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Disciplina: Neurociências e a formação da aprendizagem

Autores: D.ra Ana Regina Caminha Braga

Revisão de Conteúdos: Esp. Larissa Carla Costa

Revisão Ortográfica: M.e Jacqueline Morissugui Cardoso

Ano: 2017

Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas


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Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança
de direitos autorais.

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Ana Regina Caminha Braga

Neurociências e a
formação da
aprendizagem
1ª Edição

2017

Curitiba, PR

Faculdade UNINA

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FICHA CATALOGRÁFICA

BRAGA, Ana Regina Caminha.


Neurociências e a formação da aprendizagem. Ana Regina Caminha
Braga. – Curitiba, 2017.
47 p.
Revisão de Conteúdos: Larissa Carla Costa.

Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso.

Material didático da disciplina de Neurociências e a formação da


aprendizagem – Faculdade São Braz (FSB), 2017.
ISBN: 978-85-94439-66-6

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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO

Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA!

Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier,


nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão
Universitária.
A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas
também brasileiros conscientes de sua cidadania.
Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e
grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e
estudantes.

Bons estudos e conte sempre conosco!


Faculdade UNINA

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Apresentação da disciplina

Nesta disciplina serão abordados os estudos de uma área atualmente


bastante discutida e procurada pelos profissionais da Educação com o objetivo
de encontrar a formação continuada adequada para compreender, aprender e
lidar com as situações da Educação Especial em sala de aula com a
metodologia, estratégia e recursos significativos para que os alunos tenham a
possibilidade de cada vez mais aprender, superar seus limites e para cada vez
mais ser inserido na sociedade e compreendido no meio em que vive.

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Aula 1 - Escola, família, sociedade e o desenvolvimento do sujeito com
Transtorno Global do Desenvolvimento

Apresentação da aula

Nesta aula serão abordados temas importantes para a compreensão dos


processos referentes à Educação Especial (EE), com o objetivo de deixar ainda
mais claro o trabalho a ser desenvolvido não apenas pela escola, mas pela
família/responsáveis e sociedade.
Nesse momento, o diálogo estabelecido está no centro das questões que
envolvem as pessoas com Transtorno Global do Desenvolvimento, sua família e
a sociedade a qual faz parte, com o intuito de deixar nítido todo o potencial,
habilidades e dificuldades encontradas por essas pessoas/alunos, e como a
família, os profissionais e escola podem trabalhar as questões das dimensões
cognitivas, afetivas e sociais de modo a preparar e/ou inserir essas
pessoas/alunos numa sociedade que tenha um novo olhar e condutas sobre
esse determinado tema.

1. Escola, família, sociedade e o desenvolvimento do sujeito com


Transtorno Global do Desenvolvimento

Ao realizar uma reflexão, pode-se entender que uma ação conjunta


contribui de maneira satisfatória para o desenvolvimento das dimensões
cognitivas, afetivas e sociais dos alunos com Transtorno Global do
Desenvolvimento (TGD), e por essa razão, o papel da família pode se iniciar, ao
perceber algum sintoma específico na criança, o qual deve motivar os
responsáveis a buscar profissionais adequados e verificar o atendimento
necessário, com o objetivo de se aproximar do diagnóstico e desse modo
encontrar os recursos solicitados pela equipe multidisciplinar que atende essa
criança.
Os sintomas do Autismo, da Síndrome de Rett, Síndrome de Aspeger, os
quais estão dentro do desdobramento do TGD, podem aparecer tanto no meio
familiar como na escola a partir dos 3 anos de idade, quando parte desse público
está inserido nas creches e escolas. Por isso, é fundamental que a equipe
pedagógica conheça ou busque essa informação dos sintomas apresentados

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pela criança e caso isso seja detectado pelo professor, que ambos os segmentos
conversem e tracem um plano de observação e atividades para que o aluno
prossiga no seu desenvolvimento cognitivo e social dentro e fora da escola com
seus pares.
Em relação à sociedade, serão abordadas questões referentes à atitude
que as pessoas devem aprender a ter diante de uma criança com suas
especificidades, pois ainda existe um olhar preconceituoso do ser humano em
relação a isso pela falta de conhecimento, leitura e até de convívio.

1.1 O novo olhar para o meio escolar e social e as novas possibilidades


para o TGD

É preciso que a sociedade como um todo reflita sobre as demandas, não


apenas do TGD, mas a Educação Especial em si. Dessa maneira, se parar para
pensar o simples olhar ou atitude demonstrada por algumas pessoas, seja ela
em sala de aula, na igreja, no supermercado, no teatro ou em qualquer espaço
em que uma criança ou pessoa com TGD esteja, fará a diferença, não apenas
para ela, mas também para a sua família que é conhecedora dos seus limites e
de suas lutas, e que por essa razão, o motiva a ir além do que já conquistou.
Parolin (2006, p. 37), contribui de maneira assertiva ao dizer que diante
de uma “visão de possibilidades e limites de cada aprendiz, acredita no trabalho
da inclusão escolar pautado em um processo de responsabilidade social, em que
se comprometem a família, o aprendiz, a escola, e os profissionais envolvidos”.
Com a citação, é possível visualizar a relevância do papel e do trabalho de cada
um para que as primeiras aprendizagens da criança/aluno sejam acompanhadas
pelos responsáveis e pela escola, no entanto, caso o aluno apresente alguma
especificidade, deve ser analisada pelo professor e pela equipe pedagógica.
Logo, para que isso ocorra, é necessário que a escola ofereça uma
formação continuada para o corpo docente e estender para a comunidade
também.
Na escola, o professor tem um papel fundamental como o profissional que
pode contribuir com o aprendizado do aluno, e para tal, é preciso que as
atividades sejam elaboradas de maneira a atender e incluir o aluno com TGD
sem esquecer suas habilidades e limitações. Nesse momento, é relevante a

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atuação dos pais/responsáveis para conhecer e escolher a instituição que esteja
dentro de sua filosofia disponível e com os recursos e profissionais adequados
para trabalhar com essas especificidades.
Dentro dessa prática, é válido trabalhar a dimensão afetiva com o objetivo
de traçar um acompanhamento da relação estabelecida entre professor-aluno, a
qual pode facilitar o processo de aprendizagem, inclusive o desenvolvimento das
suas habilidades. Ainda que as limitações existam pode-se alcançar resultados
significativos com a aproximação do professor-aluno juntamente com os
recursos necessários. Contudo, se o professor observar quaisquer dificuldade
de aproximação com o aluno, contato visual e interação dele com os colegas de
sala de aula ou demais professores e profissionais da escola, é importante
comunicar a equipe pedagógica para futuras investigações, pois esses são os
primeiros sintomas do Autismo.
De acordo com Lafortune e Saint-Pierre (1996, p. 46), para atingir
“objetivos de ordem afetiva e metacognitiva, é preferível utilizar atividades
didáticas que ponham os alunos em ação. Os alunos podem, então, ganhar mais
facilmente consciência dos seus processos metacognitivos e estar em contato
com suas emoções”. Nessa citação, as autoras conduzem os professores e a
equipe pedagógica a pensar primeiramente no planejamento das suas aulas e
ao objetivo que almejam atingir, para depois considerar a dimensão afetiva, ou
seja, o processo começa com a elaboração das aulas, com o professor focado
nos seguintes propósitos: “pra quê”, “pra quem”, “como” e “onde” irá trabalhar
determinados conteúdos.
As perguntas pontuadas anteriormente auxiliam a contextualizar essa
prática, e por isso, é válido colocar que o professor, após suas primeiras aulas,
já possui um conhecimento prévio e consegue observar as relações
estabelecidas entre professor-aluno e alunos-colegas, o que facilita para o
docente no momento de organizar os conteúdos a serem compartilhados com
os alunos e suas práticas. Desse modo, o olhar do professor e dos alunos não
está mais centrado apenas no conteúdo, mas no todo, e assim conseguem
enxergar as especificidades que ocorrem dentro do ambiente escolar.
É certo que nos dias atuais a educação tem passado por inúmeras
inovações e uma delas traz a necessidade dos profissionais se questionarem:
“como”, “de que forma” e “com que meios” pode-se colocar em funcionamento

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as ações escolares para as especificidades da educação especial dentro do
ensino regular.

Para Stainback e Stainback (1999, p.69), é preciso abordar alguns itens


importantes para a criação de comunidades de ensino inclusivo e eficaz:

Desenvolver uma filosofia comum e um plano estratégico

Proporcionar uma liderança forte

Promover culturas no âmbito da escola e da turma que


acolham, apreciem e acomodem a diversidade

Desenvolver redes de apoio

Usar processos deliberativos para garantir a


responsabilidade

Desenvolver uma assistência organizada e contínua

Manter a flexibilidade

Examinar e adotar abordagens efetivas de ensino

Comemorar os sucessos e aprender com os desafios

Estar a par do processo de mudança, mas não permitir que


ele paralise

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado pelo D.I.

Esses elementos são importantes para relembrar que o sujeito-aprendiz,


independentemente de suas habilidades e limitações, precisa ser conhecido e
reconhecido pelo potencial e possibilidades de ir além daquilo que os outros
esperam deles, seja a sua família, a escola ou a sociedade; e pra tanto é válido
contar com os 10 tópicos ressaltados.
Todas as reflexões até aqui realizadas, mostram que as pessoas inseridas
nesse contexto de convivência com as pessoas portadoras de TGD, devem

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pensar sobre a unicidade do ser humano e antes de atitudes ou realizar qualquer
movimento que possa parecer discriminatório, considere as habilidades,
conhecimentos e limitações do outro.

Vídeo
Para contribuir com o conteúdo assista a fala da psicopedagoga e
mestre em Educação Isabel Parolin, disponível no site:
https://www.youtube.com/watch?v=3JChIRfAQyw

Para Refletir
Ao assistir o vídeo verifique alguns aspectos que podem
contribuir com as suas reflexões:
Qual o papel social da escola?
Como a família pode contribuir com a aprendizagem dos
alunos?
Como a sociedade pensa e pode agir diante das
especificidades do ser humano?

O primordial, é que o aluno com TGD tenha a oportunidade de participar,


aprender na escola e no meio social, de maneira significativa e interligada numa
tríade até o momento estudada, que é professor – aluno – inclusão. Dessa forma,
as experiências serão vividas e divididas com os seus pares, ou seja, amigos,
colegas, professores e familiares de maneira satisfatória.
Uma estratégia que já acontece nas escolas, é a visita da escola na casa
dos alunos com TGD dentro de uma perspectiva de conhecer a realidade de
cada um e até aproximar e mostrar para os responsáveis que a instituição e os
docentes estão realizando o seu melhor e ainda trabalham com o intuito de que
o aluno se desenvolva integralmente.
Na escola é preciso considerar que inserir na sala de aula um aluno sem
oportunizar estratégias que possam contribuir para o seu aprendizado, pode
comprometer as aquisições futuras ou estagnar o processo. Portanto, a

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integração pela integração, sem colocar a frente dessa atitude uma objetividade,
acaba não atingindo o ponto crucial da integração escolar.

Curiosidade
O Programa de Integração Família e Escola (PIFE) em Bertioga
tem o objetivo de aproximar a escola da família e proporciona o
professor conhecer a realidade dos seus alunos e assim trabalhar
as questões afetivas, as quais são importantes para o aprendizado
dos alunos. Conheça mais acessando o site:
https://www.youtube.com/watch?v=izZoKugegLY

Viu-se aspectos relacionados à família e ao papel do professor, no


entanto, o papel da sociedade é de suma relevância; e o objetivo e papel da
sociedade é integrar as pessoas sem distinção, seja por questões de raça,
religião, cultura, costumes, deficiências ou outros aspectos. Todos devem
interagir com o meio o qual está inserido e esses aspectos hoje ganham voz com
a Lei da Inclusão, a qual respalda o lazer, o transporte, a saúde, a educação e
demais fatores necessários para o ser humano.

Fonte: https://aviesp.com.br/2016/09/23/impacto-da-lei-brasileira-de-inclusao

LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015.

Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
Deficiência).
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:

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LIVRO I
PARTE GERAL
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
CAPÍTULO IV

DO DIREITO À EDUCAÇÃO
Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema
educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a
alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas,
sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de
aprendizagem.
Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade
assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda
forma de violência, negligência e discriminação.
Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar,
incentivar, acompanhar e avaliar:
I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o
aprendizado ao longo de toda a vida;
II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condições de acesso,
permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de
acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena;
III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especializado,
assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos
estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de
igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia;
IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modalidade
escrita da língua portuguesa como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em
escolas inclusivas;
V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambientes que maximizem o
desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso,
a permanência, a participação e a aprendizagem em instituições de ensino;
VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos métodos e técnicas
pedagógicas, de materiais didáticos, de equipamentos e de recursos de tecnologia assistiva;
VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano de atendimento
educacional especializado, de organização de recursos e serviços de acessibilidade e de
disponibilização e usabilidade pedagógica de recursos de tecnologia assistiva;
VIII - participação dos estudantes com deficiência e de suas famílias nas diversas
instâncias de atuação da comunidade escolar;
IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o desenvolvimento dos aspectos
linguísticos, culturais, vocacionais e profissionais, levando-se em conta o talento, a
criatividade, as habilidades e os interesses do estudante com deficiência;
X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação inicial e
continuada de professores e oferta de formação continuada para o atendimento educacional
especializado;
XI - formação e disponibilização de professores para o atendimento educacional
especializado, de tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais de
apoio;

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XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de recursos de tecnologia
assistiva, de forma a ampliar habilidades funcionais dos estudantes, promovendo sua
autonomia e participação;
XIII - acesso à educação superior e à educação profissional e tecnológica em igualdade
de oportunidades e condições com as demais pessoas;
XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de nível superior e de educação
profissional técnica e tecnológica, de temas relacionados à pessoa com deficiência nos
respectivos campos de conhecimento;
XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições, a jogos e a
atividades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema escolar;
XVI - acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da educação e demais
integrantes da comunidade escolar às edificações, aos ambientes e às atividades
concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis de ensino;
XVII - oferta de profissionais de apoio escolar;
XVIII - articulação intersetorial na implementação de políticas públicas.
§ 1o Às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade de ensino, aplica-se
obrigatoriamente o disposto nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI,
XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer
natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas
determinações.
§ 2o Na disponibilização de tradutores e intérpretes da Libras a que se refere o inciso
XI do caput deste artigo, deve-se observar o seguinte:
I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na educação básica devem, no mínimo,
possuir ensino médio completo e certificado de proficiência na Libras; (Vigência)
II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando direcionados à tarefa de interpretar
nas salas de aula dos cursos de graduação e pós-graduação, devem possuir nível superior,
com habilitação, prioritariamente, em Tradução e Interpretação em Libras. (Vigência)
Art. 30. Nos processos seletivos para ingresso e permanência nos cursos oferecidos
pelas instituições de ensino superior e de educação profissional e tecnológica, públicas e
privadas, devem ser adotadas as seguintes medidas:
I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência nas dependências das
Instituições de Ensino Superior (IES) e nos serviços;
II - disponibilização de formulário de inscrição de exames com campos específicos para
que o candidato com deficiência informe os recursos de acessibilidade e de tecnologia
assistiva necessários para sua participação;
III - disponibilização de provas em formatos acessíveis para atendimento às
necessidades específicas do candidato com deficiência;
IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva adequados,
previamente solicitados e escolhidos pelo candidato com deficiência;
V - dilação de tempo, conforme demanda apresentada pelo candidato com deficiência,
tanto na realização de exame para seleção quanto nas atividades acadêmicas, mediante
prévia solicitação e comprovação da necessidade;
VI - adoção de critérios de avaliação das provas escritas, discursivas ou de redação
que considerem a singularidade linguística da pessoa com deficiência, no domínio da
modalidade escrita da língua portuguesa;
VII - tradução completa do edital e de suas retificações em Libras.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm

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Contudo, a pergunta é: “porque no Brasil é preciso instaurar leis para
garantir algo que já é do cidadão de direito?” Não precisa ir muito longe, pois a
resposta é clara. Ainda existe um paradigma social repleto de pré-conceitos ou
preconceitos, no qual as pessoas não tomaram total consciência do espaço do
outro, ou seja, nem sempre a sociedade respeita o direito da pessoa com alguma
especificidade.
É possível visualizar essa mesma realidade com a pessoa com TGD. O
fato principal é o olhar para o diferente e a maneira como a sociedade ainda
precisa de formação para lidar com essas questões. Para algumas situações a
sociedade avançou, mas ainda existem relatos de discriminação e exclusão e
isso precisa ser discutido, trabalhado com palestras, formações, noticiários e
documentários na televisão como algumas entrevistas e reportagens já
realizadas sobre o TGD.

1.2 O papel e o trabalho a ser desenvolvido pelos pais/responsáveis dos


alunos com TGD

O papel da família inicia já nos primeiros anos quando a mãe percebe


algum sintoma ou até mesmo uma patologia como o medo, a desconfiança e a
insegurança, as quais podem tomar conta das ações da criança.
Em alguns casos, os primeiros sintomas aparecem cedo, mas o
diagnóstico pode iniciar a partir dos 3 anos com a falta de olhar, pouca
verbalização, ações repetitivas, dentre outros fatores. Por essa razão, o papel
da família na busca pelo diagnóstico é essencial, mas que pode causar
ansiedade e tristeza, por isso, cabe aos profissionais estarem atentos às
condições psicológicas dos responsáveis/pais também, pois alguns podem
precisar de atendimento para que assim possam contribuir com o
desenvolvimento e encaminhamento mais adequado para o seu filho.
Os pais/responsáveis tem uma caminhada longa junto dos seus filhos e
precisam acompanhar e orientá-los desde as questões de higiene, alimentação,
estudos até o convívio social para que possam superar suas limitações
diariamente.
O atendimento que eles recebem dos profissionais das diversas áreas têm
o objetivo de procurar o avanço cognitivo, afetivo e social da criança, bem como

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da adaptação da rotina que elas precisam seguir para desenvolver suas
atividades com sucesso.

Vídeo
Para conhecer um pouco mais sobre a realidade e a luta das famílias
com seus filhos assista o documentário de pais com filhos autistas e
como eles lidam com os mesmos no seu cotidiano, disponível no link:
https://www.youtube.com/watch?v=mNab1gzIy1o

A educação dessas crianças deve ser pautada em formar o seu


psicológico a lidar com o seu próprio dia a dia, mas para isso o apoio dos
responsáveis é indispensável, pois eles precisam sentir segurança e ter sua
rotina organizada com atendimentos com os profissionais periodicamente, para
que os resultados sejam alcançados dentro do tempo esperado.
Paniagua e Palacios (2005, p. 214), comentam que “a hipótese
fundamental sobre as relações pais-filhos e sobre os estilos educativos é,
portanto, a do respeito e da consideração”.
Contudo, ainda quando pontuado sobre as situações específicas, como o
caso dos alunos com TGD, é preciso pensar as condições sociais de cada
família, principalmente ao relacionar o tratamento e atendimento com
profissionais específicos de acordo com os sintomas da pessoa.
É importante considerar que nem todas às vezes esses pais/responsáveis
conseguem o tratamento adequado para o seu filho, e dessa maneira o aluno
chega à escola com dificuldades mais acentuadas por não receber o
atendimento necessário para o seu desenvolvimento. Logo, a escola pode
trabalhar com o objetivo de auxiliá-los nessa caminhada.
Ainda como realidade das famílias, pode-se encontrar pais/responsáveis
sem a devida instrução para lutar por aquilo que o seu filho necessita, não por
falta de interesse, mas por não conhecer o caminho ou não ter as oportunidades
sociais para atentar e aprimorar o seu olhar dentro dessa perspectiva.

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Saiba Mais
As Leis e Diretrizes da Educação Especial amparam os alunos
com deficiência, transtornos ou dificuldades de aprendizagem por
meio de recursos como o Atendimento Educacional Especializado
(AEE) e a Sala de Recursos Multifuncionais.
Esses são atendimentos e espaços formalizados para atender os
alunos com especificidade, o qual é um direito previsto por lei. Os
atendimentos podem ser realizados no contraturno do período em
que o aluno estuda e o acompanhamento é realizado por
profissionais com formação adequada, os quais elaboram e
trabalham os conteúdos diante de uma metodologia e proposta
que atenda o seu público.

Resumo da aula
Durante esta aula foram abordados alguns aspectos relevantes com o
objetivo de contribuir com a atuação da escola, da sociedade e da família para
com a educação e formação das pessoas com TGD dentro de suas
características específicas, assim como do seu país de origem e da sociedade
no qual está inserida.
Para a Educação Especial é importante não apenas a família, mas a
escola e a sociedade conhecer e compreender os processos desenvolvidos com
seus filhos/familiares. A escola deve voltar-se às adaptações necessárias e
vencer as dificuldades existentes e assim buscar resultados significativos para o
aluno, para a instituição e para a família. Esse trabalho deve ser realizado junto
à sociedade para que as adequações sejam realizadas em conjunto.
Em relação à família dos alunos da Educação Especial foi contemplado a
relevância dos membros que convivem com eles estarem preparados para lidar
com as variantes e situações referentes à aprendizagem dessas crianças,
relacionando sempre que possível as dimensões que envolvem o ser humano:
cognitivo, afetivo e social e dessa maneira permite com que eles consigam
participar dentro de suas habilidades e limitações com os seus pares.
A sociedade tem um papel importante a ser desempenhado que é um
olhar único para o cidadão que tem seus direitos como pessoa pertencente a um

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grupo social, o qual deve e precisa ser visto com a possibilidade de caminhar e
desenvolver-se sem discriminação, preconceito ou intolerância.

Atividade de Aprendizagem
Qual sua visão para com a escola que recebe alunos com TGD ou
outras especificidades e o trabalho do professor. Você acredita que
a inclusão desses alunos acontece de maneira satisfatória?
Justifique de acordo com os conteúdos e pesquisas realizadas

Aula 2 – Conceitos e Especificidades do Transtorno Global do Desenvolvimento -


Autismo

Apresentação da Aula

Esta aula tem por objetivo abordar conteúdos sobre a Educação Especial
e o Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), seus desdobramentos
relacionados ao Autismo, com suas características e as ações a serem tomadas
pela escola, família e sociedade. Para atender essa proposta é preciso contribuir
trazendo um olhar que a sociedade já tem formado para a Educação Especial e
do mesmo modo para as pessoas e famílias com TGD por ainda precisar
compreender e estudar os direitos que asseguram as mesmas, bem como as
características, habilidades e limitações para que a sociedade possa atender e
integrar não apenas um grupo, mas todos os que pertencem a sociedade,
independentemente de suas particularidades e sem discriminação.

2.1 Conceitos e Especificidades do Transtorno Global do Desenvolvimento


- Autismo

Para iniciar a temática sobre o TGD, é necessário resgatar o que a Lei de


Diretrizes e Bases (LDB) traz para a Educação Especial com algumas
modificações que foram vivenciadas nos anos 1961, 1971 e 1996. É possível
fazer em tópicos um pequeno levantamento dos acontecimentos:

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• Lei n˚ 4.024, de 20 de Dezembro de 1961 – considerava que a
educação de pessoas com deficiência deveria ser inclusa no sistema geral da
educação com o objetivo de inseri-los na sociedade;
• Lei n˚9.394, de 20 de Dezembro de 1996 – é possível observar como
se dá o entendimento da Educação Especial:

Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei,
a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na
rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na
escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de
educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou
serviços especializados, sempre que, em função das condições
específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes
comuns de ensino regular. (BRASIL, 1996)

As leis precisam ser analisadas pelas famílias e a escola também deve


ter esse conhecimento para cobrar os seus direitos junto os órgãos, como ter em
sala de aula um profissional que possa acompanhar e conduzir o aluno com TGD
– Autismo nas suas atividades e interações, pois esse é um de seus direitos.
Em relação a definição tanto do TGD como do Autismo, é possível verificar
que o termo Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) surgiu na década de
60, com os trabalhos de M. Ruttter citados nos cadernos do MEC com apoio da
Universidade Federal do Ceará (2010), nas quais o autor define ser um conjunto
de transtornos qualitativos envolvidos no desenvolvimento humano.
Contudo, a definição tornou-se ampla, o que pode dificultar a localização
dos relevantes detalhes na caracterização de cada grupo que faz parte do
transtorno. Por essa razão, pode-se dizer que o TGD é um distúrbio na
interação social, a qual costuma ser manifestada, nos primeiros anos de
vida e uma de suas características é a fala estereotipada e o interesse
estreito nas atividades. Por essa razão, pode acontecer a ecolalia, a
elegibilidade de interesses e as dificuldades nas relações sociais.
Outra classificação do TGD pode ser acessada no Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), no qual o DSM-IV engloba também o
Autismo, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrador
da Infância e TGD sem outra especificação. Nesse material, o foco é o Autismo.

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O autismo pode apresentar características especificas como já pontuado
o desenvolvimento da interação social e da comunicação prejudicada, a
ecolalia, o repertório restrito de interesse e de atividades, o interesse por rotinas
e rituais não funcionais, movimentos estereotipados, jogos imaginativos e
simbólicos, restritos ou ausentes, aparecendo tais sintomas antes dos três anos
de idade.
Sendo assim, é relevante colocar que com a pessoa autista, o professor,
a família e a sociedade precisam ter esse conhecimento, e dessa maneira
trabalhar com estratégias que possam deixar o aluno confortável nos três
ambientes para estabelecer seu aprendizado, sendo ele respeitado por suas
especificidades.
O objetivo principal ao descrever as características do TGD é que a
família, a escola e a sociedade conheçam esse perfil e possam trabalhar para o
desenvolvimento sem estereótipos ou preconceitos e assim tenham a
oportunidade de aceitar com naturalidade os desafios que o outro precisa passar
e ultrapassar dentro dos ambientes em que estão inseridos.

2.2 As características específicas da Educação Especial e a relação com o


TGD

É importante que os pais/responsáveis e a escola com a presença da


equipe pedagógica e dos docentes, estejam sempre dispostas a procurar leituras
complementares, vídeos, palestras e outros meios para se atualizarem sobre
esse assunto.

Pesquise
Nesses vídeos pode-se esclarecer questões e dúvidas que ainda
possam existir como as atitudes, comportamentos e o cotidiano
das pessoas com TGD.
Nos vídeos, Caroline Scottaelli e Consuelo Fernandes da
Universidade Federal do Paraná, falam sobre o TGD e o
classificam como entraves no desenvolvimento psíquico. No
entanto, é preciso compreender que essas pessoas não são
doentes, mas possuem singularidades. Acesse os links:
https://www.youtube.com/watch?v=Ir1DMmD9_iU
https://www.youtube.com/watch?v=tqEUEKC8MOc

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Dentro da perspectiva do TGD pode-se observar que não apenas a escola
trabalha esse assunto, mas a mídia também começou a mostrar como é a
realidade das pessoas com Autismo, nas novelas e nos programas de
informação, de forma semelhante ao que aconteceu com a Síndrome de Down.

Vídeo
Assista ao programa apresentado pelo Dr. Dráuzio Varela no
Fantástico sobre o Autismo e a dificuldade encontrada pelas famílias.
Essas precisam de apoio não só financeiro, mas principalmente
psicológico, no sentido de haver a necessidade por parte dos
pais/responsáveis em buscar saber como será a inserção do seu filho
na faculdade, no mercado de trabalho e na sociedade. Acesse o link:
https://www.youtube.com/watch?v=OvFNiFQuGPA

O Autismo, assim como todas as deficiências, dificuldades e síndromes,


possui suas características. Dentre as principais podemos citar:
✓ A indiferença;
✓ A interação com seus pares é diferenciada (algumas vezes só há
interação caso um adulto esteja presente para auxiliar na
comunicação);
✓ Insistência em um mesmo assunto;
✓ A convivência com outras crianças é restrita;
✓ A resistência a mudanças;
✓ Ausência de contato visual.

Amaral (2014), pontua o desenvolvimento da criança autista dos seus 2


meses até 5 anos. Vejamos a seguir.
• 2 meses - um bebê dentro dessa idade fixa o olhar, presta
atenção aos sons, se aninha no colo e troca o olhar ao mamar. A criança
com autismo não apresenta essas características.
• 3 meses - o bebê firma o pescoço, vira a cabeça conforme barulho,
segura objetos, reconhece o cheiro e rosto da mãe. O autista é
indiferente para esses sinais e também não reage quando está com fome
ou sujo.

20
• 4 meses - bebê sorri, emite sons, estica os braços para alguém
pegá-lo, se distrai com as mãos e pés. O autista nessa fase é pouco
sorridente, não tem movimentos emancipatórios e não demonstra
interesse com os móbiles.
• 6 meses - o bebê sorri, leva os objetos à boca, imita sons,
demonstra medo a estranhos, se reconhece no espelho e já fica em pé
sem apoio. O bebê com autismo não evidencia resposta ao sorriso, sons
de outras pessoas, pois ele precisa de mais estímulo, não responde
quando chamado pelo nome, e às vezes, é possível pensar que ele não
escuta.
• 10/11 meses – o bebê já tem pinça para pegar objetos e participa
de brincadeiras com gestos; mas o autista não acena e nem aponta para
os objetos com o objetivo de chamar atenção.
• 1/3 anos – a criança consegue brincar de faz de conta, com frases
curtas e faladas, o vocabulário enriquece e a interação com seus pares
aumenta. Com o autista a interação e atenção desprendida é reduzida,
assim como seu interesse por pinturas e desenhos.
• 4/5 anos – a criança apresenta interesse de afetividade pelas
pessoas, se veste sozinha, já separa os objetos por tamanho e cor; no
entanto, o autista não demonstra dificuldade em se colocar no lugar do
outro, pode apresentar um comportamento peculiar seu.
Ao citar o “faz de conta”, é importante dizer do predomínio da fantasia,
porém, a atividade psicomotora garante que a realidade se mantenha. O
princípio da imaginação garante que a criança modifique sua vontade por meio
do “faz de conta”, e como a atividade é expressa por meio do corpo,
obrigatoriamente respeita a realidade concreta e as relações com o mundo real.
Com o amadurecimento da criança, esse jogo, se estimulado, prevê a
diminuição da atividade egocêntrica, e esta passa a adquirir uma socialização
crescente. Dentre as características do jogo simbólico se destacam:

21
• Liberdade de regras do mundo adulto, prevalecendo às criadas
pela criança.
1 • Desenvolvimento da imaginação.

• Ampliação do caráter fantasioso da ação.


2 • Não há um objetivo explícito ou consciente para a criança.

• A criança estabelece sua própria lógica com a realidade.


• Assimilação da realidade ao "eu".
3

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado pelo DI.

Na prática docente, é preciso explorar as imitações sem modelo, as


dramatizações, os desenhos e pinturas, o “faz de conta”, a linguagem, permitindo
a exploração do jogo simbólico, seja individualmente, ou em relação com outras
crianças. Afinal, essas práticas são fundamentais para o desenvolvimento
cognitivo e para sustentação emocional.
É fundamental perceber que em crianças com TGD o jogo simbólico
acontece de outra forma, é preciso incentivar e promover práticas principalmente
por meio da imitação, para que essa criança se desenvolva de forma harmoniosa
e completa.
O trabalho na sala de apoio especializada para o autista, deve ser
específico, com materiais próprios por conta da possível agressividade,
dependendo do grau - o que difere de pessoa pra pessoa. Alguns cuidados são
citados por Amaral (2014):

Luminosidade da sala de aula – pessoas com autismo não gostam de


muita luz; cheiro dos produtos utilizados incomodam, podendo
apresentar comportamento inadequado; material concreto – alfabeto
móvel, blocos lógicos, jogos de quebra-cabeças e jogos da memória.
(AMARAL 2014, p.25)

Muitas especulações, especialmente sobre os Transtornos Globais do


Desenvolvimento, têm surgido desde as pesquisas de Kanner (1943) até os dias
de hoje. Essas pesquisas estão especificamente direcionadas para as causas
dos transtornos, o diagnóstico e as formas de intervenção, com o objetivo de
amenizar os sintomas apresentados pelo indivíduo, de maneira que a interação

22
social possa ocorrer de forma eficaz na escola e na sociedade em que está
inserido, que passa por constantes mudanças.
Para um estudo mais aprofundado, analisaremos e esclareceremos
questões relativas aos Transtornos Globais do Desenvolvimento, como
caracterizá-lo e fazer um levantamento das tendências atuais do diagnóstico,
das dimensões e do impacto ocasionado pelos mesmos. Por esse motivo, as
intervenções necessárias para a participação destes sujeitos é feita em espaços
menos restritivos, possíveis em Escolas Inclusivas.
Smith (2008), ao citar US Departement of Education (1999), ressalta a
importância de se buscar as características do processo educativo formal nas
pessoas com autismo. A ênfase desse departamento foi dada às questões de
ordem emocional dos indivíduos, tais como transtornos na(s):

Comunicação verbal,
Respostas incomuns as
resistência a mudanças,
experiências sensoriais
dentre outros.

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado pelo D.I.

2.3 Compreensão e ações a serem seguidas relacionadas às pessoas e


alunos com TGD

Num momento histórico, o direito da pessoa com deficiência existiu desde


1824 em outros países, mas em 1857 que o Brasil iniciou a criação de serviços
para atender as pessoas com deficiências físicas, mentais e sensoriais. A partir
dessa movimentação que em 1854 surgiu o Instituto dos Meninos Cegos,
chamado de Benjamim Constant.
Sendo assim, inicia-se o trabalho com a educação inclusiva que visa
proporcionar o ensino e a aprendizagem para as pessoas com qualquer tipo de
dificuldade ou deficiência, mas para pensar essa modalidade, é preciso refletir

23
de acordo com Stainback e Stainback (1999, p. 407), que por mais centrado
esteja o objetivo da inclusão, o de “criar uma comunidade em que todas as
crianças trabalhem, aprendam juntas e desenvolvam repertórios de ajuda mútua
aos colegas, pois o objetivo da inclusão é esquecer as diferenças individuais
entre elas”, é necessário trabalhá-las de maneira que a escola, família e
comunidade possa enxergar a criança passiva de várias habilidades.
Os responsáveis têm um papel expressivo no desenvolvimento das
crianças pelo fato de ser a primeira instância e contato delas com o mundo e
dessa forma é possível visualizar no começo as dificuldades apresentadas, seja
no desenvolvimento motor, cognitivo e/ou social.

Curiosidade
Assista o curta metragem indicado para compreender o que ocorre
com a criança ou a pessoa com TGD quando não há ainda um
diagnóstico assertivo. Acesse o link:
https://www.youtube.com/watch?v=sL6ZQZTRPzE

Gonzáles (2007), considera que nesse ambiente é oferecido o melhor


alicerce social com os valores e modelos culturais de uma sociedade, e para isso
os pais/responsáveis precisam receber uma formação adequada nesse sentido
social, assim podem orientar e acompanhar o desenvolvimento da criança.
Contudo, para o fator elaborado pelo autor é de suma relevância pensar
nas várias realidades brasileiras que nem sempre dialogam ou se conversam no
sentido de ter os aspectos necessários para o processo acontecer, como
alimentação e moradia adequada, bem como, uma família que possa oferecer
esse tempo não pela falta de interesse, mas pela necessidade de trabalhar e
sustentar sua família.
Outro aspecto é abordar a situação da escola como agente cultural e de
aprendizado para todos como um grupo. Por essa razão, é válido considerar
também as especificidades que a escola precisa atender para aceitar e assim ter
condições físicas de espaço e também de intelecto, ou melhor, de formação dos
professores ou pode-se pensar que a integração do aluno da EE é apenas para
cumprir com as leis e normas estabelecidas pelo MEC e demais regimentos.

24
O papel da sociedade é fazer com que a interação da família, escola e
comunidade aconteça de maneira efetiva e de acordo com as demandas
específicas de cada desmembramento do TGD para que a sociedade tenha a
oportunidade de conviver com as pessoas de maneira integral e não
fragmentada.
Dessa maneira, todos almejam e esperam que a Educação Especial
consiga abranger e atender as especificidades de cada sujeito/aluno, as quais
são reais no meio familiar, escolar e social.
Para esse atendimento, é esperado que profissionais habilitados sejam
selecionados para direcionar e assim orientar os envolvidos nessa caminhada
sempre com o objetivo maior de formar a pessoa, o aluno e o cidadão que faz
parte de um grupo e assim deve ser olhado, cuidado e respeitado perante suas
habilidades e limitações.

Conclusão da aula

Nesta aula foi possível conhecer sobre o TGD, seus conceitos e


definições.
O termo Transtorno Global do Desenvolvimento surgiu na década de 60
nos trabalhos de M. Ruttter e foi caracterizado como o conjunto de transtornos
qualitativos envolvidos no desenvolvimento humano. No entanto, essa definição
abre possibilidade para muitas interpretações. Como apresentado, cada um
possui suas especificidades, as quais devem ser levadas em consideração para
que a sociedade como um todo possa melhor compreender o TGD, as suas
causas, os diagnósticos e as formas de intervenção, visando amenizar os
sintomas para que a interação social ocorra de forma eficaz na escola e na
sociedade.

Atividade de Aprendizagem
Discorra sobre o Transtorno Global do Desenvolvimento,
segundo seu aprendizado até esse momento.

25
Aula 3 – Neurociências

Apresentação da Aula

Nesta aula serão abordados assuntos relacionados ao funcionamento do


cérebro e suas particularidades, para que se possam conhecer as ligações que
o ser humano realiza para alcançar resultados significativos em suas atividades
diárias, com o objetivo na aprendizagem e nas atitudes tomadas na vida pessoal
e profissional.
O intuito desta aula, é atingir o conhecimento e saber como se estabelece
a aprendizagem dos indivíduos. Para isso será abordado também questões
sobre a cognição e dois processos cognitivos importantes: a memória e a
atenção, norteadores para que o ser humano tenha o desdobramento e a
relevância do percurso que o cérebro realiza, no momento do aprender e na
execução das atividades cotidianas.
No terceiro momento será estudada a metacognição, para auxiliar com as
atitudes e mais conscientes e reflexivas no dia a dia, para as especificidades de
cada indivíduo, as habilidades, as limitações, o ritmo e o tempo dos mesmos
para internalizar e executar o que fora aprendido em vários momentos da vida,
pois a aprendizagem é um processo contínuo que inicia ao nascermos até o
fechamento do ciclo vital.
O tema dessa aula coloca a oportunidade de pensar no trabalho e
aplicabilidade dos itens até aqui abordados no ambiente profissional, mas
especificamente dentro da sala de aula, por acreditarmos que os profissionais
da Educação e as famílias buscam um acompanhamento adequado para que os
seus filhos/parentes possam evoluir dentro de suas habilidades e limitações,
focando um futuro de aprendizagem e realizações significativas.

3.1 Neurociência e a Aprendizagem

A constituição cerebral é definida desde a fase uterina e por essa razão,


o bebê desde cedo está aberto a novas aprendizagens; pois ao nascer o bebê
aos poucos descobre o mundo a sua volta e começa a atender aos estímulos
recebidos conforme as etapas do desenvolvimento humano, já estabelecidas por
Vygotsky, Piaget e Wallon da Psicologia.

26
Para aprofundar os estudos sobre a neurociência e a aprendizagem, um
dos caminhos é conhecer e acompanhar parte do que os autores: Consenza e
Guerra, Jensen e outros, nos apresentam a respeito das questões cerebrais do
ser humano.

3.2 O funcionamento do cérebro e a contribuição da Neurociência

É válido pontuar que a ciência concebia os seres humanos equipados


exclusivamente de tendências inatas, fazendo-se acreditar que era apenas um
produto da natureza, no qual cada um trazia consigo aspectos prontos, dentro
de uma concepção onde o cérebro não possuía a possibilidades de modificar-
se.
Com o passar dos tempos e com os avanços obtidos nas áreas
relacionadas à neurociência, com a cognição e a aprendizagem, podem-se
conhecer os processos cerebrais utilizados para trabalhar nas inúmeras funções
relacionando-as a vida do ser humano. Contudo, a neurociência trabalha
questões biológicas e funcionais do corpo humano.
Profissionais da Educação e também de outros segmentos devem
conhecer esse universo para em seguida atuar seja na escola ou nas demais
instituições.
Dessa maneira, é preciso estar atentos ao começo do que a neurociência
explica sobre os genes, os quais eram considerados em seu conceito como
determinantes inalteráveis, com as quais o potencial de cada ser humano já
estava estabelecido, por vezes, sem a condição de modificá-lo durante as
experiências vividas por cada um.
O estudo do gen, para os estudiosos da área, não é o suficiente para
conhecermos o funcionamento cerebral, em virtude de outros componentes
também existirem e receberem informações que podem ser ativadas por alguns
hormônios, pela alimentação e pelo ambiente externo. Por isso, pode-se refletir
nas modificações que acontecem no decorrer das aprendizagens feitas pelo ser
humano dentro do meio social em que vive.
Mediante o que fora mencionado acima, um significado é possível dar
para a expressão "filho de peixe, peixinho é", se for pensado conforme os
estereótipos que a sociedade elabora, por exemplo, “ele é assim mesmo puxou

27
pro pai”, “ela escolheu a profissão da mãe”, “é inteligente que nem o avô”, “ela
consegue articular o pensamento que nem o tio dela faz”.
É importante pensar que cada indivíduo tem um potencial para
desenvolver determinadas habilidades independente de seus familiares
possuírem a mesma, no entanto, não pode ser esquecido que o ambiente o qual
esse sujeito faz parte deve ser favorável para o seu desenvolvimento, no qual
tenha subsídios de expressão e possa construir suas relações, demonstrando
suas limitações e trabalhando-as simultaneamente.

Vocabulario
O “gen” é o início da carga genética e hereditária do ser humano.
A função: “É uma unidade de informação hereditária carregada em
nossos cromossomos como DNA. Suas funções são servir como
modelo para cópias e servir como um fator de transição, atuando
sobre as proteínas como expressão gênica. A segunda é
altamente suscetível a influências ambientais” Jensen (2011,
p.20).

Para compreender o cérebro e a mente humana, a neurociência contribui


ao dizer que o cérebro é a parte mais importante do sistema nervoso do ser
humano, o qual só tem vida plena se os neurônios, aqueles responsáveis por
conduzir o processamento das informações, estiverem presentes nas conexões.
Ou seja, é nesse movimento cerebral que o indivíduo toma consciência
das informações que chegam até ele pelos seus sentidos. Ele pode realizar
ligações com suas experiências e expectativas de vida.

Curiosidade
O sistema nervoso - “os impulsos nervosos podem ser
transmitidos pelos nervos ou pelas fibras musculares a uma
velocidade superior a 320 km/h. As pessoas são incapazes de
fazer cócegas no próprio corpo (propositadamente) porque o
cérebro prevê os seus movimentos antes que eles aconteçam,
excluindo a sensação de perigo e pânico que provoca as
cócegas. Quando alguém nos faz cócegas, o corpo reage,
tornando-se tenso. Já quando tocamos o próprio corpo, ele não
demonstra esta mesma reação”.

28
Fonte: http://deixadeneura.blogspot.com.br/2011/04/normal-0-
21-false-false-false-pt-br-x.html

É importante colocar que o cérebro é maleável, portanto, desde o


nascimento. As informações são aos poucos inseridas, por meio de conexões
chamadas sinapses, local que regula a passagem da informação no sistema
cerebral e que tem um papel fundamental na aprendizagem por assegurar os
primeiros processos vitais do ser humano no mundo.
Todavia, quanto mais complexos, variados e estimulantes forem os
impulsos que o cérebro receber, mais eficaz serão as conexões feitas, a qual
constitui a plasticidade que possibilita o sujeito estabelecer novas aprendizagens
a todo instante. Por isso, é possível considerar que a criança, ao ingressar no
mundo externo, já possui uma bagagem prévia de valores com meio social,
contexto familiar, experiências de vida e relações afetivas estabelecidas, as
quais farão diferença na sua aprendizagem do presente e futuro.
Para exemplificar um pouco o trabalho da Neurociência, Nicolelis em 2014
colocou em prática um projeto implantando e desenvolvido desde 2011. O
neurocientista dentro de suas perspectivas pontuou em uma de suas entrevistas
para a revista Psique, 2013, o seu objetivo: “o que eu estou tentando fazer na
minha pesquisa é mudar o ponto de vista da neurofisiologia para dentro do
cérebro e ver o mundo de lá para fora, em vez de fora para dentro. E quando
fazemos isso, tudo muda, porque quando racionalizamos o cérebro em casinhas,
mostramos nossa maneira cartesiana de ver o mundo, mas o cérebro não evoluiu
sobre esses preceitos, ele não evoluiu sobre a lógica das ciências humanas”.
O caminho adotado por ele – do movimento ser de dentro pra fora –
explica com clareza o que tem sido realizado na experiência demonstradas no
quadro abaixo com algumas orientações para aprofundar os conhecimentos na
área.

29
Prática diária de
uma atividade física
para exercitar o
corpo e a mente.

Suporte social que Busca por


auxilie nos aprendizagens
atendimentos novas, atividades
necessários como mais elaboradas com
forma de diminuir as um nível de
chances de um complexidade maior.
isolamento do
indivíduo.

Nível de
preocupação e
Equilíbrio na estresse menos
alimentação, evitando intenso ou com
assim transtornos riscos de
como a obesidade e comprometimento a
problemas cardíacos. saúde.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Pesquise
Nicolelis é um neurocientista brasileiro que vem realizando vários
estudos, pesquisas e experimentos relacionados ao funciona-
mento da mente/cérebro? Sua proposta mais inovadora foi fazer
um paraplégico andar na Copa de 2014 no Brasil, com o auxílio de
uma veste robótica, um exoesqueleto que está sendo construído
na Europa. “O grande avanço do exoesqueleto criado e
aperfeiçoa-do pelo neurocientista em suas pesquisas na
Universidade Duke, em Durham, na Carolina do Norte (EUA), é o
"feedback tátil"; pois o paciente que usar a veste robótica poderá
sentir o chão e o peso do corpo ao caminhar, e isso facilitará o
indivíduo no ato de andar.
Fonte:http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/pacientes-brasileiros-
testarao-exoesqueleto-de-nicolelis

No livro Enriqueça o Cérebro: como maximizar o potencial de


aprendizagem de todos os alunos, Jensen (2011) posiciona o ambiente externo
como item também fundamental para a aprendizagem, se considerado que ele
aprimorado, pode ser afetado de várias maneiras como na:

1)Alostase metabólica: mudanças na corrente sanguínea, nos níveis


básicos de substâncias químicas e no funcionamento metabólico.
2) Estruturas anatômicas aprimoradas: neurônios maiores e estruturas
celulares mais desenvolvidas.

30
3) Aumento na conectividade: aumento no circuito elétrico e da
ramificação de um neurônio para o outro.
4) Resposta e Eficiência de aprendizagem: aumento da sinalização
elétrica, eficiência celular e do processo neural.
5) Aumento da neurogênese e fatores de geração: produção de novas
células cerebrais e proteínas especiais importantes para a
sobrevivência do cérebro.
6) Cura de traumas e distúrbios do sistema: proteção do estresse e
maior capacidade de cura após anos. (JANSEN 2011, P. 76-77)

Nos seis aspectos citados acima, algumas determinantes biológicas são


trabalhadas, de maneira a entender os caminhos que o cérebro faz para avançar
como órgão relevante do corpo humano. Logo, como consequência de um
enriquecimento satisfatório, é preciso compreender que outros fatores precisam
ser desenvolvidos na vida cotidiana do ser humano e devem ser almejadas
diariamente ao pensar no seu próprio benefício.
Os meios enriquecedores do cérebro, prezam por garantir com maior
probabilidade a trajetória mental, física e social do ser humano, o qual
constantemente luta por uma qualidade de vida eficaz. No entanto, é
interessante lembrá-los das várias limitações encontradas por muitos brasileiros
em razão das suas condições básicas, ou seja, de sustento e sobrevivência, o
que vai levar uma demanda para sala de aula, em que o professor e a equipe
pedagógica precisam trabalhar e traçar um meio de ultrapassá-las.

3.3 A relação da cognição para uma aprendizagem adequada

O objetivo de trabalhar aspectos da cognição nesse momento é colocar a


importância de conhecer os elementos relevantes para a constituição da
dinâmica após o entendimento e funções cerebrais. Dessa maneira, pode-se
iniciar dizendo que a cognição pode ser contemplada como o movimento que o
nosso cérebro e a nossa mente fazem para a aquisição do conhecimento.
Todavia, durante o desenvolvimento humano, para que a aprendizagem seja
adquirida, alguns processos cognitivos precisam estar presentes nesse caminho
para que atinja a percepção, a memória, a atenção, a linguagem, e outros
processos cognitivos que precisam ser trabalhados e estimulados.
Ao falar de estímulo, o meio em que estamos inseridos também contribui
para o crescimento intelectual da criança, do adolescente ou do adulto, pois eles
vão interagir e aprender com o mundo em que vivem, pelo fato do processo ser

31
realizado de maneira externa e interna. Contudo, é válido pontuar que se o
sujeito participa de um ambiente em que seus pares possuem oportunidades
restritas de conhecimento é possível que o trabalho exija um pouco mais de
dedicação do professor e do meio em que vive.
Ferreras (1998), pontua que a cognição é parte dos eventos mentais, das
ideias, dos sentimentos, das imagens e da consciência; com o objetivo de
construir aprendizagens. Desse modo, corrobora para a vida do ser humano em
suas ações e na realização das tarefas. Por exemplo, quando uma pessoa anda
de bicicleta, ela sabe que para executar a ação é necessário que suba na
bicicleta e pedale, provocando o movimento do objeto; como pensar num
caminho bonito, com a presença da natureza ou de um parque para relaxar. No
entanto, essa ação não mobiliza a reflexão do que tem feito e das atitudes
traçadas para alcançar o objetivo final.
A cognição atua na relação e estrutura cerebral, do funcionamento
biológico do ser humano, ou seja, tudo isso acontece, muitas vezes, de maneira
inconsciente como colocado no exemplo pontuado. Por outro lado, atualmente a
ciência visualiza o cérebro, segundo Doidge (2011, p.40), como "um sistema
muito mais aberto do que imaginávamos, e a natureza foi muito longe para nos
ajudar a perceber e apreender o mundo que nos cerca. Deu-nos um cérebro que
se transforma para sobreviver em um mundo em constante transformação".
Logo, é possível estar em constante aprendizagem, pois o cérebro é um
órgão maleável e capaz de assimilar as novas estruturas, a ele solicitados.
Atualmente, quando as crianças nascem já iniciam o aprender e são motivadas
a tal desde cedo, pois acredita-se que quanto mais nova, melhor será para
armazenar e corresponder aos estímulos. Um fato são os programas, os jogos,
os brinquedos, os quais servem de disparadores e motivadores do
aprimoramento ou não de algumas questões motoras e cerebrais.

Vídeo
Para complementar seu aprendizado, acesse o link de vídeo que irá
auxiliar no entendimento quanto aos processos cognitivos.
http://www.youtube.com/watch?v=AqHP8ggjr8A

32
Um dos processos cognitivos a ser abordado é a memória com a função
de filtrar informações, selecionar e assimilar, seja na memória curta ou longa.
Mas ela precisa estar em andamento para que o ser humano tenha o livre arbítrio
de buscar os acontecimentos, conforme suas necessidades. Essa habilidade
cognitiva é de suma importância por lidar diretamente com o “arquivo” humano;
pois se quisermos lembrar um episódio da nossa adolescência e não
conseguirmos; ou esquecermos por instantes de algum acontecimento recente
e que seja importante para continuar a caminhada; é nesse processo cognitivo
que estaremos buscando.
Outro elemento cognitivo é a atenção vista como um ponto chave ao ser
humano, pois se o sujeito não obtê-la de maneira satisfatória, provavelmente terá
uma lacuna que vai quem sabe prejudicar o andamento de suas atividades e
aprendizagens. Por esse motivo procuramos o auxílio de profissionais
competentes para trabalhar e aprimorar de acordo com suas aprendizagens.
Um exemplo simples é quando estamos na sala de embarque do
aeroporto esperando a chamada para o voo. Caso não estejamos com os
sentidos voltados para essa ação, estamos no risco de perder o embarque e não
realizar a viagem. Isso requer a presença da atenção. Na verdade, ela é
primordial para cumprirmos os nossos afazeres e planejamento.
Com o conjunto dos processos cognitivos e a mente em movimento, que
podemos entender a complexidade de adquirir conhecimentos. Mas, para que a
reflexão seja contemplada, o ser humano precisa de um ambiente que estimule
a pensar nas relações e conexões realizadas durante a atividade, levando-a a
algumas escolhas dos caminhos a percorrer e das melhores estratégias para
alcançar o objetivo final.

33
Amplie Seus Estudos
Sugestão de Leitura
Para estudar os processos cognitivos, é indicado
a leitura do livro Desenvolvimento Cognitivo, de
John Flavell, Patrícia Miller e Scott Miller, 1999.
Este livro destaca a citação de diversas referên-
cias, que proporcionam acesso rápido a grande
parte da literatura na área como a explicação dos
termos técnicos; um panorama das teorias
contemporâneas sobre o desenvolvimento cog-
nitivo; a abordagem de áreas novas ou revitali-
zadas, etc.

É importante frisar que o foco está ligado a aprendizagem e ao refletir, o


qual nos traz a oportunidade com as palavras de Bradford, Brown e Cocking
(2007, p.21), dizer que "o significado do 'saber' mudou: em vez de ser capaz de
lembrar e repetir informações, a pessoa deve ser capaz de encontrá-la e usá-la".
Não apenas no caso da criança, mas de todo aprendiz é preciso de fato instigá-
lo e ensiná-lo a ir além da lembrança e do armazenamento da informação, e
buscar principalmente a relação com a sua realidade.
Por exemplo, quando aprendemos as quatro operações da matemática
não sabemos como utilizá-las de imediato, porém de acordo com os exercícios,
desenvolvemos essa habilidade. No entanto, não é o suficiente o conhecimento
pelo conhecimento, é preciso conhecer e diferenciar o momento que cada
indivíduo usará.
Para que a aprendizagem seja estabelecida de maneira significativa é
necessário identificar a disposição de cada um para construir, elaborar, planejar
e modificar ações, com o auxílio e mediação do adulto, porque desde que
nascemos temos a oportunidade de fincar nossas aprendizagens e conhecer os
meios e níveis que facilitam e caracterizam a construção de um bom aprendiz.
Como tem sido assinalado por Claxton (2005, p.16), "a aprendizagem não
é algo que fazemos às vezes, em locais especiais ou em alguns períodos da
nossa vida. É parte da nossa natureza. Nós nascemos aprendizes". Quando
mencionado que o ser humano nasce aprendiz, há a possibilidade de que ele

34
busque ferramentas e vá além das suas primeiras aprendizagens, ou seja, que
o processo tenha seus aprimoramentos.
Como esse processo depende de vários fatores, um deles é o papel do
professor para mobilizar o sujeito a superar suas limitações na realização das
atividades. Instigá-lo a mudar sua estratégia, ou continuar as tentativas,
evitando, assim, sua desistência da atividade é um facilitador; um momento para
exemplificar é quando a criança ou adolescente deseja fazer algo que não pode
e começa a chorar para chamar atenção da mãe e, quem sabe, vencer a
situação. No entanto, é preciso que o responsável mantenha-se consciente da
sua postura para continuar mostrando que na vida tudo tem um limite.
O ser humano precisa se desenvolver conforme o seu tempo e ritmo para
que tenha condições de vivenciar cada momento de acordo com o sentido e o
significado disponibilizado pela aprendizagem.
Cada ser humano precisa compreender o mundo para participar e ter
consciência de suas ações no meio em que está inserido, assim como das
relações que são constituídas. A partir da consciência é possível organizar as
próprias atividades, evidenciando o conhecimento de si mesma e realizando
suas tarefas de maneira autônoma, gerando aprendizagens mais significativas.

3.4 O papel do professor no processo do aprender do aluno

Se a educação atualmente busca “ir além”, isso mostra que não é


suficiente o aluno saber ler, somar e subtrair, mas é importante que ele tenha
consciência e saiba articular o seu conhecimento com a prática cotidiana da sua
vida pessoal, profissional e social. Dessa maneira, a escola inicia o processo de
formar pessoas proativas e com liberdade de reflexão.
A função da escola é buscar a qualidade do aprender e ensinar e assim
prosseguir. Contudo, como o ser humano é um eterno aprendiz, necessita da
mediação, participação e colaboração de outras pessoas. Por essa razão, inicia-
se uma busca por professores com posturas diferenciadas que tenham
estratégias diversificadas para facilitar à aquisição do conhecimento e
aprendizagem do aluno, de maneira que ele possa refletir cada vez mais sobre
as atividades realizadas.

35
Na abordagem tradicional se formos analisar, o professor preenchia o
quadro negro com o conteúdo, os alunos copiavam e respondiam às perguntas
ou realizavam os exercícios sem questionar o professor. Dessa maneira, a turma
permanecia sem exemplificação para suas dúvidas, o que impedia uma melhor
compreensão do assunto. Portanto, o indivíduo não tinha espaço e nem
autonomia de pensamento ou liberdade de expressão em sala de aula, pois o
que professor falava, transmitia e realizava, era recebido como absoluta
verdade.
Nos dias atuais, com a busca da aproximação com a realidade e uma
prática mais interacionista, percebe-se que o professor agora tem um pouco mais
de voz e vez. Assim, procura-se um ensino e uma prática diferenciados, em que
o professor não esteja tão adepto da abordagem tradicional, mas compreenda a
importância de interagir com seu o aluno e o objeto de estudo.
Quando se fala nessa prática pedagógica, podemos voltar a possibilidade
de elaborar um planejamento, com atitudes reflexivas, em que o aluno participa
e conta com a mediação do professor no seu desenvolvimento e aprendizagem.
Sendo assim, acontece uma abertura para que professor não deixe pra trás o
que aprendeu com as abordagens anteriores, mas lhe é oferecido a oportunidade
de utilizar uma metodologia e uma estratégia adequada para ensinar o conteúdo
aos seus alunos, de maneira que eles estejam motivados a aprender sem a
necessidade da presença do professor de forma dependente.
É preciso que o aluno transforme a informação em conhecimento e
construa um sentido e um significado para cada aprendizagem e assim possa
facilitar suas relações e inferências com o mundo.
Da reflexão realizada por Fourez (2008), pode-se depreender que não é
fácil sair de uma abordagem e ir para outra com uma perspectiva inovadora;
porque é preciso primeiramente que o professor tome consciência dos ganhos e
das perdas oferecidas por esse novo caminho, compreendendo que utilizá-la é
sair da sua zona de conforto e se dispor a enfrentar os desafios, pelo qual ele é
capaz de se abrir ao novo e ser mais flexível. Um exemplo é quando se leciona
inglês, onde somente o conhecimento não é suficiente, tampouco conhecer o
idioma, mas é preciso uma compreensão que vai além, o olhar sobre a realidade
de quem está na outra ponta (aluno), a do professor e sua aplicabilidade. Ou

36
seja, voltar o pensamento para: "em que", "para que" e "para quem" o
conhecimento é ensinado.
O profissional precisa ter um espaço que lhe possibilita visualizar as
facilidades e as limitações de cada conteúdo proposto. Fourez (2008, p.19) alerta
que "não é velando o rosto e se escondendo das dificuldades que se ajudarão
os docentes a ser promotores de mudanças positivas". As dificuldades dentro da
prática pedagógica existem, mas ao professor cabe o papel de trabalhar para
melhorá-las e adequá-las, de acordo com as especificidades dos alunos e da
escola.
O foco é o professor proporcionar ao aluno uma prática pedagógica na
qual ele tenha suas habilidades exploradas e a oportunidade de evoluir como
aprendiz, estando preparado para desenvolver seu papel, superando obstáculos
e refazendo-se quando for necessário, com o objetivo de rever ou recomeçar o
desenvolvimento das aprendizagens, seja elas sistemáticas (dentro da escola,
de um sistema) ou assistemáticas (fora do sistema).
Se a preocupação é um ensino, uma aprendizagem e um trabalho mais
significativo, o foco deve estar voltado ao grande promotor disso, que é o
professor e sua prática, pois estando ele alinhado dentro da escola e da
universidade o processo torna-se mais acessível.
Um aspecto primordial, é a formação e o papel que precisa desenvolver
dentro de sala de aula, considerando que, além do aluno permanecer parte do
seu tempo em sala de aula, é de sua responsabilidade externar e evidenciar na
prática pedagógica seu conhecimento teórico para planejar e organizar as
atividades, assim como o espaço e as estratégias a serem utilizadas com o
objetivo de estimulá-los a aprender, e dessa maneira, construir um ambiente no
qual os alunos possam desenvolver o maior número de habilidades possível.
O papel do professor é ensinar e mediar situações de aprendizagem para
que o indivíduo esteja preparado para utilizá-la nos diversos âmbitos da vida, e
não tenha uma aprendizagem fragmentada sem saber relacioná-las com a sua
realidade social. Em sala de aula o professor, como colocado por Grangeat
(1999, p.41), não precisa ficar preso às respostas exemplares, mas precisa estar
atento aos processos cognitivos de cada aluno.
Ao profissional cabe enxergar no aluno o potencial que ele tem e assim
trabalhá-lo; e as limitações devem ser reconhecidas e abordadas com

37
conhecimentos adequados para que o aluno tenha uma postura consciente na
sua aprendizagem.
Sendo assim, ele deve voltar aos seus conhecimentos, à sua formação e
ao mesmo tempo reconhecer-se como profissional, que precisa compreender o
que está planejando trabalhar, qual sua objetividade e o que espera alcançar
durante a aula e a sua atuação com o aluno. Se ele tiver essa consciência há a
possibilidade de acessar o seu aluno e construir com ele o raciocínio de que
aprender não é somente deter a informação pela informação, mas é necessária
a reflexão do que está sendo estudado, de modo que o aluno possa desenvolver
sentidos e significados para cada conteúdo e os torne aprendizagem. Caso
contrário, o professor continua na construção, no entanto, mobilizando a
presença de "pequenas bibliotecas vivas", ou seja, o
conhecimento/aprendizagem está armazenado como função cognitiva, mas não
está trabalhada de maneira que o aluno tenha autonomia de utilizá-la.
Para o professor, é esperado que ele esteja perto do seu aluno,
conhecendo aquilo que ele já sabe, o que ainda pode saber e como ele realiza
suas atividades. Sendo assim, ele busca conhecimentos e estratégias que
atendam aos diferentes estilos de ensinar e de aprender.
Ao abordar a figura do professor torna-se visível que o objetivo é colocar
o aluno para aprender com mais reflexividade, consciência e autonomia, no
entanto, para que aconteça o seu professor precisa ter como foco o seu
autoconhecimento como ser humano e profissional.
O profissional ao tomar consciência de suas atitudes, da elaboração de
suas aulas e da prática pedagógica executada com o aluno, tem a condições de
compreender as estratégias adequadas a serem utilizadas a cada aula
planejada. Ao executar a atividade ou algo que não foi planejado é preciso que
o professor tenha controle e seja habilidoso para conduzir a situação de modo
que o objetivo final seja alcançado.

Resumo da Aula

Nesta aula foram contemplados conteúdos relevantes para a


aprendizagem, como as questões voltadas para a neurociência com o objetivo
de compreender o funcionamento do cérebro; em seguida, foi abordado sobre

38
os elementos cognitivos, especificamente a memória e a atenção, os quais são
fundamentais para o processo de aprendizagem do ser humano e quando existe
alguma ruptura nesse momento alguns impactos podem ser vistos no
rendimento desse aluno e na sua atuação na escola; e para finalizar a aula, foi
inserido um subtema com o objetivo de mostrar a importância do professor como
mediador da aprendizagem, mas para isso é preciso que esse profissional
também tenha consciência e conhecimento do seu processo de aprendizagem.

Atividade de Aprendizagem
Durante a trajetória acadêmica passamos por vários momentos e
profissionais que marcaram a memória. Nesse momento, escreva
a relação que você pode realizar de uma vivência sua em sala de
aula com essa disciplina. O que você pode modificar e melhorar
com o objetivo de construir com o aluno uma aprendizagem
significativa?

Aula 4 - Funções Executivas e a Teoria da Mente: uma contribuição para a


aprendizagem

Apresentação da Aula

Para iniciar o diálogo sobre a importância e a aplicabilidade das Funções


Executivas e da Teoria da Mente é relevante voltar um pouco na trajetória a ser
considerada mediante a vivência de cada ser humano.
Nessa perspectiva vale ressaltar as habilidades e limitações que cada
sujeito apresenta além de envolver o meio social, no qual ele está inserido, pois
o mesmo pode ou não motivá-lo e instigá-lo a novos aprendizados.
Com as pesquisas citadas e os estudos pontuados pelos teóricos, a
família e a escola pode perceber o importante movimento e trabalho a ser
desenvolvido por cada instituição no sentido de oportunizar ao ser humano
aprendizagens autônomas, reflexivas e de maneira consciente.

39
4.1 O papel das funções executivas para uma aprendizagem significativa

Para iniciar o reconhecimento das funções executivas é válido mencionar


com elas estão inseridas no cérebro humano, pois existe uma região específica,
o lobo frontal, ou seja, todos os comportamentos voltados para a realização de
uma tarefa ou objetivo.
Essas funções vão desde a capacidade do indivíduo planejar e
desenvolver estratégias para resolução de problemas até a realização de metas
na vida.

Lobos cerebrais
Fonte: http://polizeiberichte.info/4-lobes-of-the-brain-and-their-functions

Para tal, exige-se a flexibilidade de comportamento, integração de


detalhes num todo coerente e o manejo de múltiplas fontes de informação, todos
coordenados com o uso de conhecimento adquirido.
Do ponto de vista anatômico, localiza-se acima do sulco lateral e adiante
do sulco central. Fica na parte da frente do cérebro (testa), onde se dá o
planejamento de ações e movimento, bem como o pensamento abstrato. Divide-
se em córtex motor e córtex pré-frontal. A aprendizagem motora e os
movimentos de precisão são executados pelo córtex pré-motor. Lesões nesta
área alteram a velocidade de movimentos automáticos, como a fala e os gestos.
O córtex motor coordena e controla a motricidade voluntária. O córtex
motor do hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo do indivíduo e vice-
versa. Lesões nesta região podem causar paralisia ou fraqueza muscular.

40
O córtex pré-frontal localiza-se na parte da frente do lobo frontal. Está
ligada ao pensamento abstrato e criativo, a fluência da linguagem e do
pensamento, respostas afetivas e capacidade para ligações emocionais,
julgamento moral e social, determinação e vontade para a ação e atenção
seletiva. Lesões nesta área podem ser dramáticas e complexas, podendo
apresentar falta de iniciativa e de motivação, certa inércia comportamental,
déficits na capacidade de juízo e insight, pensamento concreto e déficits na
capacidade de planejamento estratégico, envolvendo impulsividade, desinibição
comportamental e sexual, perda do autocontrole.
Estudos recentes fazem correlação entre anormalidades do lobo frontal e
a ocorrência do transtorno de personalidade antissocial, denominada por alguns
de “psicopatas”. É claro que esta não seria a única causa (é multifatorial), mas
estudos forenses já consideram e estudam esta hipótese através de exames de
imagens.

Vídeo
Para compreender melhor como funciona e qual a definição das
funções executivas para a aprendizagem de pessoas com autismo,
assista o vídeo no link:
https://youtu.be/6gIY_X9IXH8

A função executiva é considerada e nomeada como controle inibitório,


"inhibitory control", abordada no livro de Efklides e Misailidi (2010, p. 240) como
a "habilidade de suprimir informação, ações, ou emoções quando elas são
inapropriadas ou não mais relevantes".
Bryce (2007) contribui com a teoria das funções executivas da pesquisa,
quando propõe que "todas podem estar similarmente conectadas tanto com o
processo de monitoramento como com o de controle". Uma hipótese levantada é
que o controle inibitório pudesse estar relacionado aos processos metacognitivos
de controle, ou seja, a supervisão que a criança tem das estratégias utilizadas
em cada atividade e a possibilidade de modificá-las quando necessário.
A pesquisa de campo teve sua aplicação da seguinte maneira:

41
Uma ferramenta (A novel Animal Stroop) foi utilizada onde dois animais
de tamanhos diferentes foram colocados na tela e a criança foi
motivada a escolher o maior animal na vida real. Essa atividade foi
desenvolvida para ser minimamente dependente das habilidades
verbais e dos conhecimentos prévios, para refletir as verdadeiras
habilidades das crianças pequenas (BRYCE 2007, p. 241).

Os resultados obtidos na pesquisa de Bryce (2007) mostram que o controle


inibitório esteve mais marcante nas competências metacognitivas das crianças
de cinco anos do que nas de sete anos de idade. Os processos metacognitivos,
confirmam, detectam erros e comentários próprios são mais evidentes em
crianças menores que cinco anos, e esses podem ser independentes do
processo executivo que envolve o controle inibitório.
Efklides e Misailidi (2010, p.241) observam que "as funções executivas
podem ser vistas como as funções cognitivas básicas da criança, enquanto a
estratégia metacognitiva reflete possivelmente na tendência de utilizá-la ao
solucionar situações-problemas".
A criança quando responde amarelo, está utilizando uma função cognitiva
de representação, mas quando ela diz o amarelo cor do sol, ela contempla uma
estratégia metacognitiva, por elencar elementos correspondentes a sua própria
aprendizagem. As funções cognitivas, como colocado pelos autores, são
utilizadas pelo ser humano de maneira pontual, e a estratégia metacognitiva vai
além, pois propõe ao sujeito uma reflexão sobre aquilo que vai realizar e como
será elaborado para alcançar seu objetivo.

4.2 A Teoria da Mente e seus impactos na aprendizagem

Esta disciplina é voltada para os Transtornos Globais do


Desenvolvimento, onde algumas questões referente ao Autismo são abordadas.
Por essa razão, é possível pensar que a teoria da mente considera que os
autistas tem um déficit na capacidade de estabelecer representações dos
estados mentais das outras pessoas.
Autores da área como Cuxart (2010), aponta que o transtorno psicológico
básico do autismo é um déficit no desenvolvimento da teoria da mente, ou seja,
na capacidade de significar relações entre estados externos e estados internos.
Um dos conceitos a serem colocados para a teoria da mente é a
capacidade do ser humano de demonstrar o que inicia na representação

42
primária, que se caracteriza pela apreensão dos objetos pela percepção
sensorial (estágio sensório-motor de Piaget) para uma representação de
representações (início da capacidade simbólica Piagetiana ou “faz de conta”).
As etapas inseridas acima sobre a Teoria da Mente conduzem uma
reflexão relacionada ao que os alunos precisam desenvolver tanto na escola, na
família e na sociedade, que é o faz de conta e a percepção sensorial, onde os
profissionais e as pessoas envolvidas precisam trabalhar com estratégias
diferenciadas e adequadas para a aprendizagem desse público.

Amplie Seus Estudos


Para aprofundar seus estudos sobre a Teoria da Mente, leia o
Artigo abaixo:
http://www.ufrgs.br/niee/eventos/RIBIE/2004/comunicacao/com60
0-609.pdf

A teoria da mente, no livro de Efklides e Misailidi (2010), é vista como a


antecedência do desenvolvimento e a previsão das futuras competências
metacognitivas. Ou seja, elas identificam, num primeiro plano, as questões
internas e psicológicas do sujeito para ser um facilitador na construção das
atividades e dos momentos que a criança vivencia em sala de aula e na vida
cotidiana para alcançar um objetivo satisfatório.

Saiba Mais
Teoria da Mente
O termo "teoria da mente" foi adotado pela Psicologia do
Desenvolvimento para descrever o desenvolvimento mental
que ocorre na infância e na adolescência.

Hoje esse conceito é usado tanto pela Psicologia do


Desenvolvimento, como pela Psicologia Cognitiva e
Psicologia Evolucionista. Cada uma dessas áreas aborda o
termo de forma diferente.

A importância da Teoria da Mente reside no fato deste termo


tratar de aspectos importantes do comportamento social

43
humano. É através deste recurso cognitivo que o homem
pode reconhecer e interpretar expressões como ironia,
metáfora, dissimulação, sofrimento, interesse e falsidade. É
através da teoria da mente que podemos prever que ideias o
outro pode estar formulando a nosso respeito, podemos
antecipar eventos e tomar decisões cruciais em nosso meio
social.

A Psicologia do Desenvolvimento fala da origem desta


habilidade em crianças. Propõe que a teoria da mente, assim
como a maturação de outras funções cerebrais, ocorre numa
sequência de aquisições. Primeiro a criança é capaz de
perceber a si mesma (+/- aos 12 meses), depois percebe o
outro (por ex: a mãe) e, por fim, perceberia o objeto (atenção
compartilhada). Após esse período, a criança desenvolveria
habilidades mais complexas: distinção entre eventos reais e
hipotéticos, perceber seu reflexo no espelho e distinguir
falsas crenças (crença que não é congruente com a realidade
por contar apenas com informações que foram percebidas
parcialmente em uma situação específica).

A Psicologia Cognitiva explica a Teoria da Mente através do


modelo de Baron-Cohen (1996). Esse modelo postula que
existem 4 módulos cerebrais que interagem e produzem o
sistema de "leitura mental" do ser humano.

- Módulo da intencionalidade: O indivíduo interpreta um


estímulo a partir de seu desejo ou de sua meta.

- Módulo da direção do olhar: O indivíduo tem a capacidade


de perceber o olhar do outro sobre si. E também tem a
capacidade de inferir se olhar do outro está realmente vendo
ou não a mesma coisa que ele vê.

- Módulo da atenção compartilhada: Capacidade que o


sujeito tem de formar relações entre ele próprio, outras
pessoas e os objetos percebidos.

- Módulo da teoria da mente: Capaz de integrar percepção,


desejo, intenção e crenças a fim de dar origem a uma
construção teórica coerente que possa ajudá-lo a
compreender o comportamento do outro e modular sua ação.

A Psicologia Evolucionista estuda a representação cerebral


da teoria da mente. Começa seus estudos com chimpanzés
e aos poucos chega a formulações teóricas a respeito do
funcionamento cerebral humano.

A representação cerebral da teoria da mente:

44
A rede neural envolvida na Teoria da Mente é bastante
ampla. Três áreas cruciais estão relacionadas: o lobo
temporal, o córtex parietal inferior e o lobo frontal.

Estudos têm sugerido a participação de neurônios-


espelho nesse funcionamento cognitivo. Esse é um tipo
específico de neurônios capazes de "imitar" internamente
uma ação observada do mundo externo. Ou seja, é
responsável por espelhar inconscientemente ações motoras
de outras pessoas (ressonância empática).

"Os neurônios-espelho foram relacionados a várias


modalidades de comportamento humano, como a
capacidade de imitar, aprender novas habilidades,
compreender a intenção de outros humanos e com a Teoria
da Mente, sendo que a sua disfunção poderia estar envolvida
com a gênese do autismo." (p.179)
Disponível em:
http://psicologiapararefletir.com.br/2011/04/teoria-da-
mente.html

Para ilustrar a aplicabilidade da teoria da mente no ser humano aqui será


apresentada a pesquisa realizada com crianças e trazida no livro de Efklides e
Misailidi (2010).
A realidade da pesquisa se passou com crianças abaixo de quatro anos
de idade e recém-inseridas no contexto escolar, as quais foram abordadas por
meio de três testes (T1, T2 e T3), com um intervalo de seis meses entre as
aplicações do instrumento.
O objetivo de cada teste era acessar o desenvolvimento dos aspectos
significativos da cognição e da metacognição, nomeados memória de trabalho,
controle inibitório, habilidade de linguagem, fonte de memória, dentre outros.
No T3 os professores foram solicitados a preencher para cada criança o
instrumento CHILD 3-5 (Children's Independent Learning Development) com o
objetivo de verificar o nível de autocontrole atingido por elas no final da aplicação.
A análise dos dados referentes à aplicação dos três testes assinala pontos
importantes da relação entre metacognição e teoria da mente. Um deles está na
relação estabelecida em talvez não considerar uma terceira variável como a
linguagem, IQ verbal, o controle inibitório ou memória de trabalho. Outro ponto
indica que a relação entre o entendimento das falsas crenças e a fonte de
memória pode ser bidirecional. No T1 e T2, a antecipação da fonte de memória

45
proporcionou, de maneira significativa, a compreensão de uma falsa crença, e
vice-versa.
Como resultado da pesquisa é possível referenciar em Efklides e Misailidi
(2010, p.244):
Que a antecipação da fonte de memória prevê um desenvolvimento da
teoria da mente no futuro, abre um novo capítulo nessa pesquisa e
sugere que a noção da teoria da mente é uma realização sócio
cognitiva precoce e metacognição, uma realização posterior, pode ser
um artefato metodológico, o qual precisa ser revisto.

Demonstra-se em resultado que a relação entre os aspectos de antecipação


da teoria da mente e o início da realização do processo metacognitivo pelas
crianças de quatro a cinco anos é mais compreendida que anteriormente.

Resumo da Aula

Nesta aula foram contemplados conteúdos relevantes a respeito das


funções executivas e da teoria da mente com o objetivo de esclarecer e
apresentar as alternativas existentes para a aprendizagem cada vez mais
significativa para os alunos com autismo, pois a todo o momento busca-se
compreender essa realidade.
A família e a escola possuem um papel fundamental nessa caminhada
que é a de motivar e instigar esses sujeitos a irem além de suas possibilidades,
pois a educação é para todos.

Atividade de Aprendizagem
Após acompanhar o significado e a função da teoria da mente
e das funções executivas, discorra como você visualiza essa
aplicação na vida dos alunos e quais seriam os principais
impactos na aprendizagem desses sujeitos?

Resumo da disciplina

Nesta disciplina foram abordados estudos da área da neurociência, foram


também estudados assuntos para compreender, aprender e lidar com as
situações da Educação Especial em sala de aula com metodologias, estratégias
e recursos significativos para que os alunos tenham maior sucesso na escola e
na sociedade.

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REFERÊNCIAS

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2014.
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