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ARTIGO
Paul Virilio (1932- ) dizia, há mais de quinze anos, que, “após a revolução industrial marcada pela
estandartização, a revolução da informação nos conduz em direção à sincronização. É a rapidez das
trocas e o tempo quase simultâneo que dominam a vida social”.[1]
Com a contração do tempo pela velocidade, em realidade, celebrava-se, também, o amor pelo perigo e,
como o futurista Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944) já pressentia, instalava-se também a violência
nos domínios da vida cotidiana. A existência do homem começa a ser regulada pelo tempo da urgência e
do instantâneo – no trabalho, na circulação pelas cidades, no consumo.
A velocidade perturba nossa concepção de tempo e nossas temporalidades psíquicas e sociais afetando
nossa vida institucional. O ritmo de vida se transforma, as relações familiares exigem mudanças, o
trabalho pede rapidez e eficácia.
Enfraquece-se a experiência, pois o tempo das consciências é capturado e torna-se alvo de exploração
pelos mecanismos de urgência de consumo. Não há tempo para a reflexão: “exige-se o reflexo
condicionado em detrimento da reflexão em comum”, dizia Virilio. A permanência é atraso; o passado é
atacado e a obsolescência se manifesta como um “fenômeno social global” que abrange da ética à
política, da ciência à estética. Assim, também os valores morais são substituídos antes de novas formas
de convivência e coexistência se formarem, de tal modo que é a própria vida ética que se encontra em
questão, uma vez que valores requerem estabilidade e duração no tempo. Nesse contexto aloja-se a
ideologia da inovação.[2]
Esse quadro tem sido analisado por filósofos e psicanalistas preocupados com as implicações
institucionais e as incidências subjetivas desse processo de aceleração, principalmente no que se refere à
confrontação das passagens genealógicas e aos processos de transmissão. Por essa análise evidenciam-
se os efeitos de mutações do laço social, que se configuram por uma economia narcísica totalitária
destinada a anular o reconhecimento da alteridade e, portanto, a atacar o pacto social. A tendência anti-
histórica das instituições, aliada à dificuldade de os sujeitos se inscreverem numa temporalidade
histórica, por força dessa hipertrofia narcísica, potencializa a dimensão mortífera e assassina inerente à
questão genealógica.
É nesse embaraço dos tempos que o mal-estar se acomoda. Pelo fetiche do passado, no filicídio, ou pela
sacralização do novo, no parricídio, exibem-se as novas figuras paradigmáticas da destruição da
temporalidade nas instituições. Rapto de legitimidade que ataca a memória e faz desmoronar a
transmissão.[3]
Notas:
[1] Cf. Virilio, Paul. On ne Regarde plus les Étoiles, mais les Écrans. Le Monde de L’Éducation. Paris, n. 287, dezembro 2000.
[2] Cf. Matos, Olgária. Aceleração do tempo e pós-democracia. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados – IEA-USP, 2014.
[3] Cf. Kaës, René et al. Crises et Traumas à l’Épreuve du Temps. Paris: Dunod, 2015.
Imagem: Salvador Dali | A persistência da memória | Espanha | 1931 | óleo sobre bronze
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contemporaneo>.
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Cultura no Divã – Relações contemporâneas entre psicanálise e cultura, São Paulo, v. 1, n.
2, 5 mar. 2018. Disponível em: <https://www.culturanodiva.com/o-terrorismo-como-
analisador-do-contemporaneo>.
• OS MUITOS sexos presentes na contemporaneidade: da transgressão à construção.
Áudio produzido pela Revista Cultura no Divã – Relações contemporâneas entre
psicanálise e cultura, São Paulo, 23 abr. 2014. Disponível em:
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