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EDÉLCIO PHILIPPI
LUAN A MARIBELE WEDEKIN
SANDRA MAKOWIECKY SALLES
Sobre os hábitos dos açorianos:
"Eles viviam isolados, muito isolados, mas também se reuniam. Estas reuniões
eram feitas nas igrejas, quando conseguiam vir à missa, e tinham cavalo, carroça, carro de
boi. A igreja era o ponto de encontro... A igreja mandava em tudo naquela época. Era a
principal autoridade. A igreja falava alto, mais alto do que tudo. Eles estavam por trás de
tudo. E a única saída dos músicos era tocar gaita em lugares onde não tinha padre".
Franklin Cascaes
ÍNDICE REM ISSIVO
INTRODUÇÃO............................................................................................................... 7
PARTE I
PARTE II
PARTE III
As fontes de pesquisa...................................................................................................... .19
Influências coloniais brasileiras........................................................................................ 20
PARTE IV
PARTE V
CONSIDERAÇÕES GERAIS.........................................................................................119
GLOSSÁRIO...................................................................................................................123
ANEXOS 136
APRESENTAÇÃO
Lisboa, Florianópolis, apesar de já ter sido objeto de estudo de vários ensaios arquitetônicos
e históricos, principalmente por parte de professores e estudantes dos cursos de Arquitetura
intervenções ao longo de sua história, ainda apresenta lacunas a serem preenchidas, na sua
historiografia.
talhas religiosas dos altares da igreja de Nossa Senhora das Necessidades", recebeu nova
passou a ser "A capela de Nossa Senhora das Necessidades, de Santo Antônio de Lisboa -
aspectos plásticos e simbólicos". Esta possibilidade já estava presente no projeto original.
George Will
séculos XVTI, XVIÜ e XIX, o surgimento das nossas mais belas grandezas coloniais, nos
Estados do Sul, a situação é diferente. Aqui, nada favorecia o surgimento de uma expressão
característica dominante.
velhices de um tempo que não volta e que o acaso parece que esqueceu de destruir, como
bem diz a este respeito, o poeta Mário de Andrade.
Sul do Brasil, é escassa, ou melhor, quase inexistente. A maior parte das conclusões resulta
Pretendemos com este trabalho contribuir para o estudo das artes plásticas na
arquitetura religiosa de Florianópolis, notadamente da capela de Nossa Senhora das
Como nos diz Merleau-Ponty: "Ao mesmo tempo é verdade que o mundo é o
que vemos e que, contudo, precisamos aprender a vê-lo" (Ponty, 1984, p. 17).
Posto isto, que a capela seja vista na sua simplicidade e na sua complexidade.
9
PARTE I
A região sul em meados dos séculos XVII e XVIII, como se sabe, estava
localizada, em grande parte, além da linha de Tordesilhas. Caracterizada por uma economia
basicamente agrícola, e por isso, limitada em seu desenvolvimento. E nas tentativas de
povoamento, esta região era ainda prejudicada pelas constantes invasões, saques e
destruições decorrentes das guerras entre portugueses e espanhóis, os quais almejavam a
posse destas terras. E cuja memória se preserva em fortalezas como as que formam o
triângulo defensivo da Ilha de Santa Catarina - Santa Cruz de Anhatomirim, São José da
soberano. Devido a isso, há uma divergência quanto a origem das vilas sulinas. Algumas,
provenientes de aldeias missioneiras, sendo que outras foram fundadas apenas para garantir
da evasão das regiões menos favorecidas como São Paulo e o Sul do Brasil. A estes últimos
coube um certo isolamento e uma estagnação frente ao restante do território, e, por
consequência gerou processos de recriação artística ímpares^ Por outro lado, também foi
graças ao apogeu das Minas Gerais que estas terras pobres e perdidas tiveram um contato
com centros mais adiantados da colônia. Isto, em vista do comércio de muares que, do sul,
subiam para a feira de Sorocaba e daí para as regiões auríferas^.
1 BARDI. Pietro Maria. História da arte brasileira. Sâo Paulo: Melhoramentos. 1976.
2 Vídeo "Na trilha das mulas". Um Programa da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Realização
TV 2 Cultura. São Paulo. Videoteca IOCHPE/ Ceart
10
Ainda em vista das guerras, e natural, portanto, que não houvesse um espirito
de tranquilidade, nem sobrassem recursos suficientes para uma significativa realização
artistica. Um aspecto enfatizado também pelo nomadismo e pelas diferentes influências aqui
exercidas. Esta mesma insegurança pode ser comprovada na arquitetura sulista, com sua
escassez de portas e janelas, e, talvez em vista das grossas paredes, muito embora, o motivo
principal da espessura destas seja a fragilidade do material de que eram constituídas.
Com relação à arquitetura sulista, sob uma visão não somente estrutural,
segundo o vídeo "Na trilha das mulas", esta se divide em três soluções: a Paulista
Bandeirante; a dos Tropeiros e, afinal, a Açoriana-5.
3 Id. Ibid.
4 ETZEL. Eduardo. Arte Sacra - Berco da arte brasileira. São Paulo: Melhoramentos. 1984 (p. 106).
5 MARTINS. Francisco Ernesto de Oliveira. A escultura nos Açores. Região Autônoma dos Açores.
Secretaria Regional da Educação e Cultura. Direção Regional dos Assuntos Culturais. 1983.
A contribuição jesuítica à Ilha de Santa Catarina, conforme o que foi exposto
acima, deu-se através dos açorianos, já que não houve fixação de qualquer ordem jesuítica
Portugal a doação de cem léguas da costa, dentre as quais encontrava-se a Ilha de Santa
Catarina.
Nesta época, ainda, fixa-se na mesma ilha o bandeirante paulista Francisco Dias
Velho (1672), a quem foram concedidas algumas sesmarias. Dias Velho toma-se o fundador
1 SOUZA, Regina Silveira de. A presença portuguesa na arquitetura da Ilha de Santa Catarina, séculos
XVIII e XIX. Florianópolis. IOESC. 1981.
2 PIAZZA. Walter Fernando. Santa Catarina: história da gente. - 2 ed. - Florianópolis: Ed. Lunardelli.
1987.
13
É ainda Dias Velho que vai erguer a primeira capela da Ilha de Santa Catarina,
em 1689, onde vem a ser, mais tarde, assassinado. Local este onde se ergue, hoie, a
Catedral Metropolitana de Florianópolis.
Com a morte de Dias Velho, a póvoa permaneceu vários anos quase no
abandono.
PARTE II
que vieram para a ilha com o Padre Matheus de Leão, com terras de sesmarias de uma légua
em redor, o sítio entrou a cobrir-se de pequenas palhoças e ranchos, erguidos em meio às
primeiras lavouras, desde Praia Comprida à Praia do Sambaqui"3 .
através da Provedoria do Rio de Janeiro, os provimentos dos vigários, com terreno próprio
para se estabelecerem e as suas igrejas e residências4 .
Manoel Manso deixou suas terras como herança para a filha, Clara Mansa de
Avelar que, em 1756, doou oficialmente 200 braças de terras, os fundos do terreno para
1 FONTES. Henrique da Silva. A Irmandade do Senhor dos Passos e o seu hospital, e aqueles que o
fundaram, p. 20-1.
2 C ABRAL. Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro - Memória, p. 540-1.
3 VARZEA. Virgílio. A Ilha, p 153.
4 BOITEUX. Lucas Alexandre. Notas para a história catarinense, p. 221.
5 Florianópolis. IPUF (1975).
15
Ainda com base em pesquisa realizada por Luz Maria Guimarães, sobre a
questão da demanda demográfica, há quanto ao ano de 1810, sendo a população da
paróquia de Santo Antônio composta de 3367 indivíduos, a saber: 1224 homens brancos,
1467 mulheres, 57 libertos, 405 escravos homens e 197 escravas^.
freguesia foi de 121, sendo essa freguesia com o maior número de batizados, depois da
capital.
localidades mais apraziveis da costa ocidental da ilha. Situada em solo plano à beira-mar,
entre Calopó-Pequeno e a Ponta da Ilhota, dir-se-ha uma cidadezinha, pela sua pitoresca
praça ornada de prédios construídos como os de certos arrabaldes antigos da capital, e pela
sua disposição em três ou quatro ruas cheias de casas, unidas ou separadas apenas por
pequenas hortas e jardins, que não existem em outros sítios"*5.
frequentemente exaurida pelos confiscos e recrutamentos das guerras do sul" (Vieira Filho,
s/d, p. 66)2 . Além disso, deve-se ao fato de que o povoamento de Santa Catarina "é função
de estratégia militar, e a sua expressão não poderia deixar de ser o racionalismo clássico"3 .
Neste contexto, conforme Bazin, "A igreja foi o único elemento civilizador, o
único que procurou amenizar a crueldade dos costumes vigentes" (Bazin, 1956, p. 36)4 .
Assim, a prioridade da comunidade vai ser voltada para a ereção das Igrejas Matrizes e das
Souza nos informa que "A igreja começou a ser construída em data posterior à
doação do terreno. Desde essa época até 1837, pouco ou quase nada encontramos de
documentação" (Souza, 1981, p. 110)5 .
1 VIEIRA FILHO. Dalmo. Notas para o estudo da arquitetura religiosa tradicional brasileira. Inédito.
2 Id. Ibid.
3 Id. Ibid.
4 BAZIN. Germain. A Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1956.
5 SOUZA, Sara Regina Silveira de. A presença Portuguesa na Arquitetura da Ilha de Santa Catarina - séc.
XVIII e XIX. Florianópolis, IOESC, 1981.
18
6 SOARES. Iaponan. Santo António de Lisboa - Vida e memória. Florianópolis: Fundação Franklin
Cascaes, 1990, p. 101.
7 VIEIRA FILHO, op. cit., p. 68-78.
19
PARTE III
As fontes de pesquisa
autobiografias, nada com relação ao material utilizado. Após a pesquisa, não acreditamos
ser provável que tais documentos existam, ou venham a aparecer, em relação aos trabalhos
realizados na capela de Nossa Senhora das Necessidades, nem em outras capelas e igrejas
da mesma época, da ilha de Florianópolis.
Com relação aos artesãos que aqui trabalharam, em termos de biografia, nada se
sabe.
artesãos, e não artistas, e por isso não ocuparam os nichos dos restábulos que construíram,
com suas próprias imagens. "Não houve portanto, no sul uma 'indústria' de imagens, como
aconteceu na teocracia missioneira" (Etzel, 1986, p. 129)3 .
Sobre as possíveis influências sofridas por estes artesãos, estas devem obedecer,
como de resto, ao que aconteceu em grande parte de estudos relativos ao período colonial
brasileiro.
2 SAINT-HILLAIRE, Auguste de. Viagem à Província de Santa Catarina. São Paulo: Ed. Nacional, 1936, p.
34-44 e 161.
3 ETZEL, Eduardo. Arte Sacra. Berço da Arte Brasileira. S. P.: Melhoramentos, 1986.
21
Hannah Levy4 , em "A pintura colonial no Rio de Janeiro: notas sobre suas
fontes e alguns de seus aspectos", diz que "Podemos adiantar, aliás, que consideradas no
seu conjunto, as pinturas coloniais fluminenses não se prestam, em regra geral, para serem
utilizadas como fontes de explicação de outras obras coloniais" (Levy, s.d., p. 47). O
mesmo se pode dizer com relação a obras do período colonial realizadas em todo o Brasil.
Estas influências vinham diretamente da Europa, através de gravuras, missais, e outras
fontes, como discorreremos mais adiante.
No caso mais específico de Florianópolis, cabe uma observação contida no livro
de Eduardo Etzel e feita por Saint-Hillaire, em que trata da contribuição açoriana, fazendo
uma apreciação comparativa com as igrejas das aldeias francesas e onde enaltece o trabalho
dos brasileiros, perguntando:
Necessidades, nos quais não nos detemos, comprovam também a presença do artesão mais
experiente do que de cultura e técnica arquitetônica mais aperfeiçoada. Reforçam este
pensamento, a utilização da pedra e do cal, o que foi favorecido pela localização à beira-
mar, além do uso de argamassa de conchas moídas, do óleo de baleia e das paredes grossas.
"Aqui não houve arquitetos de gabarito como os que na mesma época construíram na costa
norte as esplêndidas e rebuscadas igrejas barrocas "(Etzel, op. cit., p. 130).
4 LEVY, Hanna. A pintura colonial no Rio de Janeiro: notas sobre suas fontes e alguns de seus aspectos. In:
Pintura e Escultura I. Textos escolhidos da Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional. MEC/USP, s.d.
22
local e suas aplicações ideais. Não havia o ensino sistemático como nas ordens religiosas.
Não há, no entanto, nenhuma referência a alguma organização deste tipo em
da arquitetura mineira, pois estas irmandades buscavam sempre ostentar maior importância
ou prestígio do que as outras.
Benedito e Nossa Senhora do Bom Parto, mas esse caráter de competição não ficou
registrado nem é evidente. Se houve, não há indícios para corroborar tal afirmação.
que estes trabalhos não obedeciam a um programa bem detalhado, imposto aos artesãos
pelas comunidades religiosas que encomendavam o trabalho, como acontecia em outras
regiões do país.
Outro fator a ser considerado é a falta absoluta de assinaturas por parte destes
artesãos, que pode ser interpretado como mais uma prova de que na sociedade da época,
estes artífices não se consideravam e nem eram considerados artistas criadores conscientes
de sua individualidade.
Segundo Hannah Levy, a falta de assinaturas dos artistas que atuaram no Rio de
Janeiro atesta geralmente "... a concepção da importância preponderante do conteúdo sobre
a forma, concepção tanto mais natural quando se recorda que as representações religiosas
constituem a maior parte das pinturas coloniais" (Levy, op. cit., p. 69).
da fé: não santeiros que esculpiam imagens somente para as igrejas, mas também para
capelas particulares, para os oratórios, que de modo geral, existiam em quase todas as
As capelas que iam sendo erigidas, exigiam imagens padroeiras, que chegavam
ao Sul junto com o povoamento. Estas imagens certamente vieram de Portugal e de outros
vindo da Bahia e com destino ao Rio Grande do Sul, de autoria do escultor baiano
Francisco das Chagas, conhecido por "O Cabra". No livro, o autor menciona várias outras
imagens chegadas ao Desterro, o que, segundo, Etzel, não deixa dúvidas quanto à origem
das imagens do Sul, quase todas vindas das oficinas de imaginários, mais provavelmente de
Salvador.
demonstra igualmente que o mercado de peças religiosas povoou também pequenas capelas
e oratórios domésticos, atendendo à devoção dos moradores.
Diz-nos Eduardo Etzel: "Estes, com sua perícia, construíram igrejas e retábulos
sem dúvida de uma confecção característica pela relativa rusticidade de uma talha que não
chegou a ser dourada, mas apenas pintada, ainda que com purpurina" (Etzel, op. cit., p.
134).
detalhes dos altares da cruzeiro de capela de Nossa Senhora das Necessidades de Santo
Antônio de Lisboa.
25
Sul, e especificamente da igreja de Nossa Senhora das Necessidades, com as talhas dos
retábulos do Rio de Janeiro, Bahia ou Minas, fica evidente que estes trabalhos estão longe
da perfeição artística e do acabamento da talha destas regiões. Este fator novamente
evidencia a contribuição modesta dos hábeis artesãos açorianos do século XVTII.
Importante registrar que estas imagens trazidas para o Sul, de outros pontos da
colônia, eram executadas sob forte influência da metrópole. É de se destacar também, que
grande parte delas foi importada diretamente de metrópole ou de outros países. O mesmo se
pode dizer dos modelos europeus na pintura colonial.
no Brasil a Igreja fez obra de catequese, mas não foi forçada a defender-se contra o
protestantismo. Assim, temas largamente utilizados na Europa, como o martírio, não são
Assim, o principal interesse das pinturas religiosas, consiste a nosso ver, no seu
valor artístico autônomo, mas, principalmente no seu valor como elemento integrante e
indispensável da decoração total dos interiores das igrejas, em que os traços comuns
predominam sempre sobre as características individuais dos artesãos.
Iconografia religiosa
estrelas e cercada por anjos, representação do batismo de cristo, (em que a nudez é proibida
Como sabemos, o Barroco vai do final do século XVI ao início do século XVIII
europeus. Este período coincide com o declínio do Portugal, da época dos descobrimentos,
de quem éramos colônia. Estávamos então no início de nossa colonização e, porque não
dizer, no início de nosso contato com as questões culturais européias. Provavelmente, nesta
Esta falta de "tradição" portuguesa com as artes visuais certamente se fez sentir
no Brasil Colônia, o que explica em grande parte nossa dependência na área; nossas
limitações e poucas condições de alcançar uma expressão autônoma.
talvez mesmo o da imagem do Senhor dos Passos com datas e nomes definidos, e as outras
sair da barra da ilha de Santa Catarina. Mas o fato em si não é alterado: ou seja, as imagens
ficaram aqui por vontade divina, quando, seu destino original seria outro.
Assim, de acordo com a tradição oral, nossa história religiosa foi construída não
PARTE IV
Iconografia e Iconologia
Necessidades.
Contudo, é preciso para isso, que antes se faça uma abordagem analítica, tendo
em vista os próprios termos em questão, bem como seus objetivos e delimitações. Vale
então abordar o assunto através dos estudos de Panofski1; o que será feito a seguir:
"Iconografia é o ramo da história da arte que trata do tema ou mensagem das
obras de arte em contraposição à sua forma" (Panofski, 1979, p. 47).
1.1. Significado fatual: "é apreendido pela simples identificação de certas formas
visíveis com certos objetos que já se conheça por experiência prática e pela identificação da
mudança de suas relações com certas ações ou fatos" (Panofski, 1979, p. 48).
1 PANOFSKI, Erwin. Significado nas Artes Visuais. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 1979. p. 45-87.
2 ld. Ibid.
30
visíveis e sua significação inteligível e que determina até a forma sob a qual o acontecimento
visível se manifesta. Normalmente (...) está tão acima da esfera da vontade consciente
quanto o significado expressional está abaixo dela" (Panofski, 1979, p. 50).
Transportando para a obra de arte:
chamar-se imagens, sendo que combinações de imagens são o que os antigos teóricos de
arte chamavam de invenzioni; nós costumamos dar-lhes o nome de estórias e alegorias. A
identificação de tais imagens, estórias e alegorias é o domínio daquilo que é normalmente
conhecido por "iconografia". (...). "Análise formal", segundo Wõlfflin, é uma análise de
motivos e combinações de motivos (composições), (,..)3 .
daqueles princípios subjacentes que revelam a atitude básica de uma nação, de um período,
classe social, crença religiosa ou filosófica - qualificados por uma personalidade e
condensados numa obra. (...). Ao concebermos assim as formas puras, os motivos, imagens,
estórias e alegorias, como manifestações de princípios básicos e gerais, interpretamos todos
esses elementos como sendo o que Emest Cassirer chamou de valores "simbólicos" (...). A
descoberta e interpretação desses valores "simbólicos" (que, muitas vezes, são
desconhecidos pelo próprio artista e podem, até, diferir enfaticamente do que ele
constituem o conteúdo intrínseco de uma obra de arte e que precisam tomar-se explícitos se
se quiser que a percepção desse conteúdo venha a ser articulada e comunicável" (Panofski,
1979, p. 53-4).
mais dinâmica; que advém da síntese mais que da análise das imagens (o contrário da
iconografia), estórias e alegorias (exceção às obras nas quais o tema secundário tenha sido
eliminado, como a pintura paisagística européia, natureza-morta, pintura de "gênero" e arte
"não-objetiva").
dizer, qual o seu locus histórico" (Panofski, 1979, p. 58). Na verdade, lemos "o que
vemos", "de conformidade com o mundo pelo qual os objetos e fatos são expressos por
formas que variam segundo as condições históricas" (Panofski, 1979, p. 58). Ao fazermos
isso, submetemos nossa prática a um princípio corretivo que cabe chamar de "história do
deliberada ou tradição oral" (Panofski, 1979, p. 58). Porém, em certos casos, é preciso
também que nos familiarizemos com aquilo que os autores das representações liam ou
sabiam. Isso prova também que a análise iconográfíca através de pesquisas em fontes
literárias não garante exatidão. Quanto a esse aspecto, a análise pode ser suplementada e
corrigida, investigando-se o modo pelo qual, sob diferentes condições históricas, temas
específicos ou conceitos eram expressos por objetos e fatos, ou seja, a "história dos tipos",
como coloca Panofski5 .
foram expressas por temas específicos e conceitos. Isso significa o que se pode chamar de
história dos sintomas culturais - ou "símbolos", no sentido de Emest Cassirer - em geral.
(...) O historiador de arte terá de aferir o que julga ser o significado intrínseco da obra ou
grupo de obras, a que devota sua atenção, com base no que pensa ser o significado
Levantamento iconográfico
acerca dos aspectos formais, pictóricos, arquitetônicos, etc..., existentes atualmente, uma
vez que a morosidade do processo de restauração não nos permite verificar o seu conteúdo
original.
1 - FORRO DA CAPELA-MOR
(flores e folhas), com terço inferior estriado diagonalmente e por pilastras, possuindo
ornamentação simplificada entre coluna e quartelão* há ressaltos para imagens compostos
por peanha* e pequeno dossel*. Existência de cartéis* simplificados.
pequeno nicho, sem trono, contendo a imagem de Nossa Senhora das Necessidades. O
perfil da tribuna* é delimitado por talha. O fato deste nicho encontrar-se à frente do trono
do nicho profundo fez com que os degraus inferiores do referido trono com seus omatos em
dourado.
Fundo nos tons de azul, com ornamentação branca sendo o friso dourado.
O frontal*, não tão trabalhado quanto os laterais, contém ornamentação
3 - NICHO DO ALTAR-MOR
Nicho profundo, possuindo trono escalonado contendo cinco degraus. Tendo
este ornamentação em forma de rocaille, havendo, porém, diferenciação entre os primeiros e
os demais. Este trono possui entre trinta castiçais de madeira distribuídos entre os degraus.
Existência de uma porta lateral à direita dando acesso ao mesmo, e uma outra menor,
entomos (laterais). Existência de cimalha nos extremos e de dois rodilhos presos ao forro na
parte da frente.
divergem traços retilíneos pretos e também de outras cores, como que sugerindo uma
espécie de resplendor. Logo abaixo deste elemento central, desenhos em tons azulados e
brancos dão idéia de nuvens, sob as quais encontra-se a representação de anjòs (apenas
cabeças e asas). Estes, por sinal, bem definidos quanto ao desenho e à cor, e, de certa
forma, diferentes dos demais, assim como o espaço, que compreende apenas as duas tábuas
centrais e logo abaixo deles, onde predomina o tom azul (quando no conjunto há
predominância do tom verde) e aparecem duas estrelas brancas, ausentes em qualquer outra
parte.
Vê-se claramente a presença de cinco anjos (apenas cabeças) presentes na parte
esquerda da composição. Um destes, bem pequeno, posiciona-se bem próximo ao elemento
arqueadas, e, na maioria das vezes, ligadas ao nariz; cabelos escuros, testa grande, bocas
tons de vermelho nas maçãs do rosto e nas bocas. A face apresenta o tom ocre, olhos,
5 - ALTARES LATERAIS
Retábulo do Altar de São Miguel - localizado em chanfro, na intercessão do
pequenos dosséis.
Tabernáculo tendo ao centro uma cruz, ladeada à direita por duas folhas de
parreira com um cacho de uvas central e à esquerda contendo uma espiga de trigo ao centro
de três folhas. Abaixo há uma representação de sete figuras idênticas em forma de haste
vertical ligada a um círculo.
Nicho delimitado por talha, possuindo pequeno trono para a colocação do santo
padroeiro (São Miguel). Porém, devido ao roubo, hoje coloca-se a imagem de Nossa
Senhora do Rosário.
No quartelão, presença de anjos e flores, encimado por capitel compósito com
folhas de acanto. Os anjos apresentam aspecto rústico, olhos amendoados e não apresentam
semblante sereno, mas feição séria. Estas imagens apresentam um inacabamento formal
vulgarmente denominado "feito à canivete". As flores mostram-se bastante simples, por
vezes assemelhando-se a lírios, orquídeas, margaridas, etc.
capitel* compósito.
No coroamento do retábulo encontram-se anjos alados (em postura de vôo)
com rosto pequeno, apresentando roupas contendo poucas pregas, exceto parte inferior.
Observa-se uma barriga saliente nestes mesmos anjos, ao centro do coroamento, presença
de um escudo contendo uma imagem de balança talhada.
construção e autoria. Característica de transição dos estilos Joanino e Rococó, porém com
uma decoração mais simplificada em relação ao outro lateral.
37
retábulo.
Estrutura verticalizada com dossel sustentado por quartelões, tendo colunas
salomônicas nos extremos. Entre estes a existência de peanha com pequeno dossel e ao
centro, tabernáculo, contendo símbolo da cruz raiada, com base rodeada de nuvens.
Coluna salomônica com terço diferenciado, possuindo estrias diagonais,
sustentada por volutas tendo capitel compósito. Quartelão simplificado, sem anjo.
Nicho delimitado por talha, contendo pequeno trono para a colocação do santo
padroeiro. Presença de pano de fundo.
movimento. Estes anjos são maiores do que os do Altar de São Miguel. Os mesmos, como
os pertencentes ao coroamento do Altar de São Miguel, possuem uma ligeira postura
inclinada, asas distendidas, notando-se que uma mão toca o peito e a outra se encontra
levemente estendida, com as mãos abertas.
tendo formato piramidal apresentando cinco lados, com vértice voltado para baixo. Caixa
fechada, com madeira lisa possuindo uma portinhola dirigida ao altar-mor, que
provavelmente servia de acesso a uma escada. (A presença de uma passagem interna, do
púlpito à sacristia, cuja existência é afirmada categoricamente pela autora Sara Regina de
38
Souza em sua obra "A presença portuguesa na Arquitetura da Ilha de Santa Catarina -
século XVIII e XIX", 1985, p. 113; não foi confirmada e é discutível)1 .
Abaixa-voz* ornado com madeira em chanfro, possuindo lambrequim.
7 - CANCELO*
Pertencente a nave central, separando o corpo da nave dos altares laterais,
possuindo balaústres* torneados e entre estes diferenciação de cinco peças. Este cancelo
apresenta ainda divisórias talhadas contendo volutas e folhas de acanto* estilizadas.
Barrote* servindo de encaixe para os balaústres.
capitel compósito. A base desta coluna é separada do barrote inferior, que serve de encaixe
e sustentação para os balaústres. Na lateral esquerda, próximo à parede, existência de um
1 SOUZA, Sara Regina Silveira de. A presença Portuguesa na Arquitetura da Ilha de Santa Catarina - Séc.
XVIII e XIX. Florianópolis, IOESC, 1985.
2 BAZIN, Germain. A Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1983.
39
principal. Possui forma de concha, sendo que parte interna do lado da parede apresenta
ressalto. No lado externo, área central, abaixo, existência de um círculo servindo como
fechamento da ornamentação.
Apresenta algumas irregularidades como pequenas rachaduras ou perda de áreas
de suporte.
10 - PINTURA DO BATISTÉRIO
conservação, transferida para a parede ao lado, e guarnecida por uma lâmina de vidro.
Representa o batismo de Cristo por São João Batista, sendo Cristo guardado
referida pintura. Tal fato fez com que o processo de descoloração se acelerasse, fato
causado pela luz excessiva. Também foi averiguado que o suporte apresentava estufamento,
causado pelo excesso de umidade. Observava-se a tinta escorrida sobre a pintura, devido a
restauro arquitetônico. No ano de 1993 a pintura foi restaurada.
11- BATISTÉRIO
Grande pia batismal em forma circular, atualmente locada ao centro do
através de uma madeira, sendo o lado direito um pouco maior. Presença de orifício para
saída de água no lado esquerdo. A pia apresenta várias intervenções, além de descolamento
pombo apresenta a asa esquerda e a cabeça desprendidas do corpo; e perda de parte direita
da cauda. Sua coloração atual é branca com exceção do bico e das pernas que possuem
coloração amarela, ainda contendo detalhes em vermelho no bico e nos olhos. Apresenta
perda total ou parcial da camada pictórica nos mais variados pontos.
A tampa da pia é formada por duas tábuas unidas através de encaixe. Apresenta
na face interna presença de cola escorrida, a partir do pombo.
Sua talha difere totalmente das demais peças existentes na igreja, aproximando-se um pouco
central).
Após esta data, o gradil foi aproximado 1,15m da parede da porta central.
1991, hoje, por motivo de restauro, estes elementos foram extraídos do local em que se
encontravam.
13 - CAPELA DO SANTÍSSIMO
pequeno trono. Preso ao trono encontra-se uma representação de uma Bíblia encimada por
41
um cordeiro branco em madeira, o qual porta uma cruz, que por sua vez contém uma
bandeira.
Por detrás e ligado ao trono há uma espécie de aura dourada, sendo o seu
suporte uma placa de compensado, coberto quase na sua totalidade por um tecido amarelo,
se a um rocaille.
Tabernáculo contendo uma cruz raiada com anjos ao centro embaixo,’ sendo sua
base trabalhada. Um pouco acima da cruz, existência de um anjo.
conjunto do altar.
Estrutura verticalizada, sustentada por dois quartelões, tendo ornamentação
expressivos e sem talha, nos extremos. Ao centro um escudo, centrado por um ostensório e
existência de uma parte fixa, inteira, e também vazada, a qual é encimada por uma haste
horizontal, contendo um anjo e uma roldana na sua extremidade.
Ainda acima da parte fixa, pelo lado de fora da capela, observa-se a presença de
14-CORO
Sustentado por duas pilastras de madeira com base reta em cimento, revestida
uma imagem invertida que contém a inscrição em latim "veni sancte spiritus" e a figura de
um pombo.
Policromia amarela e azul.
OBS: O coro interfere na composição da porta central, especificamente na parte
superior.
15-ARCAZ*
Locado na sacristia, sem data de execução e autoria identificados.
Este arcaz é simplificado, possuindo seis gavetões (sendo um deles substituído,
e a maioria faltando os puxadores), é sobreposto por um oratório, formando um falso altar.
Atualmente possui coloração azul com detalhes em branco sendo que parte central superior
apresenta frisos em dourado. Observa-se diferenciação da talha na parte central para
laterais.
16-PIA D A SACRISTIA
Suporte em mármore. Presa à parede possuindo mesa lisa em formato
retangular projetada à frente, sobreposta em parte a esta, uma placa de mármore em tom
ocre presa à parede. Ao centro apresenta ornamento fitomorfo contendo um orifício. Acima
desta placa há uma espécie de entablamento. Acima deste encontra-se uma abertura em arco
aprofundada na parede, a qual contém em sua parte inferior, um orifício, provavelmente
Levantamento Iconológico
Símbolos
uma moeda era partida em duas metades, cada uma das quais ficava em poder de uma
amigo quando eles se separavam" (Jung, 1992, p. 290)1 .
transformando-os em símbolos.
O homem toma consciência de sua própria humanidade ao ter uma atitude
reflexiva perante o cosmos, e ao buscar uma unidade entre si e o cosmos, que, a partir
1990, p. 134)2 . O homem faz-se estético, retira a aparência da essência da realidade que vê,
e compraz-se dela (Schiller, 1990, p. 135)3 . E daí nascem os símbolos.
1 JUNG, Carl Gustav. Memórias. Sonhos. Reflexões. 14 ed., Rio de Janeiro: Vozes, 1992.
2 SCHILLER. Friedrich. A educação estética do homem. São Paulo: Iluminuras. 1990.
3 Id. Ibid.
4 CHEVALIER, Jean. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1991.
44
sobre todos os assuntos possíveis. A linguagem simbólica é como um idioma esquecido, que
é preciso resgatar, mas cujas significações também estão dentro de nós. "Os símbolos fazem
parte da realidade viva do homem tendo função de conhecimento no domínio religioso,
resulta numa imprecisão iconológica, mas que é inerente à natureza simbólica: sugestiva,
inatingível; retomaremos aqui, alguns símbolos presentes na iconografia cristã que estão
presentes na Capela de Nossa Senhora das Necessidades.
5 KONESKI, Anita Prado. Por uma poética de Siqueiros. (Monografia do curso de Especialização em Arte-
Educação) Florianópolis, Universidade do Estado de Santa Catarina, 1993.
6 Id. Ibid.
7 CHEVALIER, op. cit., XXII.
45
signos sempre foi frequente. Um dos motivos, segundo alguns estudiosos, talvez tenha sido
a perseguição que os cristãos sempre sofreram. A sua manifestação religiosa não era livre,
autorizada; tanto que a maioria dos seus cultos se realizava às escondidas, como em
catacumbas, por exemplo. Então, o símbolo ou semelhante poderia ser um meio de
identificar o cristão, sem muita suspeita de seus perseguidores. Da mesma forma, estes
símbolos e figuras foram transpostos para as pregações e escritos bíblicos, em parte, talvez,
com essa mesma finalidade; além de, certamente, conferirem um conteúdo aberto, sujeito às
interpretações de seus adeptos, assim como com maior profundidade e possibilidade de
transcendência. Talvez os símbolos também tenham sido utilizados como uma maneira de
explicar o inexplicável, de arrematar a realidade e os mistérios divinos; de significar estes e
constante em toda a escritura bíblica, especialmente nos evangelhos, parte que trata da vida
de Jesus com relevância. Caso este sentido simbólico não existisse e se se interpretasse os
escritos literalmente, por certo haveriam muitas contradições entre si e até com a própria
doutrina. Podemos concluir então que, nesse caso, ou os evangelistas foram muito
descuidados e não refletiam no que escreviam ou então incluíram estas "dificuldades" para
alertar o leitor sobre o sentido mais profundo (a mensagem) que pretendiam transmitir. Vale
citar aqui que os símbolos também fazem parte de todo um processo cultural universal,
constante e criteriosa no Antigo Testamento, o que provaria que os autores eram capazes
de fazê-lo.
Ainda segundo eles: "Supõe-se que os evangelhos não sejam obra de um só
homem (por isso nunca mencionam seu autor); nascem em uma comunidade de crentes que
medita sobre o que Jesus significa para eles e faz com eles e, a esta luz, interpretam sua
história passada"1 .
Os mesmos estudiosos ainda comentam que a expressão simbólica tinha suas
raízes na cultura herdada ou ambiente, a qual era interpretada através de símbolos pelos
relevante. Jesus mesmo usou de parábolas nas suas diversas pregações (Ex: Matteus
13;25,14ss; Lucas 19,llss;10, 25ss, etc.), assim como de alegorias, de maior dificuldade de
compreensão (Ex: João 10; 10,19; 15,1-6), as quais também aparecem no Antigo
1 MATEOS, Juan & CAMACHO, Fernando. Evangelho: figuras & símbolos. São Paulo: Paulinas. 1991, p.
201.
47
ALTAR
"Em todas as religiões, o altar é o centro do culto sacrifical (hebzabah =
sacrificar, raiz de = mizbeah altar). O altar é o sinal da presença divina" (León-Dufour,
1972, c. 40).
Segundo Paulo: "aqueles que comem as vítimas não estão acaso em comunhão
com o altar?" (ICoríntios 10,18). "No sacrifício perfeito, o sinal dá lugar à realidade: o
12,7s;13,18;26,25), assim como lugar das libações, dos sacrifícios e das ofertas de perfume.
Com a vinda de Cristo, onde o novo templo que é seu corpo, já não há outro
altar a não ser Ele (Hebreus 13,10), uma vez que Ele se oferece como vítima perfeita.
gestos litúrgicos, todas as linhas arquitetônicas; reúne em si a simbólica do centro. "O altar
simboliza o recinto e o instante em que um ser se toma sagrado, onde se realiza uma
operação sagrada" (Chevalier & Gheerbrant, 1991, p. 40).
divindade; símbolo da pureza virginal (por isso, era normalmente de pedra natural); centro
da unidade. O altar do cristão é essencialmente a mesa do sacrifício, realizado em forma de
Ceia eucarística, como a mesa da Última Ceia do Senhor. E pois, o lugar em que se toma
presente o sacrifício da cruz. E mesa onde o povo de Deus é convidado, bem como é centro
de ação de graças.
48
Este mesmo altar, que é beijado pelo sacerdote a cada missa e é motivo de
reverência dos cristãos é, por assim dizer, o próprio Cristo presente no Sacramento da
Eucaristia, por consequência, também símbolo dos mesmos cristãos.
direita, o altar dedicado a Santo Antônio inicialmente; hoje com a imagem do Sagrado
Coração de Jesus; e na esquerda, o outro, dedicado a São Miguel Arcanjo, atualmente com
TABERNÁCULO
o tabernáculo era apenas a sombra das coisas vindouras, uma figura dos tempos novos, nos
quais Cristo iria abrir aos homens o acesso direto ao trono da graça de Deus (Hebreus 9,1-
14).
símbolos (uns eucarísticos) na face exterior da porta e outro terceiro, junto à Capela do
Santíssimo.
HÓSTIA
1 FERGUSON, George. Signs & symbols in Christian Art. New York: Oxford University Press, 1961, p.
168-9.
50
10,17).
(Ver anexos - figuras 2.b.; 2.c.; 8.b.)
2 CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. 4. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1991, p. 197.
■
51
COROA
elevação, poder, iluminação. Fora, outrora, feita de pontas, como cornos, raios de luz.
Talvez seja esse o sentido da coroa crística.
A coroa tende a assimilar aqueles que as levam à divindade; símbolo de
identificação.
com suas bênçãos (Ezequiel 16,12; Isaías 62,3). Também à idéia de honra, grandeza, júbilo
e vitória, e desta última, à vitória escatológica. No Apocalipse (14,14), Cristo aparece como
1 CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. 4. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1991, p. 289.
52
Testamento fala-se da coroa da vitória dos cristãos contra o mal, sobretudo ná coroa do
martírio.
Coroa como sinal de vitória, distinção, homenagem, alegria, poder, recompensa
e glória. Nas muitas representações religiosas a coroa está bastante presente e, por várias
vezes, talvez substituída por halos, auréolas, resplendores, grinaldas, etc. com este sentido.
Normalmente está junto de Santos Mártires, denotando que eles são de sangue "real". É ela
figuras de Cristo glorificado: na sua ressurreição, ascenção ao céu e como rei dos céus e/ou
da terra, por exemplo. "O Senhor reina, vestido de majestade" (Salmos 93,1). Ainda hoje se
prestam festas pelos católicos em honra a Cristo-Rei. Por vezes, este Cristo vem na imagem
da realeza com trono, cetro, manto e coroa. Também nas imagens de Maria, a coroa é
muito comum, principalmente nas passagens de sua assunção, coroação como Rainha do
materiais. Com muitos santos, ela ainda aparece na forma de uma coroa de espinhos,
27,29; João 19,2.5) é uma coroa régia por zombaria, paródia, como o manto de púrpura e o
cetro de cana. Contudo, os evangelistas viram neste gesto uma profecia da verdadeira
53
realeza de Jesus; conforme a inscrição da cruz: "Jesus Nazareno, rei dos judeus" (v. Mateus
Entretanto, a coroa que está na Capela de Nossa Senhora das Necessidades está
Espírito Santo. Podemos pressupor que ela traz o mesmo sentido da Santidade, da glória e
das três pessoas em especial. Contudo, são três deuses em um, segundo os cristãos e, então,
Todavia, como já foi comentado que a coroa poderia ter relação com o
Espírito Santo (a forma da pomba); onde vemos as figuras do rei e rainha da festa com os
Porém, é mais certo que ela ali se encontra para dar à figura da pomba o caráter
54
BALANÇA
São Miguel.
opostos; direito, justiça, medida, ordem, desdobramento, destino e ainda equilíbrio de todas
as forças naturais, de todas as coisas feitas para serem unidas, segundo Devoucoux.
Normalmente, São Miguel porta de uma balança; uma vez que é Ele o Arcanjo
do julgamento, o responsável pela pesagem das almas. Isto, segundo a iconografia cristã; o
O São Miguel da doutrina cristã é um dos três anjos a que a Bíblia dá um nome.
Em Daniel 10,13.20-21; 12,1; ocupa alto grau na hierarquia dos anjos e o cuidado do povo
judeu lhe foi entregue. Em geral, colocam-no como um dos sete anjos que estão diante do
1 CHEVALIER. Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. 4. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1991, p. 113-4.
55
Senhor (Tobias 12,15; Apocalipse 1,4;5,6;7,2). No N.T., está citado em duas passagens:
A LETRA "M"
monograma; só que, de uma só letra. Há quem diga que são duas letras: um "A" e um "M";
como JHS ou IHC, PX e INRI são exemplos disso. Contudo, a nossa letra "M", não
percebemos uma letra M, normalmente junto de uma cruz, a qual está sempre presente na
objeto, quando só. Também o ”M" aparece em figuras de objetos sacros, como altares,
terços, medalhas, etc. e ainda bastante associado à imagem de Nossa Senhora; o "M" ligado
à Virgem Maria.
nicho reservado à imagem de Nossa Senhora das Necessidades, uma das faces da Virgem
Maria. Então, podemos até sugerir que a letra faça relação à dita imagem. Assim como
como o próprio nome diz, o escapulário também possui um sentido de apelo. Eis mais uma
LIVRO
como motivo, no coroamento do altar lateral dedicado a Santo Antônio de Pádua, o que
explica a relação. Embora apareça aberto, abaixo de uma cruz e não perfurado por uma
espada, como já foi mencionado, ele possui relação com o santo. Porém, a espada, segundo
segundo a simbologia. E conforme a doutrina cristã, "o Verbo (Cristo) se fez carne e
habitou entre nós" e morreu numa cruz, como contam as Escrituras. Então, percebe-se que
há um pequena relação entre cruz e espada. Além disso, ambos os símbolos podem ter
identifica com a Árvore da Vida, uma designação que o mesmo Apocalipse conferiu à figura
da cruz. Pode-se então sugerir o porquê da junção dos dois símbolos, assim como o livro
Um livro aberto ainda significa que a matéria está fecundada, onde o conteúdo é
tomado por quem o investiga, comparado a um coração que oferece seus pensamentos e
sentimentos.
1 FERGUSON, George. Signs & symbols in Christian Art. New York: Oxford University Press, 1961,p.
171.
58
elementos sacros como cálices, cruzes, estolas, hóstias, velas, onde normalmente faz alusão
à liturgia da Palavra e à Bíblia; quer com outros objetos e figuras como uvas e trigos, faixas,
terços, flores (lírios), pombos e imagens de anjos e santos. Pode vir aberto, fechado, em
diversos tamanhos, formas e cores, com ou sem inscrições e/ou letras e desenhos.
de Nossa Senhora das Necessidades, na forma de catorze telas, pintadas e dispostas sobre
A via-sacra lembra, nada mais, nada menos, que toda a imagem da paixão e
morte de Jesus Cristo. A igreja católica a apresenta sob a divisão de quatorze estações, que
vão desde a condenação de Jesus até o seu sepultamento. Há hoje a presença de uma
décima quinta estação, que remete à Ressurreição de Cristo, a qual é posterior na história
cristãos pelas ruas de Jerusalém, que procuravam seguir os passos de Cristo em seu
martírio; logo após a sua morte. A tradição se fez e é muito lembrada ainda hoje pelos
Muitos artistas utilizaram da via-sacra como motivo para suas obras, quer
escultóricas ou pictóricas.
CORDEIRO
uma espécie de estandarte, sendo que o mastro deste se faz em forma de uma cruz. Ainda é
este cordeiro circundado por representações de nuvens e volta a ser visto também no altar
"O mundo animal constitui a parte da criação visível que mais próxima está do
"É por esta razão que muitas vezes a Bíblia utiliza, para ilustrar
as suas descrições, a aptidão dos animais para exprimir certas
atitudes humanas: o inimigo é chamado de cão (Salmos 22,17);
uma tropa de invasores vem a ser uma nuvem de gafanhotos
(Isaías 33,4); (...) muitas vezes o povo é comparado a um
rebanho (Parábola de Natã 2Salmos 12,1-4; Jeremias 23,1-8;
Ezequiel 34; João 10,1-16); o cordeiro serve até para representar
o Cristo (João 1,29; Apocalipse 5,6...), e a pomba o Espírito
Santo (Mateus 3,16p)"2 .
deveriam afastar-se da idéia de ter os animais como motivos de idolatria (Sábios 15,18s; cf.
homem são seres de mesma origem, com a comum denominação de "viventes" e unidos por
um liame fraterno, onde a ajuda é mútua (Números 22,22-35; IReis 17,6; Jonas 2; Jó 38,39-
segundo certas observações bíblicas (Ex: Gênesis 2,20; Gênesis 2,18-23; Gênesis 9,2s;
1 LÉON-DUFOUR. Xavier et alii. Vocabulário de Teologia Bíblica. Petrópolis: Vozes. 1972, c. 56.
2 Id. Ibid.. c. 56.
3 Id. Ibid., c. 58.
61
voltará a idade de ouro, em que o lobo habitará com o cordeiro (Isaías 11,6-9; Oséias 2,18).
A existência de vários termos como gado miúdo (Gênesis 4,2; Êxodo 22,1);
cordeiro (Esdras 6,9) e ainda um termo específico para o cordeiro de um a três anos,
próprio para o sacrifício (Levítico 3,7) comprova a relevância que o rebanho de ovelhas
tinha nas terras da Palestina; estas nas quais Jesus passou a maior parte de sua vida,
segundo a história. O cuidado com o rebanho era notável, uma vez que os ovinos tinham
considerável lugar nos sacrifícios de ação de graças e pelo pecado. "É por excelência o
animal do sacrifício e nenhuma festa israelita se realiza sem que muitos cordeiros sejam
CORDEIRO PASCAL
quando Isaac foi poupado de ser sacrificado; seu pai, Abraão, ofereceu no lugar um
cordeiro para exprimir sua atitude diante de Deus. Contudo, o cordeiro adquire um
4 Id. Ibid.
5 Id. Ibid.. c. 59.
6 VINCENT. Mons. Albert. Dicionário bíblico. São Paulo: Paulinas. 1969. p. 129.
62
"A Páscoa era para os hebreus uma festa muito antiga e foi
provavelmente por causa dela que Moisés pediu ao faraó
permissão de ir celebrá-la no deserto (Êxodo 5,1-3). Naquela
ocasião era uma festa da primavera que consagrava e resgatava
as primeiras crias do rebanho e os primeiros feixes da recente
colheita. Consistia pois na manducação de um cordeiro macho ou
de um cabrito sem defeito nascido naquele ano (Êxodo 12,3-11;
Números 9,10-12; Deuteronômio 16,2-6), acompanhada de pão
sem fermento"7 .
etimologia incerta. É muito provavelmente a fusão de duas festas, antes independentes entre
si: a festa dos pães ázimos; festa agrária de povos nômades e semi-sedentários (israelitas);
mais a festa primitiva, talvez anterior a Moisés, é uma festa de nômades, festa das primícias
do rebanho (Ex 13,11;34,19), conforme a citação anterior. Esta festa invocaria a proteção
de Javé sobre os rebanhos, sendo que um dos seus ritos seria aspergir sangue nas soleiras e
umbrais das portas da casa, como que pedindo proteção da ira divina. Somente mais tarde
veio esta festa a ter o cunho histórico, a libertação do Egito, festa da liberdade.
7 Id. Ibid.
8 LÉON-DUFOUR et alii. op. cít., c. 178.
63
adquire novo significado, novos fatos juntaram-se à festa que já era celebrada antes desta
ocasião (Êxodo 12,1-13,16). A Páscoa então passa a ser a festa da saída do Egito; da
ao povo de deus, também celebra sua Páscoa. Por isso, reúne seus discípulos para a festa.
Em vista disto, nota-se uma relação entre o cordeiro e o pão; este último
substituindo o primeiro, uma vez que agora o próprio Cristo ("Agnus Dei”) se coloca como
o cordeiro a ser imolado em favor dos homens. - "Cristo, nossa Páscoa, foi imolado"
(lCoríntios 5,7).
9 MEISTER. José Antônio. Páscoa, só um passado? Revista Mundo Jovem. São Paulo. 232. 20. Abr. 1992.
10 LÉON-DUFOUR et alii. loc. cit.
64
frente à cronologia joânica, o próprio fato da morte de Cristo teria fornecido o fundamento
dessa tradição.
maior parte da igreja adotou, como festa principal correspondente à Páscoa judaica, o dia-
cit., p. 387.).
A Páscoa, sob uma visão escatológica, traz consigo a idéia de que o mistério
pascal terá para o cristão seu arremate com a morte, a ressurreição e o encontro do Senhor.
A Páscoa terrestre prepara para eles essa última "passagem", essa Páscoa do além.
CORDEIRO DE DEUS
do mundo, tende piedade de nós"; e "Eis o cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do
mundo".
65
E interessante notar aqui, que São João Batista é tido, muitas vezes, como o
precursor do Messias, o seu anunciador; aquele que preparou os caminhos para a vinda do
estandarte, cuja simbologia será melhor explicada mais adiante, talvez simbolizando, nesse
caso, o anúncio da boa-nova, a vitória de Jesus Cristo sobre o pecado e a morte que estaria
por vir. Este João, um pregador, que portava a bandeira como se ela a marcasse como
seguidor de Cristo, foi o mesmo quem batizou Jesus. E o cordeiro já porta do estandarte,
talvez com a conotação de vitória já alcançada; é Cristo, na verdade, que a tem; pois Ele se
fez cordeiro.
"João Batista viu o espírito descer sobre Nossa Senhora e, em nome daquele
que o enviara a batizar na água (1,26), mostra ser Jesus aquele que anunciava (1,30), aquêle
que batiza no Espírito Santo (1,33), o Filho de Deus (1,34). Assim, estas expressões
Conforme São João Cris. e Santo Agostinho, o cordeiro seria apenas o símbolo
de pureza e inocência; "tirar o pecado" então significaria que o Messias deveria fazer
desaparecer o pecado do mundo e fazer reinar a justiça e não no sentido de "expiar pela
morte".
"cordeiro que é levado ao matadouro" (Jr. 11,19). Uma imagem aplicada depois, por Isaías,
ao Servo de Javé (equivalência no aramaico), que, morrendo para expiar os pecados de sua
12 JEREMIAS, J. Cordeiro de Deus. In: Dr. A. Van den Bom (Org.). Dicionário enciclopédico da Bíblia.
Petrópolis: Vozes, 1971. c. 297-98.
13 VINCENT. op. cit.. p. 129.
66
povo, aparece como um cordeiro levado ao matadouro, e "como uma ovelha muda diante
de quem a tosquia nem abriu a boca" (Is. 53,7) ou ainda aos cordeiros sacrificais do culto
judaico.
sacrificado, mas glorificado (5,6;8,12, etc.), tudo junto 30 vezes. É pela força do cordeiro
sacrificado que os eleitos serão salvos; embora ainda se conservando a idéia de Cristo-
Cordeiro Pascal (Apocalipse 5,9s). Cristo, sendo cordeiro na sua morte redentora, é, ao
mesmo tempo, um leão cuja vitória (lembrar o estandarte) libertou o povo de Deus. Ele
agora governa junto, o Reino Celeste, consagrando-se "Rei dos reis e Senhor dos' senhores"
(Apocalipse 17,14; 19,16...). O Cordeiro se faz então pastor para conduzir os fiéis às fontes
doutrina cristã, percebemos qual o seu grau de importância como um elemento simbólico.
justamente essa função arquetípica que faz do cordeiro a vítima perfeita, própria para
assegurar a salvação. "Foi sem dúvida a fim de evitar qualquer confusão de cultos e crenças
(...) que o Concílio, reunido em Constantinopla em 692, ordenou que a arte cristã passasse
a representar o Cristo na cruz não mais sob a forma de cordeiro, nem rodeado pelo sol e
pode-se notar na Capela de Nossa Senhora das Necessidades, por exemplo, o que nos
motivou ao presente texto. O cordeiro é o símbolo favorito para representar Cristo e o mais
usado no período da arte cristã e ainda é bastante freqüente nas imagens religiosas. Quer em
igrejas, cartões, talhas, etc,, encontramos com uma constância relevante, as imagens com a
idéia do Bom Pastor. Jesus e as suas ovelhas, o seu povo escolhido e também pecador.
Olhando para elas, como que cuidando-as ou até ensinando-as; tendo-as nos braços ou
passagem da imolação para a vida na Eucaristia. Também costuma ser representado junto
descrição, sendo ainda, em uma representação, circundado por nuvens, talvez ligando-se
Cordeiros são ainda encontrados junto à imagens de santos, às vezes; com Santa
Inês e São João Batista, por exemplo. Junto com esse último, foi muito comum na
Renascença; onde se tinha o cordeiro ao lado de São João infante, especialmente. Nesse
caso, a figura do cordeiro, como já descrevemos, alude à missão de São João, como
anunciador de Cristo.
"O cordeiro (Latim, agnus) é dado como um atributo de Santa Inês, que foi
martirizada porque declarou ser a noiva de Cristo e recusou-se a casar. Isto também é
15 CHEVALEER. Jean & GHEERBRANT, Alaín. Dicionário de Símbolos. 4. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio. 1991, p. 288.
68
encontrado como sendo um atributo de São Clemente, que foi guiado por um cordeiro até o
"No dia seguinte João viu Jesus, que vinha ter com ele, e disse: Eis o cordeiro
16 FERGUSON. George. Signs & symbols in Christian Art. New York: Oxford University Press, 1961. p.
21.
69
ESTANDARTE/BANDEIRA
que se aplica, neste último caso, à serpente de bronze). Também pode ser vista como
(cargo), etc. Pode também significar um sinal para ajuntamento, comando, reunião; bem
como pode trazer a idéia de alerta; chamar a atenção para algo ou designar um indício de
guerra.
de um estandarte ergue-o acima de sua cabeça. De certo modo, lança um apelo ao céu, cria
um elo entre o alto e o baixo, o celeste e o terreno. Jeová é minha bandeira, diz o texto do
Êxodo (17,15); o que significa: Deus é minha proteção. Entre os semitas, as bandeiras
1 CHEVALIER. Jean & GHEERBRANT. Alain. Dicionário de Símbolos. 4. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1991. p. 402.
70
Cristo ressuscitado e glorioso. Toda procissão litúrgica, durante o tempo pascal e ascenção,
Como já foi mencionado na citação, a bandeira faz uma grande alusão à glória
do Senhor Jesus, quer na sua festa maior, a da Ressurreição (Páscoa); quer na sua ascenção
ao céu. Esta talvez seja a explicação mais cabível para a bandeira que se encontra junto ao
com a vitória do Cordeiro de Deus, imolado em favor dos homens, mas, que no fim, saiu
glorioso.
Ressurreição e Salvação, vários outros santos a tem como atributo, como São Jorge da
Capadócia e Santa Úrsula, dentre outros. Muitas vezes também se apresenta nas mãos de
Necessidades, vemos que, além de aparecer apegada ao cordeiro, também está, em outro
ponto da Capela, representando o Apostolado (do Sagrado Coração de Jesus), bem como
outra chama a atenção para a irmandade do Divino Espírito Santo, existente no local.
procissão.
a elevação (...) do espírito. A bandeira é elevada, o homem a estende acima de sua cabeça e
assim o faz com a contemplação voltada para os bens celestes. Estar suspenso acima da
BATISMO DE JESUS
Nossa Senhora das Necessidades. Devido a isso, é válido que se comente um pouco acerca
do tema.
BATISMO
A ÁGUA
Ali aparece no dilúvio (IP 3,20s) e na passagem do mar vermelho, por exemplo.
um dos símbolos arquetípicos. No Antigo Testamento é vista como dom benéfico de Javé,
necessidade vital.
mergulha e sai renovado, limpo de sua vida passada e pecados. Em outro sentido, Jesus fala
de seu batismo referindo-se à sua morte e á de seus seguidores (Marcos 10,38s; Lucas
12,50).
O BATISMO CRISTÃO
(Romanos 6,3-4).
3 MATEOS, Juan &. CAMACHO. Fernando. Evangelho: figuras & símbolos. Sâo Paulo: Paulinas. 1991. p.
55.
4 VINCENT, Mons. Alben. Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulinas. 1969. p. 78.
"João Batista anunciava o batismo no Espírito e no fogo
(Mateus, 3,1 lp). O Espírito é o dom messiânico prometido. O
fogo é o julgamento que começa a realizar-se na vida de Jesus
(João s,18-21;5,22-25;9,39). Ambos se instauram no batismo de
Jesus que preludia o dos seus fiéis. Paulo vê o batismo cristão
anunciado na passagem do mar Vermelho que livra Israel da
servidão (1 Coríntios 10,15). Sua realização afetiva começa em
Pentecostes que é como que o batismo da Igreja no Espírito e no
fogo"5 .
O BATISMO DE JOÃO
Quase todas, senão todas as religiões tem seu batismo ou rito de entrada na
comunidade. João Batista prega o batismo de conversão: Ele está bem na linha dós profetas
quando acrescenta o batismo à sua pregação. Porém, a prova de que existe algo de novo
neste ato simbólico está em que seus discípulos deram-lhe o cognome de Batista unido ao
nome de João (Marcos 1,4-8; Mateus 3,1-12; Lucas 3,2-17; João 1,19-28).
Hoje, todavia, o batismo para os cristãos, não é mais o de João, que era
destinado a preparar os caminhos do Messias e sim o batismo trazido por Nosso Senhor
Jesus, o qual supõe fé e torna-se o ato oficial da entrada na Igreja (Atos 2,38;8,16; 19,3-5).
BATISMO DE JESUS
Jesus não precisava ser batizado. Batizando-se, porém, deu a entender ao povo
sua missão, isto é, mostrou que tomou sobre si os pecados dos homens (Marcos 10,45).
cruz. Jesus também mandou batizar. Disse: "Ide por todo o mundo, ensinai todas as
criaturas e batizai. Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer será
Batismo de Jesus na Capela. Uma imagem simples no seu conteúdo formal, mas rica em
artístico da Capela.
(Ver anexos - figuras 8.c.; 10)
77
TRIGO E UVAS
outras; quer em representações pictóricas, ornatos, talha, etc; quer na liturgia (parábolas) e
cerimônias cristãs.
São Miguel.
estão ligados ao pão e ao vinho da Santa Comunhão, os quais, por sua vez,' designam
1. TRIGO
Inicialmente trata-se de uma planta da família das gramíneas, de cujos grãos se
faz a farinha e com esta, o pão. Em hebraico, o trigo possui muitas denominações
(Deuteronômio 8,8; Êxodo 22,6; Juizes 15,5). Ele ainda aparece em muitas parábolas de
Jesus, como na do "semeador" Mateus 13,3-9; Marcos 4,14-20; Lucas 8,12-16), onde
trigo, semeado em campo bem preparado, germina por sua própria força. Dentre outras
"dos dois dispenseiros" (Lucas 12,42;22,31). Jesus também compara-se ao grão de trigo,
" O redentor anuncia sua morte ignominiosa e sua ressurreição que, sob o
símbolo do grão de trigo, desenvolve os germes de vida (João, 12 24-25)" (Vincent, 1969,
p. 489).
O PÃO
O pão, produto do trigo, como dom de Deus, é para o homem uma fonte de
força (Salmos 104,14s), um meio de subsistência imprescindível (Amós 4,6; cf. Gênesis
78
28,20). Por isso, na oração por Jesus, onde encontramos: "(...) o pão nosso de cada dia nos
dai hoje(...)", o pão parece resumir todos os dons que nos são necessários (Lucas 11,3).
como gesto de amizade (Salmos 41,10=João 13,18) e caridade (Provérbios 22,9; Ezequiel
18,7.16; Jó 31,17; Isaías 58,7). Paulo lembra que todo dom vem de Deus, a começar pelo
pão.
Na Igreja cristã, a "fração do pão" designa enfim o rito eucarístico do pão que é
pecador: "Comerás o teu pão com o suor da tua fronte" (Gênesis 3,19).
maná do deserto (Mateus 14,20p;15,37p; cf. João 6,12); o milagre operado por Eliseu
(2Reis 4,42ss); Jesus convidando seus discípulos a pedir o "pão cotidiano" (Mateus 6,11).
seu Deus criador com a intenção de reconhecimento (Gênesis 14,18ss). Por muitas vezes os
associado à Palavra de Deus. Ter fome de pão é ter fome da Palavra (Amós 8,11; cf.
Deuteronômio 8,3; Isaías 55,lss). Também para Jesus o pão envoca a palavra divina da qual
1 LÉON-DUFOUR. Xavier et alii. Vocabulário de Teologia Bíblica. Petrópolis: Vozes. 1972. c. 709.
2 Id. Ibid.. c. 710.
79
0 emprego do pão no culto vem a ter a sua plena realização na Eucaristia; onde
a própria pessoa de Cristo imolado se identifica no pão (a "hóstia" das missas). O pão,
agora corpo de Cristo. O pão da vida e do céu (João 6,32.35.51) a ser tomado para a união
dos fiéis. Jesus se faz corpo no pão, alimento da alma e se diz o pão da vida, descido dos
2 . UVAS
Representando geralmente o vinho eucarístico, sempre estão muito ligadas ao
Os vinhedos, comuns na Palestina, são tão somente apreciáveis pelo seu fruto
(Ezequiel 15,2-5; João 15,6; Juizes 9,13). Na vinha um mistério: se alegra o coração do
fecundidade, mas pode continuar estéril (Isaías 5,1-5; Jeremias 2,21; Ezequiel 19,10-14).
Nas escrituras, vemos que Deus insiste sobre a necessidade de o sarmento estar
unido ao tronco a fim de dar frutos (João 15,1-11). Encontramos a vinha ainda em relação a
Noé (Gênesis 8,21;9,20), que a planta em vista da bênção recebida por Deus. Também Deus
promete e dá ao seu povo uma terra rica em vinhas (Números 13,23s; Deuteronômio
8,8;28,30.39).
Jesus se faz a vinha perfeita, podada por Deus, que produz (João 15,1 s; Mateus
15,13), que dá seu fruto e doa seu sangue, o qual será simbolizado no vinho eucarístico, um
meio de comungar do seu amor (Mateus 26,27ssp; cf. João 6,56; 15,4.9s).
Ele é a videira e nós os sarmentos, assim como Ele é o corpo e nós os membros;
VINHO
embriaguez que provoca. Para os taoístas, sua virtude está também no poder de
o Graal, que tem o poder de conferir a imortalidade a quem dele beber, segundo a tradição.
alegria, o Espírito Santo e a Verdade. Para os místicos muçulmanos: "é a bebida do amor
divino" (Naboulousi).
escatológico. No Antigo Testamento, para anunciar os grandes castigos a seu povo que o
contrapartida, a felicidade prometida por Deus é muitas vezes expressa numa grande
abundância de vinho (Amós 9,14; Oséias 2,24; Jeremias 31,12; Isaías 25,6).
velhos se romperem (Marcos 2,22p). O mesmo serve para o milagre das Bodas de Caná (Jo
2,10;cf. 4,23;5,25) onde o vinho das núpcias, o vinho bom esperado "até então" é o dom da
3 VINCENT. Mons. Albcrl. Dicionário bíblico. São Paulo: Paulinas. 1969. p. 499.
81
"(...) é óbvio que o cálice que Jesus partilha continha vinho, como se deduz na
perífrase 'o fruto da vinha' (Marcos 14,25 par.). O cálice, ou seu conteúdo, o vinho, que
simbolizam o derramamento do sangue de Jesus, denotam também seu amor que não se
sacrifício de Cristo.
última ceia de Jesus com seus discípulos, reunidos para que se cumprissem as profecias.
Jesus se entrega como cordeiro, a ser imolado para a salvação dos homens, celebrando a
Na noite em que ia ser entregue, abraçando livremente a paixão, Jesus ceou com
seus 12 apóstolos e, tomando o pão, deu graças e o repartiu, dizendo: "Tomai e comei
todos vós; isto é o meu corpo que é dado por vós". Depois, tomou o cálice com vinho e
disse: "Tomai e bebei todos vós; este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna
aliança que é derramado por vós e por todos os homens para o perdão dos pecados. Fazei
Eucaristia.
Vê-se então que o pão toma-se o corpo morto e ressuscitado de Jesus, assim
como o vinho seu sangue. Portanto, pão e vinho tomam-se presença de Cristo. Ele, que se
faz alimento espiritual. Hoje, nas missas cristãs, quando na comunhão, o celebrante entrega
a hóstia aos fiéis dizendo: "Corpo de Cristo". Um Cristo que disse que quem comesse da
sua carne e do seu sangue bebesse, teria vida eterna e com Ele seria um só.
Em vista de toda essa abordagem, percebe-se que o trigo e as uvas tem uma
imagens sacras ou não, por variados artistas de todos os períodos, permanecem através do
4 MATEOS. Juan & CAMACHO. Fernando. Evangelho: figuras e símbolos. São Paulo: Paulinas. 1991.
63.
82
tempo e hoje costumam estar associados a outros símbolos de cunho cristão, como cruzes,
eucarísticos, como cálices, estolas, breviários, patenas, hóstias, ostensórios, etc. São
comuns ainda as representações de campos e feixes de trigo, bem como parreiras ou folhas
destas. As folhas de parreira, em certo período da história, foram utilizadas como uma
espécie de tapume (coladas) dos órgãos sexuais de figuras nuas que se encontravam
o trigo ladeiam uma cruz, provavelmente trazendo a idéia da redenção divina; dã "entrega"
do Salvador dos homens através do martírio na cruz, o qual, depois se faz alimento por
CRUZ
Necessidades, quer em entalhes, pinturas, imagens, etc, quer em objetos sacros; assim como
Antiguidade: no Egito, na China, Creta, etc. Junto com o círculo, o centro e o quadrado,
forma o conjunto dos quatro símbolos fundamentais, sendo o terceiro deles e relacionando-
se com os demais.
quatro (totalidade). É ela base de todos os símbolos de orientação, nos diversos níveis de
existência dos homens. Tem, em consequência, uma função de síntese e de medida, onde se
Por vezes, "adoçada" com outros símbolos, como animais, por exemplo. Em
relevância a esta pesquisa, com a pomba e a ovelha pode-se sugerir que as virtudes brotam
da cruz como os vícios são abatidos por ela. Este, um aspecto alegórico até; que não o de
também poder exprimir uma das representações inumeráveis do Cristo. Cruz também é vida,
No Egito, a cruz ansada, que aparece com muitas divindades, vem como
primeiro plano. Também esse sentido de totalidade esteve na Idade Média, onde a cruz foi o
símbolo impulsionador da fé e dos ideais cristãos na luta contra os mouros e nas cruzadas;
Shahada, que é a sua profissão de fé. Ainda os chineses acreditavam que Deus criou o
mundo sob a forma de uma cruz e Platão achava aue a estrutura do universo era constituída
cruz, uma das representações mais primitivas, encontradas em muitos amuletos pré-
históricos.
TIPOLOGIA DA CRUZ
A palavra cruz vem do latim crux ou cruce, de onde derivam cruzado, cruzeiro,
crucial, crucifixo, encruzilhada, cruzamento, etc. Configuradamente simples: duas retas que
se cruzam perpendicularmente, simbolizando, por assim dizer, a união dos opostos, o que
material de que se compõe, cor, contexto onde se insere, bem como objetos ou
interior do homem.
Exemplos deste tipo são as cruzes grega e latina, muito utilizadas na arte cristã.
A cruz latina, talvez a mais comum, com a haste vertical maior que a horizontal, a qual, por
1 CHEVALIER Jean & GHEERBRANT. Alain. Dicionário de Símbolos. 4. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio. 1991. p. 310.
85
sua vez, está acima do centro. Houve quem dissesse que esse deslocamento acontecera à
medida que a humanidade procurara se aproximar mais de Deus. Esta cruz é usada como
símbolo da paixão de Cristo; talvez em vias do que a tradição diz. Normalmente nela
aparecem cinco marcas, por vezes vermelhas, simbolizando as cinco chagas que Cristo
recebeu (marcas dos cravos, coroa de espinhos e lança). Esta cruz é atributo de muitos
santos como São Felipe, Santa Margarete, Santo Antônio de Pádua, Santa Rita de Cássia,
São Luiz Gonzaga, dentre inúmeros outros. Já a cruz grega, a de quatro braços iguais é
Cristo; da cruz da ressurreição, simbolizando a sua vitória sobre a morte, sua glória.
São muito conhecidas ainda: a) a cruz gamada (suástica), que não é o símbolo
do nazismo, como muitos pensam, pois este possui as hastes invertidas. Esta, originária da
Grécia e índia, representa uma mandala, um dos mais poderosos símbolos da totalidade e da
ordem. Na China e Japão, indica abundância e vida longa; b) a cruz de Santo André, que é
em forma de X, em vista da forma da cruz que o próprio santo fora crucificado, como conta
forma de T. Diz-se que é atribuída a São Felipe, por causa de seu martírio numa cruz deste
tipo.
2 Id. Ibid.
86
e loucura para os pagãos" (ICoríntios 1,23), o que exprime a espontânea reação de todo o
homem em presença da cruz redentora. Por isso, na véspera da sua paixão, anuncia Jesus
São Paulo recebera da tradição primitiva que "Cristo morreu por nossos
abolição do uso da cruz como suplício, por influência de sua mãe, Santa Helena.
"E eles o crucificaram" (Marcos 15,24) (Marcos 15,26-27; Mateus 27,37; João
19,19.25-27).
Ainda segundo Paulo; se Jesus foi "suspenso à árvore" como um maldito, foi
para nos remir da maldição da Lei (Gálatas 3,13). Seu cadáver exposto sobre a cruz, "carne
Assim, "pelo sangue da sua cruz", Deus reconciliou consigo todos os seres (Colossenses
1,20).
que o Filho do homem foi "elevado" (João 8,28;12,32s). A cruz é sinal vivo da salvação. O
ansiedade pela infância e pela mãe. É comum na mitologia heróis nascerem ou morrerem em
árvores3 .
3 SILVA. Heloisa Maria Cardoso. A cruz que carrega o eixo da evolução. Revista Ano Zero. Rio de Janeiro.
12, 14-21. Abr. 1992.
87
história humana. Celebram-se festas da cruz, principalmente na Semana Santa (da Paixão),
Juízo Final.
3,18), madeira (a da arca de Noé, a das varas de Moisés que fizeram brotar a água da pedra,
justiça e do anzol que pescou o demônio" (Chevalier & Gheerbrant, 1991, p. 312).
cordeiro sob o signo da cruz. Entre os cristãos primitivos, a cruz foi logo adotada como
sinal secreto e até hoje é usada pelos cristãos, especialmente os católicos, que se benzem
toda parte: no martelo, no machado, na charrua, nas iniciais da palavra Cristo em grego
crucifixo).
E a cruz se toma o sinal visível do cristão, de sua salvação; uma marca que o
São Paulo diz: "Estou crucificado com Cristo. Já não sou eu quem vivo, é
Cristo que vive em mim" (Gálatas 2,19ss). E o próprio Jesus declarou que quem quisesse
ser seu discípulo teria que renunciar-se a si mesmo e carregar sua cruz (Marcos 8,34),
Segundo Jung, a cruz aponta para o Si-mesmo (self), sendo que a expressão
"cada um carrega sua cruz", em sentido mais profundo, significaria que cada homem teria
que carregar a si mesmo, a sua totalidade, Deus e animal a um só tempo. "Se alguém tiver
que suportar o peso de si mesmo, como poderá ele ainda dilacerar os outros?", indaga Jung.
"mau" ladrão, como Cristo o foi. A cruz é a figura do intermediário, do mediador dos
opostos.
0 NUMERO "7"
"esquisito" (único número primo sem ser múltiplo nem divisor de um outro número entre 1
e 10). Parece que seu segredo é propriedade dos deuses. Segundo Desmond Varley, está
o como. Há quem diga que talvez viera de uma civilização perdida. Jung refere-se ao 7
como um dado que lhe escapou e cujo significado não pode ser totalmente apreendido.
Segundo ele: "na linguagem da iniciação, o 7 significa o mais alto estágio de iluminação e
calca-se sobre a relevância deste número dentro da doutrina cristã, uma vez que é frequente
nesta.
respectivamente: o céu, a trindade que está presente em várias religiões, o divino (3)
(sabbath) Ele descansou (Gênesis 2,2). Descansou não no sentido exterior à criação, mas no
de coroar, concluir na "perfeição". É o que evoca a semana: 7 dias, um quarto lunar. Daí o
sentido do "sábado" do descanso e das festas que duravam 7 dias (Levítico 23,34).
Portanto, o significado qualitativo dado em toda a história das religiões pode ter sua
explicação nas admiração sentida nas origens pela regularidade da passagem do tempo em
primeiros dias a criação dos "campos" onde as criaturas agiriam nos 4 dias restantes. Uma
divisão sempre reforçada nesta idéia: as 7 virtudes teologais, onde 3 são sobrenaturais (fé,
vida mundana (penitência, ordem, matrimônio e unção dos enfermos); as 7 petições do "Pai-
nosso", das quais as 3 primeiras são dirigidas a Deus e as 4 seguintes ao homem; etc.
tradição judaico-cristã, são 7 os arcanjos e há 7 céus para as 7 ordens destes. São 7 também
vingança repetida sete vezes é a vingança completa (Gênesis 4,15); Deus vê tudo com sete
olhos (Zacarias 4,10); na idade da salvação, o sol brilhará sete vezes mais (Isaías 30,26); a
número redondo que inclui a totalidade (Gênesis 46,27; Juizes 20,16; Provérbios 26,16;
Jeremias 25,11; Daniel 9,24; Números 11,16; Gênesis 10 cf.; Deuteronômio 32,8); Deus
ordena que Noé leve na arca sete pares de animais e pássaros puros; no sonho do faraó fala-
se em 7 vacas gordas e 7 magras, bem como 7 espigas perfeitas e 7 secas; Moisés esperou 7
dias no monte Sinai para receber de Deus os X mandamentos; os hebreus devem semear a
terra e colher frutos durante 6 anos, deixando que ela descanse no sétimo; a cada 7 períodos
de 7 anos (ao todo 49), celebrava-se entre os hebreus um jubileu, um costume que ainda
hebreu, significa estar sob a influência do sete; o justo cai 7 vezes por dia (Provérbios
29,21); os 7 anjos de Tobias 12,15; os 7 olhos sobre a pedra em Zacarias 3,9; como número
de perfeição nas visões proféticas (Isaías 30,26;4,1; Zacarias 4,2.10; Jeremias 15,9:32,9;
de Jessé; Salomão construiu o templo em 7 anos (IReis 6,38); a cada 7 anos os servos são
Eliseu espirra 7 vezes e a criança ressuscita (2Reis 4,35); um leproso mergulha 7 vezes no
Jordão e sai curado (2Reis 5,14); a festa pascal dos pães ázimos dura 7 dias (Êxodo
ainda segundo os dois evangelistas, Jesus multiplicou 7 pães para uma multidão de pessoas
e as sobras encheram 7 cestos (Marcos 8,5-8); João cita "a hora sétima" (Jo 4,52), as 7
semanas, os 7 milagres, as 7 menções do Cristo: "Eu sou"; uma pessoa possuída por 7
espíritos (Mateus 12,43ss par.) ou demônios (Lucas 8,2) está totalmente possuída; 70
discípulos constituem o segundo grupo missionário paralelo aos "Doze" (Lucas 10,1; Atos
6,3); 7 são os discípulos presentes em João 21,1; Pedro quer perdoar 7 vezes (Mateus
18.21); Jesus expulsa 7 demônios de Madalena (Marcos 16,9); Lamec será vingado 77
vezes (Gênesis 4,24 - A.T.) e Pedro deverá perdoar 77 vezes ou 70 vezes 7 vezes (Mateus
18.22); Cristo fala 7 vezes enquanto está pregado na cruz (Lucas 23,34; Lucas 23,43; João
19,25-27; Mateus 27,46 = Marcos 15,34; Jo 19,28s; Jo 19,30; Lucas 23,46); na pesca
uma besta de 7 cabeças, um carneiro com 7 olhos, 7 visões..., anunciando a execução final
Através do que foi exposto, vemos que o número 7 tem uso constante em toda
faixas representadas sob o côro partem de uma figura de uma pomba, certamente indicando
92
São Miguel, encontram-se 7 figuras semelhantes, como que lembrando "gotas", logo abaixo
frequentemente seus símbolos são agrupados de forma diferenciada, o que toma difícil a
podemos sugerir que signifiquem a paixão e o sangue de Cristo, bem como a própria
como que espécies de rios, fluições, em número de 7, muitas vezes ligados aos 7
sacramentos.
Quem sabe as 7 figuras das "gotas" lembrem até as 7 palavras de Jesus na cruz
sangue e paixão de Jesus. Na cruz, Ele sobe triunfalmente, pois é ali que funda sua Igreja,
"dando o Espírito" (Jo 19,30 - o que nos remete aos 7 dons do Espírito Santo) e deixando
"fluir" do seu lado, o sangue e a água (Jo 19,34); sangue, símbolo da vida e da alma
humana.
fala que "a igreja de pedra oferece a imagem da imensa cidade de Deus (civitas Dei) e que é
feita de todos os cristãos, da mesma forma que o edifício é composto de pedras". E este é o
sentido para a maioria dos cristãos de hoje, onde templo e igreja não significam bem a
mesma coisa.
Cristo traz uma nova visão e afirma que existe algo maior que o Templo
(Mateus 12,6). O verdadeiro não consta de pedras materiais, mas se compõe do Corpo de
Cristo. Assim, diz Jesus: "Destruí este templo e em três dias hei de reconstruí-lo" (João
2,19).
1 CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. 4. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1991, 874-5.
94
E São Paulo comenta: "Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito
Santo habita em vós?" (ICoríntios 3,16). O conjunto dos cristãos se faz templo, igreja,
sendo Jesus a pedra angular (cf. Efésios 2,20) (v. Apocalipse 21,22).
(Ver anexos - figura 1)
95
CONCHA
São Tiago. Isto é geralmente presumido para aludir às inúmeras peregrinações que foram
frequentemente pintado vestido de peregrino com uma vieira em seu chapéu (Ferguson,
1961, p. 24)1 .
que as conchas encontram seu lugar nos ritos fúnebres. Tal simbolismo da regeneração não
parto, exercem também uma influência benéfica sobre a colheita. A força representada por
Continua Eliade:
1 FERGUSON. George. Siens & symbols in Christian Art. New York: Oxford University Press, 1961.
2 ELIADE, Mircea. Imagens e símbolos: ensaios sobre o simbolismo mágico-religioso. São Paulo: Martins
Fontes. 1991.
96
profano. Mas a natureza preciosa do objeto não foi atingida por este deslocamento de valor.
Nele se concentrou, em todos os momentos, o poder; ele é força e substância; enfim, ele
GLOBO
Em Chevalier e Gheerbrant1 :
atributo de Deus Pai. Nas mãos de Cristo, o globo é um emblema de Sua soberania. Nas
! CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. 4. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1991, p. 472.
2 FERGUSON, George. Siens & symbols in Christian Art. New York: Oxford University Press, p. 175.
98
POMBA
1LÉON-DUFOUR, Xavier et alii. Vocabulário de Teologia Bíblica. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 793.
; FERGUSON, George. S im s & symbols in Christian Art. New York: Oxford University Press, p. 15-6.
99
I
100
FLORES
Apesar de não ser possível identificar com precisão que espécies de flores
encontram-se nas pinturas e talhas da Capela, vamos discorrer sobre o simbolismo do lírio,
LÍRIO2
simbolismo cristão, o lírio era usado como um atributo dos santos virgens. O lírio entre
1 CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. 4. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1991, p. 437-8.
2 FERGUSON, George. Signs & symbols in Christian Art. New York: Oxford University Press, p. 33-4.
101
Arcanjo Gabriel.
Ocasionalmente, o Cristo Infante é representado oferecendo um ramo de lírios
para um santo. Aqui, o lírio simboliza a virtude da castidade. Como um símbolo de
castidade, o lírio é o atributo de vários santos, entre eles, São Domingos, São Francisco,
Rainha do Paraíso.
O lírio-do-vale, por ser uma das primeiras flores do ano e anunciar o retomo da
(Mateus 6,28). Assim abandonado entre as mãos de Deus, o lírio está, entretanto, melhor
3 CHEVALIER, Jean & GHEERBRÄNT, Alain. Dicionário de Símbolos. 4. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1991, p. 553-4.
vestido que Salomão em toda a sua glória. Ele simbolizaria o abandono místico à graça de
Deus.
(Ver anexos - figuras 2.a.; 2,b.; 2.c.; 3; 4; 5.a.; 5.b.; 6; 6,a.; 8; 8.b.; 15; 15.a.;
15.b.)
103
FOLHA DE ACANTO
1 CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. 4. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1991, p. 10.
104
NUVEM
primitivo, mas consolida-se porque dela depende a vida do homem: da nuvem procede a
chuva, vem o raio, cai o granizo, desprende-se o dilúvio destruidor. Sobretudo as grandes
a aparição de Javé se apresenta como tempestade (Jz 5,4s), o mesmo acontece em SI 18.
Javé aparece nas nuvens (Ez 1,14); a nuvem é a orla de seu manto que enche o templo (lR s
8,10s; Ez 10,3s); a nuvem é seu carro ou sua carruagem (Is 19,1; SI 104,3).
serve para indicar o caminho (Ex 13,21s) e, no momento da passagem do mar, interpõe-se
entre Israel e o inimigo, para proteger o povo e aterrorizar o perseguidor (Ex 14,19ss). Ela
acompanha os israelitas durante toda a viagem pelo deserto (Nm 14,14) e, a cada revelação
tempo2 . Este caráter dúbio da nuvem evidencia-se de variadas formas, "a nuvem pode
d'Aquele que esconde sua face. Mais ainda, a nuvem é um símbolo ímpar em exprimir o
1 MATEOS, Juan & CAMACHO, Fernando. Evangelho: figuras & símbolos. São Paulo: Paulinas, 1991.
2 Id. Ibid.
3 LÉON-DUFOUR, Xavier el alii. Vocabulário de Teologia Bíblica. Petrópolis: Vozes, 1972, c. 661.
4 MATEOS & CAMACHO, loc. cit.
105
(Ver anexos - figuras 2.b.; 2.c.; 3.a.; 6.a.; 8.a.; 9; 10; 17; 18.d.)
f
106
ANJOS
Encontrados na pintura original do fundo do nicho do altar-mor, nas talhas dos
altares em geral.
1 VTNCENT. Mons. Albert. Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1969, c. 36-8.
107
Ferguson2 , que adota a mais comumente divisão aceita, estabelecida por Dionísio
Areopagita, segue-se:
2 FERGUSON, George. Signs & symbols in Christian Art. New York: Oxford University Press, p. 97.
109
encontradas, os Serafins podem ser representados com seis asas, rodeados por chamas de
fogo; os Querubins são representados com penas de pavão repletas de olhos, que
representam a onisciência divina; os Tronos são representados por uma roda de fogo; as
(Ver anexos- figuras 2; 2.a.; 2.C.; 4; 8; 10; 16; 17; 18; 18.a.; 18.b.; 18.c.; 18.d.;
18.e.; 18.f.)
3 AZEVEDO, Regina. As hierarquias angelicais. Planeta Especial - Anjos. São Paulo, 17-21, Agosto 1992.
110
CORES
Discorreremos sobre o simbolismo das cores até então encontradas nas pinturas
-AMARELO
Conforme Ferguson1
-AZUL2 :
- BRANCO3 :
1 FERGUSON, George. Signs & symbols in Christian Art. New York: Oxford University Press, p. 153.
2 Id. Ibid., p. 151.
3 Id. Ibid., p. 152.
111
- VERDE4 :
- VERMELHO5 :
PARTE V
executado na Capela de Nossa Senhora das Necessidades, a impressão que se tinha é de que
uma composição rococó. De acordo com um estudo feito por Lúcio Costa, 'e bastante
O tipo rococó viria de fins do século XVIII e princípio do século XIX. Como
características, teríamos:
inferior espiralado.
colunas dispõem-se em forma de bastidores e as mais avançadas são encimadas por ângulos
cortinas.
Senhora das Necessidades são bem mais simples, poderíamos dizer, a julgar pelo tratamento
113
das cores, e mesmo pela disposição de alguns elementos do retábulo, que se tratava de um
retábulo rococó, levando basicamente em consideração o ouro (ou dourado), que era
2) limpeza;
3) raspagem das repinturas até atingir a camada pictórica original, observou-se
O por que do uso de cores tão vivas, de cores primárias? Estes questionamentos que já
surgiram no início da pesquisa, permearam o trabalho até o final. O que aqui registramos é o
sul do Brasil, com lutas incessantes e a ausência de inseminação cultural (que em outros
estados foi realizada pela Companhia de Jesus), a situação se tomou mais flagrante.
artística. As obras realizadas surgiram portanto, da necessidade e vontade das pessoas que
formaram nossas primeiras freguesias; pessoas estas, sem conhecimentos artísticos, e que
como sendo "ingênuos" - também tratados por "primitivos" ou "naïf. Seja qual for a
designação, trata-se de artistas que não frequentaram escolas de Belas Artes, têm formação
maioria dos "primitivos" pinta o mundo que o circunda. De modo geral, são artistas de
poucos recursos, o que limita o uso de materiais. O termo naïf (ingênuo, em francês) surgiu
em 1886, em Paris, para designar também artistas cujos trabalhos, são predominantemente
frutos do instinto, não obedecendo a nenhum tipo de planejamento ou projeto. Entre outras
características, cita-se ainda a festividade das cores, o surrealismo das situações retratadas,
o gosto pela narrativa popular e uma tendência para o idílio naturalístico - o estado de
uma busca de reprodução da realidade com maior facilidade possível, porque a amam
poeticamente por si mesma. Há uma fidelidade minuciosa ao real e apesar dos cuidados dos
sentimento de síntese.
maior parte dos casos, consistem na personalização da tradição coletiva popular, sem o
alicerce da técnica erudita. Em geral, satisfaz sua necessidade criadora trabalhando com os
para alguns estudiosos que não aceitam a designação de ingênuos, primitivos, primitivistas,
menos frequentes. Os ínsitos apresentam em comum, o fato de produzirem obras cuja fonte
permanência das visões e dos modos de infância no indivíduo adulto, mesmo quando sua
Não nos cabe aqui fazer uma avaliação do valor destes artistas e das obras que
mostrar isto.
Nossa pretensão é tentar delimitar paralelos entre as características de uma linha
que aos açorianos cabe a fixação e propulsão da ilha de Santa Catarina é fato comum à
história.
prejudicam uma análise mais apurada e análises científicas com técnicas de maior rigor
Vejamos:
1. De acordo com Luis Jardim (S.d., p. 197)2 , "... o uso destas cores
1 ETZEL, Eduardo. Arte sacra. Berço da Arte Brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1986.
2 JARDIM, Luiz. A pintura decorativa em algumas igrejas antigas de Minas. In: Pintura e Escultura I.
Textos escolhidos da Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. MEC/USP, s.d., p.
197.
116
Na ótica desta linha de pesquisadores, o uso destas cores está mais ligado à
propriamente de "gosto".
Estas cores eram obtidas mais facilmente do que outras. No caso da cultura
indígena, já é comprovado que as cores primárias e simples são obtidas na natureza, através
de processos artesanais e daí sua larga utilização. O mesmo se pode dizer do africano. A
visão de Luis Jardim parece-nos derivar do "...senso comum ocidental, que é extremamente
preconceituoso frente à produção artística de qualquer outra esfera social dos povos ditos
Na realidade, o que diferencia uma cultura mais civilizada de uma cultura dita
recursos de que o homem dispõe. Desta forma, limitar o uso de determinadas cores a um
Esta mesmo relação pode ser aplicada aos pintores da linha nalf. A preferência
por eles demonstrada, pelo uso de cores primárias e simples, poderia estar muito mais ligada
a uma questão de recursos materiais e de técnica, já que é mais fácil aplicar a tinta tal como
sai do tubo. Da mesmo forma, a maioria destes artistas com limitações materiais para
adquirir suas tintas, optam pela compra e uso de cores básicas - as primárias e simples.
vermelho, podem ser atribuídas aos poucos recursos técnicos e materiais disponíveis na
época, e não tão somente a um gosto acentuadamente popular, apesar de ser este um
aspecto a ser considerado. Não há como negar que o uso de cores vibrantes - primárias e
simples é uma característica da linha naif. Apenas não aceitamos o fato de reduzir tudo a
Pode-se perceber também, que a cor foi utilizada em virtude de sua força
dominar e impressionar plasticamente. Mas é a cor que unifica os elementos que compõe
este mundo de ilusão. A aceitação passiva de todos estes elementos plásticos que quase não
se podem analisar foi realizada pela pintura - através do uso da cor. Para esse efeito, pode-
se dizer que a sua força consistiu em não ter se afastado das leis barrocas que estabelecem a
todos os elementos ali reunidos demonstram conformidade com as "leis" barrocas. Por
outro lado, o conjunto demonstra uma falta de planejamento, o que confirmaria a tese do
encontramos seu grande mérito e vigor. É onde o poético e religioso de um tempo perdido
Capela e se isto se pode explicar pela tendência do artesão ao naturalismo, revela também a
interpretações históricas, por mais que tentemos, e por quaisquer que sejam os pontos de
vista por que se analisem. O fenômeno que vemos nestas igrejas e capelas só têm aplicação
cabal em si mesmo. Difícil procurar nestas obras outra realidade que não a plástica - motivo
grande semelhança entre todos eles: cabeças de um oval acentuado, olhos de forma
do nariz. O pescoço é quase sempre grosso e forte, e as figuras, em geral, são de estatura
118
variadas; algumas bem estereotipadas e disformes. Esta uniformidade característica, que não
é encontrada somente aqui, mas em outras igrejas coloniais brasileiras pode revelar uma
Não se quer dizer com isto que as obras coloniais sejam cópias simples de
simples, podem ser explicadas por questões técnicas - a representação desta forma era mais
fácil de ser realizada. Com isto, queremos reforçar que, para pintores ou artesãos, com uma
isoladas, imóveis, é mais fácil do que a representação de grandes massas de figuras agitadas,
Para finalizar, podemos acrescentar que, estas cores e formas ficam muito bem,
CONSIDERAÇÕES GERAIS
que é patrimônio cultural por que preservar; o que preservar; como preservar; entre outras.
preservação é importante, não apenas como registro para fins educativos, da evolução
das diversas fases se sua história e os bens arquitetônicos que o povo aprendeu a conviver e
a amar.
Necessidades, claro está que estamos imbuídos da certeza do valor deste bem cultural. Por
outro lado, constatamos que, mesmo havendo, por parte dos órgãos ligados ao assunto e
e em alguns momentos, por descaso dos órgãos competentes, que impede que se possa
que implica muitas vezes num empirismo, ultrapassado apenas pela boa vontade das pessoas
quem lhe paga pelo trabalho não fornece as condições necessárias para que o mesmo seja
trabalho: "... Procura-se demais e encontra-se quase nada {...). Vem a amargura. Uma
desilusão zangada que, de novo, a gente precisa tomar cuidado para que não crie, como a
fome criara, nova e oposta miragem". Assim, é necessário o cuidado de trabalhar com estas
carga de trabalho deles é grande e toma-se difícil atender a todos. Por vezes, este desgaste
ser entendida como a "construção dos fiéis - no sentido espiritual", ou como a própria
restaurações sejam realizadas visando uma utilidade, é difícil convencer a comunidade onde
estas igrejas e capelas estão inseridas, da necessidade de sua preservação, pois' o aspecto
da simbologia, que não se perdeu ao longo dos tempos, mas não tem conseguido preservar
argumentação forte por parte dos que não crêem ser necessário a preservação destes
monumentos históricos.
A grande problemática com a qual se depara é: como fazer ter valor a doutrina,
lado, parte de seu cotidiano religioso se perde. O patrimônio cultural deve ser visto no seu
elas implicitadas no meio ambiente e no seu saber. Assim, deveriam ter prioridade de
forma especial para estudos posteriores. Muito já foi esclarecido. Fica evidenté, que, um
país tão grande como o Brasil, que, sofreu um processo de colonização diferenciado de
diferenças.
E assim, não se pode estabelecer que umas manifestações são mais importantes,
mais bem elaboradas ou qualquer outro adjetivo neste sentido, do que outras. Elas são
GLOSSÁRIO
ABAIXA-VOZ - Dossel que cobre o púlpito, para efeito de acústica durante as prédicas do
sacerdote. Guarda-voz.
ARCAZ - Grande arca ou cômoda com gavetões, que, nas igrejas, é geralmente colocada
composições escultórias com escudos, anjos e outras figurações, quase sempre alusivas ao
patrono ou invocação da igreja. Junto ao arco-cruzeiro, a maioria das igrejas possui dois
às paredes, que aparece como proteção superior em alguns retábulos. O mesmo que sanefa
capela-mor do corpo da nave ou esta dos altares laterais. Costuma-se falar, de modo mais
CAPITEL - Parte superior de uma coluna ou pilastra, que se eleva acima do fuste (parede
Pode ser compósito, o qual é resultante da associação de elementos dos capitéis jónico e
coríntio.
COLUNA - Pilar cilíndrico, dividido em base, fuste e capitel, que serve de estrutura e
ornato dos retábulos, alternando em geral com pilastras. Os tipos mais comuns de coluna
124
das igrejas mineiras do século XVIII são: Ia fase do barroco em Minas (estilo Nacional-
sulcos ou espiras preenchidos com ornatos fitomorfos (cachos de uva, folhas de parreira,
Minas (estilo Dom João V) - colunas torsas com terço inferior estriado e motivos
dourado, às vezes com a presença de anjos, que aparecem mais comumente nas pilastras ou
nos remates do retábulo; 3a fase do barroco em Minas (Estilo Rococó) - com caneluras ou
CONSOLO - Peça saliente e ornada, em pedra ou madeira, para sustentar estátuas, vasos,
DOSSEL - Armação saliente, em trabalho de talha, e com bordas franjadas, que forma
dossel é o elemento mais característico do retábulo estilo Dom João V (2a fase do barroco
ornamental.
NICHO - Cavidade ou vão em parede, muro, retábulo, arco-cruzeiro, etc., para colocação
PEANHA - Espécie de pequena peça saliente de paredes, retábulos, etc., sobre a qual se
QUARTELÃO - Pilastra com relevo em talha trabalhada, que em igrejas mineiras aparece,
geralmente, em retábulos estilo Dom João V (2a fase do barroco em Minas) e estilo rococó
No século XIV, aparecem alguns exemplares do estilo Neoclássico. Esta classificação não
deve ser rígida, servindo antes como distinção básica. A seguir, citaremos as características
dos retábulos do estilo Joanino e Rococó, cujos elementos são identificáveis na Capela de
B) coluna de terço inferior geralmente em estrias diagonais e fuste ou parte superior torsa;
TRIBUNA (tribuna do trono) - Vão ou abertura ao centro do retábulo, onde fica o trono
onde se expõe imagens ou crucifixos. Nas igrejas mineiras do século XVIII, o trono
DOSSEL
R E T Á B U L O - 32 F A S E
ESTILO RO COCÓ
FIG. B
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1975.
Vídeo "Na trilha das mulas". Um programa da Secretaria de Cultura do Estado de São
Figura 3. Detalhe d o coroam ento do altar-mor.
SÃO M I G U E L A R C A N J O
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Figura 18,c. Parte da pintura que pertencia ao fundo d o nicho principal d o altar-
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Figura 18.d. Parte da pintura que pertencia ao fundo d o nicho principal do altar-
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Figura 18.f. Parte d a pintura que pertencia ao fundo d o nicho principal d o altar-
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