos. Os hormônios secretados pela neuro-hipófise são sintetizados pelo
hipotálamo, por células neurossecretoras hipotalâmicas, cujo os corpos celulares
se encontram nos núcleos paraventricular e supraóptico hipotalâmico.

Os axônios dessas células formam o trato hipotálamo-hipofisário, iniciando seu


trajeto no hipotálamo, terminando próximo aos capilares sanguíneos na região da
neuro-hipófise. Os corpos neuronais dos núcleos paraventricular e supraóptico
sintetizam os hormônios Ocitocina (OT) e antidiurético (ADH – vasopressina). Esses
hormônios são embalados em vesículas e armazenados na neuro-hipófise até o
momento de sua secreção.

A secreção de Ocitocina (OCT) ocorre durante e após o processo de parto e tem


como tecidos-alvo o útero e as glândulas mamárias. Durante o processo de
expulsão do bebê, ocorre o alongamento do colo uterino que resulta em
estimulação na liberação de OCT (feedback positivo), aumentando ainda mais as
ondas de contrações uterinas. Após o nascimento do bebê a OCT estimula a ejeção
do leite pelas glândulas mamárias. Esse processo ocorre em resposta ao estímulo
mecânico induzido pela sucção exercida pelo bebê, e também o choro. Além disso,
a OCT parece estar relacionada a sensações de prazer durante o ato sexual e
comportamento parental de cuidado em relação aos filhos.

A vasopressina (antidiurético - HAD ou ADH) é o hormônio responsável por reduzir


a produção de urina, resultando no retorno de mais água na corrente sanguínea
durante o processo de filtração renal. Sem a ação do ADH o débito urinário
aumenta mais de 10 vezes, passando do normal 1 ou 2 dois litros para cerca de 20
ℓ por dia. Além da ação sobre o sistema renal, o ADH promove a perda de água por
meio da sudorese promovendo a constrição das arteríolas, elevando a PA. A
imagem 2 apresenta os estímulos e mecanismos de controle sobre a secreção de
ADH.

92
Imagem 2 - Mecanismo de liberação de vasopressina

Fonte: TORTORA, 2016.

93
Os hormônios tireoidianos são fundamentais para a regulação
adequada do metabolismo energético e desempenham papel
primordial frente ao desenvolvimento cognitivo de crianças juntamente
com o hormônio do crescimento (GH). Dessa maneira, a ingestão de
iodo é fundamental para a eficiente atuação e síntese dos hormônios T3
e T4.

A hipersecreção hormonal resulta em problemas sistêmicos


gravíssimos! Um exemplo refere-se a secreção além das concentrações
fisiológicas do Cortisol. Esse hormônio é muito importante para nossa
sobrevivência e manutenção da homeostase. Porém, em excesso pode
causar o surgimento de diabetes do tipo II, depressão e alterações
perceptíveis de humor.

Os efeitos sistêmicos da ocitocina são importantíssimos, presentes


desde o momento da expulsão do feto e no processo de ejeção do leite.
Porém, suas respostas fisiológicas vão muito além do sistema
reprodutor. Há evidências do efeito positivo da administração da
ocitocina sobre quadros de alterações de humor (depressão).

94
11

Sistema Respiratório

95
Funções do Sistema Respiratório
O sistema respiratório é fundamental para a sobrevivência das células de nosso
organismo, e podemos destacar quatro principais funções:

Ventilação: movimento de captação, entrada e saída de ar dos pulmões.


Troca gasosa: troca gasosa entre o ar dos pulmões e o sangue.
Transporte de oxigênio e dióxido de carbono.
Troca gasosa entre sangue e tecidos.

No entanto, além da respiração, o processo respiratório realiza outras funções em


nosso organismo, tais como a regulação do pH sanguíneo (concentrações de
dióxido de carbono); síntese da enzima conversora de angiotensina (ECA),
participando ativamente da regulação da pressão arterial; fonação (promoção da
voz); olfação (captação de odores pela cavidade nasal); proteção ao sistema contra
a inalação de microrganismos (TORTORA, 2016).

Nessa aula, daremos enfoque nos processos de transporte de oxigênio, remoção


do dióxido de carbono e como a ventilação sofre influências sobre regiões centrais.

96
Vista interior dos órgãos da respiração

Ventilação Pulmonar
A ventilação pulmonar pode ser compreendida como uma troca entre o ar
ambiente e o transporte deste para o meio interno. Essa troca consiste em três
processos, a ventilação pulmonar, a respiração externa e a respiração interna
(SILVERTHORN, 2016):

a. Ventilação Pulmonar (Respiração): trata-se do ato de inspirar (inalação)


seguido por uma expiração, envolvendo a troca de ar entre a atmosfera e os
alvéolos pulmonares.
b. Respiração Externa (Pulmonar): é o processo de troca de gases entre os
alvéolos e a corrente sanguínea dos capilares pulmonares, por meio da
membrana respiratória, ocorrendo a adição de oxigênio (O₂) e remoção de
dióxido de carbono (CO₂).

97
c. Respiração Interna (tecidual): refere-se às trocas gasosas entre os capilares
sistêmicos e as células teciduais, onde o O₂ é transportado para as células e o
CO₂ resultante do metabolismo celular é removido dos tecidos.

Mas como o ar adentra as estruturas respiratórias? Os gases fluem entre a


atmosfera e alvéolos pulmonares em resposta às diferenças de pressão produzidas
pelo processo de contração e relaxamentos dos músculos respiratórios. Além
disso, outros fatores como a tensão superficial alveolar, complacência dos pulmões
e a resistência das vias aéreas também influenciam a taxa de ar (TORTORA, 2016;
SILVERTHORN, 2017).

Processo de Inspiração
Durante o processo de inspiração, um dos principais músculos envolvidos é o
diafragma, que se situa no assoalho da cavidade torácica. Quando o diafragma se
contrai ele se achata, reduzindo o tamanho de sua cúpula, aumentando o espaço
vertical da cavidade torácica.

Durante a inspiração tranquila normal, o diafragma desce


aproximadamente 1 cm, produzindo uma diferença de pressão de 1 a
3 mmHg e a inspiração de aproximadamente 500 mL de ar. Na
respiração forçada, o diafragma pode descer 10 cm, o que produz uma
diferença de pressão de 100 mmHg e a inspiração de 2 a 3 L de ar. A
contração do diafragma é responsável por aproximadamente 75% do
ar que entra nos pulmões durante a respiração tranquila. A gravidez
avançada, a obesidade excessiva ou roupas apertadas no abdome
podem impedir a descida completa do diafragma (TORTORA, 2016, p.
865).

Além do diafragma, os músculos intercostais externos exercem grande importância


no processo de inspiração. A contração destes músculos resulta na elevação das
costelas, aumentando o diâmetro anteroposterior e lateral da cavidade torácica,
sendo responsável por cerca de 25% do ar que chega aos pulmões durante uma
respiração tranquila. Ao passo que os músculos intercostais internos e diafragma
se contraem, o tamanho geral da cavidade torácica aumenta (imagem 2).

98
Imagem 2 - Músculos envolvidos no processo de inspiração e expiração

Processo de Expiração
O ato que inicia a expiração tem relação com o mesmo processo que resulta no
processo de inalação, os gradientes de concentração. No caso da expiração, o
gradiente de pressão é maior no ambiente pulmonar em comparação ao meio
externo, associado com o relaxamento da musculatura inspiratória. O processo de
expiração é passivo e acontece conforme o diafragma e os músculos intercostais
externos relaxam.

A expiração é ativa apenas quando a ocorre a respiração forçada, onde os


músculos abdominais e intercostais internos se contraem, resultando em aumento
na pressão das regiões abdominal e torácica. A contração desse grupamento
muscular resulta em compressão visceral e movimentação das costelas inferiores
para baixo (imagem 2).

99
Transporte de Gases: Oxigênio e
Dióxido de Carbono
Devido ao fato de o O₂ não possuir alta afinidade à água, cerca de 98,5% do O₂ em
nosso sangue liga-se à hemoglobina, mais especificamente nos eritrócitos. A
porção heme da hemoglobina possui quatro átomos de ferro, onde cada um deles
é capaz de se ligar a uma molécula de O₂, formando o complexo oxi-hemoglobina
(imagem 3), uma ligação que pode ser facilmente revertida, de acordo com a
equação a seguir (TORTORA, 2016):

Imagem 3 - Transporte dos gases O₂ e CO₂

Uma vez que as moléculas de O₂ se ligam às hemoglobinas, são transportadas para


todo o organismo, e quando as moléculas chegam aos capilares teciduais ocorre a
dissociação das moléculas de oxi-hemoglobina e então as moléculas de O₂ são
captadas para o interior das células para participarem da produção de energia.

Já o transporte das moléculas de CO₂ ocorre no sentido oposto, das células


teciduais em direção aos alvéolos pulmonares. O CO₂ pode ser transportado de três
maneiras distintas:

100
1) Dissolvido no plasma sanguíneo: Cerca de 7% é dissolvido no plasma
sanguíneo e quando atinge os alvéolos pulmonares se difunde, sendo expirado.

2) Formação de compostos carbaminos: Cerca de 23% se associa aos


grupamentos amina dos aminoácidos e proteínas sanguíneas resultando na
formação de compostos carbaminos, cuja grande parte é ligada às hemoglobinas
(reação a seguir):

3) Íons bicarbonato: A maior quantidade, cerca de 70%, é transportada no plasma


sanguíneo como íons de bicarbonato. Isso ocorre devido a interação do CO₂ com
água graças à ação da enzima anidrase carbônica, resultando na formação do ácido
carbônico, conforme equação abaixo:

Os processos de transporte dos gases estão resumidos nas imagens 4 e 5.

Imagem 4 - Trocas gasosas nos capilares sistêmicos

Fonte: TORTORA, 2016

101
Imagem 5

Fonte: TORTORA, 2016.

102
O centro de controle respiratório localiza-se na região
do tronco encefálico, onde diversas informações
químicas e centrais são recebidas. Nessa região há
neurônios do grupo respiratório dorsal (GRD), grupo
respiratório ventral (GRV), que controlam os músculos
responsáveis pelo aumento e diminuição do volume
da caixa torácica.

Em casos de emergência, quando as vias aéreas superiores estão


obstruídas por um corpo estranho e a pessoa não pode respirar, uma
ação rápida é necessária para salvar sua vida. A compressão abdominal,
ou manobra de Heimlich, é uma técnica utilizada para forçar um objeto
para fora das vias aéreas por meio da aplicação súbita de pressão no
abdome (SEELEY, 2016).

Assista um vídeo sobre essa manobra.

103
O monóxido de carbono (CO) é um gás incolor e inodoro encontrado na
fumaça do escapamento de automóveis, fornos a gás e aquecedores de
ambiente. Níveis sanguíneos elevados de CO causam envenenamento
por monóxido de carbono, que pode fazer com que os lábios e a túnica
mucosa da boca tenham coloração vermelho-cereja claro. Sem
tratamento imediato, o envenenamento por monóxido de carbono é
fatal. É possível recuperar uma vítima de envenenamento por CO por
meio da administração de oxigênio puro, o que acelera a separação do
monóxido de carbono da hemoglobina (TORTORA, 2016).

104
12

Sistema Digestório

105
Sistema Digestório e Nutrientes
Os nutrientes que utilizamos para manter nossas células e tecidos ativos são
provenientes dos alimentos que ingerimos. Porém, para que esses alimentos sejam
absorvíveis a nível celular, é necessário uma série de processos mecânicos e
bioquímicos que se iniciam na cavidade oral e findam com a excreção dos
substratos que não são utilizáveis pelo nosso organismo.

Durante esse processo, é possível distinguir três fases: fase cefálica; fase gástrica e
fase intestinal. Assim, vamos abordar esses três momentos da digestão e absorção
dos alimentos.

Fonte: TORTORA, 2016.

106
Fase Cefálica
O simples ato de pensar, visualizar ou sentir o cheiro de alimentos é o gatilho para
iniciar o processo de digestão alimentar. Os órgãos do sentido ativam centros
superiores neurais na região do córtex cerebral, hipotálamo e tronco encefálico,
preparando o trato gastrointestinal (TGI) para receber o alimento.

O tronco encefálico então ativa os nervos faciais (NC VII),


glossofaríngeo (NC IX) e vago (NC X). Os nervos facial e glossofaríngeo
estimulam as glândulas salivares a secretar saliva, enquanto o nervo
vago estimula as glândulas gástricas a secretar suco gástrico. A
finalidade da fase cefálica da digestão é preparar a boca e o estômago
para o alimento que está prestes a ser ingerido (TORTORA, 2016, p.
937).

Após o início da ingestão, os alimentos são triturados, insalivados e deglutidos, e


então enviados à região esofágica e posteriormente ao estômago. Na cavidade oral,
os alimentos já sofrem o primeiro processo de digestão química, por meio da ação
de enzimas salivares que degradam moléculas de carboidratos, tornando-os
menores. As enzimas são secretadas pelas glândulas salivares, parótidas,
sublinguais e submandibulares (TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017). Na
sequência, o bolo alimentar é enviado ao estômago, dando início à fase digestiva.

Fase Gástrica
A chegada do alimento na região estomacal promove grandes alterações locais,
desencadeadas por fatores neurais e hormonais, em resposta ao estiramento
mecânico causado pelo alimento. O aumento no estiramento das paredes
estomacais é percebido por receptores presentes nas paredes estomacais.

Já os quimiorreceptores monitoram o pH estomacal e, quando há a presença de


alimentos no estômago, o valor do pH é alterado em resposta ao tamponamento
promovido pela presença de proteínas acionando um ciclo de feedback negativo
(imagem 2) (TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017).

107
Esse monitoramento minucioso ocorre graças ao controle das vísceras pelo sistema
nervoso entérico, que auxilia o processo de homeostase digestória. Dessa maneira,
por meio do estiramento da mucosa estomacal e ação dos quimiorreceptores,
impulsos nervosos se dissipam em direção ao plexo submucoso, ativando
neurônios parassimpáticos e entéricos, resultando em aumento nas ondas de
peristaltismo e aumento do fluxo e suco gástrico.

As ondas peristálticas ocorrem para que o alimento seja misturado ao suco


gástrico, enzimas e hormônios gástricos, promovendo a quebra dos alimentos em
partículas cada vez menores e com maior capacidade de serem absorvidas. Após
horas de mistura, as ondas tornam-se mais fortes e inicia-se a fase do
esvaziamento gástrico, onde o quimo passa para a região duodenal (FOX, 2007;
TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017).

108
Imagem 2 - Sistema de feedback do TGI

Fonte: TORTORA, 2016.

109
Durante a fase gástrica, a secreção é coordenada pelo hormônio gastrina, que é
secretado pelas células gástricas em resposta à distensão do estômago, proteínas,
pH elevado, cafeína e acetilcolina – essa, liberada por neurônios parassimpáticos.
Interessantemente, a gastrina apresenta efeitos fisiológicos em nível sistêmico, pois
não atua somente no estômago.

Dentre as funções relacionadas à gastrina, podemos


citar que ela reforça os estímulos de contração do
esfíncter esofágico inferior e estimula as células
gástricas a produzirem grandes quantidades de suco
gástrico. Porém, quando o pH está abaixo de 2,0, a
gastrina é inibida e gera o ambiente ideal para
ativação da pepsina, que promove a desnaturação de
proteínas e age contra micro-organismos no
estômago (FOX, 2007; TORTORA, 2016; SILVERTHORN,
2017).

A tabela 1 apresenta os principais hormônios que participam no processo de


digestão.

110
Tabela 1 - Hormônios do TGI

Estímulo
Alvo(s) Efeitos Outras
para
primário(s) primários(s) informações
liberação
Estômago
Estimula a
Peptídeos e Células secreção de
A somatostatina
Gastrina aminoácidos; enterocromafins ácido gástrico
inibe a sua
(células G) reflexos (ECL) e células eo
liberação
neurais parietais crescimento
da mucosa
Intestino
Estimula a
contração da
Promove
vesícula biliar
saciedade
e a secreção
Ácidos graxos Vesícula biliar, de enzimas
Colecistocinina Alguns efeitos
e alguns pâncreas, pancreáticas
(CCK) podem ser
aminoácidos estômago
devidos à ação da
Inibe o
CCK como um
esvaziamento
neurotransmissor
gástrico e a
secreção ácida
Estimula a
secreção de
HCO3
Ácido no
Pâncreas,
Secretina intestino
estômago Inibe o
delgado
esvaziamento
gástrico e a
secreção ácida
Jejum:
Estimula o
liberação Músculos lisos e Inibida pela
complexo
Motilina periódica a gástrico e ingestão de uma
motor
cada 1,5 a 2 intestinal refeição
migratório
horas
Peptídeo Glicose, Células beta do Estimula a

111
inibidor ácidos pâncreas liberação de
gástrico (GIP) graxos, e insulina
aminoácidos (mecanismo
no intestino antecipatório)
delgado
Inibe o
esvaziamento
gástrico e a
secreção ácida
Estimula a
liberação de
Refeição
insulina
Peptídeo mista que
semelhante ao inclui Pâncreas Promove
Inibe a
glucagon (GLP- carboidratos endócrino saciedade
liberação de
1) ou gorduras
glucagon e a
no lúmen
função
gástrica

Fonte: SILVERTHORN, 2017.

Fase Intestinal
A fase intestinal se inicia imediatamente após a chegada do alimento ao duodeno,
onde recebe o nome de quimo devido à grande ação química que recebe durante a
fase de mistura gástrica. Diferentemente do comportamento observado durante as
fases gástrica e cefálica, quando ocorre o aumento da motilidade do TGI.

Durante a fase intestinal, há a tendência de que o quimo permaneça nessa fase por
maior tempo, impedindo, por exemplo, que o duodeno seja sobrecarregado com
volume excessivo de quimo. As respostas intestinais ocorrem de maneira contínua,
de acordo com a chegada dos alimentos (FOX, 2007; TORTORA, 2016;
SILVERTHORN, 2017).

Semelhante ao observado na região estomacal, o cisalhamento e a distensão


promovidos pelo quimo nas paredes intestinais desencadeiam uma série de
secreções enzimáticas e hormonais, ativando o reflexo enterogástrico. O

112
estiramento das paredes do duodeno resulta no envio de impulsos nervosos para a
região bulbar, onde ocorre a inibição do estímulo parassimpático e ativação da
inervação simpática sobre o estômago. Esse processo resulta na inibição da
motilidade gástrica e no aumento da contração esfincteriana do piloro, reduzindo o
esvaziamento gástrico (TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017).

O processo inicial da digestão tem a participação hormonal, a colecistocinina (CCK)


e a secretina, hormônios secretados pelo intestino delgado. A CCK tem sua
liberação estimulada pela presença de aminoácidos, proteínas parcialmente
degradadas e ácidos graxos de triglicerídeos. Os efeitos fisiológicos relacionados à
CCK relacionam-se com o estímulo da secreção do suco pancreático, contração da
parede da vesícula biliar e promove o relaxamento do esfíncter da ampola
hepatopancreática, permitindo a passagem do suco pancreático e a bile para o
duodeno.

Além disso, a CCK induz a redução do tempo do esvaziamento gástrico, induz


saciedade no hipotálamo, participa do processo de crescimento pancreático e
potencializa os efeitos induzidos pela secretina. A secretina participa da
estimulação do fluxo do suco pancreático, que por sua vez, resulta no
tamponamento do quimo ácido que entra no duodeno e reduz a produção de
ácidos estomacais (TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017).

O resumo das ações dos hormônios intestinais sobre o processo de digestão é


apresentado na tabela 2, a seguir:

113
Tabela 2 - Hormônios intestinais

HORMÔNIO ESTÍMULO E LOCAL DE SECREÇÃO AÇÕES


Efeitos principais:
promove a secreção
Distensão do estômago, proteínas de suco gástrico,
parcialmente digeridas e cafeína aumenta a motilidade
no estômago, e alto pH do quimo gástrica, promove o
estomacal estimulam a secreção crescimento da túnica
GASTRINA mucosa do estômago.
de gastrina enteroendócrinas,
localizadas principalmente na Efeitos secundários:
túnica mucosa do antro pilórico do contrai o esfíncter
estômago. esofágico inferior,
relaxa o músculo
esfíncter do piloro.

Efeitos principais:
estimula a secreção
de suco pancreático e
bile, que são ricos em
HC03 – íons
O quimo ácido (alto nível de H+) bicarbonato).
que entra no intestino delgado Efeitos secundários:
SECRETINA estimula a secreção de secretina inibe a secreção de
pelas células S enteroendócrinas suco gástrico,
na túnica mucosa do duodeno. promove o
crescimento normal e
manutenção do
pâncreas, incrementa
os efeitos da CCK.

COLECISTOCINA Proteínas (aminoácidos), Efeitos principais:


(CCK) triglicerídeos e ácidos graxos estimula a secreção
parcialmente digeridos que de suco pancreático
entram no intestino delgado rico em enzimas
estimulam a secreção de CCK digestórias, causa a
pelas células enteroendócrinas da ejeção de bile da
túnica da mucosa do intestino vesícula biliar e a
delgado, a CCK também é liberada abertura do esfíncter
no encéfalo. da ampola

114
hepatopancreática,
induz à saciedade.
Efeitos secundários:
inibe o esvaziamento
gástrico, promove o
crescimento normal e
a manutenção do
pâncreas, incrementa
os efeitos da
secretina.

SILVERTHORN, 2017.

Em algumas pessoas, as células absortivas do intestino delgado não


produzem lactase suficiente, o que, como você acabou de ver, é
essencial para a digestão da lactose. Isso resulta em uma condição
chamada intolerância à lactose, em que a lactose não digerida no quimo
faz com que seja retido líquido nas fezes; a fermentação bacteriana da
lactose não digerida resulta na produção de gases. Os sinais e sintomas
da intolerância à lactose incluem diarreia, flatulência, distensão e cólicas
abdominais após o consumo de leite e laticínios. Os sinais/sintomas
podem ser relativamente leves ou intensos o suficiente para exigir
atenção médica (TORTORA, 2017).

115
A diarreia é um aumento da frequência, do volume e do teor de líquido
das fezes causado por aumento na motilidade e diminuição na absorção
pelos intestinos. Quando o quimo passa muito rapidamente pelo
intestino delgado e as fezes passam muito rapidamente pelo intestino
grosso, não há tempo suficiente para a absorção. A diarreia frequente
pode resultar em desidratação e desequilíbrio eletrolítico. A motilidade
excessiva pode ser causada pela intolerância à lactose, estresse e
microrganismos que irritam a túnica mucosa gastrintestinal (TORTORA,
2017).

O termo “sangue oculto” refere-se ao sangue que não é detectável a


olho nu. O principal valor diagnóstico da pesquisa de sangue oculto é o
rastreamento de câncer colorretal. Duas substâncias frequentemente
examinadas à procura de sangue oculto são as fezes e a urina. Existem
vários tipos de produtos para pesquisa de sangue oculto nas fezes, e os
testes são baseados em mudanças de cor quando os reagentes são
adicionados às fezes. O sangue oculto na urina pode ser detectado em
casa usando tiras reagentes de leitura rápida (TORTORA, 2017).

116
13

Sistema Renal

117
Funções dos Rins
Os rins fazem parte do sistema urinário que tem por objetivo promover a excreção
de metabólitos e substâncias não utilizáveis ou nocivas ao nosso organismo. Dentre
as funções renais podemos citar (TORTORA, 2016):

1) Regulação iônica plasmática: Os rins participam ativamente da


regulação da concentração dos íons sódio (Na+), potássio (K+), cálcio
(Ca2+), cloreto (Cl–) e fosfato (HPO42–)

2) Controle do pH sanguíneo: Os rins participam do controle do pH


sanguíneo por meio da excreção de íons de H+ pela urina, e ao mesmo
tempo, mantêm a concentração de bicarbonato (HCO3–), íon muito
importante no processo de tamponamento de H+ plasmático.

3) Controle da volemia sanguínea: Os rins participam no processo de


controle do volume de sangue sistêmico, resultando em conservação ou
eliminação de água pela micção.

4) Regulação da pressão arterial: Por meio da secreção da renina,


atuante junto ao sistema renina-angiotensina-aldosterona, resultando em
aumento da pressão arterial.

118
5) Controle da osmolaridade plasmática: O controle da osmolaridade é
realizado pelos rins por meio da regulação individual da perda de água e
de solutos na urina. Os rins tendem a manter a osmolaridade sanguínea
constante, aproximadamente 300 miliosmóis por litro (mOsm/L)*.

6) Secreção Hormonal: Os rins secretam os hormônios calcitriol e


eritropoetina. O calcitriol participa da forma ativa da vitamina D e na
regulação do cálcio, enquanto a eritropoetina induz a produção de
eritrócitos.

7) Controle plasmático de glicose: Similar ao tecido hepático, os rins


podem utilizar a glutamina no processo de gliconeogênese, resultando em
novas moléculas de glicose.

8) Excreção de metabólitos: Todas as substâncias que não são mais


úteis ou estranhas ao metabolismo humano são excretadas pela
produção da urina. Dentre os metabólitos resultantes do metabolismo
energético, podemos citar: amônia e ureia resultantes da desaminação
dos aminoácidos; bilirrubina resultante do catabolismo da hemoglobina;
creatinina resultante da clivagem do fosfato de creatina nas fibras
musculares e ácido úrico originado do catabolismo de ácidos nucleicos.

*Osmol (símbolo: Osm) é uma unidade de medida que corresponde à


massa atômica dividida pelo número de partículas que exercem
determinada pressão osmótica. Assim, 1 miliosmol (mOsm) é a milésima
parte do osmol.

119
Fonte: TORTORA, 2016.

Fisiologia Renal
A Fisiologia renal refere-se principalmente ao processo de produção de urina e a
secreção hormonal que participa da regulação da pressão arterial. Para que seja
possível a produção de urina, três processos são necessários: a filtração, a
reabsorção e a secreção (TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017).

Filtração Glomerular: é o primeiro processo da etapa de produção da urina a


nível dos néfrons. Água e solutos atravessam a parede dos capilares
glomerulares (imagem 2), passando pelo processo de filtragem e adentram o
interior da cápsula glomerular e, posteriormente, para o túbulo renal.
Reabsorção tubular: Ao passo que o líquido filtrado passa pelos túbulos
renais e ductos coletores, as células tubulares reabsorvem cerca de 99% da
água filtrada e solutos que sejam utilizáveis. O retorno da água que foi filtrada,

120
assim como os solutos, ocorre por meio dos capilares peritubulares e arteríolas
retas (imagem 2).
Secreção tubular: De acordo com a passagem do líquido filtrado passa pelos
túbulos renais e ductos coletores, ocorre a secreção de outras substâncias
(metabólitos, fármacos e excesso de íons) (imagem 2).

Imagem 2 - Estrutura de um néfron

Fonte: TORTORA, 2016.

Filtração Glomerular
O filtrado glomerular se refere a quantidade de plasma que entra na região capsular,
mais especificamente nas arteríolas aferentes renais. O que se torna filtrado nesta
região é a fração da filtração, e uma fração de filtração de 0,16 a 0,20 (16 a 20%) é o
comum, mas o valor varia consideravelmente na saúde e na doença. A média diária
de filtração do sangue em indivíduos adultos é cerca de 150 L (mulheres) e 180 L
(homens), em que cerca de 99% do filtrado glomerular retorna a corrente sanguínea
graças a reabsorção tubular, sendo que cerca de 1 a 2 litros são excretados pela
urina.

121
Mas afinal como ocorre esse processo? Inicia-se em um primeiro momento pelo
contato do volume com a membrana de filtração (imagem 3). A membrana de
filtração é constituída pelos capilares glomerulares e podócitos, que se localizam ao
redor dos capilares, resultando em uma barreira permeável. A configuração da
membrana permite que a água seja filtrada em pequenos solutos, porém, impede a
filtração de grande quantidade das proteínas plasmáticas, células sanguíneas e
plaquetas (TORTORA, 2016; SILVERTHORN, 2017).

122
Imagem 3 - Estrutura da membrana de filtração (glomerular)

Fonte: TORTORA, 2016.

A força que move o processo de filtração é similar à lei proposta por Starling
(capilares), ou seja, a pressão força os líquidos e solutos através de uma membrana.
O processo de filtração glomerular se assemelha a processos de filtração
encontrados em outros locais do organismo, porém, o maior de volume de filtração
ocorre no glomérulo renal, da seguinte maneira (TORTORA, 2016; SILVERTHORN,
2017):

A área de superfície dos capilares dos glomérulos é muito extensa, e contém


células mesangiais, que regulam a quantidade da área de superfície disponível.
Quando relaxadas, as células mesangiais atingem a área máxima, pois a
filtração glomerular é muito alta. Na situação oposta, reduz-se
significativamente a taxa de filtração glomerular.
A membrana de filtração é extremamente fina (0,1 mm) e porosa, conferindo
aos capilares glomerulares cerca de 50 vezes mais permeabilidade do que os
capilares sanguíneos, principalmente devido à presença de fenestrações.
A arteríola glomerular eferente possui um diâmetro menor do que a arteríola
glomerular aferente, e por isso se observa uma alta resistência na saída do
glomérulo. Em resposta, a pressão sanguínea é mais alta do que a observada
em leitos capilares sanguíneos em outras regiões do organismo.

123
Reabsorção e Secreção
As substâncias que passam pelos néfrons são reabsorvidas no lúmen de seus túbulos
por meio de células tubulares adjacentes ou em uma célula tubular individual.
Durante a extensão do túbulo renal, há a presença de zonas de oclusão que a
circundam, e a membrana apical tem contato direto com o líquido tubular, enquanto
a membrana basolateral está em contato com o líquido intersticial na base e dos
lados da célula (Imagem 4). No entanto, há uma exceção a ser elucidada:

O líquido pode vazar entre as células em um processo passivo conhecido


como reabsorção paracelular. Mesmo que as células epiteliais estejam
ligadas por junções oclusivas, estas junções entre as células dos túbulos
renais proximais são “permeáveis” e possibilitam que algumas
substâncias reabsorvidas passem entre as células para os capilares
peritubulares. Em algumas partes do túbulo renal, acredita-se que a via
paracelular represente até 50% da reabsorção de determinados íons e
da água que os acompanha por osmose (TORTORA, 2016; pg. 1004).

124
Imagem 4 - Região de reabsorção nos néfrons

Fonte: TORTORA, 2016.

Mas como ocorre o transporte desses solutos? As células renais transportam os


solutos tanto para o meio interno quanto para o meio externo do líquido tubular,
movendo as substâncias em sentido único. Dessa maneira, proteínas de diversos
tipos são encontradas nas membranas apical e basolateral, onde as junções oclusivas
formam uma barreira impedindo a mistura entre proteínas nos compartimentos das
membranas apical e basolateral.

Um exemplo ocorre sobre a reabsorção de Na+ pelos túbulos renais, processo muito
importante em resposta ao alto volume de íons de sódio que atravessa os filtros
glomerulares (TORTORA, 2016).

125
Por volta de 100 d.C., Areteu da Capadócia escreveu, “O
diabetes é uma doença muito curiosa, não muito
frequente entre os homens, sendo um derretimento da
carne e dos membros para dentro da urina... Os
pacientes nunca param de produzir água (urinar), e o
fluxo é incessante, como se fosse da abertura de
aquedutos”. Os médicos sabem há séculos que a urina,
um resíduo líquido produzido pelos rins, reflete o
funcionamento do corpo. Para ajudar no diagnóstico
das doenças, eles carregavam frascos especiais para
coletar e inspecionar a urina dos pacientes
(SILVERTHORN, 2017).

A nefroptose, ou rim flutuante, consiste em deslocamento inferior


(“queda”) do rim. Ela ocorre quando o rim desliza de sua posição normal
porque não está bem fixado no lugar pelos órgãos adjacentes ou por seu
revestimento de tecido adiposo. A nefroptose se desenvolve mais
frequentemente em pessoas muito magras, cuja cápsula adiposa ou
fáscia renal é deficiente. É perigosa porque o ureter pode torcer e
bloquear o fluxo de urina. O resultante retorno de urina impõe pressão
sobre o rim, danificando o tecido renal. O ureter torcido também provoca
dor. A nefroptose é muito comum; aproximadamente 25% das pessoas
têm algum grau de enfraquecimento das faixas fibrosas que mantêm o
rim no lugar, e é 10 vezes mais comum em mulheres do que em homens
(TORTORA, 2016).

126
Em algumas doenças renais, os glomerulares capilares são danificados e
por isso se tornam tão permeáveis que as proteínas plasmáticas entram
no filtrado glomerular. Como resultado, o filtrado exerce uma pressão
coloidosmótica que puxa a água para fora do sangue. Nesta situação, a
PFE aumenta, o que significa que mais líquido é filtrado. Ao mesmo
tempo, a pressão coloidosmótica do sangue diminui, porque as proteínas
plasmáticas estão sendo perdidas na urina. Como a quantidade de líquido
que é filtrada dos capilares sanguíneos para os tecidos em todo o corpo é
maior do que a quantidade que retorna por meio da reabsorção, o
volume sanguíneo diminui e o volume de líquido intersticial aumenta.
Assim, a perda de proteínas plasmáticas na urina causa um edema, que é
um volume anormalmente elevado de líquido intersticial (TORTORA,
2016).

127
14

Sistema Reprodutor
Feminino
128
Ciclo Reprodutivo Feminino
Todo mês, as mulheres passam por alterações (flutuações) hormonais ao longo de
sua vida fértil, especificamente no nível dos ovários e útero, com ciclos que
apresentação duração média entre 28 a 30 dias. Durante esse período, o útero é
literalmente preparado para a recepção de um óvulo fertilizado, graças ao processo
de oogênese. Tudo isso ocorre graças a ação de hormônios hipotalâmicos,
hipofisários e ovarianos que participam dos eventos pertinentes ao ciclo menstrual
(TORTORA, 2016).

“O ciclo uterino (menstrual) é uma série concomitante de alterações no


endométrio do útero para prepará-lo para a chegada de um óvulo
fertilizado, que ali vai se desenvolver até o nascimento. Se a
fertilização não ocorrer, os hormônios ovarianos diminuem, o que faz
com que o estrato funcional do endométrio descame. O termo geral
ciclo reprodutivo feminino abrange os ciclos ovariano e uterino, as
alterações hormonais que os regulam e as mudanças cíclicas
relacionadas nas mamas e no colo do útero.” (TORTORA, 2016, p. 1077)

Regulação Hormonal do Ciclo


Reprodutivo Feminino
Todo o ciclo reprodutivo feminino é regido por hormônios, dessa maneira, o
hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) que é secretado pelo hipotálamo é o
principal controlador do ciclo ovariano e uterino, como demonstrado na imagem 2.
Os hormônios foliculoestimulante (FSH) e luteinizante (LH) são secretados pela
adeno-hipófise, onde o FSH promove o crescimento folicular e o LH promove a
estimulação adicional de folículos ovarianos, e ambos estimulam os folículos
ovarianos a secretarem estrogênios (TORTORA, 2016).

O LH atua sobre as células da teca de folículos em desenvolvimento a produzirem


androgênios, enquanto sob a influência do FSH os androgênios são absorvidos
pelas células granulosas do folículo e, posteriormente, convertidas em estrogênios.

129
Além disso, o LH é o responsável por estimular a ovulação e formação do corpo
lúteo, fato que origina seu nome. O corpo lúteo sob ação do LH, sintetiza e secreta
estrogênios, progesterona, relaxina e inibina (TORTORA, 2016).

Imagem 1 - Momento da liberação de um oócito durante o período fértil em


resposta a ação hormonal

Fonte: TORTORA, 2016.

130
Atualmente, foram identificados cerca de seis tipos de
estrogênios no plasma de mulheres em período
reprodutivo, porém, apenas três apresentam
concentrações significativas, (β)-estradiol, estrona e
estriol, sendo que o estrogênio é o estradiol mais
abundante em mulheres não gestantes, o qual, é
sintetizado a partir do colesterol nos ovários.

Imagem 2 – Ciclo de regulação hormonal feminino

Fonte: TORTORA, 2016.

Sem dúvidas, os estrogênios são os hormônios que regem à fisiologia feminina e,


dentre as inúmeras funções desenvolvidas por esse hormônio, podemos destacar
(TORTORA, 2016):

131
Desenvolvimento e manutenção do órgão reprodutor feminino,
caracteres sexuais secundários e das mamas. Compreende-se
como caracteres sexuais secundários a distribuição de tecido
adiposo pelas regiões corporais do abdome, mama, monte do
púbis e quadris, tom da voz, pelve ampla e o padrão de pelos
corporais.
Estimulo o anabolismo proteico, fortificação do tecido ósseo,
apresentam sinergia ao hormônio do crescimento (GH).
Relação com reduções da concentração sanguínea de colesterol,
onde mulheres não menopausadas apresentam menor chance de
doenças relacionadas ao sistema circulatório.
Feedback regulatório sobre a liberação de GnRH a nível
hipotalâmico em relação a secreção de LH e FSH.
A secreção de progesterona pelo corpo lúteo atua juntamente
com os estrogênios no processo de preparação e manutenção do
endométrio para que o óvulo seja implantado (óvulo fertilizado),
além da preparação das glândulas mamárias para secreção de
leite. Além disso, altas concentrações de progesterona inibem a
secreção de LH e GnRH.
A secreção de relaxina pelo corpo lúteo a cada ciclo menstrual
promove o relaxamento do útero, inibindo as fortes contrações
do miométrio, propiciando um ambiente ideal para a adesão de
um possível óvulo fertilizado. Nesse sentido, quando a mulher se
encontra grávida, a placenta produz uma quantidade muito maior
de relaxina, induzindo cada vez mais o relaxamento do músculo
liso do útero. Além disso, ao final da gestação a relaxina promove
o aumento da flexibilidade da sínfise púbica, auxiliando na
dilatação do útero, facilitando a expulsão do feto.

132
Fases do Ciclo de Reprodução
Feminina
O ciclo reprodutivo feminino apresenta variação entre 24 a 36 dias, variando de
mulher para mulher. É nesse período que ocorre toda a preparação uterina e
gonadal para uma possível implantação de um ovócito fecundado. No entanto,
para a compreensão deste ciclo, adota-se o período de 28 dias de duração do ciclo
menstrual e sua divisão em quatro fases distintas, porém, interligadas (TORTORA,
2016) (imagem 3):

Fase menstrual – comumente denominada de menstruação, costuma perdurar


durante os primeiro cinco dias do ciclo, período em que ocorre o desenvolvimento
de novos folículos primordiais por estímulo do hormônio FSH, tornando-se folículos
secundários. O processo de maturação folicular é um processo que demanda
muito tempo, podendo levar meses para ocorrer (TORTORA, 2016).

Durante essa fase ocorre a descamação do tecido uterino, com fluxo de sangue
(tecidual, muco, células) entre 50 a 150 m ℓ . A eliminação tecidual ocorre em
resposta a diminuição das concentrações de progesterona e estrogênios,
estimulando a liberação de prostaglandinas, resultando em contração das
arteríolas do útero, resultando em contração do órgão. Em resposta a essa ação
nas arteríolas, as células são privadas de oxigênio e morrem, e o estrato funcional
descama, tornando o endométrio mais fino (TORTORA, 2016).

Fase pré-ovulatória – compreende o período entre o fim da menstruação e


ovulação, apresentando duração muito variável (6 a 13 dias do ciclo). Em relação
aos folículos secundários, 1 dentre todos torna-se o folículo dominante, e durante
esse período ocorre a secreção de estrogênios e inibina pelos folículos secundários
ovarianos, resultando em diminuição na secreção de FSH. A redução do FSH
promove a atresia dos demais folículos, enquanto o folículo maduro aumenta a
produção de estrogênios (imagem 3) (TORTORA, 2016).

133
Ovulação – ocorre uma ruptura do folículo maduro e a liberação do oócito
secundário para o interior da cavidade pélvica (14° dia), onde o oócito permanece
cercado pela zona pelúcida e coroa radiada (imagem 1).

Os níveis elevados de estrogênios durante a última parte da fase pré-


ovulatória exercem um efeito de feedback positivo sobre as células
que secretam LH e hormônio liberador de gonadotropina (GnRH) e
induzem à ovulação. (TORTORA, 2016, p. 1079).

Fase pós-ovulatória – acontece entre a ovulação e o início da menstruação.


Caracteriza-se por ser a parte mais constante do ciclo reprodutor feminino, com
cerca de 14 dias de duração em um ciclo de 28 dias (imagem 3). Durante essa fase
o folículo maduro se colapsa, o corpo lúteo por meio da estimulação do LH secreta
progesterona, estrogênios, relaxina e inibina.

134
Imagem 3 – Ciclo reprodutor feminino

A. Regulação hormonal das alterações no ovário e útero

B. Alterações na concentração de hormônios hipofisários e ovarianos

Fonte: TORTORA, 2016.

135
O ciclo reprodutivo feminino pode ser influenciado
por muitos fatores, incluindo perda de peso, baixo
peso corporal, distúrbios alimentares e atividade
física vigorosa. A frequente ocorrência em conjunto
destas três condições – transtorno alimentar,
amenorreia e osteoporose – em atletas do sexo
feminino levou os pesquisadores a cunhar o termo
tríade da mulher atleta.

A cirurgia da redução de mama (mamoplastia redutora) é um


procedimento de diminuição do tamanho da mama por meio da
remoção de gordura, pele e tecido glandular. Este procedimento é feito
por causa de dorsalgia crônica, cervicalgia e dor nos ombros, má
postura, problemas circulatórios ou respiratórios, erupção cutânea sob
as mamas, restrição nos níveis de atividade, problemas de autoestima,
sulcos profundos nos ombros pela pressão da alça do sutiã e
dificuldade para vestir ou ajustar certas roupas e sutiãs (TORTORA,
2016).

136
As mamas das mulheres são muito suscetíveis a cistos e tumores. Na
doença fibrocística, a causa mais comum de nódulos mamários em
mulheres, desenvolvem-se um ou mais cistos e espessamentos dos
alvéolos. A condição, que ocorre sobretudo em mulheres entre 30 e 50
de idade, provavelmente é decorrente do excesso relativo de
estrogênios ou de deficiência de progesterona na fase pós-ovulatória
(lútea) do ciclo reprodutivo (TORTORA, 2016).

137
15

Sistema Reprodutor
Masculino
138
A anatomia do sistema reprodutor masculino em um corte sagital

Espermatogênese
O processo de espermatogênese, como o próprio nome diz, refere-se à síntese do
gameta masculino – os espermatozoides –, e esse processo dura de 65 a 75 dias,
iniciando com as espermatogônias (núcleo diploide – 2n), permanecendo nos
túbulos seminíferos de maneira indiferenciada, servindo como depósito de células
para divisão celular e para a futura produção de espermatozoides (TORTORA,
2016).

Após sua formação, cada espermatócito primário realiza a replicação de seu DNA e
inicia o processo de meiose (imagem 2).

Na meiose I, pares de cromossomos homólogos se alinham na placa


metafásica, e ocorre o crossing-over. Em seguida, o fuso meiótico puxa
um cromossomo (duplicado) de cada par para um polo oposto da
célula em divisão. As duas células formadas pela meiose I são
chamadas de espermatócitos secundários. Cada espermatócito
secundário tem 23 cromossomos, o número haploide (n). Cada
cromossomo dentro de um espermatócito secundário, no entanto, é

139
constituído por 2 cromátides (2 cópias do DNA) ainda ligadas por um
centrômero. Não há replicação de DNA nos espermatócitos
secundários (TORTORA, 2016, p. 1053).

Já durante a meiose II, ocorre o alinhamento dos cromossomos ao longo da placa


metafásica, resultando na separação de duas cromátides. Durante esse processo,
as quatro células haplóides resultantes da meiose II são denominadas
espermátides. Nesse sentido, apenas um único espermatócito primário secreta
quatro espermátides por meio de duas divisões celulares, a meiose I e meiose II.

Durante a fase final da espermatogênese (espermiogênese), ocorre o


desenvolvimento de espermátides haploides, não ocorrendo divisão celular
durante a espermiogênese, onde cada espermátide se torna um espermatozoide
único. Em seguida, as espermátides se tornam alongadas e delgadas, surge os
acrossomos (TORTORA, 2016).

Por fim, o espermatozoide se dirige ao lúmen do túbulo seminífero com o auxílio


do líquido secretado pelas células sustentaculares, ajudando o espermatozoide a
chegar aos ductos dos testículos.

140
Imagem 1 – Secção transversa de uma região do túbulo seminífero, onde ocorre o
processo de espermatogênese.

Fonte: TORTORA, 2016.

Em relação ao volume de produção diária de espermatozoides, cerca de 300


milhões destes concluem o processo de espermatogênese, e estes, por sua vez,
apresentam como principais estruturas a cabeça e cauda.

A cabeça apresenta uma morfologia achatada e triangular, onde se encontram os


23 cromossomos oriundos do pai. Já a cauda de um espermatozoide é dividida em
4 partes: colo, peça intermediária, peça principal e peça terminal. A peça principal é

141
a região mais longa da cauda, a intermediária apresenta mitocôndrias (produção de
ATP), enquanto que a peça terminal é a parte distal e afiliada da cauda (imagem 2)
(TORTORA, 2016).

Imagem 2 – Espermatozoide maduro e suas respectivas regiões com funções


específicas.

Fonte: TORTORA, 2016.

O processo de maturação sexual ocorre no período da adolescência, em ambos os


gêneros. No caso dos homens, os fatores que deflagram esse processo não são tão
claros, porém, sabe-se que células neurossecretoras hipotalâmicas aumentam o

142
volume de secreção de GnRH. O GnRH por sua vez, estimula os gonadotropos
presentes na adeno-hipófise a aumentarem a secreção de duas gonadotropinas
específicas, o LH e FSH. Estes hormônios participam do processo de feedback
negativo sobre a secreção de testosterona e espermatogênese (imagem 3).

O LH atua sobre as células intersticiais localizadas entre os túbulos seminíferos


para que secretem o hormônio esteroide testosterona, que é sintetizado a partir do
colesterol presente nos testículos, sendo o principal androgênio masculino. A
testosterona pode ser convertida em di-hidrotestosterona (DHT) em algumas
células-alvo por meio da ação da enzima 5-alfarredutase, em tecidos como os
órgãos genitais e próstata.

O FSH e a testosterona participam de maneira sinérgica sobre as células


sustentaculares promovendo a secreção das proteínas de ligação a androgênios
(ABP), na região do lúmen dos túbulos seminíferos e no líquido intersticial ao redor
das células espermatogênicas. A ABP ligada a testosterona resulta na manutenção
de altas concentrações desse hormônio, o qual, participa das etapas finais da
espermatogênese. Quando a espermatogênese é finalizada, as células
sustentaculares secretam o hormônio inibina que atua sobre a adeno-hipófise
resultando em inibição da secreção de FSH (TORTORA, 2016).

A testosterona a DHT se ligam aos tecidos alvo por meio dos mesmos receptores
androgênicos, localizados no interior celular. Quando o hormônio se liga ao seu
receptor, forma o que denominamos de complexo hormônio-receptor, regulando a
expressão de genes, por meio da ativação ou inibição. Em resultado a esses
processos de ativação e inativação, os hormônios androgênicos:

induzem o desenvolvimento pré-natal,


desenvolvem os caracteres sexuais masculinos (voz, pelos, alargamento dos
órgãos sexuais),
desenvolvem a função sexual (libido) e
estimulam o anabolismo (síntese proteica).

143
Imagem 3 – Eixo hipotálamo-hipofisário gonadal masculino

Fonte: TORTORA, 2016.

Como demonstrado na imagem 3, o controle da secreção de testosterona é


regulado por um refinado sistema de feedback negativo. Caso ocorra aumento
plasmático de testosterona de maneira que supere os valores de normalidade
fisiológica, há a supressão da secreção de GnRH (hipotálamo). Isso resulta em
menor liberação de LH e, as células intersticiais dos testículos secretam menor
quantidade de testosterona, normalizando as concentrações.

144
As glândulas seminais secretam um líquido viscoso
alcalino que ajuda a neutralizar o ácido do sistema
genital feminino, fornece frutose para a produção de
ATP pelos espermatozoides, contribui para a
motilidade e viabilidade do espermatozoide, e ajuda o
sêmen a coagular após a ejaculação.

A ejaculação precoce é ejaculação que ocorre demasiadamente cedo,


como por exemplo antes, durante ou logo após a penetração.
Geralmente é causada por ansiedade, outras causas psicológicas ou por
um prepúcio ou glande do pênis anormalmente sensível. Para a maior
parte dos homens, a ejaculação precoce pode ser superada por meio de
várias técnicas (como comprimir o pênis entre a glande e o corpo do
pênis conforme a ejaculação se aproxima), terapia comportamental ou
medicação.

145
A condição em que os testículos não descem para o escroto é chamada
de criptorquidia; ela ocorre em 3% das crianças a termo e 30% dos
prematuros. A criptorquidia bilateral não corrigida resulta em
esterilidade, porque as células envolvidas nas fases iniciais da
espermatogênese são destruídas pela temperatura mais elevada da
cavidade pélvica. A chance de câncer de testículo é 30 a 50 vezes maior
quando existe criptorquidia.

146
16

Sistema Imunológico

147
Sistema Imunológico Inato
A principal função do sistema imunológico é proteger o organismo contra agentes
invasores que possam oferecer perigo a integridade do organismo. Nesse processo,
o sistema imune tem por responsabilidade reconhecer o que é comum e o
incomum ao organismo. Bactérias, parasitas, vírus e outros organismos que podem
desencadear doenças são considerados agentes incomuns, assim como células que
se tornam defeituosas e que comprometem o sistema – células cancerígenas (ou
cancerosas), por exemplo (TORTORA, 2016).

Fonte: Disponível aqui

148
As linhas de defesa (segunda linha) dividem-se em quatro, da seguinte maneira
(TORTORA, 2016):

Linfócitos, Macrófagos e Fibroblastos: Quando há


presença de vírus ocorre a produção de proteínas

1
chamadas interferonas (IFN), que se difundem para as
células vizinhas não infectadas, resultando em síntese
de proteínas antivirais que interferem na replicação
viral. A IFN é uma importante defesa contra a infecção
por muitos vírus diferentes. Há três tipos de
interferonas: IFN alfa, IFN beta e IFN gama.‍

Sistema complemento: São proteínas plasmáticas que

2
são normalmente inativas constituem o sistema
complemento. Quando ativadas, essas proteínas
“complementam” ou melhoram determinadas reações
imunológicas, induzindo a citólise de microrganismos,
além do processo de fagocitose durante inflamações.‍

3
As proteínas de ligação ao ferro: inibem o
crescimento de determinadas bactérias; podemos citar
a transferrina (sangue e nos líquidos teciduais), a
lactoferrina (leite, saliva e muco), a ferritina (fígado,
baço e medula óssea) e a hemoglobina (eritrócitos).‍

149
Proteínas antimicrobianas (PAM): São peptídios que

4
apresentam largo espectro de atividade
antimicrobiana. Exemplos de PAM são a dermicidina
(glândulas sudoríferas), as defensinas e catelicidinas
(neutrófilos, macrófagos e epitélios) e a trombocidina
(plaquetas).

Células Natural Killer e Fagócitos


Quando ocorre a invasão de micro-organismos nocivos ao nosso corpo por meio da
pele e túnicas das mucosas, ou até mesmo na corrente sanguínea, ocorre a
ativação da defesa imunitária inespecífica (células Natural Killer (NK) e fagócitos).

Aproximadamente 5 a 10% dos linfócitos do sangue são células NK


(natural killer). Elas também são encontradas no baço, nos linfonodos e
na medula óssea. As células NK não apresentam moléculas de
membrana que identificam os linfócitos B e T, mas têm a capacidade
de matar uma vasta variedade de células infectadas do corpo e
algumas células tumorais. As células NK atacam as células do corpo
que apresentam proteínas de membrana plasmática anormais ou
incomuns (TORTORA, 2016).

Quando as células NK se ligam à célula invasora ocorre a secreção de grânulos que


contêm substância tóxicas características às células NK. Dentre elas podemos citar
a perforina, que se encontra inserida na membrana plasmática da célula que está
sendo atacada.

Em resposta, o líquido extracelular flui para a célula-alvo e a célula explode, em um


processo chamado de citólise, além disso há a liberação de granzimas que digerem
as proteínas das células-alvo, levando-as a apoptose. Interessantemente Esse tipo
de ataque mata as células infectadas, mas não os microrganismos intracelulares; os
microrganismos liberados, os quais podem ou não estar intactos, podem ser
destruídos pelos fagócitos (TORTORA, 2016).

150
Os fagócitos são células que apresentam como característica principal o processo
de fagocitar, ou seja, a ingestão de outros microorganismos e restos celulares.
Dividem-se em dois tipos principais, os neutrófilos e os macrófagos, atuando
principalmente em processos de inflamação e infecção. Após o foco inflamatório
ocorrer (imagem 2), os neutrófilos e monócitos migram para a área infectada, onde
os monócitos aumentam de tamanho e tornam-se macrófagos ativos (fagocíticos),
denominados de macrófagos errantes (TORTORA, 2016).

Já os macrófagos fixos desempenham um papel de proteção dos tecidos frente a


agentes invasores, dentre eles há os histiócitos (macrófagos do tecido conjuntivo),
as células reticuloendoteliais estreladas no fígado, macrófagos alveolares nos
pulmões, células microgliais no sistema nervoso e macrófagos teciduais no baço,
nos linfonodos e na medula óssea.

151
Imagem 2a – Processo de fagocitose: processo inflamatório e quimiotaxia padrão
em resposta a agentes invasores

Imagem 2b – Fagócito (leucócito) englobando micro-organismo

Fonte: TORTORA, 2016.

152
O processo de fagocitose é de grande importância para nossa sobrevivência e, de
acordo com Tortora (2016), pode ser resumidamente apresentado da seguinte
maneira:

Quimiotaxia: A fagocitose se inicia com a quimiotaxia (imagem 3), resposta


química desencadeada por fagócitos para o sítio inflamatório. Os sinais químicos
que atraem os fagócitos são liberados por microrganismos invasores, leucócitos,
células teciduais danificadas ou proteínas do complemento ativadas.

Aderência: A adesão dos fagócitos ao microrganismo ou outro material estranho é


denominada aderência, uma vez que a ligação das proteínas do sistema
complemento ao agente patogênico invasor aumenta a aderência.

Ingestão: A membrana plasmática do fagócito estende projeções, chamadas


pseudópodos, que engolfam o microrganismo em um processo chamado de
fagocitose. Quando os pseudópodos se encontram, eles se fundem, envolvendo o
microrganismo em uma bolsa chamada de fagossomo.

Digestão: O fagossomo entra no citoplasma e une aos lisossomos, formando uma


estrutura única e maior, denominada de fagolisossomo. O lisossomo auxilia a
lisozima e demais enzimas digestivas que degradam carboidratos, proteínas,
lipídios e ácidos nucleicos. O fagócito libera substancias oxidantes letais, como
ânion superóxido (O₂⁻), ânion hipoclorito (OCl⁻) e peróxido de hidrogênio (H₂O₂), em
um processo chamado de explosão oxidativa.

Morte: O ataque químico pela lisozima, enzimas digestivas e pelos oxidantes


dentro de um fagolisossomo mata rapidamente muitos tipos de microrganismos e,
os materiais celulares que não podem ser degradados permanecem em estruturas
chamadas corpos residuais.

153
Imagem 3 - Processo de quimiotaxia

Fonte: TORTORA, 2016.

154
Se o pus não for capaz de drenar para fora de uma
região inflamada, resulta em um abscesso – acúmulo
substancial de pus em um espaço confinado.
Exemplos comuns são as espinhas e os furúnculos.
Quando tecidos superficiais inflamados esfacelam a
superfície de um órgão ou tecido, isso resulta em
uma ferida aberta chamada de úlcera. As pessoas
com má circulação – diabéticos com aterosclerose
avançada, por exemplo – são suscetíveis de ter
úlceras nos tecidos de suas pernas. Estas úlceras, que
são chamadas de úlceras de estase, se desenvolvem
por causa do déficit no suprimento de oxigênio e
nutrientes aos tecidos, que então se tornam muito
suscetíveis a uma lesão ou infecção muito leve.

A tonsilite (ou amigdalite) é uma infecção ou inflamação das tonsilas (ou


amígdalas). Na maior parte das vezes, é causada por um vírus, mas
também pode ser causada pelas mesmas bactérias que causam a
inflamação de garganta. O principal sintoma da tonsilite é dor de
garganta. Além disso, também podem ocorrer febre, aumento das
dimensões dos linfonodos, congestão nasal, dificuldade para deglutir e
cefaleia. A tonsilite de origem viral geralmente melhora
espontaneamente.

155
Alguns micro-organismos, como as bactérias que causam pneumonia,
têm estruturas extracelulares chamadas de cápsulas, que impedem a
aderência. Isso dificulta fisicamente que os fagócitos engolfem estes
micro-organismos.

156
Referências
PRESTON, Robin R; WILSON, Thad E. Fisiologia Ilustrada. [S. l.: s. n.], 2014. E-book.

TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca,


(14ª edição). Grupo GEN, 2016.

FOX, S. I. Fisiologia Humana. Disponível em: Minha Biblioteca, (7ª edição). Editora
Manole, 2007.

SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana. Grupo A. 9788582714041. Disponível em:


https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582714041/. Acesso em: 2021 set.
13.

STANFIELD, C. L. Fisiologia Humana: Com MyHealthLab. 5ª ed. USA: Pearson


Universities, 15 jan. 2014.

157

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