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CRÔNICA: NOS LIMITES DA LITERATURA

Lenise Ribeiro Dutra (UNIFSJ)


lenisedutra@yahoo.com.br
Marcos Antônio Pereira Coelho (UENF)
Eleonora Teixeira Campos (UENF)
norinhatli@yahoo.com.br

Lembrar e escrever: trata-se de um relato em per-


manente relação com o tempo, de onde tira, como
memória escrita, sua matéria principal, o que fica
vivido – uma definição que se poderia aplicar igual-
mente ao discurso da História, a que um dia ela deu
lugar. (ARRIGUCCI, 1987, p. 51).

1. Introdução
A crônica, na modernidade, exige uma visão bastante atenta para
a apreensão tanto de seus limites quanto de seus alcances. O cronista,
desde a Idade Média na narrativa de caráter documental, à documentação
do cotidiano, na modernidade, é dotado do que se pode considerar livre
arbítrio que faz com que sua abordagem temática ultrapasse esses limites
do cotidiano. Este processo de liberdade do escritor tem proporcionado
uma visão subjetiva para a narrativa que assumiu, entre nós, o papel de
texto que prima pela linguagem coloquial e cujos assuntos voltavam-se
para as amenidades da vida cotidiana.
Candido (1992) questiona a expressão “gênero menor” e assinala
“para os milagres operados pela simplificação e naturalidade”. Apoiado
nestes dois aspectos, este estudo verifica que a questão da simplicidade,
linguística e temática e até mesmo o caráter breve do texto cronístico têm
sido elementos propiciadores ao acesso do leitor à visão humana no que
diz respeito ao seu cotidiano. O que Candido propõe, ao dizer que ao não
lançar mão da grandiloquência e que ainda que a perspectiva do cronista
não “seja a dos que escrevem do alto da montanha, mas do simples rés do
chão”, é que a crônica pode assumir caráter de texto literário e seu com-
prometimento com a temática cotidiana poderá vir impregnado de ele-
mentos expressivos, que possibilitam perceber outros pactos do texto
com aqueles não pré-estabelecidos. Segundo Portella (1975) “o que inte-
ressa é que a crônica acusada injustamente como um desdobramento
marginal ou periférico do fazer literário, é o próprio fazer literário”.

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Para traçar o caminho, serão observados o fazer literário de Fer-
não Lopes, cronista-mor da Torre do Tombo, enquanto reinava D. João I;
a carta de Pero Vaz de Caminha, que constitui na literatura brasileira o
primeiro documento com o registro de imagens e impressões sobre a no-
va terra; o nascimento do folhetim, advindo da França, na imprensa bra-
sileira; o espraiamento da crônica pela literatura na modernidade e a per-
cepção de sua importância de objeto literário. A presença da crítica lite-
rária, desde a Antiguidade ao espírito do Modernismo transitará neste es-
tudo na intenção de verificar a relevância de texto literário da crônica. O
caráter subjetivo da crítica e a qualificação literária da crônica, a demo-
cratização da Arte e a discussão instaurada na reflexão sobre a qualidade
de objeto literário oferecem suporte ao estudo.

2. Cronistas e viajantes: um olhar subjetivo sobre a narrativa históri-


ca
Na Idade Média aparece a crônica, uma espécie de texto de que se
utilizavam os cronistas para organizar os documentos e as narrativas so-
bre a história do Reino, em ordem cronológica. A etimologia do vocábu-
lo pressupõe a marca temporal do texto que não passava de mero relato
sobre uma ou outra personagem, sendo o objetivo primeiro o registro his-
tórico e a documentação. No universo da documentação, constitui-se, as-
sim, o surgimento da crônica. Em 1434, Fernão Lopes, além de pesqui-
sador, promovido à cronista-mor do reino português, incluía em seus re-
latos não só as ações de reis e nobres, mas submetia os dados a um crite-
rioso exame.
Vivia-se, a partir deste momento, o limite entre as teorias do an-
tropocentrismo e do teocentrismo: o homem dispôs-se a interferir objeti-
vamente no mundo em que vivia. Passou a valorizar a própria capacidade
intelectual e artística, tornando-se autor de descobertas científicas e cria-
dor de obras que seriam admiradas por séculos. A visão medieval de Fer-
não Lopes, entretanto, não impede a inscrição humanística que ele faz da
história. A preocupação analítica, no sentido de colocar o leitor a par dos
mínimos detalhes que caracterizam a história e até a valorização do as-
pecto plástico que o texto proporciona, faz de Fernão Lopes um instaura-
dor de um status literário ao texto cronístico.
O estilo elegante e coloquial, entremeado de narrações e descri-
ções faz do texto cronístico, a partir de Fernão Lopes, um espaço que po-
de levar o cronista à recordação e a impressões pessoais ao narrar o fato

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histórico, registrando, portanto, uma nova espécie narrativa. Sobre a crô-
nica de Fernão Lopes, Massaud (1990, p. 32) registra:
A atividade historiográfica evolui desde o frio e árido rol de nomes até à
narração e interpretação dos fatos. Todavia, somente com Fernão Lopes ad-
quire superior relevância, graças ao sentido duplo com que é praticada: o lite-
rário e o histórico propriamente dito.

Os primeiros escritos de informação sobre o Brasil têm cunho no-


tadamente descritivo e objetivam-se em fazer levantamentos gerais da
terra nova descoberta. O escrivão, Pero Vaz de Caminha imortaliza-se
pela carta ao rei D. Manuel a fim de comunicar a descoberta e descrever
os primeiros contatos entre os europeus e os nativos. Muitos outros rela-
tos foram feitos, no entanto, é o texto de Caminha que melhor registra a
terra brasileira, e ao acrescentar ao texto impressões pessoais, elementos
mágicos, características fantásticas, manipular a linguagem, por não se
limitar ao simples relato impessoal; e por deixar demonstrar o entusias-
mo provocado pelas novas imagens que se apresentam na descrição do
novo mundo e na visão edênica da nova terra, Caminha propicia o caráter
literário de seu texto.
É pertinente apresentar um conceito da função poética cujo obje-
tivo é a mensagem por ela própria para detectar a função literária do tex-
to de Caminha, que ao relatar a história do descobrimento do Brasil o faz
com olhar bastante subjetivo:
De ponta a ponta é toda praia rasa e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-
nos do mar muito grande, porque a estender a vista não podíamos ver senão
terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora, não pu-
demos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de
ferro (...). Mas a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados (...)
Águas são muitas e infindas. (...). Mas o melhor fruto que nela se pode fazer,
me parece que será salvar essa gente; e esta deve ser a principal semente que
Vossa Alteza nela deve lançar. (1982, p. 12-13).

A esta época a ausência de uma atividade literária que fosse res-


ponsável pela construção da identidade brasileira, fez a crônica, além de
registrar o chronos e as imagens grandiosas fotografadas pelas retinas de
seus cronistas, servir de legítima representante para a instauração do es-
pírito brasileiro.

3. A crônica assenta suas raízes


Na segunda metade do século XIX, em virtude da situação políti-
ca por que passava o país, a imprensa brasileira apresenta uma atividade

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jornalística bastante conservadora – entre 1830 e 1850, os pasquins co-
meçam a desaparecer, visto que desempenhavam papel importante na re-
alidade política, que a partir daquele momento toma outro rumo: visa à
consolidação do regime escravagista e feudal que se sustenta no latifún-
dio. Ausente de motivos desaparece a imprensa de caráter político. A
partir dessa época, surge a fusão da literatura com o jornalismo; a comu-
nhão de homens das letras e de homens do jornal. A literatura que manti-
nha, até então, ligação com revistas e jornais especializados, com a deca-
dência da imprensa política funde-se a esta.
As transformações que se faziam acontecer eram bastante signifi-
cativas; a burguesia é a classe consumidora da leitura de emoção e de en-
tretenimento. Chega, até nós, o folhetim que atende às exigências da de-
mocratização do jornal, e divulga de maneira mais ampla o que antes era
restrito a apenas um grupo social. Das duas espécies de folhetim - folhe-
tim-romance e folhetim-variedades – este último será o responsável pela
origem da crônica, tal como surgiu entre nós. A nova entidade literária,
que aparece no Brasil, incorpora-se ao espírito da imprensa periódica,
seu espaço, no jornal, surge fundamentalmente dedicado à amenização,
ao entretenimento, às questões cotidianas. Todas as formas e modalida-
des de entretenimento de leitura são absorvidas pelo novo espaço. Ali,
registra-se de tudo. Ao folhetinista cabe a tarefa de preencher seu folhe-
tim, o ofício de registrar os acontecimentos, emprestando-lhes sua sensi-
bilidade, num exercício de liberdade expressional.
De início – começos do século XIX – le feuilleton designa um lugar pre-
ciso do jornal: o rez-de-chaussée – rés-do-chão, rodapé, geralmente de primei-
ra página. Tem uma finalidade precisa: é um espaço vazio destinado ao entre-
tenimento. E já se pode dizer que tudo o que haverá de constituir a matéria e o
modo da crônica à brasileira já é, desde a origem, a vocação primeira desse
espaço geográfico do jornal. (MEYER, 1992, p. 93).

Ao nascimento da crônica e ao exercício do folhetinista, Machado


de Assis faz em 1859, na revista O Espelho, observa:
Mas comecemos por definir a nova entidade literária. O folhetim, disse eu
em outra parte, e debaixo de outro pseudônimo, o folhetim nasceu no jornal, o
folhetinista por consequência do jornalista. (...) O folhetinista é a fusão agra-
dável do útil e do fútil, o parto curioso e singular do sério, consorciado com o
frívolo. Estes dois elementos, arredados como polos, heterogêneos como água
e fogo, casam-se perfeitamente na organização do novo animal.

Brayner (1992, p. 416), sobre a produção cronística de Machado


de Assis, mostra um escritor que se valeu da crônica durante quarenta
anos que contribuiu para a sedimentação de sua produção literária: “Na

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obra machadiana a crônica não é um texto-ponte para outros, os ‘maio-
res’. É a solda capaz de unir uma produção literária de mais de quarenta
anos”.
Ao participar, durante muito tempo, como cronista do Diário do
Rio de Janeiro, Semana Ilustrada, O Futuro, Ilustração Brasileira e em
O Cruzeiro, a parceria entre a literatura e o jornal traduz a opinião de
Machado de Assis sobre a atividade do jornalista e do folhetinista: ao
primeiro reserva “a luz séria e vigorosa, a reflexão, a observação profun-
da; ao segundo, o devaneio e a leviandade”. A obra de Machado de As-
sis, entretanto, valeu-se enormemente deste novo veículo de transição,
por utilizar-se dela como experimento para o exercício da narrativa. E
desde as frivolidades e amenidades aos assuntos polêmicos e nobres,
Machado emprestou seu olhar de cronista maior.
A referência à novidade que circula nos jornais feita nos textos de
grandes escritores vale como análise da importância que o folhetim toma
ao assumir, paulatinamente, um lugar de atenção entre os espaços dedi-
cados até então a publicações jornalísticas ou literárias, o que gerou e-
norme repercussão. O folhetim representa um signo literário diferente. E
é Machado de Assis um dos escritores que talvez mais tenha usado refe-
rências sobre o novo objeto em seus romances e contos.

4. O gênero ganha espaço: a delícia de ser o que é


Coutinho (1997, p.118) apresenta-nos o ensaio, do inglês essay
como uma modalidade que exige delimitação de significação para o esta-
belecimento da diferença entre tal objeto e crônica, visto que, muitas ve-
zes, as definições podem causar confusão – “a essência do ensaio reside
em sua relação com a palavra falada e com elocução oral”. Informal es-
says e formal essays definiam a natureza dos ensaios. O primeiro ficava
caracterizado pela linguagem oral, familiar, pela impressão pessoal do
ensaísta de suas experiências, lembranças, recordações, fatos de seu tem-
po; o segundo, o conceito de estudo de reflexão. Entre nós, o sentido de
ensaio transpôs a significação antes estabelecida: os informal essays, que
exprimem o espírito livre, revelam reações pessoais, tornou-se a crônica.
A crônica é, portanto, o texto leve, a expressão do cotidiano. Não obstan-
te, entende-se facilmente por que a crônica tenha se aclimatado tão bem
no jornal – “fusão admirável o útil ao fútil, o parto curioso e singular do
sério, consorciado com o frívolo”, segundo Machado de Assis, em O Es-
pelho, não excluindo a marcada expressão lírica.

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A crônica propaga-se e o folhetim passa a designar o espaço, a se-
ção na qual eram publicadas as crônicas e outras formas literárias. Neste
espaço são publicados, em capítulos, os textos de ficção. Alencar, que es-
treou como folhetinista do Jornal do Correio Mercantil, do Rio de Janei-
ro, em 1854; Manuel Antônio de Almeida e Lima Barreto são exemplos
de escritores que usaram o espaço para seus exercícios de literatura.
Nessa trajetória, tantas vezes intrincada, e que coloca a crônica
como objeto de discussão, ao se pesquisar sua origem e função, é que o
gênero assume um papel de texto independente, suscitando uma investi-
gação para o questionamento que tantas vezes fica à deriva de análise: o
que seria a crônica. E numa observação mais cuidadosa verifica-se o que
vai representar em termos literários esta nova entidade literária.
O desenvolvimento notadamente técnico e científico marca as
primeiras décadas do século XX. Novas ideias, ao sabor da ciência, ga-
nhavam espaço na vida cotidiana do homem. Sinais da nova civilização
que surgia manifesta-se, na busca, sobretudo na valorização de outros
modos de expressão. Além da tentativa de ruptura com os valores tradi-
cionais, o espírito moderno busca uma reinterpretação da vida presente e
do progresso; incorporação do cotidiano e do popular à literatura. O de-
sejo de buscar novos horizontes e caminhos para as manifestações artísti-
cas e resgate da identidade nacional, o sentimento íntimo brasileiro, reve-
la ser a crônica um dos recursos narrativos caracterizadores deste mo-
mento.
Do espaço reservado ao espírito do jornal, a crônica ganha asas,
liberta-se e passa a viver por si mesma. Com o advento do Modernismo,
um grupo substancioso de escritores adere ao novo prazer e escrevem
crônicas: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Vinícius, Drummond.
Cada um deles emprestando ao texto cronístico seu estilo; imprimindo ali
suas emoções, sua visão de mundo, seu olhar bastante subjetivo da reali-
dade, dos fatos e dos acontecimentos. O plano expressivo do escritor será
o elemento que irá traçar a diferença na maneira de abordar os assuntos.
Mais uma vez a crônica servirá de laboratório literário, de experimenta-
ção para a impressão do escritor sobre os acontecimentos que cercam a
vida do homem do século XX.
Seguindo a tendência do momento e de outros e de outros gêneros, a crô-
nica se convertia num meio de mapear e descobrir um país heterogêneo e
complexo, largamente desconhecido de seus próprios habitantes, caracterizado
pelo desenvolvimento histórico desigual, de modo que o processo de moderni-
zação podia ser acompanhado pelos contrastes entre os bolsões de prosperida-
de e vastas áreas de miséria, e o próprio mundo moderno parecia nascer de

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mistura com traços remanescentes de velhas estruturas da sociedade tradicio-
nal. É assim que uma consciência mais abrangente do país passa a reger o es-
pírito da crônica modernista. (ARRIGUCCI, 1987, p. 63).

“A vida além da notícia” como salienta o crítico Portela (1985)


vai oferecendo à crônica outros caminhos a serem trilhados. Do espaço
reservado às amenidades, o texto vai ganhando a força e transcendência e
o que era de cunho jornalístico e urbano espraia-se, proporcionando que
a subjetividade do escritor supere a objetividade do cronista. E ela, a crô-
nica, assume caráter de gênero literário autônomo e substitui, tal como se
estabelece entre nós, o essay dos ingleses.
O espírito de independência e de autonomia da crônica leva Cou-
tinho (1997) a inseri-la em diversas categorias: a crônica narrativa; a crô-
nica-comentário, aquela que visa à divulgação de fatos, à informação; a
crônica metafísica, que possibilita as reflexões filosóficas e, ainda, a crô-
nica-poema em prosa.
De natureza ensaística ou de natureza literária, outros elementos
envolvem a crônica e exigem esclarecimentos e atenção. Crônica e lin-
guagem, crônica e caráter literário, crônica e livro são reflexões que per-
meiam a anatomia que o texto assumiu a partir do momento que ganha
adeptos entre a literatura. Num primeiro olhar é preciso investigar o que
está estabelecido como padrão linguístico da crônica: nela deve-se buscar
linguagem da atualidade, sem, no entanto, desviá-la de expressões carac-
terísticas do momento em que é produzida, são as marcas temporais que
a conectam com o chronos, a noção de contemporaneidade do escritor
com seu tempo. A relação entre a sua origem jornalística tem muitas ve-
zes desviado a crônica do papel literário que ela pode, legitimamente, de-
sempenhar. Considerada por alguns estudiosos como gênero anfíbio, que
tanto vive das páginas efêmeras de um jornal quanto da “imortalidade”
que o livro pode oferecer, a crônica tem escorregado por entre estudos e
definições.
Então, a uma só vez, ela pode penetrar agudamente na substância íntima
de seu tempo e esquivar-se da corrosão dos anos, como se nela se pudesse
sempre renovar, aos olhos de um leitor atual, um teor de verdade íntima, hu-
mana e histórica, impresso na massa passageira dos fatos esfarelando-se na di-
reção do passado. (ARRIGUCCI, 1987, p. 53).

A definição de crônica e suas relações com outros campos do co-


nhecimento atestam a sua importância no cenário cultural e literário bra-
sileiro, responsável pela importância que a nova entidade representa, o-
cupando um lugar tão relevante quanto de outras espécies literárias de

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tradição. Esta mobilidade que a crônica se permite somada ao espírito da
modernidade a faz incorporar o status de objeto literário, feito para per-
manecer.

5. Crônica e Literatura: o status literário da crônica


Acreditando não estar a crítica literária presa à investigação subje-
tiva, nem proceder ao julgamento insensível do autor e de sua obra e en-
tendendo estar ela ligada a métodos, o olhar da crítica literária parece ter
evoluído ao receber a abertura teórica da reflexão contemporânea, incor-
porando uma série de orientações que se coadunam em um mesmo pen-
samento, sem perder o rigor frente ao fenômeno literário. O crítico Por-
tella (1985, p. 42-44) verifica que "quando o conhecimento da literatura
começou a se constituir criticamente, reflexivamente, ele instaurou uma
ampla controvérsia metodológica, a qual se apoiou em bases científicas:
a crítica deixava de ser uma leitura vertical para se converter num levan-
tamento topográfico de emoções fáceis" (lbidem, p. 44). A crítica literária
de bases científicas encontrava obstáculos. Entretanto sua evolução tor-
nou-se consequência no desenvolvimento no universo da criação literá-
ria.
A crítica literária tradicional mantinha aprisionadas nos porões da
não literatura aquelas obras de maior receptividade da massa leitora.
Benjamin (1969, p. 15-47) quando apregoa a queda da "aura de sacrali-
dade" do objeto estético, favorece a dessacralização da Arte, abrindo uma
trincheira para a penetração de uma literatura não mais pertencente ape-
nas a uma elite produtora da obra literária.
A atividade de consumo proporcionou o estabelecimento de uma
separação entre o que era considerado literário pela crítica e o que privi-
legiava a estrutura de consumo, qualificada de não literatura, subliteratu-
ra. Nesse universo as reflexões recaem na classificação de literatura e pa-
raliteratura, Portella (1985, p. 150) mostra que:
O espaço vazio que separa a literatura exaurida da literatura por vir, é fre-
quentemente preenchido por variadas modalidades expressivas a que se procu-
ra denominar paraliteratura ou se poderia chamar pré-literatura, semiliteratura,
antiliteratura ou mesmo posliteratura. [...] A paraliteratura ou literatura de
massa é assim qualquer texto de efeito sem ou com reduzida literariedade.

Mais adiante, salienta:


Essa realização imprecisa eu fluida faz a felicidade e ocupa as horas de
lazer do grande auditório do mundo. De um lado porque o fazer literário arti-

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ficializado e ocioso assistiu passivamente à sua derrocada. De outro lado por-
que os produtos paraliterários emergentes foram adquirindo uma total vibra-
ção expressiva [...]

Assim, a classificação de literatura e paraliteratura parecia obser-


var critérios subjetivos do crítico e da crítica literária. Em nossa história
literária, em virtude de um momento de crise, a chamada paraliteratura
marcou presença pela ausência de um signo poético legítimo, como já
observado anteriormente nos textos dos viajantes. Sermões, anedotas, o
jornal, as revistas constituem a produção paraliterária, exercendo nota-
damente influência na massa, amparados pela engrenagem do consumo,
despertando aí, talvez, seu caráter de não literatura.
A crônica brasileira, apoiada na produção voltada para a massa,
disputa espaço junto ao romance, o poema e o conto. O caráter transitório
deste gênero tem levado a crítica a refletir sobre a permanência deste ob-
jeto estético.
Entretanto, ao entender que o discurso literário se resolve no nível
da linguagem e que ela é a fonte da criação, quando rompe as relações
exatas entre o significante e o significado, o signo poético se estabelece.
Portanto, quando o cronista instaura em seu texto a transgressão da lin-
guagem, ele retira acrônica, antes confinada à paraliteratura, do universo
do não literário:
O que interessa é que a crônica, acusada injustamente como um desdo-
bramento marginal ou periférico do fazer literário, é o próprio fazer literário.
E quando não o é, não é por culpa dela, a crônica, mas por culpa dele, o cro-
nista. Aquele que se apega à notícia, que não é capaz de construir uma exis-
tência além do cotidiano, este se perde no dia a dia e tem apenas a vida efême-
ra do jornal. Os outros, esses transcendem e permanecem (PORTELLA, 1985,
p. 156-157).

A poética ensina que a essência da poesia consiste nas dimensões


translinguísticas abarcadas pela linguagem literária, refutando uma visão
de linguagem como apenas uma relação de significado e significante. A
linguagem poética encontra na linguística os moldes para sua criação, o
instrumento que possibilita o estabelecimento do ser literário, entretanto
a linguagem literária rompe o modelo linguístico e projeta a linguagem a
outra dimensão. Para se entender o ser da literatura e o que lhe é inerente,
é necessário investigar a linguagem que alimenta a literatura, na qual ela
cria novos significados. A chave já não é mais a dicotomia saussuriana,
mas uma relação tridimensional que estabelece o fenômeno literário e
que possibilita o entendimento da literatura: "A expressividade da obra
de arte, a novidade de sua estruturação, reside precisamente nessa força

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de apresentar dimensões heterogênicas, deixando sempre transparecera
unidade". (PORTELLA, 1985, p. 67).
A linguagem literária tem-se voltado, cada vez mais, para a natu-
reza do discurso; a literatura da modernidade descobriu sua função lúdi-
ca, afastando-se da pureza estética dos clássicos e da importância semân-
tica dos românticos, e encontra assim, sua especificidade poética no Mo-
dernismo. Os gêneros e as espécies literárias transpuseram seus limites
metodológicos e são concebidos pelo escritor cada vez mais faminto de
novidade. É o que assinala Teles (1989, p. 331):
Quer dizer, todo o peso das convenções literárias se tornará insuficiente
para redimir a literatura, que começa a reduzir-se a si mesma para a natureza
do discurso. Todos os gêneros, todas as espécies - tiveram de uma hora para
outra o seu papel invertido: em vez de serem o ponto de partida da linguagem,
passaram a ser o ponto de chegada.

Na descrição dos gêneros literários, a teoria clássica apoia-se na


afirmação de que cada gênero é único e difere quanto à natureza e ao
prestígio, e que sua fusão não deve ser permitida. Já uma teoria moderna
acredita na miscigenação dos gêneros. A crônica revitaliza a segunda teo-
ria, talvez se inserida num posgnero em função de seu transitar pelo uni-
verso literário consagrado pelas grandes obras. Ao apresentar um texto
para a apreciação de um estudo crítico, este procedimento irá suscitar um
princípio ordenador, uma aplicação da teoria dos gêneros para organiza-
ção de sua estrutura. Contudo, inserir a crônica numa espécie literária a-
penas levará tal atividade para um terreno inóspito - o caráter ambíguo da
crônica, sua aproximação com outras espécies, e sua própria caracteriza-
ção no território dos gêneros, provará que essa delimitação de cunho di-
dático verificará a certeza de que os gêneros literários não se excluem,
antes, se completam e se miscigenam. Essa é uma característica da litera-
tura da modernidade e da moderna teoria dos gêneros que não impõe li-
mite às espécies literárias, nem coloca o autor preso em regras. O prazer
do texto literário está ligado à dilatação das sensações e como fundamen-
ta Wellek (p. 299) "O gênero representa, por assim dizer, uma soma de
processos técnicos existente, de que o escritor pode lançar mão e dispor
[...] o bom escritor observa o gênero [...] estende-o, dilata-o".
Qualquer historiador da fase contemporânea da literatura brasileira que
desconheça a crônica como um fato literário peculiar desse período, estará su-
jeito a nos apresentar apenas uma visão mutilada ou incompleta. A crônica,
que invadiu ou foi invadida pela poesia, e se instalou no coloquial modernista,
multiplicando a sua força expressiva, que, mais do que tudo, desenhou o seu
próprio perfil autônomo, é, em face mesmo daquela ambiguidade congênita,
uma manifestação superlativa de literatura (PORTELLA, 1985, p. 158).

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No universo da validade e da valoração como observa Wellek (p.
302) "os homens devem dar valor à literatura por ela ser o que é; devem
valorá-la em função e no grau do seu valor literário", e compreendida
desse modo, a crônica como instrumento responsável pela formação da
identidade brasileira, conquistou seu caráter de objeto permanente, sobre-
tudo com as propostas do Modernismo, alcançando, assim no dizer de
Arrigucci (1987, p. 53),
a espessura de texto literário, tornando-se, pela elaboração da linguagem, pela
complexidade interna, pela penetração psicológica e social, pela força poética
ou pelo humor, uma forma de conhecimento de meandros sutis de nossa reali-
dade e de nossa história.

6. Considerações finais
O percurso da crônica revela-se, a partir de Fernão Lopes, cronista
português, o caminho para a pesquisa do gênero, observando-se a ótica
da informação e da documentação como uma narrativa de olhar notada-
mente subjetivo.
A partir do século XX, a crônica ganha espaço nos jornais e im-
prime sua marca definitiva e diferenciada da identidade brasileira. José
de Alencar e Machado de Assis fazem dela e do espaço reservado a ela
no jornal o laboratório, abrindo, assim, as portas para a participação de
outros escritores.
Com o advento do Modernismo, muitos escritores absorvem o
novo gênero e colocam-no nos limites da literatura ao atribuírem à crôni-
ca a relevância de objeto literário quando comprovam que as abordagens
do cotidiano não impedem transpor o gênero para o caráter de texto lite-
rário.
E a crônica estabelece-se como via de prospecção de uma literatu-
ra urbana e, em virtude de suas características estruturais, democratiza o
acesso ao universo do literário, até então, intocável e sagrado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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comentário: ensaios sobre literatura e experiência. São Paulo: Cia. das
Letras, 1987.

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Aspectos da crônica no Brasil: uma reflexão crítica, p.133 - 142

ASPECTOS DA CRÔNICA NO BRASIL:


UMA REFLEXÃO CRÍTICA

William Valentine Redmond (CES/JF)

Artigo recebido em: 11/11/2009


Aceito para publicação:21/12/2009

RESUMO
A crônica em geral, a sua natureza, o seu desenvolvimento e o seu significado na
literatura do Brasil.
Palavras-chave: Crônica. Natureza. Desenvolvimento

ABSTRACT
The literary form of the chronicle in Brazil, its nature and its development. The
place it has acquired in the literature of Brazil.
Keywords: The chronicle. Nature. Development.

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A crônica, em seu sentido geral, é um breve comentário sobre algum


fato do cotidiano. Trata-se de um gênero literário produzido para ser
veiculado na imprensa, de finalidade utilitária, com o objetivo de agradar aos
leitores dentro de um espaço de mesma localização. Poética ou irônica, seu
motivo são os pequenos acontecimentos: a notícia em que ninguém prestou
atenção, cenas do cotidiano, tudo o que é corriqueiro, criando-se, assim, no
transcurso do tempo - dias, semanas - uma familiaridade entre o escritor e
aqueles que o leem.
Porém, existe muita controvérsia sobre a natureza, a definição e o
significado da Crônica. Algumas sugestões de definições mostram essa
complexidade.
“Peça literária em prosa, de pequena extensão, que versa o dia-a-dia”.
(ROCHA, 1996, p.178). Aqui, a ligação com a literatura é evidente, bem
como a identificação temática. No entanto, é aconselhável afirmar que a
temática é sempre o cotidiano?
Mesmo entre aqueles que a produzem, não há um acordo. Na abertura
do livro da série Para gostar de ler: Porta de colégio e outras crônicas, Affonso
Romano de Sant’Anna discorre sobre o que é ser cronista:

O que é um cronista? Luís Fernando Veríssimo diz que o cronista


é como uma galinha, bota seu ovo regularmente. Carlos Eduardo
Novaes diz que crônicas são como laranjas, podem ser doces
ou azedas e ser consumidas em gomos ou pedaços, na poltrona
de casa ou espremidas nas salas de aula. Já andei dizendo que
o cronista é um estilista. Não confundam, por enquanto, com
estilista. Estilista era o santo que ficava anos e anos em cima de
uma coluna, no deserto, meditando e pregando. [...] O cronista é
isso: fica pregando lá de cima de sua coluna no jornal. [...] Que tipo
de crônicas escrevo? De vários tipos. Conto casos, faço descrições,
anoto momentos líricos, faço críticas sociais. Uma das funções da
crônica é interferir no cotidiano. (1995, p. 3-4)

Reafirma-se que é impossível classificar a crônica de forma fechada,


visto que sua estrutura variada e variável a caracteriza como um tipo de texto
adequado à sociedade contemporânea.
Antonio Candido (1992), importante estudioso da crônica, contribui
para este estudo e sugere uma classificação para o gênero, apontando quatro
tipos de crônicas:
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a) Crônica diálogo: conversa do cronista com seu interlocutor imaginário


ou uma conversa entre os personagens criados pelo autor.
b) Crônica narrativa: aproxima-se do conto, apresentada em histórias
curtas, diálogos ágeis, de final imprevisto e surpreendente, possui unidade de
ação, tempo e espaço. Personagem e situações ficcionais próprias do gênero
narrativo são uma verdade constante do gênero.
c) Crônica de exposição poética: é a divagação, de forma lírica, sobre
um fato ou personagem.
d) Crônica biográfica lírica: narra, de forma poética, a vida de alguém.
Esta é uma forma de os autores prestarem reverência a seus colegas. Em
“Estorinha de Rubem Braga”, de Sant’Anna (1995, p. 12), há um relato sobre
o autor:

Rubem Braga não era de falar muito. Em geral, pontuava as


conversas alheias com observações precisas e irônicas, feitas com
a cara mais séria do mundo. Mas, vez por outra, punha-se a falar.
Era raro, mas punha-se a falar sequencialmente, sobretudo quando
tinha uma estória a contar.

Cândido (1992) em A vida ao rés do chão questiona a expressão


“gênero menor” e assinala “para os milagres operados pela simplificação
e naturalidade”. Apoiado nesses dois aspectos, este estudo verifica que a
questão da simplicidade linguística e temática e até mesmo o caráter breve do
texto cronístico são elementos que facilitam o acesso do leitor à visão humana
no que diz respeito ao seu cotidiano. O que Antonio Candido propõe, ao
dizer que ao não lançar mão da grandiloquência e, ainda, que a perspectiva
do cronista não seja a dos que escrevem do alto da montanha, mas do
simples rés do chão: é que a crônica pode assumir caráter de texto literário
e seu comprometimento com a temática cotidiana poderá vir impregnado
de elementos expressivos que possibilitam perceber outras ligações do texto
com aquelas não preestabelecidas. Segundo Portella (1979, p.15), “[...] o que
interessa é que a crônica acusada injustamente como um desdobramento
marginal ou periférico do fazer literário, é o próprio fazer literário”.
Nos primeiros anos após o Descobrimento do Brasil, Pero Vaz de
Caminha enviou ao El-rei, D. Manuel, uma carta assinalando o momento
quando, pela primeira vez, a paisagem brasileira despertou o entusiasmo de

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um cronista, oferecendo-lhe a matéria para o texto que seria considerado a


certidão de nascimento do país. Caminha (1999, p. 11) buscou a fidelidade
ao relatar os fatos:

Senhor. Mesmo que o Capitão-mor desta vossa frota e também os


outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento
desta vossa Terra Nova que, agora, nesta navegação se achou, não
deixarei, também, de dar disso minha conta a Vossa Alteza, tal
como eu melhor puder, ainda que para bem contar e falar o saiba
fazer pior que todos. Mas tome Vossa Alteza minha ignorância por
boa vontade; e creia, como certo, que não hei de pôr aqui mais
que aquilo que vi e me pareceu, nem para aformosear nem para
afear.

Segundo alguns historiadores e críticos literários, a Carta de Caminha


pode ser considerada o marco inicial da crônica no Brasil, levando-se em
conta que essa narrativa, enquanto relato histórico, possui características
próprias da crônica.
Outros cronistas portugueses além de Caminha noticiaram aos europeus
o aspecto exótico e as possibilidades de exploração das terras brasileiras.
Destacam-se, entre eles, Pero Lopes de Souza, Pero de Magalhães Gândavo
e Gabriel Soares de Souza. Em paralelo à crônica narrativa dos aspectos
gerais dos novos territórios, existe a crônica dos jesuítas, cujos precursores
foram Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e José de Anchieta – missionários
e religiosos que tinham como objetivo principal documentar os passos da
catequese indígena. No sentido histórico da palavra, podemos designar como
crônicas todos os textos produzidos por eles.
Em 1854, José de Alencar passa a assinar a série “Ao correr da pena”
a convite do amigo Francisco Otaviano para ser folhetinista do Correio
Mercantil. Aos 25 anos, Alencar, em um de seus primeiros textos, inquieto
diante da angústia de ver uma nova semana começar, imaginando o trabalho
que virá pela frente, diante da sucessão de fatos a serem comentados no
domingo seguinte: saraus, bailes, além das notícias, após fazer um breve
relato da inauguração do Jockey Club, faz considerações acerca do folhetim
com alguma ironia, assim compreendido como a crônica dominical. Os textos
tinham características mais informativas, relatando fatos e acontecimentos
da sociedade. Resumia-se o texto a “um rodapé onde eram publicados

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pequenos contos, pequenos artigos, ensaios breves, poemas em prosa”. (SÁ,


1985, p. 8).
A partir do século XIX, João do Rio (pseudônimo de Paulo Barreto), que
simbolizou uma outra fase da crônica no Brasil, é apontado por Sá (1985,
p. 9) como o responsável pela roupagem literária que caracterizou a crônica
desde então:

João do Rio consagrou-se como cronista mundano, que, ao


invés de um simples registro do formal, fazia o comentário dos
acontecimentos que tanto podiam ser do conhecimento público
quanto da imaginação do cronista, tudo examinado pelo ângulo
da recriação do real. Ele inventava personagens e dava aos seus
relatos um toque ficcional.

Em estudos de Coutinho (2003, p. 121-127) há o esclarecimento de


que os pequenos contos, poemas em prosa, ensaios breves e outras séries
de gêneros apresentados tinham como destino informar os acontecimentos
do dia ou da semana, mas sem a característica jornalística das outras seções
do jornal e muito menos o olhar crítico e o conteúdo político das crônicas
de Machado de Assis que se destinavam a tecer comentários irônicos e,
muitas vezes, divertidos sobre as principais notícias políticas e econômicas
da semana. Então, por trás dessa aparente despretensão, o objetivo do autor
era conquistar a confiança por meio do riso para depois rompê-la, fazendo
assim, do leitor, uma vítima do próprio riso do qual compartilha. Machado de
Assis, em 1859, indicado por Quintino Bocaiúva, entrou para a redação do
Diário do Rio de Janeiro, onde exerceria as funções de cronista. Escreveu na
Semana Ilustrada (1860-1875), n’O Futuro (1862), na Ilustração Brasileira
(1876-1878), no Cruzeiro (1878) e, por fim, na Gazeta de Notícias, a partir de
1881. Suas crônicas estavam repletas em maior ou menor escala de correntes
literárias de sua época, montando peça por peça um verdadeiro mosaico do
Rio de Janeiro, em profundas transformações, ensejando a célebre slogan de
Figueiredo Pimentel: “O Rio civiliza-se”.
Sendo assim, a narrativa cronística passou a circular nas páginas dos
jornais impressos em forma de folhetins, caracterizada por uma autonomia
estético-estilística que a valorizou como gênero literário. Em princípio, os
textos eram editados em sequências e possuíam uma extensa narração. O
leitor era tão envolvido no enredo e nos relatos dos acontecimentos que
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sentia a obrigação de acompanhar as próximas edições. Candido (1992, p.


15) comenta sua evolução: “Aos poucos o folhetim foi encurtando e ganhando
certa gratuidade, certo ar de quem está escrevendo à toa, sem dar muita
importância. Depois, entrou francamente pelo tom ligeiro e encolheu de
tamanho, até chegar ao que é hoje”.
Sônia Brayner no ensaio “Machado de Assis: um cronista de quatro
décadas” (p. 416), sobre a produção cronística do autor, mostra um escritor
com olhar observador que não fez da crônica um “texto-ponte”, mas um
cimento para sedimentação de toda sua produção literária: “Na obra
machadiana a crônica não é um texto-ponte para outros, os “maiores”. É a
solda capaz de unir uma produção literária de mais de quarenta anos”.
Cumpre ressaltar que, somente no século XX, a crônica firmou-se como
um texto com enormes possibilidades significativas, temáticas e linguísticas.
Literalmente, esse gênero adquiriu dois sentidos. Em caráter de relato
histórico, que é o significado tradicional pela sua etimologia e com uma
nova roupagem, passou a ser usada com o sentido específico generalizado
em literatura estritamente ligada ao jornalismo. Então, os jornais passaram a
publicar uma seção, via de regra semanal, em que Machado de Assis adotava
o pseudônimo “Dr. Semana” para as crônicas publicadas em A Semana.
Assim, os relatos e comentários de fatos do cotidiano presentes em pequena
seção dos jornais da época levaram o vocábulo “crônica” a adquirir outro
significado. Tornou-se, então, parte integrante do jornal ou ainda um suporte
que conferiu a esse gênero textual novas características. Ilustrava as incertezas,
as angústias e as inquietações do homem num ambiente urbano que refletia
os sintomas de uma sociedade capitalista, seduzida pelo consumo e pela
fugacidade da vida moderna.
Sob a atmosfera do Romantismo, o jornal cresceu no Brasil, o que
contribuiu para o acento lírico predominar sobre a crônica, passando esta a
ser concebida como sinônimo de gênero literário, mantendo interrelações
com a prosa ou a poesia.
Por volta de 1930, a crônica moderna definiu-se e consolidou-se como
gênero textual brasileiro. Grandes mestres da literatura se firmaram, dentre os
quais Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade,
Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Érico Veríssimo e
Clarice Lispector – esta se destacou de maneira exclusiva para a crônica.

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Braga é conhecido como um dos cronistas brasileiros que conheceram


com profundidade a importância dos mínimos detalhes do quebra-cabeça da
vida. Dotado de uma sensibilidade notável e um aguçado lirismo reflexivo,
escreveu contos, novelas e romances, ocupando um lugar de destaque na
história da crônica brasileira.
A Semana de Arte Moderna, de 1922, incitou um movimento de
brasilidade, favorecendo a produção da literatura local e valorizando
os assuntos e estilos referentes ao Brasil. Nesse momento, ocorreram as
principais alterações no processo textual da crônica. Nos textos, as temáticas
e a linguagem foram se aproximando da realidade nacional. E a partir
dessa realidade, toda a imprensa brasileira foi influenciada pelas alterações
linguísticas e aderiu à simplicidade nos textos. Os escritores, estimulados,
tiveram uma nova visão, deixaram de lado o estilo discursivo e formal dos
textos e passaram a produzir suas obras em linguagem coloquial.
Nas décadas de 40 e 50, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos,
influenciados pela nova tendência modernista, beneficiaram-se da nova
roupagem da crônica brasileira que deixa de ser um comentário argumentativo
e expansivo e passa à conversa fiada, mantendo um ar despreocupado.
Entretanto, apresentam uma escrita belíssima, criativa e liricamente literária,
deixando transparecer, por meio de seus textos, uma simplicidade muito
significativa.
O fato de escrever crônicas parece obrigar o cronista a estabelecer
uma comunhão com seu meio e produzir um ar familiar. Assim, por meio da
singularidade e da diferença, consegue sutilmente aproximar-se de seu leitor
e fazer parte do ritual cotidiano. Além disso, consegue incorporar a visão do
leitor, dando-lhe oportunidade de captar o perfil do mundo e dos homens. É
admirável a comunhão entre o leitor e o cronista.
A crônica brasileira explora uma linguagem lírica, irônica, casual, ora
precisa, ora vaga, amparada por um diálogo rápido e certeiro. Registra o
circunstancial e o efêmero; o real é recriado com engenho e arte. Cultiva a
função poética da linguagem, imprime leveza ao discurso, revela e valoriza,
na visão do autor, a crítica de um momento histórico, atenuando o vínculo
de temporalidade que eterniza o texto.
A crônica, por possuir uma linguagem que se aproxima do modo
de ser mais natural das pessoas, age como uma quebra monumental e dá

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ênfase aos fatos, apresentando uma singularidade insuspeitável. Estende-se,


notadamente, às outras formas literárias, tais como livros, revistas, telejornais,
entre outros, podendo-se afirmar que é apreciada por ilustres e consagrados
escritores. No texto “Há mil e tantas crônicas”, publicado em O Globo, em 5
de novembro de 1978, Artur da Távola (1985 p. 54) faz referência ao gênero,
afirmando:

A crônica é (e será) a leitura do futuro: compacta, rápida, direta,


aguda, penetrante, instantânea (dissolve-se com o uso diário). [...]
A crônica é um hiato, uma interrupção da notícia, um suspiro da
frase, um desabafo do parágrafo, um relax do estilo direto e seco da
escrita do jornal, do qual se arroga ser o hiato literário, a literatura
do jornal. O jornalismo da literatura. Literatura jornalística. Uma
pausa de subjetividade, ao lado da objetividade da informação. Um
instante de reflexão, diante da opinião peremptória da editoria.

Assim, a partir das considerações apresentadas, pode-se afirmar


que, historicamente, desde o século XIX, há poucas mudanças na estrutura
da crônica, pois não há uma regra para a redação desse tipo de texto
formalmente elaborado. Entre as primeiras crônicas de Machado de Assis e as
mais recentes de Veríssimo, por exemplo, há elementos muito próximos que
vão além da temática, apesar de todas as mudanças ocorridas na sociedade
brasileira desde os seus primórdios. Machado de Assis (1994, p. 10) assim se
expressa sobre a origem da crônica:

Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas


há toda a probabilidade de crer que foi coletânea das primeiras duas
vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à
porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram
a lastimar-se do calor. Uma dizia que não pudera comer ao jantar,
outra que tinha a camisa mais ensopada do que as ervas que
comera. Passar as ervas às plantações do morador fronteiro, e logo
às tropelias amatórias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais
fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica.

Ao analisar alguns aspectos da crônica, pode-se afirmar que se trata


de um gênero brasileiro, considerado por muitos um gênero menor e maior.
Menor pela sua origem, características e classificação de alguns estudiosos
em literatura. A crônica é quase sempre um texto curto, apressado, redigido

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numa linguagem informal e simples, muito próxima do leitor. No entanto,


é maior pela sua complexidade em questões do cotidiano, encontrada em
jornais, diversificando assuntos políticos, sociais, artísticos, literários, enfim,
quando coloca o ser humano em “foco”. Observa-se que a crônica atinge a
transcendência literária, tornando-se um gênero autônomo “[...] altamente
pessoal, uma reação individual, íntima ante o espetáculo da vida, coisas,
seres” (COUTINHO, 2003, p. 136).
Antonio Candido, professor e crítico literário, assim escreveu sobre a
crônica:

A crônica não é um ‘gênero maior’. Não se imagina uma literatura


feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos
grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em
atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse.
Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor. ‘Graças
a Deus’, - seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto
de nós. (CANDIDO, 1980, p. 5)

Concorda-se com o autor sobre a grandiosidade da crônica se


encontrar na sua aproximação com o leitor e seu mundo através da narração
do cotidiano, que retrata os aspectos de uma época.

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William Valentine Redmond

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Aberto, 1999.

CANDIDO, Antonio. A vida ao rés-do-chão. In: ANDRADE, Carlos Drummond de


et al. Para gostar de ler: crônicas. São Paulo: Ática, 1980. v. 5, p. 5-23.

______. A vida ao rés-do-chão. In: ______. A crônica: o gênero, sua fixação e suas
transformações no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992.
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COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil: relações e perspectivas. 6. ed. Rio de


Janeiro: Global, 2003.

PORTELLA, Eduardo. Visão prospectiva da literatura brasileira. In: ______.


Vocabulário técnico da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Ouro, 1979. p. 23-44.

SÁ, Jorge de. A crônica. 2. ed. São Paulo: Ática, 1985.

SANT’ANNA, Affonso Romano de. Para gostar de ler: porta de colégio e outras
crônicas. São Paulo: Ática, 1995. v. 16.

TÁVOLA, Artur da. Ser jovem. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias da vida privada: 101 crônicas escolhidas.


Porto Alegre: L&PM, 1982.

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Ouro Preto - MG – 28 a 30/06/2012

A crônica como interseção entre jornalismo e literatura1

Gabriela RAMOS2
Universidade Federal do Ceará

RESUMO

Gênero ambíguo, que passeia pelo jornalismo e pela literatura – tendo nascido com
características de texto histórico – a crônica apresenta muito das transformações na
imprensa brasileira. Da imprensa artesanal até a industrial, o gênero foi se desenhando e
apresenta-se hoje como tipicamente brasileiro. Com base em estudiosos de jornalismo e
de literatura – como Hélio Arnt e Massaud Moisés – serão feitas observações sobre as
mudanças ocorridas na imprensa e no gênero crônica, focando no conceito de crônica-
conto.

PALAVRAS-CHAVE: crônica; jornalismo; literatura; história.

Introdução
A crônica, gênero brasileiro eminentemente híbrido, tem estruturas
narrativas que passeiam pelo jornalismo e pela literatura, cuja poeticidade ficcional das
sensações e dos sentimentos universais humanos é transmitida por meio de uma
estrutura verossímil. Normalmente publicada em jornais e revistas, a crônica fica entre a
morte simbólica do jornal no fim do dia, com as informações velhas, e a permanência
como texto literário, proporcionada com a publicação em livro.
Com uma estrutura que está longe de ser estática, a crônica vai se
desenhando dentro das transformações ocorridas durante os períodos históricos. Alguns
teóricos apontam como uma evolução dos folhetins do início do século XIX, os quais
tinham espaço nos rodapés das páginas das publicações impressas e, costumeiramente,
transformavam-se em livro, após reunião e edição dos textos que haviam sido
divulgados nos periódicos. A evolução para a crônica se dá no momento em que ela
ganha novas configurações nas suas características, com as mudanças no jornalismo e
na literatura na segunda metade do referido século.
A partir das novas estruturas que a crônica incorpora, identificam-se
possíveis subgêneros, também presentes nos folhetins de outrora, como a crônica de
variedades, a crônica de costumes e a crônica-conto. Os textos que apresentavam para a
1
Trabalho apresentado na Divisão Temática Jornalismo, da Intercom Júnior – Jornada de Iniciação Científica em
Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
2
Estudante de Graduação do 8º semestre do Curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, da UFC,
e-mail: gabiramossouza@gmail.com.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Ouro Preto - MG – 28 a 30/06/2012

população os acontecimentos e os costumes da província, mostrada a partir da opinião


de um narrador, com foco normalmente em terceira-pessoa são as ditas crônicas de
costumes. Já as crônicas-conto, de caráter literário não apresentam um padrão de foco
narrativo, variando com o estilo do autor e são as que mantêm o forte vínculo entre
jornalismo e literatura, podendo perdurar para a posteridade e são muitas vezes
classificadas como contos. No decorrer do trabalho e com a apresentação dos conceitos,
poderemos observar os passos para onde convergiram as mudanças dos tipos de textos
presentes na imprensa, sendo a crônica-conto uma conceituação que contempla as
mudanças da relação da literatura com as páginas dos periódicos.
Desse modo, o trabalho irá observar primeiramente, de forma breve, alguns
aspectos históricos da imprensa para então chegar as relações entre jornalismo e
literatura. Finalmente, serão observadas conceituações referentes aos conceitos de
crônica e crônica-conto, que mantém uma relação direta com o caráter literário.

1. Transformações no jornalismo do século XIX


A imprensa no Brasil sofreu uma série de transformações nos primeiros anos
desde o surgimento do primeiro jornal em 1808, a Gazeta do Rio de Janeiro. Por meio
da imprensa, as divergências políticas acaloravam as discussões, sendo usada como
forma de despertar opiniões e dar força na luta pelo poder. Porém, a luta não ficou só
nos jornais. Ela transcendeu para as ruas, nas manifestações, desde a Revolução de
1817, passando pela Confederação do Equador em 1824 e seguindo em outras
subsequentes – que mudaram as configurações sociais e marcaram a história brasileira3.
Com publicações mais voltadas para temas os políticos, a divulgação da
produção literária aos poucos ganhou espaço nas décadas seguinte. Em 1812, as
Variedades ou Ensaios de Literatura, da Bahia, teria sido o primeiro jornal literário do
País. “Foi um ensaio frustrado de periodismo” (Sodré, 1999:30). Mas, no ano seguinte,
1813, com a circulação no Rio de Janeiro da revista O Patriota4, se terá uma
manifestação intelectual significativa, mesmo com duração efêmera. No decorrer do

3
“(...) A imprensa se desenvolve em estreita ligação com a atividade política; aparece antes e cresce mais depressa
nos centros em que aquela atividade é mais intensa; demora e cresce lentamente nos outros, nas províncias que se
mantêm politicamente atrasadas. Chega ao máximo em todas as áreas em que, daí por diante, as formas de luta
política se apresentam mais variadas e avançadas: assim quando dos movimentos armados de rebelião que vão
sacudir o país na primeira metade do século XIX”. (Sodré, 1999:105)
4
Era uma revista voltada para a divulgação das ciências e das letras, onde foram publicados textos de Cláudio
Manuel da Costa e Tomás Antonio Gonzaga.
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referido século, as transformações no jornalismo aconteceram ao poucos e em ritmos


diferentes nas províncias do Império, dando espaço cada vez mais à literatura.
Com isso, traremos reflexão sobre as mudanças no jornalismo – até a
classificação da prática como atividade mercantil – a partir do pensamento de Jürgen
Habermas sobre a imprensa europeia. Apesar de se remeter a períodos anteriores, as
transformações podem ser observadas no Brasil. Habermas destaca que a partir das
mudanças da imprensa é possível compreender as transformações da esfera pública.
Inicialmente elaborados de forma artesanal e com pequenos lucros, os jornais vieram a
se solidificar como negócio de maior porte econômico apenas anos mais tarde, com a
automatização da redação. Primeiramente, as atividades e a atuação da imprensa eram
mais voltadas para um caráter informativo, por meio da coleta e organização das
informações. Porém, aos poucos o jornalismo de opinião ganhou espaço a partir do
início de novos períodos político e econômico.
Os jornais transformaram-se de puras organizações para publicar
notícias em, também, portadoras e condutoras da opinião pública,
meios de luta da política partidária. Isto teve, para a organização
interna da empresa jornalística, a conseqüência de haver se inserido
entre a coleta e a publicação de notícias um novo membro: a redação.
Para o editor de jornal, contudo, isso significou que ele passou de
vendedor da notícia a comerciante da opinião pública. (BÜCHER
apud HABERMAS in MARCONDES FILHO, 1984, p.142)
Com o jornalismo literário em uma segunda fase, os interesses comerciais
ficaram em segundo plano5. Nessa imprensa periódica se integraram também escritores
que buscavam promover e divulgar os textos “movidos com intenções pedagógicas” de
eruditos da aristocracia. Em uma fase capitalista indicada por Habermas, denominada
como terceira fase, a imprensa apresenta-se como mercadoria, abrindo espaço para
anúncios. É um momento que conta com a modernização da imprensa na formação de
uma empresa lucrativa em que, além dos interesses próprios, ganhavam espaço
interesses que vinham de fora.
Se Habermas reflete sobre a imprensa nos séculos XVIII e XIX,
apresentando mudanças marcantes nos anos de 1830 na Inglaterra, na França e nos
Estados Unidos; no Brasil, as mudanças ocorreram em períodos diferentes – sendo
percebido de maneira mais intensa no final do século XIX. Contudo, ela ocorre de
forma não-linear, sendo difícil estabelecer prontamente o marco de cada fase indicada.

5
“A autonomia jornalística do redator ficava sensivelmente limitada, aliás, também naquela forma de imprensa, que
não se submetia às leis do mercado, mas que servia primeiramente a fins políticos, nesse caso mais aparentada ao
jornalismo literário das revistas polêmicas” (Habermas in Marcondes Filho, 1984:146).
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Não é difícil perceber certas correspondências entre a natureza das


mudanças nas imprensas européia e brasileira. O nosso século XIX foi
marcado pela forte presença dos impressos de caráter político – como
atesta o papel que os mesmos desempenharam na luta pela
Independência, na crise aberta com a abdicação de D. Pedro I, em
1831, ou no movimento em prol da Abolição, enquanto a subsequente
atualização tecnológica apontou para a transição rumo ao mercado.
(LUCA in MARTINS; LUCA, 2008, p. 154)
A partir dos avanços técnicos e com a possibilidade de multiplicação das
tipografias, começaram a ser adotados métodos que possibilitaram a maior rapidez na
divulgação da informação, ocasionando na transformação para empresa. “Sem
abandonar a luta política, os diários incorporaram outros gêneros, com notas,
reportagem, entrevistas, crônicas e, ao lado da produção ficcional, que só lentamente
perdeu espaço nos grandes matutinos, compareciam os inquéritos literário”6. Aos
poucos, uma nova imprensa vai surgindo no Brasil que se configura com o movimento
de emancipação. Sem o desaparecimento dos pasquins, mas com mudanças econômicas
que caminham para o capitalismo, a imprensa acompanha as transformações estruturais
e ideológicas. Desse modo, a prática jornalística passa a ser segmentada e passa a
oferecer, de forma mais clara, um produto comercial.

2. Literatura e Jornalismo: distanciamentos e proximidades


Para entender a linha tênue que une e separa jornalismo e literatura, é
necessário refletir sobre diversos elementos que podem aproximar e distanciar os dois
campos de estudos. Partindo de um ponto comum, o domínio da palavra é característica
que permeia ambas as atividades. A busca pela qualidade da representação, seja ela de
um fato real ou imaginário, costuma ser constante em publicações tanto jornalísticas
como literárias.
Por isso, o domínio da palavra não deve ser entendido apenas como o
profundo conhecimento da língua e suas estruturas sintáticas e morfológicas, mas
também das estruturas narrativas e das possibilidades estilísticas. A melhor
representação será aquela que conseguir conquistar o leitor, “prendendo-o” ao texto. As
maneiras de construção da estrutura textual e do desenvolvimento da narrativa, levando
em consideração os contextos e elementos internos ou intrínsecos, proporcionam a
interação e o reconhecimento do leitor. Os objetivos do escritor passam a ser,
normalmente, o de obter uma escrita primorosa e o de contar uma boa história, ao invés
de apenas informar – mesmo quando se trata de jornalismo.
6
Luca in Martins; Luca, 2008:152.
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(...) jornalismo e literatura são atividades que se aproximam porque


sobrevivem do mesmo meio, a palavra, e do mesmo fim, a conquista
de leitores (...). Tanto melhor será o jornalismo quanto mais houver de
inspiração literária. E tanto melhor será a literatura quanto nela couber
o que de mais importante há no jornalismo: a sedução”. (ARAÚJO in
CASTRO; GALENO, 1993, p.97)
São muitos os grandes escritores da literatura brasileira que mantiveram
relações com as duas áreas, como Machado de Assis, Olavo Bilac, Lima Barreto, João
do Rio, Carlos Drummond de Andrade, dentre outros. Porém, do ponto de vista de parte
dos estudiosos do campo literário, é possível observar o quanto a prática jornalística é
tida como inferior e é, por vezes, esquecida como tendo sido fundamental na formação
de muitos escritores importantes de épocas anteriores. Talvez, a configuração de hoje
das redações e mesmo da estrutura jornalística atual não tenha permitido que a forte
influência do jornalismo permaneça como antes na formação de intelectuais. Contudo, a
partir de uma leitura mais apurada – livrando-se dos preconceitos – e da observação das
mudanças de estilo de escritores que se dedicavam à prática jornalística e trabalhavam
nas redações, pode-se perceber evoluções na escrita deles com o passar dos anos7.
Mesmo os escritores que conservaram relações com as atividades políticas, como foi o
caso de José de Alencar, as produções literárias não se mostram inferiores – o que não
pode ser observado em todos os casos dos que mantiveram essas relações.
Poderíamos contemplar o ‘território’ de ambas as práticas como um conjunto
em interseção com outro conjunto: há dimensões da literatura que pouco ou
nada têm a ver com o jornalismo, dimensões do jornalismo alheias às práticas
literárias e, finalmente, um espaço compartido no qual não é tão fácil
distinguir um e outro tipo de discursos e que, inclusive, têm tido um processo
de transferência (...). (MEDEL in CASTRO;GALENO, 1993, p.23)
Se hoje o escritor é visto como autor de textos de qualidade superior –
dedicado à escrita de ficção e cujo trabalho pode resultar em textos complexos e
profundos, enquanto o jornalista, na calorosa movimentação de uma redação, busca
escrever textos objetivos que propõem representar o real –, em séculos anteriores ele
normalmente começava a carreira dentro dos jornais, com trabalho diário, semanal ou
quinzenal. Desse modo, adquiria prática no cotidiano do jornalismo, podendo dar
desenvolvimento ao texto poético com rapidez e propriedade. O trecho seguinte detalha
essa relação:
(...) a própria história do jornalismo brasileiro que, como aconteceu
em outros países, nasceu ligado à literatura e à política, demonstrou
uma longa convivência entre os discursos, como comprovam não
apenas as seções de variedades e os folhetins, de onde surgiu a nossa
crônica, como também o exemplo maior de Os sertões, de Euclides da

7
A prática diária da escrita, que obriga agilidade e criatividade, tornou-se instrumento de treino de muitos escritores
– proporcionando e “forçando” o desenvolvimento de habilidades literárias.
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Cunha. Além disso, a trajetória de grandes escritores brasileiros e de


outros países, passando alguns momentos pela prática jornalística,
ainda que tal passagem seja objeto de controvérsias, alimentando o
desejo latente de se imitar o salto consagrador e fazer da literatura um
ideal a ser atingido por todo jornalista. (COSSON in
CASTRO;GALENO, 1993, pp. 59-60)
Escritores-jornalistas ou jornalistas-escritores eram aqueles que dominavam
o dom da palavra e, na lida cotidiana, apreendiam a melhor forma de trabalhar em textos
que ficariam para a posteridade, com a arte literária. “Antes o autor via a oportunidade
de escrever em jornal com ansiedade, como um meio de praticar uma literatura mais
veloz mas nem por isso mais fútil. O jornalismo era ‘batismo de fogo’ para qualquer
escritor (...)” (PIZA in CASTRO; GALENO, 1993, p.134).

3. Por que a crônica-conto?


Indefinida, múltipla, despretensiosa, descompromissada. A crônica não é um
gênero fechado, está longe de padrões rígidos e fixos e, por isso, levanta diversos
questionamentos. Como definir crônica? Como delimitar o que é incerto? Essas e outras
perguntas não estão totalmente respondidas por especialistas em literatura ou jornalismo
quando se fala sobre o gênero. “Mário de Andrade dizia ser o conto tudo aquilo que se
queria chamar de conto; Fernando Sabino, parafraseando o escritor modernista, define a
crônica como tudo aquilo que se quer chamar de crônica” (BENDER, 1993, p.44).
São muitas as temáticas que podem ser abordadas, resultando em várias
classificações – crônica literária, reflexiva, lírica, de humor, de esportes, opinativa,
dentre tantas outras. Ao definirmos como gênero híbrido e ambíguo apresentamos as
principais justificativas para a dificuldade de se estabelecer bem os parâmetros de
diferenciação em relação aos demais gêneros – artigo, conto, resenha, comentário.
Comparando-os, é possível identificar convenções, em cada um deles, cuja
maleabilidade é bem menor, ou seja, os casos em tais gêneros apresentam características
excepcionais podem ser mais facilmente identificados e costumam ocorrer com
frequência menor que no caso da crônica.
Para ser é enquadrada como gênero8 literário ou jornalístico ela deve seguir
determinada norma de estruturas assim como uma lógica linguística comum e pré-
estabelecida, para que possa ser facilmente identificada dentro de um contexto de estilo

8
“A questão é que o gênero textual (...) reflete pungentemente a estrutura do mundo em que está inserido, ou seja, as
ações e intenções de um grupo, onde pode ser uma estrutura relativamente convencional, mas também as ações e
intenções de um indivíduo para as quais, muitas vezes, um aparato genérico quase que completamente novo precisa
ser criado” (Bonini, 2002).
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e de linguagem. Mesmo não sendo um gênero fechado, a crônica também segue alguns
padrões, possuindo características específicas. Pois, para ser alcunhada como gênero, é
preciso que algumas “regras” existam.
Porém, a crônica não é o único gênero que foge às suas próprias regras.
Todos os outros tipos textuais estão sujeitos a alterações que dependem da forma de uso
nos meios comunicantes, dos comunicadores e dos receptores. Uma das maiores
características da crônica apontadas pelos estudiosos não são essas regras ou padrões
comuns, mas as muitas possibilidades textuais e estilísticas que a tornam quase que
indefinida e singular dentro das classificações.
A tipicidade de um gênero na maioria das vezes não acarreta de um
contrato social implícito, mas de uma prática comunicativa que se
repete. Em meio aos fragmentados terrenos convencionais comuns (os
aparatos genéricos), sobre os quais temos um poder de uso consciente,
paira uma massa de expressões textuais que simplesmente se
desencadeiam das ações das pessoas no mundo. (BONINI, 2001, p.2)
A crônica, ao fugir de uma série de “amarras” linguísticas, marca um
território próprio. Para muitos estudiosos ela traz muito de um perfil de gênero
eminentemente brasileiro – longe de alguns padrões latinos ou europeus, este último
como foi o caso dos folhetins herdado no Brasil dos franceses. Apesar de não ter
nascido no Brasil, o gênero foi fundamental na consolidação de um caráter literário
nacional9, a partir da observação da vida e das pessoas sob o ponto de vista pessoal do
cronista que normalmente utiliza-se de uma linguagem coloquial, aproximando o leitor.
O objetivo era criar um público – pois, para as dimensões que a imprense passou a
tomar com a industrialização, ele ainda insipiente, devido aos grandes índices de
analfabetismo – e, de certo modo, manter uma tradição literária.
A marca peculiar da crônica foi construída no correr dos anos e, também,
“ao correr da pena dos escritores”10, traçando um caminho na história da imprensa em
que une efetivamente literatura e jornalismo. Por meio da crônica os grandes escritores
floresceram. O que seria da literatura brasileira sem Machado de Assis, Olavo Bilac,
Carlos Drummond de Andrade ou Clarice Lispector? Todos eles despontaram como
cronistas para depois enveredar – ou produzir paralelamente – nos outros tipos textuais
considerados mais difíceis e nobres, quando se fala de literatura. Do gênero menor, que

9
“A história da crônica no Brasil está ligada ao projeto de formação de uma literatura brasileira no século XIX. O
compromisso romântico de fundação de uma literatura nacional pode ser notado nos nossos primeiros folhetins
publicados nos jornais da época, dos quais a crônica é uma variante. No geral, tratava-se de uma produção engajada
na construção da literatura brasileira enquanto “sistema”, ou seja, como conjunto de obras que formam uma tradição
literária e que possuem entre si denominadores comuns” (Portolomeos, 2008:1).
10
Ao correr da pena (1854-1855) também é o nome da crônica semanal escrita por José de Alencar no jornal Correio
Mercantil.
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poderia não ser considerado literário por estar nas folhas do jornal, desenvolveram-se,
despontaram e fluíram as palavras de alguns dos cânones das nossas letras e, também,
de estrangeiros.
Nele, as duas áreas parecem tocar em um mesmo ritmo uníssono, caminham
de mãos dadas, são dois e ao mesmo tempo um, de tão difícil que é despregá-las em
uma simples ou complexa análise. Desse modo, é um gênero de difícil definição, até
porque surgiu em um momento de constantes mutações da imprensa, no auge das
manifestações e transformações culturais e, consequentemente linguística, empregados
no estilo de texto dos veículos de comunicação do início do século.
Essas mudanças seguiam em consonância com as transformações históricas,
por isso podemos identificar a origem histórica do gênero com as crônicas de viagens.
Só na primeira metade do século XX é que a crônica vai apresentar características mais
facilmente identificas, cujo foco é a simplicidade dos acontecimentos corriqueiros do
cotidiano – mas nem por isso torna-se um gênero com definições muito precisas.
Concomitantemente, a parceria entre as duas áreas – jornalismo e literaturas – apresenta
momentos em que se repelem e se unem, ao observarmos também sob essa ótica
histórica dos acontecimentos e ao não priorizarmos fatos jornalísticos em detrimentos
dos literários ou vice-versa.
No caso de muitos textos publicados em periódicos, alguns são identificados
por estudiosos preliminarmente como contos por apresentar forte caráter literário. Mas,
por que não indicarmos como crônicas já que esses textos são filhos de um periódico?
Nasceram em uma revista ou em um jornal que destinava espaço específico para
“devaneios” dos autores, histórias ficcionais dos. Os mesmos escritores que muitas
vezes estiveram envolvidos com outras publicações jornalísticas – fato comum no
século XIX e início do XX quando as figuras do jornalista e do escritor se confundem.
Por que não, também, a crônica-conto? Nas ditas crônicas-contos os textos passeiam
pelos dois gêneros, crônica e conto, como que despretensiosamente. A classificação não
significa que os textos passam a ter importância menor, que não ultrapassaram a
perenidade do periódico.
A crônica voltada para o horizonte do conto prima pela ênfase posta
no ‘não-eu’, no acontecimento que provocou a atenção do escritor. Na
verdade, a ocorrência detonadora do processo de criação não só possui
força intrínseca para se impor ao ‘eu’ do cronista como não lhe
desperta lembranças ocultas ou sensações difusas. Não significa que o
escritor se alheia do acontecimento, pois que a própria crônica
testemunha uma adesão interessada – mas que o acontecimento tão-
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somente requer que o seu cronista, inclusive no sentido etimológico


do termo, ou seja, o seu historiador. (MOISÉS, 1967, p.115)

4. Surgimento e concepções do gênero crônica


Ao termos a crônica como gênero literário, podemos observar que as
características e as indefinições perpassam duas áreas de estudo comuns: a literatura e o
jornalismo, assim como também comumente apresenta aspectos históricos. Se para
alguns a crônica pode parecer um gênero literário menor, por ter nascido e por sua
existência se dar por meio dos periódicos – jornais e revistas – para outros é da
simplicidade eminente que nascem as belezas da literatura, com caráter o ficcional do
texto e os aspectos reflexivos sobre acontecimentos simples cotidianos. As condições de
existências do gênero também é frequentemente discutida pelos escritores, em crônicas
metalinguíticas. Machado de Assis foi um dos que discorreu sobre o assunto no texto O
nascimento da crônica, como segue trecho abaixo:
Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há
toda a probabilidade de crer que foi coetânea das primeiras duas
vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à
porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a
lastimar-se do calor. Uma dia que não pudera comer ao jantar, outra
que tinha a camisa mais ensopando que as ervas que comera. Passar
das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias
amatórias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e
possível do mundo. Eis a origem da crônica.
Ao nos depararmos com os sentidos etimológicos, é possível obter a ideia
primordial do termo crônica. Do grego, chrónos, que remete a tempo. Na mitologia
grega, com o deus Cronos11, também é possível fazer essa analogia. Finalmente, do
latim chronica que significa relato seguido em uma ordem temporal – cronológico.
Desse modo, o termo crônica12 inicialmente era tido como relato cronológico de fatos
históricos, escritos por meio de uma narrativa – representando o resgate do tempo. E era
por meio dela que os portugueses registraram os primeiros contatos com os povos
indígenas e com as terras brasileiras – descrevendo a exuberância e riqueza da natureza
assim como os hábitos, para eles, incomuns dos índios, como de andar nus.

11
Junito Brandão denomina o deus como Crono, filho de Urano, que castrou o pai, e pai de Zeus, sendo destronado
por este filho. Crono devorava todos os filhos a fim de evitar a profecia de que seria destruído por um deles.
“CRONO, em grego Krónos, sem etimologia certa até o momento. Por um simples jogo de palavras, por uma espécie
de homonímia forçada, Crono foi identificado muitas vezes com o Tempo personificado, já que, em grego Khrónos é
o tempo. Se, na realidade, Krónos, Crono, nada tem a ver etimologicamente com Khrónos, o Tempo, semanticamente
a identificação, de certa forma, é válida: Crono devora, ao mesmo tempo que gera; mutilando a Urano, estanca as
fontes da vida, mas torna-se ele próprio uma fonte, fecundando Réia”. (1986:198)
12
“Num sentido genérico, usa-se a palavra crônica para indicar, até hoje, o registro de uma comunidade e de uma
época, as memórias de um passado que se quer fixar”. (Laurito, 1993:14)
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A crônica é gênero que comumente se confunde com os outros.


Anteriormente, essa relação era maior com os fatos históricos, apesar se sempre
preservar algumas de suas peculiaridades. Se a indefinição é o elemento primordial da
crônica da atualidade, essa também foi marca dos folhetins de outrora. A crônica é
herdeira dos folhetins – originários da França (do francês feuilleton). A relação não vem
do sentido etimológico, como descrito no parágrafo anterior, e sim no que representou
dentro da atividade literária e jornalística, em cujo espaço específico nos periódicos era
onde se podia discorrer sobre tudo – ficando a cargo do escritor e da criatividade dele.
Porém, diferentemente das crônicas, o destaque mesmo dos folhetins ficavam para as
longas histórias – também ficcionais e publicadas nos rodapés dos jornais.
De início – começos do século XIX – le feuilleton designa um lugar
preciso do jornal: o rez-de-chaussée – rés-do-chão, rodapé, geralmente
da primeira página. Tem uma finalidade precisa: é um espaço vazio
destinado ao entretenimento. E já se pode dizer que tudo o que haverá
de constituir a matéria e o modo da crônica à brasileira é, desde a
origem, a vocação primeira desse espaço geográfico do jornal,
deliberadamente frívolo, que é oferecido como chamariz aos leitores
afugentados pela modorra cinza a que obrigava a forte censura
napoleônica. (MEYER, 1992, p.96)
E por meio destes espaços nos jornais, com o folhetim13, que foi possível ter
14
acesso a obras estrangeiras traduzidas , como de Fiódor Dostoievski, Victor Hugo e
Léon Tolstoi. Também começaram a escrever escritores brasileiros, tendo-se início com
a publicação em folhetim, no Correio Mercantil, de Memórias de um sargento de
milícias (1853), romance de Manuel Antônio de Almeida, segundo Héris Arnt.
O grande público iria sendo lentamente conquistado para a literatura
principalmente pelo folhetim, que se conjugou com a imprensa e foi produto
específico do Romantismo europeu, aqui imitado com sucesso amplo, nas
condições do tempo. O folhetim era, via de regra, o melhor atrativo do jornal,
o prato mais suculento que podia oferecer, e por isso o mais procurado. Ler o
folhetim chegou a ser hábito familiar, nos serões das províncias e mesmo da
Corte, reunidos todos os da casa, permitindo a presença das mulheres. A
leitura em voz alta atingia os analfabetos, que eram a maioria. (Sodré,
1999:243)
Os romances-folhetins perduraram até o século XX, mas perderam força
com o surgimento da imprensa industrial em meados deste século. Até porque, como

13
“No Brasil analfabeto, os folhetins vão ter uma importância maior do que a pequena penetração dos jornais
permitira, graças à leitura oral. Os filhos letrados liam os folhetins para os empregados agregados. Na Inglaterra, as
obras de Dickens eram lidas para os operários analfabetos. O folhetim que foi realmente massificado na Europa,
principalmente na França, serviu como estímulo à alfabetização”. (Arnt, 2002:96)
14
Nesse caso, trata-se do folhetim-romance ou romance-folhetim. Esse gênero trazia trechos de romances ficcionais
em prosa – muitos deles publicados em livros posteriormente. A divisão em capítulos, gerando tesão aos leitores para
ler o capítulo seguinte, nos remete ao estilo das radionovelas e das telenovelas que ainda são tão difundidas
atualmente. Para os escritores, a vantagem é de poder ter uma prévia sobre os gostos do público – sendo identificada
a partir da receptividade do texto. Dependendo da repercussão, era possível mudar os rumos da história no decorrer
dos capítulos, tornando-a mais interessante.
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detalhado no capítulo anterior, na fase anterior à imprensa industrial as publicações


eram de caráter político ou literário. Após esse período, e ainda sem uma gama de
editoras que pudessem contemplar os seus trabalhos, os escritores continuaram na
labuta, sendo remunerados pelos escritos nos jornais15.
Além dos romances em folhetins – que era escritos ficcionais – havia o
foletim-variedades16 que é considerado como o gênero que deu origem à crônica,
segundo Laurito. E é nesse espaço em que os escritores vão ter maior liberdade para
traçar um estilo de texto, conquistar leitores e treinar a escrita. Ao mesmo tempo em que
falam de coisas simples e banais os escritores vão construindo verdadeiros textos
literários – cuja qualidade vai depender da habilidade do redator. Arnt afirma que “a
origem, pois, do folhetim não é o romance semanal, publicado em capítulos, mas a
crônica de assuntos diversos e o espaço que ocupa no jornal” (2002:55). Desse modo,
confundem-se folhetim e crônica, mostrando cada vez mais uma proximidade.
Grande exercício para presentes ou futuros grandes escritores, o
folhetim de variedades era uma matéria periódica em que a literatura
brasileira ia formando e afirmando e mediante a qual um público fiel
adquiria o hábito de leitura. O valor e a sedução dessa seção do jornal
dependiam do talento e do estilo do escritor, ainda que a marca fosse o
tom ligeiro e descomprometido, geralmente e propositadamente
“frívolo”, para conquistar a empatia do leitor. (LAURITO, 1993, p.16)
Dentro das transformações, assim como o folhetim tendeu mais para o
romance em prosa, a crônica também pendeu para um estilo que se assemelha com o
conto – ligados pelos textos literários ficcionais, mas separados pelo estilo e,
principalmente, tamanho dos textos. Outra característica comum entre folhetim e
crônica, além dos que se tratava de “variedades”, são os textos metaliguísticos, em que
folhetinistas e cronistas falam da prática da escrita – sobre a falta de assunto, a
necessidade de preencher as linhas e demais dificuldades.
Mesmo sendo contemporâneo da crônica, o folhetim pode ser sim indicado
como antecedente à crônica. Com a perda de espaço do folhetim, a crônica sobreviveu,
mesmo sem a mesma força, mas reascendendo sempre o caráter literário que a imprensa
poderia e ainda hoje pode trazer. Diferente da prolixidade do romance-folhetim, que se

15 “Como os escritores mantinham contrato por tempo de publicação, eram obrigados a esticar os episódios. (...)
Muitos escritores ganhavam por linhas escritas – o que era comum nos contratos na França – o que significava que
quanto mais longo o capítulo, maiores eram os rendimentos. A maioria dos escritores que escrevia para jornais sofria
de uma certa prolixidade: tal como Dickens e Alexandre Duma. O que não aconteceu com Balzac, nem com Machado
de Assis. ” (Arnt, 2002:100)
16
“Nos rodapés dos jornais, ao mesmo tempo que cabiam romances em capítulos, também cabiam – ainda quando em
outras folhas que não a inicial – aquela matéria variada dos fatos que registravam e comentavam a vida cotidiana da
província, do pais e até do mundo”. (Laurito, 1993:16)
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alonga por capítulos, a crônica literária é texto curto e rápido, adequada para o modelo
industrial hoje empregado.
Apesar de classificarmos como textos literários os trabalhos de escritores
publicados na imprensa, nem todos era de excelente qualidade literária, principalmente
quando observamos o início do século XX. No período classificado como o pré-
modernismo, Sodré observa que com o domínio oligárquico e a pausa no
desenvolvimento do Brasil, houve também “uma fase de repouso de empobrecimento,
de esterilidade em nossas letras”. “Como literatura e imprensa se confundiam, então, as
repercussões no periodismo eram inevitáveis. Daí a linguagem de baixa literatice dos
jornais (...)” (Sodré, 1999:288).
Apesar de ser bastante comum escritores trabalharem nas redações de
jornais, a conciliação das duas práticas – jornalismo e literatura – não era simples.
Muitas vezes manter a atividade paralela significava abrir mão de um maior
aprofundamento na arte literária. Além disso, não havia boas oportunidades de destaque
naquele período. Desse modo, era comum eles se submeterem ao tempo e aos espaços
regrados pelos jornais. Para os insatisfeitos, era possível – mas não menos difícil –
buscar outras formas de ganhar destaque.
Os homens de letras buscavam encontrar no jornal o que não
encontravam no livro: notoriedade, em primeiro lugar; um pouco de
dinheiro, se possível. (...) No inquérito organizado por Paulo Barreto,
e depois reunido no volume O Momento Literário, uma das perguntas
era esta: “O jornalismo, especialmente no Brasil, é um fator bom ou
mau para a arte literária?” A maioria respondeu que bom,
naturalmente. Félix Pacheco esclareceu, com exatidão: “Toda a
melhor literatura brasileira dos últimos trinta e cinco anos fez escala
pela imprensa”. Medeiros de Albuquerque viu outros aspectos da
questão: “É certo que a necessidade de ganhar a vida em misteres
subalternos de imprensa (sobretudo o que se chama a ‘cozinha’ dos
jornais; a fabricação rápida de notícias vulgares”, misteres que tomem
muito tempo, pode impedir que os homens de certo valor deixem as
obras de mérito. Mas isto lhes sucederia se adotassem qualquer outro
emprego na administração, no comércio, na indústria. O mal ao é do
jornalismo: é do tempo que lhes toma um ofício qualquer, que não os
deixa livres para a meditação e a produção. (SODRÉ, 1999, p.292)

Conclusão
Diante das transformações na imprensa, as acepções de crônica também
modificaram o modelo que temos hoje, ganhando as configurações atuais na década de
1930. Primeiro, ela era tida apenas a crônica história, usada, por exemplo, para relatar
acontecimentos de viagens. Só depois é que ela ganha novas significações e significados
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que remetem tanto às indefinições do gênero e aos aspectos ligados à simplicidade a aos
temas do cotidiano.
No século XIX, predominava a literatura às reportagens. O jornalismo ainda
não tinha a marca do texto preciso que estão longe das firulas dos textos políticos e
literários, comuns na época. Porém, não é por isso que não podemos apresentar algumas
marcas comuns na linguagem cronística, pois elas foram nascentes desde o surgimento
da crônica e também estiveram presentes nos textos de A Quinzena. Na revista, não
havia folhetins e os escritores tinham de se conter com àquelas linhas determinadas – ou
se lamuriar com o excesso delas.
A característica mais presente na crônica é o olhar aguçado do escritor para
acontecimentos simples do cotidiano, como já dito. E é na simplicidade que nasce uma
profundidade inesperada – evidenciando grande beleza que transcende o fato atual e,
desse modo, configura-a como texto literário. De efêmera, por tratar de temas presente,
pode se tornar perene – principalmente quando copiladas em livros. Dentro da leveza
empregada no texto, a crônica pretende conquistar o público leitor de jornal. A crônica
atual divide espaço com as notícias pesadas do mundo. Antes o espaço era
compartilhado com artigos políticos, outros gêneros literários e, em menor quantidade,
com notícias. Como sempre há certa competição pela atenção do leitor, era essencial
para o escritor desenvolver um texto que fosse compatível com ele.
Dir-se-ia que a crônica, como um gênero de rodapé, ajuda o ‘homem
rodapé’, não o general ou o presidente; para esses existem os
maquiáveis, os estrategistas, os constituintes. A crônica existe para o
mísero mortal, ou seja, para nós, homens menores, e isso é bom, pois
desperta a humanidade que há em nós e que as misérias do mundo
tentam adormecer, matar talvez. O leitor se dignifica, ao perceber, nas
grandes crônicas, o pequeno se eternizar, o prosaico transcender.
(BENDER, 1993, p.45)
A partir das observações, percebemos a crônica como gênero que
possibilitou a permanência da relação entre jornalismo e literatura de modo a caminhar
junto com as transformações que a imprensa passou desde o surgimento no Brasil. Com
a imprensa industrial, esse gênero acaba tendo que apresentar novas características de
modo a atrair leitores e, de certo modo, a aliviar o jornal preso às notícias factuais. “A
crônica (...) também se apropria da realidade do cotidiano, como o jornalismo factual,
mas procura ir além e mostrar o que está por trás das aparências, o que o senso comum
não vê (ou não quer ver)” (MENEZES in CASTRO; GALENO, 1993, pp. 163-171).

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