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ratura, aumentando consideravelmente a com- ideias inovadoras para a noção de fonte históri-
preensão das sociedades do passado e toda a ca: as entrevistas. O registro oral é o documen-
sua complexidade. Ao mesmo tempo, um novo to construído pelo pesquisador tomando como
campo toma força, a História Oral, trazendo base a memória do entrevistado.
Competência 1 | 15
Desenvolvendo a habilidade
É importante problematizar as fontes: Quem pessoal extraordinária. Assim, essa carta é mais
produziu? Em que lugar e em qual época foi importante do que uma simples assinatura do
criado? Por quê? Qual é a mensagem que a fonte Imperador numa nomeação oficial, ainda que
quer passar e por quê? Afinal, toda fonte histórica tanto uma simples assinatura quanto essa
é subjetiva, ela traz consigo um ponto de vista, a carta estejam preservadas pelo mesmo motivo.
interpretação da realidade daquele que a analisa. Uma carta com a letra do imperador conserva,
Vejamos um exemplo concreto de documento: sem dúvida, o fetiche do único, do irrepetível.
uma carta do imperador Pedro II a sua irmã, Analisamos cada curva daquela letra e supomos
Januária, datada de 24 de março de 1870. A a mão do imperador molhando a pena e re-
carta, manuscrita e autógrafa, fala do fim da gistrando fatos marcantes. No cruzamento desse
plano, encontramos a figura histórica de D. Pedro
II e a própria história do Brasil que passou pela
Guerra do Paraguai e por epidemias de cólera.
Contudo, é importante observar como o jogo de
espelhos reproduz ao infinito: a importância de
D. Pedro II e da Guerra do Paraguai é anterior
ao documento. O documento não prova essa
importância, não a cria, não constitui a “aura”,
pois tudo isso preexiste ao documento. Assim,
a concepção do processo histórico é anterior ao
documento e dizemos que o texto é importante
porque, antes de qualquer acesso a ele, já
concebemos que D. Pedro II e a Guerra do
Paraguai são importantes. Porém, a importância
da memória de D. Pedro II nasceu de outros
documentos históricos que associam seu nome
a muitas decisões no século XIX. Assim, outros
documentos colaboraram para criar a “aura”
que este em questão apenas confirmou. Como
afirma Leandro Karnal: “Podemos supor que o
grande limite da função do historiador seja o
limite do documento. Dócil ao arbítrio quase
absoluto, o documento é, igualmente, senhor
de quem o quer submeter. Na sobreposição
D. Pedro II
de centenas de subjetividades e acasos, ele
encerra a chave de acesso ao conhecimento do
Guerra do Paraguai, de questões relativas ao passado. Reafirmando seu senhorio dialético,
surto de febre amarela no Brasil e de assun- criador/criatura, o documento, em si, torna-
tos familiares e pessoais. Sendo D. Pedro II um se uma personagem histórica, com a beleza
homem que reteve grande poder durante da contradição e da imprevisibilidade, com as
quase meio século, ele tem uma importância marcas do humano”.
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Agora vejamos outro exemplo:
Na literatura, define-se manifesto como um da uma intenção com respeito às relações de tra-
texto de natureza dissertativa e persuasiva, balho no campo. Precisamos, por fim, ter o cuida-
uma declaração pública de princípios e in- do de contextualizar as fontes. O que estava
tenções, que objetiva alertar um problema acontecendo naquele espaço e tempo aos quais
ou fazer a denúncia pública de um problema o documento se refere?
que está ocorrendo, normalmente de cunho
Pode-se perceber que
político. O manifesto destina-se a declarar
estava ocorrendo uma
um ponto de vista, denunciar um problema
luta pela melhoria
ou convocar uma comunidade para uma
das condições de
determinada ação. No Manifesto Camponês de
trabalho em um
1929, há uma reivindicação sindical, os autores
são líderes camponeses que lutam pela defesa período em que não
dos interesses dos trabalhadores. Seria possível estavam minimamente
esperar que tomassem uma posição contrária à assegurados aos
deles? Quando os líderes camponeses afirmam trabalhadores alguns
que “lutam verdadeiramente pelos interesses direitos trabalhistas. Eles
dos explorados” e chamam os trabalhadores reivindicavam férias, a
“à organização de suas fileiras, pois só assim redução da jornada de
poderão diminuir o roubo e a escravização de trabalho, o pagamento em dinheiro e a liberdade
que são vítimas”, estão claramente procurando de locomover-se, ou seja, queriam se libertar de
convencer os camponeses a participar da luta. uma forma de trabalho que em alguns aspectos
Está sendo expresso um ponto de vista e revela- se assemelhava ao trabalho escravo.
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A pintura também é uma fonte primordial para o praças públicas, para servir de exemplo e banir
entendimento da História, observe o quadro Exe- a vontade dos escravos fugirem para quilombos.
cução do Castigo de Açoite de Jean Baptiste Debret. As execuções provocavam hemorragias, levando
O açoite era aplicado a todo escravo negro o negro a sucumbir em meio a ataques.
culpado de falta grave: deserção, roubo, de tétano. No quadro, o carrasco é hábil ao
ferimentos recebidos em brigas, etc. O senhor arranhar a epiderme ao chicotear. Ele mesmo
que requer a aplicação da pena obtém uma fabrica o chicote que é feito de sete ou oito
autorização do intendente da polícia, que lhe dá tiras de couro secas e retorcidas. Para que o
o direito de determinar o número de chibatadas, efeito fosse melhor era necessário trocá-lo,
de 50 a 200, que podem ser administradas em pois o sangue o amolecia e ele não produzia o
dois dias. O horário mais comum era entre efeito esperado. Do lado esquerdo do quadro,
nove e dez da manhã nas praças públicas, onde se encontram os condenados. Os escravos dos
se localizavam os pelourinhos. Os castigados extremos estão cabisbaixos, pois um dos dois
podiam ser devolvidos à prisão se o seu dono será o próximo. Do lado direito, deitados no chão,
pagasse dois vinténs por dia com intuito de estão os negros que acabaram de ser executados,
puni-lo ou esperar para ser vendido. Após sair deitados para que não haja hemorragia e com
do açoite, o escravo era submetido à lavagem fraldas sob os ferimentos para que as moscas
das chagas com vinagre e pimenta para que não não pousem e infeccione. Quanto ao executado,
infeccionasse. Diferentemente era tratado o pode-se perceber seu caráter enérgico, pois,
negro que fosse descoberto chefe de quilombo. apesar da dor que sente, tem forças para ficar
Este saía da ca-deia carregando um cartaz escrito na ponta do pé a cada golpe. Alguns condenados
“chefe de quilombo”. Sua pena era de 300 se mostram de caráter forte, pois sofrem toda a
chibatadas, divididas de 30 em 30, em diferentes pena em silêncio.
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