VOZES

coleção lOGOTERAPIA

2' EDIÇAO
Coleçào LOGOTERAPIA V1k'tor Frankl 0 Uwe Bõschemeyer
Alfried Lãngle o Wolfgang Kretschmer
l. PSICOTERAPIA_ PARA T,ODOS - V1k'tor Frankl Walter Bõckmann o Günter Funke
2. MENTALIZAÇAO E SAUDE - Ells'abeth Lukas
3. EM BUSCA DE SENTLDO - Vlkt'0r Frankl Paul Heinrich Bresser o Elisabeth Lukas
4. A PRESENÇA IxGNORADA DE DEUS - V1k'tor Frankl
5. DAR SAENTIDO A VIDA - Vlários Autorcs
6. ASSISTENÇIA LOGOTERAPEUTICA - Ehsa'beth Lukas
7. PREVENÇAO PSICOLÓGICA - Ehs'abcth Lukas
8. VIVER COM SENTIDO - Alfríed Langl"c
\

DAR SENTIDO A VIDA

A Logoterapia de Víktor Frankl

Prefácio de
lRMGARD KARWATZKI

Tradu_çáo de
CIP-Brasü. Catalogpçáomahfonlc ANTONIO ESTÊVAO ALLGAYER
Sln'dicato Nacional dos Edilores de leros,' RJ.

Revisâo Técnica de
Dar scntido à Vidaz a logoterapia dc Viktor ankll
Vlktor ankl... [ct al.]; pnfácío de lrmgard Karwatzki; HELGA HINKENICKEL REINHOLD
traduço dc António Pslévño Allgayen Icwsã'o técnica
de Helga Hm'kenickel Rcm'hold. - Pcnópohs', RJz Vousç 2' Edição
São lnopoldq RS: Sm'odal, 1990.
(Colc<áo bgotcmpm')
deução dcz Sínn-voll hcüenz Viktor E. Frankls Logo-
thcmpie.
Dados biográñcos dos autores
B¡'büog¡aña.
lSBN 85.326.0375-0
1. lngotempla'. I. Frankl, Vlhot Emü, 1905 - .
I. Tftuloz A logotcmpia dc Vlkt'or annkL
CDD ~ 150.195 Im
128
CDU - 159.964.26 Petrópolís São Lcopoldo
14132
1992
 © Verlag Herder Freíburg un' Brels'gau 1984
Herdcr Frciburg o Bascl 0 Wien

Título ong1n"al alemãoz

Sínn-voll heilen - Vzldor E. Frankls Logotherapie

Du'e¡'tos de publicação em lmgua portugucsaz

Editora Vozes Ltda.
Rua Frei Luls', 100
25689-900 Petrópohs', RJ
Brasü

Copidesque
Wagner Brandao'

Diagramação
Daniel SantAn'na OsAutores deste llv'r0 expressam seus
e
Patrícia Florêncio agradecimentos ao Sr. Gerhard Lukas,
organzz'ador do Terceiro Congresso Mundial
de Logoterapia (Untv'emidade de
Regensbwg 1983), pelo seu trabalho
ISBN 3.451.08156-3 (Edição ongm"a1 alcmã) abnegado, sem o qual teria sido imposstv'el
ISBN 85326.0375-0
realüar 0 Congresso, assim como este ltv'ro,
elaborado a partir daspalestras em língua
alema.~
 Sumário

Prefácim 9
Imtgard Kaiwatzki
Argumentos eln favor de um onml'smo trágico, 13
thctor Frankl
Fundamentos, diretnzes° e métodos de trabalho da logote-
rapia, 33
Uwe Bõschemeyer
A vlvéncla-do-ser como chave da experiência-de-sentido, 47
Afnl'ed Lãngle
Valor do eu e sentido da vida, 63
Wolfgang Kmtschmer
Sentido na economia e na sociedade, 75
Walter Boc“kmann
Responsabílidade e responsablliza'çâo - Sentido da culpa, 89
Paul Heinrich Bresser
Busca do sentido e capacidade para a paz, 99
Günter Funke
Sobreviver - para quê? Respostas a pcrguntas sobre o des-
tino, 113
Elts'abeth Lukas
Seleta de publicaçoes' sobre logoterapia, 129

....
 IRMGARD KARWATZKI

Prefácio

O renome um'versal do Professor Frankl dcve-se ao scu credo:

À vida pode scr dado um sentido!
Para ele o sennm'cnto da ausência dc sentido, que afhg'c a
socicdadc do desperdía'o, conñgura uma violência não menos dxfí'c11'
de conjuxar do quc a brutal amcaça à vída cxns'tentc num campo de
concentraçãa No oitavo dccênio de sua vída, V1k'tor Frankl pode
ser considerado testemunha ímpar da capacidade humana dc
resxs't1r', mcsmo cm síluações extrcmas, à cntrcga ao conformns'mo e

/
à rendição aototah'tar15'mo. São palavras suas: “As coxsas' vão dc mal
__pmx.a' Contudo, 5W,,“_.__._Ma_cnsmesms'
mod1ñ'cá-las, ñcarao
~__p__lores.
amda Otumsta lrágwo , Vlktor
FTnH_r sempre sc sentm na obrígação de ag1r': “_,__krNão
a nas estou
agmf_____(;_'do
de acordo com o uc sou, mas também serci moldado peo
mãwmmeabroàtarcaquw
,

meu agu'”. E acresccnta: “Quanto mais me abro à tarc a quc e

cumpre exccutar, quanto maLs' me dou ao meu parccu'o, tanto mms'
me humamzo', tanto mals' sou eu - cu mcsmo. Só consegmr'ei pro-
pn'ameme reahzar'-me na medida em quc mc esqueço de m1m'
mcsmo, pcrdcndo-me de vns'ta”. Assun' dcñnc Frankl o homcm como
pcssoa única c ms'ubslituívcl, quc é mms' do quc mero produto da
hercditaricdadc e do meio. WO homcm ossui capacidadc para trans-
fonnar o sofnm“ento numa çaa,preahzao.stararazs"
Wmma aã acaes umana5. rankl pertcncc ao númcro das
pcssoas que não se hm1°'tam a prcgar tal pnn'cípio aos outros, mas
reúne condiçõcs para avahzá'-lo com 0 testemunho do scu passado.
O pnm'eu'o ato de arbitraricdadc contra elc dmg1"'do pclos
nazns'tas, por ser judeu, em 1937, esbarrou contra 0 “feito dc bravura
"IV
rctórica" dc sua vidaz o agenle da SA qucdou-se, postado nos
umbrak da porta violentamcntc escancarada, até o ñm da confe-
rência, ao m'vés de m'tcrromper a cxposíção dc Frankl sobre o tcma
“Nervos¡s'mo, mamf'estação da época”.
Dm"gentc da Secção dc Ncurologia do Hospital Rothschll'd,
pôde ajudar a numerosos pacicntcs psiquiátñcos de origem judaica
a salvar-se da eulanásía, enquanlo, no mesmo pcn'odo, muitos
mcmbros da comum'dade, psiquicamente adoccidos, eram levados
à mortc por eutanásia pelos nazns'tas.
Quando a siruação polílica se tornava maJs' aguda e o pcng'0
da deportação rccrudescia, Frankl escrcvcu a pnm'cu"a versão dc
sua obra “A cura médica de almas”1 delm'eando o pensamcnto
básico da logoterapia. No entanto, o manuscrito, cosido no forro do
sobretudo, pcrdeu-se em Auschw¡'tz. O campo de concentração dc
Auschwitz tomar-se-ia o “cxpenm'entum cruc¡s'”, a cxperiêncía de
vida dec1s'iva, pcla qual a sua conccpção cicntíñca sen'a tcstada ncle
próprio. Frankl tcm a convicção de que, anles de qualquer outro
fator, a sua sobrevivência nos campos dc concentração dcvc ser
atn'bu1da ao dctermmado propósito de refazer o manuscn'to per-
dido de “A cura de almas médica".
Frankl ñnalmente seria libertado, podendo retornar a Vicna,
ao passo que seu pa1,' sua mãe, scu 1rm›ão e também sua pnmÍeüa
csposa pereccram nos campos de concenlração. Para FrankL os
anos vividos nos campos de concenuação resumem-se num único
reconhecnm'ento-chave: mesmo a extrema falta dc liberdade física c
mesmo o dcsespcro ex1$'tencial não logram privar o homcm da
liberdadc de dec1'd1r', além c ac¡m'a do presentc, o que ele v¡r'á a ser
no futuro.
Em apenas novc dias dítou FrankL am°da no ano de 1945, o scu
liwo sobrc os campos dc concenlração, no qual decididamcntc se
recusa a admitir a ídéia de uma culpa coletíva. Para elc é
m'compreensívcl “quc até mcsmo os mals' proemmcntcs psicana-
hs'tas, am'da após dccom'do um tcrço de século, não saibam supcrar
os traumas que o raas'mo lhes causou. Como semprc, m'clm'am-se
eles a gcnerahw', totahzm', culpar colct1'vamente”. Enquanto o livro
se lransformava cm “bcst-sellc:” nos Estados Unidos, com m11h'õcs
de cxemplares saídos do prelo, Frankl se ocupava da terccüa e
úlnm'a versão dc “A cura dc almas médica”. Considcra um dos
1. Obra traduzída para o portugues por A Maia dc Castro sob o tftuloz
Psicoterapia e scntido da vida. São Paulo. Quadmnte, 1986. (N.T.)
10
momcntos mals'maravúh'osos por ele expcnm'entados a ida ao cditor
Deuticke, pnm'cu"o edilor também da obra dc Frcud, sobraçando 0
manuscñto da vcrsão dcñnitiva. Com csse livro lançava Frankl os
alicerccs da Logoterapia como “Terccu"a Correnlc Vícncnsc”.
Em 1950 criou elc a Socicdade Médica Austríaca dc
Psicoterapia. Segucm-se numerosas publicaçocs' e confcrêncías
pronunma'das nos quatro conun'entes, prcdonnn'ando numerica~
mente as profeñdas nos Estados Unídos da Amén'ca. Os rcsultados
dcstas confcrências todas, no que conccmc ao conhccnm'cnto mals'
aprofundado c propagação da logoterapia, dnñ'c11m'cntc podcñam
scr csüm'ados quanto ao gIau de sua 1m'portância. Os conccitos da
logoterapia, antes dcscnvolvidos mals' m'tuitivamcnte, vão reccbcn-
do cada vcz maxs' sua conñnnação cientíñca. Entrcmcntcs vai a
logotcrapia encontrando aplicaçâo práüca cm selorcs dc quc 0
própño Frankl m1"cialmenle não cogitara, como scja, a pedagogia, a
psicologia 1n'dustrial, a problemática dos adíctos à droga e outros
campos añns. Nitidamente se cvidencia uma convergêncna' fecunda,
não somentc cm díreção aos procedímentos orientados pcla
psioologja profunda, mas também cm du'eção da lerapia compor-
tamental fundada em tcoñas de aprendmig'em.
Viktor Frankl possui plcno discernimento sobre a
“1n'suñciêncía dc seus esforços" e, consequ"cntemcntc, sobre a
uml'ateralidade da logotcrapia. Sente-se na obng'ação de, através de
uma prcstação vital sxgmñ"cativa, correspondcr à graça q_uc, após
haver transposlo os portõcs dc Auschwitz, já o presentcou com
quatro dccêníos dc cx1$'tência. No que nos dlz' respeito, estamos nós
cm dívida com cle frentc a cssa reahza“ção. Sua luta pcssoal conlra
o desespcro cx1$'tencial pessoalmente expemn'entado nos campos
de conccntração c contra a dcstrutiva añnnação dc uma culpa
colctiva dos alemães nos anos subscqücntes merece o nosso ma15'
profundo reconhccun'cnto. Temos na maxs° alta conta a sua prcocu-
pação com as neccssidadcs ems'tencia15' dos pacicntes no lratamento
logoterápico.
Em dlgmf1"came apreço da obra dc sua vida como médico e
psx'coterapcuta, bcm ass¡m' por seus méritos na reconcmação teuto-
judaica, foi clc agraciado pelo Prcsidcntc da República Federal da
Alemanha com a Grandc Cruz com Estrela dc Mcrcc1m'cnto.
11
 VIKTOR FRANKL

Argumentos em favor de um otimismo

trágico

A logoterapia há de ser oonsiderada uma psicoterapia ccn-

trada no sentido. Na vcrdade, sua moúvação lcóñca asscnta no
prcssuposto de que 0 homem é um ser cm m'ccssante busca dc
senn'do. No cnlanto, tal procura de scntido é precxs'amcntc algo que,
na conjuntura social de hojc, cada vez mals' é considcrada frustrante.
Essa frustração há dc scr, não cm úlum°o lugar, debitada à lríade
trágica conslituída (1) _____'______¡pelo
sofnm'cmo (2)Lxcla culpa c (3) pcla
:

morte. ngu'ém conscgmrá evnar o confronto com o sofnm'cnot'“

gz

marrwedách a culpa ms'upcrávcl c, ñnalmente, a morte m'evitávcl. A

questão que ora se propõe ass1m' sc cnunciaz como sc podc dlzc'r sxm'
à vida, apesarde todos esses aspcctos Lrágicos da ex15'tência humana?
Uma outra pergunta se relaciona com esta c a complementaz pode
a vida, apcsar de todos os scus aspectos ncgativos, ter um scntido -
conservar o scntido sob quaísqucr condições c em qualquer
. ,

cücunstan^ciaí7 A rcsposta dependerá de 1m'ediato da d15'posição de

cncararmos dc frcntc a vída no scntido, por exemplo, de uma
passagem da carta de R11k'e endereçada à Duqucsa Sluo', nestes
não accitar a tr 'cidade da vida através dc uma
termosz “__'_U$mr_§ã___0uem
rcsolu ~o dcñninva, a onto HEÊEÃZE Jamals cntrar na osse
Mtênda
crlvaetc_dosam›sszwus"' Tãüo contráno, ..,,_
car ã
//L. . . w
criva e tc 51do no momcuto dec151v0, nem v1vo nem morto.
”'› ~,1-'g›w-

Além dlss'o, porém, algo am'da ma15' rclevante está cm jogo.

Trata-se de “extra1r'” dos próprios “aspectos ncgativos" e, qucm
sabc, axatamenre dcles, um senlido, transformando-os dcstarte em
algo posilivoz o sofnm'cnto, cm desempenho; a culpa, em mudança;
_.__\_
 a morte, chü,qcodadeammnoucnumapráucar°s'l. De qualqucr
sorte, subsnstc a possib1h" am m no quc cernc aos aspcc-
tos trágicos da czns'tência, “to make thc bcst of it”, como tão bem o
expnm'e a frasc mgl'csa. Vale dlze'r, há de tüar~sc da situação o que
de melhor cla possa ofereccr. O melhor, todavia, expressa-sc cm
latIm' com a palavra “opt1m'um”. E aquí se clanñ'ca o meu emprego
da locuçâo “otnmls"mo trágico”.
0 que vem a sigmñ'car, então, o dlsc'urso sobrc “argumentos”,
que dcvcm jusuñ'cá-lo? Trata-sc1 cm úIUm'a anáhs'e, dos assm' cha-
mados argumenta ad hominem , pons' não temos a m'tcnça'o dc
ensmar' um oumlsm"o que não tivéssemos anteriormentc aprcndido
de homens que vivenciaram o oumLS"mo trágico, sofrendo-o na
própna' carne. Assnm,' no exato sentído da aprendnzag'cm conside~
rada a mals' cñcientc, qual scja a “aprendlza'gcm pelo modelo”, o
sofnm'ento de um homo pan'en.92, poderá bcncñciar a outros dos
nossos pacicntcs, lcvando-os a uma “rcciclagem” exxs'tencial.
Todavm,' é de todo m'v1á'vel cogitaI-se de onmxsm"o “sob co-
mando”. Não podemos obng'ar mngu'ém a ser oumls"ta, ou a esperar
contra toda a cspcrança. Nem tampouco o próprio sujeito scria
capaz dnss'o, porquanto nmgu'ém podc “qucrcr” ter cspcrança. Sena'
tão 1m'possIvel quanto prctender 1m°por, ao lado da espcrança, os
outros do¡s' componentes da conhccida tríade, ou seja, a fé e o amor.
Somcnte conscguu'e1' crer em algo ou alguém digno de fé, assm'
como somente poderei amax a quem scja d1gn'o dc ser amado. Numa
\~palavra,\cspcrança,\fé e amor devem ser sempre hmdamentados
SfüHkâmaob
este as cto assemelham-se à fclic'de, cuja cx15'tência
rflvvdpkessu
oe' uma ase motwad . ñmme
tivermos motivo os
chzc's, WLW
fclicidade v1r'á a nós de mo o _csontan^eo_J_/_.
E uanto menos
,___p__~2_^nos
reocuarmos com ela, tWtOSÍUCmOSdCSua
uescn. á sos, a531m' como da aulo-reahza'ção. Quc dcsmnhecm'cnto do
Um curopcu que chega aos Estados Unidos cstranha ser
rciteradamentc ms'lado a ser “happy”. Soa como uma ordcm a
obng'á-lo a ser fchL' Se tivcr um motivo para sê-lo, não há neccssi-
dade dc dar-lhe ordcm para lal; porém, sc não o tiver, será
1m°possíve'l. O mcsmo sc podcria dlze'r com relação ao ns'o. Sc eu
quls'er que alguém ria, certamentc terei dc dar-lhc motivo paxa lss'o,
d1g'amos, contando-lhe uma piada. “Impor” algo com tal objctivo
scría dc todo m'viávcl, a não ser que mande somr' a alguém que estou
l. Argumcntos com que se opóem ao advcrsário os scus pxópños atos ou
palavras. (N.T.)
2. Homcm sofredon (N.T.)
14
fotografanda Neste caso, o soms'o forçado, o “por favor, mantenha-
se bem amávcl” dcnxar'á sua marca no rctrato...
Vamos sublmh'á-lo: a felicidade há dc ter um motivo de apoio,
em conseqüêncía do qual se ms'talará por si mesma. Em resumo,
será “sub-sequ"cnte", não se chegando a ela com melas “prees-
tabelccidas”. Ela não é factích AAFSTÂO
contrário, uanto mals' sc qucu'a
cm ob'cto 1m'cdiato,tantomalscatraorazerc
fúdxtransfomàla
C__r_/_q\_a__cs-via”
se dc uem a busca. Sabpglemhfmsoaooase.
om cc1t0, o pnn'cíp10 o prazer, uma vez traduzido em ato,
comprova ser um grandc “dcsmancha~prazcrcs”.
Todavía, no que dlz' respeito ao prm'cípio da realidadc -
aparente oposítor do pnn'cípio de prazer -, não se encontra propn'a-
mente em contraposição, mas a servíço do prm'cípio de prazer, o
que o própn'o Freud reitcrada c cxplicítamentc ressaltou. Contudo,
não dcvemos perder de v1$'ta e esquccer o fato dc quc o próprío
pnn'cípio de prazcr, de sua parte, sc encontra a scrviço dc um
prm'cípio pnm'ordial, o prm°cípio dc homcostase, oga__m6__ual
sc ordcna
Mnosenti ' 'o, n_______p____a
mcdida do ossíchqoeno
m'terior c da ausência de tensõcs - como sc ao homcm Wpdre
entc só
MOMOItasseenaamw comoF_T-___se ao omem efctivamentc
mals' 1m'portassc do que h'bertar-sc dc tcnsões, enquanto saüs'-
níL_____a
faz ms'tm'tos c ñrma compromksos entre o cgo, o íd c o supercgo. O
mundo em seu red0r já não sc conñgura como algo a atmgnr" com a
transccndência dc si mesmo, à procura de uma causa quc mereça
ser abraçada, ou cm busca dc um parccüo que sc consiga amar pclo
s¡m'plcs fato de ser d1gn'o de ser amado. Ao contrário, as cms'a5, ou
cntão os homens no mundo, s¡m'plcsmcntc sc rcduzem a meios para
um ñm de maior ou menor utlh"dadc e, na mclhor hipótcse, suñcicn-
temcnte prcstávcns' para scrvücm à saus'fação dos próprios |m'pul-
cspec¡ñ'camente humano no quadro de uma tcoria de motivaçãol E
ls'to quando, na rcalidade, tudo o que é humano se caractenza' por
sua autotranscendência. Slgmñ"ca estar d1r'ecionado para algo que
não é o próprio sujeito, ou, dito com mals' precns'ão, para alguma
consa' ou alguém fora do sujeito, pelo menos de fonna prioritária.
QpTMoemmtaenaoammemsoeuanoamo__.uandomc°°1°°°°mombmdadearasemaumacaus'""a, é a
VHÂTLW ue tc o em visla e não a mim mesmo e uan o amo uma
pessoapercomcewstaamlmmcsmaomenteconsJyHC_crlr\ser-"r
Wahw _'_-_'~
o cnte,p&ss\oa umana e Wre-me
na mendldñaicm ue me
xpñmimambcnoemrnçãqealo ou e gu m emstente no m_un o.
ara tanto mporta c a cu cm Wute
csse go ou esse alguém e
mo a a pr pnaW
rcçao. o contrán'o, dcvodelxar' de esTar
,___Fl
 atento a mun' mesmo, ñcar “atrás", csquecer-me. Devo perdçpme
de v¡s'ta exatamcnte como o olhoz na medida em wnxcngaue
n"o
5próprio orf~^\o,
enxerga o mundo sntuíw oracle. Se, no cntanto, o
õlho sc cnxe"rgx”_'Fãlgr_Akar
a sx mcsmo, amos em mnseqüência de uma
opacidadc das estruturas refratárías (cns'tahn'o e corpo vítreo) ou
uma hcmorragia m'tema, a v¡s'ão ñcaria pcrturbada, por estar com-
prometida a transpaxência c, portanto, a captação da unag'em exteb
na
Ao refleürm'os sobre a exagerada preocupação de uma pcssoa
com a reahza'ção do scu cu, acode-nos à mcntc o bumerangue, quc
supostamcntc volla ao caçador, o que ocorrc apenas quando este
erra o alvo. É exatamcntc o que sucede ao homem centrado em si
mesmo, entreguc à “hiper-reflexão” cm torno dele própn'o, a ponto
dc perder de ws'ta o sentido que possa tomar sua vida d1gn'a de scr
vivída. ___Nav_erd<a4dej o Íhomcmm é,rno fundo, um serrcm busca,_dc
>senüdo. E, se nessa busca for bem sucedido, encontrará lambémrg
felicidadc, porquanto, como já sc cvidenciou, é o sentido o motivo
para 0 scr-fehz'! __T__¡\J'Entrctanto
vc'a-se f____pbem:
ter rescnte um sentido
OJÀSOWHaOSÓCW para nós elícidade, mas também nos toppmaatosaraf
'o. DISSO caram consW n cs o ex-m ema os c todos
WWS campos dc concentraçao e os ri§”_'_d_-'_Hloncuosegucrra,e
Auscmtzatslamgrao. Ceteris panu,sascnccs de
sMobrcúvênáa dc ndiam da orícntação para um semthamUa
W ra,_____
lá fora, Wuan o, num uro mcc o rücu crasse a rda- '\
e. Se, ao m'vês >o',“na'“ a'0“u'”n1ngu""ê'mis›ur'glss'c em seu honzonte
corqmo causa motivadora da sobrevivência, não mals' havcndo um
para-quc-sobrevivcr, nem a v1$'ão dc um futuro como razão suñ-
ciente para tudo suportar se lhc dcparase, o quadro sería cstez “Um
rpcssoas de um modo gcral possuem o suñciente para viver, mal
d1a' ñcou cle deitado no barraco e nada lograva 1n'duzi-lo a vestnr'-sc,
1r' ao banhcüo e comparecer no lugar de chamada. Nada produzia
efeito sobre ele, nada o assustava. Nem súplicas nem amcaçag ncm
vergasladas. Tudo cm vão. Snm'plesmente permanecia deitado, mal
se movendo. E quando a cns'c provmh'a de doença, também se
rccusava a u" ao ambulatório ou a cmprcendCr o quc qucr quc fossc
em scu bcncfício. chdera-se totalmentd Ficava dcitado em suas
própn°as fczes c unn'a, nada mais lhc 1m'portando” (V1kt'or E.
FrankL... trotzdem ja zum Leben Sagen, Em' Psychologe erlebt das
Konzentrationslager, Munique Dcutscher Taschen-buch Verlag,
3. Picando igua¡.s' as dcmais colsas', |s'to é. sem que haja modiñcação de oumls
caractcrtsticas (N.T.)
16
1982).4 E sabe 0 Icitor o que acontcccu dep015'? Remexcu no bolso,
do qual rem'ou o úIUm'o cigarro quc rcservara, e passou a fumaL
Era para nós um sm'a1 dc que dentro de poucos dias cstaña morto.
Antc tals' fatos, quem não se lcmbraña da nova gcração dc
hojc, a qual, expressü verbu',s considera a si mesma c sc au-
todenomm'a “geração sem futuro”? E qucm se surprccnde com o
fato dc os jovcns não adenr'cm apcnas ao cigarro, mas sc tomarem
adictos à droga? Facc à mamTesla ausência de sentido c ante um
abissal scntimenlo de falta dc scntido, hojc tão comum,
aparcntemente há uma única saída possfvclz o mcrgulho na pura
subjctividadc de meras sensações de felicidade, conformc são trans-
mitídas pclos tóxicos.
E o senum'ento de ausência dc sentido6 se alastra. Vem
aumentando o númcro de pcssoas em busca mfr'utífera de senn'do.
A exacerbação do scnüm'ento dc ausência de sentido, em am^bito
mundiaL pôde ser empkicamente comprovada pclo conteúdo c
motivação de toda uma literatura e com o auxílio dos dez tesles
logoterápicos de que dls'pomos. Para cilar apenas dons' trabalhos
que, casualmente, días atrás, manusceiz “... of forty consecutíve
paticns applymg' for thcrapy at a psychiatric outpatient clmi'c, 30
perccnt had some major problem m'volvm'g meanm'g as adjudged
from self-ratmgs', therapls'ts, or m"dcpcndcnt judges”7 (Irvm'g D.
Yalom, Ens'tential Psychothcrapy, Basic Books, New York, 1980).
Poucos dias depoxs' tive cm mãos uma estatíslica, scgundo a quaL a
m11h'ares de quüômetros para o lestc, com apenas 1% dc d1f'erença
ÀtidoRews'ta, “Profil”, 149 ano, n° 15). Nos rcspectívos países as
sabcndo, todavia, para o quc valeria a pena viver. E ali onde,
4. Obra traduzída para o ponugués por W.0. Schlupp c C.C. Aveline sob o
tftuloz Em busca de scntido - Um psicólogo no Campo de concentração. Pono
Alcgtc/ São Lcopoldq Sulm'a/Sinoda.l, l987. (N.T.)
5. Oom palavras catcgón'cas, cxpmssamcntc. (N.T.)
6. 0 scntimento dc ausência dc scntido surge na forma de lédio c indifcrcnça
O Iédio se dcñnc como carench dc m'tercsc, nomdamcmc dc imercssc no mundo,
ao passo que a indiferença pode ser deñmda como carencia dc iniciatM c. pons'. dc
im'ma'l¡va' frcntc ao mundo, no scmido dc nclc opcrar mudanças.
7. dc 40 pacicntcs consecutivos solícitando tcrapia num ambulatóño
psiquíátn'co, 30% aprcsentavam um pmblcma rclcvantc com mlaçào ao sentido,
oonformc venñ'cado através dc auto-avaliago, avaliaçáo de lcrapeutas ou jufzcs
m'dcpcndcmcs. (N.T.)
17
 m't1m'amentc rclacionada com a cns'e econômíca mund131,' a pre-
mlssa' por pnm'en"o mcncíonada- prospcñdade matcnal'- perdc em
relevan^c1a,' o dcpauperamento cns'tcncíal - a prcmlssa' mencionada
por últ1m'o ganha em 1m'porlan^cia, na medida em quc a cns'e
cconômica gcra desemprcgo. A falta dc trabalho exaccrba am'da
mals' o sentlm'ento de ausência de sentido.
Sabc-se que há meio século também houve uma crisc
econômica mundial, tendo por conscqüência desemprego cm
massa. Naqucle tcmpo fui cncarrcgado do atendxm°cnto dos jovcns
dcsempregados, na área de psiqlu'atna,' sob os auspícios de uma
campanha denominada “Juvcntudc cm Pcrigo”, lançada pcla
Cam^ara Vienensc de Trabalho. Regls'trci as cxpcriências que pudc
então colhcr na rcv15'ta Sou'alarzt"1iche Rundschau, cm 1933, há
cxatamenlc 50 anos. rMoaumaléumaavedepressaQAhlpótew.Edcscrcwocdesxclcomoned'"c
desemprego, CUFTLWjO pon o crucxal é uma ave depressão. A
mcormci m'cava ser t dcpressão onun e uma dupla
w L UJ
pscudo-idennñ'cação. Oidcsoçupadowé propçnsnoñq dlze_n'r7a751gçsm'mnz
' “\Estou sem triabalho; portanto, sou m°únlf e, co,,ns,,cqücntc¡ncnte,
J mthaÍvidaÍ não tem sentido”. Tal m'terpretação fo¡,' por ass¡m' d1zc'r,
conñrmada ex íuvantibussz tão logo eu conseguia para os respcctivos
jovens alguma tarefa, não remuncrada, porém plena de scntido para
eles, quer em orgamza'ção de juventude, quer em escola superior
popular, ou cm biblioteca pública, o dcsapaream'enlo da depressão
cra axiomáticq por ma15' que o cstômago “resmungassc” de fome,
antes como dcpons'. Rcleva observar que nos anos trm'ta desemprego
e estômago vazio am'da eram rcalidades concomitantcs. Convém
ms'Ls't1rm'os neste ponto: vcnñ'cava-se que o desemprego em si levava
à neurosc em escala muito menor do quc o scnnm'ento dc ausênch
de sentido. E, para obviar a isso, a rede de seguros do Estado de
bcm-cstar socíal também não era suñdcntc, po¡s', para tanto, sua
cstrutura apresentava malhas demasm'do largas. O homem não vive
só de seguro-desemprego...
Contra o desemprego se tem recomendado, entre outras
mcdidas, a redução das horas de trabalho. Mas também ncsla
problemática, as mcdidas de ordcm sócio-cconômica não podem
prescm'd1r' da abordagem psiconoélíca. Não foi sem fundamcnto
quc o amcn'cano Jerry MandeL anUg'o aluno mcu, perguntavaz “Se,
graças à tccnolrogizg chcgarmolswag pwornto dgprover as ndcr_m77aí_d_as_Tc!'
todria a nação com apenras q_u1nze' por cento da mão-de-obra ameri-
vcana atuaL do¡s' problemas teremos de enfrentaxz Quem deverá
8. Em vinude da ajuda. (N.T.)
18
pertenccrlgos qmnze',pm Vcento dors quc efctivamenytrç cxccuwtam or
* frazbalho a__qc
o uc f_arão os dcm_als' com o___~po__s'eru
tcm livrc -_g_çgm_g
LJTÍW e scntido dc surarrv1_'da?'”'No quc tangc à aposentadoria
pantccnacwcn'cía*-serela não menos problcmática sob o aspccto
psiquiátríca A cns'e dos quc se aposentam aos 65 anos dc idade já
nos dá bastante que fazer, de modo particular na sociedade dc
produção, à qual pcrtcnccmos, c quc tcm como conscqüéncía a
idolatria da juventudc. Elea çnsr'e, por sua vcz, traz em scu bojo o
scnüm'ento de ausência dc sentido daqueles quc se têm por m'útc¡s'.
E aumenta o senum°cnto dc mf'crioridadc dos que sejulgam atkados
ao ferro velho.
Teccmos comentários sobre uma depressão que tem on'gem
na sítuação sócio-cconômica do “pacicntc”. Aio lgdgdcsúemts',
Wdaderwmad'ms§n de esn"^' e am'da, afassm
e da de ' n ó e procedendo cstar_últim__a_d“_ard1m#_ç'nsão
ílJl
bloq ca. Ochhento dc ausênaa dc se 'd1f'cre de uma e
Hííutraf Tal'sonm'cnlo, causao pea vida semsenítídõfém_si
mesmogànão conñgura docnça psíquica, e sun' cxprcssão dc maturi~
dade cspm"tual. A nova gcração, cm cspeciaL ousa não apenas
m'dagar accrca de um scntido, mas outrossm' o questiona c
sobretudo sc opoe' a ser sujeito passívo da lradição. Isto faz com quc
o nível de frustração cxxs'tencial c, po¡s', dc frustração daquüo que
na logotcrapia designamos como “vonlade de scntido” scja particu-
larmcnte elcvado cntre osjovens (conformc a Sociedade Can'tas, “é
de 42 o percentual dc jovens que consideram a vída destituída de
scntido”). Assun' sendo, não admka quc o sennm'ento dc ausência
de scnlido se sed1m'ente na forma de uma síndrome dc neurosc de
massa, observável em cspecial entre osjovcns. Um motons'ta de táxi
norte-americano certa vez me deu a fórmulaz “__Eles sc _Hm_alWVam a si
mgsmforsJVmamtamse cntrc s¡,' mg'crcm drogas.” Ao m'vés dcsta duzna"$ ' '
de palavras, poderia ter usado apenas cstas trêsz “depr_e__ssrãg_ -
ãELSSãO - toxicomania”. “Matar-se a si mcsmo”, oomemr smdio,
c um modõchr on'gm'a-se de uma dcprcssa'o, a quc subjaz, de
modo particular, um senl1m'ento de ausêncía dc sentído. Nwão qucro
com isto singlcar quc todo suicídio tenha sido du'clamcntc
motívadoipofum scnt1m'cnto de ausência de sentido. Mas sou de
op1n1"rãko, 1s'to sxm,' que o suicídio tcria sido cvitaidorse o respectivo
sujeito houvcssefwnhcmmçüd"n_l0 de _aLgro› cormo um' ,*_
_ ._*,A Sentido em
._..__,,
Ww.0 conhcc1m'cn[0 dc um sentido para vivcr não possw
apenas relevan^cia terapêutica espectñ'ca, conñrmada, aliás, por
nossas experiêncías de logotcrapia, mas também se revastc de
relevan^cia global proñlática. Já que estamos fazendo alusão à

proñlaxia do suicídio c às providências preventivas pernn'cntcs,
permito-me assm'alar quc “o psicólogo cducacional do Consclho
Municipal dc Educação de Viena rclatou o segum'te cxpenm°ento
efctivado na Suíçaz Num dos canlõcs, os meios de comum'cação de
massa, por conscnso, delxar'am dc transmíur°, pelo período dc um
ano, qualqucr notícia sobrc suicídios. Com tal providência caiu 0
percentual dc suicídios no rcfcñdo cantão para a déc1m'a partc do
total venfl'cado nos anos antcriores” (Die Presse, 14-15, II, 1981, pág.
5). Dez por ccntol Pcrgunto-mc quem dos rcsponsávcb pcla comu-
nicação dc massa (a mídia) eslará dls'poslo a assumu' a respon-
sab1h"dacle pelos 90 por ccnlo dc suicídios que teriam sido cvitados
sc não se lhes livcssc dado tanto dcstaquc...
Dcnx'emos dc lado, no entanto, a problemálica da prcvenção
para voltar-nos à árca dos questionamcntos que dlze'm respeito à
m'tervenção. Como proccdcr, cm dado caso, facc à reaüdade con-
crcta7 Se mc solicitarcm a rcsposla, podcrcí fundamentá-la em duas
experiências difcrentesz na minha colaboração com o Posto
Vienense de Atendímenlo aos Cansados da Vida (erner
Lebenxmüdestelle), cn°ado c dmg1"'do durantc dcz anos (alé 1938)
por W11h'elm Bõrner - praticamcnte se trala da pr1m'clr'a ms'tituição
do gênero! - e, além dnsso', nos quatro anos cm que, como médico
novo, atuei no grandc Hospital Psiquiálrico da Cidade dc Vicna,
ondc eu atcndia o pavúh'ão das pacientcs m'temadas após tercm
tentado o sm'cídio. Pclos mcus cálculos, aproxnm'adamcntc 12.000
“casos”, ou dcstm'os, passaram por m1nh'as mãos ncsscs quatro anos,
o tcmpo suñcicnte para reumr' SIgmñ"cau'vo accrvo de cxpcn'ências...
Costumo rcportar-mc ãquclas cxpcriências scmprc quc mc dcparo
com pacicntes propcnsos ao suicídio. Ora, tem sc cvidenciado que,
mesmo em siluações aparentcmcnte sem nenhuma saída, añnal
surge uma solução, uma resposta, um sentído, por mms° que ls't0
demorc cm tcrmos dc tcmpo. Quem me podc garannr', pcrgunto cu,
sc no meu caso não sucedcrá lss'o e também para m1m' um dia não
aponte um senlido quc há muílo tcmpo cu não lcria ousado admiur'?
Algum dia...! Mas para quc acontcça essc dia cu prccxs'o viver,
conservar-me vivo para ele. A responsabmdade para tanto, essa cu
a carrcgo com1g'o hoje e ela já não mc larga mms'.
Rclaüvament_c ao scgundo aspccto da tríadc dc ncurose dc
massa, a “agrcssão”, ao m'vés de apresentar resullados de pcsqmsas'
cstatíslicas rçfcrentcs ao sent1m'ento de ausência dc sentido, pcr-
mito-me cóntar uma anedota, que mc foi transmitida pcla socióloga
nortc-amcn'cana Carolyne Wood Shcnf'. Consegmr'a ela m'troduz1r'
dls'crctamcnte, com v¡s'tas a um expenm'ento, jovens psícólogos num
vvví 1
.,,L>~›'
' /
acampamcnto dc cscotcu'os. Lograram cstcs dcscncadear agrcssocs'
dc grupo através dc competições esportivas. Notc-sc quc o csportc
não é a ____g;calarsl modema, à qual se atn'bui a cñcácia dc canahzar' c
sublun'ar os “potcncials' agressivos”. Considcro o csportc mlúlo mals'
a ascesc sccular, quc obng'a o homem ñsicamcnte “subdcsañado” a
'”e'›ng1rMIVÍc' si mcsmo um dcscmpenho, am'da quc scja apcnas um
“dcscmpcnho de rcnúncia”. 0 csporlc pcrtencc ao “que-devc-ser-
salvo", que, segundo Ho"lderhn,' “crcscc ali onde o pcn'go ameaça”
(desdc quc a “chuva ácida” am'da não afete tal cresc¡m'ento).
Aquclçsi quçgtômr prcguiça de,,çam1nhar' culúvamnpnlãokVojpginxñ
ãuan_”d,°_2as§mas ma1s' mus_c.ul,os,asjá nã0.p.o_L_,-_anzam'r_a_at§_nçã_0_dc
mn>"gu'ém, rcco_rrem àc arcróbica mals' scnsual.
Mas volvamos ao cxpenm'cnto dc Carolyne Wood Sher1f'. Num
único momcnto as agrcssões foram como que vam'das do campo.
Tal ocorreu quando os grupos antagônicos tiveram dc cmpregar
esforços conjuntos para reporcm em condições dc uso uma carreta
dcstmada ao transporte de ahm'entos para o acampamento, atolada,
em conseqüência de um temporaL na lama da tastracla1 NArcnucga 7a
uma tarcfa os umr'a - c as agressões h'l7c7ralm___eínte foram esquec1_'d_as.r
ñtreraõí drlxair em suspcnso um qucstionamcntoz seria
dcmasiadamente ousado exlrapolar do fato c perguntar sc a única
chancc c sobrcvivência da humam'dade não estan'a precxs'amenle a
dependcr do enconlro dc uma tarefa comum para todos os povos?
Mas vejamos o terccu'o aspectoda tríade da ncurose de massa,
a “to›dcomam'a'L/Quls'cra ma15' uma vez poupar o lcitor do cansativo
Wc '/da'dos estaüs'ticos. Não posso, todavia, om1'l1r'-mc dc
relatar-lhes os resultados de dons' testes. Annemarie von Forslmeyer
pôde constatar, em 90 por cento dos casos dc alcoohs'mo por ela
examm'ados, que osrespectivos sujeitos padeciam dc um scnüm'enlo
s¡gmñ"cativamcntc profundo dc ausência de senlid0. E, scgundo
Stanley Krippner, quasc 100 por ccnto dos toxicômanos
psiquiatricamente examinados por ele, que1x'avam-sc de não
havercm conseguido cncontrar scntido algum em sua vida.
Talvcz deva eu acrescentar que também os esforços pela
reabtl1"tação de pacientes lornados cnmm"osos em conseqüêncía da
droga lograxão êxito apreciávcl quanto aos resultados, uma vez que
se tenha prcsente a problcmática fundamental do scnlido e se
proccda levando em conta tal realidadc. Os logoterapeutas norlc-
amcn°canos Loms° S. barbcr c Alvm' R. Frals'er puderam comprovar
uma cota dc 87 por ccnto dc êxilo com delm'qu'cntcs juvems' e de 40
por ccnto com adictos à droga (Logothcrapy m' Acu'on, editado por
21
 Joscph V. Fabry, Rcuvcn P. Bulka, and Wúh"am S. Sahakion, New
York, 1979). Apanhci a csmo alguns excmplos.
Isto quanto à procura dc um sentido. O que dlzc'r, entrctanto,
sobre o senüdo cm si mesmo? E como, cnfim, scrá possível
encontrá-lo? Scja-mc pcrmitido observar, prchnun"armcnte, que ao
se falar de sentido cm logolerapía, sempre sc quer s¡gmñ"car o
sentido concrcto, latenlc na siruação com que se confronta uma
pcssoa concreta. É um sentido em potenciaL o que vcm a sngmñ"car
que sempre se encontra na expectativa de ser atuahza'do - cxata-
mcntc pcla pessoa à qual “d12' rcspeito”, que clc “ocupa" c que ouvc
o “apelo” dele provem'cntc. Ao lado do sentido concreto cxxs'te
cvidcntemcnte também um sentido abrangente. No cntanto, valc a
regra dc que o sentido, quanto mals' abrangentc for, tanto menos
m'tel¡gí'vcl scrá. Não é por acaso que se fala também num sentido
“úll:¡m'o". Ocorrc que o senüdo concrelo de uma situação concrcta,
relativamentc a esse sentido-ñnal, se comporla como uma unag'cm
Is'olada relativamente ao ñlmc m°teu"o: comcçamos a ver mans' claro
o senlido do ñlme apcnas quando nos aprox1m'amos do “happy end".
Mas tal succde somente se antcriormente lograrmos “acompanhar”
o scntido de cada ccna em paru'cular, alé chegarmos a esse ponto
ñnaL A551m,' por um lado, teremos dc estar atentos e, por outto
lado, ser capazes de esperar, no c1n'ema, até o ñm da projeção - c,
na vida, até a “hora de nossa mortc”.
No cnlanlo, no que concerne ao sentido que a logotcraph tem
em mu'a, o sentido concreto, qual seja, o sentido peculiar a cada
situação em sí mesma - a este chegaremos por via dc um processo
de descobcrta dc sentido, o qual pode ser locahza'do a meio termo
cntrc uma cxpcn'ência-surprcsa (Ahn-Er1ebm's)_, no sentido que lhe
deu Karl Buhl"er, e uma pcrccpgáo gestáltica (Gestaltwahmeh-
mung), no scntido explicitado por Max Wertheun'er: rcpcnün'a-
mente emergc um sentido dianle do nosso olhaL Todavia, não sc
trala aI de ver uma “ñg'ura” que percebemos como que projetada
de um “fundo”, mas, contranam'cntc àpercepção gestáltíca, no caso
da perccpção do scntido cslá em jogo a descoberta ms'tantan^ea dc
uma possx'bú1"dade no fundo da realídade e está efelivamentc em
jogo a possibmdade dc alterar a reah'dade, tão logo ls'to seja neccs-
sário c cnquanto Is'to for possíveL
No que respcita à clanfi'caga"o do proccsso de dcscobcrta do
sentido, Charlotte Buhl"er optou pcla via do cstudo comparatívo dc
maleñal biográñco. Dnr°ia eu quc, a par dlss'o, ems'te lambém uma
abordagcm biológica. Se pamrm'os do pressuposlo de que a cons-
ciência é uma espécie dc órgão do sentido, assemelha-sc ela a
um ponto (souj7eur), que sugcre a dkeção cm que dcvemos movcr-
nos, a du'cção cm que devcmos avançar para lermos accsso à
possiblh”dade de um sentído, cuja concrcuza'ção de nós é cngl"da por
determmada situação. A lal situação dcvercmog porém, aplicax
sempre um determinado parâmetro, qual seja, uma escala de
valorcs. No cntanto, os valores pelos quaxs' cla é aferida cncontram-
se ancorados em camada tão profunda de nós mcsznos, que não nos
é possích sob pcna de Uau'-nos a nós mcsmos, dcnxar' de segm'-los.
São valores pelos quais sequer podcmos decidir~nos, e isto
s1m'plcsmcnle pclo fato de que scmpre nós “somos" esses valores!
E não tcmos dúvida cm admitu' que com esla nossa hipólese nos
aprox1m'amos do conceito de um a priori biológico, no sentido
explicilado por Konrad Lorcnz. De qualqucr modo não sc podc
denxar' de admitü que a autocomprecnsão axiológica pré-reñexiva,
como dcscjaríamos denominá-la, scja biologicamcntc sub-
estruturada e mesmo preconstituída.
A partk desta autocompreensão - e desde que a preserve -
sabe o homcm cnconlrar também os cammh'os que o conduzem a
um valor. Não é, po¡s', neccssárío que lhe dcmos uma rcccita para
tal ñnL Dc modo algum o scntido poderá ser prescn'to. Ncm sena'
possívcl fazê-lo. Contudo, pode muito bem ser descrita a maneüa
como, a partü de si mesmo, possa o homem enconUar senlido.
Efctivamenle se nos dcparam, por assnm' dxzc'r, três caminhos
pnn'cipals' para chegarmos ao encontro dc um scmidoz em pnm'eu"o
lugar, enquanto ñzennos algo, reahzarm'os uma ação ou criarmos
uma obra; em segundo lugar, se expericncíannos algo, seja natureza
ou arte, algo, d1g'o eu, ou alguém E expcñenciax alguém em pr0-
flmdidade, até 0 am^ago do scu ser um"co e smgu1'ar, sngmñ'°ca amá~lo.
Em oquas palavras, o sentido podc scr cnoonlrado pela via regia
activa, assxm' como pcla Via regia contemplativm Por últ1m'o, no
cnlanto, nos é dado conslatar que podemos cnconuar senlido não
apcnas - para formularmos de modo bastante elementar - no
trabalho e no amor. Podemos cnconlrá-lo mesmo ali onde nos
tornamos v1't1m'a dc uma sxtuaçao sem csperança, dc uma 51 uaçao
Wnao oemos tcrar, na qw apcnas nos é facultado nosso
próprío posicionamcnlo frentàl_-f__TTc a ca c a nós me_smos, e moo lal
Éñwâquuq so o aspecto humano, possamosamadurecer, cre_uIE'scer,a-
mís,1:¡íLsJêpd__ñ_l_"'_assar-,esamanc1ra, dar__dã_lestemunhomalsTumf_d-'anac
oas capadmesumaWñqueâ E a caaae e Uansmuar
m tragapessocmo.
Graças a esta lerceüa poss¡'b1h"dade - a dc encontrar scntido
até mesmo no sofnm'ento - o scnüdo polencial da vida é m'condício-
 naL Vlr'tualmentc, a vida 6 plena de sentido sob qualquer condição
e em todas as cücunsta^ncias, a1n'da as mms' last1m'áve¡s'. Dados
estatísticos de pesqms'a cmpín°ca, o__btidos com base nos 10 testes
logotcrapêulicos (V1k't0r E. FrankL Arzlliche Seelsorge, Vicna, 1982,
pág. Z$4), fomcccram prova dc que o homem possui realmcnte
condíçõcs dc encontrar scntido 1n'dcpendentemcmc dc sua idcnti-
dadc sexuaL de sua idadc, dc scu quocicnte m'telectual, dc seu grau
de formação, da estrutura dc seu carátcr, do meio ambiente, de ser
ou não ser religioso e, sendo-0, da conñssão de que faz partc (V1k'lor
E. FrankL Die Sinnfrage in der Psychotherapie, Munique, 1981, pág.
63).
No que especnalm'ente conccme à possibmdadc de “exu'a1r'”
do própño sofnm'enlo uma ccnlelha de scntido, dxs'poc'-se, oulros-
sun,' de um cstudo empíricoz Nada mcnos que 61% dos anug'os
soldados exammados na Univcrsidadc dc Yale, que havmm' sido
pns"oneu"os de guerra no Viemam, rcconhcccram quc, apcsar da
t0rtura, doença, subahm'entação e 1s'olamento em cela m'divídual,
“t1r'aram provcilo" da situação em tcrmos humanos. Deveras,
lJ
havendo“crcsdd0"mt'en°'rmcnte›
m'--_~_&í_aduros”
(W.H. Sledgc, .I.A.oydstun,_ñC|"R_b.__q#F;T_E
c . a e, Arch. Gcn.
-~
Wsycatry, 37, 1980, 430443).
-
Talvez me seja pcrmitido cumpnr' mmh'a promcssa e explicar-
lhes os argumenla ad hominem. Por um quarto de século fui presi-
dente do departarncnlo neurológico de um hospital público e se me
~›gz;›-~
proporcionavam sempre novas oportunidades para obscrvar como
m
pacícntes com moléshas' agudas ou crônícas conñguravam c cnfren~
tavam o scu dcstm'o m'dm"velmenle grave - rapazes quepouco antcs
de scrcm m'lernados “cspocavam” pelas ruas com suas Yamahas e
moças que am'da no sábado anterior havm'm passado a noite
dançando numa dls'cotcca. Mas sobrc cste assunto scrá prefcrívcl
rcportar-nos a Jerry Long, o quaL devido a um acidente dc mergu-
lho, ñcou paralítico nas quatro eercmídadcs do corp0. Conscgue
ele escrevcr à máquma med1an'le um bastonete preso cntre os
dentes. Alguns anos atrás escreveu-me uma carta, lá dc sua temnh'a
tcxana, da qual mc pcrmito transcrcvcr eslc tópicoz “Qucbrcí o
pgmm íAJmas lsso' não me uebrou. Ao contrário, mmh'_'Ta vi_
a____p_ül___cSWo
suzoogxa~ Mantcnho contalo com a Um°vcrsidade através
c um apareo espccial de telewsa"o, de sorte que posso ouvu' as
prclcçocs', participar de sem1n'án'os c até prcslax cxames. Estou
oonvicto de que o meu 1m'ped1m'ento me tornará um consclheko
psicológico lanto mans' comprcensivo. wfnmçmu86i'
cresc1m'ento q____ç§_[g___Lue
alcani ria sido 1m'ossívcl”.
Slgmñ"caria Iss'o que o sofnm'cnlo scja nccessário para o an-
ÍWL
contro de senlido? Admiti-lo sen'a cometer grotesco equívoco.
Longe dc xmm° añrmar que o sofr1m'cnlo scja ncccssário. O que
prelcndo dlze'r é que, apesar do sofnm'ento, é possível o enconlro
de sentido ~ contanto que o sofnm'ento scja m'evitávcl, valc dzzc'r,
que a causa do sofnm'enlo não possa ser rcmcdiada c afastada, qucr
sc tratc de uma causa biológíca, qucr psicológjca ou socíológica.
Quando um caxcm'oma é opcráveL é óbvio que o pacícntc deverá
scr operado. Ouando um pacicnle vem ao nosso consultório com
uma ncurose, naturalmente farcmos o possívcl para libcrlá-lo da
ncurose. E sc ocorrcssc estar doenle a sociedade, pamrí'amos, tão
logo e cnquanto lss'o fossc possích para uma ação política.
Tcnhamos como prm'cípio que, antcs do mans', 1m'porla atmglr"
e afastar a causa dc um sofnm'cnto. Em suma, a prioridade pertcnce
à ação concrcla. Só no caso em que nada maJs' se possa “fazcr”, pelo
menos de un°ediato, exclusivamente nesse caso o sofnm'ento produz
uma poss¡'b111”dadc dc scntido. Esta, porém, é a possn'b111"dade mans'
alta. Na verdadc, não lhe pcrtcnce a pn'on'dade, mas em compen-
sação é qualitativamentc a mans' alta. Também essa d1f'erença de
excclsitudc na ordcm hierárquica dos valorcs podc ser empm"ca-
mcnte provada. O Institulo IMAS descobriu quem, na op1m"ão dos
austríacos, é merecedor do respeito no grau maJs' elevado. N_ãoeram
owdjs
grandcs pcsqulsa'dor tampouco os polílicos cm1n'cnles. N__em
eram aras amosos ou cspoáFWtascowosOápwcda hicrar-
me ocupao poromens que ommam umístunoaveW
MMTLpoWr
aueesucse em nÀm através dc grandes sacnf'ícios pes-
Wm em avor e oquas ssoas'_1_51____,-F_*udmpeaaspor
cenooscncwstaos.Echrry ng os d01$' elementos sc
conjugam: sob a mfl'uência de uxn documentário ñlmado, que a
telcwsa"o texana lhc dcdícou, uma scnhora, decidida a cometcr
suicídio, 1m'ediala¡nentc antcs da execução do ato plancjado, guar-
dou a p¡s'lola. Não sc pode olvidar que lambém exxs'tem reaçoes'
psicológicas em cadeia. E não é somente válido o ditado de que
Deus ajuda a quem se ajuda, como não é menos procedente dnze'r-se
que ajuda também aos outros, mcsmo sem sabê-lo, aquelc que se
ajuda a si mesmo.
Isto sobrc o pnm'c1r'o aspecto da tríadc trágica - o sofnm'ento.
D1g'amos algo sobre o segundo aspccto - a culpa. Scmpre me tem
fasc1n'ado um conccito teológico denom1na'do mysterium m'iquira-
us'9. Mesmo antc o pcng'o dc fazcr düetanüsm°o tcológico, prcñro
ofereccr-lhes a mmh'a m'lerprelação pessoaL No meu entender, a
exprcssão sugerc quc um dcln'o, um ato crmnn"050, em ms'lan^c1a'
últnn'a, 6 m15'ten'oso, porquanlo ncle remancscc m'variavelmcnlc um
resto quc dcsafia a nossa propensão de m'vesug'ar as causas. Não
conscgmrí'amos aprccnder csse rcslo na tessitura dc causas c cfcitos
cm quc a culpa sc dlss'ipana,' dc modo a não estarmos maxs' lidando
com um agcntc humano, capaz de tcr culpa, mas s¡m'plcsmenle com
uma máqtúna ncccssitada de concerto. Com Iss'o, no enlanto,
lcríamos dcspojado o sujeito de sua d1gm"dade humana, uma vez que
lhe negamos caraclerísticas dc ser humano, notadamcnle a liber-
dade e a rcsponsabnh"dade. E ns'to o cnmm"oso sente c dxs'ceme com
muíta clarcza. Acontcce cntão quc ele, antc os csforços de
psicólogos no scntido de auibuk o dclito a ¡s'to ou aqml'o, ou
relacioná-lo com esta ou aquela causa, rcage com sarcasmo. Es-
creveu~mc o Número 87.084 dc uma casa dc corrcção de Ilhn'o¡s': “O
crlmm"oso não tem ncnhuma oporlunidadc de fazcr-se com-
prccndido. A única c cxclusiva cmsa' quc lhe é oferccida é um
sorUm'cnto de evasivas à sua escolha. Culpada é a socicdade, e, em
muílos casos, a culpa até mesmo é desviada para a víum'a". Isto
s¡gn¡ñ"ca quc o cnmm"050 não poderá comar com uma verdadeu'a
comprccnsão.
Os cnm1n"osos dc alla pen'culosidadc, aos qums,' a convite do
düelor do fam1g'erado presídio de San Qucntm' (perto dc São
Franasoo') - ondc cont1n'ua ems'tm'do uma cam^ara de gás -, tive
cnsejo dc falar, reag1r'am dc modo d1f'crente, quando lhes cxpliquci
0 scgum'le: “Os senhorcs são scres humanos cxalamenle como eu,
e, como ggf Tm c resnsávels'. Uuhzar"am a 'berdadc para
cometcr uma ms"cnsatez, um cnm'e, para_'Ê_H_NSC
tornaxem cpao.são
immaãnaresdgarí
WI_°SJ__Lp_Lemr-'mra
í_____J_p\pcrcscerem
acnma' e além da ró na° cul a? Conhcccmai Estártua da
bcrdade. Ela se cnconlra na costa lestc do scu pa15'. Que tal a idéla'
de se erguer na costa oeste uma Estátua da Responsablh"dadc?” Até
hojc a1n'da não foi cng1"da cssa eslátua. Mas o quc eu qms' cxprcssar
elcs o “comprccnderam” e Is'to comprovadamente (Joseph B. Fabry,
Das Rm'gen um Sm'n, Freiburg un' Brels'gau, 1980, pág. 36).
9. Na m'terprclaçáo logotenpeutica, cquwal'c ao coneeito dc “libcrdadc da
vonlade": em ul'uma' mstân'cna.' nossas deasóes' são lNres' e m'cxplicávc¡s'. (N.T.)
Certa vez üuslrci o alcancc da capacidadc humana de trans-
oender sua própria culpa c a sí mesmo, aprcsenlando um caso bcm
concreto, o do cntão chamado “assassm'o dc massa dc Stcmh'oP'
(Franz Kreuzer tm' Gesprãch mit Vxlaor E. Frankl, Vicna, 1982, pág.
81). O caso é rcptcscntativo dc muitos outros e dcvcria lembrar-nos
dc quc o homem não “tcrá dc scr de uma vez para scmpre assm' e
não de outro modo”, mas “semprc pode tomar-sc d1f'crenle”m. E
negar-lhc tal capacidadc de ser - am'da que tenha cometido cnm'c
- 1mp1icana' cm “cnm'c” dc nossa parte. _________L_____LçScr-homcm
rec15'amcn
mewswlcadem"“ verci fazcr dc mnn mcsmo.~nBLE
Ls'torsua
erg sngmñca assumu' a responsa c o que tco fcito dc
(_____§§Qm1m
mo. egue-se e uo lsto ser mjusto, e maz qucm Ja
c até condcna com base em clcmcnlos biológicos (hcreditariedadc
c também nacionalidade), psicológioos (cducação e formação) e
sociológicos (rcalidadc social c econômica), mas não com basc
naquüo que ele tenha feílo dcsses elemcntos.
A propósito da naa°onah'dade, se é de culpa que se prctende
tratar, convém fazermos referência à a551m' chamada culpa coletiva.
Não qucro repetk os argumentos quc cm 1947 uuhze"i no contexto
da mmh'a crítica à idéia dc uma culpa colctiva (V1k'tor E. FrankL Der
Wílle zum Smn', Bemay 1982, pág. 96 e scgmn'tcs). L1m1"tar-me-ei a
m'dicar lruques dídáticos nccessários dc vcz em quando para
afrontar-se a demagogia barata que nesse campo se costuma
praticaL Um d1a,' por ocasião de um coquetcL em Little Rock,
Alabama, a dona da casa dmg1"'u-se a m1m' com a pergunta mordaz
de como conscguia eu cscrcvcr a maior parte dc meus livros em
alcmão - “na língua de Adolfo Hitlcr”. Alo conlínuo, pcdi
permlssa"o para daI uma olhada em sua cozmha'. E ali concentrei
meu m'teresse nos talheres. “O que”, exclamei eu, ñngm'do-me
1n'd1gn'ado, “a senhora am'da usa facas? Não reflcüu alguma vez
sobrc os muitos assassm'os que malaram suas vítunas° com facas?”
Não foi ncccssário aduzu' oulros argumenlos.
Rcsta-mc comentar o tcrcc1r'o aspccto da ma'de trágica,
dep01s' das referênmas' feitas ao sofnm'cnto e à culpa. É o aspecto
10. É cvídente quc a ajuda mcípmca, a quc se deve o éxito de dwe^xsos grupos
dc aulo~ajuda, também multiplique as chanccs dc mudança, dc apnm'oramcnto do
sujeito. Tenho dmn'lc dc num' a cana quc Frankl E. mc cscrcvcu, quando ainda sc
encontnva numa casa dc comção na Hóúda1 scndo o “Númcm" 020670. Dc seu
escñto vou citar esta passagcmz “Pmmovi aqui um grupo dc logolcraph para amxgos'
delm'qu'cntcs. Consta dc 27 pcssoas, c os novos sc mantem dmantes do presfdio por
motivo de soh'dan'eaa'dc com os anu'gos. Só um se tomou rem'cideme, c lambém cste
cstá novamcmc em h'bcrdadc.” lmitemos o autor da caml
27
 dcnomm°ado mortc. Não se trata, aqu1,° da morte snm'plcsmcntc como
tal. Trata-sc 1gu'almcnlc da vida, quc na vcrdade sigmñ'ca um
contínuo morrcr, uma vcz que cada ms'tante smgul'ar da nossa
ex1$'tência sc csvai c perccc. No entanto, não scria prccu'amente cssa
radical transitoricdade um apclo para aproveitar-se cada ms'tantc,
a ñm de sc fazcr bom uso da possibmdade latente da reahza'ção de
um sentido? A transitoriedade da vida é exatamentc uma chamada
para a responsablh"dadc, conformc se costuma exprcssá-lo no “1m'-
MK
perativo catcgórico” da Iogotcrapla". “Wcscnonameuavcz__V1vcdcmodotcomo'
Wwñu sc ela se da vcz 'vess s c tiv cnto na primeira vcz
o tao errado como m'tcntas fazê-lo... W
Contudo, no que dlz' rcspcíto às possibmdades da reahza'ção
dc um scntido, cstas, apenas cstas são transitórias. Tão logo clas se
tiverem transformado cm rcahza'ção, tornam-se uma rcah'dadepara-
sempm Efeüv'amente, uma poss¡'b1|1"dadc quc transformamos numa
realidadc, nós a salvamos, por assnn' dlzc'r, para o passado, em quc
nada se perdc m'cxoravclmcntc, mas tudo ñca guardado, definiüva-
meme guardado, onde pcrmanccc protegido da transitoricdade.
Nada e mngu'ém logrará fazê-lo rclroceder ou cvitar 0 fato dc ter
aconlccido. Costumamos ver apenas os campos de rcstolhos da
transiton'cdadc, pcrdendo dc v¡s'ta os cclcüos rcpletos das colhcitas
de nossa vida - as açoe's quc praticamos, as obras que rcahzam'os,
u\-Tagcmecomco e d1g'-
Whmwesuommemmenmmoasuueamamos,a'LJLTEEDW
m' de supogamos. r,_o qu o v _o'r_gcum
homcm, o valorrquc ultrapassugda ah ut1h"dadc presente, um valor
q___p_'_ue°~“toccde\_p_____do
assado c pwonss'~ãomç_smo _m'dcstrutível. A_ socic-
dade de produção c o scu corrclato, a díwnmjção da juventude,
1n'chn'am-se a desprezar um ser humano idoso pela hm1"lação dc sua
uuh"dade sociaL Não mercce elc desprezo ncm compaxxã'o. Um
jovcm podc antever possibmdades para o futuro. O idoso sabe das
realidades do passado c são prccns'amente estas que contam.
Vemos assm' quc, vnrtu'almente, não ems'te apcnas um scntido
m'condicional da vida, mas também um valor m'condicional do
homem. É cle quem pcrfaz a d1gm"dadc humana, a qual m'depende
dc todo o valor uuh"tário. Qucm não cstiver dls'post0 a subscrevcr
cstc fato, dcvc-o cxclusivamcntc a sua 1n'cocrência pcssoaL mcsmo
que não plciteie “a destruição de vidas 1m'prestávens'”, como numa
certa época sc tem precomza'do, ou scja,_ a prática da cutanásia nos
sems,' nos docntcs menlak c, possivclmcntc, também nos cstérels'.
Entendo que o programa dc eutanásia de Hitler náo foí sun°ples~
mentc maqmn'ado num dos mlms"térios nacional-sociah5'tas, mas
muíto antes fora preparado nas mcsas de trabalho c nos auditórios
por autorcs c profcssorcs do cnsm'o supcn'or, adcptos do nnhsm"'o.
E estcs cms'tcm, hojc como ontem. Ao m'vés dc ¡m'umzar'cm os scus
leitorcs contra o cspírito nuhs"'la da época, os mf°cccionam com o scu
próprío scnlun'ento dc ausência dc scntido.
E não ocorrc apenas na área académica tal “doutnn'ação”.
Também se dá no divã analftico, a1n'da quc, por feücidadc, com
ñcqüênch dccrcsccntc. Evcntualmcntc também uma anáhsc' didá-
tica (Lehranalyse) é dcsñgurada, da mcsma sortc c manelr'a, numa
“anáhse'-vaz¡a'” (Leeranalyse)". Gcorge A. Sargcng nesta mesma
hnh'a, fala-nos de uma “ausência de sentido aprcndida”. E acrcsccm
taz “Rccordo-me dc um terapeuta, com o qual há bastante tempo ñz
uma brevc anáhs'e didáticaz 'O senhor tcrá dc reconhcccr', dma"-mc
elc, 'que o mundo é um úníco e grandc absurdo. Sxm°plcsmcnte não
cns'te nenhuma justiça. Tudo é acaso. Sc reconhcccr lss'o há de
conv1r' lambém quão tolo seria lcvar alguma cmsa' a sén'o. Sentido
sm'plesmcntc não cx15'tc. O mundo é como é. O que qucr quc o
senhor faça, sc a sua decma"o é csta ou aquela - lsso' nada SIgnn"ñca'”.
(Tran.sfmnce and Countenranjemnce m' Logotherapy, The Intema-
uo'na1F0mmforLogotherapy, Volume 5, Number2, FalilWinter 1982,
115-118).
No entanto, cvitaremos toda gcnerahza'ça'o ncste scntido.
Também nós somos obng'ados a adaptar-nos às dctcrnun'açocs' quc
tratam da formação c dos cxames orgamza'dos por outras cscolas dc
psicotcrapla'. Em suma, até ccrto ponto somos forçados a uivar com
os lobos. Todavia, se lsso' devcssc acontcccr, devcríamos, dma" cu,
ser ovelhas em pelc dc lob0, ou scja, dc maneüa nenhuma teríamos
de negar a nossa ¡m'agem do homem - que tanto sc dxs'tancia das
outras d1r'cçoe's - tornandomos mñ'é¡s' aos pnn'cípios da logoterapia.
Manter-nos ñéls' a csses pnn'cípios não nos seria d1fí'c11,' poxs,' con-
soante entendun'cnto dc Ehsa'bcth Lukas, a psicoterapia não conhe-
ce nenhum s¡s'tcma que tcnha sido tão lsc'nto de dogmaüs'mo como
o é a logoterapm' No que pessoalmcnte me dlz' respcito, ñz mmh'a
confcrência m'augural noI Congrcsso Mundlal' dc Logoterapia (San
Dicgo, Cahf'órnia, 6 a 8 de novcmbro dc 1980), sob o título “A
churuñcação da Logotcrapia”, com o propósito dc explicilar, de
acordo com o programa, o nosso repúdio ao papaguear repcüüvo.
Os logotcrapcutas não são compclidos a fazcrcm votos. Não
precns'am jurar obediênaa' a utna ortodoxia, ncm caem na suspeita
de terem feito voto de castidade, náo se exclum°do, porém, se vcnha
a suspcitar quc tenham fcito voto de pobrcza. É quc pclo cmprcgo
11. 0bscrvc-se o tmcadüo na lfngua alemL (N.T.)
 de outros métodos talvcz ñcariam ñnanccüamcnte melhor aquí~
nhoados. Comparado com outros métodos, um tralamento
logotcrápico cm média dura menos tcmpo. Com razão declarou o
psícólogo cahf'orm'ano Claude Fams' que “Logothcrapy proved so
effcctive m' many cascs m'my cxperiencc that at nm'es it almost works
me out of busm'css” (a pcrsktü tal situação, com os êxitos a curto
prazo doÉ tratamentos, pode cle em pouco tempo cbegar a fechar a
clím'ca).1
A logoterapia não é uma doutnn'a que é forçada em c1m'a dc
alguém Não é 1m°posição, mas oferla. WJUMalogoterapia não é ar ' '
comum bazar oricntaL PLMÀem ue se proc a levar o egues a comrar,
añfpkweoanacadoromern'a- Ms_%pcmema-sc muito antcs a um su err-
mcrcado, pelo qual se perambula para escolher o quc nos podc scr
/ú.
ul. M
Kolbe podena' fazê~lo sem hesitação. No entanto, em vcz de falar
cm santos, preñro sxm'plcsmcnte falar cm pessoas dccentcs, para
desde logo conccdcr que se trata dc uma mm'oria. “Sed omnia
praeclara tam d1fñ'c1h"a, quam rara sunt”13, d12' Espm'om, como
últm1'a frase dc sua obra prm'cipa], a Ética. Mas não scria pre-
AQLMamemc esta “rar”-idade um único e grande apclo para a
m'tegração nessa mm'or1a' de pcssoas dcccntcs7 O mundo está maL
MMW tudo se corromrá, am'da mals', se ~_____p_à___cada
um em arnc não
Woued
Dcsdc Auschwitz sabemos e quc o capaz. E desdc
Hkoxma sabcmos o quc cstá cm jogo.

Á
Um psiquiatra e, além dxss'o, vienensc que se preze, m1°°ciará o
seu dns'curso com uma citação de Frcud. Também eu vou concluu' Confcrênaa' ma'ugural do Terceu'o Congresso Mundlal' da
Logoterapla,' na Universidade dc Regensburg 16 a 19 de junho de
csta conferência com uma citação dc Freudz “Expenm'ente-se expor 1983.
à fomc algumas pessoas bem d1f'erentcs cntre si em situação
homogênca. Com o aumento da neccssidadc 1m'periosa dc ahm'ento,
as dlf'crcnças Ln'dividuaxs' sc desvancccrão c, em seu lugar, aparccem
as uniformes manífcstaçõcs deste impulso insatisfeito”
(Gesammelte Werke, volumc V, pág. 209). Esta é a citação dc
Slgm'und Frcud. Graças a Dcus, foi cle poupado de conhccer por
dcntro um campo dc conccntração ou um acampamcnto de
pnsn"oncu"os dc gucrra. Scus pacíentes se dcitavam num confortável
divã cstüo “Makart” dc sua época., a época da cultura dc pclúcia, c
não na lama de Auschwitz e Estahngr'ado. Lá, as d1f'erenças na
realidade não se “desvaneciam” e s¡m' se acentuavam. As pessoas ali
sed1f'ercnçavam, dcspojando-sc das máscaras. E se revclavam como
porcos ou como santos. Neste ponlo, sempre tenho hesilado em
falar em santos. Mas depoxs' da canomza'ção do Padre Max1m1h"'ano

12. A observação de Fams,' a rígor, não se refere á logoterapía cm gcmL mas

especiñcamemc à técnica psicotcrapc utica da m'tcnçáo pamdoxaL No quc conccmc
a esta última, náo é cla o duplo opusto do “onm'1s'mo trágioo”? Não sc m°duz o
pacieme pcla m'¡enção pamdoxal a descjar para si prccnsa'meme o pior que lhe
podem' aconlecer, cxatameme a aatástrofe tao temida7 Dito com maxs' exatidáo, clc
é induzido a não apenas desejat o “pcn'go", mas n'r-lhc na rara Numa palavra, ou
melhor, em duas palavras, pmtica elc o “pessimns'mo cómico”. 13. Mas todas as consas' grandiosas sáo tão d¡f'fce|s,' quamo ram (N.T.)

31
 UWE BÕSCHEMEYER

Fundamentos, diretrizes e métodos de

trabalho da logoterapth

A essêncna' da logoterapia, aquüo que a torna ms'ubstituível,

como ajuda vital aos homens dc hoje, fam1n'los de scnlido e dc
valorcs, dlñ'c11m'ente podcna' ser transmilido oom a dcscrição dc
seus aspcctos extemos. Assun' mesmo, a teoría c a transmlssa"o
tcórica se conñguram rclcvantcs, uma vcz que as práticas humanas
sempre são precedidas dc id61a5' dctcrmman'tcs do nosso fazen
Idéias, teonas° c sns'temas, de acordo com o quc aprendi do mcu
mcstre FrankL também foram os fatorcs condicionantcs que per-
mitn'am a mamf'eslaça'o de um sent1m'ento dc ausência de sentido
em d1m'cnsoc's mundials'.
chortar-me-ei aos fundamentos, d1r'etnze's e métodos dc
trabalho, tomando por modelo a conñguração e desenvolvun'ento
quc Vlkt'or E. Frankl lhcs deu. E o faço conscicntc de que am'da falta
muilo para quc a obra de Frankl seja dcvídamentc cxplorada c
dcscnvolvida por nós, scus dns'cípulos, cm toda a riqucza de suas
vu'tual¡'dadcs.

A - OS FUNDAMENTOS

l. Da psicanálise à análls'e ens'tenc¡al'

0 problema central dc que se ocupa a obra de vida de Vlkt'or

E. Frankl conccrne à m'dagação pelo scnüdo da exns'tênaa' humana.
.:_.-4.

Entre suas numerosas pubh'caçoc's, poucas são as quc não têm

|-,

33
pertm'êncm' d1r'cla ou 1n'du'eta a essa pergunta. Anles dc ele chcgar
ao amadurecnm'ento plcno dc sua concepção dc scntido, doxs'
conf'eus da psicoterapia clássica haviam exercído fascxm"o sobre elc:
ngm'und Freud e Alfred Adlcr. Todavia, a 1m'agem do homem por
cles apresentada fana' com que mals' tarde se d1$'tanciasse muilo dos
seus conceítos. No ano de 1924 Freud possibmtou a Frankl a sua
pnm'eira publicação cicntíñca na “Revisla Internacional dc
Ps1'canáhs'e”. Um ano depoxs' apareccria na “Rev13'la lnternacional
de Ps¡'colog¡a' Indivídual” o seu segundo trabalho. Assm'alana' essc
trabalho o lugar cientíñco em que Frankl de então em diantc se
añrmana' de modo paxticularz a zona hmí'trofc cntre a psicotcrapia
c a ñlosoña. chortando-se a esse art1g'o, dcclara clc cm seu csboço
autobiográñcoz “A que tema un'ha sido vinculado aquclc mcu
trabalho, quc Adlcr publicou em sua rcvns'ta? Ao tema quc, qual ño
vermelho, perpassa todos os mcus Uabalhosz a clanñ'cação da zona
hmí'u'ofc cntrc a psicoteraph c a ñlosoña, com parlicular ênfasc na
problemática do senlido e dos valorcs na psicolcrapia c, dcvo
d1zc'^-lo, dlñ'c¡lm'ente sabexia dc alguém que sc tivcsse dcbalido com
essa problcmática lanto quanto eu em toda a mmh'a vida. É cste o
motivo condutor (Leitmotiv) que permeia todos os meus Uabalhos.
”Nesse arug'o assm'ala Frankl pela pnm'enr'a vcz o prm'cípio da
psicoterapia como “csscncia1mcntc ético, ¡s'to é, valorativo”. O
sxs'tema dc rcferência da valonza'ção, naquclc tcmp0, era para cle,
contudo - totalmente no scntido dc Adler - a sociedade.
Todavia, em 1926, ao ser encarregado, no Congcsso Inter-
nacional de Psicologia Individual de Dus"scldorf, de fazer uma
cxposição dc prln'cípios, já sc desvia ele da orlodoxia da psicologia
m'dividual. Dm"a quc a neurosc nem semprc deve ser m'terpretada
como mcro meio paxa um ñm, podcndo ser também a “cxpressão”
do homcm; quc cla não possui apcnas um caráler “ms'trumcntal”,
mas também um carátcr “expressivo”. Com csta d1f'crença de
m'tcrpretação da neurose, Frankl dá 0 pnm'cu'o passo para além da
conccpção causal-gcnética do homcm. Com ela antecipa o que,
v¡n'te anos após cssa confere^nc1a,' explicitamcnlc professaria:_as
ncuroses não são semprc psicogêm'cas, mas podcm__/11_nserl-b'rém
Lphêmmwo*'e;rrro*nge*_m" esp_m"tu_al“. ml
Em 1927, no encontro com scus mestres Rudolf Allers c
Oswald SchwartL aulor da “Antropología Médica”, publicada do¡s'
anos depons', completa Frankl seu deshg'amento, não só dc Adlcr,
mas rewsa' fundamcntalmcntc a sua 1mag'cm do homem e repcnsa
em bases novas os seus pnn'cípios terapêuücos. Esta rcv15'ão foi-lhe
possibmtada sobrctudo graças à obra litcrána' dc Max Schcler, com
quc Allcrs o puscra cm contato. Como Schclcr lhc foL como clc
própño o d1L' “removida a catarata psícológica”, dc sortc quc o scu
moms'mo, naturalxs'mo c psicologlsm'o puderam scr supcrados.
Naqucle tcmpo, conformc Frankl rcconhccc cm seu csboço
autobiográñco, portava consng'o como uma bíbha' a obra dc Schclct
Formalismus in der Etluk und die materiale Weitethtk Formahsm'o
na Élica e a Ética Malcnal' do Valor.
Para a filosoña o médico Frankl foi lcvado não por
düetanukmo m'tclcctual, mas por ter expcnm'cntado a 1ns'uñciênaa'
das categonas' psicológicas, dc que até cntâo d15'punha a psicotera-
pla,' assm' como do ms'Lrumcntal terapêutico delas dcn'vado. A
Frankl m'teressa a ampliação dc seu conhccnhcnto da essência do
homem c de suas condiçoes' para a emcrgênaa' de perturbaçoes'. Por
nss'o extrapola a moldura bíopsicológica da nmag'em do homcm que
lhc fora Lransxnitida c avança para a antropología ñlosóñca. A
antrrpgçliogh ñl_ios_óiñca__ é, segundo Plcssner, o “reconhec¡m°ento da
fwsmbgbdade humana. Se Wm ela rctende ser ñl o
tcmpoñ pcrmanccer antrroporlrogla1 deve atrcrrse ao.honmnte'.m'-
c/___L__I_Funscntño"dãr
Wosmlhdkadc humana, sãgijem ren Lsçr-._.1uer ao
'__pem_1ns:'mo puro, quer a uma_onlo ogla, a _de VrimanrtêiJa 1m'unc a
ambas essas d1m'~ensoe's rccxprocamenteiwnfmcàasf
VEm 1933 escrevc Frankl: “... mnão consng'o Valgoghue
h capracite melhor o homem a suporrçar our superar soifnmLentos sub-
jCFÍIVOS e dIÊc'ulda'””deSUb]e'ti\/as' do qnue orsenum'entroiádrer
fmerCõmcsla prrroposnmLção - enconintrqãc
ü num trabalhoxmãHJmu 7 9“Cns'c_Eínn(L_m1*"careVinaPsíqu1ca'doPonte
'dc Vísta do AconsclhanteÍdñçrJovgnH -, quc se ocupa das
neccssidades psíquicas dos jovcns, emergcnlcs da cnse' econômica,
ma'ugura ele o scu grande tema terapêutico e, ao mesmo tempo,
revela os conlornos de suas novas pcrspectivas antropológicas.
A compreensão de Frankl relativamcnte à ms'uñciênc¡a' dos
rccursos da psícoterapia em uso para ir ao encontro das
necessidades com que se dcparava como psicoterapeuta, m'duziu-o,
em 1938, - ano da mortc dc Freud -, à crítica abcrta da psicanáhs'e
e da psicologia m'dividual. Rclaúvamente à crítica feila, até cntão, a
Freud e Adler, cntendeu ser a dc Oswald Schwarlz a formulada com
maior clarcza. Aquchautor acusa Freud de ter dcgradado _a_vida
hum_rana a mcra saüsyrfaçãóños ms'un'los e alega contra Adler havê-la
rqrduzido à luta pclo prcslígio socxal'.
Frankl sabe que sua crítica não podc dar-se por satMeita eln
provar a insuficiência da psicoterapia atuaL Como
“complementaçâo positiva” à crítica em partc apenas negativa aos
35
 clássicos, exxg'c cle, por isso, de si mesmo e dos outros, uma
“ampha'ção dc toda a psicotcrapna' numa cosmovnsa"o”, ou scja, sua
“orientação pela d1m'ensão cspiritual”. Com estas idéias cn'-
cunscreve elc o honzo'ntc antropológico, a seu vcr nccessán'o, e quc
melhor podcrá fazcr justiça à grandeza e à nns'éria da ens'têncm'
humana.
A neccssidadc dc um alargamento da psiooterapia para além
da d1m'ensão biopsíquica foi rcconhccida taxnbém por alguns de seus
msngn"cs colcgas dc proñssão, conquanto tal tcnha ocom'do, em
pane, a partü de pcrspcctivas d1f'crcntes. Obscrve~se que C. G. Jung
descrevc a neurosc como “sofnm'cnto da alma” que não tcna' en-
contrado o seu sentido. Sobre a terapia das ncuroses añrma Sc¡f':
“Ponlo de partida e meta do trabalho conjugado do módico e dos
pacicntcs para a cura da ncurose é a pergunta sobrc o sentido da
vida”. I.H. Schultz fala nos “cstratos ma¡s' elevados dc valor ens'tcn-
aal'” do homem e dlZ." “Quem nelcs sc cncontra abng'ado pode
sofrcr sem ñcar docnlc, sam tornar-se ncurótico.” Para R. Sicbcck
fp.a751\coi'terapla' Íé_a ediuca.@o_do praciente paryaiiumAÀpe,r_so_n_ahr'dadc
mdcpendêntcg q__ue rsó a[_ga_can\_daq/uanldo VaJ›3_gun1_ra7 mlo
s,e'n_.;ido umaALeLayggLnrtaLnn'ap',m,oÍídiálogo_Lntre ~mrédic<2 e
\ p_acicr.nrte. E Allcrs, mestre de FrankL smteüza' a tarefa da psicotcra-
s
pia nesta fórmula: “E____,_ç_ducaãopñlsmarao reconhecimento da
responsarxblhda"de”. Frankl poe'-se e sm om"a"aír_maco“ncepção
dãqucles Inédicos que clamam por responsablh"dadc, sentido e '
valorcs, porém o fez ma¡s' apa1x'onadamcnte do quc todos os outros:
mrometi mm achapia,
WW“_I'J
Wmmhwwa
seu lano (a quc sc rcfere
_^_
Schultz) AXW emsten ' humana e cm contraste com a e_xpressão
“ '
Wlo a profunda” mcreccna' o nome c pswologia das al-
cm outras palavr a ueÍzT tcorig dos
gxãru.0_nreiieinwn"9w_jrmwan
acontccun'entos psuí..,p°_mcosccm°s'tra-
íassan"áo'*a csFeráíoTqumgL tome crrn cojnswlÀLraszaxo~ a totahdalde
W_,›c›nsen_'_lic1a_7um4__ana,w emflodai asuaw"pmfnmd1dadcccxcg_"úI§r-74tu71dç, c,
cm ws'ta dnsso', podeñinh ÍseirídesggmwmmákanWenaaWW A
pcrigunta dcTraññ pela mancüa como é formuladmmporele
mesmo rcspondida. Em trabalho scu, aparccído cm 1938, sob o
título “Sobrc a problcmática espm"tual da psicoterapna'", em que
formula cssa mcsma pcrgunta, assenta elc as ídélas'-mcstras da
“anáhsc' ems'tenc1al'” e também o scu aperfcíçoamento terapêutico,
a “logotcrap1a'”. O pnm'e¡r'o csboço dc sua “psicolog1a' das alturas"
publicou Frankl alguns mescs após, cm amgo m'titulado “Reflexões
sobre a cura médica dc almas” (Seelenalzt"liche Selbstbesínnung).
Ncle coloca a qucstão esscncial da logotcrapna'. Reñcte sobrc o
problcma da viab111"dadc de ajuda para o cncontro de scntido - ao
se m'clu1r' a d1m'ensão espm"tual, ou scja, a d1m'ensão noéu'ca, na
psicoterapia - scm quc, dc parte do médico, haja 1m'posição idcoló-
gica sobre o paciente. E dcclara: “/d¡___q\Mas
a ui surge a própria pr__oblc-
mátíca dc valores. É qruç daqui em ante sc apqrxésxgitda mdaga'gão
so_brcg_uermr Wuesobrw'ãmmnmmto
de cstghclcmr o sen\txdo' da vida - po¡s' aqui sc trat_a deÍnadia mgLM
_,d/oqruc lss'0 - e_de!a.pg_ntar_0,mãlíñ_nnandugmg__redenós'"”
MWBCWOIO ' tas quc nos ocu mos ssa rática di' dos ro-
MSSORÀTAMNsomosnósamomoscremdosmresmgemasdccaoesmtualedafaltadeonentaonde'"'
uü somos nós ___Eíà›'_p_____g__p___
os e re arados axa restar
ewassaauñWao estaríamos nós, se o ssemos, cxorbitando dc
nossa competência médica? Não cstarfamos ellmm°'ando a frontcnr'a
entrc o médico da psique e o cura de almas? Quem conhece a
urgência e as dlñ'cu.ldadcs m'crentcs a estas qucslocs', na forma
concreta do d1a'-a-d1a' dc nossas horas de consulta, pode aquüatar
da1m'portan^c1a' dc uma d1r'etnz,' prcferivclmentc com valídadc geraL
que possíbmte ao psicoterapeuta prcocupado e cnvolvido em ajudar
ao doente que sofrc na alma e se cncontra cspm"tua1mente pertur-
bado, uma m'tervença'o clara c honesta.
Em agosto dc 1939 aparece, no Schwezze'ns'che Medtzm"zs'che
Wochenschñft (Semanán'o Médico Suíço), o amg'o dc Frankl 1n'-
titulado “F11'osoña c Psicoterapia”, que traz o subtítulo “Sobrc a
fundamentação de uma anáhs°e ems'tencial”. Este trabalho conñguxa
uma síntcse cxpressiva dc sua nova oricntação, sendo ao mesmo
tempo súmula cscrita para um livro sobre psícologia m'dividual para
a Editora Hcrch mas que esta não qu15' publicar em v1rt'udc da nova
conccpção do autor. O prefácio dcsse cscrito fora redigido por
Oswald Schwarz, o qual nclc declara quc para a históna' da
psicotcraph vm"a a tcr o mcsmo s¡gmñ"cado quc a “Crítica da razão
pura” de Kant tevc para a ñlosoña.
Com os trcs^ trabalhos aCIm'a refcridos foram m'troduzidos os
temas da anáhs'c cms'tcncial c da logotcrapia, sendo todos os dcmak
trabalhos vana'çõcs dos mcsmos. Vcnfi'car-se-á que tals' temas par-
manccemng'orosamente relacionados com o tema a551m' cnunciado1
“O homcm cm busca de scntido”.
O aperimentum crucm1 de scus cnsm°amentos foram para
Frankl os três anos quc passou em quatro campos de concentração,
entre os qua15' o de AuschwitL Sngmü"caram para ele em profun-
1. A cxpcñencia da cmL (N.T.)
37
 didade mánma' uma conñrmação cxns'tcncial de seus cnsm'amentos,
uma “cxpen'éncm' empírica no mals' amplo sentido do termo”. Esscs
xTÍJmHTJWanOS
lhc mostr m toda a nitidez que pcrde a sua humamWe
¡ áLI -Dcmod016n'co
elc que ncnhuma vida humana nccessariamente pcrderá o
H conshíjwwam
seu sentido, sejam quais forem as c1r'cunsta.n^cias, scquer em
Auschwitz. Em 1945 ditou ele cm nove dias o seu livro “Um
psícólogo no campo de ooncentração”, que comoveu e amm'ou sercs
humanos cm todo o mundo.
Nos anos subseqüentes Frankl redigiu seus escritos
“metaclínicos”, nos qums' explana e sxs'temaüza' o scu patnm'ônío
m'tclectual formado nos anos antcriores àguerra. Em 1952 fala pela
vcz pnm'c¡r'a na possiblll"dade dc uma “noogêncsc” da ncurose cm
scu amg'o “D1m'ensocs' do ser-homcm”. Trcs^ anos maJs' tarde, cm
seu amg'o “Indicaçoes' da logoterapia analíüco-ems'tcncial” m'tro-
duz¡a' cle na psicotcrapia o conceito dc “neurose noogêm'ca”, aquela
forma de neurose que se enraíza, não no am^bito psíquico e 51m' no
domínio noético, num problema espm"tual, num conflito ético ou
numa cnse' cxrs°teucial. Até hoje, a tcmática central de Frankl con-
tm'ua sendo a “jmsnm____'o ex15'tencíal” cawsada la ' dc
u_/_,_Â_____,51r,_I:¡m_¡;|¡.¡=,¡1\'___scntido
e ue se man1f'csta através dg ^os de massa, como
rÇssõcsàh ag__\rcssõesou toxicomania. Nos anos rcccntcs
dígne
RM
"uíram scus scvcros ataques c0ntra o psicologns'mo, que ele vê
também atacado por outros redutos da psícoterapia, como, por
cxemplo, por Rogers ou Eysenck. Frankl consídera a posição da
logotcraph atual mcnos uma oposição a outras correntes da
psicoteraph do que uma contñbuição para a “re-humamza'ção da
psícotcrapla'”. O que em úluma' anáhs°e cstá em jogo com essa
rc-humamza'çâo Frankl delm'eia nestes termos: “De onde qucr que
a renovação... da psicoterapla'... possa provu", scmprc dcverá em
pr1m'eu"a línha lutar por uma complementação da imagem do
L!
I
homcm... suas bascs antropológicas. E com relação a lss'o devcrá,
í
antes de mals' nada., tentar obtcr uma v¡s'uallza'ção do ho_mem cm sua
totah°dade.”
2. Os pressupostos ñlosóñcos da logoterapíaz
A antropologia de Max Scheler
Quem queüa comprccndcr o novo conceíto antropológico de
Ftankl dcverá saber que a paulatma' superação do estágio da
psícoterapía dogmáü'co-c1'cntíñca foi essencialmcnte viab11172"da
pela corrcntc ñlosóñca da fcnomenologia dc Edmund Husserl e
Max Scheler/E Max Sçájchclcn
womabwwdadcdmovc_'emcseclvlnmcsmwu'“
de FrankL E__p__ãls
or que a c , com a brcvidade dis o vc ,
,__,____914W/dew°m°sanossaatcno'
O ponto central da antropologia fcnomenológica dc Scheler,
a quem Sto"hr, em sua Hls'tória da F11'osoña, dcsigna como “uma __das
robustas ersonalidades da vida intclc
Wmmaís ma e
s c o , é consti o pe a pcrgunta sobrc as relações entre o cspí-
ntmocodâmst1n'to, a liberdade e o condícionamcnto da pcssoa humana.
E essa problcmática, a lensão entrc facticidade c facultatividade do
exls'nr' humano, é o ccntro também da 1m'agcm do mundo que sc faz
a logoterapia. Para cncontrar a resposta às m'dagaçõcs que g1r'am
cm torno dessc problema, Frankl se fczdnkcípulo dc Schclcr. Con-
tudo, conforme seria de esperar do comportamento de todo bom
aluno, ñcou ele rcconhecido ao mcstre por haver encontrado suas
próprías respostas. A cammh'o dc sua concepção anaHtico-e›ns'ten-
cml' deñnitiva da 1m'agem do homem, Frankl am'da travou conheci-
mcnto com os ñlósofos N1k'olai Hartmann e M\___gg_J_artm'
d,..-
Hcide cr
abordá-los aqui 1m'ph'can'ap_\__lím1ctransporosm'tcs csta cxposxçãa
Paxa Scheler, aquüo que faz do homem uma pessoa, que
caractenza' sua posição cspecial cm relação à esfera do orgam^'co,
_',___'_90__LLT_/_não
são as suas fun 'es sí uicas e aptidões, co_mior, pror exemle
sua ' tchg°ênrg§a. A car - u ca ccmva da cssêncía d u n u - u -
k
:. Por ser dotado dc cspínto, é
elc pessoa, possui clc c _u¡l_'c-.n_ . o que há de característico no
cspírito? O homcm como pessoa é abcrto ao mundo, possui capa-
cidade para dls'tanciar-se do mundo e de si mesmo, transcende a si
mesmo rumo a um mundo espm"tual de valores. E esta característica
pcrsonahs'ta do homem - por mals' acentuada que possa conñgurar-
se a sua mamf'cstação cxtema- jamals' deverá nem poderá tomar-se
objeto dc pesqms'a empín'ca alheia ou própn'a. Subtrai-se à ópüca
das ciências naturaxs', não é expücáveL mas apenas m'tcligível, e
m'tehgí'vcl, por certo, unicamente scgundo 0 modo dc entender
próprio do cspíritozQo amor.
Quals' foram então as conscqüências que Frankl deduziu da
antropologia de Schelcr?
1. “No momento em que se m'daga do sentido c do valor da
vida se demonstra estar doente...”, dlss'era Freud. No entanto, sc é
lícito d¡s'tmguu"-sc o psíquico do cspm"tual, poderiam, am'da assnm,'
ser apontados, de antemão, como expressão de ncurose do pacicnte,
suas 1n'dagaçõcs levantadas no dccurso da tcrapia c que se adcntram
na csfera do questionamento ñlosóñco, como as concementes ao
39
sentid0? Não sena° rclevante, na hipótcsc, estabcleccr-se d1f°crcnça
entre a pcrturbaçâo mórbida c a aflição espm"tual cxternada7
2. Sc a d¡m'ensão espm"tual fundamcnta o scr-pcssoa do
homem, e corpo c alma devem ser entendidos como sendo o “¡ns'-
trumcnto” dela, não se fana' neccssáño m'c|u1r' a esfera cspm"tual no
proccsso dlagn'óstico, assm' como tcrapêutioo? Não sen'a lícito
admmr" que uma neurose também, e prccrsam°ente, estcja relacio-
nada coma csferaespm"tual, engln"do, ass¡m,' umaterapia adequada
a tal rcalidade?
3. Quando as categorias namrahs'tas forem ms'uñcicntcs para
a comprcensão do pacientc, não devc.n'am, ncssas condiçocs,' na
relação médico-pacícnte, scr abcrtas outras formas, consentan^cas
com a pessoa humana?
4. Estas 1n'tcrrogaçoes' conñuíam, no ñnal, para csta única
pcrguntaz quando o homem, como pcssoa espm"tual, se transcende
para o mundo de valores, e quando uma dcsorientação no am^bito
espmtual" possa dcscncadear uma doença ou mesmo causá-la, não
dcvcria então a psicoteraph extrapolar os scus estreitos hm1"tes e
tcmaüw' o fcnômeno da autotranscendêncxa' humana cm tcoria c
prática7
Dep01s' quc cxpus- em toda a sua amplitudc - o fundamento
sobre o qual a logoterapia foi engl"da, prctendo sm'tctlzar' em sels'
pontos as suas idéxas°-mestras.
B -AS IDÉIAS-MESTRAS
I- A psicoteraph “centrada no scntido” dc Frankl tem como
pressuposto a admlssa"o de duas rcalidades “antropológicas fun-
damentals'” do homemz sua capacidade dc “autotransccndênc1a'” e
de “autod¡s'tanc¡am'ento”. Sigmñ'ca quc o homcm é fundamental-
mcnte “abcrto para 0 mundo”, m'daga acun'a c além de si mcsmo,
dc valores c tarefas, assxm' como do sentido (= Iogos), válido para
ele c “amoldado” a sua pcssoa. E eslc sentido podc ele, fundamen-
talmente, não apcnas percebcr, mas rcahzar°, com base cm sua
libcrdade e responsabnl1"dadc.
Em outras palavmy o ser-humano não se cxaure na enteléqma'
hcrmética do m'divíduo, mas é rclacionado com um “mundo cspln"-
tual objctivo” de valorcs, em direção aos quak o homem sc
transcendc e que lhc tomam possível o encontro do scntido, scm
embargo de todos os condicionantas genéticos, psíqlúcos e socials°.
II - Sc para Freud o motor pnmán"o da ação c das asplr'açocs'
humanas é saüs'fação dc pulsõcs ms't1n'tuals,' e para Adlcr a do
prestígio c poder, Frankl vê o homem “fundamentalmcnte cs-
truturado” para a reahza'ção dc sentido.
A “vontade de sentido” 6 o motivo fundamcntal da ems'tênaa'
humana. É um motivo antropológico sui genens'. Isto não sngmñ"ca
quc Frankl ncguc obsun'adamentc as aspnr'açoc's de prazer c dc
auto-añrmação. Essas asplr'açocs' não constítuem, todavia, no seu
entcnder, os motivos primários dctcrminantcs do homcm.
Dctcrmman'tcs sc tomam clcs somente quando sc “1n'trometem” no
“vazio cxns'tcncial”, por exemplo, dc um docntc ncurótíco, o quaL
facc a suas pcrturbaçoc's, já não consegue encontrar rcsposta à
pergunta pelo sentido dc sua cms'tênc¡a'.
Se a vontadc de scntido é o motivo pnm'ário dc todo homem,
a pergunta pelo sentido se referc ao próprio centro de ems'tênc¡a'
humana c, ls'to ocorrcndo, constinú um - sc não o - problema ccntral
da p51'coterap¡a.' Els' por que tal 1n'dagação ocupa posição pro-
emm'ente, tanto no dlagn'óstico como na tcrapia. A qucstão do
sentido, para FrankL não é mera temática ñlosóñca dcstm'ada a
círculos cliüs'tas de pacientes. Pclo contrário, possui cla sngmñ"cação
vital para cada homem e por xsso° não é condicionado pela idadc c
scxo, pclo meio cultural e fonnação 1n'telectual. Todo homem sc
m'tcrroga - oonscicntc ou m'conscicntcmcnte - acerca do senlido,
pons' acrcdita em sentido: “Quer queu'a, quer não”, dlz' FrankL “e
embora possa ncgá-lo, o homcm acrcdita num scntido, até o úlnm'o
alento. Também o suicida acredita num sentido, quando não dc
'vivcr, de sobrevivcr, pelo menos da morte. Se efetivamcntc
descressc dc qualqucr scntido, já não podena,' na verdade, mover
um dedo sequer...”
III - Em logotcrapia m'dagar do sentido s¡gmñ"ca, segundo
FrankL pcrguntar, como homem concreto, numa situação concrcta,
por uma tarefa concrcta. Como nenhum homcm se iguala a outro e,
p0is, para cada homem as respcctlv'as situações dc vida são
m'confundívc1s', 0 rcspectivo sentido é scmprc “ad personam et ad
situationem ”.
IV- Pcrguntar pclo sentído não sngmñ"ca, portanto, perguntar
sobre o porquê c o para quê, pclo sentido de scr da em'tência. Na
logotcrapna' também não sc m'daga do scntido do mundo como um
todo. Estando o homcm ms'crido no cspaço c no tcmp0, tal pcrgunta
permanecc pam cle 1rr'cspondfvcl. E, contud0, a ccrteza dc uma
s¡gm"ñcação últ1m'a c suprcma é para o homem u'rcnunciável,
porquanto somentc dela depcndcm as motivaçocs' e o fundamcnto
41
 da busca e do cncontro de sentido. No cntanto, se a pergunta pelo
na' causar m'cômodo. Mas tal m'cômodo suscitaria todo aquclc quc
scntido do mundo como um todo dcvcrá ñcar m'espondida, como
sc dls'puscsse a descrcver o homcm não apcnas cm catcgorias
poderá cogitaI-se, apcsar dnss'o, dc um tal scntido fundamcntal
causal-gcnéticas. Como neurologkta c psíquiatra, FrankL de um
cxls'tcnte? Frankl encontra a rcsposta para essa pergunta com o
auxílio de uma “noção-l¡m¡"tc", por ele denom1n'ada“supcrsentido”. lado, rcveste o scu pcnsamento de termos cstñtamentc acordcs com
as cíências naturals'. Por outro lado, porém, m'cursiona no campo da
Para Frankl a idéia dc “supcrsentido” é análoga ao postulado ñlosoña, objctivando dcscrcver o homcm cm sua “totalidadc”. É
da razão de Kant: o homem, por cstar condicionado ao espaço e ao que o homem não é para clc meramentc naturcza, ncm puro espíríto
tcmpo, não pode pcnetrar pelo pensamento no “supcrsentido”, mas c, em _razão disso, Frankl não poderia dcscrcvê~lo apenas
simultaneamente terá de fazê-lo, sem prctcnder encontrar o “naturalmente”, ncm apcnas sob o enfoque do espírito.
sentido. Esta contradição só cncontra solução na fé, e essa “fé-no-
senudthemnoumcaouanscendental--'.
MSuata dc dcmonstrab1h"dadc é conscqüência ncccssária do fato C - os MÉTODOS DE TRABALHO
de o homcm cstar condicionado ao cspaço e ao lcmpo c lhc ñcar
1gn'ota, portanto, a s¡gmñ"cação do mundo como um todo. Todavia, Antes de nos voltarmos para a metodologia logoterápica,
esta limitação dc conhecimento não exclui, por outro lado, a relcva quc encontremos uma rcsposta à pergunta sobre a m'dicação
possíbmdade da fé na prescnça fundamental do scntido do mundo de um tratamento logoterápico. Com tal propósito citarei tópico do
e com xss'o da ezns'tência humana concreta. rccém-publicado livro de Ehs'abcth Lukas, sob o título “Von dcr
V - Sendo o homcm smgular' c, pons,' também smgul°ar cm Ticfcn-zur Hõhenpsychologie” (Da psicologia profunda para a
relação ao sentido, o sentido cspccíñco de uma pcssoa nãoé passfvel psícologiadas alturas): “ RLLñcmrc
ucsc nos depaxa um pacicntc com
dc objetívação c, portanto, não podeser construído. Equivale a dlze'r atitudes cspm"tua15' mf'ehzc's, doenlias, ms'aüs'T"'-_P_l_'_àcntas,
scla ec neu-
fx xv
que o terapeuta não pode “rcccitar” o encontro de sentido, o quc Wticmentc a gta o ou não, d__chstc'a
ele sob Wo
eso dc carga
/_F1L__IÂ.
W . " ' T . ' '
scrá sempre tarcfa de qucm o procura. crcdltána ou no, l__revc
c c v1a dc abastança ou c am
Frankl dls'tínguc três catcgorías dc valor, quc considcra m'dlg'ência, cstcja ñsicamente enfermo ou são - uma m'tervenção
relevantc cm sua prática tcrapêutica e quc oricntam 0 pacicnte cm logoterápica é indicada. A'_L_\___s
ossibilidad__/,uma_a._¡.ndacsde'
sua procura de scntido. W W ' ' 'cs dc vida tem o Woterápica são amplas c numerosas. Apresentam-se na prática
di . . (__-' V > A '__ 7 ~ _'
Whomema ossib111"dade de reahzar': a) valores “cn'ativos”, b) valorcs méca, no aconscr#amenv/§L_,nosh01tals_~ina cura dc almas, cm
,_m__,eennaaecvoresg_anmd,px7í~ccaazesct'”ompar'T-qena tT-____oos
os lugares e situaçõcs em que scres humanos se confrontam
dc senüdo a sua vida. ñ con
fatorcs do dcstmo, somen e su er lS ' tc o ei_mp___gcT
Accrca do itc 0 fazcr corrcspondentc à capacídade de UWSÍM cncriñiritaix O tratachnAtu 1004t_c_p_\_'ráíco
é
trabalho podc dar scntido à vida de alguém. Não é dccts'ívo, aí, 0 relcyanuÍcíhaLm §_e tratando
PambAmamEÉÍEmFdACLWQMCá'vel
l
V
quc se faz, mas comoé fc¡t'o. Dneurosesngogçm ou d_p_&___p\a roblemáüca dc cssoas sadlas'
Acerca doTitemrw Plcna dc sentido pode a vida ser, a1n'da, fgúadasnaymer_fazi_02ms'tencial, à p___rocura dc scnñãud'o.”
qWo hom cnm'enta” o “mundo” no qfúuedebelopreãrecc \ fñ
a rnaturcw Quans' scriam os métodos, técm'cas, mcios, mctodologia,
próprios da logoterapla'?
Accrca do item® A possib1h"dade dc encontrax sentido
também se ofcrece dc modo cspccial no sofnm'ento. Acontecc 1. Duas técnicas, facdm'cnte acessívek à compreensão,
precisamentc quando o homem não se identiñca com o seu graças à sua transparência mctodológíca, a “'Lhñrtençãoparadoxal” c
sofnm'ento, mas delc se d¡s'tancia, para añnal assum1r' uma atitude a “dçrrcflcxão”, constituem um apnm'oramentoeo¡sa0res
plena de sentido corrcspondente à situação. antrogñpológxcos básíeos da ens'tência humana: a capacidade de “au-
VI - A tensão cntre os modos de ver empírico c ontológico, todns'tanciamcnto” e dc “autotranscendência”.
que, paIa a antropologia logotcrápica, rcmancscc 1rr'csoluta, podc-

42 43
a) A m'tençãopamdaxal
O método da 1n'tenção paradoxal foi claborado por Frankl e
publicado pcla pr1m'elr'a vez cm 1939. Particularmcnte aplicável aos
casos dc ncurosc de angústia e de neurose obscssívo-compulsiva,
tem csse método por pressuposto a capacídadc cspec1ñ'camentc
humana de autod15'tancíamcnto c o cmprcgo do humor como veículo
de mobnhza"ção. 0 paciente é orientado pclo tcrapcuta a “V_1___,dcse'ar
Muncmcmca'”, para que “o
_~_§Ld_mv____gv___~l_1emor
da ectativa se dcsvancça or falta de ob'co”. 0 método
da m°tcnção para o o Jenva com lsso lcvar o pacicnte a nr' “na
cara” do temor e deste modo dls'tanciar-se mals' c ma15' dcle. “Quan-
do nós”, dnzua" Pelrüowitsch “com o auxílio da m'tenção paradoxaL
conseguun'os convcnccr nosso pacientc dc que o homcm, para
surprcsa sua, possui condiçõcs dc cnfrcntar sua tensão defensiva e
ehmmar" os smt'omas em cuja na'o-1nfl'uenciab1h"dade cle acrcdita;
quando, sxm'ultancamente, cntra na cova dos leões, para nela ms'ta-
lar-se confortavclmcnte c, portanto, está dls'posto a cnfrentar os
sm'tomas, armado um'camente com a auto~1r'onia e a atitudc de
humor, quc cle, dc mí'cio, somentc aprecndc de relancc, mas, em
seu efeilo ñnaL por via de trcm'amento, o condum'á à atitude
duradoura dc tranqu"1h"dade bem-humorada, cntão, snm,' tal cvento
da capacidade de mam'pular o sm'toma se constitui no ponto dc
partida de uma mudança da cosmows'ão. E, conforme as cu'cuns-
tan^cias, poderá ter por efeito transformar um dctcrmxms"ta, pelo
menos na prática, num defensor da liberdade pessoal de opção”.
b) A derreflexão
Como se víu, a m'tcnção paradoxal ajuda o pacicnte a 1r'omzar'
suas angústms' e obsessoe's. A derreflexão, por sua vez, 0 toma capaz
dc 1gn'orar os seus temores. O problema do doentc de neurose de
angústia cons¡s'te preasam'ente no cstar apns'ionado no círculo
mf'crnal dc sua angústia e dos pensamentos quc sc agitam cm torno
dessa angústia, acrescidos de sua ansiedade dc expectativa. Mas
sobrctudo, dcvido à sua obscrvação compulsiva, presta ele exagera-
da atenção ao scu sm'toma e dcstarte o cstab1hza" c aprofunda.
Unl'nzar' a dcrreflexão em tal caso sigmñ'ca aplicar o scguintc
pnn'cípio logoterapêuticoz “_&E0ho"”, declara Frankl, “__nãowe_rstáa.í_
p\d_ara observar-se a si mcsmo, Lfgçjhmara es - e, ___\p___mase›nstcara'a
entrcga c sx mcsmo, a__,únmê,ren' u doa'o, q_______ue
se cfetivam rcco-
g____,_'__TIII__J"_Cccnocamando.” Aplicado ao docnte de ncurosc de angústia,
mgmñ"ca: o pacientc 6 levado a “csqueccr" o seu tem0r, cnquanto
volta sua atcnção para algo ma1$' ¡m'portantc, maxs' plcno de sentido
do que o objclo de sua Dcveras, “quanto maxs' o docnte
coloca uma causa no pnm'e¡r'o plano dc sua consciêncía, que tcnha
por cfcito dar sentido a sua vida e lomá-la dlgn'a de scr vívida, tanto
mans' sua própria pcssoa retroccde e com nss'o as suas afliçoc's
pcssoais se deslocam para o segundo plano dc sua vivência”
(Frankl).
2. A pergunta feita com freqüência sobrc o método de
condução do d.iálogo com o pacícntc, que parcce causar embaraço
ao logotcrapcuta, é sun°plcs de rcspondcrz a logoterapia não desen-
volveu metodologia s¡s'lcmática própna,' cm acatamcnto à sm'-
gularidade e unicidadc do homem. O diálogo cntre o terapcuta e o
pacicnte devc transcorrcr “abcrto”, a ñm de que o paciente, scm sc
ver hm1"tado por um conccito ou um “pré~conccito”, possa man1f'es-
tar-sc livremente cm sua m'dividualidadc e em sua problcmática
cspecíñca. A conversa dcverá ser abcrta a1n'da por um oulro motivoz
“O d1ál'ogo psicoxerápico”, ensm'a FrankL “que não sc abra em
d1r'cça'o a um sentido c cujos hm1"tes não sejam também ultrapas-
sados, é um diálogo sem logos.” Em outras palavras: “Na pcrspcc-
tiva da logotcrapia é dc fundamental 1m'portan“cia que a conversa
também conduza a uma confronlação do pacienle com aquelas
perguntas c tcmas que dlzc'm rcspeito às suas neccssidadcs espm"-
tuals', aquelas quc concemcm a todo homcm - quer tenha dlss'o
consciência, qucr não - e que dlze'm rcspeito a sua humanidadc,
como, por excmplo, as pcrgunlas sobre fé, esperança, amor, sentido.
Sc, apcsar dlss'o, qulsé'ssemosfa1ar num “m6todo” de condução da
convcrsa, scria lícito añrmar que a logotcrapia possui uma
“tcndência socrática”, procurando, alravés do “cncontro pcssoal",
ajudar o paciente a libcrtar o que eslá encobcrto, a csclarcccr o quc
cstá dns'torcido e a adquu'1r' consciêncm' clara sobre aquüo quc
apenas presscnle. Ncsse diálogo abcrto, baseado em moldcs
analítico~cns'tcnc1ms", o logoterapcuta se cncontra também, c de
modo cspcciaL com aquclas pcssoas quc, em conseqüência de um
problema cspm"tual não solucionado, de um contlito ético ou uma
cns'e ems'tencial, adocccram c, am'da, com aquelas que lutam por
adotar uma alitude face a seu sofr1m°cnto m'evitável. E tal forma de
condução da conversa, longe de barrar a possibmdadc de uma
cooperação com outros proccdm'cntos tcrapêuticos, ao contrán'o,
os favorccc.
45
 ALFRIED LANnGLE

A vivênaa'-do-ser como chave da

expen°êncm'-de-sent1d'o

Nas anotaçoc's cm forma de diário dc Luns'c Rm'scr cn-

contramos a segmn'te passagcmz “0brigo-me a viver 'aquí e agora”'.
Esta é a hora; este, o lugar. Com ls'to aprcndo muíta cons'a. E aprendo
de saída o quc é mals' d1f°íc11'. Ponho-me a cammh'ar, por exemplo,
ao cntardcccr, pela Via della Crocc, quando todas as pessoas se
encontram na rua. Ela já é dc si baslanlc estreita, não possui
calçadas e para todo o lado há carros estacionados. Só com muita
d1f1'culdadc se consegue prosscguü na camxnh'ada. Pessoas batem
na gcnle com bolsas de mão. Automóvcns' buzm'4n'do atordoam
nossos ouvidos. No meio da rua, numa csqum'a, lrcs^ senhoras,
vestidas a ng'or da moda, tagarclam e obstruem a passageny sem
maiores preocupaçõcs. Eu cstou nervosa. Lcmbro-mc, cnlão de
Kohelet. Também isto aqui é vida. Digo-o a nnm' mcsma e acrescen-
to: “Agarra-a, contempla-a, dexxa' que penetre completamcnte em
teu íntlm'o, m13°tura-te com ela e experun'enta como é maravüh'oso
cstar em meio à vida. Tu vives agora. Quem sabc quanlo tempo a1n'da
tc rcsla?
É uma fórmula mágica. Tudo passa a ter sentido, tudo me dlz'
rcspcít0, tudo me pertencc, eu amo tudo ls'to, porque é vida
Accita-a, m'lroduzc-tc nela, faze-te partc dela.
Dcstc modo dia após dia vou aprcndendo algo novo. Não
aptendo apenas o que parecc fácú,' como segurar na mão o ms'tanlc
belo e ln'dolor, mas lambém 0 ms'tante que sc me apresenta nna'de-
quado, desagradáveL doloroso. Viver aqui e agora - ou scquer

1
1

4'/
.

'
mmsgu
viver” (Lulse' Rmse'r, Baustellg Eme°Alt Tagebudg 1967-1970, p. 28
e 29).
Muitas referências feitas nesta contríbuição foram con~
dcnsadas nesta passagcm do d1án"o de Lms'e Rmsc'r. A questão quc
pode scr aqui formulada é esta: Por que acontecmcntos assnm'
oom'queu"os do dla'-a-d¡a' podcm scr o “lugar de construção” de
mmh'a vida c como é que eles têm “sngmñ"cado” para a mmha' vida?
Quc papcl me assmala' a vida, dc quc modo me cncontro ncla7 O
ponto depanida aqui é, cm outras palavras, a fenomcnologú do set,
do meu estar-aí (Da-sem') c do mcu estar-conscicntc (Bewsst-sem').
Assun' como R1nsc'r retlete sobre o mm'uto concreto, chcgarei cu à
constatação do “aqui e agora”, aquüo que é, em contrastc com a
rcpresentação parahsan'te daquilo quc podena' scr d1f°crentc.
Começo a dlsce'rmr' valorcs através do “dc¡xar'~ser”. A VIs'ta está
dcsm'pcd1'da para a rclação que sc ofcrccc cntrc m1m' e as consas'.
Isto poderá causar-me assombro, compchn'do-mc a ag1r' em atitudc
de d15'ponib1h"dadc para o scntido m'condicional, não feito por m1m'.
Ass¡m,' esta contñbuição cstcnde-sc da cxpcn'êncxa' não-d1r'ecionada
do meu honzo'nte de exns'tênc1a' até a v1v'ênaa' concreta de sentído,
oricntada pclos valores. As&m' comprccndida, a posstb'1h"dadc (e a
vontade) de sentido já sc faz prcsente na essc^nc1a' do nosso cxus't1r'.
Ncccssita, no cntanto, me'lutavelmcnte, de nossa decma"o, de nossa
anuênaa' volunlána'.
A SITUAÇÃO EXTREMA
Se para alguém esta qucstão sc añgurar dcmasxa'do teórica c
aparcntcmentc destituída dc 1m'portan“c¡a,' scna' lícito supor que
estcja passando muito bem (dc conformidade com a considcração
de quc pcrguntar pclo semido é smal' de já tê-lo perdido).
No cntanto, 1mag1n"e-sc uma situação quc, por ccrto, já sc terá
expemn'entado, m'dividualmcnte ou em comum com outros, em quc
alguém se encontra na maré baxxa' da depressão, no fundo do valc,
onde “tudo dexxo'u de ter sentido”, onde “s1m'plesmente não mak se
desejc o quc qucr quc scja”, onde tudo lhc é m'd1f'crentc. Alguém
nesta situação não v151'umbra motivo suñciente para posícionar-se
antc seus problcmag transformá~los cm tarefas, tornar-sc ativo. Não
possui mela para alcançaL sente-se abatido e exlenuada Tornado
joguctc dc forças m'deñnívcxs,' 1n'te1r'amcnte passivo, transforma~se
cm estranho de tanto scr empurrado por forças estranhas. Chegou
o momenlo cm que quer acabar com Iss'o...! Acuado como se
encontra, só lhc resta o suicídío.
O que sobra a um homcm ncssa solidão c aflição, na qual lhc
foí tu'ado tudo o que possui valor?
Ncsta cnse' profunda, sena' m°úul° convcrsar com ele sobre o
scntido. Tcrá cle uma rcação alérgíca ou, cansado, rcjeitará cssa
possib1h"dadc dc scnu'do,dlze'ndo: “Não há maxs' scntido para m1m'.”
Talvcz poderíamos conversar com elc sobrc o scntido quc pcrcebna'
anten°ormentc, quando am'da cns'ua' para ele (o que cle expressa ao
usar “mals'”). Porém neste ponlo muitos negam até csse scntido do
passado, só voc^m umvazio ao rcdor dclcs, afaslaram-sc dc tudo, não
há mals' apoio para se lcvantan A agrcssão e dcsespero se acumulam
m'teriormentc. Encontram-sc na escuridão, dcsamparados.
Quando não se vê um sentido, resta apcnas a mcra existência.
Porém, cxms't1r' por cms°t1r' é ms'uportável.
Poderia a logotcraph ajudar nesse caso? Podcna' ela ajudar a
encontrar novamentc um scnüdo c vivenc1á'-lo? Por ondc comcçar?
A ÚNICA AJUDA REAL
Facc a uma situação asmm' desesperadora o que se pode fazcr
é cstar prescntc junto a quem a sofre, ouvi-lo, prcstar-lhc atcnção,
süenciar com elc c, qucm sabc, solidanam'ente compamlhar' a tns'-
teza (vcja FrankL 1969, pág. 94), que ele não consegue suportar
sozmh'o. O surg1m'cnto da Ms'teza é smal' de quc muitíssmo sc
progrediuz o homem começa a encontrar-se. Presscnte valorcs.
O quc fazcr, no cnlanto, se a agrcssividade não ccder? Como
proceder se a resxgna'ção, o cansaço e o desespcro tivcrem en-
durecido o homem a ponlo de ele acreditar que somente cnoontrará
alívio através de extxavasamcnto de mals' agrcssividade c, ñnal-
mentc, numa agrcssão dcñniüva contra si mesmo?
Um homcm nestas oondiçoc's não pode scr abandonado a sí
mesmo. Vejo-o aqui presente, sabendo cle, talvcz, com suñcientc
clarcm como e por que tudo Iss'o ocorrcu. Podcrá elc entcnder os
“mecams'mos”, mas eslá snm'plesmente 1n'capacitado de Aam'da crer
que cm sua cns'tência, cm sua vída, haja um “PARA OUE", algo
para o quc sm'plcsmcnte scja bom viver, qualquer que seja a fontc
moüvadora.
Como logoterapeuta posso alé m'terv¡r' de modo cspccíñco
ncssa situação dc completa hm1"lação, colocandoanc em s¡n'tonia
com o paciente e admitm'do o seu estado dc mf'ortúnio. A
logoterapia mostramos que os valorespodem scrrealzzado°s somcnlc
no aqui e agora, scndo relevante aceitar o desaño da situação e o
49
fato de semprc nos cncontrannos num ms'tante concreto, com um
dcsaño concrcto, face ao qual haverei de mantcr~me abcrto, porquc
nelc v151'umbro o valor que dcsejana' reahzar' c pclo qual qucreria
vivcr.
Precxs'amos admilü quc, diante dcssc pcsado ônus cxns°tcnc1al'
citado anteríormente, essc pensamcnlo logolerápico não constitui
uma solução d1r'ela. O paciente provavelmcntc não teria condições
de accílá-la.
Uma consa,' contudo, pcrmanecc fenomenologicamenlc claraz
se pretendermog o pacientc c eu, retornar à vida, 1m'prescm'dível se
faz encontrarmos, antes de rudo, um sentido para viver. A vída há
dc tcr, novamentc, valor para clc. O valor elc já não o cncontra.
Comum'cax-sc com1g'o agora, ncstc momcnto, e permitü que eu
participe de sua cns'e, é o mámm'o quc ele conscguc cxtemarl Talvez
estará a pcnsar ou a dnzc'r: se agora não pode ser encontrado
ncnhum valor, se estc nosso enconlro não possui valor, onde poderci
eu “procurá-lo”?
o MÉTODO
Ele me cntrcga o quc am'da lhe rcsta c em que de algum modo
a1n'da acrcditaz dmg"e-me a palavra, comunica-se com1g'o, entende
valer a pena adiar a hora da sua morte. Possui um fundamenlo c,
po¡s,' motívação dc tentar uma ultrapassagem de sí mesmo e de sua
situação.
Procur0, ass¡m,' viver com ele oprimeüo valor, sem perder de
v¡s'ta o aqui e agora com que, por nossa conditio humana, xn'-
variavelmente nos deparamos. Tcnto evitar tudo que foi e quc
podcria ser. Concentrovme sobre ele aqu1,' sobrc o que agora d12' e
peço-lhc quc faça o mcsm(›. De|x'cmos todo o reslo de lado. Só
ems'tcm ele, que a num' se conñou, e eu, que aqui me encontro, nesle
momento, exclusivamentc para clc. Tornar-nos conscientcs do cms'-
urm'os-um-para-o-ouu'o, aqu1,' ambos, agora. O que nos reuniu é o
ptoblcma, o que nos hg'a é a ems'tência comum, a “situação-dc-nós"
(W1llx," 1980), o s1m' dito a esta situação por nós ambos, a d15'-
ponibnh"dade para o tu (Maxcel, 1954, pág. 77), o doar~sc um ao
outro, a conñança graruíta, a pcrseverança. Implica ns'to em aceitar
a condição humana, notadamente o cstarmos ambos hg'ados ao aqui
e agora, ao desaño do momcnto, o ter-me ele escolhido c preas'ar
de m1m,' o aceitar eu o desaño, o colocar-me m'condicionalmentc em
dls'pom'b1h"dade (Heidcgger, 19'79, pág. 122) e com ele fazcr a
experiêncía dc scnlido.
A VIVÊNClA-DO-SER
Atcntemos mms' uma vez para a situação comcntada. O que
foi _quc acontcccu7
Duas pcssoas sc cncontraxn Uma dclas cstá dcscspcradg
passíva, m'erte. Rejcíta toda a responsab1h"dadc, encontra-se de todo
1m'possib1h"tada de expenm'entar alcgna,' não tem mals' vontade dc
vivcr, não vendo, tampouco, cspcrança alguma. E, assnm' scndo, não
acredita cm ajuda que lhe possa valer.
E contudo sc mamTesta através da palavra.
Temos aí um “doente exzs'lencial”, dzs'posto, prccmam'cnte
agora, ajusuñ'car a separação m°tcncional dcste cns'lu" sem uuh"dadc.
Ele já não aukte no verdadeüo sentído do lermo.
Esta pessoa, no entanto, se depara com quern sc pronnñ'ca a
assumu' responsablh"dade c propicíar cspaço para a espcrança. Estc
ser humano está prcscntc, cm mcio à vida, c agora se torna
dns'ponível para o doente cxxs'tencial, com o qual cntra a relacionar-
se. Acontecc uma troca, em que sc procura um dns'tanciamento das
causas c situaçõcs gcradoras da doença, através da atcnção centrada
naquüo quc agora sefaz presente c o que cntre o paciente c a outra
pessoa 1r'á dar-se. Trata-sc dc um relacionamcnto com basc no aqui
c agora, 111m1"'tado quanto à duração e dcscondicionad0. Tem por
objeto a comum talefa dc comprecnder aqui c agora a añição
1m'pediente, sem m'dagaçoe's sobre alguma unli'dadc que dela possa
advu'. Dmg"e-se a atenção para o fato dc “ser-accito”, de quc alguém
aí cstá, sem pcrguntar qucm será amanhã ou por que mngu'ém se
aprcscntou no dna' de ontcm Apenas m'tercssa conccntrar-se em
c1ma' do fato de que alguém se comunica e quer comum'caI-sc, e
assm' procedendo sc toma pmsente, accitando o estar-aqui do
ouv1n'te. E a atenção vai sc ocupando com tudo aquüo quc está aí,
m'clu1n'do os 1n'tcrlocutorcs.
O que sucede ncstas cu'cunstan^cnas' nada tem a ver com o fato
m'telectual. Desviando a atenção de tudo que é dls'persivo para
aquilo que aqui e agora é c acontece, cria-se um espaço
rcsguardad0, no qual se acolhe sobrctudo o csscncml°. A VIsa"o e o
reconhecnm'ento são mans' nítidos, sente-sc e expcnm'enta-se mals,'
porquc não há desvio de atenção c se abre o cspaço necessário para
tals' scnlimentos. Libcrtando~nos de variadas cu'cunstan“cias,
51.
possibmtamos quc surja 0 “1ns'tantan^eo”. Decid1m'o-nos por nós,
damos as boas-v¡n'das ao nosso scr, vivcnciamos e cxpcnm'entamos
o valor do nosso scr. Às vezes, como ocorre na situação atrás
rcfeñda dc uma pessoa cms'tenc1alm'ente enfcrma, é 1m'prcsc1n'dívcl
a ajuda de alguém, sendo nccessáña a expcn'ênc1a' do ser sadio dc
uma outra pcssoa, para quc voltc a consoh'dar-sc a espcrança per-
dída.
0 SIGNIFICADO DA EXPERIÊNCIA-DO-SER
Foi objeto dos comentários anteriorcs a “cxperiência do ser”.
A experiência do ser coloca-me na base da ems'tência, constitui
scguro apoio para os passos do mcu cstar-aí, quc dc outro modo se
desvancccnam° no nada. Perccbo a idéia-mamz', em que toda a vída
humana sc cnraímz
“EU s0U, E o FATO DE EU SER POR Sl MESMO JÁ É
BOM”.'
Tak vivências sempre sa'o, ao mesmo tempo, expenm'entadas
como “belas”. A1'dém' da harmonia nelas se mamf'esta.
Expen'ências-do-ser, de modo algum, ñcam cu'cunscr¡'las à
sítuação antes comcntada. Ao contrário, constitui csta, fellzm'ente,
a grande exceção e, por certo, o mcio maxs' laborioso de sc tcr com
alguém uma expen'ência-do-ser. Experiênaas'-do-ser podem pro-
ccssar-sc sem a participação de outrem com idêntica oportunidade.
Ocorrcm, por exemplo, quando alguém, tranqu1l"'o e dcscontraído
(deshg'ado dc preocupaçoe's) deambula por um prado e contcmpla
as ñores, o pôr ou nasccr do sol. Expcn°êncnas'-do-ser são, na arte,
talvez aquüo que faz de algo uma obra de artez a m'termediação
dessa v1'vênc13'. Quem sc encontra, por excrnplo, absorto numa
reahza'ção musicaL ou contcmplando um quadro, tcm uma ccrta
scnsação de “cncantamento”, scnte-sc mais intcnsamentc
participaüvo e talvez se 1m'agm'e co-autor da obra.
A cxpcn'ênc1'a-do-scr é cxpcriência básica no am0r. Anscm'
pcla mera prcsença do ser amado. O próprío scr-aí é vivcnciado
tanto na separação quanto na união.
' G. Marcel (19T/', pág 44) ve m'dxsso'luve'| vfnculo cntrc scr e valor. Maü
longe do que ele viu Tomás dc Aqumo ao declarar. “... para cada consa' scre scr bom
vale o mesmo” (cit. Picper, 1967, pág 12).
52
A cxpcn'ênc1a'-do-scr se toma 1m'possívcl semprc quc haja
uma tentativa dc possuu' algo, de pretcnder apossax-sc dc alguma
cmsa.' Caractenza'-se pclo denxar'-serl Todo dcscjo de possc resulta
em perda para o ser em relação à coxsa' desejada. Nessa pcrspcctiva,
sou apenas na medida em que possuo muitas coxsas'. O ser lem um
.
valor cm si mcsmo; a posse o lcm através do objclo possuído.
4 _
\._
A EXPERIÊNClA-DO-SER COMO VALOR
FUNDAMENTAL
4_
Pela expen'ência-do-ser o homem sc torna, conforme v1m'os,
. ›J›a~_
consciente de valor que cle próprio é, pelo fato de seu mero ser, mas
que elc não apcnas conhccc, mas também expenm'cma, aprccndq
sente. Ser homem sngmñ"ca possuu' valor enquanto sc vivc, m'dc-
h
pendentemente de capacidades, posíção sociaL uuh"dade, qualida-
de, saúde, percalçosl A d1gm"dade humana se funda no seu scr, no
que clc é, não uo que elc tcm! Scu scr é o prun'c¡r'o valor, o valor
fundamental O homcm é valor, conforme d12' FrankL
wwMK
Parecc-¡ne 1m°portante se dê novo rcalce a esta realidade numa
época de rcccssão e dcscmprego como a nossa. Assun' como cm
.,.
tempos idos, o desempregado de hoje se sente uma pessoa m'út¡l' em
_,.
seu llm1"tado círculo de atividadc c, em conscqüência dnsso', erronea-
mente se considera sem valor (vcja FrankL 1933). Contudo, contra-
nam'ente ao que succdia no passado, nmgu'ém hoje se vê ameaçado
de morrer de fome. Funcionam as agências de socorro aos neccs-
_ ,_. ,_
sitados, mantidas pela rede dc bcm-estar sociaL Todavia, a pcrda
dc bcns adqum"dos, a des¡s'tência forçada de objctos cobiçados, a
y_.v_ .
hm1"taça'o das possiblll"dadcs de diversão c da compra dc bcns que
dão prcstígio, tudo lss'o, apesar do rccebun'ento assegurado do
mímm'o neccssário à subsns'tência, gcra sofr1m'ento, ao qual sc acres-
ccnta a seusação dolorosa dc o sujcito sc vcr dcspojado de scu valor
pela sociedadc do ter c do consumo.
Volvamos à cxpcn'ência-do-scrl - “Eu sou - e o fato dc cu scr,
por si mesmo, já é bom”.
Na vivência dcsta realidadc sc sítua o valor fundamcntaL
antcposto a todos os valores pcrccptívck (porém náo m'condicional-
mentc anteposto aos valores estabelecídos, por excmplo, os valores
da fé). Com o valor fundamcntal sc rclaciona de algum modo todo
outro valor, conforme adiante veremos.
O valor fundamental não é snm'plesmcnte produto do pen-
samcnto ou m'tclectivamcnle aprcendido. Pode scr expenmentado
53
attavés de todas as possibmdadcs dc vívência, o quc dc longe
ultrapassa toda possibmdade de expressão vcrbaL “Eu sou, e Lst°o é
bom”. Pcrccbc-sc rapídamente numa outra pcssoa, se, por si
mesma, tcnha cxpcnm°cntado esse pnn'cípio. Não sc consegue
aceitar sercm tantas as pessoas acomctidas pcla “doença do ser”!
Por tudo quanto o homcm faz reccbe ele mensagem de retor-
no. De ambas as m'formaçóes: daquüo quc faço e do efeito quc dlsso'
advém, m°clusive sobre m1m' mcsmo, recebo clementos deasw"os
para a 1m'agcm do meu mundo c de mmh'a auto-nmag'cm. Contudo,
qucrerh a csta altura csclareccr apcnas quc tals' mf'ormaçocs'
contém mzus' do que estritamente 1sso'. O conteúdo mf'ormativo
complcto enccrra 1gualm'ente esta notíciaz “Eu sou". Vale dnzc'r que,
por força do meu scr, sou capaz de agr' c através do meu scr posso
recebcr mcnsagens de rctorno.
AS TRES DIMENSÕES DA EXPERIENClA-DO-SER
Prhneira dimensàoz A situaçâo do meu ser-aí.
v |
Í
As rcfcrêncnas' até aqui fcitas à cxpcn'ênc1a'-do-scr dlze'm
1
respeito à dun'ensão cstática da situação, que nos permite ñcarmos
m'tcu'amcntc conosco mcsmos, quc denxa' as co¡sas' como sa'o, quc
permitc o rclacionamcnto com as coxsas' e as pessoas da maneüa
como m'vana'velmentc sc apresentam. Dcpato-me com a facticidade
do scr-ass1m,' renunciando a todas as cogitaçocs' sobre a possíbi-
lídade de serem dcste ou daquelc modo c como seriam sc d1f°ercntcs
fosscm. É uma situação de rcpouso, cm que me concentro no aquí
e agora, “des-ügando-mc” dc tudo, “dcs-c0ndícionando-me”.
Llnn"to-me ao “dc¡xar'-acontccer”.
Segunda dnm'ensa'o: A dinámica do “eu”
A expcn'ênc1a'-do-ser possui uma grande d1m'cnsão, a do eu, o
qual añrma que éz “Eu sou”. O quc nesta segunda d1m'cnsão se faz
conscícntc, o quc é conscientcmcntc cxpcnm'cntado, 6 o fato de a
cste scr se amoldar um “cu”: cxpenm'ento a mun' mesmo como
sendo! Muita consa' se oculta nessc nmnhecer~c-vivcncm'. Nelc se
funda o scr-pessoa, cujas pnm'c¡r'as man1f'cstaçocs' remontam à fase
de obst1na'ção da críam Esse eu podednzc'r“na'o”. Esse cu pcrccbc
a si mcsmo, aprcende-se como scr pensante. Essc eu conhccc,
m'dependentemcnte dc m'tcrfcrências cstranhas, quc 6 cle mcsmo
que possui capacidadc para d1r'ccionar a conccntração do seu pcn-
samcnto sobrc algo, quc podc ocupar-sc de algo, ass1m' como pode
agr' dc modo oomplclamcnte diverso. Esse eu se aprcende como
centro dc ação (Schelcr, 1978, pág. 38), ao qual é própño um scr.
Aprcende o ser como algo quc lhe foi dado, quc agora lhe é posto
à dls'posição, que scmpre é, cnquanto o respcctivo sujcito víven
Surge uma bipolañdadc na própña esséncia, um homem em posíção
crcta facc ao mundo: o situar-se na'o-estruturado do puro scr
reccbcu uma cabeça. À cxpeñéncia cstática da situação acrcsccn-
ta-se a de uma possibnh"dade ativa, dinâmica. Na pcssoa reccbe o scr
um ccntro dc opcração e cxpen'ênc1'a, quc se estende para além do
ser, porque torna possível o oposto do ser, o não-scr (Sartre acredita
devidamente que o ser somenle sc toma cognoscível pela possibi-
lidadc do nada - cha “L'êtrc et le néanl”, pág. 57).
Essc cu que aí eslá se vé colocado num mundo, sem 0 qual dc
modo algum podena' ex1$'t1r'. Aqui de novo me encontro como
“cstando-no-mundo” (Hcidegger, l979, pág. 53). Estou ncste
mundo de circunstan^cias c rclaçoe's (a pn'me1r'a d1m'cnsão da
É
expeñéncia do scr) e num mundo cm que, dc forma pnm'ordial, mc
cnconlro atuando como causa, agentc Lransfonnador, cn'ador dc um
Í
mundo. Naturalmente, eslou também num mundo em dcv1r' e
É trans1'lón'o, de dcsarralgam'cnto e de consas' que mc dnze'm rcspcito.
Mas d1sso' tratarcmos mals' tardc, na lerccüa d1m'cnsa'o do “cslar-
exposto”.
A transcendência do ser-aí
Neste ponto dc nossas rcflcxoes' é decm'iv0 termos em müa o
“estar-no-mundo". Na pnm'cu"a d1m'ensão da cxpcriência do ser c
na d1m'cnsão cm quc expcnm'ento a situação (Zustândlichkeil) do
ser-aí, percebo as rclaçocs' pelas qua¡s' o mcu scr adquu'e o caráter
do ser-al. Com ns'to mcu scr, quc para m1m' scn'a dc todo 1m'pcnsávcl
se não fossc um ser-no-mundo, uma vcz que sempre é uma relaçâo
como “catcgoria da essêncna'” (Buber, 1977, pág. 36), é constituído
por uma trama dc rclaçoc's, por cstar comprometido (Bezogensem').
O reconhecnm'ento dc que o meu scr-aí de forma pnm'ordial é
rclacionamenlo, “ser escolhido e cscolhcr, palxa"o e ação, s¡m'ul-
Laneamcntc” (idem, pág. 18), conduz da expen'c^ncw' da situação a
ambas as d1m'ensoes' do agü c do estar exposto.
No entanto, só estarei cfcüvamenlc “aí” quando me tomar
conscicnte do segundo pólo, do “cu”. Sou ccntro de ação no mundo,
porquanto apcnas através do desempenho de atividadc me encontro
55
cfetivamentc “aí”, me faço prcsente. Só quando “conccntro todas
as mmhas' cncrgm sobre algo, cu v1v'o dc maneüa a mals' complcta”
(March 1978, pág 162).
Aparentcmente a cxpcn'êncna' do scr mc havh deslocado de
tudo o quc há em tomo de Imm' para uma situação flutuantq dc tcr
cm conta um'camente meu-própn'o-ser. No entanto, um exame
acurado a pamr' da ems'tênc1a' revcla que já alí ens'te, de forma
latente, um “cstax-no-mundo”. Estar-no-mundo é a constituição
fundamcntal do scr-a.í (Heidcggcr, 1979, p. 54c 176). “Ao voltar-se-
para... c perccber, o estar-aí não rcssai de uma csfcra m'terna em
quc se cncontrava antcriormentc encapsulada De conformidade
com o seu modo dc ser pnmán"o, dcsde semprc se sítua *fora', num
ser que vem ao cncontro do mundo já dcscobcrto" (idem, pág. 62).
Essc “cstar-no-mundo” de Hcidcgger é aquüo que Frankl
dcsngn'a como “autotranscendênc¡a'". O próprio Heidegger o con-
ñrmou por ocasño dc uma v151°'ta feita a Frankl (co¡nunicaçâo
pessoal do Prof. Frankl).
“O modo pnmán"o do cstar-no-mundo, segundo Heideggcr, é
o 'rcconhcam'cnto do mundo' (voav), ou seja, o m'tcrpclar e o
dcbatcr o 'mundo' (Ã.oyos) (idem, pág. 59). Foi cxatamcnte lsso' que
ñzemos até aqui neste trabalhoz cnsamm'os o reconhec1m'ento do
mundo através do rcconhecxm°ento do 'compromet1m'ento' '(Em°-
gebundenheit) e reahzam'os a m'terpelação do mundo através de um
eu quc se apreende como centro de ação no mundo. Apreendome
com Isso' como d1r'ccionado, pela cssênch do meu scr-aí, para o
mundo em que me enconüo. Sou essencmlm'ente aberto a outro ser
e esscnaalm'enle a depcndcr dc outros sercs. Eu sou, cnquanto náo
me puser “a mercê dc nnm' mcsmo” (Heidcgger, idem, pág. 175 c
segum'tcs), no rcconhecnm'cnto e m'terpelaçáo de oquo scr que “se
encontra” com o mcu seL Ou, como Frankl d1L" “Vamos ater-nos a
rs'to: somcntc a ems'têncna' quc se transcendc a si mcsma, somcntc
um scr-aí humano que seLransccnde com relação ao 'mundo cm quc
sc cncontra' podcrá rcahzar'-sc a si mcsmo. No entanto, buscandose
a si mesmo, com vistas à auto-realização, cstaria dc todo
cquivocado" (Frankl, l982, pág. 77. cha também March 1978, p.
162-171).
M. Buber o d12° formalmentez “0 homcm se torna eu no tu”
(1977, pág. 37), c Jaspers (1941, pág. 19) opma.'° “O homcm náo ó
um scr bastanle a si mesmo, cnccrrado cm sn,' mas, aquüo quc o
homem é, elc o é pcla causa que fez sua própna'” (veja também
Scheler, 1978, p. 89 c 93; Jaspers, 1965, pág. 54).
Terceira dimensâoz o “estar-exposto" na existência
Mans' uma temezr'a dzm'ensão da experiência do ser podc ser
wa'b¡hza"da. “Eu sou” - o eu desta vcz não é um centro dc ação, mas
um centm de enmega, de “pa1xa"o” (Buber, 19"7¡, pág. 18), ao quaL
pela cms'tênc1a,' algo, acontece, ao qual algo “d12' rcspeito”.
É aquela forma da cxperiência do scr quc é pcrccbida entre o
devu' e o passado, que faz a cxperiênch do m'evitávcl c do cstar-cx-
posto. Releva lembrar aqui o sofnm'ento c os golpcs do dcstm°o que
mc surprecndan Mas 1gu'almcnle me aconteccm os cventos dc
exultação, nos quaJs' a alegria me empolga e por vczcs o éxito me
saüs'faz. Tudo ls'to nos é propicíado dc tal modo que, embora ocorra
sob mf1'uênc1a' nossa, ocorrc lse'nto da domm'ação de outrem. Na
perplexidadc (Bevv_ü'ensem') o comportamcnto não raro torna-se
ms'eguro, quando o sofr1m°ento me atmg'e, mas pode também en-
volver uma grande alcgna'. O pólo positivo, assnm' como o negatívo,
desta d1m'ensão projeta-mc numa forma de êxtasc, de cxtrovcrsãq
de “estar-fora-dc-m1m'”. Aponta1s'to para o íntnn'o e vital parentcsco
entrc alcgna' e sofnm°ento. O fato de algumas pessoas na realidade
se fecharem à alegna' e ao sofnm'entorclaciona-se com a expen'ênaa'
do éxtasa Tcmcm clas sc cxporcm, perdercm a m't1m1"dadc, o que
envolvena' perda do scn cu (Serst). O scu eu rcstnng'e-se à segunda
d1m'cnsão.
A experiência dessa dimcnsão é tão antiga quanto a
conscíênch da humam'dadc. Encontra-sc scd1m'cntada nas rchg1"ocs'
pnmn"tivas, nas conjuraçoc's do dcsnn'o, na supersüção.
Entre os pólos extrcmos dessa d1m'ensão, a alegria c o
sofnm'cnto, há uma cxtensa zona dc mamf'cstaçoc's quc passa
desapercebida cm seu sngmñ"cado ens'tcncial por causa da sua
m'v¡ah"dade. Para constatá-lo basta considcrarmos a quantas colsas'
cstamos d1an"amcnte cxpostos c o quc todos os dxas', ou uma única
vez, nos succde, nos dlz' rcspcito!
Desta d1m'ensão da vivêncxa' do scr emana a lm'portante
capacidade de admu°ar-se, quc amplía o nosso ser-aí (nossa
ex15'tência) por uma d1m'ensão a mals'.
0 espaço existenclal' trid1m'ensional
Quem alguma vez tcnha m'dagado da razão de scr da sua vida,
contm'ua vivo somcnte porque fundamentalmenle pcrccbe o ser-aí
como um valor. Essc valor fundamental do scr-aí podc scr cx-
57
pcnm'cntado mcdiante a concentração sobrc o aqui e agora. A
tranqullx“"dadc m'tcns¡ñ'ca taJvivônciaz “Eu sou - e é bom que eu seja".
Dcsta cxpcñência do scr da situação (Zustan"d1ichkeit), cm quc sm'to
o valor do meu scr, reccbo aqucla energia, que mc torna capaz de
ação (c não apenas preparado para reag1r') e capaz de vivênc1as' (e
não apcnas prcparado para pcrccber).
Tal experiência fundamental somente é viável em vns'ta de
outro ser, em rclação ao qual sempre me encontro posicionado c
com o qual cstou essencialmente compromeu'do. Ass¡m' como não
posso 1m'ag1n'ar-mc não-exxs'tcnte, também não cms'to sem outro scr,
do nasc1m'ento à morte, aqui e agora. Conscicnnzan'dovmc da
presença de um “cu”, a cujo alcance foi colocado um ser dls'ponívcl,
sobre o qual possa tomax dec1$'oc's, expcnm'cnto-me como centro de
açdo no mcu mundo, como “pcssoa” que só sc encontra realmentc
“aí”, se ñzer uso do atributo da capacidade de agu'.
Essc homem, que sc ergue da situação para a posição de
pcssoa, se encontra a todo tempo c em toda a parte eJmosta
Atmg'em-no o ser dc outrem e os evcntos “casuals'”. Eslá nu em seu
ser~aí.
Cada uma destas üês d1m'ensõcs da expeñência do ser aponta
para além doponto de intersecção das dzm'ensoe's da eu cm d1r'eção
ao “estar-no-mundo”. Longe dc constituk algo quc 51m'plesmente
sc soma ao meu ser-aí, o “cstar-no-mundo” constitui uma
característica cssencial do meu scr-aí.
Eu sou, porque me d1r'eciono para o estar-no-mundo e somen-
te através do cstar-no-mundo pcrccbo que sou. É no modo c na
1n'tcnsidadc cm que mc cnconlro nas referidas dun'cnsõcs c cm quc
estou-prcscnle no mundo que percebo quem eu sou. “Quanto mals'
eu sou, quanto mans' mc añrmo comosendo, tanto mcnos me projeto
como autônomo. E tanto menos relcvantc se añgura (o meu ser)
como autovalonza'ção” (Marccl, 1954, pág. 143. Veja também p. 118
_ Í
c 134). Meu scr-aí é por essência “ccntrífugo”, é essencialmente
Áu
transcendente.
Na vivência, estas três d1m'ensões são pcrcebídas na reaHdade
m_'"."
subjetiva de “estar-relacionado-com”, de “podcr ag1r'" e de “estar-
cxposto”. Para a deckão de accitar cstas d1m'cnsõcs vale dlzc'r-sc:
“scr c dcmf", “ag¡r'”, “accitar e admu'ar-se”.
mwww(fi_*t4ü'
'*I'í'T__
A necessldade da declsào
Estas noçõcs, relativamcntc ao comportamento, apontam
“possib1h"dades emergcntcs do fundo da realidadc” (citação de
Frankl recolhida em convcrsa pessoal sobrc o scnu'do): a cssénaa'
do homcm com as trcs^ d1m'ensões é a reah'dadc, quc é ofcrecida
m°dcpcndentcmentc de nossa dccma"o. Para csta possib1h"dadc posso
(pc_|a d1m'ensão do cu como ccntro dc ação) dzze'r “ndo” a cada uma
das d1m'ensoc's c ao ser, através do suicídio. E, am'da, quando não
quero “dc¡xar' dc ser”. Ncste caso deformo a realidadc, fujo para o
mundo dc sonhos da droga, do álcooL da docnça, da neurosc. Posso
dlzc'r “não” ao entrelaçamcnto do mundo com o meu aglr', aban-
donando-mc ao plano m'clm'ado da dcpendéncw,' rcsxgn'ando-me a
um papcl passivo, no qual mc cx1m'o de toda responsab1h"dadc,
permithdo que os anseios dc tcr se apodercm de mnn,' ou tolcrando
que outros domm'em a mmh'a vontade. Posso dnzc'r “não” ao “estar-
exposto”, quando procuro, com 1m'ed¡a'üsm'o de meios, amcmzar' os
meus sofnm'cntos, quando eadjo da vída, co'mo se fora um d1r'cito
m'dlscu'tívcl, tudo o que cla mc possa proporcionar, pcrdendo, com
nsso', mmha° capacídade dc admn'aça'o, cnclausurandcrmc cm m1m'
mcsmo, ao m'vés de abnr'-mc, e quando, em meu desespc_ro, mc
cntrego à autocomkeraçãa
Posábmdadcs são cammh'os d1r'ecionados para um ñm am'da
não convertido em reah'dade. O cammh'o, porém, é reaL A vida é
grávida dc possibxlx"dades, vale dlzc'r que a vida se vm'cula com
dccns'ocs', a ñm de quc as possiblh"dadcs possam emergü rcah°dadcs.
Assnm' sendo, posso posicionar-mc de modo d1f'ercntc diantc
desta d1m'cnsionalidade cxns'tencml.' Posso d1ze'r s¡m' a cla c posso,
ao longo das d1m'ensoes,' extrapolar de m1m' mcsmo c, embora
conscicntc dc m1m' mcsmo, apagar~me numa vivêncna,' csquecer-me
a scrviço de uma causa e assm' perceber-mc rcnovado e constan-
temente rejuvencscido, mals' profundo, mans' cnriquecido do quc
jamals' antcs fora. Devcras, é Isso' que corrcsponde àm1nha' cssência.
O meu ser-aí se encontra orientado para o seu ongmal" fundamcnto
e, ao m'vés de sê-lo por djs'traçocs' vazias e sans'fação ãe neccsL
dadcs, é sustentada por alegria c reahza'ção, nâo dcvendo a pcssoa
capitular díantc dos sofrimentos, pois rcconhcce no “como”
cnfrenlá-los a d1r'eção daquele cammh'o que leva ao seu própño eu.
É neste honzo'nte quc sc descomn'a a noção do “sentido”
(Sm'n), derivado do ba1x'o-alemão erudito “smn'an” (Kluge, 1975).
Surprecndentemente, “smn'an” sngmñ"ca a1n'da viajar, ambicionar,
andar e podc ser retraçado ao vocabulário pré-germam^'co sentno
59
(cnv13r'?). O radical sent lcm na palavra lann'a senrw o sigmñcado
ongmán"'o de “seguu" numa du'eçã0”. A partü dcssa accpção descn~
volveu-sc o sxgmñ"cado lat1n'o de “scntu"”, que, pela rclação cxposta,
se torna m°tchgí'vcl: dn"ecionando-me cu no meu ser~aí, nas mmhas'
dccisões, nas minhas ações, chegarci a uma realidadc que
pn°oritanam'cnle é “percebida” c que é “sentida” pela totalidade do
scr.
A expeñ'ência-de-sentido
Parum'os da vivência do ser. Representa ela uma últun'a rcali-
dadc dc natureza geraL que ncssa cxpcriêncía sc torna conscicnte.
É uma realidadc m'tc¡r'amcntc não-d1r'ecíonada, com absoluta abcr-
tura.
A du'cça'o que 1m'pnm'o à mmh'a vída cmcrge das decxs'oes' para
valores que tomo reah'dadc. Valor posso cu encontrar, dc modo
gcraL cm cada possibüdade capaz de fazer do meu ser um ser-aí,
onde efetivamente sou e sou através da açao'.
Sem dúvida ncnhuma, a própría ens'tência, “de modo nor-
mal”, represcnta um valorz “É bom que eu seja”. Para viver cfetiva-
mcnte csse valor na ação, a logoterapia aprcscnta Uês categon'as, a
que se reduzcm todas as possn'b1h"dadcs de expcñência dc vaJorz
“E não é tão-só o trabalhar (correspondente à capacídade de
ação) que dá sentido ao ser-aí - falarcí nesse caso da rcahza'ção de
valores cn'ativos -, nem apcnas a vivênaa' (correspondentc à capa-
cidade de prazer), o enoontro c o amor podcm dar scntido à vida -
falo cntão dc valoresw'venciau' -mastambém o sofnm'cnto.Todav1a,'
a capacídade dc sofnm°ento, em últlma' anáhs'e,'nada mals' é do que
a capacidade de rcahzar' aquüo que desngn'o por valoms de atitude
(Frankl, 1975, pág 77, dcstaque do autor da citação).
Desta maneüa rcahzo' a mmh'a cssência, rcahzan'do o mcu eu.
Cada rcalmção de valores, por lss'o mesmo, possui um sentida
”Smnan'” s¡gmñ"ca viajar, seguh um rumo, por um cammh'o, que é
para m1m' um valor. O sentido jamans' é uma rcalidade cstática.
Nunca é váüdo para todos, ncm deñniu'vo. Sentido scmprc é algo a
rcahzar', algo d1n'am1^'co, vm'culado ao momcnto, ao aqui c agora. É
a 1mag'cm que dcshza' ao longo da v1ag'em, a música1 a desvaneccr-sc
no momcnto subsequ"ente. Talvez tenhamos hoje maior d1fi°culdade
na apreensão do sentido, graças à possíb1h"dade de se peremzar'em
as 1m'agens cm fotos, dlsco's, ñtas, ao passo que o sentido não permite
ser cns'tahza'do. Jamals' poderci possmr' e conscrvar sentido de uma
vez por todas. Ninguém poderá dlzc'r: “Encontrei o scntido. Elc é
assnm' c assnm'l”
Vivenciar sentido cnvolvc um cngajamcnto, um compromlsso'.
Sua rcunião e fusão na cssêncna' total nunca podcrá acontecer
attavés de m¡m' e, contudo, nunca scm m1m'” (Buber, 19'T7, pág. 18).
Scm uma rcferênaa' a m1m' mcsmo nada se torna valor, nem scntido.
“Onde não ens'tc partícipação não há realidade” (Buber, 1977, pág.
76). 0 sentido m'van'avelmcntc tem por premuposto a mm'ha
msc'rçáo em algo por que eu me delxe' atrau'. É a m1m' que Isso' d¡z'
rcspeito. Importa que mc delxe' atraü por um valor concreto de
vívência, de ação, de atitude, o qual aprovo graças à comprecnsão
do meu ser-aí.
Scntido é rcahza'ção do mcu cu e csscncialmcnte am'da mans°:
sentido é a reahza'ção do eu através da construção de um mundo.
BlBLIOGRAFlA
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Valor do eu e sentul'o da v1d'a

A psiqma'tr1a' acadêmica não m'daga do sentido da vida. Dcla

toma conheam'cnlo apenas negatívamenle, quando um cnfcrmo
considera a vida dcstituída de senlido. Com a anáhs'e somcntc sc
dnss'ipam ¡l'uso'cs, dcvolvendo-sc ao pacientc a m1"ciativa de cn-
conlrar o scntido dc sua vída. Ouanto mals' se objetiva entcndcr o
homcm, tanto maior a tendência de excluü a perspectiva de sentido
como pertm'ente a ele c de relegá-la à opm1"ão particulaL Entrctanto,
já antes da an'e¡r'a Guerra MundiaL dcspertara na ñlosoña o
m'tercssc pelo sentido da vida (Düthcy, 1883), prcsumivclmcntc
dcvido à decadência de oonvicções rchg1"osas c morals'. Mas lambém
terá servido como resposta ao avanço das ciências nalurals', quc
ncnhum acesso propicnam' ao rclacionamenlo cnlrc SIgmñ"cação c
sentido. Ambos esscs fatos regls'tram uma carêncía a supm'.
A ñlosoña do senlido sc enconlra 1m°ediata c ms'cparavcl-
mcntc v1n'culada àjilosofía de valores. Ocorrc que só valorcs podem
dar sentido à vida. O senlido é m'tcrmcdiado por valores. No entan-
to, valores são co¡s'as ou setorcs da vida quc em nós cn'am um
sentlm'ento positivo e quc reconhccemos em função de tal reah'dade.
Todavia, eles também nos desañam para a ação, quando com cles
nos envolvemos c, assm' sendo, nos assm'alam tarefas. Somcnte
ass¡m' os Valores desocultam a sua cssêncna°. Dc quc modo chega o
homcm até cles? Só podc o homem cslabclcccr valorcs c conslituü
hierarquias dc valores graças à sua capacídade dc valorar c de
dls'ccmu" valorcs. Não se añrma aqui que ele u"á julgar setores da
vida na fonna como foi capacitado a fazê-lo, embora tal ocorra com
bastante freqüência. Como cmanação de sua condição de pessoa

63
62
 possui cle capacidade para clcger c fundamentar va10rcs, o que os
mecamsm'os psíquicos de aprendxzag'em por si sós não exph'cam.
O campo operativo dc valores gcrms' é extremamente amplo.
Posse, cros, descmpenho, poder; mas também doação, renúncia,
subordm'ação. Indiw'dualmente, contudo, os valores oc_upam d1f'e-
rcntes posições, envolvcndo em sua abrange^nc1a' sxtua'ço'es que sc
estcndem dcsde a satls'fação de neccssidades pnmánas" até as
culnnnan^'c1'as da perfeíção humana. Mas aquilo que é considerado
valor maxs' alto ou mals' ba1xo' d1f'ere de pcssoa a pcssoa, dc grupe a
grupo. Cada qual possui o seu srs'tcma dc valorcs. É o que os jovcns
aprendcm dos sociólogos c por lss'o acrcditam com demasxa°da
fac1h"dade não precns'arem ter ncnhum refcrenmal' maxs' estáveL Tal
relatiws'mo de valores vem scndo aceito com freqüência crcsccnte,
p015' a aceitação de valores elcvados gera obng'açoc's c, portanto, é
m'cômoda. Preferc-sc não falar nelcs, sendo que em sctorcs respon-
sáve15' pcla educação é mcnosprczada a perspcctiva anagógica, que
aponta para o alto, cm favor dc mcras rciv1n'dicações e comodi-
dades. Com lss'o, no cntanto, também sc pcrde uma das exprcssões
consideradas dc muita rclevan^cia no passado, quc tomava prcscnte
e aprofundava o sngmñ"cado dos valorcs mals' altos, especialxnente o
da rehg1"a'o c o da sociedadc. Reñro-mc à clcvação m'terior man1f'es-
tada nos hm'os, nos louvores, nos can^ticos. Na atualidade, porém, 0
rclaüv13'mo axiológico achata a vida no verdadcu'o scntido da pala-
vra. Não permite mans' nenhum exercício de ascensão, nenhuma
m'tensxñ'cação.
Ora, se o homem atribui valor e, forçosamente, percebe o valor
de algo, valora também a si mesmo: “Eu valonzo'; portanto, possuo
valor” (W. Stcrn, 1924). Mas a posição do valor o homem cncontra
precmam°cnte cm sc comparando com oulrem Podc elc julgarz Sou
melhor ou pior do que oulros. Outros são melhores ou piorcs do
que eu. Tal julgamento eventualmcntc sc apóia cm presumívels'
d1f'crenças no bem-cstar, na escala hierárquica, no desempenho ou
no componamcnlo moral. O assm' chamado autovalor estabelccc-
sc m1"cialmcnte com base nos valores convcncionals', a seguk com
base naqucles que 0 m'divíduo tem em mlr'a. Só depoxs' se valonza'
também a outrcm. Quandn o homem rcprcsenta um valor elevado,
ou o cncarna, a sua auto-avaha"ção sc situará num patamar bem alto
c v1'cc›vcrsa. Todav1a,' a noção dc autovalor oscüa também scgundo
o êxito ou o fracasso, o rcconhecmento ou a rejeição, a saüsf'ação
ou a privação.
Com a adcsão à correntc ñlosóñca ac1ma' refen'da, os psi~
quiatras sc alcrtaram para o fato de que em todas as perturbações
1
P
Í
|.
¡,
E
psfquicas, nas neuroscs assm' como nas psicoscs, o juízo do
autovalor sc cncontra afctado, o que faz com que o doenlc dc rogra
se subest1m'e. Excepcionalmente - por cxemplo, nos casos dc mama'
ou cm surtos da esqmzo'frenia - sc supercstnma'. Podcr-sc-la' csperar,
a partü daquL um accsso à comprcensão do docnte e, quem sabc,
também o exercício dc uma mfl°uênaa' cñcaL Dns't1ngu'c K. Jaspcrs
cm sua Psicopatologia (1946) “do¡s' componentcs msc'parávc¡s'” da
consciência da personalidadcz um “sent1m'ento de autovalor” e
“mcra consciêncm' do scr próprio espccíñco”. D¡s'to se dcssumc que
a consciência do cu invariavelmcntc vem ligada a uma
autovalonza'çáo. Não surge csta scm cxperiência, mas também não
seria vná°vel scm o 1m°pulso básioo para a elevação valorativa Na
verdade - Jaspcrs assm' pensa - cxxs'lcm, ao lado dc |m'pulsos vítals,'
também un'pulsos ”cspm"tuals', para a pcrccpção de um scr c a
cntrega a um ser, que aparccem cm valores percebidos como ln'-
teüamente válidos, quer sc tratc dc valores rehg1"osos, quer de
valores éticos, lógicos c estéticos... Ems'tc a realidade psicológíca dc
uma expeñência onglnaL°' qualitaüvamcntc única, mas cmm'cntc-
mentc múltipla e n'ca, na cntrcga a tals' valorcs. Vem assocna'da a um
anseio un'pulsivo, no caso de sua falta, c é fonte de uma felicidade
m'comparável a qualquer outro prazmg no caso da rcahza'ção. Para
a unag'cm do homcm é dccns'iva a mancüa como todo cssc grupo se
conduz na man1f'estaça'o de sua vida, mas se retrai até quase
desaparcccr, sem faltar de todo num scr humano". Ncssas pulsoes'
atuana' um “anscío de ctcrnidadc”, que não conñguraria mcro
evento condicionado pcla tcmporalidade, mas uma “participação
num ser m'dcpendente do temp0”, ou scja, na superação do tempo,
com o qual Jaspers 1m'plicitamentc relaciona a clevação m'cbnan'tc
e cstática no cncontro com valorcs. Ncstc scntido, podcríamos dlzc'r
que o homem anseia pcla clcvação dc sua cns'tência.
Frustrada tal rcahza'ção nos planos vilal ou cspln"tual, con-
soante Jaspcrs, fac11¡n'cnte surgem,conquanto não necessanam'cnte,
“grauñ'caçoc's ¡l'usón'as”, pelas quals' a “expcriência dc valores" é
deslocada c a escala de valores fals¡ñ'cada. Slrv'am dc cxemplo
pcssoas pobres, fracassadas e fracas, a fazcrem praça dc sua m'-
ferioñdade para compcnsar o scnt1m'cnto dc mf'cn'oridadc no ex-
travasar do scu scnühcnto dc mf'crion'dade, com violêncm,' contra
os valores positivos dos mals' bcm aqumh'oados. Ao revés dlsso',
podcrá ocorrer que os que são cm tudo favorccidos vcnham a
atribuü scu êxíto a mercc1m'ento c dns't1n'ção própn'os, olhando para
os mcnos favorccidos com altich scm pcrccbcr o aspccto casual e
vulncrável da situação deles. Jaspcrs llm1"ta o seu comentário a estas
65
considcraçoc's de ordem geraL Contudo, já é o suñcientc para
perceber-se que a problcmática em mcnção há de dcscmpenhar
papel especial cm sc tratando de doentes psíquicos.
Também A. Storch (1918) dcscreve e ordena a cxpcn'ênc¡a' do
autovalor como fcnômeno humano, scm dependêncxa' 1m'ediata de
situaçoe's de morbidadc. D¡s't1ngu'e cle o “comportamento geral do
autovalor” da “v¡v'ênc1a' atual do autovalor”. Ambos reciprocamentc
se dctemnn'am, na mcdida cm que a vivência dc autovalor do
passado marca o modo dc ser dcssa mesma vivência na atualidade,
ou cm que a expcriência arual forte mt1'ucnc1a' a cxpen'ênc13' geral
futura. A cxpcñência de autovalor seria cntcndida como reativa,
conseqüência de aoonteam'entos pregressos, cuja cñcácia, por sua
vez, cstañaadepcndcr da 1m'prcssionab1h"dadenormal do m'divíduo.
Poden'a csta cm partc ser dcn'vada de mfl°uências hcreditárias ou
predls'posiçoes' 0rgan1"cas. O fenômcno básico assnm' sc enuncíañaz
onde reina o vazio de autovalor devcrá surgir “procura dc
autovalor”.
No mcsmo ano e scm dlscr'cpar do entendm'ento de Storch,
E. Kretschmer, no hvr'o “O dclírio do rclacionamcnto scnsitivo”
(Der sensitive Beziehungrwahn) (1918), tcnla rclacionar doenças de
delírío com conflitos de aulovalor. Situa a estes como causa pnn'-
cipal do delírio e dá uma cxplicação psicológíca para o seu desen-
volv1m'cnto. A experíência dc um ms'uportável rcvés lcvaria a uma
ncurose caractenza'da por uma sensibmdadc pcssoal cxacerbada,
transformandosc subitamcntc cm um dclírio. Scria o delírio dc ñcar
m'justamente cxposto ao menosprezo dos outros, ou vítuna' dc
pcla sensn'b111"dade ante a suposiçâo de “scr lnf'erior” e alvo, por esse
motivo, de reparos num momento de carga cxtrcma sobre o sen-
nm'ento dc d1gm"dadc pessoaL ccdc lugar à op1m"ão dehr'ante de que
“os outros rcparam em m1m' dc forma crcsccnte, porquc me
rejeitam”. Com lsso' o torturante conflito m'tcmo é, por assm' dnzc'r,
exterionza'do c carreado para as outras pessoas. Transformado num
relacíonamento humano negativo, 0 conflito sc torna suportáveL
Ao atríbuírcm à autovalonza'ção um sxgmñ"cado cssenaaL'
Storch c Kretschmer v15'ivclmcnte transpõcm as fronteüas dc uma
1n'vestlg'aça'o procedida à iuz das ciêncías namralsj que perscrutam
a evolução de mccams°mos psíquicos quase objetivos. Ao contrário,
o referencxal' ñlosóñco que Storch busca cm Scheler e Jaspers, c
Krctschmer cm Nietzsche, abre uma ampla área de tensão na
psicopatologia cntre a pcssoa humana c as lcns' da naturcza. Daí em
diante também outros psíqula'tras sc têm ocupado do tcma. Assnm'
¡ 67
¡
1| .
opm'a Schüder (1924): “É questiouávcl sc o scr v¡v'o podcn'a renun-
ciar ao valor própn'o, ao autovalor, c sc autocondcnação não scm'
preasam'ente a exprcssão mms' fortc da prcscrvação da própna'
pcssoa como algo pcrfcito”. De um modo gcral se podcna' sustcntar
“quc faz partc das caractcrísticas fundamcntms' do psiqmsm'o, da
sua essênaa,' manter a fé no valor próprio”. “Com a psicosc, a
auto-cst1ma,' a vivência do autovalor tomam-se possívcxs' somcntc
pelo fato dc o cu-idcal se mod16°cax, ao passo que, nos casos dc
neurosc, a pcrsonalidadc mantém o seu autovalor através da
desñguração da reah°dadc. Toda ncurose e toda psicosc têm mí'cio,
portanto, num abalo da vivência do autovalor, nada mals' reprc-
sentando do que uma recupcração do autovalor...”
Kretschmer e Storch cxprcssamcntc se reportam, cm sua
axgumentação, à psícologh ln'd¡vidual de Alfred Adlcr, que foi c é
o prm'cípal reprcscntante da doutnn'a do autovalor no mowme'nto
psicoterápico. Os ps¡'cotcrapeutas, dc resto, não podenam' perder
de v15'ta o aspecto de valor. Na psicanáhsc' as valoraçocs' desde o
mí'cio descmpcnham relcvantc papel (culpa, perda de prcstígiq
mf'erion'dade facc ao pai), mas lão-só no scnüdo ncgalivo, na
medida cm que o homem, como scr govemado por 1m'pulsos, fracas-
sa na valoração. Esta aparccc apcnas como função psíquica dcpen-
dcntc de 1m'pulsos, de tal sorte que a patte referentc aos 1m'pulsos é
avaliada positívamente e a que gera angústia negativamente.
Também a nova “teon'a do narms'ls'mo” não traz altcraçoes' relevan-
tcs a essa conccpção. O sujcito dc valoração pcrmanccc fora do
s¡s'tema, assm' que também a pcrgunta sobrc o scntido não podc scr
formulada. C.G. Jung é dc opuu"a'o d1f'crcnte. Scmprc considcrou o
autovalor altamcntc sngmñ"cativo e postulou como valor~meta dc sua
psicotcrapia a m'tegxação e cqmlíb'rio das forças psíquicas, base de
rclaçoc's humanas produu'vas. Fmalmcntc, para Adlcr (1933) o valor
central c o objetivo da pedagogia e da psicoterapia era a ms'erção
plena e út11' na comum'dade. Com lsso' tomava-se tarefa da psícologna'
m'divídual, não somentc esüm'ular uma dls'posição de bcm-querer
face ao outro, mas também cncorajar a co-reah22|'ção comum'tána'
críativa cm lodos os setorcs da vida. Em consonan^c1a' cOm lsso', E.
Krcstchmcr (1949) víu como mcta da psicotcrapia fazcr com que o
doente dcscubra vivências c áreas dc atividade, ponanto, valorcs cm
que o seu sentnn'ento dc autovalor sc possa apoiar. Rcconheceu,
outross¡m,' que os va10rcs não constituem apenas aspcctos m'tcrcs-
santes e não desprczívek da vida humana, mas, ao mcsmo tempo,
rcpresentam abordagens tcrapêutícas de notávcl eñciên0m.' A
questão quc, ao lado da psicanálls'c, desdc o mí'cio sc propunha, cra
estaz até que ponto o eu é pnsx"oncnr'o dos 1m'pulsos vitaxs' ou até que
ponto consegue ordcná-los e dommá'-los. Scrá suñcíente dcshg'ar os
m1'pulsos vitals' de fins enganosos, libcrtá-los, ou não dcvena' o
sujeito também julgar e valonzar' ta15' un'pulsos, esforçando~se para
m'troduzi-los em vivêncías c ações plenas de scntido?... Em caso de
assentmcnto a esta úlum'a proposição, altcra-se fundamentalmente
o cslüo dc relacionamento com o clicnte, porquanto a conversa
cndereçada para o futuro, o consclho, a amm°ação, a tentativa
prática lerão obtido relevante sngmñ"cado. Destc modo os atos
dependentes do eu encontraram o seu lugar no dcscnvolwm'ento da
personah'dadc.
Que aquí se opcrouum afastamento dapsicanáhs°c vemos com
maior nitidez à luz da psicologia m'dividual, que - partm'do do
doente c, p015,' do pólo negativo -, exammava em pnm'c¡r'o lugar o
surgun'cnto e os efeitos da vivência de mf'erioridadc como man1f'05›
taçocs' psíquícas. Evidenciou-sc, contudo, com crcscente m'ten-
sidadc, que ojogo mutável e complicado de valonza'çocs' e atitudcs
facc à vida delc rcsultantcs não eram cxph'cávc15' e comprcensívens°
como expressão de rcgularidadc psíquica automática. Prcssupunha
o m'divíduo, entcndido como sujcito. Isto é válido para as
dcsvalonza°çoc's e supcrvalonza'çocs' ñctícias, e também para as
aütudes de submssa"o com clas relacionadas, ou das asplr'açocs' de
prestígio c de poder. O sujeito responde a carências c rcprcssocs~
não apcnas passivamentc ou com rcgularídade mecan^ica, mas
também 1m'prov1$'ando criativamentc e buscando valores, scjam
cstes legíum'os ou não.
Sob cste aspecto dcvc, como cernc do dcsenvolwm'cnto
humano, apareccr apessoa, pcla qual o sujeito perccbe a si mesmo,
seus valorcs e sua tarefa. Nesta lmh'a dc pensam'cnto salicnta A.
kronfeld (1930) que os m1'pulsos humanos não dcvem ser con-
tcmplados tso'ladamcntc, como forças cegas, Inas como “Im'pulsos c
atos 1m'pulsivos que são man1f'cstaçõcs da pcssoa, mov1m'entos
gerados por sua idcntidade e pecuh'an'dade”. Possuem uma d1r'eça'o,
dcterm1n°ada pcla smgtdan"dadc 1rr'epctívcl do m'divíduo. Sob cste
aspccto, Kronfeld, de comum acordo com Jaspcrs - sem, todavm,'
mencioná~lo - vê-se obng'ado a accítar “1m'pulsos vitals'” e “psíco-
cspm"tua¡s'”, ou scja, 1m'pulsos “pessoms'”. Estes últ1m'os movem a
“efetivação du"eta de sentxm'entos, atítudes e consciência de valor”
e m'dependem do suporte biofísico. Ahm'cntam o “mov1m'ento do
próprio eu, rumo a um suposto autovalor ou cntrega a este”, como
acontece cm “estados de cmoção, abalo, saudade, amor”, etc.
“Também tende“ncm' para o podcr, vontadc de prestígio, ncccssi-
dade para o sacnff'cio, amor-próprio, renúncia”, fazcm parte da
mesma realidadc, na mcdida cm quc ultrapassam a 1m'pulsividadc
vital e sc tornam exprcssão da pcssoa. No mcsmo scntído, Kronfeld
pode añnnar que o parccüo erótico, conquanto “scja expenm'en-
tado como um meio para a saüs'fação do ¡m'pulso", por outro lado,
contudo, o será como “um valor ou desvalor em sí mesmo, que... por
cssa sua sigmñ'cação própn'a... é dcsejado”. Tal cxpcríência dc valor
do outro mfl'uencia fortemente a experiência dc valor do própño cu,
também esta em scntido positivo ou negativo. A expcñência erótica
do valor “...podc deshg'ar-se completamente da ñnalidade scxuaL
podendo fundar-sc em outras csfcras de valor da vida psíquica c
cspm"tual: é, cntão, o ponto dc partida dos fcnômcnos do amor”.
R. Allers (1924) e J. Neumann (1938) empenharam-se cm
rcssaltar o aspecto pessoal do homem a part1r' da pcrspectiva
psiquiátrica e ñlosóñco-psicológica.
A par da psicología m'dividual, a psíquiatria antropológica (v.
GebsatteL 1936) e a correntc da anáhsc' ens'tcncial (L. Bms'wangcr,
1924) cstão muito m'tcrcssados no tema dc valorcs. E. Krctschmcr,
por sua vcz, entende quc os “acordcs fundamentaà ma15' m1'portan-
tcs” na “claboração de vivéncias” patológicas são os problcmas de
scxo e snm'pat1a'". bcm como os “problemas dc autovalor” (1949).
A doutnna' do valor rcccbeu substancial rcforço através do
“personahs'mo” do ñlósofo c psicólogo W. Stcrn, o qual se rclacio-
nava também com A. Adlcr. Ambos estcs pcsqms'adorcs conñr-
mavam reciprocamcntc as conclusõcs a que havíam chegado
m'dependcntemente. Stem cntcnde por pcssoa uma “um'dade real,
smgul'ar e dc valor próprío”, que “reahza' uma atividade autônoma
umf°ormc e d1r'ecionada a um objetivo.” Não é oser que basicamcnte
a prcocupa, ¡s'to é, a sua constituição física e psíquica, e s¡m' o fato
dc tcr valor. 0 fenômcno humano pnm'ordial scriaz “Eu valonzo',
portanto, eu sou”. Ser c valonzar' são uma só rcalidade. Contudo, o
valonzar' é ms'cparável do autovalor. A crcnça do homem emvalores
é sm1'ultaneamente uma fé no autovalor. Não é a forma ética do
comportamcnto valorativo quc confere dngm°'dade à pessoa, mas a
s¡m'plcs capacidade dc valorar. Nclc se aloja o eu como “ccntro de
valor dc um universo de valores”.
Como vemos, particularmcntc nos anos vm'tc, alcntada cor-
rentc de pensadorcs preocupados com a vida espm'°tual em nível
alto, passou a reñeür' sobre o homem como sujeito de valor. Dela
também procedcm o pcnsamento e os objetivos de V. Frankl. Na
sua época, marcada pcla psicologia m'dividuual, o problcma de
valorcs se lhe tornara fam1h"ar. Passou a tratá-|o, após a úlnm'a
69
 guerra, mans' exaustivamente c sob 0 enfoque ex15'tencial-analíúoo
posiu'vo. Valorcs para clc são “universaxs'”, cuja validade não se
cu'cunscrevc a situação delcrmma'da, mas dc um modo geral se
encontram 1n't1m'amcnte vm'culados à própria constinúção humana.
“E›us'tem trés catcgonas' dc valorcs..., valores cn'ativos, valores
vivencíak e valores alitudm°ans'". A cstcs úlum'os dlze'm rcspeito ñns
étícos, que, todavia, ultrapassam a “ética do sucesso”, (1979) como,
por cxemplo, a aceitação do sofnm'enlo que nos sobrevém ou que
assum1m'os voluntan'amcnlc. Os valorcs at1'tud1nals," para a maíona'
dos homcns, constítucm a posição maxs' alta na hierarquia de valorcs.
A logolerapü persegue, segundo FrankL duas mctas m't1mam'cnle
hg'adas: ela dcverá, de uma vez “ampliar o campo v¡s'ual de valorcs
do paciente”, dc modo que “pcrceba cle todo o espectro devalores”
(1959). Isto se faz nccessán'o, uma vez que o homcm em conflito
tendc a superestnhax um valor c se torna “ccgo para os dcmans'
valores”. Alargando o honzo'nte de valorcs, toma-se apto para opor
entrc si e comparar os valores por ele tidos como 1m'portantes, com
vns'tas a uma cscolha. Certamcntc d1f'crcntcs valorcs não sc compor-
tam como seria dc dcscjar, entrando, às vczes, cm concorrêncxa'
entre si. Ao que parece, propendem paxa o conñito. Frankl entcnde
que a demsa"o cntre dons' objetivos reciprocamente contraditóríos
podcrá scr facxh"tada pelo reconhcctm'ento da “d1f'crença de al-
titude” (1979), Is'to é, dad1f'erença dos rcspectivos valores. Com Isso'
dcsponta no honzo'ntc a segunda tarefa da logotcrap1a,' que cons¡s'te
em possibmtar ao pacientc a elevação de seus valorcs. É que, ao
promover-se a elevação do valor, ascende s1m'ultaneamentc a “dlg'-
nidade” da “pcssoa” (loc. cit.). Frankl toca aqui na questão das
relaçoes' cntre cxtensão e altura dc nossos valorcs, de que se têm
ocupado as grandes religioe's c ñlosoñas morais. Sobre Is'so,
humanamente falando, m'e›ns'te resposta de consenso universaL
C.G. Jung, no am^bito do pcnsamento psiquiátrico-psicoterápico,
formulou o problcma de forma a mans' acurada, quando mostrou o
m'transponívcl contrastc entxe m'tegn'dadc c perfcição da vida com
basc em desenvolvmcntos psíquicos. Rclativamente ao objctivo da
m'tegndade', Gocthe entcnde encontrar-se 0 valor máJnm'o na pcr-
sonaüdade desenvolvida Segundo a concepção judaico~cns'tã do
idcal de pelfeição, a vida se rcahza,' antes de ma¡s' nada, pelo
sacnfí'cio dos valorcs dem'vc^nc1'a c dc criaüvidade c pcla accitação
do sofnm'ento. O reconhccnm'ento dessas d1m'ensocs' da vida, 1n'tcr-
seccionadas em forma de cruz, 1m'plica adm1't1r' que o homem em
luta sempre sofrerá carência na sua m'tegn'dade c fracasso no que
couccmc à perfeição.
70
Mas reportemo-nos à qucstão do sena'do. Estcve elc prcscnte,
dc forma contínua, cm nossa tcse, scgundo a qual o sentido m'crc
aos valorcs. Contudo, devcremos procurar detcrmm'á-lo, uma vez
que, de outro modo, a palavra seria supérflua, não passando de mcro
cnfeitc dc aspecto do valor. Scnüdo nós cncontramos ao m'dagarmos
para que algo servc, para o que algo é bom. Sentido da vida se nos
depara no entend1m'cnto dc que um valor, reconhecido como tal,
nos afcta c ms'ta ao dcscmpcnho dc uma tarcfa. 0 valor sc toma,
po¡s,' sentido através do entend1m'cnto, não assumido coativamente
ou obscuramentc adivmh'ado. Como se vê, a ñlosoña do sentido cstá
cstreitamcntc vm'culada à idéh dc valor. Assxm' como o vcrdadeüo
autovalor c o verdadcüo scr-homcm rcciprocamcnte sc convêm, “a
ñlosoña do valor... nesse exato ponto de uma"o mctaffsico se torna
uma ñlosoña do scntido de ser”, proclama W. Stcm. “Pela fé no
valor o eu... xn'dica a ele próprio um sentído dcntro dc um cosmos
plcno de senu'do”.
No am^bito dapsicoterapta' há duas corrcntcs rclacionadas com
a matéria. Para uma dclas o sentido sc encontra no ag¡r', efetivando-
sc no rclacíonamento produtivo com os outros, dentro da comum'-
dade. Estc entendcr é pcrñlhado por A. Adlcr c F. Kunk"el (1939),
os quals' vee^m no scnüm'ento comum'tán'o, na vida com énfasc na
pnm'eu"a pessoa do pluraL o objetivo de sentido do tratamento.
Consoantc Adlcr, “o sentido da vida é dcsempenho em prol dc
outros” (1931); o homem dcverá “trazer dentro de si mesmo o
objet1v'o da comunidade ideal” (1935). V. Frankl parcce lcvar adi-
ante cssa hnha' dc reflcxão, em cspccial objetivando fundamentar a
busca dc sentido na “educação para a rcsponsabxll"dade”. Con-
trapondo-se a Isso', C.G. Jung, cm memorável conferência 1928
(1929) fala no “homem da segunda mctade da vida, que já não
necessita cducar sua vontade consciente. Muito mms' do que Isso',
para cntender o sentido de sua vida m'dividual, prcmsa' cle da
expcriência da sua própna' cssência. A uuh"dade socnal' para ele já
não constitui um ñm, embora não negue ser a mcsma dcscjáveL
Expenm'cnta sua atividade criativa, cuja m'ut1h"dadc socíal lhe é
perfeitamente clara, como trabalho e benefício pata sl mesmo...
lucra com ns'to scgurança m'tcn'or e nova conñança em si própn'o”.
Isso redundaria cm proveito das tarcfas relacionadas aos outros.
Ora, ambas as mctadcs da vida não sc dls'tmgu'cm tão radicalmcnte
quanto a ng°orosa formulação de Jung podcria fazcr supor. É uma
qucstão de acentos, que acompanham toda a vida em relacio-
namcnto mútuo d1f'crenciado. Ccrtamcnte não pode o sentido da
vida csgotar-se em utilidade técnica ou comunitána' externa.
71
ñ ññ1I

KRETSCHMEK E.: Medmms"'che Psychologie 1922f75 Stuttgan.

Pc rwba
a Sua própna
. . n 3 0u, em
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O homcm
Prcssupoe que Símbolo de Sl mesmo
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KRONFELD, A.: Psychotherapie 2. Aufl. Berlin 19?5. Die
0 mundo
ampl0,
S Cnúdo malk
' nas oomo rclação funcionaL Wcltanschaulíchc Bedeutung der Ind|'vidualpsychologic. In-
dc Jung_ aparentemente
dc scntído de Adlcr e a tem. Zsch. Indiv. PsychoL 4. Jg. (1926) 1. Pcrspcktíven dcr
e nao Aaopeñentação se_excluem. Efet¡v_amente se feicom-
se contradmrn e reciprocamcnte e .to, Scclenhcúkun'dc, Lcipzng' 1930.
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lcmcntam como un'periosa a nquçza s¡gm_ñcat1va NEUMANN, J.: Leben ohnc Angst. Stuttgarg 1938.
seria amor, scm
cpomunl'dadc, o que
das relaçocs' human_as, e o que senamalp cresc1mento STERN, W.: Wertphüosophie. Leipmg' 1924.
m'exaurível pcrmnhancntc
da essê_n.c¡a, scm o rcfer_en
m'teríor, a comprecnsão dcsemupc daam
Aduetnyas de scntldo STORCH, A.: Zur Psychologie und Pathologic des
dos outros? Ambas as hnh'as quc _a anáhse
práms' tera_pcutlca, sempre Sclbstwerterlebcng Arch. ges. Psychol. 37 (1918) 113.
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maxs promete. Sem_dúv1_da, as pe_r5-
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Preferc-sc aprcnder técnicas
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aprcscntam como neutras. É
nmportantes tarefas _futuras aos
prazo e destartc podenam' caber
na revclaçao do valor
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JUNG, C.: Ziele der Psychotherapie, Berlm,' 4. Allg. Kongrcs
Psychother. 1929, Lcipzig 1929.

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íWALTERBÓCKMANN

Sentzd°o na economta' e na sociedade

Frankl añrma que cada época tem suas neuroses cspecíñcas

e em razão dlsso' também suas terapias espccíñcas. Tal asscrtiva é
válida sobrctudo no que rcspcita àquclas qucslões socials' 1m"tantes
cujas rcspostas dcverão scr encontradas na árca política.
Para osevcnlos atnb'ufdos aodcstm'o, quc, não raro c dc forma
brusca, m'tcrfcrem na vida humana, c para a dependéncia dc
cvcntuahda'des relacionadas com o scu nascun'cnto, seja sob o as~
pccto bíológico, seja sob o aspccto sociaL' as diversas 6pocas têm
procurado possibmdadcsd1f'crentes de supcração. Tal m'tcnto se faz
presentc dcsde a postulação de um destm'o classns'ta m'arrcdávcl, que
nas épocas feudal e Pré-capitahs'ta era considcrado como óbvio, até
as tentaüvas mamstas dc transmutação da miséria da classe
opctária na vutu'de de uma ditadura do prolctan'ado, com v15'tas a
se nivelarem ta15' fatalidades com a ñcção de uma sociedade sem
classes.
A sociedade tem sido c vcm seudo considcrada clemento
gerador e, simultaneamcnte, obrigada à reparação de danos
emcrgcntcs. Com Isso' o m'd.ivíduo é duplamcnte transformado cm
objctoz pr¡m'cu"o, como objcto do destm'o da sociedade c dcpoxs'
como objcto do proccsso social dc cura dos malcs em mcnção. A
ísto corresponde também o princípio da oniprcsente tutela,
substituíção e rcprescntação do indivíduo através de novas
1ns'tâncias, grupos, partidos, associaçõcs e, não cm últIm'o lugar, por
tcrapcutas.
A psicanálísc, em tempo, dcu seu contributo ao
aprofundamcnto da qucstão rclacionada com o homcm-objcto. A

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 _
par de se ver cxposto à pressão do seu dcstm'o sociaL am'da o afctava
a fatalidade dos seus ¡m'pulsos, da qual - se é que efetivamente lsso'
ocorrc - só a pcrsonalidadc libertadora do terapeuta o podcna'
resgatar.
Talvez a escolha entre Frcud c Frankl tenha sempre 1m'plicado
uma cspécic de opção pelo partido dos m'dependentes, de um lado,
c pelo partido dos dcpcndcnteg de outro lado. Uns m'dagam das
causas' (estranhas) do dcstm'o c do comportamcnto, ao passo quc
outros são precipuamentc m'teressados no sentido do destm'o e do
comportamento. Para os pnm'e1r'os, não poderíamos ser chamados
realmcnte à rcsponsablln"dade. Para os últ1m'os, a decxsa"o compete a
nós mesmos.
Na psiooterapna,' como na medicm'a, não ems'te panacéla'. No
que conccrnc à logotcrapia, as deñciências não deflucm das
concepçocs' logoterápicas. São antes dcvidas à care^nc1a' dc aptidão
do próprío paciente. Qualquer médico sabc quc nem todo meío dc
cura comprovado aprcscnta os rcsultados costumeiros
rclativamentc a cada pac1'cnte. Sobrctudo no quc tange à auto-
responsabnh"dade, que a oricntação logotcrápica poe' cm realcc,
tcnho sénas' dúvidas sc a maioria dos consulcntes sequer possui
condiçocs' para, a partk da estrutura de sua personalidade, lidar
adcquadamcnte com aqucla libcrdadc quc a logotcraph considera
relevante. O entend1m°ento dc ser “livrc” no sentido logotcrápico já
anngl"u a muitos como golpc de clava. E a causa de tanto tratamento
oontmuado por anos a ño (não logotcrápico) podc ser atríbufda a
esse descjo, aberto ou latente, dc servidão, de segurança na
dependêncía, eventualmente de um tcrapeuta.
Dc resto, ls'to é válido não apcnas para casos clfnicos con-
siderados como tals'. Vale, m'clusw'e, para partidos políticos, que não
raro pareccm dccididamcnte lcmcr o podcr e a responsablll"dade
pclas 1m"cxa'tivas a tomar c, cm v1rtu'dc dc suas hm1"taçoc's, se scntem
muito mms' scguros em m1h"tarem na oposição. E podem também
elcs ser freqüentementc encontrados cm aparente segurançajunto
a algum “terapcuta” ideo'lógico.
A reahza'ção destacada de Frankl consxs'tc precns'amentc no
fato de ele ter rcsgatado o conccito de “sentido”, até então mals' ou
menos nebuloso. Libertando-o das névoas dc espcculações
ñlosóñcag demonstrou quc a busca e o encontro de sentido pode c
deve ser traduzido em perguntas e respostas concrctas, cm con-
ceüos vitals' e em açocs'.
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Comprcendo ohomem cm sua d1m'ensão propnam'ente huma-
na - ls'to é, como alguém à procura de sentido -, FrankL ao mesmo
tcmpo, o situa aama' e além da csfcra vital meramente mecam^'co-
¡m'pulsiva e o declara livre para uma ação dc rcsponsabmdade
própria c de uma rcsponsabmdadc comum'tána'.
Se partnn'os, no entanto, da busca de sentido como moüvação
prun'ána' na cxxs°tência humana, m'egavelmcntc deparamos com uma
ídéia que fundamenta a vida humana como ncnhuma outra. É o
trabalho como fenômcno críativo c sociaL Os pedagogos Ballauf e
Schaller 0 cxpressaram nesta proposiçãoz “No trabalho dccide-se a
felicidade c o Eracasso do homem. No trabalho pode o homcm
reahzaI'-se produtl'vamentc, assnm' como podc falhar" (Pada"gogik,
Bd. III, S. 593 - K1r'sch).
Quando trabalhamos cxclusivamcnle para sobreviver, com-
portamo-nos pura e sxm°plesmente com certos ms'ctos quc, em scn-
tido marx1s'ta rigoroso, vívem o trabalho associado, “portanto
comum'tán'o”, scm produzücm mans'-valia. Todos cles sc comportam
em função exata dc tarcfas predctcrmma'das a partü dos d1f'erentcs
ovos de que saíram: obrelr'os, mngõcs, ra1nh'a, guerrcu'os. O traba-
lho e a diws'ão dc trabalho amm'al, desdc m11h'õcs de anos, conscrvam
m'alteravclmente as mesmas aparências.
Mas o homem, com todas as aptidõcs de quc é dotado,
ultrapassa de Ionge as s¡m'ples demandas de sobrevivência. Na
evolução do ser vegetativo para o cultivadOr e, com zs'so, para um ser
cultura1, encontra-se o sentido existencial da essência do ser humana
Cultura é expressao' concreta de sentido do homem.
Conhecemos a1n'da hoje os nomes da antiguidade hg'ados a
grandcs pensamcntos c invençõcsz Pitágoras, Arquimedcs,
Praxítelcs, Sócratcs, Ésqu11'o, Safo, Píndaro, para mencionannos
apcnas uns poucos. Ncnhum dclcs trouxe alguma contribuição
dígna dc nota à mera sobrevivência física dos scus contemporan“eos.
Mlútas das técnicas hojc ncccssán'as c cm uso já foram, em
seu prm'cípio, dclm'eadas por clcs há doxs' mü c mals' anos (como,
por cxemplo, o pnn'cípio da máqum'a a vapor). Foram elaborados
não porque uma situação de cxtrcma penúria os forçasse a fazê-lo,
mas exatamente pelo motivo dc quc uma vida e uma pcsqms'a livrcs
de dcmandas exus'tenciaxs' pr1m'án'as desañava a csscs homens c lhcs
dava asas para alçarem o vôo às culm1n'an^cias do cspírito.
Não é só a nus'éria quc torna o homcm m'vcntivo. Também o
lazer, e geralmente com vantagem sobre a rms'érla.'
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 Também na amalidadc o m'vcntor c o dcscobñdor se situam
acuna' do aplicador... c bcm na cxtremidade da ñla se agrupam os
que apertam os botocs' m'vcntados e construídos por outros.
O scntido não rcsidc no apcrtar botoes', mas no constnur°
botocs,' m'clusivc aquclcs quc jamaJs' dcveriam ser premidos. Cons-
trmr', cdlñ'car, encontrar e m'ventar, descobnr'... ls'to é scntido. E o
quc é a cultura scnão constrmr°, cd1ñ'car, com os 1ns°lrumentos da
mão e do cérebro?
Usando uma variante das palavras dc Dur"cr sobrc artc e
natuxcza, podcr-sc-la' dwc'r: o scntido m'ere à cultura e quem con-
scgue arrancá-lo daH o possm'...
Frankl o arrancou, tornando-o - para a vida do m'divíduo
ass¡m' como para a vida das comunidades culmrals' - acessível c
aplicável como dcsvelamcnto dos valores, através de cuja efetivação
se reahza' sentido e se man1f'esta cultura.
Ê por lss'o quc uma das formulaçõcs nucleares de Franld assnm'
sc enuncia: reahza'ção-de-senüdo é efcúvaçã0-dc-valores.
Sem “trabalho” scria Is'so 1m'possível no sentido humanístico
da palavra. Por csta razão é logoteraph o ditoz “Vivemos para
trabalhar”.
Isto posto, o sentido é uma dádiva a prion' e fundamentaL 0
sentido 6 pnm'anam'cnte “motivacional”: a procura de sentido é a
própria motivação pnm'ána'.
O senüdo é constitutw'o - porquanto dom1n'a, ordena, estabi-
hza' a vida de cada um em todas as panes m'tegrantcs - e situacionaL
porque surge cm cada ms'tante parúcular e sc acende cm cada
problcma.
O scntido é m'dividual. Embora cms'tam valorcs gerak de
sentido culturaL se entendermos cultura como expressão-dc-um
sentido, saberemos quc ele vem a scr a cxprcssão mult1f'ormc dc
sentido de d1f'erentcs m'divíduos. É csta a razão por que cm cada
cultura não raro se nos dcparam formas bem cspecíñcas de
reahz'ação de scntido, por indivíduos isolados, conformc as
exigências e características da pcrsonalidade dos respectívos
sujeitos.
1. A aprcscmaçáo das catcgorias dc valoncs logotcrápicos podc scr aqui
dispensada, uma vez que cm outras contribuiçócs dcstc livro estáo elas
suñciememenlc comemadas.
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Rcalm'ção dc scntido signnñ'ca quc o sujeito, por assnm' dlzc'r,
se perca dc v¡s'ta, não concentrando a atcnção sobrc si mcsrno, não
se afanando cm cuidados de autoprescrvação. Supoc' que sc dcdique
aos valorcs dc sua culniua, nos quals,' juntamcnte com outros epara
com outros, sc reahza'.
Sob o aspecto dialético, que caractenza' os m'd1ví'duos e a
sociedadc, m°equivocamentc o núcleo dormn'ante se encontra nas
pessoas que, de modo xm'prcv1$í'vel, conduzem a socicdadc, pclo
poder de sua conscíência, por novos cammh'os. Tal gcralmcnte
succdc quando a realidade social, ao m'vés de ter atmgi'do aparcn-
tementc o patamar mals' clevado, rcgls'tra uma qucda para o mals'
balx'o c dcsfavorách
Se condiçoc's socía15° pervcrtidas - como ser - tivcsscm cu-
gendrado somentc seres humanos pcrversos, jama15' tena' acon-
tecido sequer uma única revolução.
Não é ¡s'to apcnas teoria ou idcahs'mo ñlosóñco, mas consta-
tação fundada na expeñência concrcta. Se ass¡m° não fossc, seria de
perguntar-sc dc quc modo tcriam surgido ao longo da hls'tón'a da
humam'dade os grandes vitoriosos contra o status quo, dcsde Spar-
tacus, o santo csuhs"ta do mamsm'o, até os m'úmeros proletáríos quc
se gum'daram aCIm'a de sua situação de classc, conquanto seja
alcntado 0 número dos rcmancsccntcs nela apnsx"onados. Prolctário
vcm de proles, “cn'a”. Compõcm o proletaríado aquclcs quc, então
como na atualidade, são objeto de m'tercsse do Estado apenas como
rcbanho eleitoral ou “bucha dc canhão”.
Todavia, sempre o homcm (não todos os homens) “cm busca
de scntido” tcm considerado um desaño as repressões e opressocs~
c tem conseguido domm'á-las, colocando«se aCIm'a dclas.
O equívoco dos dctentores do poder é considcrar a recusa de
sujeição como ato subversivo da ordem constituída, reagm'do “aler-
gicamentc” à mesma, com cassetetc, gás lacnm'ogêneo ou mesmo
com tanqucs. Contudo, a consciência do homcm como essência
vocacionada para a reahza'ção dc scntído c pré-ordenada para a
libertação própna' e a auto~responsab1h"dade, sempre tem logxado
alterar o sercassm'. Alguns manns'tas csqucccm que 0 próprio Marx
assnm' pcnsava, como se vê da Terceüa Tese para Feuerbachz “A
doutnn'a matcn'ahs'ta de que os homcns scjam produlo das c1r'cuns-
tan^cias c da educação, de que homcns d1f'ercntes sejam, portanto,
produto de cu'cunstan^c1'as c educação divcrsas, olvida que são
precisamentc os homens que modlñ'cam as cnr'cunstan'cias... A
com'cidência da modmcação das cu'cunstan'cias com a atividadc
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humana só pode scr percebida c raci0nalmcntc m°tcrpretada como
práxxs' rcvolucionária” (Vol. 3, Bcrhm,' 1957, p. 533 c 534).
Ahás,° considcrar o homem como um scr que sc movc com
liberdadc frente aos condicionamentos do seu ser-aí é o critério
dcasn"vo da logotcrapia e da psicología humams°ta. Aqui sc situa
lambém o pnn'cípio deasx"vo dc orientação social da logoterapla'.
Em lugar da pcrgunta costumelr'a, pnm'ordial àutilidade, cui bono?
- a qucm scrvc? - dcveria ser posta a pergunta teón'oo-logoterápica
dc scnlidoz qual o sentido quc o fundamenta?
Isso permitüia um planejamento, uma providência do
m'divíduo para a rcahza'ção dc valores criativos ou produtivos, para
a efctivação de valores de vivência socnaL' de vivência de amor,
dedicação, camaradagcm, soh'dan'edade, ou para a cfctivação dc
valorcs ideais, scjam clcs dc natmeza rchg1"osa, ideológica ou
cstética.
A indagação do sentido refere-se à realidade mais profimda do
quc a quc dlz' rcspeito à ñnaüdade posta cm pn'mc1r'o plano.
Desoculta raízcs “m0tivacionals'”. Quand0, por exemplo, alguém se
forma em cngcnhan'a, após anos de estudo, mas só conscgue
emprego como operárío espccmhza"do, embora descmpenhe ativi-
dade úul' para a sobrevivência própria, não exercc atividade de
scntido plcno, capaz de dar completeza à sua vida.
Os critéños ac1m'a refcñdos relativamcntc à pergunta sobre
“o que vem a scr sentido” mostram~nos claramente ser 1m'possível
dar uma úm'ca rcsposta váüda para todos os homens. O sentido é,
como já sc obscrvou, algo m'dividual, situacíonaL O paradigma e a
avalhção do sentido, oonformc o respectivo sujcito, rcvesur'-sc-á de
formas d1f'erentcs.
Com 15°to já ñca respondida por si mesma a pcrgunta rccentc-
mente divulgada pela qual um líder oposicíoms'ta questionava o
Chanceler da República Fedcral da Alemanha no sentido dc quc a
admxms"tração do pals' devcna' assumu' também o govcrno cspm"tual
da nação. O Chanceler em exercício se considerava, conforme suas
própnas' palavras, sobretudo o “f¡mcionán'o d1ng"entc” do Estado,
abstcndo-sc dc cmitü quakquer dlrctnzc's normativas.
Segundo entendimcnto atual de lidcrança e Estado, tal
posicionar-se sería o correto. E dessa ñlosoña de poder dá tcstemu-
nho, não apenas a condução polítx'c<›adm1ms"traüva dos Estados
Unidos da Amén'ca, onde sc passou da conccpção dc govemment
para a concepção dc administration, mas, a1n'da, a dos seus ñéls'
rcpctidores da Repúblíca Federal da Alemanha. Já proclamam eles
ío conceito dc admm'1s'tran'0n. Por ccrto scna' mms' oportuno cxa'
mmar' se com ls'to não sc cstará 1m'pnm1n"do, aos cidadãos aparen-
tementc soberanos da dcmocracia, ou à abstração “povo”,
dcñnitivamente o sm'ete dc objeto admmls"trado.
O quc aquelc lídcr da oposição qms' sugenr' ccrtamcnte sena,'
em pn'ncplio, a posição mans' correta, cmbora scja quesúonável se
com Iss'o um dlng"ente departido políticocsteja segum°do atendêncía
ccrta.
Consoante o que o Profcssor Hans Sachsc, ñlósofo das
ciências naturals', já demonslrara, há mans' de dez anos, num arug'o
muito respeitado, as normas de um s¡s'tema podem ser estabclccidas
somentc a partü de uma posição locahza'da fora dessc s¡s'tcma. Isto
não é um princípio apenas aplicável aos sistemas técnico-
cn°bcrnéücos, mas também a sxs'temas sociazs', que - conforme conhc-
cun°entos mals' rcccntcs da bíologia e da bio-sociologia -, também sc
proccssam de acordo com a cibcrnética. Cabe lembrar aqui os
trabalhos de Frederic Vester e outros.
Para que as altas cheñas de um reglm'e dcmocrático não sc
dcgradcm cm ms'trumentos dc “doutnn'ação” é mls'ter que, numa
sociedade plurahs'ta, as lideranças políü'co-adm1ms"traüvas sejam
também plurahs'tas.
Consoante a teoña logotcrápica dc scntido, Iss'o podcría ser
expresso da segmn'tc formaz não dcverão elas tcr a prctcnsão de
fornecer sentido, mas oferecer uma multiplicidade de propostas
sensatas e desaños, objetivando, de forma múltipla, reahzar' sentido
e cfetivar valores.
A realidadc antropológica de o homem conñgurar um ser
social obsta a quc as árvores do m'dividuahs'mo cresçam até 0
ñrmamento do caos soc1'aJ. Análiscs dc pesquisas modernas,
notadamente as que têm por objeto a satls'fação gerada pclo traba-
lho m'dustrial, sempre de novo denxam' claro que a camaradagem e
a solidaricdadc constituem os marcos dec¡s'ivos da satls'fação gerada
pclo trabalho, sobrctudo ali ondc a cñatividadc c a produtividade
há muito tCnham entrado em declínio.
Em termos logoterápicosz quando a cfetivação de valorcs
criativos c produtivos, para uma maioria, há muito tempo já entrou
nas “engrcnagcns” da automação c, mais rccentemcnte, dos
microprocessadorcs, aefetivação de valores de vivênciasocial torna-
se pnm'ordial, chcgando a ocupar a mms' elevada posição.
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 Dlss'o nr°am provcito m'stituições sociais que, através da
dclegaçâo dc competênc1a' dccisón'a, aparcntcmentc m'cvitávcl
numa socicdadc dc massa, tcnham se transformado em fatores dc
tutcla. Embora suas atividadcs há muito lcmpo já não alcancem a
sua fnalidade precípua, - por exemplo, acumular rcnd1m'entos
coleüvos (os favorccidos pclos tributos añnal já sabem dc antcmão
qual o máxnn'o a ser apurado) -, contudo, um sentido secundário sc
pcrfaz cm dcmonstraçoes' e dcclaraçoc's cmocionak e acaloradas
de ambas as partes do asslm' chamado conchavo tanf'ário, valores de
vw'êncía social são reahza'dos, como, por cxcmplo, solidaricdade
como trcmam'ento pcssoaL Também ls'to pode encher cofres com
recursos oriundos de conm'buiçoe's c saciar funcionários. Como se
vê, cns'tcm consas' que têm scntido, mas são destituídas de finalidadc
jusuñ'cách
Também na alIVI"dade política é m'dividual a rcalmção de
sentido.
A cfctivação de detcrmm'ados valorcs como rcahza'ção dc
scntido não podc ser 1m'posta cocrcitivamcntc aos membros dc uma
socicdade, sequer através de deas'ocs' da maiona'. Rcsoluçoes'
majoritáxias constitucm soluçoes' frcqüentementc sm'phs'tas. Raras
vezes rcsolvem problemas propríamentc dítos, scrv1n°do apenas
para clanñ'car as relaçocs' de podcr.
A problcmática do sentido é mans° d1f'ercnciada. Ao lado de
homens quc qucrem viver confortavclmentc, ems'tem aquelcs que
são capazes de renunciar a muitas consas'. Uns estão prontos a
morrer por um idcal. Outros conscguem vivcr, na pior hipótcse,
também em c1r°cunstan^cias nada ídea15'. Terccüos am'da pensam que
somcntc a rcsm'te“nc13' contm'uada dc pcssoas dcscjosas de viver leva
à mudança dc condições ms'uportávels' c não à violência agrcssiva
dos d15'postos a morrcr - e monos, na verdadc, cm sua maiona'.
Em pnn'cípio, os hm1"tcs da rcahza'ção subjctiva de scntido se
enoontram nas ex1g'êncías de sentido de outrem. Perñlhando nma
cxprcssão de Rosa Luxcmburgo sobrc a líberdadc, d1r'cmos quc a
reahza'ção de sentído abarca sempte também 0 sentido do's outros.
Tomemos como exemplo um problema bem s¡m'ples, bastante
polêmico e extremamente atual dc reahza'ção de sentido c scus
hm1"tes, que é o trabalho 11'cgal, livre da tutcla t1'abalh1.<›'ta.2 Nada
cns'tc mals' rico cm scntido do quc o trabalho üegaL Trata-sc dc
trabalho com responsabmdade assumida por quem o executa e
2. No alemão “Schwamrbeit", quc lcmbra o “mercado negm". (N.T.)
chspomahüdadc do mercado no que conccrne a salários, prcços c
conñgurações de trabalho cn'au'vo.
O trabalho üegal libcrta das prcssoc's da rutela burocrátíca c
dc normanza'ções 1m'poslas.
É a resposta dos economicamcnte fracos ao universo da tutela
c da admxms"tração, mas também das pcssoas d1n'am1^'cas, à passívi~
dadc preordenada. Quem se posicionar favoravelmcntc a cidadãos
auto-rcsponsávc1$', às forças dc mercado auto~rccuperávcm', à lm°e
economia de mercado c a todas as dcmals' fórmulas maduras dc
conjuração de cücunstâncias tornadas paulauhamcnte nrr'cparávc1$',
dcvc compreendcr quc não podcrá posicionar-se contrariamentcao
trabalho üegaL
Condcnar o trabalho 11'egal somcnle porque ameaça transtor-
nar uma ordem econômica até cntão considcrada tabu, ao m'vés dc
ñnalmcnte conseguü orgamza'ção, acordos e rcgras adcquados à
época, sena' correr grave ns'co dc sobrcvivência.
A hnh'a div15'ór1a' entrc trabalho 11'cgal com sentido e o com-
portamento nocivo à socicdade claramentc sc deñnc com uma
m'dagação que dls't1ngu'c com ng'or os conccitos de sentido e de
ñnalidadcsz se o trabalho 11'egal tivcr carátcr dc ajuda - de auto~
ajuda, ou ajuda da vmnh"ança, - ou se rcveste de outra forma de
mútua ajuda humana, possui cle o sentido de atívidadc cr1a'liva c
responsáveL scndo, portanto, m'd15'pcnsável. E se ele não se adequar
ao panorama 1n'crustado em nosso pcnsamcnto burocrático, é estc
que devc mudar, scm pcnahzar'-sc o quc possui sentid0.
Se o trabalho 11'cgal tiver por escopo sonegar tributos,
apodcrar~se dos bencfícios do seguro pago conjunlamcnte com
outros, ou 1udibr1ar' o clicntc com prestação dc quaüdade mf'crior,
o quc deve ser combatido é ¡s'to - a fraude, mas não o trabalho.
Pergunlcmo-nos ainda, para exemplificar, se uma
contríbuição para um partido tem o sentido dc favorcccr determi-
nada idéla' sócio - política, ou seja, em termos logotcrápicos, scrvc
à cfetivação de valores idcaís, ou sc a sua fínalidade como
contribuição gcral a lodos os partidos sc destm'a à aqms'ição política
dc “lcmpofavorável”. Torna-se cvidcntc, à luz destcs exemplos, que
0 sentido representa um critén'o extrcmamcntc variáveL
0 sentido nao~é a c0¡s'a em si mesma, mas 0 seu signfíicad0:por
que sc ganha d1nh'e¡r'o,p0rque se asp1r'a arcconhcmm'ento, sc reahza'
uma obra ou se neccssita de contatos soc1als". Em outras palavras,
que valores com 15'so un'porta efetivan
 De outra parte, a ñnalidade d12' respeito à utilidade. Dmh°e1r'o,
prcstígio, um projcto almejado, o rclacionamento com outros -tudo
Iss'o podc scr acentuadamentc ñnalítico c ao mesmo tcmpo carente
de qualquer sentido. Adqukc sngmñ"cado tão-só através do ncxo
m'dividual c siluacional dado pelo sujcíto.
Ganhar dinhcu'o, ganhar mais dm'hc¡r'o para novamente
am'da mals' d1nh'c¡r'o, seria absolutamente dcstituído de
sentido, em sc lcvando o raciocxn1"o às úIUmas' conscqüências. No
ñnal repenün'amentc se revela - mcrcê da 1hm1"'tação de meios - a
absolula m'ut1h"dadc dcsse dmh'eu'o, exatamcnte tão vazio de valor
como sena' uma vida mñn'dável cm tcrrnos cronológicos.
Dmh'e|r'o c vida têm cm comum o fato de sercm valiosos por
não cxxs't1r'cm desmcdidamcntc. Scu valor decorre dc sua hm1"taça'o.
Com a segurança ocorre algo scmelhantc. Segurança absoluta
podc, cntrc outras consequ"êncnas,' SIgmfi"car ausênc1a' dc estímulo.
Nofuture pode dlzc'r somente aquele que efetivamentc acredita nâo
ter nada relacionado com o sentido a esperar, mas também não ter
nada a temcr, nem mesmo a mls'éria matcñaL A não scr assnm,' tcna'
elc alguma prcocupação a m'tranqu1hzá""-lo.
Não sena' a rcde prcw'denc1án"a dc hoje maxs' dc molde a
sufocar iniciativas do que a proporcionar scgurança? En-
contraremos a resposta m'equívoca a esta pergunta à luz dos as-
pectos teóricos do scntido. Para os idosos, os deb111"tados e os
docntes, a protcção soc1al' dcvcna' ser reforçada na mcsma mcdida
em quc para os sadios e robustos dcvcria scr ccleremente
dcsaüvada. Islo seria válido também para 0 quc dlz' rcspcito à
absoluta scgurança de ccrtos locals' de trabalho.
Ademais, é curioso constatar que nas dects'ões do
Aibeitsamt3 se considcrc bem sucedido 0 proccd1m'ento selctivo
somcnte quando sc tenha logrado transfenr' o respectivo candidato
dc uma atividade dependcntc para a depcndênch dc uma outra
empresa. Seleção para a autonomia sxm'plesmente não sc pro-
porciona. Oom vns'tas à reciclagem para o trabalho autônomo não se
dcstmam' rccursos pecum'ários. Também pudera! Os dmg"entes de
tudo c dc todos, nas repartiçoc'5 públicas e orgamza'çõcs soc1als,"
perderiam a sua clicntela c quem sc cncarrcgana,' um dia, da
reciclagem desses mesmos dwtg"enles?
3. Órgño oñcml' m'tcrmed|á'n°o ao qual se dm"gem mmo aqueles que procuram
cmprcgo. como também ñrmas quc nccessitam dc emprcgados. (N.T.)
O que nós hoje m'vcntamos cm faJsas idéias sobrc descmpenho
é deveras grotesca Ocorre que não somos nenhuma sociedade de
desempcnho, não pagamos salários dc dcscmpcnho, c nunca no
mundo ems'tiu pressão sobre o desempenho.
Desempenho é a ulttapassagem de si mcsmo e não de uma
obng'ação ou dc um concorrcnlc. Dcscmpenho é a luta comra csse
monstro próprio c m'temo quc é a própn'a fraqucza. De quc jeito
podem as normas trabalhns'tas ser chamadas normas dc desexnpc-
nho, sc para todos são lguals", para os fortcs e para os fracos, para
os motivados e para os 1n'ertes?
Dcscmpcnho autêntico não dcpnm'e, mas clcva, m'centiva. A
fad1g'a subseqüentc à cxccução da tarefa saüs'faz profundamentc e
nada tem a ver com a fadlga' que costuma acompanhar o trabalho
pesado, amplamcnte sem sentido.
Refletü sobrc o desempcnho na economia envolve amoldar o
pcnsamento, dn'ecionando-o a uma transfcrência da solução dc
problcmas coletivos e anôn1m'os para problcmas m'dividuals,' com
v¡s'tas à orientação de tamfas dcstma'das a m'divíduos ou pcquenos
grupos. É o que cm parte objetiva também a humamza'ção do
trabalho, quando não se cstagna, a cxcmplo do que geralmente
sucede com mx"cxa'tivas dc mclhoria das condiçocs~ de Lrabalho mera-
mente materiais e ergonômicos. A luta da concorrência até a
ehnnn"ação do advcrsário ou concorrente, por sua vcz, ncccssita dc
unag'cns hosns,' tanto na cconomia quanto na política m1h"tar ou nas
controvérsias entre comunidadcs rehg1"osas. Competição com scn-
tido não somentc toma dxs'pcnsávc¡s' as 1mag'cns hosns', mas as toma
pcng'osas, porquanto lcvam a um eslrcitamcnto da petccpção c a
bloqueíos. Uma sociedadc dctcntora de 1mag'cns hosüs' é uma so-
ciedadc profundamente enferma. Exemplo disso constituem
cmprcendlm'enlos ou partidos quc cobiçam cada vcz maíor partici-
pação no mercado e votos, porquc, apesar de tudo, am'da lhes lateja,
no fundo do cérebro, a possib1h"dade de obtenção de monopóüos.
A “doutrinação” mais inscnsala e mais perigosa é a
manutenção da “situação da propriedadc social”, projeto tão
utópico quanto scna' garantu' sítuações de propricdadc matcnaL'
seja para qucm for.
Em momcnto da ens'tência humana se garantc uma
situação de estabú1"dade. Isto vale relativamcntc à saúdc, à paz ou à
situação do rend1m'ento ñnanccüa Até mcsmo deñnições sagradas
dedoutrma da fé oportunamcme são susccptívcb de apr1m'oramen-
to, mesmo quc tal suceda, como pouco tempo atrás, trezcntos anos
 íwmümírem em partido polítíco, não devcndo, po¡s', usufruk as
depons'. Para tudo é precxs'o lutar, assumxr' ns'cos, calcular lucros c
prcjuízos. E não acontccc apcnas desde os tempos de Max Plank
quc os conhccnm'entos de hojc scrão os erros dc amanhã.
O delírio da propriedade social é um dclírio quc afeta
lideranças políticas Du'eção, também cm orgamza'çõcs g1g'antcscas,
c prcas'amcnte em tals' orgamza'çoe's, não sxgmñ"ca poder pcr-
pctuado c d1r'ecionado a tempos cada vcz mals' próspcros (Impera-
dor Gmlh'crme), mas h°derança no ru1m' e no bom, nos píncaros c,
eventualmentc, no fundo do va1c.
Se considcramos quesüonávek as prov1'dênc¡as' que ws'em a
garantü a situação da propn'cdadc, com mals' forte razão devcmos
prccatar-nos contra o cquívoco de um cresmm'ento 1hmJ"'tado. Isto é
váüdo paxa os rend1m'entos pcssoms° exatamente como o é para a
eoonomia global de um povo.
Inegavelmenlc, a natureza nos forncce a ew'dênc1a' de um
crcsc1m'cnto contínuo. Sc assxm' não fossc, há tempos remotí551m'os
já não ex1$'t1n"a o homem. Aplicado ao m'divíduo, ou a determma'das
épocas c gcraçocs', sngmñ"ca asccnsão e qucda, v¡r'-a-ser e das-
vanccer-se.
Uma vez que sc proclama o d1r'eilo ao trabalho para todos, ao
qual se acrescenta o do justo salário, uma solução espm"tual s¡m'ples
não reside no trabalho dc cada vcz menos pessoas cm troca de cada
vcz maiores somas de dmh'e1r'o, ao passo que o rcsto do povo é
contido mcdmn'tc demonstraçoc's emociona15'_iunto às amuradas da
utopna'. Protcstos, demonstrações e greves são soluções ritualísticas.
Não conñguram soluçoe's rcalísticas. Têm scntido cmocionaL E são
racionalmcntc m'útc¡s'.
_4.< _u.-4_- ._~
Observação mais detalhada revcla-nos surprecndcntc
_
4
númcro dc emprcendimenlos, administrações c inslalaçõcs
públicas, cm quc hoje dccididamcntc domina uma carência
catastróñca de forças de trabalho c em que, sem d1ñ'culdade, pode-
ria ser admilido, no m1mm"o, um acrésc1m'o de 10% da mão-de-obra,
de |m'ed1a'lo. Emglr"-sc-ia, para tanlo, que empregados atua15', em
gcsto de soll'dan'cdadc, desrs'üss'em de 10% de sua remuneração, o
que, como é óbvio, manteria m'alteradas as dcspesas das respectivas
cmprcsas. No entanto, uma concepção “ameslrada” dc propn'e-
dade, enñm, uma menlalidade enregelada, obstacuhzam' muitas
soluçõcs sensatas e csüm°ativas convcm'cntcs.
Um professor de d1r'cito público, em escrito c1'enuñ'co, acaba
de proclamar que os verdes não satbfazem reqms'itos legals' para se
correspondcntes vantagcns ñnancelr'as, porquanto não encontram
guarida nas normas pcrtm'cntcs, cstabclccidas pcla Lci Fundamcn-
tal há décadas, para as agremiaçõcs partidárías, a ñm de que não se
repitam os erros da democracía de Wcmar', num recuo, portanto,
de mans' alguns dccênios. Aqui nos dcparamos com algo parecído
com o propósito dc abnrm'os mão, nos dias de hoje, do uso do
automóch para cvitar a ultrapassagem dos hm1"tes de vclocidade
fixados ao tempo de nossos pais c prcvístos para estradas
construídas por nossos avós.
Não nos pcrguntcmog cntretanto - sob o aspecto do sentido
- como se amoldam os verdcs às normas em v1g'or segundo a
mcntalidade de entã0, mas s1m' que contribuição portadora de
sentido poderiam dar hoje a nossa sociedade c, de outra parte, o
que, nas 1m"ciativas deles, não passaria de atitudcs espalhafatosag
como ñm cm si mesmo, ou descjo dc promoção da própria 1mag°cm.
A partü dlss'o chcgarfamos - rapidamcntc a 1m'portantcs conside-
raçõcs. Eventualmcntc sc constataría até quc deveríamos alterar, o
mals' depressa possích a lci que rcgc os partidos políticos.
Que dc “We¡m'ar” nos protegem mcnos as 1615' do quc as
d1$°posiçõcs mentals' (Gesinnung) - dls'posiçoe's mentak e sentido
possuem o mesmo radical4 - o tem demonstrado o Mm15"tro Presi-
dente da República Democrática Alcmã atualmente no podcr, o
qual lamentou não lhc ser possívcl “quebrax a cara” de scus
adversários, devido ao elevado cargo por elc detido, e que prefenna"
dccidü suas dls'cussõcs, “como anngam'ente, na base de pancadaría
com ripa de telhado”.
Pclo v15'to, nossa comprcensão do'du'eito não chega ao ponto
dc mostrar, dcsde logo, o cartão vcrmclho àquelc senhor, o quc lhe
pcrmiun°'a rcflctü até o ñm do jogo sobre o motivo dc a democracía
de guerra dc salão dc Wcm°ar ter desaparecido, não obstante as
“ripas de telhado”, quiçá por causa delas.
Nosso entend¡m'ento do sentido nos faz comprcendcr o fato,
mas o sentido am'da não se constitui numa cxcelsitudc jurídica
reconhccida.
Uma sociedadc, assm' como um orgams'mo, não é uma uni-
dade, mas certamente é uma totah'dade. Um Estado não é um saco
4. Em alcmão, Gcsnmg (modo dc pcnsar, dlspos'ição mentaD on'g1na'-se dc
Smn' (scntido). (N.T.)
87
 de emlh'as, sendo o Estado o saco c os cidadãos as cmlh'as, toÍs
da mcsma conformação.
Pluralismo significa multiplicídade na totalidadc,
funcionamcnto m'tegrado dc d1f'erentes órgãos com d1f'crentcs ta-
refas c concepço'cs, mas com rcsponsablll"dade comum pclo todo.
Tal sns'tema não suporta, conformc ac1m'a se lembrou, ser
posto sob o conlrole dc uma posição partícipe do mesmo 515'tcma,
por qualquer agremiação partidária ou grupo. Tal só pode ocorrcr
por força de posiçõcs situadas ac¡m'a do rcspcctivo sxs'tema. Poder-
sc-ia acrcscentar que somentc de posiçoes' que jtndwnentam tal
controlc.
Mas, como fundamento dc tudo, subsrs°te o sentido.
A pcrgunta pclo sentido, como critério humanístico dccm'iv0
- numa estlm'ativa austera de sua oportuna comprecnsão cultural e
situacional - pode v1'ab1hzar" valioso contributo para clanñ'car com-
trutivamcnle a nossa situação econômica c sociaL
i centro de sua psicolerapia, quc cle cntcndc como cura médica dc
PAUL HEINRICH BRESSER
Responsabihd°ade e responsabilização -
Sentzd°o da cupla
A qucstão do sentido constitui o tema central da nossa ordem
do d1a'. V1k'tor Emü Frankl colocou a pergunta pclo sentido no
almas. A pergunta pelo scntido 1m'poc'-sc com pnmazm" e em caráter
de premência ali onde o homem podcn'a duvidar do scntido de sua
vida, com eventual ameaça dc dcscspcro. Como médicos nos con-
frontamos com dons° campos da problemáüca da comprecnsão do
sentidoz de um lado, os sofnm'entos físicos ou psíquicos c, de outro
lado, a rcalidade m'cvitável da mortc.
A par das vicnssn"tudes rclacionadas com a docnça c a morte,
outras vicxss'itudcs humanas bem d1f'ercntes afetam nossa vida, a
aflição da consciência c a cxperiência da m'justiça e da culpa. Asslm'
como a certeza da morte se torna a pedra de toque da nossa atitude
face à vida, c, ñnalmente, de nossa comprccnsão da humam'dade em
gcral, o problema da culpa nos coloca frcnte a não poucas
m'tcrrogaçoc's fundamentak de cosmovm'a'o. A possibüdade da
culpa ígualmente dá causa, à sua manelr'a, ao sofnm'ento humano,
podcndo v1r' a ser o ponto de partida de um desenvolvnm'ento que
culmm'ará no dcsespero.
Pcrmitam-me fazer, prehmm"armentc, algumas consíderaçõcs
em tomo do sentido da morte. A mortc nos torna conscientes do fato
m'exorávcl da transítoriedade da vida terrena. Se contemplarmos tal
reaüdade a parür' dc uma perspcctiva egooêntrica, a morte conñgu-
rará uma perda total. Contudo, a morte também abre o cam1nh'0
89

para uma renovação biológica c cspm"tual, da qual participamos e
que lhe confcrc um senüdo.
A rcnovação biológica se efetiva segundo as le¡s' da naturcza.
O homcm apcnas participa dcla, subordinando-se às lcis da
natureza dc maneüa a melhor c ma15' humana possích enquanto
m'alteravelmentc procura não contrariar essa realidade natural
medxan'te meios arnñ'ciais. Pcla renovação cspm'°tual o próprio
homem é o agentc responsách embora sujcito aos hm1"tes traçados
pela natureza. A renovação biológica serve esscncíalmcnte à
conservação da vida. Assnm' sendo, é antes mantencdora do que
transformadora. Também a renovação espm"tual não podcrá ser
comprccndida como oonstantc cam1nh'ada. Muito antcs sc há dc
cntendê-la como 1m'pregnação pessoal de contcúdos cspm"tuals'.
Somcntc a perspecüv'a dos honzo'ntcs cspm"tuals' da vida nos torna
possível a comprecnsão do sentida Tal compreensão de sentido nos
ajuda na superação m'terna da ñnitudc c das hmx"tações da vida
naturaL
Em mcio à tcnsão entrc naturcza e cspírito, entre bios e Iogos,
a alma humana se constinú no centro focal propñamentc dito dos
acontec1m'cntos. No cmaranhado de sentxm'entos e pensamentog
aspu'açoes' e dec15'ões, a vida psíquica humana, a d1n'am1^'ca dos
_ á._4
acontec1m'entos v¡'vcnc1ms", reprcsenta o fator de m'tegração entre
natureza humana c espírito. A naturcza humana constitui nosso
patnm°ôm'o rcccbido; tudo o quc se referc ao cspírito nos foi come-
tido como algo a cumpm'. Dcstm'o de um lado e vitória sobrc o
_ 4._
destm'o, de outro lado, constituem as forças atuantes da nossa
realidadc psíquica. Na realidade psíquica c na conñguração da vida
dcla d1m'anada rcssai a cvidéncia do êxito ou malogro dc uma vida
plcmñ'cada, ou nã0, pclo senüda Dc nada vale procurarmos 0
scntido da vida, o sentido do sofrun'ento e o sentido de tudo o que
concerne ao nosso ser m'dividual, como se esperássemos descobri-lo
à margem do cammh'o. Não cnconlramos 0 senlído como sc cu-
contra uma chave perdida. Encontrar sentido sempre c s¡m'ultanea-
mcnte é dar sentida Deveremos dar à nossa vida, como nosso ser
bíológico, um sentido, extram'do comprcensão c forças para ls'so dos
mananciak do cspín'to, do logos c, portanto, daquüo que é pcrene-
mentc válido.
Se tomarmos como ponto de partida tal entend1m'ento da vida
e do sentido c considerarmos a vida náo sxm°plcsmente como algo
que apenas nos foi dado, tnas como algo que nos é cometido,
qualquer ms'uccsso em nossa luta pcla vida não sigmñ'cará dcstm'o,
mas apcnas uma falhaz falhamos no dar-scntido. Prccisamos
cumpm' a mlss'ão da nossa vida, o quc sxgmñ"ca que somos rcspon-
sávc15' por ela. A rcsponsab1h"dadc ou o scr-responsável constituí o
contcúdo c a garantia da naturcza espm"tual do homem, a cssêncía
de sua dignidade c cxprcssão de autêntico humamsm'o.
Ao contemplarmos a humamdadc cm redor de nós, consta-
tamos que mtútas pessoas rcvclam pouca comprcensão para com
idéias a tal ponto ex1g'entcs. Vivcm o pnn'cípio dc vivcr c dcxxar' vívcr.
Nern se qucstionam sobre o sentido. Estão saüsf'citas ou também
ms'ansf'citas com a sua situação. E enquanto o dcst1n'o não as poe'
maxs' duramente à prova, tudo há de segmr' o seu n'tmo: de qualqucr
modo, no ñm nos aguarda a morte, que se espera nos sobrcvenha
com bcnígn¡'dadc.
No entanto, a vida, de rcgra, traz cons¡g'o não poucas c
freqüentemente bem trágicas provocações. E a vitóña sobrc o dos-
tm'o não se apresenla fác1l,' sendo que as contm'gências da vida nos
pcsam dolorosamcnte, podcndo mcsmo lcvar-nos ao descspcro. A
aprendlmg'em de tal enfrcntamento é a ñnalidade de toda educação
e dc qualquer formação ética ou moraL Fm'almente, tão logo surja
uma situação dc neccssidade quc se revcle 1r'removível pelas
próprias forças c haja pedido dc ajuda para a supcração do proble-
ma armado pelo destm'o, cabe à psicoterapia ou à cura dc almas a
larcfa de tratar do caso. Muitos aprendcm a rezar só na hora de
aperto.
Façamos aqui algumas observaçõcs sobre os pmcessos de
doenças de ordem biológica, as quals' nos aung'em como golpes do
destm'0. Fazcm elas partc, por sua espemñ'c1'dade, dos fatos da
natureza de nossa vida. Podemos ag1r' sobrc cles com mcios for-
nccidos pclas ciêncías namrals', na mcdida em quc lhcs sabemos as
causas. Não sendo 1ss'o possíveL nccessário se faz combater a doença
e mitigar scus efcitos mediante procedimentos empíricos,
apropriadas para o caso. Instalada uma doença, para dom1nar' a
situação dc estar-doentc c, sc for o caso, am'da cnfrcnlar situaçoes'
emergentes dc dcfeitos ms'anávc¡s', através dc elaboração vivenc1al'
dos eventos, orientada pelo scntido, podcrá añgurar-se como tarefa
humana d1f1'cí11m'a, para a qual sc deverá aceitar a ajuda de um
médico comprecnsivo. Em sítuações particularmcntc scd1m'cntadas
não se podcrá presc1n'd1r' dc um acompanhamcnto psicoterápico de
apoio ou assns'ténc1a' pasloraL
As situações de sofrimento não causadaspor m falo biológico
c dcsenvolvidas, portanto, exclusivamente a partir de uma
elaboração vivencial malograda, que caracterizamos como
ncuróticas ou ps¡'copátícas, não são detcrmm'adas pcla natureza c
91
por lss'o também não scrão tratadas com meios fornecidos pelas
ciências naturak ou biológicas. Constituem a seu modo e, contra-
riamente às doenças propríamente ditas, uma pcdra de toque de
nosso domínio sobre a vida.
V¡k'tor E. FrankL há décadas, vem pcr515'tentementc apontan-
do, com accitação cada vez mais ampla e gencrallz'ada, a
un'portan^cia que devemos atribuk à responsabnl1"dadc do respectivo
sujeitp na luta conltra as perturbaçõcs psicogênica5. Em seu livro
“Arztliche Seelsorge , dc 1946, Frankl cxprcssamcntc declara que a
psicotcrap1a' deverá tomar novo rumo no scntido dc voltax a en-
tender o ser-pessoa-humana como um ser-responsável.
É dc importância secundária averiguar se a cura de
perturbaçocs' ncurótícas do homem é fac1h"tada por técnicas de
mod1ti'cação de comportamento ou exercícios de rclaxamento, ou
se a supcração dc perturbações psicogêm'cas éviabnhza"da sobretudo
pelacompreensão ou auto-reflexão. Em qualquer caso, 1m'portaque
o homem adquha consciência lúcida do scu ser-rcsponsávcl e do
scu podcr-dc-superação. Não raro, conselhos bcm sun'plcs c modos
de agu' m'lexr'amente pragmáticos podem trazer ajuda e cv1'dcnc¡ar'-
sc como suñcientcs. Todavia, em lodasas perturbações ma¡s' profun-
das, ac1m°a dc todo c qualquer proccd1m'cnto un'prov¡s'ado ou
ccntrado em mctodolog1'as, un'porta objctivar-se não somcnte uma
reoñcntação no sentido da autodcscoberta1 mas também uma nova
orientação düecionada ao encontro dc sentido.
Dts'túrbiosneuróticos epsicopâticos m'variavelmente assm'alam
um ms'ucesso no IIato com a própria natureza. Quando os efeitos
dc reaçocs' pcssoak m'adcquadas afctarem apcnas a própna' pessoa
cm sua sensação dc bcm-estar c, portanto, somente o rcspcctivo
sujeito sofrer com ¡s'so, dc sua dccisão pessoal dependerá se
pretendc suporlar a situação dc sofnm'cnto ou, talvcz alé, por
motivos os mals' divcrsos, qucüa exper1m'entar o sofnm'cnto até o
ñm, ou se prefere superar os fatorcs dc pcrturbação, para que possa
oontm'uar vivendo sem sofnm'ento.
Na luta contra o sofnm'cnto pcssoaL rcnovadamente se con-
ñrma a cxpcriência de que, com o surg1m'ento de um proce'sso dc
docnça, ñca o homem exposto a lels' própñas da natureza. Resta-lhe,
então, antes dc mals' nada, dom1n'ar a situação de scr docnte, con-
vivendo razoavelmenlc com a docnça, cnquanto se entrega, maxs' ou
1. Traduzido para o ponugues com o tftulo Pskatemplh e Scntido da vzda'. S.
Paulo, Quadramq 1986.
menos passívamentc, ao lratamcnto on'cntado por proñssionak
habd1"tados. Dc outra parte, todas as conscqüências de uma Era-
qucza pessoal expenm'entadas sob a pressão do sofrun'ento, como
que folhas da nossa própria naturcza, não conñguram rcalidadcs
que devamos accitar como golpcs do dcsün'o. Importa muito mals'
supcrarmos tals' carências ou fraquczas pela consciêncía de rcspon-
sabnhza"çãopela vida, csforçando-nos por tomar-nos capazes dc não
somcnte favorecer o eqmlíb'n'o de forças adversas mas ensejar,
outrossim, uma vida orientada pclo scntido. Ê uma tarefa
sobre_modo cn'gentc, scndo forçoso rcahzá'-la sob rcsponsabmdade
própria, com apoio na educação, em prun'clr'a lns'tan^cia c, mals'
tarde, se for o caso, com ajuda psicoterápica.
Aquí se abre o vasto campo da logoterapia, a quc me rcporto
para mostrar o nexo de um todo cm que meu tcma se situa: o homem
como ser vocacionado para a rcsponsablh"dade, com a tarefa bem
cspecíñca de preservar a consciência da liberdade na elaboração de
sua expen'ência c no am^bito do scu ag1r' e rcagü psíquico, ou de
resgatar cssa liberdade m'ten'or através do encontro dc sentido.
Todavia, o agü e rcag1r' humano am'da possui um outro aspec-
lo. Em grau maior ou menor afeta as pcssoas cm rcdor de nós.
Fatores emcrgentcs de nossa natureza pessoal podem dxñ'cultar o
convívio. As tendências ao autodesenvolwm'cnto ou aulo-añrmaçâo
m'dividual cventualmente entram cm contlito com o autodescnvol-
v1m'ento c auto~añrmação de outras pcssoas. Forma-se, destarte, um
campo dc tensão contra o qual nada pode a m'cxorab111"dade dos
fatos da natureza, mas só e unicamcnte o conviverdepessoas resp0n-
sáveis. Sc todos fosscm igualmcnte conscicntcs dc tal respon-
sab1h"dade, por ela pautando 0 seu agu', possivclmcnte não mals'
havcña problcmas m'terpcssoans' ou socials'. No entanto, é m'crente
à naturcza especíñca do homem a m'chn'ação ao emprego de meios
d1'ver51ñ'cados dc exprcssar a sua auto-añrmação. Dcvido a tal ma-
lidadc usa clc param^ctros mui d1f'erentcs na avaliação daqu1l'o pelo
qual, por um lado, sc scntc pcssoalmcnte responsável e, por outro
lado, quereria responsabxhzar" a oulrem. A cxpcríêncía tcm ca-
sm'ado que a rclação cntrc provcito próprio c sentido comunitário
mostra~se extxemamcnte d1f'erenc1a'da no que tange às pessoas m'-
dividualmcnle considcradas. Scm rcgras ou dls'posições legab ob-
jetivamcnte válidas, moralmente cogcntcs ou reprcscntadas por
autoñdade eñcaz, uma vida em comum dcntro da macro-sociedade
é reconhccidamcnte 1m'praticável de forma duradoura.
 A dupla situação m'divi4§ual-colen'va do homem - m'div[duo
por um lado e zoon poliuko'n por outro lado - faz nccessáño o
cstabclecnm'enlo dc normas de conduta. Tans' normas ou mandamcn-
tos legab devcm scr fundados em nossa compreensão do sentido da
vida c no honzo'nte de valores encarnados na naturcza espm"tual do
HOSSO SCL
O cstabelccicmnto e a apücação de normas socials' obng'a-
torlam'ente prcssupoc'm atribulrm'os ao homcm capacidadc para
condunr'-se de acordo com tals' nonnas, mesmo - e prcasam'ente
então - quando a sua tendência ao proveito o m'duza a perseguu°
outros rumos. Fica, po¡s,' m'contestc quc o homem não se cncontra
hm1"tado e m'elutavclmcnte sujeito à teudênaa' de buscar o proveito
próprio, não sendo determmado por este como se fossc uma doença.
Ao contrário, há ev¡'dêncm' de que, ao orientar-sc de conformidade
com normas socmxs," lhe ñca rescrvada a liberdade de dcc1'd1r'-sc em
oposição ao proveito própn'o. Se, todav¡a,' seu comportamento per-
turbar gravemente a vida socíaL será reprecndido por lss'o c arcará
com as conseqüências de seu proccdimcnto, sendo resp0n-
sabxhza"do por elc, de acordo com mcdidas lcgalmcnte prevm'tas e
sançoes' pcmn'cntes.
A conccpção dc responsabüdadc e a aocitação da rcspon~
sablhza"ção de um homcm adqukem aqui d1m'ensão bem d1f'erentc
da que se verifica no sofrimento índividual causado por
perturbações ncuróticas ou psicogênicas. Onde a responsablll"dadc
do homem se circunscreve a sua vida, à sua claboração da
expcn'ênc1a' própria, à superação de seus problemas m'ternos, de
regra o respcctivo sujeito não scrá ms'tado a jusuñ'car-sc. Terá de
haver-se em pnm'e1r'o lugar consxg'o mesmo. Apenas quando, como
homcm sofredor e 1n'capacitado para confrontar-sc consng'o mcsmo
ou rcsolvcr a sua situação, procura ajuda, o scr-responsável deverá
ser-lhe conscicnüza'do, c uma perspcctiva de cncontro de sentido
deverá ser mcdiada para elc. Mas quando os m°teresses vitals' e a
i legínma' proprícdade dos outros ñcarcm afctados por seu compor-
r' tamento 1n'dividuahs'ta ou cgocêntrico, dcvcrá scr considcrado rcs-
ponsávcl por lsso' num scntido mals' amplo. Coloca-nos ¡s'to na
pcrspectiva da m'dagação sobrc a culpa. A hn'guagem jurídica as-
smal'a conasam'ente o fato de que cupla é censurabilidade. Torna-se
culpado aquclc que sc porta dc forma ccnsuráveL Censurách sob
o aspecto ético-moral, prejudica as formas humano-culturals' de
convivêncía ou manífesta mcntalidade indigna do homem.
2. 0 homcm como ser socm'| (Ans'tótclcs). (N.T.)
Censurávcns', no scntído da ordcm pública, são, pura c sm'plcs-
mente, os modos dc comportamcnto que lesam os du'cítos fun-
damentak de outrem ou intercsscs cssena'a¡s' da comunidade.
Tornar-sc culpado no sentido ético-moral abrangc um círculo
relativamente amplo de nosso comportamento pessoal c mesmo do
nosso pcnsamento. Entrctanto, a culpablh"dadc, sob o cnfoque
jurídico-legal, notadamemc no do d1r'eílo penaL concernc ta'o-só a
mfr'açoc's contra as lels' cm v1g'or. Uma anáhs'c mans' mm'uciosa dc
todas as dun'cnsõcs da ccnsurabüdadc não prctendcña eu fazcr
aqui.
A culpa se nos torna conscicnte através da man1f'cstação da
própna' consa'c“nc13.' Em partc há dc ser atribuída à scnsib1h"dade
naturaL em panc a juízos cn'ticos. Podc am'da a culpa emcrgu' à
conscíênc1a' apenas através dc sanções soc1a15" ou jurídicas. A cons-
ciêncm da culpa, cvcntualmentc, cm se uatando de consáênc1a' dc
responsabílidadc marcantc ou mesmo ncurotícamente
hipertroñada, traz cons¡g'o cfcitos torturantes. Dc oqua parte, no
cntanto, o cgonsm'o do homem não raro o lcva a repnm1r" senum'entos
de culpa ou 1m'pedu" a sua man1f'estação. Muito podcna' ser dito
accrca da psicologh e da psicopatologh da cxpcriênch da culpa,
mas não scna' cstc o momento dc tratar da maténa'. Darcmos
preferênaa,' no prcscntc comentán'o, ao sentido da cupIa.
Em pnm'c¡r'o lugar, a conccpção dc culpa pode scr explicitada
como “plena de scntido”, sob a óptica dc um snn'plcs pragmatnsm'o
ñnalístico, puramente unh"tans'ta. A scgun', scria válido, sob o aspcc-
to da psicologh educacíonaL que as 1m'putaçoc's baseadas na cen-
surab1h"dadc, contríbuíssem para algo como m't1m1"dação, ou, a1n°da
melhor, dns'ccm1m'enlo do sujcito quc se tornou culpado. Sentido -
ou, melhor dito, ñnaüdade - da censurablll"dade orientada pela
conccpção da culpa ou pelas sanções nela baseadas, vcm a ser,
então, essencmlm'entc, aquüo quc denom1nam'os efcito dc apren-
dlzag'cm v1n'culada a uma oríentação do comportamento corrcs-
pondcntc. Contribui lsso' apenas ln'd1r'ctamente para um suposto
fortalccm'cnlo da consciência ou para um assxm' chamado efcito
pedagógico. Somcnlc cm hipótcsc favorách a oonsciênma' 6 efetiva-
mente atuahza'da e com o tempo também sensiblhza"da por scn-
Um'entos de culpa ou pela confrontação com a ccnsurabxh"dadc.
Ondc o tornar-se responsável não se venñ'ca ou a censura sequer é
m'tcntada, tals' efeítos dc aptcndlzag'em e também o dm'amlsm'o e a
accssibmdadc da consciênaa' pcrdem com o tcmpo a sua cñcácia.
Dnz' um velho ptovérbioz “Cometc um pecado tres^ vezes. Se não
forcs ccnsurado, tc convencerás de quc elc é consenu'do.”
95
 Essa añrmação enfática tcm suporte cm cxpcriências
rciteradamcntc conñrmadas e dc cxtraordmária 1m'portan^cia
pcdagógica. Todavm,' tal modo de vcr a problemática em refcre^ncm'
c tal 1'dé¡a' dc scntido da culpa nos mantém, em scntido amplo,
hg'ados ao domínio da psicologia behavions'ta de supcrfície.
Aprcsenta-nos o homem como um scr da natureza, scnsível a
determma'dos cstímulos dc aprendlzag'cm. No entanto, pcrdemos
dc v1$'ta., com muíta rapidcz - como acontece relativamentc a todo
o bchavionsm'o psicológico - aquüo quc, ac1ma' e além da mcra
ñnalidade, possa ser propnam'cnte dcsxgn'ado como sentido. Do
scntido - na verdadeu'a accpção do termo - só se podc cogitar
quando ncle vislumbramos aquela dimcnsão cspiritual da
cxpen'ênc1a' de valores quc cmprcsta ao homem a sua qualidadc e
d1gm"dadc cspeañ'ca. Também a conccpção dc culpa, ou seja, a
possibmdadc de o homem scr responsab1hza"do e ser com lss'o tido
como culpado, constitui elcmcnto m'tegrativo daquüo que cleva o
homem aCIma' de sua namreza e permite scja ele essêncm' cspm"tual
encamadzL
Osentido da culpa - abstraídos todos os aspectos de ñnalidadc
- consxs'tc em considerar-se o homcm, pclo fato de scr suscctível dc
culpa, como um scr moraL A censura não sigmñ'ca apcnas
desaprovação de um ato, mas também reconhccimento da
responsab1h"dadc pessoaL Rcconhec1m'ento da culpa sigmñ'ca
aflrmação da hbc'tdade humana, ass¡m' como añrmação de uma
ordem de convivênch geradora de obnga°ções. Da mesma forma
1m'plica respcüo pclo d1r'eito dc outrcm, face ao qual o m'divíduo sc
tornou culpado. Sc por razões mais ou menos egoístas
praticássemos uma m'justiça contra outra pcssoa e estc nosso ato
não devcsse scr m'qu1n'ado com a nódoa da culpa, estaríamos com
xss'o dcsvalonzan'do aqucla pcssoa. Nosso ato não sen4," nessc caso,
passível dc censura e, sc não o reconheccss^emos como m'justiça para
com o sujeito lesado, ao mcsmo tcmpo, sonegação de
um d1r'eito pcssoal do mcsmo e, com 1sso', mcnosprczo a sua pessoa.
O sujeito lcsado converter-sc-1a,' relativamcnte a nós, numa não-
pcssoa, contra a qual - como a um objeto msngmñ"'cante -' não é
possível comcter m'justiça c, portanto, podcmos comctê-la.
A consciêncm' da rcsponsab1h"dade, além dxsso', forma um
baluanc csscncml' para o bem comum. Nossa vida é ordcnada em
função do convívio comoutros. Essc estar-em-comum não conñgura
jamals' mero eslar-um-ao-lado-do-outro, e snn' umcom-vivcr com os
dcmals' c um viver para os dcmals'. Dcssa rcalidadc forçosamcntc
emerge uma oontexrura de d1r'eitos c devcres, na qual só con-
seguu'cmos on'cntar-nos fazcndo valcr a responsabnhza"ção da
pessoa humana. Eng'ênc¡as' pessoans' dc cada mcmbro da socicdadc
humana somente poderão ser hm'itadas através dc mcdidas
apropna'das c acordcs com o bcm comum, quando cada um se
reconhecc como responsável frcntc aos demals'. Todo pro~
cedlm'ento nocivo à sociedadc é ccnsurách dcvendo o rcspecüv'o
agente ser responsabxlm"do por scu ato, o quc permhe a sua
m'culpação. Sc ass1m' não fosse, a socicdade e o du"e1to' à v1da' de cada
um dos membros náo temm" condiçoes' de subsnsnr".
A forma espeañ'camcnte humana de uma vida voltada ao
espírüo c du'ecionada para um honzo°nlc dc valores é m'conc¡l¡á"vcl
com a ordem nannraL c talvez hvr'e de problemas, de um “cstado”
de formlgas'. Muito ma15' do que lsso', a forma cultural de uma
sociedade humana prcssupoc' scnur'em-sc os sercs humanos mt'er-
hga'dos por vínculos dc acatamento rccíproco e rcsponsávck uln cm
rclação ao outro. Quanto às conscquc“^naas' da fraqucza humana c
tendênaas' cgoístas, a longo prazo somcnte poderá scr eñcaz a
condcnação por ter se tornado culpado, e, sc for o caso, a reação
reparadora É m'tc¡r'amcntc váh'do que, ws'tos sob cssc angul^o,
ñnaüdade c scntido da culpa sc m'tcr11gue'm, de sortc que, num
aspccto ma¡s' pragmátíwuütáño c mals' idcalístico, on'cntado para
o valor, se encontrem lado a lado.
De qualqucr manelr'a, entretanto, para a relação eu-tu, assxm'
como paxa a relação eu-nós, há um fundamento cspeañ'camentc
hmnano, ¡s'to é, humanamentc d1gn'o c dcscjáveL quando cada um
se esforça para evitar, do melhor modo possích o torna:-se-culpado
frcntc a outrcm. Somente através da consciênaa° da possxb'¡li'dadc
do tomar-se-culpado, am'da em descnvolvnm'enlo no ser humano,
adquinm'os a compreensão para o relacionamento m'terpessoal.
Quando v151'umbramos a d1m'ensão espm"tual do conccüo de culpa
c, ass¡m,' compreendcmos corrctamente 0 scntido da culpa,
apronm'amo-nos também daquüo quc pcrfaz o scntido da vída. Pela
wsa"o da problemática da culpa, o sentido da vida adqmr'e uma
d1m'ensão própna' c essencmlm'ente espm"tual. O entend1m'ento
correto do sentido da culpa favorecc o entend1m'ento do scntido da
vída c enriquccc as posmb'1h"dadcs na luta por nossa condição dc
sercs humanos. A compteensão dc que a vida não foi concedida
apenas como fato naturaL mas como vcículo dc efetivação do log0s,
ou como possib1h"dade dc cncamação de valorcs cspm"mals,' cu-
contra-sc profundamcntc ancorada na consc1'ênaa' do scntido da
culpa.
97
 Não scrá feita alusão, nestc Irabalho, às múltiplas relaçocs'
ems'tentcs anre os conceitos ms'cparáve¡s' dc culpa e reparação,
porquc sc estanh cntrando com iss'o cm tema fortemcntc polêmico
da dogmáücajurídiwpcnaL O tema em qucstão até mcsmo na árca GÚNTER FUNKE
da dogmática teológica, vem scndo objcto de controvérsna'. Con-
quanto não sc prctcnda cntrar, de modo mals' dctalhado, cm anáhse'
de maior amplitudc, quc lcvana' a um adentramento no am^bito da
temática rehg¡"osa, hmxtar"-nos-cmos a brcve rcfcrêncxa' a segu1r'
exposta. O conhecm'ento acerca da culpa humana nos conduz
Busca de sentld°o e capac1d°ade para a paz
àqucla VIa' pontllha'da de conflitos psíquicos e espmruals"' em quc cstá
emjogo a posiçáo valorativa e u cntcnd1m'cnto do perdão e da gaça.
Aqui se abre então o honzo'nte mcntal de convicçocs' dc cosmowsa"o,
de fé rchg1"osa, dc uma atitude m'tcrior comprometida, quc nos
rcmclc para as rcgiõcs mzus' altas de uma antropologh abrangcdora
e d1r'ecionada para o campo da metafísica.
Na pcrspectiva da logotcrapia, muitos métodos dc
psicoterapxa' reprcsentam técm'cas quc 1gn'oram quasc completa- Com a formulação do tcma “Busca de sentido e capacidade
mcnte a dnme'nsão mans' alta, quc é a d¡m'cnsão cspm"tual do ser para a paz” dons' domínios temáticos complcxos se apresentam à
humano. De modo scmelhantc também surgcm, no campo das anáhs'e, cada um dos quans° mcreccria scr abordado separadamente.
No passado Iss'o texn sido fcito com bastante freqüência. A questão
ciêncms' sociológicas e jurídicas, não poucas construçoe's m'telec-
tuak ou teonas' quc dcspojam quase por complcto a conccpção de do sentido ocupa o centro do pcnsamento c da práns' logotcrápica.
A qucstão da paz cnconlra espaço cada vcz mais amplo em
culpa do seu sentido e conteúdo de valor. Acontece lsso° com
posicionamentos e contribuiçõcs surgidas em número e varicdade
cresccntc gcncrahza'ça'o através dc teonas' de uma psícologia oricn-
tada pelas ciêncm naturaJs' ou de uma psicologia m'tcrprctada d16'c¡lm'ente 1m'ag:n'ávcns'.
especulativamentc, quc logxa psicolog1w' a compreensão da culpa Do¡s' tema, do¡s' pontos centrals,' portanto, c, em torno desses
e com isso paralisá-la. Dcnota-sc, outrossim, quc teorias pontos ccntrais, circula o aprccnsívo intercssc dc muítos
sociológicas ou éu'co-“soc1a¡s"”, com maior frcqu"ênc1a,' 1r'omzam' contemporâneos nossos. Frcqüentemente me advém a 1m'pressa'o de
como“idcahs'ta” aqucla conccpção lão humana do scntido da culpa. cns't1t'cm arualmentc do¡s' movrm°cntos chcularcs, m'dcpendentes
V1kt'or E. FrankL quc dcscnvolveu a sua logotcraph para 0 um do outro, dcsencontrados c talvcz contrários. É dc se pcrguntar
alend1m'ento de pessoas afetadas por desajuste cm sua posição ante se não scria importante e recomcndável fazcr com quc tms'
o sentido, mcrccc ser rcconhccido como scndo o p1'onc1r'o m'telec- mov1m'entos fechados c reciprocamcnte dehm1"tados sc conjuguem
mal com qucm aprcndemos ou rcaprendemos a reconhecer com num relacionamento produtivo. Compara-se nss'o com o mowm'ento
maJs' lucídez o ser humano como um scr rcsponsách É juslo quc se da clipse, quc sc movc, náo cm tomo de do¡s' pontos cenlrals,' mas
lhe rcconheça tal mén'to. Sua wsa"o do homem lhe asscgura., não
dc dons' focos. Não seria urgcntc tomar-se conheam'ento dc quc
apcnas na psícologh e na psicotcrap1a,' mas também cm oulros
talvcz a pergunta pela paz sem a pergunta pelo sentidojá não possa
domínios de nossa vida soaal' c jurídica, uma mgmñ"cação substan-
cxalm'ente maxs' v¡g'orosa e uma crcsccntc pcnctração nos meios obter resposta eñciente e de quc a pergunta pelo sentido sc defronta
mt'clectuals'. 0 aprofundamcnto da noção dc culpa c o cntcnd1m'en- com novo e 1m'cnso dcsaño com base na pcrgunta pela paz?
to correto do scntído da culpa proporciona-n05 magnmca opor-
Isto, no entanto, a1n'da não seria tudo. Um passo a mans' deverá
tunidade paxa colaborarmos com a renovação espm"tual da vida, a
scr dado, proccdendo~se a junção de ambos os focos num novo
quc somos constantementc convocados. ponto central. A busca de sentido e a capacidadc para a paz não
constítucm qucstõcs dns't1n'tas, mas divers¡ñ'cadas, c contudo m'ter-
 rclacionadas. São, rcspcctivamcnte, as duas vertcntcs dc um
questionamcnto ccntraL quc é a pergunta pcla vcrdade.
As obscrvaçoc's aqui csboçadas envolvcm naturalmcntc todo
um programa de trabalho. Ê 1m'portantc que nos dls'tanciemos do
movimcnto cu'cular isolado cm tomo dc um tema ou outro,
dxr'ecionando nossa reflcxão para a tomada de conhemm'ento dos
cfeitos recíprocos que surgem entre ambos os tcmas c dcvem ser
levados em conta, para., a pamr' dxsso', chcgarmos à descobcrta de
um novo ponto ccntraL Essc ponto central há dc culmm'ar no
cntend1m'ento da identidade cxrs'tente, em últ1m'a anáhs'c, nas pcr-
guntas accrca do sentido c acerca da paz. E sou dc opm1"ão que a
logoterapia, dc um modo todo especiaL c acun°a de qualquer outra
corrente psicológica, prcenche rcquisitos fundamcntais para
desm'cumb1r'-se dcssa tarefa.
A torrcntc de rclaçocs' e efeítos recíprocos ems'tcntcs cntrc a
procura de sentido e a capacidade para a paz pode ser constatada
no dia-a-dia da atividade tcrapêutica. Ambos os círculos da
problemática podcm mamf'cstar-se através da situação concrcta da
vida, quiçá de uma cns'e vital ou enfermidade neurótica. Não raro
sucedc que o elemcnto ems'tcnc¡al' terá de tomar de cmpréstmo a
suahnguag°cm, seja a hnguag'em dapsíque, seja a do cstado doentio,
ou então da sítuação de neurose. O que, no entanto, freqüentcmente
añora na hnguag°cm é apcnas a pane maxs° supcrñciaL uma vez que
a partc profunda vai se tomandogradativamcntc mals' ms'usccptível
de verbahza°ção. Particularmente as ciências que se ocupam d1r'cta
e precípuamcntc do homcm e pretcndem ajudá-lo, hojc tcrão de
reaprcnder a lmgua'gem da ems'tência.
Ocorrc quc participamos todos das “condíções
meteorológicas” da h¡s'tória do cspírito. Reg15°tra-sc tudo o que
acontece no mundo cm rcdor de nós. Tal pcrccpção dos eventos,
sucedc cm pnm'e¡r°o lugar c esscncialmcntc cm v1rtu'dc daquüo quc
em logoterap1a' desngn'amos como “d1m'cnsão cspm"tual”. E csta
d1m'cnsã0, portadora e formadora de nossa pcrsonah'dadc, perccbe
as mudanças histórico-espirituais e as mudanças gerais de
condiçoes' da vida, antcs mcsmo quc a razão as tcnha aprcendido.
De51gn'emo-las mudanças dc nossa dls'posição m'terna. “0 coração
tem razocs' que a razão desconhccc”, dlz' PascaL' reportandmse à
lógica do coração. A d1m'ensão cspm"tual é al'lamcntc sensível c
extremamentc alerta. Supcra, com gxande vantagem, a lcntidão do
nosso pcnsar. É d1f'íc11' para o homem - e ele vai se tornando
gradativamente mans' m'capaz para 1sso' - tradum' em lm'guagem o
100
que o move no mals' ínt1m°o do seu scr, lhe dzz' rcspcito c o csum'ula
à ação.
Na verdade, cns'tc amplo conhcc1m'ento sobrc fcnômcnos
relacionados com o psiqms'mo m'lcmo. Trata-sc, predomman'lc-
mente, de um saber sobre condicionamcntos c sobrc tudo o que sc
aprcscma como falho, ncgativo, o quc acontcceu no dccurso do
próprio dcsenvolvxm'ento. Quantidadc sign1ñ'cat1'va de possibi~
lidadcs dc m°terpretação e modclos dc m'tcrpretação sc encontra
d15'ponível para que sc possam sempre ordenar “corrctamentc” as
cxpcriências vividas, conforme 1n'variavclmcnlc sc proclamzL O
psíquico, o físico, o sociológico, tudo lss'o podc ser cmm'cnlcmcnte
vcrtido em lmgu'agem. Todavia, o clcmento ex¡s'tcncíal, aquüo quc
me sustenta, me abraça c quc por lss'o também mc m'tranq1uhza“" no
fundo do scr, ou que quahñ'ca a vida humana, dlñ'c11m'ente podc ser
lraduzido em palavras.
Em razão dessa realidadc, os sonhos vêm readqmrm"do cres-
ccntc m'teressc. Contudo, para que servcm os mals' bclos sonhos, sc
a realidadc subjacente aos mesmos torna a ser compnm'ida e
rcduzida7 Uma un'agem rcducioms'ta do homem toma mórbídos os
melhorcs sonhos.
Talvez no contcxto deslas cxplanaçõcs sc considcrassc jusnñ'-
cável designar a logoterapia como terapia da lm'guagem, uma
terapia que ajuda ao homcm transpor para a hngu'agem a sua
ens'têncía, a ñm dc conñgurá~la, m'terrogando c respondcndo por
palavras c atos. Tal terapia ultrapassa de muito o que sc dcsigna
como condiçõcs psíquícas, bcm como a percepção dc mm'ha
contmg'ência.
Quando contemplamos a situação prcsentc c atual do homcm
como ser que qucstiona e problemaüza,' corrcmos o ns'co dc ter a
¡m'pressão de quc a pcrgunta sobrc o scntido tcnha sido afastada c
mcsmo substituído pcla pcrgunta sobre a paz, formulada com toda
a premência e com m'lensas prcocupações. Tal pergunla volta
scmprc a ser refeila, quer seja articulada, quer não.
Pcssoas de todas as falxas' etárias sofrem de uma passividade
não raro ms'uportável para clas próprias, embora cxxs°lam tarefas em
seu rcdor quc elas cnxergam c de cuja sigmñcação têm plena
consciência. E contudo não conseguem mov1m'entar-se. Não é a
siruação concreta e atual que lhcs bloqueia a 1n1"ciativa. O bloqucio,
a 1m"bição m'tcrior man1f'esta-se como cxpressão de m'érc1a' frente a
uma pcrda futura. Com cfeito, o futuro está ameaçado, scn'amentc
101
 amcaçado, e está na hora de se envídarem mg'entcs esforços para
não capitular antc tals' ameaças.
Considercmos apenas o banxo' índicc de nasam'cntos c o
clcvado número de abortos. Somos efcüvam'cntc convencídos de
que tals' fenômenos cncontrem suñcicnte cxplicação socíológica,
econômíca ou psicológíca? A alcgação de quc seria atítude
1rr'csponsável colocar crianças no mundo, enquanto a ameaça dos
míssexs' atômicos pau'ar sobre nós, com demashda freqüênch não
passa dcjustücativa racional de um enfoquc de vida medianamcntc
m1hs"'ta. Qucm, no cntanto, ousana' cstranhar quc tal nnhsm"'o se
vcnha alastrando?
Todav1a,' a pcrgunta pela paz a muitas pcssoas oferecc a
oportum'dade c o estímulo para tentarem cquacionar sua proble-
mática de futuro não supcrada.
Constatamos, pons,' c em pnm'cu"o plano, que a pergunta pela
paz ó atuaL Em segundo plano, contudo, avengua'-sc com m'tidez
quc com 1ss'o a pergunta pelo sentido ñca ao mcsmo lempo temati~
zada. Ademals,' a pergunta pelo sentído expenm'enta um dcsaño
fataL Expcnm'entamos atualmcnte um questíonamento radical e
total do sentido da ems'tência humana, com d1m'cnsoes' universals' c
quase sem paralelo na hls'tóna.'
O scntimento dc ausência dc sentido, de proporções
mundians,' foi díagnosticado por V.E. Frankl como a atual ncurosc
de massa. Sua causa tcm sido rclacionada com a perda da Lradição,
a perda de valores e o reducíomsm'o cicntíñco, tcndo rcccbido
componentc novo, agravante da care^nc1a' dc scntido, que é a
capacidadc detída pclo homcm de destruü totalmcnte a Tcrra. Tal
percepção c tal conhec1m'cnto só podcm scr comparados com os
uês grandes “agravos” da humam'dade, aos qua15° nos rcfenm'os cm
conexâo com as descobcrtas de Copérm'co, Darwm' c Freud.
As múlliplas ameaças com quc os homcns sc sabcm confron-
tados hoje, scjam elas dc ordem m1h"tar, scjam rclacionadas com a
problcmática ecológica, não falham cm sua eñcácxa'. Cnam' scus
próprios sm'tomas, não raro ncuróticos, com os quals° d1an"amcnte
nos dcparamos. V.E. Frankl descreveu há décadas tal sm'-
tomatologia como “posição fatahs'ta” e como “atítude prows'óna' da
ems'tência”: “Ora, da atítudc prowsó'na' da ens'tência am'da não nos
libcrtamos. Dep015' como antcs, o homcm hodiemoé dom1n'ado por
ela. Apoderou-sc delc uma cspécíe dc fob1a' da bomba atômica. O
homcm de hoje aparentementc se hm1"ta avivcr cm cxpcctativa, com
102
o olhar pcrmanentcmentc voltado para a bomba atômica. Ansiosa-
mcnte espera por cla. Mas tal ansiedadc antca'patóna' perturba a
sua vida, endcreçada a uma meta”. Frankl cscrevcu ns'to há 34 anos.
Contudo, não é apcnas o temor, ncm é apcnas a m'd1f'crcnça
quc conduzcm à atitude vivcncial fatahs'ta ou prows'óría. Compor-
ta-se ela muíto antcs à mancu'a com quc o exprcssavam os bls'pos
alemães accrca da pcrgunta pclo sentidoz “Muitos já não cntcndcm
um mundo quc conscguc trazer mísscns' e armas para os nn'coes' mals'
rcmotos do globo, enquanto ali falta arroz, pão c mcdicamentos.”
Um mundo a debatcr-se em mcio a tamanhas contradiçocs' parccc
carcntc de todo c qualqucr sentido. E depcnde, não raro, dc apcnas
um passo a mals' para que sc atm'ja o ponto cm quc o “já-não-podcr-
entcnder” se converta em reSIgn'ação, em apau'a, em scnnm'ento
ablssal' dc auséncna' de scntido, como dlzc'mos cm logoterapia.
Mesmo quc admitamos vcnha o mundo a desaparecer por
dcstruição atômíca, c scjamos, assun,' dom1n'ados pclo tcmor da
mortc ccológica e do desmantclamento cstrutural da naturcza, sou
de opml"ã0 que corramos o nsco' prcfcrcntemente a sucumb1rm'os
em conscqüência da apaüa,' da ausêncna' dc scntido, se a questão do
sentido for ncghg'enciada c, portanto, não rcsolvida. No entanto,
tcntcmos locahzar', para observá-lo mals' de perto, cssc ponto crftioo
de passagem dc um scnt1m'cnto dc vida comum para o conform1sm'o
e a 1n'ércm.' Consoantc cntcnd1m'cnto logoterápico, podcrá ser cle
cncontrado ali ondc as cncrgias que o homem haurc sobrctudo do
sentido dc sua vida e moblhza" a parür' de si mesmo, já não sejam
suñcientes para supcrar as parall.<'›a'çoes~ quc emcrgem da consta-
taçâo de uma grave amcaça. Quanto mcnos scntido o homcm ex-
pcnm'cnta c rcahza° cm sua vida, tanto maior será o nsco' para a sua
existêncía. Tal pcrccpção, conquistada através do trabalho
logotcrápico, possui validadc 1rr'enunc1á'vcl, não apenas no domfnio
m'dividual, mas também no am^bito socnal' e globaL
Se a constalação dc uma ameaça, scja a atômica, a ecológica,
a sociaL seja uma amcaça expcnm'cntada em am^bito 1n'teu"amcntc
1n'dividual, atmgnr" um nívcl dc scntído ba1x'o, haverá duas formas
possívels' de reaçãoz ou culmmar'á numa perda total de valor,
fmqücntementc acompanhada dc um colapso de todas as forças
dxs'ponívens,' ou cntão a ameaça conslatada libcra poss¡'b111"dadcs de
sentido.
Partmdo da scgunda hipótcse, podcmos também d1zc'r quc a
amcaça à paz m1'°cíalmentc libcra elementos novos de sentido. Ncsse
caso, uma 1n'tcrvenção logotcrápica na cnse' não sen'a m'dicado. De
rcpcntc encontram os homcns uma tarefa, sc sabcm rcsponsávcns'
103

para fazcr algo contra lal ameaça e é magníñco o que então sc
proccssa. Opor-se à ms'talação dc outros mxss'c1s' atômicos no leste
c no ocstc decididamente já conñgura uma possibmdadC de sentido,
para cuja reahza'ção todas as forças dcvcm ser convocadas e também
são convocadas. Ousaña obscrvar quc, no meu entcndcr, tal rcação,
em qualqucr caso, sc vcnñ'cará rclativamente a poucas, dcmasiado
poucas pessoas. E parece~me ser mlúto 1m'portantc rcssaltar quc a
mera ação não traz consng'o nem a superação das amcaças contra a
paz ncm a do senum'cnto dc ausência dc scntido. Há também um
agü cmergente da carência de sentido c tal ag1r' é peng'oso.
A ameaça à paz requer resns°tência. Com cfeito, tal ameaça
dcve ser sobrepujada. A resxs'tênaa,' no cntanto, não podcrá ser fcita
e rcahza'da a partu' dc urn senum'cnto dc ausêncra' dc scntido ou de
carência dc sentid0. E é csta a m'dagação efetivamcnte crítica a ser
feita a todos os mov1m'cntos pacxñs'tas. É dc todo 1rr'elevantc m'dagar
dc quc posição política ou de quc oricntaçâo rehgt"osa proccdem os
homcns rcunidos em mov1m'entos pacnñs'tas. Dcms'ivo é tão-somcnte
sc a sua ação sc funda num sentun'enlo dc ausêncna' dc sentido ou se
parte da convicção de que a vida tem sentido. Importante é saber sc
para eles, mesmo dlan'te da perspectiva dc uma ameaça de exnn'ção
da vida, oonserva esta o scu scntído. Scria esta, na verdade, a tesc
decisiva da logoterapíaz “A vida tcm sentido em quaisqucr
cu'cunstânc1'as, também em condições as ma¡s' adversas”! Sigmñ°ca-
na° mob1hzar" o poder de obsun'ação do espín't0, aquclc podcr capaz
_¡_ ¡
dc afrontar as ameaças c desaños do nosso tempo.
4
Relativamentc a 15't0 seña oportuno lcmbrar dots' nomes, cuja
recordação torna claro o quc ac1m'a ñcou dito. Rcñro-me a M.
4
Luthcr ng' e M. Gandhi Conhecemos a dupla reahza'ção de
ambos, no que concerne à capacídade para a paz c ao trabalho pela
paz
Tem sido reiteradamente saüentado o fato de ambos haverem
,<À_
expcnm'cntado o dcsvclo dc mãcs muito bondosas e acolhcdoras,
_
mãcs quc dispcnsavam aos ñlhos, nas fascs dc-cns'ivas da vida,
dedicação m'condicional. O conhec1m'ento dcssa realidade devena°
encorajar-nos a falar muito mals' sobre a contribuição extremamente
1m'portante e de grande alcancc que mãcs têm dado à capacidade
para a paz e com |ss'o paIa o futuro da humam'dadc. O protcsto é
apenas uma faceta da luta. Mals' rclevantc mc parecc o trabalho
süencioso quc começa junto aos ñlhos e com a colaboração dclcs.
Como se vê, também a accitação da matcrnídade e da patemidadc
pode ser e é uma contñbuição na problemática da paz e uma
contribuição plena de scnüdo. 0 próprio Gandhi constatou uma
104
relação dc causa e efcito entre o seu relacionamento positivo com a
mãc e a sua recusa de participar das travessuras de criança cm quc
houvesse mamf'estaçocs' de agressívidade.
Isto, porém, apcnas 11'ustra um lado da questão. Para M.L.
ng' e para Gandhi fatorcs bem mals' numerosos foram decm"vos.
Sua vida cra 1m'pregnada dc um sentido m'cxunguí'vcl. Era a própna'
plcmñ'cação v1'venc1al' do senu'do. Enríquccidos por cssa plcm'tudc,
puderam compromcter~se com tamanha pcrseverança e eñciência
pcla paz e pcla supcração do ódío.
O sentido da vida, uma vez encontrado, age como um catali-
sador sobre a paz. A auséncia de scntido, em últnm'a anáhs'c, dá
cnscjo a que se dszI"pc no vazio toda a aüvidade em favor da paz.
A paxtü da aütudc cns'tencial c añrmativa do sentido, supor-
tarcmos, se tal é a altcmativa m'cvilável, lambém a 1ns'talação dc
novas armas atômicas. Estaremos, então, plenamcnte cônscios de
quc a ameaça se tornou maior, mas sabercmos sxm'ultancamcnte que
o sentído da vida, sem ter ñcado menos 1m'portantc, tcr-sc-á tomado
am'da mans' precíoso.
O que até o prcsentc cu trouxe a debate dlz' rcspeito à
m'tervenção psícoterápica na cns'c. Pcnso que nos dcsaña a tarcfa
urgentc de 1m'ped1r' quc osjusuñ'cávcls' temorcs pelo futuro, prescn-
tes, sobrctudo, nas geraçoc's jovens, sc somem ao scnüm'ento gene~
rahza'do de ausênc¡a' de scntido. Quantas vczes, em d1á1'ogos com ou
scm ñnalidade tcrapéutica, tenho percebido haver pessoas quc
lulam por encontrar sentido cm sua vida, porque sofrem com o seu
scntlm'ento de ausência de sentido. E clas m'terr0mpem tal processo
de busca c me perguntam por quc ainda sc há de procurar scntido,
por que se empenhar por esla vida, se somosjoguete de dls'posiçoc's
cxternas a nós mcsmos, se os míssens' são s¡m'plesmente ms'talados,
contra o nosso scnnm'cnto vilal.
Semanas atrás narrci a um grupo de jovcns a segumte
cxpen'ência, por m1m' reiteradas vezcs vividaz “Imag,m'cm vocês”,
dlss'e eu, “dentro de poucas scmanas dcvo fazcr uma conferênma'
sobre o tema Busca de sentido e capacidade paia a paz. Obng'o-me
com lss'o a reflctü muito c os seus questionamcntos vêm desde já
dcsañando a mmh'a rcsponsab1h"dadc. Ao mcsmo tempo, nossos
ñlhos adoeceram todos de coqucluchc. Quando se man1f'csta um
ataquc de tossc, saltamos todos dc pé, ergucmos para o alto a
criança, porque ela sentc ans^ias de vômito c falta dc aL Numa noite
estou eu dcitado sem dorm1r' e reflito sobrc a pergunta se a ameaça
atômica não faz com que nossa vida já dcme' dc ter tanto scntido
105
 comoantes uv'cra. Mas não cons1g'o chegar abons tcrmos commmha'
reñcxão. chcnün'amcnte, nosso ñlho dc trcs" anos é acometido por
ataque de tossc e eu salto da cama' para socorrê-lo. Depons' dc tudo
superado, formulo para m1m' mcsmo a segum'tc pergunta, que nestc
momcnto transmito a voces^z “O quc voccs^ acham, será que eu tena'
saltado da cama, se soubesse que amanhã sena' acionada a bomba
atômica? Ou teria eu permanccidodcitado, abandonandoa cnan'ça
à sua sorte, uma vez que toda a ajuda já não tcna' mals' sentido?”
Podcm 1m'ag¡n'ar como osjovens reagkam à mmha' exposição.
Para clcs não havm' dúvidasobre o quc naquele momcnto cu devcna'
tcr fcito. E, cnquanto assun' o cxprcssavam, davam a resposta a sua
própría pcrgunta e comcçavam a entender o que o Dr. Bonhoeffer
certa vez añrmouz “Pode aconteccr que o Dla' do Juízo (o ñm da
h¡s'tóna') sobrcvenha amanhã. Ncsse caso, de boa mente abnr'emos
mão do nosso trabalho por um mundo melhor, porém não antcs”!
Há conscnso de que a m'tervenção na cnsc', por Lm'portante
quc sc conñgure, não podcrá ser a única contlibuição para se fazer
frentc aos dcsaños cms'tcntcs.
Em razão dlss'o, surge em toda a parte a idéia da educação
para a paz. Trata-se de uma larefa predominantementc
psicopcdagógíca. Scrá que a pcdagog1a' e a psicolog1a' efctivamentc
dls'poc'm, na mcdida do neccssário, de recursos próprios para o
cumpnm'ento dessa tarcfa? Numcrosas contn'buiçocs,' dc cujos
subsídios mc vali na claboração dcste tema, fazem-mc suspcítar de
serem elas própñas a exprcssão dc uma conccpção dc vida fatahs'ta.
É para m1m' totalmentc m'comprecnsível a 1gn'oran^cia dos dcsaños
de nossa época com que o pensar, o cnsmar' e o curar se dcsv1am' do
scu objeto.
Fazem-se trem'amentos para a busca do cu, a auto-reahIA'ção
c a 1n'dividuação. Tans' conccpçoes' de longa data se têm trans-
formado em axiomas idcológicos c agravam a m'capacídade para a
paz c a pcrda de scntido.
Sobrc tal problemática assnm' sc mannTcstou V. H. Wõllerz “Ê
verdade que se comenta ser o autodescnvolwm'cnto capaz dc
sun°ultaneamentc estabelecer relaçocs' com o próprio eu, o mundo,
o tu, e dc confenr'a tal relacíonamento conteúdo humano. Contudo,
a doutnn'a da individuação ravela accntuada tendência ao
isolacionismo. O rccipicntc dc alquimia dcve scr mantido
hermeticamente fcchado, a fím dc que possa dar-se a
transubstanciação do mls'tén'o, e todas as rclaçocs' com o mundo dc
106
fora devem ser m'terrompidas. Sobre o amor, pelo quc vejo, a
doutnna' da m'dividuação nada tem a dlze'r”. Até aqui H. Wõllcr.
Mas é preasam'cnte o amor que constitui o elemento basxlar'
da capacidade para a paz Mals' ad1an'te vollarcí ao tcma.
Ou cntão mcncionaremos uma contribuição dc H.E. Richter,
em scu livro sobre a psicologh da paz Não sei se cssc autor
procedcu de forma consc1'cntc, quando, em seus comentáríos, deu
suporte a tcscs c dcsañ-os essenciaxs' da logoterapía. No tópico
mencionado apanha elc um pcnsamcnto de N. Elhs' c escrevez “A
conccpção dc um m°d1ví'duo cx¡s'tcntc para si mcsmo, que dc certo
modo só se poe' cm contato com outros e com a sociedadc, é
Com lsso' também a psicologna' clássíca, a qual concebc a
vída psíquica com funçocs' c rcahza'çoes' pemn'entcs como que
encapsulada dcntro do m'd1ví'duo, é amñ'c¡al.' Conñgura a cxpressão
de uma autocompreensão m'dividuahs'ta produzída pela época,
dcscnvolvida em sua forma crassa a partü do ñm da Idadc Médla'”.
Todavua,' 15'to não é nenhuma nov1'dadc. Há 30 anos, V.E.
Frankl m'cansavelmcnte vem comg1n"do tal colocação. Lcmbro-me
cxatamcnte da prun'c¡r'a prcleção quc dcle ouvi cm Viena: “O
homem não é uma mônada. Não v1v'c fcchado em sí mesmo. Ex-
trapola dc si mcsmo, procura um ru, uma taxefa, algo a que possa
doar-se, a ponto de nele se pcrdcr, uma pessoa com a qual sc
encontre, amando-a”. Autotransccndéncaa° sc dcnomma' xss'o em
logoterapla'. E a capacidadc para a paz aumcnta na medida cm quc
consxg'o dcshgar'-mc dc m1m' mcsmo. Quanto maJs' o homem se
centra em si mesmo, quanto ma¡s' é m'duzido para lss'o, tanto mals' se
dls'tanc¡ar'á da capacidade para a paz.
Ora, abstraü de m1m' mcsmo é uma renúncia que devo rcahzar°
e um samfí'cío quc dcvo fazcr. Ens' por quc a capacidade para a paz
sc tornará um dcsempenho a descnvolver-se conLIn'uamcnte c de
fonna scmprc rcnovada.
Não se trata aqui sxm'plcsmcntc dc palavras cdlñ'cantcs. Nós o
vemos funcionar dc forma concreta ao longo da v1'vênc¡a' da nossa
práms' tcrapêutl'ca, quando somos tcstcmunhas dc quc pcssoas con-
scgucm rcahzar' tal desempcnho no dia-a-dia de suas vidas.
Aprescntarci adnan'te alguns excmplos dcssa reah'dade.
Revestüse de concrctitude plcna tal constatação naquüo que
Franklcerta feita dcclarou ao apalavra aos pcsqmsa'dorcs da
paz Pcrguntava elc, na oportum'dadc, sc não cstana' mak do quc na
hora de, cxatamente em nomc da capacidade para apaz, amphar'-se
a pesqmsa' sobrc a agessivídade numa dnn'ensão decnsn"va, d1n"a
107
dccm"va para tudo o quc cstá emjogo. Vou citá~loz “Atualmente está
em moda convocarem-se congrcssos sobrc o tema da agressãa
Também a pcsquka sobre a paz conccntra-se ncssc tcma. Mas,
enquanlo nos aüvcrmos à mera m'tcrpretação do fcnômeno subu-
mano da “agrcssão” c não anahs'armos o fenômeno humano do
“ódio”, estará condenada, 0 tempo todo, a ser csténl'. O homem não
ccssará de od1ar', quando se lhc sugcrc quc éjogucte de mecams'mos
e 1m'pulsos. Somentc conscgmr'á superar a sua agrcssividadc quando
lhe provarmos que, cm pnm'cn"o lugar, não cns'tc ncnhum motivo
para quc odcie o outro. Em segundo lugar, que ele é livre, no que
concernc, não à sua agressividade em si mcsma, mas à sua atitudc
frente a csla. E, cm terccho lugar, quc cle é rcsponsách cabcndo-
lhe dec1'd1r' sc prefere ¡'dcnt1ñ'car-se com sua agrcssividadc ou dela
dls'tanaar'-se. Tudo depcnde da atitude pessoal face ao fcnômcno”.
A coxs'a se nos aprcscnta assm' concrcta, quando levamos a
sério atese de que o homem não é uma mônada cnclausurada dcntro
de si mcsxna, em que dctcrmm'adas rcações c funçõcs transcorrem
m'dcpendentemente de qualqucr mH°uência. Vivcnciar a humani-
dade, d1nam123r" a capacidade para a paz cnvolvc crcsccntc aprcn-
d172g'em no sentido de se conñgurar a vida em suas refcrêncxas'
concretas, a partü da sua d1m'cnsão cspm"tual.
E, se ñzcrmos lss'o, conforme a logoterapia proclama, também
conscgtur'cmos dommar' o fenômcno da agrcssão, quc exerce papel
decm"vo também na esfera política. Eu mesmo pus cm dúvida, por
muito tcmpo e fundamcntadamcntc, cssa lesc da logoterapia. Será
mcsmo uma possib111"dadc formulada por Frankl em sua crítica, ou
seria apcnas um sonho, ou o anseio utópico dc um m'comg1"vel
humams'ta? Ens't1n"a rcalmentc a possib1h"dadc dc não sc tcr ne-
nhum motivo para od1ar', de ser eu livre no posicionar-me frente à
mmha' agress1'v1'dade, de ser responsávcl por idcnüñ'mções ou dls'-
tanciamcnto...? Mas é precns'amente lss'o que conla. A capacidade
dc assumh atitudes livrcs é prccw'amentc o quc d15'ungu'e o homcm
do annnal' e o capacíta a não proccdcr dc acordo com o lema
segundo o qual a vida pcrtence aos fortes. Ccrtamenle a política
a1n'da se processa exatamente ncsse níveL Todo proccdxm°ento c
discurso reforça a suposição dc que não cxistem d1m'cnsõcs
humanas, mas apcnas a lei das rcaçoc's.
De quc modo cedeu mmha' resns°tênaa' à tesc de FrankL a
logolerapla'? Onde podeña tcr sido, senão na prática? Por mngu'ém,
a náo ser por pcssoas quc a si próprias e a m¡m' convcnccram de sua
veracidadc c cñcácia. O segredo da logotcrapia consns'tc no fato de
108
a veracidadc dc suas tcscs scr venñ'cada cxclusívamente no fazcn
Rcconhcccrá a vcrdade aquclc quc a opcrac1'onahza.'
0 que foi que aprendi das pcssoas e dcpo¡s' pude reahmr' cu
mesmo? Acontcceu em scssões dc tcrapia matnm'onial. Os
parceu'os matnm'omals" tmham' posiçocs' conflitívas, árcas de atrlt'o,
em que se acend1am' as agressoes'. Rcag1am' a ta15' situaçocs' com
destemperos verbals' recíprocos, abandono do lar e outros pro-
ced1m'entos ncgatw'os. Possuíam ambos curso dc psicologna' c con-
hccmm' e aceitavam a tcse da ab-reação. Todas as tcntativas para
conduzir as agressões acumuladas por canais positivos m'-
vana'vclmcnte fracassavam Surgiu cntão a scgmn'te sítuação, a
part1r' dc uma conversa quc v1nha' ao caso das partes contendoras.
A csposa unmr"a-sc muito com uma atítude do marído na hora do
jantan
A Senhora X: Notei a agrcssividade crescendo dentro dc m1m'
c prcssenti como aquele 1ní'cio da noitc ma" transcorrcr. Nada
adlan'tava, o meu esforço, não consegma' mals' defender-me de meus
próprios sentIm'entos. Isto scmprc volta a mc aoontecer.
Eu: Em vez de defender-se contra a agressividade, já tentou
algum dia renuncmr' a ela?
A scnhora X: De quc jeíto podería lsso' acontcccr? Ela está aí
e tem que 1r' cmbora por sí mesma.
Eu: Por acaso nnh'am para aquela noite algum programa
concrcto, feito cm conjunto, que teria dado scntido ao seu
relacionamento?
A senhora X.' Não, propn'amcnle. Apenas t1nha' cu uma vaga
csperança dc quc a noíte vicsse a ser boa. Mas cntão já comcceí a
1rn"tar-mc com1g'o mcsmo, porque s¡m'ples¡nente não consegma'
haver-mc com os mcus senüm'entos agrcssivos.
Eu: Vamos admitu' que tivcsscm planejado juntos algo con-
crcto quc tena' tido efcitos permcados de scntido para o scu
relacionamenta Não tenam' conseguido lidar com suas agcssoeg'
transformando o potcncial energético assm' líberado em algo posi-
tivo?
A senhora X: Tcntcí lss'o muítas vezes, mas logo surge o
bloqueio.
Eu: Talvez esteja na hora dc tcntar uma rcnúncna' a sua
agressiv1'dade. P01s' veja, a senhora a ng'or sc cncontra scmprc dc
novo diantc de uma dcasa"0 a tomaL Duas poss¡'b1h"dadcs se abrcm
a suafrcnte. Uma é a de se pôr cm conñito com a sua agessividade.
109
 Ouando sc dxs'poc' a combatê-la, ocupa-se constantcmentc com ela
e sucumbe na luta. Mas ens°tc, à sua dls'posíça'o, a outra possibi-
lidadc. É a de abnr' mão da agcssívidade, não ñcando prcsa ao
pcnsamcnto de quc algo dcva scr fcito nosentido da ab-rcação. D1ga'
a si mesmaz “Hoje farci algo ma15' sensato do que combatcr
agrcssoes'. Desxs°t1r'ei 51m'plcsmcntc delas, comprometendmme co-
m1g'o mcsma a tcr uma boníta noítc. Na próxuna' vez me mf'ormará
dos rcsultados
Fchzm'enle aquela scnhora accítou a proposta. Até a próxrma'
scssão houvc tempo suñcícntc c, para cla, muitos ensejos dc
cxpcn'ênc¡a'. O Natal c a festa deSão Sllv'estte sc m'terpuseram cntre
os nossos encontros.
Trcs^ semanas dep015,' foí pcrfeita a surprcsa. Em essêncna,' o
que me referiu aquela senhora foi o segmn'te: “Quando renuncio a
mmha' agrcssividade para fazer algo d1f'crentc , de muito mals'
sentido, eu sm'to como toda a agressívídade cntra em colapso.”
Slgmñ"ca lsso' m'tegxar-se no processo de encontro de sentido, ñcan-
do por ele absorvída de fonna produüva.'
Rccordo-me, neste passo, de um jovem senhor que trouxera
consxg'o para o tratamcnto um alto potcncnal' agressivo. Já o seu
modo brusco dc abnr' a porta c cntrar mc puscra dc sobrcaws'o.
Pancadanas' cstavam para cle na ordem do d1a.' A cada provocação
reag1a' de acordo com o mesmo padrão dc rcvide. Pretcndia cngajar-
se em defcsa da justiça c da paz. Todav13,' o seu procedlm'ento
costumeüo frustrava de forma permanente taJs' objetivos. Seudesejo
era autêntico. Seu ag1r', ma'utênt.ico. Também com ele proccdi a um
tremam'ento dc renúnaa' à ação agrcssnv'a. Na medida cm quc a
qucstão do senüdo se lhe aprcscntava mals' concrcta c cm que
assum1a' o compromlsso' da procura dc sentido, conscgu1a' reallzax' a
renúnaa' gcnuínzL
Mas o maior progrcsso de aprendlzag'em fez ele procurando
transmitü aos seus amigos o que constatara no decurso do
proccdlm'cnto terapêutico. Sucedcu quc, ücqücntcmcnte, após as
partidas dc futcboL dc quc participava no estádio olímpico, con-
segma' rcagu' contra as suas tensõc.,' elevadas de forma não-agres-
siva, motivando a outros dc também assm' procedercm Motivou-os
a empreenderem após o jogo,algoquc tivcsse sentido, por exemplo,
conversas sobrc osvcrdadeüos problemas da vida, c procurar
soluçoes' permeadas dc sentido.
Ao reücür' globalmente sobre o que ali rcahzar'a, acendeu-sc~
lhe, por assnn' dnzc'r, uma luz na mente.
110
-.x_.
Contrariamcnte ao quc não raro sc pcnsa, ocorre não
acontecer, dc modo invariáveL que no futebol sc acumule
agessividada Com bastante frcqüência sc dá cxatamcnte o opostoz
“Após o jogo, não raro nos acomcte um senüm°ent0 de auséncía de
scntido tão vecmentc que s¡m'plesmenlc somos levados a ancstesná'-
lo. E cntão fazcmos oons'as que propriamcntc não quercríamos
fazer”. Trata-se de agressividadc compensatóna'.
Ficam confirmadas, assim, mais uma vcz, duas teses
logotcrápicasz
Pn'me1r'atese: ausência de scntido traz consxg'o agressivídade
c 1n'capacídadc paxa a paz, “po¡s' a paz no mundo não é amcaçada
apcnas pclas armas. O peng'o é ídéntico quando as pcssoas se
tornam m'tcríormcnte ms'cguras c não sabcm mals' cm que acreditax
e para que viver.”
Segunda tese: plenirudc de sentido possibilita renúncia à
agressãa
Não é que sempre se tcnha conseguido praticar tal rcnúnm'
Mas ncsse caso as pessoas encaram cssc fracasso, responsabxlmn"do
a si própn'as por ele e não aos outros. A renúncia jamals' tern sido
fác1|,' mas tomava-se possível na mcdida cm que se lhes deparava
um objetivo pleno de scntido, compensatório da renúncia.
Relativamentc à capacidade para a paz, cabe perguntar sc a
paz não possui uma ñnaüdadc tão aJta c plena de scntido que vale
a pcna aprcndcr a renúncia à agrcssão por amor a cla.
Quero, contudo, acrescentar, às consíderaçõcs ac1m'a feítas,
uma obscrvação quasc quc hipotéticaz sabemos da mcdicm'a quc a
cólera e a ansicdade liberam noradrcnalma - um hormo^m'o de
ataque - ou adrenalma' - um hormônio de fuga - produnn'do-o
respectivamcnte cm doses reforçada5. Sob o aspecto médico é
¡m'portantc a pergunta como esse hormômb produzido a mals° se
dcsm'tegra c é rcabsorvido, por exemplo, através da motricidadc ou
da mg'estão dc ahm'ento, uma vez quc se trata de processos dc
combustão.
Podem, no entanto, ser reabsorvidas a noradrenahna' c a
adrenalm'a, quando se dcsxs'tc da agressão? Exatamcnte esta per-
gunta tenho eu fcito ult1m'amente reiteradas vezes a médícos e é
assombroso para m1m' venñ'car que rcspondiam añrmativamcnte a
mmh'apcrgunta, considerando, po¡s', possível tal rcabsorção. Ocorre
quc renúncia é um descmpenho c tal desempenho poderá
possib1h"tar uma rcabsorção.
111
 São cstas possibmdadcs tcrapêuticas quc sc rcvclam quando
ansamos c argumentamos a partu' de uma antropologia quc sub-
juga o monadls'mo e o reducíomsm'o. A logoterapia se alíccrça cm
prcmxssas' antropológicas que possibth"tam dar-sc um passo adiantc
ELISABETH LUKAS
cm dücção à capacidadc do homcm para a paz. Tudo aquüo que
tcm sido dito no am^bíto da logotcrapxa' a rcspeito da procura de
sentido c dos proccssos dc cncontro dc sentido podc ser, scm mals,'
aplicado à aprcnd12ag'em c educação da capacidade para apaz. Não
conhéço modelo psicológico do qual se podena° añrmar ísso.
Sobreviver - para quê?
Alcançar a capacidadc para a paz é hoje o scntido dccnsx"vo, para Respostas a perguntas sobre o destino
cuja reahza'ção fomos convocados.
Permitam-mc cncerrar esta minha exposição citando E.
Lukas: “Toleran^c1a'”, - e por tolcran^cia entcndo agora um marco
referencíal da capacidade para a paz - “pressupóc forte orientação
para o sentido, ao passo que a m'tolcran^cia é um sm'al” - não dc
ausência dc sentido ou apcnas ausência dc scntido, “mas de uma
oricntação de sentido unüateraL reveladora dc estrcíteza mental...”
Enscjar amplas reahza'çoc's dc sentido, supcrar a ausêncía dc Há cerca de 3,5 bdh'ões de anos, dccidia-sc a formação de doxs'
sentido e a orícntação dc sentido unüaleral c estrcita e assm' d1f'crentes prm'cípios dc vida na Tcrra, válida até o prescntefL.N-
possibütar o ítm'crário rumo à capacídadc para a paz é c permanece Mucle tcm o ur ' am os pnm'eu'os ermcs dc vi a. E_r__amñcélulas
o m'teresse central da logoterapla'. ' ' r ' rfÍrTha c células

Q
Jmscm'. Obra do acaso, ou não, o ccrto 6 quc da presença ou
da ausência dc porñnn'a passaria a dcpcnder a capacidadc das
rcspectívas células. Trata-sc da capacidadc de claborar, com mate-
rial m'organ1^'co e a ajuda da luz do Sol, o potcncial cncrgético
neccssáño à vida, ou da depcndêncía da busca do ahm'ento à base
de substãncías orgânicas. As células com wgnao ' foram as
pn'vd'egiadas, porquanto, para viver, nccessitavam tão-só de mate-
rial m'orgam^'co e da luz solar,já então exzs'tente em supcrabundan^cm'.
Das células com porñrm'a formaram-se os cloroplaslídios, que até
hoje têm por tarcfa utlhzar" a fotossíntese na célula viva c tornar, por
esse meio, m°dependcntcs os vcgetaü da apreensão c matança dc
outras formas de vida. O mundo das plamas é o prm'cípio “pacíñco”
de vida do nosso planeta.
Ao contrári0, as células dcsprovidas da substan^cia química da
porñnn'a, desdc o ms'tante dc seu surglm'cnto, traziam consigo a
tendêncía compulsiva à desmziçãa Imposs¡'b1h"tadas de unhzar"em a
encrgia solar para as suas trocas v1'la15', sua sobrcvivêncía se tcm
prooessado à custa da vida alheia, que m'corporam a si como ali-
mento, dclc recebendo a energia nccessária. Todos os amm'ms',
m'clusívc o homcm, constituídos dcsse elemento cclular a parlü dc
sua ong'cm, ñcaram m'clutavelmentc sujeitos ao mesmo pnn'cípio

113
112
vilal “agrcssivo”: ncccssitam 1n'corporar mateñal orgâníco para não
pcrcccrcm dc fomc, scndo, portanto, obnga'dos a caçar, domesticar,
malar matéria orgânica, ou seja, sercs vivos. / | fossc um “sun'" c dzz' “s¡m'”, quando prcfcñríamos quc fossc um
Sc nos fossc dado, à luz da razão, profenr' julgamento sobre
ambos os pnn'cípios vitals,' é m'duvidoso que, ao ñnaL chegarfamos
à conclusão de que o pnn'cípio vítal “agrcssivo” não é apenas menos
favorecido sob o aspccto biológico, mas representa, outross¡m,' uma
mf'cn'oridade sob o aspccto étíco, cm rclação ao outro pnn'cípio.
Efeu'vamente, csta últ1m'a ñcará scmprc a dcpcnder da cxrs'têncxa'
dc um mcio vivo apropna'do, ao qual é compelido a ameaçar e a
dcstrun'. Contudo, não obstantc Lss"o, a naturcza, cm sua ms'ondável
sabcdon'a, proferiu uma outra rcsoluçáo. Com toda a cvidência,
favoreceu mals' o pnn'cípio vilal “agressivo” do que o “pacíñco”.
Equipou o homcm de órgãos de sentido, que conslítucm os
pnm'eiros degraus da consciência. E, ñnalmente, beneficiowo
faLc'ndo-o partfcipe dc uma dtm'ensão espin'tual.
Na verdade, o 1m'pulso destrutivo continua afctando a vída
humana. Os vegetarianos mals' austcros não podem evitar dc nutnr'-
se dc material organl^'co para a sobrcvivência própria. Contudo, com
a d1m'ensão csp1r'itual, sun'ultancamcnte sc abria para o homem a
nova perspectiva. O cspíñto pode norteax c mit1g'ar a agessividade,
conduú~la por camm'hos suportáveü e até mesmo contrapor-se a
ela. 0 espírito pode conjugar o un'pulso destrutivo à vontade de
preservar e desenvolver. O espírito pode relativnzax' a herança
destrutiva de suas bases celulares através da criatividade construtiva
dc sua cnerg1a' dc trabalho. Talvez não dcvessc causar surpresa o
fato de que prcc15'_amcntc ao pnn'c1'pio vital “agressivo” c não ao
pnn'cípio vital “pac1f1'co” fossc gratuilamcnte outorgada a faculdade
do controle cspm"tual sobre a agressividadau Talvez lss'o possa
desvendar-nos um mm'úsculo aspecto daquela m15'teríosa meta, para
a qual a evolução ñrmemente sc encammh'a. Deveras, ao que parece,
em algum lugar e em ms'tan^cia fmal tudo o que é ncgativo há dc ser
susccptível dc ser afastado.
Reconheço que é uma pcrspcctiva m'oomum csta de con-
siderar a d1m'cnsão espüitual do homem como contraposição a um
pnn'cípio dcstrutivo bíologicamentc hcrdado. Ocorrc que somos
m'clm°ados, desde tempos 1m'emonals," a relacionar a rcalidade cs-
pm"tual com representações ideahs'tas dc conhec1m'cnto, rcvclação
e transñguração. No cntanto, fortcs razoc's cxxs°tem para aceitarmos
que o plano espm"tual do homem de modo algum sc harmomza'
m'van'avclmentc com outros planos ems'tcncia¡s' humanos. Encontra-
sc mcsmo, não raras vczcs, em contraste com rcalidadcs f¡s'ícas c
114
psfquicas, ou scja, cm contraposíçâo a xms' rcalidadcs. O cspírito ó
algo que grita um “não” em nosso ínum'o, quando qucrcdamos quc
l “não”. É algo que susta nosso passo, quando qucrcríamos ccga-
mente avançar, c nos cslun'ula à aça'o, quando cmocíonalmcntc
hcsítamos, algo quc nos ur'a a pa7, quando crramos, c nos loma
fortcs, quando paxr'a sobre nós a amcaça dc fraqucjarmos.
Convivemos, po¡s,' dc um lado, com o pnn'cípio vital “agrcs-
sivo”, do qual somos parte, e quc, desde nossas raízcs gcnéu'cas, 6
compulsivamcntc on'cntado para a v¡'olénc¡a' c o egoísmo. Por longo
tcmpo acrcdilava-sc que os am'ma15', pclo mcnos cm rclaçáo a sua
própria cspécic, fosscm muito maxs' lolcrantcs do que o homcm c
que nunca se mñxglss"'cm lesões rccíprocas dcsneccssán'as. Todavm,'
pesqms'as reccntcs sugcrcm mals' cautcla cm tals' afirmalivas. Nâo
são apenas as lutas costumcüas rclacionadas com o parccko scxuaL
o tcm'tório e o alun'ento que sc dcsenxolam com cxttema crucldade
no mundo amm'al. Além dlss'o, em 1300 espécícs amm°axs' foi consta~
tada a cms'tência dc canibahs'tn0. Assun', avcngu'ou-sc que três cntrc
quatxo dc todos os ovos de gralha e ñlhotcs saídos da casca cram,
despedaçados a bicadas pclas gralhas adultas. Obscrvaram-se
salamandras vivíparas, cujos ñlhotcs aln'da no ventrc materno sc
mordem c dcvoram recíprocamcnte. Amostra perfeila do vetusto
pnn'cípio destrutivo são os peücs do gêncro “st12'ostcdion”, que
cngolcm pela cauda pelx'cs dc sua espécic. Foram observadas sérics
de quatro dcsscs pcm'cs, que dcvoravam os outros c sun'ultanca-
mcnte eram dcvorados por eles. No cntanto, nós homcns não lcmos
nenhum motivo para divcrlümos com tal realidade, uma vez quc, à
nossa manelr'a, criamos, na socicdade, sérics dc desatmo semc~
lhantes e am'da ma15' exIensas. A luta por dcspojos c terra e a
rivalidadc cntrc os sercs da mcsma cspécie cncontra-sc pré-or-
dcnada nas células do nosso corpo dcsdc tcmpos 1m'emon'a¡s'.
Por outro lado, no entanto, depar'a-se o homem com o raro
presentc da natureza, que lhe foi dado há poucos ms'lantes se
compararmos a sua ong'cm mm a idadc da Tcrraz o cspírito
humano. A substância espm"tual possui a sua própria normativi-
dade, que lcntamentc estamos comcçando a cntcndcr, não em
úlüm'o lugar graças aos resultados das pcsqms'as da logolcrd'pxa'.
Efetivamentc, o cspírito dc modo algum sc oricnta segundo
motivaçõcs brutals' e egoístas. Nem neccssita, lampouco, dc matcrial
m'orgam^'co ou orgânico, nem do 501 ou do solo como fontes de
cnergia. Neccssita, ls'to sun,' dc um elemcnto dc cspécic bcm di-
fercntez o espírito necessita de sentida Sendo que a plenitudc dc
115
sentido do ser não é mcnsuráveL o elemento cspüítual é 111m1"'lado.
Embora, na forma em quc o conhccemos, scmprc sc encontrc ligado
a bases biológicas, permanccc livrc em sua essência. Como se vê, o
princípio vilal “agrcssivo”, surgido há 3,5 bnlh'ões dc anos, 1m'erge
num pnn'cípio dc scntido m°tcmporaL
Quando transpomos tals' conhccnm'cntos no dia-a-dia da
práxxs° psícotcrápica, topamos com vcstígios de ambos a todo passo.
A cada docnça psíquica adere um sopro de destruu'b111"dade con-
dicionada pela naturezaz o fraco, o m'capaz para a vida dcve ser
ehm1n"ado sem píedade na concorrência competitiva. Ao observar-
sc o comportamento de pcssoas 1ns°távc¡s' ou doentes, forçoso é
admit1r' quc não raro fazem exatamente aquüo quc lhcs é prejudíciaL
Como quc tangidas por íncomprcensívcl compulsão, opcra~
cionahzam' a sua própria mf'elicidade. Para o aconselhante, médico
ou tcrapcuta é duro testemunhar quanto sofnm'cnto desneccssário
m'fligem a si mcsmos pacientcs que podcriam levar uma vida
mcdianamentc livrc dc problcmas. Basldn"a para tanto serem um
pouco mals' seguros e tranqud'"os. Em contrapartída, os proñssionak
antes mencionados também se deparam com situaçõcs opostas
àquelas. Pessoas que o destm°o trata com dureza, oncrando-as com
1m'ctccidas aflições, crcsccm cspm"tualmcnte ac¡m'a c além do seu
destm'o, produzmdo adm1r'ávels' reahza'çõcs, quc absolutamente não
se encontram em consonam^'a com o quc deñmm'os como fraqueza.
Enxcrgam um sentido cm sua vida e, para rcahzar' tal sentido,
obstm'adamente se armam de energias quc propriamente as cu'cuns-
tan^cias de sua vida não lhes proporcionariam
Da logotcrapía se dlz' ter sido ela a primeira corrente
psicológica a ms'er1r' os fenômenos cspm"tuals' cm seu conccito do
homem. Acrcdito quc ms°so há uma grande subcst1m'a. A logoterapia
não m'clui apenas fenômcnos espüituab em seus proccd1m'entos. A
ela pertence o mérittg 1hm1'"tado de havcr descoberto a contmposiçao'
do espírito humano 1) c com ls'so a chancc dc csta neutrahzax' as
forças destrutiva5. Assun' como a natureza promoveu a passagem do
pr1n'cípio dc vida “agressiva” para o pnn°cípío de sentido, também o
docntc psíquico que causa danos a si mesmo com seuà temores e
problemas de relacionamento, senüm'cntos de mf'erioridadc ou
depressões, poderá gum'dar-sc ao tn'unfo espm"tual sobre suas
deñcíêncías, transformando o quc nele há dcncgativo cm reahza'ção
1. Efetwa'mentc, Max Scheler dcñníu o homem como “aquclc quc dlz' não”
(Ph11'osophischc Weltanschauung, ch, 1954, pág. 12A).
116
positiva. O ass¡m' chamado “mal” está no mundo e no coraçâo dc
todos nós. Mas também, dcsdc o alvorcccr do pcnsamcnlo humano
o assm' chamado “bem” se tornou objclo dc rcflcxãa Añrma-sc na
luta pelo sentido, quc m'variavclmente implica uma luta do homcm
consigo mesmo.
Tivc sob meus cuidados por tcmpo maJs' ou mcnos prolongado
uma pacientc quc sofria de tcmor tcrrível e complctamcntc m'fun-
dado de ter câncer. Rcileradas vczcs, durante o dia, cxaminava ela
mm'uciosamente o próprío corpo, à procura de qualqucr índfcio da
doença. Com tanto apalpar-sc c examm'ar-sc não lhc sobrava maxs'
tempo para nada na vida, cntrcguc como cstava, por m'tcu'o, ao
medo do can^cer. Ocorrc quc essa paciente cra muito religiosa, mas
tmh'a dcsaprcndido a rezar. Isto, por sua vc7., lhc causava graves
conflitos dc consciência, pelo reccio, alojado no fundo da mcntc, dc
quc a sua mudez espm"tual vicssc a ser uma razão a maxs' para
contraü a docnça por castigo dc Deus. Dcpons' de me ter contado
tudo 1s'so e ao mesmo tempo tcr díto vcn'ñcar-sc partícularmente dc
manhã a sua maior cns'e, a ponto dc o tcmor quase 1m'pcdi-la dc
lcvantar-sc da cama, ñz-lhe uma proposta m'cspcrada. Recomcndei-
lhe quc ñzcsse, todos os di45', ao despcrtar, pcqucna prccc matm'al,
com estas palavrasz “Meu bom Deus, agradcçülc pcla saúdc quc
tcnho!” Quando o temor subjctívo do can^cer a afetasse, agradeccria
por estar objetivamcnte livre dcle. E o quc me rcfcriu cssa pacicntc
dcp015' dls'so? Que a pmür dc cntão consegum'°a crguer~se da cama
sem problemas c iniciar animadamente o novo dia. lsto é a
contraposição do cspírito humano: o scnnm'cnto 1rr'acional dc eslar
doente encontrava resposta na certem agradecida dc cslar com
saúde. O temor como destm'o põdc scr miügado pela conñança num
.<›'upersentido.2 Evidentemente foi 15'so apcnas pequeno delalhe no
conjunto dc proced1m'ento dc rccuperação da pacientc. Valcu, no
entanto, como sm'al indicalivo dos cam1nh'os quc a logotcrapna'
cscolhcu.
Numa outra sessão aprendcu a rcfcrida senhora a u'omzar' o
seu medo do can^cer. Pôs-sc na frcnle do espelho, conlemplou o
próprio corpo c dls'se à guns'a dc m'trodução: “O quê? É para cu tcr
2. ankL quc cm 1946 introduziu a concepçáo dc “supc¡scmido" (m'
“Alztlw'he SceLrorgc”) na logotcrapia, mals' reccmcmcntc sc rcfcre também a um
“mcta-scmido" (“D1e' SLMfiage m' dcr Psychodmapie”, Muních, 1981, pág. 72).
Partindo da tcsc dc quc “quamo ma¡s' abrangcntc for o scntido, lanto mcnos
compreensivcl clc scrá", cntendc ele quc o scmido úhimo por ccno “devc uma-
passara nossa capacidadc dc aprcensão” (loc. cit., pág. 150). Logo a scguir, porém,
acrcscenta quc o “superscmído" nada tcm a vcr com o “sobrcnatural".
117
 um can^cer? Mas Is'to não é suñcíente! Pcla predüeção quc sm'to por
cssa docnça, para mc conlcntar, dcveriam ser no mímm'o dez
“can^ccrcs”. Um só é muito chato'.” De tamanha ms'ensatez cla
mcsma tevc dc nr' c com lss'o a compulsão sc dcsvancccu. Na medida
em que conseguia dcsmascarar o tcmor por csse meio, o podcr do
mcsmo sobrc cla ia enfraqucccndo, até cessar de atormentá~la.
Chegou ñnalmcntc o tcmpo em quc a ncurose cstava prcstcs
a desapaxeccn Tratou-sc cntão de promovcr o rctomo da pacientc
à vída normaL O cspclho, em que tensa, duranlc anos contemplara
o scu corpo, deveria a partü dc cntão tomar-se transparentc (em
sentido sxm'bólico), cada vez mals' transparentc, até transformar-se
num vidIo dc janela, que franqueia a wsa"o do mundo exIerna Só
quem conseguc sa1r' da frcnte do cspclho ou delxar' dc obscrvar-sc
constantemente a si mcsmo e que, afora sua própn'a pessoa, poc'
dentro do scu campo v¡s'ual outros contcúdos s¡gmñ"cativos da vida,
pode considerar-sc sadio. Quem, ao contrário, ñca dc prefcrência
rummando seus pcqucnos ou grandcs problcmas contmua sob a
mcsma ameaça, p01s' a rccaída na neurose depcnde do cu c da
1m'portan^cia quc se lhc atn'bui.
,4
Já antes dc nossa terapia havcr sido concluída com êxito, nossa
_4
conversa dmxar'a dc g1r'ar cm torno da doença, cânccr e ansiedade.
Falávamos sobre amlza'de, cxcursõcs c fotos artísticas, sobre prcsen-
tes e receilas de tricô, sobre a aprendlzag'cm de línguas eslran-ge¡r'as
e sobreviagens de avião. A mímica da pacíenlc dcscontraíra-se, seus
movimentos foram se tomando mais cspontâneos, seus olhos
começaram a somr' novamcnte. Encomrou nova5' perspcctivas c
~de-.
projetos c gradativameme foi adqmr'm'do novos m'teresses. Além
dlss'0, o cxercício dc g1n'ástica como apoio terapêutico a ajudou a
_¡.L.
restabclecer um relacionamento positivo com o corpo. Ccrto d1a,' ao
.-
térmm'o da sessão de terapia, am'da me conñou um pequeno
segrcdoz Há algum tempo acalentava, dc forma 1mn"terrupta, a idéia
de quc delcrmm'adas comidas podenam' causar~lhe oclusão m'tes-
. v-. .A._
tm'al. Então d15'sera ela a si mesmaz “Esperc um pouco, a neurosc
obsessívo - compulsiva qucr agora concentrar-sc cm meu m'testm'o,
dcp015' que já não consegue acionar os fantasmas de terror do
can^cer. Vou já trancar-lhe a porta!” Após 1s'so, por obstm'ação,
passou a comer tudo o quc se lhe añgurava como pen'goso. Ora, o
temor da oclusão m'tcstm'al nunca ma15' se mamf'cstou. Podc-sc
un'ag1n'ar quanta alegria senti com ls'so, juntamcnle com a pa-
ciente,pms' contra tal “poder de obstm'ação do cspírito”3 nenhum
3. Comparc com o capftulo “A obstinação do espírito” da obra “Psicoterapia
pam todos” (cdição da Hcrdcr. n9 387).
118
sm'toma ou sm'loma dc compcnsação conscguc añrmar-sc. É nma
garanlia absoluta dc cslabilidadc.
Até aqu¡,' cm poucos lraços, o hns'tón'co dc uma docnça.
Rclatci-o com o ñto dc demonslrar uma dupla conslatação da
logoterapiaz “0 dc quc cxxs'tcm, no homcm, dc um lado, forças
cspm"tua15' c que clas são capazcs dc sc colocax'cm, por outro lado,
em contraposição a todas as restantcs forças psfquicas c somáücas
do homenL O modo pclo qual corpo, cspírilo c alma formam uma
unidade, e contudo o cspírito pode dns'tanciar-se dcssa unidadc c
ag1r' aCIm'a â além dessa unidadc, sc prcciso for, é um scgrcdo
metafísicof Em quasc todas as docnças o fator orgânico c a
dls'posição hg'ada ao sentnm'cnlo se m'tcr-relacionam: adoccc o
corpo, declm'a a d15'posição psfquica; adocce a psiquc, o corpo
acompanha a situação, produnn'do todos os sm'tomas possívc1s'.
Contudo, as forças cspüituals° do homcm não se dobram m'exora-
vclmcnte diante de uma docnça. Consegucm conLrapor-se a clzL
Tanto a capacidadepara o utodistanciamenro quanto a capaadade'
para a autotranscendência, ambas poténcias cspm'°tuals' descobertas
pela logoterapia, constituem, no fundo, forças de contradíção, por-
que podem opor-sc a d15'posiçocs' ln'tcrnas, afetos, confusoes' e
fraquezas do rcspcctivo sujcito.
Quando a pacientc com fobia dc can^ccr passou a 1r'omzar' o
seu medo permanente, dcscjando Icr prccns'amcntc dez formas dc
can^ccr ao invés de apenas uma, fcz ela romper~se o processo
neurótico da doença mcdianteforça espu'1'tual. Quando, sem atcntax
para a sua desgraça, memonz'ava vocábulos m'glcscs c forjava
projetos dc viagem, ignorando amplamcme as suas compulsoes,'
fazia ela oposição espm"tual a sua docnça. As técm'cas da “1n'tcnção
paradoxal” c da “dcrreñcxão” dc quc se tralava, as quans' nada mms'
são do que efeitos rcsultantcs da força de rcs¡s'tência cspm"tua1 para
fms tctapêuticos, nunca funcionariam com tão surpreendentcs
resultados se de antcmão não cns'us'sc a possíbmdade fundamcnlal
4. Fclmenle nanscmprc há ncccssidadc pam lanto. assim como “o homem
não precnsa', incvilavclmcmc, fazer uso do podcr dc obstínação do cspfn'lo, pons'”.
accntua Frankl, “pelo mcnos com igual freqüencia com quc se añrma como pcssoa,
apcsar da hcrcdílan'edadc, apcsar do mcio ambientc e apcsar dos scus impulsos. clc
sc afirma como pessoa também gaças à hcrcd|'tan'edade, graças ao mcio ambiente
e cm vznudc' de scus impulsos" (loc.cit.).
5. Maíores detalhcs rcfcmmcs a ambos estes “fcnOmcnos cspecmcameme
humanos" encontmm-se no capflulo (“E.ust'mzanabysc und Lagothempif do
“Handbuch der Ncwoscnlchc und Psychothcrapie“, (cdilado por Viktor c Frnnkl,
Viktor E. von Gcbsattcl e J.H. Schultz, Munique, 1959).
119
 dc “á;ontrapor-se” naquüo que dcnommamos o clcmcnto espm"-
tuaL
F¡z' refcrência a uma dupla constatação da logotcrapia, mas,
cstritamcntc falando, uma tcrceüa dcvcña ser-lhe acresccntada,
talvcz a mans' un'portantc de todas. Todas cssas forças c capacidadcs
quc dcñucm da d1m'cnsão csperual do homem e lanto podem fazcr
frcmc ao pnn'cipío dcstrutw'o bio-hercditário como a proccssos dc
docnça individual, não sc cncontram incondicionalmente
dkponívck em rclaçâo ao homcm AñrmcL na verdadc, quc também
clas necessitam dc uma fonte dc cnergia. Esta fonte dc energia é a
percepção do scntido. Dlz' um vclho provérbioz “Qucrer é poder”.
Mas qualquer médico, psicólogo ou psiquiatra conñrmaña quc a
cmsa' não se passa com tanta sxm'plicidadc. Só a vontadc não é
suñciente. O provérbio podcn'a scr reformulado dc outro modo,
cssencíalmentc maxs' próx1m'o à verdadez “Nós podemos, sc souber-
mos por que devcmos...” Sigmñ'ca que somente quando há, atrás da
_
vonlade, um porquê c se trata, pors,' realmcnte dc uma “vontadc dc
sentido", em busca de uma ñnalidade para nós tão valiosa que se
desejaria alcançá-la dc qualqucr modo como larcfa pessoaL então,
s¡m,' jorra a energü da potencialidadc cspm"lual capaz dc supcrar
muito “não-posso” ou "não acrcdito consegmr'”.
~_. _4
Exemplos múltiplos c díversos constantemcntc cstão a conñr-
mar quc, seja qual for o homem, embora enfermo, idoso ou dcñ-
ciente, toma-sc ele capaz, se tivcr díamc dos olhos um conteúdo que
dê sentido ao seu csforço. Os exemplos abrangem mães que têm
ñlhos pequenos em casa c s¡m'plesmentc não adoecem, quando não
nWA
podcm faltar às crianças; comprcendem dchn'qüentes que por amor
a uma pcssoa conscguem renuncmr' a todo o seu passado; envolvcm
pessoas cegas c surdas quc, cm contrastc com a sua dcñciêncxa'
._,v_. _¡.
orgam^'ca, reahzam' obras grandiosag c culminam em moribundos
».›.
que, para sobreviver a detcrm1n'ada data ou cvento, lograram adiar
.
o momcnto da própria mortc. Quão un11'alcral sc conñgura, com tal
v¡s'uahza'ção, a tradicional pcsquxs'a p51'cossomáti04,'- a qual m'ccssan-
temente se esforça por dcscobm' a cxtensão do contríbuto psíquico
numa doença orgânica e até hoje não chcgou a pesquisar a
amplitude da contribuição propríamentc espm"tual para a saúdc de
um homcm! Somcnte graças aos rcsultados de pcsquisa da
6. Maioncs detalhcs sobre ambas cstas ténicas - as publicaçbes de Frankl
sobrc elas recuam ao ano de 1939- cncontram~sc no meu lxvro' “V0n da Txfm - zw
Ho'hmpaychologzc”' (Editora Hcrdcr, n° 1020) e na obra dc ankl intitulada “Ladcn'
am mml'osm chen” (Edixora Hendcr, n° 615), no caprtulo sob a mcsma epfpafe.
120
logoterapia podcmos, no mín¡m'o, ptcsscnlü as possibüidadcs 1'mcn-
sas e cm grande parlc nâoaprovciladas pam a conscrvaçáoda saúdc
dc Iodo um povo. Tais possibilidadcs dcvcrão lcvar a sc propiciarcm
oportunidadcs dc on'cnlação pcssoal dc scntido pma todos ou pclo
mcnos a evitar scjam bloqucadas lms' oponum'dadcs, confonnc
lamcntavclmcntc não raro tem succdido nos países allamcntc m'dus-
Lnahza"dos. Bibliolccas m'lcu'as foram mcritas sobrc a mfl'u6nc¡a'
negativa da pcrturbação cmocional sobrc o organisma Mas ondc
cncoutrar as cnciclopédias para consulta accrca da m'nuéncia cspí-
n'tual positiva quc a força dc vonladc e a plcnitudc m'tcn'or dc
scntido podcm cxcrccr sobrc o corpo c a alma7 Aprcndcmos
suñcíentemcnte bcm a inupçdo psfquica da docnça. Estaria cm
tcmpo conccntrar-sc a atcnção cicntíñca na prevençdo psíquim das
docnças.
Permito-mc rclatar um caso cm quc ambas estas siluaçocs' dc
certo modo sc ñzcram prcscnlcs.
Uma médica, que cstivcra pcla vída toda cnvolvida com o
serviço hospitalar, procurou-mc por causa dc dcprcssocs' profundas
c pcrsxs'tentcs. Havia do¡s' anos adocccra dc moléstia rcnal c do
aparclho digestivo c, após submcter-sc, por longo tempo, a
tratamcntos, ñnalmcntc tcvc dc sofrchr uma m'tcrvcnção c¡r'úrgica de
vida e de morte. Após a opcraçâo, fora cla dcspedida do cmprcgo
e aposentada por m'validez. A parm' dc cntão lhe cram pcrmancn-
tcmeme prcscritos est1m'ulamcs psicotrópicos, mas ísso, não
obstante, tornava-se cada vcz mak lns'tonha c depnm1'°da. Sua von-
tade de vivcr bruxulcava, ameaçando exun'gu1r'-sc.
Com uma única convcrsa logotcrápica pude reahzar' uma
mudança copernicana cm sua mcnle, quc a m1m° mcsma causou
surprcsa, porque seus efcítos sc rcvelaram posiliv05 não somcnlc no
plano psfquico, mas lambém sob o aspcclo físico. Não somcnle sc
dlss'iparam as sombras da deprcssão, mas a médica vcm passando
tão bcm de saúde como há muito tempo não acomecera. Casual~
mente possuo a gravação do diálogo lcrapêutico - cvidcnlemenlc a
gravação foi feita com anuência da pacicntc - c posso reprodua'-la
palavra por palavra. Mostra, a mcu ver, com bastmtc nitidez como
a sxm'plcs clariñcação da poss¡'b111"dade de scnüdo poc' em movun'cn-
to forças espüituak não utih'La'das. São forças, sobretudo, dc
re315'tênc1'a contra a rcsiguação e o desespcro c por nsso' Lm'unuam"
contra numerosas doenças.
Aí va1,' poxs', partc do nosso diálogoz
121
 Ela: Fiquci profundamcntc abalada ao scr despedída por motivo de
doença.
Ew A scnhora gostava do seu servíço no hospital?
Ela: Não, propn'amentc, mas eu nunca o teria delxa'do por m1nh'a
própna' 1n1"cíativa.
Ew Por quc não, se não lhe agradava o trabalho que aí fazna'?
Ela: Bem, sabe, cu sempre tcnto fazer tudo do melhor modo
possíveL Não deskto tão facdm'ente, seja qual for o lugar cm
que trabalho.
Eu: Não eus'tma," qucm sabe, um lugar cm quc se sentma" mclhor
do quc no emprcgo de módica dc um hospital?
Ela: Sxm,' acrcdito quc 51m'. Muitas vczcs mc afhgla" por não en-
contrar tcmpo suñciente para os docntcs. Tudo devm' ser feito
apressadamente. Coma'-sc de cama a cama, fazendo exames,
4
aplicando m'jeçocs', fazendo curatívos, controlando a tem-
peratura e já sc cncammh'ando para o próxzm'o doentc, como
Qe fosse uma lmh'a de montagcm...
w_4
Eu: Quando d1z' que por si mesma não tcría detxa'do o cmprego, de
N_
quc modo o destmo poderia h'vrá-la do serviço hospitalar, para
alguma vez na vida propiciar-lhc a oportunídadc de assumnr'
uma tarefa mals' adequada e mals' dcscjável?
Ela: (muito pcnsau'va): A scnhora acha que só com m1nh'a docnça
c a dcmlssa"o quc se lhe seguiu podla' eu ñcar lívre de um serviço
de que não gostava, para ñcar lívrc para fazer alguma cms'a
_. v_ -. _.
d1f'erentc? les'o cu am'da não havia pcnsado... mas, v1$'to de
mals' pcrto, tem proccdência.
~-._
Eu: Quando a senhora estava gravemente enferma e até mcsmo em
unídadc de tratamcnto m'tensívo, pau'ando cntrc a vida e a
_.<V._
morte, dependia muito, como sabc, médica que é, de sua
dls'posição m'tema. Tmh'a então o dcsejo de viver, quena'
sobrevívcr?
Ela: Slm'. Talvcz não dc modo muito consc1'entc, mas eu queria
sobreviver.
Eu: Sc queria sobrevivcr, quena' sobrcvivcrpam alguma cozs'a. Por
favor, tente lcmbrar-se do que a lcvava a dcscjar sobrcviven
Em que pensava naquelas horas críticas?
Ela: Parecc~mc ter pensado que sería pena eu morrcr nessc mo-
mcnto, porque eu não tena,' por assm' dnze'r, dado o mclhor de
mmh'a capac1'dadc. am'da não lcña ofcrccido o mclhor de tmm'
mcsma...
Eu: E agora, que scu dcscjo sc reahzo'u... A scnhora sobrcw'vcu. Está
h°vrc do scrviço hospitalan Possuí agora aquüo dc quc nunca
dls'punha como médíca de hospital para os scus pacícnlcsz
tempo. Aquí está oprcscnte de cstar viva c o prcscntc dc dispor
dc tempo. E é ondc se situa a sua ncocssidadc m'tcn'or mms'
profunda: opcracionahw' o mclhor dc quc é capaz, antcs quc
scja tardc.
Ela: É cstranho. Enquanto cscuto a senhora falando, tcnho quasc a
scnsação de que agora se me abrc uma pcrspcctiva magníñca.
É como se tudo devessc lcr acontccido exatamcntc asum,'
apcnas para que se me ofcrcccssc esta chancc, a m1m' quc já
perdcra dc todo o prazcr dc vivcr!
Eu: Sua força cspm"tual de rcsns'téncia, quc conscguiu moblhzax"
contra a sua gravc enfermidade, a vontade de sobrcvivcr, tcna'
valido a pena reahzar' tudo nss'o mcramcntc cm troca dc uma
vida mals' prolongadzg a transcorrcr vazia c sem prazcr?
Ela: Por amor dc Deus, como pudc ser tão cega7 É ccrto quc a vida
me foi dcvolvida de prescnte, para cu com ela algo quc
tenha scntido. E também sei o que mc agradaria fazzrz gostana'
dc consolar pcssoas sofrcdoras c solitárias. Gostaría dc fazer
aqu11'o, para o quc os médicos normalmcntc não têm tempo,
como sentar junto ao leito de um doentc c falar com ele,
partllh'ar com clc prcocupaçõcs, dar-lhe a scnsação dc que
alguém se enconlra junto a cle, que não está só.
Eu: Acha que podcn'a, como médica, cncontrar um lugar, onde
pudesse reahzar' tals' tarcfas?
Ela: Slm,' ¡s'to não é Não eslou depcndendo dc dmh'eu"o, nem
devo acresccr muüos ganhos à mmh'a pcnsão. Vou mf'ormar-
me sobrc sanatórios c inslalaçõcs de assistência médica
Certamentc haverá, em alguma parte, uma ocupação, e
podcrei am'da colaborar no alívio de muita dor alheia...
Quando a médica me dcixou, dcmonstrava encrgia c
conñança c, scgundo me fez sabcr mescs depons', restabcleccra~se
por complcto com a nova tarcfa.
Sc qms°éssemos confcnr tratamcnto cicntíñco a estc hns'tón'co
dc uma docntc, tcríamos dc constatar, rclalivamcnte a suas
1m'plicaçocs' psicossomáticas e somatopsíqm'cas, o segumtez quc a
 gravc doença física anteñor da médica pudesse scr explicada pnn'-
cipalmentc como cfeito de suaprolongada frustração, motivada por
um serviço hospitalar não granñ'canlc, é maJs' do que dls'cutível e de
modo algum comportaria uma m'tcrprelação m'cquívoca. Mas que a
rcpentma reccssão das deprcssoe's possa ser m'terpretada como
cfeito dc abcrtura espm"tual frcntc a uma única possíb1h"dadc de
scntido de sua situação atuaL sería d1f1'c¡lm'cntc contcstách Dlss'o
podemos extraü a lição de que, no surg1m'ento dc danos orgam^'cos,
nunca poderemos conhccer com exatidão a amplítudc real da par-
ticipação psíquica nocvento, ao passo que, com rclação à ens'tência
de forças espm"tuals' de cura, quasc scmpre nos é lícíto concluü que,
atrás dcssa cura, sc encontre uma autêntica expcriência dc sentido.
O refcrido diálogo é m'teressante para o nosso tema também
por uma razão ma15' abrangcnte. Nele ocorreu otermo “sobrevívcr”,
que sc liga à pergunta “para quê”. Além dlss'o, na conversa atlorou
uma resposta logoterápíca, csclarccedora dc que, assm' como ani-*
mara a mencionada paciente para a supcração dc sua fobia, tcm
produzido idênticos cfeitos junto a numerosos pacientes em todo o
mundo, submetidos a tratamento psícotcrápicoz sobreviver em vzr'-
tude das possibilídades que a própria wástência ocasiona. Uma
sítuação nunca pode ser tão carente de puspcctivas, ou tão confusa,
que ncla não se abriguem quals'qucr possn'b111"dades positivas. E,
cnquanto ou logo que alguém se toma dlss'o consciente, desponta
para ele uma razão dc sobrevíver e, sc mals' não fosse, para dax uma
chancc de rcahza'ção daquclas possib1h"dadcs positívas.
Naturalmente, tals' lucubraçõcs ens'tcnc1a15" raro cmcrgirão do
corre-corre do día-a-dia. Contudo, a docnça ou o sofnm'ento a
lIazcm prontamcntc à consciência. lndub1'tavelmcnte, quase toda
pcssoa cnferma ou sofrcdora, mcsmo que dlss'o não cstcja cons-
ciente, possuí forte desejo de sobrcvivcr à docnça ou sofnm°ento. E
todo esforço médico ou terapêutico não passa dc uma tática dc
apoio aruñ'cial à concretxza'ção dcssc dcscjo. O descjo por si só terá
ccrtamente pouca míl'uênc1a,' porquanto, a uma doença séria - seja
no corpo, scja na alma - assm' como 0 sofnm'ento m'altcrável m'ere
scmprc algo fataL algo que sc situa fora do aJcancc do poder
humano. Sabe-se, todavía, que a pcssoa afetada podc contn'bu1r' com
algo para cfctivamcnte sobrcviver à docnça ou sítuação
Mcnos conhecido tem sido, até o prcsente, o modo como uma tal
contñbuição pessoal chega a efcu'var-se.
›
.›À›I
Relativamcntc a isso, os resultados das pcsquisas
logoterápicas pcla pn'mc1r'a vez produnr'am clareza, cnquanto, em
seu conjunto, m'dicam que tal contribuição pcssoalz
1. Só podc scr de naturcza espm"tual (porquanlo física c
psiquicamente o cnfermo ou, sc for ocaso, o sofrcdor,jásc cncontra
prcjudicado).
2. Fundamcnta-se em forças cspm"luans' dc rcsm'ténc1'a, cm
espccial na capacidadc para o aulodistanciamcnto c a
autotransccndência.
3. Nccessita, para a moblhza"ção dc lals' forças, da conccpção
de um contcúdo de vida que dê scntido à sobrcvivência dcscjada.
Atendidos esscs três critéríos, cstará garanüda a contribuição
máxlm°a de um docntc para o seu pronto rcstabclccxm'cnto, bcm
como a de uma pessoa sofrcdora para a superação do seu
sofnm'ento. Mas, mesmo onde não se v¡s'lumbtar perspcctiva dc
mod1fi'cação dos acontecnm'cntos para melhor, por tratar-sc dc
sofnm'ento crônico para o qual não haja cura, a prcscnça dmam1'“'ca
dos três critérios acnm°a referidos pode trazcr alívio dec151"vo, no que
concerne à capacidade dc suportar o que é ínsusccptívcl dc
altcração.Vcrdade é que o scntido da cns'tência humana m'dependc
da duração ou dos conteúdos positivos de uma vida.
Pamm'os da constatação dc ser o homcm a única mamf°estação
de vida da Tcrra dotadode uma d1m'cnsão cspm"tual, podendo desta
realídade extraü forças paxa opor~se à compulsão dcstrutiva e
agressiva, que o domm'a desde o surgxm'ento de componentes
celulares básicos. Ademals' tccemos consideraçõcs acerca da
situação da pcssoa docnte, sobrctudo do docnte psíqtúco c ob-
scrvamos a ezns'lência de paralclosz também o doentc dcvc cman'
energlas' no seu componente cspüituaL a ñm de resktk a seu
sofnm'cnto. Também ele se confronta com o que cx15'tcde dcstrutivo
dentro delc c que dcvcrá scr superado aUavés do d1$'tanciamcnto e
da transccndênch para que possa tornar-se m'ten'ormente livrc,
numa ems'tência, apcsar de tudo, dlgn'a de ser vivida.
V¡s'to sob csse pns'ma, o componentc trágico da humanidade
é também o componente trágico de cada m'divíduo humano. A luta
espm"tual contra o desun'o s¡m'plesmcntc é a tragédia do homenL E
scmprc o dcstm'o conñgura o 1n'compreensívcl, o 1m'provávcl, o
etcrnamcnte süencioso, o lugar em que nosso ansioso m'dagar sc
pcrde sem cco. Por que há tanto mal no mundo? Por que mto
sofnm'ento perto de nós? Não o sabcmos, não o compreendemos.
Só uma consa,' portanto, nos rcsta: considcrar aquüo que Viktor
 Frankl transformou em núcleo ccntral de sua ñlosoña, pondetando
não sermos nós os quesü'onadores, não ser a nós que compete
perguntar, mas, ao contrário, nossa tarcfa con315'te em dar resposta
às pergunlas que o dcstino nos faz. Doença, sofnm°cnto e per1g'o são
os s¡gn'os m'terrogantes de nossa vida, não necessaríamentc escritos
de mão própn'a, mas a serem rcspondídos por nós mesmos, pcla
maneüa como a eles reag1m°os. Tudo o quefazemos e deanm'os de
fazer é resposta à queslão do destmo'.
Segundo a conccpção logoterápica, a psícologia cxplica o
comportamento humano com umla'tcralidade semelhante à que a
psicossomática faz relativamcntc à constituição dos quadros
clínicos. Ocorre que a psicologia tradicional se m'clm'a a relacionar
toda mamf'estação humana com causas emocionah ñrmcmcnte an-
coradas no patr1m'ônio hercditán'o, na mf'an^c1a' ou nos proccssos de
aprendlzag'em do passado. Com o auxílio dos aspcctos cspm"tuals',
no entanto, tal modelo de reaçãojá não servc, umavez que o homem
não é s¡m'plcs “aparelho de tcação”. Ao contrário, dá respostas
m'dependentcs, pclas quals' também é rcsponsável de forma livrc e
pessoaL E quanlo mals' cssas rcspostas espm"tuals' se orientarcm
segundo o sentido dc uma causa, tanto menos ñcarão a depender
da violência dc um dcsün'o obscuro.
Ajudemos aos nossos pacientes a entenderem seus tcmores,
preocupaçoe's e desvenluras, como desafio do destln'o, ao qual
conseguüão dar uma resposta pcssoaL à sua cscolha. E cles
moblhzar"ão o an1m^'o deenfrentar o destm'o. Permítamos que sm'tam
possíb111"dadcs concrctas de ordenarem o scu dcstm'o dcntro dc um
contexto positivo e vcrcmos que clcs 1r'ão domm'ar como heróls' a
sua sítuação de vida. Vamos 1'ncut¡r' no homem o bem, e ele
conseguüá vencer o mal. Vamos mostrar-lhe um porquê, e o maJs'
cle próprio encontrarál
Volto com 1s'to ao tcma anterior, à pergunta um tanto cstranhaz
“Sobrevíver- para quê?” Será que numa época cheia dc nsco's, qual
a nossa, não scn'a suñcientc tomar scgura a snn'plcs sobrevivência e
será que não conñgura uma provocação a pergunta sobre o para-
quê? Não devena,' antes de tud0, ser preservada a vida, para só
depons' sc formularcm m'dagaçoc's acerca do seu scnu'do?
Isso scria correto. Chegamos, porém, a um ponto em que
experiências de psiquiatn'a c da psícoterapía são uuhzá°'vexs', cm
grande esul'o, uma vez que a humanidadc está assum1n'do traços que
não d1f'erem das de um candidato ao suicídio. E nenhum suicida
fundamentalmente prescrva sua vida, podcndo-se mcsmo dcñnü a
ameaça dc suicídio como a decadência dos postulados
126
fundamentak da vontade de vivcr. Mas também quando ccssa a
vontade dc vivcr, quando as encrgías físicas c psíquicas cedcm,
quando a decadêncna' aumenta, podc am'da o homcm pcnsan E por
nsso° todas as possib1h"dades dc futuro sc apóiam nas suas idéias,
tanto negativas como positivas. As ncgatxv'as talvcz o queu'am m'-
duzu" à resxgn°ação. Mas também as posítivas constantementc o
desañam
As plantas pudcram sobrevivcr dc um modo “pacíñco", scm
sc questionarcm jamals' accrca do porquê da ems'tência. Os ammaxs"
puderam sobrcviver “agressivamcntc”, sem tcrem semclhantes
prcocupaçocs'. Mas o homem é obng'ado, em razão de sua dxm°ensão
espm"tual, a formular pcrguntas, rctletxr' sobre elas e respondê-las.
A “agressivídade”, que pamlh'a com os ammals" e que foi para clc,
pelo espaço de m11'êm'os, um pnn'cípio dc dcstruição c dc vída a um
tempo só, atng"u, na era atômica, um hm1"te em que os contomos
entre ambos se dlss'iparam. A vida está começando a destrmr'-se a
si Incsma. O pelxc' “snzos'tedn'on”, ens'tentc no homem, começa a
dcvorar sua ptópría cauda. O que atualmcntc am'da podcna' contcr
o suicídio dc d1m'ensoes' mundiak é única c cxclusivamcntc aqucla
estranha contraposição do espín'to, que capacita o homcm para
m'dlzí°vens' csforços dc vontade, mcsmo contra si mesmo. Supoc' lsso'
a descoberta de um sentido, que delxc' Hmr' a vertcnte de energh do
seu espírito. Um scntido que somente poderá scr cncontrado nas
possib1h"dad35 posíüvas, am'da a screm reahza'das, de sua cms'tência.
Muitos sm'ais indicam que nos rcsta pouco tempo para
sobreviver, para dcpons' nos fazcrmos a pergunta por que sobreviver.
Em sentido m'verso, dcveña havcr para nós uma oportunidadez a
pamr' da questão para-que-sobreviver poderia novamentc brotar a
força motivantc da sobrevivêncm'. A logoterapia, como ciêncna'
médica, não rcsponde à pergunta para que viver. Mas a logoterapia,
como psicotcrapla' centrada no scntido, pode oricntar a quantos se
façam essa pergunta e encontrarem a sua própria resposta. N15t'o se
asscmclha àquele profcssor do qual Kahlü Gibran escrcvcu cm scu
livro “O Profeta”:
Se ele é efctivamcntc um sábio,
não nos dcsaña
a mgr'essar na morada de sua sabedoria.
Antcs vos conduz
ao hm1"ar dc vosso próprio espín'to.
127
 Seleta de publícações sobre logoterapía

A bibliograña só ó complcta no itcm l (Lívros) c III

(D¡sse"rtaçocs' c tcscs dc habnh"tação). Uma bibliogxaña cm lfngna
mgl'csa podcrá scr obtida através do “Instilulc of Logothcrapf
(2000 DWIgh't Way, Bcrkclcy, CA 94704, USA). Uma bl'bhogl"nña
exaustiva sc enconlra no amg'o dc Eugcnío Fmoli “V1k1'or E.
Frankl” (Orientamcnti Pcdagogici l7, 607, 1970).

l LIVROS

Bocckmann, Wullerz Sinn›oricnlienc LAislungsmonvnlion und Mílarbcilerfúh~

rung. Ein Beiuag dcr Humanislischcn Psychologic. inshcsondcrc dcr Logo-
lhcrapic nach Viktor E. FrankL zum Sinn~Prob1cm dcr Arbc1L Enkc. Sluuym
l980.
Boeckmann. Waltcr: Heilcn zwischcn Magic und Maschincnzcnlallcn Ein Bci~
trag der Humanislischcn Psychologic. insbcsondcrc dcr Logolhcrapic nach
Viklor E. ankL zum Phãnomcn dcs Hcilens. lillcra produklion bíelefeld
l981.
Bocsch. Dclmarz Fricdcnspñdagogik im UnlcrnchL Thcoric und Prnxis dcr
Logolhcrapic Viklor E. Frankls und ihrc Bcdculung für unlcrnchllichcs Pln-
nen und Handcln. Univcrsilñl Oldcnhurg (chuum Íür psychologische Bc-
rufspmxis). Oldenburg l982.
Bocschemcycr, Uwc: Dic Sinnfragc ín Psycholhcmpic und Thcologic. Dic Exi›
slcnzanalyse und Logolhcrapie Viktor E. Frankls aus lhcologischcr Sícht Wal-
ter de Gruyten Berlin - Ncw York 1977.
Bulka_ Reuvcn P. Thc Qucsl for Ullimale Mcuning. Principlcs und Applicalions

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of Logolherapy. Wilh a Forcword by Viklor E. FrankL Philosophical Libmry.
New York l979.
Bulka, Reuvcn P., Joscph B. Fabry und Wllliam S. Sahukian lngolhcrapy in Ao-
u'on. Foreword by Viktor E. FrankL Aronson, Ncw York l979,
Crumbaugh, James C.: Evcrylhing lo Gain. A Guidc lo SclHuthmcm Through
Logoanalysis Nelson-Hall, Chicago 1973. .
Crumbaugh. Jamcs C.. William M. Wood und W. Chndwick Woodz Logolhcrapy
New Help for Problcm Dn'nkers. Forcword by Viklor E. Frankl Nelson-Hnll,
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Brailleschem Blindendruck.)
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Berlin-Zchlendorf l952 (vergriffen).
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thcrapic und Existenzanalyse. Uní-Taschenbücher 457. Ernst Rc1'nhardl. Mün-
chen - BascL 5 Auflagcm l956-l983.
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Konzemrationslagen KoeseI-Verlag und dlv 10023. Münchcm 9 Auflagcm
1977-l984 (eine Sonderausgabe -fu"r den Deulschumerrichl an Japanischen
Schulen erschien in Tokyo).
FrankL Viktor E.: Der Mensch vor dcr Fragc nach dem Sinn. Eine Auswahl aus
dem Gesamtwerk Vorworl von Konrad Lorenz. Piper. Mu"nchcn, 3 Auflagen.
1979-1982,
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SchooL
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chological Films. 110 Nonh Wheelcr SlreeL Orangc. CA 92669.
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Boeckmann im Auflrag und aus AnlnB dcs lO, MMM-Kongrcssc& Vcrlcih
durch den MMM~Club. Schumannslrch 27. D›6 FrankfurVM.
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lal Hcallh Associalion in South Carolina“, and ..Man's Search for Ultimalc
Meaning. Leclure givcn at lhc Pcachtrcc Road Melhodist Church in AllanuL
Georgia“, videolapcs clcarcd for lclevision upon rcqucsl from WGTV. the Uni-
versity of Georgia. Alhen5. Georgía 3060L
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produccd by Rockland Communily Collcgc. chtal or purchasc lhrough lhc
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fcssor William Blair Gould of Bradlcy Univcrsily“. a vidcolape produccd by
Bradley Universily Tclevision Availablc by rcqucst from Bradlcy Univcrsity
Peoria, lllinois 61606 ($ 25.00 handling charges for usagc).
FrankL Viklor E.: .,Youlh in Scarch for Mcan1'ng. The Third Paul Dana Banlelt
Memorial Lcclure“. a videotape produccd by KNBU and clcared for lclcvision
upon requcst from Presidcnl James Edward Doly. Baker Universily. Baldwin
Ci(y, Kansas 660064
FrankL Viktor E.: ..Clinica| Aspccls of Logolhcrapy“. a videotapcd lccturc. Rc~
play available by arrungcmcnl wizh Mcdical Illuslrulion Serviccs, Velcrans Ad~
minislralion HospilaL 3801 Miranda Avenuc, Palo Allo_ California 94304.
FrankL Viklor E.: .,Logothempy“. a videolaped leclurc. Availablc for renlal or
purchase from Educalional Telcvision, Uníversily of California School of Mc-
dicinc. Depanment of Psychialry, Langlcy Poner Ncuropsychialric lnslilutc.
3rd Avenuc and Pamassus Avenuc, San Francisco, Calilomia 94 l IZ.
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 ií
i
g
l983. Available for remal or purchasc from the Depanmenl of AudioVisual
FrankL Viklor E.: ..Lngolhcrapy Workshop“, a videotaped lccturc Available for
Serviccs. Cedars~Sinai Mcdical Ccmcr. 8700 Bcvcrly Blvd.. Los Angcles, CA
rcmnl or purchasc from Middlc Tcnncssce Slalc Univcrsityv Leaming Re-
90048. Audíocassclle. S 15.00 - Vidcocasscuc. S 50.00.
sourcc Centcn Murfrcesboro. Tcnncssee 37 I30.
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FrankL Viklor E.: .,Thc Rchumanizalion of Psychothcrapy. A Workshop Sponso~
lute_ Brandeis, California 93 Oó4. Lon3›plnying rcoords.
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lion“. u videotapc. Address inquíries lo Div15'ion of Psychothcrapy, American
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4
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<
MeaningT^ and NLogothcrapy und Exislcntialism“. audiompcs produccd by
20036.
Sound Seminars. Collcge Divisiom McGraw-Híll Book Company, P.O. Box.
FrankL Víktor E.: ..Youth in Scarch of Meaning“. a vidcotapc produccd by the
Highlslown, NJ. 03520.
Youth Corps and Melro Cable Tclevision. Comacn Youlh Corps, 56 Bond
FrankL Viktor E. : WThc Studcnl's Search Íor Meaning“. an audiotapc produccd by
Strch Toromo, Ontario MSB 1X2, CanadaL Renlal fcc S |0.00.
WGTV, the Univcrsily of Georgia. Athcns. Gcorgia 3060L
FrankL Viklor E.: ,.Man in Scarch of Meanl'ng“. a film imervicw wilh Jim Corey
FrankL Viktor E.: ..Thc Existcnlial Vacuum“ (,.Exislenlial Fruslralíon As a Chal-
of CFTO Telcvision in Toromo. Contactz Youth Corps, 56 Bond Street, To-
lenge to Psychialry“ - ..Logmherapy As n Concepl of Man“ - WLogolhcrapy As
ronto. On(ario MSB IX2. Canada.
a Philosophy of Life"). tapcs produccd by Argus Communicall'ons, 7440 Nal-
FrankL Viktor E.: ..Human Frecdom and Mcaning in Life“ and uSclf-Transccn-
chez Avenuc, Nilcs, lllinois 60648. S 18.00.
dcncc - Thcrapculic Agenl in Scxual Nuerosis“. vidcotapcs. Copics of xhe tapes
FrankL Viklor E..',.Thc Existcntíal Vacuum: A Chnllcngc to Psychiatry. Address
can hc ordcrcd for a scrvicc fce. Addrcss inquiries to lhe Manager, Lcarning
given at The Unitarian Church, San Francisco. Cnlifornim Octobcr l3, I969.“
Rcsource Distribution Cemcn Unitcd Slalcs Imemalional Univcrsity. San
A tapc produccd by Big Sur Recordings. 2015 Bridgcwny. Sausalilo, Califomia
Diego. CA 92 131.
94 965.
FrankL Viklor E.: ..Das Lcidcn am sinnloscn chenz Zur Phãnomenologie des
FrankL Viktor E.: nMeaninglessncsm Today's Dilemma“. an autiotape produced
cxislcmicllen Vakuums“. (Vortrag in dcr Aula der Universitãl Zürich am
by Crcative Rcsources. 4800 Wesl Waco Drive, Waco. Tcxas 76703.
4. Dczcmbcr l975.) Vídeolapes und Audiolapes sind erhãltlich durch dic Lim-
›. ›-;.4_.

FrankL Viktor E.: nLogotherapy Workshop“. an audiotape produccd by Middle

mat-Sliflung_ Roscnbühlsthe 32, CH~9044 Zu"n'ch.
Tennessec Statc University. Lcarning Resource Ccntcr. Murfreesboro. Tenncs-
FrankL Viklor E.:Two 5-hour leclures. pan of lhc course Human Behavior 616,

--§_
scc 37 I30.
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FrankL Viktor E. : ,,Man's Search for Mcan¡'ng. An lmroduction to Logotherapy.“
vídcoxapcs can bc ordered for a servicc fec. Address inquiríes lo thc Manager.
Rccording for lhc Blind, Inc., 215 East 581h Slrecl. Ncw York, NY |0022.
Í. ;A.~.r_-n-. ,4.

Lzarning Resourcc Díslribulion Cemcr, Unitcd States Intcrnatíonal Univer-

FrankL Viktor E.: nYouth in Search of Menn¡'ng." Word Casseuc Library (WCL
sily. San Diego. CA 92 |3l.
0205), 4800 West Waco' Drivc, Waoo. Texas 76703 ($ 5›95).
FrankL Viktor E.: A videotaped convocau'on. Address inquiries concerning avail~
FrankL Viktor E. : Lecturc givcn al Monash Universily, Melbourne. Austmlím on
ability to Presidcnl Stcphen Walsh. SL Edward's Universi!y. Austin, TX 78 704.
March 6th, 1976. An audiocassenc available from Spcclrum Pub'lications. 127
FrankL Víklor E.: A vidcolaped lecture given at Monash Univcrsily. Mclbourne,
Burnley Street, Richmond. Vicloria 312L Australia.
Austrah'a, on March 6. l976. lnquirics lo be addrcsscd 10 Royal Australian Col-
FrankL Viklor E.: ,.Das Lc_idcn am sinnlos gcwordcnen chem Zur Phánomemy
lcgc of Gcneral Pracu'n'oners. Framily Mcdicinc Programmc, Audio Visual logie der cxístemiellcn Fruslralion in dcr 1nduslriegesellschah.“ Kasscue NC
Depanment. 70 Jolimont Streetv JolímonL 3002_ Mclbourne, AuslraIizL
1001 dcr Noricum-Tonproduktion, chgassc 23. A-1060 Wien (ocS 150).
FrankL Viktor E.: Imcrview wilh Dr. Viktor E. Frankl by Dr. Faul W. Ngui. Pre-
FrankL Viktor E.: .,Thcory and Thcrapy of Neurosis: A Seríes of Leclures Dcln-'
sidenL Singapore Associalion for Mcntal Hellh. on 16 mm film Inquirics
vercd at thc Uníted SLales lnlernalíonal Univcrsíty in San Diego. Cah'fornía.“
should bc addresscd lo Conlrollcr, Central Producu'on UniL Telcvision Sin-
Eight 90-minulc casscttcs produccd by Crcative Rcsourccs. 4800 Wcsl Waco
gaporc. Singapore. 10.
Drivc, Waco, Tcxas 76 703 (S 79.95).
FrankL Viktor E, WThc Unheard Cry for Mcaning'^, a vidcolape produccd by the
Frankl, Viklor E:. WMan in Search of Meaning: A Serics of Lectures Delivered at
:

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Youth Corps. 56 Bond Slrcet, Toromo MSB lX2, Canada. Remal fcc S 10.00.
90-minutc cassettcs produced by Crcalive Resources. 4800 Wesl Waco Dn'vc.
FrankL Viktor E. : FA panel of expcrts from the ficlds of mcdicínc, amhropology.
Waco, Texas 76703 (S 139.95).
psychiatry, rcligiom social work. philosophy_ and clinical psychology. discus-
FrankL Viktor E. : nThe Ncurolizalion of Humanily and thc Re-Humanizalíon of
sing lopics of inlerest wilh Dr. Frankl at lhc Firsl World Congrcss of Logolher~
Psychothcrapy“, two casscucs. Argus Commun¡'calíons, 7440 Natchez Avenue.
apy. San Diego. l980.“ A 51-minutc vidco tapc, S 53.00. Makc check payable to
Niles, Illinois 60648 ($ l4.00).
lhc Inslitute of Logolhcrapy, 2000 Dwight Way, Bcrkelcy, CA 94704, USA.
FrankL Viktor E.: nYouth in Scarch of Meaníng“, an audiotape produccd by thc
thn ordering, slatc kind of lapc wantcd (Beta. VHS, or '/o" U-matic).
Youth Corps, SC Bond Strccg Toronto. Omario MSB IX2. Canada. Available
FrankL Viktor E. : mDer lcidende Mensch auf dcr Suche nach Sinn.“ (chtvortrag
on reel~to~rccl or cassenc. S 7.50.
auf dcm Óstcrrcichischcn Gesundheitstag in Baden am 10.0ktobcr 198L)
FrankL Viktor E.: nThc Unheard Cry for Mcaning“. an audiocasseuc produced
Einc Videokasseltc. Erhãlllich durch die Mcdimaíl-Vidcozemralc, Postfach
by the Youth Corps, 56 Bond StrecL Toronto, Omario MSB 1X2. Canada.
2202. D-6078 Neu lsenhurg 2.
S 6.50.
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S 15.00.
FrnnkL Viklor E. : ,.Ex¡s'tential Psycholherapy“, two casscues. The Ccmer foí Cas- V VOZES TeL a Fax: (032)2|58081
Londrlna. PR
(86010390) Rua PlauL 72. Lojl 1
sctlc Studics. 81 10 Webb Avenuc. Nonh Ho|lywood. CA 91605.
SEDE TaLz s Fax: (0432)37-3129
FrankL Viktor E.: nThc Defiam Powcr of thc Human Spiritz A Message of
Mcaning in a Chaolic World.“ Addrcss at lhc Bcrkelcy Community Theater, Petrópol|s, RJ
Novo Hamburgo, RS
Novcmbcr 2, 1979. A 90~minulc cassene lapc. S 6.00. Available al thc lnslílute (25689-900) R. Frei Luís. 100
(93310-002) R Joaquim Nabuco, 543
of Logolhcrapy, 2000 Dwight Way. Berkeley, CA 94704. USA. Caixa Postal 90023 TeL e Fax: (051)593›8143
TeL (0242)43~5112
FrankL Viklor E.: wThe Mcaning of Suffcring for the Terminally Ill“ ([memalio-
Fax: (0242)42-0692
nal Scminar on Tcrminal Carc, MontrcaL Octobcr 8, l980). Audio Transcripls. Pelolan, RS
LOJAS (96015-300) R. 7 de Setambm 145
le. (Codc 25-107-80 A and B), P.O.Box 487. Timcs Squarcs Station1 New York,
TeL e Fax: (0532)27-1032
N.Y. lOO36. Bauru, SP
FrankL Viklor E.: ..The Rehumanízation of Psychotherapy“, lecture on occasion (17015-002) Av, Rodrigues Alves. 10 - 37 Pono Alegre, RS
of thc inauguration of thc Logothcrapy Counscling Centcr of Allama and TeL e Fax: (0142)34-2044 (90010-273) R Riachuelo. 1280
Alhcns on Novcmber 14_ l980. An audiocasscue (1/404/S42-4766) availablc Belo Horlzome. MG TeI.: (051)226-3911
from the Cemer for Cominuing Educau'on. lhc Universily of Georgía Athcns, Fax: (051)226-3710
(30190060) R. Tupis, 114
GA 30602. Tel.: (031)273-2538
Reclfe, PE
FrankL Viktor E.: wUnscre Zcil und ihre Ãngste.“ (Vonrag im Club Confroma- Fax: (031)222-4482
(50050-410) R. do Prínclpe. 482
tion in Voc"klabruck am 8. April 1981v) Kassctlc erhãlllich durch Frau Erika vBlumenau, sc Tel_: (081)221-4100
Heinisch, Pn'nz-Eugcn-Slra13e 4, A 4840 Voc"klabruck (0".S. 150). (89010-003) R. 15 de Novembro. 963 Fax: (081)221-4180
FrankL Viklor E. : ,, lrolzdcm hat dm Leben eincn Sinn (Argumcnte für cinen TeL e Fax: (0473)22-3471
tragischcn Optímismus).“ (Vonrag im Tiroler Landesthcater am 10. Juni Rlo de Janelro, RJ
Brasílla, DF
1983,) Beslellnummcrz l 150/8306. Bestelladressei Audiotcx (Karlhcinz Ham- (20031-201) Rl Senador Dantas, 116~I
(70730-731) CLRlNone. Q 704. Bloco A,
mer1c). Hõhcnsthe lll. A-6020 lnnsbruck. Versand pcr Nachnahme, Preist TeI. e Fax: (021)220-6445
N°- 15
õS 125.- incL 18% Mehrwenslcucr. TeLt (061)223-2436 Salvador. BA
FrankL Viktor E., ,_Fínding Meaning in Lifc and Death.“ Keynotc Addrcss on Fax: (061)223-2282 (40060-410) R. Carlos Gomes, 696-A
March 22, 1984 at Ihc Nimh Annual Confcrencc of lhe SL Francis Center. Tel.: (071)241-8666
Campl'nas, SP
Avaiiablc al l768 Church Slrceg N.W., Washington, D.C. 20036 ($ 8.50). (13015002) Rua Br. de Jaguará. 1164 Fax: (071)241-8087
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