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E TEMAS DE PESQUISA
Introdução: o arquivo
O acervo Edmundo Gardolinski, que constitui um fundo de
pesquisa do Núcleo de Pesquisa em História da UFRGS, é um
arquivo que conta com grande parte da documentação pessoal e, se
assim podemos dizer, memorial do seu dono, que empresta seu
nome ao acervo. O engenheiro Edmundo Gardolinski nasceu no
Paraná, em 1914, filho de Mariano e Maria Gardolinski, ambos
imigrantes poloneses. Durante sua trajetória, foi um reconhecido
1
UFRGS.
2
Professora da UFRGS.
engenheiro civil, tendo participado da construção, por exemplo, da
vila operária do IAPI3 em Porto Alegre, bem como de outras obras
importantes nesta cidade. Além disso, foi um reconhecido
memorialista (WENCZENOVICZ, 2011), produzindo trabalhos de
contribuição histórica acerca da imigração polonesa, como, por
exemplo, o livro Escolas da Colonização Polonesa no Rio Grande
do Sul de 1977.
Gardolinski visitou diversas colônias polonesas no estado e
recolheu grande quantidade de material referente a esta etnia, de
modo que tudo isto serviu para compor o arquivo que se encontra no
NPH/UFRGS. Este, portanto, é constituído de documentos de vários
tipos: rascunhos anotados e corrigidos de artigos e discursos do
próprio Gardolinski e de outros autores, correspondência ativas e
passivas, fotos4, prospectos, recortes de jornais e revistas, etc.
Complementando o arquivo, existe parte da biblioteca do titular, que
contém periódicos, livros, e folhetos.
Em se tratando de um acervo privado, retoma-se aqui
algumas discussões sobre este gênero de fontes. O arquivo privado,
entendido amplamente como o conjunto de documentos, qualquer
que seja sua data, sua forma e seu suporte, produzido ou recebido
por pessoa física ou moral, pública ou privada, no curso e para o
exercício de suas atividade (HEYMANN, 2007: 2), é um
instrumento que vem ganhando visibilidade na produção
historiográfica. Segundo Gomes (1998: 122), só a partir da década
de 1970 é que o arquivo passa, na Europa, por uma
descoberta/encontro dos historiadores, de maneira que a autora
aponta uma rotinização do uso dos arquivos privados ou, numa
linguagem mais jornalística, o boom dos arquivos privados. Partindo
destes pressupostos, pensamos o uso destes arquivos como inseridos
na renovação das fontes e objetos da história, acompanhando o
3
A Vila do IAPI é uma área urbana planejada, predominantemente residencial,
que tomou seu nome do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários.
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Parte delas foram pesquisadas pela historiadora Ivania Valim Susin na sua
dissertação de mestrado i Retratos de arquitetura moderna: acervo
Edmundo Gardolinski (1936-
de maneira efetiva no final do século XIX, portanto depois das ondas imigratórias
alemã e italiana, os poloneses foram deslocados para as últimas fronteiras de mata
do Estado, os vales de alguns rios da Serra, os quais foram abandonados
paulatinamente, mas não totalmente, ao longo da primeira metade do século XX.
Outros foram deslocados para colônias no Noroeste gaúcho e algumas colônias
foram criadas em outros territórios, como na região das atuais cidades de Mariana
Pimentel e Dom Feliciano.
Possibilidades de pesquisa:
Os documentos que inicialmente gostaríamos de destacar do
acervo são as cartas, não apenas por estarem preservadas em grande
quantidade, mas pelo caráter pessoal que carregam com relação ao
correspondente. As missivas encontradas no arquivo são, na sua
maioria, as recebidas por Edmundo Gardolinski, entretanto, existem
diversas cópias de correspondências remetidas por este aos mais
diversos destinatários, dentre eles o senhor Jan Krawczyk 6, Ceslau
Biezanko7, Alberto Stawinski8 e Józef Zajac9 alguns expoentes do
grupo polonês do Rio Grande do Sul. Nesse sentido, pensando de
acordo com Gontijo (2004), as correspondências de intelectuais são
ao mesmo tempo fontes e objetos de estudo, sendo instrumentos
6
Escritor e jornalista polonês, que emigrou ainda criança para o Rio Grande do
Sul (WACHOWICZ, SCHR, 2000: 204).
7
Entomólogo polonês, que veio para o Brasil no início dos anos 1930, sendo
considerado o introdutor da soja no estado, na cidade de Guarani das Missões no
Rio Grande do Sul (WACHOWICZ, SCHR, 2000: 33).
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Foi um frei de origem polonesa e também escritor, historiador e jornalista, sendo
responsáveis por escrever uma das obras clássicas para a imigração polonesa:
Primórdios da imigração polonesa no Rio Grande do Sul (1875-1975)
WACHOWICZ, SCHR, 2000: 362).
9
Padre de Curitib. (WACHOWICZ,
SCHR, 2000: 435).
Considerações finais
O NPH da UFRGS permite a consulta do material disponível
no Acervo Edmundo Gardolinski contribuindo para a pesquisa na
área da imigração polonesa. Como pretendemos demonstrar ao
longo deste artigo, apesar das dificuldades do idioma, da pouca
visibilidade dos poloneses, além de outras limitações, existe um
grande potencial de fontes e temas de pesquisa capazes de, não
10
Quanto às fotografias, Gardolinski mantinha
sistemas diversos de organização. Para um dos montantes, separou as fotografias
em pastas de papel, com o título daquele conjunto, coladas em folhas de ofício
tamanho A4. Abaixo de cada foto, escrevia uma pequena nota, identificando o
evento representado. Infelizmente, nem todas as fotografias foram incluídas neste
sistema, o que fez com que muitas delas não fossem identificadas.
Referências
DE LUCA, Tania Regina. História dos, nos e por meio dos
periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes Históricas.
São Paulo: Contexto, 2008.
ELMIR, Cláudio Pereira. Uma Aventura com o Última Hora: O
jornal e a pesquisa histórica. Conferência de abertura do Colóquio
Fontes periódicas: imprensa política e cultural latino-americana do
PPG da UFRGS, 2007
GARDOLINSKI, Edmundo. Escolas da colonização polonesa no
Rio Grande do Sul. Porto Alegre: ESTSLB; Caxias do Sul: UCS,
1976.
GLUCHOWSKI, Kazimierz. Os poloneses no Brasil: Subsídios para
o problema da colonização polonesa no Brasil. Porto Alegre:
Rodycz & Ordakowski Editores, 2005.
GOMES, Angela de Castro. Nas malhas do feitiço: o Historiador e
os encantos dos arquivos privados. In: Revista Estudos Históricos,
vol. 11, n. 21, Rio de Janeiro, 1998.
_____. Escrita de si, escrita da história. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
GONTIJO, Rebeca.
historiador nas cartas de Capistrano de Abreu. In: GOMES, Angela
de Castro. Escrita de si, escrita da história. Rio de Janeiro: FGV,
2004.
_____. Cartas de Capistrano: fragmentos de discursos sobre a
história e os historiadores da I República. In: Anais do X Encontro
Regional de História. ANPUH-RJ, Rio de Janeiro, 2002.
HEYMANN, Luciana Quillet. Arquivos e interdisciplinaridade:
algumas reflexões. In: Seminário CPDOC 35 anos: A