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Formação histórica do Brasil

Professor Dr. Rodrigo Aparecido De Araujo Pedroso


Texto: ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. A atuação dos indígenas na História
do Brasil: revisões historiográficas. Revista Brasileira de História, vol. 37, n° 75.

O papel oculto dos nativos na construção do Brasil: Historicídio e violência

Leonardo Alves Costa, RA: 201064391

A pesquisadora possui graduação em História pela Universidade Federal do Rio de


Janeiro (1975), mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1990) e
doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (2000) e pós-
doutorado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS/Museu
Nacional/UFRJ - 2005), na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS,Paris,
2006) e no Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC, Madri, 2012).
A obra de Maria Regina Celestino de Almeida busca desconstruir a falsa noção de que
as populações nativas foram agentes passivos nos processos históricos brasileiros, a autora
argumenta que essas populações exerceram papéis fundamentais na história do Brasil. O
estudo é focado nos indígenas da região do Rio de Janeiro em comparação com as demais
regiões do país.
A primeira parte do texto é focada no conceito de sujeitos históricos. Para a autora, a
consideração dos povos indígenas como sujeitos históricos é o princípio para a
reinterpretação de diversos períodos da nossa história. A questão central do artigo é a
reflexão sobre os avanços dessa reinterpretação em si. Como afirma a autora:

Refiro-me às indispensáveis articulações entre as histórias dos índios, as histórias


regionais e, em perspectiva mais ampla, a história do Brasil. Afinal, como afirmou
Hill (1996), as histórias indígenas se entrelaçaram com as histórias dos europeus
desde que eles chegaram à América.

Nesse contexto, podemos concluir que para compreender plenamente os processos


históricos brasileiros, não podemos desconsiderar os verdadeiramente “brasileiros”, ou seja,
os povos originários dessa terra que foi chamada de Brasil pelos seus invasores.
Foi a partir da década de 1970 que novas abordagens históricas sobre diversos temas
começaram a ganhar força. Uma mudança tão complexa na historiografia, claramente,
impactou a maneira de se pensar a educação no Brasil. Uma importante reflexão sobre a
educação sob a ótica da história da História foi feita por Eliane Marta Teixeira Lopes no
livro: Perspectivas Históricas da Educação. A autora trata sobre a história da História da
Educação e afirma que o estudo da educação não pode restringir-se aos aspectos estruturais
ou funcionais. Deve ocorrer um esforço para compreender a relação orgânica entre a
educação e as sociedades.
A inclusão de novas perspectivas e interpretações da história, o diálogo Formação
histórica do Brasil interdisciplinar entre especialistas e a consideração de diferentes fontes
para as pesquisas resultaram em uma reinterpretação da história brasileira. Um ponto
importante para que essas novas narrativas surjam é a consideração de diferentes atores da
história, como os povos originários do Brasil ou os povos trazidos da África. Dessa forma,
esses atores passam a ser considerados como seres pensantes, que calculam suas ações e não
apenas permanecem passivos aos demais atores. O protagonismo indígena especificamente
começa a ser analisado nos anos 1990. Após serem feitas essas considerações, a autora
questiona quais foram os efetivos avanços até então, embora considere tal movimento de
fundamental importância tanto no sentido acadêmico, social e político, tanto para os povos
indígenas quanto para a sociedade.
Almeida levanta outro ponto importante em sua pesquisa: o lugar na história que os
povos indígenas ocupam. De fato, os povos indígenas sempre foram presentes na história do
Brasil independentemente da visão de quem a conta. No entanto, na maioria das vezes eles
eram descritos como selvagens, preguiçosos ou povos inferiores e passivos perante seus
“conquistadores”. Sendo assim, seus pensamentos ou ações eram completamente
desconsiderados na maioria das visões da história. A autora, porém, defende que tais
concepções são obsoletas e não refletem a realidade. Inúmeras pesquisas não deixam dúvida
sobre o fato de que as ações e as escolhas indígenas deram limites e possibilidades aos
processos de conquista e colonização das diferentes regiões do Brasil (Almeida, 2010).
Sendo assim, porém, a questão que a autora propõe é de como se pode, ou se poderia,
explicar esses processos sem considerar os indígenas como atores ativos da história? A
resposta é fornecida mais a frente, trata-se de uma narrativa eurocêntrica que por vezes
superestimava o papel dos invasores em relação aos nativos e também distorcia os fatos. Vale
ressaltar que a autora critica essas narrativas mas se mantém fiel ao fato de que uns poucos
portugueses foram capazes de exterminar, dominar e submeter os nativos às leis que eles
consideravam corretas.
As narrativas tradicionais e eurocêntricas foram predominantes por grande parte da
nossa história e, dessa forma, foram profundamente implementadas no imaginário coletivo da
população brasileira. Segundo Carneiro da Cunha (1992), os índios foram duplamente
violentados pois sofreram tanto com o extermínio e a expulsão de sua terra quanto com o
rebaixamento de seu papel na história do país. Historicídio, segundo de Hill (1996), que
contribuiu para reforçar em nossa sociedade ideias preconceituosas e estereotipadas sobre
eles, afirma Almeida.
Para a autora, as narrativas históricas sobre a conquista do Rio de Janeiro sempre
incluíram os Índios visto que a conquista desse território se deu através de guerras violentas e
amplas. Almeida também destaca a importância da diferenciação dos povos nativos em
diversas etnias, que se relacionavam de maneira complexa:

A identificação dos diferentes grupos étnicos que responderam ao contato com os


europeus de formas distintas desmonta esquemas simplistas que apresentavam os
combatentes em blocos monolíticos e cristalizados nos papéis de aliados ou de
inimigos. No Rio de Janeiro, ao invés de franceses e tamoios de um lado e
portugueses e temiminós de outro, percebemos uma complicada rede de interações
na qual circulavam os diferentes subgrupos tupis, em um vaivém de acordos e
disputas entre si e com os europeus (Almeida, 2003).

O protagonismo indígena em tempos de guerra e nos acordos de paz não se resume


apenas ao caso da conquista do Rio de Janeiro, além disso ele tem sido um conceito
importante para novas interpretações sobre a formação das elites coloniais portuguesas.

Afinal, se as guerras a serviço do rei constituíam uma das principais possibilidades


de ascensão social na colônia e as alianças com os índios eram imprescindíveis para
vencê-las, é lícito supor que suas ações e escolhas influenciavam as possibilidades
de enobrecimento de inúmeros portugueses e luso-brasileiros.

Uma política fundamental para a ocupação do interior do Rio de Janeiro foi a política
de aldeamentos, e essa política só foi possível através da realização de negociações com os
povos nativos. Cabe lembrar que, nos séculos XVI e XVII, a dependência dos portugueses
em relação aos índios era imensa, e a construção do projeto de colonização dependia, em
grande parte, das dinâmicas locais, afirma Almeida.
Assim, podemos concluir que o protagonismo indígena foi fundamental em diversos
períodos históricos do país e o reconhecimento desse protagonismo não é apenas uma leitura
diferente dos fatos, mas a correção de diversas narrativas parciais, eurocêntricas e que não
refletem a realidade plenamente. Para complementar a leitura e ampliar a discussão sobre o
tema, uma obra de Carlos Eduardo Marotta Petters é recomendada, a “História da educação
brasileira: Novas fontes e novos enfoques de análise”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. A atuação dos indígenas na História do Brasil:
revisões historiográficas. Revista Brasileira de História, vol. 37, n° 75.

HILL, Jonathan (Org.) History, Power and Identity: ethnogenesis in the Americas, 1942-
1992. Iowa City: University of Iowa Press, 1996.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Introdução a uma história indígena. In: _______.


(Ed.) História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p.9-24

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