Ao longo do tempo, a forma como produzimos conhecimento histórico, também
chamado de historiografia, tem sido influenciada por um pensamento europeu
predominante. Esse pensamento, que inclui correntes como o positivismo, o idealismo e o marxismo, impõe uma visão única e generalizada da História. Infelizmente, isso tem resultado em uma concepção da História da Educação Brasileira que se concentra na escolarização como uma ideia moderna voltada para a validação dos conhecimentos científicos europeus e norte-americanos.
No entanto, essa abordagem tem negligenciado os saberes, práticas e visões de
mundo de diferentes grupos sociais que compõem a realidade diversa e intercultural do Brasil. É importante reconhecer a importância de outras perspectivas históricas, como a micro-história e a história oral, que surgiram no século XX. Essas abordagens dão ênfase aos aspectos do cotidiano das comunidades, das pessoas simples e das populações subalternizadas.
Além disso, a decolonialidade se apresenta como uma perspectiva epistêmica
fundamental. Ela permite resgatar e revitalizar os saberes, práticas, valores e formas de existência dos povos originários, dos remanescentes quilombolas, dos negros, das mulheres e de outros grupos sociais, gerando novos conhecimentos e desafiando a influência colonial no ser, no saber e no poder.
A memória também desempenha um papel crucial na produção do conhecimento
histórico. Ela é uma ferramenta metodológica poderosa, capaz de revelar uma riqueza de rastros, marcas e aspectos que a História oficial tradicional muitas vezes negligenciou. A história escrita e as culturas letradas têm sido privilegiadas, enquanto outras formas de vida, mentalidades, práticas sociais e comunitárias de transmissão e preservação cultural têm sido subvalorizadas.
É importante compreender que as memórias se constroem inicialmente a partir de
perspectivas individuais e, posteriormente, se consolidam como memória coletiva. Esse processo pode ser observado na luta de grupos e indivíduos que defendem os direitos dos povos originários, como o escritor brasileiro Ailton Krenak, conhecido por sua defesa das causas indígenas.
Da mesma forma, as mulheres têm desempenhado um papel fundamental na
construção da memória coletiva. Durante a Ditadura Militar, mulheres como Dora e muitas outras feministas protagonizaram movimentos de resistência, manifestando suas ideias e ideais na luta contra a opressão política. Essas histórias são evidenciadas por pesquisas realizadas sobre o Jornal Mulherio.
Portanto, é essencial reconhecer a importância de ampliar as perspectivas históricas,
dando voz a diferentes grupos e valorizando suas memórias e experiências. Somente assim seremos capazes de superar as limitações impostas pelo pensamento eurocêntrico e construir uma história mais inclusiva, plural e verdadeiramente representativa da diversidade brasileira.