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SOCIAL,
ECONÔMICA E
POLÍTICA DO
BRASIL
As primeiras
manifestações
sociais e políticas
no Brasil
Ana Carolina Machado de Souza
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Por muitos anos, foi cultivada a ideia de que o Brasil era um país pacífico, e de que
suas revoltas e movimentos sociais não causaram grandes distúrbios, como uma
guerra civil. Contudo, a historiografia passou a enfatizar que os diversos conflitos
desencadeados ao longo de nossa história e como o governo da época lidou com
eles deveriam ser analisados como períodos de profunda turbulência política e
social. A organização da sociedade em prol de um objetivo em comum, seja em
âmbito local ou federal, demonstram insatisfações e a necessidade de mudança.
Desde a chegada dos portugueses, a sociedade brasileira foi formada a partir
de conflitos. Houve as guerras contra os nativos, contra os invasores e aquelas
2 As primeiras manifestações sociais e políticas no Brasil
Características gerais
A França, no século XVIII, vivia um regime centralizador que custava muito aos
cofres públicos. A Revolução Francesa, em 1789, foi o rompimento político e
econômico com aquilo que os próprios revolucionários batizaram como “Antigo
Regime”. Seu nascimento se relaciona com a contestação das desigualdades
corroboradas pela maneira como o governo era conduzido. A Revolução foi um
movimento complexo, maior do que as caudas econômicas e políticas óbvias
que se obtêm ao se analisar seu contexto. O historiador François Furet (1989)
defende que foi um acontecimento dinâmico, embasado, inclusive, em antigas
mobilizações contra os governos de épocas anteriores. Porém, o movimento
As primeiras manifestações sociais e políticas no Brasil 3
Para o resto da América, os Estados Unidos serviriam como exemplo. Uma inde-
pendência concreta e possível passou a ser o grande modelo para as colônias
ibéricas que desejavam separar-se das metrópoles. Os princípios iluministas, que
também influenciavam a América ibérica, demonstraram ser aplicáveis em termos
concretos. Soberania popular, resistência à tirania, fim do pacto colonial; tudo isso
os Estados Unidos mostravam às outras colônias com seu feito.
Revoltas nativistas
Manifestações políticas e sociais brasileiras ocorreram durante todo o período
colonial. A Revolta dos Beckman (1684), a Guerra dos Emboabas (1707–1709), a
Guerra dos Mascates (1710–1711) e a Revolta Filipe dos Santos, ou Revolta de
Vila Rica (1720), correspondem às chamadas revoltas nativistas. Apesar do
nome, elas não buscavam a independência. Cada uma possui sua especifici-
dade, mas a reivindicação em comum era o fim dos impostos, da corrupção
e da opressão feita nos (e pelos) políticos locais.
A luta contra os holandeses havia criado uma série de novos impostos para sus-
tentar a guerra. criou-se o “donativo do açúcar”, imposto que era cobrado sobre
o comércio e a produção do açúcar, e que constituía o principal recurso nas fi-
nanças da Restauração. [...] Com o fim da guerra, as novas taxações continuaram
a ser cobradas, já que a Coroa não queria dispensar essa nova receita fiscal [...].
Some-se a isso os antigos impostos donatariais que, mesmo com a incorporação
da capitania à Coroa, eram ainda cobrados gerando insatisfação por parte dos
moradores de Olinda.
e evitar fraudes. Em 1720, Vila Rica recebeu a primeira Casa de Fundição, local
onde o ouro era fundido em barras para facilitar o transporte e o comércio
do metal. Para a população local, esse era mais um entrave português, que
criava mais obstáculos e diminuía a margem de lucro.
Revoltas separatistas
A grande diferença entre os conflitos nativistas e separatistas foi ideológica.
Estes queriam a independência, o fim do subjugo do estado português ante a
colônia, e o Iluminismo foi a base teórica fundamental para que os articula-
dores delineassem esse processo. As revoltas mais conhecidas e trabalhados
pela historiografia foram a Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração Baiana
(1798) e a Revolução Pernambucana (1817), três regiões muito importantes
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uma casa da moeda e a taxa de câmbio fixada em 1$500 réis por oitava de ouro.
Esta medida tinha por fim acabar com a escassez crônica de moeda circulante na
capitania, em parte causada pela alvará de dezembro de 1750 que fixara a taxa
de 1$200 réis por oitava para Minas, enquanto a taxa vigorante por toda a parte
era de 1$500 réis.
Referências
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Leituras recomendadas
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