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TEORIA DO

RESTAURO E DO
PATRIMÔNIO
Patrimônio cultural
Gabriel Lima Giambastiani

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Definir os conceitos de patrimônio cultural e patrimônio material e imaterial.


>> Identificar os principais institutos e órgãos de preservação no Brasil e no
mundo.
>> Demonstrar exemplares de patrimônio material e imaterial no Brasil e no
mundo.

Introdução
O patrimônio histórico de um povo é composto pelo conjunto de bens ma-
teriais ou imateriais que representam a sua cultura. Com o passar dos anos,
foi necessário criar órgãos para proteger tal patrimônio em diferentes instâncias,
desde municípios até entidades internacionais que zelam pela preservação da
cultura humana. Os eventos traumáticos do século XX, sobretudo, mostraram
que a cultura e os bens culturais são frágeis e valiosos, e necessitam, portanto,
de proteção especial.
Neste capítulo, você vai estudar o conceito de patrimônio cultural e as di-
ferenças entre os bens materiais e imateriais. Além disso, você vai conhecer os
órgãos de pesquisa e proteção desses bens nas diferentes instâncias. Por fim,
você vai ver alguns exemplos de expressões culturais materiais e imateriais que
são protegidas no Brasil.
2 Patrimônio cultural

Patrimônio cultural, patrimônio material


e imaterial
A Constituição Federal de 1988 define, em seu artigo 216, o Patrimônio Cul-
tural como “[...] os bens de natureza material e imaterial [...] portadores de
referência à identidade, à ação, à memória” (BRASIL, 2016, p. 126), ampliando a
noção predominante até então que caracterizava como “patrimônio artístico
e histórico” apenas os artefatos culturais.
O contraste entre a definição apresentada na CF de 1988 e aquela vigente
até então, presente em um decreto de 1937, ano da fundação do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, fica evidente já no primeiro pará-
grafo da legislação da década de 1930: “Constitue o patrimônio histórico e
artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e
cuja conservação seja de interêsse público” (BRASIL, 1937, p. 24056). Enquanto
em 1937 o patrimônio histórico e artístico era constituído por “bens móveis e
imóveis”, como edificações e esculturas, na Constituição Cidadã o patrimônio
cultural inclui, além dos artefatos, as expressões imateriais, como os costumes
e práticas dos povos que compõem a população brasileira.

Nessa redefinição promovida pela Constituição, estão as formas de expressão;


os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às ma-
nifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (PATRI-
MÔNIO..., [20--a], documento on-line).

Patrimônio material
O patrimônio cultural material é composto por bens móveis ou imóveis que
tenham relevância para a cultura, seja por sua “vinculação a fatos memoráveis
da história do Brasil”, seja por seu “[...] excepcional valor arqueológico ou
etnográfico, bibliográfico ou artístico” (PATRIMÔNIO..., [20--a], documento
on-line), conforme define o Decreto-Lei nº 25 de 1937. Essa ampla definição
permite que sejam considerados como parte do patrimônio cultural bens que
variam desde as cidades históricas até livros ou filmes.
O mesmo decreto da década de 1930 estabeleceu as quatro categorias
principais nas quais os bens culturais poderiam se enquadrar. Tais categorias
correspondem aos quatro livros do tombo, vigentes até hoje para classificar
o acervo cultural e artístico:
Patrimônio cultural 3

„„ Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, referente às


“coisas pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica,
ameríndia e popular” (BRASIL, 1937);
„„ Livro do Tombo Histórico, que se refere às “coisas de interêsse histórico
e as obras de arte histórica” (BRASIL, 1937);
„„ Livro do Tombo das Belas Artes, referente às “coisas de arte erudita,
nacional ou estrangeira” (BRASIL, 1937);
„„ Livro do Tombo das Artes Aplicadas, que se refere às “obras que se
incluírem na categoria das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras”
(BRASIL, 1937).

Veja a seguir um pouco sobre cada uma das categorias.

Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico


Nesta categoria, está incluído o patrimônio cultural referente a regiões em que
a ação do homem transformou a natureza, deixando registros de modos de
vida e fatos históricos relevantes para o entendimento da história brasileira.
Os bens inscritos nesse livro podem ter o seu valor associado tanto ao registro
de civilizações originárias, como o Parque Nacional da Serra da Capivara, que
guarda os registros mais antigos da presença humana na América do Sul,
como a sítios moldados por momentos únicos na história nacional, como o
Quilombo de Palmares, em Pernambuco (Figura 1).

Figura 1. Mapa da Capitania de Pernambuco, com representação do Quilombo dos Palmares


(1647).
Fonte: Post (2020, documento on-line).
4 Patrimônio cultural

Livro do Tombo Histórico


Esta categoria dos bens materiais tombados é a mais reconhecida pelo pú-
blico em geral. Nela, estão inscritos os artefatos “[…] cuja preservação seja
de interesse público por sua vinculação a fatos memoráveis da história do
Brasil” (PATRIMÔNIO..., [20--b], documento on-line), ou seja, sua preservação
está mais ligada à relação entre bem cultural e história do que aos atributos
artísticos específicos da peça preservada. Os artefatos inscritos nesse livro são
divididos em bens imóveis, como edifícios, chafarizes e pontes, por exemplo,
e móveis, que incluem também quadros e gravuras, por exemplo.
A cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, é um exemplo conhecido de
tecido urbano tombado, pois foi a primeira cidade tombada pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ainda em 1938. Veja na
Figura 2 a Praça Tiradentes, em Ouro Preto, com a Casa de Câmara e a Cadeia
de Vila Rica ao fundo. Tanto a Praça como o edifício são tombados.

Figura 2. Praça Tiradentes, em Ouro Preto (MG).


Fonte: L. LorenzI e G. Lorenzi ([20--], documento on-line).
Patrimônio cultural 5

Livro do Tombo das Belas Artes


Nesta categoria, estão inscritos os bens cujo valor artístico tem relevância
para a cultura nacional. De acordo com o IPHAN, o termo Belas Artes deve
ser empregado aos artefatos sem caráter utilitário, como imagens religiosas,
esculturas e demais expressões artísticas despidas de utilidade.
Um exemplo bastante relevante deste livro são as figuras dos profetas
produzidas por Aleijadinho no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos e Con-
gonhas, em Minas Gerais, considerado o maior conjunto de arte colonial do
país. Veja na Figura 3 alguns dos profetas instalados na escadaria do conjunto.

Figura 3. Profetas de Aleijadinho.


Fonte: Miranda (2020, documento on-line).

Livro do Tombo das Artes Aplicadas


Nesta categoria, se encaixa grande parte das obras arquitetônicas tombadas,
pois neste livro constam aquelas que têm um bem que tenha valor artístico
associado a uma função utilitária. Um exemplo relevante desse tipo de pa-
trimônio é o conjunto de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, cuja
igreja e artefatos são tombados. Veja na Figura 4 o Museu das Missões, onde
é possível encontrar um grande acervo de artes aplicadas.
6 Patrimônio cultural

Figura 4. Museu das Missões, em São Miguel das Missões (RS).


Fonte: Feitosa ([20--], documento on-line).

Patrimônio imaterial
A cultura de um povo é constituída pelos objetos produzidos por ela, mas tam-
bém pelas formas de fazer, pelos hábitos, costumes e tradições únicas. Para
proteger esse conhecimento, a Constituição de 1988 incluiu os bens imateriais
como parte daqueles passíveis de preservação pelos órgãos responsáveis.
Atualmente, esses bens estão assegurados no Registro de Bens Culturais de
Natureza Imaterial e no Inventário Nacional de Referências Culturais (INCR).

Os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios


da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebra-
ções; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares
(como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas)
(PATRIMÔNIO..., [20--b], documento on-line).

Uma das características apontadas pelo IPHAN como própria de bens


culturais imateriais é o fato de esse conhecimento ser transmitido por meio
de diversas gerações, “[...] constantemente recriado pelas comunidades
e grupos em função de seu ambiente” (PATRIMÔNIO..., [20--b], documento
on-line). Portanto, a sua preservação garante a perpetuação de modos de
fazer específicos de um povo em determinado lugar.
No Brasil, um dos casos emblemáticos do patrimônio cultural imaterial
é o ofício das Baianas do Acarajé, em Salvador, na Bahia. Esse inventário
foi realizado entre 2003 e 2005 a fim de documentar as técnicas de feitura
do acarajé, comida típica da região, e o universo simbólico envolvido nessa
Patrimônio cultural 7

produção. De acordo com o IPHAN, é importante reconhecer essa prática


como relevante para o cenário cultural brasileiro:

Portanto, o inventário do Ofício das baianas de acarajé em Salvador aborda a rele-


vância de tradições afro-brasileiras no cotidiano e identidade nacional, em especial
o acarajé como importante símbolo de uma certa identidade étnica, regional e
religiosa que integra a cultura brasileira - um bem cuja densidade simbólica está
relacionada ao Ofício da Baiana de Acarajé (INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO
E ARTÍSTICO NACIONAL, [2005], documento on-line).

Como você viu, o patrimônio cultural pode ser material quando se trata
dos artefatos produzidos por um povo, sejam estes utilitários ou não; e é
imaterial quando está relacionado aos saberes e tradições de uma população.
Em ambos os casos, esses bens precisam de proteção, a qual é efetivada por
órgãos especializados em diferentes níveis, desde os municípios até agências
internacionais. A seguir, você vai conhecer as principais instituições que
tratam desse assunto.

Principais institutos e órgãos de


preservação no Brasil e no mundo
O patrimônio cultural pode ser protegido por entidades em diferentes ins-
tâncias. Algumas cidades brasileiras contam com secretarias dedicadas à
preservação de seus bens culturais, regulamentando a construção de novos
edifícios, impedindo a demolição de sítios históricos ou legislando sobre
contrapartidas que proprietários desses bens podem usufruir. Quanto maior
for a relevância do bem cultural, mais abrangente é a entidade que o protege,
podendo ser no âmbito municipal, estadual, nacional e até mesmo mundial.
A seguir, você vai ver algumas das entidades que protegem o patrimônio
cultural nas diferentes instâncias.

Municipal
Algumas das maiores cidades brasileiras contam com secretarias especiali-
zadas na preservação do patrimônio histórico e artístico. A existência dessas
entidades se deve ao fato de que, muitas vezes, esses bens têm relevância
para a história local, mas não seriam suficientemente apelativos para órgãos
estaduais ou nacionais. É o caso de edificações que formam a estrutura de
centros históricos, por exemplo.
8 Patrimônio cultural

Em Porto Alegre, a Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC) é a


responsável pelos projetos e obras de restauração dos prédios municipais.
Além disso, o EPAHC realiza os inventários dos bens imóveis e o tombamento
dos bens culturais e de espaços significativos da cidade (PORTO ALEGRE,
[2020]). No Rio de Janeiro, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH)
administra e normatiza a gestão dos bens materiais e imateriais do município.
O IRPH foi criado em 2012 após a UNESCO classificar parte da cidade como
patrimônio da Humanidade. Atualmente, é esse instituto que garante a pre-
servação dos bens que levaram a essa classificação internacional.
Grande parte das cidades grandes do Brasil conta com a sua secretaria
responsável pela preservação do patrimônio histórico. Um exemplo disso é
a cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, cujo patrimônio arquitetônico do
século XIX levou ao seu tombamento. Atualmente, a Secretaria Municipal da
Cultura conta com um setor de Memória e Patrimônio que administra os mais
de 1.300 edifícios inventariados pelo IPHAN na cidade (PELOTAS..., [20--a]).

Estadual
Assim como os municípios, os estados também têm os seus órgãos de pre-
servação do patrimônio. No Rio Grande do Sul, por exemplo, esse órgão é o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE), fundado em
1954 para defender o patrimônio arquitetônico e cultural do estado, além
de uma divisão para estudo e difusão do folclore gaúcho (RIO GRANDE DO
SUL, [20--?]).
Em São Paulo, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) é o órgão ligado à Secretaria Municipal
de Cultura de São Paulo que trata da preservação dos bens culturais, tendo,
desde sua fundação, em 1968, tombado mais de 500 bens nas mais diversas
categorias:

O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico


tem a função de proteger, valorizar e divulgar o patrimônio cultural no Estado de
São Paulo. Nessa categoria se encaixam bens móveis, imóveis, edificações, monu-
mentos, bairros, núcleos históricos, áreas naturais, bens imateriais, dentre outros
(CONSELHO DE DEFESA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO ARQUEOLÓGICO, ARTÍSTICO E
TURÍSTICO, [20--?], documento on-line).

Veja na Figura 5 o Bairro dos Jardins, na capital paulista, que tem o entorno
urbano tombado e protegido pelo CONDEPHAAT desde 1986.
Patrimônio cultural 9

Figura 5. Bairro dos Jardins, em São Paulo (SP).


Fonte: Valle (2020, documento on-line).

Em Pernambuco, o governo estadual mantém um programa de identifica-


ção, preservação, promoção e fiscalização do patrimônio cultural material e
imaterial chamado CulturaPE. As ações do programa podem ser acompanhadas
pela população pernambucana por meio do Portal da Cultura Pernambucana:
“A proposta da página de Patrimônio Cultural é aproximar a população dos seus
patrimônios e estimulá-la a cuidar e reconhecer neles a devida importância
para a preservação da história e da cultura do nosso povo” (PERNAMBUCO,
[20--?] documento on-line).

Nacional
No Brasil, o órgão responsável pelo controle da preservação dos bens culturais
é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), fundado
em 1937 por Rodrigo Melo Franco de Andrade. Atualmente, o IPHAN conta com
superintendências em todos os estados e no Distrito Federal.
O IPHAN é a entidade que protege e promove os bens culturais brasileiros,
de acordo com o disposto no artigo 216 da Constituição Brasileira, que define
patrimônio cultural como “[...] formas de expressão, modos de criar, fazer
e viver” (O IPHAN, [20--], documento on-line). De acordo com a legislação,
a preservação desse patrimônio se dá pelo registro, inventário e tombamento,
atividades regulamentadas pelo IPHAN.
10 Patrimônio cultural

Além das superintendências, o IPHAN administra seis unidades especiais.


Quatro delas são no Rio de Janeiro: o Centro Lucio Costa, uma escola de pre-
servação; o Sítio Roberto Burle Marx, que trabalha com o acervo do paisagista;
o Paço Imperial, que funciona como centro de exposições e eventos, e o
Centro Nacional do Folclore e Cultura Popular, que trabalha com “[...] pesquisa,
documentação, difusão e execução de políticas públicas de preservação
e valorização dos mais diversos processos e expressões da cultura popu-
lar" (CENTRO..., [20--], documento on-line). E as outras duas são em Brasília:
o Centro Nacional de Arqueologia, que estabelece as políticas de preservação
dos sítios arqueológicos; e o Centro de Documentação do Patrimônio, que
gerencia os acervos do IPHAN.

O IPHAN promove anualmente uma premiação para celebrar esforços


e projetos relacionados ao patrimônio histórico. Trata-se do Prêmio
Rodrigo Melo Franco de Andrade, uma homenagem ao fundador do IPHAN.

Internacional
A principal entidade internacional desse segmento é a Organização Educacio-
nal, Científica e Cultural das Nações Unidas (UNESCO, do inglês United Nations
Educational, Scientific, and Cultural Organization), ligada à Organização das
Nações Unidas (ONU), que define os bens que são considerados patrimônio
cultural com relevância para toda a humanidade. Além disso, cabe ainda des-
tacar órgãos com atuações específicas, como o Comitê Internacional para a
Documentação e preservação de edifícios, sítios e unidades de vizinhanças
do Movimento Moderno (Docomomo), que atua no patrimônio moderno, e o
Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS, do inglês International
Council of Monuments and Sites), que atua na preservação de sítios históricos.

UNESCO
A UNESCO atua internacionalmente na preservação do patrimônio histórico
desde a sua fundação, na década de 1940. Atualmente, além da indicação dos
bens a serem protegidos, a UNESCO trabalha na educação e difusão científica
ao redor do mundo (UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL
ORGANIZATION, 2019).
Patrimônio cultural 11

DOCOMOMO
O Docomomo foi fundado em 1988 para a conscientização acerca da neces-
sidade de preservação do patrimônio criado pela arquitetura e urbanismo
moderno:

As missões do Docomomo Internacional são a salvaguarda, com base na preservação


de importantes obras do Movimento Moderno por toda a parte, a troca de ideias
sobre tecnologias de conservação, história e educação, o resgate do interesse
pelos ideais, pela herança do movimento moderno e pela sua documentação,
e o suscitar da responsabilidade para com essa recente herança arquitetônica
(DOCOMOMO BRASIL, 2016, documento on-line).

ICOMOS
O ICOMOS foi fundado em 1964 como uma subsidiária da UNESCO para a
preservação do patrimônio histórico construído, estabelecendo as diretrizes
para a preservação dos bens culturais por meio de conferências, simpósios
e discussões (INTERNATIONAL COUNCIL ON MONUMENTS AND SITES, 2021).

Exemplares de patrimônio material e


imaterial no Brasil
O Brasil tem diversos bens culturais registrados na UNESCO como patrimônio
cultural da humanidade, e esses exemplares vão desde centros urbanos
coloniais até o projeto urbanístico moderno da capital federal. Além desses
exemplos de patrimônio material, a riqueza da cultura popular brasileira faz
com que o país apareça com frequência nos levantamentos internacionais
de patrimônio imaterial.

Material
Veja a seguir alguns exemplos de patrimônio material do Brasil.

Brasília
A capital federal, projetada por Lúcio Costa e inaugurada em 1960, foi con-
siderada um patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO em 1987,
tornando-se, então, o único bem contemporâneo a receber essa distinção.
A proteção se estende por 112,25 km², fazendo com que Brasília seja a maior
área tombada no mundo. Em 1990, o IPHAN inscreveu a cidade no Livro no
12 Patrimônio cultural

Tombo, formalizando a sua preservação. Segundo o órgão, o tombamento se


justifica pela singularidade do projeto urbano:

Destaca-se a excepcional correspondência entre o projeto urbanístico de Lucio


Costa e a arquitetura de Oscar Niemeyer, cuja imagem mais forte resulta do cruza-
mento entre os Eixos Monumental e Rodoviário, que define o seu esquema urbano
e enfatiza o caráter representativo dos espaços públicos da Praça dos Três Poderes
e da Esplanada dos Ministérios, expresso nas formas do edifício do Congresso
Nacional e do modo de morar concebido, definido pela Unidade de Vizinhança e
suas superquadras (BRASÍLIA..., [20--], documento on-line).

Na Figura 6, você pode ver um panorama do Eixo Monumental de Brasília,


com o cruzamento do Eixo Rodoviário ao centro, a Esplanada dos Ministérios
e a Praça dos Três Poderes. Observe como a escala da cidade a torna única
entre os demais centros urbanos.

Figura 6. Eixo Monumental de Brasília.


Fonte: Eixo... (2020, documento on-line).
Patrimônio cultural 13

Olinda
A cidade de Olinda é uma cidade fundada por portugueses no século XVI, em
Pernambuco. Sua história está ligada ao ciclo da cana de açúcar no nordeste
brasileiro, e foi saqueada e reconstruída pelos holandeses no século XVIII,
quando a sua malha urbana atual foi consolidada. O entorno histórico da
cidade foi tombado em 1968 pelo IPHAN e, em 1982, pela UNESCO (OLINDA...,
[20--]).
Olinda é formada por edificações com estilos arquitetônicos distintos,
desde as coloniais do século XVI até exemplares neoclássicos do século XIX.
Veja na Figura 7 um trecho da cidade cercado de vegetação, com suas ruas
tortuosas e as casas coloridas com telhados de barro.

Figura 7. Olinda.
Fonte: Olinda (2020, documento on-line).

Palácio Gustavo Capanema


O edifício projetado para abrigar o Ministério da Educação e Saúde, em Bra-
sília, é considerado um dos marcos iniciais da arquitetura moderna brasileira
(COMAS, 2010). Sua construção foi realizada entre 1937 e 1943, e sua estrutura
é composta concreto armado e revestimento com azulejos desenhados por
Cândido Portinari (Figura 8).
14 Patrimônio cultural

Figura 8. Palácio Gustavo Capanema.


Fonte: Almeida (2021, documento on-line).

Atualmente, o Palácio Gustavo Capanema abriga diversas Secretarias do


Ministério da Cultura, que administra o patrimônio, modernizando as insta-
lações sem perder as características que o tornam único. Segundo o IPHAN,
trata-se de um exemplar único da arquitetura moderna pelas circunstâncias
em que foi projetado e construído:

Pela primeira vez no Brasil, um edifício reuniu as principais características da ar-


quitetura moderna, com o uso de pilotis, planta livre, terraço-jardim, fachada livre
e janelas em fita. Somados a eles, também estiveram Burle Marx, Cândido Portinari,
Bruno Giorgi, Adriana Janacópulus, Celso Antônio e Jacques Lipchitz, consolidando
o time responsável pelas artes integradas, com pinturas, esculturas e paisagismo.
Nascia então, o Palácio Gustavo Capanema, idealizado para sediar o Ministério da
Educação e Saúde do Governo Vargas (ÍCONE..., 2018, documento on-line).

Imaterial
A seguir, você vai conhecer alguns exemplos de patrimônio imaterial do Brasil.
Patrimônio cultural 15

Frevo
Em 2012, a UNESCO considerou o frevo, expressão cultural do Carnaval do
Recife, como patrimônio cultural imaterial da humanidade, culminando um
processo que havia sido iniciado em 2007 com a inscrição da prática no Livro
de Registro das Formas de Expressão. Segundo o IPHAN, a relevância do frevo
se deve tanto à sua musicalidade como à sua capacidade de expressão política:

O Frevo é formado pela grande mescla de gêneros musicais, danças, capoeira e


artesanato. É uma das mais ricas expressões da inventividade e capacidade de
realização popular na cultura brasileira. [...] Desde suas origens, o frevo expressa
protesto político e crítica social em forma de música, dança e poesia, constituindo-
-se em símbolo de resistência da cultura pernambucana e expressão significativa
da diversidade cultural brasileira (FREVO..., 2012, documento on-line).

O frevo é praticado nos bairros centrais da capital pernambucana, assim


como no centro histórico de Olinda, além de ter sido levado pelos migrantes
para outros estados brasileiros. Veja na Figura 9 a combinação de dança,
vestimentas, artesanatos e sítio urbano que formam essa expressão cultural.

Figura 9. Frevo em Olinda.


Fonte: Molinari (2017, documento on-line).
16 Patrimônio cultural

Bumba Meu Boi


O Bumba Meu Boi é uma celebração realizada no Maranhão que engloba
diversos bens culturais, tanto imateriais, como performances dramáticas,
musicais e coreográficas, quanto materiais, como os artesanatos e instru-
mentos musicais fabricados para a festa. Soma-se às expressões a riqueza
das tramas e personagens envolvidos na celebração. Veja na Figura 10 um
dos personagens do Bumba Meu Boi e observe a riqueza do trabalho de
artesanato envolvido na sua realização.

Figura 10. Bumba Meu Boi.


Fonte: Graneiro (2017, documento on-line).

Em 2011, o Bumba Meu Boi foi inscrito no Livro de Registro de Celebrações


do IPHAN, protegendo a sua memória em âmbito nacional. Em 2019, a UNESCO
reconheceu a celebração como patrimônio cultural imaterial da humanidade,
atestando a sua relevância para a cultura mundial.
Patrimônio cultural 17

Doces de Pelotas
Os doces tradicionais produzidos na região de Pelotas, no Rio Grande do Sul,
foram inscritos em 2018 no Livro de Registro dos Saberes. Essa foi a primeira
vez que um bem foi registrado e tombado na mesma ocasião, combinando
o patrimônio imaterial do modo de produzir os doces com o patrimônio
arquitetônico do centro histórico da cidade:

Os doces também são responsáveis pela paisagem: no legado do investimento em


urbanização da cidade e suas edificações em estilo eclético, no interior das quais os
doces de bandeja se misturavam ao anseio civilizatório da elite charqueadora; nos
pomares e pastos que se somam às edificações menos suntuosas das colônias de
imigrantes, marcadas pelas cores e aromas das frutas da safra; e nas edificações
abandonadas que lembram o período de abundância das fábricas artesanais de
compotas e conservas (PELOTAS..., [20--b], documento on-line).

Veja na Figura 11 a combinação dos doces tradicionais com a arquitetura


histórica da cidade gaúcha.

Figura 11. Doces de Pelotas.


Fonte: Tradições... ([2018], documento on-line).
18 Patrimônio cultural

Referências
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Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gustavo_Capanema_Pa-
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Federal, 2016. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
id/522095/CF88_EC92_2016_Livro.pdf?ssequenc=1&isAllowed=y. Acesso em: 23 abr. 2021.
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Patrimônio cultural 19

MIRANDA, J. BNDES aprova projeto para criar moldes dos profetas de Aleijadinho.
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20 Patrimônio cultural

Leitura recomendada
LIVROS do Tombo. Portal Iphan, [20--]. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/
detalhes/608. Acesso em: 23 abr. 2021.

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