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ACERVO

R E V I S T A DO A R Q U I V O N A C I O N A L

VOLUME 10 • NÚMERO • 01 • JAM/JUN • 1997

O BRASIL NOS ARQUIVOS


PORTUGUESES
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

ARQUIVO NACIONAL
Ministério da Justiça
Arquivo Nacional

ACERVO
R E V I S T A D O A R Q U I V O N A C I O N A L

R I O DE J A N E I R O , V . 1 0 , NÚMERO 0 1 , J A N E I R O / J U N H O 1997
© 1 9 9 7 by Arquivo Nacional
Rua A z e r e d o C o u t i n h o , 7 7
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Ministro da Justiça
íris R e z e n d e
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M a c h a d o , Heloísa Liberalli Belotto, limar Rohloff d e Mattos, J a i m e Spinelli, J o a q u i m Marcai
Ferreira d e A n d r a d e , J o s é Carlos Avelar, J o s é S e b a s t i ã o Witter, Léa d e Aquino, Lena Vânia
Pinheiro, Margarida d e S o u z a n e v e s , Maria Inez TUrazzi, Marilena Leite P a e s , Regina Maria M. P.
Wanderley, S o l a n g e Z ú n i g a
Edição de Texto
J o s é Ivan Calou Filho
Projeto Gráfico
André Villas B o a s
E d i t o r a ç ã o Eletrônica, Capa e Ilustração
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Revisão
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Resumos
C a r l o s Peixoto d e C a s t r o e J o s é Cláudio da Silveira Mattar {versão e m inglês), Lea Novaes e
Flávia Roncarati G o m e s (versão e m francês)
Reprodução Fotográfica
A g n a l d o Neves S a n t o s , Cícero Bispo, Flavio Ferreira L o p e s e Marcello L a g o
Secretaria
J e a n e D'Arc C o r d e i r o

Revista financiada com recursos d o


Programa de Apoio a Publicações Cientificas

MCT Ê>CNPq IpriNEP,

Acervo: revista do Arquivo nacional. —


v. 10, n. 1 (jan./jun. 1997). — Rio de Janeiro: Arquivo nacional,
1997.
v.:26cm

Semestral
Cada número possui um tema distinto
ISSr10102-70O-X

1 Brasil - História - fontes I. Arquivo nacional

CDD981
S U M Á R I O

01
Apresentação

03
N o V centenário da chegada aos portugueses ao o r a s i l : reviver o patrimônio
comum. Contribuição do Instituto aos Arquivos Nacionais/Torre ao Tombo
(Lisboa)
Maria do Carmo Jasmins Dias Farinha & Maria de Lurdes Henrique

17
Fontes para a história do Brasil colonial existentes no Arquivo Histórico
Ultramarino
Maria Luísa Meneses Abrantes

29
Documentos relativos ao Brasil existentes na Biblioteca Pública Municipal do
Porto
Maria Adelaide Meireles èc Luís Cabral

47
O arquivo da Casa da Moeda de Lisboa. Seu interesse para a história do Brasil
colonial. 1686-1822
Margarida Ortigão Ramos Paes Leme

57
Fontes do Tribunal de Contas de Portugal para a história do Brasil Colônia
Judite Cavaleiro Paixão

71
A contribuição do Arquivo Distrital de Braga para a história do Brasil
colonial
Maria da Assunção Jácome de Vasconcelos e Chagas, Paula Maria Faria Lamego ôf
Paula Sofia da Costa Fernandes
85
Rápido passeio por outros arquivos portugueses
Caio Boschi

97
Perfil Institucional
Oomissão N a c i o n a l para as C-omemoraçfies dos Descobrimentos Portugueses
Antônio Manuel Hespanha

.
A P R E S E N T A Ç Ã O

Este número da revista Acervo faz parte portugueses no Brasil, parte integrante
de uma série de projetos culturais que o da história filosófica e política das
Arquivo Nacional vem desenvolvendo com possessões e do comércio dos europeus
vistas às comemorações dos quinhentos nas duas índias, de Guillaume-Thomas
anos da descoberta do Brasil. Com este François Raynal.
objetivo, a Instituição - que integra a
Em função de todos e s s e s projetos, a
Comissão Luso-Brasileira para a
revista Aceruo - que tem por meta divulgar
Salvaguarda e Divulgação do Patrimônio
e potencializar fontes de pesquisa - não
Documental - p r e t e n d e , e n t r e o u t r a s
poderia deixar de reservar espaço aos
atividades, publicar o Guia de arquivos
d o c u m e n t o s p o r t u g u e s e s de interesse
brasileiros: fundos/coleções do período
para a história do Brasil colonial. Desse
colonial - séculos XVI/XIX, realizar a
modo, convidamos dirigentes e técnicos
exposição Ciência, arte e técnica: a
dos mais r e p r e s e n t a t i v o s a r q u i v o s e
conquista do território atlântico - séculos
bibliotecas de Portugal para apresentar o
XVI/XIX, em parceria com o Serviço de
acervo referente ao tema.
D o c u m e n t a ç ã o da Marinha, e a i n d a
elaborar o Roteiro comentado de fontes O artigo sobre o Instituto dos Arquivos
do Arquivo nacional para a história dos Nacionais/Torre do Tombo a b r e e s t e
descobrimentos portugueses. Este último número da revista. Nele são relacionados
conta com o apoio da Universidade do os núcleos e séries documentais de maior
Estado do Rio de Janeiro e da Comissão pertinência para a história do Brasil
Nacional para as C o m e m o r a ç õ e s d o s colonial e apontadas algumas
Descobrimentos Portugueses e subsidiará possibilidades de pesquisa.
uma base de dados e uma publicação, Segue-se o texto sobre o Arquivo Histórico
r e u n i n d o os d o c u m e n t o s do Arquivo Ultramarino, que reúne um dos acervos
Nacional r e f e r e n t e s n ã o a p e n a s a o mais significativos para a história do
descobrimento do Brasil mas, Brasil dos séculos XVI a XIX. O artigo
principalmente, ao processo de descreve a estrutura e organização do
colonização. AMU e enumera seu patrimônio
documental.
Além disso, e t a m b é m inserto n e s t a s
comemorações, a Editora da Universidade A Biblioteca Pública Municipal do Porto,
de Brasília e o Arquivo Nacional assinaram que talvez não seja tão conhecida pelos
um convênio para a publicação de obras pesquisadores brasileiros, merece
raras de seu acervo. A primeira a ser atenção por reunir documentos
editada é O estabelecimento dos interessantes, particularmente sobre
A C E

referência exaustiva a essa documenta- que aí se encontram os documentos fun-


ção, mas tão-somente a indicação dos damentais para a história do Brasil, des-
principais núcleos e séries. Apresentam- de a chegada de Pedro Álvares Cabral à
se, no entanto, exemplos de Terra de Vera Cruz, com as informações
potencialidades de pesquisa para alguns enviadas ao rei por Pero Vaz de Caminha
fundos documentais. Cumpre, também, e pelo físico Mestre João, aos aspectos
referir que, devido aos critérios de clas- administrativos, sociais e econômicos.
sificação utilizados ao longo dos tempos, Os livros da Chancelaria Regia, com os
muitas vezes simples séries ou coleções registros de todos os diplomas emanados
têm sido consideradas fundos, pelo que do rei, são de consulta obrigatória para a
nesta breve apresentação se seguirá a maioria dos investigadores. Estes livros
atual classificação. incluem séries de Doações, Ofícios e Mer-
O primitivo núcleo da Torre do Tombo li- cês, Perdões e Legitimações, Privilégios,
mitava-se ao Arquivo Real ou Arquivo da Contratos e Confirmações. A primeira di-
Casa da Coroa. lio século XIX, com a in- retamente ligada à história do Brasil é a
corporação dos cartórios das Instituições Chancelaria de d. Manuel (47 livros). Se-
do Antigo Regime o acervo documental guem-se-lhe a de d. João III (113 livros);
da Torre do Tombo aumentou considera- d. Sebastião e d. Henrique (106 livros);
velmente. É, sobretudo, nestes dois gran- Filipe I (61 livros); Filipe II (84 livros); Fi-
des grupos que se concentra a maioria da lipe III (66 livros); d. João IV (32 livros);
documentação respeitante à história do d. Afonso VI (61 livros); d. Pedro II (70
Brasil. No entanto, no grupo dos Arqui- livros); d. J o ã o V (144 livros); d. J o s é (96
vos Privados, n o m e a d a m e n t e de casas livros); d. Maria I (85 livros); d. João VI
senhoriais, pessoais e de família, também (45 livros).
podem ser encontrados inúmeros docu- A conhecida Leitura Nova, cópia de origi-
mentos. nais antigos e de difícil leitura, ordenada
por d. Manuel I, revela-se de consulta ne-
A história do Brasil está largamente do-
c e s s á r i a , e m b o r a muitos d o c u m e n t o s
cumentada no Arquivo da Casa da Coroa,
não tenham sido transcritos na íntegra,
na'Chancelaria Regia, Gavetas, Leitura
visto que alguns dos originais registrados
Mova, Múcleo Antigo, e na coleção Corpo
não chegaram até nós. A Leitura Nova é
Cronológico. No entanto, são também de
acessível através dos índices das chance-
interesse as Crônicas e as coleções Acla-
larias. São de interesse para a história do
mações e Cortes, Bulas, Leis, Reforma das
Brasil os livros de Místicos (6 livros), Ilhas
Gavetas, Tratados e Fragmentos.' Estas
(1 livro), Extras (1 livro). Mestrados (1 li-
séries e coleções são, naturalmente, bas-
vro) e Padroados (2 livros).
tante conhecidas e têm sido objeto de
inúmeras investigações. Bastará referir As Gavetas, 2 que atualmente são consi-

pag.4,jan/jun 1997
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deradas uma coleção, correspondem à séculos XV e XVI e boa parte deles é re-
antiga arrumação no Arquivo Real. Os ferente ao Brasil. Com os documentos
documentos eram, então, ordenados por que já na época estavam mal conserva-
assunto, em gavetas próprias: tratados, dos foi formada a coleção dos Fragmen-
casamentos, sentenças, testamentos, tos, onde se encontram muitas folhas
forais etc. Apesar de as Gavetas serem, que faltam em documentos do Corpo Cro-
atualmente, identificadas por números, nológico.
ainda se reconhece aquela ordenação. A
O chamado Núcleo Antigo 3 é um conjun-
Reforma das Gavetas é uma cópia feita no
to de séries originais do Arquivo Real,
século XVIII que inclui os documentos até
tendo-lhe sido atribuído este nome por
ao maço 10 da Gaveta 2 1 .
João Martins da Silva Marques, antigo di-
A coleção denominada Corpo Cronológi- retor da Torre do Tombo. Interessam par-
co foi organizada por Manuel da Maia com ticularmente à história do Brasil o n° 762
os documentos entregues por Pedro de - "Descarga de pau-brasil, vindo na nau
Alcáçova a Damião de Góis, guarda-mor Francesa' em 1531"; o n° 759 - "Livro da
da Torre do Tombo. A maioria dos seus nau Bretoa", descrição da viagem efetu-
cerca de 83 mil documentos pertence aos ada por esta nau em 1511, da qual fo-

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Carta de Pero Vaz de Caminha. Arquivo Nacional/Torre do Tombo.

Acervo, RiodeJaneiro, v. 10, n° 1, p. 03-16,jan/jun 1997 - pag.5


A C E

ram a r m a d o r e s Bartolomeu Marchioni, rinas; Conservatória da Companhia Ge-


Benedito Morelli, Fernão de Noronha, ral de Pernambuco e Paraíba;
Francisco Martins e capitão Cristóvão Pi- Conservatória da Companhia Geral do
res, e que inclui o regimento do capitão, Grão-Pará e Maranhão.
a companha, a relação da carga (pau-
O Desembargo do Paço, 5 uma das insti-
brasil, escravos, gatos, papagaios) e o
tuições criadas para a centralização do
roubo de que foi alvo na Bahia; e o n°
poder, decidia em matéria de graça e de
8 9 5 (1/6),* cópia do documento intitu-
justiça. Entre as suas principais atribui-
lado "Terras minerais das capitanias de
ções conta-se o controle da magistratu-
São Paulo e São Vicente no Estado do
ra, através das nomeações de magistra-
Brasil" - 1776, que inclui o regimento
dos, da apreciação das candidaturas dos
dado a d. Francisco de Sousa, em 1603,
bacharéis - leitura de bacharéis; da aná-
e as ordens e mercês que o mesmo re-
lise dos processos de habilitação de ma-
cebeu em 1608; o regimento dado a Sal-
gistrados a lugares de tribunais superio-
vador Correia de Sá e Benevides, encar-
res ou de cabeça de comarca
regado da averiguação das minas das ca-
(corregedores) - predicamentos; tirava as
pitanias de São Paulo e São Vicente, em
residências, ou seja, as informações so-
1644; a instrução dada a d. Rodrigo de
bre o procedimento dos magistrados, re-
Castelo Branco, nomeado para o
lativamente ao exercício das s u a s atri-
e n t a b o l a m e n t o d a s minas de prata da
buições, durante o período em que resi-
Tabaiana, em 1673; a mercê da proprie-
dia em determinada localidade, para efei-
dade do ofício de provedor e administra-
tos de habilitação a cargos de nível su-
d o r - g e r a l d a s m i n a s d o s c e r r o s de
perior. Outra importante atribuição era a
Parnaguá e de Sabarabuçu, de 1677, e o
censura de obras para impressão. Eram,
regimento da repartição das terras mi-
ainda, da sua competência a apresenta-
nerais, feito pelo mesmo em 1680, assi-
ção de igrejas e capelas do Padroado
nado por Pedro Jacques de Almeida Pais
Real, a administração de misericórdias,
Leme.
as naturalizações, as tutelas (curadorias,
inventários e suspensões) e a extinção
Para o estudo da Administração e Justi-
de vínculos, entre outras.
ça no Antigo Regime, o investigador dis-
põe de diversos núcleos.
A Mesa da Consciência e Ordens, que se
A Casa da Suplicação, com os seus di- conta entre as instituições
versos juízos, entre os quais importa a centralizadoras do poder, contém, natu-
consulta dos seguintes: Juízo da Inconfi- ralmente, numerosas referências ao Bra-
dência e dos Ausentes; Juízo da sil, nomeadamente, nos livros de Provi-
Provedoria dos Resíduos e Cativos; Juízo sões (provimentos de ofícios) e nos Re-
da índia e Mina - Justificações Ultrama- gistros Gerais. Entre estes, citem-se os

pag.6.jan/jun 1997
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chamados Livros Baios, 6 onde se encon- Os livros de registro da cobrança dos d i -


tram promessas de um lugar de deputa- reitos de chancelaria, dízimas das sen-
do da Mesa da Consciência e Ordens após tenças e outros impostos são conhecidos
serviço de seis anos como chanceler do por Chancelaria-mor da Corte e Reino.
7
Estado do Brasil. Refiram-se, ainda, os Mo entanto, este nome era a designação
documentos relativos às mampostarias da geral da chancelaria real, o que pode ve-
Bahia (1720-1776). Rio de Janeiro (1730- rificar-se nos termos de abertura dos l i -
1 7 7 3 ) , Pernambuco ( 1 7 2 5 - 1 7 7 5 ) , São vros tradicionalmente chamados Chance-
8
Paulo (1732) e Vila Rica (1727), e o con- larias Regias. Ma série Avaliação de Ofí-
j u n t o intitulado Padroados do Brasil, que cios para Cobrança dos Movos Direitos
se reporta a provimentos de igrejas e o u - têm interesse os dois livros com o subtí-
tros benefícios eclesiásticos no tulo Ultramar, do ano de 1694 (liv. 5 e 6).
arcebispado da Bahia - 1756-1822 (M° 1
A S e c r e t a r i a das Mercês, c r i a d a por
a 3), e nos bispados do Maranhão - 1756-
alvará de 29 de novembro de 1643, tinha
1823 (M° 4), Mariana - 1754-1823 (M° 5 a
como função o registro de todos os be-
7), Pará -1769-1823 (M° 8 e 9),
nefícios régios. O Registro Gera! de Mer-
Pernambuco - 1755-1823 (Mo 12 a 14),
cês é, assim, um complemento da Chan-
Rio de Janeiro - 1756-1795-1822 (M° 15
celaria Regia, a partir de d . Afonso VI.
a 17) e São Paulo - 1756-1808 (M° 10 e
Interessam à história do Brasil os livros
11). Das séries de habilitações para as
de d. Afonso VI, d. Pedro I I , d. João V, d .
Ordens Militares, cuja apreciação se pro-
José, d. Maria I e d. João VI e, ainda, as
cessava na Secretaria da Mesa e Comum
subséries Portarias do Reino e Ordens
das Ordens, é relevante a que respeita à
Militares. Esta documentação tem IDDs,
O r d e m de C r i s t o . Será desnecessário
alguns j á publicados, e uma base de da-
sublinhar a sua riqueza em informações
dos c o m m a i s de 4 5 0 m i l r e g i s t r o s ,
genealógicas.
pesquisáveis por v á r i o s c a m p o s . É
certamante um conjunto a explorar para
Uma das repartições da Mesa da Consci-
a história local brasileira, a genealogia e
ência e Ordens era a Chancelaria das Or-
a história da propriedade fundiária.
dens Militares. Reportando-nos apenas à
Chancelaria da Ordem de Cristo, a mais A Secretaria de Estado dos Megócios do
relevante para a história do Brasil, re- Reino/Ministério do Reino 9 estendia a sua
gistre-se que é constituída por 382 livros, ação a todos os domínios da Coroa por-
com datas compreendidas entre 1566 e tuguesa, e logicamente ao Brasil, nas d i -
1833, e que se subdivide em Chancelaria versas áreas. Assim, este núcleo é de
Antiga, Chancelaria de d. Maria I e Chan- consulta obrigatória para o estudioso da
celaria de d. João VI, d. Pedro IV, infanta história administrativa, econômica, cul-

d. Maria e d. Miguel. tural e religiosa dos séculos XVIII e XIX.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10. n° l . p . 03-16.jan/jun 1997- pag.7


A C E

Entre a s séries mais diretamente ligadas Minas Gerais, Maranhão, Alagoas, Rio
à história do Brasil, citem-se: Consultas Grande, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro,
da Mesa do Desembargo do Paço, onde Pará, Vila Bela, Ceará Grande e
se encontram assuntos relativos às Re- Pernambuco - 1722-1826); Belém do Pará
lações do Ultramar (v. g., Rio de Janeiro, - 1750-1758 (maços 597 e 598); Bahia -
1756-1759 - maço 334); Consultas do 1756-1806 (maço 599, que incluía uma
Conselho Ultramarino, de 1730 a 1825, Relação das praças fortes e coisas de im-
referentes à remuneração de serviços, portância que Sua Majestade tem na cos-
aos governadores das diversas capitani- ta do Brasil, de Diogo de Campos More-
as, mercês, requerimentos e nomeações no); S. Paulo de Assunção e Goiases -
(maços 312 a 324); Consultas da Mesa 1755-1805 (maço 600); Maranhão - 1751-
da Consciência e Ordens, algumas das 1803 (maço 6 0 1 , que inclui a Planta de
quais incluíam plantas de igrejas (v. g., S. Luís do Maranhão). Refira-se, ainda, o
maço 407, igreja de N. S. do Socorro do livro intitulado Leis dos portos do Brasil
Sertáo, arcebispado da Bahia - [1565]-1761, registro de leis e ordens
20.4.1762; igreja matriz de Santo Antô- sobre a proibição da entrada de navios
nio da Casa Branca, bispado de Mariana mercantes ou de guerra nos portos bra-
- 9.11.1761); Correspondência da Corte sileiros.
no Rio de Janeiro, da qual se destacam
as subséries Consultas: Rio de Janeiro -
1817-1820 (maços 240 e 241); negócios
diversos relativos ao Governo do Rio de
Janeiro - 1809-1820 (maço 242); Reque-
rimentos à Corte do Rio de Janeiro -1809-
1820, o r d e n a d o s alfabeticamente pelo
nome do requerente (maços 243 a 259);
Avisos ao Governo de Portugal conceden-
do licenças - 1809-1820 (maço 235); Or-
dens ao Governo de Portugal - 1809-1821
(maços 236 a 239); Avisos com remes-
sas de requerimentos - 1809-1820 (ma-
ços 221 a 234). Outra série de significa-
tivo interesse é a dos negócios diversos
relativos ao Ultramar e Ilhas, com infor-
mações dos governadores, magistrados
e funcionários públicos, na qual se des-
tacam os maços intitulados Ultramar e
Brasil - detalhe da carta de João Teixeira
Ilhas (maço 500, que inclui Bahia, Cuiabá, Alberraz . Arquivo Nacional/Torre do Tombo.

pag.8.jaivjun 1997
R V O

A maioria da documentação da Secretaria Verde, Moçambique, índia. Açores e Ma-


de Estado/Ministério dos negócios Estran- deira contém informação relativa aos
geiros respeitante ao Brasil é posterior à anos de 1811 a 1829 (liv. 232).
Independência. Para a época colonial, re- Na Real Mesa Censória, tribunal que
gistre-se a correspondência de e para To- exercia o controle da existência livreira
más da Silva Teles, visconde de Vila Nova no país e seus domínios, encontram-se
da Cerveira, embaixador extraordinário em informações sobre as publicações que
Madri para as negociações do tratado so- entravam no Brasil (Rio de J a n e i r o ,
bre os limites do Brasil, 10 que inclui os se- Bahia, Pará, Maranhão, Pernambuco),
guintes livros: Documentos de Tomás da além de requerimentos para impressão
Silva Teles - 1746-1748 (liv. 824); Ofícios e censura, para leitura de livros proibi-
para Marco Antônio de Azevedo Coutinho - dos, as censuras e as obras censura-
1746-1747 (liv. 825); Despachos do secre- das. Estão disponíveis os IDDs: L 376,
tário de Estado - 1746-1750 (livs. 826 a. L 513 a 516; C 613 a 620; RMC - F i a
828); Despachos dos secretários de Esta- 14 (índices analíticos) e um inventário
do Marco Antônio de Azevedo Coutinho, concluído recentemente (L 572).
Pedro da Mota e Silva e Sebastião José de
Carvalho e Melo - 1750 (liv. 829); Ofícios Para os assuntos de caráter econômico

do embaixador e Despachos de Sebastião e fiscal, a pesquisa incidirá nos núcle-

José de Carvalho e Melo - 1751-1755 (livs. os agrupados sob o título genérico de

830 e 831). Fazenda.

O Conselho da Fazenda (criado pelo re-


O Ministério dos Megócios Eclesiásticos e
gimento de 20.11.1591) teve como ob-
da Justiça (IDD L380), de criação mais tar-
jetivo imprimir um maior rigor à admi-
dia, inclui, no entanto, alguns documentos
nistração dos recursos financeiros do
de interesse, intitulados: Governo do Bra-
Estado. Uma das repartições deste Con-
sil colonial - pródromos da independência.
s e l h o , a Repartição da índia, Mina,
Documentação respeitante a diversos es-
Guiné, Brasil, ilhas de S. Tome e Cabo
tados (M° 111); e Devassa a que procedeu
Verde, despachava os assuntos relati-
o ouvidor do Maranhão por ordem do go-
vos às terras indicadas. Essas atribui-
vernador d a s a r m a s daquela província,
ções foram conferidas ao Conselho Ul-
contra os perturbadores do sossego públi-
tramarino quando da sua criação, em
co na capital da mesma província, que se
1642. Entre a documentação mais di-
opuseram ao governo constitucional (M°
retamente ligada à história do Brasil,
102, n° 1).
contam-se os seguintes livros: n° 372 -
Mo núcleo Intendência Geral da Polícia, o Registro de escrituras dos contratos de
livro intitulado Expediente com magistra- recebimento das rendas e direitos re-
dos e autoridades do Brasil, Angola, Cabo ais - jan. de 1756 a julho de 1760 (en-

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 03-16, jan/jun 1997 - pag.9


A C E

tre esses contratos incluem-se alguns re- Núcleos extraídos do Conselho da Fazen-
lativos ao pau-brasil); n° 375 - Registro da (L 512) é constituído por livros de con-
d e cartas, alvarás e provisões - 1733- tas de diversas instituições apresentadas
1745 {inclui ordens para magistrados e à Casa dos Contos e ao Erário Régio. As-
oficiais do Brasil); n™ 379 a 387 - Regis- sim, os referidos núcleos' não são mais
tros da Fazenda, de 1758-1804, contêm que séries de livros de contas das res-
cartas de padrão de juros assentados na pectivas instituições. Estão neste caso os
Tesouraria do 1% do ouro e de todo o 49 livros referentes à Casa da Moeda dos
produto do pau-brasil; n° 394 - Borrão anos 1720 a 1797, parte dos quais rela-
dos assentos de ordenados que vencem tivos à receita do 1% do ouro e produto
pelas receitas do 'Consulado', das alfân- do pau-brasil, e os livros da Conta dos
degas da Corte e Reino, da Casa da ín- Armazéns da Guiné e índia e da Junta
dia, dos Armazéns da Guiné e índia e da das Dívidas Antigas dos Armazéns, dos
Tesouraria do um por cento do ouro e de anos de 1718 a 1801.
todo o produto do pau-brasil, de 1742-
Da Alfândega de Lisboa," citem-se as sé-
1760; e n° 409 - Registro de cartas da
ries de receita dos direitos cobrados pela
índia e do Brasil - 1757-1775.
importação de gêneros do Brasil, nome-
O Erário Régio, instituição que fiscaliza- adamente o pau-brasil.
va a contabilidade pública, pela Conta-
Do núcleo Real Junta do Comércio, Agri-
doria Geral da África Ocidental, Maranhão
cultura, Fábricas e Navegação, refiram-
e do território da Relação da Bahia e pela
se, entre outras, as séries do Consulado
Contadoria Geral dos territórios da Rela-
geral dos portos do Brasil, Ásia, África,
ção do Rio de Janeiro, África Oriental e
Ilhas e nações estrangeiras: Cópias dos
Ásia, ocupava-se da verificação das con-
d e s p a c h o s - 1820-1834 (maços 245 a
tas relativas aos territórios ultramarinos.
300); Resumos de importação e exporta-
O conjunto dos livros destas duas Conta-
ção - 1799-1831 (maços 301 a 308); Ins-
dorias tem sido designado por Capitani-
petores dos cofres dos dinheiros vindos
as do Brasil. Ma primeira estavam inclu-
do Brasil; nomeações para estes cargos;
ídas as capitanias da Bahia, Ceará Gran-
requerimentos para a entrega de dinhei-
d e , M a r a n h ã o , Minas G e r a i s , Pará,
ros -1757-1824 (maços 48 e 49); Mapas
Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Nor-
de exportação da praça de Pernambuco
te; na segunda, as do Rio de Janeiro, Rio
1787-1794 (livro 455); Reclamações dos
Negro, São Paulo e Minas Gerais. Este
prejuízos resultantes das diferenças de
conjunto é constituído por cerca de no-
qualidade do açúcar inspecionado nas
vecentos livros com datas entre 1722 e
Mesas do Brasil - 1757-1833 (maço 63);
1823 (IDD L 524).
Copiador de correspondência com o Brasil
Deve-se assinalar que o IDD intitulado (livro 329); Receita geral dos contratos e

pag.lO.jan/jun 1997
R V O

partidas de que se compunha o rendimen- e XIX, revelam-se de interesse para o in-


to da capitania da Bahia e relação de vestigador de história do Brasil: Coleção
despesas (livros 265 a 302). Mo Cartográfica; Manuscritos do Brasil; Pa-
respeitante à seção da navegação, são péis do Brasil.
de referir as séries Fretamento de navi-
As duas principais coleções - Manuscritos
os para condução de tropas para o Bra-
do Brasil e Papéis do Brasil - reúnem do-
sil - 1757-1819 (maço 64); Mesas de ins-
cumentação de proveniência diversa. Me-
peção do Brasil e mais portos ultramari-
ias podem ser encontradas cartas e outros
nos: ofícios dos capitães, governadores
papéis referentes à administração coloni-
e outras autoridades remetendo relações
al, compromissos de várias irmandades, ro-
de equipagens de navios e listas das pes-
teiros de viagens entre várias cidades do
soas que transportaram para Portugal -
interior do Brasil, legislação diversa e re-
1761-1820 (maços 1 a 9); Correspondên-
latórios sobre a revolta de Minas Gerais,
cia dos cônsules portugueses e manifes-
sobre os conflitos entre o Estado e o clero,
tos das cargas de navios vindos do Brasil
sobre o rendimento de algumas capitani-
- (maço 312).
as, sobre a Casa de Fundição do Ouro, so-
Entre a documentação da Junta do Taba- bre mapas de localização e de exploração
co, são de interesse as séries: Avisos - de engenhos de açúcar, sobre escravatu-
1674-1823 (maços 56 a 63); Cartas e in- ra, sobre demografia e estatística
formes - 1675-1751 (maços 64 a 95); e demográfica. Estas coleções são constituí-
Cartas do Brasil e da índia - 1698-1821 das por 15 códices e várias espécies avul-
(maços 96 a 114). sas (IDDs C2, L 531 e L 532 1 a 7 ), são muito
procuradas e, conseqüentemente, bem co-
Em núcleos provenientes do Funchal - Al-
nhecidas dos investigadores brasileiros que
fândega e Provedoria e Junta da Real
se deslocam ao IAM/TT.
Fazenda - pode o investigador encontrar
informação sobre o comércio entre o Bra- Passando ao grupo dos arquivos priva-
sil e a ilha da Madeira nos livros de re- dos, o Cartório dos Jesuítas conserva nu-
gistro de importação e exportação de merosa documentação dos séculos XVI a
mercadorias, de receita dos direitos de XIX sobre a ação da Companhia de J e s u s
entrada e de saída de navios e nos de nas missões ultramarinas, nomeadamen-
cobrança de direitos alfandegários pagos te, nas Ilhas, Brasil, Angola, índia, Chi-
pelo açúcar e outros gêneros importados na, e Japão (IDD: L 304). Mele se encon-
do Brasil, com datas compreendidas en- tram não só referências gerais ao Brasil
tre 1640 e 1822 (v. IDDs: L 266', F 83 e F (maços 23, 39, 46, 75, 80, 83, 86, 90,
77 e L 266 2 , respectivamente). 97), mas específicas em relação ao Co-
Mo conjunto das coleções, cujo âmbito légio da Bahia (maços 6, 7, 10 a 19, 30,
cronológico se situa entre os séculos XVI 3 1 , 39, 4 3 , 47, 5 1 , 52, 64, 66, 88, 89) e

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 03-16,jan/jun 1997-pag. 11


A C E

ao Colégio de Mossa Senhora da Luz do Paulo (Documentos vários - 1731-1782).


Maranhão (maços 82, 87, 89), assim como Entre os arquivos pessoais, refira-se o
a bens de raiz em Cabo Frio (maço 88), de Antônio Saldanha da Gama, conde de
Sergipe (maços 6, 7, 10 a 19, 3 1 , 4 3 , 47, Porto Santo (IDD L 499), em particular o
51 a 5 1 , 64), Petinga (maços 52, 54) e conjunto intitulado Brasil (assuntos polí-
Santa Ana dos Ilhéus (maços 6, 7', 19, 54). ticos, diplomáticos, militares, econômi-
Há, ainda, documentos referentes a Mem cos e administrativos - 1811-1822). Há,
de Sá e seus descendentes, condes de ainda, correspondência particular de fa-
Linhares e outros (maços 5, 6, 8, 9, 23, miliares, amigos, ou entidades diversas
3 0 , 3 1 , 4 8 , 5 2 , 5 3 , 6 4 , 8 9 ) , e a d. que relatam a vivência diária. A título de
Fernando Martins Mascarenhas Lencastre exemplo, cite-se que uma das melhores
e seus descendentes (maços 24, 28). descrições sobre a revolta de Pernanbuco
se encontra na correspondência que J o ã o
Entre os arquivos de Casas Senhoriais, ci-
Paulo Bezerra dirigiu a Antônio Saldanha
tem-se: Casa de Abrantes (IDDs: L 522 1 a 7 ,
da Gama. Trata-se pois de um grupo de
e adenda relativa à documentação adquiri-
arquivos que carece de uma análise sé-
da recentemente); Casa Fronteira e Alorna
ria por parte dos historiadores e que con-
(IDD L 505); Casa Qalveias (L 517), nome-
sideramos inexplorado.
adamente a documentação relativa a Ma-
nuel Bernardo de Melo e Castro, visconde Como exemplos possíveis de pesquisa,
da Lourinhã (Documentos militares - 1755- aborda-se a importância da documenta-
1778; Capitania do Qrão-Pará e Maranhão ção das C o m p a n h i a s de Comércio do

- 1760-1761; Correspondência recebida - Grão-Pará e Maranhão e de Pernambuco

1754-1758); a Joáo de Almeida Melo e Cas- e Paraíba, e do Tribunal do Santo Ofício.

tro, 5 o conde de Qalveias, diplomata, mi- As Companhias de Comércio do Grão-


nistro e secretário de Estado dos Negócios Pará e Maranhão e de P e r n a m b u c o e
Estrangeiros e da Guerra e da Marinha e Paraíba, duas instituições criadas sob a
Domínios Ultramarinos (em Portugal) e, in- inspiração do marquês de Pombal, tinham
terinamente, dos Estrangeiros e da Guerra como objetivo primordial fomentar e fa-
no Rio de Janeiro (maços 3 a 9); a Martim zer transitar para os portugueses o co-
Lopes Lobo da Silveira, brigadeiro de in- mércio de importação e exportação com
fantaria, governador e capitão-geral da ca- o Brasil, que, na época, se encontrava
pitania de S. Paulo (Documentos militares quase que exclusivamente dominado por
- 1755-1786; Governador e capitão-geral estrangeiros. Convém lembrar que, à data
da capitania de S. Paulo - 1774-1782); e a da criação da Companhia Geral do Grão-
Antônio Lobo de Saldanha de Melo de Vas- Pará e Maranhão, por alvará régio de 7
concelos, filho de Martim Lopes Lobo da de junho de 1755, era governador-geral
Silveira e seu ajudante de ordens em S. das capitanias do Grão-Pará e Maranhão

pag.l2,jan/jun 1997
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, quês de Pombal.
irmão do próprio marquês de Pombal.
As frotas das companhias transportavam
Quatro anos depois, por alvará régio de
de tudo para o Brasil, desde produtos
13 de agosto de 1759, surge a Compa-
manufaturados, ferramentas e utensílios
nhia Qeral de Pernambuco e Paraíba, ain-
até comestíveis, medicamentos e escravos.
da com mais privilégios que a sua ante-
cedente. Do Brasil, traziam as companhias açú-
car, café, cacau, especiarias, madeiras
As duas companhias tinham o monopólio
(sobretudo o pau-brasil), algodão,
exclusivo da navegação, comércio por
corantes, tabacos, atanados e ouro, ci-
grosso e escravatura com aquelas capi-
tando apenas os principais. Os navios das
tanias do Brasil durante vinte anos, a con-
companhias faziam escala em Lisboa,
tar da data da expedição da primeira fro-
Bissau, Cacheu, Cabo Verde, Mina, An-
ta. Havia, contudo, pequenas restrições,
g o l a , Pará, M a r a n h ã o , Pernambuco,
como o comércio das capitanias para os
Paraíba e ainda em outros portos do Bra-
portos do sertão, que era considerado li-
sil e nas ilhas de São Miguel e Santa Ma-
vre, e ainda o comércio dos vinhos e seus
ria nos Açores e na ilha da Madeira.
derivados concedido à Companhia Qeral
da Agricultura do Alto Douro, fundada em O resgate de escravos da costa da África
1756, também sob a proteção do mar- para as capitanias do Brasil era um dos

Arquivo Nacional /Torre do Tombo.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10. n° 1. p. 03-16. jan/jun 1997 - pag 13


A C E

negócios que mais atenção merecia, não mentais das Companhias do Qrão-Pará e
só das Juntas de Administração das Com- Maranhão e de Pernambuco e Paraíba,
panhias, como principalmente do gover- b e m c o m o os das respectivas J u n t a s
no. Mão esqueçamos que o resgate de Liquidatárias merecem uma análise e es-
escravos africanos j á havia sido tentado tudo aprofundados, que visem não só a
pelo governo português, quando o Con- relação Portugal/Colônia, mas t a m b é m o
selho Ultramarino, por provisão de 17 de próprio desenvolvimento local. Esta do-
j u n h o de 1752, autorizara os moradores cumentação fornece elementos não ape-
do Pará a constituírem uma companhia nas de caráter econômico, mas principal-
para esse f i m . O seu empreendimento, mente social, demográfico, político e cul-
m u i t o acarinhado pelo então governador tural. Desconhecemos qualquer trabalho
do Pará e Maranhão, Francisco Xavier de empreendido com este o b j e t i v o , t e n d o
M e n d o n ç a F u r t a d o , m a l o g r o u , pois a por base os referidos fundos. L e m b r a -
subscrição lançada para o efeito não atin- mos, a propósito, o excelente trabalho
giu verba suficiente para tão grande e m - do historiador brasileiro Manolo Garcia
preendimento. Florentino, que mereceu o Prêmio A r q u i -
vo nacional de Pesquisa 1993, intitulado
O interesse d o governo na escravatura
Em costas negras: uma história do tráfi-
africana era a obtenção de mão-de-obra
co Atlântico entre a África e o Rio de J a -
barata, a fim de atenuar os inconvenien-
neiro (séculos XVIII e XIX).
tes suscitados pela libertação dos índios
do Brasil e a expulsão dos jesuítas, que
O Tribunal do Santo Ofício 12 tem desper-
ocorrera em 1759. Pretendia-se, assim,
tado o maior interesse nos investigado-
o florescimento das referidas capitanias
res brasileiros, n o entanto, os estudos
sob o ponto de vista agrícola e industrial
sobre a Inquisição têm incidido, sobretu-
e, conseqüentemente, um maior desen-
do, nos processos a que foram s u b m e t i -
volvimento do comércio. De fato, vários
das milhares de pessoas, acusadas não
fatores contribuíram para a prosperida-
só de j u d a í s m o mas de diversos crimes,
de-e enriquecimento daquelas capitani-
desde a blasfêmia à heresia em todas as
as, às quais não foi alheio o intenso co-
suas versões, ou da feitiçaria à bigamia,
mércio impulsionado durante vinte anos
ao crime de sodomia e aos suspeitos de
pelas referidas companhias. A situação
ideais maçônicos. A numerosa d o c u m e n -
das capitanias era de tal modo florescente
tação p r o v e n i e n t e dos seus c a r t ó r i o s
que d. Maria I, por resolução de 5 de j a -
(1536-1821) encerra, naturalmente, d a -
neiro de 1778, declarou o seu comércio
dos indispensáveis para o conhecimento
livre e extinguiu o m o n o p ó l i o das c o m -
da instituição, das pessoas que a servi-
panhias.
ram, das suas vítimas ou de simples tes-
Pensamos, assim, que os fundos docu- temunhas, mas fornece t a m b é m informa-

pag.14.jan/jun 1997
ções do maior valor para a história de ais, de Ordens do Conselho Geral; Ca-
toda a época em que exerceu a sua ati- dernos do promotor; Cadernos de redu-
vidade. Conflitos sociais, dificuldades zidos; e no Conselho Geral, Correspon-
econômicas, censura, movimento marí- dência para a s Inquisições, Despachos
timo, a r q u i t e t u r a u r b a n a , toponímia, para as Inquisições, Diligências de ha-
integração de estrangeiros na sociedade bilitação para o serviço do Santo Ofício e
portuguesa, evolução das mentalidades os Cadernos das habilitações - aliás das
s ã o alguns dos t e m a s que podem ser comissões que se passavam aos comis-
e s t u d a d o s com o r e c u r s o à s f o n t e s sários do Ultramar para tomarem o com-
inquisitoriais. 13
Neste contexto, importa petente juramento aos habilitados pelo San-
a consulta de outras séries, além dos li- to Ofício nas suas próprias residências.
vros de Visitações e dos Processos. As- Aqui deixamos a sugestão aos historia-
sim, na Inquisição de Lisboa as séries de dores, a quem c o m p e t e , s e m dúvida,
Correspondência expedida e de Corres- d e s b r a v a r ' tão i m p o r t a n t e material
pondência recebida, de Ministros e ofici- arquivístico.

M O T A S
1. Todas estas séries e coleções dispõem de índices ou catálogos.
2. Ver As gavetas da Torre do Tombo, 12 vols.. Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramari-
nos, 1960-1977, com publicação integral dos documentos relativos aos Descobrimentos
Portugueses.
3. Ver o Inventário do núcleo Antigo, elaborado por Maria do Carmo Jasmins Dias Farinha e
Maria de Fátima Ramos, AMTT, 1996.
4. A cota antiga deste documento era 'Coleções de cópias', ft° 1, n° 6.
5. O núcleo dispõe de índices e de inventários parcelares, estando em fase de conclusão o
inventário geral.
6. Livros onde se registravam as provisões mais particulares e assentos com força de lei (Cf.
Mesa da Consciência e Ordens n° 305).
7. Mesa da Consciência e Ordens, liv 84, fl. 42v-43 e liv 85, fl. 7v-8v.
8. Mesa da Consciência e Ordens, Cativos, maços 10 e 11.
9. Foi recentemente concluído um inventário que, além da documentação que se encontrava na
Torre do Tombo (IDD L 382), inclui a proveniente do Arquivo Central das Secretarias de
Estado.
10. Estes livros estão descritos na caderneta 170, n°5 50 a 57.
11. Ver o inventário de autoria de Paulo Tremoceiro, Alfândegas de Lisboa, ANTT. 1995.
12. Além dos lDDs L 449; L 450 a 471A; L 478; L 539; C 973; 974 a 990; 1 0 7 8 l a 2 5 ; F6 a F 9, ver Os
arquivos da Inquisição, da autoria de Maria do Carmo Jasmins Dias Farinha. AMTT, 1990.
13. Ver Maria do Carmo Jasmins Dias Farinha, "A Madeira nos arquivos da Inquisição", em Atas do I
Colóquio Internacional de história da Madeira, Funchal, 1986.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 03-16, jan/jun 1997-pag.lS


A B S T R A C T
The ceiebrations of the 5th centenary of BraziTs discovery present a privileged opportunity to
deepen the understanding and friendship between those two countries and to emphasire the
importance of their common history.

Efforts have been made in order to systematize and give forth the documents of interest to the
history of both countries.

A brief survey of the documentary fonds of the IAN/TT, concerning the history of colonial Brazil
was made in this work.

In the article the author presents inedited or new working perspectives for two of those fonds
namely the Trade Companies of 'Grão Fará' and 'Maranhão' and of 'Pernambuco' and 'Paraíba'
and of the Court of the Holy Office.

Researchers are invited to 'grub up' such an important archival material.

R É S U M É
Les commémorations du 5ème centenaire de Ia découverte du Drésil représentent un moment
privilegie pour I' approfondissement de Ia connaissance et de 1' amitié entre les deux peuples et
à mettre en évidence I' importance de leur histoire commune.

Des efforts ont été développés dans le sens de systématiser et de faire connaitre les documents
qui intéressent à I' histoire des deux pays.

Dans ce travail on a procede à une breve reconnaissance des fonds de I' IAN/TT concernant
I* histoire du Brésil colonial.

On presente des perspectives de travail inedites ou nouveíles, pour deux de ces fonds, notammemt
les Compagnies de Commerce du 'Grão Pará' et 'Maranhão' et de 'Pernambuco' et 'Paraíba' et du
Tribunal du Saint Office.Les chercheurs sont invités à 'défricher' un si important matériel
archivistique.
Maria Luísa Meneses Abrantes
Diretora do Arquivo Histórico Ultramarino.

Fontes para a nisíória do


.Brasil colonial existentes no
A r q u i v o Histórico
U itramarino

e os arquivos sao or- que poderemos mesmo classi-


ganismos responsá- ficar de único, como fonte de
veis pelo patrimônio informação e pesquisa. Esse
documental das nações e acervo, embora conhecido pe-
constituem, por isso, a sua memória co- los investigadores que, ao longo de dé-
letiva, são também, pela natureza da do- cadas, em número sempre crescente re-
cumentação que conservam, a fonte in- correm ao AHU, pois o consideram ponto
dispensável de toda a investigação histó- de paragem obrigatória para as suas pes-
rica. Heste contexto, a documentação do quisas, necessita, contudo, ser mais e
Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) cons- melhor divulgado, não podemos esque-
titui uma fonte de importância extrema, cer que qualquer arquivo reserva sempre
não só para o estudo da história e cultura muitas surpresas. Há sempre documen-
ultramarinas portuguesas, como igual- tação para explorar, alguma conhecida,
mente para a história e cultura dos paí- mas não suficientemente e s t u d a d a , e
ses emergentes das regiões onde os por- muita até possivelmente inédita. Deste
tugueses se fixaram, desde o século XVI modo, nunca será demais dar a conhecer
até aos nossos dias. Para o estudo da his- um pouco da história deste organismo e
tória do Brasil colonial existe no AHU um da importância do seu patrimônio docu-
acervo documental de valor inestimável. mental, patrimônio esse sem o qual seria

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 17-28, jan/jun 1997 - pag.17


A C E

difícil, senão mesmo impossível, escrever- escolhido para o futuro Arquivo um palá-
se a história comum de Portugal e do Bra- cio, vulgarmente conhecido por Palácio da
sil ao longo de três séculos. Ega, situado na Junqueira, cuja história
remonta ao século XVI. Transferida a do-
S Í N T E S E HISTÓRICA cumentação, a criação do AHU tornou-se
A criação do AHU obedeceu à necessida- uma realidade pelo decreto-lei n° 19.868,
de de reunir, num só local, em boas con- de 9 de junho de 1931.
dições de conservação e segurança, toda
a documentação relativa à administração ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO

ultramarina portuguesa, que se encontra- O recheio documental do AHU foi consti-


va dispersa por vários organismos, de for- tuído a partir dos arquivos do Conselho
ma a que pudesse ser tratada tecnicamen- Ultramarino e da Secretaria de Estado da
te, para ser posta à disposição do públi- Marinha e Ultramar (cujo conjunto, com
co em geral e divulgada a informação nela alguma documentação dos Conselhos da
contida. Os primeiros passos para a sua índia. Fazenda e Guerra, Desembargo do
criação deram-se em 1926, sendo o local Paço, Casa da índia e Mesa da Consciên-

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t T *?

CTT

vila Nova da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, no Ceará. 1730.

pag.18.jan/jun 1997
R V O

cia e Ordens, formava o arquivo da Mari- (1608-1890); índia (1509-1843); Macau


nha e Ultramar), do arquivo do Ministério (1603-1843); Timor (1642-1843); Brasil
das Colônias, da documentação proveni- (1548-1837). Esta documentação encon-
ente de diversos organismos ligados à t r a - s e a t u a l m e n t e a c o n d i c i o n a d a em
administração ultramarina e alguma do- aproximadamente quatro mil caixas. Para
cumentação remetida pelos governos co- além dos documentos avulsos, este fun-
loniais. Todo este acervo foi dividido em do tem, também, cerca de 2.200 códices.
duas seções: a I a compreendia a docu- À 2 a seção ficou pertencendo toda a do-
mentação mais antiga, de meados do sé- cumentação posterior a 1833, produzida
a
culo XVI até 1833, enquanto a 2 com- e recebida por todos os organismos liga-
preendia a documentação posterior a 1833. dos à administração ultramarina portu-
guesa. Deste acervo o fundo mais antigo
Da I a seção, os documentos mais impor-
é o da Secretaria de Estado da Marinha e
tantes são, sem dúvida, os que constitu-
Ultramar, criada em 1736. Eram da sua
em o fundo do Conselho Ultramarino, or-
competência, a par naturalmente das atri-
ganismo criado por d. João IV para cen-
buições inerentes à Marinha, todos os
tralizar toda a administração ultramarina.
negócios respeitantes ao Ultramar. Com-
A esfera de ação deste Conselho era ne-
petia-lhe a administração da Justiça, Fa-
cessariamente vasta, pois, segundo o tex-
zenda Real, Comércio, governo dos Do-
to do seu regimento, competiam-lhe to-
mínios Ultramarinos e negócios das Mis-
dos os assuntos de qualquer qualidade re-
sões. Igualmente lhe competiam a s no-
ferentes à índia, Brasil, Guiné, São Tome,
meações dos vice-reis, governadores, ca-
Cabo Verde, restantes partes ultramarinas
pitães-generais e de todos os cargos ci-
e lugares de África; a administração da
vis e militares do ultramar. Esta Secreta-
Fazenda de todos os domínios ultramari-
ria de Estado coexistiu com o Conselho
nos; o provimento de todos os cargos de
Ultramarino, de 1736 até 1833. Para esse
Justiça, Guerra e Fazenda; a consulta de
período, a documentação da Secretaria
todas as naus e navios a enviar para o
encontra-se integrada no fundo do Con-
ultramar.
selho Ultramarino. É por essa razão que
A documentação avulsa deste fundo foi o marco de divisão das duas seções do
organizada segundo critérios geográficos AHU é a data da extinção do Conselho Ul-
e cronológicos, criando-se assim as se- tramarino, em 1833, pois é só a partir daí
guintes séries: Reino (1601-1834); Madei- que a documentação da Secretaria de
ra (1513-1835); Açores (1607-1839); Lu- Estado da Marinha e Ultramar se encon-
gares de África-Marrocos e Argel (1596- tra separada, constituindo um único fun-
1832); Cabo Verde (1602-1837); Guiné do. A evolução desta Secretaria de Esta-
(1614-1837); São Tome e Príncipe (1538- do, na sua parte ultramarina, irá dar ori-
1834); Angola (1602-1891); Moçambique gem ao Ministério das Colônias, depois

Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 17-28.jan/jun 1997 - pag.19


A C E

denominado do Ultramar, cujo fundo tam- mentais tais como Consultas; Cartas; Ins-
bém se encontra no AHU. truções; Decretos; Tratados e Limites;
Compromissos de Irmandades; Regimen-
IMPORTÂNCIA DO PATRIMÔNIO
tos; Sesmarias; Ofícios etc. Dentre estes
DOCUMENTAL DO A H U PARA O
códices alguns merecem especial desta-
CONHECIMENTO E ESTUDO DA HISTÓRIA
que como, por exemplo, a História dos
DO BRASIL
animais e árvores do Maranhão, os Autos
no AHU são conservados, como já foi re- de estabelecimento de vilas; os Diários de
ferido, os fundos documentais produzidos v i a g e n s ; as Memórias s o b r e m i n a s e
pela instituições que, ao longo de sécu- nitrateiras. Dentre os regimentos, não
los, centralizaram e regularam a adminis- poderíamos deixar de mencionar, pela sua
tração ultramarina portuguesa. O acervo importância, o de Tome de Sousa, pri-
documental respeitante ao Brasil faz par- meiro governador do Brasil, datado de
te dos fundos do Conselho Ultramarino e 1548.
da Secretaria de Estado da Marinha e Ul-
Bastaria a simples enumeração das séri-
tramar, tendo como datas limites os sé-
es documentais sobre o Brasil para se
culos XVI e XIX. A documentação avulsa
avaliar a importância deste patrimônio. No
está instalada em cerca de duas mil cai-
e n t a n t o , só um c o n h e c i m e n t o mais
xas, divididas pelas seguintes séries do-
aprofundado nos dará a medida exata da
cumentais: Brasil-Alagoas; Brasil-Ceará;
sua riqueza e variedade. Tratando-se de
Brasil-Espírito Santo; Brasil-Qoiás; Brasii-
documentação de caráter administrativo,
Maranhão; Brasil-Mato Grosso; Brasil-Mi-
pois resulta essencialmente da troca de
nas Gerais; Brasil-Nova Colônia do Sacra-
correspondências entre a s autoridades
mento; Brasil-Pará; Brasil-Paraíba; Brasil-
locais e o poder central na metrópole, ela
Pernambuco; Brasil-Piauí; Brasil-Rio de
reflete, de um modo geral, a evolução
Janeiro; Brasil-Rio Grande do Norte; Bra-
política e administrativa dos vários gover-
sil-Rio Grande do Sul; Brasil-Rio Negro;
nos. Pelas leis, regimentos, instruções,
Brasil-Santa Catarina; Brasil-São Paulo;
correspondência em geral, informações,
Brasil-Sergipe d'EI Rei. Existem também
relatórios e consultas, se conhecem as
as seguintes séries temáticas: Brasil-Con-
diretrizes referentes à administração ao
tratos do Sal e Brasil-Limites.
longo de três séculos. Colonização e po-
Para além da documentação avulsa, há voamento; construção de grandes obras
t a m b é m , e a p e n a s relativos ao Brasil, públicas; exploração de minas e outros
mais de quatrocentos códices, e muitos recursos naturais; relações comerciais;
outros que são comuns ao Brasil e às de- explorações marítimas e terrestres; mis-
mais p o s s e s s õ e s u l t r a m a r i n a s . Estão sões científicas; explorações agrícolas;
igualmente integrados em séries docu- transportes e comunicações; defesa; en-

pag.20,jan/jun 1997
R V O

sino e evangelização; relações rigor cartográfico; plantas de


fronteiriças, pacíficas ou de guerra; rela- variadíssimas regiões, de cidades, vilas,
ções diplomáticas; assimilação de comu- aldeamentos de índios; edifícios civis,
nidades; exploração industrial; tráfico de militares e religiosos, de grande porme-
escravos; delimitação de fronteiras etc. A nor e exatidão; mapas de demarcações
própria vida local, os usos, costumes e diamantinas, minas de ouro e prata, sali-
tradições se vêem refletidos nesta docu- nas; itinerários de rios, e muitas outras
mentação. espécies de grande interesse. A par da
Porém, a riqueza do patrimônio do AHU cartografia, a coleção iconográfica é tam-
sobre o Brasil não se esgota com a docu- bém extremamente variada: personagens
mentação avulsa nem com os códices. São várias com trajes da época; espécies de
também particularmente importantes e fauna e flora; habitações; modelos de ar-
valiosas as c o l e ç õ e s de cartografia e mamento e figurinos militares; embarca-
iconografia, como fonte de informação e ções; aspectos de várias ocupações coti-
pesquisa histórica e artística, tais como dianas como a lavagem do ouro e diaman-
mapas da costa do Brasil, de um notável tes, a fabricação do anil, a colheita do

Mapa do Rio de Janeiro, 1698.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 17-28, jan/jun 1997 - pag.21


café, a caça, a prensa do tabaco, os en- Brasil-Rio de Janeiro são, sem dúvida, as
genhos de açúcar, entim, uma fonte ines- séries que registram um maior número
gotável de informação. de pedidos, totalizando, respectivamen-
te, 6.047 e 9.997 (Gráfico 6). Em segui-
A importância do patrirnônio documental
da, a partir de um universo de pedidos
sobre o Brasil existente no AHU revela-se
de quatrocentos pesquisadores, fez-se
também através dos próprios pesquisa-
dores e das pesquisas realizadas. Pelo uma amostragem por temas de estudo, o

recolhimento de d a d o s referentes aos que nos deu um leque variadíssimo de

pedidos feitos entre 1990 e 1996, chega- opções que vão desde a arquitetura às

mos a conclusões extremamente interes- viagens marítimas (Gráfico 7). Os quadros


santes. Em primeiro lugar, e para esta- e números apresentados parecem-nos ser
belecer um termo de comparação, fez-se suficientemente elucidativos do interes-
o levantamento do total de pesquisado- se que desperta a documentação do AHU
res no AHU, e daqueles que consultaram para todos aqueles que procuram conhe-
documentação referente ao Brasil, res- cer e estudar a história do Brasil colonial.
pectivamente, 18.418 e 4.418 (Gráficos 1
DESAFIOS GUE SE APRESENTAM AO AHU
e 2). Analisemos agora apenas os pesqui-
sadores que consultaram documentação O AHU encontra-se numa era de mudan-
sobre o Brasil. Mas presenças por nacio- ça. Empreendeu um amplo processo de
nalidade, verificamos que as dos pesqui- modernização e por isso vários desafios
sadores brasileiros são superiores a to- se lhe apresentam, qual deles o mais ali-
das as outras em conjunto, incluindo os ciante. Destacaremos, entre outros, pela
pesquisadores portugueses; ou seja, bra- sua importância, a construção do novo
sileiros, 2. 214, outros, 2.204 (Gráfico 3). edifício, que lhe permite incorporar toda
Estes pesquisadores distribuem-se por a documentação que ainda se encontra
variadíssimas atividades, desde o advo- fora d a s s u a s i n s t a l a ç õ e s ; a formati-
gado ao militar, sendo majoritária a ativi- zação global do Arquivo; e a concretização
dade de professor, que registra 2.004 pre- de um projeto antigo e muito ambiciona-
senças (Gráfico 4). Fez-se igualmente o d o por b r a s i l e i r o s e p o r t u g u e s e s , a
levantamento da documentação consulta- microfilmagem da documentação
da, traduzida em números de caixas e do Brasil.
maços de documentos avulsos, códices,
Desde há muitos anos que o edifício onde
documentos catalogados e espécies
se encontra instalado o AHU se tornou
cartográficas e iconográficas (Gráfico 5).
manifestamente exíguo perante a neces-
Desta documentação, é também interes-
sidade de incorporar cada vez mais acer-
sante analisar quais as séries mais con-
vos. Com a extinção do Ministério do Ul-
sultadas, verificando-se que Brasil-Pará e
tramar, o AHU viu-se confrontado com a

pag.22,jan/jun 1997
Gráficos

Gráfico 1 - Presença total de leitores

3249

3056 3045

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Gráfico 2 - Presenças de investigadores que consultaram documentação do Brasil (1990-1996)

El Feminino
• Masculino

600

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 17-28. jan/jun 1997 - pag.23


Gráfico 3 - Presenças na sala de leitura por nacionalidade (1990-1996)

1 201

r-ir-%
i i I II i i
I1 I
Grafico 4 • Presenças na sala de leitura por profissão (1990-1996)

1400

1200

800

400

200
1 1U1

Zl
14 I 1 I
^L. 1 a
! i a i
unir* II
pag.24,jan/}un 1997
R V O

Gráfico 6 - Séries consultadas (1990-1996)

10000

9000

8000

7000
6047
6000

5000

4000

3000
1990
1599
2000
896 915 659
1000 - 13 41B

Ir,
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Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 17-28, jan/jun 1997 - pag.25


A C E

necessidade de receber aproximadamen- subterrâneo. Nelas funcionam os vários


te 150 toneladas de documentos, não ten- serviços técnicos, como a Oficina de Res-
do, por absoluta falta de espaço, qualquer tauro e os Gabinetes de Reprografia e Car-
possibilidade de fazê-lo. Para ultrapassar tografia. A área restante foi dividida em
esta dificuldade, a solução temporária foi nove depósitos, dois dos quais destina-
instalar a documentação n u m depósito dos à documentação audiovisual. No novo
provisório, fora das instalações do Arqui- edifício ficou igualmente instalada a Casa
vo, não se podia, p o r é m , continuar adi- Forte. Concluído o edifício e equipado de-
ando a solução d e f i n i t i v a , que seria a vidamente, encontram-se agora reunidas
construção de um novo edifício, capaz de as condições necessárias para incorporar,
responder a todas as necessidades. As- tratar tecnicamente e acondicionar toda
s i m , conservando-se o velho, mas digno a documentação. Trata-se de u m projeto
edifício do AHU, construiu-se numa das ambicioso, mas de uma importância ex-
alas do palácio, um novo edifício que, no trema, uma vez que, com esta incorpo-
entanto, manteve exteriormente o traça- ração, se fecha o ciclo do acervo da a d -
do original. As novas instalações distri- ministração colonial portuguesa. O AHU
buem-se por quatro pisos, um dos quais poderá redimensionar todo o espaço dis-

pag.26.jan/jun 1997
i V o

ponível, pois, a não ser através de doa- a permuta de informações. Projeto ambi-
ções ou aquisições esporádicas, não re- cioso, sucessivamente adiado, mas que
ceberá mais documentação. agora, em virtude do protocolo de cola-
Para gerir e tratar convenientemente to- boração na área dos arquivos, assinado
dos os seus fundos, teve o AHU de recor- em agosto de 1995 entre o Ministério da
rer à informatização. Este processo, ini- Justiça da República Federativa do Brasil
ciado em 1993, teve alguns acidentes de e a Presidência do Conselho de Ministros
percurso mas, neste momento, estamos da República Portuguesa, se tornou uma
em condições de afirmar que já nada o realidade. Como conseqüência deste pro-
fará parar. A informatização do AHU acon- tocolo, com o Projeto 'Resgate' iniciou-se
tecerá em vários planos. Atualmente pro- no AHU a microfilmagem da documenta-
cede-se à alimentação das bases de da- ção. A primeira série microfilmada foi a
dos, textual e de imagem, tendo em vista do Brasil-Minas Gerais, num total de 189
a e l a b o r a ç ã o do roteiro. Futuramente caixas, que se encontra já na fase Final do
avançaremos para um segundo plano que trabalho. Entretanto, d e u - s e início à
consistirá na disponibilização, na Sala de microfilmagem de todos os códices, e se-
Leitura, de toda esta informação, com ter- guir-se-ão todas as outras séries à medi-
minais que permitam a consulta de texto da que forem devidamente organizadas,
e i m a g e m . Paralelamente decorrerá a quer a nível de inventário, quer a nível de
informatização da gestão da Sala de Lei- catálogo. O tratamento arquivístico da do-
tura. Está igualmente previsto um plano cumentação está sendo executado por
de edições eletrônicas das fontes docu- grupos de trabalho constituídos por por-
mentais e instrumentos de descrição. tugueses e brasileiros, sob a coordena-
Quanto à microfilmagem da documenta- ção de técnicos do AHU, numa conjuga-
ção do Brasil existente no AHU, é já neste ção comum de esforços, de forma a con-
momento uma realidade. É do conheci- seguir o objetivo desejado, isto é, a con-
mento geral a importância da clusão do Projeto até o ano 2000. Espe-
microfilmagem, não só como meio de pre- ramos em breve poder atuar da mesma
s e r v a ç ã o do p a t r i m ô n i o d o c u m e n t a l , forma nos arquivos e bibliotecas brasilei-
como também por constituir um instru- ros, pois sabemos quanta e tão importan-
mento de fácil acesso à informação. Des- te documentação aí se encontra deposi-
de há muito que se vinha sentindo a ne- tada. Mão podemos esquecer que os ar-
cessidade de se proceder à quivos do governo central na metrópole
microfilmagem sistemática de toda a do- e os arquivos locais são estreitamente
cumentação de interesse comum existen- complementares, e todos são indispensá-
te nos arquivos e bibliotecas portugueses veis para o estudo da história comum dos
e brasileiros, no sentido de se promover dois países.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10. n° 1. p. 17-28. jan/jun 1997 - pag.27


A C E

A B S T R A C T
This article's aim is to present the Overseas Mistorical Archives (AHU) a s an indispensable
documentary repository for studying Portuguese overseas history and culture as well as those of
countries emerging from wherever the Portuguese have settled. A perspective of its documentary
funds and collections presents the AHL) as a cultural institution with an unmatchable importance
for the study of colonial Brazils historical sources.

R E S U M E
Cette étude a pour but p r e s e n t e r l'Archive Historique d'Outre-mer (AHU) c o m m e un d é p ô t
documentaire indispensable pour 1'étude de 1'histoire et culture portugaises d'outre-mer, aussi
bien que celles des nations issues des régions ou les portugais se sont établis. Une perspective de
ces fonds et collections documentaires fait ressortir l'AHU comme une institution culturelle
d'importance unique pour I' étude des sources d'histoire du Brésil colonial.
Maria Adelaide Meireles
Bibliotecária responsável pela Seção de Reservados da Biblioteca Mucipal do Porto. Licenciada
em História.
Luís Cabral
Diretor da Biblioteca Municipal do Porto. Licenciado em Filologia Românica.

JOociimeiitos relativos ao
.Brasil existentes 11a Joilblioteca
JPúolica iMliiiiicipal Ao JForto

A Real Biblioteca Pública Mu-


nicipal do Porto foi funda-
da - decorria ainda o Cer-
co do Porto - em 9 de julho de 1833
tório que precede o decreto de julho
de 1833, bem elucidativo das finali-
dades culturais que se pretendiam
para a Biblioteca, diz em certo mo-
mento:
(primeiro aniversário da entrada do
Exército Libertador na cidade), por decre- A ignorância é a inimiga mais irrecon-
to de dom Pedro, duque de Bragança, re- ciliável da liberdade; e se a missão de
gente em nome de sua filha, a rainha d. um governo é satisfazer as necessida-
Maria 0. A criação deste estabelecimento des da sociedade, o seu primeiro dever
veio dar resposta a importantes necessi- é sem dúvida preparar, e dar aos seus
dades culturais da cidade, que de há mui- administrados, a instrução necessária
to se faziam sentir e que eram, anterior- para desenvolverem a sua inteligência,
mente, preenchidas pelo franqueamento como justa garantia dos direitos, que
ao público de algumas bibliotecas priva- lhes confere, e como compensação de-
das. Dentre estas são de destacar, além vida das obrigações, que lhes impõe
das 'livrarias' de alguns conventos - con- [...]. Entre estes meios, um dos mais
gregados, lóios, beneditinos, grilos - as eficazes, sem dúvida, é o de estabele-
do bispo dom João de Magalhães e Avelar cer depósitos de todos os conhecimen-
e a do 2 o visconde de Balsemão. O rela- tos humanos, aonde os cidadãos pos-

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10. n° 1. p. 29-46. jan/jun 1997 - pag.29


A C E

sam vir livremente consultar as fontes çalves de Miranda, a adequada solução


da ciência, ou estancar a sede louvável finalmente encontrada. Este mesmo mo-
da instrução [...]• numento foi, simultaneamente, destina-
O estabelecimento de uma biblioteca, do ao Museu Portuense e à Academia de
propriedade da cidade, correspondeu, Belas-Artes. As obras mínimas indispen-
assim, ao ideário do regime liberal e, ao sáveis para a d a p t a ç ã o das instalações
mesmo tempo, contribuiu para resolver decorreram durante os primeiros nove
um problema patrimonial grave, que nes- anos de existência da Biblioteca. Embora
se momento histórico surgira, e que con- criada à custa do Estado, a Biblioteca tor-
sistia na elevada quantidade de bibliote- nou-se, desde o início, propriedade da
cas de casas religiosas consideradas 'ex- cidade, sob a administração da Câmara
t i n t a s ou a b a n d o n a d a s ' (do Porto: Municipal e com direito a receber o que
Oratório, Lóios, São Francisco, São Ben- hoje se designa por depósito legal'. Só
to da Vitória, Carmelitas e t c ; de fora da mais tarde, por carta de lei de dom Luís,
cidade: Santa Cruz de Coimbra, Tibães, datada de 27 de janeiro de 1876, ficou
Paço de Sousa, Santo Tirso, Vila do Con- determinado que a Biblioteca seria, para
de, Vila da Feira etc.)- Estas 'livrarias' fo- todos os efeitos, considerada estabeleci-
ram, no todo ou em parte, incorporadas mento municipal.
à Biblioteca Pública do Porto, juntamente Foi aberta oficial e definitivamente ao
com algumas bibliotecas seqüestradas a público em 4 de abril de 1842, dia do
particulares ditos traidores' à causa libe- aniversário da rainha d. Maria II, tendo-
ral (o bispo do Porto, dom João de Maga- se procedido, a 8 de d e z e m b r o d e s s e
lhães e Avelar, o visconde de Balsemão, mesmo ano, à inauguração do retrato do
Alexandre Qarrett - irmão do escritor fundador, primeiro imperador do Brasil,
Almeida Qarrett -, Aires Pinto de Sousa da autoria do pintor João Batista Ribeiro,
e t c ) . Os fundos iniciais foram reunidos e que ainda hoje se encontra em lugar de
em diversos depósitos dispersos pela ci- destaque na sala de leitura geral.
dade, tendo a Real Biblioteca Pública do
Do ponto de vista qualitativo, as coleções
Porto estado instalada, sucessivamente,
de manuscritos da Biblioteca Pública Mu-
no Hospício de Santo Antônio de Vale da
nicipal do Porto são consideradas muito
Piedade, em parte do Paço Episcopal e,
valiosas, destacando-se as que se referem
desde 1842, no edifício do Convento de
ao Brasil.
Santo Antônio da Cidade, em São Lázaro,
abandonado' pelos frades franciscanos da Note-se que a reunião deste conjunto foi
província da Conceição. A instalação de- fruto de condicionalismos vários e, por
finitiva no atual edifício não ocorreu sem isso, não se pode esperar a existência de
discussão, ficando a dever-se em muito um fundo sistemático e abundante. Em-
ao então prefeito do Douro, Manuel Gon- bora repercutindo, naturalmente, as vicis-

pag.30,jan/jun 1997
R V O

situdes da história, sobretudo a junção to de Sousa Coutinho, 2 o visconde de


casual de espécies de proveniências tão Balsemão (que deteve os cargos de guar-
diferentes como instituições religiosas e da-mor da Torre do Tombo, inspetor da
bibliotecas de particulares, o núcleo de Agricultura do Reino e que foi sócio efeti-
documentação relativo ao Brasil foi, no vo da Academia Real das Ciências). A sua
entanto, em grande parte, originariamen- biblioteca deve-se, em parte, a seu pai, o
te reunido em duas bibliotecas particula- I o visconde de Balsemão, Luís Pinto de
res, cujos proprietários estiveram, de al- Sousa Coutinho, tenente-coronel de arti-
gum modo, ligados ao país. A primeira a lharia e capitão-geral de Cuiabá e Mato
salientar é a de Luís Máximo Alfredo Pin- Grosso, cargo de que tomou posse em

Frontlspício do códice Razão do Estado do Brasil.

Acervo. Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 29-46, jan/jun 1997-pag.31


A C E

1769 e que deteve até 1772. A segunda que totaliza 278 códices - destacam-se,
p e r t e n c e u a Sílvio M o n d â n i o , n o m e entre os que se referem ao Brasil, os
arcádico de Manuel Francisco da Silva e códices relativos à história, geografia,
Veiga Magro de Moura que, depois de ter zoologia e botânica, viagens de explora-
exercido o cargo de desembargador na ção e demarcação do território, assuntos
cidade do Rio de Janeiro, onde se encon- militares, economia, minas etc. Lembra-
trava em 1766, veio para a Relação do mos alguns títulos:
Porto, sendo aí chanceler até 1809, ano
Razão do Estado do Brasil - Ca . 1616 -
em que foi assassinado no meio dos tu-
Ms. 126.
multos que precederam a entrada do exér-
cito de Soult na cidade, durante a segun- Trata-se da mais antiga cópia, entre as
da Invasão Francesa. cinco conhecidas, de um original que se
tem como perdido, cuja autoria do texto
Na sua maioria, os códices de que aqui
é atribuída a Diogo de Campos Moreno
se trata são cópias. Algumas delas reves-
(sargento-mor no Brasil em inícios de
tem-se, no entanto, de assinalável impor-
seiscentos), e a dos mapas a João Teixeira
tância, quer devido à inexistência dos res-
Albernaz I.
pectivos originais, quer por poderem ser
complemento de outras versões manus- Sobre a importância deste manuscrito são
critas. Os seus limites temporais situam- bem elucidativas as palavras do coman-
se entre os séculos XVII e XIX, com parti- dante Teixeira da Mota nos Portugailiae
cular incidência no século XVIII. monumenta cartographica:

Dos manuscritos da Coleção Balsemão - Depois de perdido o atlas d o Brasil de

Tamanduá. Desenho do arquiteto Antônio José Landi

pag 32,jan/jun 1997


R V O

Luís Teixeira, ainda do séc. XVI, e de missão incumbida da delimitação das


que apenas uma parte se contém no fronteiras, tendo exercido atividade como
roteiro-atlas da Ajuda, as cartas do desenhista, arquiteto e naturalista. Um
códice portuense constituem o mais outro códice (Ms. 542) da biblioteca
antigo atlas especial, hoje conhecido, portuense diz bem dessa última ocupa-
de um território americano, o que lhe ção. Trata-se de uma cópia, que parece
confere especial significado na história incompleta e que tem por título:
da cartografia. Realça, ainda, o fato na Descrizione di varie piante fruti, animali.
circunstância de o mais antigo atlas passeri, pesei, biscie, rasine, altre simili
especial desse tipo, relativo a territóri- cose che si ritrováno in questa cappitania
os ultramarinos portugueses, dizer pre- dei Gran Para, li qualli tutte Antônio Landi
cisamente respeito ao Brasil, o que dedica a sua Exlca. il sigr. Luiggi Pinto
mostra a importância crescente deste, de Souza Cavaglieri di Malta, e
dentro do agregado lusitano, em come- governatore dei Matto Grosso ... Embora
ços do séc. XV11. ' habitualmente se associe este texto (Ms.
542) aos desenhos (Ms. 1.200), a verdade
Uma das outras cópias, sob o título de
é que a organização de um e de outro di-
Livro que dá razão do Estado do Brasil,
ferem bastante.
pertence ao Instituto Histórico e Geográ-
fico Brasileiro. Embora a sua data seja Diálogos geográficos, cronológicos, po-
cerca de dez anos posterior à do nosso líticos e naturais... - Ms. 235.
manuscrito, as cartas têm expressa a au-
Autógrafo de José Barbosa de Sá, escrito
toria do célebre cosmógrafo e cartografo
em Vila Real do Senhor Jesus de Cuiabá
português, cuja obra se encontra larga-
em 1769, dedicado ao governador de
m e n t e i n v e n t a r i a d a nos Portugalliae Mato Grosso e Cuiabá, Luís Pinto de Sousa
monumenta cartographica. Sob o mesmo Coutinho. O escritor, que já se encontra-
título existe uma outra cópia na Bibliote- va no Brasil em 1723, como ele próprio
ca do Porto - (Ms. 819) -, esta do século refere neste manuscrito, fez parte de ex-
XIX, que não contém os mapas, mas tão- p e d i ç õ e s de b a n d e i r a n t e s a r e g i õ e s
somente as legendas. auríferas e foi encarregado de proceder
Desenhos de história natural - finais do ao reconhecimento de terras e das mis-
séc. XVlll - Ms. 1200. sões dos jesuítas espanhóis. Em 1771
escreveu, também em Vila Real de Cuiabá,
Inclui 68 folhas de desenhos aquarelados
a tradução métrica dos salmos de Davi,
com legendas que foram, há anos, atri-
que igualmente ofereceu ao visconde de
buídas ao punho do arquiteto Antônio
Balsemão (Ms. 147).
José Landi. 1 O autor, contratado por dom
João V, foi para o Brasil juntamente com Da Coleção Balsemão lembre-se, ainda,
outros especialistas, integrando uma co- um conjunto de seis manuscritos da au-

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10. n° 1, p. 29-46.jan/jun 1997 - pag.33


A C E

toria de Domingos Alves Branco de Muniz natural", o autor diz do método utilizado
Barreto. Natural da Bahia, Muniz Barreto para a estampagem das plantas e ervas
foi capitão de infantaria do Regimento de com a imprensa do meu uso, porque
Estremoz, nos finais do séc. XVIII e iníci- além de não diferir cousa alguma de
os do XIX. Deixou várias obras impressas quanto em si contêm os mesmos vege-
e algumas manuscritas relativas ao Brasil tais, se lhe dá depois a sua natural cor,
e, principalmente, à sua cidade natal. de um modo particular que também
C o n h e c e m - s e publicadas compilações para isso sigo, a qual fica sempre con-
legislativas, de caráter militar e civil, e servada com a espécie de verniz de que
uma obra sobre a abolição da escravatu- uso por cima depois de os figurar, não
ra. Cita-se, em primeiro lugar: Descrição aprovando de modo algum as estam-
de uma diminuta parte da comarca dos pas de fumo, que enquanto a mim fa-
Ilhéus da capitania da Bahia - finais do zem aumentar depois a reflexão e o tra-
séc. XVIII ou inícios do XIX - Ms. 688. balho, quando por elas se pretende fa-
Trata-se de uma relação enviada à Aca- zer algum exame ou combinação.
demia Real das Ciências de Lisboa, com A este propósito, referira-se já o autor,
descrições concernentes à comarca de na citada Descrição da comarca dos Ilhé-
Ilhéus, por onde o autor viajou. Diz Muniz us, ao tratar da iiha de Quiepe, nos se-
Barreto, em dado momento, que a me- guintes termos:
mória vai acompanhada de estampas de For não achar nesta mesma ilha casa
ervas e raízes notáveis ali encontradas. a l g u m a , m a n d e i formar pelos índios
Pois existe, igualmente na Biblioteca do
uma pequena palhoça [...] para poder
Porto, um volume que, além de um pe-
queno texto sobre o modo de conhecer
as plantas e de apanhá-las, contém tam-
bém desenhos de várias ervas medicinais,
à tinta da china e aquarela, cobertos por
uma espécie de verniz. Tem por título:
Regras pelas quais se devem estampar as
ervas medicinais, e fazer recolher as suas
ramas e raízes em tempos próprios ... -
finais do séc. XVIII ou inícios do XIX - Ms.
436.

Neste manuscrito que, como vimos, é um


apêndice da Descrição da comarca de
Ilhéus, em que Muniz Barreto se decla-
rou "estrangeiro na ciência da história

pag.34,jan/jun 1997
R V o

estampar as ervas, que por eles me fos- do séc. XVIII ou inícios do XIX- Ms. 1123.
sem apresentadas, que sáo as que cons- Está dividido em sete demonstrações.
tam da primeira relação até n° 28, com Mo fim da quinta demonstração, o autor
as virtudes que por largas experiências diz que se lhe segue um discurso, em
sáo conhecidas dos mesmos índios [...]. separado, sobre os abusos cometidos na
Para melhor me persuadir do que afirma- administração da Justiça e governo da
ram, depois que estampei os mesmos ve- capitania da Bahia. Este discurso está
getais, mandei diferentes vezes por dois copiado num outro códice, com a de-
índios, que nenhuma inteligência tinham signação: Apêndice que se promete na
desta matéria, procurar de mistura entre quinta demonstração do discurso for-
outras ervas aquelas, ou aquela, que me mado sobre a premeditada conjuração
parecia, para o que lhe dava a estampa, de alguns réus moradores na capitania
e com efeito consegui, que por ela me de Minas... - finais do séc. XVIII ou iní-
trouxessem o mesmo que lhe pedia [...]. cios do XIX - Ms. 1054.

Do capitão de infantaria do Regimento de Um outro escrito - um pequeno discur-


Estremoz são, ainda, os seguintes textos: so proferido em 1791, com conselhos
Observações que mostram não só o crime dirigidos aos índios, em que há uma crí-
de rebelião, que temerária e tica à forma como eles viviam, à relaxa-
sacrilegamente intentaram alguns morado- ção dos seus costumes e também à má
res da capitania de Minas, no Brasil, mas a administração por parte dos portugue-
legítima posse, que têm os senhores reis ses - intitula-se: Oração que foi repeti-
de Portugal, daquelas conquistas - finais da por Domingos Alves Branco Muniz

Vista da cidade da Bahia, incluída na obra Observações sobre a fortlficação d, cidade da Bahia

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 29-46, jan/jun 1997 - pag.35


A C e

Barreto, na presença do povo indiano da Balsemão: Instruções dos reparos da ar-


aldeia de São Fidélis, da capitania da tilharia e suas rodas patescas por regras
Bahia, depois da missa que mandou ce- gerais que oferece ao limo. e Exmo. sr.
lebrar pelo reverendo vigário o padre Luís Pinto de Sousa Coutinho, governa-
Antônio nogueira dos Santos, na coloca- dor e capitão-general desta capitania, o
ção que se fez da imagem do Santíssimo seu menor criado, Joaquim Lopes
Coração de Jesus no altar-mor da Igreja Pompino - séc. XVIII - Ms. 806.
Matriz - finais do séc. XVIII ou inícios do A Biblioteca Pública Municipal do Porto
XIX - Ms. 1052. possui uma importante coleção de plan-
À forma como o Brasil fora até então ad- tas e mapas antigos, uns manuscritos,
ministrado alude o mesmo autor na obra: outros impressos. Dos manuscritos uma
Observações sobre a fortificação da ci- parte pertenceu aos viscondes de
dade da Bahia e governo do Arsenal, pela Balsemão, sendo a maioria destas peças
Intendência da Marinha e Armazéns Re- referentes ao Brasil.
ais, ordenadas por Domingos Alves Bran- Dentre a variedade de l e v a n t a m e n t o s
co Muniz Barreto... - Ms. 686. cartográficos - uns de natureza diplomá-
São dele as seguintes palavras: "Sendo tica, outros com fins militares, uns regio-
vastíssimos os domínios que a nação por- nais, outros locais, outros hidrográficos,
tuguesa possui no Brasil, não só se tem alguns de grande escala -, destacam-se:
abusado inteiramente da riqueza que li- Mapa de uma parte da América Meridio-
beralmente lhe oferece, mas que pouco nal, pertencente à divisão pelo público
ou nada se tem cuidado em segurá-la, na tratado de limites entre as duas Coroas
defesa dos portos, que igualmente per- de Portugal e Espanha: demonstra a
mitem uma navegação sem limite". Pas- demarção [sic] primeira de Castilhos
sa, em seguida, a referir a Bahia e sua Grande, até ao posto de Santa Tecla, e o
enseada - da qual inclui uma vista com a país por que há passado a Armada dei
inscrição: "Demonstração da cidade de rei F, tudo configurado pelas ajustadas
São Salvador, Bahia de Todos os Santos e observações da prancheta; como também
das fortalezas que defendem a sua mari- o que há atalhado o exército de S.M.C. e
nha ..."-, faz um pequeno histórico dessa o que se fecha entre o rio Uruguai e mis-
cidade e não deixa de falar acerca da "im- sões pertencentes à sobredita demarca-
prudência dos portugueses", que acom- ção, o que se pôs com as referidas notí-
panharam o seu primeiro donatário "em cias de práticos, e vaqueanos, assim por-
maltratarem, como não deveram, os ín- tugueses como espanhóis, aos quais sen-
dios [...]". do mostrado, uniformes afirmaram estar
De temática militar, cita-se um outro ma- conforme com o que eles sabem do refe-
nuscrito que pertenceu ao visconde de rido país que o tem pisado. Demonstra

pag.36,jan/jun 1997
R V O

igualmente o grande como inútil traba- geiros e da Guerra:


lho que sofreria a Armada de S.M.F., sa-
Planta particular da ilha de Santa
indo do Rio Qrande aonde ao presente se
Catarina, situada na latitude meridional
acha, e marchasse por Chuí e Serro de
27 graus e 40 minutos, e na longitude 337
llhecas a unir-se às tropas de S.M.C. que
graus e 13 minutos, com a configuração
saíram de Montevidéu, a fim de marcha- da costa da terra firme, que decorre da
rem juntas a Santa Tecla ultimamente se ponta do Taquaraçutá, até à ponte de
mostra ser, incoveniente [sic] o fazer-se Imbaú, pertencente a esta mesma capi-
em o Passo de Chileno a junção dos dois tania... aprovada pelo limo. e Exmo. sr
exércitos... mandado desenhar novamen- Luís de Vasconcelos e Sousa sendo vice-
te pelo limo. e Exmo. sr. Luís Pinto de rei do Estado do Brasil, e projetada pelo
Sousa Coutinho, governador e capitão- governador interino, o sargento-mor de
general das capitanias de Mato Grosso e artilharia José Pereira Pinto, por quem
Cuiabá, por José Matias de Oliveira Rego, também é oferecida esta planta ao limo.
sargento-mor de infantaria com exercí- e Exmo. sr. Luís Pinto de Sousa
cio de engenheiro, em o ano de 1769. - Coutinho... - C-M Se A-Pasta24 [68];
C-M fie A-Pasta 19 [38].
Mapa de uma parte da ilha de Santa
Também relacionados com os problemas Catarina que se acha fortificada em es-
de delimitação do território brasileiro são tado de defesa - C-M ôe A-Pasta 24 [63].
os seguintes mapas:
Como mapas regionais apontam-se:
Mapa de los confines dei Brasil con Ias Mapa da capitania de São Paulo, que ex-
tierras de Ia Corona de Espana em Ia trema com a capitania do Rio de Janeiro,
America Meridional... en ei ano de 1749. comarca do Rio das Mortes; e a de
- C-M fie A-Pasta 24 [62]; Goiazes. Copiado em janeiro de 1779 -
Mapas do continente da Colônia de Sa- C-M fie A-Pasta 25 [107];
cramento, Rio Grande de São Pedro até a Mapa da capitania de Minas Gerais, feito
ilha de Santa Catarina, com a linha divi- em 1793 pelo sargento-mor José Joa-
sória da arraia ajustada pelo tratado de quim da Rocha - C-M 8f A-Pasta 24 [64].
limites celebrado entre as Coroas de Por-
São várias as representações da Vila Bela
tugal e Castela em o ano de MDCCL... -
de Mato Qrosso. Levantado em 1777, por
C-M fie A-Pasta 24 [61].
direção do governador e capitão-geral da
Sobre a ilha de Santa Catarina conservam- capitania, Luís Albuquerque de Melo Pe-
se dois belíssimos exemplares de carto- reira e Cáceres, o Plano da capital de Vila
grafia, um deles com dedicatória ao vis- Bela do Mato Grosso... (C-M fie A- Pasta
conde de Balsemão, então ministro e se- 24 [26]) mostra o palácio, o quartel, a
cretário de Estado dos negócios Estran- igreja e a rua que fez abrir o notável go-

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 29-46. jan/jun 1997 - pag.37


A C E

vernador, que ordenou o amplo levanta- cisco Xavier da Chapada e de São Vicente,
mento cartográfico e reconhecimento ge- desenhados numa única folha - C-M Si A-
ográfico da capitania. Pasta 24 [22].

Da exploração e reconhecimento do ter-


É do seu tempo o desenho da planta de
ritório, feita pela derrota de rios, foi e n -
um dos muitos arraiais em que se fixa-
carregado o astrônomo Francisco José de
ram os exploradores das jazidas de ouro
Lacerda e Almeida. Os diários da viagem
e diamantes e que estão na origem de
que fez, desde Vila Bela até São Paulo,
algumas vilas e cidades. Trata-se do Pla-
por ordem do governador de Mato Gros-
no do arraial de São Pedro dei Rei, fun-
so, Luís de Albuquerque de Melo Pereira
dado e erigido em novo julgado no ano
e Cáceres, encontram-se n u m manuscri-
de 1781 por Luís de Albuquerque de Melo
to, que parece autógrafo, pertencente à
Pereira e Cáceres, quarto governador e
Biblioteca do Porto (Ms. 464 - 2). O autor
capitão-general das capitanias do Mato
relata o percurso fluvial de centenas de
Grosso e Cuiabá - C-M Sc A-Pasta 24 [23].
léguas, com início em Cuiabá no dia 15
Além desta, existem ainda as plantas de de outubro e termo em 3 1 de dezembro
quatro arraiais: Santana, Pilar, São Fran- de 1788. Da viagem, realizada com a f i -

Plantas de quatro arraiais.

pag.38.jan/jun 1997
R V O

nalidade de demarcação dos limites das Do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra


capitanias, resultou a elaboração de um provém uma das três cópias, existentes
mapa da autoria desse insigne geógrafo na Biblioteca Pública Municipal do Porto,
e explorador, que fez parte de uma co- do célebre Tratado ou Roteiro geral do
missão enviada ao Brasil com vistas à Brasil, de Gabriel Soares de Sousa. Tem
defesa da posse dos territórios a que Por- o título de: Roteiro geral com largas in-
tugal se achava com direito. O referido formações de toda a costa que pertence
mapa tem por título: ao Estado do Brasil Sn à descrição de mui-
tos lugares dela, especialmente da Bahia
Mapa do leito dos rios Taquari, Cwciim,
de Todos os Santos - séc. XVII - Ms. 119.
Camapoâ, varador de Camapoã, Pardo,
Paraná, Tietê e caminho de terra desde a Este códice foi incluído por Francisco
freguesia de nossa Senhora Mãe dos Ho- Adolfo Varnhagen (Reflexões críticas) no
mens de Araitaguaba até a cidade de São número das mais antigas e exatas entre
Paulo, que por ordem do limo. e Exmo. a s 17 cópias de q u e em 1839 havia
sr. Luís de Albuquerque de Melo Pereira e notícia.
Cáceres... governador e capitão-general Pertencem à Biblioteca do Porto mais duas
das capitanias de Mato Grosso e Cuiabá... cópias, uma do século XVIII, outra dos
íeuaníou, e fez no ano de 1788 e 1789 o inícios do seguinte (Ms. 1041 e 610). A
dr. astrônomo rrancisco José de Lacerda cópia do séc. XIX pertenceu à livraria' do
e Almeida - C-M 8c A- Pasta 19 [17]. desembargador Veiga (Sílvio Mondânio) e

Resta mencionar um outro tipo de levan- é, por sua vez, cópia de outra que existia

tamento - os planos de edifícios. Conser- no Convento de Jesus de Lisboa.

va a Biblioteca do Porto a Planta da igre- Dos manuscritos que pertenceram a Síl-


ja, convento e casas que foram dos mer- vio Mondânio, cuja temática é variada (his-
cenários [isto é, mercedários] da cidade tória, geografia, política, economia, reli-
do Pará. Levantada por ordem do limo. e gião e literatura), assinale-se uma cole-
Exmo. senhor dom Francisco de Sousa ção das obras de Alexandre de Gusmão,
Coutinho, governador e capitão-general com as variantes encontradas em três
deste Estado..., feita por Joaquim José códices de desembargadores da Relação
Ferreira, tenente-coronel engenheiro, nos Fi- do Porto (Ms. 1107). Este códice inclui cin-
nais do séc. XVIII. Em separado, são repre- co textos:
sentados o plano inferior e superior da igreja
1. Dissertação ou discurso em que se
e convento. - C-M & A-Pasta 19 [15 e 27].
manifestam os interesses que resultaram
Alude-se, em seguida, a alguns manus- a Sua Majestade Fidelissima dom José l
c r i t o s do Fundo Geral e d e o r i g e m e aos seus vassalos da execução do Tra-
identificada. tado de Limites da América.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 29-46, jan/jun 1997 - pag.39


A C E

2. Representação que a ei rei dom João V como de intendente da Agricultura da ca-


fez Alexandre de Gusmão sobre os seus pitania de Rio negro (1773-1779) e dei-
serviços, pedindo-lhe remuneração. xou manuscritos alguns discursos, diári-
os de viagens e pareceres jurídicos - cum-
3. Reparos sobre a disposição da lei de 3
pre citar: Relação geográfico-histórica do
de dezembro de 1750 a respeito do novo
Rio Branco da América portuguesa, na
método da cobrança do quinto do Brasil,
qual se dá notícia do seu descobrimento
abolindo o da capitação.
e do progresso e dos estabalecimentos
4. Consulta em que se satisfaz o Conse-
[sic] que lhe foram posteriores: até o ano
lho Ultramarino ao que Sua Majestade
de 1778... - séc. XIX - Ms. 538.
Fidelíssima ordenou sobre a facção do
regimento das casas de fundição das mi- Dos rios que no Rio Branco deságuam, do

nas do Estado do Brasil... território que ele banha, dos seus limites
e confrontações, da invasão pelos espa-
5. Resposta de Alexandre de Gusmão ao
nhóis e da sua expulsão, bem como de
papel que fez Antônio Pedro de Vascon-
particularidades da história natural e ou-
celos, governador que foi da Colônia do
tras relativas às nações de índios' da re-
Sacramento, sobre os tratados de limi-
gião, seus usos e costumes, diz-nos ain-
tes da América.
da este escrito. Seguem-se-lhe, no mes-
Ao bispo do Porto, dom João de Maga- mo códice, outras obras desse autor, en-
lhães e Avelar, pertenceu um manuscrito tre as quais: Diário da viagem que em vi-
que, por sinal, ele mesmo copiou: V/sífa sita e correição das povoações da capi-
do bispo do Pará é o título que ostenta tania de São José do Rio Negro fez nos
na lombada o códice 492. anos de 1744 e 1775; Apêndice ao diário
da viagem...; [Representação do ouvidor
Trata-se do diário das visitas pastorais
e intendente-geral e provedor da Real Fa-
que, em 1785-1789, dom frei Caetano
zenda, Francisco Xavier Ribeiro de
Brandão realizou no seu bispado do Pará,
e das reflexões sobre as mesmas visitas. Sampaio, à rainha d. Maria l contra o go-
vernador do Rio Negro, Joaquim Tinoco
Integrados no Fundo Geral de Manuscri-
Valente, em o Rio Negro, 12 de maio de
tos, de proveniência não identificada, são
1779]; [Crítica à memória sobre o gover-
de notar, dentre os que se reportam ao
no do Rio Negro]; Discurso que na
Brasil:
comarca da vila de Barcelos, cabeça da
De Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio - comarca de Rio Negro, no Estado do
que no Brasil exerceu as funções de juiz Grão-Pará, deveria recitar o ouvidor da
de fora e provedor da Fazenda Real da mesma comarca, Francisco Xavier Ribei-
c a p i t a n i a do Pará ( 1 7 6 7 - 1 7 7 2 ) e d e ro de Sampaio, na ocasião em que se fi-
ouvidor e provedor da Fazenda Real, bem zesse pública a notícia de ter tomado

pag.40,jan/jun 1997
R V O

posse do governo daquele Estado o limo. uma índia do Rio Branco na sua rede -
e Exmo. senhor dom Rodrigo de Meneses. hamaca'),

A importância do primeiro dos manuscri- O diário da viagem que o autor fez às po-
tos advém do fato de ser o único conhe- voações da capitania de São José do Rio
cido que apresenta mapas e desenhos negro e o apêndice ao mesmo diário são,
(mapa da América Meridional na parte por igualmente, acompanhados de três car-
onde corre o rio Branco, incluindo as po- tas geográficas: a das capitanias do Qrão-
voações portuguesas estabelecidas nes- Pará e Rio Negro, a do curso do rio Ama-
sa zona, em 1778; mapa estatístico dos zonas, o mapa do rio Megro, com a locali-
habitantes das povoações do Rio Branco zação de missões e de povoações e sete
e Barcelos, em 1777; representação de mapas estatísticos da população (incluin-
um casal de índios e duas crianças numa do referências ao estado em que se en-
canoa típica da região e, também, a de contram as igrejas e casas de habitação).

'tti//* t/f. /*n /t//r//t* t*tvAftut /'


• • » / * » * • • • -**+s A.- «**

Representação de uma índia do Rio Branco, da obra Relação


Geográfico-histórica do Rio Branco ..., de Francisco Xavier
Ribeira de Sampaio.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 29-46,jan/jun 1997 - pag.41


A C E

plantações, gêneros de colheita e produ- primeiro aclamador da guerra - séc. XVII


to dos gêneros comerciados pelos índios - Ms. 111.
da capitania.
Digno de alusão é um outro tipo de do-
O texto do diário, tal como os dois outros cumento - alguns poucos manuscritos li-
que lhe estão juntos, relaciona-se com a terários; textos que se reportam à ação
célebre Questão dos limites' e, segundo de ordens religiosas em terras brasilei-
o autor, estabelece o "direito dos mes- ras; mapas estatísticos.
mos [portugueses] contra as pretensões
Quanto ao primeiro grupo, referimos um
de Espanha", razão pela qual foi publica-
códice miscelâneo que insere obras de
do na obra de Joaquim Mabuco, Question
Qregório de Matos Guerra - o Ms. 1184.
de limites. O "Mapa da América Meridio-
Deste poeta guarda também a Biblioteca
nal ..." foi incluído pelo mesmo autor no
do Porto uma outra cópia que ostenta a
Aíías demonstratif des droits du Brésil,
designação: Obras de Qregório de Matos
em 1903.
e guerra natural da cidade de Salvador,
Importantíssima é a obra de Pero de Ma-
Bahia de Todos os Santos. Feitas a várias
galhães Qândavo, que está publicada des-
pessoas no ano de 1690. E novamente
de inícios do séc. XIX - o Tratado da Terra
copiadas neste volume de 1748 - Ms.
do Brasil. Fundamental é também a có-
1388.
pia que dela existe na B.P.M.P, que serviu
para corrigir e completar o texto da pri- Dentre os vários códices com obras do
meira edição, quando da reimpressão em padre Antônio Vieira, refere-se apenas o
1924. Transcreve-se o seu título comple- Ms. 812, intitulado "Sucinto extrato da
to: Tratado da Terra do Brasil no qual se vida e morte do V. P, Antônio Vieira... es-
contém a informação das cousas que há crito por um curioso anônimo...", que in-
nestas partes feito por Pero Magalhães - tegra os seguintes 'papéis': Papel do pa-
séc. XIX - Ms. 597. dre Antônio Vieira da Companhia de Je-
sus sobre várias cousas do Brasil; feito
Igualmente através do exemplar da Bibli-
em 14 de março de 1647 e o vulgarmen-
oteca do Porto foi publicada, primeiro na
te chamado "Papel forte" - o discurso so-
Reuísía do Instituto Histórico e Geográfi-
bre a entrega de Pernambuco aos holan-
co Brasileiro (tomos 38-43 - 1875-1880),
deses.
mais r e c e n t e m e n t e pela Fundação do
P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e Artístico d e Relacionados com a ação de ordens reli-
Pernambuco, a seguinte obra de autoria giosas, lembram-se - para além das vári-
de Diogo Lopes de Santiago: História da as notícias atinentes aos mosteiros
Guerra de Pernambuco e feitos memorá- beneditinos do Brasil, nomeadamente as
veis do mestre de campo João Fernandes de eleição dos abades dos cenóbios, con-
Vieira, herói digno de eterna memória, tidas nos chamados Bezerros de Tibães

pag.42.jan/jun 1997
R V o

(Ms. 1427, 1428 e 1429) - os seguintes militares em serviço - C-M &; A-Pasta 24
códices: historia de Ia fundacion dei [65].
colégio de Ia Compania de Pernambuco
Em fundos que deram entrada na Biblio-
hecha en ei ano de 1576 - séc. XVII - Ms
teca do Porto por oferta, legado ou doa-
1103; Catálogo dos jesuítas do Brasil -
ção existem também materiais referentes
Ms. 1378. ao Brasil.
Trata-se, mais propriamente, de um con-
O manuscrito 36 do Fundo Azevedo (do
junto de vários catálogos ou relações en-
I o conde de Azevedo, "bibliófilo e ilustre
viadas ao padre geral da Companhia de
escritor portuense, que à organização da
J e s u s , entre 1631 e 1679, que nos dá
sua biblioteca consagrou quase toda a sua
notícia, por exemplo, do padre Antônio
vida", contando para isso com a colabo-
Vieira, admitido no Colégio da Bahia em
ração do escritor Camilo Castelo Branco,
1623, e nos proporciona informações so-
que muitas vezes foi incumbido da aqui-
bre os muitos membros da Companhia sição de manuscritos) é uma miscelânea
que, das várias casas da metrópole e tam- que inclui a "Cópia da carta que Salvador
bém da África, índia e Ilhas e de países Correia de Sá escreveu a Sua Majestade".
estrangeiros, se dirigiram para o Brasil Acha-se escrito em letra do séc. XVIII e
entre finais do século XVI e o ano de 1679. teve um anterior possuidor, o abade de
A tais referências juntam-se aquelas que Vila Verde, Simão Álvares de Sá.
nos indicam nomes de jesuítas já oriun-
dos dos colégios existentes na América Documentos que interessam à história do
Brasil são também os que constam de três
portuguesa, sendo freqüentes as alusões
códices oferecidos pelo professor da Fa-
a elementos da Companhia de Jesus que
culdade de Medicina do Porto, Pedro
tinham conhecimento da língua brasílica'.
Augusto Dias. Trata-se de miscelâneas em
Por último, pela raridade deste tipo de letra dos séculos XVII e XVIII - Ms. PD-6-
documentação, de grande interesse para 2; Ms. PD-6-4 (volumes 1 e 2).
a história demográfica e geográfica da
Amazônia no século XVIII, salienta-se o Do seu conteúdo não daremos uma rela-

conjunto de quatro mapas estatísticos da ção pormenorizada, limitando-nos a re-

população indígena de aldeamentos das meter para os trabalhos que sobre eles

capitanias do Qrão-Pará e São José do Rio fizeram Artur de Magalhães Basto (Alguns

negro. Reportam-se aos anos de 1791 a documentos de interesse para a história

1794 e registram nomes de rios, povoa- do Brasil) e Antônio Cruz (Documentos

ções, dados sobre índios, agregados (fa- que interessam à história do Brasil ).

mília, escravos, índios) e, ainda, obser- Acresce, ainda, neste fundo, um códice
vações em que constam o número de fo- que inclui, além do Manifesto e edital que
gos, nascimentos, casamentos, mortes e os holandeses publicaram em

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 29-46, jan/jun 1997 - pag.43


A C E

Pernambuco, algumas cartas: nuscritos que pertenceu a Vitorino Ribei-

Carta do governador Henrique Dias que ro. Mela se encontra um pequeno texto

mandou a o s holandeses ao Recife em sobre as propriedades medicinais das

companhia das dos mestres de campo águas da Lagoa Grande, junto às minas

André Vidal de Megreiros e João do Sabará:

F e r n a n d e s Vieira, g o v e r n a d o r e s em Breve transunto das notícias da Lagoa


Pernambuco; Qrande, virtudes experimentadas em di-

Carta que mandou o capitão-mor Cama- versos achaques, e cautelas necessárias

rão ao Recife em companhia dos mestres para o uso dos seus banhos. Oferecido
mo
de campo André Vidal de Megreiros e João ao muito ilustre e R. sr. dr. Lourenço

F e r n a n d e s Vieira, g o v e r n a d o r e s em José de Queirós Coimbra... Recopilado de

Pernambuco; uma dissertação químico-médica que se


há de imprimir sobre a mesma matéria
Cópia da carta que os mestres de campo
por Antônio Cialli Romano... - datado de
André Vidal de Megreiros e João
Vila Real do Sabará a 10 de Junho de 1749
F e r n a n d e s Vieira, g o v e r n a d o r e s em
- Ms. VR-70.
Pernambuco, mandaram ao Recife em re-
posta [sic] da outra que lhe mandaram os Mo Ms. 56 da mesma coleção estão reuni-
holandeses junta com os cartazes de per- das várias cartas de Alexandre de Gusmão
dões para os moradores; carta do mestre sobre temática brasileira, incluídas tam-
de campo André Vidal de Megreiros em bém no já referido Ms. 1107.
que dá conta da batalha e sucessos da Além deste breve percurso pelos fundos
vitória que Deus deu aos portugueses de de manuscritos da B.P.M.R, citados alguns
Pernambuco a 18 de abril de 1648 - Ms. dos mais notáveis documentos relativos
PD-39. ao Brasil,apresentamos uma breve bibli-
Por fim, menciona-se a coleção de ma- ografia sobre o assunto.

H O
1. O investigador Leandro Qoes Tocantins, em 1963, identificou a letra por comparação com do-
cumentos do punho do referido arquiteto existentes na Biblioteca Macional de Lisboa, onde
também se encontra um documento escrito por Landi, em que requisita tintas e outros mate-
riais destinados aos desenhos de animais e plantas da Amazônia.

pag.44,jan/jun 1997
R V O

B I B L I O G R A F I A

BASTO, Artur de Magalhães. Alguns documentos de interesse para a história do Brasil:


apostila ao Catálogo dos Manuscritos Ultramarinos da Biblioteca Pública Municipal
do Porto. [Coimbra]: Universidade de Coimbra, 1953.

, Dom Antônio Rolim de Moura, governador da capitania de Mato Grosso: (três docu-
mentos). Coimbra: Coimbra Editora, 1954.

BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL DO PORTO. Biblioteca Pública Municipal do Porto: ex-


posição no 150° aniversário da sua fundação: 1833-1933. Porto, 1984.

, Catálogo da Biblioteca Pública Municipal do Porto: índice preparatório do Catálogo


dos Manuscritos. Porto, 1879-1896 (essencialmente o 2° fascículo: Mss. Chartaceos:
Geographicos).

, Catálogo de Geografia da Biblioteca Pública Municipal do Porto... Porto, 1895.

, Catálogo dos manuscritos ultramarinos da Biblioteca Pública Municipal do Porto.


[Org. A. de Magalhães Basto]. Lisboa: I Congresso de História da Expansão Portu-
guesa no Mundo, 1938 (Reed. fac - similada: 1988).

, A pintura do mundo: geografia portuguesa e cartografia dos séculos XVI a XVIII.


Catálogo da exposição. Porto, 1992.

, Por mar e por terra tantas mil léguas [...]. Porto, 1994.

CRUZ, Antônio. Documentos que interessam à história do Brasil. Porto: Biblioteca Públi-
ca Municipal do Porto, 1960.

FERREIRA, J. A. Pinto. "Mapa geral da população dos índios aldeados em todas as povo-
ações das capitanias do Estado do Qrão-Pará e São José do Rio negro no primeiro
de janeiro de 1792". Coimbra: V Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasilei-
ros, 1965.

HISTORIA de Ia fundacion dei Collegio de Ia Compania de Pernambuco, hecha em ei ano


d e 1576 ... Porto: Biblioteca Pública Municipal do Porto, 1923. Coleção de manus-
critos inéditos agora dados à estampa; 6.

LIVRO que dá razão do Estado do Brasil. Prefácio A. Q. Cunha. Rio de Janeiro: Instituto
Macional do Livro, 1968.

PORTUQALLIAE monumenta cartographica. Lisboa: [s.n.], 1960, vol. 4, pp. 93-97; est.
441-445.
SAnTIAQO, Diogo Lopes. História da Guerra de Pernambuco e feitos memoráveis do
a
mestre de campo João Fernandes Vieira... Recife: runDARPE, 1984. I edição
integral segundo apógrafo da Biblioteca Municipal do Porto.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 29-46, jan/jun 1997 - pag.45


A B S T R A C T
After a brief reference to the history of the Municipal Public Library of Porto, the authors provide
a list of the main manuscripts concerning Brazil. Though not a voluminous collection, it is
considered very valuable from a qualitative perspective. Its bulk is formed by códices and maps
belonging to the captain-general of'Cuiabá' and 'Mato Grosso', the lst viscount of Balsemáo, (as
well as to his son) and others which used to belong to Manuel Francisco da Silva e Veiga Magro
de Moura (Arcadian name: Sílvio Mondânio), former judge at the High Court in Rio de Janeiro.

R E S U M E
Après une allusion à 1'historie de Ia Bibliothèque Publique Municipale de Porto, les auters
énumèrent les principales pièces manuscrites y existantes concernant au Brésil.Quoique limitée,
cette collection est, du point de vue qualitatif, considérée comme étant de grande valeur. On y
trouve surtout des documents en parchemin et des cartes qui ont appartenu au premier vicomte
de Balsemáo, capitaine-général de 'Cuiabá' et 'Mato Grosso' (ainsi qu'à son fils), et d'autres
d o c u m e n t s qui avaient a p p a r t e n u à Manuel Francisco da Silva e Veiga Magro de Moura
(pseudonyme littéraire: Sílvio Mondânio), qui a été magistrat à Rio de Janeiro.
Margarida Ortigão Ramos Paes Leme
Responsável pelo Arquivo da Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa.

O A r q u i v o d a v^asa d a iVloecLa
de ILisooa
Deu interesse para a Jiistória olo Brasil colonial
1686 -, 1822

A CASA DA MOEDA DE LISBOA rua Nova e, desde meados do sé-


culo XVI, na rua da Calcetaria, per-
Casa da Moeda de Lis-
to do Paço da Ribeira. Aí perma-
boa, desde 1972 inte-
neceu até 1720, ano em que foi
grada na empresa pú-
transferida para a rua de São Pau-
blica Imprensa Nacional - Casa da
lo, conforme se lê numa lembran-
Moeda, é hoje a única sobrevivente d a s
ça' registrada a fl. 235 v. do livro 2 o
várias casas da moeda que desde o início
do Registro Qeral: "Aos doze dias do mês
da monarquia laboraram em Portugal con-
de setembro do ano de mil setecentos e
tinental e ultramarino.
vinte se fez a mudança da fábrica e mais
Situada d e s d e 1941 no atual edifício, materiais e o cofre da Casa da Moeda des-
numa zona da cidade que começou a ser ta cidade de Lisboa, a qual estava situada
urbanizada no final da década de 1930, em a rua da Calcetaria para o chão em
passou por várias localizações na cidade que estava situada a Junta do Comércio,
de Lisboa a partir do reinado de dom Di- em o qual chão se edificou nova Casa da
nis, tendo estado sucessivamente no sí- Moeda..."1 Na rua de São Paulo permane-
tio da Porta da Cruz, perto de São Vicente ceu até 1940, quando foi transferida para
de Fora, no edifício onde mais tarde e s - o edifício, construído d e raiz, onde s e
teve a cadeia do Limoeiro, junto à Sé, na encontra.

Acervo. Rio de Janeiro, v. 10. n° 1, p. 47-56, jan/jun 1997-pag.47


A C E

Os m o e d e i r o s , c u j o n ú m e r o f o i f i x a d o e m p r i m e i r o , q u e vai d e s d e o p r i n c í p i o da

104 no reinado de d o m Manuel, f o r a m m o n a r q u i a até cerca de 1678, p r e d o m i n a

desde s e m p r e u m a das classes privilegi- quase que exclusivamente o uso do mar-

adas d o Reino. Em 1 5 5 2 , J o ã o Brandão, t e l o : e a u m c u n h o f i x o , s o b r e o q u a l se

a u t o r d a o b r a Tratado da majestade, gran- colocava o disco monetário, o m o e d e i r o

deza e abastança da cidade de Lisboa, encostava, seguro pela m ã o esquerda, o

refere: outro cunho, móvel, que recebia a pan-


cada do martelo e m p u n h a d o pela mão
Estes oficiais têm grandíssimos privilé-
d i r e i t a . O s e g u n d o p e r í o d o , d e s d e essa
gios, que nenhuma ordenação nem pos-
data até aos nossos d i a s , é c a r a c t e r i z a d o
t u r a e n t r a n e l e s ; e assim e m c r i m e
p e l o u s o d a m á q u i n a . De f a t o , n o f i n a l d o
como em civil nenhuma justiça do Rei-
século XVII são definitivamente
no entende com eles, nem coisa de sua
introduzidas no fabrico da m o e d a os
casa, senão o seu j u i z . 2
balancins, cuja força m o t r i z , ainda h u m a -
O mais abundante núcleo de d o c u m e n - na, foi a partir de 1835 substituída pela
tos referentes aos seus privilégios e n c o n - d o vapor, c o m a a q u i s i ç ã o pela Casa da
tra-se reunido n u m códice pertencente ao Moeda de u m a das p r i m e i r a s m á q u i n a s a
A r q u i v o d a Casa d a M o e d a , o Livro de re- v a p o r d o p a í s , c o m p r a d a na I n g l a t e r r a à
gistro dos privilégios, liberdades e isen- f i r m a B o u l t o n Si Watt, i d ê n t i c a à u t i l i z a d a
ções que os senhores reis destes Reinos na Royal M i n t d e L o n d r e s . M a i s t a r d e , e m
têm concedido aos oficiais e moedeiros 1 8 6 6 , s ã o a d q u i r i d a s as p r e n s a s m o n e t á -
3
da sua Casa da Moeda, datando o pri- rias Ulhorn que u t i l i z a m o s i s t e m a de r ó -
meiro privilégio do reinado de d o m Dinis tula, movidas p r i m e i r o a vapor, depois à
( 1 3 2 4 ) e o ú l t i m o d e 1 7 5 1 , se b e m q u e a energia elétrica, ascendentes diretas das
sua extinção só tenha sido determinada atuais prensas hidráulicas.
pelo decreto de 3 de agosto de 1824.
A p a r t i r d o i n í c i o d o s é c u l o XIX, a Casa d a
O fabrico da m o e d a e m Portugal p o d e d i -
M o e d a d e L i s b o a fica i n c u m b i d a d o f a b r i -
v i d i r - s e e m d o i s g r a n d e s p e r í o d o s . No
co do papel selado, e e m 1845 dá-se a
f u s ã o d a Casa d a M o e d a e d a R e p a r t i ç ã o
d o Papel S e l a d o s o b u m a m e s m a a d m i -
nistração-geral. Com a introdução em
Portugal, e m 1853, dos selos postais, a
Casa da M o e d a e Papel S e l a d o p a s s a t a m -
b é m a f a b r i c á - l o s e , p a r a se a d a p t a r à s
novas necessidades, sofre outra r e f o r m a
e m 1864.
Manifesto da nau Almiranta Nossa Senhora da
Esperança, vinda do Rio de Janeiro em 1739 - livro 5o. E m f i n a i s d o s é c u l o XIX, a Casa d a M o e d a

pag.48.jan/jun 1997
e Papel Selado ganha uma posição de reiro, ficando o outro na Casa da Moeda.
maior relevo na garantia de qualidade dos
O regimento de 1498 estipula ainda um
metais nobres, quando em 1882 as con-
livro para registro de todo o material en-
trastadas ficam subordinadas à sua ad-
tregue aos oficiais da casa, necessário ao
ministração-geral, que passa a fiscalizar desempenho das suas funções, também
o comércio e a indústria da ourivesaria em em títulos separados.
Portugal, função que ainda hoje mantém.
Existia também o já chamado Registro
Já no século XX, os seus serviços foram
Qeral, onde se lançavam todas as cartas,
reformados, sucessivamente, em 1911,
alvarás, ordens e t c , que chegavam à Casa
1920, 1929 e 1938. Em 1972, pelo de-
da Moeda.
creto-lei n° 225/72, de 4 de julho, funde-
se com a Imprensa Macional numa em- Ma seqüência da introdução dos balancins
presa pública, a INCM - Imprensa Nacio- para fabrico da moeda no final do século
nal-Casa da Moeda. XVII, foi dado à Casa da Moeda de Lisboa
novo Regimento, com data de 9 de se-
O ARQUIVO HISTÓRICO DA CASA DA t e m b r o de 1686, 5 o qual perdurou até
MOEDA 1845.

primeiro regimento conhecido É este o regimento que mais nos interes-


I da Casa da Moeda de Lisboa é
do reinado de dom Manuel e
tem a data de 23 de março de 1498.* Mele REGIMENTO
se estipula como figura principal, respon- QUE
sável por todos os valores que entram e SMAGESTADE U A K 1) «
saem da casa, o tesoureiro, coadjuvado
manda obfervar na Caía
pelos mestres (depois juizes) da balança D A
e pelos escrivães, que tinham a seu car-
MOEDA-
go a escrituração rigorosa dos livros de
conta do tesoureiro. Estes livros, feitos em *
duplicado, um a cargo do escrivão e ou-
tro do mestre da balança, registravam em
títulos s e p a r a d o s todas as operações, mm
desde a entrada do metal, quer fosse de
particulares, quer do rei, até à sua devo- LISBOA

lução, já amoedado, à parte que o tinha


entregue, descontados os custos do fei-
tio. Um destes livros ia à Casa dos Con-
Regimento dado à Casa da Moeda de Lisboa
tos, para aprovação da conta do tesou- por d. Pedro II.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 47-56. jan/jun 1997-pag.49


A C E

sa aqui analisar, uma vez que ele cobre o 3. Receita da entrega da Casa ao tesou-
período em que a documentação do Arqui- reiro (das peças, ferramentas e enge-
vo tem um interesse fundamental para a nhos do uso e fábrica da moeda);
história do Brasil colônia, visto que, a par- 4. Ementa dos oficiais (que recebem as
tir de princípios do século XVIII, começa a
peças da fábrica da Casa).
dar entrada na Casa da Moeda o ouro vin-
do das minas brasileiras e ao longo de todo A cargo do escrivão da Conferência e s -
o século a Casa da Moeda de Lisboa é o tavam os livros de conferência e os se-
apoio principal das várias casas de moeda guintes registros :
e de fundição que são criadas no Brasil. 1. Conferência da receita principal;
Pela primeira vez aparece a figura do pro-
2. Conferência da ementa de contas;
vedor, mas o tesoureiro continua sendo
o responsável por todos os valores que 3. Registro de cartas, alvarás, ordens e

entram e saem da Casa. Recebia o metal provisões;

que lhe era entregue para amoedar na 4. Registro de informações, requerimen-


Casa do Despacho, o ouro só depois de tos e despacho das partes.
ensaiado e marcado pelos ensaiadores,
A partir de 1710, parte da documentação
e a prata também ensaiada. Pesado o me-
do Arquivo da Casa da Moeda de Lisboa
tal pelos juizes da balança, era entregue
passa a ter especial interesse para a his-
ao fundidor, dando-se início às operações
tória da mineração brasileira. O decreto
de fabrico da moeda. Uma vez cunhado
de 9 de setembro desse ano estipula que
o metal, a moeda era entregue aos seus
proprietários pelo tesoureiro, na mesma todo o ouro que vier nas frotas do Bra-
Casa do Despacho. Todas estas opera- sil ou em navios soltos, se leve à casa
ções eram registradas e assinadas em da moeda, aonde, ou seja em barra ou
livros próprios e em títulos separados. em pó, se lhe aceitará aos mestres ou
comissários que o trouxerem, e se lhes
Os livros de conta do tesoureiro estavam
passará conhecimento para por ele o
a cargo dos escrivães da Receita e da
cobrarem às partes, a quem pertencer,
Conferência e, tal como no regimento an-
com declaração, que querendo vendê-
terior, eram feitos em duplicado.
lo na mesma casa da moeda se lhes
A conta do tesoureiro é agora constituí-
pagará logo pelo seu justo valor. 6
da por quatro livros principais, a cargo
do escrivão da Receita: Por aviso dessa mesma data se determi-
na que
1. Receita principal (de todo o ouro ou
prata que entrar na Casa); logo, que houver notícia, que apare-
2. Ementa de contas (entre os oficiais da ce a frota do Brasil, váo a bordo dos
Casa); navios dela com os escrivães que se

pag.50,jarvjun 1997
R V o

lhe n o m e a r e m , e farào notificar aos fazendo incorrerão em perdimento do


mestres, capitães e mais pessoas que ouro que não manifestarem, e em as
trouxerem ouro em confiança, ou seja mais penas que parecer conveniente;
em pó, ou em barra, para que se lhe e todos ficarão advertidos, que não
apresentem os livros da carga, de que hão de fazer entrega do ouro manifes-
tirarão certidão pelo que pertencer à tado, às partes, sem lhe mostrarem por
receita do ouro; e feita esta primeira certidão da Casa da Moeda, nas costas
diligência, serão notificados para que dos seus conhecimentos, como nela
entreguem na Casa da Moeda todo o ficam obrigados a levá-lo à dita Casa.
ouro que trouxerem, donde as partes
Mo dito edital se há de declarar, que o
o hão de receber pelos conhecimen-
manifesto se há de fazer do ouro, ou
tos, que se devem passar às pessoas
seja quintado, ou por quintar, e não
que nela o entregarem. 7
ficará p e r d i d o por n ã o haver sido
A 27 de s e t e m b r o desse ano, o provedor quintado, nem se lhe quintará.
d a C a s a d a Moeda informa a o C o n s e l h o
Também se declara nele que os mani-
d a F a z e n d a q u e a frota q u e c h e g a v a a
festos se poderão fazer em todo o tem-
Lisboa, vinda d o Brasil, e r a c o m p o s t a por
po enquanto não chegar às alturas das
m a i s de oitenta navios, cada qual com o
Ilhas.
s e u m e s t r e , c o n t r a m e s t r e , piloto e c a p i -
tão, para além dos comissários, todos E passadas elas para cá, se poderáo
8
eles trazendo ouro de várias partes. tomar as denunciações do ouro, e aos
denunciantes se dará a terça parte.
As i n s t r u ç õ e s p a r a e s c r i t u r a ç ã o d o s m a -
nifestos, c o m d a t a d e 17 d e j u l h o d e 1 7 1 1 , Os livros em que se hão de fazer os
s ã o e n v i a d a s à C a s a d a Moeda por aviso manifestos hão de ir rubricados por al-
o gum dos ministros do Conselho da Fa-
d o Conselho da Fazenda de I de s e t e m -
bro desse ano, e são as seguintes: zenda na forma costumada, e de tal
capacidade que não seja necessário
Primeiramente, depois da frota partir
acrescentar papel de fora.
do Brasil para este Reino, o capitão da
nau, no dia e tempo que lhe parecer Que os ditos livros se entreguem nes-
mais oportuno, mandará fixar um edital te Reino às pessoas que houverem de
no mastro grande, assinado por ele, tomar os manifestos, e cobrar recibos
em q u e diga: Manda Sua Majestade deles, o que se fará por ordem do pro-
que Deus guarde que toda a pessoa vedor da Casa da Moeda, e aos navios
que nesta nau leva ouro para si ou que não forem deste porto se deve or-
para entregar a outras pessoas, o ma- denar aos provedores da Fazenda do Rio de
nifeste no livro que para esse efeito J a n e i r o , Bahia, e P e r n a m b u c o , e
traz fulano, com declaração que não o Paraíba, que lhos dê também rubrica-

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 47-56, jan/jun 1997 - pag.51


A C E

dos, remetendo-se-lhe também a ins- m a de lei de I o de fevereiro de 1 7 2 0 , é

trução; e que cobrem recibos das e n - criado o imposto do 1 % sobre todo o ouro

tregas, e os remetam ao Conselho da q u e v i e r d o B r a s i l . Esse i m p o s t o , q u e p a -

Fazenda. gava a c o n d u ç ã o d o m e t a l , seria aplica-

do no pagamento das dívidas da extinta


Serão advertidas as pessoas que es-
Junta. O referido alvará d e t e r m i n a q u e
creverem estes manifestos, que háo de
dobrar as folhas dos livros, em terço, todo o ouro, e moeda, em pó, folheta
c o m o vai esta, para ficar c a m p o na e barra que vier do dito Estado se re-
m a r g e m d i r e i t a , e m que sair c o m o gistre nos livros dos escrivães das naus
g u a r i s m o (sic) da pessoa do o u r o , e do comboio, aos quais se hão de e n -
da esquerda para as mais declarações tregar quando daqui partirem por or-
que forem necessárias para a boa arre- d e m do Conselho da minha Fazenda
cadação deste metal. rubricados por u m dos ministros dele,
e que todo que assim vier registrado,
ranto que estiverem assim lançados os
pague 1 % na f o r m a que a d i a n t e d e -
manifestos se fará um encerramento no
claro, e o que não vier registrado, fica-
livro, de que os que nele se escreve-
rá sujeito às mesmas penas que pre-
r a m até aí, são os que havia, e se ma-
sentemente tenho imposto a q u e m traz
nifestaram naquela nau, e tanto que a
ouro de qualquer qualidade sem o ma-
frota chegar a este porto ou aos mais
nifestar [...]. E quero que o ouro que
do Reino logo a pessoa que trouxer o
vier nas naus do comboio se entregue
livro o mandará entregar fielmente e m
aos mestres das ditas naus, e cada u m
continente na Casa da Moeda aonde a
dos escrivães delas fará no seu livro as
houver, e aonde a não houver ao m i -
cargas e receitas c o m toda a distinção
nistro superior da Alfândega para pôr
e clareza, pondo números em cada uma
e m arrecadação o ouro e o fazer entrar
das partidas ou envoltórios que
na Casa da Moeda mais vizinha.
c o r r e s p o n d a m à carga feita no livro
E se acaso acontecer que falte e m a l - para que não possa haver confusão ou
g u m livro papel para se escreverem os embaraço, e dará o escrivão conheci-
seus manifestos, se tomará o resto e m mento à parte por vias para sua segu-
caderno de fora para se cozer no mes- rança, e os ditos conhecimentos serão
m o livro, pondo-se na forma dele de- assinados pelo d i t o escrivão, e mes-
claração de que os manifestos se con- tre, e capitão de mar e guerra, e capi-
tinuarão no dito caderno. 9 tão mais antigo de infantaria da guar-
nição da nau, e todo o ouro se reco-
A partir de 1720, na seqüência da
lherá em cofre que terá quatro chaves,
extinção da J u n t a da C o m p a n h i a Geral do
uma das quais terá o capitão de mar e
C o m é r c i o do Brasil, pelo alvará e m for-

pag.52,jan/jun 1997
R V O

guerra, outra o de infantaria, outra o não de fundo, a legislação sobre os ma-


mestre, e outra o escrivão, e os ditos ca- nifestos do ouro e a cobrança do im-
pitães, mestre e escrivão tanto que che- posto do 1% mantém-se e o metal vin-
garem a este porto, entregarão o dito do do Brasil dá entrada obrigatoriamen-
cofre na Casa da Moeda com o livro de te na Casa da Moeda de Lisboa, onde
receita que nele vier, pelo qual se entre- depois de entregue às partes que pro-
gará às partes o procedido dele descon- varem pertencer-lhes, estas o vendem,
tando-se-lhe o dito 1%, o qual se há de geralmente, para ser amoedado.
entregar a um tesoureiro que para isso
Fio Arquivo Histórico da Casa da Moeda
nomeará o Conselho de minha Fazenda
existem várias séries que refletem es-
tas funções e das quais apontamos ape-
Com alterações diversas, de pormenor, e nas as principais. A série conhecida por

l
- NF - / TI Ntrego» êAmí^U^tím* * # ~ ^ * 9
•* ' J ^ no Cofre deli. Mo 0 * - -
/2>~- embrulho cm que dii vaS ( y W * C v£a—
UTHa, 4 * ^ & O Í ) ^ ^ c f ^ . ; - . , - i jtí«~ m&Omum*^
«Ja-iO" s^'y^4A V1'iam » marca àmirgcm.ejedirou fazerem jor COB»
. . . ? ; _ ÍA3.,;' u.eriicode.^

l!iífff> deque felhe fail entrega naCafa dâMoed» daGdadí


« ' de Lisboa Occidental, (erando-noaDeoi > íilvimemo,
/ e adiuiNio, c porTcrdade nos aflinamw na fôrma do
Alrart de 5u» Mageltade í„ ) A* r
/ de , ^

^t7i&g£Ã»u3
-N.* J Em~Coí«de8iNio
_ _ , , , , , Ç}£er*~ embrulho em

morador em
jr cui £>*- £*—&****'.
•VJ^V
t/<Ss fTfnefáTíentrcga nicSada Moeda da Cidade
' T e Lisboa Occidental, fc¥ando-nojDeos a falnmento,
e à ditta Nlo, e poryerdade nos tiinunos na forma do
Alvui de Sua Migcftadc S~\

Manifesto da nau AJmlranta Nossa Senhora da Esperança, vinda do Rio de Janeiro em 1739 - livro 5o.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 47-56, jan/jun 1997 - pag 5 3


A C E

manifestos das naus é c o m p o s t a por incluindo obviamente o chegado do Bra-


1.386 livros, com d a t a s entre 1710 e sil. Esse m e s m o m e t a l , d e s t i n a d o à
1807, que acompanharam os cofres vin- amoedaçâo, é discriminado nos livros das
dos nos navios. Existe igualmente outra compras e das entradas e saídas.
série que se convencionou chamar de Além destas, outras séries têm interesse
manifestos da visita do ouro, com 23 li- para a história do Brasil colonial, sobre-
vros datados de 1725 a 1822, nos quais, tudo para o conhecimento da mineração
os moedeiros encarregados da visita aos brasileira, e constam do quadro anexo.
navios que davam entrada no porto de Existem 16 maços de documentação avul-
Lisboa, assentavam o ouro manifestado sa, contendo procurações, precatórias,
para cobrança do 1%. Outra série impor- sentenças, relações e outros documen-
tante é a da receita do l°hdo ouro. compos- tos relativos ao pagamento do 1%, re-
ta por 32 livros, do período de 1752 a 1812. querimentos, conhecimentos e t c , com
Também ao tesoureiro da Casa da Moe- datas situadas entre finai do século XVII
da, como responsável por todos os valo- e 1822.
res que entravam e saíam da Casa, era
Outra série com interesse fundamental
carregado em receita nos livros da re-
para este assunto é a dos registros ge-
ceita principal todo o metal que entrava.
rais, onde eram a s s e n t e s todos os de-
cretos, alvarás, ordens, provisões e re-
querimentos que chegavam à Casa da
Moeda. É uma série que começa em 1525
e termina no final do século XIX. Os li-
vros que dizem respeito ao período em
causa são os de n° 2 a 13, datados de
1687 a 1823, e neles se registrou todo o
apoio prestado pela Casa da Moeda de
Lisboa às suas congêneres brasileiras,
desde 1694, com a abertura da Casa da
Moeda da Bahia, bem como toda a legis-
lação, r e g u l a m e n t a ç ã o e informações
acerca da arrecadação do metal, cobran-
ça do 1%, e a m o e d a ç â o do ouro e da
prata.

O quadro seguinte relaciona a documen-


tação existente no Arquivo da Casa da
Moeda de Lisboa com interesse para a
Primeiro livro de receita e despesa do
tesoureiro (1517). história do Brasil colonial:

pag.54,jan/jun 1997
QUADRO DAS SERIES EXISTENTES NO ARQUIVO HISTÓRICO DA CASA DA MOEDA DE LIS-
BOA DE INTERESSE PARA A HISTÓRIA DO BRASIL COLONIAL

CASA DA MOEDA DE LISBOA


(1686-1822)
Série Datas Dl Cota
Registro geral
Registro geral 1687-1823 12 livros I I Iv KG/2-13
Manifestos e
visita do o u r o
Manifestos d a s n a u s 1710-1807 1386 livros 1606,
1647-2991
Manifestos da visita d o ouro 1725-1822 2 3 livros Iv 1107-1117,
1120,
1122-1132
Acréscimos e faltas 1730-1731 1 livro I lv 1608
Receita d o 1% d o o u r o 1752-1812 3 2 livros Iv 577-584,
587-609
Tomadiase seqüestras 1769-1773 2 livros Iv 1611-1612
Adições d o 1% r e c e b i d o a b o r d o 1799-1801 I livro Iv 610
Distribuição dos moedeiros 1800-1821 1 livro Iv 1614
R e n d i m e n t o d o 1% r e c e b i d o a b o r d o 1802 1 livro Iv 1637
Registro d o s navios visitados 1812-1816 1 livro Iv 2992
D o c u m e n t a ç ã o avulsa 1686-1822 16 m a ç o s mç 667-679,
725-727
Tesoureiro
d a CM
Receita principal - c o n f e r ê n c i a 1686-1772 4 2 livros 637, 967-
1007
Receita principal 1749-1773 17 livros 427-434,
612, 616,
619, 623,
626-627,
629, 633,
635
Compras de ouro 1749 1822 9 1 livros Iv 106-196
Receita d o 1% d o s d i a m a n t e s 1753 1760 1 livro Iv 1636
Receita d o 1% d a p r a t a 1757 1760 1 livro Iv 611
Receita d o s m a n i f e s t o s d a p r a t a 1763 1770 2 livros Iv 1118, 1121
Compras de prata 1765 1822 5 9 livros Iv 30-87
Entradas e saídas de ouro 1769 1822 54 livros Iv 348-401
Entradas e saídas de ouro - conferência 1769 1822 5 1 livros lv 1295-1355
Entradas e saídas de prata 1769 1822 5 2 livros Iv 276-327
Entradas e saídas de prata - conferência 1769 1822 5 7 livros lv 1212-1268
Receita e d e s p e s a g e r a l 1773 1822 5 2 livros lv 435-486
Receita e d e s p e s a g e r a l - c o n f e r ê n c i a 1773 1822 5 2 livros lv 1378-1429
Tesoureiro
d o 1%
Qastos miúdos 1721-1760 5 livros lv 793. 632-
1634,
1646C
Folha d e a s s e n t a m e n t o d a s c o n s i g n a ç õ e s 1760-1761 3 livros lv 794-796
Folha d e a s s e n t a m e n t o d o s j u r o s 1762-1771 14 livros lv 585-586,
797, 799,
801, SCH-
SOS, 807,
809-812,
815.819
Folha d e a s s e n t a m e n t o d o s o r d e n a d o s 1762-1772 14 livros lv 798,800,
802-803.
806,808.
813«14.
816-818.
820, 827A-
8275

Acervo, Riode Janeiro, v. 10, n° 1, p . 47-56, jan/jun 1997 - pag.55


N O T A S
1. INCM - ACM. II , RQ/2.
2. João Brandão, Grandeza e abastança de Lisboa em 1552, Lisboa, Livros Horizonte, 1990, p.
168.
3. INCM - ACM, cofre.
4. ANTT, Mss. da Qraça, tomo VIII, E, fls. 245-248. Publicado por Agostinho Ferreira Qambetta
em Anais da Academia Portuguesa de História, II série, vol. 20, Lisboa, 1971.
5. Regimento que S. Majestade que Deus guarde manda observar na Casa da Moeda, Lisboa, na
Impressão de Theotonio Craesbeeck de Mello, 1687.
6. Impresso avulso.
7. Impresso avulso.
8. INCM - ACM, II, RQ/2, fl. 124v.
9. INCM - ACM, II, RQ/2, fl. 129v.
10. Impresso avulso.

A B S T R A C T
Since the end of the XVIIth century. with the arrtval in Portugal of the gold from the Brazilian
mines, the Lisbon Mint was charged to receive that gold and buy it from its legitimate owners and
also to collect the 1% tax. The Minfs Historical Archive reflects these functions through several of
its series of documents.

R É S U M É
Dès Ia fin du XVMe siècle, avec 1'arrivée au Portugal de Por des mines brésiliennes. Ia Monnaie de
Lisbonne eüt Ia charge de le recueillir, lacheter à ses propriétaires pour après le convertir en
monnaie, et de recevoir 1'impôt du 1%. Son Archive Historique, d'après quelques séries qui le
constituent, reflete ces fontions.
Judite Cavaleiro Paixão
Diretora do Arquivo Histórico e Biblioteca/Centro de Documentação e Informação do
Tribunal de Contas.

F o n t e s cio i m b u n a l <áe v^onías


(de Jrortuigal p a r a a JWsfória Ao
.Brasil v^olômia

Tribunal de Contas de í. te da própria instituição, como


I Portugal d e t é m , d e s - '/ responsável pela custódia, trata-
de a s s u a s o r i g e n s , h. mento, preservação e divulgação
que remontam ao século XIII, a J
documentação fruto de sua gestão orgâ- USà de documentos de valor histórico.
nico-funcional. O conhecimento da his- A Constituição da República portuguesa
tória da instituição, hoje denominada Tri- confere, atualmente, ao Tribunal de Con-
bunal de Contas, organismo com grande tas a natureza de órgão de soberania,
tradição histórica na estrutura do Estado independente e apenas sujeito à lei. A sua
português, contribui não só para o co- jurisdição abrange todo o território naci-
nhecimento da história do controle das onal e toda a administração pública - cen-
finanças públicas, como para a compre- tral, regional e local - e ainda os servi-
ensão do passado comum entre Portugal ços portugueses no estrangeiro. As deci-
e Brasil. sões e acórdãos do Tribunal de Contas
têm, como os dos outros tribunais, cará-
A documentação produzida pelo órgão, ter obrigatório para todas as entidades
a p e s a r de avaliada e selecionada, foi públicas e privadas, prevalecendo sobre
guardada ao longo dos séculos no Arqui- os de quaisquer outras entidades.
vo Histórico, tornando-se parte integran- Com a definição das fronteiras, a garan-

Acervo. Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 57-70,jan/jun 1997 - pag.57


A C E

tia da estabilidade política, a fixação da 1930, a designação que lhe fora atribuí-
corte em Lisboa e a sedentarização dos da em 1849 - Tribunal de Contas, desig-
órgãos da administração pública, forma- nação essa que se mantém até à atuali-
lizou-se o primeiro organismo especi- dade, apesar das grandes mudanças
alizado na função fiscalizadora: a Casa introduzidas, sendo as mais recentes a
dos Contos, que cumprirá os seus objeti- lei n.° 86 de 8 de setembro de 1989 e as
vos de 1389 a 1761. Com o advento de leis ns.° 13 e 14 de 20 de abril de 1996.
um novo período histórico - o absolutis-
A documentação existente no Arquivo His-
mo -, surgiram alterações institucionais
tórico do Tribunal de Contas reflete bem
que permitiram colocar em execução uma
o passado comum entre Portugal e Bra-
política voltada para a centralização re-
sil, sobretudo a história da administra-
gia. Foi então criado o Erário Régio, que
ção Financeira do Brasil colonial, e pro-
funcionou de 1761 a 1832. Durante o sé-
porciona elementos para o estudo da con-
culo XIX, o aparecimento de novos ideais
tabilidade e da história econômica.
de liberdade, o grande crescimento in-
dustriai e as novas concepções de poder Em relação à contabilidade, várias foram
político originaram por toda a Europa as instruções que o reino produziu sobre
grandes convulsões, que justificam em o método a que deveria obedecer a es-
Portugal a sucessão, num curto espaço crituração das contas da Fazenda Real
de tempo, de várias alterações orgâni- nas diversas capitanias do Brasil, seguin-
co-funcionais na instituição ligada à fis- do essa escrituração as alterações im-
calização financeira, assim como na sua postas pelas mudanças institucionais de-
própria denominação: Tribunal do Tesou- corridas entre os séculos XVI e XIX, mais
ro Público (1832-1844), Conselho Fiscal precisamente até 1825, altura em que foi
de Contas (1844-1849) e o primeiro Tri- reconhecida a independência do Estado
bunal de Contas (1849-1911). A implan- brasileiro.
tação da República e o desaparecimento
Dentre os diversos conjuntos documen-
da Monarquia determinam, mais uma vez,
tais existentes no Arquivo Histórico, des-
alterações orgânicas e uma nova mudan-
tacamos alguns que contêm elementos
ça de d e s i g n a ç ã o , surgindo, e n t ã o , o
para a história do Brasil colonial.
Conselho Superior de Administração Fi-
nanceira do Estado (1911-1919) e, pos-
C A S A DOS C O N T O S
teriormente, o Conselho Superior de Fi-
nanças (1919-1930). lio âmbito das re-
rgão responsável pela ordena-
formas financeiras do Estado Movo, e com
a emergência de uma nova política de
maior controle e centralização das finan-
Ó ção e fiscalização das receitas
e d e s p e s a s do Estado, teve o
seu primeiro regimento em 1389, quan-
ças públicas, a instituição retomou, em
do das primeiras tentativas do poder cen-

pag.58,jan/jun 1997
trai para dominar e disciplinar a crescen- dade pública, tanto da metrópole como
te burocracia. A este primeiro regimento do ultramar. Com d. João IV manteve-
seguiu-se um segundo, de 28 de novem- se o sistema filipino em relação à con-
bro de 1419, e com d. Duarte um tercei- tabilidade pública, e s t e n d e n d o - s e a s
ro, em 22 de março de 1434, evoluindo normas do regimento dos contos a ou-
todos eles no sentido de uma maior pre- tros setores da administração pública e
cisão e rapidez na liquidação e fiscaliza- dando-se regimento aos Contos do Es-
ção das contas. tado do Brasil, em dezembro de 1648.

Com as transformações econômicas e so- Mo entanto, pouco resta da documenta-

ciais resultantes da expansão marítima do ção produzida durante este período, pois

século XVI, os Contos d'EI-Rei transfor- o terremoto de 1755 e o incêndio que se


seguiu destruíram o edifício do Terreiro
maram-se nos Contos do Reino e Casa.
do Paço, onde funcionavam os Contos do
Os contadores e escrivães dos Contos, no-
Reino e Casa. Apenas se salvaram co-
meados pelo soberano, passaram a ter
fres onde estavam arrecadados valores
um papel importante na escala de valo-
metálicos e que foram entregues na Casa
res sociais do Reino, usufruindo de direi-
da Moeda, e alguns poucos livros da
tos e privilégios. À medida que a contabi-
Casa dos Contos. Com as reformas ad-
lidade pública se tornava mais complexa,
ministrativas e financeiras do marquês
novos desafios se apresentavam à admi-
de Pombal, os Contos do Reino e Casa
nistração financeira do reino e, em 1516,
foram extintos, criando-se, para substi-
d. Manuel I publicou o regimento e orde-
tuí-los, o Erário Régio, pela carta de lei
nações da Fazenda, onde eram renova-
de 22 de dezembro de 1761.
das as normas de contabilidade pública,
destacando-se a separação da contabili- Do fundo documental dos Contos do Rei-
dade local da central. no e Casa existente no Arquivo Histórico
Durante o domínio filipino (1591-1640), do Tribunal de Contas, há registros e in-
ocorreu a reforma, centralizando-se nos formações sobre o Brasil em apenas dois
Contos do Reino e Casa toda a contabili- dos seus livros:

Fundo Cota Título Datas-limite

CC 39 Livro da despesa geral da conta de


Bernardo dos Santos nogueira, que
serviu de tesoureiro da Casa da Moeda
de Lisboa de 1749 a 1751 1756-1757

cc 41 Livro de receita e despesa anual da


Fazenda Real e da Sereníssima Casa de
Bragança extraída no ano de 1761 1761

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 57-70, jan/jun 1997 - pag.59


A C E

O primeiro (CC39) integra-se na série re- ríodo anterior - e possibilitasse uma ges-
lativa a processos de contas onde se fis- tão completa e sistemática das contas pú-
calizam as contas dos oficiais de recebi- blicas. Passou-se de um regime de con-
mento responsáveis pela cobrança e ar- tabilidade unigráfica para um s i s t e m a
recadação do patrimônio real através da digráfico.
tomada de contas. Este livro contém re-
Presidia o Erário Régio o inspetor-geral
ferência a outros livros (vales de receita
do Tesouro, que ficava imediatamente
e despesa): Livro da folha de pagamen-
subordinado ao rei; por ordem hierárqui-
tos de ordenados; Livro de ouro em pó
ca seguia-se o tesoureiro-mor, que tinha
vindo do Estado do Brasil; Livro do ouro
a seu cargo a Tesouraria-Mor. Para efei-
em barra; Livro da compra do ouro; Li-
tos fiscais o reino ficou dividido em qua-
vro dos direitos dos diamantes; e Livro
tro contadorias, cada uma com o seu res-
dos materiais.
pectivo contador-geral:
O segundo (CC41) diz respeito à série re-
- Contadoria Qeral da Corte e província
lacionada com os Livros de receita e des-
da Estremadura;
pesa da Fazenda Real e Casa de
Bragança. Organizado por províncias e - Contadoria Qeral das províncias do Rei-

calculado a partir das arrematações de no e Ilhas dos Açores e da Madeira;

contratos, de rendimentos médios, ou das - Contadoria Qeral do território da Rela-


folhas de despesa de anos anteriores. As ção do Rio de Janeiro, África Oriental e
despesas contemplam: ordenados própri- Ásia Portuguesa;
os de cada uma das arrecadações, orde-
- Contadoria Qeral da África Ocidental, do
nados e despesas de outras repartições,
Maranhão e das comarcas do território
juros e tenças.
da Relação da Bahia.

ERÁRIO RÉGIO Estas duas últimas contadorias, pelo de-


creto de 28 de j u n h o de 1820, foram

O
rganismo criado no reinado de
reformuladas, dando lugar à Contadoria
d. José I, pela carta de lei de
Qeral do Rio e Bahia.
22 de dezembro de 1761, du-
rante um período absolutista em que o Ma Tesouraria-Mor existia o livro mestre,
rei de Portugal dominava um império co- que abrangia o conteúdo das receitas e
lonial que se estendia da índia ao Brasil, despesas de todas as contadorias por or-
passando pelo continente africano. Para dem cronológica, remetendo cada assen-
garantir o exercício de um poder absolu- to para o número de ordem do livro mes-
to, era necessário um regime centraliza- tre da respectiva contadoria. Cada livro
do, que controlasse a dispersão das co- era numerado, rubricado e encerrado pelo
branças e despesas - característica do pe- inspetor-geral. nas contadorias, por sua

pag.60.jan/jun 1997
R V O

vez, existiam os seguintes livros: barra) existentes no cofre da Tesouraria

- Borrador do diário - rascunho; Geral da capitania com a quantia que re-


sultava da maior receita. Este balanço era
- Livro diário - onde se faziam os assen-
entregue ao governador da Junta da Fa-
tos que por extrato se transcreviam para
zenda da respectiva capitania e era assi-
o livro mestre da contadoria;
nado pelo tesoureiro-geral e pelo escri-
- Livro mestre - onde se transcreviam as vão da Fazenda Real.
receitas e despesas referentes a cada Balanço semestral - nas instruções envi-
contadoria, em partidas dobradas, re- adas pelo Erário Régio às diferentes Jun-
gistrando cada assento o mesmo nú- tas das capitanias, relativas aos méto-
mero de entrada assinalado no livro do dos de escrituração, era referido o exem-
tesoureiro-mor, além do número de lan- plo do balanço semestral apresentado ao
çamento no Diário; inspetor-geral pelo tesoureiro-mor. Na
- Livro auxiliar - para cada casa de arre- Tesouraria-Mor contava-se, na presença
cadação, cada um dos contratos, im- do inspetor-geral, o dinheiro que estava
postos, direitos que fossem cobrados, no cofre, conferindo-se cada uma das
para que em qualquer momento se pu- partidas da despesa com os documentos
desse ter conhecimento rápido da con- que dela faziam prova. Os documentos
ta líquida do crédito e débito eram apresentados ao inspetor-geral que
respeitante a cada um. os examinava e cotejava um por um com
os assentos do livro, ao mesmo tempo
Todos estes livros eram escriturados se-
em que cortava cada um com duas te-
gundo o novo método de partidas dobra-
souradas no alto. Juntando as quantias
das (colocando-se na página esquerda os
créditos - Deve - e na página direita os
débitos - Há de haver), e serviam para
cada contador-geral entregar ao inspetor-
geral dois balanços anuais.

nas capitanias do Brasil existiam práticas


que se assemelhavam às da Tesouraria-
Mor, uma vez que também os livros eram
rubricados - mas pelo governador e capi-
t ã o p r e s i d e n t e da J u n t a -, e e r a m
efetuados três balanços:

Balanço semanal - semanalmente soma-


vam-se a receita e a despesa e conferi-
'Burra' - arca de ferro chapeada do
am-se os valores (dinheiro, ouro em pó e século XVII.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10,n° l.p. 57-70, jan/jun 1997-pag.61


A C E

que apresentavam os contadores-gerais, se pode observar no gráfico 1 elaborado


se somassem o mesmo que mostrava o com base no levantamento do acervo
balanço da Tesouraria-Mor, e se o dinhei- existente.
ro contado importasse a mesma quan-
tia, dava-se a conta por ajustada. Do
ajuste, o escrivão da Tesouraria-Mor fa-
zia um termo no livro de receita e des-
pesa (depois do último assento) que era
assinado pelo inspetor-geral, e a cópia
ia inserida na quitação que se passava
ao tesoureiro-mor.

Balanço anual - no final do ano deveria


ser tomada a conta do tesoureiro da Jun-
ta da fazenda da capitania da seguinte
forma: principiava-se por contar o dinhei-
ro existente, que deveria conferir exata-
mente com o saldo da maior receita que Durante os primeiros anos do Erário Ré-
mostrava o livro caixa, e com o balanço gio, verificou-se um reforço do aparelho
que o contador da contadoria deveria administrativo e financeiro estatal, que
apresentar da conta da caixa do seu li- se traduziu no alargamento da jurisdição
vro mestre; seguía-se a conferência de deste órgão, a quem era atribuído o ren-
cada uma das partidas da despesa com dimento de diversos bens, como os da
os documentos que dela faziam prova; Casa de Bragança, da Casa das Senho-
concluído o exame dava-se a conta por ras Rainhas, do donativo dos 4%, ofere-
ajustada ao tesoureiro, lavrando então o cido pelo comércio para a reedificação
escrivão um termo, após o último assen- de Lisboa após o terremoto de 1755 etc.
to, no livro de receita e despesa, que era Porém, com a morte de d. J o s é I, em
assinado pela Junta e deveria ir incluído 1777, e o afastamento do marquês de
na quitação que se passava ao tesourei- Pombal - presidente do Erário d e s d e a
ro-geral. sua criação - ocorreram algumas altera-
ções na vida política portuguesa, com
Características de âmbito cronológico conseqüências inevitáveis para a ação
A documentação sobre o Brasil colonial fiscalizadora do Erário. Com d. Maria I a
durante a vigência do Erário Régio com- ação do governo exerceu-se no sentido
preende um período que vai de 1750 a de uma maior liberalização, tanto no pla-
1833, sendo as décadas de 1760 a 1780 no político como no econômico. Exemplo
as de maior produção documental, como disso foi a extinção, em 1778, da Com-

pag.62.jan/jun 1997
R V O

panhia do Qrão-Pará e Maranhão, e, em grupos:


1780, da Companhia d e Pernambuco e - d o c u m e n t o s relativos a o p e r a ç õ e s
Bahia. As próprias manufaturas, proprie- contabilísticas - considerando neste
dade do Estado, passaram para o domínio grupo todos os livros utilizados no re-
privado. lio que se refere à política inter- gistro dos débitos e créditos, ou seja,
nacional, o período compreendido entre o
livros mestre, livros diários, livros bor-
final do século XVIII e o início do XIX ca-
radores do diário, livro de registro de
racterizou-se por uma instabilidade que re-
contas, livro de registro dos rendimen-
percutiu também em Portugal. Por um lado,
tos, livros caixa e balanços;
o crescimento dos grandes impérios colo-
niais europeus originou conflitos que se es- - registro de documentos recebidos e

tenderam às áreas de influência portugue- expedidos pela Tesouraria-Mor do Erá-

sa, tanto no Brasil como na África. Por rio e as Juntas da Fazenda das dife-

outro, a ameaça francesa começou a se rentes capitanias do Brasil, tais como:

fazer sentir em Portugal na década de decretos, ordens, instruções, porta-

1790, dividindo a classe dirigente portu- rias, ofícios e cartas regias, que re-

guesa e criando uma crise política: de um gulavam o modo de escrituração e ex-

lado, os defensores do "partido inglês', que plicavam as dúvidas relativas às in-

propunham fidelidade à tradicional alian- formações que se encontravam nos

ça luso-britânica; de outro, os defensores livros de contabilidade.

do 'partido francês', que pretendiam uma Contabilizando-se os d o c u m e n t o s , é


aproximação com a França como forma de possível concluir que um número supe-
evitar a revolução. As primeiras décadas rior de livros referia-se a operações
do século XIX se caracterizaram por um contabilísticas, como se pode observar
esforço do governo português em relação no gráfico 2.
à política de defesa, que teria como prin-
cipal conseqüência a fuga da família real
para o Brasil, em 1807. A estabilidade que
marcou os primeiros anos do Erário Régio
desapareceu no final do século XVIII e iní-
cio do XIX. Estes são apenas alguns dos
indicadores que explicam a evolução de-
monstrada no gráfico.

Características de âmbito temático

A documentação relativa ao Brasil existente A - livros relacionados com o registro de operações


contabilísticas.
no Erário Régio pode ser dividida, segun- B - livros relacionados com o registro de documentos
do os temas que aborda, em dois grandes recebidos e expedidos.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 57-70, jarvjun 1997 - pag.63


A C E

Se compararmos a freqüência dos livros contrava-se organizado por contadorias


de registro de operações contabilísticas que estavam ligadas à Tesouraria-Nor. Os
com os livros de registro de documentos assuntos relativos ao Brasil eram trata-
recebidos e expedidos, concluiremos dos pelas contadorias que constam do
(como se pode comprovar no gráfico 3) gráfico 5.
que existe uma evolução ao longo do tem-
A contadoria com maior produção docu-
po comum a o s dois t e m a s , exceto na
mental é a do Rio de Janeiro, África Ori-
década de 1770, quando se verifica um
ental e Ásia Portuguesa, seguida da Con-
certo desvio. Durante este período os li-
tadoria da África Ocidental, Maranhão e
vros de registro de documentos recebi-
comarcas do território da Relação da
d o s e expedidos diminuem, e n q u a n t o
Bahia. A reformulação destas contadori-
a u m e n t a m os relativos às o p e r a ç õ e s
as, em 1820, e a criação, em seu lugar,
contabilísticas.
da Contadoria Qeral do Rio e Bahia nos
Em relação à forma como os temas se permitem perceber a importância que
distribuem pelas diferentes contadorias estas duas capitanias brasileiras tiveram
(gráfico 4), verificamos que em todas elas para a economia portuguesa, principal-
predominam os livros de registro de ope- mente neste período.
rações contabilísticas, exceto na Conta-
Todo o fundo documental pertencente ao
doria Geral do Rio e Bahia, criada em
Erário Régio é imprescindível para o es-
1820.
tudo da vida financeira do Brasil colonial
Características de âmbito orgânico até à data da sua independência, e mes-
Como já afirmamos, o Erário Régio en- mo posteriormente. Mele está concentra-

Gráfico 2I - Freqüência dos temas A e B por décadas

. 35 J34 — — Seriei
CO
E 30 Série 2
£
w 25
o /T2 / \V
"° 20
(0
/ \ / W ,18
" 15 tf ^15 V ^ 7 > v VI2
8 10
'0 V» 2
0
17 50 1760 1770 1780 1790 1800 1810 1820 1830
Décadas

Série 1 - tema A (livros relacionados com o registro de operações contabilísticas).


Série 2 - tema B (livros relacionados com o registro de documentos recebidos e
expedidos).

pag.64,jan/jun 1997
Gráfico 4 - Freqüência de temas por contadorias

i?n
I D Série 2
•o 100
1
0>
50
36
H Série 1
T>
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Ml
ào
c
40
sí"
rr
1
u- ao 10
0
a (1) b (2) c (3) d (4)

Códigos das contadorias

a(l) - Contadoría Geral do Rio de Janeiro, África Oriental e Ásia Portuguesa.


b(2| - Contadoría Geral da África Ocidental, Maranhão e comarcas do território da
Relação da Bahia.
c|3) - Contadoría Geral do Rio e Bahia.
d[4) - Contadoría Geral das Ilhas Adjacentes e Domínios Ultramarinos.

Gráfico 5 - Freqüência de contadorias por décadas

29 30

n n= 24
Da
Db
• c
• d

IÍ I
1750 1760 1770 1780 1790
líi ti  I
1800 1810 1820 1830
Décadas

a - Contadoría Geral do Rio de Janeiro, África Oriental e Ásia Portuguesa.


b - Contadoría Geral da África Ocidental, Maranhão e comarcas do território da Relação
da Bahia.
c - Contadoría Geral do Rio e Bahia.
d - Contadoría Geral das Ilhas Adjacentes e Domínios Ultramarinos.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 57-70, jan/jun 1997-pag.65


A C E

da a informação sobre contratos, orga- século XIX. Esta documentação é impor-


nização administrativa e suas conseqüên- tante para ilustrar e j u s t i f i c a r d e t e r m i -
cias financeiras, relações econômicas en- nadas contas que deram entrada para l i -
tre a m e t r ó p o l e e a colônia, escritura- quidação no Erário Régio e no seu s u -
ção, salários de funcionários (e as suas cessor, o Tesouro Público.
implicações sociais), problemas dos co-
Em relação ao Brasil, a documentação
lonos, organização militar, bem como as
abrange os assuntos que c o n s t a m do
alterações que estas e outras questões
gráfico 6.
sofreram ao longo do tempo.
No levantamento efetuado, verificou-se
Cartórios avulsos
que o maior número de documentos está
Para completar a informação fornecida relacionado com questões de contabili-
pelo fundo do Erário Régio existem os dade, ou seja, mapas e cálculos de ren-
cartórios avulsos, constituídos na sua mai- dimentos, contas, mapas demonstrativos
oria por correspondência e documenta- de receita e despesa, mapas das tesou-
ção ligada a operações financeiras. Os rarias, relações de dívidas etc. Obede-
documentos sobre o Brasil abrangem o cendo uma o r d e m decrescente de fre-
período histórico situado entre 1700 e qüência, seguem-se os documentos re-
1830, incidindo predominantemente no lativos a nomeações e suspensões de

Gráfico 6 - Distribuição de assuntos

70 69
57
60
50
1 50
1 40
tr
2! 30
LL 19 20
20
10
0 - JuUr^n^ 1 n 1 .2.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Códigos de assuntos

1- Contratos 8- Pensões
2- Nomeações/suspensões 9- Fábricas
3- Empréstimos pedidos pela Coroa 10- Carta de quitação
4- Vencimentos 11- Processos vários
5- Despesas das capitanias 12- Contabilidade
6- Dívidas à Coroa 13- Empréstimos a t r i b u í d o s
7- Organização administrativa e pela Coroa
financeira 14- Órgãos consultivos

pag.66.jatvjun 1997
R , V o

cargos, tanto de funcionários das Juntas às instruções de âmbito administrativo e


da Fazenda das capitanias como de pá- financeiro enviadas ao Brasil, às pensões
rocos, e os respectivos vencimentos. Pro- atribuídas à família dos funcionários ré-
cessos relacionados com as arremataçoes gios, às relações das fábricas existentes
de contratos são uma boa fonte de infor- nas capitanias do Brasil, às cartas de
mação sobre os diferentes tipos e condi- quitação, aos processos vários relacio-
ções dos contratos nas diferentes capi- nados com casos particulares que foram
tanias do Brasil. As despesas estão rela- acusados pela Coroa. Por f i m , os docu-
cionadas com o dinheiro gasto pelas Jun- mentos referentes ao empréstimo régio
tas da Fazenda na construção de casas concedido aos agricultores da capitania
oficiais, ornamentos das igrejas, do Rio de Janeiro e decretos de criação
fardamentos das tropas, obras públicas de juntas e comissões consultivas.
etc. A par destes assuntos, surgem tam- As capitanias mais representativas em
bém outros com representação menor; é termos de d o c u m e n t o s existentes nos
o caso dos documentos relativos ao e m - cartórios avulsos podem ser visualizadas
préstimo pedido pela Coroa às diferen- pelo gráfico 7. Como se pode observar,
tes capitanias para a reconstrução da c i - os documentos aplicáveis a mais de uma
dade de Lisboa, às cobranças das dívi- capitania p r e d o m i n a m , seguindo-se os
das contraídas pelas Juntas da Fazenda, que se referem às capitanias de São Pau-

Gráfico 7 - Distribuição de capitanias

90 82
80
70
.2 60
0
•S 50
I 40 25 27 •
»• 30 -, 21 22^ 1/ 15
20 11 r 8
10
i uJrt •7TT r-i, | • 1 1

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Códigos das capitanias

1 - Minas Gerais 8 - Rio de Janeiro


2 - Grão-Pará 9 - Rio Grande do Sul
3 - Pernambuco 10 - Goiás
4 - São Paulo 11 - Maranhão
B - Paraíba 12 - Rio Grande do Norte
6 - Ceará 13 - S. José do Rio Negro
1 - Bahia 14-Geral

Acervo. Rio de Janeiro, v. 10. n° 1, p. 57-70, jatVjun 1997 - pag.67


A C E

lo e Minas Qerais; Qrão-Pará e Jesus. São precisamente os livros e do-


Pernambuco t a m b é m estão bem repre- cumentos relativos a estas incorporações
sentadas, assim como Bahia, Rio de Ja- que integram o conjunto documental da
neiro e Ceará. Todas as outras capitani- Junta da Inconfidência e que se encon-
as têm uma freqüência mais baixa, e um tram no Arquivo Histórico do Tribunal de
dos motivos para esta disparidade pode Contas. A importância desta coleção para
estar na alteração sofrida por suas cir- a história do Brasil colonial está relacio-
cunscrições ao longo dos séculos XVIII e nada com os documentos sobre os colé-
XIX. Um estudo desta evolução poderá gios e provedorias da Companhia de Je-
explicar estas alterações. sus no Brasil que foram extintos e ane-
xados à Coroa portuguesa. São 15 livros
Esta coleção é importante não só para
e documentos que compreendem o perí-
completar a informação referente ao fun-
odo de 1584 a 1806, sendo o mais antigo
c i o n a m e n t o e competências do Erário
u m treslado da doação do Colégio dos
Régio, como t a m b é m para nos dar um
Jesuítas na cidade de São Salvador da
testemunho mais real das necessidades
capitania da Bahia.
sentidas pelas capitanias, através dos re-
q u e r i m e n t o s por elas encaminhados a Trata-se de balanços sobre a receita e
este órgão. despesa dos jesuítas, bem como de rela-
ções dos seus rendimentos e bens. Atra-
Junta da Inconfidência
vés do estudo desta documentação po-
Em conseqüência do atentado contra d.
d e m tirar-se conclusões sobre a riqueza
José I e m 1756, proferiu a Junta da I n -
dos colégios, sua organização e sua i n -
confidência uma sentença, em 1759, atra-
fluência na sociedade brasileira.
vés da qual foram incorporados à Coroa
Cartas de doação, padrão e mercê
os bens que estavam na posse dos réus
acusados de lesa-majestade. Alguns me- Relativamente ao Brasil, esta coleção é
ses mais tarde foi decretado o seqüestro composta pelas cartas relacionadas na
dos bens dos regulares da Companhia de tabela abaixo:

Título Data

Carta de doação da capitania situada entre os rios Tuzi até ao rio Caite 1634

Carta de padrão de tença relativa ao rendimento de 1 % do ouro e


pau-brasil em nome do procurador-geral do noviciado da índia 1726

Carta de padrão de j u r o assentado no rendimento do 1 % do ouro e


pau-brasil 1792

Carta de mercê do ofício de j u i z dos órfãos da cidade do Rio de Janeiro 1798

pag.68,jan/jun 1997
R , V O

Estes documentos auxiliam a compreen- dendo por vezes recuar até o século XVII.
são das relações que se estabeleceram no entanto, os diferentes setores da so-
entre Brasil e Portugal durante os sécu- ciedade não são compartimentos estan-
los XVII e XVIII. ques, e as alterações econômicas são,
A função de controle das finanças públi- simultaneamente, causa e conseqüência
cas do Estado português foi o grande ob- da evolução histórica da sociedade, da
jetivo dos organismos que antecederam cultura e da mentalidade.
o atual Tribunal de Contas e, tal como
afirmamos no inicia, esta documentação Com base nas fontes existentes no Ar-
é essencial para uma correta avaliação, quivo Histórico do Tribunal de Contas, fo-
especialmente no nível financeiro, das re- ram elaborados instrumentos de descri-
lações que se estabeleceram entre Bra- ção da d o c u m e n t a ç ã o , bem como
sil e Portugal nos séculos XVIII e XIX, po- publicadas obras e artigos.

Contador - Ex-libris do Tribunal de Contas.


Gravura de Almada Negrelros.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 57-70, jan/jun 1997 - pag.69


A B S T R A C T
The Historical Archives of the Portuguese Audit Office has a lot of documents which reflects the
past. in common, between Portugal and Brazil, especially conceming to the financial control of
Brazil in colonial times.

It gives some elements to study the accountancy and economical history, allowing a surveying of
the administrative and financial organization of 'Juntas da Fazenda' from different Brazilian
captainships and their liaisons with the Portuguese Court, as well the study of economical
relationship between the two countries, since the beginning of the seventh century to the first
half of nineteenth, embracing a geográfica! área wich goes from the captainship of 'Qrão-Pará' to
that of 'Rio Grande do Sul'.

R E S U M E
UArchive Historique de Ia Cour des Comptes du Portugal détient une documentation qui reflete
le passe commun du Portugal et du Brésil, nottament en ce qui concerne le controle financier du
Brésil colonial.

Cette documentation, en présentant des éléments pour létude de Ia comptabilité et de 1'histoire


economique, nous permet de connaitre 1'organisation administrative et financière des 'Juntas de
Fazenda' des différentes capitaineries du Brésil et leurs rapports avec Ia cour portuguese, les
relations économiques entre les deux pays dês le début du XVII éme siècle jusqu'à Ia première
moitiè du XIX ème siècle, en comprennant les régions du Brésil entre Ia capitainerie du 'Qrão-
Pará' et celle du 'Rio Grande do Sul',
Maria da Assunção Jácome de Vasconcelos e Chagas
Diretora do Arquivo Distrital de Braga, Licenciada em História.
Paula Maria Faria Lamego
Técnica Superiora - 2a classe de Arquivo, Licenciada em Ciências Históricas.
Paula Sofia da Costa Fernandes
Técnica Superiora - 2a classe de Arquivo, Licenciada em Ciências Históricas.

A contribuição (do Arquiivo


U i s í r i t a l de Braga para a
laistória dlo Brasa! colonial

idade arquiepiscopal da da Mesa Arcebispal, do cabido e sé


província do Minho, sede bracarenses, este Arquivo Distrital e
de concelho e capital do os repertórios arquivísticos que o
distrito, Braga dista cerca de 53 km do constituem são fundamentais para o
Porto e estende-se pelos limites dos con- estudo da história da Igreja, como tam-
trafortes das altas serranias do Geres que bém do país e de sua evolução política,
fazem fronteira com a vizinha Qaliza econômica e social.
(Espanha).
Integram, ainda, este Arquivo outros im-
E, pois, nesta cidade, com cerca de dois portantes fundos documentais, de que
mil e trezentos anos de existência, me- destacamos: os Cartórios Paroquiais e
trópole da primeira província eclesiástica notariais do distrito; um importante fun-
Primaz das Espanhas, em competência do monástico-conventual; os documentos
com Toledo, e onde a história nacional da Câmara Eclesiástica, com os proces-
começou, que se encontra um dos prin- sos de inquirições de Genere et Vita et
cipais arquivos portugueses — o Arquivo Moribus; a Casa do Auditório e Relação
Distrital de Braga. Eclesiástica e o arquivo particular e di-
plomático do conde da Barca.
Detentor de inúmeros e valiosos docu-
mentos, dos séculos VI ao XIX, oriundos O conhecimento das fontes de Portugal

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10. n° 1, p. 71-84, jan/jun 1997-pag.71


A C E

medievo e moderno passa, pois, pela con- Este núcleo documental possui grande
sulta ao Arquivo Distrital de Braga. A sua número de d o c u m e n t o s fundamentais
importância é indiscutível, resultante da para o história do Brasil, desde a segun-
responsabilidade que lhe cabe como fiel da metade do século XVIII até pouco de-
depositário de peças dignas de pertence- pois de 1817, a n o do falecimento d o
rem à memória do mundo. conde.

O material reunido encontra-se agrupa-


SUBFUNDO ANTÔNIO DE ARAÚJO
do nos seguintes fundos arquivísticos:
AZEVEDO, CONDE DA BARCA
fundo Família Araújo Azevedo, subfundos

A
n t ô n i o d e Araújo Azevedo
Antônio de Araújo Azevedo, conde da Bar-
nasceu em Ponte de Lima, em
ca e J o ã o Antônio de Araújo Azevedo;
.14 de Maio de 1754, e morreu
fundo monástico-conventual, a Congre-
no Rio de Janeiro, em 21 de j u n h o de
g a ç ã o d e S. Bento d e Portugal e os
1817.
Franciscanos (província da Conceição);
documentos e livros constantes da Cole- Cedo ingressou na vida pública, e nos mei-
ção dos Manuscritos e, de interesse ou os mais cultos fez amizades com o abade
relativos à emigração, os fundos Governo Correia da Serra e o duque de Lafões, que
Civil de Braga e Registro Paroquial. o iria encaminhar para, entre outras, a car-
reira diplomática.
Como nota final, resta acrescentar que,
através deste pequeno guia documental, Em 1787, iniciou sua atividade diplomá-
s e pretende chamar a atenção para os tica na corte de Haia como embaixador
aspectos mais significativos daquelas se- extraordinário. Dois anos mais tarde, vi-
ções e contribuir para a divulgação das ajou pela Alemanha, onde estudou ciên-
fontes arquivísticas. cias e literatura alemã com os homens
mais notáveis da época, sendo transferi-
FUNDO FAMÍLIA ARAÚJO AZEVEDO
d o , em 1 8 0 1 , p a r a a c o r t e de S.

O
acervo documental que consti- Petersburgo, onde permaneceu por três
tui este fundo está atualmente anos.
em fase de t r a t a m e n t o , não
sendo possível a sua consulta, mas acre- Em 1804, detinha a Pasta dos Estrangei-

dita-se que no final deste ano esta situa- ros e da Guerra, e dois anos depois já
ção esteja ultrapassada. exercia funções no Ministério do Reino.

Trata-se de um arquivo de família, na qual Em 1807, embarcou para o Brasil levan-


se destacam dois membros: Antônio de do consigo a sua preciosa livraria - que
Araújo Azevedo, conde da Barca e minis- depois legou à Biblioteca Nacional -, uma
tro de d. J o ã o VI e João Antônio de Ara- tipografia completa, a primeira regular
újo Azevedo, seu irmão. que houve no Brasil, uma riquíssima co-

pag.72, jan/jun 1997


R , v o

leção mineralógica e uma coleção de ins- Janeiro, mandando vir chineses para cui-
trumentos para o estudo da química. dar do p l a n t i o e c u l t u r a ; chamou
portuenses e madeirenses para que en-
Mo Brasil, desenvolveu uma série de ati-
sinassem o cultivo da vinha e fabrico de
vidades que só poderiam ser levadas a
vinhos; aperfeiçoou a extração de óleo
cabo por um homem do seu calibre e com
de urucu; estabeleceu uma Impressão
a larga experiência adquirida nas viagens
Regia e fundou, entre várias sociedades
e contatos feitos em vários países que
prestimosas, a Academia de Belas Artes,
percorreu.
para a qual mandou vir da França profes-
Em 1814, foi novamente chamado à ati- sores de grande mérito, ali escolhidos,
vidade política, sendo nomeado ministro por ordem sua, pelo marquês de Marialva.
da Marinha, e pôde então expandir a sua
ânsia de aplicar frutuosamente os seus co- Faleceu em 1817 e foi sepultado na igreja

nhecimentos científicos. Em sua casa ins- de S. Francisco de Paula, no Rio de Janeiro.

talou um alambique de sistema escocês; Devido à sua grande importância e por ter
na capitania do Espírito Santo um enge- vivido cerca de dez anos no Brasil, o con-
nho de serrar madeira; encorajou a ma- de da Barca deixou um arquivo com inú-
nufatura de cerâmicas; propagou a cultu- meros documentos fundamentais para a
ra de chá no Jardim Botânico do Rio de história deste país e que permanecem até

Sala do Arcaz - estantaria do séc. XVIII - Arquivo Distrital de Braga.

Acervo. Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 71-84. jan/jun 1997 -pag. 73


A C E

hoje praticamente inéditos. 18.2.1812 - 15.7.1817;

São os seguintes alguns dos documentos - BULHÕES, Luís Justo de - Pernambuco


de seu arquivo: - 12.1.1815;

- Açúcar: e s t u d o s sobre plantações e - CÂMARA, Manuel Ferreira - Mineralogia


engenhos [séc. XIX]; no Tijuco - 24.4.1811 - 12.5.1817;

- Anua ou anais da província do Brasil - CARNEIRO, Heliodoro Jacinto de Araú-


dos dois anos de 1624 e de 1625. E jo - Escravatura - 13.11.1815 -
sucessos respectivos às casas que por 19.4.1816;
esse tempo conservavam naquele Es-
- CARVALHO, Vicente Vencesiau Gomes
tado os extintos jesuítas [séc. XVIII]
de - Mineralogia - séc. XIX;
(cota: Ms.704);'
- CASTELO BRANCO, Pedro Gomes Fer-
- Botânica: memórias científicas, espé-
rão de - Estabelecimento de uma li-
cies vegetais do sertão brasileiro, bos-
vraria pública na Bahia - 29.7.1811 -
ques dos Ilhéus, construção do Jardim
7.9.1813;
Botânico [séc. XIX];
- CÉSAR, José Pedro - Estradas de Porto
- Comércio com e para o Brasil; Compa-
Alegre - 20.1.1817 - 1.3.1817;
nhia do Qrão-Pará e Maranhão; contra-
to do pau-brasil; contrato de diaman- - COHN, Leão - Comércio do Rio de J a -

tes; tratado do comércio com a Ingla- neiro - 1.2.1815;

terra e as suas influências para a eco- - CONDE DE MOUSTIER - Organização do


nomia brasileira [séc. XVIII-XIX]; Brasil - 6.12.1810-17.12.1810;

- Correspondência recebida - CUNHA, José Marcelino da - Porto Se-


guro - 3.2.1813 - 12.11.1814;
Remetentes:
- ESCHEWEGE, barão de - Mineralogia e
- ARAÚJO, Luís Manuel de - Capitania do
metalurgia - 19.9.1811 - 1.12.1816;
Maranhão - 2.4.1809;
- FRASER, Charles - Agricultura e escra-
- AZAMBUJA, João Frederico Torlade Pe-
vatura - 22.6.1811;
reira de - Marinha - 17.2.1816;
- LASSO, Elias Batista Pereira de Araújo
- BARROS, José Caetano de - Laborató-
- Revolução Pernambucana - 3.2.1813
rio químico do Rio de Janeiro - séc. XIX;
- 2.6.1817;
- BRITO, d. Marcos de Moronha e, conde - LISBOA, Baltazar da Silva - Rio de J a -
dos Arcos - Capitania da Bahia de To- neiro e Brasil em t e r m o s g e r a i s -
dos os Santos - 21.5.1812 - 29.9.1814; 7.3.1808 - 23.11.1814;
- BROTERO, Felix de Avelar - Botânica - - LOBATO, Luís Antônio de Oliveira Men-

pag.74.jan/jun 1997
R , v o

des Dias - Rio de Janeiro e Brasil em - VARMHAGEM, Frederico Luís Guilherme


termos gerais - ? 1814 - 2.3.1817; - Capitania de S. Paulo - 20.7.1814 -
- NOBRE, Francisco Inácio de Siqueira - 2.3.1817;
Pau-brasil - 1808; - WOODFORD, E. H. - Clima, flores e
- PEREIRA, José Rebelo de Sousa - Capi- plantação em S. Paulo - 2.11.1811 -
tania do Ceará - 2.1.1814; 11.4.1816;

- PlrlA LEITÃO, Antônio José Osório de - - Descrições geográficas, topográficas e


Revolução Pernambucana - 16.2.1813 econômicas de uma grande parte do
- 17.3.1817; território brasileiro, n o m e a d a m e n t e
Mato Grosso, Maldonado, Rio da Pra-
- POMTES, Felisbertó Caldeira Brant -
ta; Ilha de Santa Catarina, Porto Segu-
Sublevaçao de n e g r o s e Revolução
ro, Rio Grande de S. Pedro do Sul, Mi-
Pernambucana - 13.1.1811
nas Gerais, Rio Giquitinhonha [séc.
23.3.1817;
XVIII e XIX];
- RATTOM, Jácome - Agricultura, comér-
- Discurso sobre a execução do tratado
cio e indústria - 1.3.1806 - 13.4.1817;
de limites por Alexandre de Gusmão
- REIS, Ambrósio Joaquim dos - Agricul- (cota: Ms.617);2
tura, comércio e ensino no Brasil -
- Documentação sobre a construção do
24.7.1810 - 5.12.1816;
Paço Carioca (1809);
- SAMPAIO, Manuel Inácio de - Gover-
- Duas memórias sobre navegação, uma
nador do Ceará - Governo da capita-
referente à navegação do rio Doce em
nia do Ceará; Revolta dos eclesiásti-
1810 e outra sobre o trânsito maríti-
cos - 25.2.1812 - 8.12.1815;
mo no Rio de Janeiro em 1814;
- SERRA, abade José Correia da - Ascen-
- Estabelecimento de correios entre ca-
dência do Brasil a Reino - 11.12.1801
pitanias [séc. XIX];
- 18.7.1816;
- Exército: despesas, tipo de armamen-
- SILVA, Antônio Pires da - Sertão brasi-
to, questões relacionadas com a defe-
leiro - 13.8.1816;
sa militar do território [séc. XVIII e XIX];
- SILVA, Teotônio José da - Companhias
- Gestão das fazendas pertencentes ao
gerais - 30.4.1814 - 1.1.1817;
conde da Barca: aforamento da fazen-
- SILVEIRA, Miguel de Arriaga Brum da - da do arcediago Antônio de Siqueira,
Processo de envio de chineses para o com mais de 400 escravos; a sesmaria
Brasil - 29.6.1810 - 22.4.1812; da Ponta do Gentio; a fazenda da Es-
- SOTTOMAYOR, Inácio de Sá - Planta- trela; plantações; a vinda de chineses
ções e ouro - 16.8.1811-21.5.1817; para ensinarem a plantar chá [séc. XIX];

Acervo. Rio de Janeiro, v. 10. n° 1, p. 71-84. jan/jun 1997 - pag.75


A C E

Itinerários e descrições das expedições - Trânsito: problema das ligações terres-


no interior do Brasil [séc. XVIII]; tres, abertura de estradas e descrição
das mesmas [séc. XIX].
Laboratório químico do Rio de Janei-
ro, do qual Antônio de Araújo Azevedo
SUBFUNDO J O Ã O A N T Ô N I O DE
tinha sociedade com José Caetano de
ARAÚJO AZEVEDO
Barros, e que estava ligado a uma bo-

J
tica [séc. XIX]; oão Antônio d e Araújo Azevedo
foi um homem ligado ao direito e
Mapas estatísticos sobre a população
às leis. Mão se sabe a data do seu
de diversas capitanias (1801-1813);
nascimento nem de sua morte.
mapas, memórias e relações estatísti-
cas sobre a produção, rendimentos e Teria recebido o título de fidalgo da Casa
d e s p e s a s de várias capitanias, entre Real em 9 de janeiro de 1781.
elas os estudos para o Piauí e a Bahia Em 14 de outubro de 1793, tomou posse
[séc. XIX]; do lugar de juiz d e fora do cível ou crime
Mineralogia: estudos relativos a minas, da Vila de Viana, lugar que manterá até
sua localização, administração e co- 28 de fevereiro de 1799.
brança dos quintos [séc. XVIII e XIX]; Por carta regia de 10 de s e t e m b r o de
Revolução Pernambucana [séc. XIX]; 1798, recebeu mercê do lugar de prove-

Fachada da Biblioteca Pública e do Arquivo Distrital de Braga.

pag.76.jan/jun 1997
K V O

dor da comarca de Coimbra, ocupando em mes p o r t u g u e s e s e os científicos,


1805 o cargo de conselheiro da Real Fa- (18??)
zenda e título do Conselho do Rei, cargo
Poderá ser consultado: José V. Capela.
este atribuído pelo rei d. João VI. "Antônio de Araújo Azevedo e Brasil: a
Foi desembargador efetivo da Relação e importância do arquivo de Antônio de
Casa do Porto (1805), mas não chegou a Araújo Azevedo, conde da Barca, para
exercer o cargo, passando para a história do Brasil no fim do período
desembargador ordinário da Real Fazenda, colonial". In: sep. da Revista Bracara
em virtude de ser irmão do conde da Bar- Augusta. Braga, s.ed., 1992.
ca, então ministro e- secretário de Estado
dos negócios Estrangeiros e da Guerra. FUNDO MONÁSTICO-CONVENTUAL

C
Teria embarcado para o Brasil após a mor- om a extinção das ordens reli-
te do irmão como seu herdeiro universal. giosas em 1834, a documen-
tação pertencente aos mostei-
João Antônio de Araújo Azevedo recolheu,
ros foi inicialmente incorporada à Fazen-
ao longo d e sua vida, a mais variada le-
da do distrito, passando, posteriormen-
gislação, sendo de referir aquela sobre o
te, pelo decreto 2.286, de 11 de agosto
Brasil, cujas datas se balizam entre 6 de
de 1917, que criou o Arquivo Distrital
junho de 1775 e 6 de julho de 1820. Trata-
de Braga, para os depósitos desta insti-
se de documentação impressa e de cópias
tuição.
manuscritas que somam um total de 58
documentos. FUNDO CONGREGAÇÃO DE S.

- Alvarás, decretos e leis sobre sesmarias, BENTO DE PORTUGAL

companhias gerais, marinha, exército, - Documentos diversos relativos à pro-


impressão regia, impostos, juiz de fora, víncia do Brasil [séculos XVI e XVII]
criação de comarcas e vilas, comércio e (cota: CSB 37);
administração da justiça.
- Estados do Mosteiro de Monteserrate
Para além desta legislação, existem outros no Rio de Janeiro (1620-1793) (cota:
documentos igualmente relevantes para o CSB 134, 135);
estudo da história do Brasil.
- Estados do Mosteiro de Mossa Senho-
- Administração das fazendas do conde da ra da Assunção: cidade de S. Paulo
Barca no Brasil (1817-1818); (1726-1792) (cota: CSB 144);
- Avaliação das casas do conde da Barca - Estados do Mosteiro de Mossa Senho-
e da sua biblioteca no Rio de Janeiro ra das Brotas: recôncavo da Bahia de
(1820-1821); Todos os Santos (1711-1789) (cota:
- Plantas que tenho na chácara, seus no- CSB 141);

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° l.p. 71-84, jan/jun 1997-pag.77


A C E

- Estados do Mosteiro de Mossa Senhora Bahia do Brasil (1764-1800) (cota: CSB


do Desterro d e Santos (1650-1792) 137);
(cota: CSB 140);
- Estados do Mosteiro d e S. Bento d e
- Estados do Mosteiro de Mossa Senhora Olinda em Pernambuco (1657-1756,
de Monserrate de Paraíba: hoje cidade 1769-1799) (cota: CSB 138, 139);
J o ã o Pessoa, estado da Paraíba - Bra-
- Estados dos mosteiros beneditinos no
sil (1645-1793) (cota: CSB 141);
interior de S. Paulo [Paranaíba, Jundiaí,
- Estados do Mosteiro de S. Bento da Sorocaba] (1736-1789) (cota: CSB 145);
Bahia do Brasil (1652-1740); Estados
- Inquirições de gênere, vita et moribus
d o p a d r e p r o c u r a d o r da província
de pretendentes ao hábito de S. Bento
beneditina do Brasil (1716-1728); Lis-
para a província do Brasil [século XVIII]
ta d e e m b a r q u e d e a ç ú c a r ( 1 7 6 4 -
(cota: CSB 50-56);
1766); Conta dos gêneros mandados de
Lisboa (1767); Procuradoria do Brasil - Sindicações da província do Brasil
(1716-1728). (cota: CSB 136); ( 1 7 2 4 - 1 7 6 1 , 1764-1800) (cota: CSB
3 2 1 , 322).
- Estados do Mosteiro de S. Bento da
Poderá ser consultado:

Antônio de Sousa Araújo e Armando B.


Malheiro da Silva, Inventário do fundo
monástico-coventual, Braga: Arquivo
Distrital de Braga-Uníversidade do Minho,
1985.

FUNDO FRANCISCANOS (PROVÍNCIA


DA C O N C E I Ç Ã O )

- Patente para inquirições de noviços da


província da Imaculada Conceição do
Reino d e Portugal e estado de
Maranhão [séc. XVIII] (cota: Ms. 9). 3

Coleção de Manuscritos

- Antídoto. Dissertação escrita e recita-


da por José Lopes Ferreira na Acade-
mia dos Renascidos Baienses, no dia
23 de outubro de 1759. 1759 (cota: Ms.
Salão do Castelo - Seção Notarial - Arquivo Distrital
de Braga. 872-j);

pag,78,jan/jun 1997
R V O

- Apontamentos de flora brasileira e de quarum semina coílegimus at que ad


plantas que para ali foram levadas. limaeanum sistema digestas sintimus
1816 (cota: Ms. 84); secundum classes, Ordines, Oenera,
Species et varietatis. 1806 (cota: Ms.
- Apontamentos de história natural [sé-
652);
culo XIX] (cota: Ms. 886);
- História e geografia brasileiras [14 fls.
- Carta de brasão das armas passada
s/num. (15-39)] (cota: Ms. 231-a);
pela rainha d. Maria II a favor de An-
tônio Pires da Silva Pontes Leme, ca- - Instituição da Companhia Geral para o
valeiro da Ordem de S. Bento de Aviz Estado do Brasil [fls. 265-299] [século
e governador da. capitania do Espírito XVIII] (cota: Ms. 872-1);
Santo no Brasil. 1798 (cota: Ms. 1006);
- Jornada do sr. d. João VI ao Brasil em
- Carta de Qonçalo Xavier de Alcaçova a 1807 [século XIX] (cota: Ms. 1117);
d. Vicente de Sousa [século XVIII],
- Lavouras e sobre a Fábrica do Tabaco
[fls.l74-177v.] (cota: Ms. 640-u);
no Brasil [século XVI11] [fls. 172-173 v.]
- Carta regia de d. José I para o mar- (cota: Ms. 640-t);
quês de Lavradio, capitão-general de
- Memória sobre as minas da capitania
mar e terra do Estado do Brasil, para
de Minas Gerais, suas descrições, en-
que reprima a vadiagem existente no
saios e domicílio próprio à maneira de
Brasil. 1792 (cota: Ms. 895-6);
itinerário, com um a p ê n d i c e . 1801
- Coleção de autógrafos inéditos do cé- (cota: Ms. 620);
lebre médico português Ribeiro
- Miscelânea de assuntos de caráter mís-
Sanches [século XVIII] (cota: Ms. 640); tico, de moral, de geografia, senten-
- Diário que fez o exmo. sr. d. fr. Caeta- ças e adágios, de história e várias ou-
no Brandão, arcebispo e senhor de tras notícias [século XVIII] (cota: Ms.
Braga primaz q u a n d o era bispo no 231);
Pará em os Estados do Brasil, [século - Motícia da tomada da praça da Mova
XVIII] (cota: Ms. 330); Colônia do Sacramento situada nos
- Dos diamantes - sétima inspeção ou domínios d'el-rei de Portugal no país
dedução compendiosa dos contratos da da América. 1762 (cota: Ms. 507-10);
mineração dos d i a m a n t e s . . . [século
- notícias do Brasil. 1787 (cota: Ms. 90);
XVIII] (cota: Ms. 757);
- Movo método de fazer o açúcar ou re-
- Ensaio da física vegetal dos bosques
forma geral dos engenhos do Brasil em
dos Ilhéus [século XIX] (cota: Ms. 577);
utilidade particular e pública [século
- Enumeratio stispium Brasiliensium XVIII] (cota: Ms. 503);

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 71-84. jan/jun 1997-pag.79


A C E

- Pastoral de d o m frei Antônio do Des- acontecimentos e as transformações p o -


terro, bispo do Rio de Janeiro. 1760 líticas, sociais e econômicas ocorridas ao
(cota: Ms.895-28); longo do século XIX. A concessão de a t r i -
buições e poderes ao governador civil
- Pauta c o m p o s t a p e l o e n s a i a d o r da
dependia do regime que vigorasse, mais
Casa da Moeda da Bahia, Clemente Ál-
ou menos favorável à centralização a d -
vares de Aguiar. 1783 (cota: Ms. 82);
ministrativa.
- Regimento do fiscal de diamantes em
Mo entanto, algo de constante permane-
1772. [1772] (cota: Ms. 946-10);
ceu inerente à figura deste magistrado,
- Representação que ao fidelíssimo e
que foi o fato de representar o governo e
augusto senhor rei d. João o quinto fez
de ser o elo de ligação entre o poder cen-
Alexandre de Gusmão, expondo-lhe os
tral, que o nomeava, e o poder local que
importantes e relevantes serviços, que
supervisionava, administrava e tutelava.
pelo discurso de m u i t o s anos fez à
Coroa, rogando-lhe a mais correspon- Durante todo o século XIX e início d o XX,

d e n t e e j u s t a r e m u n e r a ç ã o [século apesar do Brasil j á se ter libertado d o

XVIII] [fls. 32-83] (cota: Ms. 617-b); domínio português, a emigração de por-
tugueses para a ex-colônia não d i m i n u i u ,
- Resposta que deu Alexandre de
pelo contrário, cresceu à medida que v i -
Gusmão, conselheiro do Conselho Ul-
rava o século. Tal fato levou a u m a u -
t r a m a r i n o sobre a representação a n -
mento da produção de documentos rela-
tecedente, feita a el-rei d . José I, pelo
cionados à emigração - como, por exem-
brigadeiro, ex-governador da Colônia
plo, a concessão de passaportes, a u t o r i -
do Sacramento [fls. 126 v-151 vj. 1751
zação de ausência para o estrangeiro etc.
(cota: Ms. 520-f);
-, que era, e é, da competência do Gover-
- Treslado fiel de uma carta enviada por no Civil.
5 . S. o papa Clemente VI ao amado f i -
Esta documentação revela-se de grande
lho Lopo Furtado, general da armada
interesse quer para o estudo da
de Portugal, conde do Rio Grande. 1717
demografia portuguesa e brasileira e de
(cota: Ms. 100-n).
movimentos populacionais, quer para es-
F U N D O G O V E R N O C I V I L DE B R A G A tudos genealógicos, nomeadamente de
famílias brasileiras de origem portugue-

O
Governo Civil é um órgão de
sa. As séries referentes ao tema são as
administração distrital que sur-
seguintes:
giu em Portugal em 1835, ape-
sar das suas origens remontarem aos sé- - Autos de consentimento a menores
culos XIII-XIV. para embarcar para o Brasil [ 1 9 3 0 ] ;

A h i s t ó r i a desta i n s t i t u i ç ã o reflete os - Guias de pedidos para concessão de

pag.80,jan/jun 1997
R V o

passaportes [1890-1924]; O Registro Paroquial é constituído pelos


livros paroquiais (freguesias) em que fo-
- P e d i d o s d e v i s t o de passaportes
ram lavrados os assentos de batismo, ca-
[1926];
samento e óbito, feitos pelos párocos das
- Processos para concessão de passa- freguesias. Além desta função específi-
portes [1958, 1962]; ca, os livros paroquiais serviram também
- Registro de passaportes [1866-1987]; de registro dos róis de confessados e
crismados, dos testamentos, dos bens de
- Requerimentos de passaportes
alma, dos inventários das igrejas e ou-
[1919-1929].
tros assuntos de interesse local.
Estas mesmas séries poderão ainda ser
Os primeiros assentos paroquiais (de ca-
consultadas no Arquivo do Governo Civil,
samento) datam dos finais do século XV
mediante autorização especial.
e foram elaborados no seguimento das
FUNDO REGISTRO PAROQUIAL recomendações feitas em 9 de junho de
1462 por d. Afonso nogueira, arcebispo

CE
istrito de Braga está subdivi-
de Lisboa, no capítulo de visitação à sua
administrativamente em
diocese.
concelhos, que estão por
sua vez subdivididos num total de 443 fre- rio século seguinte, a Constituição de Lis-
guesias. boa de 1536 veio determinar a realiza-

Salão Medieval Superior - Seção Notarial - Arquivo Distrital de Braga.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10. n° 1. p. 71-84.jan/jun 1997-pag.81


A C E

ção dos assentos de batismo e óbito. No R. C. [1531-1883]


a
entanto, só depois da 24 sessão do Con-
R. O. [1536-1883]
cilio de Trento (1563), cujas decisões fo-
ram confirmadas pela bula Benedictus R. T. [1694]

Deus (1564), mandada executar em Por- Concelho de Braga


tugal a 5 de setembro do mesmo ano,
(58 freguesias)
por alvará do rei d. Sebastião, os regis-
tros de batismo e casamento assumem R. B. [1531-1891]
caráter obrigatório. R. C. [1526-1890]
Após a implementação da República, e a R. O. [1540-1890]
partir de 1° de abril de 1911, os livros
R. T. [1715-1866]
paroquiais foram entregues por imposi-
ção legal às repartições do Registro Civil Concelho de Cabeceiras de Basto
- criado em 18 de fevereiro do mesmo
(17 freguesias)
ano -, onde permaneceram até à sua in-
R. B. [1555-1850]
corporação nos arquivos distritais, resul-
tado da aplicação do decreto n. 1.630, R. C. [1515-1843]
de 9 de julho de 1915.
R. O. [1577-1850]
O fundo documental encontra-se total-
R. T. [1722-1807]
mente microfilmado. Poderá ser consul-
tado o "Inventário Coletivo dos Registros Concelho de Celorico de Basto

Paroquiais". [Lisboa], Secretariado de Es- (22 freguesias)


tado da Cultura, Arquivos Nacionais/Tor-
R. B. [1567-1890]
re do Tombo, Inventário do Patrimônio
Cultural Móvel, 1994, vol. 2. R. C. [1568-1890]

Concelho de Amares R. O. [1565-1890]

(24 freguesias) R. T. [1719-1864]

R. B. [1552-1879] Concelho de Esposende

R. C. [1565-1885] (15 freguesias)

R. O. [1566-1880] R. B. [1564-1860]

R. T. [1721-1911] R. C. [1581-1867]

Concelho de Barcelos R. O. [1562-1882]

(94 freguesias) R. T. [1718-1859]

R. B. [1536-1882] Concelho de Fafe

pag.82,jan/jun 1997
R V O

(36 freguesias) R. C. [1537-1882]

R. B. [1571-1878] R. O. [1543-1885]

R. C. [1565-1896] R. T. [1658, 1719-1845]

R. O. [1565-1872] Concelho de Vila Mova de Famalicão

R. T. [1732-1861] (51 freguesias)

Concelho de Póvoa de Lanhoso R. B.[1570-1883]

(29 freguesias) R. C. [1569-1883]

R. B. [1536-1876] R. O. [1572-1883]

R. C. [1543-1876] R. T. [1634-1834

R. O. [1556-1877] Concelho de Vila Verde

R. T. [1637-1855] (60 freguesias)

Concelho de Terras do Bouro R. B. [1536-1888]

(17 freguesias) R. C. [1556-1894]

R. B. [1543-1860] R. O. [1558-1888]

R. C. [1550-1871] R. T. [1670-1881]

R. O.[1550-1876] Siglas usadas:

R. T. [1726-1807] R. B.- Registros de batismo

Concelho de Vieira do Minho R. C - Registros de casamento

(20 freguesias) R. O.- Registros de óbito

R. B. [1538-1885] R. T.- Registros de testamento

ARQUIVO DISTRITAL DE BRAGA


Telefone (053) 6 1 2 2 3 4 • Universidade do Minho • TeleFax 0 5 3 - 6 1 6 9 3 6
e-mail: adb@uminho.pt • URL: http://www.adb.pt

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 71-84. jan/jun 1997 - pag.83


N O T A S
1. Mo início deste século, no Arquivo Distrital de Braga, foi constituída uma Coleção de Manus-
critos, ainda hoje existente, sobre a forma de catálogo. Contudo, alguns dos documentos aí
incluídos pertencem, em princípio, ao fundo Família Araújo Azevedo. Assim, foi estipulado
que essa ordem náo seria alterada, ficando esses documentos depositados no rol dos ma-
nuscritos onde se encontram há muitos anos, mas intelectualmente ligados ao fundo a que
pertencem.
2. O mesmo da nota anterior.
3. Ma Coleção dos Manuscritos, atrás referida, foram também incluídos documentos provenien-
tes de mosteiros e conventos, que fisicamente se m a n t ê m aí, mas arquivisticamente sáo
remetidos para o seu contexto orgânico.

A B S T R A C T
Braga's District Archives possess an extremely rich collection of documents, highly i m p o r t a n t for
research in many áreas of the historical sciences. This work endeavours to describe the articles of
these archives which are of interest to the Brazilian history.

R É S Ü M É
Les A r c h i v e s d u D i s t r i c t d e Braga c o n s e r v e n t un t r ê s r i c h e p a t r i m o i n e en d o c u m e n t s ,

remarquablement intéressant pour Ia recherche dans plusieurs domaines des sciences historiques.

Dans ce travail nous presentons ces fonds d'archives qui ont un intérêt pour 1'histoire du Brésil.
Caio Boschi
Professor titular de História da Universidade Federal de Minas Gerais e da PUC/MG.

tvápido passeio por outros


arquivos portugueses

o conhecedor ffl
loco dos arquivos
portugueses de in-
teresse para a história do Brasil
que folhear as outras páginas deste nú-
dem, o Arquivo Histórico Ul-
tramarino e os Arquivos
Macionais/Torre do Tombo,
com diferentes organizações
de acervos e com distintas condições de
mero de Acervo, ou mesmo passar uma acesso e de trabalho, perfilam-se como
vista d'olhos sobre o sumário, dirá que, o 'núcleo duro' do objeto-tema deste nú-
no essencial, as instituições e, por ex- mero da revista do Arquivo Nacional.
tensão, os fundos documentais a serem
Uma avaliação menos apressada - ou pou-
contatados ali se encontram referidos e
co mais rigorosa - exigiria, de imediato,
apresentados.
a inclusão dos fundos arquivísticos inte-
Verdade? não, meia verdade. A noção grados à Biblioteca Nacional de Lisboa.
mais elementar que o candidato às lides Observação e reparo irrefutáveis, se qui-
arquivísticas na nossa ex-metrópole tal- sermos nos ater ao cabalístico número
vez tenha é a de que os dois principais três e a ele nos circunscrevermos, quan-
arquivos surgem sempre com natural e do da realização de pesquisas documen-
justificável exuberância. Mesmo para os tais em plagas lusitanas. A rigor, o Ultra-
não-iniciados é indubitável que, pela or- marino, a Torre do Tombo e a Biblioteca

Acervo. ™,o de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 85-96,jan/jun 1997 - pag.85


A C E

nacional, para adotar a terminologia co- acervo sejam os documentos produzidos


loquial dos seus consulentes, formam o na segunda metade do setecentos, so-
triângulo básico de trabalho para os i n - bretudo entre 1750 e 1777, estendendo-
teressados no estudo da história brasi- se ainda aos anos que medeiam da que-
leira colonial. da do célebre ministro ao m o m e n t o de
sua morte.
Porque assim é o u , pelo menos, porque
é assim que temos observado serem a Do precioso fundo se fez circunstanciado
prática e o exercício da atividade inventário, no ano seguinte à incorpora-
investigatória nos arquivos de Portugal, ção daquela massa documental à Biblio-
e porque apenas a última das três insti- teca Nacional. Mele, em 1889, José Antô-
tuições referidas não estampa nesta re- nio Muniz descreveu o conteúdo de cada
vista as fecundas potencialidades que os um dos códices, complementando-o com
seus fundos documentais oferecem, co- a elaboração de dois índices: um de as-
mecemos por apresentar uma idéia, ain- suntos (p. 1-122) e outro onomástico (p.
da que pálida, de seus acervos 123-143).
concernentes à história do Brasil.
Não é o caso aqui de apontar a tão varia-
Os manuscritos de nosso interesse - avul- da gama de assuntos sobre os quais ver-
sos ou sob a forma de códices - encon- sam aqueles d o c u m e n t o s . Cremos, no
tram-se armazenados na Divisão dos Re- entanto, que, para ficar em u m ou dois
servados da Biblioteca, em Campo Gran- exemplos de grande impacto para o es-
de. Ali, sem prejuízo da lenta consulta aos tudo da realidade do Brasil c o l o n i a l , o
' f i c h e i r o s ' dos c h a m a d o s Manuscritos conjunto de documentos relativos aos j e -
avulsos, as nossas atenções suítas e, intimamente a eles respeitantes,
justificadamente convergem para a pes- os que se referem à governação de Fran-
quisa na coleção Pombalina e no núcleo cisco Xavier Furtado de Mendonça na
dós Códices. Amazônia. A ter e m conta t a m b é m um

A Pombalina, composta por 758 códices, considerável acervo de leis, d e c r e t o s ,

provém da compra feita pelo Estado por- alvarás, ofícios e ordens regias, sobretu-

tuguês, em fins do século passado, aos do do século XVIII, subordinados às cha-

herdeiros do primeiro marquês de Pom- madas coleção Josefina' e coleção de d .

bal. Apesar das aparências, nela não se Maria I'.

encontram fontes apenas respeitantes ao


Quanto aos códices (anteriormente de-
período de governação do marquês, ao
signados Fundo Geral de Manuscritos:
arquivo pessoal dele, mas também do-
Códices ou Fundo Geral: Códices), cujo
cumentos balizados cronologicamente en-
número supera a casa de 13 mil volumes
tre os séculos XV e XIX.
documentais, sua consulta só se pode
É n a t u r a l , p o r é m , que o fulcro desse efetuar in loco, através de fichas exis-

pag.86.jan/jun 1997
K V O

tentes em gavetas de móveis de madei- minados temas nas instituições portugue-


ra localizadas na sala de leitura da Divi- sas, por outro lado, muito pouco se vi-
são dos Reservados em causa. nha fazendo no sentido de dar conheci-
mento a um público mais amplo dos r i -
Se, na nossa 'peregrinação', ficássemos
cos recheios documentais depositados em
circunscritos aos três mencionados arqui-
Portugal relativos à nossa história.
vos, por certo que, repita-se, teríamos
tido acesso à parte mais substantiva - É óbvio que a mera consulta às referên-
quantitativa e qualitativamente falando - cias documentais e bibliográficas veicu-
da documentação manuscrita respeitante ladas nas páginas finais dos referidos tra-
ao Brasil colonial depositada em institui- balhos acadêmicos dá-nos uma noção
ções culturais portuguesas. desse manancial de fontes. Todavia, nada

Assim procedendo, no entanto, estaría- que se possa comparar com a ostensiva

mos deixando de lado ujn alentado uni- (por que não dizer cívica?) política de

verso de fontes, independentemente do identificação e reprodução dos documen-

que ora nos é apresentado como exis- tos relativos à história do Brasil deposi-

tente nos arquivos históricos da Casa da tados em Portugal, desenvolvida no sé-

Moeda e do Tribunal de Contas, em Lis- culo passado pelo Instituto Histórico e

boa, no Arquivo Distrital de Braga e na Geográfico Brasileiro e que vem sendo

Biblioteca Pública Municipal do Porto. ultimamente implementada pela meritó-


ria ação do Projeto Resgate, capitanea-
Mais. Estaríamos repetindo e, com isso,
do pelo Ministério da Cultura do Brasil.
reafirmando o comportamento típico que,
grosso modo, é (ou era?) perpetrado pelo Retornemos ao vetor que deve orientar
pesquisador de que falamos: o de confi- este artigo para assinalar, mesmo tardia
nar seus trabalhos de investigação aos e talvez desnecessariamente, que o es-
principais arquivos públicos de Lisboa e, copo básico dos acervos documentais sob
permitam-nos menção forte a um análise é de natureza político-administra-
corolário dessa atitude: o de convergir tiva, reduz-se (quase que) exclusivamente
suas consultas e apontamentos para a ao período colonial de nosso país, trata
documentação que respeita a seus te- de temas de interesse coletivo (razão
mas-objetos de tese ou de dissertação p e l a q u a l i n v e s t i g a ç õ e s de v e r t e n t e
acadêmicas. Com isso, se a historiografia genealógica, por exemplo, não são aqui
brasileira, mormente aquela que é pro- tidas como prioritárias) e se volta, mes-
duzida nos cursos de pós-graduação de mo não fetichizando-o, para o documen-
d e n t r o o u de fora d o país, t e m s i d o to escrito. Com isso, essas nossas ache-
inquestionavelmente enriquecida por tra- gas não atenderão em pleno aos interes-
balhos - alguns exaustivos e definitivos - ses, por exemplo, dos pesquisadores em
de garimpagem arquivística sobre deter- história das artes plásticas e da arquite-

Acervo. Rio de Janeiro, v. 10. n° 1. p. 85-96, jan/jun 1997 - pag.87


A C E

tura. Ademais, não buscamos identificar Ressalvas feitas, cumpre então visitar a l -
e sequer mencionar os valiosos arquivos guns outros acervos arquivísticos
notariais, eclesiásticos e mesmos os m u - concernentes à história brasileira. Em Lis-
nicipais, exceto quando os mesmos, não boa, logo avulta o da Biblioteca da Aju-
de maneira esparsa ou atomizada, têm da, localizado na ala norte da parte tér-
núcleos ou fundos reunindo documentos rea do Palácio nacional h o m ô n i m o .
sobre o Brasil, Ali a documentação relativa ao nosso país

Mapa do Brasil com as divisões em capitanias. Roteiro de todos os


sinais |...| que há na costa do Brasil de Luís Teixeira, c. 1586. Lisboa,
Biblioteca da Ajuda.

pag.88,jan/jun 1997
R V O

já se encontra praticamente anunciada Aliás, se, como lembrou definitivamente


graças ao denodado esforço de Carlos Capistrano de Abreu, a história do Brasil
Alberto Ferreira, q u e fez publicar em colonial não estará realizada enquanto
1946 o seu volumoso Inventário dos ma- não tiver o domínio da história da atua-
nuscritos da Biblioteca da Ajuda referen- ção da Companhia de Jesus entre nós,
tes a América do Sul, obra para a qual o a t é , pelo m e n o s , 1 7 5 9 , a n o de sua
autor preparou um índice, impresso à extinção, cumpriria referir, para além de
parte pelo Arquivo nacional do Brasil, em todas as instituições acima aludidas, a
1968. biblioteca úaRevista Brotéria, em Lisboa,
e o Arquivo Distrital e Biblioteca Munici-
Esses dois instrumentos de trabalho, con-
pal de Évora.
quanto tenham sido divulgados há déca-
das, e mesmo sendo de extrema utilida- Ainda na capital portuguesa, assinale-se
de, não dispensam a consulta das tabe- a existência de um repositório documen-
las de conversão de parte das cotas pe- tal pouco ou quase nada consultado pe-
las quais estão referidas nas duas obras. los pesquisadores aqui abordados: o Ar-
quivo Histórico do Ministério dos negóci-
Além disso, nem todas as fontes de inte-
os Estrangeiros.
resse direto para a história brasileira es-
tão identificadas. Tudo indica que o mai- lia realidade, este especializado arquivo
or volume d e s s a s fontes já tenha sido foi desmembrado e está fisicamente ins-
objeto de divulgação. Contudo, um exaus- talado em dois locais distintos: o fundo
tivo inventário de 'documentos avulsos' relativo ao período anterior a 1850 inte-
vem s e n d o e l a b o r a d o p e l o s técnicos gra o acervo dos Arquivos Macionais/Tor-
especializados daquela biblioteca, já há re do Tombo; o da fase posterior até a
alguns anos. É aguardar para conhecer, atualidade encontra-se muito bem cuida-
dimensionar e debruçar-se sobre este do no edifício-sede daquele ministério, o
acervo complementar. Palácio das necessidades.

De toda forma, como se vê, a consulta à Da primeira parte do fundo, cujo inven-
Ajuda (novamente a linguagem coloqui- tário completo, elaborado pela renomada
al) é ponto de nossa passagem - e para- arquivista Maria do Carmo Jasmins Dias
gem - obrigatória. Sem falar do riquíssimo Farinha, foi publicado em 1990 pela Tor-
acervo bibliográfico ali existente, e só re do Tombo, poderíamos destacar, para
para mencionar um fundo muito solicita- o objeto sob análise, a correspondência
do, aponte-se a não menos rica coleção do Ministério dos negócios Estrangeiros
Jesuítas na Ásia, imprescindível para, no com a Legação de Portugal no Brasil, en-
mínimo, as desejadas análises compara- tre 1826 e 1842, bem como os despa-
tivas entre a atuação dos inacianos no chos do ministério para o consulado por-
Oriente e no Brasil. tuguês no Rio de Janeiro. Sem esquecer

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 85-96, jan/jun 1997 - pag.89


A C E

que, tendo origem na documentação da dos documentos então armazenados e m


Secretaria de Estado dos negócios Estran- instituições da orla ribeirinha do Tejo.
geiros e da Guerra, criada em 1736, este
A propósito, se o interesse do pesquisa-
fundo abrange também fontes de natu-
dor estiver voltado para o movimento do
reza diplomática referentes ao período
comércio marítimo entre a metrópole e
de permanência da família real e da ad-
o Brasil, mesmo no período anterior ao
m i n i s t r a ç ã o p o r t u g u e s a no B r a s i l , de
dito terremoto, caberia lembrar a exis-
1808 a 1822.
tência de outra parte residual dos a r q u i -
Isto, evidentemente, para não mencionar vos da A l f â n d e g a d e L i s b o a q u e f o i
a d o c u m e n t a ç ã o p ó s - 1 8 5 0 , que ainda transferida para a Torre do Tombo, onde
aguarda o seu analista e um historiador hoje pode ser compulsada. A declarar
que praticamente ponha fim à virginda- também, e para ficar nesta ampla e fe-
de com a qual o citado fundo se apre- cunda temática, que o Arquivo Histórico
senta. Em suma, é mais do que passada da Câmara Municipal de Lisboa dispõe de
a hora de sairmos do terreno da retórica uma notável coleção intitulada Marco de
e levarmos a decantada fraternidade nauios, onde, somente no que tange ao
l u s o - b r a s i l e i r a a g e r a r uma p r o d u ç ã o comércio e à movimentação de embar-
historiográfica minimamente satisfatória. cações chegadas do Brasil a Lisboa ou
daí saídas rumo ao nosso país, sobretu-
C o n t i n u a n d o em L i s b o a , a i n d a tendo
do para o período entre 1772 e 1839, há
como referência a tônica mítica, j á é tam-
cerca de cem preciosos códices conten-
b é m hora de os nossos pesquisadores
do elementos informativos seja da entra-
cessarem de repetir lugares-comuns em
da dos navios, da proveniência e discri-
nada c o n d i z e n t e s c o m a v e r d a d e . For
minação da carga, seja dos livros de re-
exemplo, é mister ir ao encontro das fon-
ceita e despesas do direito de entrada
tes sobre o Brasil existentes no Arquivo
cobrados pela Casa dos Marcos. É impor-
da Alfândega de Lisboa, onde, nos n ú -
tante não esquecer que o arquivo histó-
cleos 54 e 115 (pelo menos) em três vo-
rico da Casa da Moeda de Lisboa, objeto
lumes e em 18 códices, respectivamen-
d e a r t i g o nesta r e v i s t a , t e m s o b sua
te, inserem-se documentos referentes à
guarda um conjunto verdadeiramente es-
Casa da índia, entre 1519 e 1759, e pro-
petacular, com abrangência cronológica
venientes da Alfândega Grande do Açú-
muito mais elástica, de livros-códices e
car, compilados na segunda metade do
maços de documentos que são afins e/
século XVIII.
ou complementares aos que se acaba de
Em o u t r a s palavras, é preciso r o m p e r aludir.
com a falsa suposição de que o terremo-
to de I o de novembro de 1755 e seus des- A ênfase (talvez exagerada) que v i m o s
dobramentos deram cabo da totalidade conferindo aos documentos escritos de

pag.90.jan/jun 1997
R V O

natureza político-administrativa e econô- Com efeito, a assinalada convergência


mica não pode e não deve deixar de lado de atenções para a trindade formada
o registro, mesmo que fugaz, de documen- pela Torre do Tombo, Biblioteca nacio-
tos de outra espécie, como sejam, por nal e Ultramarino, por vezes, leva os
exemplo, os cartográficos. pesquisadores a somente nela busca-

I P^PW^^^B

Armada de Pedro Álvares Cabral. Memória das armadas, c. 1568.


Academia das Ciências de Lisboa.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 85-96, jan/jun 1997 - pag.91


A C E

rem fontes cartográficas. Diga-se de pas- rico acervo de memórias e documentos


sagem que não é pequeno o número de econômicos e científicos p r o d u z i d o s à
consulentes daquelas instituições que época da fase inicial de sua existência,
desconhecem o conjunto de mapas, tra- lá se encontra também uma importante
çados, plantas e planos que aqueles ar- documentação cartográfica. Quanto às
quivos possuem. fontes relativas ao Brasil, consulte-se o
levantamento realizado por J ú l i o Caio
Por conseguinte, no gerai, há muito o que
Veloso, publicado nos números 19 a 23
apurar, em matéria cartográfica, fora do
(março a dezembro de 1990) da Revista
citado eixo. Só em Lisboa, sem esquecer
ICALP.
o excelente acervo de mapas e plantas
pertencentes ao Arquivo Histórico Ultra- Isto sem falar na bem nutrida coleção de
marino e para não mencionar novamen- legislação portuguesa - manuscrita e i m -
te o Arquivo Distrital e a Biblioteca Muni- pressa - que abrange e abriga, em 4 3
cipal de Évora, há, pelo menos, outros robustos volumes, documentos adminis-
q u a t r o e x c e l e n t e s n ú c l e o s de f o n t e s trativos de caráter jurídico-legal desde o
cartográficas respeitantes (não só) ao século IX até 1836, compilada no século
Brasil: o da Sociedade de Geografia de passado por Francisco Manuel Trigoso de
Lisboa, o da Academia das Ciências de Aragão Morato. A nosso ver é uma falha
Lisboa, o do Arquivo Histórico Militar e o grave do pesquisador pressupor que a
do pouco conhecido, mas primoroso. Ga- simples consulta às Ordenações do Rei-
binete de Estudos Arqueológicos de En- no ou às c o l e ç õ e s de l e i s c o m o as
genharia Militar. publicadas por Antônio Delgado da Silva
ou por José Justiniano de Andrade e Sil-
Da Sociedade de Geografia, não caberia
va o u , ainda, que a consulta aleatória a
lembrar só aquele setor, não obstante ser
esse tipo de documento no interior dos
ele composto de boas e bem conserva-
fundos arquivísticos resulte satisfatória ou
das peças cartográficas, rio Setor dos Re-
suficiente. For conseguinte, não obstante
servados pode-se consultar bem fornidos
sua falta de o r g a n i c i d a d e , a c o l e ç ã o
fundos documentais, j á catalogados, de
Aragão Morato merece ser lembrada não
que nos dão conhecimento dois ou três
apenas para a finalidade básica a que se
artigos de autoria de Rosalina Silva Cu-
destina, como também para c o m p l e m e n -
nha, publicados no Boletim da Filmoteca
tar (e, por vezes, substituir) documentos
Ultramarina Portuguesa e no Boletim In-
avulsos de outros acervos arquivísticos
ternacional de Bibliografia Luso-Brasileira.
sobre a história de Portugal e de suas

Idêntico comportamento se deve ter re- ex-colônias. Ressalve-se que, sob a chan-

lativamente à Academia de Ciências. Ma- cela de legislação, há fontes fundantes e

j o r i t a r i a m e n t e procurada devido ao seu prioritárias para o b o m entendimento das

pag.92.jan/jun 1997
R V O

formas organizacionais e do funciona- mente, sobre a Colônia do Sacramento.


mento das estruturas administrativas do
O Gabinete de Estudos Arqueológicos de
nosso passado colonial, inclusive porque
Engenharia Militar, criado na década de
no seu interior multiplicam-se documen-
1960, destinava-se a "estudos de fortifi-
tos da rotina e do cotidiano da adminis-
cações e das obras militares", sem con-
tração pública de e n t ã o , como sejam,
tar evidentemente com análises relativas
dentre outros, os decretos, os alvarás,
à arma da engenharia do exército portu-
as cartas regias e as provisões.
guês. Sem manter qualquer vínculo com
A propósito de legislação, registre-se, o Arquivo Histórico Militar e nem sendo-
mesmo que elas não tenham a qualidade Ihe necessariamente complementar, do
do conjunto acima referido, as coleções Qabinete, pode-se dizer que sua riqueza
'Josefina' e de d. Maria I', do acervo da documental está na razão inversa da sua
Biblioteca nacional de Lisboa, reunidas consulta, o que é de se lamentar. Em seu
e anotadas por Alberto Rodrigues Vale, e acervo, c u i d a d o s a m e n t e p r e s e r v a d o ,
integrantes da coleção Pombalina, onde encontram-se, em significativa quantida-
podem ser encontradas, respectivamen- de, desenhos e plantas de fortificações,
te, pelos volumes de número 453 a 460 de instalações militares, de cartografia,
e de 461 a 468. de hidrografia, dos portos e da urbani-
Sobre o Arquivo Histórico Militar, além da zação no Brasil colonial. Em suma, para
citada d o c u m e n t a ç ã o cartográfica (da o gênero, é precioso e merece ser me-
qual pode-se ter uma informação atra- lhor conhecido e explorado.
vés de relações constantes dos volumes
Antes de deixarmos Lisboa em definiti-
43 e 48 do Boletim daquela instituição),
vo, a b r a m o s um p a r ê n t e s e para falar
anunciem-se fontes outras para o conhe-
sobre a existência de numerosos acer-
cimento, por exemplo, das tropas, do
vos documentais de posse de herdeiros
arsenal do exército e d a s instalações
de casas senhoriais do período de que
militares no Rio de Janeiro das impor-
nos ocupamos e que, com diferentes ên-
tantes primeiras décadas do século XIX;
fases, tiveram ancestrais relacionados di-
do plano de defesa da ilha de Santa
retamente com a colônia portuguesa da
Catarina, bem como de documentos re-
ferentes a individualidades de América do Sul.

significativo impacto na realidade Ocioso discutir a origem e a legitimidade


colonial - André Vidal de Megreiros, de grande parte desses arquivos ou de,
Joaquim Silvério d o s Reis e José pelo menos, uma fatia considerável de
Bonifácio de Andrade e Silva -, além de seus núcleos documentais. Embora ética
documentos sobre a colonização suíça e legalmente os documentos produzidos
no Rio de J a n e i r o e, mais a l e n t a d a - ou recebidos durante o exercício de fun-

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1. p. 85-96, jan/jun 1997-pag.93


A C E

ções públicas não sejam de propriedade da Biblioteca Geral da Universidade, sob


particular de seus titulares, ainda assim a orientação inicial mas insuficiente do
não será apenas nos arquivos públicos Catálogo de manuscritos relativos ao Bra-
ou oficiais que s e deverá buscar esse tipo sil, preparado e publicado em 1941 por
de fontes. Elas poderão ser encontradas Francisco Morais, dirigir-nos-emos ao ar-
também - e, dependendo do período do quivo da Universidade. Lá, como se não
tema ou do assunto que se procure - em bastasse o amplo universo de dados bio-
arquivos privados. Claro está que nem gráficos referentes a estudantes e pro-
tudo o que se encontra nestes últimos são fessores brasileiros que durante todos os
documentos de domínio publico ou que, séculos de nossa história vincularam-se
pelo menos, não possam ser objeto de àquela sete vezes centenária instituição,
discussão em torno de sua privacidade valerá a pena dar um mergulho em força
ou não. Aliás, são tênues os limites que, nos trinta e nove códices constituintes da
também nessa matéria, separam o pú- coleção conde dos Arcos.
blico do privado.
fía Invicta cidade', isto é, no Porto, colo-
Desse gênero de arquivos, pode-se aqui camos ponto final no passeio. Como o
referir aos das casas de Castelo Melhor, acervo de manuscritos da Biblioteca Pú-
de Fronteira e Alorna, de Cadaval, de blica Municipal já foi suficiente e ampla-
Palmela, d o s c o n d e s d a s Qalveias, da mente apresentado, talvez valesse a pena
ínsua e de Mateus, as duas últimas ten- chamar a atenção para uma tendência
do os documentos armazenados em suas que parece hoje esboçar-se na capital
respectivas sedes, em Fenalva do Caste- nortenha: a de realização de pesquisas
lo (na Beira Alta) e em Vila Real (em Trás- e trabalhos científicos sobre a história do
os-Montes). Brasil lastreados em arquivos de empre-

E com os arquivos da província encerra- sas comerciais e em arquivos municipais.

mos nossa rápida vilegiatura. Em outra Dois exemplos dessa possível tendência

oportunidade, talvez devêssemos dar uma devem ser referenciados, quando nada

atenção maior ao acervo documental re- porque , além de sua originalidade, rom-

lativo ao Brasil encontrado em Évora, na pem com uma tradição mais do que se-

Biblioteca Pública local. Através da leitu- cular de supor que, em Portugal, o que

ra do catálogo preparado por J. H. da se deve buscar para melhor compreen-

Cunha Rivara, contentemo-nos por o r a « m der a história brasileira são principalmen-

perceber a sua riqueza e lamentar a pou- te fontes de natureza político-administra-

ca pesquisa que nele se fez até agora. tiva e econômica, e n t e n d e n d o - s e esta


apenas quando se acha sob a égide do
Ao norte de Lisboa, uma parada prolon- Estado absolutista.
gada é exigida em Coimbra, onde, para
além da consulta à Seção de Manuscritos Os exemplos de pesquisas inovadoras são

pag.94,jan/jun 1997
as desenvolvidas pelos professores Eu- nesse sentido, e sobre tema tão alician-
g ê n i o dos Santos e J o r g e Fernandes te, a sua obra Brasileiros: emigração e
Alves, dos quadros da Universidade do retorno no Porto oitocentista (Porto, s.
Porto. A menção do primeiro prende-se ed., 1994) impõe-se como fonte de con-
às investigações que pessoalmente e pelo sulta indispensável.
grupo que coordena têm sido levadas a Temas, fontes e pesquisas sobre história
efeito através de numerosos copiadores de empresas, que é também história so-
de correspondência de uma casa comer- cial, como o é também a história
c i a l p e r t e n c e n t e à f a m í l i a P i n t o de demográfica. Repito: são exemplos de
Miranda que, no século XVIII, com matriz descobertas e de análise de fontes his-
na metrópole, ramificou-se pelo Brasil, tóricas até então pouco conhecidas e/ou
tendo negócios em Minas Gerais, Rio de exploradas. Com estas ou com as tradi-
Janeiro, Bahia, Pernambuco e sul da Co- cionais', com as de Lisboa ou com as da
lônia. A menção a Jorge Alves é devida província, o que importa é termos a mais
pelo seu meritório e pachorrento traba- simples das posturas: sem abdicar da
lho de compilação e análise de registros consulta aos núcleos documentais inevi-
de p a s s a p o r t e s , t e s t a m e n t o s , listas tavelmente recorrentes, abramo-nos para
nominativas e biografias que lhe permi- a busca permanente e para o conheci-
tiram reconstituir o fluxo migratório le- mento de novos (quem sabe inéditos)
gal do Porto para o Brasil no século XIX. acervos documentais.

Coimbra e a sua famosa universidade.

Acervo, RiodeJaneiro, v. 10, n° 1, p. 85-96, jan/jun 1997 - pag.95


A C E

A B S T R A C T
Taking into account the fact that six Fortuguese archives are reviewed in the pages of this
journal, the text seeks to identify additional collections of documents to be found in archives and
libraries of Lisbon and others cities of Portugal, having a connection with BraziTs history. It aiso
mentions other little know or unexplored sources of historiographic material for possible scrutiny.

R E S U M E
Six des institutions archivistiques portugaises étant déjà decrites dans ce numero, ce texte essaye
d'identifier d'autres documents presentant un intérêt pour 1'histoire du Brésil, qui se trouvent
dans les archives et bibliothèques de Lisbonne et dans autres villes du Portugal. On éveille
1'attention sur les possibilites historiographiques de ces sources peu connues ou peu exploitées.
P E R F I L I N S T I T U C I O N A L

^ o n r i i s s a o JN a c i o n a i p a r a a s
l_yomem©ra<ções dos
U e s c o b r i m e i i t o s jPortfrugiiieses
Antônio Manuel Hespanha
Comissário-geral

O que comemorar? Saber rigorosamente o que se co-


memora.
embrar os descobrimen
tos e navegações não é Isto quer dizer, antes de tudo, pro-
V^doperação inocente. Com as mover a investigação sobre os des-
comemorações quer-se fixar imagens so- cobrimentos portugueses;
bre o nosso passado e, com estas, criar - criando ou apoiando equipes de espe-
atitudes coletivas sobre o presente e o fu- cialistas;
turo. Por isso é importante que elas se-
- dando-lhes condições de trabalho e;
jam ricas em verdade e em rigor, com-
plexas como a realidade sempre é. E não - difundindo os resultados dos seus tra-
imagens propagandistas e redutoras, que balhos.
ignoram a multifacetada rede de dares e O Centro Damião de Qóis (CNCDP/ANTT),
de tomares que a expansão portuguesa relançado em 1996 e dotado com um or-
inaugurou. Só assim se podem criar ati- çamento de cerca de setenta mil contos
tudes inteligentes na c o m p r e e n s ã o de para 1997, é o principal pólo de apoio
Portugal e, ao mesmo tempo, j u s t a s e aos investigadores da história da expan-
abertas no relacionamento futuro com o são portuguesa. Está a seu cargo editar
mundo que o passado nos legou. roteiros e inventários da documentação

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10, n° 1, p. 97-102, jan/jun 1997- pag.97


A C E

histórica existente sobre o tema, bibliográfico, de Francisco Inocêncio da


disponibilizará mais importante, utilizan- Silva, ou conjuntos como as Obras com-
do de maneira ampla os novos suportes pletas do padre Antônio Vieira. Com o
digitais, e, em geral, apoiar Center for Portuguese Studies da Univer-
logisticamente os investigadores. Em sidade de Oxford, editaram-se as Déca-
1997, estão aparecendo as suas primei- das da Ásia, de João de Barros, continu-
ras edições, em papel ou CD-ROM (índi- ando-se o programa com outras fontes
ces das chancelarias regias dos séculos literárias.
XV e XVI, fontes inéditas para a história
Comemorar: lembrar em conjunto...
da índia portuguesa). Ao mesmo tempo
que se inicia um programa sistemático Fixadas as imagens da história, a come-
de identificação de fontes para a história moração reside justamente em difundi-
da expansão portuguesa em arquivos es- las junto ao grande público, em manifes-
trangeiros (holandeses, espanhóis, roma- tações que aliem a eficácia comunicativa
nos, franceses e brasileiros). ao rigor dos conceitos a transmitir. É esse
o papel das grandes exposições, domí-
Portugal tem alguns dos mais ricos ar-
nio em que a CNCDP ganhou um justo re-
quivos mundiais sobre a história da ex-
levo. Meste aspecto, 1997 tem sido um
pansão. Grande parte de seu acervo tem
ano de transição. Por um lado, preparam-
sido publicado em milhares e milhares de
se as grandes exposições de 1998 - o ano
páginas de revistas e coleções de fon-
de Vasco da Gama e o ano da EXPO'98.
tes, por vezes esgotadas e sempre difí-
Por outro lado, terão lugar exposições de
ceis de manusear. A série Ophir reunirá
peças originais sobre a arte cristã no Ja-
e s s a g r a n d e m a s s a documental numa
pão, ou sobre a escultura flamenga em
coleção de CD-ROMs, compactos, trans-
Portugal, além de cerca de uma dezena
portáveis, baratos e permitindo todos os
de exposições itinerantes.
recursos de pesquisa eficiente e rápida
dos suportes digitais. Assim, a centena As exposições itinerantes - de cartazes
de volumes da revista Studia e do Bole- ou de réplicas - revelam-se, na sua rela-
tim da Filmoteca Ultramarina ficará dis- tiva humildade, como um dos meios mais
ponível em dois CDs. O mesmo aconte- eficazes de difundir informação. Mas es-
cerá com a legislação ultramarina, com colas, nos leitorados portugueses no es-
as fontes publicadas sobre a história das trangeiro, em pequenos espaços públi-
missões, com a Monumenta fíenricina. cos, m e s m o numa t e n d a móvel, elas
Em colaboração com a Biblioteca Nacio- transmitem em imagens e em textos o
nal de Lisboa, serão feitos outros CDs conteúdo básico sobre um tema, poden-
reunindo instrumentos de trabalho indis- do transformar-se num apoio para outras
pensáveis, como a Biblioteca lusitana, de manifestações culturais, como uma con-
Diogo Barbosa Machado ou o Dicionário ferência, uma peça de teatro, uma mos-

pag.98.jaiVjun 1997
R V O

tra de livros. Desde o início de 1997, vem Uma das grandes exposições que anima-
sendo produzido um número considerá- rá o espaço cultural de Lisboa em 1998
vel de exposições deste t i p o : Antônio refere-se às culturas do Índico, e será
Vieira, O Urbanismo Colonial em África, realizada pela CMCDP no Museu das Ja-
Os Espaços do Crioulo, A Viagem na Li- nelas Verdes. Por aí irão passar, numa
teratura, As Comemorações Oitocentistas vasta série de registros - desde a arte e
da Viagem de Vasco da Qama, Os Tesou- antropologia até à música e aos sabores
ros da Cartografia Portuguesa. Juntamen- - a constelação de culturas do oceano
te c o m as j á existentes, estas exposições Índico, onde Vasco da Qama desembo-
animarão espaços de divulgação históri- cou em 1498. Afinal, 'a índia' era um ce-
co-cultural por todo o mundo. nário esplêndido de culturas autônomas,
algumas delas tão ricas como a da Euro-
A presença da temática dos descobrimen-
pa de então. No Tejo, um magnífico dhao
tos na grande manifestação cultural re-
- barco de transporte de peregrinos m u -
presentada pela EXPO'98 será garantida
çulmanos a Meca que ainda hoje opera -
pelo Pavilhão de Portugal, produzido con-
transportará visitantes e turistas, ofere-
j u n t a m e n t e pelo Comissariado do Pavi-
cendo espetáculos de folclore local e evo-
lhão de Portugal e pela CNCDP, numa fór-
cando essa rede de viagens em que os
m u l a e x e m p l a r de c o o p e r a ç ã o i n t e r -
portugueses se inseriram.
institucional e de rentabilização de mei-
os. A viagem oceânica foi o tema esco- Também a presença islâmica em Portugal
lhido, e será explorado numa exposição - e, em geral, essa ambivalência dos por-
concebida de modo a promover a contí- tugueses com o Islão - foi objeto de uma
nua interação entre os visitantes e os ma- mostra itinerante que, desde a primavera
teriais exibidos, bem como numa série de 1997, vem percorrendo os mais i m -
de manifestações envolventes que vão dos portantes centros de cultura árabe, num
espetáculos à gastronomia ou à edição. programa em que cooperam a CNCDP e a
Câmara de Comércio Luso-Árabe.
...e com os outros
Conhecer o passado para inventar o futuro
Um dos tópicos recorrentes no discurso
das atividades da CNCDP é o da atenção As comemorações dos descobrimentos
a outros olhares sobre os descobrimen- não podem encerrar-se numa visão p u -
tos portugueses. Os contatos que abrimos ramente passadista. Devem projetar-se
com outros povos foram, de fato, aventu- sobre o presente e sobre o futuro, como
ras a dois, passíveis de leituras cruzadas um convite a repetir a aventura de e n -
ou mesmo conflitivas. A riqueza da nossa tão, a ousar de novo; a recriar, nos t e m -
história reside precisamente nisso, nas pos de hoje, a atitude de curiosidade que
contínuas interpelações que fizemos ao leva à descoberta e à inovação técnica e
mundo e nas reações que elas suscitaram. científica; a restabelecer u m espírito de

Acervo, Riode Janeiro, v. 10, n° 1, p. 97-102, jan/jun 1997 - pag.99


A C E

saudável autoconfiança nas possibilida- grande público.


des próprias.
Reencontros presentes à sombra de e n -
A presença nas escolas, j u n t o dos jovens, contros passados
de atividades de criação cultural é deci-
O passado histórico de Portugal, c o m os
siva para estímulo da curiosidade pelo
legados vivenciais e c u l t u r a i s que ele
novo. A CNCDP realiza, desde finais de
c r i o u , c o m o h á b i t o da d i f e r e n ç a que
1996, um programa nas escolas de todo
acabou por desenvolver, c o n s t i t u i u m
o país que se traduz na apresentação,
enorme capital ao serviço, não apenas
até o Carnaval, de cerca de duas cente-
da compreensão ecumênica entre os po-
nas de espetáculos de teatro que, numa
vos, mas ainda da projeção da imagem
l i n g u a g e m cênica á g i l e p r o v o c a d o r a ,
de Portugal no mundo. Por isso é que as
apresentam a figura de d. João de Cas-
comemorações das viagens e contatos
tro, h o m e m de ação e de cultura da pri-
culturais dos portugueses t ê m que c o n t i -
meira metade dos quinhentos. Com isto,
nuar a prolongar, em vários níveis, essa
é a sociedade da época que, numa sínte-
experiência do encontro e a suscitar o
se impressiva, interpela o jovem auditório.
interesse por Portugal nos grandes cen-
Convergente, embora de outro nível, é o tros de criação da cultura contemporânea.
objetivo dos Cursos da Arrábida. que a
Este cuidado em fazer perdurar as m e -
CMCDP organiza, desde há alguns anos,
mórias dos encontros inclui, desde logo,
no cenário magnífico d o Convento de
o esforço pela preservação dos seus s i -
Arrábida. Aí se realizam, durante o ve-
nais. Em 1997, a CMCDP está envolvida,
rão, séries de cerca de vinte cursos so-
como financiadora exclusiva, num proje-
bre as diferentes áreas do saber, d i r i g i -
to de recuperação da capela de Mossa
dos por especialistas portugueses ou es-
Senhora do Baluarte, nesse repositório
trangeiros de grande prestígio. Alguns dos
vivo de sinais de trocas culturais que é a
nomes mais famosos da cultura e da c i -
ilha de Moçambique.
ência contemporâneas passaram por lá.
No ano de 1997, o tema foi 'Diversidade O programa internacional da CMCDP i n -
e tolerância', tendo sido previstos cur- tegrou, em 1997, iniciativas tendentes a
sos sobre subtemas tão diversos como: promover o reencontro, em Portugal, das
identidade e diferença na literatura con- gerações de países ou regiões em que
temporânea, a cultura das comunidades os portugueses estiveram presentes. Em
judaico-portuguesas, a monotonia e a colaboração com a Comissão Territorial
diferença na informática, o d i r e i t o dos de Macau para as C o m e m o r a ç õ e s d o s
bens culturais. Terá início t a m b é m no Descobrimentos Portugueses, prossegui-
próximo ano a publicação de alguns dos rá um programa de convite sistemático a
s e m i n á r i o s mais interessantes para o p r o f e s s o r e s das escolas c h i n e s a s de

pag.lOO,jan/jun 1997
R V O

Macau, destinado a tornar Portugal, a sua pétua, com o apoio da Comissão das Fun-
história, a sua cultura, o seu presente, dações Qulbenkian, Luso-Americana e
mais conhecidos. À centena de professo- Oriente. Noutra d a s universidades da
res que visitaram terras lusitanas em prestigiada ivy league - a Universidade
1996, somaram-se, em 1997, mais cer- de Yale - será apoiado pela primeira vez
ca de vinte diretores de escolas e duas um programa de estudos portugueses, o
dezenas dos melhores alunos dos mesmo acontecendo na famosa univer-
leitorados portugueses da índia ao J a - sidade Johns Hopkins, em Baltimore. En-
pão. Visitas guiadas, conferências e es- quanto que, na índia, há negociações
petáculos de arte integram este programa. bem encaminhadas para criar uma ca-
deira de estudos indo-portugueses na Uni-
finalmente, é preciso que Portugal, a sua
versidade de J. Nehru, em Delhi, a aca-
história e sua cultura continuem a ser
demia de excelência de toda a índia.
tema de interesse nos grandes centros
acadêmicos. A CNCDP apoia unidades de De alguns exemplos para um programa

altos estudos sobre asssuntos lusos em Estas são algumas das ilustrações de li-
muitos centros acadêmicos de excelên- nhas de força que enformaram o progra-
cia: Instituto Universitário Europeu, em ma de atividades da Comissão Nacional
Florença, universidades de Oxford, São para as Comemorações dos Descobri-
Paulo, Rio de Janeiro ou Columbia (Nova mentos Portugueses para o ano de 1997.
Iorque). Em 1997, este número foi au- Nele se irá investir mais de um bilhão e
mentado. Mais três universidades ameri- meio de escudos (oito milhões e meio de
canas, das mais prestigiadas, verão apoi- dólares), dos quais apenas um terço será
a d o s centros de e s t u d o s portugueses. gasto em despesas de funcionamento cor-
Será criada, em Brown, uma cátedra per- rente.

Casa dos Bicos reconstruída.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 10. n° 1, p. 97-102, jan/jun 1 9 9 7 - p a g . l O l


A C E

A B S T R A C T
The Mational Committee for the Celebrations of Portuguese Discoveries tias in view to celebrate
the navigation and discoveries undertaWen by Portugal during the end of the 15th century,
supporting important researches and universities, publishing books and CD-ROMs, organizing
exhibitions and seminars and by cultural activities at schools.

R E S U M E
La Commission nationale pour les Commemorations des Decouvertes Portugaises objective
c o m m e m o r e r les navigations et les decouvertes portugaises à travers de 1'appui aux plus
considérables centres de recherches et universités, de 1'édition des livres et CD-ROMs, de Ia
montage d'expositions, de forganisation des seminaires et de Ia présence en écoles, avec des
activités culturelles.
IMPRESSO PELA
KIOCOR GRÁFICA E EDITORA LTDA.
Av. Segai, 230 - Del Castilho
Te!.: 269-1152
lieste número
Antônio Manuel Hespanha
Caio Boschi
Judite Cavaleiro Paixão
Luís Cabral
Margarida Ortigão Ramos Paes Leme
Maria Adelaide Meireles
Maria da Assunção Jácome de Vasconcelos e Chagas
Maria de Lurdes Henrique
Maria do Carmo Jasmins Dias Farinha
Maria Luísa Meneses Abrantes
Paula Maria Faria Lamego
Paula Sofia da Costa Fernandes

O BRASIL NOS ARQUIVOS


PORTUGUESES

Ml NÍSTÉHIO DÃ JUSTIÇA

ISSN.0102-700-X ARQUIVO NACIONAL

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