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ARQUIVO DA FAMÍLIA DO BARÃO DE CAETITÉ: INVENTÁRIO E

PRESERVAÇÃO DE DOCUMENTOS HISTÓRICOS NO ALTO SERTÃO DA


BAHIA.
Lielva Azevedo Aguiar1

1. Arquivos pessoais, preservação documental e pesquisa.


É crescente o interesse dos escritores/pesquisadores, de modo geral, por temas
relacionados aos arquivos pessoais. Ângela de Castro Gomes chama atenção para este
fenômeno ressaltando o “boom” de publicações de caráter biográfico e autobiográfico que o
Brasil vive há aproximadamente dez anos. Segundo ela, “cartas, diários íntimos e memórias,
entre outros, sempre tiveram autores e leitores, mas, na última década, no Brasil e no mundo,
ganharam um reconhecimento e uma visibilidade bem maior, tanto no mercado editorial, quanto
na academia”. (GOMES, 2004, p. 8).
Esse interesse por documentos produzidos no âmbito privado vem atraindo estudiosos
de diversas áreas, não apenas da literatura ou da história, e é fruto de um movimento, também
crescente, “de constituição de centros de pesquisa e documentação destinados à guarda de
arquivos privados/ pessoais” (GOMES, 2004, p.10). Porém, apesar do interesse por documentos
dessa natureza, os desafios em torno da preservação e gestão de um tipo tão específico de
arquivo ainda são inúmeros.
Retomando um pouco a trajetória dos Arquivos é possível afirmar que nem sempre os
documentos de cunho pessoal/privado tiveram espaço nestas instituições, aliás, durante muito
tempo somente os documentos administrativos e estatais foram alvos de atenção e cuidado. No
entanto, os debates atuais sobre cidadania e direito à informação e à memória, bem como, as
demandas em torno dos centros de guarda documental voltados para os arquivos pessoais,
impulsionam novas reflexões dentro da história e da arquivologia. Elas resultam de um processo
histórico que conferiu ao “indivíduo comum”, não apenas ao homem público ou tido como
“importante”, a capacidade de reunir documentos e “arquivar a própria vida”, na medida em
que “a sociedade moderna passou a reconhecer o valor de todo indivíduo e que disponibilizou
instrumentos que permitem o registro de sua identidade, como é o caso da difusão do saber ler,
escrever e fotografar” (GOMES, 2004, p. 13). Somente quando entendidos como “patrimônio
a ser preservado pela sociedade, ou seja, quando foi reconhecido o seu valor para o estudo
histórico e como registro da memória da nação” é que os arquivos pessoais e familiares
passaram a se destacar. (OLIVEIRA, 2012, p. 31).
Na arquivologia, as reflexões a respeito desse tipo específico de arquivos não são
remotas. Todavia, assim como os historiadores e literatos, os arquivistas também têm
reconhecido a singularidade dos acervos pessoais e, a partir deles, revisitado esta ciência. Como
ressalta Heloísa Belloto (1998, p. 202):
Interdisciplinares por excelência, dando motivos a infinitas abordagens e
olhares, os arquivos pessoais não tinham merecido, até duas ou três décadas
atrás, a devida atenção no que diz respeito à sua existência, rastreamento,
organização e divulgação, nem tinham sido objeto de pesquisa como poderiam
e deveriam ser.

No âmbito das políticas públicas brasileiras está o reflexo da falta de atenção com os
arquivos pessoais, o que resulta de um “atraso” relativo às questões arquivísticas, históricas,
patrimoniais, enfim, culturais como um todo, a exemplo da real morosidade com a legislação
específica para arquivos:
No Brasil, o acesso às informações de arquivo sempre foi uma questão
complicada [...] só terá de fato respaldo legal no Brasil com a Constituição de
1988 [...] e, posteriormente, com a Lei de Arquivos, sancionada em janeiro de
1991, 153 anos após a criação do Arquivo Nacional. Na prática, contudo, as
soluções não são imediatas. (COSTA, 1998, p. 195-6)

A trajetória do Arquivo Nacional, descrita por Adriana Hollós (2010), reflete bem as
dificuldades enfrentadas no Brasil em relação a preservação documental. A criação do Conselho
Nacional de Arquivos (Conarq/ 1991) foi um avanço nesse sentido, no entanto, os problemas
concernentes aos arquivos pessoais foram pouco dirimidos. Nesse sentido, Célia Costa também
reflete sobre o binômio público/privado, uma questão que perpassa a Constituição em vigor.
Segundo ela:
A Lei de Arquivos brasileira instituiu, no seu capítulo III, a figura jurídica da
classificação de arquivos privados como de interesse público e social [...]. A
intervenção do Estado decorrente do ato c1assificatório não elimina os direitos
de propriedade que o titular do arquivo ou seus herdeiros possuem sobre os
documentos [...]. Tal dispositivo implica, sobretudo, a obrigatoriedade da
parte do proprietário ou detentor do arquivo de preservar os documentos
considerados relevantes para a história do país [...]. Por outro lado, a
classificação pelo poder público de um arquivo privado como de interesse
público e social não assegura o acesso a esse arquivo. A rigor, por se tratar de
um bem privado, a liberação à consulta pública desses documentos é da
competência exclusiva de seus proprietários. (COSTA, 1998, p. 196-7)
Ainda no intuito de amenizar esses dilemas, em 2003 foi instalada a Câmara Setorial
sobre Arquivos Privados do Conarq, criada com o objetivo de “identificar problemas e sugerir
ações voltadas para esse segmento específico” (HEYMANN, 2005, p. 06). Mas, como alcançar
e divulgar importantes arquivos pessoais de diferentes regiões do Brasil? Como definir, no
contexto atual, os critérios de relevância e interesse público e social para preservação destes
arquivos? Como garantir que arquivos pessoais ligados às “minorias” também sejam
preservados?
Embora alguns questionamentos apontem para o fato de serem atuais e restritas as
iniciativas voltadas para os arquivos pessoais no Brasil, não se deve desconsiderar o esforço de
diversos profissionais dedicados a refletir e direcionar caminhos para um trabalho qualificado
com os arquivos pessoais. Nesse sentido, destaca-se o trabalho de Lúcia Maria de Oliveira
(2012) como uma importante contribuição sobre o tema. Esta autora defende incisivamente que
o trabalho arquivístico resulta em produção de conhecimento e a descrição arquivística é uma
função de pesquisa, por isso, deve ser realizado não de forma mecânica, mas reflexiva,
especialmente porque estes arquivos são, cada vez mais, ricas fontes de pesquisa que interessam
aos mais diferentes usuários.

2. A Casa do Barão de Caetité: contexto de produção e utilização de um arquivo histórico.

Figura 01. Casa do Barão de Caetité. S.d. Fonte: SIPAC.


Segundo registros do Sistema de Informações do Instituto do Patrimônio Artístico e
Cultural da Bahia (SIPAC), a família Gomes de Azevedo chegou ao alto sertão da Bahia, região
compreendida por Caetité e arredores, no final do século XVIII2. Era proveniente de Minas
Gerais e teria se deslocado de uma Província a outra enquanto fugia das perseguições
decorrentes da Conjuração Mineira.
Parte dessa família instalou-se no antigo Arraial do Gentio (atual distrito de
Ceraíma/Guanambi-BA) e, posteriormente, um ramo se mudou para Caetité, residindo na casa
que hoje é conhecida como Casa do Barão de Caetité. Entre os documentos preservados por
esta família, encontram-se registros comprobatórios da existência dessa casa na primeira
metade do século XIX. Além destes, os inventários de bens confirmam a cadeia sucessória deste
imóvel repassado entre herdeiros da mesma linhagem familiar. Atualmente, um dos
proprietários é o Sr. Haroldo Lima, tataraneto do Barão de Caetité.
No arquivo familiar o registro mais antigo é de 1833. Trata-se de um pedido feito por
José Antônio Gomes (pai do Barão de Caetité) ao Arcebispo da Bahia, Dom Rumualdo Antônio
de Seixas (1787-1860), para aprovação de um oratório na referida casa:
Diz o Tenente Coronel Antº Gomes, cazado, honesto, de grande família, e
morador na Freguezia de Caetité, distante desta cidade [Salvador] 100
légoas que em razão do exposto asima e acrescendo mais o estar a Matriz
interditada por ter uma mulher dado uma facada na dita Matriz e aver sangue,
por esta razão e o mais dito asima deseja ter o oratório aprovado em sua caza
aonde tem um oratório com muita decência aonde pode mandar celebrar o
Santo Sacrifício da Missa.3

Em 1835, dois anos após a instalação deste oratório, foi feito outro pedido, dessa vez de
renovação da autorização por parte do Arcebispado da Bahia, para que o objeto de devoção
permanecesse na residência da família. Relatos orais de familiares indicam a permanência desse
oratório naquela residência ainda na segunda metade do século XX, quando, no processo de
partilha, muitos herdeiros se desfizeram desse e de outros móveis raros, vendendo-os a
antiquários e comerciantes.
Além deste documento, comprovantes de pagamento de impostos para a Receita
Provincial reiteram a posse da casa por parte dos membros dessa família:
Anno financeiro de 1875-1877
Vinte mil reis que pagou o Dr. José Antônio Gomes Netto, proveniente de
[...] sua caza à Rua de São Benedicto.
Anno financeiro de 1892
Nove mil e seis centos reis que pagarão os herdeiros do Barão de Caetité
proveniente do imposto sobre sua caza a Rua 15 de novembro.4
Apesar da indicação de diferentes nomes de rua, é possível afirmar que se trata de uma
cobrança de imposto da mesma residência. Antes da proclamação da República a rua, que hoje
é conhecida como Rua Barão de Caetité, era chamada de Rua de São Benedito, em alusão a
Igreja de São Benedito, datada de 1833, cuja construção também é associada aos antecedentes
do Barão de Caetité. Após o advento da República (1889) essa rua, que já era uma das principais
da cidade e onde residiam políticos influentes da época, passou a se chamar Rua 15 de
Novembro, em homenagem a mudança do regime político, como aconteceu em diversas cidades
do país. No entanto, com a morte de José Antônio Gomes Neto (1890), o nome da rua foi mais
uma vez alterado, passando a se chamar Rua Barão de Caetité, dada a importância política e
social deste sujeito à época.
No arquivo desta família também foi encontrada uma fotografia dessa rua, ainda com o
antigo calçamento de pedras irregulares. Apesar do desgaste do tempo e da imagem
comprometida, é possível visualizar a Casa do Barão e as torres da Igreja de São Benedito.

Figura 02: Rua Barão de Caetité. S. d. Fonte: Arquivo da Família do Barão de Caetité. Dossiê:
Fotografias
O inventário de José Antônio Gomes Neto (1890), o Barão de Caetité, também reitera a
posse da casa e sua avaliação enquanto bem deixado aos herdeiros:
Deu a viúva inventariante a descrever huma casa sita nesta cidade, a rua
quinze de novembro, com uma porta e seis janelas de frente, confrontando
com a casa do finado Vigário Joaquim Pedro Garcia Leal, com mobília e mais
utensílios da mesma existentes, avaliada por quatro contos de reis.5

Quatro anos depois, com a morte da Baronesa, Elvira Benedicta de Albuquerque, a casa
foi dividida entre os cinco herdeiros deste casal (duas filhas e três genros), entre os quais estava
Joaquim Manoel Rodrigues Lima. A documentação familiar indica que foi ele quem
permaneceu residindo na Casa do Barão e, posteriormente, seu filho e nora, Joaquim Manoel
Rodrigues Lima Júnior e Alzira Spínola Teixeira Rodrigues Lima. O atual proprietário, Haroldo
Lima, também diz ter residido na casa juntamente com seus pais, Benjamim Teixeira Rodrigues
Lima (filho de Joaquim Manoel Rodrigues Lima Júnior) e Adelaide Borges Rodrigues Lima.
O arquivo da família e a lógica de acumulação dos documentos encontrados neste
imóvel também sugere que o crescimento familiar, a partir do casamento dos filhos, não
implicou a mudança de residência por parte das novas famílias constituídas, ao contrário,
registra-se que em diferentes momentos a Casa do Barão foi coabitada pelos herdeiros do
imóvel e suas respectivas famílias, o que aconteceu até a segunda metade do século XX.
Em 1881, o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), realizou o
tombamento de diversos imóveis de interesse histórico em Caetité, entre eles a Casa do Barão
que, na época, ainda se encontrava habitada e mobiliada (Tombamento Estadual – Decreto nº
28.398/1981). Essa ação de salvaguarda foi de suma importância para a preservação desta casa
que representa uma parcela significativa da história dos sertões baianos, especialmente da
cidade de Caetité.
Como dito anteriormente, ao longo dos anos o mobiliário da casa foi disperso entre os
familiares, e, mesmo após o tombamento, o imóvel continuou suscetível a disputa de herdeiros.
Essa situação foi amenizada quando o atual proprietário se dispôs a comprar a parte dos demais
herdeiros ficando, assim, como dono majoritário do imóvel. Mas, sem mobília e em estado
delicado de conservação, restaram na casa apenas papéis e livros espalhados em baús e caixas
deterioradas.
Em 2002, através de uma intervenção do IPAC, a coordenação do Arquivo Público
Municipal de Caetité foi informada sobre a existência e a condição de tais documentos. Iniciou-
se, então, um longo trabalho de higienização, identificação e organização prévia de tais
documentos, coordenado inicialmente pelo Profº Paulo Henrique Duque Santos e depois, mais
diretamente, pelo Profº Marcos Profeta Ribeiro, juntamente com equipe de monitores da
UNEB. Posteriormente, Rosália Junqueira Aguiar, atual coordenadora do APMC, também
mediou uma equipe de trabalho para catalogação dos livros que ainda restavam no casarão,
apenas uma parcela remanescente da biblioteca adquirida pela família ao longo dos anos.
Nesse período, tentou-se uma negociação com a família para a implantação do projeto
Casa de Cultura de Caetité, proposto pela Profª Maria de Fátima Novais Pires e pelo Profº Paulo
Henrique Duque Santos, coordenadores do APMC. Entretanto, diante do valor monetário do
imóvel e da falta de recursos para desapropriá-lo, a execução deste projeto ficou inviabilizada.
Sem autonomia para dispensar um cuidado mais eficiente aos documentos e livros higienizados
e previamente organizados, à equipe do APMC não restou alternativas a não ser acondicioná-
los da forma como foi possível, em caixas-arquivo e/ou envoltos em papel neutro, porém, ainda
expostos às condições naturais de deterioração do imóvel: goteira, insetos, poeira, etc.
Figura 03: Condições físicas do imóvel e acondicionamento da documentação. 2011. Autora: Mozana
Dantas

3. Da natureza da documentação à reorganização e descrição do Arquivo da Família do


Barão de Caetité.
A documentação acumulada ao longo dos anos pelos familiares residentes na Casa do
Barão de Caetité é de natureza diversa. Refere-se a vida econômica, jurídica, social e política
da Bahia, especialmente da região alto sertaneja. O rico arquivo é composto por documentos
que compreendem os anos finais do século XVIII até meados do século XX e estava sob a
guarda do atual proprietário da Casa do Barão, Sr. Haroldo Lima. Mas, felizmente, em Agosto
de 2016 ele cedeu ao apelo do APMC e publicizou os documentos por meio de doação. Trata-
se de um arquivo de suma importância para o conhecimento histórico do alto sertão da Bahia,
que até pouco tempo esteve às margens da pesquisa e da produção acadêmica, e da Bahia como
um todo.
A intervenção de professores do curso de História da Universidade do Estado da Bahia
(UNEB), através do Arquivo Público de Caetité (APMC), em 2002, impediu que esse arquivo
se perdesse completamente. Porém, tal intervenção contou com algumas dificuldades técnicas
e financeiras que limitaram a atuação desta instituição naquele momento. Somente em agosto
de 2011 foi possível retomar o trabalho com esta documentação visando dar-lhe um tratamento
arquivístico mais adequado com fins possíveis de digitalização do arquivo6.
Conforme pontuam Marcos Ribeiro e Paulo Duque, coordenadores do Arquivo Público
Municipal de Caetité:
A prioridade na digitalização do acervo explica-se por três fatores básicos:
memória que desfruta entre moradores antigos da cidade; importância das
fontes materiais para futuras pesquisas historiográficas na região e, ainda,
péssimas condições de armazenamento em que as mesmas se encontram,
sujeitas às ações do tempo, cupins e traças [...] São fontes decisivas para a
reconstituição da história regional e local e sua digitalização, mediante
supervisão da equipe do APMC, atenderá plenamente aos objetivos de
pesquisa dos cursos do Campus VI. (Projeto de Digitalização do Acervo da
Casa do Barão de Caetité/ 2012)7.

Antes da digitalização, contudo, identificou-se a necessidade de reorganização desse


arquivo. O primeiro passo nesse sentido foi um estudo da documentação para montagem do
arranjo documental, divido em série, subsérie e dossiê8.Nesse momento, o objetivo principal
foi tentar reestabelecer o vínculo dos documentos entre si, conferindo-lhes sentido, buscando
observar os princípios básicos defendidos na arquivologia9. Na compreensão de Lúcia Maria
de Oliveira (2012, p. 75) esse trabalho é como “montar um quebra-cabeça:
As peças estão reunidas, e cada uma guarda uma individualidade, um símbolo,
ou seja, um conjunto unitário que necessita juntar-se a outro conjunto unitário.
Cada conjunto unitário ou peça do quebra-cabeça possui signos, completos ou
não, que até podem individualmente apresentar um sentido próprio. No
entanto, somente no conjunto formarão uma imagem única e plena em sentido.
Os quebra-cabeças não vêm com manuais de instrução, mas é possível definir
métodos de abordagem para que as peças sejam colocadas em seus respectivos
lugares e se complementem [...] não devemos forçar o encaixe entre as peças
– se não se encaixam docemente é porque não se pertencem –, e assim por
diante.

Esse processo de reorganização documental, visando “o encaixe entre as peças”,


construção do arranjo e descrição foi permeado de pesquisa. Além de permitir a visualização
das redes de sociabilidades construídas pelos titulares, individualmente, ou pela família, de
maneira mais ampla, essas pesquisas pioneiras foram de grande relevância para a composição
de importantes instrumentos de pesquisa que, futuramente, facilitarão o acesso de novos
pesquisadores ao arquivo: “a função descrição antecipa e fornece os dados necessários para que
sejam produzidos os mais variados instrumentos de pesquisa. É essa atividade que permite, num
primeiro momento, a comunicação e a consulta aos arquivos”. (RODRIGUES, 2003, p. 227-8).
Esse processo de inventariar uma documentação pessoal, até pouco tempo de caráter
privado, se insere em uma perspectiva mais ampla de desenvolver ações de preservação dos
acervos históricos produzidos nos sertões baianos. Espera-se que, em breve, todo esse conjunto
esteja devidamente inventariado e com amplo acesso por meio da web. É um trabalho
minucioso, um tanto moroso, mas que resulta de um esforço coletivo de historiadores e
estudantes de história sensíveis à necessidade de se olhar para essa região da Bahia a partir de
fontes muito peculiares, muitas vezes escondidas em baús, sótãos, caixas e estantes esquecidos
pelo tempo.

1
Doutoranda em História Social pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. Professora do curso de História
da UNEB/ Campus VI. Email: lielvaaguiar@gmail.com
2
O alto sertão da Bahia é uma região de grande relevância histórica, porém, ainda pouco estudada em seus diversos
aspectos. Segundo NEVES (1998:22), a “Região do Alto Sertão da Bahia, é referenciada na posição relativa ao
curso do Rio São Francisco na Bahia e ao relevo baiano, que ali projeta maiores altitudes”. Também é chamada
de “Alto Sertão da Serra Geral, ou simplesmente Sudoeste Bahiano”.
3
Arquivo da Família do Barão de Caetité. Série: José Antônio Gomes Neto. Subsérie: Familiares. Dossiê: José
Antônio Gomes. 1833. [Documento em fase de classificação] – grifos meus.
4
Arquivo da Família do Barão de Caetité. Série: José Antônio Gomes Neto. Subsérie: Finanças. Dossiê: Recibos
de pagamento de impostos. [Documentos em fase de classificação] – grifos meus.
5
APEB. Sessão: Judiciário. ID: José Antônio Gomes Neto (Barão de Caetité). 1890. Notação. 02/722/1187/01 –
grifos meus.
6
Como salientado anteriormente, trata-se de uma documentação de inestimável valor histórico, todavia, o acervo
não é aberto à pesquisa, os proprietários não se dispuseram a doar os documentos para o Arquivo Público local,
nem mesmo permitem o tratamento desta documentação em espaço mais adequado. A digitalização do acervo seria
o meio mais seguro de preservá-lo de modo qualificado, possibilitando a consulta pública.
7
Projeto sumário, escrito para concorrer a editais e angariar recursos para compra de equipamentos técnicos de
digitalização.
8
O arranjo é o “processo de agrupamento dos documentos singulares em unidades significativas e o agrupamento,
em relação significativa, de tais unidades entre si. O arranjo é uma operação ao mesmo tempo intelectual e
material: deve-se organizar os documentos uns em relação aos outros; as séries, umas em relação às outras, os
fundos, uns em relação aos outros; dar número de identificação aos documentos, colocá-los em pastas, caixas ou
latas; ordená-los nas estantes. (BELLOTO, 2006).
9
Conforme Heloísa Belloto (2006, p. 130-1), há princípios básicos a serem observados no processo de organização
de arquivos, entre eles o “princípio da proveniência” que consiste em deixar agrupados, sem misturar a outros, os
arquivos (documentos de qualquer natureza) provenientes de [...] uma pessoa física ou jurídica determinada [...].
Significa, por conseguinte, não mesclar documentos de fundos diferentes; e o “princípio da ‘santidade’” que é o
“respeito à organicidade, isto é, a observância do fluxo natural e orgânico com que foram produzidos [os
documentos].”

REFERÊNCIAS:
BELLOTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. 2. Rio de
Janeiro: Editora. FGV, 2006.
COSTA, Célia Leite. Intimidade versus interesse público: A problemática dos arquivos. Revista
Estudos Históricos. nº 21, 1998, p. 189-199.
GOMES, Ângela de Castro. Escrita de si, Escrita da História. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
GONTIJO, Rebeca. “Paulo Amigo”: amizade, mecenato e ofício do historiador nas cartas de
Capistrano de Abreu. In: GOMES, Ângela de Castro. Escrita de si, Escrita da História. Rio de
Janeiro: FGV, 2004.
HEYMANN, Luciana. Velhos problemas, novos atores: desafios à preservação dos arquivos
privados. Rio de Janeiro: CPDOC, 2005.
HOLLÓS, Adriana Cox. Fundamentos da Preservação Documental no Brasil. Revista Acervo.
Rio de Janeiro. v. 23, nº 2, p. 13-30, jul/dez. 2010.
OLIVEIRA, Lucia Maria Velloso de. Descrição e pesquisa: reflexões em torno dos arquivos
pessoais. Rio de Janeiro: Móbile, 2012.
RODRIGUES, Georgete M.; LOPES, Ilza L. (Org.). Organização e representação do
conhecimento na perspectiva da Ciência da Informação. Brasília: Thesaurus, 2003.
SANTOS, Paulo Roberto Elian dos. Arquivística no Laboratório: história, teoria e métodos
deuma disciplina. Rio de Janeiro: Teatral / FAPERJ, 2010.
SILVA, Eliezer Pires da. A trajetória da Arquivologia: três visões sobre os arquivos. Revista
Eletrônica Documento Monumento, v. 5, n. 1, p. 146-166, dez. 2011.
TERUYA, Marisa Tayra. A família na historiografia brasileira, bases e perspectivas de análise.
Anais do XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, Belo Horizonte, 2000.

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