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UNICENTRO/BR.
Existem sentidos que regem a criação dos Jogos, dos Povos Indígenas no Brasil tendo
como escopo a análise dos discursos fundadores que dão sentidos às práticas
engendradas no interior destes eventos. Tais narrativas instituídas-instituintes expressam
territorialidades ausentes. As práticas de representações identitárias presentes nas
performances dos grupos que marcam presença a cada edição dos Jogos dos Povos
Indígenas no Brasil sugerem retorno a certa época do ouro dos povos indígenas,
habitantes tradicionais da terra brasilis, práticas de recuperação de ausências, marcas de
ideais românticos inseridos no imaginário social brasileiro sobre as populações
indígenas. É possível atribuir outros sentidos em meio a esta iniciativa política de
memória. De um lado, os diálogos e as negociações sociais que tracejam o evento,
marcam “o lugar indígena” na sociedade. De outro, as práticas identitárias são
reinventadas, são artefatos culturais dinâmicos, resultado de culturas (em disputa)
acerca da relação entre povos indígenas, de projetos nascidos no interior do campo
político bem como de discursos fundadores presentes no ato de criação daqueles Jogos.
Com efeito, os povos indígenas ao incorporarem representações trazidas pelo ideário
romântico querem seja na espetacularização dos corpos, nas tradicionais pinturas
corporais, nos adornos, nas corridas de toras, na prática do arco e flecha, dentre outros.
argumentos que têm sido celebrados ao longo de suas edições: a imagem de um imenso
jardim de história, racionalmente planejado para tornar visível (mesmo que deslocada)
a cultura e a tradição. Essas colocações partem também da existência de um princípio
mimético que rege tais as práticas.
1
O Art. 217 destaca como dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não
formais, como direito de cada um, observados a autonomia das entidades desportivas
dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento; a destinação de recursos
pulicos be como a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de
nomenclaturas nas localidades que o tem abrigado.2 Parte da paisagem social no cenário
em que ocorre esse encontro, a finalidade primeira se (re)atualiza na frase “celebrar e
não competir”. Destarte, a celebração é também um encontro ritualizado que expõe uma
memória selecionada e que, paulatinamente vem se construindo como uma política de
memória.3
4
De acordo com Monteiro (1994), qualquer estimativa acerca da população indígena deverá
levar e consideração fatores históricos relacionados a guerras de conquista, os efeitos das
doenças sobre as populações indígenas e os movimentos espaciais em decorrência do contato
entre outras questões. Conforme: MONTEIRO, Jonh. A Dança dos Números. In: Tempo e
presença, São Paulo: CEDI, ano 16, 273,1994.
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A dizimação de muitos povos indígenas por conflitos armados, as epidemias a
desestruturação social são processos de depopulação e que, portanto não podem ser tratados
como fatos sem levar em conta as características históricas e internas de cada grupo. Análises
sobre os impactos de uma mesma epidemia tem diferentes sociedades indígenas ainda estão
para ser realizados assim como as relações entre os povos e as diferentes agências
indigenistas ou frentes de colonização e seus impactos na dinâmica dessas populações
também não foram estudados. Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/quantos-
sao/quantos-eram-quantos-serao . acessado em:15-05-13.
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O Serviço de Proteção aos Índios (SPI) ou Serviço de Proteção aos Índios e Localização de
Trabalhadores Nacionais, parte constituinte do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio
(MAIC), consiste em um órgão público criado durante o governo do Presidente Nilo Peçanha no
ano de 1910objetivando prestar assistência à população indígena. Foi organizado pó Marechal
Rondon e foi extinto e substituído pela FUNAI no ano de 1967.
meio a seus contornos e contrastes ainda redesenham sua história e sua geografia na
paisagem social brasileira. De lá para cá, delinearam-se novas possibilidades em face as
lutas sociais dos indígenas pelo direito ao reconhecimento de suas garantias legais e em
decorrência da forma como vem se pensando e como se reconhece hoje a condição
indígena.
Via de regra, o contexto da Carta Constitucional brasileira de 1988, foi uma
época em que organismos políticos e sociais, lideranças e grupos de representação
indígena passam a adquirir visibilidade na reivindicação da terra como seu direito
original. A partir daquele período, os indígenas, passando a compartilhar direitos
universais constituem-se oficialmente como cidadãos que, portanto, devem ter
garantidos o direito de que esses serviços respeitem suas organizações culturais, sociais
e políticas.
Na prática sabe-se que o acesso e a qualidade de tais serviços oferecidos de
direito não são satisfatórios, contudo, existem e demarcam as políticas nacionais. Em
linhas gerais esses princípios foram uma conquista da mesma forma que a aplicação dos
mesmos ainda é um desafio.7 Outro desafio diz respeito a afirmação da sua diferença e a
busca por espaços de reconhecimento para suas identidades.
Os anos 1970 marcam a ocorrência de embates do movimento indígena no Brasil
e na América Latina, região enclausurada por regimes militares. No Brasil, a luta
travada pelo retorno da democracia contribuirá para a condição indígena: protestos
carregavam a marca da luta em prol dos direitos indígenas à educação, saúde, a
autodeterminação e ao território.
Pode se dizer que na contemporaneidade o movimento indígena vem se
destacando pelo coletivo de ações, articulações, e direcionamentos perfilhados,
conforme destacado por ( SANT‟ANA, 2010, p.20 ) nas “[...] especificidades de cada
etnia, pelas relações particulares destas com o Estado, com as agências de apoio, pela
inserção maior ou menor no contexto da sociedade nacional, entre tantas outras
particularidades.” (Sant‟Ana, 2010, p.20 ). Desse modo, não é uma ação uníssona que
segue uma ordem linear, mas sim movimentos que oscilam entre avanços e refluxos,
7
Referimo-nos como por exemplo a demarcação das terras indígenas. A Constituição brasileira
de 1988 prevê a legitimidade do direito a terra. O Brasil teria cinco anos para demarcar todas
as terras indígenas. Até os dias de hoje isso não ocorreu e em grande parte muitos desses
territórios se viram confinados em meio a extensas áreas de monocultura. Acrescenta-se a
essa questão a criação de hedrelétricas, abertura de estradas as quais perpassam projetos de
mineração, fazendas de gado dentre outras. Conforme discussões entabuladas por Clarice
Cohn em Relações de diferença no Brasil Central: os Mebengokré e seus outros, dissertação
defendida na USP no ano de 2006.
cujos contextos influenciam nos impactos e resultados diferenciados. Destarte,
pesquisas interdisciplinares e estudos etno-historicos destacam a capacidade dos povos
indígenas de reformularem suas culturas, mitos e a sua visão de mundo para refletir as
novas realidades: povos que historicamente haviam sido reduzidos a escravidão e
marginalizados pela sociedade reconstituíram seus significados e rearranjaram suas
culturas.
Na mesma linha de interpretação, estudos têm afirmado não existir tradição
estática e por mais violenta que tenha sido o processo de contato, sempre há um ato
criativo por parte dos índios e longe de povos sem história estiveram e estão sempre
engajados com a sua história interpretando e reinterpretando o mesmo contato,
fortalecendo-se assim como coletividade8.
Uma prática contemporânea de atitude é o chamado associativismo étnico.
Recente na história das mobilizações e inserções políticas indígenas e tem se revelado
como possibilidade que se engendra em meio a debates e alianças entre indígenas e
poder tutelar tendo como escopo a cidadania. Em meio a isso, as agremiações indígenas
representam uma fissura que se abre e se amplia em diferentes setores da sociedade,
inclusive elegendo práticas corporais como um dos objetivos iniciais e com o tempo
vem se ampliando para objetivos políticos como, por exemplo, os Jogos dos Povos
Indígenas no Brasil.9
Nessa direção, a condição indígena vem se restaurando. Constituído como um
espaço simbólico para a expressão da territorialidade indígena, tal evento foi gestado ao
longo de 16 anos, período em que lideranças indígenas da etnia Terena deram início a
amplas negociações sociais percorrendo os espaços de poder politico buscando alianças
para levar a cabo uma olimpíada indígena. 10
A paternidade dos Jogos dos Povos Indígenas no Brasil é tributada a uma
iniciativa indígena brasileira, através do chamado Comitê Intertribal - Memória e
Ciência Indígena (ITC), com o apoio do Ministério do Esporte do Brasil. Este Comitê
8
Refiro-me a estudos tais como Almeida (2003), Vainfas (1995),Oliveira (1999) , Meliá (1988),
Viveiros de Castro (1992), dentre outros.
9
Por exemplo o time de futebol denominado União das Nações Indígenas em Brasília, além da
Associação dos Trabalhadores Terena do Iriri -ATITI que revigorou a Dança das Emas, e
também a Associação Grupo Te‟ que divulga danças tradicionais como a Kohixoti Kipa.
Conforme Ferreira,(ano, p. 14). http://www.uel.br/grupo-
estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais14/arquivos/textos/Mesa_Coordenada
/Trabalhos_Completos/Maria_Beatriz.pdf . acessado em 14-05-2013.
10
No total já foram mais de 150 povos indígenas brasileiros reunidos, tais como Xavate, Pareci,
Bororo, Guarani, Kadiwéu, incluindo-se as chamadas delegações estrangeiras indígenas do
Canadá e da Guiana Francesa.
surge no interior da Eco-92, Conferência Internacional no Rio de Janeiro, espaço em
que houve uma participação política dos Povos Indígenas. Nesse evento tal entidade
multiétnica tem os Jogos dos Povos Indígenas como uma de suas principais realizações.
Os JPIs por sua vez, passam a se constituir como locais onde são conjugados os
conhecimentos ancestrais, os conhecimentos técnico do poder público e, o
conhecimento científico.11
O entendimento dessa questão passava pela luta indígena no país. À medida que
os Jogos vão se destacando no cenário político e recebendo atenção midiática a questão
se desdobra passando pela visibilidade étnica, a recuperação da historicidade indígena,
atingindo questões do acesso a terra ao direito ao livre exercício da cidadania. Por fim,
recoloca-se o indígena como legítimo filho da terra brasilis.
11
As diferentes performances corporais tornam-se paulatinamente objetos da ciência do
desporto, a qual fez das edições dos Jogos dos Povos Indígenas um espaço legítimo para o
exercício da sua prática.
12
Referimo-nos aos irmãos Carlos e Marcos, nascidos no posto indígena do distrito de
Taunay, no município de Aquidauana, no estado brasileiro do Mato Grosso do Sul,
pertencentes a à etnia indígena Terena. Fundamentais nas negociações sociais que cerca o
empreendimento, os Terena, são expoentes cujo nome, obra e suas lutas vêm se fundindo com
a trajetória dos Jogos dos Povos Indígenas no Brasil. Dentre o coletivo de atributos que
recebem, está aquele que os aloca como idealizadores dos Jogos dos Povos Indígenas no
Brasil.
brasileiro tais como Ministério do Esporte, Ministério do Turismo, da Cultura, Funai,
Ministério da Saúde, Secretaria da Igualdade Racial, dentre outros órgãos além do já
citado Comitê Intertribal memória e Ciência Indígena.
Creio que a visibilidade dos povos indígenas, projeto sonhado pelos conhecidos
pais fundadores, Marcos e Carlos Terena, finalmente parece estar se concretizando: a
diversidade nacional é posta em cena mostrando o caldeirão étnico constitutivo da
nacionalidade brasileira.
É preciso considerar que, para além dos méritos e das intensas lutas travadas
para a consecução dos Jogos dos Povos Indígenas, que hoje adquiriram importância
nacional e visibilidade internacional, ainda são enormes as distancias a serem superadas
para o pleno exercício dos direitos de cidadania para os povos “da floresta” em
particular,mas também para os povos ‘da cidade” que vivem a margem do Estado de
direito na nação brasileira.
Avançando as conquistas indígenas por meio da criação dos Jogos dos Povos
Indígenas no Brasil queremos problematizar algumas questões. A primeira delas é a
presença de um enredo que nega a competição. Esse princípio é destacado com poucas
variações da seguinte forma: não é a conquista que interessa, não são as medalhas, o
pódio, o importante é brincar , celebrar.
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Essas falas se fazem presentes, com poucas variações no conjunto das entrevistas
coletadas por pesquisadores do Laboratório de Antropologia bio-cultural da Unicamp, e no
acervo digital do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo contidas no banco de
dados “ Reconstrução da Trajetória de criação, Implementação e Difusão dos Jogos dos Povos
Indígenas no Brasil (1996-2009), bem como nos dados obtidos em nossas observações de
campo nos Jogos dos Povos Indígenas no ano de 2005 em Porto Seguro, BR.
14
Entrevista concedida a Diana Ruiz pela liderança Carlos Terena no ano de 2009 e citada por
Gruppi, (2013, p. 84-5).
Refuta-se, portanto a competição e por extensão o conflito entre os pares
sugerindo o apagamento das diferenças e da herança histórica engendrada no habitus
guerreiro dessas populações. O que implica em uma visão que simplifica, enrijece,
reduzindo a um número cada vez menor de traços que se tornam diacríticos. Tais sinais
diacríticos para Manoela Carneiro da Cunha (1992) consistem em sinais distintivos que,
segundo a pesquisadora podem ser escolhidos conforme a necessidade de se estabelecer
o contraste entre grupos diferentes.
Sabe-se que o imaginário brasileiro sobre o índio oscila entre duas visões
herdadas da filosofia européia. A primeira delas destaca o atraso desses povos e a
segunda destaca a pureza e se revela na sociedade e no interior de falas tais como a
apresentada anteriormente. É fato que vem perdurando na sociedade, doses variadas
dessa ambígua impressão, porém, os JPIs vem tecendo uma imagem positivada acerca
dessas populações.
[...] a gente tem o lado educativo dos jogos, [...] a gente busca
ensinar um pouco a meneira mais correta de não sujar o rio [...]
a gente fala que o importante pra nós é a gente brincar entre nós,
celebrar, vamos celebrar a vida, celebrar a comida, celebrar a
natureza [...] (Apud, Gruppi, 2013, p.85).
Com esse argumento é que entendemos que os JPIS no Brasil ao longo de suas
onze edições têm sido solenizados encenando um imenso jardim de história, porém, um
cenário racionalmente planejado para tornar visível (mesmo que deslocada) a cultura e a
tradição.
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Esses espaços outros, as heterotopias tem como raiz termonológica: aglutinação, de
hetero = outro + topia = espaço. Elaborado por Michel Foucault que descreve lugares e
espaços que funcionam em condições não hegemônicas,Foucault usa o termo heterotopia para
descrever espaços que têm múltiplas camadas de significação ou de relações à outros lugares
e cuja complexidade não pode ser vista imediatamente. No curso de sua história,cada
sociedade faz funcionar de uma maneira muito diferente uma heterotopia. Cada heterotopia
tem uma função interior sociedade e pode, de acordo com a sincronia da cultura na qual
ocorre, ter uma função ou outra. Análises em torno da questão podem ser encontradas em:
http://analobocrispi.files.wordpress.com/2009/05/michelfoucaultheterot_carmela.pdf acessado
em 15-05-2013.
http://foucault.info/documents/heteroTopia/foucault.heteroTopia.en.html acessado em 15-05-
2013
Contudo, a sociedade perfeita é uma heterotopia de compensação ou de ilusão.
Isso ocorre porque o evento Jogos dos Povos Indígenas é um lugar real em que se
justapõem diversos lugares simbólicos mesmo que incompatíveis: a celebração e a
competição, a harmonia e o conflito, as fissuras e as continuidades históricas, o presente
e o passado.
É assim que os Jogos dos Povos Indígenas fazem encadear sobre a arena em que
o cerimonial de abertura ocorre com uma pajelança, colocando em cena toda uma série
de lugares estranhos onde desfilem de forma semelhante a abertura de jogos olímpicos,
onde há a entrada da tocha, seguida das etnias com roupas típicas.
Estranhos uns aos outros, e ao mesmo tempo tão próximos, público e povos
indígenas encontram-se em mediados pelo espaço circular no interior da qual circundam
diferentes etnias indígenas com seus adereços e seus corpos tracejados pelas pinturas
corporais como uma espécie de (re)colocação do tempo. O passado ressurge no presente
trazendo a tona uma imagem ausente. As performances sugerem imagens-espelho que
recupera existências passadas visando um futuro que venha fazer as pazes com a
história dos povos indígenas que constituem a história da nação brasileira.
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No oriente o jardim, uma admirável criação milenar, teve densos significados superpostos. O
jardim dos povos Persas consistia em um lugar sagrado que devia reunir no interior de seu
retângulo 4 partes representando as 4 partes do mundo, com um espaço ainda mais
sacralizado que os outros. Como o umbigo do mundo em seu centro (o vaso e a fonte de
água); e a vegetação do jardim devia ocupar este espaço, como um microcosmos. Os tapetes
eram originalmente reproduções de jardins. O jardim é portanto, como um tapete onde todos
completam sua perfeição simbólica, e o tapete, ao mesmo tempo, possui a condição de jardim
que pode se mover através do espaço. O jardim é a menor parcela do mundo e assim a
totalidade do mundo. Desde a antiguidade o jardim era uma espécie heterotopia feliz e
universalizante (nossos jardins zoológicos nascem daí)
Segundo nosso entendimento, em cada novo encontro o que reverbera é a
conjunção entre diferentes, contrariando assim apelos imagéticos que anunciam a
identidade una para o coletivo dos povos indígenas lá (re)apresentados.
Não cabe aqui aprofundar essa discussão mas é importante ressaltar que é
impossível recuperar o passado na sua concretude. Não é possível resgatar a memória e
dada tradição original. Os rituais, os jogos tradicionais que se reapresentam nos Jogos
dos Povos Indígenas no país são tentativas de recuperar uma ausência, são
representações, são sinais de identificação.
Mas, de forma geral, como resume Lopes (1995) o esporte para Elias e Dunning
(1992), assim como o teatro para Aristóteles aparece como simulacros da guerra e
simulacros dos dramas sociais. Estas simulações produzem nos participantes e também
nos espectadores um efeito catártico: a mimesis da excitação agradável e controlada por
regras, com respeito à vida e difundida onde quer que haja esporte.
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http://www.brasilescola.com .
Além disso, a mesma sociedade que retira da cena a prática dos Jogos Tradicionais e
cria o esporte moderno, se vê diante da possibilidade dos re-arranjos tecidos pela
contemporaneidade pela sensação ou presença de deslocamentos, perdas ou
fragmentações das identidades sociais, se coloca como mediadora na recuperação de
supostas “identidades perdidas.” Exemplo desse empreendimento é a ênfase dada às
culturas indígenas quando da re-criação ou institucionalização de jogos tradicionais
indígenas, i.e. aquilo que Fassheber (2006) conceituou de etno-desporto 18.
Destarte, no coletivo das falas que cercam a criação dos Jogos dos Povos
Indígenas no país, é contundente a vontade política de expor os JPIs aos não índios
usando para tal intento a mimesis da organização de eventos esportivos próprios das
sociedades não índias. Feito em cidades esse evento atrai a mídia de toda parte do
mundo. Como lembra-nos Vianna (2000),
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É a prática das atividades físicas tanto sob a forma de jogos tradicionais específicos e a
mimesis que dinamiza estes jogos, quanto sob a forma de adesão ao processo de “mimesis do
esporte global” da sociedade Fóg. Em outros termos, é a capacidade de cada povo indígena de
adaptar-se aos esportes modernos, sem, contudo, perder sua identidade étnica (FASSHEBER,
2006, p.33, Apud; FASSHEBER, FERREIRA e FREITAG, 2008, p.3).
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Essas considerações foram extraídas do trabalho apresentado na 26ª Reunião Brasileira
de Antropologia, realizada entre os dias 01 e 04 de junho de 2008 em Porto Seguro, Bahia,
Brasil. O texto Jogos dos Povos Indígenas: um “lugar” de negociações sociais foi produzido a
seis mãos por José Ronaldo Mendonça Fassheber, (UNICENTRO)Liliane da Costa Freitag
(UNICENTRO)e Maria Beatriz Rocha Ferreira, na época vinculada a UNICAMP. Quanto as
regras e os dispositivos destacados na citação, esses foram extraídos em:
www.esporte.gov.br em seu link para os Jogos dos Povos Indígenas. Considerações extraídas.
O papel do Evento com seus rituais e práticas corporais como objetos simbólicos
de identidade reside na garantia de continuidade, legitimidade, enraizamento espaço-
temporal e confirmação da própria identidade indígena. Sem dúvida, é um lugar de
memória. Os lugares de memória são formas e ocasiões de demonstrações, de
exteriorização das memórias. Os mesmos acabam tornando-se lembranças visíveis que
condensam a imagem de um passado evocador, que quer transcender que faz um apelo
ao pertencimento, ao radicamento de tradições e de crenças; representação pública e
objetiva da memória, de comunidades; uma forma de ritualizar a tradição (NORA,
1997)
Existe, portanto toda uma lógica da memória que compõe o cenário para as
práticas corporais indígenas que ultrapassam a tradição e se expandem pela mimesis
entre tradição e esporte próprios das sociedades não índias. Da mesma forma constui-se
uma memória que assume o enredo roconclusão romantica que apaga a diferença e
sugere a redescoberta dos povos indígenas a partir do enredo que romantiza as práticas e
que apaga o conflito. As falas revelam que a imagem do bom selvagem ainda
permanece com profundidade e serve de inspiração para a imagem que os indígenas tem
de si e do grupo ao qual pertence. Precisamos ultrapassar essa idéia-imagem. Indígenas
são seres históricos e tem atitudes históricas e possuem portanto especificidades e
portanto, vivem na e em sociedade, assim como a infinidades de povos e das etnias que
fazem a cltura brasileira. Podem, portanto, viver na natureza mas também a modificam
criando novos meio ambientes agregando excedentes economicos, recriando suas
relações sociais e reelaborando seus mitos e ritos segundo as suas especificidades e
segundo suas demandas na contemporaneidade. Só assim poderemos vislumbrar certo
ressurgimento dos povos indígenas como constitutivos do mosaico étnico brasileiro.
Bibliografia
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Companhia das Letras, 1992, p. 133-154.
LIMA, A.C.S. O governo dos índios sob a gestão do SPI. In: História dos índios no
Brazil. Companhia das Letras, 1992, p. 155-172
MONTEIRO, Jonh. A Dança dos Números. In: Tempo e presença. São Paulo: CEDI,
ano 16, 273,1994.
Sites:
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acessado em 14-03-2013.
http://analobocrispi.files.wordpress.com/2009/05/michelfoucaultheterot_carmela.pdf
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http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/quantos-sao/quantos-eram-quantos-
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http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.p
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