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Perfis autoritários que comprometem com a independência
da américa latina
Brasil, independência, monarquia e ditadura
São Paulo
2022
Samuel Isaque Serna Eleoterio Lima
Leticia Rodrigues de Sousa
Rafael Azevedo Silva
Lyv Morgana
Maria Eduarda Lima
Perfis autoritários que comprometem com a independência
da américa latina
Brasil, independência, monarquia e ditadura
No dia 28 de maio de 1926 um golpe militar pôs fim aos dezesseis anos da Primeira
República portuguesa. Para se ter uma ideia do nível de instabilidade na primeira
fase do republicanismo em Portugal basta citar o fato de que naquele curto
espaço de tempo o país assistiu à ascensão e à queda de um total de 45
governos e a 29 levantes revolucionários de diversos matizes2. Os motivos que
levaram à incessante crise são vários: dificuldades de desenvolvimento econômico,
tensões e divergências entre os setores governistas, a entrada equivocada na
Primeira Guerra Mundial...Para além desses problemas, que dizem respeito às
escolhas dos agentes políticos, outros fatores ligados à tradição histórica portuguesa
não devem ser menosprezados. Arno Mayer, em seu conhecido livro A força da
tradição lembra que o desenvolvimento da modernidade liberal durante a segunda
metade do século XIX na Europa conviveu com valores da tradição e do
conservadorismo que apenas aparentementedeclinavam3. Desta forma, a
república parlamentar, a sociedade de mercado e a indústria foram
contemporâneas do poder aristocrático, da corporação e do pequeno universo
agrário. Sem necessariamente superá-los. Passado e futuro encontravam-se em per
manentes enlaces e desenlaces. Em proximidades e distanciamentos. Se, para
alguns países, a Primeira Guerra Mundial foi um "divisor de águas", no sentido de
uma ruptura mais profunda para com o passado, o mesmo não se pode dizer de
outros, onde prevalecêramos elementos da continuidade. Este, por certo, é o caso
português, cujo regime do Estado Novo (1933-1974) ancorava-se em um
eficiente discurso que remetia, a todo instante, a um passado legitimador. Ao mesmo
tempo seria um equívoco e mesmo uma simplificação histórica afirmar que o
corporativismo português se resumiu à nostalgia. Ao contrário, entre os agentes
que organizaram e pensaram a institucionalização do regime, bem como seu
funcionamento, havia tanto os que defendiam uma perspectiva mais
conservadora e tradicionalista como também aqueles para quem a ditadura
deveria dialogar com os diversos projetos de modernidade alternativa ao
liberalismo que se organizaram na Europa durante as décadas de 1920
e 1930. Por este motivo concordamos com Philippe Schmitter para quem o
Estado Novo foi um laboratório de experiências tanto como reinvenção de um
imaginário "regenerador" e nacionalista como também de integração das
classes trabalhadoras evitando as radicalizações fascista e nacional-socialista4.
De minha par te acrescentaria ainda, para além da política sindical, a própria
reordenação jurídica do Estado e a política de propaganda como elementos que
expressavam um evidente compromisso com a modernidade. Procurarei demonstrar
que o pensamento autoritário do Estado Novo português possuía duas vertentes.
Uma delas tradicionalista e conservadora, que tinha seus olhos voltados para o
passado. Mas havia também entre os antiliberais portugueses aqueles para quem os
movimentos radicais de direita que desembocaram em projetos diversos de
modernização eram referências fundamentais. Obrigatórias, até. A
institucionalização do regime, ainda que como predomínio da primeira, não teria
sido possível sem a combinação das duas perspectivas.
Sebastião, d. João IV9 e que, no Século XIX, tinha como referência mais
importante a figura de d. Miguel10, o monarca absolutista derrotado por d. Pedro.
Assim a oposição ao liberalismo significava um compromisso com Portugal, com
sua história, suas referências e suas tradições. O futuro deveria, necessariamente,
estar comprometido com o passado. Portugal havia sido grande e moderno
quando atravessou os mares e, em nome da inabalável fé católica, descobriu e
conquistou novas terras. Ao mesmo tempo, era o lugar do "pequeno mundo", do
camponês da pequena aldeia e da pequena propriedade. Não por acaso António
Oliveira Salazar11, o dirigente principal do Estado Novo, já em 1916,quando
apresentou provas para professor da Universidade de Coimbra, criticou o latifúndio
alentejano do "dono ausente" ao mesmo tempo em que enaltecia a pequena
propriedade "fecundada pelo capital e otrabalho"12. Assim, a tarefa dos
portugueses era conservar, seja no "além-mar" seja no próprio território, o seu
mundo pequeno, católico e camponês. A vocação portuguesa para a modernidade
deveria ser então, construída a partir de valores predominantemente
"endógenos". E, portanto, procurada em sua própria história. O Antigo Regime,
realizador desta "vocação", tornava-se o horizonte utópico do Estado Novo. Ser
moderno era voltar no tempo. Parte expressiva do pensamento autoritário português,
portanto, tinha um caráter conservador e nostálgico. Defendia o primado do coletivo
esse opunha radicalmente ao individualismo liberal herdeiro do Iluminismo e da
Revolução Francesa. Marcello Caetano, então jovem estudante de direito, proferiu
em 1928 uma conferência na Sociedade São Vicente de Paulo, da qual era
confrade. Na ocasião apontou a permanência das mazelas do século XIX como
responsáveis pela desordem do mundo nas primeiras décadas do século XX13. O
mesmo Caetano que quatro décadas depois, na condição de sucessor de Salazar,
viria a se tornar na esperança de alteração do regime em uma eventual transição
"pelo alto”. O exemplo de Caetano é, portanto, importante para evidenciar que em
diversos casos tradicionais e modernos se confundiam.
Introdução
1. Introdução
As formas de Estado adotadas ao longo dos primeiros séculos da Idade Moderna
foram de fundamental importância para a construção de modelos estatais que se
sucederam ao longo da história se, por um lado, os ideais revolucionários dos
séculos XVII e XVIII foram o alicerce do modelo de Estado baseado em valores
liberais que influenciaram a França Moderna, pós revolução de 1789, bem como a
formação dos Estados Unidos da América, a partir da independência das treze
colônias em 1776, formando em grande parte a base dos valores libertários que
estruturam o funcionamento dos Estados Contemporâneos, não há como negar que
os regimes absolutistas, comuns no século XVI, influenciaram de forma significativa
a formação de vários Estados.
No Brasil, conforme se pretenderá demonstrar ao longo deste artigo, a influência dos
valores absolutistas foi fundamental para a consolidação do Estado, ao longo do
período da Regência e do Primeiro Império, períodos esses bastante refratários aos
ventos liberais que sopravam sobre a Europa e a América do Norte.
Somos, na essência, frutos de um processo de afirmação como nação que, de certa
forma, se confunde com a figura dos chefes de Estado, principalmente ao se analisar
o império de Pedro I, sua tentativa exitosa de unificação territorial e de construção
de um país de dimensões continentais
2. O que é o absolutismo?
O absolutismo foi um sistema político que predominou na Europa do século XVI ao
século XVIII. Associado à formação dos Estados Nacionais e ao crescimento da
burguesia, esse regime defendia o poder absoluto dos monarcas sobre o Estado.
Durante o absolutismo, a monarquia concentrava todo o poder do Estado, utilizando-
a de acordo com seus interesses. Leis, impostos e tributos eram criados sem a
participação da sociedade ou de qualquer outro órgão da soberania.
No regime absolutista havia a relação de fidelidade entre súditos e monarcas, na qual
a obediência e o respeito deveriam ser praticados por todos. Não era dado à
população o direito de questionar e os que fossem contrários aos interesses ou às leis
definidas pelos monarcas eram reprimidos. Os reis usavam da força e a violência dos
exércitos para reprimir, prender ou até mesmo matar quem se opusesse ao que era
ditado pelo regime.
° Xi Jinping (2013–)
político chinês e funcionário do governo que atuou como vice- presidente da
República Popular da China (2008–13), secretário geral do Partido Comunista
Chinês (PCC; 2012– ) e presidente da China. Quando subiu ao poder, Xi Jinping
prometeu "brandir a espada contra a corrupção". Seu governo julgou e condenou
altos funcionários do partido, ocupantes de cargos que jamais haviam enfrentado
julgamentos por corrupção. Foram acusados de planejarem "a destruição da unidade
do partido". Botando centenas de inimigos poderosos atrás das grades, Xi acabou
com a trégua entre alas do partido que mantinha a paz desde a morte de Mao.
Qualquer pessoa pode estar fazendo um discurso em um minuto e no próximo estar
atrás das grades. Há diversos casos de desaparecimentos de bilionários, sem
explicação alguma. Xi têm lutado por duas guerras: uma pelo controle do partido e
outra pelo controle da internet. Ele intensificou os mecanismos de censura e controle
da rede. Como a China não tem nenhum proteção legal à privacidade, todos os
celulares são potenciais aparelhos de escuta e censura. Nas universidades, a
liderança do partido é elogiada em livros didáticos livres de influência ocidental. E
empresas privadas estão anunciando células internas que respondem ao partido.
Embora alegue que está fazendo uma limpeza, Xi não mostrou nenhum sinal de que
vá permitir que toda a verdade venha a público.
° Rodrigo Duterte (2016–)
Gestão do presidente das Filipinas é marcada por uma sangrenta guerra contra o
crime e as drogas, incentivando abertamente assassinatos de 'bandidos'. Figura
normalmente comparada com a de Jair Bolsonaro. Em 2018, propôs a criação de um
grupo civil armado para fazer frente ao Novo Exército Popular, um grupo comunista
rebelde criado no final da década de 1960 e ativo até os dias atuais. Duterte afirmou
na épo a que a milícia que ele pretendia criar seria chamada de "Esquadrão da Morte
de Duterte" e teria poderes para matar suspeitos de serem revolucionários,
dependentes químicos e até pessoas que vagassem sem propósito pelas ruas.