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FRANCO, R. K. G. Um espectro ronda Parnaíba, “terra livre das atividades subversivas


de comunização do Brasil” (1960-1980). Revista Ciências & Letras, Porto Alegre, v. 56,
p. 62-80, 2014.

UM ESPECTRO RONDA PARNAÍBA "TERRA LIVRE DAS ATIVIDADES


SUBVERSIVAS DE COMUNIZAÇÃO DO BRASIL"(1960-1980)

RESUMO:
Em Parnaíba, cidade praiana piauiense, muitos eram os sindicatos em luta e resistência política contra o golpe
civil-militar de 1964, ou seja, a burguesia e seu braço armado, os militares, que assassinaram friamente, ao
provocar violento aborto social, todo um desenvolvimento histórico que se gestava na luta pela melhoria das
condições materiais da existência da classe pobre. Ao efetuar-se, dialeticamente, o cruzamento de fontes orais e
escritas diversas, os sinais, pistas e indícios infinitesimais (GINZBURG, 1989) evidenciam que o espectro do
comunismo rondava a cidade de Parnaíba, Terra Livre das Atividades Subversivas de Comunização do Brasil, dos anos
de 1960 a 1980. O texto deseja contribuir para o debate político de disputa da memória da ditadura civil-militar
no Piauí, ao tempo em que assume a função social de escovar a história a contrapelo (BENJAMIM, 1994),
apresentando possíveis outras histórias.
Palavras-chave: Parnaíba/PI. Sindicatos. Ditadura Civil-Militar e Comunistas.

ABSTRACT:
In Parnaíba, Piauí beach town, many unions were fighting and political resistance against the civilian-military
coup of 1964, ie, the bourgeoisie and its armed wing, the military, who coldly murdered by provoking violent
social abortion, a whole historical development that gestava the struggle to improve the material conditions of
existence of the poor class. To be effected, dialectically, crossing several written and oral sources, signals, cues
and clues infinitesimal (GINZBURG, 1989) show that the specter of communism haunted the city of Parnaíba,
Free Land of the Subversive Activities Communization of Brazil the years 1960 to 1980. the text you want to
contribute to the political debate of race memory of civil-military dictatorship in Piauí, to the time it takes the
social functions to brush history against the grain (BENJAMIN, 1994), with possible other stories.
Keywords: Parnaíba/PI. Unions. Civil-Military Dictatorship and Communists.

Introdução: contando as histórias das histórias contadas

Cada povo tem que lutar pela sua memória. Seria ingênua pensar que conhecemos o
nosso passado. O que a maioria sabe acerca do passado é exatamente o que os
detentores do poder permitem que ela saiba. Fica bem claro que os que estão no poder
não tem nenhum interesse em que o povo conheça a sua verdadeira história, pois ela é
por demais instrutiva acerca das injustas praticadas contra um povo.
(CAPISTRANO DE ABREU)

Este texto, feito de infinitas emoções, deseja contribuir para a produção historiográfica
sobre possíveis outras histórias da ditadura civil-militar no Piauí (1964-1985), buscando
problematizar a memória desse período na cidade de Parnaíba, situada na região do Delta do
Parnaíba, litoral norte do Estado do Piauí. Objetivamos encontrar nesta investigação vestígios
do regime e seu oposto, a resistência. Nossa pesquisa emerge no ano de 2012, quando a
história recente do Brasil foi marcada pela retomada de um debate de raízes culturais
profundas e ainda não totalmente conhecidas pela sociedade brasileira, a ditadura civil-militar
de 1964-1985.

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Ilegitimamente, o golpe civil-militar de 1964, ou seja, a burguesia e seu braço armado,


os militares, assassinaram friamente, ao provocar violento aborto social, todo um
desenvolvimento histórico que se gestava na luta pela melhoria das condições materiais da
existência da classe pobre nos pós-1960 em diante no Brasil. Todos os atos da ditadura civil-
militar, ou melhor, da burguesia militarizada, portanto, são ilegais, tudo isso em prol da
defesa da propriedade privada, lógica política indispensável da sociabilidade determinada
pelas relações de produção capitalista, que fizeram do Brasil refém do imperialismo dos
Estados Unidos.1
Posto isto, anunciamos, que nossa intenção de investigar os pormenores da temática na
cidade de Parnaíba/PI, se articulam com a condenação do Estado brasileiro por corte
internacional em decorrência da prática de crime de lesa-humanidade durante o regime
ditatorial, ou seja, pelos atos de violação aos direitos humanos praticados por agentes
públicos, pessoas ao seu serviço, com apoio ou no interesse do Estado.
Especialmente, do ponto de vista da memória-histórica, nos chamaram a atenção os
desdobramentos da Lei 12528/2011, instituída em 16 de maio de 2012, criando a Comissão
Nacional da Verdade - CNV. Críticas à parte, o ato simboliza a conquista da luta dos
movimentos sociais diversos que se mobilizaram pela punição dos responsáveis pelos crimes
cometidos durante a ditadura civil-militar pós-1964.
A CNV surge como resposta institucional do Estado para a comunidade brasileira no
que se refere aos seus direitos e, ainda, sobre o debate a respeito dos desaparecidos políticos,
do reconhecimento de ossadas e da abertura de arquivos secretos da ditadura. Dentre suas
finalidades estabelecidas, a Comissão Nacional da Verdade possui quatro destinações
principais: 1) promover o direito à memória; 2) efetivar a verdade histórica; 3) promover a
reconciliação nacional; e 4) recomendar reformas do aparato institucional
Simultaneamente ao nascimento da CNV, em várias cidades do Brasil, são criados
comitês em nome da Memória, Verdade e Justiça. Na cidade de Parnaíba, por iniciativa do
Grupo de Estudos Marxista Piauiense – GEMPI, o Comitê foi instituído dia 22/05/2012, nas
dependências da Universidade Estadual do Piauí, onde se reuniram no Seminário sobre o
tema, pessoas e entidades diversas, representando a sociedade civil organizada em prol da
memória, verdade e justiça do povo brasileiro.

1
Para a escrita do texto dialogamos com a seguinte literatura existente sobre o tema: (BRASIL, 2014);
(CARVALHO, 2006); (AARÃO REIS FILHO, 2014, 2012); (MATTOS, 2005, 1998); (GASPARI, 2002), entre
outros. Entretanto, a inspiração maior para a escrita do texto foi dialogar amplamente com as fontes primárias
por nós encontradas acerca da temática deste dossiê, ensaiando assim uma escrita autoral sobre a historiografia
da Ditadura Civil-Militar no Estado do Piauí.

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A criação do Comitê Memória, Verdade e Justiça na cidade de Parnaíba/PI foi de


suma importância, especialmente na mobilização da juventude das escolas da educação básica
e universitária, para o debate político na disputa da memória sobre a ditadura civil-militar na
História do Brasil pós-1964, que, dialeticamente, "deve ser integrada à história da luta de
classes” (BENJAMIN, 1981, pg. 1240), ao tempo em que assume a função social de “escovar a
história a contrapelo” (BENJAMIM, 1994).
O fato é que emergiu da realização dos Seminários Memória, Verdade e Justiça da
Cidade de Parnaíba2, em decorrência da capilaridade dos contatos feitos pelos membros do
Comitê, farta base documental (oral e escrita), muito maior do que prevíamos inicialmente.
Desta feita, destacamos o Projeto de Pesquisa vinculada ao PIBIC/CNPq/UESPI, dos
anos de 2012/2013 e 2013/2014, intitulado: Outras Histórias da Ditadura Cívil-Militar no
Piauí3. Algumas linhas de investigação emergiram mediante a feitura deste projeto de
pesquisa, algumas destes indícios até o momento ainda a serem devidamente aprofundadas
por novos pesquisadores interessados pelo tema. Isto porque, como diz a sabedoria popular,
"uma história puxa outra".
Para tanto, em nossa escrita da história engajada com estas possíveis Outras Histórias
da Ditadura Civil-Militar no Piauí (1960-1980), temos como fio condutor metodológico os
estudos da História Social Inglesa, o que, na prática de nossa pesquisa, significa, mediante o
materialismo histórico-dialético, desenvolver interpretações que possibilitem investigar as
formas pelas quais sujeitos historicamente situados, materialmente, constituem seus modos de
viver.
Em articulação a estas reflexões, é preciso considerar as problemáticas do social como
produções entrelaçadas aos trabalhos da memória e das práticas culturais. Compreendendo
que o desenvolvimento da memória-histórica se processa mediante uma complexa luta pelas
condições materiais de existência, e, ainda, que este jogo de pressões e limites sociais está
envolvido em tramas de lembranças e esquecimentos. Estes são alguns dos vestígios que
tentamos seguir, desde a criação do Comitê Memória, Verdade e Justiça na cidade de
Parnaíba.

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Ao todo foram realizados três seminários com participação de ex-presos políticos: sites:
http://www.proparnaiba.com/redacao/2012/05/28/semin-rio-sobre-a-ditadura-militar-acontece-na-uespi-em-
parna-ba.html; http://www.proparnaiba.com/redacao/2012/06/08/realizado-o-ii-semin-rio-em-defesa-da-mem-
ria-verdade-e-justi-a.html; http://www.proparnaiba.com/redacao/2013/06/06/iii-semin-rio-mem-ria-verdade-e-
justi-a.html
3
Vinculada a Universidade Estadual do Piauí, Campus de Parnaíba, o projeto foi coordenado pelo Prof. Dr.
Roberto Kennedy Gomes Franco, tendo como bolsistas do Curso de História os alunos Wendell San Barros
de Oliveira(2012-2013) e Jedson Martins da Silva (2013-2014); com financiamento do PIBIC/CNPq/UESPI.

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1 Os jornais piauienses como instrumento de divulgação da ideologia da ditadura civil-


militar

No Piauí, entre outros meios múltiplos de comunicação desenvolvidos pela linguagem


humana, passamos a observar, nas matérias jornalística, narrativas diversas e até antagônicas,
sobre a ditadura civil-militar no Estado.4 Neste lastro metodológico, inicialmente, a pesquisa
se debruçou sobre as fontes escritas impressas nos jornais piauienses encontrados no Arquivo
Público da Cidade de Teresina, alternativos e oficiais do período, a fim de analisar a forma
como eram divulgadas as ideias do regime no Piauí, especificamente na cidade de Parnaíba.
Seguindo as trilhas metodológicas do Paradigma Indiciário de Carlo Ginzburg (1989,
pg. 150), iniciamos um debate mais aprofundado sobre sinais, pistas e indícios infinitesimais,
que permitem captar uma realidade mais profunda, de outra forma inatingível sobre o Estado
repressor e suas atuações no contexto piauiense da ditadura civil-militar.
No jornal o Estado do Piauí de 18 de junho de 1964, encontramos vestígios de
manipulação ideológica deste Jornal no processo de formação de consciência da sociedade
piauiense, bem como a sua apropriação, pelo Estado repressor, a fim de manipular esse
processo de formação da memória-histórica.
Senão vejamos a seguinte narrativa:

Em consideração à opinião pública de nossa terra, publicamos um resumo dos acontecimentos


relacionados com a revolução de 31 de março de terras piauienses e dos trabalhos patrióticos e
estafante executados por figuras ilustres do Exército Nacional que compõem no Piauí o Estado
Maior. (O ESTADO DO PIAUÍ de 18 de junho de 1964. Pg.2)

Como vemos, O ESTADO DO PIAUÍ tinha acesso direto e passou a publicar


periodicamente uma espécie de boletim chamado "Resumo dos acontecimentos, na
Guarnição Federal de Teresina, com inicio em 31 de Março de 1964", efetuados pela
"GUARNIÇÃO FEDERAL DE TERESINA". Para tanto, obtinha informações
privilegiadas dos militares mediante o chefe das Relações Públicas do Exército da chamada
"OPERAÇÃO LIMPEZA", o major Wellington de Figueredo Costa, a quem o Jornal tece
enormes elogios pelo seu trabalho.

4
Esta pesquisa nos jornais piauiense foi feita no Arquivo Público do Estado do Piauí, na cidade de Teresina, em
conjunto, por dois bolsista, um deles Wendell San Barros de Oliveira(2012-2013) Curso de História de
Parnaíba, sobre orientação do Prof. Dr. Roberto Kennedy Gomes Franco, e a outra, do Curso de Pedagogia da
UFPI de Parnaíba, Naiara de Araújo Sotero, sobre orientação da Profª. Drª. Tânia Serra Azul Machado Bezerra.
Neste momento da pesquisa, foi feito um esforço concentrado em foto digitalizar noticiais referentes à ditadura
civil-militar no pós-1964 em diante.

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Ainda no O Estado do Piauí de 02 de julho de 1964, p. 03, descobrimos que esta


Guarnição Federal de Teresina, com início de 31 de março de 1964, tinha como missão
“limpar o país da intoxicação do Comunismo, a fim de possibilitar o sossego e a tranquilidade da
família brasileira”.
Essa guarnição, por sua vez, chegou a Parnaíba, efetuou prisões e apreendeu materiais
subversivos. Segundo o mesmo Jornal, em virtude de "... ausência de uma entidade militar
com comando nessa área, Parnaíba era conhecida como uma Terra Livre, no que tange "as
atividades subversivas de comunização do Brasil” (O ESTADO DO PIAUÍ, Teresina 02 de julho de
1964, p. 03.).
Em síntese, O ESTADO DO PIAUÍ, traz o seguinte Resumo dos acontecimentos, na
Guarnição Federal de Teresina, com inicio em 31 de março de 1964 na cidade de Parnaíba:

Após ter sido feito o estudo da situação, levantadas todas as possibilidades de ação
dos elementos suspeitos e feito coleta de informações o Comandante da Guarnição
Federal de Teresina resolveu determinar a abertura de um Inquérito Policial Militar,
para apurar o fato de que elementos ligados a ideologia comunista vinham
praticando na cidade de Parnaíba, Estado do Piauí atos que atentavam a Segurança
Nacional. Foram realizadas várias prisões por intermédio dos oficiais do Exercito de
Teresina e Fortaleza/CE e da Polícia Militar do estado do Piauí em toda a cidade,
especialmente de lideres Sindicais, tidos como envolvidos com atividades de
agitação ou indiretamente ligados a esses atividades. Essas detenções tiveram como
objetivo elucidar a ação subversiva e apurar a responsabilidade de cada detidos.
(Teresina 02 de julho de 1964, p. 03.)

O fato é que logo após o golpe, no Estado do Piauí, os militares passaram a perseguir
vivamente "elementos subversivos diversos", mediante os atos da Chamada "OPERAÇÃO
LIMPEZA". Em retrospecto das operações realizadas, dando continuidade ao combate dos
elementos subversivos em Campo Maior, Piripiri, Parnaíba, entre outras cidades, temos a
seguinte notícia sobre a perseguição aos sindicatos em Parnaíba:

A batida em sindicatos considerados suspeitos foram efetuadas nos seguintes


sindicatos: Sindicato dos Estivadores no Estado do Piauí; Federação dos
trabalhadores em Transportes Fluviais no Estado do Piauí; Sindicato dos Foguistas
Fluviais no Estado do Piauí; Sindicato dos Operários e Carpinteiros Fluviais no
Estado do Piauí; Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de
Parnaíba; Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Estado do Piauí; Sindicato
dos Contra-mestres, Marinheiros, Moços e arrumadores Fluviais no Estado do Piauí;
Sindicato dos oficiais de Máquinas, Motoristas e Condutores em Transporte Fluviais
no Estado do Piauí; Sindicato dos Trabalhadores em Oficinas Mecânicas de
Parnaíba; Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Preparação de Óleo Vegetal e
Animal de Parnaíba; Sindicato das Indústrias de Construção e do Mobiliário do
Estado do Piauí; Sindicato dos Contabilista do estado do Piauí. (O ESTADO DO
PIAUÍ, Teresina 02 de julho de 1964, p. 03).

Como podemos ver, na análise das contradições da notícia em que se efetuaram


batidas do Exército em sindicatos e prisões de sindicalistas, em alguns casos, o número de
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prisões era absurdo, até mesmo porque pessoas sem qualquer vinculo com a subversão eram
presas. Por outro lado, como diz o ditado popular: "onde há fumaça, há fogo". Então, quer dizer
que em Parnaíba muitas eram as organizações do mundo do trabalho articuladas politicamente
e em luta, categorias profissionais diversas, o que realmente demonstra que, do ponto de vista
histórico o espectro do comunismo rondava a cidade de Parnaíba.
Ainda sobre o jogo ideológico de lembranças e esquecimentos, na disputa pela
memória-história, temos o seguinte comentário do capitão Gladstone, responsável pelas
prisões m Parnaíba:

Após as inúmeras prisões efetuadas em Parnaíba, o Cap Gladstone procurou


esclarecer a opinião pública, que era seu dever patriótico, que em consequência da
revolução pacífica levada a efeito no Brasil, as Forças Armadas tomaram a si a
tarefa de limpar o País da intoxicação do comunismo, a fim de possibilitarem o
sossego e a traquilidade da família brasileira. Esclareceu ele que: "tivemos que
efetuar grane número de prisões em Parnaíba, do mesmo modo que está ocorrendo
em todo o Brasil, bem como as diversas batidas realizadas nos Sindicatos de Classe,
seus dirigentes tiveram de ser detidos para que possam esclarecer sua participação
ou não no movimento de comunização do País." Finaliza, dizendo que: "qualquer
cidadão poderá colaborar com nossa missão, e que durante sua estada em Parnaíba
criou uma comissão de orientação das atividades estudantis, cuja composição é a
seguinte: Monsenhor Antonio Sampaio, professor Alexandre Alves e Joaquim
Custódio, sendo homens ilustres no seio da sociedade, ajudariam a explicar as
finalidades da revolução de 31 de março de 1964". Por fim, sua missão em
Parnaíba, manifestou seu "inteiro apoio com o destacamento Federal à Macha "da
Família, com Deus, pela Liberdade".

Estas são pistas historiográficas reveladoras, pois, primeiro, vemos a presença, ao


mesmo tempo, de forças subversivas em Parnaíba, mas também da temida e conservadora
TFP - "Tradição, Família e Propriedade", que, com à Macha "da Família, com Deus, pela
Liberdade", defendia abertamente o golpe civil-militar em Parnaíba. É pertinente ainda, dizer
que, além da manipulação das informações, o fato de os militares articularem pessoas
estratégicas da sociedade para neutralizar o Movimento Estudantil, entre eles o Professor
Alexandre Alves, que infelizmente foi a pessoa homenageada para se nomear o Campus da
Universidade Estadual do Piauí de Parnaíba. Temos, assim, os prédios públicos como lugar de
cultura, história e memória da ditadura. Em Parnaíba, várias escolas, praças, ruas, entre outros
lugares, são exemplo disso.
Quereremos, então, dizer quer Parnaíba era estratégica para a expansão da política
desenvolvimentista dos militares. Avançando um pouco no tempo, temos, no Jornal O
ESTADO, de 09/03/1972, por exemplo, como manchete principal "MÉDICI VIRÁ AO PIAUÍ".
Foi essa articulação da vinda do DITADOR/Presidente da República, General do Exercito

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Emílio Garrastazu, feita pelo então Interventor do Estado, nomeado pelo próprio Médici,
Alberto Silva. Nesta viagem, Médici esteve também na cidade de Parnaíba.
No jornal alternativo de esquerda Novos Rumos, em Parnaíba, temos a crítica feita a
esta visita que mobilizou a elite local, conforme fotos diversas a que tivemos acesso, e, ainda,
as denúncia das obras super faturadas, entre elas a inauguração do Aeroporto de Parnaíba, de
alguns monumentos que ainda hoje rememoram uma amarga lembrança histórica da cidade
durante os anos de chumbo, de uma escola, de estradas e de uma ponte, entre outras obras.
Restam evidentes, ante a esta análise dos jornais piauienses como instrumento da
divulgação da ideologia da ditadura civil-militar, os perigos da pesquisa em história, tendo
em vista que as evidências nem sempre enunciam uma verdade histórica; ao contrário, podem
até “esconder” algo, pois nenhuma fonte passada, presente ou futuro é neutra, carregando em
si os interesses em enunciar uma memória-histórica hegemônica, que, articulada com os
“donos” de jornais, manipulam a existência da diversidade humana. Isto obstrui a
possibilidades de Outras Histórias (HOBSBAWM, 1988), talvez o medo de outras possíveis
versões que venham, quem sabe, (des)construir os monumentos de origem da ditadura civil-
militar no pós-1964.

2 IPM- 1º Inquérito sobre a subversão em Parnaíba

Seguindo as pistas de nossa investigação histórica sobre as possíveis outras memórias


da ditadura civil-militar no Piauí, nos chamou a atenção, no cruzamento de fontes diversas, a
análise dos arquivos digitais do Projeto Brasil Nunca Mais - BNM - disponível para acesso
via internet, site http://www.prr3.mpf.gov.br/bnmdigital/. Neste endereço encontramos a
reprodução de 707 processos judiciais, perfazendo cerca de um milhão de cópias em papel e
543 rolos de microfilmes.
Com a abertura destes processos judiciais a que foram submetidos milhares de
brasileiros, e pelo receio apresentado pelas forças armadas ao presenciarem a releitura de tais
peças, torna-se de grande valia o uso dos inquéritos policias militares como fonte
historiográfica e, certamente, ao nos reportar aos estudos das ações, tanto da esquerda quanto
das ações repressivas da direita no Estado do Piauí, vemos a efervescência de ideias.
Vale destacar o fato de que, metodologicamente, nos inspiramos para a investigação
dos processos criminais, em Chalhoub ( 2001, p. 53), ao acentuar que

Os processos revelam de forma notória a preocupação dos agentes policiais e


jurídicos em esquadrinhar, conhecer e dissecar mesmo, os aspectos mais recônditos

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da vida cotidiana. Percebe-se, então, a intenção de controlar, de vigiar, de impor


padrões e regras preestabelecidos a todas as esferas da vida. Mas a intenção de
enquadrar, de silenciar, acaba revelando também a resistência, a não-conformidade,
a luta.

Assim, ao tempo em que procedemos á analise do BNM nº 340, Arquivo Brasil


Nunca Mais (sobre o Estado do Piauí) e o BNM nº 349, Arquivo Brasil Nunca Mais (sobre
Parnaíba), encontramos nos arquivos digitais a instauração de um Processo Crime contra o
Estado e a Ordem Política e Social, chamado de 1º Inquérito da Subversão Militar em
Parnaíba/PI. Neste IPM5, temos disponibilizados os processos criminais movidos por forças
de segurança contra sindicalistas de categorias diversas que ousavam lutar em Parnaíba contra
a ditadura civil-militar.
É preciso frisar que, no cruzamento das fontes, observamos que este BNM nº 349, 1º
Inquérito da Subversão Militar em Parnaíba/PI, é o mesmo IPM a que nos referimos quando
da análise do jornal O ESTADO DO PIAU, dos meses de junho a agosto de 1964, quando os
militares determinaram,

... a abertura de um Inquérito Policial Militar, para apurar o fato de que elementos
ligados a ideologia comunista vinham praticando na cidade de Parnaíba, Estado do
Piauí atos que atentavam a Segurança Nacional. Foram realizadas várias prisões,
especialmente de lideres Sindicais. (Teresina, 02 de julho de 1964, p. 03).

Então, ao tempo em que encontramos agora não mais a mera informação sobre a
criação do 1º Inquérito da Subversão Militar em Parnaíba, e sim o próprio documento com
quase duas mil páginas, passamos a ter acesso, na integra, aos interrogatórios feitos pelos
militares aos chamados "elementos ligados à ideologia comunista" (BNM nº 349) sobre as
atividades desenvolvidas em Parnaíba. Assim, passamos a mergulhar nas contradições desta
documentação, mesmo sabendo que se trata de documentação produzida pela memória
hegemônica dos ditadores. Muitos fatos que antes eram guardados com muito sigilo, agora,
aparecem e modificam nossa percepção de passado e presente, isto porque, conforme Schaff
(1991, 272), "reescrevemos continuamente a história porque os critérios da avaliação dos
acontecimentos passados variam no tempo e, por conseqüência, a percepção e a seleção dos fatos
históricos mudam, para modificar a própria imagem da História."
Por exemplo, localizamos, no texto de abertura do IPM (BNM nº 349, 1964. Fls.04,
vol 1), entre outras coisas, a seguinte informação sobre a cidade de Parnaíba:

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BNM nº 349, Arquivo Brasil Nunca Mais:
http://bnmdigital.mpf.mp.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=BIB_04&PagFis=33953&Pesq=Parna%C3%ADb
a+, acesso, setembro, 2012.

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A quase totalidade dos réus deste processo é constituída de dirigentes sindicais do


Estado do Piauí – estivadores, ferroviários, bancários, servidores públicos,
trabalhadores rurais, da construção civil, dos transportes fluviais, etc. Alguns são
acusados de promoverem greve, apoiarem a SUPRA, fundarem sindicatos e Ligas
Camponesas, terem vínculos com as centrais sindicais da Europa, estarem ligados ao
CGT, serem brizolistas, etc... Alguns réus são acusados, também de manterem
ligação com o PCB. Fazendo a distribuição do jornal “Novos Rumos”. As
investigações se concentram sobre as atividades que se desenvolveram no município
de Parnaíba, sendo que a primeira denúncia judicial foi remetida para a Comarca
daquela cidade, após a auditoria da 10ª. Região Militar, em Fortaleza, ter recebido o
IPM e declinado de sua competência. Após a decretação do Ato Institucional
número 2 o processo voltou a tramitar na auditoria de Fortaleza. Entre as atividades
enfocadas incluem-se ainda algumas mobilizações estudantis. Houve um IPM
centrado sobre as atividades de Parnaíba e outro, menor, sobre Teresina. O primeiro
deles teve início em abril de 1964, na Guarnição Federal de Terezina, do Exército.
Quando finalmente se realizou o julgamento, em 19 de junho de 1972 (8 anos
depois!), permaneciam no processo apenas 5 dos 34 acusados da primeira denúncia.
Isso porque, quando o processo passou à alçada da Justiça Militar o número de
acusados já caiu para 21. Desses, 16 conseguiram ser excluídos do processo, e os
cinco finais foram absolvidos”.

Temos assim a ramificação pelas regiões mais diversas do Brasil, como em Parnaíba,
das violações do direitos humanos, com perseguições ferrenhas praticadas pelo regime
ditatorial às organizações sindicais diversas. Também nos chamou atenção o fato de que essas
perseguições partidárias e acusações de subversão, com proibição a reuniões e a simples
questão de livre pensamento e opinião, se deram em uma cidade que, apesar de não ser a
Capital do Estado, era alvo central de militantes de esquerda e do poder da repressão.
Este indício fica evidente no próprio texto do IPM, ao assinalar que: "Houve um IPM
centrado sobre as atividades de Parnaíba e outro, menor, sobre Teresina." (BNM nº 349, 1964,), e
ainda, como vemos, a afirmação de que o IPM instaurado em Parnaíba era maior do que o
IPM de Teresina. Bem sabemos que, em muitos casos, havia exageros, pode até ser que não,
porém, pelos vestígios até agora por nós analisados, temos ai claramente a cidade de
Parnaíba/PI como "TERRA LIVRE PARA AS ATIVIDADES DE COMUNIZAÇÃO DO BRASIL".
Chama nossa atenção, ainda, o fato de que, já nos primeiros dias pós-golpe em abril de
1964, se tomaram as devidas medidas para a Instauração de um IPM em Parnaíba. Diz o texto
que: "O primeiro deles teve início em abril de 1964" (BNM nº 349, 1964, Fls.04, vol 1). Este IPM
era justamente em Parnaíba, possibilitando para nós a percepção clara de que o espectro do
comunismo rondava o Delta do Parnaíba. Isto, em certa medida, tem relação direta também
com as proximidades da cidade, tanto com São Luis, no Maranhão, quanto com o Estado do
Ceará, especialmente com a Cidade de Camocim, primeira do Estado a ter uma célula do PC
no Ceará, e ainda, com a cidade de Fortaleza/CE. Neste sentido, por exemplo, a estrada e ferro
e a navegação presentes na região, naquele contexto, possibilitava não apenas a circulação de
mercadorias diversas, mas também de ideologias revolucionárias.
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Estas evidências se materializam contundentemente, quando acompanhamos o


andamento da tomada de depoimentos dos indiciados, especificamente nos “Termos de
Perguntas ao Indiciado” (BNM nº 349, 1964, TPI, Fls.04, vol 1), onde há a nítida percepção da
ação manipuladora dos interrogadores em tentar relacionar os indiciados em atos de subversão
e atribuir-lhes parcelas de contribuição, ocorrendo, em muitos casos, o exercício de pressão
para delatar as ações de seus parceiros.
Um elemento revelador era a preocupação durante o interrogatório por parte dos
militares, em saber sobre a "organizações subversivas armadas em Parnaíba", temendo um
possível levante armado por parte da esquerda.
No TPI de José Ceará, temos a descrição da importância da cidade de Parnaíba para o
movimento da esquerda brasileira, apresentando os seguintes fatos;

Que na cidade de Parnaíba o movimento sindical tem muito mais


importância do que na cidade de Teresina, considerando a existência de
porto marítimo e fluvial, industrias e sede da Estrada de Ferro Central do
Piauí.” (BNM nº 349, 1964. IPM; vol1, fl. 133)

Outro exemplo é o TPI de Francisco das Chagas da Frota de Medeiros, que recebeu a
acusação de estar "pregando reformas e discutindo constantemente nos Correios e Telégrafos
onde o mesmo trabalhava as mudanças políticas do país e sobre a lei de remessa de lucro da
entidade onde trabalha". (BNM nº 349, 1964).
As interferências no fazer político da cidade eram diversas. Destacamos, ainda, que
dois vereadores foram autuados "por estarem promovendo ações consideradas subversivas ou
dando apoio ou simplesmente manifestando suas opiniões partidárias ou ideológicas em prol do
Governo deposto de João Goulart e outro líderes sindicais da Época". (BNM nº 349, 1964.). Eram
eles, João Roberto de Araújo e Custódio Amorim, ambos do Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB). Eles foram acusados "de manifestarem apoio ao então inimigo da revolução Leonel Brizola,
que viria fazer uma visita a Parnaíba, onde seria muito bem recebido e que ganharia por indicação de
Custódio Amorim da câmara de vereadores de Parnaíba o título de Cidadão da cidade"(BNM nº 349,
1964), por considerá-lo “amigo dos trabalhadores”. Já sobre João Roberto de Araújo, pesam-
lhe as seguintes acusações;

[...] Secretário do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do


Mobiliário de Parnaíba, sindicato cujas estantes foi encontrado material de
propaganda subversiva ((BNM nº 349, 1964. IPM, Fl.8); e que o mesmo " fez
repetidas viagens ao Estado da Guanabara, tomou parte nas reuniões de Ligas
Camponesas e participou de reuniões de caráter esquerdista [...] (BNM nº 349,
1964. IPM, Fl. 95).

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11

No TPI, o interrogado ,

diz como a maioria que estava apenas pregando reformas benéficas para sua
categoria, não cabendo ao mesmo ações de subversão, e que suas viagens constantes
ao Rio eram de caráter oficial e totalmente necessárias para a manutenção de suas
funções como secretário. (BNM nº 349, 1964.),

Ao se tratar das Ligas Camponesas, "citou que estava fazendo trabalho de


arrecadação de votos para talvez as próximas eleições". (BNM nº 349, 1964).
O interessante na análise do interrogatório, quando investigamos os processos-crime
na pesquisa em história, é que, em seu estudo, é fundamental “a idéia de que havia uma
pluralidade de sujeitos políticos na sociedade, lutando a seu modo para atingir objetivos que lhe eram
caros e assim governar a própria vida”. (CHALHOUB, 2001, p. VII).
Isto resta evidente quando examinamos no Processo Criminal o discurso de João
Roberto de Araújo, assim como no interrogatório de José Alexandre Caldas Rodrigues, ex-
prefeito da cidade e na época deputado. Este foi acusado "de orientar e ajudar a definir os
panoramas dos grevistas", nos TPI dos inquéritos "é arrolado como peça chave no esquema político
parnaibano, mantendo contato com a maior parte dos líderes sindicais, faz as articulações e é
acusado tomar palavra na Assembléia Geral dos Sindicatos, o que nega"(BNM nº 349, 1964, TPI
fl.83), alegando que, "com sua experiência de mais vinte anos na política era salutar o contato com
os sindicatos salutar para justificar suas ligações com os mesmos".
Conforme podemos perceber, os militares que dirigiram os inquéritos levaram em
conta nas suas acusações todo tipo de material que pudesse ser incriminador e que fosse usado
contra o acusado. Citamos o caso de José Aranha, que foi indiciado por distribuir o jornal
Novos Rumos, como também "apoiar passeatas em prol de Jango e ter sido encontrado em sua
casa o livro de Jorge Amado (Mundo da Paz) que foi considerado literatura subversiva, sendo
explicado pelo mesmo que a distribuição dos Jornais “(...) se dava por interesses financeiros e não
políticos (...)". (BNM nº 349, 1964. IPM, fls.276).
Findam evidentes também, a resistência e a organização destes sindicatos. Destacamos
para tanto, o BNM nº 349 (1964. PM, Fls.04, vol 1), narrando que

Foi Fundado pelo líder estivador TIAGO JOSÉ DA SILVA, um Comando Geral dos
Trabalhadores, conhecido pela sigla CGTP, ou vulgarmente “Cegetesinho”,
intimamente ligado ao CGT Nacional, pois recebia instruções do Sr. RAFAEL
MARTINELLI e tinha conhecimento da greve geral que seria deflagrada em todos o
País. Orientado pelo Engenheiro ALBERTO SOLHEIROS, Superintendente da
Estrada de Ferro Central do Piauí (EFCP), atualmente foragido, "foi deflagrada
uma greve entre os ferroviários daquela autarquia, em sinal de protesto pelas
prisões de inúmeros ferroviários, notadamente os da Guanabara. A greve em
questão, foi iniciada na tarde de 31 de março último", mas não teve
prosseguimento em face dos acontecimentos políticos da época. Sob a orientação do

11
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Sr. JOSÉ ALEXANDRE CALDAS RODRIGUES, ex-prefeito e deputado com o


mandato cassado e, participação direta do SR TIAGO JOSÉ DA SILVA, "houve
uma assembléia Geral de Todos os Sindicatos de Parnaíba, para a deliberação
de uma passeata em apoio ao ex-Presidente João Goulart. (grifamos).

São perceptíveis nesta narrativa a importância e o grau de articulação dos sindicalistas,


tanto da Estrada de Ferro Central do Piauí - EFCP quanto da União dos Ferroviários do Piauí
- UFP, com os acontecimentos políticos nacionais em curso, como vimos. Em especial, a
Estrada de Ferro Central do Piauí era um "entre-lugares" privilegiado de divulgações de
ideias, com contato íntimo com as forças sindicais de todo o Brasil.
Outro vestígio observado foi a preocupação dos militares com o contato dos
parnaibanos com Raphael Martinelli, líder ferroviário desde antes do golpe de 1964, militante
do PCB e envolvido com a ALN (Ação Libertadora Nacional). Daí o pavor da ligação do
CGT Nacional com o “Cegetesinho” de Parnaíba e a imediata prisão de quase todos os
dirigentes sindicais de Parnaíba, efetuadas na sede dos mais diversos sindicatos como uma
forma dos militares de reprimir quaisquer atos e mobilizações de solidariedade contra as
prisões em São Paulo e Rio de Janeiro.
Exemplo disso foi a prisão de Tiago José da Silva político da época.

Pela sua ligação com o C.G.T nacional por meio de Rafael Martinelli. Fundou, aqui
um sindicato com a mesma sigla. A serviço deste foi várias vezes ao Rio de Janeiro.
Conseguiu a verba de Cr$ 3.000.00 para a construção de sua sede própria. Convocou
a Assembléia Geral dos Sindicatos na sede dos Estivados para deliberar sobre uma
passeata de apoio a Goulart, ocasião em que pronunciou um discurso nesse sentido.
Tinha conhecimento da greve geral ordenada pela cúpula do C.G.T para que fosse
deflagrada em todo o país. Assistiu o comício da Supra, no dia 13 de março de 1964.
Telegrafou a seus companheiros comunicando o sucesso obtido. (BNM nº 349,
1964. Autos do Inquérito, Fl. 21).

Os espaços políticos dos sindicatos em Parnaíba, assim, passaram a ser


estrategicamente disputados e ocupados pelos militares, a fim de neutralizar os aliados de
João Goulart, sendo desarticulados com suas prisões e substituídos por interventores que eram
de acordo com o novo sistema político.
Por fim, nesta seção sobre o 1º INQUÉRITO SOBRE A SUBVERSÃO EM
PARNAÍBA, destacamos nosso interesse em entrevistar, com o recurso da metodologia da
história oral, no tempo presente, estas pessoas presas e interrogadas, para, quem sabe, no
cruzamento dos TPI´s e suas narrativas, termos outras memórias, agora, à luz do presente,
rememoradas. Infelizmente, em sua maior parte, os protagonistas destes inquéritos já
faleceram, porém, temos nos aproximado de alguns que ainda relutam em falar, e, ainda, de
familiares dos falecidos, quem sabe, teremos cenas históricas para nossa pesquisa.
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3 Prisões de camponeses e militares comunistas no Piauí

A “memória socialmente compartilhada"6 de Seu Antônio de Damião de Sousa7,


trabalhador rural, membro do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Campo Maior/PI,
recentemente anistiado, além de chocante é reveladora. Diz ele que:

[...] toda a perseguição mesmo começou na década de 1950, quando já havia uma
grande exploração do trabalho do homem do campo pelos grandes latifundiários. Em
1960, já com a existência do rádio os camponeses começaram a se organizar nas
comunidades de base. A igreja Católica, vendo o movimento, resolveu aproxima-se
do homem camponês, tendo a finalidade, de dá sua contribuição, na educação e
conscientização ao homem do campo, para fim promoverem e se libertarem da
exploração dos latifundiários.

A referência à Igreja diz respeito à Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB),


que criou um programa educacional, diretamente para o homem do campo, "Movimento de
Educação de Base" [MEB], "nessas alturas", diz ele,

[...] os camponeses começavam a se conscientizarem e discutirem os seus problemas


e a se conscientizar pela educação de cada um, com isso passou-se a incomodar os
grandes latifundiários, e logo começaram a acontecer os conflitos entre o homem do
campo com os grandes proprietários. Com os crescimento do movimento, havia por
parte dos trabalhadores uma necessidade maior, que seria justamente uma
organização que representasse esta classe trabalhadora, sendo ai então foi criada os
Sindicatos Rurais(STR), que tínhamos a missão de representá-los perante a situação.

O contexto de criação destes sindicatos em todo o Brasil fiz com que aumentassem os
conflitos, pois os donos das terras proibiam que seus moradores se associassem aos sindicatos
rurais, sendo que aqueles que fizessem parte de sua filiação seriam expulsos de suas terras, e,
assim, por estes motivos, passavam a procurar as cidades para morarem, fenômeno esse que
consolidou a migração e a urbanização brasileira.
Segundo, ainda, seu Antônio Damião (2012),

Nós como os Sindicalistas, tínhamos como base representar a classe dos


trabalhadores Rurais, e defendê-los, levantando assim a bandeira de luta pela
permanência do camponês na terra, evitando desta forma a imigração do campo para
a cidade. Os Sindicatos não tinham terras, sendo assim resolveram acionar o

6
Tomamos como referência, para a expressão memória socialmente compartilhada, Alessandro Portelli (1997,
p. 16), ao assinalar que a memória é um processo individual, que ocorre em um meio social dinâmico, valendo-
se de instrumentos socialmente criados e compartilhados.
7
Seu Antônio de Damião de Sousa foi um dos convidados para narrar suas experiências de militante camponês,
no II SEMINÁRIO MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA, realizado em junho de 2012; pelo Comitê Memória,
Verdade e Justiça de Parnaíba/PI.
site: http://www.proparnaiba.com/redacao/2012/06/08/realizado-o-ii-semin-rio-em-defesa-da-mem-ria-verdade-
e-justi-a.html

13
14

Governo Federal através de ofício, acompanhado de uma pauta de reivindicações, na


qual solicitavam ao Governo, fazer um levantamento em todas as áreas de terras que
fossem devolutas pertencentes a União, sendo que as que não estivem tendo
produtividade, fosse desapropriada por interesse social para assentamentos de
famílias rurais, que estavam sendo expulsos das terras dos latifundiários. Os grandes
latifundiários eram os maiores possuidores das terras devolutas sendo assim os
maiores apossados. Diante esta situação, juntos eles perdiam forças diante do
movimento, sendo que tinham todo meio de comunicações e usavam fortes doutrinas
contra os camponeses e seus sindicatos. Caluniávamos dizendo que éramos
comunistas agitadores, que fazíamos motim contra o Governo, e que os sindicatos
estavam sendo criados, para tomar as terras de quem tinha para oferecer a quem não
tinha, sendo que tudo isso só porque lutávamos por dias melhores para vivermos
como pessoas humanas.

O crescimento da força dos movimentos sindicais por todo o Brasil explica a


articulação dos latifundiários com as forças armadas federais, para executarem o golpe contra
um movimento chamado de "comunista" e que entendiam ser contra o Brasil.
Por fim, seu Antônio Damião (2012), resume a ditadura assim:

Meu filho fiz parte de toda esta história que falei, sempre junto aos Trabalhadores
Rurais, fui preso pelo Exército Brasileiro, caluniado, torturado, perseguido durante o
regime Militar, tive que me refugiar com a ajuda da Igreja Católica, através do Bispo
Dom. Avelar Brandão Vilela, em 15 de janeiro de 1970, embarquei de Teresina/PI
para os Estados Unidos da América, onde fiquei por 03 meses. Outra situação
constrangedora foi andar com o nome mudado, sofri bastante com esta situação.
Entre muitas outras torturas, uma me marcou demais, em uma noite de chuva os
militares da Guarnição do quartel do 25° BC de Teresina, me levaram para o rio
Poti, me amararam pela cintura e me jogaram dentro daquela imensidão de água,
pois estava muito cheio, devido o período chuvoso, por sorte e ajuda de pescadores
fui salvo, dai fui preso de novo, porém desistiram de me executar. Durante 33 dias
que passei preso no quartel do 25° BC, fui totalmente incomunicável, dentre todas as
torturas, a pressão psicológica era terrível, tendo que conviver com a incerteza de
que sairia daquela situação com vida. Depois que fui posto em liberdade, tive que ir
depor por várias vezes, no Quartel da Guarnição Federal do 25° BC, devido
denuncias fraudulentas de latifundiários, que diziam sermos um grupo de
comunistas no Brasil. Acho eu que ainda tem muita coisa a ser contada, vou dar um
tempo, por hora dizendo que os camponeses durante a Ditadura Militar, existiam
contra as organizações criminosas, os latifundiários e os militares.

Como já destacamos, no cruzamento de fontes orais e escritas, tivermos acesso, por


meio do JORNAL O ESTADO DO PIAUÍ, de 25 de Junho de 1964, a uma matéria dando
conta do "Resumo dos acontecimentos, na Guarnição Federal de Teresina, com inicio em
31 de Março de 1964", efetuados pela "GUARNIÇÃO FEDERAL DE TERESINA".
Nesta data, o resumo dava conta de 63 prisões efetuadas, incluindo a de camponeses, na
chamada "OPERAÇÃO LIMPEZA". Seu Antônio Damião de Sousa aparece na posição 12ª
entre estes presos, "para a necessária apuração dos fatos e de responsabilidade dos elementos
ligados à ideologia comunista e ao crime de subversão da Ordem Pública e Social", (O ESTADO
DO PIAUÍ, 25/06/1964, pg. 03)

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Merecem atenção, ainda, na lista de presos, os nomes de cinco militares, são eles: 1º
tenente José Aldano da Silva; 2º Sargento Alexandre Tomaz e Silva; 2º Sargento Aristides
Rodovalho de Alencar; 2º Sargento Virgílio Winkles e 2º Sargento Benoni de Miranda. Estes
são indícios, ainda, a serem aprofundados, que demonstram no Estado do Piauí a
possibilidade de um trabalho de infiltração da esquerda nas forças armadas.
É preciso, além da análise destas fontes documentais, ouvir, por intermédio do relato
oral, as outras histórias daqueles que experimentam na carne os antagonismos dos anos de
chumbo.

4 A associação dos professores do Piauí - APEP na cidade de Parnaíba e a luta contra a


precarização do trabalho docente

Engajada no movimento contra a precarização do trabalho docente e a favor da


liberdade de expressão da classe dos professores do Estado do Piauí, há o relato da professora
Maria de Jesus Fontenele, fundadora de um núcleo regional da Associação dos Professores
do Piauí - APEP, na cidade de Parnaíba, no contexto da ditadura civil-militar. Sua narrativa é
interessantíssima, pois conta que começou sua luta visitando de casa em casa todos os
professores da cidade para que se filiassem à Associação- APEP. Rememora que, "com o apoio
dos estudantes do ensino médio que na época eram denominados de colegiais e dos universitários,
garantiu uma luta acirrada contra os desmandos do regime militar."( FONTENELE, 2013).
Suas lembranças são reveladoras para percebermos a capilaridade da ditadura na
cidade de Parnaíba/PI, quando, por exemplo, comenta sobre como as eleições nas escolas
eram vistas pelos políticos como um curral eleitoral, que rendiam muitos benefícios para eles.
Ocorre que, segundo a Prof. Maria de Jesus,

[...] quando chegou às eleições, os militares e alguns políticos foram até a escola e
pediram para que ela anotasse o partido de todos os funcionários da escola exigindo
que todos votassem e fizessem campanha política para estes. Isto porque, todos os
diretores eram obrigados a fornecer o partido político e outros dados dos
funcionários das escolas e garantir que todos votariam nos candidatos do governo,
caso contrário aqueles que não pertencessem ao mesmo partido do governo, seriam
mandados embora. (FONTENELE, 2013).

De forma complementar, Fontenele (2013), expressa que,

imediatamente reuniu os funcionários e disse o ocorrido, reforçando sua opinião de


que todos eram livres para votar em quem quisessem e que jamais iria enviar
documento algum para o governo relatando os nomes e partidos dos que
trabalhavam naquela escola.

15
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Lembra, porém, que "sua atitude foi considerada uma afronta. Então, foi demitida, mas
passou a militar ainda mais forte contra esses desmandos." Fontenele (2013).
Nessa ocasião, em suas reminiscências, diz que "foi para rádio dizer aos professores que
não tivessem medo", e que já havia entrado com "um mandato de segurança contra o governo do
Estado, para garantir os direitos que lhes foram tirados, apesar de ter estudado, ter feito concurso, foi
demitida." Fontenele (2013). Relatou, ainda, que estava lutando para readquirir os seus direitos e
por isso eles a chamavam de subversiva. “Se lutar pelos meus direitos é subverter a ordem do país,
então nesse caso eu sou subversiva”.
Na fala da professora Maria de Jesus Fontenele, percebemos que o terrorismo do
Estado ditatorial era enorme, fazendo com que os professores, por medo de perderem seus
empregos, não frequentassem a sede da Associação. Diz-nos, entretanto, que, "os professores a
procuravam em sua casa em horários noturnos, para não serem vistos com a mesma" . Mesmo com
este distanciamento disfarçado com a APEP, "muitos professores eram abordados altas horas da
noite pela polícia em suas residências, na tentativa de intimidá-los". Ela também recebeu a visita
inesperada da polícia em sua residência em 1979 e nos relatou "o constrangimento que isso
ocasionava naquela época, por causa do carro que ficava parado em frente, com aquele giroflex
ligado o tempo todo". Fontenele (2013).
Na luta contra a precarização do trabalho docente e os desmandos do governo que a
todo custo procurava corromper a luta, na tentativa de que a APEP se tornasse totalmente
atrelada ao poder, temos ainda na narrativa da Professora Maria de Jesus uma lembrança
interessante, que versa sobre a união de professores e estudantes. Entre estes aliados, estavam
o presidente do Diretório Acadêmico 3 de Março, da Universidade Federal do Piauí- UFPI, e
o presidente da Associação Colegial dos Estudantes de Parnaíba – ACEP.
Unidos, ambos foram em busca de um carro de som para chamar os professores para
um movimento na Praça da Graça8. Ao conseguirem emprestado de uma amiga comum,
saíram pelas ruas da cidade, convocando todos os professores para comparecerem as 17 horas
à Praça, para que pudessem discorrer sobre os problemas da categoria.
Quando chegaram porém, à Rua Coronel Lucas, "foram subitamente fechados pelo carro
da polícia que desceram armados e apreenderam o carro e som, pois estavam fazendo barulho na
cidade". (FONTENELE, 2013). No horário marcado contudo, a Praça da Graça estava tomada
por estudantes universitários, colegiais, poucos professores de coragem e a população

8
A Professora Maria de Jesus Fontenele convidou todos os professores da cidade de Parnaíba a participarem
deste movimento. Sua convocação foi publicada pelo jornal INOVAÇÃO, Ano V, nº 40, Parnaíba, fev./abr.,
1982. Arquivo: Instituto Histórico Geográfico Genealógico de Parnaíba.

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parnaibana em peso, e, ainda, políticos influentes que a perseguiam e dois camburões da


polícia logo atrás da população.
A professora Maria de Jesus narrou que estava tremendo de medo com toda a situação.
Foi quando seu companheiro de luta, o presidente do DA 3 de Março lhe perguntou:

Você continua com esse papel (o discurso). Eu disse sim continuo. Daí ele disse:
"Você vai presa". – Se eu for presa você vai comigo para delegacia, dentro do
camburão? “Eu tinha medo, estava com as pernas tremendo” – ele disse "Sim". –
Então eu continuei ... disse a todos as perseguições a que fora acometido pelo
regime militar e tudo que havia perdido, em seguida todos os outros falaram. Não
saímos presos porque ao terminar nossos discursos, fomos literalmente carregados
nos braços pela multidão alvoroçada, enquanto os políticos se retiravam, mas a
polícia ficou lá para tentar manter a ordem preestabelecida por aquele governo.
(FONTENELE, 2013).

Depois desse movimento, a professora Maria de Jesus foi convidada a atuar


politicamente como vereadora, mas sua intenção era apenas e de luta em favor dos
professores. Consoante seu relato, "jamais teve intenção de se filiar ou se candidatar, as pessoas
achavam que por ser do movimento sua intenção era a candidatura". Não aceitou, contudo, se
candidatar. Isso fez com que todos ficassem impressionados, mas, segundo a professora Maria
de Jesus, "seu ideal era outro: a luta contra a precarização do trabalho docente, a política de
classe."
Os sinais dessa narrativa evidenciam a importância do trabalho com a História Oral,
mediando aos sujeitos excluídos pela historia "oficial" a oportunidade de nos contar sua
memórias contra-hegemônicas (GRAMSCI, 1979), ou seja, das possíveis outras histórias da
ditadura civil-militar em Parnaíba/PI.
Isto porque, a História e a Memória da Ditadura Civil-Militar pós-64 vive nas
lembraças dos militantes, homens e mulheres, que dia a dia de debatem com as adversidades,
angústias e vitórias do processo político de luta contra o autoritarismo, o terror e a tortura.
Eles enfrentaram desafios em seus contextos específicos que, para muitos, nem mesmo
preparados estavam. Tendo em vista esta experiência coletiva que se fez e refez, coloca-se se
justifica necessidade de ouvirmos estas outras histórias e memórias contra-hegemônicas
(GRAMSCI, 1979).
Por fim, em nossas considerações finais, destacamos que estes aspectos são
fundamentais para uma pesquisa engajada e comprometida com as necessárias transformações
das mazelas sociais vindouras em nosso tempo. Indiscutivelmente, a memória da organização
consciente de grupos não hegemônicos, como os militantes da luta contra a ditadura na cidade
de Parnaíba/PI, não é algo que favoreça o grupo hegemonicamente dominante; pelo contrário,

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quanto mais desarticulada e fragmentada se apresente a memória-histórica dos grupos


subalternos, mais frágil e estranhada se torna diante da implacável desregulamentação que lhe
é imposta.

REFERÊNCIAS

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mudou o Brasil - 50 anos do golpe de 1964. 1. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2014.
AARÃO REIS FILHO, D. . Ditadura e democracia no Brasil. 1. ed. Rio de Janerio: Jorge Zahar,
2014.
AARÃO REIS FILHO, D. Ditadura civil-militar. O Globo, Rio de Janeiro, caderno Prosa &
Verso, 31 de março de 2012.
Antônio de Damião de Sousa, Entrevista concedida a Roberto Kennedy Gomes Franco, 2013.
BENJAMIM, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura.
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Verlag, Band I, 3.
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BNM nº 349, Arquivo Brasil Nunca Mais, 1964.
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CNV, 2014.
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meio às tensões entre a Igreja Católica e o regime militar em Teresina. Teresina: UFPI, 2006.
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CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da
belle époque. 2 ed. Campinas: Unicamp, 2001.
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Departamento de História da PUC-SP, 1997.

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