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ANAIS ELETRÔNICOS

II Encontro de História – Historiografia Brasileira: Problemas, Debates e Perspectivas


25 a 27 de Outubro de 2010
ISSN 2176-784X

GUIA DE FONTES PARA HISTÓRIA DE ALAGOAS: PORTO CALVO

Nadja Laurentino Lira


Graduanda em História
Universidade Federal de Alagoas – Ufal
Bolsista Extensão – Ode-Ayé
Orientador: Antonio Filipe Pereira Caetano
Email: nai-lira@hotmail.com

Uma das primeiras obras produzidas no campo da história alagoana foi à


obra de Jayme de Alcavila intitulada de história da civilização das Alagoas, que foi publicada
em 1933, anos depois surgem outros como Sergio Rilcet, Diegues Junior, Jurandir Gomes,
Moacir Medeiros e outros, publicam obras que tratam da questão econômica, falam dos índios
e dos negros alguns desses autores apresentam um discurso puramente preconceituoso,
carregado de justificativas, para as questões de Genocídio e escravidão cometidas contra os
índios e os negros.
A historiografia alagoana foi e ainda é muito pouco alimentada pelos
historiadores alagoanos, pois apesar das produções que temos, ainda há muito a ser feito
existem documentos aos quais os pesquisadores não conseguem ter acesso porque muitas
vezes estão entregues ao descaso, empilhados em caixas no chão e se perdendo como se não
tivessem valor. Antes os autores produziam suas obras, alicerçados em documentos que ainda
existiam, porém eles quase nunca divulgavam a bibliografia e nem as fontes, e com isso não
abriam espaço para os autores posteriores.
Com o guia de fontes para a história de Alagoas especificamente da cidade
de Porto Calvo, tendo em vista que existem outras cidades que estão incluídas nesse projeto,
mas que é de responsabilidade de outros alunos viabilizamos. Construir um catálogo
historiográfico que possibilite aos pesquisadores utilizá-lo como uma fonte de orientação
documental das cidades, no qual constam os endereços e as instituições que ainda guardam
muito de nossa história, apesar de muitos documentos terem se perdido com o tempo, e por
conta disso deixar lacunas nas fontes que são o objeto de estudo de pesquisadores, ainda

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existem muitos documentos, que são verdadeiras relíquias que nos servem de alicerces para
que possamos produzir cada vez mais, enriquecendo a produção historiográfica alagoana.
A cidade de Porto Calvo foi escolhida por sua origem e imensa importância
na história Alagoana, e também pelos personagens muito conhecidos de nossa história, e pela
forte e marcante presença negra na região, um dos Eventos mais marcantes do qual a cidade
foi palco, foi à execução de Calabar uma figura que está muito presente na história da cidade,
sua execução se deu após o mesmo ter sido considerado traidor. Nesse período Alagoas
pertencia à Capitania de Pernambuco que era uma Capitania economicamente forte o que
agregou o desejo de exploração dos Holandeses que em 1630 chegaram ao litoral
Pernambucano com uma esquadra de 56 navios da companhia das Índias Ocidentais, seus
homens ocupam cidades de Olinda e Recife. A resistência da população, organizada pelo
governador da Capitania, Matias de Albuquerque, em torno do Arraial do Bom Jesus e de
Porto Calvo (Alagoas), dificulta a consolidação do controle holandês. A partir de 1632, com a
ajuda de Domingos Fernandes Calabar, os estrangeiros avançam contra as Fortalezas do
Litoral e os principais redutos de resistência brasileira no interior, Calabar no começo
combatia os invasores, mas em 1933 alia-se aos Holandeses colaborando para a consolidação
do poder holandês, com isso Matias de Albuquerque que sem receber os reforços prometidos
por Portugal e Espanha, retira-se para a Bahia em 1935. Nesse momento a luta nativa limita-
se à guerrilha em alguns pontos de Pernambuco e Capitanias vizinhas. Em investida contra
Porto Calvo Matias de Albuquerque prende e executa Calabar rotulando-o de traidor, o
lecento aconteceu na cidade de Porto Calvo em um local atualmente conhecido como “alto da
força” notamos a grande importância da cidade para a construção da nossa história,
atualmente encontramos poucos registros dessa época, encontramos analises de historiadores
alagoanos que tratam da invasão holandesa, mas em relação à documentação os registros mais
antigos estão localizados na Igreja e no fórum de Porto Calvo, no fórum existe documentação
que tem mais de 100 anos sendo uma contribuição de valor inenarrável para historiadores
contemporâneos.
Dentre as instituições catalogadas encontramos a prefeitura municipal, a
igreja: Paróquia Nossa Senhora da Apresentação que foi construída em 1601 sendo uma das
mais, se não for a mais antiga de Alagoas, o Fórum da justiça de Porto Calvo. A Câmara de
Vereadores, os cartórios e também o sindicato dos trabalhadores (a) Rurais de Porto Calvo.
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A prefeitura Municipal de Porto Calvo está situada à Rua: Dr. Antonio


Dorta, e já passou por muitas reformas uma delas em 1947 sob a administração de Guedes de
Miranda. E em 1998 foi reformada mais uma vez, onde segundo um funcionário da mesma na
ocasião o arquivo da prefeitura ai desapareceu e com isso sabemos o quanto nós
pesquisadores perdemos em termos de documentação indispensável a realização de uma
análise, crítica e histórica de um longo período que nos antecedeu, porém alguns documentos
mais atuais foram enviados à câmara.
Uma outra instituição verdadeiramente importante é a Paróquia Nossa
Senhora da Apresentação que foi construída em 1601, tendo atualmente mais de 400 anos de
existência, a mesma já passou por inumaras restaurações, sendo que a ultima aconteceu em
2009. Em relação a documentação que é a intenção primeira dessa pesquisa, os registros
dacam de 1886 à 2010, no arquivo podemos encontrar os registros de Crisma os livros de
batizado, os livros de casamento (civil), casamento (efeito religioso), casamento (efeito civil e
religioso) pastas com documentos de habilitação, batistério, e processos matrimoniais, livro
de nascimentos, livro de hábitos etc. documentos imprescindíveis, para que seja possível uma
análise dos períodos que nos aconteceram.
A Câmara de Vereadores atualmente está funcionando no prédio do antigo
fórum da cidade, a mesma no momento em um período de mudança e reorganização
documental, tornando o trabalho de catalogação documental uma tarefa demorada, dentre os
documentos encontrados no arquivo da câmara estão os livros de atas, os de inscrições para
oradores, o de caixa geral, o de presença dos senhores vereadores, o de registro de leis, o de
termo de posse, o de leis remetidas aos prefeitos, o de protocolo geral, e o de sessões extra-
ordinárias e ordinárias, a documentação de uma forma geral está datada de 1940 a 2010,
existe ainda uma quantidade enorme de pastas, nas quais existem outros tipos de documentos.
O Fórum da justiça de Porto Calvo, situada à “rua” Professor Guedes de
Miranda desde o dia 17 de dezembro de 2008, é um dos prédios que tem um arquivo muito
rico, pois a documentação é datada de aproximadamente 1840 a 9010, porém uma boa parte
dessa documentação não está acessível à pesquisa porque estão em péssimo estado de
conservação, em decorrência do tempo e estão necessitando de restauração, mas também
existem os outros documentos que ficam sob a responsabilidade dos cartórios do primeiro e

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do segundo ofício, que guardam uma quantidade imensa e valiosa de uma documentação
carregada de importância, para quem deseja aprofundar-se na questão da história alagoana.
Uma outra fonte importantíssima que guardam documentos são os cartórios,
de registro civil e cartório de imóveis, nos auxiliando nas informações necessárias para o
encremento da compreensão da sociedade Alagoana, da cidade de Porto calvo.
Sabemos que para quem opta pelo campo da pesquisa e da produção
historiográfica alagoana, é importante saber o que se tem em termos de documentos, de
artefatos de bibliografias que tratem a questão alagoana, para que se possa contar e recontar
os fatos que marcaram o desenvolvimento de uma sociedade que tinha como principal fonte
de renda a economia açucareira, e a exploração da mão-de-obra escrava. Características muito
comuns no nordeste brasileiro, a principal importância da produção historiográfica é a
responsabilidade de estudar atentamente a formação da sociedade, para que possamos
produzir uma obra que não venha desfavorecer as minorias exploradas, alimentando os
interesses das elites dominantes e contribuindo para a destruição da minoria daqueles que
foram as peças mais importantes para a construção desse estado, que se desenvolveu a custa
da exploração e sofrimento dos explorados.
O historiador tem a responsabilidade de pesquisar atentamente os fatos
esgotando todas as fontes, de que ele tiver a sua disposição, para que o mesmo não venha a
oferecer aos leitores uma história que seja voltada para atender aos interesses dos grupos
dominantes, pois o historiador contribuiu de forma muito significativa para a formação da
consciência social dos indivíduos, e o mesmo deve reconhecer o seu papel de formador de
consciência solando que cabe a ele não faltar com a verdade, de forma que venha a influenciar
de forma negativa aos indivíduos. Os fatos têm que chegar ao conhecimento do leitor de
forma que reconte os acontecimentos como foram de fato, dando aos indivíduos a
oportunidade de construírem seus próprios conceitos tendo como base uma historiografia
comprometida com a verdade, e voltada para o esclarecimento, e formação de indivíduos com
capacidade de analisar e criticar os fatos. E sabendo dessa responsabilidade é que procuramos
realizar um trabalho informativo mostrando onde estão as fontes para que os futuros
pesquisados e historiadores possam encontrar nos documentos informações que os auxilio em
suas produções, de forma que os mesmos possam ver fontes o suficiente para construírem a
crítica, e enriquecer o nosso quadro de produção no campo da história.
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Trabalhos de pesquisa e produção são muito encantadores, pois na medida


em que você começa a descobrir as oportunidades de esclarecimento dos fatos, que antes nos
foram passados muitas vezes sendo mera reprodução dos interesses elitistas, na tentativa de
nos calienar. Quando nos vamos em frente a verdades antes desconhecidas ou mal contadas,
descobrimos que, é por meio de estudos e pesquisas que podemos construir uma nova história,
onde constam as verdades de cada um de nós, o encontrado da história é isso é a não
existência de verdades absolutas, é a construção progressiva de verdades de âmbito pessoal,
“a história nos abre portas, e não nos impõe limites”, nos possibilitando crescer e estimular
outras pessoas a crescerem também, pois quando entramos em contato com a verdade nos
sentimos estimulados a cada vez mais, termos o compromisso de sermos seres
intelectualmente esclarecidos.
É importante sabermos que as fontes históricas existem, só precisamos
encontrá-los através da busca nos arquivos através da história oral, na historiografia, que nos
antecede e principalmente é essencial nos comprometermos a respeitar a minoria dos grandes
personagens, da nossa história, não deixando de forma alguma que os nossos trabalhos sejam
carregados de racismo, e preconceito e não devemos tomar partido de nenhum dos lados da
história, cabe a nós expormos o nosso trabalho e deixa que a história produzida por nós,
exerça o papel de mecanismo de educação, que sirva para despertar, o historiador e o
pesquisador que possa haver dentro de cada leitor, que venha a ter acesso ao trabalho
produzido por nós.
Analisando a documentação da cidade de Porto Calvo podemos notar que
existe um campo muito amplo de possibilidades de pesquisas e produções escritas pro futuro,
pois se trata de uma documentação que vem desde o século XIX, pois os documentos mais
antigos encontrados até o momento datam de 1840, que são processos que se encontram no
fórum da cidade, mas que estão correndo um grande risco de se perderem, pois estão
guardados em sacolas plásticas, e pedindo socorro necessitando urgentemente de restauração.
Um outro problema encontrado no conjunto documental de Porto Calvo é a falta de
organização e catalogação em algumas instituições e isso dificulta o trabalho do pesquisador.
O Guia de Fontes para a história de Alagoas visa um levantamento que
possibilite saber o que ainda resta da nossa história, em termos documentais, para que assim
se faça futuramente um programa de preservação da história documentada, os idealizadores
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do projeto se preocupam com o frequente descaso das fontes históricas que muitas vezes vão
para o lixo como se não tivesse importância alguma, causando uma deficiência e esgotamento
das riquezas historiográficas alagoanas. Ao realizarmos um projeto como esse nos deparamos
com a leitura de um leque de oportunidades de pesquisa que nos enche de idéias e
expectativas, para produzirmos história. Uma situação preocupante é o caso já mencionado
dos processos do fórum que se demorar vamos acabar perdendo uma grande parcela da nossa
história, espero que esse trabalho desperte a atenção, de pessoas que possam contribuir para a
salvação da nossa história, pois os documentos estão adoecendo e pedindo socorro, eles são
responsabilidade nossa, é responsabilidade de todos que de alguma forma se interessam pela
história este trabalho é para mim não apenas uma catalogação, mas sim um “grito” de alerta,
para que não deixamos nossa história morrer, pelo esgotamento das fontes. Mas acredito que
quando se tem vontade compromisso, e seriedade profissional, muito se pode ser feito para
não deixar que o descaso afete de forma irreversível as fontes de trabalho que ainda restam
aos historiadores.

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