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“ ASSISTÊNRGIAa

LOGOTERAPEIITIGA
Eârora
ÍSinodal - ' '

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V

coleção lOGOTERAPIA

ELISABETH LUKAS
© Verlag Herder Freiburg 1m' Brekgau 1985
Hcrder Frcibuxg o Basel o Wien

Título or1g1n"al alernão:


Psichologische Seelsorge

Du'en'tos dc publicação em língua portugucsaz


Editora Vozes Ltda.
Rua Frci Lu1$', 100
25689 Petrópohs°, RJ
Brasü

Copidcsque
Orlando dos Reis

Diagramação
Daniel SantA'nna

ISBN 3.451.08180-6 (Ediçáo ongm"a1 alemã)


ISBN 85326.0650-4 (Edição portuguesa)

DEDICADOÀ FAMÍLIA
DEMUIH

Este hvro' foi composto e 1m'presso nas 0ñc1n'as gráñcas da Editom Vozes Ltda.
cm junho de 1992


Sumário

Prefácío dc San_dra A. Wawrytko, 9


A. A TRANSIÇAO PARA UMA PSICOLOGIA
HUMANIZADA, 13
A reumamza'çao' da medicina foi iniciada através 1. A busca do sentido e a saúde psíquica, 15
de um livro -Aerztliche Seelsarge* - de Vzkror E. 2. Da “psicologia profunda” para a “psicologia das alturas”, 31
Frank,1 escrito em 193,9 perdido no campo de 3. O esquemÂa terapêutico da logotcrapia, 45
concentraçao' de Auschwitz, reconstruído no B. A EXISTENCIA PARA ALGO OU ALGUÉM, 71
campo de concentração de Dachau, durante as 1. Três rcgras básicas para a família, 73
noitesfebris do entao' pns'ioneiro níZ 119104, 2. accitar ñlhos com problemas, apcsar dc tudo, 93
publicado pela primeira vez em 1946 e, desde 3. A mulher que trabalhaz entrc 0 estresse e a reahza'ção, 111
entao', aperfeiçoado através de 53 edições e 10 4. O homem que trabalha: enlre o sucesso e a dedicação, 127
idiomas. 5. Sobre o Aamor e o trabalho , 134 A
0 presente Iivro constitui uma reverência diante C. ASSISTENCIA LOGOTERAPEUTICA , 147
desta obra-pn'ma, na tentativa de complementá-la 1. A ansiedade como desaño ao espüito humano, 149
em direção a uma reumamzaç'ao' da psicologia. 2. A culpa como possib1h"dadc para mudança de pcnsamcnto , 168
3. Pensamentos sobre prevenção de suícídios, 185
4. Livros com poder lerapêutico, 195
5. Dignidadc humana c psicoterapia , 207
~__-W§

' Em portuguész FRANKL, V. E. - Psz'coterapm' e sentido da vida: Funda-


memos da lagolerapia e málzs'e cus'tencz'aL Tradução de Alípio Maia dc Castro. São
Paulo, Quadrantc. 1973.
Prefac'io

Em 1942, quando V1k'tor E. Frankl foi levado para 0 campo


›\

dc conccntração, trazia consigo o manuscrito dc um livro que


contmh'a as idéias básicas de sua leoria, ma15' tarde dcnommada
logoterapia. O livro cra Aerztliche Seelsorge* , que apareceu sob
essc mcsmo título após a chunda Guerra MundiaL
Neste m'tenm', amadureceu uma nova geração, a qual passou
por ma15° transformações que dez gcrações anteriorcs. Muitas tradi-
ções desmoronarm, as hicrarquias de valores sofrerm mod1ñ'-
caço'es, transformaram-se as noçõcs dc h'berdadc, rcsponsabilidade,

r m›
d1r'eitos humanos e dignidade humana. Essas mudanças acarreta-
ram conseqüências ñlosóñcas c psicológicas, as quais se mamf°es-
taram tanlo nas salas de aula um'versitárias, como nos consullórios
médicos do mundo m°teiro. A responsabd1"dadc da ñlosoña sempre

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é, e foi a de elaborar prm'cípios básicos sobrc como nós, scres

' N.T. Seelsorgq em alemáo, signiñca litcralmemc “preocupaçáo com a


alma", “assms'téncia à alma". ou “cura d'almas". Nas religióes cns'tãs, ímplica “con-
duzir os ñéls' para Dcus". Rcfcre-sc à ativídadc altru|s'ta da comunidadc cristã dc
cuidar de cada ser humano: on'cntar os dcson'emados, consolar os docmcs, indicar
caminhos para os dcscspcrados, cnñm, acompanhar o scr humano cm todas as
cuc'unstâncias da sua vida. Todas as aptidócs pcssoa¡s' e conhecimcmos técnicos
dcvem serutillza'dos para mitigaras afliçóes humanas, tanto f1s'icas, quamo psíquicas
c cspm"tuais. (E›nraído de (1) SlMMEL SJ, O. c STAEHLIN, R. - Chns'll¡'che
Religlbn Frankfun a.M., Flsc'her, 1957. (2) DER NEUE BROCKHAUS, Wicsba-
n_~_ .w~m

den, 1968.)
Aerzzhthe Seelsorgq ponanto. signiñca “preocupaçáo médica com a alma” ou
“ass¡s'tencia médíca à alma" e Psycholothe Seelsorge, “prcocupaçào psicológica
com a alma" ou “ass¡s'léncia psicológica à alma". Nesle hvro', Póychologüche Scel-
sorge é usado lambém no scntido de “assistência logolerapéutica".
humanos, podemos nos comprcendcr como seres humanos. Por sua consciência c responsab1h"dade, cns°lência c scnlido, m'cluídos por
vez, os psicólogos têm a rcsponsabüdade de transpor esses pnn'cí- V1k't0r Frankl no lrabalho médico-psicológico e dls'culidos tão con-
pios básicos para a prática, de modo quc possamos pennaneccr vm°ccntcmente por Ehs'abeth Lukas nestc livro, constituem também
seres humanos sa'os. O prcscnte lívro busca alcançar esscs d015' temas centrals' da ñlosoña. Assim, ao se ehmm"ar a cegucüa cx15'len-
objetívos de mancu'a exemplaL Assun,' é apropriado que traga o ciaJ através da logoterapia, podc ocorrcr paxalelamcnte uma corrc-
título Psychologische Seelsorge (vcr nola), para fazer par com o ção da miopia metafísica no am^bito ideológico-ñlosófico, e
pnm'cu'o livro de Frankl; cste marcou 0 m1"cio de sua carreüa como vicc-vcrsa.
fundador, enquanto aquele complcmenta a obra de vida daqucle O esscncial, no caso, é quc o homcm pam'cpie das c1r°cuns-
que agora já fcz oitcnta anos. Nm'guém ma15' categonza'do para tan^cias de sua realidade, ao ln'vés de submeter-se a elas. Exalamcnlc
fazê-lo do que sua aluna ma1s° 1m'portante, Ehs°abeth Lukas. essa nuancc quanto à aútude m'terna dls'tm'guc um homem que
Aparcnlemcntc, o antiqmss"'Lm'o conselho do oráculo dc Dcl- percebe sua liberdadc daquele que se vê cntreguc ao seu desun'0.
fos, “Conheça-se a si mesmo”, não é suñcientc. Hoje, ma15' do que Por excmplo, pacicntcs que vivcm em “scrvídão” em rclação a scus
nunca, é prcciso quc, rcciprocamcntc, nos rcspeitcmos como scres scnum'cntos scntcm-sc mf'chzc's por sua própña culpa, por ooloca-
dotados de valor e dignidade. As conseqüências de qualquer desu- rem-se elernamente depcndentes de c1r'cunstan^cias externas. No
mamza'çâ0não alm'gem apen45' avíum'a 1m'ediala, mas desumamzam' entanto, 0 homcm vcrdadcüamente lívre - c sábio - sabe agü dentm
também aquele que transforma os outros em vítxm'as. Quem costu- dos encaxgos m°evitáve15° que a vida lhe 1m°põe. Spm'oza se refcrc ao
meu'amentc fcre 0 valor e a dignidade das pessoas, acaba sc fermdo homem quc é escravo dc scus scnüm'entos como a alguém que
a si próprio. Frequ"entemcntc, é a falta de consideração por nós “d61xa' dc vivcr, ao delxar' dc sofrcr”.
mcsmos que leva ao tratamcnlo desumano dc nossos scmclhantes. Somenlc quem é livre para agü possui as encrgias dxs'poníve15'
Os psicoterapeutas, de modo nenhum, estão 1m'unes contra para buscar o scntido cm uma situação globaL Com 1s'so, dcsvia-se
esse podcr recíproco de deeruição da d1gm"dade humana despreza- automalicamcntc dos objetivos dcstrutivos e d1r'igc-sc para os cons-
da, conforme Ehs'abeth Lukas dcscrevc cm scu texto gcniaL O trutivos, quc são “plcnos dc scntido”. Ehs'abeth Lukas dcmonstra a
problema parece ter suas raües numa antropologia ñlosóñca dcñ- mamf'estação psicológica dessa estratégia através dc estudos de caso
cientc, que 1'denuñ'ca esse poder de destruição com um abls'mo trágicos, onde a renúncia à liberdade, em favor da t1r'am'a do dcstm'o,
lasum'ávcl entre a d1m'ensão cspm"tual e psíquica do ser humana As teria prontamente levado a um caos emocionaL não fosse a m'ter-
tcndências reduc1'oms'tas da psícologia tradicional dcsviaram cssa venção da ajuda logotcrapêulica. Ehs'abeth Lukas chega, assm,' a
d1$'ciplm'a cicnüñca da cssência da cxrs°tência humana. Por outro uma conclusão que se lornaria a qum'tcssência dc sua afumação:
lado, há um mov1m'ento dentro das escolas psioolerapêuticas para “A01m'a dc qualqucr cslralégia psicotcrapêuúca, mostrar a um ho-
novamente chm1n"ar essas tendências dcgradantcs: trata-se dos prm'- mem o - evcntualmente derradeu'o - cspaço livre dls'ponível cons-
cípios humams'tícos da logoterapía. litui um ato de d1gm"dade humana!”
A dignidadc m'violável do pacíentc, que dcscmpcnha papcl Gostaria de am'da acrcscentar uma comparaçãoz um jogo de
ccntral no “credo psiquiátrico” de V1k°tor E. Frankl, constilui, ao têms' não nos priva de nossa dignídade ao nos obrígar a respcitar as
mesmo tempo, a base dc seus anseios pela reumamza'ção da psico- rcgras e hm1"laço'es do jogo. Ao contrário, são cssas regras c hm1"ta-
tcrapia. Para FrankL em cada sessão, 0 médico ou terapeuta devc ções quc tornam o jogo poss¡'vcl, constitucm sua condição prévía,
criar um encontro sm'gular e exclusívo de homem para homem, dando-nos oportunidade para desenvolvcr nossa aptidão m'dividual.
mantendo ass¡m' a dignidadc de ambos durante todo lratamento. De maneüa scmelhantc, a vida não nos tolhe ao colocax-nos hm1"tes
Pode-se até dlz'er que este encontro conslitui parte m'tegrantc do 1m°utávels'. Nossa responsablll"dade consxs°te em aceitar csscs hm1"tes,
tratament0. 1n'tegrand0-os em nossa liberdade, para que não os superesnm'emos,
nem subesumemos nossa capacidade espm"tual de enfrentá-los.
Através da aliança com a logoterapia, a ñlosoña obtcve a
possib1h"dade adicional de serv1r° como complemcntação perfcita à A logoterapia, e cspccialmentc a prcscntc obra dc Ehs'abcth
psicoterapia. AñnaL temas profundos como destm'o c h'berdade, Lukas, elucida as múlliplas p0551'b111"dades de como enfrentar o

10 11
dcsun'o de mancüa positiva c oricntada pelo scnlido,' possibxh"dades
que, cspcro, sc dHundm e sxrv'am à humam'dadc.
San Diego,
setcmbro de 1984.
Traduzido para o alemão por Joscph B. Fabry
Dra. Sandra A. Wawrytko
Professora de Füosoña na “San Díego Statc Universitty” e
A.
Professora V¡s'itanlc na “Chm'esc Culturc Univcrsity” de
Taiwan A TRANSIÇÃO PARA UMA PSICOLOGIA
HUMANIZADA
1.
A busca de sentido e a saúde psíquica

¡ Amalmcntc, todos cstamos cicntcs da amcaça sob a qual se


t'enoontra ahumanidadc c do futuro duvidoso do nosso meio ambien-
f te. Em todos os tempos, a juvcntude se revollou contra o lradicionaL
buscando 1m'pctuosamente novas du"eções; porém, nunca esteve a
\ juvcntudc tão 1m'pregnada de pressennm'entos sombrios como no
a presentc, a ponto de se aulodenommar “geração sem futuro”.
a
k.« No entanto, cssa d1$'posição sombria é causada apenas m'du"e-
. tamcnte pelo mcdo daquüo que de negatívo possa ocorrer no futuro.
O homcm é um scr dcmasiadamenle efêmero, c cspccialmcnte
míope, para se delxar' pertutbar na sua atividade cotidiana, Incsmo
que possa 1m'ag1n°ar a evcnrualidade dc uma guerra atômíca, pondo
üm a qualquer aspüação humana, e que se avolumem os prognósti-
cos alarmantes sobre ambientes poluídos e cscassez de ahm'entos.
Não é o medo de horrores utópicos que constittú o falor decisivo
fundamental desse mal-cstar observável cm todo mund0, c que
atmg'e não só a juvcntude, mas lambém cada vcz ma15' as gerações
dc mcia idade e as mais velhaslo quc rcalmcntc caractenza' a
“geração sem futuro” é uma sensação defalta de sentido no seu grau
máx1m'o, uma perda conuhuada de scntido, ocorrendo aqui e agora,
eLgdasoalphs forças para cncarar o dia de amanhã. Basicamente,
cstá sc descnvolvendo uma “gcração sem scnlido”, o que é a1n'da
ma15' depr1m'ente do que a 51m'ples preocupação com a sobrevivêncía
dc nossa cspécie. Sc pcrdermos a basc cxxs°tcncial do “para quê”,
qualquer contmuidade de nossa vida também perde seu valor.
kator E. Frankl, um dos mals' 1m'portantes psiquialras do
nosso século, foí o pnm'e1r'o a comprovar a exls'lência de uma relação aumenta o medo de exames
cstreita cntre a oríentação de sentido 1n'terna de um m'divíduo e sua
saúde psíquica; até então dcsconhccida pela psicología, cssa com-
tatação tornou-sc a pedra angular dc uma mudança em todas as stI'uaça'o mecanismo
ansiedade
experl'_
fracasso
ciências humanas. Graças às suas pcsquisas, podemos hojc recons- circular ência
objetiva no exame = ntecipatóri . subje-
tru1r' aquele “círculo diabóh'co", quc altera, de maneüa funesta, o neurótico
tiva
destm°o tanto de m'djvíduos, quanto de povos m'teu"os, e que atual-
mentc ocorre cm muitos nívcis. Por lcrmos conhec1m'ento a seu
bloqueia a capacidade de desempenho
respeito, também somos capazcs de sugenr' possívc15' soluções a ñm
dc qucbrar o tal “c1r'culo diabólico”. Embora cssas sugestões não
tenham tido repercussão suñcientc nos grandes eventos da hls'tória
um°vcrsal, foram uuhza"das m'tcnsamente na ajuda m°dividual prcsta- Há vários falores envolvidos ncssc “cu'culo díabólíco” que
da pcla psicoterapia, a qual, bascand0-se na metodología de Frankl, explicarci a seguu', por reumr' em si os grandcs problemas do nosso
tornou-se capu dc prestar ass¡s'tência ativa ao homem moderno em tempo, podcndo sua sombra rccaü em cada um de nós. No enlanlo,
sua crise de falta dc scntido. trata-se da mesma ação recíproca de caráter patológico entre expc-
riências subjelivas e realidades objetivas, cstando no scu 1n1"cío
O quc 51'gmñ'ca cntão o “01r'culo diabólico”? Trata-se dc uma
lambém uma m'segurança, e, precisamente, uma ms'egurança ems'-
cadeia causal com vários elos que sc condícionam mutuamente,
tcncialmcnte bastantc profunda. É aquela enormc m'scgurança glo-
ocasionando contmuas ações rccíprocas. Dc maneüa snm'phf1'cada,
podemos dlz'cr que 0 fator A lcva ao fator B, por sua vez, B leva a bal do homem moderno, sua dúvida fundamental quanto à plcnitude
de sentídos da vida, cuja formação V1k'tor Frankl explica da segumtc
A, dep015' o fator rcforçado A lcva a B etc. Esses mecams'mos
manekaz
c1r'culares são conhccidos há muito tcmpo dcntro da tcoria geral das
neuroscs. No 1n1"cio, encontra-se scmprc um evento que gerou m'se- “Se me pcrguntam como explicaria a origem do sennm'ento de
gurança. Por exemplo, suponhamos que, por mf'elicidadc, alguém falta de sentido, d1r'ia 0 scgu1n'te: contrariamenle ao animaL os
fracassa num exame, para o qual sc prcparara sen'amcute. Esse sería m'stm'los já não m'dicam ao homem 0 quc tem que fazer, e, contra-
0 fator A. É possível que, diante do próx1m'o exame, ele desenvolva riamentc ao homcm de anligamenle, as tradições não lhc d¡z'em ma15'
um medo exager'ado, uma “ansiedadc antecipatóría”, conforme 0 que deven'a fazcr - e agora parccc nem sabcr ma15' o que quer fazer.
dlzc'mos. Esta constitmn"a o fator B. Dcvido a um estado cmocional Assm', ou ele quer apcnas o que os outros fazem - seria o confor-
cada vcz mais m'tenso de cxpectativa ncgativa no sentido de nova- m15'm0 (do mundo ocidental), ou elc só faz o que os oulros querem,
mente fracassar, essa pessoa torna-sc tão tensa e bloqueada por ou quercm dele - seria o totaütarismo (dos pals'es do bloco comu-
ocasião do próx1m'o exame, que acaba _fracassando nele também; m'sta).” ,
assun', B voltou para A. Torna-se clar0, cntão, quc agora se estabe- Vcr1f1'camos, assm', que homem não mais possui a scgurança
leccu, de verdade, o medo de cxames, com A 1m'ediala e novamentc dos ms'lm'los para ag1r' e, aJém disso, foi perdendo, prm'cipalmente
m'tcns¡ñ'cando B: 0 “c1r'culo diabólico” entre ansiedade antecipató- no nosso século, o apoio nas tradições e normas de valores transmi-
ria e fracasso está fechado! tidas, para o quc ccrtamemc conlribmr'am as duas Guerras Mun-
Ev1'dentemente, trata-se dc um exemplo muíto 51m'ples, mas dials' e a vclocidade m'crível do progresso técnico. Isso acarretou um
que praticamente constitui o cmbrião dc todos os mccams'mos súbito “v421'.0 existencial", conforme foi denommado por Frankl,
psicopatológicos. Conforme o lcilor deve ter obscrvado, a origem uma desoríemação e m'slab1h"dade, da qual irrompeu sub1'tamente,
está na lmh'a de cncontro entre o mundo m'terno subjetivo c o mundo e permancceu scm resposla, a questão do scntido de toda atividadel
extcrno objetivo, pms° a ansiedade antccipatória faz parle da cxpc- O que ocorreu em scguida foi um simples mecanismo cücular
riência subjctíva, cnquanto que o fracasso num exame constitui uma ncuróticojov sennm'ento crônico dc falta de sentido abala a saúde
situação objeL-'va. psíquica do homemíjA saúde psíquica afelada freqüentcmcnte
ocasiona comportam utos socia15' e m'dividuajs m'adequados, dando

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gcralmcntc lugar a um molivo concrcto para quc o medo do futuro do futuro sc reflete numajuvcntude sem idcais e compromlss'os, que
possa sc ms'talar. Por sua ch o mcdo pcssms"ta daí dccorrente não aLribuí a si mesma o nome de “geração sem futuro”. (Vcr círculo
é mfun'dado e reforça o sent1m'ento rcsignado de que todo esforç0, externo na üustração!)
em úluma anáhs'e, é destituído dc sentido, fechando-sc assm o Delxan'd0 de lado os evcnlos do um'verso e vollando nossa
“Clr'culo díabólico”. (Vcr o c1r'culo m'tcrno na üustraçãoD atenção para o nível m'dividual, cncontramos paralelos nítídos com
neuroses de massa os processos ac1m'a citados. Também m'dividualmentc, qualquer
(crim¡nalidade, drogas, ljpo de fruslração do scnlido afcta a cslabüídadc psíquica do ho-
\
/ / V suicídios, etc.) mem, levando-o a comportamcntos quc ma15' tardc voltam-sc conlra
elc como um bumeranguc, subtram'do-1hc qualqucr pcrspecliva de
objelivos fuluros. Um falor relcvantc é novamente conslituído por
aquela falta de dislm'ção cnlre o mundo m'terior aubjetivo e 0 mundo
doença cxtcrior objcu'vo, quc já conhecemos a partü do esquema básico dos
psíquica“°\f/O)^ mecanismos cu'culares ncuróticos. Ao exammarmos melhor o “c1r'-
0/Q culo diabólico” anteriormcntc díscutido, vcr1f1'camos quc elc con-
tém um c1x'o objctivo e dois subjetívos, ou scja, em dois pontos da
compona- destruição
senti~ cadeia rcvela-se a reaüdade 0bjetiva.
"círcu|o mentos
mento
irracional Um dos pontos é ew'dentc, não necessiludo de csclarecnm'cn-
"vazio exis- diabó- sociais e (armamento
tencial" crônico lico“ indivi~ tos cspecia15': trata-sc do arco entre comporlamentos m'adequados
(instabilidade, de Íalta
militar
do pre- duais excessivo, e mcdo do futuro. Dos comportamemos m'adequados decorrem,
desorientação) logicamcnlc, além das cxpcriências subjctivas de fraca5'so, erros e
td_edsen' sente inadequa- exploração,
À ' ° dos destruição prcjuüos objetivos, desvalorcs sob várias formas. Por exemplo,
\
\ so\%. /\\›&o\'b l quando a humanidade cfetua a devaslação das Ílorestas Lropicais, é
/ , fácü comprecnder quc haverá conscqüências chm'alológicas e cco-
\
t3/ medo do /
\ 09 lógicas negalivas; ou quando uma pcssoa gasta todo seu dmh°elr'o em
0\ futuro
zuM
3\ /§
, §° divcrum'entos, é clan quc a família lerá dívidas e perd45'. Trata-se,
então, não apenas de senl1m'enlos subjelivos, mas de evídências
/ c5°
6
\
\
\
/ totalmenlc rcais, as qua15' conferem um mímmo de legimidade ao
/
\
A medo cmcrgenle do fuluro.
\ x "geração sem 1uturo"
(desesperança, resignação O oulro ponto no círculo, onde se manifesla a realidade
e revolta da juventude. etc.) objctiva, não é lão cvidenle assun' e foi ignorado por muilo lempo,
pelo mcnos pcla psicologia. Rcfere-sc ao arco cntrc o scnum'enlo
Com respcilo aos evenlos do uuiverso mais amplo, podcmos
de falla dc scnlido e docnça psíquica. Para explicar essa relaçã0,
acrescentar a cada um dos qualro falorcs uma palavra chave, indi-
precisamos nos dclcr um pouco na conccpção quc geralmcnlc se
cando a complcxidade dc seus efcilos. Ao semimcnto dc falla dc
faz do homcm
senlido de cada um, indiv1'dualmcnlc, correspondc, a nívcl colcliv0,
o “vaL1"o ex15'\lcncial” de uma “geração sem scntid0”, conforme ü Quem é 0 homem? Há m11'ôm'os, ñlósofos e pensadores bus-
cnfaltum"os. A doença psíquica de cada um cquivalem as neuroscs cam uma m°lcrprclação do homem; scmprc, porém, seus projelos
de massa da aluah"dade, com seus m'dices clevados dc crimm'alidade, permancccram m'complclos. Pclo mcnos chcgou-se a alribuk ao
dcpendência dc álcool e drog45', dcpressão e suicídios. Como com- homcm um corpo c uma AM'a, cmbora sua m'ler-rclação permanc-
porlamenlos m'adequados, social c m'dividualmcnlc, podcmos com- ccssc misteriosamcnlc obscura. Dc acordo com a conccpção oci-
siderdr', em escala mm's ampla, Iodas as ações 1r'racionais da dcmaL o corpo represenlaria a dimcnsão malcriaL quc o homem,
humanidade que lêm por objelivo o dr'mamcnlo m111"lar cxcessiv0, a pela sua origcm cvoluLiva, comparulh'a com os amm'a15'; a alma, por
cxploração, a deslruição da nalurcu c da cullura. ch, e 0 medo oulro lad0, como “1m'agcm à scmelhcmça dc Dcus", assumu'1'a um

18 19
"'
valor mals' elcvado, ac1m'a dc todo o rcstanlc da natureza. No mí'cio dc Dcus”; não ma15' foi rctomada, porém, pcla modcma psicologh
do século XX, quando, por um lado, os dogmas rehg1"osos perderam c¡'entlñ'ca.
sua cstabd1"dade e, por outro, a rccém-críada ciência psicológjca Foi Frankl quem rem'troduziu a d1m'cnsão espln"tual do ho-
cnlwu nos consultóños médicos e nos mcios acadêmicos, a noção mcm na psicologia, ocasionando uma rews'ão fundamcntal da con-
de alma sofrcu uma súbíla mudança. A “1m'agem à semelhança de cepção do homem. O cspírito não busca o prazer; busca o sentida
Deus” transformou-se numa “1m'agcm à semelhança do homem”, O espírito não procuxa a sausf'ação dc suas necessidades; procura
desm1'uñ'cada.' é a psique, que foi também ms°en'da na conccpção no mundo tarcfas e objctivos que lenham scntida E justamcnte
naturahs'ta. Do ponto de ws'ta cientíñco, da mcsma forma que o ncstc ponto surge o mundo exterior com suas m'úmcras possibi-
corpo sería uma cvolução a parür' dc orgams'mos amm'aJs', a psiquc
lidades de Ãjsntido c scus valorcs objctivos, que precxsam' scr com-
também constituma" uma conun'uação c aperfeiçoamento cstrutural creuza'dos. nicamcnte uma 1m'agem do homem, que m'clua a
de ms'nn'los c cmoçõcs amm'als' c dc capacidadcs m'tclcctuaxs' rudi- d1m'ensão csp1r'itual, pode transcender o mundo m'terior do eu,
mentares de solução de problemas.
regulado homcostaúcamente, e reconhecer o homem como um ser
Com base nessas m'tcrpretações, surgüam a psícanáhs°c e a que, além de sua equmbração m'lema de necessidades, tem a moti-
tcrapia comportamenlal, duas cscolas psicológicas básícas que ape- vação smgul°ar e suprema de encontrax c reahzar' um sentido no
sar dc suas d1f'ercnças metodológicas acentuadas conceítuaram o mundo cxterno; este scntido podJe s'gmñ'car-lhe tanto quc, se neccs-
homem como um orgams°mo orientado, cm úlnm'a anáhs'e, para sua sário, consagraria até sua vida a el Já o grandc ñlósofo Pascal d15°sc:
autoconservaçáo. À scmelhança de um regulador aulomático de /4“O homcm transccnde mñm"tamcntc a si mcsm0."
homeostase, o homem cstaria sempre vollado para uma equ1h"bra- Voltemos ao nosso esquema do “círculo diabólico”, que atual-
ção do seu bem-estar, tentando saüs'fazcr todas as suas necessídades mente mantém muilas pessoas em seu cerco. Constatamos que, após
e buscando, além d1$'so, o número mámm'o de vivências dc prazen a pcrda das tradiço'es, surgiu uma ms'egurança cxistenciaL a qual
Essa vns'ão realmente t1nh'a seus atrativos, pons' combmava exata- acarretou universalmente um sentun'ento dc falta de sentido. Dc
mente com a busca de emancípação do homcm moderno e scm acordo com as dcscobertas de Frankl,/sabemos também que o
preconccitos, dando-lhe a nccessáría retaguarda para vcncer o scnum'ento dc falla de scntido constitui a expressão de uma fruslra-
podcr daquclas antigas Lradiçõcs, que estava em vias dc dcscartan ção puramentc espirimak po¡s' é o potcncial espm"lual que, 1n'dc-
Como já m'dícamos, ocorreu uma accntuada perda de tradições no pcndentcmente de qualãür pressão dos ms'l1n'tos, busca uma
mundo civ1hza"do, que não dc¡x”ou de ter seus efeitos também sobrc ens'tência plena de sentid á uma m'congruência entre a d1m'ensão
os povos menos civ¡hza"dos. psíquica, com sua busca constante dc “auto-rcahza°ção”, e a dun'cn-
SLm'ultaneamcntc, levantaram-sc vozcs críticas contra essa são esplr'itual, com sua não menos constante busca de “rca11m'ção
concepção psicológica do homem extremamente orientado para sí dc valores'/'Essa m'congruência ñcou evidenlc quando se observou
próprio; um de seus críticos maxs' 1m'portanlcs é V1k'tor FrankL Antcs que o m1"cio da fruslração de scnlido, dc carátcr epidêmico, com'ci-
mesmo da pcrda de tradições, venñ'cada em meados do nosso diu com a época em que comcçou o “m¡l'agre econômico” nos paxs'es
século, pondcrou elc reiteradamcntc que o homem não é um ho- m'dustriahza'dos do Ocidente. A prosperidade gcnerahza'da pcrmi-
meostato, cuja mls'são exclusíva na vida consts'tc em satls'fazer a si tiu a satls'fação de m'um'cras necessidades psicológicas, man1f'cs-
próprio. Dc acordo com a conccpção de Frankl, o homem realmentc tand0-se, por cxcmplo, no mov1m'ento de liberação sexual ou na
possui um corpo, comparávcl ao dos outros orgams'mos, c uma mam'a de esbanjamento de uma socicdade de consumo excessivo.
d1m'cnsâo psíquica, que abrange as emoções humanas d1f'eren- Qualqucr desejo consum15'ta 1m'agm'ável poderia agora ser reahza'-
ciadas, com base nos 1n5't1n'tos. Por6m, ac1m'a destas d1m'cnsões, do, com cxcessão do anseio csp1r'itual do homcm, 0 anseio dc vivcr
possui am'da uma dimensão espin'tual, que constitui a d1m'ensão para alg0, de servu' para algo na vida. De acordo com Frankl, havia
verdadeüamente humana, a d1m'ensã0 que realmcntc clcva 0 ho- cada vcz mals' do que vivcr, e cada vez mcnospara que viver.
mem ac1m'a do amm'al, não apenas quantilatíva, mas também quali- A desgraça do prcscntc bascia-sc, a551m', numa cnorme frus-
tativamente. A dímcnsão cspüituaL de certa maneira, está lração csplr'itual, que faz0 homem voltar-sc para sipróprio c 0 1n'duz
s¡m'bollza'da nas conccpçõcs tradicionab da “1m'agem à scmelhança a procurar pcla felicidade dentro da d1m'ensão psíquica, o que

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ocasionou a abcrtura surprecndcntc de um mercado para reccitas a constituk para ele uma tarcfa quc tcnha senlido, sigmñ'cando,
dc feh'c¡'dadc. Com Lss'o, o homem acaba negligcnciando aquelas quando muílo, uma fontc dc rcnda cômoda ou um fator dc prcstígio.
únicas d1m°cnsões de valorcs que são d1gn'as do cspm"to humano, c Se assm' for, há am'da a possíbxh"dadc de que esse jovem, fora da sua
que são constituídas pcla reahza'ção de valores objctivos no mundo, atividadc proñssionaL lenha tantos conteúdos sans“fatórios na vida,
tals' como 0 bem, o bclo, o positivo, enñm, tudo que tenha sentido. que possam wmpensan m'teriormente, o tempo e esforço que pre-
Essa negligência, porém, tem seu preçoz justamente a saúde psíqui- cns'a dls'pcnder para a empresa. Podemos, então, supor que
ca. Dls'cum"cmos cm seguida o porquê dxs'so e, sobretudo, como cle não 1n"a se cmpenhar muito nos negócios da empresa, mas, do
surgc a oportunidade de, nestc ponto, quebrar o “c1r'culo diabólico" ponto de v1$'ta da higiene psíquica, é amda possível que tudo dê
e, em d1r'cção contrária, restabelecer a saúde psíquica através de ccrto. /
proccssos de busca dc sentido. Anlcs, porém, gostaria dc completar
Sc, porém, o jovcm tivcr poucos m'tcrcsscs c “h0bbics” tam~
nosso csquema com os três ckos que mencíoneiz o cxx°o objctivo, que
bém fora do trabalho, for m'capaz dc um ralacionamento duradouro
deve ser traçado no “círculo diabóh'co” entre a negligência de
c ñcar enlcdiado no seu tempo de lazcr, ao m'vés de se enlregar a
valores objetívos e a criação de dcsvalores objetivos, c os dons' elx'os
atividades que tcnham sentido, poderá ter 1n1"cio aquclc “cu"culo
subjetivos, dctermm'ados, do lado “patológico”, por doenças psíqui-
diabólico”. Isto sigmñ'caria que o jovem não uuhzar"á suas forças
cas c comportamentos socials' e m'dividuals' 1n'adcquados, e, do lado
esp1r'itua15' latentcs c saudáve15' para melhorar a situaçã0, quc scnte
“normal”, pelo medo do futuro e senum'cnlos de falta de scntido.
como frustrante. Ao contrário, poderá entrcgrapsc à busca de
negligência de prazer a cuno prazo, de vantagens cgors'tas c de auto-af1rmação
valores objetivos \ forçada, a nível subumano, procurando na _d1m'cnsão psíquica a
(do bem, do positivo, etc.)\ \ saüs'fação que não cncontrou na d1m'ensa'o espm"tual. Provavclmcn-
.\›\ xdoença te, ncgügcnciará cada vcz mals' a cmprcsa, comcçará a beber ou a
//v°\a
\ \ 2 psíquica cntregar-sc à vida notuma em boates, trocará constantementc suas
eg\\' N \ \ _\
e*¡
,,\ o namoradas, exibirá aulomóvc15' caros, senür'-sc-á excitado com
\ \ fD \ó\(ló~ avcnturas ams°cadas ctc. Paralelamcnte à neghg'ência de possibi-
sentlmemo
' de ¡%-\ \l/O comport amen t os
o . °'/ lidades objetivas de sentido, ocorre a decadência da estabú1"dade
falta de señtido 9/ij»› \ sociais e psíquica. O jovem em qucstão, logicamente, percebe-o e, no quc lhe
(trustração \I'ndividuais rcsta de sua cms'tência cspm"rual, rejcita-o profundamcntc - ou seja,
espirituaD inaaeq\uados está num contlito com sua consciência - 1rr1"ta-se consigo próprio e
podc passar a reag1r' dc maneüa cada vez mzus' depressiva ou agres-
siva, ou a refugiar-se cm cstados dc cmbríagueL Sc não rccebcr
ajuda d1n”gida, o jovem cstará corrcndo o r1.s'co dc transformar-sc
num caso patológico, desenvolvendo uma neurose ou um vício,
criação de desvalores entrando em confüto com a le¡,' ou até tentando o suicídio. Dccor-
objetívos (prejuízos, renlcs dls'so, surgem brigas com a família, são tomadas dccm'o'cs
erros. etc.)
crrôncas no trabalho, há desperdício ou desfalque de dmh'eu'o ctc.
TalJv uIn exemplo possa demonstrar na prática nosso esque- Os comportamentos 1n'adcquados do jovcm tornam-se cada vcz
ma tcóri Suponhamos que um ñlho assuma a empresa de scu pa1,' maJs' cvidentes e causam efcitos cada vcz ma15' trágicos, até que
sem, no entanto, vcr um sentido mals' profundo na düeção dessa ocorra algum Lipo dc colapso, cnvolvendo a cmprcsa ou a família
empresa; apenas sente-se na responsabüdade dc assumi-la, ou, toda. O colapso poderia servxr° como um últIm'o alerta, assLm' como
s¡m'plcsmcnte, não pcrccbc outras pcrspectivas na vida. Evidenlc- também poderia sxgmñ"car o ñm, po¡s' o jovcm tomaria consciéncia
mentc, é possívcl quc, mesmo assxm,' cle passe aos poucos a sc da desesperança quanto a um futuro duvidoso, parahs°ando qual-
idenhñ°car com 0 trabalho, obtcndo uma certa saüs'fação através de quer poder dc obstmação dc scu espm"lo, o úníco capaz de, a partü
suas aüvidades. Porém, é possível a1n'da que a empresa jamals' venha dos escombros, reconstruu' uma cms'tência que tenha sentido.

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sempre válido para a orientação quanto à nossa locahza'ção, po¡s'
Se reflcürm'os, passo a passo, sobrc tal cvento trágico, que
também o sentido mantém-se 1n'depcndcntc da respcctíva situação
aparece sob m°úmeras variantes, lcvanta-sc a questão sobrc como de vida, a partü da qual nós o procuramos.
poderíamosprevem'-Io, como poderíamos ajudar. Ass¡m,' passarei a
mc conccntrar sobre as perspcctivas positivas da busca dc scntido, Essa mctáfora é oportuna am'da por um outro motivo, poxs'
abandonando o “círculo diabólico”. Gostaria de antecipar, porém, s¡m'bohza' que uma dn'cção não m'clui qualqucr mf'ormação sobre a
quc, com uma psícotcraph de basc espm"tual conforme a tcoria dc d15'tan^cia. O norte, para ondc a agulha da bússola aponta, podc estar
FrankL poderíamos ajudar ojovcm cm questã0, em qualquer estágio a uma d15'tan^cia ma'cessível ou bem próx1m'a, à semelhança do
de sua cns'e ems°tenciaL não apcnas no mí'cio do processo cu'cular sentido da vida, que é mñm"tamcnte abstrata c, ao mcsmo tcmpo,
neurótico, contanto que qucüa scr ajudado, po¡s' a psícotcrapia não extrcmamentc concreto. Podemos d1f'ercnciar o sentido, grosso
é absolutamente aplicávcl contra a vontadc dc uma pessoa. A modo, cm três m'vc15'.
prevençao', no entanto, só pode ser feita no começo, quando a busca SUPRA~SENTIDO
de scntido cstá ameaçada dc fracasso, c tem mí'cio a “dcsumamza'~
ça'o” de uma pessoa. Como já vi muitas pessoas nestc d11'ema, tenho
consciênch da 1m'portan^cia até do ma15' sun'plcs apoio que uma outra conteúdos de sentido encontrados pelo homem em sua vida
pessoa possa oferecer na luta pelo senLido, das palavras certas no
momento certo, de um lívro encorajador, de uma idéia ou sugestão, Mreaüzações possibilidade
quc podcnam' accndcr a ccntclha cspm"tual; cnñm, a m'dicação dc de sentido de sentido
uma possn'b111"dadc de sentído, que a pessoa cm qucstão não pode no no
perccbcr no momento, poxs' scu “olho m'terior” cstá como que passado futuro
coberto por um véu. Muitas vczes não 1m°ag1n'amos quanta desgraça
"sentido do momento" a ser realízado
podcria ser evitada por c01$'as ms'1gmñ"cantcs; que cssas mnh'arias
possam dcsencadcar efcitos desastrosos, é conhccido de todos; Para aquele sentido, não apreensível pclo homcm, a não scr
porém, elas podem tcr também um cfeito salvador, às vezes maior através de um mov1n1'ento de fé em d1r'eção à transccndência divm'a,
do que procednn'entos mans° soñsticados. Esta é a oportunídade para V1k'tor Frankl criou o conccito de “supra-sentido”. É desncccssário
cada um de nós. A psicologia c psicoterapia não podetn ser pratica- cspccular sobre este “supra-scntido” - que nada tem a vcr com
das por todos, ncm é tarefa de todos curar pessoas psiquicamente “sobrenatural”* - p015', por deñm°ção, escapa da nossa compreensão
doe es; porém, a tarcfa de todos nós é ajudar onde for possích humana. A suposição de um “supra-sentido” abre-nos, porém, a
Então, como podemos ajudar, a nós próprios e aos outros, possibüdade de que elementos do mundo, que nossa razão consi-
nessa busca dc sentído, que todos nós, ma15' cedo ou mals' tarde, e deraria “scm sentido”, como por exemplo a cxzhtência do mal, as
em situaço'cs-hm1"tc, prcc15'amos rcítcradamente efctuar? Devcmos com'cidências funestas, o sofr1m°ento de pessoas m'ocenles ou 0 fato
nos lembrar dc que o sentido não pode ser dado, prccm'a ser m'cvitávcl do cnvelhecm'cnto c da morte, tcnham seu sentido numa
encontrado. O que podemos fazcr é descrcvm o proccsso dc busca outra dun'cnsão superior, m'acessível ao homem
de scntido e descobnr' o scnlído a parm dcssas dcscríções; é cons- Aberta ao homem, mas não ao amm'al, está a aprccnsão dc
tru1r' m'dicadorcs para a busca dc scntido e 0rientar-nos por elcs íconteúdos de sentido cspccmcos cm sua vida. Ta15' conteúdos de
Ac1m'a de tudo, porém, devemos estabelecer como param^ctro para sentido poderiam ser constituídos pela reahza'ção de uma tarefa
nossas ações aquüo que tcm sentido, mesmo quando csse param^etro cscolhida voluntan'amcnte, pela exploração dc novos honz'ontes,
não corrcspondc exatamcntc aos nossos desc_i0s m'dividuals'. Trata- pela descoberta dc um bcnefício, pela produção de obras de ane,
sc de du"ccionar a vida dc acordo com um critérío que se estenda pelo fabrico dc artigos novos, pela luta contra um mal, c ass¡m' por
para além da vida, à semclhança da agulha de uma bússola, que dianlc, lendo sua ênfase na existênciapara alga Esses conteúdos de
aponta para algo além da bússola, para algo m'dependentc da posi-
ção cspacial dela. Com cssa mctáfora, podemos tornar o conccito ' N.T. Em alcmão, Ubasvm~' (supra-scntido) c das Ubasumhche"" (o sobrena-
dc “sentido” bem mals' explícito: também ele constitui um meio tural) podcm dar margcm a confusão.
jsenüdq porém, podem também ser encontrados na constituição de reahzo'u cm sua vida e quc conseguiu “colocar a salvo” no scu
uma família, no amor pclos ñlhos, no engajamento caxilativo ou na passado, onde cstão consolidados ñrmcmentc. Em compcnsação,
assm'te^ncía a outras pcssoas, culmm'ando na exzs'tência para alguém. seu futuro contém possib1h"dadcs dc scntido apenas hm1"ladas, é
É esscncial obscrvar que os conteúdos dc scntido não cquiva~ pobre em comparação com seu passado, quc é rico.
lcm totalmentc aos objclivos que estabelecemos para o futuro,
cmbora os objetívos possam scr bastantc desejávels'. Os conteúdos Na velhice:
de sentído, porém, permelam' a extensão total dc uma vida humana.
Estendem-se do futuro ao passado, po¡s', enquanto um objetivo
pcssoal dcsaparccc com sua consccução, permanece a plcnitude de
scntido de uma obra positiva, de uma cxperiência agradávcl, dc um
amor rcahza'do, elc.; não há nmgu'ém ou nada quc possa extmgul"-los. /_\<>(7Krealizações
de sentido possibilidades de
Assm1,' o futuro contém, além de objctivos estabelecidos subjcti-
no sentido no Íuturo
vamentc, 1n'um'eras possib1h"dades de scnúdo objctivas, quc csperam
passado
pcla sua reahza'ção c que, ao screm aproveitadas, lransformam-sc
em reahza°çõcs de sentido também objetivas. São valores reahza'dos
e criados pelo homem, que estão armazenados, de modo seguro, em
seu passado. Se, por excmplo, um jovem médico perccbeu como Assm,' ñcou claro por que não podemos considcrar como
possib1h"dade de sentido em seu futuro dcsenvolver um soro contra fatores de sentido apenas os rcspcctivos objctivos de uma pessoa. O
uma cnfermidadc pcng'osa, e se sc dedicar a esse objetivo com homem que se aproxma do ñnal dc sua exts'tência quase não possui
succsso, a reahza'ção dessa possíb1h"dade de senLido estará ctema c objctivos para sua vida c, mcsmo sc os tivcsse, provavelmente não
ms'cparavclmcntc hg'ada à sua vida. Nada poderá m'ar-lhc o fato de consegunr°ia ma15' alcançá-los. O que possu1,' porém, são os objetivos
quc foi capaz de dar ao mundo um soro precioso, nem mesmo dep01$' reahza'dos com sucesso, o quc alcançou, o que vivenciou, o quc
que, há muit0, cstiver morto. sofreu, a plcnitudc dc tudo pclo qual valeu a pcna tcr vivido; são os
Gostaria de enfanzar' esse ponto de ws°ta da teoria de FrankL conteúdos de sentido reahza'dos em sua vida, que lhe pertencem
po¡s' no decorrcr da vida os do¡s' “montes” de possíb111"dades de etemamcntc. Também a velhicc tcm scu consolo...
scntido c de reahza'ções dc sentído se mod11i°cam contm'uamente. O Bem, após canunh'armos do m'vel de maior abstração do scn-
jovcm, mg'essando na vida adulta, tcm pcrantc si uma enorme tido, o supra-scntído, que ccrtamcntc é atcmporaL para os conteú-
montanha dc possíb1h"dades de sentido, porém, atrás dc si, prova- dos bcm mcnos abslralos do futuro c do passado dc uma vida plena
velmcnte não sc cncontra nenhum grande tcsouro quanto às reali- de sentido, abordarcmos a1n'da o nívcl verdadcüamente ooncreto
zações dc scntidoz seu futuro é rico c seu passado, pobre. do sentido, e que se situa no prescnte. Consxs'te no respectivo sentido
presente, no “sentido do momento”. Ncsle ponto, deparamo-nos, de
Najuventudes acordo com Frankl, com 0 “marcapasso da ems'tência”. Os grandes
conteúdos de sentido da vida, os objctivos, tarefas e obras pessoals',
a dcdicação a algo c a alguém, só podem ser reahza'dos ao serem
Mpossibilidades
realizações de sentido relacionados a pequenas unídades, a momentos, a situações concre-
no passado de sentido tas, das quals' cada uma é única e nrr'epetível, contendo em si scu
no futuro próprio caráter dc sentjdo, também um"co c 1rr'epctívcl. Na verdade,
o homem não pode nr°ar um sentido qualquer do nada, para então
O reahzá'-lo! Imag1n'emos 0 quc 15°so s¡gmñ"caria: para uma pessoa tena°
Por outro lado, o idoso, sc tívcr conscguido levar uma vida “sentido” alear fogo a uma casa, paIa oulra teria “sentido” fazer
plena de scntido, já atravessou a enorme cadeía de montanhas, que explodn' um avião ctc. Porém, não cabc ao homcm dcñnü o sentido,
agora cstá atrás delc, com toda sua plenitude de valores, os quals' assxm' como não cabc a elc deñnk as lels' matemáticas. 0 fato de a

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ra1z' quadrada de 169 ser 13 não pode ser inventado, só pode ser soro 1m'portante, torna-sc claro que as horas que csse homcm
cncontrad0, descoberto*. Da mcsma forma, 0 respectivo “scntido do passará no laboratório, cmpenhado em seu trabalho de pcsqmsa,'
momcnto” prec15'a ser descoberto, decodlñ'cado. Trata~se de um serão das ma15' sans'fatórias de sua vida, mesmo que se cansar c tiver
scnlido tão prcems'tente quanto a regularidadc das opcrações ma- que se esforçar dema15', ou até renunciar a muitas outras coxs'as. Scm
tcmáticas. dúvida, muitas vczes o “sentido do momcnto” o chamará c m'tcr-
Durante toda mmh'a exposição, esforcei-mc sempre cm mos- rompcrá scus estudos prcfcridos, quando, por exemplo, scrá solici-
trar a hnh'a de contato cntrc subjetivídade e objetividadc, para tado cm sua função de médico praticante ou de pai de família.
caractcnzar' o homem como um ser ms'erido no mundo, tornando-se Dcverá também obcdecer a esse chamado sc quiser manter sua
humano somente à medida em que entra em contato com esse consciência reahza'da, poxs', como podería se dedicar, com a consci-
mundo. Também delx'ei transparecer que qualqucr forma de auto- ência tranqml"'a, às suas pesqms'as, sabendo que, ao mesmo tcmpo,
reahza'ção prcssupõe uma rcahza'ção de valorcs. A reahza'ção do estaria ncgligenciando outras tarefas, que assumu'a com respon-
“sentido do momento” constituL ass¡m,' a fusão completa cntrc sab1h"dade?
subjetividade c objctividade do sentido; se essa função estiver par- Cumpnr' o “sentido do momcnto” sngmñ"ca, cntão, umr' hax-
turbada, toda a característica dc ser-humano do homem se transtor- moniosamcntc os objctivos e valores superiores, que consideramos
na, podcndo essa perrurbação contm'uada ocasionar desarmonias como contcúdos de sentido pcssoaxs', com a respectiva resp0n-
psíquicas tão gravcs, como as descñtas no “c1r'culo diabólico”. sabxh"dadc perantc a situação concrcta cm que nos cncontramos.
Exam1n'emos mals' uma vez o nosso exemplo do jovem que Ou, expressando-o de mancüa mals' sm'ples: cumpnr' o “sentido do
assume uma cmpresa, sem, no enlant0, perceber um sentido mals' momento” s¡gmñ"ca seguü nossa consciência. Aquela consciência
profundo nesta tarcfa. Argumentamos que a frustração pcrmancnte que, segundo FrankL representa a capacidade do homem de desco-
de sentido podería levá-lo a doenças e a comportamentos m'adc- bnr' o scntido únioo e smgul°ar oculto em cada situaçao'.
quados. Porém, há ma.15' um clcmento que não foí mencionado, p015' Em cada situação... por acaso, cstará o leitor pcnsando que sc
nos detivcmos unicamente nas cücunstan^cías subjetivas da vida do trata dc cxagcro? Uma situação dc sofnm'cnto, dor, perda, também
jovem. O fato objetivo da cx15'tência dessa empresa também tem conterá um sentid0? Dm"a que sxm,' e gostaria que o leitor retletbse
caractcns't1'cas de scntido, ou seja, um apclo do sentido para tornar sobre cstc “sun'” com muito cannh'o. Mcsmo os momentos dc sofri-
a empresa a melhor possíveL E, no momento em que ojovem assume mento m'alterável têm suas p0551'b111"dades de sentido, as qums' não
a d1r'eção da emprcsa, confronta-se não apenas com suas próprias aparecem no mundo dos senUm'entos da psiquc, mas que certamen-
idéias subjctívas sobre conteúdos de scntido da vida, mas também te podem ser descobertas através de sondas esp1r'ituaxs'. Poxs' o
com aquclc apelo do sentido objetívo, para não só assum1r' a cmpre- sofr1m'ento nos desaña a assum1r' uma postura ereta, a suportá-lo
sa, mas assumi-la com rcsponsab1h"dadc. Isto sigmñ'ca quc, para com dignidade e, assm', a crcsccr m'teriormentc e amadurccer, para
seguü o “sentido do momento”, sc o jovem não sc scnns'se com que, cm ul't1m'a anáhs'c, nos transformemos. Também csta é uma
competência para essa emprcsa, não devería tê-la assumid0; forma de auto-rcahza'ção com base numa reahza'ção de valoresz os
deveria ter cntregue sua d1r'eção a pessoas ma15' capaa°tadas. Dessa valores dc um modelo heróico, que alguém 1rr'adia para seu ambien-
manelr'a, porém, além dc dcmar' que sua própria busca de scntido te ao posicionar-se corajosamente frente à sua desgraça, fazem com
ñcasse frustrada, agiu também contra o carátcr de conclamação, ou que sc transcenda.
chamamento, da situação; a subjctividadc e a objetívidade de senti~ Porém, o defensor daquela velha concepção psicológica do
do daquelas cu'cunstan^01'as absolutamcnte não c0m'cidiam, o que homem, segundo a qual o ser humano ex15'te prm'cipalmcnte para
ele, psiquicamente, não foí capaz dc suportan saüs'fazer suas neccssidades, para conseguk felicidade e reumr'
Em contraparlída, voltando ao exemplo brevemente mencio- sucesso c poder, desmoronará psiquicamente diante do sofr1m'cnto,
nado do jovem médico, que se colocou como tarefa desenvolvcr um po¡s' ele am'da não pcrcebeu o m've1 de valores próprio do ser
humano, o “sentido do momento”, o sentido da vida. Há um provér~
bio dc doxs' m11' anos que contém uma sabedoria que a psicologia
' N.T. Emalemão,erñndcr = m'vcntar,heramfínden = dcscobnr'.
moderna estáagora redescobnn'do como scndo a chavc para a saúde
psíquica. 0 versículo é do evangehs'ta Mateus, segundo o qual Cns'to
dxss'e: “Quem achar a sua vida, pcrdê-la-á; e quem pcrder a sua vida
por amor a m1m,' achá-la-á¡.”l
Se, nas palavras de Cns'to, substitmrm'os “por amor a m1m'”
pclo na'o-humano, pelo que objetivamcnte tem sentido, pelo ser no
mundo, chcgamos cxatamcntc à añrmação quc grande psiquíatra
2.

4
V1k'tor Frankl legará a csse caótico século XX./2''c 0 homcm qu15'er
manter sua saúde psíquica, deverá autotranscender-sc em d1r°eção
a um sentido a scr cumpn'do. fl Da “psicologia profunda” para a “psicologia
das alturas”

Nas úlum'as décadas houve o surgimcnto de uma profusão dc


correntes psicológicas, trazcndo prcjuízos à população de nossa
cultura c seriamente prcocupando os psicólogos conscientes de suas
responsablll"dades. Todos os aspcctos humanos, bcm como os 1n'u-
manos, foram observados e analisados a parhr' de pontos de VIs'ta os
mals' estranhos, tcndo como resultado muita 1rn"tação no cotidiano
do lcigo e uma fragmentação sectária c fanaus'mo entre os proñs~
síonals'. A ñm de detcr estc proccsso calamitoso de psicologls'mo,
não necessitamos de uma “cscola de psicología” adicionaL ou seja,
de uma nova oricntação de acordo com a últ1m'a moda, mas de uma
reumamzaç'ão de toda a psicalogia. Isto sngmñ"ca que precxs°amos
1n'tcnsnñ'car as forças saudávc1s' dc auto-ajuda nas pcssoas, prevcmn'-
do com ls'to a formação dos “círculos diabólicos de qualqucr cspé-
cie”, sem ter quc pagar o preço do psicologls'mo. Além dlss'o,
precxs'amos melhorar as ofertas de ajuda terapêutica por parte dos
pcrítos, os quaxs' deveriam estar cientes das d1m'ensões múltiplas do
scr humano, scm que elcs próprios m'corram no erro da uml'atcra.1i-
í dade. Conhcço um único pnn'cípio dc pcnsamcnto através do qual
'à um emprcend1m'ento desse tipo tcr1a' sucessoz trata-se do sxs'tema da
logotcraph de FrankL
A apenas dezesscte anos mgr'essei pela pnm'eu"a vez ncste
sns'tcma como estudantc. Desdc então, em sentido ñgurado, percorri

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todos os scus andarcs, do porão ao sótão, c scmpre novos corrcdorcs mcntos psicológicos tradicionais rapidamcnlc csgotariam scus rc~
foram se abnn'do diante dc m1m,' conduzm'do-me a oômodos m15'te- cursos. Selecionei os exemplos arbitrariamentc da mmh'a cxpen'ên-
ríosos e quasc m'tocados, dando-me a 1m'pressão de que o conjunto cia dc anos com pcssoas procurando oricntação. Para os leítorcs
todo era uma enorme moradia do espm"lo humano. A logoterapia é que são proñssionaxs', cstes exemplos serão conhccídos como com-
uma antropologia que não se contenta em esclarecer fenômenos titum'do os problcmas mais rcsistcntes à tcrapia c mais complicados
psíquicos, mas m'clui os fcnômcnos cspm"tua15' da cxns'tência huma~ dentro da psiquiatria e psicotcrapia.
na. Assxm,' certas portas que permaneciam fechadas para o substrato
Mcncíonemos logo de mí'cio a h¡s'teria quc, apesar dos m'úmc-
emocional da psique, dc rcpente se abrem para as capacidadcs do
espírito humano. ros tratados teóricos a respeíto, contm'ua sendo uma patologia
psíquica quase quc m'curávcl. O termo “histcria” não é muito ut1h"-
Todos sabcmos que a psicologia profunda*, num longo c zado atualmcntc devido às suas conotaçõcs degradantcs; com o
m°cansável processo dc pesquisa, tentou revclar a verdade1r'a natu- passar do tempo também mudou consideravelmentc a maneüa
reza do homem, m'terpretando até as mmun"as reações psíquicas; dc como csta cnfcrmidadc sc man1f'esta. Contudo, não é raro dcparar~
fato, ela foi capaz de descobm' e explicar muitos fenômenos, que até se a1n'da hojc com esses pacicntcs quc, com perfcição dramática,
enlão tmh°am sido m15'térios. Sobrou, porém, um rcsíduo m'explicá- enccnam aprcsentações trágicas de carátcr dcmonstrativo com a
vcl, 1m'possível dc ser m'tcrprctado psicanah't1'camcnte, à semclhança úm'ca ñnalidadc de manipular seu ambiente, ou scja, forçá-lo a
das manchas brancas num mapa. Trata-se de uma lmh'a div1s'ória, determmadas reaço'es. Os docntes utihzam'-se de qualquer meio, até
que não pode ser ultrapassada somcntc com os conheam'entos mesmo dc automutüação c outras armas d1r'igidas contra si próprios.
sobrc a dln'am1^'ca dos 1m'pulsos, porque para além dela valem parâ- Dor, alegria, medo, pa1xa"o, vontade de morrer ou de viver - tudo no
metros d1f'erentes dos 1m'pulsos e sans'fações. Foi mérito m°questio- h15'térico é 1n'autêntico cm maior ou mcnor grau c tcm scmpre como
nável da logoterapia mostrar quc, num nível cspm"tual, 0 ser humano objetivo apelar para os outros. A algumas pessoas pode scr aplicada
não se 1m'porta pnm'an'amcnte com a saus'fação de suas necessi- a teoria corrcnte de que elas não recebcram amor c atenção suñ-
dades; ao contrárío, clc sc preocupa com a percepção de tarefas, a cientcs dos pais na mf'an^cia c que, por sua enorme nccessidadc dc
consecução dc objetivos por ele cstabclecidos, a reahza'ção de recupcrar esta dedicação, produzem durante toda a vida cstas cns'es
valores, cnñm, com a rcahza'ção de algo como um sentido pessoal hls'téricas para quc, pelo menos por curtos períodos, possm ganhar
de vida. E para pcrseguü csla “vontade de scntido”, 0 scr humano à força a atcnção das pessoas ao rcdor. Porém, raramcntc foi
se dispõe até a renunciar a qualquer sans'fação de necessidades. comprovada a teoria de que com a rcvclação dcstas conexões
A grande obra da psicologia profunda foi contm'uada, com- dunm"uísse automaticamcntc a lendência a cstas aluaçõcs hm"téricas.
O hls'térico, para mantermos esta denominação pela sua sm'ph'c1'da-
pletada c rcws'ada pela obra da “psicologia das alturas”, como
de, é um docnte que quer ser doente, que espcra obter algum
costuma ser denommada a logoterapia. E se hojc somos capazes de
esquemaüzar' uma 1m'agem razoavelmente reahs°ta do ser humano, proveito de sua doença, scja uma vantag'em para si próprio, ou
stm'plesmentc a alcgria pervcrsa pelo prejuuo' causado a outrem
podcndo também ofereccr auxílío para comglr" d1$'torções patoló-
com scu acesso hls'térico. Que ajuda terapêulica podemos fornccer
gicas da cx¡s'tência humana, dcvêmo-lo a duas correntes psicoló-
neste caso, v15°t0 que toda terapia prcssupõe a chamada “pressã0 da
gicasz à psicología profunda por tcr m'vestigado a psíque do ser
dor” do pacicntc, ou seja, sen desejo sm'cero dc se curar? A s¡m'ples
humanoaté scus hm1"tes, c à “psicologia das alturas” por tcr rompido
compreensão de como a docnça sc dcsenvolvcu não sigmñ'ca abso-
justamente esses hm1"tcs através da comprovação de que a condição
Iutamente quc despertará no paciente a vontade dc se curar.
dc ser humano scmpre ultrapassa a d1m'cnsão psíquica, alcançando
uma d1m'ensão espm"tual. A logotcrapia, porém, aprescnta 0 delm'eamento dc uma “rc~
núncia plena de sentido”, o que sigmñ'ca 0 pacíentc renunciar
A scgulr', gostaria de citar alguns exemplos da práxis em que
voluntariamcntc por causa dc uma pcssoa que ama ou de algo que
tals' ultrapassagcns dc hm1"tes são 1m'prcscm'dívcis, p01s' os procedi-
scja 1m'portantc para just1ñ'car sua rcnúncia. E justamente estc
csqucma é também 0 único que conhcço que lcnha alguma pcrspec-
' N.T. Psicologia dm'ámíca, ou psicanáhse'. tiva de sucesso no tratamento da h15'tcria. O pacientc estará salvo no

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momento em quc se torna capaz dc perceber um conteúdo dc vida sentido quc o pacienle possa temporariamenlc abandonar sua afli-
pelo qual valha a pena abandonar a hls'tena' e desxs't1r' da encenação ção hiper~refletida, fazcndo com quc csta ailição, ao não rcccber
de um próJnm'o accsso, oferccendo, por assun' dxze'r, a doença como atcnção por algum tcmpo, d1m1n"ua c às vezcs até dcsaparcça por
um sacnfí'cio a este novo conlcúdo dc vida. Curar um lns'térico complcto.
sigmñ'ca cnsm'ar-lhe a rcnunciar.
À semelhança da hxs'ter¡a, quc não raramcnlc sc propaga da
Sem qucrcr cntrar cm muitos dctalhcs, possa confirmar a d1m'ensa'o psíquica para a somática produzmdo sm'lomas dc docnça
pamr' de m1nh'a cxpcriência quc, ao ultrapassar os hm1"tes da d1m'en- Hsica, também a hipcr~rcflexão acarrcta pcrigosas rcpcrcussocs'
são afetiva perturbada em quea neccssidadc de amor de uma pcssoa ñsiológicas. Quem não conhecc os típicos problcmas cstornacals',
nãof01'sat15'feita, para pcnctrar na dun'ensão cspm"tual m'tacta (apc- distur'bios cardIacos, dorcs dc cabcça, noitcs dc ms'ônia, ctc., oca-
sax dc toda pnv'ação) de uma pessoa orientada para o sentido, sionados por pensamentos que cxageram o valor de desavcnças c
podcm ocorrcr vcrdadeüos m11'agrcs. Foí o que pude observar cm atritos cotídianos, por vívências ms'igmñ'cantcs dc fracasso, os qums',
uma jovcm mãe, levada a julgamento por causa de maus tratos de repente, aparecem como obsláculos m'u'ansponívens', sobrecarre-
mH1g¡'"dos com muita crueldade a scu ñlho, e absolvida sob a condi- gando todo o orgams'mo? E o que poderá aconlcccr se, am'da antcs
ção de quc sc submctesse a uma teraph comxg'o durantc quatro de se m1"ciar o mccanismo ampliador da hiper-reñcxão, já cns'tem
anos. Nos diálogos logotcrapêuticos aprendeu a renunciar a scus no paciente pequenas lesões físícas, como ocorrc atualmcntc com
accssos h15'térícos para cxpiar sga culpa; hoje ela é a mãe maJs' muitas pessoas do mundo civ1111a"'do? Sob a pressão constamc da
cannh'osa quc sc possa un'agm'ar. hiper-rcflcxão, cstas lcsõcs m'sigmñ'cantcs já cxxs'tcmcs não podc-
Um outro excmplo de um problcma psicológico quc não riam sc trans__formar em doenças crôm°cas dc grandes proporçocs'?
poderíamos enfrentar sem conhcc1m'entos logotcrapêuticos é o da ADeutscheArzteblatt (Rcv1$'ta Médica Alcmã) dc sctembro dc 1982
dlz' num artigo que vivemos numa cra de doentes crôm'cos, para' a
htpe'r-ref1<›1›cão.3 Trata-sc dc um fcnômeno bcm conhccido e tcmido
pelos médicos, orientadores e “curas d'alma” (See1so›ger), pons' a qual o corpo médico absolutamcntc não cstá preparado. Em 1901
foram regls'trados 46% dc óbitos cm dccorrência dc docuças crõni~
hiper-rcflcxão é capaz de Lransformar “um mosquito num elefantc”,
cas, em 1955 foram 81%, hojc provavchncnte já ultrapassamos os
1m'pcdm'do que o paciente alcanoc a tranth""dadc e se sm'ta satls'-
90%. O artigo d1n"da d1L" o segum'te: “No caso de doentes crôm'cos,
feito com alguma cms'a. Por ma15' mñm'as quc possam scr suas
a questão não é tanto o diagnóslico, mas a mancu'a como o paciente
prcocupaçõcs, seus pensamcntos gkam constantemcntc cm torno
se sentc; muito maxs' 1m'portante que a evolução objctiva da docnça,
dclas, lnfl'ando-as até se tornarcm sobrccargas enormes, sob o pcso
é a sua aütude subjctiva diante dela.”
das quals' 0 paciente ñnalmcnte sucumbe. A hiper-reñexão podcria,
assxm,' ser deñnida como a atribuição de 1m'portan^cia a algum cvento E o quc seria csta atitudc subjctíva? Podc consns'tu' na dc015'ão
desagradáveL o qual não merecería ser levado tão a sério, ou a pessoal de um m'divíduo por um dos d015' camm'hos segum'tes: ou elc
ñxação do pensamento num contcúdo negativo, ms'igmñ'cantc em s¡,' se ocupa prm'cipalmcnlc com seus próprios achaques, quc1xa'-sc
mas que vai adqumn"do um s¡gmñ"cado cada vez mals' negativo deles, hiper-rcfletindo-os, ou dispõe~se a d1r'ecionar sua atenção
justamente por causa desta ñxação. para a reahza'ção de possibxh"dadcs positivas de scntido, cncontran-
do assxm' a força para efetuar uma dcrrcflexão sadia, apcsar da
E novamcntc coloca-se a questão sobrc qual ajuda tcrapêutica cns'tência de problemas diversos. Pclo menos a logoterapia não eslá
a ser ofcrccida ncstc caso, cm que toda aflição, quc talvcz tcnha sido dcspreparada para enfrentar esta quantidade dc doentes crôm'cos,
mitigada através de grande esforço terapêutico, volta novamente a psíquicos ou físicos, ao contrário do que añrma dc si a mcdicm'a
sofrer um aumento maciço devido à tendência de hiper-rcflcxão do tradícionaL A logoterapia conhecc meios suñcientes para afastar a
pac1'ente. ch, o logoterapeuta tem à dls'posição um 1ns'trumcnto perigosa hiper-rcflexão c, assxm,' liberlar os pacíentes para as ver-
que pode empregar, desde o 1ní'cio, de forma d1r'ecionada para dadcüas e frutíeras oportum'dades dc suas vidas.
enfrentar a tendência maléñca à hiper-ret]exão: é o chamado méto-
do da dcrreñexâo4. Em resumo, a derretlexão consistc em d1r'ccio- Com isto chegamos a uma outra mancha branca no mapa
nar a atcnção do paciente, cm quantidadcs bem dosadas, para outro psicológico que, por muilo tempo, esquivou-sc do alcance da psico~
conteúdo dc sua vida que scja tão positivo, 1m'portante e pleno de tcrapia, até quc f01'conquxs'tada pela “psicologia das alturas”: trata-

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sc do dxama do egocentrisma do homem moderno. Na rcalidadc, lutamcnte nada nn'tercssa a elcs. Embora csta dcclaraçáo prctcnda
somcnle um m'divíduo constantementc ocupado consigo próprio ser u"ônica, e lambém não sc apliquc a todos osjovcns, constilui, scm
podena' ñcar sujeito a uma hiper-reflexão. E quem constantemente dúvida, uma conñssão amarga v1n'da dc pcssoas tão J'ovc.ns'.
se prcocupar consigo mcsmo, também não cncontrará a felicidadc,
po¡s' esta sempre envolve em certo csquec1m'ento de si mesmo, uma Como uma psicotcrapia canrada na climinação dc sm'tomas
teutativa de alcançar algo além de si, como, por cxemplo, dcdicar-sc c dcscoberta de causas subjaccntcs poderia lidar com csla dejíciém
a um trabalho satxs'fatório, vivenciar uma cntrcga 31710rosa, cms't1r' cia de motivaça0', com csta falta lotal dc m'tcrcssc das pcssoas? Não
há nada traumático no seu passado, os problemas do prcscnlc não
para algo ou alguém, mas não apcnas para si próprio Eslc conceíto
de autotranscendênc1'a5, ou seja, a capacidade esp1r'itual do homem podem ser explicados por ocorrências na m'fância, não há sm'tomas
tangívcxs' ou, muito menos, causas rcals'. No día v1n'tc c qualro dc
dc crescer para além de si próprio, foi pela pr1m'eu"a vez formulada
dezcmbro do ano passado, uma estudantc dc 17 anos de Munique
pela logotcrapia, e ls'to muito tempo antes de scr dlfun°dido o
delx'ou para seus pals' uma carta cm quc lhcs dm"a pma não procu-
conceito da auto-rcahza'ção, que ocasionou muitos mal-entcndidos]
Atualmcntc o conccito dc auto-rcahza'ção tornou-sc ma15' do quc rá-la; dep015' foi até o bosque, ens›opou-sc de álcool e colocou fogo
em si própr1a'. Ela morreu qucun'ada no dia dc NataL A polícxa'
questíonávcl, 0 que podcrá scr confirmado pclos colegas que, como
observou laconicamente que a moça não havia lido problcmas na
eu, trabalham num scrviço de aconselhamento e têm que lidar com
escola, nem qualquer decepção amorosa, quc nada havm' aconteci-
um “docntc crôm'co” e sua família. Quantas vczes não acontcccu
do no lar que pudesse ser m'tcrprelad0 como motivo para sua ação;
quc a busca de auto-reahza'ção acabou cm divórcio, a ênfasc exage-
falou-se então dc uma súbita depressão sem mou'vo.
rada nos próprios m'tcresscs acarrctou uma 1n'capacidade dc amar,
e a busca excessiva e psicologicamente fundamentada de emancipa- Mas como pode ocorrermna “súbíta deprcssão sem motivo"
ção lcvou famílias ao colapso. E quantas crianças - e como 15't0 nos na vida de uma moça dc 17 anos? Como a psicoterapia sc coloca
assusta - sofreram pclo cg015'mo 1m'aturo de seus pals', aos quals' foi diante de um fato como estc, em que os jovens não têm ma15' vonlade
cnsm'ado como sc libcrtar dc scus bloqucios scxuaJs', mas não como de viver? Este é justamcnte o ponto em que a “psicologia desmas-
assumu' suas responsabxlx"dades. Sc não retomarmos o conccito caradora” (aufdeckende Psychologíe), que é a psicología profunda,
logoterapêutico de autotransccndência, aquele “estar-prcsente dc dcve transformar-sc numa “psícologia dcscobridora” (entdeckende
um para o outro”, não haverá cura nem salvação para a família. Psychologie), que é a “psicologia das alluras", abstcndo-sc de qucrer
Estão aumentando os m'dícios de que está ma15' do que na hora de desmascarar o porquê da situação prcscntc e engajando-se em
mudar nossa maneüa dc pensar, se quls'ermos quc os contcúdos da descobrir quaxs' as conñgurações de senüdo que cslariam ocultas
cultura ocidental sejam transmitidos para as gerações vm'douras. numa vida humana, quaxs' os objctivos pcrmancntes quc tornwiam
a vida, apesar de ludo, digna de scr vivida c 1n°teressante, pelos quanã
A expressão “geração v1n'doura" nos leva umpasso adiante na valha a pcna viver. Somente uma psicoterapia ccntrada no scntido
rclação de questõcs até então não solucionadas, às quaxs', porém, a tem a chancc dc supcrar aqucla “v0ntade ncnhuma dc nada", c
“psicologia das alturas” ofcrecc uma resposta. Nossa juventude somente uma “psicologia descobridora” poderá liberar eslruturas
praticamente não é bloqueada, m1"bida ou ncurótica, ela não sofre de vida quc am'da não foram regislradasw no livro do passado, mas
por causa de um eu fraco ou de sent1m'entos dc mf'crioridade, e aguardam por sua rcahza'ção nas págm'as vaúas do futuxo.
apenas em pequcno grau teve a experiência dc pals' autoritários e
Com rcspeito à ponderação “passado contra futuro”, há uma
mães severas, cuja mñ'uência pudcssc pcrsegui-la pelo resto da vida.
oulra área cxtcnsa da psicotcrapía e psiquiatria que nccessítou dc
Nossos jovens carrcgam um peso totalmente d1f'erente; conforme
complcmcntações da “psicologia das alturas”: é o capítulo abran-
eles próprios d12'cm, “têm vontade nenhuma dc nada”*. No caso, as
gentc das ansicdades e compulsõcs. Praücamente nenhum outro
duas negações da güia não se anulam rec1'procamente, ao contrário,
dls'túrbio psíquico é tão persxs'tcntc quanto o quadro patológico das
dcvem ser entcndidas como um efeito m'tens¡ñ'cador, ou scja, abso-
rcpresentações exageradas de ansiedadc e compulsão, que, embora
combatidas c vcncidas, voltam constantemente c alormcntam suas'
' N.T. Nullback auf nichzs, gfna' que lítcralmeme sigmñ'ca “tcr voutade vítlm'as até a exaustão e o desespero. O 161g'o jama15' pode un'ag1n'ar
nenhuma dc nada". Nullbock Gmeration é uma geraçáo scm cngajamcnto (social). a magnitude destas ansicdades patológicas, que muilas vezes tam~

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bém acompanham as rcprescntações compulsivas; a parür' dc uma
certa m°tensidade poderão praticamcnte tornaI scm efeíto a razão e de todos os possívcns' cxageros, como sc a mclhor cons°a do mundo
a capacidadc cognitiva dc uma pcssoa, mesmo tIatando-se dc um fosse cxatamenle a reahza'ção daquüo quc por tanto lempo foi tão
d1s°túrbio puramcnte emocional e não cognitivo ou m'telectual. temido. Anteriormente eu dls'se que “portas quc permaneciam
fechadas para o substrato emocíonal da psique abrem-se para as
A m'tensidadc da docnça constitui também o critérío para o capacidadcs do espíríto humano”. Bem, ao cmpregarmos a “1n'lcn-
tipo de uatamcnto m°dicad0: em casos maus° leves, uma m'lcrpretação ção paradoxal”, podcmos, como terapeutas, obscrvar diretamenlc
da sua origem podc ajudar, ao passo quc em casos ma15' sevcros são como sc abrcm cerlas porlas para o pacicntc que durantc anos
mm1m"as as chances de cura através dc uma m'terpretação. Talvcz pcrmancccram fcchadas. Quando o objeto do tcmor ou da compul-
uma parábola possa csclaxecer melhor csta añrmação. Suponhamos são é descjado m'teriormcnte pclo pacíentc, ao menos por fraçoe's
que alguém se perdeu num labmn"to. Se estiver perdido há pouco de mm'uto, todo o medo desaparece, po¡s' desejo e medo bloqueíam-
tempo, poderá tcr scntido parar c reñctk sobre a maneüa como se rccíprocamente e, assun', a establh"dade cmocional lhc é dcvolvi~
cntrou no labmn"to, para dcpoxs' tentar sa1r' pclo mcsmo cammh'o cm da. Na vcrdade, o ncurótíco compulsivo ou dc ansicdade não cstá
sentido contrário. Nestc caso, a reconstrução do passado seria únl realmente enclausurado num labmn"lo, mas cncontra-se diantc de
Sc, porém, estivcr há vários dias c noites percorrendo a esmo o uma úm'ca parcde conLra a qual pressiona scu rosto por achar-sc
labxr'1n'to, andando repetidas vezes cm cu'culo, a tcntativa de recons- perdido. Sc, porém, de modo paradoxal, ele puder dnzc'r a sí mesmo
trução dc scus passos antcriorcs será cm va'o, p01s' seria un'possívcl que não gostaria de estar em outro lugar a não ser num grande e
reenconLrar as b1fur'cações dec¡s'ívas. Seria então a hora dc de1xar' magnxñ'co labm'°nto com muitos cscondcrijos c bccos românticos,
de reñetü sobre as condições de entrada, paxa ded1'car-se um'camen- podcrá olhar em volta, sorrm'do, e descobrü repcntmamentc quc,
tc à busca dc uma saída, usando para Ls'to todas as suas forças atrás dclc, cx15'te tcrrcno livrc.
dísponívck e, se necessán'o, dcrrubando até mesmo as parcdes que
Evidentcmente, precisamos acrescentar que o método da
0 cercam e o mantêm pns'ione1r'o.
“m'tençã0 paradoxal” somentc é m'dicad0 quando se tralar dc medos
Assm,' basicamente podemos constatar que quanto mals' crí- mfun'dados, por assun' dLZc'r, “1m'ag1n'áríos”, e não pode ser uuhza"do
tica a situação, menos útü é conheccr o “p0r ls'so” c ma15' 1m'portante no caso de uma ameaça rcal ou cmergência verdadcnr'a. E acontccc
se torna a força para agü “apesar dls'so”. Vls'to desta forma, a quc nos casos de emergência verdadeüa ou golpes do deslm'o a
evolução de uma “psicologia profunda” para uma “psicolog;ía das psicoterapia recusou-se durante muito tempo a consíderá-los como
alturas” pode ser deñnida como uma passagem do “por ls'so” para seus campos de ação; nunca a psicoterapia qucria se ver no papel
o “apesar dls'so”, como uma mudança da reconstrução mm'uciosa de consoladora, prefcrmdo ceder este campo para os saccrdotes
de derrotas psíquicas para o uso generoso do “p0der dcsañador do que, no caso, contam com uma experiência de séculos. Além d15'so,
csp1r'ilo”, conforme dcnommamos na logoterapia aquclc potencial a ciência psícológica até hoje não sabc como oonsolar. O mais
cspu'1'tual do homem capaz de derrubar até as paredes de confusão humano dc todos os fenômenos humanos, a allição jusnñ'cada ou o
psíquíca, sc ncccssán'o. luto fundamentado, foi visto por cla apcn45' como fator de dcsarmo-
ê Porém, 0 ms'trumento quc líberta do labu'1n'to da ansíedade e nía psíquica quc prec15'ava ser “elaborado”, porém nunca o aceitou
compulsão atológicas é o método logotcrapêutico da “1n'ten 'o como um fato objetivo quc pcrtcnce m'evilavelmente à condição
humana e que prects'a ser suportado também psicologicam'ente. Se
parado ” , o qual se baseia no “poder dcsañador do espíxítdçf e
não tivéssemos o esquema loggtcrapêutico da “ass¡s'têncía médica
busca um aliado não menos forte que a ansiedade, quc é o humor.
à alma” Aerztliche Seelsorge) , quc sc confronta com a “Lríade
Um paciente que aprendeu a nr' de sua ansiedadc sempre que cla
lLrágica”1 de sofrimenta cupla e mone, cstaríamos com as mãos
qucüa atacá-lo traiçoeüamcnte não se torna tão fac11m'ente sua
vazias diantc de todos aqueles que buscam nossos serviços proñs-
v1't1m'a; a vitóna' sobre sua fraqucza faz com quc sc fortalcça. E, por
sionak por causa de golpes trágicos do destm'o; e isto seria La'tastró-
mals' m'acreditável que pareça, é realmcnte possível conseguü nr'
ñco diantc da tendência atual de abandunar o confessionárío e
dos própríos sm'tomas usando um truque ao mesmo tcmpo sun'ples passar a procurm os centros terapêuücos.
c eñcicntc. Consm'te cste truque etn Lrazer ao pcnsamento o próprío
objeto de medo, cm querer tê-lo presente no pensamento através

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Embora as neuroses de ansiedade e as compulsw'as sejam dar contm'uidade a cstas coxsas' posilivas por elc c cvitar quc elc
dnfí'cels' de screm curadas, pelo menos são curávels'. Por outro lado, tenha mom'do cm vã0."
um sofnm'cnto 1n'cvitávcl, uma culpa quc não podc scr rcparada, ou Os olhos do pai se cncheram dc lágrun'as. “Como podc surgu'
a morte quc sc apro7nm'a, não são passívexs' dc curaz podem apenas algo dc bom de sua mortc?” sussurrou. Porém, clc própn'o teria quc
ser supcrados, e também 15°to é extremamentc d1f'íc11'. Estes labmn"tos encontrar a resposta, eu apenas poderia lhc m'dicar a d1r'eção.
são pcrmancntcs, cstas parcdes nós homcns não podcmos combatcr Dlss'e-lhe: “Suponhamos quc o Senhor tomassc suas terrm nova-
e derrubaL Porém, exus'tc a1n'da uma liberdade, uma única liberdade mente produLivas c abrESC sua casa para os ncccssitados c os
quc possuímos d1an'tc deta15' realidades até nosso últnn'o momento excursn'on15'tas quc faze'm canunh'adas. A todos quc gozassem dc sua
de vidaz é a libcrdade da nossa atitude espm"tual. A maneüa como hosp1'lah'dade, rccebesscm suas dádivas c pcrguntasscm do porquê
nos posicionamos diantc daquüo quc 0 destm'o nos rcservou é um de sua mls'cricórdia, podcria rcspondcrz faço-o pcla lcmbrança dc
assunto muito particulax nosso. meu ñlho; elc nos dexx'ou muito jovem e eu gostaria quc muítas
A logoterapía m'vestigou am'da csta liberdade últ1m'a para pessoas se lembrassem dclc com alegria e gratidã03° Ncste ponlo, o
tomá-la d15'ponível a seus pacientes e possib1h"tar-lhes a reconci- homem cobriu o roslo com as mãos c chorou amargamcnte por mcm'
h'ação com seu dcstm'0. Neste ponto, a logotcrapia ocupa uma hora, pela pnm'eu"'a vez desdc um ano. Dcpoxs' levantou-se e, ajudan-
do sua esposa a vestü o casaco, dxss'c-lhe: “Vamos para casa, nós
posição solitária, po¡s' nenhuma tentaüva scmelhante foi rcahza'da
delxam'os de fazer muilas coxs'a5', mas agora vamos honrar a lembran-
por uma outra escola psicológica. Esta “modulação de atitudcs”ll
ça de nosso ñlho ...” O homem foí dcvolvido à vida.
logoterapêutica scrá explicada mediante um caso prático. Um casal
suíço vcío cspecialmcnte procurar-me em Munique para buscaI A logoterapia nos ensm'ou quc qualqucr dcsun'o, por mms'
on'entação. A esposa pediu~me quc ajudasse seu marido quc já penoso quc seja, é psiquicamentc suportávcl se pudcr scr ms'erido
esteve em tratamcnto com sens' psiquiatras suíços, sem succsso. O num contcxto dc sentido accitávcl para nós. Invcrsamcntc, nem as
casal havia perdido há um ano, num acidentc de carro, scu úníco condiçõcs ma15' positivas são suporláve¡s' sc a vida em si for pcrcc-
ñlho e herdeu'o de sua propriedade agrícola; desde então, o pai bida como destituída de sentido. A estc respeíto, os anos anteríores
mcrgulhou numa passividade total, não cuidava mals' de sua fazenda, de prospelidade forneceram-nos liçõcs un°portantcs, asst' como
não convcrsava maJs' com nm'gué¡n; dc vcz cm quando declarava quc serão ms'trutivos os anos v1n'douros da recessão. Creio quc não
nada mals' tmh'a scntido c quc scnna' muita vontade dc se matar com prcms'o d1ze'r a mn'guém quc a curva do nosso desenvolvxm'ento
um tu"o na cabcça. cconômico (na Alemanha) aun'giu seu ponto culmm'amc nas duas
últ1m'as décadas, estando agora já num processo de declím'o. É
Por ms'ls'tência de sua esposa, o homcm veio até Munique e 1n'tcrcssantc observar, porém, quc a curva da saúde psico-higiênica
agora estava sentado à mmh'a frente com a ñsionom1a' 1n'expresslv'a. da população não com'cide com a curva do dcsenvolwm'ento econo-^
Eu sabia que nada, a não ser uma coisa, poderia atmg1"-lo e assm' mico; cla cstá cronologicamente avançada, apro›nm'adamcntc como
perguntci-lhc: “Sr. X, se am'da pudesse fazer algo pelo scu ñlho, no esquema da págm'a 42.
cstaria dls'posto a fazê-lo?” O homem levantou o olhar, assentiu e
dlss'e: “Faria tudo por ele.” Contm'uei: “Há algo quc o Senhor Destas curvas deduznm'os quc a saúdc psico-h1g1"ênica de uma
poderia fazer pclo seu ñlho, c mn'guém mcus" a não ser o Scnhor. população está no seu ponto ideal quando seu dcsenvolvun'ent0
Veja, até agora resultou apcnas dcsgraça da morte dc scu ñlhoz O cconômico está progredm'do, ou seja, quando as pessoas têm à
senhor está doente por causa do sofr1m'ento, a fazenda está abando- frente um objetivo quc tcntam alcançar, quando m'vestem todas as
nada, sua esposa está desesperada... Todas as co¡s'as boas quc scu suas forças para construk algo quc está em progresso. É surpreen-
ñlho talvcz qu13'esse alcançar c reallzar' em sua vida, quc tcna' dentc observar quc o fortalecnm'ento das forças psíquicasjá comcça
colocado no mundo, foram barradas pela sua mortc - a não scr que, num ponto em que o desenvolvmento econômico ncm almçou seu
a partk de sua morte, am'da surglss'e .algo positivo quc pudessc, ponto mals' ba1x'o. AñnaL a mls'6ria tem também uma função dc dar
rctroaüvamente, dar scntido à sua vida e morte. Porém, 15't0 não está scntido ao motivar o scr humano para uma dls'posição aumentada
mals' nas mãos de seu filho, depende de outro, talvaz de seu paL para de esforçar-sc, trazendo rcsultados positivos.

41
Ouando a prosperidade atinge
seu ponto max'imo. já se iniciou das atitudcs 1m'pulsívas scm a dcvída reflcxão, incomprccnsívc15' a
o declínio das íorças psíquicas.
parur' da perspccúva de geraçõcs futuras. E a Hls'tória nos moslra
que a maioria das culturas altamente c¡'v1hza"das cnlraram cm dcca-
dência pouoo depoxs' dc ultrapassarem scu apogcu econômico, ou
scja, ao 1n1"ciar-se 0 reuocesso de sua prospcridadc. lslo aconleccu
justamcntc por ocasião dc seu dcclínio psico-higiêm'co, cmbora
a1n'da cstivesse dls'ta.nte uma mls'éria rcaL
Certamente estas curvas não constituem um deslino m'evitá-
vcl; porém, podcmos extrak dclas a constatação dc que a cstabí-
lidadc psíquica dc povos m'tcu"os cstá rclacíonada à sua vivêncía dc
senüd0; e enquanto esta vivência dc scntido acompanhar os altos e
Quando o desenvolvimento econômico ba1x'os da economia, também a saúde psíquica da população está
atinge seu nível mais baixo, já se acoplada a cla. Dc acordo com csta prevns'ã0, nosso mundo ocidcntal
iniciou o Íonalecimento das torças dcverá brcvemcnte sofrcr um declímb acentuado.
psíquicas.
Levanta-sc, porém, uma 1m'portantc voz dc oposição, añrman-
A situação muda tolalmcnte quando 0 desenvolvmento eco- do que lal decadência não prec1s'a ocorrer necessan'amemc, que a
nômico alcança seu ponto máximo e se 1m"cia um pcríodo de pros- vivência de sentido não prec15'a absolutamente estar ligada à rcspec-
pen'dade. Subitamente a saúde psico-higiênica da população tiva situação econômica, mas que, ao contrán'o, o senlido podc ser
dechn'a, pons' a fartura degenera os homens c facúm'cntc 1m'pede que encontrado em qualqucr tipo dc situação; csta é a voz da logotc~
vejam objetivos que possam querer alcançar - a que deve-se asplr'ar, rapia. Durante a época passada dc prospcridade, a logoterapía
quando sc tem de tudo? Como, porém, é sabido que apenas as constantemente lutou contra o enfraquccmcnto gradual das forças
posses matcn'a15' não lrazcm fclicidadc, surgem o aborrcc1m”ento e psíco-cspm"tuals', mostrando através dc muilos excmplos c modelos
o tédio; as pcssoas têm dmh'eu"o e bastante tempo livre, mas não que a vida também conscrva abundantcs possíbmdades de sentido
sabcm para quê. Uma frustração ems'tencial, como se dlz' na logote- quando materialmcntc há um exccsso à d15°posição; e cspeciahnentc
rapía, uma sensação de falta de scnüdo toma conta de largas cama- nestas condiçõcs podem ex15'ur' muitas possiblh"dades dc senu'do.
das da população c fomenta os típicos cxccssos de situaçõcs de Nós não prccm'amos ccder à frustração cns'tcncidl,' po¡s' as condições
fartura, como aumento da cnmm"alidade, perversõcs sexuais, altas positivas dc épocas de prospeñdade podem ser aproveitadas de
taxa5' dc suicídio c consumo crcsccntc dc drogas. Não prec:15'o me modo que tenham sentid0, criando obras posiüvas que, em outras
estendcr muito neste assunto, poxs° todos nós tivemos e em pane m'cunstan^cias, nem scriam possíve¡s, como por exemplo obras de
contln'uamos tendo experiêncías dn"etas destes fenômenos. ajuda ao próx1m'o, dc axte, de pesqms'a c¡'enuñ'ca. E o mesmo é válido
para a época atual de um lní'cio dc recessão; também os tempos
Quando a prosperidade chega ao seu ñm, geralmente a saúdc áridos dc desemprego, aposentadoria prccoce, falências de cmpre-
psico-hígiênica dc uma população já está bastante afetada, acres- sas c crescente empobrecmento a1n'da têm suas possíbmdadcs
centando-sc a Ls'to o mcdo da decadência. Não podem mals' ser positivas ao cducar as pessoas para a rcsponsab1h"dade pcssoal,
mantidos os cxcessos matcria1s', mas as pcssoas acostumadas à fortalcccr o senso dc união da família, colocar hm1"tcs para a técnica
prosperidade não aprenderam a viver de forma modcsta, tornaram- c fazcr ressurgü a condição humana como o bem supremo.
se patologicamentc dependcntcs dc bcns materials' e, com a d1m1"-
nuição do poder econômico, aprescntam algo scmclhante a uma Dc fato, somos ¡m'potcntcs dianlc de uma reccssão cconômi-
“síndrome de absün'ência”. Ao m'vés de voltar-sc com 1n'tensidade ca, porém diante de uma reccssão dc nossas condições espm"tuals' e
psíquicas podemos reag1r' ativamente com o awdlio da “psicologia
maior para valores espm"tuals', cntregam-se à resignação e depres-
das alturas”12, que se colocou como larefa aguçar nossa vxs'ão para
sa'o, acresccntando àsensação defalta dc sentido a de desesperança.
as possibúx"dades de sentido de qualquer época c de cada dia. É
Ncstc solo descnvolvem-sc medos excessivos do futuro e são toma-
justamenle para ls'to que temos uma “vontade de scntido”13 que

42 43
possamos empregar contra a sensação de falta de sentido de uma
socicdade dc consumo cxcessivo e um “poder desañador do cspm"-
to” que possamos uuhzax" contra a sensação de desespetança de uma
cns'e cconômica. E a psicologia, após mcio século de 1uta, conseguiu
cvolu1r' do “p0r ls'so” para um “apesar dls'so” justamcntc para
dlssomar" o bem~cstar psíquico da humanidade da depende^ncm' de
condicionamentos cmoc1'onals', econômicos ou socials' e colocar este 3.
bem~estar exclusivamente sob a líderança do espírito humano, que
é a úm'ca ms'tância capaz dc m'tuu" c rcahzar' o scntido da vida.
O esquema terapêutico da logoterapia*
Abordamos de mancnr'a rcsumida algumas das csfcras proble-
máticas para as quals' não teríamos solução scm os conhccun'entos
e o repcrtório de métodos da “psicolog1a' das alturas”, pons' são
problemas para os qua15' a atitudc espln"tual do homem tem a palavra
ñnal e dec15'iva. A h1$°tcría, a hiper~reflexão c o egoccntns'mo basi-
camentc são atitudcs errôneas pcrante si próprio, atribum'do a si
mesmo um vaJor exagerado; nos jovcns, a dcñm'ênc¡a' de moüvação,
a resígnação dcprcssiva, 0 aborrcc1m'ento e o tédío são atitudes
errôneas perante 0 caráter dc mlss'ão da vida; c as cr15'es de uma
sociedade dc consumo, ou melhor, suas reações de abstm'ên01a' Há a segumte lenda sobre o homem modcrnoz
diante do dcchm”'o eoonômico, scus medos e seu desespero, são Um homem moderno perdeu-se no deserta Durante d1as'
atitudes crrôneas diantc dc fatores m'cvitávc15' do destm'o. Para cstcs arrastou-se, desorientado, pelas dunas de arcia; a m'clcmência do
ptoblemas, a logotcrapia tem à d1$'posição várias possibxll"dades dc sol ardente foí desidratando scu corpo. De repente, a uma ccrta
solução, po¡s', como nenhum outro s¡s'tema psicológico antcrí0r, ela d¡s'tan^cia, av15'tou um oásm'. “Ah”, dls'se a si próprio, “esla é uma
enconüou o acesso ao centro mals' m'terno dc todas as atitudes m1r°agcm que qucr mc enganar!”
cspm"tuaxs' do homem, que é a sua consciência.
Aprox1m°ou-sc do oá515', o qual não desapareceu. Diante de
Este acesso lcva a uma área dc dupla oompetênciaz a da seus olhos 1r'ritados surg1r'am tamarelr'as, pedaços de relva vcrde e,
psicología c a da “ass¡s'tência à alma” (Seelso¡ge). Esta pode justa- sobretud0, uma nascente de água murmurante. “Isto não passa de
menle scr a complementação dc quc nccessitamos para a rcumam'- fantasias produzidas pela fome e de alucma'ções auditivas", d121"a
zação da psicologiaz não uma nova tendência da moda dentro da para si o andante exausto, “como é cruel a natureza!” Pouco tempo
psicologia, mas uma cura, uma assistênciapsicológica à alma basea- dep015', do¡s' bedu1n'os enconlraram-no morto.
da na filosoña e ccntrada no sentido.
“Você cntendc uma co¡s'a dessas?” pcrguntou um ao outr0.
“As tam^aras praticamcntc cstavam ao alcancc dc sua boca, hav1a'
uma nascentc ao lado dcle, c ele morrc dc fome c sedcl Como 1s'to
é possível?” “Bem”, respondeu o outro, “clc cra um homem moder~
no.”

' Estc capítulo é a muscriçáo dc uma confcrência proferida pela autom num
congresso de espec1'al¡s'tas cm Roma, no verão de 1984. Dcpors' da conferéncxa°, cla
foi rccebida cm audíéncia particular pclo Papa João Paulo II, quc mostmu aprccía-
ção pelo seu trabalho rcallza'do.

45
O que nos faz lcmbrar csta lcnda? Oue algo verdadeüo é cstas nuvens v15í've¡s' quc constitucm o símbolo do cóu m'v¡.<sí'w:l.7zq
considcrado como falso, c com tal convícção quc nem mcsmo se Assxm,' cnquanto quc Frcud tcnta dcsmascarar tudo quc é subjcu'-
cogita em comprovar scu grau de autcnücídade. Islo, por sua vcz, vamenle m'autêmioo, e ncstc afã acaba dcsvalonzan°do também
nos lcmbra a leon'a cicntíñca da psicologia, quc, sob ccrtas c1x'cuns- muitos aspectos autênticos, Frankl tcnla cncontrar no homcm 0
tâncm lcm ma15' conñança _em suas próprias hipótcses do quc nos autênu'co/zl, “espcc15'camente humano", e dirccioná-lo para valorcs
fcnômcnos notonam'cntc humanos com os quzus' vê-sc confrontada. objctivos.a realidadc, para Frankl a cxistência humana comcça
Por excmplo, numa scssão dc orientação cm quc uma mãe rclata exatamcntc no momento em quc estiver du'ccionada a um logos, um
com gratidão a valiosa ajuda quc sua ñlha ma¡s' vclha lhc prcstara prcssupos/mto 'dcpendentc quc não cstá fundamcntado na própria
ao cuidax dc scus mn'ãos gêmcos quc nasccram dcpoxs', pode ocorrer cms'tência.
quc a esta ñlha seja atribuído pelo terapeuta um severo complexo /A scgmr', comentarci sobre três pnn'cípios tcrapêuticos quc
de mãe causado por uma síndrome de eng'êncms' excessivas. Neste selecionei da multiplícidadc conceitual da logoterapia, os quals'
caso, conñrma-sc a lenda do homem modcrno: a dls'posição dc cstão todos rclacionados com 0 conccito de valorcs c podcm facü-
ajudar e a gratidão são fcnômcnos demasiadamentc sun'ples para mente ser transpostos para a psícoterapia aplicada. O pnm'c¡r'o
cxplicar psicologicamentc a situação; termos como “complcxo de pnn'cípio podcria ser denom1n'ado dc Como pemeber o valor em si,
mãc” c “síndrome de eng'ências cxccssivas” parccem ser mals' Íide- o segundo de Como aumentarasensaçdo de valorda vida e o tcrocu°o
dxgn'os. Porém, conforme ficamos sabcndo, a lcnda não tcm um ñnal de Como Iidar com os conflitos de valores e a perda de valoresy Pclas
fchz,' c o mcsmo ocorre na rcalidadc do nosso cotidiano psicológico; explanações scgmn'tcs vcnñ'carcmos quc podcmos atn'buir a cada
umajovcm à qual se tenta atribuh complexos psíquicos delxa' de scr uma destas três normas terapêuticas um termo geral quc contém
prcstativa, c uma mãe quc se vê acusada de fazer exccssivas ex1g'ên- respectivamente em uma palavra o objelivo a scr alcançadoz razão,
cxas' dexxa' dc mostraI-se grata. O autêntico rapidamcntc pcrde seu conjíança e reconciliaçãa
valor, mas nem por lss'o o m'autêntico ganha em valor. E assm°
®omecemos com o pnm'elr'o prm'cípio terapêutico, Como
chcgamos à palavra-chavc que nos leva ao centr do esquema
percebero valorem sí. Na logoterapia acreditamos quc lanlo os seres
terapêutico da logotcrapia, quc é o conccíto de valor A logoterapia
amm'ados quanto os 1n'amm'ados possuem um valor própn'o. Os
é uma psicologia quc se volta novamcntc para os valores, quc dc
vegctals', os amm'ais e os homcns, mas lambém os objctos, lêm um
novo admite a ems'tência do autêntico, quc volta a acreditar na
“valor em si”, e não apenas um valor para ñns uuh"tários, a parth de
possibmdade scmpre prescntc dc scntido da condição humana./[
uma v1$'ão humana. Alérn dls'so, há valorcs abslratos quc scrvem à
Quando tcvc xní'cio a psicologna' modema com Freud, podc- manutenção e ao desenvolwm'cnto do ser, tals' como pcnsamentos
ríamosdnzc'r, cm scntido ñgurado, quc todo oá515' era uma mlr'agem. posítivos, ações plenas de sentido, reahza'ções espm"tuais, etc., quc
Escreveu elez “No momcnto em quc perguntamos pelo sentido e poderíamos 51m'plesmentc denomm°ar de “o bcm”. E também cste
valor da nossa vida estamos docntcs, poxs' ambos não ems'tem dc “bem”, embora não possa ser compreendido concretamcnte, encer-
forma objetiva. Após m1nh'a morte, os Senhores me conservarão ra cm si uma conotação de valor, cle nunca é bom apenas a partü
vivos na sua cordial lcmbrança, e esta é a úm'ca forma dc 1m'ortali- de uma certa perspcctiva. Embora não quercndo m'correr cm um
dade quc admito. Delxc'mos o céupara os anjos e os parda15'.” ch, absoluns'mo de valorcs, prccxs'amos recusar aquele relativxs'mo de
Freud dc fato permanecc em nossa memóna' como o fundador da valorcs quc nega qualqucr vaJor objetivo, alegando tratar~se de uma
psicanálkq à qual dcvemos agradccer, dc acordo com F.W. Focrs- reprcsentação subjetiva dc valores, cfetuada por uma humam'dadc
ter, quc, em oposição à sua uml'ateralidadc e seus exageros, um prcviamentc condicionada pela sua tradição.
psiqma'tra como V1kt'or E. Frankl pod^e se mamf'estar. Ao lidarmos com 1n'divíduos psiquicamcntc pcrturbados, ms'-
Para FrankL novamcnte em sentido ñgurado, poderíamos távc15', fracassados ou desesperados, nota-se uma caracleríslica
dlze'r quc há um oáms' até mesmo onde não podemos vê-lo ma15'. Ele marcantc comum a todos, qualqucr quc seja seu problema m'divi-
cscrcvc:/'Não podemos ver o oéu, nem com o auxílio do ma15' potentc dual. Trata-se da ñxação em si mesmo, ou scja, da subjugação à sua
holofotc. Sc enxergarmos algo, uma nuvem, por exemplo, compro- própria dls'posição, a seu próprio estado de cspírit0. Quasc lodas as
var-sc-á quc não é o céu quc cstamos vendo. Porém, sãojustamentc pessoas quc não se dão bem con51g'o próprias ou com a vida colocam

47
sua própria mf'clicidade no centro dc sua atenção; estão constan- Somente quando o mundo pudcr ser pcrccbido dc mancüa
temcnlc ocupadas cm dela rcclamar, em tcr mcdo ou v1n'gar-se dela,

-r r .-.- F?'“
relativamentc m'dependente da rcspcctiva condíção do observador,
cm combaté-la ou refugíapsc ncla; em rcsumo, clas próprias cons~ poderá ser espüitualmente m'tcrprctado dc acordo com os elcmcn-
titucm pralicamcntc seu contcúdo dc vída. tos dc sentido que nclc aguardam por sua rcahza'ção. São csscs
Estas pessoas quase não percebem mals' os valores que ex15'- elementos que dão conteúdo a uma vida humana, e com isso capa-
tem ao seu redor, independentemente da sua condição pessoal, o que cítam o observador a dar respostas às perguntas que a vida lhe faz.
torna sua vida lão pobrc de vaJorcs c tão vazia. Porém, quanto maJs' Um m'divíduo deprcssivo, que apesar dc sua depressão am'da é
pobre c vazia lhes parccer sua vida, ma15' mf'ehzc's naturalmentc sc capaz de perceber harmonia e graça na natureza cu'cundante, ad-
scntkãq ñxando scus pcnsamentos a1n'da maxs' em seus mf'ortum"os. mite tambem a m'dulgéncia além de sua melancoha'; talvez até
Para 1n'tcrromper cstes efeitos recíprocos, não basta utlhzar" 51m'- pudesse ms'enr' sua melancolia nesta indulgência, o que lhe daria
plcsmentc cstratégias paxa mclhorar sua d15'posiçã0 negativa ou mals' forças para suportar avida do que uma tcrapia medicamcntosa
para resolver o problcma cm questão. Como pcssoa do lado de fora unüateraL capaz de cstlm'ulá-lo aruñ'cialmcntc, mas que, cm úlnm'a
podemos dc vcz em quando ehmm"ar alguma mf'clicidadc; não po- anáhs'c, acabará cnfraqueccndo-o. Algo semclhantc podena' acon-
demos, porém, colocar valores numa vida sc a rcspectiva pessoa não tccer com aqucle jovcm que tcvc uma dcccpção amorosa se, além
descnvolver a sua capacidade de VIs'lumbrar aqucles valores que, o dc sua 1rn"tação pcssoal, ele for capaz de comprccndcr a dedicação
tempo todo, já exxs'tiam dentxo e fora da sua vida. c abncgação daquelas pcssoas que contmuam exns'nn'do para cle.
Um amor não pode substitmr' outro, mas pode provcr consolo, c cstc
Quando, por cxcmplo, um m'divíduo deprcssívo csüvcr pas- ajuda a a dccepção.
seando numa pals'agcm Horida, é bem provávcl que nada perccberá
da bcleza dcsla pms'agem, por estar lotalmente 1m'erso cm sua Fortalecer em seus pacientes a capacidade de pcrceber valo-
tns'lcza. Esta ms'teza possivclmente podcrá scr rcduzida mediantc res, ao mostrar-lhes c trazer à sua presença valores obj etivos durante
uma medicação suñcicntcmcntc forte, mas ls'to não garantká que a os encontros terapêutícos, oonstituL portant0, um pnn'cípio tem-
beleza da paisagem brotará no coração desle m'divíduo. Ou um pêutico bastante elementar da logoterapia. Este processo faah"ta ao
outro exemplo: um jovcm com uma decepção amorosa poderá mesmo tempo a busca dc sentido, que, de acordo com a logoterapia,
descontar toda sua desüusão com 0 relacionamento mal sucedido constitui 1gu'almente um anseio básico do homem, especialmente do
em sua famí1ia, ñcando cego para perceber a compreensão e a homcm com problcmas ou daquelc acometido de uma frustração
paciência que sua família terá para com ele. Ele pode ser ms'truído ex15'tcncial, o qual não raramente prcc15'a cncontrar uma rcsposta
a ab~reagu' sua agressividade excessiva em competiçõcs esportivas sobre o “porquê” c o “para quê” de sua cns'tência no mundo. Os
e não no jantax em famí1ia, mas ¡s'to não lhc trará necessariamente ñlósofos ems'tenciahs'tas nos moslraram através da máxam'a “a cms'-
a consciência da segurança que sua família cstá lhe ofercccndo. tênc1a' vem antes da essência” que o homcm preas'a se conceber
como alguém que foi lançado na vida, que vivencia sua ems'tênc1a'
l Os comportamentos m'adequados são passívels' de serem cor- antcs de conhcccr sua essência. Cabe a ele cncontrar dcpons' sua
rigidos até um certo grau através de meios tcrapêuticos; porém, essência.
enquanto que a pcssoa em questão permanecer ñxada em si própria,
Se traduzmos estas considcrações ñlosóñcas para o cotidia-
porque não consegue perceber os “valores em si” que a vida coloca
no psicotcrapêutico, poderíamos também dcñnk o homem psiqui-
à sua dls'posição, a séríc de reaçõcs m'adequadas prosscgu1r'á. E
prosseguu'á porque a pessoa contmuaxá sendo aquela que “reage” camentc docnte como alguém que am'da não eucomrou sua própn'a
cssência. Seria aquelc que am'da está vivendo sua ems'tênc1a' “nua”
àquüo que lhc acontecc, que reagc com tns'tcza, dcsapontamcnto,
c lutando pelo scntido dcsta sua ems'tência. Porém, nenhum tem-
ctc. Ela não crcscerá paIa “ag1I'”, paxa exccutar uma ação m'dc-
peuta, orientador ou consclhcu'o rcligioso podcña dlze'r àquele que
pendentc e rcsponsách uma açao' de intencionalidade espin'tual,
busca oricntação qual o sentido de sua cms'têncía. Somente podc
conforme d1L" Frank1, um ato que acontece para a reahza'çã0 de um
dcscrever através de muitos exemplos que toda existência humana
valor objetivo.
tem seu sentido; um sentido que se abre para aquele que o busca tão

49
~.m'”'f7
logo cle conseguk superar sua ñxação em si próprio c abnr'-se
slm'pátícos que passaram a tcr uma mfl'uência mujto mclhor sobrc

.
apütualmcnte para o mundo c suas larefas.
ela do quc os scus antigos companheu'os dc d¡s'cotcca.

WTF.T
Uma das enfcrmidades atuals' de carátcr cpidêmico que não

›:,J«.~._
Hoje cla sc tomou uma talcntosa csquiadora c uma ousada
tcm chances dc cura sc não ocorrcr csta abertura para 0 mundo é

. '~›*:-L
a (toxic0)mania. Comumentc ela é deñnida como “dependência”; pat1na'dora artística no gelo; cmbora conlmuc lcndo um corpo
no fundo, porém, não se trata tanto dc dependência do tóxico, mas csguio, não está absolutamcntc magra. Durantc anos cla sc submc-
dc depcndência do toxicômano em rclação à sua própria d15'posição tera a tratamentos com vários médicos, os quals' procuraram c
ou estado de cspírita Além dxss'o, 1m'plica a pcrda gradual de todos encontraram uma sóric de conflitos fam1h"arcs quc foram wnsidc-
os “valorcs em si”, p01$' todo o ambientc externo se restnn'ge a duas rados por clcs como causa da docnça, o quc podc até ter sído um
categorias, aquela que scrve para satkfazcr as ncccssidadcs de seu diagnóstico correto. Porém, ao apontar estes conflitos para cla, não
vício c aqucla que sc opõc a esta sans'fação. O tóxico torna-se o sc conseguiu um déc1m'o daquele rcsultado que foi alcançado no
ñnal, ao apontar um único valor.
regulador do respectivo estado de cspírito, estabelecendo o jugo sob
o qual o toxicômano se curva. O tóxico mclhora o cstado de espírito Reccntcmcnte, alguns médicos espea'ahs'tas na Alcmanha
da pessoa, mas gradualmcnte d1m1n"ui a sua capacidadc de suportar dls'cut1r'am sobrc o suxgun'ento de uma nova docnça, uma combm'a-
estados negativos. Faz a pcssoa ver valores 11'usórios, como por ção dc anorexia e buhm1"a, denomm'ada por elcs dc Bulimarada As
cxcmplo na cmbriagucz ou nos delírios produzidos pelas drogas, pacientes que sofrem desta docnça - são sobreludo mulhcres -
mas faz a pessoa acordar numa pobrcza real de valores, tão ms'upor- mg'crem porções cnormcs dc comida, para dcpois provocarcm vô-
tável que coloca o m'divíduo novamentc sob o jugo da droga. O mitos para chmm"ar tudo que foí ingerido. Estc proced1m'ento é
sucesso de qualqucr tcrapia scrá questionável se, além dc todas as rcpetido quatro ou cm'co vezes ao día, o que acarreta carêncnas'
medidas neccssán'as, como dcsm'toxicação c abstm'ência, reab1h"ta- nutritivas, d15'túrbios cstomacals', am'tmias cardíacas c toda cspécic
ção sociaL oricntação à famí1ia, etc., não se acrescentar aquele de ontros sm'tomas orgânicos.
pnn'cípio terapêutico da logotcrapia quc promove a pcrccpção de No dccorrcr da dxs'cussão foram fcitas as mans' variadas tcnta-
valores objetivos por partc do paciente, dando lugar, assnm,' a um tivas de m'tcrprctação, novamcntc no sentido dc quc dcven'am
alto grau de m'dependênc1a' da respectiva dls'posição subjetiva e uma cns't1r' conflitos m'tcrnos profundos, os quaJs' 1m'pcd1r'íam as mulhe-
centração espüitual nos conleúdos de valores autênticos da vida. res de se permitü algo de bom, esum'ulando nelas “atitudes puniti~
Lembro-mc, por exemplo, de uma jovem que me procurou vas” anormab contra si próprias. Como teorias explicativas foram
para se submctcr a uma terapia por causa de sua anorexla,' a qual citados sent1m'entos de culpa exagerados, sensação dc abandono,

u <W1"ml'ü.l+kíi-_m
constituL por a551m' d1zc'r, um vício às avessas; durante csta terapia ódio de si próprio, etc. Porém, mn'guém lcvantou a qucslão se, dc

AP
praticamcnte não abordamos o tcma “comida”. Em apro›nm'ada- fato, scna' tão natural quc cstcs senüm'cntos precxs'asscm scr auto-
maticamente obedecidos. ngu'6m se cspantou dc ver o scr huma-

xx~12
mcntc v1n'te horas de tcrapia 1n'vestigamos conjuntamente os aspec-
tos positivos dc seu campo dc cxpcriência pessoaL Ela tinha no, aíinaL dotado dc razão, transformado num súdito tão passivo dc

'.'.- Lv
mov1m'entos graciosos, de uma graça natural que nunca fora trcm'a- scus próprios sentlm'cntos.

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da. Para ela, dançar sxgnxñ"cava apenas d1'vcrt1I'-se em dls'cotecas. Enquanto conun'uarmos a nos qucstionar sobrc “qual potcn-

' '°:
Exploramos o tema da dança e mostrci-lhe o que a dança podena' c1al'emocional produz cste ou aquele dls'túrbio dc comportamento”,
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serz uma obra de arte rítmica, um mcio de expressão, um ms'Lru- am'da não alcançamos o prm'cipal questionamenlo na psicotcrapia
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mento para dar alegria aos outros, um anseio de perfeição. quc 6 “por que acontecc quc o potcncial espin'tual de uma pessoa
Ela se entusiasmou com estas idéias e começou a tomar aulas obedcoe, ou até sucumbc, a um cvcntual comando cmocional falso?”

tmrjzwuL
de expressão corporaL Devido ao seu ba1x'o peso, precm'ou empre- Nos nossos exemplos sobre a Bulimarexie, ls'to SIgmñ"ca que,
gar muito esforço nestes exercícios, o que, por sua vcz, causava-lhe ao m'vés dc m'vcstigar qual cstado m'terno ncgativo levana' uma
cansaço c fome, d1m1n"um'do sua res¡s'tência à comida. Ao mesmo pcssoa a tcr hábitos al1m°entares tão dcscontrolados e desnaturals',
tempo, csta atividade fcz com quc conhcccsse um grupo dc jovcns seria muito mals' m'teressante saber em quc 1m'aturidade ou bloqucio

.Pumanm mr
espüitual se basela' esta fraqueza dlan'le de uma lenlação e por quc

50 51
a raza_'o da pessoa não sc mamf'esta díantc dc uma “ação contra a enst'cln tarefas no mundo quc esperam por ele, quc, dc certa
razão”. Pclo mcnos a logotcrapia não m'daga pnm'ariamcntc sobrc manexra,' só poderão ser realmdas por cle e quc ncccssitm dc sua
o porquê de tcr se fortalecido o aspecto doente dc uma pessoa, mas saúdc, ou seja, da mobnhza"ção dc sua pcrsonalidadc totaL Elc
sobrc o porquê dc não scr suñcicntemente fortc o scu aspecto dcverá ver estas tarefas para dcpons' dar forma à sua vida de acordo
saudách sensalo e m'tehg'cntc. E como resposta ela obtém, ao m'vés com sua própna' consciência. Nós logoterapcutas não pm'lamos para
de teorias de conñitos quc csclarcccm os aspcctos doentes, a tcoria elc 0 mundo numa tela da forma como nós o 1ma'g1n'amos, mas
da motívação da “vontadc de senu'do”, a qual todo ser humano quercmos quc cle vcja o mundo de olhos abcrl'os, da forma como
possuí c que sustentará scu proccsso de rcstabcleam'ent0 se cle clc 615, e que dcpoxs' pm'te a sua própria ¡m'agem do mundo, com as
perceber um “valor em si” ao qual puder se cntregar com m'ten- mals' bclas cores que possa achar. Ptaticamcntc nós lhc retüamos o
cionalidadc cspln"tual. véu que cobrc seus olhos c chmm"amos a ñxação ncfasla em si
Parece ser o destmo da nossa espécic cstar constantemente mesmo.
oscüando enLre d015' extrcmos, sem conscgmr' chegar a um meio-ter-
mo sadio. Isto também se aplica às corrcntes psicológicas predomi-
nantes quc, atualmcntc, ocupam-se quasc quc cxclusivamcnte do
nívcl emocional do ser humano, cm oposição à racionahza'ção c
m'telccruahza'ção enfocadas anten'0rmentc. Scm dúvida, a afeLivida-
de com todas as suas rcpcrcussões cmocx'ona1$' c d15°posicionais tem
grandc un'portan^cia, porém, mcsmo assxm,' não rcprcsenta a “h15'tó-
ría toda” do ser humano. Está mals' do que na hora de pensar cm
dar mais atenção àsforças espin'tuais do scr humano c usá-las para
superar problcmas psíquicos; caso contrário, nossos empcnhos te-
rapêuticos acabarão num beco scm saída. E não apcnas o trabalho
terapêutico, mas também os grandcs problemas mundiaxs' da huma›
nidade, como por exemplo os problemas do Tcrcc1r'o Mundo e da
supcrpopulação, quc absolutamentc não são solucionávcls' através
da anáhs'e das cstruturas cmoc1'ona15', mas apcnas através de um
enorme esforço da razão humana, levando em oonsidcração os
valores éticos, ecológicos c cultura15' exxs'tcntes.
Assun,° a logoterapia apela novamentc à razão do homem,' ela
está convencida de que esta força espm"tual poderá ser utlhza"da sc
“Eu pinto exatamente o que eu vejo, é claro."
o homem souber de xum sentido, para cuja reahza°ção valcria a pena
recuperar a sau'dc. As vezes pergunto aos meus pacientes, após
tcrem mc relatado suas mul'tiplas quexxas', o que fariam da sua vida
se não tivessem estas suas qucxxas'. Pouqu15'51m'a5 pessoas conse- (E.s'ta caricatura stm'bolzza' muito bem a “cegueira de vanres”
guem dar uma rcsposta cspontan^ca a csta pergunta. E cste fato de que muitos dos nossos pacientes estão atualmente acometid0s,
constitui exatamente 0 ponto ccntral dc scu sofr1m°enloz nao' conhe- asm' como a tarefa do logoterapeuta de restituir-Ihes sua, “capacidade
cem nenhum motivopararecuperarem a sua saúde. Mas este também de m'ao' ".)
é o ponto ondc começamos a tIabalhar logotcrapeuticamentez além Retomemos agora o segundo prm'cípi0 terapêutico da logole-
da clmm"aça'o das que1xa's tenlamos tornar transparentc um motivo raph que denomm'amos de Como aumentar a sensaçâo de vanr da
destc tipo para o paciente, mostrando~lhe um “valor em si”. Caberá tha'. A expressão “sensação de valor da vida” demonslra que a
ao pacíente decid1r' até que ponto cstará d15'poslo a se engajar por logoteraph ccrtamentc não neglígencia o nível emocíonm do ser
cstc valor. De qualquer forma, dcverá sc tornar consciente de que humano, embora não lhe atribua a mesma 1m'p0rtan^cia superior que

52 53
Ihc confere a psicologia profunda. Porém, a expressão am'da m'dica Contrastemos agora o caso de um outro memn'o que lambém
a ampliação do conceito dc“sensação de valor próprío”*, damesma encontra a velha com a ccsta pesada, mas ele vê a vclha e não as
forma que, analogamente, a logoterapia tcm uma função ampliado- maças'. Ele percebe como ela vai se arrastando pesadamentc pclo
ra e complcmentadora na psicoterapia. cam1nh'o, de costas curvadas, e como cla tcm quc usar todas as suas
Toda psicoterapia tcm como objetivo melhorar e mantcr cm forças. Ncste momento, o mcmn'o perccbc o “scntido do momcnto”,
que c0n515'te em colocar suas forças juvcms' a scrviço de algo ou
cqmlíb'rio a scnsação de valor próprio dc pcssoas docntcs. Nada
alguém que necessita delas. Também clc sc oferece para lcvar a
temos a objetar a csta idéia, poxs° a auto-cst1m'a e a consciência de
scu próprio valor rcalmente constitucm establhza"dores poderosos ccsta para casa, e, ao fazê-lo, recebc algumas maças' de prescntc.
Qual seria 0 ganho destc segundo menm'0? Ele teve contato com o
da saúde fls'ica e psíquica. Incrcntc ao cu há, de fato, um “valor em
“valor em si”, aquüo que é bom e tem sentido, que estava m'erentc
si”, quc prccns'a ser pcrccbido cspm"tualmente, po¡s' nele se baseia a
à sua dls'posição de ajudar, m'dependentcmente dos rcsultados da
autoconñança do homem. Porém, também ncste caso devemos dxze'r
ação que lhe adviriam no ñnaL Com ls'to 1r'á aumentar não apenas
que esta não é a “hls'tóna' total” do homem. Apenas a consciência
sua sensação dc valor próprio, mas sobretudo sua scnsação dc valor
de seu próprio valor não é suñcientc para cxplicar a condição
da vida, ao sabcr da plcnítudc de scntido da sua cx15'tência. Enquan-
humana. Uma elcvada sensação de valor próprio a1n'da não é uma
garantia para se viver bem. A sensação de valor próprio reñcte to quc o pr1m'e1r°o memn'o podcria dlzc'r, saüs'fcito: “Flz' um bom
negócio!”, o segundo poderia se senür' rcahza'do ao pensarz “Foi
sm°plcsmentc a quantidade e m'tcnsidade das rcahza'çõcs de acordo
bom eu ter passado pela estrada naquelc momento!”
com as quaxs' alguém se julga bem-sucedido, nada dcclarando,
porém, sobre a pIenitude de sentido destas reahza'çõcs. Uma tal A partü do exemplo, podemos concluu' que uma sensação
declaração somente se condensaria na sensação de valor da vida, positiva dc valor próprio é um subproduto dc uma ação bcm-suce-
naquela sensação, que precedc todas as exterionza'ções humanas, dida, c uma sensação positiva de valor da vida é o subproduto de
dc que a vida valc a pcna ser vivida, que a vida 51m'plesmente é “plena uma experiêncía de sentido. Naturalmente também nós, logote-
de scntido”. rapeutas, ñcamos sans'feitos em ver que consegunn'os levar nossos
pacientes a reahzar' uma ação bem-sucedida; vemos, porém, um
Como a sensação de valor da vida cstá 1n't1m'amente hg°ada à
ccrto pcrigo ao fazcr dls'to o objctivo da terapia. Com cfeit0, o quc
motivação básica dc uma pcssoa, uma pequcna comparação entrc poderia acontecer se nossos pacientes, após sua rccupcração, cvcn-
uma mcsma ação praticada a partu' dc do¡s' motívos d1f'crentes tualmentc não tivercm ma15' expcriências bem-sucedidas c, subíta-
podena' contribuk para estabclecer a dchm1"tação da scnsação dc
mente, sua sensação de valor próprio dimm'u1r'? Ncste caso,
valor próprio. Suponhamos quc nm mcmn'o cncontrc pclo cammh'o
provavelmente, nós os teríamos de volta como “casos rem'cidentes”.
uma vclha carregando uma cesta pesada de maças'. O menm'0, ao Parece-nos consideravelmente mals' scguro torná-los abertos para
ver as maças' apetitosas, sente muita vontade de comer uma delas. experíências dc sentido que possam aumentar sua sensação de valor
Pensa então que certamentc a Inulher lhe dana' algumas maças' sc da vida, p015/'o sentido pode scr cncontrado scmpre e cm qualqucr
ele a ajudasse a carregar a oesta para casa. E assun' acontcccuz ele lugar, até mcsmo nos ms'ucessos,
carregou para ela a cesta pesada e ela lhc dcu algumas maças' em

.-c.¡nm~¡-rm
troca Tudo bem até aqui. Embora o motivo do memn'o não fosse Para mclhor comprcensão, retomemos uma vez mals' o nosso
totalmcnte altruísta, ele, añnaL praticou uma boa ação, o que é excmplo dos memn'os que ajudaram a carregar as maças'. 1mag1n'e-

vm
mosas conseqüências se a velha, após ter recebido ajuda, não tivesse

-.
muito melhor do que sc não tivcsse prestado ajuda. Scu ganho, além
das maças' que reccbeu, será também um aumento dc sua scnsação sc mostrado agradecida c não tivcssc lhes dado as maçãs. Será que,
de valor próprioz ele foi esperto e seu plano deu ccrt0. ncste caso, 0 pnm'c¡r'o memn'o dcscrito não ñcaria tremendamente
1m"tado por ter se esforçado “m'utllm'ente", ñcando com ls'to afctada
sua auto-cst1m'a? O segundo memn'o, porém, tem a possib1h"dadc dc
am'da encontrar um sentido nesta situação ms'ahs'fatória, p01s' o fato

_._ . _
' N.T. Em alcmáo, Lebemwatgcpuhl = sensação de valor da vida; Selbs- dc ele ler ajudado uma mulher que necessítava de auxílio não lhe
xwmgcfudll = scnsaçáo de valor própn'o, autocsnm'a. pode ser m'ado, m'dependentemente de clc tcrrecebido um agrade-

55
.
vqg
cun'cnto ou não; sua ação é “seu própn'o monumen10”16. Ee aIé

Junuà
mesmo poderia aumentar a qualidadc dc sua ação ao acrcscenlar- e páoopatas Ncstc caso prcas'aríamos dc um pnn'cípio tcrapêutico

wmrv
lhc o perdão pcla mgr'atidão rccebida. O que elc fez nunca scrá quc, ao conlrário, fossc capaz dc forlalcccr a scnsação dc valor da

."Jv"*
“m'u'ul'” e, assxm,' sua sensação dc valor da vida não scrm' atmg1"da por v1da.' E não conheço ncnhum prm°cípio, a não scr o logolcrapéuticq
esta rcação da mulher. que pclo menosm'dicasse a d1r'eção quc sc dcvcria scguu'no Lrabalho
com esta chent'ela.
Um dls'túrbio quc 1m'pede radicalmcnte o desenvolvnm'cnto
espm"tual e pessoal de uma pcssoa c que, cspcmalm'cntc com rcs- Já dlsc'ut1m'os que ambas as sensaço'es, a dc valor próprio e a
peito àquüo que foi dito dcve scr levado a séri0, é o abandono (ou dc valor da vida, na realidade são subprodutos quc, porlanto, não
ncgligência). Não raramcntc csta cxpcn'ênc¡a' de abandono acom~ podcm scr düctamcnlc prctcndidos ou m'tentados. mas quc prcci-
panha os quadros de psicopatia, dchn'qüência, prostmn"ção e Inn sam dc um dcsvio; c cstc dcsvio pclo qual forçosamcntc podc scr
estüo de vida dcgradanta Nestc dls'túrbio enoontramos geralmentc oonseglnda' uma scnsação de valor da vida é a busca dc scntido.
uma supreendente dcsarmonia entre sensação de valor próprio c Como, poréln, por um lado, as pessoas abandonadas são tão cegas
sensaçáo de valor da vida: enquanlo que a pnm'elr'a pode ser bem perante os valores que, mostrando~lhcs valorcs mcdlan'tc palavras
dcsenvolvida, e às vezes até exageradamentc clevada, a segunda ou exemplos, não há pratícamente efeito de Lransferência sobre eles
dccaj até o nível zcr0. Esta dls'crepan^cia sc man1f'esta num cgoísmo e, poroutro lado, seu ego seguro de si é tão dom1nan°te que não estão
mesclado com agressividade de acordo com o lemaz “Apodero-me dlspost'os a se delxar'eln mfl°uenciarpor oricntaçõcs c sugesto'es,
resta apenas uma única possib1h"dade: prccls'am ser envolvidas e
daquüo que necessito.'”, associado a um nnhsm"'o fatalístico scgundo
engajadas cm tarefas que tenham scnu'do, na csperança dc quc a
o lcmaz '*ngu'ém prems'a mesmo de m1m'!” Da combma'ção destas
centelha da busca dc sentido possa um día sc accndcr, pclo menos
duas atitudcs rcsulta uma relação despreocupada e dcscuidada com
em retrospecto.
osvalorcs, quc não são 1'denüñ'cados como tals', qucr scjam objetos,
seres humanos ou até a própna' pessoa. Assume-se altos nscos' quc Concretamcnte, 1s'to sxgmñ"ca, por excmplo, que jovens que
não são proporcíona1s' ao lucro esperado a curto prazo. Arnscam'~se costumam pichar c damñ'car construções públícas devcriam ser
homicídios por causa de dls'cussões m'elevantes, rcahzam'-se frau- convocados para tarefas dc embelczamento ambicntal de toda cs-
des e assaltos por causa de uma riqucza passagcu'a, vendcm-se o pécie; ou então, conforme está sendo cogitado prcsentcmentc na
oorpo e a alma por causa de relacionamcntos amorosos m'dlsmm1"'- Áustna,' os motons'tas detidos por embriaguez no volante devcriam
nados. AfmaL a vida sob o aspccto do abandono não constitui um prestar serviços de atend1m'ento em prontos-socorros por algumas
valor elevado que dcvcria ser guardad0, cuidad0, protegído, rcflc- semanas Além dlss'o, a ênfase pedagógica cm ms'tituiçõcs de ensm'o
tido c construído, não é umaprcciosidade pcla qual se 6 responsách para alan'ças problemáticas ou abandonadas não devcría sc rcstrm'-
mas um joguete da sortc quc lançamos para ganhar ou para pcrdcr g1r' às rcahza'çocs' do cotidlan'o, ou scj a, ao controlc do absolutamen-
tudo. Enquanto que a m'd1f'crcnça exprcssa falta dc consacn'^aa' dc tc ncccssán'o, mas os m'ternos devcúam scr cstxm'ulados a encontrar
valorcs, o prazer em assum1r' ns'cos expressa consc1'ênaa' de scu a coragcm para desaños espm"tuals'. Isto poderia ser conscguido se
próprio valor. os confrontarmos constantemcntc com tarefas que tenham sentido,
para as qums' estão preparados exteriormente c com as quaxs' pode-
Sabe-se que até hoje toda psicoterapia capltul'ou d1ant'e do rão crcscer mt'eriormen1e.
problema do abandono. O slogan “terap1a' ao m'vés dc punição”, quc
a psicologia forense de vez em quando faz rcssurgü cm d¡v'ersas Naturalmcntc estas confrontações podem ocasionar cohs'ões,
partcs, mf'ehzm'entc não está baseado numa conccpção reallsta,' e po¡s' não podemos contar de antemão com a partícipação cspontâ~
contm'ua scndo até hojc bastante m'cíicicnte. Estou convcncida dc nca da che'ntcla. E tudo que é feito sob coação, mesmo que seja uma
que 15'to cstá relacíonado com o fato já mcncionado de qne a “coação salutar”, tem um gosto amargo. Porém, posso añrmar, a
psícoterapia tradicional tcm como objeüv'o fortalccer e estabnhzar" pamr' de m1nha' própr1a' cxpcriência como supems'ora psicológica
a sensação de valor próprio dos pacientes, o que podena' ser perfei- dcvánas' para cnan'ças e adolescentes, que ambos, tanto
o “scr obnga'do a fazer”, quanto a “tarefa” como tal, ajudam a
tamcntc adcquado junto a ncurótioos c melancóh'cos, mas quc
absolutamente não constitui o problema das pessoas abandonadas combatcr com sucesso o abandono. O “ser obng'ado a fazer” atenua
a scnsaçao' cxageradadevalor próprio c, por consegmn'te, o egoísmo

57
4 ñy
agressivo que m'duz a pessoa a fazer apenas o que tcm vontadc; c a sigmñ°ca a fé em Dcusl7, em um “supra-scntido” ac1m'a dos aspcctos
“tarefa” eleva a scnsação reba1xa'da de valor da vida e ajuda a mundanos.
superar o nuhs"'mo fatahs'tico que 1m°pede a pessoa de fazer aqu11'o Esta conñança, que se baseia na sensação de valor da vida de
que tcm sentido. uma pessoa, d1f'erencía-se fundamentalmente de qualquer fatahs'-
Ao se questionarem adultos, que vivcram uma parte dc sua mo, que considera todos os evcntos como m'evitavelmcntc prcdcter-
juventude cm ms'tituições por causa de düculdadcs cducacionals', mm'ados, com a conseqüêncía de que seus adeptos cruzam os braços
sobre suas melhores recordaçõcs daqucle tempo, costumam relatar e permaneccm como que parahs'ados numa atitude passiva díantc
epls'Ódios de divcrsas açõcs em grupo que foram rcahza'das naquela do que a ex15'tência possa lhes trazcr. Ao contrárío do falahs'mo, a
época. Foram citados como exemplos um coral de natal, ensaiado conñança torna-nos ativos, não constitui um dcscncorajamento, mas
durantc muito tempo e aprcsentado num asüo para velhos, ou a um encorajamento para ag1r', p01s' o agentc cstá apoiado num fun-
cscalada longamcnte prcparada de uma montanha nas férías. É damento onde nada pode falhar; ele poderá errar, poderá sucumbu',
m'teressantc observar que, quasc sempre, é relatado que o esforço mas sua vida contmuará tcndo valor. Ele poderá reparar seus erros,
empregado nos preparativos para tals' ações é scntido m1"cialmente podcrá levantar-se novamente, e mesmo se não tiver mals' nada a
oomo negativo, e 0 jovcm precm'ava ser “forçado” pcla pressão do reparar ou se não puder maJs' se levantar, am'da lhe rcsta a possibí-
grupo; porém, durante c após a reahza'ção do evento, os corações lidadc dc uma mudança m'tcrior quc, retroativamcntc, dará sentído
se abriam para o entusiasmo pcla causa. Podemos ver, assun,' que, a tudo que aconteceu.
ao se soh'citar uma criança ou adulto com dls'túxbios dc comporta- Ao dls'cut1r' o pr1m'elr'o prm'cípio tcrapêutico da logoterapia,
mcnto para rcahzar' tarcfas que tenham scntído, mesmo contra sua m'diquei que atualmcnte muitos dos nossos pacicntcs não têm um
vontade, cncontramos um cammh'o quc, em últun'a anáhs'e, será ma15' motivo para sua cura, bloqucando assun' seu processo dc rcstabe-
humano do que a toleran^cia de uma “atitude lals'sez-fa1r'c” perantc lec1m'ento. Gostaria de acresccntar que muitos deles sun'plesmcnte
crianças abandonadas, à qual se segue a m'toleran^cia do desprezo também não têm a força para se curarem Eles cncontraríam um
da sociedade pcrantc adultos mfr°atores cumprm'do pena numa motivo somente se de1xas'sem se guim novamente pela sua razão,
pns'ão. que terá seu desenvolwm'ento pleno na “vontade de sentído”. E a
Conhecemos ass¡m' a sensação de valor da vida como um força somente será encontrada numa conñança m'abalável na vida,
corretivo para aquele m1hsm"'o falahs'ta segundo o qual nada tem a qual jaz no conhccm'ento c na fé de lcr seu valor¡As.sun,' os doxs'
mcsmo sentido. Exprcsso no positivo, podcríamos também designar objetivos terapêuticos prm'cipais dcntror dos pnn'cípios logotc-
esta sensação como o m'dicador da “conñança básica”, aquela con- rapêuticos seriam ajudar a pcssoa psiquicamente doentc a cncodn-
ñança na vida que nunca poderia cmcrgü apenas do próprio eu. trar tanto um motivo quanto a força para recuperar a saúde.
Certamente uma grande segurança de si tcrá como conseqüência Precm'amos reconhecer, porém, que ambos somentc poderão ser
uma conñança em suas próprias capacidades produtivas. À medida, encontrados c não dados pela terapia. Também para a psicoterapia
porém, que a capacidade produtiva d1mm"u1,' também a segurança ' vale o ditadoz “o melhor não pode scr feito pela mão do homem c o
de si próprio d1mm"um"a se não houvessc um fator adicional que que pode ser feito pela mão do homem am'da não é o melhor”.
garantxs'se uma oonñança prévia m'condicional. Este fator é justa- Passemos agora para o terccüo prm'cípio tcrapêutico que
mcntc o conhemm'ento ou a fé de que a vida é vah'osa até o últlm'o anunciei e que decorre logicamente dos dms' antcn'ores. Trata-se dç
momcnto. Como Iidar com os conflítos de valores e aperda dre valores. Quanto
a esta tripla subdív15'ão dos prm'cípios devemos observar que as
Dls'se propositalmcnte “conhec¡m'ent0 ou f ” po¡s', embora a
bases antropológicas da logoterapia são tão ricas em m'dicaçõcs
dehm1"tação entre ambos normalmente deva ser fcita de maneüa
prec1$'a, os doxs' se sobrcpõem no conceito da coniiança, a qual metodológicas que na prática resultam scmpre em sugestões apro-
pna'das para cada caso 1n'dividual. Porém, como estamos reHetmdo
poderíamos deñn1r' como “conheam'ento do coração” ou “fé da
sobre a recuperação logoterapêutica dos valorcs, precns'amos tam-
razão”. Trata-sc de uma conñança pré-rcflcxiva de que tudo, da

-.
bém accitar o fato de que os valores podem conñitar entre si c
forma como cstá, de algum modo, é bom e corrcto, mcsmo que não

,›-r<
também podem se perdcn Ambos os fatos rcquerem reconc1h"ação.
possamos comprecndê-lo. Para a pessoa rehg1"osa, esta conñança

"-.-1v'.
Fu-
59
58

- ÚWÊÊÃ
Rcconcxh"ação com uma rcalidadc cm quc Inuitas com não podem jeia”, dls'se oportunamente Cns't1n'a da Suécia. Talvez scria cxagcro
scr rcahza'das s¡m'u1taneamentc e em que nada cslá cm d¡s'poni- denomm'ar a consciência como a “voz da vcrdade”, pons' tudo quc é
b111"dade 111m1"'lada. Por ls'so, nossos pacicntcs preasam,' além da humano está sujeito a crros. Mas sc há algum aspccto humano quc
razão, também da renun'cia, além da conñança no futur0, também pode chegar muito perto da vcrdade, cntao' é cstc “órga'o dc scnúdo”
da reconmh"ação com o passado e além da capacídadc dc viver, (Frankl) dcntro dc nós, que am'da pode valorar os valorcs, dando~
também da capacidade de suportar o sofnm'ento'. Se não consc- lhcs pontos mals' altos ou ma¡s' ba1x'os numa cscala dc acordo com o
gmrm'os sensiblhzá"-los para 1s'to, não podemos ñcar üanqml"os ao scntido dc uma dada situação.
dar-lhcs alta, po¡s' contm'uam cms't1n'do rames' para prcocupaçao'.
Añrmo até que a dls'posição de uma pessoa psiquicamcnte doente Rcflcxõcs semelhantcs lcvaram Carl Fricdrich von Wcmsa"'c-
kcr a exprcssar os scgtun'tcs pensamcntosz
para a reconciliação consigo própna' c com a vida consütul" um
critério seguro para o estabelecnm'ento dc umprognóstico favorách No lugar da conduta ms't¡n'tiva que domm'a no amm'al, e um-
E, no caso contrário, não há dúvida de que a 1rr'eoonc1ha"bí1idadc bém no an1m'al social, o homem age segundo nonnas de conduta
tende a mantcr a partc docntia da pessoa. Provavelmentc há mulla' sociaL Estas normas prcdomm'antes na maioria dos comportaxnen-
aflição psíquica quc resulta justamente dcsta falta dc dls'posição tos humanos dão à liberdade dos ms'l1n'tos o pr1m'elr'o contcúdo
para a rcconc111"ação. domm'antc. A libcrdade sxgmñ"ca 1m"cialmentc a libcrdadc dc scguü
Comccemos n ssas reflcxõcs com a mancu'a dc sc hdar' com normas socia1s'.
um condito de valor1 . Estc não é um conñito cntre um valor e uma Mas como añnal sc formaram os _costumcs? Não podemos
fraqueza pcssoal a qual se oporía à reahza'ção deste valor, cstc acrcditar que, pelo menos nas culturas mals' clevadas, o proccdí-
oonflito scria solucionável ajudando-sc a pcssoa a “percebcr 0 valor mento ccgo de ensaio-e-crro fosse suñciente para quc se cstabcle-
em sí”, o que capacílaria a pessoa a supcrar sua fraqueza pesoal ao ccsscm os costumes. Para cssas estruturas ricas c harmoniosas foi
sua concentração espüítual totalmente sobre este valor. Con- prcc13'o a comprecnsão daquclcs que ma15° lardc foram homcnagca-
sidera-se um contlito como sendo de valores quando se trata reaL dos pcla hls'tóría ou mitologia como patriarcas, lcgisladores c sábios
mente de um conñito entre doxs' (ou ma¡s') valorcs que 1m'pos- da Ant1gm""dade. Porém, aquüo que foi construído aLravés da com-
sib1h"tam a pessoa de colocar-se sxm'ultaneamentc a scrviço dcles. preensão, só poderá ser conscrvado aLravés dcsla mesma com-
Como exemplos tcmos o conñito entre proñssão e famíl1a,' entre preensão. Somente a compreensão do sentido dos costumes
vocações artísticas c responsabd1"dadcs dc trabalho ou enlIe uma conserva a flem'b111"dade da sua adaptação e cvita que resvalem para
promcssa dada c uma situação que sc modlñ'cou. um “ponto morto” scm sentido. Assun', toda sociedade vive na
tensão entrc o cumpr1m'emo ccgo de normas morais, delcrmmando
A logoterapia partc do prm'cípio dc quc aquílo que nossa algumas vidas humanas de forma quase lotal e todas as vidas huma-
wnsciência pcssoal nos dxz' é inequívocq Frankl d1f'ercnaa' mu1t°o nas cm proporçõcs mals' amplas, e a alitude h'vre e comprecnsiva,
claramentc entre o quc na psicologia sc dcnomma' dc “supcrcgo”, d15'posla a mudanças e à cspontaneidadc. Num novo patamar repe-
que pode ser considerado comu o reprcsentante da soma acumula- te-se a rclação automaüs'mo versus liberdadc: cnquanto quc o com-
da de todos os valorcs e normas morals' transmitidos pcla tradiçao' portamento segundo normas represcnta a libcrdade um rclaçáo ao
c que nosfoi1n'culcad0 dcsde a mf'an^cia, c aqucla voz mals' müma," ms't1n'to, a atitude dc comprcensão rcprescnta a libcrdadc eln rcla-
m'ata, que podemos repnmu", ignorm ou zombar dela, mas que não ção à norma.
podemos subomar, porque cla mostra ñrmcmcntc aquela ação que,
num dado momento, tem mals' scntido c é a mals' rcsponsáveL “A A pcssoa h'vrc, dotada de compreensão, também podc dlze'r
consciência é o único cspelho que não nos engana, nem nos hso'n- “nã0” a um costum6.
Desdc quc por “comprecnsão” se entcnda a compreensão da
plenitudc de sentido de uma ação, e que, por sua vez, a “plenitudc
' Frankl considera a “capacidade de suportar o sofnm'cnto", ao lado dos de sentido” possa scr avalíada de acordo com pmam^cttos objctivos,
objcum da psicanáhsc' posrulados por Freud, a “capacidadc dc txabalho" c a poderíamos rcsumu° todo o cód1g'o de ação da humanidadc numa
_“capacidadc dc prach', como um objcuvo' tcmpeutioo adíctonnl' e não menos única setençaz
lmponante.

61
. zau
vaa de maneu'a quc rudo tenha sentido
que a mulhcr, por um lado, aprccm'va muito a scgurança pcssoal c
e faça o que qms'cr -
ñnanceüa que seu marido lhe proporcionava, assxm' como sua dcdi-
suas ações
cação a cla, sent1n'do-se atraída para ele “pela razão”; por oulro
scrão cticamente defensáve15'
lado, fruía do cannh'o e do erotIs'mo do amante e cstava fascinada
c moralmcnte jusuñ'cávc¡s'!
pclo scu cstüo dc vida aventurcüo e dcsprcndido, sentm°do-sc alraí-
Assm,' ao tratarmos de conflitos de valores na logotcrap13,' da para elc “pclos scnüm'cntos”. O marido queria uma dcc15'a'o por
não queremos fac1h"tar ao paciente a sua tomada de dccma"o, e muito não mals' aceitar o triângulo amoroso, mas estava d¡s'posto a reco-
menos tomá-la por ele, mas qucremos levá-lo a ouvnr' a voz “com- meçar tudo com sua mulher. O amantc, por sua ch unh'a uma oulra
preensiva” de sua consciêncxa' c, com ls'so, torná-lo cônscio de sua namorada, mas cstava d15'posto a mantcr o m'ângulo, ou mclhor, o
rcsponsablh"dade. Em sessões terapêuticas fxcqücntemcntc ocorrc quadrado, recusando-se a fazcr quals'quer planos para um futuro
de o paciente perguntar d1r'etamente qual opção devcna' fazcr numa em comum com a mulher, mesmo quc csta se d¡'vorc1ass'e.
dctcrm1n'ada situação de conflito, o quc, porém, não sxgmñ"ca que Estcs então eram os fatosz por um lado a razão, por outro o
ele nccessariamcnte segum"a a resposta oferecida. Mesmo assxm,' sentlm'cnto; por um lado um relacionamcnto sólido, por oulro um
acredítamos na logoteraph quc dcvcmos uma resposta a uma par- dcscompromxs'so atraentc; e no meio dls'so tudo uma pcssoa quc ora
gunta a nós dmg1"'da e, portanto, não nos rcfugiamos numa atitude se sentia atraída por um, ora por outro. Como solucionar o conñito?
terapêutica obscura. Sugeri à mulhcr que ñzésscmos um tipo dc balanço espccml'. Per-
Uma possib111"dade dc dar uma resposta sem no entanto t1r'ar guntei-lhc: “Se estou entendcndo corrctamente, a Sra. tcm apcnas
a responsabmdadc do cliente é a técnica logoterapêutica do “deno- duas opções. Ou ems'te uma terccu'a?” Ela dlss'e quc não. Só poderia
mm'ador comum”, descrita nos livros de Frankl e da qual gostaria voltar realmente para junto de seu marido ou separar-se dele e ñcar
de dar um exemplo a segulr'. O conñito em questão era o questio- com seu amante. A terce1r'a possib1h"dade, uma combm'ação dc
namcnto de uma mulher casada sobrc se dcven'a se separar de seu ambas, era equivalente à situação vivida amalmente, mas não pode-
marido ou renuncxar' a scu amante. Por maxs° banal quc seja esta ria mals' contm'uar. “A551m'”, respondL “a Sra. está diante dc uma
pcrgunta, c mcsmo quc tenha sido abordada m11h'arcs dc vczes cm decxs'ão d1fí'c11'. Diga~me, quantas pcssoas serão afetadas pela sua
romances e ñlmes, é precxs'o quc hojc, ma15' do quc nunca, lhc dec15'ão?” A mulhcr rcfleüu, depois enumerou seu marido, ela
dediqucmos nossa atenção, p015' a relação cntrc casamcntos c divór- própria, seu amante c a namorada dele. “Então”, resumí, “o destm'o
cios cstá 1:1, o que corrcspondc às proporçõcs rea15' nos países de quatro pcssoas 1r'á mudar de acordo com sua decns'ão. Tentemos
m'dustriahza'd0s do Ocidentez para cada casamento 1n'tacto há pelo venñ°car dc quc mancu'a o destm°o se modlñ'cará para cada uma
menos um arrum'ado ou que tcrmm'ou em divórcio. dessas quatro pessoas. Aquelc que provavelmente será fehz,' em
dccorrência dc sua dcas'ão, recebcrá um sm'al 'ma15", e aquele que
Há d01s' aspcctos relevantcs no contato tcrapêutico que tive provavelmente será mf'ehz' receberá um sma'l 'mcnos*.” A mulher
com csta mulhcr. O pnm'e¡r'o é que era uma oricntação anômm'a v1a' providenciou lápls' e papel para que pudesse fazer as anotações
telefone, poxs' a clicntc se recusou a v1r' pcssoalmente ao consultório, junto ao telefonc.
c o segundo é que, 1m'ediatamentc antcs de me telcfonar, ela havia
an'elr'amente ponderamos a decns'a'o “a favor do marido”,
lelcfonado para uma orgamza'ça'o de assm'te^ncia psicológíca por
telefone, c csta orientação aparentemente não hav1a' sido satlsf'ató- depoxs' aqucla “a favor do amante”. Paxa cada decxs'ão foram delxa'-
das quatro subdivns'ões para as quatro pcssoas envolvidas. Na rubri~
na'. Pclas suas alusões, deduzi que o terapeuta que a havia atendido
ca “a favor do marido” foi dado um ponto positivo para o marido,
usou proced1m'entos de uma terapia centrada no cliente, ou seja, ele
po¡s' cle provavelmcntc a1n'da amava sua mulher; para o amante um
s1m'plesmente reformulou e espelhou para a clientc os conteúdos
ponto positivo e um ncgativo, porquc para ele a decns'ão parecia ser
que cla havia exprcsso, na espcrança de quc, através do esclareci-
relativamente m'd1f'crcntc; sua namorada reccbcu um ponto positi-
mento, cla chegasse espontancamcnte a uma solução. A solução
v0, p015' ela ccrtamcnte ñcaria contenle sc a mulher voltasse para
também foi encontrada, e foi justamente nestc momcnto que a
junto do marido; c a mulhcr quc cstava buscando oricntação recc-
orientação ccntrada no clicnte foi m'terrompida. Ficou esclarccido
beu um ponto positivo c um negativo, o quc correspondia à sua

62 63
posição ambivalcnte. Balançoz 4 pontos positivos c 2 negativos. O Nem scmprc é possívcl fazcr um tal “cálculo supcn'or”, mas
mcsmo levantamcnto foi feito na rubríca “a favor do amante”. O cm pnn'cípio, cm qualqucr conflito de valorcs, um dos valorcs a
marido rccebcu um ponto ncgativo, p01s' ele ñcar1a' trls'te ao perder screm cscolhidos dcvc sc revelar como aquelc quc, eticamentc, é
sua mulher,' o amantc novamente recebeu um ponto positivo e um valorado mals' alto, se accitarmos o carátcr m'equívoco da consci-
ncgativo devido à sua m'd1f'erença; sua namorada recebeu um ponto êncm'. A logotcrapia, como um s¡s'tcma médico-tcrapêutico, não se
negativo porque ncste caso ñcaria prcocupada pelo seu próprio vê como uma ms°tan^cia morahzan'tc que dccidc sobrc o bem c 0 ma1;
rclacionamcnto; e a mulhcr se atribuíu novamcntc um ponto positi- ela considera como sua tarcfa 31m'plesmcnte d1r'ecionar a vnsa"o do
vo e um negativo para represcntar sua ambivalência. Balanço: 2 paciente para aquele “altímctro” quc cada um tem como órgão
pontos positivos e 4 ncgau'vos. 1n'tcrno, c que éjustamente capaz de perceber a deasa"o quc em cada
.- Nestc ponto faltou uma um"ca m'dicação. Dls'se cntão à mulherz situação scrá a que tem mals' scntido, aquela única dects'ã0 necessá-
“A Sra. telefonou-mc buscando uma ajuda para tomar sua dec13'ão n'a, aqui c agora.
e nós ñzemos conjuntamente um balanço de suas duas possibi- A 1m'agem do “altímetro” podc scr uuhza"da am'da num outro
h'dadcs de cscolha. A últ1m'a pergunta, am'da em aberto, a Sra. contexto, que também trata dc algo como uma “mcdida das alturas”:
mesma tcrá que respondcr. Trata-se da pcrgunta 'quanta felicidade é o caso da perda m°evogável de um valor. Há sun'plcsmente golpcs
ou mf'clicidade a Sra. quer quc decorra de suas ações?”' A mulher do destm'o quc não dmxam' ma15' oportunidades para qualqucr
ñcou em süêncio por alguns ms'tantes. Dep015' rcspondeu em voz decns'ão pessoaL quc ur'am do ser humano qualquer ação, ao mfh"-
ba1xa°z “Estou entendendo. A Sra. me mostrou algo que quase g1r'-1he um sofnm'ento m'cvitávcl. Como sofnm'ento destc tipo tcmos
esqueciz a responsab1h°°dade. Não sei se tenho suñciente maturidadc docnças m'curávels', amputaçõcs, a perda de pessoas da família, mas
para ls'to, mas 1r'ei lcvá-la em consideração. Quero lhe agradecer, também situações dc mf'ortúnio de toda espécie, como pobreza,
pons' a Sra. mc ajudou bastante.” mls'ér1a,' fomc e dor sem perspectiva de melhora a cuno prazo. Neste
ESQUEMA DE ACORDO COM 0 MÉTODO LOGOTERAPEUTICO ponto, cm que termm'a a “prioridadc” de poder efctuar qualqucr
DO “DENOMINADOR COMUM” mudança ou mclhora, m1"cia-sc, de acordo com os conceilos dc
FrankL a “superioridadc” de suportar algo heroicamcnte e com
d1gn1"dade'19. Quando as cücunstan^cias cxternas derrubam um scr
Dec1sã'o “a favor do Decnsã'o “a favor Just1ñ'cat¡va'
dcusã'o da mulher marido" do amantc” humano, forçando-o a ñcar de joelhos, ele pode m'teriormente
mostrar toda sua grandeza. Na logoterapia falamos então de “valo-
para scu marido? + Scu marido ainda
a ama. res de atitude”, ou seja, na mancüa como uma pessoa se posiciona
espm"tualmente díante dc cnr'cunstan^cias 1rr'emovívels' de sua vida,
para scu amantc7 +/- +/- Scu amantc gosta
de estar com cla,
vemos uma últJm'a possib111"dade de rcahza'ção de valorcs, uma
mas não quer possib1h"dadc que talvcz compense, numa d1m'cnsã0 mals' elevada, a
assunur' pcrda de um valor.
compromlsm
Antes de fazer um paciente entrar em contato com idéias
Ela tcmc pclo scu
desse típo, é precko venñ'car se não ems'tem am'da p0551'b1h"dades dc
relacíonamento
com o namorado.
cura para sua atlição. Um sofnm'ento dcsnecessário sena' um sofn'-
mcnto sem sentido e absolutamente não representaria uma m'lenção
tcrapêutica. Sempre que numa aflição psíquica houver uma possi-
b1h"dadc de mudança, prec15'amos fortalecer a coragem para a açao'
díantc dc a ñm de rcduzü a aflição. Somente quando houver uma situação
ambos os homcns. 1m'utável, devcmos apclar para a coragem da palxao",' a coragem

' N.T. No scntido dc “ma.rtfrio".

65
para accitax aquüo quc sena' m'aceitável sc não houvesse uma pers- do paciente. Naturalmentc, a pcssoa sentc-sc aliviada quando pudcr
pcctiva dc sentido. desabafar toda sua aflição para uma pessoa compreensiva. Também
Ao se lidar com a perda dc valores, também preasam'os nós logoterapeutas não vcmos m'convem'cnte algum msso'. Acrcdi-
efctuar uma espécic dc balanço; neste caso, porém, não é um tamos, porém, quc o desabafo através de palavras e choro dcve tcr
balanço quc rcvela o valor maJs' alto entrc muitos, mas quc nos faz apenas o “caráter de condição prévia”, pons' quando o potcncnal'
v151'umbrar o scntido mals' profundo de um desvalor, ou sofnm'cnto. espm"tual dc uma pessoa flcar sotcrrado e bloqucado pclo estresse
E, de fato, mcsmo nas horas mals' da vida, am'da é possível cmocional de uma dada problemática, ele poderá tornar-se nova-
lutar para vcr algum sentido, contanto quc a pcssoa afctada não mentc livre quando o estresse emocional sc dls'sipar através de
pcrmancça na fasc de rcvolta ou de rcs¡gna'ção e se cntrcgue ao palavras ou lágnm'as. Nossa prcocupação é poder cntrar em
desespem Na vcrdadc, nós não nos descspcramos por causa do contato com aquelcpotencial espin'tual no ser humano e, assxm,' todo
sofnm'ento, mas por causa da falta dc scntido de um sofr1m'ento!2° “trabalho dc liberação”, scja ele através de palavras, lágr¡m'as, téc~
m'cas de relaxamento ou sedação mcdicamcntosa, tem apcnas o
Assm' que toda aflição quc nos domma' pudcr ser ofcrecida objctivo de criax condições para quc nosso trabalho tcrapêutico
como um sacnfí°cio para algo posit1v'o quc, em relação a ela, surg1r' propriamcntc dito possa ser m1"ciado.
no honzo'nte do conhecxm'ento, o venenomortal do descsperojá cstá
neutrahza'do.
bloqueio parcial estressc emoa'onal, dcvc ser
Para poder_ fazcr com quc uma das mmh'as pacientes cnten- da d1m'ensáo espm"tual tcnsao ffsica reduzido
dcssc cstc modo dc pcnsar, contei a ela a respeito da concha no
fundo do marz ela está bem até quc um grão de areia cortante
penetra na sua came e lhe causa dor. Sem dúvida, o amm'al tenta à nmsãommrrm
expulsar o corpo estranho, o que, porém, se mostra m'út11'. A dor
cont1n'ua. O quc faz o molusco ncsta situação m°evogávcl? Ele rcmoção do cstrcssc, é rcduzido por l_1_moa
bloqueio tensão de palavras
mob1hza" suas própnas' forças, recobrc o grão c o transforma numa
pérolal Dlss'e a mmha' pacientez “Isto também a Sra. pode fazer.
Transformc scu sofnm'cnto numa reahza°ção humana, e ele não terá
sido em vão.'” A paciente, quc sofrc dc uma gravc parahs°ia cspástica
agitante, após nossa conversa, até comprou um colar dc pérolas, quc pode mle'nsiñcação cmocional por causa
usa d1ar1am"entc. Sempre quc o sofnm'ento por causa de sua llm1"ta- do desabafo através de palavras ou chom
ção física toma conta dela, toca nas pérolas com mãos trêmulas e ocasionar

tcnta lembrar-sc de quc também ela é livrc para transformar seu


sofnm'cnto em algo grandioso; é o tdunfo do cspm"to sobre o Dnmxjsm ESPmHU.&
dest1n'o. E quando ela aba1xa' as mãos, um levc soms'o toma conta
de seu rosto. Pessoas como ela dão tcstcmunho de quc a reconci-
novo bloqueio parual'
ha'ção é possívek por ls'so, temos esperança de quc a reconcdla"ção da d1m'en.sáo psfquical
mals' d1fí'c11' quc cns'te - a reconcú1a"ção dos seres humanos entrc si
- também será possíveL Consideramos altamente peng'oso quando este “de¡xar' desa~
Do ponto de v15'ta logoterapêutico, um dos obstáculos quc se bafar” perdc seu caráter de condição prév1a' e passa a ocupar o papcl
opõe a qualquer rcconc1h"ação é a tendência a falar dcmals' sobre terapêutico pnn'cipaL Um paciente quc parcce ter prazer em ñcar
aspectos negativos Neste ponto, a concepção tcrapêutica da logo- falando de scus problemas, depo¡s' quc já teve oportunidade de
terapia se d1f'ercncia muito claramcnte daqucla de outras hnh'as desabafar e “lavar a ahna”, acaba aumcntando sua aflíção de tanto
psicoterapêun'cas, que, em parte, considcram quc a cura seria de- falar dc seu sofr1m'cnto! Com ls'to, a sua cmotividadc é m'tcn515'cada
correntesxm'plesmcntc do desabafo detudo quc é negativopor partc c novamente são trazidas à tona tragédias passadas quc já foram

67
elaboradas espm"rualmente, reacendcndo-se abalos emocíonak nhar qual a proporção apronma'da dos morangos bons na quantí-
quc, no ñnal, acabam encobnn'do c parahsan'do a dun'ensão espm"- dadc totaL O resultado foi surprccndcntc. Aquelc grupo quc ante~
tual de uma pcssoa muito maxs' m'tcnsamentc do quc era o caso no n'ormcnte havia dedicado sua atcnção aos frutos bons concordou
início. com bastante precxs'ão quanto às verdadekas proporçõcs, cnquanto
Já em 1931, Bumke dls'se: “Fa1a-se dcmms' com m'tençoes' que o grupo que teve que escolhcr as frutas estragadas fcz uma
psicotcrapêuu'cas, espccialmentc por parte dos paciaantcsP21 Esta esnm'ativa muito mals' bmxa' quanto à partc das frutas boas, mostran-
añnnação contm'ua válída da mesma forma até hoje, mals' dc 50 anos do-se descabidamente “pessms"ta”.
depons', e foi abordada., entre outros, também por B. HorányL da Dlss'o não podcríamos dedum' que a concentração espm"tual
Clím'ca Neurológica Universitária de Budapcsg que fala até de um em problemas psíquicos un'pcdm"a, dc forma scmelhantc, que a
“remédio do snl'êncio”. Horányi chama a atenção para o fato de que pessoa pudcssc ver as verdadeüas riquezas da alma, os valorcs
os afetos c cmoções cstão sujeitos às regras gerals' da teoria da m'tangívels' da cns'tência humana eas estruturas dc scntido queestão
ma'tividadc, da mcsma forma quc todas as outras man1f'cstações presentes até no sofnm'ent0 1n'cvitável? Façamos com que nossos
vitals'. Elc concluiu quc, falando constantcmcnte sobrc uma atlição pacícntes possam olhar os frutos bons de sua vida e, a pamr' dcsses
psíquíca, justamcntc tende a mantê-la atw'a, fazendo-a surgü sem- aspcctos positivos que perceberem, t1r'arão a força para a rcconci-
prc de novo, enquanto quc não falando sobre ela faz com que liação com os ncgativos! -
m'cvitavclmentc atroñc como tudo no orgams'mo humano que, por
Ncnhuma ciência podcrá cxplicar o sentido da docnça, da
algum tempo, não é posto em funcionamento.22
culpa c do sofrun'cnto, ncm mesmo a psicologia. A logotcrapia,
A logoterapia não usa métodos tão snn'plcs como proibIr' seus porém, rcsponde pclo fato de que o homcm é fundamentalmente
pacientes de falar sobrc aspectos negaüvos. Porém, conhecendo o capaz de buscar um sentido até na doença, na culpa e no sofnm'ento,
pcng'o de uma m'tensnñ'cação emocionaL desenvolveu métodos para elcvando-se espm"tualmente ac1m'a deles e cncontrandotalvez1 neste
manter opuro “choro dc desabafo” dentro dc hm1"tcs saudávexs° e de cammh'o, a sua determhação maJs' espccíñca.' O sm'al da cruz que,
educaI cuidadoszgamnte seus pacicntcs para quc dêem atenção aos no ocidente cns'tão, há séculos é considerado o símbolo do sofn'-
aspcctos positivos. mcnto, é também um sm'a1 positivo numa outra s¡m'bologia. Quem
não ñcana' pcnsativo ao observar cste paralehs'mo?
Não qucremos dwe'r com ls'so que todas as pessoas que bus-
cam orientação scrão trem'adas para se tornarcm otlmls"tas. Porém, 1~-+
para transfonná~los pclo mcnos parcialmentc cm rcahs'tas, é precxs'o
muitas vezcs usar contrapcsos ositivos para combater uma dls'tor- Referênchs bibliográñcas
ção em d1r'eção ao negativo. deí'c1l' 1mag1n"ar como uma pessoa
1. Matcus 10,38-39.
pode sc enganar quanto aos eventos negativos e positivos na sua vida
2. Explicado mans' dctalhadamcntc como Caso n9 22 no lmo' “Auch dezn' ladcn'
sc ela cstiver totalmentc mergulhada em sua aflição, dedicando toda
hat Smn'” ("I'ambém seu sofnm'ento tem scntido”) de Ellsa'bcth Lukas, Bibliotem
sua atenção aos aspcctos ncgativos. da Editora Herder n° 905.
Presencieiumavezum m'teressanteexpcnm'ento comcnan'ças 3. FRANKL, kat'or E. Dtc'P.sychothaapw' m' daPrm' Wicn, Ed. Deuu'ckc.
num centro de on'cntação. Era época de morangos c nós providcn~ 4. FRANKL, V1kt'or E. Thcory und Thcrapk dcr Ncurosm Mucnchcn, Ed.
ciamos uma grande quantidade de frutas maduras, das quaxs' apro- Rcm'hardt, UTB 457.
x1m'adamentc umscxto estava esüagada Quando as crianças vieram 5. FRANKL, V1kt'or E. Der Willc zum SIM Bern. Ed. Hubcr.
para a hora da terapia, nossa pedagoga tcrapêutica dividiu-as em 6. FRANKL, V1k'tor E.ch' Stnn'frage m' daPsychomcrapw'. Mucnchcn, Pipcr,
doxs' grupos, e também dividiu os morangos em duas metades. Um Lwro' n9 214. (Em portuguész FRANKL, V1kt'or EA quazab do sanido anpsüow
rapla'. Campm'as. Papirus, 1990.)
dos grupos de crianças recebcu a tarefa de selecionar todos os
7. FRANKL, Viktor E DasLelden' am snmlm LebaL Bd. Hcrder, hvm'
morangos bons, o outro grupo a de cscolher os Inorangos cstraga- n° 615.
dos. Depo¡s' as frutas foram colocadas fora da v1$'ão das crianças e
cada grupo, m'dcpendcntcmcntc um do outro, dcvcria cntão adivi-

69
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FRANKL Vlktor Víktor EPmcoterapmpma m pctrópoh.s,
387 portugués FRANKL
990.
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rolc playcd by a logothcrapm
Schuslen (Citaçáo: “Thc of thc world
pajntcL A paimcr tries to convcy to us a picturc
spcciahs't than that of a
it; an ophthalmolog¡.s't trics to enable us to sce thc world as it really ¡s'," _
as hc sces é maxs' propriamcnte aquelc dc um
“0 papcl dcscmpcnha do por um logoterapeuw
_
pintor. Um pmtor lcnta nos transmitír uma 1m'agcm
oftalmologm do que de um ao passo que o oftalmologüta capacítamos a vcr o
do mundo conformc elc o ve,
mundo como cle é.")
Mmsth:Anlhrapolaguc'he Gmndlagen
16. FRANKL V1k'tor E. Derle1dende'
daPsychothcrapk ch, Ekl HubeL
E. KoescL (Em
17, FRANKL, V1k'tor E. Der unbewusslc Gonl Mucnchcn,
iywmda de Deus. Pctrópohs'/Sáo uo-
portuguesz FRANKL, Vlkt'or E. A presença
poldo, VozeslSínodaL 1991.
18. Ibid (p. 87).
Opwn'mnus'. In:
19. FRANKL, Viktor E Argumente fucr em'm traglkchen
Smn'voll heilen Ed. Hcrder, hvro' nn 1156. (Em portuguesz Argumentos em favor de
Lcopoldq Vozcs/Sm'o-
um oamumo" migka Inz Darsenndo' à vzda' Petrópohsl' São
dal, 1990.)
20. FRANKL. V1k'tor E. ...uoadem Ja zum Lebcn sagm Dtv, n9 10023.
21. BUMKE, Muenchnermedtzznu"'che Wochmschn'ft, nov. 1931, p. 2003-2004.
22. HORANYI', Bcla, Rews'ta “Psychotheraple'", Ano 9.
23. LUKAS, Ehsa'beth. Von der Tze' en- eroehen hol '
n'1020.(Pane II, Cap. 9 c 1o.) f Póyc ogm m Herder'
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dos modelos cxplicativos psicossociológicos e da sensaçâo de dc-


samparo daí decorrcnte, procurando um modelo de pensamento de aqucles, portanto, quc “voluntariamcntc” sc lornam dcsemprcga-
outra espécic, quc não se contenta em documentar a grandc quan- dos e, cm casos cxtrcmos, lcvam uma segunda vida cm paíscs
tidade de causas de cns'e, mas quc procura atmglr" aquelas fontes de cnsolarados do suL com base cm scu auxílio-dcscmprcgo. O quc ls'to
força que podcm domm'ar as cns'cs. Nesta d1r'eça'o, a variedade de sigmñ'ca? Qucm se torna descmpregado por vonlade própria par-
possíve15° tcorias é hm1"tada e, em m1nh'a op1m"ão, só rcsta a logote- ccbe algum scntido na sua condição dc descmprcgado c, mcsmo que
rapla', que se colocou como objetivo não apenas colecionar “argu- cste scntído scja qucstionáveL constitui um motivo básico para a
mcntos cm favor de ot1nns"mo trágico"1, mas também revxs'ar e pcssoa cm questão accitar as dcsvantagcns do dcscmprcgo cm tmca
rcnovar a conccpção do homem na medicm'a e psicologia. dc um ganho pessoal que 1m'agm'a obtcr. E cstc contcúdo de scnúdo
de seu desemprego protege-o contra aflições psíquicas. Por outro
Hans Schaefer, doccnte na Universidade dc He¡'delberg, dcs- lado, aquele quc pcrde o emprego conlra sua vontadc corre o peng'o
creve em scu livreto Im Blickpunkt: der Mensch (“Em foco: o ho- de não ver um scntido nesta sua condição de dcsempregado e, em
mem”) que cx15'tc realmente uma relação entre a capacidade de consequ"ência, de adoeccr psíquicamentc pcla falta dc sentido dc
funcionamento da família e a concepção do homem scgundo a sua situação, mcsmo que rcccba do govemo o seu auxílio~dcscm-
medicm'a. Ele escrevez “O homem que arualmente abandonou a prego. Conforme d12' V1k°tor Frankl, o homem não vive apenas de
scgurançada famí11a,' a ñrmeza de uma ordem social, a ms'erção num scu scguro-dcsemprcgo.
s¡s'tema reh'gioso, ca1n'do como que num poço sem fundo, 1m'põe
novas tarefas para a medicm'a, p015' desenvolve novos males em seu Sc qms'crmos cncontrar uma receíta patcnte pará dumn"u1r' ou
até 1m'ped1r' as conseqüências críticas do dcscmprego 1m'erecido,
mundo tão mod1ñ'cado. A medicm'a não é mais ws'ta unicamente sob
bcm como as ms'cguranças pcssoais, o dcsamm^'o c a apatia, devcriam
o aspecto de uma autoridadc médica, nem mesmo sob aquele de ser
apenas uma ajuda para problemas orgam^'cos. A medicm'a tornou-se ser buscadas as possx'bd1"dadcs dc scntido ems°tcntes mesmo scm ter
um emprego - não seria, como nas pessoas que se csquivam do
ma1s' abrangente, e o apelo social a ela é mals' 1n'tt:nso.”2
trabalho,por causa do descmprego, mas no caso de pessoas desejo-
Aos novos males dc que fala Hans Schacfer ertcnce pr1n'ci- sas de trabalhar, apesar do dcsemprego - como, por exernplo, um
palmente o “sofnm'ento por uma vida scm senlido” , o qual, confor- cncargo honor1ñ'co ou uma tarefa voluntária no am'bito social. Neste
mc expus, afligiu gtandemcnte 0 homem moderno, tornando~o sentido, quero citar um cxemplo da mmh'a prática clfm'ca quc, ao
psíquica e ñsicamente docnte por reür'ar-lhe o fundamento de sua mcsmo temp0, nos conduz ao tcma “família”, p015' trata de um pai
emtência espln"tual. Quem sofre por causa dc uma vida que consi- de famíl1a' dcsemprcgado, que foi trazido ao meu scrviço dc acon-
dera sem sentido, também sofre por sentü sua vida proñssional sem selhamento pcla esposa que não podia ma1s' suportá-lo em casa.
sentido, sua vida fam111"ar sem sentido, etc. Com ls'to, realmente cai Constantementc quelxa'va-se de tédio e dcsan1m^'o, o quc compreen-
num poço sem fundo, ñcando afetado seu bem~cstar psíquioo, da sivelmente era depnm'ente para seus famüx"ares.
mcsma forma que sua capacidade de contato social ou a sua saúdc Quando estava sentado à Inmh'a frente, perguntei-lhc como
física, poxs' tudo cstá rclacionado numa só unidade e totah'dadc. avahan"a sua chance de receber uma resposta positiva para qualquer
Retletmdo sobre as maneu'as como as cns'espodem ser resol- pedído seu de solicitação de emprego. Riu e dlss'e 1r'onicamente:
vidas, sem nos dctermosmuíto em rcconstrmr' sua or1g'em, podcmos “Um quarto por cento de probablll"dade, não maxs'!” “ch”, d15'se-
part1r' de uma fórmula resumida que d12' 51m'plesmente: onde se vê lhe, “enta'o prec¡s'aria escrever e enviar 400 cartas de solicitação dc
um sentido, a vida é suportável; onde não se vê um sentido, a vida é cmprego para que tcnha sucesso com uma delas.” O homcm olhou-
ms'uportável; e ls'to ocorrc m'dependentemcnte das dcmaxs' c1r'cuns- me, surpreso, mas aparentementc meu cálculo estava certo. “400
tan^cias desta vida. Gostaria de dar um excmplo, dc ccrta forma Cartas dc solicitação de emprcgo...”, resmungou, “ls'to dá muito
cômico, para üustrar a nossa fórmula rcsumida. Li há algum tcmpo trabalho...” “Bem”, m°terrompi-o, “15'to não só dá muíto trabalho,
a conclusão a que chegaram os psicólogos orgamza'cionals' num como também scrá uma prova da sua persm°tc^ncxa,' rcsxs'tência c
sm'pós¡'o em chneflSicg sobrc as cns'es psíquicas ligadas ao de- capacidade dc enírcntar seu dcst1n'o. Além dns'so, o Sr. acabou dc se
semprego. Segundo eles, somente os preguiçosos e os quc quercm quelxar' amargamcnte dc seu tédio diário, c 400 cartas seriam um
sc esquivar do txabalho conseguem superar bem esta cns'e de vida,

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óum'o rcmédio contra ele!” Alguns mescs mals' tarde, recebi dele tamento na reahza'ção de scntído; porém, cnquanto náo mancjar-
um cartão poslaL dxze'ndo: “Eu cstava enganado, bastaram 93 ...” mos a agulha'" nesta du'eça'o, o trem da nossa c_x1$'tência não prosse-
Vcnñ'camos que foi suñcicnlc a idéía dc quc também a grandc guká viagem, poxs' os sm'axs' m'dicam “parc"1 Somcntc a pcrccpção
quantídade dc soh'citaçoe's cscritas m'ut11m'cnte teria um sentido, dc uma possib1h"dade dc sentido na cxmência para algo ou alguém
poxs,' no todo, aumentaria a oportunidadc dc ser bem~succdido, para solta os freios quc nos seguram e faz com que supcrcmos obstáculos
que pareciam 1m'cnsos, mas que encolhcm dianle da grandeza dc
levá-lo dc uma fase passivadc dcpressão para um cstágio ativo, ondc
logo foí capaz dc tcr dom1n1"o sobrc a situação. um objetivo am'da maior.'Até o obstáculo “passado" quc, scgundo
quasc todas as m'tcrprctaçõcs psicológicas do homcm, rcprcscnta
O lcitor podcria argumcntar quc, añnaL cste homem a1n'da uma barrexr'a m'transpom'vcl para o dcsenvolwm'cnlo pcssoaL perde
tmh'a pcrspectivas proñssiona15' rcals', embora fossem poucas. Mas sua un'portan^cia diantc de um prcsentc pleno dc scntida
o quc acontcccria sc alguém não tiver absolutamcnte ncnhuma
No meu trabalho de aconselhamcnto semprc vcnñ'qucí quc,
possibílidade'? Scrá quc ncstc caso am'da seria possível uma “busca
dc scnlido plcna dc sentído", uma esperança dc cncontrar e reahzar' scm exceção, as lcmbranças tr¡s'tcs da infan^cia, as vivências traumá-
um scntido ncsta siluaçã0? Em relação a 15'lo, gostaria de mencionar ticas e as hum1lh'ações sofridas surgem c sc transformam em fatorcs
brcvemcnle 0 quc uma vcz dlss'e a um pai dc família quc teve quc se de distúrbios psíquicos 1n'varíavclmente quando o presente é x'nsatu'-
fatório e 0 futuro vazi0. Ouando, além disso, tcnta-se “claborar"
aposenlar prccoccmente por m'validcz após uma grave cuur'gia e
passou a se sentü lotalmcnte m'úl¡l'. Ele tmh'a d015' ñlhos adoles- tcrapeuticamente estc passado que tcssurge, ou scja, radiografá-lo
ccntcs quc frcqücntavam a cscola scm muito succsso c passavam e dlss'ecá-lo, estc passado torna-sc cada vcz mans' sngmñ"cativo, 0
presente mals' ms'ans'fatório e o futuro ma15' vazio, constituindo um
lodo seu tcmpo livrc na rua. Rcfcnn'do-me a eles, dlss'c ao pai quc,
desenvolvm'ento pen'goso. Se, ao contrárío, conscgmmos passar ao
cmbr ra não tivcssc ma15' grandes p0551'b111"dades dc destacar-sc pro-
lado do passado mf'cllz' para m'vestigar o contcúdo dc sentido do
ñss1'onalmentc, cle tmh'a a cportunidade única de moslrar aos seus
prcscntc c m'vest1r' no futuro, as recordaçõcs amargas logo dimm'tu'-
ñlhos, através de sua própria vida, que o tempo livrc podena' ser
rão, ms'tmando-se com os aspcctos positivos do passado, que tam-
usado de mancu'a bastantc s¡'gmñ'cat1'va, c não apenas fumando, bém ems'tcm, para formar uma basc dc vida relatívamentc ncutra.
lcndo jornal c freqüentando barcs. Scu exemplo positivo nesta Lembro-me do contato com um jovem que rcalmentc provmh'a dc
situação talvez scria mals' ncccssário do que a sua capacidadc dc um relacionamento fammar tcrrívcl e cuja m'fan^cia fora uma úníca
trabalho, po¡s' as atitudes que dernonstrará na situação crítica de Lragédia. Seu pai brutal mñ¡"g1'a~lhc torturas e maus Ualos, mas
uma vida proñssional não mak exístentc poderiam uma d1a' ser piores a1n'da cram as cenas lns'téricas de sua mãe, quc reprcsentava
mn"tadas pclos seus ñlhos se estcs cntrasscnr numa cns'e, o que diante dele um esgotamento nervoso atrás do outro; posso fazer esta
nmgu'ém podcria prevcr. E então o ponto dccns'ivo não seria quanto añrmação, p015' conhcço os pa¡s' pcssoalmentc.
o paj ganhava, mas a coragem c rctídão com que suportava o
sofnm'ento c o que fez delc nas c1r'cunstan^cias dadas. Este jovem tevc um descnvolvmcnto muito bom, tendo em
v15'ta tudo que lhe acontecera; terminou seus estudos de segundo
Também cste pai comprcendcu bem mmhas' palavras e mon- grau, dep015' cumpriu scm problemas seu serviço substitutivo ao
tou uma espécie de serviço de pm'tura e estofamcnto para seus scrviço m1h"tar numa instituiçâo socíaL Um dia, porém, caiu numa
conhecidos, ofereccndo ajuda cm reformas e embelczamentos dc dcprcssão peng'osa após uma violenta d1$'cussão com sua namorada.
rcsidências contra pequenas recompensas. Para saüs'fação do pa1,' Ao mesmo tempo, estava atormentado pela m'ccrteza sobre o quc
um dos ñlhos acabou gostando de ajudar o pai e decídiu, após faria de sua vida após temúnar o serviço obrigatório dc compen-
termm'ar a escola, fazer um curso dc tapcccu'o. sação ao scrviço m111"tar. Ncsla cns'c surg1r'am, dc rcpcntc, mcdos
De acordo com a concepção logoterapêutica, não há situação intensos e scnsações de ódio contra si próprio, com rcaçocs' quasc
que não cncerre pelo menos uma possibmdadc de senlido e, sc for tão hls'téricas quanto sua mãc, ao cogitar da idéia dc suicídio.
possível percebê~la, poderá ocorrcr uma “revolução oopernícana”
no eslado da pcssoa, seja no am^bito cspm"tual/psíquico ou no físico. ' N.T. Ncszc scntido. s15'tema dc tnlh'os dc fcrro móvcns' para facilítar. nas
Scr humano começa com a busca de sentido e chcga ao seu complc- lmh'as férreas, a passagem dos trcns dc uma via para ourra.

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Venñ'camos que à ms'aüs'fação com o presente e à falta de sentido nr'cm que sua mf'an^cia é a culpada por todos os seus cnos prescntcs,
do futuro mcsclaram-se as sombras do passado. Desm'to, porém, de, o 1m'pulso para a auto-cducação é am'qu11'ado, poxs' é muito ma15'
a título dc cxplicação, fazê-lo recordar todas as atrocidades de seus cômodo atribuk toda e qualquer culpa aos pals,' ao m'vés de csfor-
pals,' as quals' não poderiam mesmo ser apagadas. Além do mals', çar-se para efetuar mudanças em si próprio. Assxm,' a psicologia
somente scmnam" para afetar o seu autoconceito, pois, como supos- profunda contribuiu, scm querer, para que os pans' fosscm conside-
ta vínm'a dc sua educação, o jovcm m"a se senth m'capaz dc lcvar rados bodcs cxpiatórios e para que as pcssoas ms'távels' encontras-
uma vida normal e saudách e esta “sensação” 1r1"a tomá-lo, de fato, sem desculpas para sua lab111"dade, o que não rcsultou em benefício
m'capaz de viver. Ao m'vés dls'so, pcrguntei-1hc se ele, mals' do que algwn
outras crianças, não desejava que seus pals' tívesscm um relacío- Quanto aos resultados absurdos que daí podem decorrer,
namento mclhor c tivcsscrn entendido o amor como um parceüo Ehs'abcth Hoet1-I-Iielscher escrcveu um arüg'o corajoso no jornal
estando presente para o outro, e não como um constante exercício Sueddeutsche Zeitung por ocasião do Día das Mãcs dc 1984, pelo
de domínio rccíproco. Imediatamentc ele conñrmou mmh'a pergun- qual lhc apresento mcus agradec1m'entos cspecuus".
ta. Rcstou mostrar~lhe quc, embora não fosse rcsponsávcl pclo que
seus pals' ñzcram, cra co-responsável 0 que, aqui e agora, acontecia Mamãe é a melhor... desculpa
cntrc cle c a namorada; a sua participação era dec1$'iva para que o Semprc, e especialmentc no mês de maio, añrma-sc que nossa
seu rclacionamento amoroso atual fossc mclhor c ma1$' harmonioso sociedade não dá atenção suñciente às ma'e's. Aquele, porém, que
que o de seus pals'. Dc alguma forma, o sofnm'cnto causado pela prestar atcnção ao que se d12' por aí, não vai concordar com lss'o.
família de repente adqmr'iu para ele um sentidoz poderia scmr'-lhe Sempre e onde quer que as pessoas falam de sua vida, acabam
como alerta c evitar que o 1m1"tasse. Ao mesmo tempo, compreendeu falando mals' cedo ou mals' tarde dc sua mãe. Acontece que o público
que ele não era apcnas um produto de sua mf'an^cia, mas também um a1n'da não reconheceu totalmente 0 sigmñcado deste fatol
produtor dc scu destln'o prcscnte c, como tal, dotado de respon- Por cxemplo, Helmut, um operário evcntual dc 22 anos, contaz
sab111"dade. Esta conscienüza'ção foí suñcicnte para debelar, de vez, “Na reah'dade, queria scr p11'oto. Porém, não gostava da escola. E,
qualquer m1"cio de um d1$'túrbio h1$'térico. além dls'so, o ambicnte de casa era ms'uportável. Mmh'a mãc só vívía
Foi m°tercssantc obscrvar, ncste caso, que o jovcm foi capaz para satls'fazer mmh'as necessidades; o dia todo fazia cons'as por m1m'
de quebrar os laços do scu passado mf'ellz,' 1m"ciand0 logo após seu - lavava roupa, 11m'pava a casa, cozmh'ava e assm por diante. De
serviço altcmativo uma formação como assm'tentc sociaL à qual se alguma forma, scmpre me scntia culpado por lss'o.” E acrcscentouz
dedicou m'te¡r'amente. Se me perguntassem hoje qual o prognóstico “Se ela tivesse sido d1f'erentc, certamente teria termmado meus
que ams'can'a quanto à sua carrelr'a, d1n"a que na sua proñssão estudos de scgundo grau c, hoje, estaria cm situação melhor."
futura dará o mclhor dc si, e ls'to justamente porquc o sofnm'ento “A estudante dc psicologia, Ilseb111', de 30 anos, há muito
dc sua mf'an^c1a' scns¡'b1hzo"u-o para o sofnm'ento de seus seme- tempo gostaria dc ter um relacionamento mals' estáveL Dlz' elaz “Mas
lhantes. todos os meus relacionamentos logo termm'am.” Também uma
Não devemos acreditar naquüo que a psicologia sempre tcnta viagcm ao Oregon junto a Baghwan nada mod1ñ'cou neste sentido.
nos m'culcar: que todos os evcntos ncgativos do nosso passado Há d01s' anos cstá se submetendo a uma anáhs'e. “E através desta
scmpre carrcgaremos conosco como fardo por toda vida. A carulh'a anáhs'e perccbi que por detrás da mmh'a dxñ'culdade com os homens
da realidade nos cnsm'a d1f'crcnlcmentc. Há muitas pessoas que cstá um conñito não-rcsolvido com a mmh'a mãe. No fundo tenho
tivcram uma mf'an^cia boa e protegida c que, assun' mesmo, fracas- um ódio 1m'cnso dela porquc semprc deu prefcrência a meu um'ã0
saram na vidae, ao contrário, tambémhá muitabondade c sabedoria mals' nov0.” Dcp015' que ñnalmentc Ilscbm dls'sc ls'to a sua mãc, cla
que se ongm"ou de experiências dolorosas. Naturalmentc, não po- cstá melhor. “Infehzm'ente mmh'a mãe parece não ter entendido
dcmos negar queos pnm'c1r'os anos de vida sejam sxgn'lñ'cativos, com bem o que lhe dls'sc. Há duas semanas cla chegou a tricotar um
conseqüências marcantes na adolescência, mas na idade adulta cada pulôvcr pelo anivcrsário dc 18 anos de meu 1rm'ão! Com 15'to, tivc
pcssoa traz dentro a si a força para prosseguü seu dcsenvolwm'ento, uma rccaída tão forte que fui obrigada a acabar o rclacionamento
através de uma auto~educaçao'. Se, porém, os cspcciahs'tas lhe suge- com meu namorado!”

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Durante tres^ meses, M1'chael, de 24 anos, uabalhou num responsabüdade própria quc dcveria embasar a vida futura. A
estúdio de propaganda, após tcr sc formado em dcsenho pub1ici- mf'anuh"dadc propriamentc dila é constítuída pela negação dc uma
tário. Há um ano atrás tcve que m'terrompcr repcntm'amente sua auto-cducação construtiva c pcla alribuiçáo forçada da rcspon-
carreu'a. “Mmh'a namorada tevc um bcbê”, contou. “No mí'cio, tudo sab1h"dade sobre outras pessoas.
dcu oerto. Enquanto a Gabi cstava na csoola, a mãc dcla cuídava do
Comcçamos o tema deste capítulo com a fórmula rcsumída dc
bcbê. Mas quando a Gabi concluiu seu curso técnico, sua mãc de
que a suportab111"dadc da vida humana cstá ligada à pcrccpção dc
rcpente qucria voltar ao banco para txabalhar c exigiu que a ñlha
scntido. Além dlss'o, tcntei mostrar quc uma lal “pcrccpção dc
ñcasse cm casa cuidando do bebê!” Ao lcmbrar-sc dls't0, a1n'da hoje
scntido" cstá acoplada ncm a condíçõcs externas favorávcis dc v1'da,
Michacl mostra sua m'dignação. “Mas nunca 1r'íamos fazer Ls'to. A
ncm a uma vida harmoniosa no passado, e quc até mcsmo d1ñ'cul-
Gabi praücamente acabara de ser admitida na faculdadc de peda-
dades como desemprego, ou evcntos mf'anus' mf'cluc"s, não 1m'pcdcm
gog1a' terapêuüca. Então nós decid1m'os que eu ma" cuidar da crian-
quc o scntido seja possívcl de scr vivido c expcnm'cntado em cada
ça.” O papel de dono de casa acabou agradando a MichaeL “Posso
momento. Como ls'to podena° ser aplicado à família, aqucla unidade
scr um pai companhcu'o para mcu ñlho c acompanhax seu dcscn-
mín1m'a composta de pessoas com idadcs e sexo d1f'eremcs, quc
volv1m'cnto em lodas as suas fascs.” O ralacionamento com a mãe
vivem numa prox1m1°'dade recíproca7 Seriam válidas as mesmas
de Gabi porém, a1n'da não se normahzo'u. “E1a s¡m'plesmente quer rchas?
nos pagar o mín1m'o possích somcnte o alugucl c a mcsada c basta!
E, añnaL foi ela que nos levou d1r'ctamente a esta dependência Três regras logotcrapêuticas básicas:
dela!" 1n rcgraz A suportablll"dade da vida está ligada à pcrcepção dc scn-
Estcs são os casos de Hclmut, Ilsebm e MichaeL Mas ccrta- tido.
mentc muitos leítores do jomal Sueddeutsche Zeitung conhecem 2° regraz A perccpção de sentido não está ligada a condiçoe's extcp
muitos excmplos scmclhantes dc sua própria expcriência quc mos- nas favorávc1s' da vida.
Lram o papcl 1m'portantc da mãe cm nossa socíedade!
3a rcgra: A pcrcepção dc scntido não está h'gada a uma vida hdr'mo-
niosa no passado.
Elisabelh Hoefi-Hielscher Às vezes chego a peusar que a qum'tcssênc1a' dc m1nh°a cxpc-
riência de doze anos com aconselhamcnto educacional c fam1h"ar é
sxm°plesmentc o reconhccmento de que, com refcrência à questão
do sentido, são válidas para toda a família cxatamente a5' mesmas
A psicología do desenvolvnm'cnto nos mostra quc durantc o regras que para cada um m'dividualmente. lnicíalmcnte 15°to
desenvolwm'ento há normalmentc duas fascs cm quc o jovem assu-
que também a famí11a' somentc é suportávcl quando oferccc um
mc uma postura muito crítica cm relação aos seus pals': a pnm'en"a certo contcúdo dc scntido para scus mcmbros. A scguu', contra-
ooorre no 1m"cio da puberdade quando desaparcce sua crença na
riando as opm1"ões geraxs', podemos añrmar que a felicidade da
mf'alib111"dadc c onls'ciência dos pa15' e cle dcscobre quc seus pa15', família é surprcendentemente 1n'dcpcndenlc da qualidade das con-
añnal, também são seres humanos com fraquezas humanas, e a diçõcs cxternas de vida. E, por ñm, a hns'tória que uma família tcm
scgunda vez man1f'esta-se no m1"cio da idade adulta, por volta dos - e toda família tem sua hls'tória fam1h"ar própn'a - não pode lotal-
v1n'te anos, quando, ao buscar sua própria identidade, dcscobrc que mentc predctermmar' o desenvolwm'ento futuro de uma família.
elc mcsmo também tcm suas fraquezas. Especialmcnte na segunda Também na família há algo como a auto-educação e a rcspon-
fase dc decepção por sua própria 1m'perfcição, que gradativamente sab111"dade própria, capazcs de dcsañar divcrsas mñ'uênci.15' negatí-
se ms'tala após o período dc 1m'petuosidade da adolescência c vas. Abordaremos a scguu' as três rcgras logolcrapêuticas básicas.
devcria dcsembocar numa auto-educaçã0 construtiva, há uma forte \ Em pnm'eu'o lugar, temos asuportabilidade da família, quc u"á
tcndência para atñbuk culpas aos pals', aos sm'temas poh'ticos, ctc.
Sc houver teses adicionais de uma psicologia profunda mal com- decidu' sobrc a sua coesão futura. Não precxs'o dns'culu" como atual-
precndida que batem na mcsma tecla, fac11m'entc é esquecida a mcnte cstá, cm média, esta coesão. Além dos elcvados índices dc

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divórcio, também é grande o número de idosos que são cxcluídos
perfodo apcnas, mas novamcnte cla não quxs' ouv1r'. Mcio ano ma¡s'
da famíha' c de jovcns quc abandonam prccocementc o lar paterno;
tardc, o pai vcio ao centro de aconsclhamemo porque cstava preo-
sc qms'crmos, poderíamos a1n'da acresccntar o considcrávcl númcro
cupado com o cstado dc saúdc dc sua csposa. Ela ñcava muito
de abortos rcalxza'dos. De maneu'a geraL não apenas a família
nervosa e 1rr1"tada c chorava por qualquer bagalela a ponto dc clc
cxtcnsa, mas também a nuclear, cstá sc dcsm'tcgrando. Se atualmcn-
não sabcr mms' o quc fazer. Aconsclhei uma csladia numa cstação
te a vida fam111"ar tornou›sc ms'uportável para tantas pessoas, 15°to
balneária e nossa médica tomou as providências para o encamio
sxgnlñ"ca quc para elas perdcu o scu sentido; e este sentido perdído
nham'ento, enquanto eu arrumei uma pessoa que cuídasse da família
deve ter afetado algo em comum, algo que justamente teria evitado
durantc a ausência da mãc. Porém, por mclhorcs quc tivessem sido
a scparação. Creio tratar-se de uma dun'cnsão de necessidades
nossas m'tenções, deu tudo errado. Durante scu tratamcnto no
recpIrocas, em quc cada um precxs'a do outro e cada um é neccssário
balncán'o, ajovem mulher conheceu um homcm c precipitadmcntc
para o outIo.
abandonou a família. 0 pai não encontrou outra saída a não ser
Nós, homens modernos, conqu15'tamos uma ccrta consciêncía colocar scus d015' ñlhos numa ms'tituição, v1$'itando-os a cada duas
de nosso próprio valor, ou auto-est1ma,' da qual nos orgulhamos; não scmanas. Neste meio tempo também foi concluído o divórcio. Não
mms' gostamos de obcdccer ordens do govcmo, da 1gr'cja, do pto- mms' vi a jovem mulher, mas por acaso cncontrci há algum tcmpo
fessor na escola ou do chcfe na empresa. Nós nos emancipamos, uma conhecida dcla que me contou o segum'te: o relacionamcnto
conhccemos nossos d1r'citos e pretcnsõcs c sabcmos como reiv1n'- dcla com o namorado do balncário teve pouca duração; dcpons' desta
dicá-los. Nm'guém mans' prcc1$'a repnmxr" suas ncccssidades, o mcr- scparação ela começou a bcber por causa de sua solidã0, perdendo
cado cconômíco nos fomeoe bcns dc consumo dc toda cspécie, a ass1m' scu cmprego; agora estava morando num quarto sublocado c
justiça nos garante a igualdade de d1r'citos, a redc social nos protegc vivcndo do auxílio da assm'te^ncia social.
e cada um de nós é livre para se auto-rcahzar'. E com tanto progresso Este drama tocou fundo a m1m' e a meus colaboradorcs e nós
e todas estas vantagens, ondc eslá a felicidadc que deveria ter
nos quesüonamos se, de alguma forma, poderíamos tê-lo evitado.
tomado conta de nossos coraçõcs? Por ñm chegamos à conclusão de que 0 motivo ma15' profundo da
Há quatro anos, umajovem mãe c scu marído mc procuraram desm'tegração da família não foí a atividade profissional retomada
no centro de aconselhamento porque não conseguiam chegar a um pela mulher, nem sua estadia no balneário, mas a atitude m'terior da
acordo sobrc sc a mulher dcveria ou não rcassum1r' sua atividade mãe que não se on'entou pelo sentido da situação, mas pelo “eu” e
proñssional como assm'tentc odontológica. Na época, os ñlhos esta- scus desejos momentan^cos. Os homens modernos, acostumados a
vam, respectivamente, com 2 c 3 anos, c o pai queria que a mulhcr satxs'fazcrcm seus desejos c fazerem valer suas cxigências à vida,
ñcasse em casapara cuidar das crianças, enquanto que ajovem mãe esqucccm-se fac11m'cnte de seus scmclhantes c do laço que os hg'a a
queria trabalhar. Para ela, ñcar em casa era monótono demais; cla clcs, ao neccssitá-los e scr ncccssitado por eles. Da auto~esum'a
achava que durantc 0 dia seus ñlhos podcríam ñcar num jard1m' dc exagerada passam para a auto-reahza'ção c acabam num amor-pró-
mf'an^cia. Aconselhei-a dc que seria melhor se esperassc pelo mcnos pn'otambém exagcrado; e dc tanta auto-observação pcrdem dev15'ta
mals' um ano até recomcçar scu trabalho, e dci-1hc sugestõcs de a consideração pelo próxun'o c o sentido nela encerrada. A exage-
como podcria valonzar' um pouco ma¡s' também a sua vida como rada auto-estm1°a lhes dlz' quc não devcriam prec15'ar de nmgu'é.m
dona-de-casa; ela, porém, decidiu-se pelo contrário e recomeçou a para não se tomarcm dependentes, o que constitui o objcüvo mals'
trabalhar. Dcp015' de novc mcses, ela estava de volta ao centro dc elevado dc qualquer emancipação; c o exagerado amor-própn'o
aconselhamento por causa de d1ñ'culdades com os ñlhos, que à complementaa tese nosentidodc quenão se entende por quc outras
noite, quando cla voltava cansada do trabalho, quenam' brm'car, não pessoas poderiam prccxs'ar dc nós, já quc nós não precm'amos de
lhe obedeciam, não queriam u'para a cama e estavam acabando com nm'guém. No ñnal tcmos a solidão c o vazio, o chamado vazio
seus nervos. Tcntci exph'car-lhe que, já que as cnan'ças ñcavam 0 día ens'tcncia1. Uma pcssoa quc não prcms'a de mn'guém, e também
todo scm a mãe, prec15'avam pelo menos à noite de toda sua dedica- mn'guém precns'a dcla, é m'capaz de uma convivência fam111"ar, talvez
ção e atenção, as quals' elas estavam tentando obtcr por todos os até m'capaz de viver.
meios. Novamcnte sugeri que a mãe trabalhasse ao menos meio

82 83.
Precisamos, portanto, um pouco nossa auto~cst1m°a muito tempo, contrapondo-lhe um modelo mals' próxun'o da rcali-
excessiva e reconhecer que os homensnecessitam-se rcciprocamen- dade, segundo o qual não é o bem-estar cxtcrior quc acarreta
te e depcndcm um do outro. Com a conscíência tranqml"'a podemos automaúcamcntc a satxs'fação m'tcrior. O crilérío dccísivo para a
acrescentar quc este reconhccm'ento constitui também uma das saüs'fação m'terior do homem é a sua atitude imeriorperante condi-
possíbüdades de sentido ma15' belas c mals' básicas da ems'tência ções waemas, scjam clas positim ou ncgalivas. Examm'cmos csta
humana. No amor para um “tu”, o eu pode desenvolver-sc de añrmação através dc um exemplo da práu'ca.
mancu'a muito ma15' genuína e natural do que na busca forçada de
Um casal procurou nosso ccntro dc aconsclhamcnto com uma
uma auto~reahza'ção 11'usória.
qucstão mals' propriamcntc da medicm'a: queriam sabcr qual seria
Se a jovcm mulher ac1m'a mencionada tivesse v15'to o sentído o ns'co dc um ñlho de ambos hcrdar a cegucu'a congênita do marído,
de sua situação presente como ela sendo necessária para o dia-a-dia e até que ponto pudessem assumü a responsabmdadc por esle ns'co.
dc scus filhos desamparados e dc scu parccüo dcdicado, mas tam- Enquamo nossa médica providencíou mf°ormações junto a especna'-
bém como cla tcndo necessidade da farnília como um local dc hs'tas na áxea e transmitiu scus parccercs ao casal, tivc alguns
scgurança e rcfúgio, não lhc teria acontecido todo essc tcrrívcl contatos com ambos para m'vestjgar como eles enfrentavam a ce-
sofnm'ento que acabou desm'tegrando toda sua famílía. É bem gueka do marido. Tive então uma surpresa atrás da outra, poxs'
provávcl que, dc vez cm quando, ela tcda sentido falta dc uma raramente presenciei um relacíonamento tão bom entre um casal.
auto-reahza'ção no trabalho ou de pequenas aventuras, mas o com- Fiquei cspccialmente comovida quando os dois mc contaram como
teúdo de sentido de sua vida e trabalho, ligado ao bem-estaI de sua passaram juntos as noítcs. Facúm'cnte poderiam tcr surgído d15'cór-
famí1ia, teria tornado esta família pelo menos suportável para cla e dias c brigas por causa do lazcr cm comum, pois ao homcm ccgo
talvcz teria lhc dado até um pouco de feücidadc adicional. estavam vedadas atividadcs como ver TV, fmr artcsanato, dançar,
Quando na logoterapia falamos da suportabll1"dade daquüo ctc. Os dons', porém, transformaram esta dJñ'culdade numa v1r'tude,
que resulta num contexto de sentido, estamos nos refermdo à base ao cncontrar uma atívidade capaz de trazer prazer a ambos: a esposa
mals' restrita dc nossa existência, praticamente o argumcnto para a lia as últlm'as notícias ou capítulos de livros em voz alta para o
sm'ples sobrevivência. Além dls'so, nosso onm1"smo faz-nos acredítar marido, apreciando, ao mesmo tempo, a pronmx"dade fls'ica e união
que uma vivência de sentido acarreta um ganho espm"tual m'compa- com clc, que, muitas vezes, colocava afetuosamente a cabeça em seu
ravclmcntc superior do que sxm'plesmentc a suportab111"dade da colo enquanto ouvia suas palavras. Ele, por sua vcz, gostava destas
ems'têncía; cste ganho espüitual seria a reahza'ção últ1m'a c ma15' horas à noite porque sua esposa lhe abria as portas para o mundo,
elevada da nossa ens'tência na scnsação de felicidade de não ter conforme ele dm"a, fazcndo com que a claridade o m'undassc. Para
vivido cm vã0. ambos, estas horas eram un'perdíveis; elcs estavam saüs'feitos com
scu dcsun'o, apcsar dc a ccgucu'a do marid0, por outro lado, cons-
Assun' chegamos à segunda regra que d12° quc a felicidadc da titmr' certamente um problema. Se, ao contrário, obscrvarmos mui-
família é surprecndentemente independente da qualidade de condi- tos casals' de possc de uma saúdc perfeíta e quc usam suas noítes
çoe's ertemas. para se atormentarcm reciprocamente com brigas absurdas, pode-
Anteriormente questíonamos ondc está a sat15'fação que de- mos entender o que V1k°tor Frankl quer d12'er com a ênfase nos
veríamos sentü com toda a “libertação” e todo o bem-estar material chamados valores de atitude; para ele, há valores que somente
das úlnm'as décadas; ao fazcr cste questionamento, porém, scgui- podcm ser reahza'dos numa d1m'ensão “mais elevada" do que a nível
mos 0 erro dc raciocm1"o comum na psicologia dc quc condições das necessidades e suas saüs'fações. Scriam exemplos a atitude
externas positivas deveriam tcr uma repercussão m'tcrna também corajosa diante de condíçõcs cxtemas ncgalivas que não podem ser
positiva e vicc~versa, de acordo com o modeloz quem está bem de mod1fí'cadas, conforme a teve estc homem diante de sua hnu"tação;
vída, deve estar saüs'feito. Neste mcio tempo, porém, aprendemos ou a também atitude excmplar diantc dc condíções externas positi-
através de uma lição amarga que ls'to não aconteccu, po¡s' procura- vas que são colocadas a serviço dc uma tarcfa que tcnha sentído,
mos em vão a sans'fação em nossa geração acostumada à fartura. A conforme a demonstrou esta mulher que usou sua v15'ão m'tacta para
logoterapia reconheccu estc erro dc rac1'ocm1"o da psicología há ler em voz alta c dar alegria a outra pessoa. Estes são valorcs que

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não podem scr avaliados com os param^ctros usums' de uma satlsf'a- com'cidu"em com uma atitudc m'teríor posítiva c oricntada pclo
ção de 1m'pulsos; são pontos altos do espm"to humano. scntido.
Os valores de atitudc semprc têm algo a vcr com a d15'posição Por ñm, exam1n'emos a terccüa rcgra, scmclhantc à scgunda,
para fazcr um acordo, ou scja, a d15'posição para encontrar um que, porém, será d15'cutida separadamentc porque cspalhou-sc an-
eqmlíb'rio cntre uma renúncia pessoal e um ganho pessoal a favor tre o público leigo a idéia ñxa de que o passado'de cada um, e
de um valor ma15' clevado, que está além de qualquer rcnúncia ou também o da famí1ia, scria o clemento prcponderante na prcdcter-
ganho. Por lss'o, um acordo pleno dc sentido é mals' do que “mei0 a m1n'ação de estruturas presentes e futuras. Atualmente, quase todo
meio” ao procurarmos ag1r' por nossa própria vontade, p015° é snn'ul- aconsclhamento c psicoterapia compõem-se, cm grandc partc, do
taneamcnte a m°tervcnção de uma vontade superior, que busca um esclarec1m°cnto e reconstrução de cvcntos passados, a pamr' dos
objctivo maior ac¡m'a dos 1n'tcresses próprios. qua15' se tüam conclusões váh'das para o presente. Esta abordagcm
não seria tão crrada se cla fosse relacíonada com as possibúx"dadcs
Por cxemplo, se d01s' membros de uma família, um dos qua15'
do futuro. Frcqu"cntemente, porém, ocorre exalamentc o contrário,
qucr dar um passeio e o outro quer ñcar em casa, chegam a um ou scja, as possíbxh"dades do futuro são solcrradas porque se lem a
acordo para dar pelo menos uma pcquena volta jun'tos, cada um 1m'pressã0 de que o futuro, baseado nos cventos do passado, não
então aJcançou algo c ccdcu um pouco, ou scja, cada um tevc uma apresenta mals' possiblll"dadcs de esoolha, que, p'or assun' d12'er, tudo
meia~perdae um meío-ganho. No conjunto, porém, amboslucraram já cstá feito. Esta, porém, é uma conclusão ams'cada c catastróüc3,
como acordo, po1s' não se separaram, nem brigaxam, e cncontraxam que m1"be qualquer esforço para melhorar a situação presentc.
uma atividade em conjunto que ambos puderam aceitar, apcsar de
tercm tido desejos d1f'erentcs. A vontade de estarem juntos e de Por acaso, um dia prescnciei um epls'ódio cm que uma profes-
condescenderem estava num nível superior à vontade m'dividual de sora com formação em psicologia cxplicou detalhadamenle para
passear ou ñcar em casa, c diantc desta vontade ambos venceram, uma mãc adotiva dc que o mcnm'o que ela adotara aos quatro anos
passando a domm'ar, no balanço destc acordo, o ganho sobre a apresentava dls'túrbios psicológicos por causa dc freqüentcs mudan-
perda. ças quanto às pessoas que dele cm'davam no 1n1"cio dc suavida, e que
provavelmentc não tcria um desenvolvmento normaL A profcssora
Algo semelhante acontece na poh'tica mundial quando, por expücou am'da que clc m"a aprescntar as maiores d1ñ'culdadcs já na
exemplo, um acordo sobre a questão do desarmamcnto pressuporia escola por causa de seu atraso no desenvolwm'ento e que a mãe,
que ambas as grandes potências cedessem, 0 quc seria ao mesmo quando o mcnm°o tivcr uns 14 anos, provavelmcntc 1r'ia sc arrepen-
tempo um documcnto de uma vontade supcrior para a paz, que dcr amargamente de sua dccns'ão de tê-lo adotado, p015' na puber-
traria um ganho substancialmente maior para ambos oslados do que dade seus dls'túrbios 1r'iam se mamf'cstar mals' m'tcnsamcnte no scu
a perda de poder c prestígio causada pelo fato de cedeL comportamento sociaL Quando a mãe adotiva, após a conversa com
Na logoterapia identücamos esta vontade superior para o a professora, pegou o menm'o afetuosamente pela mão e de1x'ou a
bcm~estar comum, para a paz, etc., como a “vontade dc scntido”. sala com lágnm'as nos olhos, não consegui mc scgurar e, apesar dc
Trata-sc daquela vontade no homcm que cstá ac1m'a dc scus dcsejos ter sido apenas uma ouvm'te acidenlal do CdS'O, corri atrás da mãe
pcssoals,' sendo capaz de fazer acordos com eles c até renúncias para lhe dnze'r que a ciência não está absolutamente capacitada para
pessoais, as quals', porém, nunca ultrapassam um grau suportách fazer um lal prognóstico a longo prazo e que cla, a mãe, não devería
justamente porque podem ser aceitas dentro de um contexto de ñcar temerosa, po¡s' as crianças são mw'to mais ücxívek c adaptávek
sentída do que os adultos geralmente pcnsam, e que num ambiente bom elas
podcm muito bem dcsabrochar e se desenvolvcr bcm, apesar de
Para a família, ls'to sigmñ'ca que, com todas as c1r'cunstan^cias anteriormentc não tcrcm tido uma educação idcaL
externas, por mans' opressivas e d1fí'cels' que possam ser, é possí_vel
eslabelecer-se comprom15'sos se a atitude dos membros da família Logícamentc cms'tem danos ocorridos no passado que podem
se on'entar por um scntido ac1m'a destas cücunstan^cias. Por outro ter cfeitos posteriormente, tanto no am^bito físico, quanlo no psíqui~

~w
co; porém, não podemos assunnr° diantc dclcs a atitudc fatalls'üca

. ,-A
lado, de nada adiantam as melhores condições externas se não
de que nenhum esforço presente terá sentido, poxs' nada mais poderá

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ser rcparado. Sempre há algo a remediar, até o últ1m'o momento de Hojc as pcssoas lêm a tcndência a dar 1m'portan“cía cxccssiva
nossa vida, sempre tem senüdo esforçar-se por uma reparação, scja aos cvcntos do passado, compadccendo-sc cxauslivamcntc dc si
para supcrar danos do passado, seja para expxar' uma culpa, seja mcsmas c atribumdo todo seu mal-estar prcscntc à cducação c às
para superar uma grande pcrda, seja paraprccnchcr relroativamen- mtl'uênc1as' amb1'cntals' dc scu passad0. Ass¡m', a compcnsação tcra-
re com scnüdo uma vida dcsperdiçada. Enquanto a pcssoa puder pêutica hoje dcvcria scr encorajar as pessoas a assumu'em sua
pensar, cnquanto tivcr forças espm"tuaxs', enquanto souber o quc é responsabüdadc própria e mostrar-lhes que são suas açõcs aqui e
ccrlo, a rcparação é possích c não apcnas possíveL mas necessáña agora que u'a'o dctermmm o fuluro, e não as lágnm'as choradas dc
e plena de scnlíd0. Também este é um dos argumentos do nosso ontem A reprcssão e a hiper-reflcxão constiluem os do¡s' exlremos
onmmm"o logotcrapêutico. Porém, não devemos pcnsar, por xss'o, de um mesmo contínuo, entre os quals' se locahza' a rcconcmação
quc o passado dc uma pcssoa seja neghg'cnciado pcla logotcrapia; salutar com scu passado. Somcnte a partü desta reconcxh"ação, o
a hxs'tória do passado tem scu lugar na vida humana; a d1f'crença na homem se toma livre para uma ems'tência d1gn'amentc humana.
abordagem logoterapêutica, porém, é que ela não lem um poder
exclusivo sobre a vida humanaf Refenn'do-nos à vida fath"ar, podcmos añrmar o scgumtcz
embora seja 1m'portante percebcr e accilar o fato dc que um ncccs-
Infelmcnte cslc modelo cxplicativo ligado ao passado d1ftm'- sita do outro, c que é prec15'o faur acordos um com o outro e com
diu-se muito na população em função da m'tensa divulgação da ' as condiçõcs ems'tentcs quc não podcm scr_ modlñ'cadas, é 1gu'al-
psicolog1'a. Muitas vezes as pcssoas que buscam orientaça'o, grotes- mente un'portante delxar' em paz o passado, até um certo grau, c
camenle, logo na pnm'enr'a entrews'ta, antcs dc mencionarem com csforçar-sc para dian'amcntc cstar dxs'posto para um novo comcço.
uma única palavra quaxs' os scus problcmas atuals,' comcçam a falar Quem constantcmentc ñcar rcvüando o passado, o quc normalmen-
dc sua mf'an^cia. Parece que esperam que, diante do psicólogo, tc acontcce durante as recrnmm"ações recíprocas, gradaüvamente
dcvem comcçar no ponto 1m"cíal, dc preferência rclatando as suas acaba dcstrumdo a família por não ma1s' delxar' opções para seu
sensações no venüe materno, para que clc lhes m°terprete, a partü futuro. Quem, no enlanto, for capaz dc dar algo por lermm'ado,
dc suas recordações, os seus fracassos do prcscnte. Nunca entro colocando um ponto ñnaL também scrá capu de abnr' novas portas.
neste jogo, mas cn'j0 quc 1n1"cialmcntc sc faça um m'ventário do A cstc respeito gostaria dc mencionar uma sessão dc aconse-
presente, um levantamento da situação, esboçando-se grosselr'a- lhamento que tive com um casal que, no começo de seu casamento,
mcnte as correçõcs 1m'agm'ávc15' e os objctivos para o futuro, o quc morava com os sogros da mulhcr, ocasionando gravcs contlítos.
daria sentido ao empenho reahza'do no presente. Depo¡s', a partu' Mals' tardc cles construíram sua própria casa e mudaram-sc para lá.
de um certo dls'tanciamento, podcm ser observados os evcntuak Durante a d1fí'c¡l' construção da casa,' o casal manteve-se muito
obsláculos para tals' objetivos, podendo cntão, naturalmente, ser unido, mas quando estava pronla e elcs podcriam fruü dc seu
abordados também eventos passados, mas do ponto de v1$'ta dc qucrido 1ar, comcçaram as acusaçõcs e recnm1n"ações recíprocag
como se poderia lídar melhor com eles, c não como sendo eles um que sempre acabavam Lrazendo à tona as vclhas dls'cussões com os
grave empccdh'o para vivcr. sogros. No ñnaL a mulher achava que o marido só havia sc aprovei-
Não quero ncgar que houvc uma época em que as pessoas tado do d1nh'elr'o quc cla ganhava com scu trabalho, c o marido
tendiam a “engohr”' scusproblemas, anão falar sobrc suas expen'ên- vocüerava quc devcna' tcr dado ouvidos aos scus paJs' c nunca ter
cias de sofr1m'ento, a repnm1"-los, enñm. Nessas c1r°cunstan^cias, casado. Também este exemplo mostra a pouca corrclação ems'tente
cntão, cst1m'ular os pacientes a falar dc suas afliçõcs, para tomá-las entrc as condições dc vida extcruas, como por cxemplo a posse de
ma15' compreensívels' e mals' claxas, constinúa uma compensação uma casa, c a sans'fação m'terior.
terapêutica adcquada. Os tempos, porém, mudaram Com a cres- De qualquer maneu'a, no caso ac1m'a, parecia quc o problema
cente auto-est1m'a das pessoas c os esclarccm'cntos psicológicos, a todo do casal era scu passado não-resolvido; csta, porém, é uma
repressão dos problemas transformou~se no contrário, na chamada hipótese enganosa, poxs', como já mcncionekãs sombras do passado
hpier-ref1exao' dos problcmas, da mcsma forma que a educação sc mñl'tram num prcscnte desprovikdío dc sentido; sc a luz do sol não
autorítária transformou-se numa educação antiautoritária. pcnetrar, a escuridão toma conta. Meu objetivo não cra trazer as
sombras à consciêncm,' mas novamcnte de1xar' bnlh'ar o sol, e para

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Validade para a famíliw
ls'to cra prec15'o que o relacíonamento mútuo de ambos fosse preen-
A felicidade da família é m'dcpendcmc dc condiçõcs
chido com senúdo. Invesligamos conjuntamentc se havia algo quc
externas de vida. Somcntc a orienlação pelo scnlido da
tanto o marido quanto a csposa gostañam dc fazer em companhia
atirudc m'lerior, dianle dc condiçócs dc vida cxtcmas,
um do outro. Revclaram que, há muitos anos, logo após seu casa-
decide sobrc a saüs'fação na famflia.
mcnto, eles haviam planejado uma viagem ao Canadá para vxs'itar
uma amiga de cscola da esposa. Logicamente não tmh'am d1nh'cu'o 3° regraz A pcrccpção dc seutido não está hg'ada a uma vida harmo-
suñcíentc na época, dcp015' m'veslu'am tudo na construção da casa e m'osa no passado.
agora ambos cstavam ms'eguros quanto aos scus conhccnm'cntos dc Validadepara afamflia:
mgl'ês, há m1út0 csquecidos, para fazcr uma v1ag'em tão dls'tante. A cvolução de uma família não é predctcrmm'ada pcla
F1z'-lhes, então, a scgum'te sugcstãoz sua hls'tória. Somente as ações preasntes dos membros da
1. Inscrever-sc conjuntamcnte para um curso de m'glês numa cscola família, orientadas pelo sentido, decidcm sobre o futuro
dc línguas. da famílm'.

2. Prov1'dcnc1ar' prospectos c matenal' mf'ormativo sobrc 0 Canadá Toda a família, em qualqucr momento, lem uma profusão de
c, juntos, cstudar este material à noite. possib111"dadcs de sentido das quals' os seus mcmbros prccm'am sc
consciennzar'. Nos últun'os anos, a scxualidadc na família foi valori-
3. Combm'ar entre si que, cada vcz que um dos d01$' começasse a falar zada cxccssivamcntq também como rcação oontra a época em quc
sobrc os lempos mf'clwc's na casa dos sogros, o outro dcvcna', em a sexualídadc era tabu. A sexualidade é um componcnle 1m'portante
süêncio, buscar um mapa do Canadá e colocá-lo em frentc do do casamento, mas não é mndição nem necessária, nem suñcicnlc;
parcclr'o, passando a mensagemz Pense no futuro e não no passa~ é sun'plesmente a expressão dc um rclacionamcnto amoroso. A
do! oricntação pelo sentido, porém, é realmenle uma condição neccs-
O casal concordou e um ano dcp01$' concrenzo'u sua viagem sária e suñciente para uma vida fam1h"ar fclh pois ela envolvc c clcva
além-mar. Vicram mc ver uma vcz mals' para mc mostrar as fotogra- o relacionamento amoroso e 0 transforma em algo mals' do quc sexo.
ñas que o marido hab11m'entc havia m'ado. Enquanto espalharam Não podcmos expressar 0 que não cxts'tc, ou scja, scxualidadc
umas cem fotograñas sobre mmh°a mcsa e relataram os pontos sem amor nada sign¡ñ'ca. Um verdadeu'o relacionamcnto amoroso,
prm°cipals' das várías etapas de sua viagcm, a esposa dls°sc algo que porém, pode sc cxprcssar através dc centcnm dc mancüas d1f'crcn-
me fcz somr' por dentro; ela mencionou dc passagem que também tcs, não precxs'a necessariamcnte dc uma potência cm pleno funcio-
scus sogros ñcaram entusiasmados quando v1r'am as fotos. Evitei namcnto.
tocar neste assunto, mas ñqueí contente de ver que aparentemcnte
Os cncantos dos sentidos
as velhas hostlh"dadcs na família haviam d1mm"uído um pouco. morrcm com sua saüs'fação.
' Rcsumm'do, podemos ampliar e complementar as rcgras lo- Esta não é uma nova sabedoria psicológica. Foi dila por
goterapêulicas básicas para a família da segmn'tc mancüaz Friedrich von Sch111'er. Por outro lado, é válido dxze'r:
1a regraz A suportablll"dade da vida está ligada à percepção de As possib1h"dades de um senüdo

-
sentid0. vivem através de sua reahza'ção.

›-
VaItdade' para afamília:
A pcrcepção dc sentido na família é constituída pelo / Quem dmz' ls'to é a logoterapia. Toda possiblll"dade de scmido
reconhec¡m'ento dc quc cada um prccm'a do outro c quc tem um carátcr dc “uma vez por todas”, p015', sc for concrcuza'da, 0

4-,._›.»
cada um é neccssário para o outro. Sem estc reconhc- scrá para scmpre, e sc delxar' de ser concrcuza'da, o será também
c1m'ento, a família torna-se dcsprovida dc scntido e, con- para scmprc.4 Por exemplo, a jovcm mãc de quem f41'ei ao abando~
scqu"cntemcnte, ms'uportávcl. nar sua famíha' também perdeu apossibmdade de sentido de cduw

-
scus d01s' ñlhos. Talvez um dia tcrá outros ñlhos que possa educar,

«
2Fregraz A percepção de sentido não está ligada a condições masesta possibnh"dadc de scntidodesapareceu para ela, que tcráque
extcrnas favorávels' da vida.
/

.. _ .-.«-M-
91
Pf
to de sua vida. Por oulro lado, o casal quc
suponar ISS'0 PMa ° orcs ' ta ao Canadá como
^coggun
' ' reu a v1ag_em
' '
a1110'
mcnc10n_°¡ 111"podradúledenm scntjdo de sua emstencm presente. Me5mo que
umaposmb areçam d1f'ercnças e mesmo_q_u_c o casamentç deles
futuramcnibcap ambos reahzax'am esta posmb_1hdade de sc_nudo e a
Vclonha aamnacaosarêu bela e umñcadora
car passado como uma_ experiênaa 2.
o ñm dc suas vxdas.
qucoc assm' o será até
ñnam ' de fazcr a scgum'te añrmação referente ...aceitar filhos com problemas, apesar de
cns'e”: não há f_amília que não tud0*
blParaática atual,gdoaStf“anamí1iaa cm
positivas, por_ém, cntando Her-
à pm e'm da suas poss1'b111"dadcs
se reahzc', é prcmso .scmpre tcntar
possuaHessamc ara quc o possívcl
Ou, formulado logoterapcutlcam6nte, pa-
nomvamanncnle o,¡mp'possívcl. que J
se'a absorvido por
cle próprlo,' é prcmso
'
ra que o “cu” sc torne
um utu"l

Um dos “Dez Mandamentos” Lrata do relacionwcnto cnuc


ípm c ñlhos. Para aqueles leitorcs quc perdcram a fammaridade
com este mandamento, gostaria de citá-lo a scguirz “Honra lcu pai

. ~. _. _
e tua mãe para que teus dias se prolonguem c pa.r'a que vivas bcm
sobrc a terra”.* * Absolutamentc não vou mc cmbrcnhar numa árca
que não mc compctc, a da rehg1"ão. Considero cstc mandam'enlo, ou
csta sabcdoria antiqms"'s¡m'a, somcnte do ponto dc visla psicológico;
aliás, admu'o-me dc quc a psicologia gerd não o tenha am°da feit0.
De fato, estc mandamento contém a declaração dc uma notávcl
corrclação cnlre doxs' fatos quc, aparcnlcmcnlc, nada lêm cm co-
mum. AfmaL a quamidadc de respeilo c aprcciação que alguém tem
pelos pals' e a qualidade posterior de sua própria vida, ou até a
duração de sua própria vida, são cons'as lotalmcntc d1f'erentes quc
racionalmcnte não podem tão facxlm'ente ser relacionadas.“*
Não podemos, porém, negar ofato de quc avaloração dos pzns'
nunca foi tão ba1xa' como nesta segunda mctadc do nosso século cm
quc a cultura ocidcntal praticamente abandonou o conccito de
-

' N.T. Alusão ao tftulo dc um lwro' dc Frankl, “..170tzdem Ja zwn chm


~ -

Sagen" (“... sz'cr sim à vida, ou accílar a vídaI apcsar dc tudo”).


“ N.T. “... e para quc vwas' bcm": traduzido litcralmcntc do alcmao “...und
cs dü wohlergehe".
” ' Em nosso pcnsamcmo é ma|s' comum a vcrsáo contrárim ou scja, sc os
pals' amam e valormm seus ñlhos, cstes tcrao bcm-estan
m w~»-
anazM

_
.,.'
autoridade; e prec1s'amos adm1't1r' que também nossa juventude Mencionci os perigos tanto do estüo dc educação com cuida-
nunca tcve um “bem-esla:" de pior qualidade, nunca “vivcu real~ dos cxcessívos, quanto daquelc ncgligcntc c m'd1f'crcmc. A mclhor
mcntc” tão pouco, como em nossa época de abastança matenaL' mas combm°ação parccc ser “am0r aliado à ñrmcza", uma du'clru" pcda~
dc decadência espm°°tual. Scrá que o anliquís"s¡m'o provérbio, além gógica que já devc scr bastante conhccida. Não tão conhccido é o
dc uma advcrtência moral, não conteria também um pouco de fato dc quc também há d15'tur'bio psíquico cnlrc críanças c adolcs-
vcrdade, que hojc exige seu tributo amargo? centes cujo ambiente e educação, de modo geral', dcvcm scr con5i-
Mas mcsmo se fosse ass¡m', seria possível retornar a um rela- derados como bons. É lógico que, sc procurarmos crros com uma
cionamento pals'-ñlhos em que os conceitos dc rcvcrência e rcspeito lentc de aumento, encontrá-los-cmos em todo pai, mãc ou profes~
dosjovens perantc os mals' vclhos am'da scnam' 1m'portantes? Para sor. Contudo, um certo númcro mímm'o de erros cducacionak não
que os jovcns vivam bem sobrc a tcrra...? A maioúa de nós mencará justlñ'ca qualquer comportamento cxlrcmamcntc m'adequado dos
a cabeça cm sxl'êncio. Não há volta, a roda do dcsenvolvmento g1r'a educandos. Tudo que é humano é necessarimentc m'completo; os
cada vcz mals' depressa, o ab15'mo cntrc as gerações ñca cada vez pals' pcrderiam 1m'cdiatamentc sua “condição human'a” sc fossem
ma¡s' largo, a compreensão recíproca cada vez mals" d1fí'c11'. Os pcrfcitos. Há nada ma15' lrágico do que pedagogos quc qucrcm scr
pedagogos não maxs' cstão cm condições de modlñ'car o mundo, ao pcrfeítos; elcs perdem não só sua “c0ndiçã0 humana”, mas também
contrário, eles corrcm, ofegantes, atrás das mudanças que se efe- sua cspontaneidadc, que constítuí uma grave pcrda da qual a1n'da
tuaram- no mundo. O que fazer cntão? Precns'amos também desktü falarcmos. Os pals', portanto, também podem ter seus pontos fracos,
dc mfl'uenciar no bem~estar dc nossa descendência? contanto que cstcs se mantenham dcntro dc hm1"tes ace1'távc15', scm
Snn,' talvcz seja prccm'o. É prec15'o abandonar a id61a' dc que logo tcrem que temcr estar causando danos aos scus ñlhos. O que,
nós, pa15' e educadorcs, somos os únicos rcsponsávek pelo destm'o porém, está acontccendo? Atualmente o num'ero dc crianças com
de nossos protegidos, de quc precm'amos cuidar de seu bem-estax a dasenvolvmdento psíquico pcrturbado cstá assustadoramente cleva-
qualqucr prcço; de que, sc, apcsar dc tudo, clcs têm um dcsenvol- do, embora há anos os adultos estejam cada vez ma1"s rctletmdo
v¡m'ento negativo, mn'guém devería ser culpado a não ser nós mas- sobrc educação, as sugcstõcs sobrc educação cslcjam scndo d1fun'-
mos; e de quc, cntão, a partü da nossa consciência pesada, didas pelas univcrsidades populares e cenlros de aconselhamcnto,
dcvcríamos cuidar am'da melhor do seu bem-estar. Daquele velho o mcrcado de livros apresentc uma quanlidadc enormc de litcralura
mandamento deveríamos aprender algo quc tem validade cternaz pcdagógica, c o rádío também aborde o tcma com frequ"ência. Por
que o bem-estar, contanto que não csteja lígado ao destm'o, é sempre
conseqüência do próprio comportamento e não o produto dos cui-
dados dos paxs'. Ao contrário, quanto ma15° cuídadosa for a educação
dada, maior a possib111"dade de ela 1m"b1r' a capacidadc deas'ória das
crianças; também o outro extrcmo, o abandono ou negligência,
poderá acarrelar conseqüências negaüvas. O quc cspc01ñ'camcnte
a educação pode dar é apcnas o axemplo vivido, e estc exemplo, no
vcrdadcüo sentido da palavra, dcveria ser “d1gn'o”. Se estc exemplo
será, de fato, homado pela nova geração ou não, não devcria
m'tcressar ao educador, po¡s' esta deas'ão cabe aos jovens, c, portan-
to, está no am^bito de sua responsabüdade pela própna' vida. A
tarefa do educador 31m'plesmentc não é produm' bem-estar, mas
apenas mostrax aquele exemplo digno dc ser un1"tado. De modo algo
polêmico, mas bem-m'tencionad0, podenam'os dlzc'r aos educado-
rcs de hojez “Comp0rtem-se de modo quc possam mcrcccr o res-
peito dc scus alunos, se cstcs am'da tivercm respeito por vocês! ” Estc
consclho nunca dexxar'á de dar resultada
Desenho de Barbara e de Jlm Dala. USA. 1984

94 95

._-. ,.xrn. naw-. v.a


_ INH
que o número de crianças sem problemas estâ diminuindo, enquanto
prccbam ma1s' se prcocupar quanto às su45' ncccssidadcs básicas dc
que nossos conhecimentos pedagógicos estão aumentando?
al1m'ento, roupa, moradia. Porém, muitos adultos não conscguem
A pergunta não é d1f'íc¡l' de scr rcspondidaz a educação con- ma15' transmitü às crianças e adolcscentcs um sentido dc vida.
tríbui com apenas uma parte para o desenvolwm'cnto total da pes- Surgcm aSSIm' o tédio e o vazio. E estcs podcm sc lransformar em
soa, po¡s' há oquas mfl'uências decxs'ivas dc ordcm espüituaL como agressão.”
a mfl'uência do “espírito da época” (Zeitgeist) c prm'cipalmentc a Com csta añrmação, W11h'clm Ebcrt retomou uma tcsc quc
m'dividualidade da pcrsonah'dade. Ao exam1n'armos rapidamcntc VLk'tor Frankl já formulou quando os alunos am'da ñcavam bcm~
cstes d015' poderosos fatorcs de mfl'uência, que absolutamentc não comportados cm suas carteu°as, na década de 20 e 30, ao percebcr
cstão nas mãos do cducador, comprecndcrcmos que desenvolvi- mundialmcnte o surg1m'ent0 dc uma sensação de falla dc scnlido
mentos psíquicos m'adcquados dc adolcsccntcs são fac1lm'cntc cn~ como um fator social patogênico; desenvolveu então a logoterapia
contrávc1s' em comunidadcs fam1h"axcs e núcleos residenciak cm como uma reação contrária. Conforme m'dícamos repclidas vezcs,
que cxms'tem todos os pré-req1us'itos para uma educação excmplar esta scnsação de falta dc sentido se lransformou numa cns'c acen-
“com amor e ñrmeza”. tuada do homem moderno. Novamcntc seria m'justo atn'bu1r' a culpa
Para caractenzar' a influência do espflito da época, gostaria dc por ls'so aos pais que não cstariam “transmit1n'do” um scntido
abordar um de seus muitos aspectos; trata-se da brutalidade enlre suñciente de vida aos seus ñlhos, pois justamente a vivência de
os alunos que foi abordada na pnm'avera dc 1984 pela telev1s'ão sentido não é transm15'sívcl, no máx1m'o ela é demonstrável a parur'
alemã num programa comovente. De três acídentes ocorridos nas do cxemplo. E cstas reñexões novamcntc nos conduzem ao cxcmplo
escolas, um é dccorrcnte dc bng'as entrc os alunos, quc sc agridcm pedagógioo, o único m'strumcnto dc quc dispomos na educação para
com tapas, arranhõcs, mordidas e correias de bicíclcta; ao todo, fac111"tar o desenvolv1m'cnto da pcrsonah'dadc. A rcahza'ção de sen-
rcg15'tram-sc na Alcmanha apromm'adamentc 400.000 destes m°ci- lido só pode ser mostrado pelo exemplo dc vivência. Quando,
dentes pernicíosos por ano. O comentário na telev15'ão foi o scgum'te: porém, os próprios pals' duvidam do scntido da sua vida, e muítos
“A violêncía 1m'pera nas escolas e os pa1$' estão preocupados. Os atualmentc soErem por 1s'so (c csle sofnm°ento é ampliado quando a
professores eslão igualmente abalados e alarmados. Um atribui a ele se juntam dcsgoslos causados pelos ñlhos), serão m'capdz'es dc
culpa ao outro. Os pals' argumentam que os profcssores devcríam demonstrarcm uma rcahza'ção de sentido pela própria vivência,
entcnder do seu ofício e ser capazes de 1m°ped1r' estes acessos de fechando-sc assun' o cúculo vicioso.
fúria. Os professores devolvem o “mico prcto”, d12e'ndo que as Depende, porém, dc cada m'divíduo, de cada criança ou ado-
crianças deveríam aprcnder comportamentos corretos no lar, onde, lescente, da m'dividuah'dade de cada pessoa, se esta cr15'e de sentido
porém, muitos pals' lhes servem apcnas como modelos de agressivi- se transformará em agressão sem sentido, ou, então, talvez em
dade.” frustração construtiva quc motivará cada um para a busca dc uma
ch, as cntrev15'tas com os participantcs mostraxam que o aúvídade com scntido. Naturalmcntc uma criança não tem as mes-
“mico preto” não cabe rcalmcnte a ncnhum dos lados. Os professo- mas possiblh"dadcs de um adulto, mas também as cr1'ançd5' não têm
res, em geraL fazem o mclhor que podem e os pals' sã0, cm média, o “d1r'eito sancionado dc ab-rcaçã0” dc scus aborrecmentos c
muito menos agrcssivos que seus íilhos. D015' especiahs'tas, porém, tédios, também elas podcm lidar com estas sensaçõcs de diversas
quc foram consultados durante o programa, acertaram ao apontar maneu'as c, até certo grau, dc acordo com sua idadc e d1$'cer-
cücunstan^cias da época cm quc vivemos como rcsponsávels'. Dicter mm'ento, dcvcm scr consideradas responsávels' pelo seu comporla-
Wunder, prcsidente do Sm°dicato para a Educação e Ciênc1a', d15'se: mento.
“Nos últh'os anos, a libcrdade aumentou. Todos apreciamos esta Chegamos agora à segunda grandc mfl'uência de ordem espi-
mudança. Porém, com a liberdade, aumcnta também 0 atrcv1m'cnto ritual que não está sob 0 controle do educador c que, como desen-
das criança5.” E W11h'elm Ebert, presidente da Associação de Cul- volv1m'ent0 do adolescente, torna-se cada vez mals' 1m'portantc, ma15'
tura e Educação, ex-prcsídentc da Associação Mundial dc Profes~ 1m'portantc até que a mfl°uêncía do “esp1n"lo da época”. Trata-se da
sorcs, acrcsccntaz “Em comparação com gerações antcriorcs, as m'dividualidade. Ou, conforme Frankl, da sm'gularidadc c origi-
crianças têm hoje uma vida apcnas aparcntemente maxs' fácxl'. Não nalídadc de cada pessoa, quc já começam a se cns'tahzar' na juven-

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tudc c conúnuam a se descnvolver dc acordo com a vontade própria meu'amcnte as pessoas que a educm, o quc não é possívcl atravós
c no confronto com o próprio carátcr. O homcm não é uma massa' de crílicas, moerando~lhcs seus crros, mas uniwm~cntc pclo cnco-
rajamenlo, ajudand0-as a aceilar a criança, lal como cla é, com
cujos m°gredientes foram mls'turados a parür' de suas prcd15°posições
hereditáriaS, à qual o educador dá a forma dcscjada c que é assada amor, sem constantemenle procurar em si as causas dc problcmas
da criança e tentar conserlá-los. Somcnlc poderá sc pensar conjunta
no forno do Iempo para scu completamento. Tornar~sc ser humano
não é tão fácü assm'! e calmamenle sobre quais os procedLm'cmos didálicos mals' adcqua-
dos para reduzü ao máx1m'o os problemu cns'tcnlcs, quando for
Para se tornar ser humano é prcciso acrescentar algo especial,
dito este “s¡m' à criança, apesar dc ludo", com basc na accitação dc
algo 1m'prev¡s'ível, que não pode ser dcrivado totalmcnte da gcnética,
sua 1n'dividualidade cspccíñcm suas qualidades c dcfcilos, suas
ncm da psicologia c nem da sociologia. A cste respcit0, Frankl
tendêncías e dls'túrbios m'atos ou adquu'1'dos, a mullipücicladc dc sua
escreveu crn scu livroAnthropologische Grundlangen der P.sych0the-
personalidade em formação sob a mf1'uência do “cspín'to da época”.
mpie (“Fundamentos Antropológicos da Psicotcrapla'”) a segu1n'te
Infelmn'entc temos hoje uma 1m'agcm cxccssivamcnlc mcca-
frase nolávelz “Na conccpção de um Eilho, os pa15' fornecem os
m'cns'ta do homcm, um modelo compuladonza'do no qual às vczcs
cromossomos, mas não lhe ms'uflam o espíñto.” Esta añrmação
“um parafuso cstá solto”, o qual precm'a scr apcrtado pclo cspccia-
também podc scr estcndida c ampliada para o processo educa-
hs'ta para que a unidadc “homem" funcione novmenle. Porém, da
cionalz o cducador trem'a, elogia, pune, oferece-se como cxemplo,
mcsma maneüa quc o pcdagogo não pode produar" cresmm'ento, o
mas também ele não podc ms'ul]ar o espírito. Em úluha ms'tan^cm,'

.-_. _ .
médico não produz saúde física, nem o psicólogo, saúdc psíquica.
aqu1l'o quc não pode ser produzido no homem decide sobrc aqu1l'o

M
O homem cresce por si só, também sc cura por si só, seus pdr'afusos,
quc ele rcccbeu na concepção, e aquüo que não pode scr mcdido
por ass¡m' dxze'r, gu'am automaticamente; nós, de fora, só podemos
no homcm, sobrc o quc podc scr avalíado psicologicamentc. Esta
contribmr' com 1m'pulsos 1n1"bidores ou est1m'uladores, na espcrança
idéia contém, sun'ultaneamcnte, algo m'quictantc c algo consolador.
de quc atm'jam seus objetivos. E o mcsmo ocorrc com a criança
É m'quietante porque nos mostra que, ao gerarmos um novo ser
psiquicamente perturbada; quando sc orig1n'ou seu dxs'lur'bio, o
humano, preasam'os assum1r' um ns'co para o qual não há garantias,
“eu”, de alguma forma, tcve uma parücípação, c qumdo seu d15'túr-
ncm mesmo no melhor lar e nos tcmpos mals' paradls'íacos. Conso-
bio desapareccu, estc também se cuxou espontancamente. O edu-
lador, porém, é sabcr que sobre nosso trabalho pedagógico não se
cador podc contribuü somcnte com uma pcquena parccla, e o
apóia todo o peso da responsabú1"dadc por uma vida jovem; prcci-
melhor que pode fazer é aceitar basicamcnlc a criança, sze'r seu
samos nos rcsponsabmzar" pelo exemplo, mas não pela sua cñcácia.
“51m'” a ela, com aqucle amor que sempre encerra ao mesmo tcmpo
O leitor provavelmentc está se perguntando por que, se pre- um “apesar de” tudo que possa aconlcccr.
tcndia dlze'r algo sobre como lidar com crianças problemáticas,
A seguu' gostaria de dls'cuur' alguns pontos quc poderiam
começo cnumerando tudo aquüo quc escapa da ação cducacional
facmtar a convivência dos pa15' com crianças e adolescentes que
O motivo pode rapidamente scr explicadoz quem dcsoonhece suas
apresentam dls'túrbios de comporlamcnm Não se Lrata de oferecer
oportunidadcs pedagógicas não 1r'á aprovcitá-las, qucm, porém,
uma solução-patentc para todas as d1ñ'culdades quc aparccerem;
dcsconhecc suas hm1"taçõcs pcdagógicas, jama15' poderá “accitar a
faço-o, porém, na convicção de que, m'crcntc a todas as d15'culdadcs,
criança, apesar de tudo”, se as oportunidades aprovcitadas não
há semprc uma possib111"dadc dc sentido, pcrmilmdo 0 amadurcci~
trarão o espetado sucesso. Não são apenas pals' psiquicamente
mcnto dc um amor, a partu' dc aflições c sofrnm'cntos, capaz de scmr'
ms'távc15' quc podem causar dls'tur'bios em scus ñlhos, também,
como basc.
m'versamente, ñlhos psiquicamente ms'távels' podem facúm°ente pro-
O pr1m'elr'o ponto que gostaña dc d1'scut1r' já foi mencionado
vocar dxs'túrbios nos pals', quando estes não vêcm rcsultados nas suas
anteriormente e consxs'te na preservação da espontaneidade nas
tentativas educacionak e sentem medo do fracasso, acusam-se re-
m'tervençõcs educacionais. A este respeito podemos aprcndcr mui-
ciprocamcntc ou rcagem exageradamentc dc alguma oulra mancu'a
to da logoterapia dc Frankl, que não rcnuncia à cspontancidade
ma'dequada. Pata establhzar" uma criança, é prems'0 estab1hzar" pri-
mesmo na prática psicoterapêuu'ca, embora uullz"e scus métodos de
forma bastantc d1r'etiva junto a seus pacicntcs. A cspontaneidade na
' N.T. Em alcmão, Teig: massa de pão ou bolo.

98
psicologia c pcdagogia não sigmf1'ca “espontaneidadc m'cñctida”, psicologia, ncm na psicoterapia, c muílo menos no colidiano cdu-
mas, ao m'vés dlss'o, a “ms'crção dc pnn'cípios mctodológicos no cacional.
ambicnlc namral”. Isto sigmñ'ca alcançar a máx1m'a eñciênch com Não 1m'porta quaxs' métodos uswos com as cn'anças, scja a
o mímm°o possívcl de situaçõestcrapêuticas aruñ'cialmente criadas. distribuição cuidadosa dc elogio c pum'ção, scja a ñrmcm cocrcmc
Um excmplo maravúh'oso dcsta “espontaneidade com métodos ou o compromlss'o amigách scja 0 m'ccntivo à crialividadc ou o

. _qo.«m- _- _
dmg1"'dos” foi publicado na rews'la “Medical Tribune” de 23 de trem'amenlo compcnsador, nunca algo dcvc scr usado dc forma

._.
março dc 1984, em que é relatada a idéia do pediatra Edgard Rey aruñ'cial, m'aulêntica ou dcsnaturaL Conscqu"cntcmcntc, cstcs mó-
no Hospital San Juan dc Dios em Bogolá, na Colômbia. E15' o relatoz todos não podem scr usados de maneu'a cxlrcma c rígida, mas levc
Os recém~nascidos com peso aba1x'o dos 1000 gramas gcral- c flcxíveL caso contrário todo ambicntc educacional ñca pcrtur-
mcnte não sobrevivem nos pa1s'es em dcscnvolwm'cnto, snm'plesmen- bado. Pals' normais não podcm constantcmcntc dar clogios ou
te pcla falta de m'cubadoras c oulros equipamcntos dc tcrapia castigos com critério rigoroso; dc vez em quando também podcm
m'tcnsiva. A ídéia do pcdiatra sul-americano consktc então cm emitü uma palavra cordial “sem motivo” ou ralhar un'pulsivamentc
í
scgurar ñrmcmcnlc o prcmaturo junto ao pcito materno. Com ls'to “por cngano”. Também não precisam sempre ser totalmentc conse- :'
.
sc rcsolvcria por si próprio um problcma fundamcntal dc críanças qüentcs, porque os alos de cedcr, dc dcnx'ar-sc convcnccr, dc par- C'
o
com dcsenvolwm'ento m'complcto após o nasc1m'ento, que é o da doar e fazcr as pazes são comporlamcntos nalurms' quc fazcm partc
compensaçâo de temperatura. Ao mesmo lemp0, a ahm'cntação com do dia-a-dia. Além dls'so, os paxs' ncm scmprc podcm sc colocar em
leite matcrno podc prevcnn' uma séric dc complicações de ordem nívcl de igualdade com os ñlhos, poís há sítuaçõcs em quc país c
1m'unológica e num'cional. Assim, estas crianças sofrem muito ma- ñlhos 51m'plesmente não são parccnr'os. E não podcm dc mancka
nos de diarréia ou constipaça'0, além da m'tcn51ñ'cação do cfeito alguma elaborar constanlemente programas para incentívar a cna'-
psicológico posítivo da ligação mãe-ñlho. O Fundo das Nações üvidadc ou para treinamentos compcnsatóríos dc seus ülhos, pms°
Um'das para a Infan^cia (Unicef) considcrou os resultados desta assun' estaríam 1m"bm'do o desenvolvxm'enlo natural da fantasia de
forma dc cuidar dos bcbês como “dramáticos” no sentido positívo, seus ñlhos, que somente se man1f'csla sc as crianças têm oportuni-
pons' Lrês entre quatro bebês, com um peso ao nascer de 1200 gramas, dadc de ocasionalmcntc pcnsarcm por si mesmas. Por outro lado,
sobrevivcram com o novo métoda Até então morriam por ano porém, o educador não pode esquivar-sc dc loda autoridade sobrc
mundialmentc ccrca dc 20 m11h'õcs dc bcbês com ba1x'o peso. A taxa seus educandos, para não acontcccr, por excmplo, quc lodos os dias,
dc sobrevivência de bebês que pcsavam cntre 1200 e 1800 gramas com voz lamuriante, as crianças dc um jard1m' de mf'an'^cia cxtrema~
elevou-se am'da mals', de 30 para 90%. mcnte antíauloritário e não-d1r'ctivo cm Bcrh'm perguntdm". “Tia,
Apcsar dc o problema da prcmaturidade estar apenas m'd1r'e- scrá quc hojc prccm'amos de novo brm'car com aquüo que nÓs
tamente relacionado ao nosso tema, podemos exIxah deste artigo queremos?”
uma m'dicação 1m'portante. Por um lado, há o método que dcvcria O quc gostaria dc dlz'cr com o ac1m'a cxposto é que não
garantk aos bebês prematuros uma tempcralura constante, ahm'en- podcmos sacr1f1'car a espontancidade no relacionamcnto com cn'an-
tação, protcção contra mf'ccções, etc. Certamente a m'cubadora ças a favor de uma determm'ada táüca educacional que aprendemos
podcña provcr tudo ls'to da melhor formapossível, mas ao prcço da ou sobre a qual lemos e da qual esperamos sucesso; tal sacr1f1"cí0
csterllx"dade, artlñ'cialidadc e perda dc contato com a mãe. Por outro |m'ped1n"a de antemão qualquer succsso. Esta 6 uma ochrvação que
lado, há 0 comportamento natural de todajovem mãe que gosta dc mf'cllzm'ente é feita mm'tas vczes em crianças por professores, mé-
segurar seu bebê contIa o pcito, transmiün'do-lhc sensação dc con- dicos, psicólogos, etc.
tato corporaL carmh'o e algo como uma “união psíquica”. Porém, O outro ponto, além da esponlaneidade do w'mportamento,
cste comportamcnto materno ms'tm'tivo não seria suñciente para os é a espontaneidade da vida e da esperança. Este é um aspecto ma15'
prematuros. Mas a combinação deambos, o prm'cípio metodológico sério a1n'da, pms' se a naturalidade de alguns valores básicos eslivcr
e o ambienle natuxaL produz resultados excelentes. O que podemos perdida, ela o será para sempre. Por exemplo, pais quc ameaçam
aprendcr dxs'to é que somente o método não é eñciente, nem na suicidar-sc não 1m'ag1n'am como estão prejudicando scus ñlhos por
abalarem a espontancidadc com quc sc vive bem ou mal, conforme

100 101
o caso - c praúcamcntc cnam' a idéxa' dc quc podernos cncontrar
uma fuga na mone. Da mcsma forma, pals' quc conslantcmente bém ao rclacíonamcnto com crianç45' quc aprcscntam dklúrbios dc
ameaçam scus ñlhos problcmáticos dc quc serão colocados numa comportamento: qumto maxs' sc falar com clcs, ou com outras
ms°tituição estão também dcstrumdo aos poucos a naturalidadc da pessoas, sobre seus problem45', mm's m°tcnsivos sc tornarão.
cms'tênc1a' do lar para scus ñlhos, ao qual dcvcriam pcrtenccr scm Dc maneüa gcraL rcwmcnda-sc não tcntm míl'ucncíar dc~
prcc15'ar qucstioná~lo. É m'd15'cutívcl que há situaçõcs fam1h"ares cm mals' os outros. Gottfricd Kellcr já sabia d1s'so ao cscrcvcn “Vcnñ'-
quc uma m'lcmação numa ms'tituíça'o ou m'tcrnato constitui uma quei que muitas pessoas - que scmprc falam dcmais nunca
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altcrnativa melhor do quc o laL Se estc, porém, for o caso, dcve ser comprecndem aquelas quc sao por clas lmpcdas de falar. É uma
v(*)

mostrado como uma solução Icmporária que tem sentido para todos añrmação sábia que deve scr lcvada cm consideração quuto à nossa
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os envolvidos, c não como uma punição do tipo “cxpulsão de casa”. tcndência arual dc quercr dls'culir tudo abcrtamente com as crian-
.

Não podemos csqueccr que o próprio lar, oomo a própria vida, ças. Também aqui é válida a rcgra dc quc não podcmos unhzar" um
constitui um valor fundmemal que nunca devc ser colocado em detcrmm'ado mélodo e levá~lo às suas últ1m'45' conseqüêucias quan-
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dúvida; c justamcme a pessoa com ms'tab1h"dadc psíguica é muito do clc estivcr contradlzc'ndo a snm'ples naturalidadc.
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vulnerávcl com rcferência a ta15' vivências cvidentes. Sc não ezus'tc Podcmos fazcr com quc os jovcns sob nossos cuidados cmcnv
«,¡.

ccrtcza alguma sobre a cx15'tência, ncm quanto à sua contm'uidadc, dam mesmo sem palavras a naturalidadc do nosso “cslar d1$'ponível
ncm quanto à sua plem'tudc de sentido 0u quanto à sua scgurança, para cles". Podemos fazê-lo ao ouvi-los pacicntemenle, ao mostrar
v=,«-_~.

a espcrança dcsaparece juntamenle com sua vonlade de vivcr. m'tcresse, ao tentar comprcendê-los, ao respeitar sua m°diví~
Falamos a respeito do nívcl atualmente clevado de agressão dualidade. Ao sermos dcfrontados com sua agrcssiv1'dade, devcmos
'-v"?

entrc alunos, mas não mcncionamos que há também uma “agressão lembrar que “a bondade dcsarma”, o que, poróm, não quer dlzc'r
_,;.

muda”, am'da mms° tcmida pelos pedagogos, do que agrcssívidade que o educador sempre deva ceden Ele deve se dxs'lanciar de um
ativa. Trata-sc de cn'anças quc m°teriomentc sc desligam segundo o gravc comportamento m'adcquado, m43' o dls'tanciamcnlo não sig-
- r*u¡-«-

lcma2 “Não qucro, não mc amolem. Nada me m'teressa, não quero mñ°ca abandono. Podemos manler dxs'tan^cia, mas contmuar sendo
fazer nada.” Nenhuma recompensa ou pum'ção nclas faz efeito, bondosos; podemos d12'er “não” a um comporlamcnto mf'anul,' mas,
'*P›~<_t;r'~

nenhuma promessa as alrai, nenhuma ameaça as atmg'c, nenhum apesar disso, d12'cr “s¡m'” à criança, conformc já cxph'quei.
-

tipo de expectativa futura é capaz dc m'á~los da m'atividade. Perdeu- Bem, até aqui discuum'os o “prescrvar'”, a preservação da
v

se a espcrança e a sua espontaneidade, c Ls'to é grave. naturalidade e esponlaneidadc. Dcpois abordamos o “falar” e veri-
A tendência atuaL também cntrc os adultos, é falar dcmals' ñcamos quc, além de falar de menos, o quc certamentc é desfavo-
sobre determmados assuntos. Por cxcmplo, falamos lanto da paz rável do ponto de vísta pedagógico, cxns'te também um “falar
quc, de repente, ela não é ma15' algo nalural; porém, se a naturali- demals'”, que não raramente leva as crianças à recusa. Ao tcma
dade da paz estiver perdida, surge a possibmdadc de uma gucrra. “falar”, gostaria de acrescentar um segundo ponto de v¡5'ta que mc
Também na família fala-se tanto de separação, de abandono rccí- parccc cssencial e quc também copiei da logoterapia de FrankL
proco, que a naturalidade da paz na família ñca mm'ada. Há proble- Trata-se não mals' da quanüdade, mas da qualidade do que é dito.
mas que se tornaramjustamente problemas pela atenção que se lhcs Como e o que sc conversa com cr1'ançaa"-problema? Para scr breve,
dá, e que somcnte através do nome que a eles atribuun'os se trans- de acordo com mmh'a opm1"ão, tudo podc ser dito a ela5, da maneu'a
formaram naqueles obstáculos m'transponívels' em nosso cammh'0. como se qws'er e d1r'etamcnte, conformc dS' palavras nos vierem à
Nm'guém pode me acusar de quercr repr1m1r" ou s1l'enciar os proble- mcnte. Apenas não podemos causar um dano iatrogênica
mas verdadenr'os, p01.s' há mals' de uma década ocupo-me da solução Precns'o explicar uu"cialmcnte o que a logolerapía enlendc por
de problemas alheios. Porém, foi prccxsam'ente este trabalho que 1a'trogenia para dcpms' podcr esclarcccr que também na ação pcda-
mc ensm'ou quc dLñ'culdades e prcocupaçõcs fazem partc dc uma gógica podc ocorrcr algo semelhantc, com resultados igualmente
vida totalmcnte normaL e constitucm muito mals' um desaño ao m'dcsejávels'.
cspm"to humano do que um dano à saúde psíquica. A cxaccrbação A palavra “iatrogênico" dcriva-sc da palavra grega “iatros”
dos problcmas, contudo, bloqueia sua solução; ls'to sc aph'ca tam- que s¡gmñ"ca “médico”, e o suñxo “gênico” scmpre tem algo a ver

- .v
com a 0r1g'em c formação; “ialrogênico”, portanto, mgmñ"ca “causa-

4-. -.
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103

Mm~¡u.-~sy-
do pclo médico". De fato, conhecemos na psicoterapia neuroses e com scus pals' quc tmh'a tido antcs. Também ncstc cxcmplo prccisa~
dcprcssões quc, conformc V1k'tor Frankl pôde demonstrar, se for- mos admitü que houve um dano ialrogêníco absurdo quc só trouxc
maram unicamente dcvido às dcclaraçõcs 1r°rcflctidas dc conotação sofr1m'cnto.
ncgativa dc um médico ou psicotcrapeuta quc, scm querer e sem Como últlm'o exemplo prcventivo goslaría dc dcscrcvcr um
saber, causou danos a seus pacícntes. O pior quc já ouvi neste diálogo quc ouvi por ocasião dc uma visita médica numa clínica
sentido foi o relato dc uma mulhcr quc sc tornou totalmcnte ms'e- neurológica. O médic0-chefe perguntou a um pacicntc alcoólatta
gura dcvído a uma declaração de seu psicanahs'ta com quem fcz um quc já cstava no hospilal há algumas scmanas como cstava sc
tratamento durante ma15' de quatro anos, sem, porém, obtcr qual- sentm'do. Estc rcspondcu quc estava relalivamcmc bem, somcntc
quer melhora. O médico exph'cou-lhe a situação à sua manelr'a. Ele no últlm'0 ñm de semana, ao acordar dc manhã na sala dc cnfcrma-
d15'se: “As andormh'a5 quc nascem ccdo na pnm'avera têm tcmpo ria, tevc um accsso de medo. TOdOS scus companhciros dc quarlo
para crcscer e desenvolver asas fortes até o outono, por Is'so para já havíam se levantado, e cle se sentira só c abandonado, ñcando
elas é fácü atravessar os Alpcs quando o 1n'vemo se apr0x1m'a. cntão com medo do fuluro. O médico-chcfe virou-sc para a médica
Aquelas andonnh'as, porém, quc nascem no ñm da pnm°avera, am'da encarrcgada quc estava ao seu lado e pcrguntothc se cste acesso
não alcançaram um dcsenvolwm'cnto plcno quando o frio se ms'tala; de mcdo poderia ainda ser um efeito do abuso de álcooL “Não", ela
também elas tentam atravessar os Alpcs, mas nas dl'turas gélidas rcspondcu, “o pacicntc já está abstinentc há bastante tcmpo. Elc,
logo perdem suas forças e acabam morrcndo.” E dep015' 0 médico porém, é um tipo muito 1n'stávcl...” “Ah", disse o médico, c du'igiu-sc
acresccntou amavelmentez “Veja, a Sra. se assemclha àquelas and0- para a próxma cama. Não sci sc o leitor perccbeu o quc ocasio~
rmh°as quc nasceram tarde demals'. A Sra. procurou tarde demals' naram cstas poucas palavras... Uma pcssoa foí rotulada por um
mmh'a análise e não posso mals' fortalecê-la 0 suñciente para quc espcciahs'ta como “tipo ms'tável” e o “ah” do médico-chefc repre-
possa enfrcntar as exigências da vida. A Sra. nunca mais recobrará sentou o vcredicto fmaL Como um paciente nestas condições podcrá
a saúde.” Podemos 1m'agm'ar os cfeitos destas palavras do médico um dia recobrar sua autoconñança, como podcrá retomar sua lula
sobre esta mulher scnsíveL quc já estava muito dcpnm1"da. Ela se corajosa contra sua mf'ehz' tendência ao alcoolismo, como 1r°á su-
trancou em sua casa, fechando as venczianas dia e noitc para não frentar seu futuro, diante do qual já tem medo, se tem uma auto-
ouv1r' o gorjcio das andormh'as díante de sua janela; cla teria prati- 1m°agem tão negativa?
camente morrido lá dentro se uma amiga muito resoluta não a Neste ponto podemos facúm'cnte fazer a ligação com a peda-
tivessc t1r'ad0 de lá para trazê-la ao meu centro de aconselhament0, gogia quc nos ensm'a quc as atitudes de cxpcctaüva c os processos
onde com muito csforço e dlñ'cu1dade ncutrahz'ci o dano iatrogêni~ dc busca de idcntidade dos jovens são dccisivos para toda sua vida,
co. por darem düeção a ela. Quanto às atitudes de expcctativa, preci-
Cettamente estc foi um caso extremo, mas precxs'amos ter samos d1f'crenciar am'da cntre expectativas dos outros, ou seja, o quc
muito cuidado na psicología e também na pedagogia, po¡s' tals' danos o ambientc espera de alguém, e as expectat1'vasprópn'as, ou scja, o
podcm ocorrer de maneüa muilo suül'. Por exemplo, uma mãe à quc a própria pessoa espera de si. O maior perigo quanto às
procura de orientação contou-mc dc passagem quc ela própria era expectativas dos outros é quando clas são elcvadu demaxs' c exces-
a scgunda ñlha de scus pa15' c quc o pr1m'elr'o ñlho dclcs nasccu um sivamcnte positivas, colocando a rcspectiva pessoa sob considerável
ano antcs dela e morrcu logo cm seguida. Ela disse quc antigamente cstrcsse e prcssão e causando-lhc mcdo, porque ela simplcsmentc
via este fato de forma p05itiva por pcnsar quc, após a perda quc seus não vai poder corresponder às expectativas de scus pais, professo-
pals' sofreram, ela fora realmente uma criança dcscjada. Quand0, rcs, chefes, ctc., ou somente poderá fazê~lo mediantc um csforço
porém, cla relatou o caso dc seu 1rm'ão falccido antcs dc scu enorme. Por outro lado, não nos cnganemos quanto ao pcñgo dc
nasc1m'ento ao médico da família, cste, com ar muito sérío, lcvantou cxpectativas muito bzuxas' e negativas por partc dos outros; lambém
a suspeita de quc ela fora apcnas um “subst.ituto” para scns paLS' e elas colocam obstáculos ao desenvolvimcnto de uma pessoa por
quc seus pals' dedicaram seu amor provavelmcnte não a ela, mas ao t1r'ar-lhe a conñança dos outros cm suas capacidadcs.
ñlho morto. Este pensamento atligiu a mulher durantc anos c, desde Quanto às cxpectativas próprias, o maior pcrigo é gcralmente
enta'o, delx'ou de ter 0 relacionamcnto desprcocupado e espontan^eo aquele dc quc clas scjam muito balxas', quc a rcspccliva pessoa não

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sejulgue capaz ou sc avalíe muito negativamenta Pelo menos desdc
Sclígman sabcmos que exístc um “desampa.ro aprcndido”, que co- Tcnhamos cntão cautcla na cducação c ao lidarmos com
meçou na mf'an”cia, talvez por causa dc cxpectalivas baxxas' dos crianças, para não confrontá-las com cxpcclativas allas ou baíxas
outros, e quc contm'ua na idadc adulta sobreludo com cxpectativas demals', mas prm'cipalmcnte ncgativas dcmals',' na dúvida, d1r'ia scr
própridS' cxtrcmmente ba1xas' c ncgativas. Partmdo da expectativa mclhor esperar delas um pouco ma15' do quc dc mcnos. Ainda
dc quc não se podc mesmo fazer 15'to ou aquüo, o “desamparo quanto às crianças com d1$'túrbios dc comporlamcmo ou cn'anças
aprendido” nos 1m'pede de aceitarmos uma tarefa com o resultado ncuróticas, devemos tcr conñança dc quc também elas possam sc
de que prontamente não somos capazcs dc reahú'-la quando, por transformar cm pessoas alcgres c saudávcis; esta scria a maior
algum motív0, somos obng°ados a enfrentá-la. Porém, também quan- demonstração do nosso amor c o melhor prescntc quc podcmos lhes
to às expectalivas próprias há o oquo cxtremo, as expectaüvas dar para acompanhá-las no scu cammh°o rumo à m'dcpendência. Por
cxcessivamentc clevadas com rcspeito a si próprio, quc são 1r'realís- acaso, um dia a5515'ü a um jogo de baralhn cm grupo num lar para
ticas c nos destroem crianças; após cada jogo trocava-sc dc Iugar. Num dado momento,
Bem, conforme já disse, o homcm não é uma massa à qual se uma das cadc1r'as foi cscolhida como cadcüa mágícaz toda críança
dá forma scm sua m'tervcnção. Não podemos cscolher as expectati- que nela scntava ganhava o jogo. E, dc fato, os ganhadorcs das
vas dos outros, cspecialmcnle quando sc é criança, mas as cxpecta- jogadas segum'tes eram os rcspectivos dclenlores da cadcu'a mágica.
tivas próprias são dm"gidas pessoalmente, e alé mcsmo as crianças Chegou a vcz de uma mcmn°a ba1xa' e pálida quc, ao scnlar-se na
têm a oportum'dadc de ajudar a dar d1r'cção a clas. Assnm,' as cadeüa mágica, dlss'e em voz ba1xa': “Eu sou azarada, comigo não
expectativas banxa°s dos outros podem ser compensadas através de vai dar certo!" E a menm'a pcrdeu.
elevadas expectativas próprias, confonne demonstrou, por exem- No caso, tratava-sc de um jogo de azar do qual não qucro tu'ar
plo, um ator conhccido pelo nomc artístico de “Conan” e que se oonclusões. Hojc sabemos, porém, que a atitudc de cxpectativa de
tomou famoso por ser um herói cm'ematográñco especialmcnte uma pessoa tem um enorme poder mistcrioso para atra1r' justamente
musculoso c forte. Por mcu sogro, que é profcssor, tê-lo tido como aquüo que foi esperado. Devcmos levar este falo em consideração
aluno na escola, sci pessoalmcntc quc esle ator, qu4n'do críança, era ao lidarmos com crianças problemáticas dc todos os tipos. Enquan~
o ma15' fraco dc sua classc, que mn'guém julgava capaz dc qualquer to elas se considerarem como pessoas dc pouca sorle, assim 0 serão.
desempcnho físico exttaord1n'án'o, aparentemente nm'guém a não Se as ajudarmos a pcrderesta expeclativa ncgativa, a sorle começará
ser ele ptóprío; ele não sc dmx°ou desencorajar, empenhou-sc cm a lhes sornr'. Não devemos psicologlzá'-las, mas normahzá'-las, tra~
modclar a si próprio até que pudesse mostrar sucessos adeI'ávels'. tando-as como parccu'os capazcs dc se dcscnvolver, cm quc as
Frankl fala nestes casos do “poder dcsañador do esplr'ito”, que é possib1h"dades todas am'da estão em abert0, mcsmo que sua situação
capaz dc supcrar c1r'cunstan^cias precárias c expectativas negativas no momcnto seja complicada. O espírito humano ccrtamcntc tem
dos 0utros. ma15' reservas do que a nossa pedagogia possa 1m'ag1n'ar!
Voltando à problemática dos danos iatrogêm'cos, ou melhor, Assm' encerro a questão sobre o “fa1ar" e d1r'ijo-mc ao últxm'o
dos “danos pcdagógicos”, podcmos agora enquadrá-los no grupo ponto dc dls'cussão, que, para surpresa dc alguns, é o “pcnsar”.
das expectativas cxcessivamente negativas ou bmxas' dos outros. Trata-sc do que os pals' pensam a respeito das dlñ'cu1dade\s de seus
Declarações dos pals° ta15' como “Isto você não entende mcsmo!”, ñlhos e da sua própria necessídadc de enfrenlar esle fatoJÉ sabido
“Você nunca vai scr alguém na sua vida!”, etc., podem, como que tudo na vida pode ser visto dc diversas manelr'as, c, de a Ordo
conseqüência, também rcba1xax' sensivelmentc as expcctativas pró- com cada mancnr'a, tcremos s¡gmñ"cados totalmente d1f'erentes Deso
prias das crianças, se elas não conseguüem encontrar suñciente tc s¡gmf1"cado, por sua vez, depcnde a chamada “ressonan“cia orgâ-
“podcr desañador” para cnfrentá-las. E justamcntc as crianças nica”, ou scja, o conscqüente estado físic0, que está inüm'amcntc
psiquicamente perturbadas, aSSIm' como os adultos psiquicamcnte relacionado com o estado psíquico. Quamo às crianças, csta manei-
ms'távc15', são extremamente suscctívexs' a estas ba1xas' expectativas ra diversmcada de pensarjá comcça por ocasião da gestação: a mãe
exIernas. pode ñcar contente por causa do bebê ou ter sérías dúvídas a
respcito. Com 15'to, não queremos rccnm1n"ar as gestanlcs que, por
razõcs válidas, m'clm'am-se mais às dúvidas, mas ccrtamcnte, ncste

106
107
caso, a gmvidez lhes scrá mais d1f°ícü lambém do ponlo dc ws'ta bê-lo em loda sua plem'ludc, mas lambém aprccndcr a tolalidadc

.
ñsiológíco. das possibnlx"dadcs de scnlído íncremcs à siluação. O mclhor somcn-

úÀ
Quando as criwças têm uma deñciência ou apresenlam um te podc scr cscolhido a parlir dc uma vmicdadc dc auspcclos bons,
assun,' neccssar1°amcnlc, pma cnconuar o mclhor, prccisamos rcco-

yy
dcsenvolvmento psíquíco m'adcquado, a maior parte dos pa1$' ñca
nheccr 0 quc é b0m.
alarmada. Ccrtamentc uma pcquena pmccla de paxs' permancce
m'd1f'erentc ou rejeita o ñlho, mas csta parcela ncm consídcrarcmos Por 15'so, goslaria dc aconsclhar vccmcnlcmcnlc aos paà c
aqui, pons' ncslc caso não é possível ajudá-los. A parcela aJaImada, educadorcs das chmadas criançuproblcma quc não sc dcxxc'm
porém, de alguma forma, assumc em pcnsmcnto uma alitudc lcvar pcla tenlação dc conslantcmcnlc dcma'r girar scus pcnsamcn-
diante da problemáüca cxrs'tcnte, c éjustamcnle cslcposicíonamen- tos em torno dos d1s'túrbios dc sws ülhos c crianças sob scus
to intemo quc considero tão 1m'porlantc para dctermmar o bem-es- cuidados, cam'd0, assun', nas malh'as da hípcr-rcñcxã0; com isso,
tar de uma família. Na logoterapia dc Frankl freqüentementc é cstariam apcnas prejudicando a si próprios, lambém ñsicamcnlc,
descrito o perigo dc um “fcnômeno dc hipcr-reflexão” quc surgc scm ajudar em nada às cr1'an(,.15". Dcvcriam cncomm a th'posição
quando uma pessoa com alguma añição cnlrega-se a ela, faz seu m'terna para se oricmar pclas possx'b111"dadcs dc scnüdo da situação
pcnsamento g;r'ar somentc cm torno dcstc lema, ñxa-se tolalmente ems'tcnte, c ls'l0 é possívcl somcnle ao lidar~sc c cstm salisfcilo com
em scu problcma. As conscqüências são calastróñcasz todos os aquüo quc “ex¡s'le” e 0 quc é “b0m”.
aspectos quc nada tém a ver com o problcma cm qucstão, mas quc Aqui voltamos às nossas considcrações iniciais quando venñ'-
podem estar m'tactos, pcrdcm seu sigmñ'cado, enqumto quc a afli- camos quc muitas c1r'cunstan'^cias não cslão rcalmcntc nas mãos do
ção “hipcr-reñclida” assume proporções giganlescas e m°vade toda educad0r. Assm', hoje não há mais uma infância propriamcnle dila,
a pcrspcctíva dc vida da pcssoa. Em dccorrência, seu 515'tcma 1m'u- ncm uma puberdadc. A m'fância foi 4f'clad\a pcla mídia quc, alravés
nológico é enfraquecído c aumcnta em muito a sua susceüb1h"dade da tela, leva para o qumto das criançus lodos os cvcnlos do mundo
a doenças. A parth de cstudos longiludm'a¡s' norle-amcrican'os rea- dos adultos, ocasionando um 1m'piedoso “csclar'ccimcmo” gcraL
hza'dos durantc 14 anos sobre a m'cidência dc can^ccr, sabemos quc fazendo com quc as crianças envclhcçm muilo rapidmenta E a
nos pr1m'cu"os anos após a pcrda de um pdr'ccu'o, seja por mone ou puberdade foi grcmdcmcntc dcsliluída dc sua função pcla “cmcm'ci-
divórcio, o ns'co dc m'cidência de can”cer é cm'co a dcz vezes maior. pação da juvcnludc” quc lransforma cm farsa uma scparação do lar
Este ns'co, porém, só existe se a pessoa em questão “hiper-reflete” paterno onde há muito tempo já não cxistiam laços, fm*ndo com
constantcmente a pcrda, ou seja, qumdo não conscgue se confor- quc os adolescentcs amadurcçam muilo dcvagar'. Podcríamos cilar
mar com a perda, luta em pcnsamcnto conlra seu destm'o e ñca muitos falores quc atualmcmc d1ñ'cullm o proccsso cducativo, scm
rcmoendo as causas de sua perda. quc ls't0, no entanlo, mclhorc a siluaçãoz envclhccimcnlo rápido e
O mesmo ns'co correm os pans' quc não conscguem accilar a amadurecm'cnto lenlo, m'fância perdida c idade adulta prccocc,
deñciêncía f15'íca ou psíquica de um ñlho, lutando contra a situação eletrônim como fascinação c 'udgônCi45' dc libcrdadc como prov0-
ou entregando-se à tns'lcza por causa dela. É cvidente que tudo cação, ctc. Façamos o mclhor dcnlro dcsla siluação, scjamos modc-
dcvcrá ser fcito para ajudar a criança da mclhor forma possích los, mas dclcguemos gradalivamcntc a rcsponsabüidadc; a próxima
Porém, chega um detcrmmado momenlo quando é preciso 00nfor- geração lambém precisa assum1r' larcfas, das quais não podcmos
mar-se com as c1r'cunstan^cias, talvez porque sun'plesmente haja protcgê-la, nem fazê-las por cla.
necessidade de tcmpo e cspera pa01'ente. Nesta siluação, o ma15' Se conscguirmos mantcr na cducaçào a naluralidadc do nosso
1m'portante énão hiper-reflet1r' a problcmática para não colocar em comportamento e a espontwcidadc da vida c da espcrança, sc
r¡s'co lambém a própría saúde; é precns'o ñcar calmo e direcionar o pudermos cnconlrm um mcio~lcrm0 saudável na nossa comum'-
pensamento para o quc ex15'te de positívo, para tüm o melhor cação oral com as crianç45', se nossas cxpcclalivas cm rclação a clm
proveito das condições prescntes. E esta constitui uma verdadeüa não forem ncgativas dcmais, sc aceilmos os scus problemas com
obra dc arte, uma notávcl reahza'ção humana, quc pode ser cons- scr1'cdade, mas com calma, c sc conscrvarmos nossa vxkão abcrla
cicntc c voluntariamente almcjada c concrctlza'da! Coutudo, para pma o quc am'da existe de não~problemáüw', do qual' sc podc extraü
poder extrah 0 melhor daquüo quc ex15'te, é precns'o não só perce-

108 109

m
~m"'
a força para cnfrenlar os problemas, então ls'to serã suñciente;
tercmos cumpn°do com nosso devcr.
4-

A ciência psicológim cmpcnhou-se com a mámm'a prec1sa"o na


.. V-

dcscobcrta dc crros cducaciona15'; dc fal0, não podemos negar que


muílos d15'tur'bios psíquicos das cnan'ças sejam dccorrcnles dc falhas
3.
...

na cducação que lhes fora dada. Porem, goslaria de obscrvar no ñnal


.r

A mulher que trabalha: entre o estresse e a


_4

da mmh'a cxposição quc a atn'buição dc culpa atualmemc foi cle1"-


nada nos casos de divórcio e, analogamente, dcveria sc repcnsar e
reformular aos poucos a atribuíção dc culpa nas d1f1'culdadcs da
realização
educação. Sc jovens dc 13 anos têm idade suñcícntc para m'mm"da-
dcs scxuaís, conformc cilado pclo Instituto dc Pesquns'as sobrc a
Scxualidadc de Frankfurl como “lun1"lc normativo 1nf'crior”, e se os
nossos jovcns de 18 anos quercm a sua maioridadc totaL é precm'o
-«_M_.
xv

quc as fa1xas' etárias m'tcr¡ncdiárias tambóm assumam um pouco dc


rcsponsabmdadc por suas ações, scm logo atn'bu1r' qualqucr fracas-
so próprio aos pals'.
~.= ;_. r

Por excmplo, para citar uma falha educacional qualquer,


.x r -~v-

crianças pcqucnas cxccssivamcntc m1m'adas naturalmcntc não têm Oulro dia li no jornal um lipo dc notícia muilo comumz
culpa pclo seu comportamento scm hm1"lcs, o qual gcralmcme é o
“Cada vez majs mulhcrcs cnlrc 30 c 50 anos lcndcm a aprc~
resullado de tercm sido lão mnn'adas. Porém, adolesccntcs cxccssi- sentar deprcssão. De acordo com obscrvaçôes dc p51'cólogos, as
m--›-

vamente m1m'ados têm a opção, em grau crcscente, de sc aprovei-


mulheres em queslão são gerdlmcntc casadaS', vivcm cm boas com-
tarem ou não desla sítuação cm que tudo recebem; e há certamcntc
dições cconômicas e não conscgucm enlcndcr por quc estão se
~._-«v-

excmplos positívos de jovens que desm'lem volunlariamenle da sua sentm'do lão mal. As mulhcrcs acham quc cslão lhcs swdo fcitas
1m°odcração. Somcnte por ser fácü conscguu' dos pzus' d1nh'cu"o e exigências demals', tendem a pcnsm em exccsso c a sc recr1m'mdr"
presentes, tal atitude não é jusuñ'cável; mcsmo um ladrão quc cntra
por estarem afctando marido c ñlhos com scu ulado dcprcssivo.
numa casa que estava com as porlas destrancadas pcrmanccc um Freqüentemcnte suxgem problcmas no casamcnlo."
ladrão. É uma dcsculpa fác1l' dcma15' quando os adolesccntcs exigem
dos pa15' tudo que qucrem e depoxs' añrmam quc a culpa é dos Gostaria dc cxaminar csla notícia mais dctalhadumcnlc, poxs'
próprios pa15' que os m1m'aram tanlo. Não é tão s1m'ples assm'. O ela contém vários aspeclos quc não podemos dctxa"r passar. O que
adolcscentc, ao longo do scu proccsso de amadurecnm'enlo espm"- dxz,' añnal, a notícia? Muílas mulhcrcs scnlcm~sc mdl'. São “dcpres-
tuaL podc recusar a mñ'uêncía positiva de seus cducadores, o quc sivas”. Certamcntc, ncstc caso, “dcprcssivo” não sigmñ'ca um diag-
prcas'amos aceítar; porém, analogamenle, ele podc rccusar também nóstíco no senlido chnl"co, mas é usado dc acordo com a lcndôncia
a mfl'uência ncgativa de sua cducação c livraI-se do pcso das falhas da moda quc cnquadra loda e qualqucr forma dc mddbposição sob
da educação que recebeu. Não há d15'túrbio psíquico do jovcm em o conccito de dcprcssão. Além d15'so, aciona~sc o almmc publicí-
dcsenvolwm'ento que não possa ser mfl'uenciad0 pela auto-educa- táriozcada vezmais mulheres são deprcssivas. Mas quc mulhcrcs súo
ção do jovemjá amadurecido, a não scr que tenha bases 0rgam^'cas. essas? São mulhcrcs como nos pals'cs cm dc.s'cnvolv1m'cmo, cujos
ñlhos morrcm de fome? Ou mulhcrcs como nos paxs'es mmunistas
Empenhemo-nos então com conñança na tarefa cducacional;
que precxs'am lrabdlh'ar muitas horas por dia nas fábricas, até a
não tenhamos medo de cometer crros, mas esforcemo-nos para dar
um exemplo “d1gn'o”; e conñemos o desnn'o futuro da gcraçãojovem exaustão fxs'íca? Ou mulheres como nos guclos ncgros da Améríca
do Nortc, que não dls'põcm dos maxs' sun°plcs utcnsílios doméslicos
à sua própria responsabm"dade. Ac1m'a de tudo, porém, não delx'c-
c cujos maridos vivcm cm bandos pcrigosos pclas ruas'? Não é nada
mos de dlzc'r “s¡m'” aos nossos ñlhos c educandos, paxa quc um dia
d15'so. São mulhercs geralmente casadas, lrabalhando ou não, vivcn-
possam novamcnle d12'cr “sxm"” aos seus pals' e educadores.

111
110
-v:91
do cm sítuuçõcs econômicas cslávcns', quc não sabcm d12'er por quc tão abaladas cm sua cssência como cm nossa época, quando dcvc-

vrmrnwu
cstão se scnun'do mal. Estranho, nã0? Suulm'ente, poderíamos dxze'r ríamos tcr a contribuição dos conhccimenlos múlliplos dc uma
quc, pclo jeito, o homem não suporta seu próprio bcm-cstar. psicologia “dcsejosa de trazcr a felicidade”.
É o quc observam os psicólogos, e estcs sempre foram eñcien- Contm'uou, porém, a almejada liberlação dc aüiçõcs m'tcrnas.

tmnf
tes ao fazercm observações. O quc se aprescnta aqlú rcalmentc é a Após a dcsm1"bição dos ¡m'pulsos, veio a libcrtação da autoridadc. A
sombra dc um mal-estar amplamente d1fun'dido, quc sc man1f'esta nova mánm'a passou a scr “Não dar o braço a torccr”, válida

~ mm-
há algumas décadas, prec¡s'amcnlc dcsde o m11'agrc econômioo cm 1gu'almente para adultos e cn'anças. As novas rcccitas da fclicídadc
nosso país (= a Alcmanha). Ex15'lc, porém, uma sensívcl d1f'erença eram “defcnder-sc, un'por-sc, saber dlzc'r não". A dls'ciplm'a-1r'mã da
entre a obscrvação e a m°terpretação de um fenômeno, e na m'ter- psicologia, a pcdagogia, assumiu eslas reccilas c, conformc já d1.s'-

.: :,v.~<-x_~. rs_-
prctação os psicólogos nunca foram tão eñcientes quauto na obser~ cunm'os, acabou chegando até a bcüa do caos. Neste mcio lcmpo,
vaça'o. Freqüentemcntc foram fcitas m'terpretações errôncas, o quc prosscguiu a libertação dc lodas as prcssões sociais. “F1n'almente â
também ocorreu, conforme moslrareL na rcferida notícia de jornal devcmos pensar em nós mesmos”, cscrcvcu a psicologia a rcspeito Ê
cm quc a cresccnte tendência para a deprcssão das mulheres foi dc todos os seus csforços c cncorajava o fortalccímento do cgo cm
cxplicada com a frascz “As mulheres acham quc cstão lhes sendo todos os seus escritos quc m'undavam o mercado. Alguém lcvanlava
feítas ex1g'ências dema15', tcndcm a pensar em cxccsso c a sc rccri- escrúpulos? Havia argumentos para sücnciá-los: “Os outros são os ã
m1n'ar”. Esta aflrmação não corrcsponde àvcrdade, c somentc pode culpados pela sua m15'éria! As ofensas infügidas por mãc, paí c meio z
ser compreendida tendo como base uma psicologia antiquada quc ambiente são lodas responsávelk por seus d1$'lúrbios dc comporta-
4e
não tem ma15' vah'dade. mento!” Que bom, até a libertação da própria consciência cstava
sendo consegm'da. O quc am'da estava 0bstrum'do o caminho para a
.'.
Para entcndcrmos esta maneüa antiquada de pensar, precls'a- ix
mos lcmbrar quc o comcço da psicologia ocorreu numa época em fch'cídade? Nada mals'. Os bloqueios m'lernos estavam sendo ehmi'-
nados psícologicamentc e até as cücunslan^cias cxlcrnas começavam 1
quc houve na Europa muita dcsgraça, oprcssão c dcsemprego, e í
a mudax no fmal dos anos cm'qu"cnta com o advcnto da prospcn'dade.
am'da duas Guerras Mundia15'. Naquela época, os psicólogos parti-
Os homens quc já aprenderam a buscar a saus'façã0 de seus ¡m'pul-
ram logícamcntc do prm°cípío de quc o homcm deveria ser fehz' sc
sos, estavam líberados de normu dc auloridadc e contavm com um
não precm'assc mals' passar necessidades; c como os psicólogos não
cgo fortalecido, podiam, de rcpcnte, satisfazcr todas as suas neccs-
se sentiam responsávels' por ckcunslan^cias cxlernas da vida, como
sidades scm problemas: através dc bens de consumo, de parceüos
desemprego e gucrras, concentraram scus csforços para chmm"ar,
dc alguma forma, a añíção m'terna dos homens para levá-los à sua sexums', de dcmonstrações dc podcr, dc rccusa dc quals'qucr emg'ên-
cias cm excesso, dc orientação cxclusiva pelos seus dcsejos... De
fclicidade. Esta foi uma m'tenção muito sm'cera, mas quc mf'ehzm'en-
acordo com os dogmas da psicologia, eles dcven'am estar sm'ples-
tc não dcu ccrto. No fundo, a felicidadc não é “ser livrc de algo”,
mcnte felicí551m'os. Inñnitamente fchzc's. E de repenle 0 castclo de
mas “ser h'vrepara algo”, assunto quc am'da abordarcmos.
cartas ruiu, p015' nunca os homens do nosso progrcssivo "an'e1r'o
De qualqucr manelr'a, durante cm'qücnta anos a psicologia Mundo” esüveram tão mf'elxz'es c psiquicamentc docntes como em
tcntou seriamcnlc ehm1n"ar a aflição m'tcma do homcm. an'cu'a- nossa atual “cultura narcxs'ística”6.
mente, o homem deveria se libertar de todo tormento causado pela
Com d1ñ'culdade a psicologia está aprendendo a mudax seu
pressão dos 1m'pulsos, devendo descarregar sem maiores comph'ca-
pensamento. Precisa recomcçax em muilos pontos. Atualmente, a
çõcs suas neccssidades sexuals' e agressivas. Considcrava-sc como
psicologia está neste processo de rcnovação, para o qual cncontra
cfeito colateral m'evitáve1 que tals' descargas de um m'divíduo só
a mclhor ajuda nas recomcndaçõcs de V1k'tor E. FrankL quc lam-
pudessem ocorrcr à custa dos outros. A máx1m'a psícológica, ruido-
bém fez a advertência de quc, para o ser humano, o mais 1m'portante
samcnlc dcclarada, era: “O mais 1m'portantc é quc nada sc rcpr1m'a”,
não é a liberdade de algo, mas a liberdadepara algo. De acordo com
c, com rcfcrência aos outros, acrcscenlava-sc cm tom mals' ba1x'o:
Frankl, para o homem não é suñcicnte Iivrar-se de quaisqucr obn'-
“Isto é problcma deles”. Com ls'to surgiu aquela contradição estra-
gaçõcs, compromissos c deveres, para dep015' viver num vácuo com
nha na cullura ocidental de que, em nenhum século anterior, quando
amda não sc contava com a ajuda da psicologia, as famílias foram as necessidadcs satls'fcitas, mas é dc pmn'ordial 1m'portan^c¡a' para o

112 113
homcm transformar sua vída em algo quc tenha scntido; ele deve
cxns't1r' para algo, ser bom para algo, scr livre para algo que valha a cultura, e as respectívas tradíçõcs cslabclcciam para clc o quc fazcn
pcna vivcr. Hoje o homem está numa fase dc mudança cm seu dcscnvolvxm'cnlo,

_ .W-.
em quc nem ms't1n'tos, ncm tradições, o conduzcm de forma scgura;
Como tudo 15'to sc rclaciona com a situação da mulher quc
agora ele próprio prccns'a dcscobru' o quc quer famr para dar forma
trabalha? Estas considerações sãoun'portantcs por se relacionarcm
ao seu dcstm'o, a ora prec¡s'a scgmr' seu cammh'o com rcspon-

~W0~m
com a aulocompreensão de cada pessoa, e também da mulhcr que

_.,
sab1h"dade própria . E ncsta larefa atualmenle fracassam mlúlas
trabalha. Enquanto as pessoas conscrvarem a idéia do homem

._, »_. _.u


pessoas quc ñcam depr1m1"das scm razão aparenlc; as causas não

4.
mf'ehz,' que não consegue sans'fazcr suñcientemente seus descjos e

. .,.,
são os fatores estressanles dc cnr'cunslan^cias dc sua vida, mas sua
reivm'dícaçõcs, e por lss'o preczs'a ser mf'el12,' qualquer estado de
plem'tude dc sentido que está sendo questionada.
mf'elicídade será m'terpretado scgundo estcs fatores que 1m'pedem

._v.
o ser-fel¡z,' aqueles fatores chamados cstxessantes, que hm1"tam 0 Abordemos então a situação espec1ñ'ca da mulher que exerce
homem, colocam-no sob pressão, etc. Não se leva cntão cm consi- uma aüvidadeprofíssionaL Esta situação representa algo dc novo na

_., . -
deração que a felicidade não é garantida 51m'plesmente pela ehm1"- evolução da humanidade, pelo menos em nossa soc1'edade. Isto não

.
nação dos fatores estrcssantes, o que nossa época de prosperidade sxgnf1"ca, porém, que antigamenle as mulheres não trabalhassem
acabou freqücntemcnte dcmonstrando. Este ponto dc v1$'ta às vezes Ao contrário, podemos parlü do prm'cípio de quc as mulhcrcs

d
édefendido de forma tão obsthada que, mcsmo quandoclaramente raramente ñcavam com tcmpo livre, razão pcla qual não unh'am
prcdommam condições dc vida positivas, a1n'da aSSIm' se suspcita dc chances de dcdícar-se à arte e à ciência. As mulheres, com cxccssão
certos fatorcs cstressantes ocultos quc dever1am' ser responsávelk daquelas da nobrcza, das “altas socicdadçs” de todos os tcmpos,
pela mf'elicidade, como, por excmplo, no artigo de jornal ac1m'a ocupavam-se no am^bito doméstico desde o amanhecer até o anoi-
mcncionado, que 51m'plesmente añnna sobre aquclas mulheres de- tecer. Quase sempre sua tarefa era criar os ñlhos, geralmeme em
pressivas em boa situação de que elas cstão sendo submctidas a número elevado, tarefa que precxs'avam rcaluar" sob condiçõcs tão

.;-_ .;L._; _ ._w;._~_


exigências excessivas. prum"tivas e mls'erávc15' que hoje nos parecem m1m"agm'ávexs'. No
meio rural, c quando o marido era artíñce, freqüentemente elas

_Ç_1_.
Parece que está acontecendo justameme o contrário. Ems'te,
ajudavam no trabalho dcle para melhorar os rend1m'entos. Prau'-
de fato, a possiblh"dade de cm'gJI'-se dcmals' das forças dc uma
camcnte trabalhavam o dia todo, mas nunca sc quc1xa'vam dc seu
pessoa, mas raramente tal ocorre no caso de excelentes condíções
“estressc”, palavra quc naturalmcnte am'da não ex15'tia. Não é mmh'a
econômicas, c, maxs' raramcnte am'da, tal falo leva à deprcssão.
m'tenção glorLE'car os tempos passados ou dcclarar fchz'cs as mulhc-
Geralmente uata-sc de uma certa m'saüs'fação básica com a vida,
mw gn

res daqucla época; certamente uma grande parcela delas sofña


que surge a parür' dc condições dc prospcridade e acaba d1m1n"um'do
enormemente. Porém, uma vantagem elas tmh'am: não se questio-
a disposição de uma pessoa. Poderíamos d1zc'r quc se Lrata, na
navam acerca do scntido de suas ações. O scntido era evidente:
verdade, das mamf'estações dc pouca axigência espin'tual, um “ter e
tratava~se dc sobrevivcr, da sobrevivência dos ñlhos, do dormm"o das
4

não sabcr para quê”, uma “e›ns'tência e não saber para quê”, a
anr i-m«

forças da natuxeza, da luta pela ahm'cntação, do ser ou não-ser. O


cxperíência de uma ex15'tência dissociada de objetivos mals' elevados
4,_4.-

“poder-ser” constituía senlido suñcicnlc.


,

e valores ma15' profundos. Por que as mulheres, a que se refere


No presentc, porém, o “podcr-ser” tornou-se um fato m'con-
.

u
aquela notícia dejornaL pensam tanto, por quc sc recnm1n"am? Elas

-
estão em busca de algo, não apenas elas, mas o homcm modemo em testách não é nada espccial, ncnhuma graça, nenhuma dádiva, c às
geraL Hoje o homem está cm busca não de objctos comprávc15' ou vezes é alé sentido como um “dever-ser” desagradách como se

:
possibxh"dadcs para saüs'fazer suas necessidades, p01s' tudo ls'to ele fosse um pcsado ônus. Hoje, as mulheres que não querem fazer o
.4-.T

já conseguiu; ele está em busca dc um honz'onte espm'°tual, que trabalho de casa usam para ls'so máqum'as, levm a roupa à lavan-
4 - 4

dw
pudcssc novamcntc dar à sua vida uma oricntação e um conteúd0. deria, compram comida pronta. As mulhcres que não quetem na-
-

Na sua evoluçã0, o homem permaneceu durante m11'ênios cm estado balhar fora ñcam em casa e vivem dos rend1m'entos dc seus maridos
semi-an1mal'esc0, c os ms'tm'tos lhe d121"am o quc deveria fazcr. ou dc sua família, ou, se for prcc¡s'o, apelam para o auxílio-dcscm-
~ m“.'F<UAÁI-'f7l~w-vlom z›

Duranle outros tantos m11'êm'os, 0 homcm já era um ser produzmdo prego ou ass¡s'tência sociaL As mulheres quc não qucrem tcr traba-
lho com ñlhos tomam a pílula ou, se têm ñlhos não-planejados,

114
115
colocam-nos em m'tcrnatos ou sob os cuidados de outras pessoas. am'da não perccbcram a plcnitudc dc scnüdo cm scu Lrabnlho
As mulhercs que não querem assumu' compromls'sos ñcam solleüas proñssionaL Encontram-se enmrz dots' grupos de valores, ambos cu-

mnw
ou se divorciam, ganham seu próprio dmh'eu"o scm tcr que compar- carados com ceticismo por clas, para cuja inlcgração harmoniosa,

Jw
t11h'á-lo com nm'guém... Não 1m'p0rta qual cstüo de vida que alguém do pomo dc vísta histórico, livcram incompmavclmcnlc mcnos
prcferc, o scu “podcr-ser” é garantido de qualqucr maneu'a; é d1f1"c11' tcmpo dc aprcndizang do que os homens. Mcsmo assim, csta
que anuém sucumba. Nestc campo do “ser-em-todo-caso”, a ques- m'tcgração é possívcl e, dc fato, pode signiñcar um cnriquccmcnto
tão sobrc o motivo das ações pessoais se coloca em um nível d1f'e- de toda a cx15'tência da mulhen Para que ísto seja possívcl, porém,
rentc daqucle do passado. Se anügamente as atividades eram é prccns'o abandonar a idéía do ctcrno cstrcssc e cnquadrar mcntal-
ncccssariamcntc um meio para a manutenção da cms'tência, hojc a mentc a atividadc proñssional cm algo como uma cerulura dc
cxistência pode scr mantída como um mcio para fazer al'go com ela sentido.Assm1,' chegmos novamcnlc ao prmcípio logolcrapêuúco
c a pcrgunta não é ma15' “o que faço para vivcr?”, mas “cu vivo para que comcçajustamcntc naqucle ponto fraco, que conuhua m'ercntc
fazer o quê?” Para os homens, esta m'versa'0 do qucstíonamento não à vida modema, apesar dc toda libertação de bloqucios psíquicos e
vcio tão abruptamentc COmO para as mulhcrcs. Ao tercm oportuni- da prospcridade que am'da cms'te: trata-se da m'constan^cia dc uma
dade de optar por uma proñssão, os homcns sempre tiveram um geração humana à qual nem os instm'tos, nem as tradiçõcs oferecem
aspecto em sua vida que ia para além da s¡m'ples manutenção da d1r'etnz'es, e da situação mod1ñ'cada da mulhcr, que precisa lrocar
cxistência c se d1r'igia para uma taxefa objetiva. O sapateüo e o um contcúdo de scntido antiquís"simo por um novo para que não
ferrcu"0 ccrtamcnte trabalhavam para sustentar a si e a sua família, caia num vazio esp1r'itua1, apesar de toda agitação cotidiana.
mas, natuxalmentq também queriam fabricar bons sapatos ou arte~
Quem, como eu, atua na prática ps'icotcrapêutica e frcqüen~
fatos de metal útexs', 15°to é, o sentido do trabalho para elcs era
temente lida com mulhercs mf'elizcs, sabc que a questão do sentido
mul'tiplo, estendia~sc da satisfação dc suas necessidadcss próprias
é um problema central básico que grandcmcnte se sobrcpõc a
e as de sua família para o mundo externo, ao qual deveriam dar
qualqucr outro problcma (como exigências senüdas como exccssi-
forma e com o qual devcriam med1r' forças. Am'da hojc é norma geral
vas, fracassos ou outras añíçõcs) c o pcrmcia. Mulhercs em posíçõcs

«qu-WW-
para o homem que elc vcja cm sua proñssão mals' do que um 51m'ples
as mais diversas buscam oricntação, tanto mulhcres sem família ou

_A«
ganha-pão; o trabalho devc m'teressá-lo, cle deve engajar-se nelc,

x
sem proñssão, quanto mulheres com o ônus duplo de ambas, tanlo
devc torná-lo a sua área pessoal de atuação.
mulhercs que são somenle donas-de-casa com família, quanto mu-
As mulheres, ao conlrário, tiveram que adaptar-sc às novas

NCvr
lheres que exerccm uma atividade proñssíonal e vivem sós. Será que
cu'cunstan^c1'as. Durante séculos dcdicaram-se totalmente à família. estcs cspaços vitals' diversos levam a aútudes d1f'crcntcs perantc a
Praticamente não conhcciam trabalho que não fosse para a família. vida? Infehzm'ente, precxslo rcspondcr que, no sentido negaüv0, não
O scntido de seu trabalho era sua família, a qual se beneñciava com é o que ocorre. Quando a m'satisfaç_ão com a vida e a sensação de
ele. E, de repente, arrastadas pela onda de emancipação psicolo- falta de sentido de qual'qucr atividade aparecc~m, todas são 1'gua15';
gicamcnte fundamemada, encontram-sc diante de um trabalho pro- chega-se a ter até a suspeita dc que quanto melhorcs as condições
ñssional que nada tem a ver com sua família, a não scr talvez quanto de sua vida, piores as pacientes se sentem, o que já foi abordado na
ao dmh'elr'o com que contribuem para a família.A551m,' a m'ovação referida notícia de jornal.
na atividadc proñssional da mulher modcrna não é absolutamcnte
As mulhercs sem família nem proñssão qucxx'am-se do vazio e
o fato de sua produtiv1'dade, mas a centrahza'ção externa de scu
da m'ut1h"dade de sua vida, da soh'dã0 que as tolhe e da monolonia
trabalho, começando com a saída de casa da mulher, que afeta os
dos dias que p45'sam. Por outro lado, as mulheres que têm famílja e
ñlhos, e lermn'ando com a cntrada da mulher num espaço vital
proñssão que1x'am-se do tcrrível cxccsso de trabalho, de estarem
d1f'erente daquele que delx'ou em casa. É um espaço vítal que
divididas entrc as duas tarefas e da scnsação de nunca saüsfazcrem
desconhccia desdc tempos 1m'emoriais.
as cxigências de nenhuma dclas para ficmem cm paz consigo pró-
Aqui sc mamf'esta o ponto fraco de toda a cstruluraz as prías. As mulheres que só trabalham na famílía alimcntm seus
mulhercs de nosso tcmpo perdcram grandcmente a sensação de complexos de mf'erioridade, sentem-se colocados à partc do mund0,
plenitudc de scntido em seu trabalho doméstico, mas muitas vezes ñnanceüammte dcpcndentes e tolhidas no seu dcsenvolwm'cnto

116 117
c desespcradora que scja. Há semprc uma alitudc cspu'1'tual diantc
pcssoaL exploradas como Cm'derelas considcradas mg'ênuas dcmals'
dela, considerada a mais adequada do ponto de v1$'ta psico-hígiêni-
para rcahzar'em algo melhor. Por sua vez, as mulheres quc só têm
co, por apreender o mclhor possível daquela situação c colocá-lo
sua aüvidadc proñssional, sem família, acrcditam ter pcrdido o mals' em pr1m'elr'o plano. “O positivo cstá em nós mesmos, ou em lugar
¡m'p0rtantc em sua vida, gostariam de ter um parceüo c de scr mãc, nenhum”, foi o que aprendi com mcus pacicnlcs; o posilivo não é
e receiam que o tcto desabc sobrc suas cabcças quando à noitc algo que rccebcmos do mundo cxtern0, scrvído numa bandcja dc
chegam a abru' sua casa cscura, onde mn°guém está à cspcra delas. prata, é algo quc nós precismos 1r'radiar para o mundo cxterno, a
O Ieitor quc decida se realmcnlc é o estresse que acaba com essas partü do lugar que ocupamos na vida, para que possamos recncon-
pessoasl Seriam os descjos e 1m'pulsos ms'atls'feitos, quc não podcm trá-lo cm qualquer lugar que nossa vista alcancc.
scr vivencíados? Seriam as reflexõcs c auto-recr1m1n"ações que tor~
nam a pessoa depressiva? Seriam as c1r°cunstan^cias externas que Nestc scnüdo Frankl fala dc uma noodinâmica saudávcl, cm
anulam a alegria dc viver? que a palavra “nous” sigmñ'ca cspírito ou sentido, e “dm'am1"ca”
expressa um mov1m'ento, um mov1m°ento do espírito humano. De
Não scria antes quc as quema°s dcstas mulheres mf'ehze's de~ acordo com a conccpção de Frankl, não podcmos nos tornar cstá-
monstrcm uma perccpção de scntido cm todas as outras posiçõcs, ticos, pcrmanecer em um estado qualquer, mcsmo que seja um
mas uma falta de d15'posição para rcconheccr as possibmdadcs de estado de totdl' equ1h'1)rio m'temo, 0 qual não é mesmo possívcl
sentído daprópria posiça'o? Como scria sc “as mulhcrcs scm família alcançaL Duramc toda a vida a pessoa prccxs'a eslar sob uma certa
e scm proñssão” não se lamenlassem sobre a m'ut111"dadc e a mono- tcnsa'o, poderíamos d126'r sob um cstresse bem dosado, sob a tcnsão
tonia dc seus dias, enquanto que “as mulheres com família e proñs- entre o “scr” (o quc é) c o “dever-scr” (o quc deveria v1r' a ser); e
são” se alegrassem por causa da necessídadc absoluta de seu esta tensão só pode scr d1m1"nuída pelas suas ações, pcnsamentos e
trabalho e da van'cdade de scu dia~a~dia? E, por outro lado, como reahza'ções. Uma mãe, por exemplo, quc ccrzc as mcias de scus
seria se “as mulhcrcs com família e proñssão” não reclamassem do ñlhos, conhece m'tuitivamente esta tensãoz o “ser” são as mcias
excesso de trabalho e de seu desassosseg0, enquanto que “as mu- rasgadas c o “dever-scr” é 0 vestuárío bem ctúdado de seus ñlhos.
lhercs sem família c sem proñssão” se alegrasscm por causa da atual E ambos só podem entrar em sm'lonia sc a mãe cxecutar cste
pausa para descanso e da oportunidade para rcñexão e rcorienta- trabalho, ou talvez comprar meias novas, o que, conformc as cu'-
ção? Algo semelhante é naturalmcnte válido para as outras conste- cunstan^cías, podc ser justmcado (se, por cxemplo, cla ncccssitar
lações dcvida. Ao m°vés de “as mulhcres quc só vivcm para a famílla'” deste tempo para algo mais urgente do que cemr' as meias, ou scja,
se sentkem como Cm'derelas desvalonza'das, “as mulheres que só para um outro “dever-ser” quc eslá em tensão am'da maior em
trabalham fora” poderiam se orgulhar de sua m'dcpendência e relação a um outro “ser”). De qualquer maneu'a, com a renovação
capacidade dc dcscmpenho, quc lhes traña auto-añrmação e auto- das meias, a mãe extrahá uma leve sensação dc plenitudc de sua
conñança. E ao m'vés de “as mulhercs que só excrcem atividade ems'tência, dccorrentc dc tcr cumprido uma cxigência do “devcr-
proñ551'onal” chorarcm por uma família m'ex¡s'tentc, “as mulhercs ser”. Se alguém argumcntar que é justamente a constante subm15'são
quc só sc dedicam à família” poderiam agradecer a felicidade de a quals'qucr normas do “dcver-scr” que faz o homem senür'-se
viverem um companhcms"mo e a materm'dade, que deveriam ser tcm'velmentc coagido, cstá esquccendo dc que as coaçoc's são
cuidados e prcscrvados. rcpresentadas por aquclas exigências do “dever-ser”, por partc do
Todas cstas possibxh"dades dc sentido cstão à dls'posição dc ambientc, quc a rcspectiva pessoa, no fundo, não aceita, com que
nós mulheres, de acordo com nossa respectiva situação de vida, além nao' concorda. Uma coação, por cxcmplo, seria se a mãe un'puscsse
de termos uma grandc variedade de diversas atividades secundárias à ñlha um “dever-ser” no sentido de que esta deveria cemr' logo
adicionais quc não carecem dc um contcúdo de sentido, como suas próprias meias, enquanto quc, na opm1"ão da ñlha, não havería
possibilidade de contm'uar os estudos, hobbis, contatos com amigos, pressa porque ela a1n'da tem bastamc mcias em bom estado.
atividades na comunidade, viagens, trabalhos ams'ticos ou manuals', A noodm'am1^'ca não se refere a eñgências de oulras pessoas
esportes, jogos, etc. - 15°to se estivcrmos dls'postas a pcrceber e quanto ao dever-scr, exigências com quc a pessoa não se x'dcnuñ'ca.
aceitar o desaño de toda e qualquer situação concreta. Nenhuma Trata-sc, no caso, de um dever-ser que se abre para o próprío eu,
situação na vida humana é destituída de sentido, por maxs' hm1"tada

119
118
daquüo para o qual sou necessário agora, aqui e hojc, do desaño claro o que sigmñ'ca quc “o posilívo cslá cm nós, ou cm Iugar
sm°gular de uma situação única, que nunca ma15' se repete. Se ncnhum”.
percebcrmos, aceitarmos c buscarmos este dever-ser nood1n'am1^'co,
Mencionci antcriormcme quc toda atividade proñssional tcm
a recompensa talvez scja trabalho, talvez esforço, taJvez estresse,
mas, acun'a dc tudo, rcahza'ção. um cspaço de apro›nm'adamcntc 10% para íniciaüvas próprias c
estruturação pessoaL mcsmo quc scja apenas quanto à nossa alilude
Com relação à ativídade proñssionaL 0 que podcmos deduzü com quc m1"ciamos o nosso progrma díário. Para o 11x'cu'o, esle
dlss'o? Provavelmente, todos d1r'ão: o dever-ser de nosso descmpe- pequeno espaço livre sigmñ'cava que podcria ou não salvar das lalas
nho proñssional é dclermmado em noventa por cento por cxigênaas' de hx'o materials' reunhzá"vels'. Nem scmpre, porém, a passividadc
alhc1as'. Dc fato, é assm'. Os outros, nossos superiorcs, nos dlzc'm o constitui uma alternativa com menos scntido, p015' há situações em
que dcvcmos fazer ou, se somos nós próprios que ocupamos uma que dmxar' de fazer algo lerá mais senu'do, por cxcmplo, o dcsgastc
posição dc responsabxh"dadc, as prcssõcs da realidade objctiva nos físico total quando colocado a serviço dc planos ambiciosos. Uma
m'dicam a d1r'cção a ser tomada. Assnm' mesmo, gostaria de regatear palavra cordial para a colega de trabalho, quc esum'ularia um bom
os 10% reslantcs. Toda proñssão, dc qualquer lípo, encerra sempre relacionamento, pode ser mais 1m'p0rtante do que lcntar conscguk
um espaço pcqucno e m'dctcrmm'ado, um cspaço livrc, quc só pode elogios do chefc, quc favoreceria o m'dividualismo. A screnidade
scr estruturado por aquele que exerce csta proñssão. Um espaço numa posição dc cheña pode orígm'ar um chm'a de lrabalho melhor
pleno dc possib11i'dades, as qua15' não se origm'am do plancjamcnto do quc controles rígidos, quc produnr'iam dcsconñança. A pausa
c das exígências do empregador, mas unicamente da sensib111"dade para descanso no mcio do trabalho podc scr ma15' provcilosa, cspc-
noodm'am1^'ca do emprcgado; ou, sc com'cid1r'cm cmpregador c em- cialmcnte para mãcs que trabalham forà e precisam estar a postos
pregado, não são originários dc um dcvcr-scr objctivo, mas de um também após o trabalho, do quc subir alguns dcgraus na hícrarqu1a'.
engajamcnto m'dividual. Trata-se, s¡m'plcsmcnlc, das oportunidades Como é d1f1"cil descrever “aqucla única ação neccssária no momen-
práticas de encontrar reahza'ção proñssionaL to”, deñní-1a segundo critórios gerais, mas como, apesar dxs'so, é fácü
Estas possib1h"dades 111m1"'tadas ex1.S'tcm também em proñssões dc ser descoberta por aqucle que sc orienta pclo sentido da situa-
muito sun'plcs, quc pcrmitem pouca criat1'vidadc, conformc mostra ça'o!
a h15'tória de um hx'e1r'o, contada pelo bls'po Georg Moser8, para ch'm de nós mulhcres que somos pcssoas que se dexxam'
demonstrar a potencíalidade de scntido cm qualquer lugar de tra- guiar maxs' pelo sentlm'enlo do quc pela razão, que pcnsamos orien-
balho. O refcrído hx°eu'o recebeu há anos uma condecoração de tando-nos ma15' pelas pessoas do quc pelas coisas. É possível que
méríto do governo por ter m'cansavelmente recolhido do hx'o bnn'- algo disto seja verdadeiro, embora 45' costumciras exccçõcs conñr-
quedos quebrados e tê-los consertado, peça por peça, à noite, para mem a regra. Podcmos dnz°er com certcm, porém, que a psiquc da
depms' presentear com eles crianças nccessitadas. É 1m'portante mulher reage d1f'erenlemcnlc da do homcm em alguns aspectos. Isto
considcrar quc estc homcm podcria lcr fcito uma opção totalmcnte sigmñ'ca que, com o suxg1m'ento da atividade profissional da mulher,
d1f'erente. Podcria ter sc ms'talado, mclancoh°camentc, diantc de m'trodu21r'am-se novas perspectivas no mundo dc trabalho até cntão
uma garrafa de cervcja, ou da TV, entrcgando-se a idéias de auto- dctcrmm°ado pclos homens. Não mc rcñro a uma “afeminação” do
comls'eração, pcnsandopor quc fora tão ncgligenciado pclo destm'o, trabalho em si, mas a uma maior amplitude quanto às mane1r'as dc
poxs' estava só, sem famí1ia, c exercia uma proñssão “fedida”, scm execução no local dc trabalho. Ao mcsmo tempo, islo rcpresenta
csperança de melhorar proñssionalmcntc. Uma vida cstragada... uma oportunidade gcnuína para humamzar' a rotm'a rígida dc qual-
mas 0 que fez dela na realídade? Ao desempenho de seu trabalho qucr proñssão, numa combm'ação de um pouco de cmpatia fem1mn"a
diário, em sí já pleno de senlído, acrcscentou uma nova d1m'cnsão e dedicação matcrna, quc podem scr aplícadas a muitas sítuações.
de scntido, ou seja, a transformação de algo sem valor algum em
Não é gratuitamcnle que há tantas mulheres lrabalhando nas
algo vah'oso, prccnchendo com conteúdos seu tempo dc lazer, c 0
áxeas pcdagógicas e assm'tenc¡'a1's, pois saber cuidar de üglém já é
ato de presentear crianças neccssitadas, criando uma ponte m'ter-
m'crente a elas a parür' de sua concepção biológica, cnquanto que a
pessoal de sua solidão para outras pessoas. Nestc cxemp10, torna-se
ñxação emsi mesmo constitui uma violação dc sua própria natureza
fem1mn"a. Uma mulher não preas'a ser mãe para ser fehz°; nem

121
esta lacuna. O colapso psíquico dcsta mulhcr aparcntcmcnlc foi
prects'a ser esposa para encontrar a felicidade. Porém, a mulher desencadeado pela rccstruturação cm scu local dc lrabalh0; mas foi
prccxs'a cuidax de alguém, de alguma forma ela precnsa' dar, senão apenas desencadcado, e não causado, por cla. As causas não sc
não podcrá rcccbcr fch'cídadc, c nem sc “auto-rcahza'r”, que não é cncontravam no espaço cstenhta"'do de sua nova alividade, mas num
realmcnlc o objetivo máximo das asplr'açoc's humanas. O eu não sc longo processo dc negligência gradual dc possibiüdadcs dc scnu'do,
rcahza' num vazio. O eu constinú apenas um conccito abstrato, que cspecialmcnte nas relaçõcs 1'ntcrpcssoans'. A únim ponte pma o
concretamentc não cns'tc por si só. O quc ens'te são semprc possi- próx1m'o na vida desta mulher era seu contato com os clienlcs, e
bilidadcs dc sentído numa reah'dadc, que é justamentc a rcalidade quando este foi m'terrompido, sua pontc desmoronou.
do scr humano, onde se forma um cu humano através da rcahza°ção
Não me sm'to capacitada para julgar sc o divórcio rcalmcnle
ou da neglígência de tms' possíbiüdadcs.
tmh'a sido m'evitávcl. Scm dúvida, a convivência com um alcoólatra
Uma mulher, de alguma forma, prec1$'a poder dar, c 15'to não representa um destm'o d1f'fcil, às vezes eslando bcm além das forças
tcm nada a vcr com uma “síndxome dc ajuda”, mas unicamentc com de uma pcssoa para suportá-lo. Mesmo assnm', também cstc deslm'o
o conteúdo clementax de toda ex15'tência humana, quc, pcla sua tem sua possíb1h"dade de sentido; diante do fato dc quc o homem
natureza, é orientada para uma “cxistência para algo ou alguém”, morreu tão pouco tempo após o divórcio, e de quc podemos supor
no homcm talvez mals' para uma “c›us'tência para algo”, na mulher quc elc estivcsse scriamcnte docnle, não podcmos afastm a hipótase
talvez mals' para uma “e)us'lênc1a' para alguém”. De qualquer manci- de quc a mulher t1nh'a sído, ou podeña tcr sido, um ul'um'o apoio
ra, porém, é fundamcntalmente uma cxxs'tência orientada para a para seu marido. Também não qucrojulgar o aborto reahza'do. Scm
transposição do próprio cu em d1r'eção a uma tarcfa a ser rcahza'da dúvida, de uma maneüa ou de oulra, 0 homcm não tcria conseguido
pelo eu. assum1r' seu papel de pai, e certamenle não é fácü criar um ñlho
É possível que a “e)as'tência para alguém” possa ser associada sozmh'o. Mas csta tarefa também contém possib1h"dadcs dc scntido.
à proñssão; sc não for víável m°trms'ecamentc ao trabalho, deve scr Quando se m'terroga mães soltciras se se arrcpcndcram de sua
procurada pelo menos dentro daquelcs 10% dc espaço pcssoal que materm'dade, geralmcnte d12'em que não podem ma15' 1m'agm'ar uma
ex15'te exn qualqucr campo de trabalho. Também é possível que a vida sem seu ñlho.
“c›us'tência para alguém” encontrc scu ccntro dc gravidade fora do Porém, mesmo partm'do do pnn'cípio de que ambas as dcci-
trabalho, na família. Porém, se a proñssão for pouco adcquada para sões da mulher tcnham sido corretas, ou m'cvilávels', levanta~se a
uma “e›us'tência para alguém”, e se faltar a famí1ia, a “e›ns'tência para pcrgunta sobre que conteúdos de sentido ela soube colocar em sua
alguém” deve ser buscada no tcmpo de lazer; mas se ls'to também vida no Iugar das tarefas 1'ntcrpcssoa1s' que recusara. E venñ'ca-se
não ocorrer, há 0 ns'co de algo pior que a depressãoz o vazio. que não eram muitos. Desconflava dos homens, não sentia muita
Uma vez tive em tratamcnto uma mulher que se divorciou de añnidadc com as mulheres, não dcsenvolvcu hobbies c nos ñns dc
seu marido por elc ter sido alcoólatra. Ela provocou 0 aborlo de um semana dedicava-se somentc à hm'pcza da casa. A uma vida dfíicil
ñlho que esperava dele. Algumas semanas após o dívórcio, o homem ela prefcriu uma vida vazia, cm que a proñssão rcprcscnlava sua
morreu. Ela ñcou sozmh'a, mas t1nh'a uma boa proñssão, traba- úníca obrigação. E isto é perígoso.
lhando como bibliotecária numa grande bibüolcca. Tmh'a um bom Qucro associar duas advertências a cstc exemplo, duas advcr~
relacionamcnto com os clientes c gostava de orícntá-los dctalha- têncías d1r'igidas à mulher quc trabalha f0ra. A pnm'eirajá dls'cuti-
damente. Um dia, porém, atr1'bu1r'am-lhe uma nova tarefaz deveria mos, é a neccssidade dc uma “e›ns'tência para alguém” que nunca
rccatalogar todos os livros. Para ls'so, ela foi Uansferida para uma devemos perder de vista, mesmo que nos 1'dcnuñ'quemos totalmeule
sala separada do públjco, onde podería cfetuar o m'ventário em com o trabalho, que tcnhamos pouco tempo livre ou quc sejamos
silêncio e sem m'terrupções. E de rcpente ela teve um colapso complctamentc absorvidos como força de trabalh0. É contrário à
ncrvoso. essência do ser humana, e especialmenle à essência da mulher, não
Aqui podcmos reconheccr claramente o vazio exts'tencíal na ter relacionamentos mais m'timos com outras pessoas, um rclaci0-
falta total dc qualquer “c›u'stência para alguém”. Uma ex15'tência namcnto dc amor no sentido maJs' amplo, em que podemos m'clu1r'
para a ordenação de p11h'as dc numerosos h'vros não pôde prccncher os cuidados com os ñlhos, as amza'des, os m'tcresses compar-

122
u1h'ados, etc. A scgunda advcrtência se ms'ere na pr1m'elr'a, relacio- as várias possibxh"dadcs com alcgria mf'antil. Após pouco tcmpo, cla
nando-sc à un11'atcmh"dade da proñssa'o. A proñssão é um conteúdo se amm'ou e consultou a paróqnia a que pcrtencia se pudcssc añxar
de vida 1m'portante e valioso, não devemos transformá-lo, porém, no um cartaz, oferecendo um curso scmanal dc literatura para leigos.
único contcúdo de vida. Não o idolatrcm059, pozs' então ca1r'emos Recebeu a pcmus'são, e esta foi a melhor idéia quc pudcssc tcr Lido,
num vazio, ccrtamentc por ocasião da aposcntadoria; mas também po¡s' cste círculo literário, que cns'tc até hojc, foi a rcsposta cxata
um período de docnça, as fénas' e qualquer feriado podem se para nossos quesu'onamentos. Ele preenchcu sua vida pcssoal, obri-
transformar em catástrofes. Ou 51m'plesmcntc uma mudança na vida gando-a a preparar em casa comentários sobrc livros ou sclcçõcs dc
proñssional quc altera as costumeüas condições de trabalho, como textos; forneceu a ela a oportunidade para encontros m'terpcssoms',
freqücntcmcnte acontccc hojc cm dia, com a m'trodução dc compu- a partü dos quals', no presente, está se cns'tahzan'do um relacio-
tadores c robôs. Para nós psicoterapeutas constitui uma VIs'ão dc namento muito harmonioso; e, além dls'so, dcu à sua proñssão
horror observar o descnvolvxm'cnto dc uma gcração em que cada aquele fator adicional dc scntido quc cstava faltando, pois scus bons
m'divíduo, sepaxadamcntc, estaxá um dia numa saleta, sentado dian- conhcam'entos do mercado dc livros capacitam-na a fazer recomcn-
te de um vxs'or, onde estudará, se d1'vcrm'á, fará compras e traba- dações às pessoas que gostam de lcr c a dcscobrü autores adcqua-
lhará. Não teríamos absolutamente condições de atender esta dos ao gosto dc cada um. É dcsnecessárío d12'cr quc não só a mulher
avalanche de pessoas, deformadas psíquica e ñsicamentc se curou através desta idéia origm'almente concebida como terapêu~
Talvcz o lcitor esteja m'teressado em saber como se desenvol- tica, como também muitas outms pcssoas se bencñciaram com cla.
veu 0 caso da bíbliotecáría. Como um tratamento logoterapêutico Mencione1'1m"cialmente que a ps_ícologia está atualmente co-
scmprc tcm como objctívo ajudar os pacientes para vcrem as possi- meçando, aos poucos, a mudar scu pensamento. Casos como o
b111"dades de sentido em suas vidas c conscienhzá°~los da respon- a01m"a dcscrito mostram que nem scmprc adianta desenterrar vclhas
sab111"dade ligada à sua libcrdade - não de, mas para algo - também histórias. Sc tivcsse colocado no centro da tcrapia dessa mulhcr os
neste caso partun'os conjuntamente numa viagem dc descobcrta. A conñítos de seu casamento e de sua gravidez, ela poderia ter desa-
qucstão era oomo a vida pessoal dcsta mulhcr pudesse ser reestru- bafado em m'tcrmm'ávels' horas dc terapia, nada, porém, teria mu-
turada para contcr mals' valores, como suas capacidadcs m'tcrpes- dado cm sua situação presente. Assun,' porém, cla aprendeu que
soa15' pudessem ser desenvolvidas e como podería descobnr' em sua qualquer fase da vida, qualquer evolução proñssional, enñm, qual-
proñssão talvez um conteúdo de sentido adicional Não foi fác11,' quer momento da nossa existência, tem suas oportunidadcs positi-
porém, paIa que eu deslanchasse nela uma luta espm"tual deste tipo, vas, e que todas as oportunidades aprovcitadas c vivenciadas
poxs', m1"cialmentc, a clientc recebeu da parte de seu médioo uma constitucm a plenitudc dc nossa vida.
dosagem tão clcvada de tranqwhzan""tes, que mal podia pronunciar
Por ls'so, gostaria de aconselhar as mulheres que exercem uma
seu próprío nomc, e muito menos estava em condições de dls'cut1r'
atividadc proñssional que não tcnham medo do estrcssc, mas quc
as possib1h"dade5 de sentido de sua vida. Tríunfou ma1s' uma vez a
temam a sensação dc falta de sentido de suas açõcs ou não-ações,

_.sm.=u .=
tesc do estrcsse, 0 qual forçosamente deveria estar por detrás de
devendo ter cuidado para não delx'ar nem aparecer tal seusação.
todas as cns'es nervosas, e que só poderia ser tratado mediante um
Não troquem uma vida d1f1"c11' por uma vida vazia, p01s' in'am se
repouso ma15' ou menos arnñ'cial. Somente depois que telefoneipara
-.,;_. ,.4

arrcpender amargamente desta troca. Não elevem sua profissão à


o médico que tratava dcla e, cm pnm'c1r'o lugar, me certlñ'quei de
. .

posição de um deus, ela não o é. Ao invés disso, descubram na sua


quc não havia suspeita dc uma psicose c, cm scgundo lugar, cxpus
proñssão todas as d1m'ensões de sentido que ela possa encerrar e
a ele que, no fundo da problemática, não havia um excesso de
vivam-nas, ass1m' terão uma recompensa adicional para seu traba-
exigêncías por parte da situação presente, mas muito ma15' um vazio
lho, além do salário. E, por maxs' banal que possa soar, não se
ems'tencial, o terreno estava livre para uma gradual redução dos
esqueçam do amor além da proñssão; além da “e›us'tência para algo”
psicofármacos e o início de nossos diálogos logoterapêuticos. há sempre a “e›ns'tência para alguém”, que é a coroação de uma vida
Logo pude observar com satls'fação como, uma vez que a humana, e cspecialmentc dc uma vida fem1n'1n'a. Nem sempre vive-
mulher estava no cammh'o certo, surgüam dcla idéias c sugestões mos em condiçõcs boas; há também momcntos sombrios, solitários,
para o enrique01m'ento de sua vida, e como cla começou a explorar tns'tcs..., mas, mesmo ass1m', todo momcnto da nossa vida é cons~

124
truído também por nós, com dkecionamcnto c rcsponsabüdadc
próprios. Ram'er Ma:ia R11k'e eslava certo quando escreveu a este
rcspeíto o scgumtcz
“Ouando teu dia-a-dia tc parecer pobrc,

A._. 4.
não o acuses; acusa a ti mesmo
por não ser fortc o bastante

.4_.
para despertar suas riquezas.” 4.
O homem que trabalha: entre o sucesso e a
dedicaçáo

w.. _ ,
.M›
No mcu trabalho psicotcrapêutico, tcnho mais pacícnlcs mu-
lhcres do que homens, scndo este o motivo de, alé agora, ter mc
ocupado ma15' dos problcmas das mulhcrcs c mãcs. Quc os homcns,
c especialmcnte os pa15', não mc levem isto a mal, Iambém suas
preocupações scrão abordadas. E, atualmcntc, suas prcocupaçõcs
são muito sérias, po¡s' estão cada vcz maxs' pcrdcndo scus ñlhos, por
mais chocante que possa parcccn
Os relatórios anua15' de atividades do meu ccnlro dc aconsc-
lhamcnto, em quc também são anahs'ados os dados estatíslicos sobre
os clientes, revelaram que, em média, apenas um lcrço dc 1odas as
cn'anças atendidas está morando com scu paí lcgíum'o; todas as
outras crianças, ou não têm paí, ou têm um pai substituto, ou [êm,
como ñguras de “tios", conhecidos dc sua mãc. Considcrando que
gcralmcntc as crianças são trazidas para nosso ccmro de aconsc-
lhamento por distúrbios em seu descnvolw'mcnto, pode-sc facilmcn~
te concluu' que ao pai, e, no caso, ao pai verdadeiro,1egítzm'o, cabe
um papcl muito 1m'portante na educação, quc não podc scr substi-
tuído tão facúm'cntc, como sc pcnsa muitas vczes em questões de
scparação e divórcio. Os ñlhos precns'am dc mãe c pa1,' prccns'am do
amor de ambos, e do rcspeito peranle ambos; c tcnho a fortc
suspeita de que, cspecialmente o pm,' por ocasião da desinlegração
dc sua família, não dá amor suñcicntc nem rcccbe 0 respcilo quc
mereceria. Geralmenle transforma-sc então em “pai de domm°'go”,
_.v

que tenta compcnsar o gradaüvo alheamento dc scus ñlhos com


ÊÍ
Lz
_ ._ .- -

127
xux
mun s
---_
presenles materim5', pagando ahm'cntos para as conscqüências de palavra, precisa suceder (do lzmm' succedere = vu' após ou dcpois),

vxm
ações pelas qua15° não pode mais assumJI responsabm"dade. acontecer, e não podc scr forçado. Succsso é um cfcilo colalcraL

.T
4
um “presentc adicional" pma a dcdicação. lslo sigm°ñca quc, sc uma

.›.
Com 1s'to não qucro dlzc'r que todos os órfãos de divórcios pessoa puder se enlrcgar ao scu trabalho, lcvada pclos objclivos
estariam em melhores condições junto a seu pai, ao m'vés da sua
dcsta causa, c convencida da m'lcgridadc c 1m'porlan^cia dc sua aça'o,
mãe. Também não tcnho resposta para a pergunta de como os ñlhos então talvez tcrá am'da o sucesso como complemcnto para scu
de um casamento fracassado pudessem scr melhor “repartidos”,
trabalho. Sc, porém, alguém sc afcrrar à idóia dc oblcr succsso, quc

W\_
p015' a pergunla em si já é uma má resposta a uma pcrgunta tolal-
quer alcançar de qualquer man'eu'a, 0u, por oulro lado, sc se dmxar'
mente d1f'erente, que surge para todos os pa15': a pergunta sobre levar pela roun'a, enquanto seus pensamcntos estão cm outro lugar,
como podcriam fazer jus a seu dcver dc pals, um dcvcr quc volun-
então não estará ligado ao 45'sunlo dc seu trabalh0, cstará dls'Lraído,
tarmm°cntc assum1r'am. Na realidade, os pals' não podem 51m'ples-
falta também a dcdicação ao scu lrabalho, e oom ls'lo dcsaparcccrá
mente rcpartk os filhos, só podem perdê-los c, como d1$'se, o pai é o “prcsentc adicional”, o succsso.
ma15' comumente o perdedor.
Um caso nolávcl de uma crisc proñssional em quc a falta dc
Ncste scntido, o legislador geralmentc argumcnla que o pai

4
dcdicação 1m'possib111"tou qualquer succsso foi o dc um jovem padrc
tem sua proñssão, que o absorvc totalmcnlc. Com ccrteza, a proñs- que atcndi como pacicnle. O padre havia sido ordcnado há pouco

_.' Á_.~ Á_.-Á_.-w._ ~-


são representa uma área extcnsa na vida de um homem, é uma tcmpo e 1m"ciado sua aLividadc numa paróquia, quando foi acome-
parcela de sua 1'dentidadc, mas scña errado añrmar que pnm'elr'o tido de uma séríe de dxs'túrbíos justamcnte na hora dc celcbrar a
vcm a remuneração, depoxs' todo o resto para o qual ele ganha este rms'sa: seus joelhos começavam a tremer, tmh'a d1ñ'culdade para

›.e_ .~_
dmh'elr'o. Seria tão crrado quanto o ditado primum vivere deinde

_A
rcspnr'ar, suas mãos mov1m°entavam-sc nervosamente, começava a
philosophare, ou seja, “pr1m'e1r'o viver, dep01$° ñlosofar”*. Rcfenn'- transpüar e mal consegma' termmar a cer1m'ôm'a. Ele foi d15°pensado

- .- _.
d0-sc a cstc ditado, mcu vclho professor uma vez me d15'se quando de seu serviço, submetido a examcs médicos, dos quaxs' não rcsultou
jantamosjuntos em Vicnaz “Sabe, Doutora, é cxatamente 0 conlrá-

4- .
muita coxsa,' somente um diagnóstico de d15'tonia vegetau'va, por não
ri0: sem moral nao' se supera afome.” O mcsmo ocorre com a vida

._
tcr sido encontrado nada cspec1ñ'co. Depons' foi encammh'ado para
proñssional do homem; scm tcr um scntido c uma ñnalidadc para o m1m,' e o m'teressante foi quc logo no 1m"cio ele me aprcsentou uma
trabalho diário, o homem ncm conscgue suportar este trabalho; sem pergunta aberta do segum'te tcorz elc tmh'a a possib1h"dadc de,
ter uma família para ahm'cntar, sem ñlhos para sustentar, ou sem dentro de alguns mescs, scr dcsignado para uma pequcna paróquia
algum outro objeLivo quc pudesse aJmejar, todo dmh'elr'o quc ganha rural, mas elc não sabia se era isso que ele queria. Portanto, clc não
nada vale. Por este motivo, a Lragéd1a' de pa1s' quc perdem seus ñlhos, d15'se: “Ajude-mc para que eu estcja em condições dc exerccr csla
cm nossa sociedade adcpta do divórcio, é mals' ampla do que se tarefa!”, mas elc perguntouz “A Senhora acha quc cu deveria aceitar
perccbe à pnm'e1r'a vxs'ta. Não somcnte os ñlhos pcrdem os scus paxs', csta tarefa?”
c com eles uma partc essencial do modelo e relacionmento parcn-
tal, também o local onde estes pa¡s' trabalham perdc um pouco da Esta pergunta colocou-me cm estado de alcrta, pons' por que
capacidade dcstes colaboradores, po¡s' se o “para quê” não está alguém 1r°ia escolher a proñssão de padre, se não fosse para assum1r'

ñfrñf--.úñ
clar0, a energia m'vestida decresce rcpenün'amentc. Assm,' a desm'- uma atividade pastoral? O que, para clc, reprcsentava a proñssão

V
tegração de um casamento representa prejuüos para 0 mundo do dc padrc? Isto cle até conseguiu explican Elc scmprc 5e 1m'agm'ara

A 4._4í_.
trabalho, e as prcocupações fam1h"ares podem 0r1gm"ar um fracasso como pastor, cm vcslcs solenes, rodeado e respeitado pclo seu
proñssionaL rcbanho, c clc, abcnçoando-o. Ele gostava dcsta un°agcm, cu, nem
tanto. Ccrtamentc descreveu um quadro idílíco dc uma cura de
Nestc pont0, gostaria dc 1ns'eru" alguns comentários básicos almas, mas, uo contcxto psicoterapêuüco, cste sigmñ'cava que cle
sobrc o tema “sucesso”, quc, conforme o sigmñ'cado da própria sempre se via a sipróplia E quando, na rcalidade, celebrava a m15'sa,
via novamentc a si próprio, aquela pessoa para a qual estavam
voltados os olharcs de lodos os ñéls', os quals' não podiam dmxa'r de
' N.T. Para o alcmão, o ditado foi traduzido por “primcmo^ comer, dep015'
vem a moral". pcrceber que seu padre cstava nervoso, e que 1r'iam zombar delc,

4._
4.-
~,-›.__
i› 129

~
<-.<.vm,~›-_-¡

_-¡-~
sem dó nem piedadc, se fracassasse em sua d1gn'a funçáo. Aqui sermão Inals' amargo dc sua vida; elc próprio fcz a cncomcndação
temos o ponto crítico de suatranspu'aça'o psicossomát1'ca,juntamcn- IÉ do corpo de seu ñlho e profen'u o sermão fúncbre. Aqui cslá um
,.
tc com todos os outros m°gredíentesz aquclc quc, pnman°'amente, excerto dc seu scrmão, que foi anotado por am1g'os':
L
quer ser um padre bcm-succdido, precxs'a temer ofracasso, e aqucle 9
í “Meus amigos, aqui cstou eu. Estou aqu1,' porque Merrcll
que só sc 1m'porta com a admüação que gostana' de obter, precxs'a
assm' o teria desejado. Ele semprc me chamava para dcsaños que
temer uma sítuação ridícula. ll x

ele sabia que eu poderia rcahzar'. Estc é o maíor desaño que ele mc
“Alguma vez o Sr. já rczou uma mnss'a pela glória dc Dcus?”, propôs, c eu o aceito.
perguntei ao padre, que olhou surpreso. “Somente pela glóna' de
Dcus”, conün'ue1,' “para sem'-lo”. Ind1f'erente à sua própria pcssoa Na mmh'a op1m"ão, devcria se falar e cscrcver mals' a respcito
quc cstará diantc d'Ele, seja ela uma pessoa que treme, que chora, do quanto os ñlhos mñ'ucncicm seus pa15'. Embora ccrtamcnte os
paxs' mfl'uenciem seus ñlhos, tenho a 1m'prcssão de quc muito pouco
que fracassa, que é objcto de zombaria... tanto faz, tudo é colocado
no cálice que será ofcrtado para a glória de Deus. Alguma vez já setemfaladosobreom'verso. MerrelL sem dúvida, tcvc uma mñ'uên-
tentou ag1r' ass¡m'?” “A Sra., como psicóloga, d12' ls'to?” perguntou o c1a' Imúto forte sobre nunh'a vida e meu estüo de viver - uma
mfl'uêncía positiva. Hojc quero mostrar mcu reconhecmento por
padrc adm1r'ado. “Por quc não?”, respondi. “0 Sr. mesmo terá ue
produm' o soro de que premsar'á para curar seus dls'tur'bios. a esta sua mfl'uência.
dedicação à sua proñssão. O Sr. não pode se obscrvar m'tcnsívamcn- Meus am1g'os, aquí estou eu. Estou aqu1,' paIa que possa me
te, para vcr se está fazendo tudo com perfeição, ao contrário, terá lembrar dc um m'cidente quando Merrell a1n'da era muito pequeno.
que se esquccer completamcntc e ñxar seu pensamento no conteúdo Na época era um memnmh"o lrr'equic.to e falante, que todos os
de sua função. Então o Sr. dominará sua função!” dommg'os sentava na 1gr'eja no colo da ma'e, enquanto o pai pregava.
O jovem padre seguiu meu conselho e dedicou-se de corpo c ngu'ém sab1a' se elc perccbh as cms'as que se passavam à sua volta.
alma à sua nova paróquia, m'tegrando-se nela. Ele até me enviou um Um domm'go dc manhã, porém, quando uma outra pessoa fazia a
convite escrito para sua mls'sa m'augural e, para lhe dar csta alcgria, prcgação, Merrcll reg15'trou a ausência do pa1,' e gritou para que
mls'turci-mc aos convidados. No ponto alto da m1s°sa sustentou o todos pudessem ouvi-lo: “Este não é meu pai.” Ele esperava que seu
cáh'ce durante um período espccialmente prolongado, e acredito ter pai estivesse lá, não queria um substitum Também hoje não havcrá

* 4"
entendido o quc estava se passando nelcz ele cstava ofereccndo seus subsútuto.
medos m'teriores diante desta “prova” ao seu Dcus, quc aparente- Não cstou aqui para me punu', ou para submcter a m1m' c a
mcnte d1gn'0u-sc a aceitá-los, poxs', conformc ñquei sabcndo maxs' mmh'a família a uma prova de fogo; não cstou aqui para desviar
tarde, não surgüam maJs' d1ñ'culdades üs'icas durante a oelebração mmha' atcnção da morte dc Mcrrcll ou exig1r° dc Deus uma sans'fa-
da mlss'a. ção. Estou aqui para responder ao desaño e ao convite dc Merrell...”

~ v7"'r:lm~f*
Em comparação a estc caso, recordo com prazer um outro A segmr', Mr. Hatcher relembrou vários ep¡s'ódios da vída de
cura de almas, que cncontrei por ocasxa"o do 4° Congresso Mundial seu ñlho falecido que lhe pareciam dignos de serem novamente
dc Logotcrapia em São Franc15'co, c cuja capacidade dc dedicação mcncionados c dls'cutidos, c cncerrou o scrmão com um pensamcn-
semprc admu'el'. Seu nome é Gordon Hatcher e mcnciono m'tcn- to de que a morte dc MerrelL na sua oompreensão, fora sem sentido,
cionalmente aqui scu nomc, c o de scu ñlho Merrell, para en'g1r'-lhcs porém, a vida de McrrclL não.
um monumcnto escritoz paIa o ñlho, por sua morte prematura e Estou certa de que o leitor estará tão un'pressionado quanto
1m'erecida, e ao pai pclo testemunho que deu com a sua reação à eu pela atitude deste pai. Prosaicamente poderíamos d12'er: o ho-
morte do ñlh0, um testemunho quc mostra a ação cspm"tual de que mem foi bem›sucedido como pregador. Reflitamos o que foi que
uma pcssoa am'da é capaz numa hora mtúto d1ñ"cü. nos 1m'pressionou cm suas ações. Foi a hab1h“dadc retórica de sua
Logo após seu 219 am'versário, Merrell foi atropelado c morto
por um motons'ta que estava sob o efeito de drogas. O pa1,' pastor

›"r. -~,
' Mr. Hatchcr pcssoalmente deu a permxssã'o para a publicaçáo do scu nomc
em uma comunidade rchg1"osa, reahz'ou, alguns dias mals' tardc, o

. ._.
c a do scu ñlho, bcm como para a dlvu'lgaçáo de suas palavras.

131

mwñwmrrn
prcgação? Ccrtamcntc quc não, embora suas palavras snm'ples fos- que já têmz um “al'go” ou um “alguém”, para que ou para qucm
sem comoventes. Foi o que cle dls'se dc positivo a respeito de scu foram destmados para cxcrccr o scu lrabalho da mclhor forma
ñlho? Ccrtamcnte quc não, p01s' quem m"a dlze'r algo negativo a possíveL
respeito de um morlo, a1n°da ma15' scndo seu próprio pai? Acredito O sucesso só aparecc na casa daqucle quc colocm scu lrabalho
quc foi 0 motivo que capacitou o pai a se posicionar frente à a serviço de uma tarefa que vem dc fora c batc à sua porta. A pcssoa
comunidade cm 1uto, naquclc dia dc dor, c fazcr sua prcgação. Estc que somcntc qucr fazer br11h'ar sua Casa por dcntro, pma mclhorar
motivo ele rcvclou muito claramente nas lmh'as acxma': “Aqui est0u... seu próprio “conf0rto de morar", delxa' dc vcr quc, com 1s'to, os
Por quê? Para aceitar o desaño de Mcrrcl”. Isto quer d12©'r que clc porlões se trancam c fazem com quc sc lome pns'ionelr'0 de si
estava alipor amora seufílha Imbuído de um amor que a mortc não próprio.
pôde destruu'. Não se 1m'portava como ele se sentia, se ele seria capaz
de suportar a situação, se ele 1r'ia se engasgar nas suas próprias
palavras; nada dls'so cle perccbia. Através de sua prcscnça, via
somente a oportunidade de um úl[1m'o alo dc amor paIa seu ñlh0, e
elc aproveitou esta oportum'dade.
Quando, conformc mencioneL anos ma15' tarde estivc diante
dc ML Hatcher, na sala do congresso, e ouvi sua h15'tória, foi a mmh'a
vez dc vcr uma oportunidade quc aproveitei. Era a oportunidade de
publicar esta hls'tória na sua qum'tcssência para dar coragcm a todas
as pessoas que passaram por um grande sofr1m'ento para “perma-
nccerem ñrmes” no lugar paIa o qual foram convocadas a ñcar, por
ma1$' d1fí'c11' que seja paIa elas. Se um um"co leitor se demar' levar por
csta hxs°tória a permanecer ñrmc como um rochedo cm seu sofri-
mcnto, 1n'abalado na sua dedicação a uma tarefa a ser reahza'da,
então Merrcll não morreu em vão, c Mr. Hatcher pode ter a certeza
dc quc até a morte dc seu ñlho, quc para elc fora scm sentido, am'da
encontrou scu sentido, em algum lugar, algum dia.
Voltcmos ao tema da atividadc proñssionaL que, conformc
moeram os d015' exemplos, não podeser dls'sociado de um valormms'
elevado, que é a forma abstrata da rcahza'ção concreta de scu
trabalho. Muitos homens quc trabalham têm a tendência a se des-
gastar na execução concreta de seu trabalho, levando-os à típica
“docnça do executivo” e ocasionando uma acentuada sobrecarga
cardíaca c cu'culatón'a. Isto só poderá aoonteccr sc perdcrcm dc
v1$'ta a “forma abstrata”, que deveria permaneccr ws'ívcl atrás c
ac1m'a do Lrabalho, como objetivo espüitual propriamente dit0. Para
outras pessoas, o trabalho é tcdioso e ms'at15'fatório, o que, porém,
também só poderá ocorrer, se ele não for colocado num contexto
t-_-:'

abstrato, que envolve o trabalho concreto e lhe dá sentid0. Gottfried


m

Kcller escrevcuz “Por aquüo quc lhe falta, o homem semprc põe na
conta do destmo o dobro do que por aquüo quc rcalmente possui.”
íñzrwv

Esta añrmação se aplica cspccialmcnte aos homens que trabalham


›';

c scmprc perscguem cada vez mals' o sucesso, sem dar valor àqu1l'o
'.
.
"

132 133
Wêmmmf
permiür' um certo espaço livre. Se qms'ermos falar dc “amor”, própria fclicidade”, mas quc seria “um scr cm busca dc sentído”, ou

y~rfftr<~2551
também não podemos fazer exccções, também cle seria julgado seja, “de sentido no mundo”.
“positivo”, sc trouxer vantagens para um cuz promm1°'dade humana, Examm'emos csta concepção ampliada do homem no cxcmplo

. '~.'*
parceüos com quem se possa conversar e desabafar, aconchcgo e do trabalho e do amor. Ao consídcrarmos a capacidadc humana
scgurança, satlsf'ação dos 1m'pulsos c prazcr. para a autotransccndência, o “trabalhobom” é ídêntico ao “trabalho

.»m-_. _«.
Não quero negaI que, na “concepção monádica” do homem, que tem sentido” e, por sua vcz, o “trabalho quc tcm sentido“

_.. _.v1
também haja a possib1h"dadc de relações rccíprocas com o mundo sigmñ'ca um trabalho quc cria algo que tem sentido no mundo, ou
que mod1ñ'ca algo que cxxs'tc no mundo para melhor, em rcsumo,

.4
cxtcrno, p015' logicamcnte algo tcm quc ser 1n'vestido no trabalho ou
num rclacionamento, po¡s°, caso contrário, não se recebcria qual- quc leva uma obra positiva à sua conclusão.
qucr lucro de volta. O rclacionamento m'terpcssoal rccíproco, po- Normalmcnle, um trabalho que tenha sentído causa alegría,
rém, está igualmentc sob a 1m°posiçã0 suprcma de uma máx1m°a uma alegria maior quc um trabalho que se hm1"ta a “não cx1g1r"
saüs'fação dc dcsejos da rcspcctiva pessoa, como toda ação c scnsa- dcmaJs'” c a “produ21r' d1nh'c¡r'o”. Há, porém, situações de vida
ção humanas orientadas, a partü de suas ralz'es motivacionals' mals' extremas, sob as quals' um trabalho com sentido é muito e
profundaS, para o suprun'ento das própnas' nccessidades a ñm de exige um csforço cxtraordm'ário, não origm'ando absolutamentc
garanur' a manutcnçáo do cth"brio m'tcrno. É uma 1m'agem do uma alegría 1m'cdíata; mas por ser consíderado ¡m'portante ou va1io-
homem que parecc muito sensata e comprecnsíveL delxan'do, po- so, o trabalho é lcvado corajosamentc até 0 ñm. O critério da
rém, um certo mal-cstar, ao rcsponder à antiqu15"'s¡m'a pergunta vantagem própria valc somente até o limite da mônada, além deste,
sobre o homcm com a conñssão dc que se trata de “um ser em busca prevalece 0 sentido da causa em si.
de felicidade” c, no caso, “de sua própn'afch'c1'dadc”.
O' mesmo ocorrc com o fenômcno do amor. Dc acordo com o
O outro modo de pensar, fundamentalmente d1f'erentc, elabo- pensamento de Frankl, o amor é muito mals' do que a sans'fação do
rado por V1k'tor FrankL parte do prm'cípio de que o homem, na 1m.pulso sexual elementar ou subhm'ado. Novamcnte, entra em jogo
reralidadq não é uma mônada, ou seja, nenhum sns'tema fechado em um elemento de sentido que pertence ao mundo externo, c que é a
sixDe acordo com FrankL o homem, ao conLrário de todos os outros pessoa amada. Da mesma forma que num trabalho dignamcnte
seres vivos que conhecemos, possuí uma abertura para o mundo. Na humano cstá ms'erido 0 valor da obra a ser construída, um amor
sua concepção do homem, todos os potcncíals' de energia encontra- digno dc um homcm m'cluí o valor do parceüo amado, para cujo
dos no modclo da mônada naturalmcnte não são ncgados, po¡s' bem-estar sc d1r1"ge a atcnção daqucle que ama. E, novamente,
comprovadamente estão presentes. Mas eles serão complementa- ocorre que a dedicação ao outro volta-se para o próprio coração.
dos e superados por aqucla força motivacionaL que não pode ser Há, porém, situações na vida em que é d1f1"c¡l' manter, ou desfazer,
colocada no mesmo m'vcl das neccssidades e processos da psique, uma relação m'tcrpcssoal m't1m'a, dependendo do que o sentido da
porque estendc-sc para além do eu, transcende o eu cm d1r'cção ao situação cxigm mas, assxm' mcsmo, isto é possível, a partü de um

-_
mundo extemo. Já sabemos que no caso cstamos falando da “von- amor genmn'o, um amor que consegue se elcvar acun'a dos própn'os

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tade de sentido”¡./ m'tercsscs.

' M
Logicamcnte também em'tcm forças da vontade na concep- Um belo exemplo de uma confrontação entre os dois modclos

*'4
~
ção psicológica tradicional sobre o homem. O peculiar do conceito dc pcnsamento nos fornece Bertold Brccht na sua peça DerKauka-
da “vontade de senü'do”, que dcveria romper a mônada, é o fato sische Kreidekreis (“O círculo de g12' caucasiano”), na qual descrevc
repetidamente abordado de quc por sentido não se entende um duas mulheres que lutam por uma mesma criança. Uma das mulhe-
sentido oríentado para o eu. Trata-sc do respectivo sentido da situ- res é a mãc legíum'a, quc m'dls'cutivelmente tem d1r'eítos sobre a
aça0', que contém um componente objetivo a551m11"ado subjetí- cn'ança, e a outra criou-a sob condiçõs d1f1"cels' e ama-a como sefosse

. .;:.1- _,agz.,_'¡ ,_.


vamente. Ass¡m', o sentído é a lígação entre o homem e o mundo, scu própxío ñlho. Aqui podcmos 11'ustrar 0 funcionamento de uma
jarnak é um “scntido para m1m'”, mas semprc um “sentido em si mônada através do comportamento da mãe lcgíum'a: cla sentc quc
mcsmo”. A resposta para o qucstíonamento sobre 0 homem não é seus dJI'eítos estão sendo m'vadídos, sua auto-est1m'a se descth"bta
mais que ele seria “um ser em busca de feh'cidade”, ou scja, “da
y
4.

137
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e, para fazê-la voltar ao normal, cla prec15'a ms'ls'm' nos seus d1r°eitos. rcahzá'-lo através da autolransccndência. Ela age como dcvcria Vagü
Dcp01s' que o ju1z' colocou a cn'ança no ccntro de um círculo de g1z,' um ser cm busca do sentido.
c postou as duas mulhcrcs, respccu'vamcnte, do lado csqucrdo e
d1r'e.ito do mcsm0, com as palavras dc que a mãe verdadeu'a será Se concordarmos com a idéia de quc o homcm, com a ajuda
capaz dc puxar a criança para junto de s¡,' a mãe legítlm'a puxa a de sua pcrccpção cspm"tual, é capaz de pcnctrar no ambicntc quc o
críança com todas as suas forças. A criada, no cntanto, aqucla mãc cerca, e nclc pcrccber conñguraçõcs dc sentido, que não cstão cm
relação d1r'cta com suas ncccssidadcs emocíonaís, podcndo cstar até
que criou csta criança, mobiliza sua capacidade dc aut0-
transccndc^nc1a,' e solta a criança, poxs' pensaz “antes quc a criança cm oposição a clas, mas quc mcsmo aSSIm' conscguc scgmr', prcci-
seja rasgada ao meio, eu desxs'to dela”. Na peça, não ñca d1fí'c1l' ao samos trazcr de volta à psicologia doxs' conccitos quc haviam sido
julz' decid1r' com qucm dcvc ñcar a críança... cxcluídos dela: o da Iiberdade c o da respomabz'1¡'dade. Ambos os
conccitos não ex1$'tcm num sxs'tcma fechadu, p015' nclc as forças
Porém, também para o observador com formação psicológica predom1n'antemcnte m'conscienles da vida m'slm'tíva c a h15'tória da
não é d1f1"cü prognosticar qual das duas mulheres, no ñnaL tcr1a' aprend1m'gem determm'am os comportamenlos do presentc; c ondc
ñcado mzus' fehz' se o jmz' livessc tomado a dec15'ão dé acordo com houver prcdetermm'aça'o e pré-condicionamentos, não há culpa.
as suas palavras sc a mãc lcgíum'a com sua vitória sobrc a Num s¡s'tema aberto, porém, a situação toma-sc mals' complícadaz
rival às custas da criança, ou a cna'da com seu sacnfí'cio doloroso os 1m'pulsos do mundo cxtcmo, com scus rcspeclivos alributos dc
por amor à criança. Podcmos assum1r' tranquúam"'cnte que a segunda “com sentido” ou “sem scnlido”, encontram-sc com o anseío cxtls'-
tcria uma sans'fação m'tcrior, mesmo que sua auto-cst1m'a tivesse tencial do homem por uma vida plenà de sentído e desañam forças
d1mm"uído muilo mals' do que a de sua rivaL espm"tuals' quc não estavam predetermm'adas nem podem ser con~
Embora esta hxs'tória mostre um exemplo muito extremo, ela dicionadas previamente. São forças livrcs, pclo uso, ou não-uso, das
nos permite entcndcr o que sngmñ"ca esta abertura do homem para quals' precxs°amos nos responsabúlzar". Ilustremos esta añrmação
o mundo. A mãe lcgínm'a não se abre, ela pcrmanece fechada em sí. com um exemplo que tem a ver maís com o trabalho do que com o
Ela prcas'a elaborar scu trauma da perda da criança, precEa ab-rc- amor.
ag1r' sua agressividade contra a rival e defender seus m'teresses, cla Uma vcz assxs'ti a um ñlmc un'prcssionante chamado Reporter
está preocupada em restabelecer seu próprio eqmlíb'río psíquico, e, des Teufels (“Repórter do Diabo”). Estc ñlme, que supostamente
dc tão ocupada que está consigo e com seus problemas, mal perccbe se baseava num acontec1m'ento rcal, cra sobrc um opcrário de
o mundo ao seu redor; no fundo, ncm pcrcebe seu ñlho, embora construção quc fora solerrado, c quc devcria ser rcsgatado do
esteja lutando por cle; mas na realídade ela não está lutando por buraco na terra em quc ñcou preso. De acordo com pareceres de
ele, mas pela sua própn'a feh'c1'dade. Ela é o protótipo do ser em técnioos, havia doxs' cam1nh'os para libcrtá-lo: um relativamente
busca de feh'cidade. rápido através de uma perfuração du'cta, e um outro, mals' dcmora-
A criada, porém, abre-se para o mundo. Ela também sofreu do, através da escavação de um túneL Pela avaliação da quzmtidade
um trauma, p01s' por causa da criança dems'üu de seu namorado, c de ox1g'ênio ems'tente e do estado do acidentado, chegou~sc à com-
ela também sente agressiv1'dade, p01.s' a mãc que, 1n'd1f'erente, aban- clusão dc que ele poderia suporlar bem ambas as propostas de
donou o ñlho no m1"cío, agora quer exigi-lo de volta; seu equ1h"brio salvação, também aquela ação mals' prolongada. Mas, naturalmente,
psíquico está tão abalado quanto o da outra mulher, e os 1n'tcresses tratava-se apcnas de suposições, pois a comunicação com o sotcrra-
quc gostaria de defcnder são tão fortes quanto os da outra. Porém, do era
apesar de seuspróprios problemas, ela é capaz depercebcr o mundo O acidente atraiu muitos curiosos, c cntrc eles também um
extcrno, e o que ela pcrcebe no mundo externo é uma criança repórter conhecído por suas reportagens magníñcas. Este rcpórtcr
m'ocente à qual será mfh"gido um sofr1m'ento. Um sofnm'cnto scm empenhou-sc então com toda força para a construção do túncL a
sentido. Com ¡s'to se revolta sua “vontadc de sentido” e lhc dá forças operação de resgatc ma15' longa, pms' assm' teria tempo suñciente
para abandonar sua mônada e dmxar' totalmentc para trás os seus para ofcreccr aos scus leitores uma hls'tória palpitante, qu_e apare-
problcmas. Esboça-se um sentido objetivo da situação que d12' “dcvc ceria nos joma15' durante dias seguidos. Como as numerosas pes-
scr prcscrvada a saúdc da criança”. E a mulhcr se apressa por soas, que vicram dc vários lugares para assxs't1r' ao rcsgate, am'da

139
dcram lucros adicionak à cidade, p015' t1nh'am que se ahm'entar e espkitualmente às conñgmaço'es dc sentido percebidas no mundo

YTZWSM
pemoitar, concordou~se com a construção demorada do túnel e extcrno, rcahzan'do-as ou dcxxan'do de reahzá'-las. Esta é a libcrdadc
começou-se o trabalho. Quando, porém, chegou~se ñnalmente até pcla qual o homcm preas'a responsabmzar"-se c que foi 1n'Lroduzida
o operário, csle cstava mort0. na psicologia por FrankL uma libcrdadc para reahzar' tarefas quc
têm senüdo apesarde diversosfatores (inibidores?) de injluência. A

k _r':"'
Esta hls'tón'a nos mostra, na ñgura do repórter, uma pessoa
autotransccndência também é a poss¡'b111"dadc de “podcr superar-sc
quc reahza' um excelcnte trabalho, 0 qua], consequ"entemcnte, é
a si mcsmo”, de “ag1r' para além dos h'mites da mônada”, para um
coroado de succsso. Ele cscrcvc reportagens emocionantes e com
mundo plcno de sentido, mesmo que este seja muitas vezcs apenas
15'so ganha lucro e publicidade. Todos concordarão, porém, que, no
vagamentc pcrceptíveL De acordo com a deñm'ção, o órgão dos

4;_
presente caso, ele foi longe dema15', po¡s' a vida de uma pessoa estava
sentidos do homcm capaz de captar o respectivo sentido de uma
em jogo, o que deven'a tcr tido preccdência diante dc qualqucr
situação é a consciênCIa', c a liberdade de obedecer àquüo quc foi
reportagem, por melhor que fo_ssc. A partk de uma perspectiva

MÍHÍ
pcrcebido é a responsab1h"dade. A culpa pode cntão ser descrita
psicológica, podemos assum1r' doxs' pontos de v15'ta, novamente
como o “nã0” à pergunta sobre o sentido, um “não” quc também foi

_ C'.',L,.
aquelc, dccorrente do modclo monádico, e aquele, quc admitc a
pronunciado pclo nosso rcpórter no fllme citado.
capacidade humana para a autotranscendência. Conforme já dls'se-
mos, no modelo monádico não cxls'tc culpa. Ncste modclo, as atitu- Bem, o segundo exemplo também referiu-sc a um evento

".77ÍÍ¡T
relativamente fora do comum, que certamente não faz partc do

¡ ' - " v
dcs do rcpórter são perfeitamente comprcensívels' como expressão
de sua pcrsonah'dade. Talvcz poder-se-ia responsab1hzar" um com- nosso cotidiano. Contud0, se procurafmos à nossa volta, encontra-
plexo dc 1nf'crioridadc situado na lnf'an^cia e quc nccessitassc como remos na vida de qualquer pessoa comum m'um'eros dcsaños scme-
lhantes, embora com conseqüências menos graves. É m'tcressante

. .!"4r'*'
compensação um “vôo de grandes alturas” proñssional; ou falar-se-

"'J
ia dc um déñcit na empatia social, decorrente dc falta de aprcndi- observar que são geralmente fenômenos envolvendo o amor e o

:'7
zagcm durante seu dcsenvolwm°cnto. Outros responsabxhzan"'am trabalho. Há mães que querem pressionar seus ñlhos para quc

4
também as condições do ambiente social, 0 qual não só apoiou o tcnham um desempenho máxmo na escola, para que clas possam
cmpreend1m'ento egms'u'co do repórtcr, como também cxcrceu con- mostrar-se orgulhosas de seus ñlhos; e há mães que querem dar aos
siderávcl prcssão sobre ele, através de scus leitores. seus ñlhos a melhor formação educacional possível para facxh"tar-

,»"'›7Í',"'Z:É"r'”
lhes 0 começo de vida. A d1f'erença sutü cstá na autotrmcendêncm
Na conccpção do homcm dc acordo com V1kt'or FrankL todos

J§-›'J
das últ1m'as. Há mulheres que sc que1xam' de frigidez porque seus
cstcs argumcntos são apenas parcialmcnte válidos, p015' reprc- parce1r'os não lhes forneccm esta cxperiência máxma de prazer; e

«"" ›;›
sentam um úniooprato da balança: a alternan^cia entreinput eoutput há mulhcrcs que conseguem cntregar-se carmh'osamente a seus
na psique do repórteL No prato do outro lado da balança, está o

'
parcelr'os, mesmo que a sexualidade não seja muito 1m'portante para
scntido da situação, e cste scria a salvação do acidcntado. Prec1s'a-

" '
elas. Novamente a d1f°erença suul' está na autotranscendência. Sc se
mos efetuar uma d1f'erenc¡a'ção muito prcms'a entre uma mfl°uência ama uma outra pessoa de vcrdade, seja um ñlho, seja um parcelr'o,
externa sobre o psiqulsm'o, como p0r exemplo a pressão social do A"
não se podc 51m'plesmcnte perseg111r' sua própria feücidade e abusar
ambiente, e a realidade de uma oonflguração objetiva de sentido, do outro, e usá-lo como meio para sua própria saüs'fação de desejos.
que, em prm'cípio, não mfl'uencia 0 ser human0, apenas se oferece
à sua percepção espm"tual. A situação do acidentado e o sentido de O mesmo valc para o trabalho. Há autores que escrevem um
h'vro para ñgurar na hs'ta dos ma15' vcndidos; e há autorcs que
'.' - ›' 'q"

sua salvação, que cstá ms'erido nela, são um'camcnte clementos do


mundo externo, embora contcnham um certo caráter de conclama- escrevem paxa prcsentcar seus leitores. Há médicos que querem tcr
'

uma prática médica rentáveL e há médicos que querem lutar contra


n' -

ção; nada têm a ver com a cstab1h"dadc e resm'te^nc1'a psíquicas.


a doença. Há operários trabalhando em lmh'as de montagcm por
"1'

Até este ponto há concordan^cía nos raciocm1"os, agora, porém,


«.'.

tarefa, para podercm ter um nível de vida melhor, e há outros que,


1115

surgc a añrmação quc separa a concepção “nova” do ser humana


com cste trabalho, ahm'entam melhor sua grande família. A d¡f'eren-
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da “antiga”. É a añrmação de que o homem, com base cm sua


ça sut11' é outra vez a autotranscendência, que 51'gmñ'ca m'clu1r' con-
J- .'-

capacidade de autotranscendência, é capaz de, praticamente m'de-


pendente de sua estab1h"dadc ou rcsns'tência psíquícas, rcspondcr
Ê a ' .<.
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›..›

140 141
ñguraçõcs dc scntido objetivas do mundo externo na sua própna' dcscobnr' c1r'cunstan^c1as' posiüvas' ligadas ao problcma, perguntci à
motivação. moça se algum dia tivera também uma cxperiência com aranhas que
Como representante da psicologia, não estou m'teressada nos tivesse sido positiva, e para mmha' surprcsa a moça dnss'e que s¡m'.

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aspcctos mora15' dcstas reflexões, mas na m'tcrpretação psicológica Uma úníca vcz na vida, a moça conseguiu apanhar com um lcnço
do homem Será que o homcm pode m'c1u1r' cm suas dcc15'ões pes~ uma pequena aranha no parapeito dajanela e am'á-la para fora, sem
soaxs' o bem-cstar de outras pessoas ou o scntido dc uma obra a ser entrar em pam^'co, ou sa1r' correndo do quarto, ou gritar por socorro.

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rcahza'da? ngm'und Freud dlz' “não”, kat'or FrankL “s¡m'”. Um Fiquei m'teressada cm saber por que alguém, que tmh'a lanto nojo
“sxm'” que, confonne já 1n'diquc1,' não rcprcsenta uma sxm'ples antí~ de aranhas desdc criança, que jamals' conseguia pcgá-las na mão e
lcse, uma s¡m'ples ncgação do “não", mas que reprcsenta, nada mals', que, mals' tarde, desenvolvcu uma típica fobia dc axanhas, dc rcpcn-

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nada mcnos, uma nova dcñnição do homcm, do qual Viktor Frankl te pega uma aranha c a atüa pela janela sem maiorcs problemas. O
añrmaz “Quanto mals' ele ñcar absorvido pclo scu trabalho, quanto que aconteceu então?
mals' cle se dedicar ao seu Yarceüq ma¡s' humano clc sc toma, e maxs' O lcitor ccrtamentejá adiv1nh'ou que, no caso, devia havcr uma

"“ÍT.°T" '. “,:


cle se torna ele próprio.” 0 A feh'cidadc, que para todas as outras parccla de autbtranscendência cm jogo, caso contrário a mônada
cscolas psicológicas é o objetivo ma¡s' elevado de toda aspu'aça'o não teria se aberto. Uma amiga muito qucrida vcío v¡s'itá-la e csta
humana, não constitui objeüvo algum para V1kt'or Frankl; para ele, não estava bem de saúde, tmh'a acabado de sau' do hospital c cstava
a fclicidadc é um produto colateral automático dc uma cms'tênc¡a° muito fraca; por ls'so deitou-sc no quaxto da moça. As duas convcr-
plena de sentido, uma cms'tênc¡a,° de acordo com Bernanos, que saram um pouco e depo¡s' a am1g'a adormeceu. Quando a moça sc
derivla1 sua satls'fação da “graça de poder csqucoer-sc dc si mcs- lcvantou e foi até a jancla, lá viu uma aranha, c estava cntão diantc
mo”. da opção dc fug1r' do quarto, gritando, c com 15'so acordar c assustar
Após termos dev¡a'do clara a posição deferenciada de ambas a am1g'a, ou retu'ar a aranha em süêncío - e ela dccidiu-sc pela
as concepçõcs do homem, gostaria de conclmr° com dons' breves segunda alternativa. A consideração pela amíga foi maior do que o
relatos de m1nh'a prática psicoterapêutica, que estão rclacionados poder do medo. Acredito que destc cxcmplo dcveríamos aprender
com a concepção dc Frankl sobre o amor e otrabalho, e que possam algo dc útü para o diagnóstico psicológico: que o homcm não se
ofereccr material para reflexão 1gu'almente ao le1g'o c ao proñs- delxa' enquadrar num esquema ñxo de comportamentos típícos;
sionaL cada um dc nós também pode reag1r' de forma atípica, se para ls'to
tiver um motivo mals' profundo. Por 15°so, ao fazer um diagnósüco, é
O pr1m'eu"o rclato é m'tcrcssante do ponto de v¡s'ta diagnóstica peng'oso reumr' dados apenas a respeito das hg'ações negatívas que
Refere-se ao caso de uma fob1a' dc aranhas. Uma moça apresentava ems'tem entre o passado e o prcsente de uma pessoa, poxs° podcmos
vários típos de dls'túrbios, m'clusivc gritos convulsívos e desmaios, dar a un'pressão de que o presente é fatalmente dcpendente dos
quando em algum lugar av1$'tava uma aranha. Pela anamncse, havia eventos do passado, o que s1m'plcsmcnte não é verdade. Às vezcs,
uma séríe de evcntos na sua mf'an^c1a' que podcnam' ter dcsencadca- basta um pouco de amor por uma outra pessoa, amor no scntido
do csta fob1a,' especíamente o fato de esta moça, quando cr1an'ça, ter ma15' amplo, para dar ao prcscntc novos e m'espcrados m1'pulsos.
morado num velho casarão, na zona ruraL onde havia muitas aran-
has, que freqüentemcntc se escondiam até na sua cama. Além dls'so, 0 segundo relato brevc que julgo digno de scr mencionado
os pals° muitas vezes a haviam punido mandando-a para a cama, aqui é m'tercssantc do ponto de v1$'ta terapêutico. Trata-se dc um
mesmo durante o dia, o que scmpre a delxa'va muito mf'cllz.' Dc caso de bu11m1"a, um apetite ms'aciável por comída. O caso tem um
qualqucr mancxr'a, mals' tardc os pals' mudaram-se para uma casa componcnte trágico, porquc o pacicnte era um homem 1m'possi-
hm°pa, as puniçõcs cessaram, mas o medo de aranhas permancccu blh"tado dc andar c prcso a uma cadeüa dc rodas, o que lhe pcrmitia
e se 1n'tens¡ñ'cou de tal manelr'a, que até a üustração de uma aranha pouco exercício fls'ico, que, juntamentc com sua sm'tomática e o
num livro ocasionava crls'cs dc ansiedade. exccsso de peso daí rcsultantq afctou negatívamente sua saúde; elc
sofria tcrrivelmcntc dc má dígestã0, cólicas m'testm'als', ctc., problc-
Como, por pnn'cípio, nas mmh'as anamncscs não m'vcst1g'o mas que nem os laxantes mals' fortes resolvxam'.
somente o problema domm'ante e sua gêncse, mas também procuro

142 143
O exccsso dc pcso há muito fora diagnosticado pelos médicos dc aconsclhamcnlo, sem tcr marcado hora. Ele dlss'c que, por acaso,
como condicionado p51'quicamentc, rccorrendo-se logo à hipólcsc eslava nesta região c queria mc relalar detalhadamcntc as atividadcs
de uma satlsf'açã0 subsütutiva,' que caberia pcrfeitamente a um m'tercssantcs que cstava cxerccndo; eu, porém, mal conscguia mc
dcñcienlc f15'ico quc, afmaL prcc15'a renunciar a muitas cmsas'. Mes- conccntrar nas suas palavras, pons' 0 lcmpo todo olhava, admirada,
mo asmm,' todas as tentativas de tcrapia baseadas nesta hipótese para ele, que se tornara csbelto como nunca o unh'a v1$'to. “Como
fracassaram e, quando o homem vcio me procurar, cle quase não foi quc o Sr. pcrdcu scu cxccsso dc pcso?” pcrguntci cslupcfata c o
nnh'a mais esperança de cura. Sm'ocra.mente, também cu via poucas homem riu. “Também não sei”, respondcu, “só sei dc uma cons'a:
possib1h"dades de reduzk seu vício, mas d1r'1g1" mmh'a atenção para quando a Amnesty Intemational precisa dc m1m,' esqucço-me dc
um outro aspccto. Sc o homem já t1nh'a que suportar o ônus de sua comer...”
dcñcíência, junto com os dcsagradávels' problemas digcstivos, que Como poderíamos m'terprclar psicologicamentc cslc caso?
lambém não seriam ehmm"ávc15' a cuno prazo, cntão deveria pclo
Poderíamos 1rr'cfletidamentc assumlr', segundo a concepção moná-
mcnos haver uma árca parcial em sua vída que valesse a pena viver.
dica, de que o paciente snm'plcsmente mudou o tipo de satisfação
A551m,' emprecndi com ele uma “anáhs'e ems'tencial” no exato sen-
substitutiva, usando agora, para sc saüs'fazcr, as tarefas plenas de
tido de Frank], que dcveria rcvelar os dívcrsos m'tcresses, vocações
sentido de uma orgamza'ção mundial, para substítuk os comestívc15'
e capacidades deste homem, os qua15' talvez pudessem ser m'tensi- de antigamentc? Talvez para compcnsação dc tudo que não tcve na
ñcados para dar contcúdo, engajamenlo e reahza'ção de scnlido à mf'an^cia? Acrcdito que não faríamosjus ao homcm, ncm ao conteú-
sua ex15'tência bastante monótona e hm1"tada. No decorrer das com- do dc sentido dc sua nova tarcfa, se declarássemos o scu cngajamcn-
versas analítico-c›us°tencials', revelou-se que, durante a guerra, o
to como cxprcssão dc uma neurosc, c a ajuda aos pns'íonc1r'os
homcm passou vários anos num campo de pns'ionc¡r°os e, dcvido às poHticos como meio para elaborar seus complcxos psíquicos. Em
suas amargas cxperiências pessoaJs', participava com grandc m'teres-
toda colaboração humana, por mcnor quc scja, que v¡s'a melhorar
sc do destm'o dos prisioneüos inocentcs em todo mundo. Ele sc
ou embelczar algo no mundo, cstá m'crente um scntido 0bjctivo, que
1m"tava muito com as notícias dc torturas e prisões dcsumanas e se cstendc para muito além do nívcl subjetivo dc complcxos e
enfanza'va sempre como gostaria dc fazer algo por estas pobres compensações.
pcssoas atormentadas.
Portanto, não é vcrgonha admiür° quc um trabalho com senti-
Não sei ma15' qucm pr1m'61r'amcntc trouxe à tona a idéia da do pode tornar absolutamentc dls'pensávc¡s' as nossas ofertas tcra-
orgamza'ção Amnesty Intemational (“Ams'tía lnternadonal”); era, pêuticas, po¡s' quando uma expcriência dc sentído se concrcuza', a
porém, m'evitável que nossas conversas se d.1r'igLs'sem nesta d1r'cção. autotranscendência é ativada a tal ponto, que a neurose não tem
De rcpcntc, o homem pcrocbeu uma conñguração de scntido quc a mms' chances. Contudo, nós psicólogos contmuaríamos scndo ne-
ele sc oferecia; também de uma cadeüa de rodas elc poderia apoiar ccssários para, justamente, conduzü os pacientes a estas expcriên-
uma orgamza'ção como a Amnesty IntemationaL Ele começou a CIas' de sentido. E é cxatamente csta função que V1k'tor Frankl
telefonar, a estabeleccr contatos, montou uma ñh'al da 0rgamza'ção delcgou a seus d15'cípulos; além daquüo que é psiquicamente doen-
local na sua casa, catalogava artigos e redigia cu'culares para os te, devemos vcr o homem como “um scr em busca de sentido”, que
sócios da orgamza°ção. Em resum0, ele se tornou um podcroso deveria receber ajuda, não só para seus distúrbios psíquicos, mas
voluntário daAmnesty Intemational e, após algum tempo, passou a também para sua aflição csphituaL O amor c o trabalh0, embora
orgamzax' e concatenar 1m'portantes mf'ormações. Algum tempo sejam 1m'portantes portadores emocionalsU de evcntos m'trapsíqui-
dep0is, convidei 0 homem para cont1n'uar a tcrapia, mas cle não veio cos, cmbora possam se orig1n'ar na vida ms'un'Liva, são oricnlados
por falta de tempo. Após algumas semanas, escrevi-lhe uma brcve para o mundo extemo, onde a exts'tência humana quer se rcahzar'
mcnsagem, mas ele não respondeu. De alguma forma, avah'ci sua com scntido; e somcntc na medida cm que 15'to ocorre a cms'tência
reação como positiva, po1s° sentia que a nova reahza'ção de scntido, é realmcnte humana.
quc de repentc enriquccia sua vida, era mais 1m'portante c mals'
terapêutica do que a melhor psicotcrapia. Mesmo assm', ñquei
perplexa quando, após alguns meses, o homem veio ao meu ccntro

144 145
1.
A ansiedade como desafío ao espíríto humano

A maioria das pessoas 11g'a o conceito de “ansiedade" a algo


muito negativo e desagradável; em prm'cípio, porém, a scnsação de
ansiedade cstá a serviço de nossa sobrevívência. Sem ansiedade
estaríamos perdidos, p015' 1rí'amos nadar numa baía mf'estada de
tubarõcs, cruzaríamos tranqud"'amente uma rua com o sm'al verme-
lho, cscalaríamos picos elevados com sandálias nos pés, comeríamos
qualqucr fruta dcsconhecida, ou nos snbmeteríamos às provas mals'
sem o dcvido preparo; a nossa fantasia poderá 1m'agm'ar as
respecüv'as consequ"ências. A ansiedade, porém, nos protege de
1m'prudências de todo tipo, c, a nívcl humano, ¡s'to tem a ver justa-
mente com a fantasia de “podcr 1m'ag1n'ar” as consequ"ências.
Certamente, também no mundo an1m'al, o mcdo tcm esta
função protetora. Imagmemos o que aoonteceria se os pássaros
canoros dos bosques sc sentassem mansamente nos ombros de
qualquer pcssoa que por ali passassez seriam dcpenados, cozidos,
assados, colocados em gaiolas ou entregues às crianças como brm'-
quedos.l Nos an1m'a¡s', porém, trata-se de uma função protetora
instintiva, garantida pelo seu medo m'ato. Nenhum pássaro seria
lcapaz de pressentü as 1n'tenções das pcssoas que por ali passassem.
iNos homens, porém, a sensação dc ansiedade geralmentc é assocía-
da a uma anteapação intema dc evcntos amcaçadores 1m'ag1n'áveis,
que poderíam acontecer e dcvcríam7 portanto, ser evitado_s,l-,Asse-
melha-sc a uma sxr'ene de alarme que tem um determm'ado s'igmñ'-

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cado e quc protcgc somente aquele que compreende este SIgm"-


ñcado. Da mcsma forma, um alarme de ln'cêndío somcntc protcge á
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149 H.
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aqucle que rapidamentc procura fug1r' das chamas, e não aquelc que dos. São mal-cntendidos que foram até mesmo provocados por uma
ñca sentado, reclamando detalhadamentc do seu ruído. psicologna' não-amadurecida c cgocêntrica, que sc colocou como
Venñ'camos quc a ansicdadc, no seu scntido mals' pnm1"tiv0, é objetivo teórico ehm1n"ar totalmcnte a ansiedade, enquanto que, por
outro lado, na prática causou muita ansicdadc dcsnecessária às
algo positivo, algo quc salva a vida. E, no am^bito humano, é a1n'da
um ato prognóstico, quc pode c deve levar à proñlaxia, ou prevcn- pcssoas. É evidente quc ambos os propósitos são absurdosz ehmmar"'
ção, dc mf'ortúnios. Infehzm'ente, ex1$'te Vtambém o contrário, quando uma ansiedade com senüdo é tão Irr'csponsável quanto produnr'
a ansiedade faz ocorrcr um mf'ortúnio. E ls'to sempre ocorre quando ansiedade sem sentido.
a ansiedade perde seu sentido próprio e se toma autônoma. Ncstc Algo semelhantc acontcce com o objetivo psícológico xmúto
caso, 0 alarme de m'cêndio soa a todo moment0, sem que haja fogo, d1fun'dido de ensm'a1' as pcssoas 1m"bidas a dlze'rem “não”. Ncstc
e os moradorcs da casa ñcam totalmente confusos.g caso, parte~sc do prm'cípio de que estas pessoas se comportam de
Contmuando a usar a metáfora, podemos também supor que maneüa polida, solícita e atenciosa para com todos, porque, na
verdade, teriam medo e seriam m'capazes de defender seus próprios
o alarmc d15'parc sm°plcsmcnte por causa de um pouco de fumaça
dc cigarro, podcndo rcsultar d15'so que alguém, que neste momento d1r°eitos. Sem dúvida, não é nada bom quando alguém, por causa de
esteja passando roupa, largue o fcrro ligado para fug1r' apressada- alguma m1"bição m'terna, constantemente dlz'“51m'”, quando na rca~
mente; então a roupa pcgaria fogo e toda a casa realmcnte se lidade quer dlze'r “não”. Porém, de nada adianta sc a pessoa s¡m'-
plesmente aprender a dlzc'r “não”. A razão é quc, para uma vida
m'cendiaria. A nível psíquico, é justamente ls'to que ocorre nas
reallza'da, é prec1$'o podcr dlze'r “sun'” às tarefas quc se nos apresen-
neuroses de ansiedade. Elas têm sua orígcm numa ansicdadc exage-
rada e 1rr'eal, não raramcntc, porém, acabam causando d1$'túrbios tam, c um “s¡m'” do fundo do coração. Como podcríamos então
d1f'crcnciar quando é prccm'o dlzc'r um “s¡m'”, ou quando seria maxs'
bcmrcalísticos, que pareccmjustücar a ansiedadc or1g1n"al, cmbora
m'dicado um “não”? chetidas vezes já m'diquei o melhor critério
scm razão. Por cxcmplo, um nadador nadando na costa scgura, que
de d1f'erenc1a'ção, o único digno da ex15'tência humana, e quc foi
entra em pam"co c comcça a engolü água, de medo de encontrar um
m'troduzido na psicolog1a' por V1kt'or Frankl; trata-se da pIenítude
tubaIão, scntc uma ansicdade m'jusnñ'cada, mesmo quc ncstc pro- de sentido da questao'.
ccsso morra afogado. Ou quando um pcdestre, que atravessa corre-
tamente a rua num cruzamcnto, de tanto medo de ser atropclado Gostaria de 11'ustrar este critério através de um cxemplo.
por um carro, avança e recua rapidamente c, com ls'so, realmentc Suponhamos que, dez m1n'utos antes dc encerrar meu expediente,
acaba sendo atropelado, sua ansiedade também não crajustlñ'cada, uma paciente, sem hora marcada, apareça no meu consultório e
mesmo se acabar acontecendo o quc ele tcmia. Uma ansicdadc pedc ajuda. Suponhamos a1n°da que justamente neste dia Is'to seria

jusuñ'cada, ou seja, que tem sentido, é aquela que prcvm'c um muito m'convenientc para m1m,' por ter um trabalho urgcnte espc-
mf°ortúnio, mas não aquela quc lcva a um mf'ortúnio. ' rando por m1m' em casa. De acordo com o pensamento psicológico
tradícionaL dlze'r “não” c recusar a clicnte scria a evidência de uma
Os poucos exemplos ac1m'a mostram-nos que a d1f'erenciação personalidade ñrme e segura de si. Por outro lado, se dls'scsse “s¡m'”
entre ambas nem sempre é fác11'; mesmo aSSIm', é 1m'portante que se e aceitasse a pacicntc, seria a expressão de uma 1m"bição e falta de
saiba scparar a ansiedadejust1f1'cada da m'just1f1'cada, po¡s' é preas'0 capacidade de me un'por. Isto seria realmente verdade? Será quc cu
lidar dc forma totalmente d1f'erente com cada uma delas: sc à poderia sun'plesmente tomar dec15'ões de acordo com 0 que seria
prun'e¡r'a precns'amos obedeccr, à outra não devemos ceder,' a pri- vantagem para m1m', de acordo com o que é agradável para mun', e
mcüa preas'a ser levada a sério, a outra deve ser n°diculanza'da para
isto denotaria então força m'terior? Meu mestre, V1k'tor FrankL d1r1"a
m'ar-lhc qualquer scriedade. Enquanto que a pr1m'e1r'a, além de seu quc é prec¡s'0 avaliar a plenitude de scntido da questão; concrcta-
caráter emocional, é um ato prognósüco-proñlático da razão, a mente, ls'to sigmñ'caria usar os dez m1n'utos rcstantes para venñ'car
outra, além de seu cfcito patológico, é um desaño ao espm"to o quanto seria urgente e necessário e, portanto, pleno de sentido,
human0, do qual am'da falaremos. Antes de me concentrar, portan- que a mulhcr recebessc ajuda 1m'ediatamente, ou se o atcnd1m'cnto
to, na mclhor manc1r'a dc lidar com ansicdadc justxñ'cada c m'justi- pudesse scr transferido para amanhã ou dep015' de amanhã. Somen-
ficada, gostaria dc dizer ainda algumas palavras sobrc a te depons' de me certlñ'car que mmh'as horas extras tcriam sentido,
d1f°erenciação entrc ambas, para esclareccr quals'qucr mal-entendi-

150 151
eu poderia dlz'er um “sxm'” ou “na'o” com sentido, somente então com razão, porque toda m'tcrvcnção cnr'úrgica tem scus ns'cos. Po-
dcmonstraria mmh'a força ou fraqueza m'terior. Se, por exemplo, a rém, também não podemos nos esquivar da cirurgia se ela for
pessoa cm busca de ajuda cstiver em condiçõcs muito deplorávc15', nccessária. Ou tememos por um membro da família que está optan-
correndo m'clusive perigo de suicídio, mcu “s¡m'” para atendê-la do por um cammh'o errad0; é uma prcocupação 1'gua1mcntejusuñ'-
seria muito d1f'crente de uma sxm'ples m'capacidade para defender cáveL embora gcralmentc nada podemos fazer para dctê-lo. A
meus próprios d1r'eitos, seria uma ação de amor ao próx1m'o e, além antecipação m'terior de eventos 1m'agináve¡s' que permile ao homem,
dls'so, uma obrigação ética de mmh'a proñssã0. A renúncia a uma como um ser espüitualmcnte privücgiado, olhar para seu futuro,
noite livrc seria enlão o reflcxo de força m'tcrior, cnquanto que a cmbora seja apenas umfuturopossível e não 0 futuro que ñnalmcnte
ms'ls'tência no meu tempo de folga revelaria apenas fraqueza m'te- tomar-se-árealidade, acarreta o pressentimcnlo que tcmos dc mui-
rior. Por outro 1ado, também podcria ser que, com seu comporta- tos eventos negativos, os qua15' podem v1r' a aconlccer sem nossa
mcnto, a mulher quissessc apenas furar a lista dc cspcra, própria m'tervenção.
colocando-me diantc de um fato consumad0, embora suas quetxas°
Aqui a qucslão sobrc o sentido sc apresenta sob uma ótica
sc mostrassem ma15' ou menos fútels'. Ncstc caso, meu “51m'” rea1-
d1f'erente. Assm' mesm0, também ncstc caso, se for comprcendida
mente deveria ser um “não”, e teria sido dito a partü de uma
corretamentc, a ansicdade contm'ua tendo uma função protetora.
fraqueza m'terior, enquanto que uma negação seria justlñ'cada.
Pelo mcnos, ela protege contra os 1m'prcv1$'los do destm'o, contra um
Do cxcmplo, podemos concluü que nem scmprc somcntc a choque repenün'o diante de um evcnto dramático. Na ansiedade
ansíedade em sx,' ou seja, 0 próprío estado emocional, é 1m'portante, precedcnte, estc cvcnto praticamente já tcvc que scr enfrcntado, as
mas também o objeto da ansiedade c a finalidadc da sua superação. conseqüências funestas já foram avaliadas c como que m'tegradas à
Estas reilexões nos ajudam a responder à pergunta sobre quando própria ems'tência, a pcssoajá se oonformou um pouco com algo que
uma ansiedadc é reahs'tica. tcndo, portant0, uma função protetora, a1n'da ncm aconteceu. Quando o evento acaba acontccendo na
c quando uma ansiedade é 1r'realística, tendo então uma função reah'dade, cspüitualmentq de alguma forma, parcce fam11i'ar, cm-
patogênica. Quando for possível derivar algum sentido da ansieda- bora emocionalmcntc a pessoa tcnda a se rcvoltar contra clc.
de, seja uma admoestação, uma 1ição, um convite para umestüo de
Rcsumm'do, podcmos duc"r que, em qualquer caso, uma an-
vida d1f'erente, ou sxm°plesmente uma advertência para tomar cuída-
siedade reahs'tica, ou seja, adcquada à respectiva situação, tcm uma
do, não se trata de superar a ansiedade, mas de entcnder scu
função protetora, não 1m'portando o fato de podermos, ou na'o, fazer
sigmñ'cado para efetuar uma correção no oomportamento. Quando,
algo contra aquüo que tememos. Se pudermos fazer alg0, é evidente
porém, nada que tcnha sentido possa surg1r' a partk da ansiedade,
que devemos fazê-lo; sc nada pudcrmos fazcr, pclo menos podcmos
quando cla somcnte acarretar uma vida mals' d1f1"c¡l', uma hm1"tação
nos prcparar m'teriormcnte para aquüo que possa ocorrer. Se o
da liberdadc de mowm'cnto c de dec15'ão, um ônus para as rclações
objeto da ansiedade se tornar rcaL cstarcmos armados; caso com-
m'terpcssoals', ou até um proccsso de ncuroüza'ção, a ansiedade
trário, aceitaremos com prazer a dádiva da alegria e do alívio. Assm,'
representa um verdadeüo desaño para o espm"to humano, o qual
quando a ansiedade reahs'tica não puder ma15' corrig1r' nosso com-
não prccxs'a agüentá-la passivamentc, mas pode opor-se a ela.
portamento, poderá pelo menos am'da corrigu-' nossa atitudc, o que
Exam1n'emos 1m"cialmente a pnm'elr'a possib111"dade, para dc- também tem seu sentido na vida humana. Não tcnhamos, portamo,
po¡s' nosvoltarmos ma15'detalhadamente para a segunda, que ms'pn"a mcdo da ansiedadc, p015', por ma15' cstranho que possa parecer, ela,
mals' cuidados. por sua natureza, é um benefício para nósl
st'scmos que uma ansiedade reahs'tica é aquela que protegc. A situação é d1f'erente no am^bito das ansiedades m'eal.ísticas,
Por exemplo, se alguém, ao hm°par os vidros da janela, sentü medo 1rr'acionals', exageradas eneuróticas; e, cm nossa cultura, mf'chzm'en-
í de se dcbruçar cxccssivamente para fora, devcria ouvü sua voz te todos somos muito suscetívels' a tals' ansiedades. Da aranha, que
:

Í m'terior. E quem tivcr mcdo de ñcar reprovado num exame, que cruza nosso cam1nh'o, até o extcrmínio da humam'dade, que nos
trate de cstudax previamentC. Até estc ponto, tudo parece claro. E amcaça no honz'onte do século v1n'te, da ansiedadc do día segum'te
I i

se for um mcdo rcahs'tico de algo que não cstivcr sob nosso próprio até as angústias exktcnciak que perpassam toda nossa vida, conhc-
controlc? Temos mcdo de nos submetcr a uma cu'urg1'a, ccrtamcntc cemos todos os matlze's dc ansiedades patológicas. Embora estas

152 153
Para mmh'a surpresa, percebi quc a tensão da aluna se desfcz Embora suspeilc que Wolfgang Hübig, ao cscrcvcr csm li-
quasc que ¡m'cdiatamente, e quando depoxs' cntrou na sala de examc nhas, queria sc rcfcnr' à “juvcnludc atual”, sua pocsía cxprcssa algo
parccia calma c sabia rcspondcr bcm às perguntas feitas. A1n'da me fundamcntal sobre o scr hummowo homcm ama a conlradição.
lcmbro quc cla teve um “cxcclcnte”, como avaliação ñnaL Ama-a a tal ponlo quc sc contradü até a si própn'o, c 15'to rcprcscnla
Qual a qmn'tessência destas duas h1s'tórias? Ouv1m'os sobre uma oportunidade terapêuu'(,a'. Sc alguém cstivcr num cstado dc
duas ansicdades cxagcradasz o medo de cak na cscada com a ansíedade, refleür'á sobrc todos os argmmcnlos a favor dc rcalmcnle
não precxs'ar senür' ansiedade, mas, a551m' mcsmo, conuhua scntm'-
bandeja na mão, c o mcdo de scr rcprovada num cxamc un'portante.
Ambos os eventos temidos são possívexs', mas pouco provávens° do-a1¡,-Sc, porém, ele ñzer o contrário c descjar quc, justamcmc
ncslcs casos, p015,' espccialmcntc com uma carga dclicada, dcscc- aquüo que tanto tcme, acontcça naquela hora, cntão elc sc lcmbrará
mos uma escada com extrema cautcla, c, quando estudamos bastan- de todos os delalhes envolvidos nesle possível aconlecimento - cle
tc, como aquela aluna excelcntc, também não somos rcprovados nos considcrará tudo aquüo ridículo. O pcnsamcnto “Entã0 lcvc um
exames. Tachemos cntão ambas as ansiedades como “1rr'eahs'ücas”. tombo bcm bonito!” 1m'cdiatamcnle acionou o cspírito de contradi-
Juntamcnte com esta classxñ'cação, também vamos rotulá-las auto- ção da mulher com a bandeja, quc, dc rcpcnte, achou sua própna'
maticamente como “pcng'osas”, cspccialmente se clas sc ñxarcm 1m'agem do tombo muito engraçada e, a scguu', foi capaz dc superar
como atitudcs de expectativas ncgativasz a cxpectativa de ca1r' podc- seu mcdo exagerado com um sorrls'o. O mcsmo cfeito tcve a Erasc
rá tornar os pés tão ms'eguros, que, de fato, podcrá ocorrcr uma “Agora vamos tremer até a exaustão!” sobrc a aluna amedrontada,
queda; da mesma forma, a expectativa de tcr esquccido toda a quc ñcou calma no momento em que deveria trcmcr.
matéría por causa da añição podcrá dar aquele “branco" na mem6- V1k'tor Frankl, cujo método da “m'tenção paradoxal” tornou-
ria da aluna. sc mundialmentc conhccido, usou com succsso csta lática também
cm casos dc graves neuroses de ansicdade c ncuroses compulsivas,

. ~-~W
Qual foi cnlão a reccita~patentc quc aparcce em ambos os
relatos? Não há fuga, ao contrário, a qucda é produzida cm pcnsa- oricntando os pacicntcs para quc descjassem ansiosamente, c dc
mento, e tcnta~se fazer uma competição para ver quem treme ma15'. forma exagerada, aquüo que exagcradamenlc temíam; ambos os
Intemamente, som'-se de si próprío, e, de repente, a ansiedade se exageros se neutrahzam' rec1°procamcnte, chcgando ao ponto 0,
reduz a um m'vel reahs'tico, dcntro do qual assumc novamentc sua possib1h"tando uma vida normal com uma ansicdade que tenha sen-
função protetora, c ex1g'e cautela, sem t1I'ar a pessoa de seu eqml1"- tido, mas sem ansiedades que nâo tenham sentíd0. No caso, a origem
brio. O método aqui empregado parece relativamente 51m'plcs, mas dcssas ansiedadcs não faz muita d1f'erenga', c 1s'lo é muilo bom. Hojc
não é tão fácü de ser posto em prática, conforme cada um poderá sabemos que as várias causas - fns'icas, psíquicas, genélicas, educa-

- MW_W_ ~_.
cionaxs' e sociaxs' - responsávexs° pelo mundo de emoçõcs c vivências
constatar em si próprio. Chama-se “1n'tenção parado ” e se basela'
no fato de o homem scr uma criatura paradoxaL o que nunca do ser humano cstão m'terligadas como que num novelo m'cxtricávcl,

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formando uma rcde dc ações e rcaçõcs muito mals' complexas do
encontrei tão bem expresso como numa poesia de Wolfgang H11'b1g,'
quc haviam sído nossas idéias m1"cia15' sobre uma causaüdade lm'car
que dJZ':
no descnvolvxm'ento do homem. Jama15' scrá possível segmr' um
Vocês mc constrwr'am uma casa, temor 1rr'aciona1 até suas ul'tun'as raILe"s; o que é possível, porém, é
dexx'em-me começar uma nova.

_.V~ ,._›-
1m'pcd1r' seu crcsam'cnto através de uma obstmação saudável e
Vocês colocaram cadeüas nos quaItos, fazê-lo murchar mediante um “ns'o que coloca o tcmor à dls'tan^cia”.

. . Awr
façam bonecas sentar nas cadeu'as. Ê 1n'acreditável o podcr curativo do hum0r! Uma ansicdade a qual

t
Vocês economlzar'am d1nh'eu'o para m1m', podcmos parodiarjá não é ma15' uma ansiedade, pclo mcnos ela não
rnas eu preñro rouban maJs' causará danos! O humor é um potencial espüítual do homem,
Vocês me prepararam um canunh'o, que está à d¡s'posição somente dele, pons' nenhum amm'al ri. Quanto

. manA
eu preñro abru' um tnlh'o no mato, às neuroses, o humor certamente pode ser a melhor rcsposta espi-
ao lado do cam1nh'o. ritual para dores dc toda espéde, nerv0515'mos, prcocupações exces-
Sc vocês me dlss'ercm para 1r' sozmh'0, sivas c a tendência para dramatlza'ção. Semprc quc o humor é
n'ei com vocês.

157
156

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coragcm para conun'uar enfrcntando as própñas ansíedades m'te- mostrou um dcsenho quc ela fez; era uma pcqucna ñgura cncolhida
riores, para não ma15' fug1r' delas, mas s¡m'plesmenlc não ma15' levá- no cha'o, com a cabeça apcrtada conlra os joclhos, cxprcssando
las a sério c não mals' obedeccr à sua pressão. Conheço um homcm abandono c dcsampar0. Atrás da ñgura aprox1m'ava-sc, voando,
que, por muitos anos, sofria de uma fobia de contamm'ação como uma enormc ave de rapm'a, com largas asas ncgras, o bico pontudo
csta e que hoje d.12' com orgulhoz “Por m1m,' as bactérias e vírus d1r°ecionado à nuca da ñgura encolhida, como se quiscssc dcspeda-
podem mf'ectar meu corpo todo, dc c1m'a para ba1x'o, mas na mlnh'a çá-la no momento segum'te (veja à página 163).“Esta sou eu”, dlss'c a
alma não cntram maxs'. Lá cxrs'te paz, e csta não dcxx'o t1r'ar por idéias pacienle e mostrou a ñgura encolhida no pach “c a avc é o
compulsivas ridículas.” Esta não é uma declaração corajosa? protótipo das m1nh'as ansiedadcs. Ela me ataca pclas costas e nada
Aqui gostaria de ms'cr1r' o exemplo anunciado que trata de posso fazer contra ela; cla é mms' forte c mc dcstrói!”

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uma mulher que conscguiu enfrentar seu destmo de uma maneu'a “Há algo em você que cla não vai poder destruu"', rcspondL
corajosa. Desde sua 1nf'an^cia sofria dc diversas ansiedades, especi- “e ls'to é a d1m'ensão espm"tua1 presente em todo ser humano. A ave

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almentc o temor ante qualqucr situação nova que pudesse surg1r' e de rapm'a dc seus pesadelos poderá revolver suasw emoções, podcrá
para a qual não sc scntía preparada. Uma viagcm, uma mudança na hum11h'á-la c lcvá-la a comportamcntos que você mcsma não aprova
vida proñssionaL ou uma alteração no seu círquo de am1g'os, eram Porém, as forças csp1r'ituals' saudávc15' do seu eu são m'vu1nerávexs',
suñcientes para que ela “ñcassc fora de si” c, como conscqüência, e com sua ajuda poderá se posicionar acima da ave dc rapm'a c
não consegma' ma15' comer, ñcava desamm'ada e 1m°ag1n'ava as ma15' soprar na sua plumagem, dcsarranjando-a, c ela ñcará sem saber o
terrívels' ccnas quc pudessem acontecer. As suas fantasias tmh'am às que está lhe acontccendo! Porém,~ para ls'lo devcrá ñcar cm pé,
vczes até um caráter absurdo. Por exemplo, após por um v1r'ar-se e cncará~1a de frcntc, e não apenas ls'to, devcrá atraí~la para
período dc tempo maior, atormentava-a a idéia dc ter atropelado junto de si, com os braços abertos, c apertá~la contra seu peit0. Você
alguém sem pcroeber; às vms ela se de1xa'va levax pela ansicdade vcrá que cla se transformará numa avezmh'a bem comportada e
e voltava a pcrcorrer o mesmo trccho da estrada, mas naturalmente amável, que comerá das suas mãos.” A pacicntc ñcou mlúto surpre-
nem havia sm'al de ac1'dentc. Vcr1ñ'camos aqui, muito claramente, sa com mmh'as palavras, mas um pnm'elr'o soms'o Um1"do ll'umm'ou
como a 1nÍ1'uência pcrniciosa da expectativa ncgativa cstá associada seus traços.
à coação extorsiva da ansicdadez a paciente sabia muito bem que, Dcp015' cxph'quei-lhc o método da m'tenção paradoxal c nós
na rcalidade, jamals' atropelaria um pedestre sem perccbê-lo, mas competíamos para ver quem conscgukia fazer as írases mms' cômi-
assm mesm0, de vez em quando, voltava para trás para dls'so se cas comreferência a conteúdos de ansicdade que em dado momento
ccrnñ'car. Contudo, a segurança que esperava consegmr' com cste aparecíam A paciente tmh'a uma série de boas idéias; por exemplo,
proced1m'enlo era traiçoelr'a, po¡s' se cedermos à ansiedadc 1rr'eahs'- ela decidiu d12'cr as segmn'tcs palavras diante de novas situaçõcsz

¡. *_ _.
tica, nós nos entregamos a ela totalmente. Quanto mals' a mulher “Não estou ncm um pouco prcocupada em enfrentar bem a nova

-.
voltava para trás, parajustamcnte procurar suas supostas vít1m'as de situação. Sou o maior fracassado dcsle mundo c quero contm'uar
atropelamento, mals' ms'egura ñcava quanto ao fato dc talvcz ter
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sê-lo. Quem sabe um dia emrarei para 0 livro de recordes de
dcma'do de ver suas vít1m'as 1m'agm'árias na segunda vez que percor- Gumn'ess!” Ou, quando se tratava da idéia patológica de ela tcr
ria aquele mcsmo trecho da cstrada, e maxs' forte senüa a prcssão atropelado alguém sem sabê-lo, ao chcgar em casa, sentava-se
para fazcr am'da uma tcrceüa viagem de controle. Podemos 1m'agi- tranqull"'amente numa poltrona c dxzn"a para siz “Bem, cspcro ter
nar facxlm'cnte que um paciente envolvido em tals' reflexõcs m'acio- apanhado várias pessoas de uma vez, assm pclo menos hoje já dei
nals' não maxs' encontra sosscgo, nem na rua, ncm cm casa, c se m1nh'a contribuição para o problema da superpopulação.” A pa-
d11°accra com estas torturas desnecessárias que mñ1"gc a si própri0. cicntc naturalmentc sabia muito bcm quc cstes monólogos cheios
Quando esta mulher m1"ciou seu Lratamento com1g'o, contou- de humor não eram para scr levados a séri0, mas eles a ajudavam a
me quejá sc submetcra aváriastcrapias e quc também teve períodos também não mals' levar a sério suas ansiedadcs absurdas; mas, amm'a
de melhora, mas, por ocasião dc qualqucr mod1f1'cação em suas de tudo, tüaram todo poder quc a ansiedade t1nh'a Lido sobre ela,
c1r'cunstan^cias de vida, as ansicdades sempre se man1f'estavam no- po¡s' se ela desejava fracassar ou atropelar alguém, do que devaria
vamente, e ela não sabia ma15' o que fazer contra clas. Também me cntão ter mcdo? Se, cntão, cla nada precxs'asse tcmer, cia também

160 161
rw_. _ ~_W_-.Wwã m,_-.
não fracassaria, ncm causaria acidentes de tranm^10 dc um tipo tão humilhaça'o. A ansicdadc humilha uma pcssoa, mas na vcrdadc é a
cstranho quc só mesmo podenam' ter sído pcsadelos. A551m,' a própria pessoa quc sc dexxa' humühan por recusar uma liberdadc
paciente não só aprendcu succssivamente a lidar com suas ansicda- que a1n'da possui. V1k'tor Frankl assun' se cxprcssa a cstc rcspcitoz1
des; também aprendeu a lcvar uma vida com mals' liberdade e “Em úIUm'a anáhs'e, o comportamenlo humano não é ditado por
cntusms'mo, a ter menos preocupações m'útels' e a scr mals' segura condiçõcs que o homcm cncontra, mas por dccm'oe's que toma. Qucr
dc sx,' diante de quaJs'quer mudanças no scu cotidiano. saiba ou não, é elc qucm decidc, sc cnfrenta cstas condições, ou cedc
Um dia, quando nossa tcrapia já cstava quase chegando ao a elas; cm outras palavras, clc decidc se sc delxa' determm°ar por clasL
ñm, ela trouxc um novo desenho que fez. Mostrava uma pequena e em quc grau.”
clcvação onde uma ñgura estava sentada numa base ñrme e sólida,

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como num trono. Expressava orgulho, calma, scrcnidade. A figura
estava com a cabcça erguida, e nas mãos lrazia dons' pm'oéls' e uma
palcta multicolorida. Ao seu lado cstavam quatro latas de tm'ta de
cores vivas. Contudo, o mals' surprecndente no novo dcsenho eram
as avcs, quc agora cram duas. Uma novamentc era a enorme ave de
rapm'a negra, que desta vez tentava sc apromm°ar da ñgura pela
frente, apontando 0 bico añado para seus pés,' e d1r'etamente à frente
da ñgura cstava uma segunda ave, clara, bnlh'ante, com plumagem
mullicolorida, quc parecia ter saído dela, com asas abertas, o bico
levantado para o céu (vcr pág1_(›4). “Esta sou eu agora”, d15'se-mc a
mulher e apontou para a ñgura sentada, “agora sei como domesücar
aves de rapm'a. É prems'o apenas convidá-las gentllm'ente paIa uma
sessão de cmbclezamcnto e pm'tar suas penas de corcs vivas, então
elas terão uma aparência tão cômica que ñcam com vergonha e vão
embora. Ulüm'amente nem têm mais tido coragem de se apromm'a-
rem de m1m'...” e quando dls'se 1s'to, ria e chorava ao mesmo tempo
c eu participci de sua alegn'a por ela ter conscguido vencer a
í v maldição da neurose de ansicdade de forma tão heróica. Certamcn-
te, de vcz em quando tcrá alguma idéia 1m'buída dc uma ansiedade Antes da Terapia
1rr'eah'stica; contudo, não mals' cntrará cm pam^'co por causa dela;
A hum11h'açã0, que dcriva dc uma ansiedade m'apr0priada,
tüará suas ferramentas da m'tcnção paradoxal e pm'tará de cores
vivas mals' algumas penas da ave, 0 que levará a ave a fug1r' apressa- reptesenta a segmn'te conclusão ñnalz “por ter medo, não sei fazcr
islo ou aqu1l'o...” ou: “sou mcdroso e por 1s'so não sou capaz d¡s'so ou
damente.
daqull'o”. Este, porém, é um soñsma neurótico falso, p01s' o saber e
Ansiedades mfun'didas, compulsões, dcpressões e estados dc a capacidade não são mt1'uenciados pela ansicdade; o que torna a
desespcro são dcsaños para o espm"to humano quc._ cm u1't1m'a pessoa m'capaz é exclusivamente a “crença de não poder”. Certa-
anáhs'c, sópoderão scr rcspondidos esp1r'itua1mcnte ao cnfrcntá-los, mente, há enfermídades no am^bito psíquico, especmlm'cnte aquelas
colocando-se o homem contra cles e acima deles. Se ñzermos ls'to, dc ordem psicótica c de base cndógcna, que reduzcm conside-
conscguu'cmos uma reahza'ção grandiosa, da qual podemos nos ravclmentc a capacidade de uma pessoa,' a neurosc, porém, nao'
orgulhar - orgulhar no mclhor scntido da palavra - e estc “orgulho pertence a cste grupo, e muito menos a ansiedade excessiva dc
esp1r'itual” nr'ará o poder da doença. Na realidade, mngu'ém precns'a certas pessoas sensívc15', quc são consider'adas como “normzus'”.
se delxar' humllh'ar pela ansiedade, emborapense que seja obrigado Podemos sentü claustrofobia numa loja de departamemos e fugu'
a se rebmxar' díante dela. Com 15'to chcgamos à terccu'a caracte- dc lá, mas também podcmos scntü esta mesma claustrofobia e
ns'tica quc sempre acompanha as ansiedades 1rr'acionals', que é a termm'ar nossas compras, embora ccrrando os dentes. Nos do¡s'

162 163
casos, a conta nos é aprcsentada depons': se fug1rm'os da ansiedade, Clientez Meu pa1,' por exemplo.
ela sempre nos alcançará, p01s' é mals' veloz quc qualqucr fugitivo;
Terapculaz Exalamcnlc como elc consegue fazcr ls'lo?
se, porém, nós resns't1rm'os a ela, ganhamos a luta e sa1r'emoss dela
como vencedores. Surprecndcntemente, podemos ter medo e scr Clientez Ele fala comigo cm voz alla.
corajosos ao mesmo tcmp0; também 0 mcdroso tcm a liberdade Terapcutaz O quc acontecc quando elc faz ls'to?
para a coragem. Talvez seja até a dcmonstração dc uma coragem
maior fazcr algo com mcdo, mas fazê-lo, do que fazer o mesmo sem Clicntez Então não consígo d12°cr mzus' nada de tanto mcdo.
medo. Pode ser quc os medrosos tenham uma maior oportunidade Tcrapeuta: O sr. tcm cnlão medo dc scu pai. E estc mcdo o sr.
para o heronsm'o do que os heróls'... transfcrc cntão para outras pessoas?

Clientcz Slm,' por lss'o evito quakquer contatos scmprc quc possfch
Terapeutaz Provavelmentc o sr. se sente muito só.
Clientc (soluçando): Não tcnho nm'guém no mundo.
› Imag1n'emos o que 0 cliente possa pensar ao voltar para casa
Í
dcp01$' de um dlál'ogo terapêutico como esle. Suponho que ñcará
A
muito Lr'ritado com o pai, que, pelo v15'to, é considerado o causador

1
dc sua mf'eh'cidade. Além disso, creio que tcrá muita pena de si
próprio por não ter contatos m'lcrpcssoals', para os qua15' não se
sente capacítado por causa de sua ansiedade. Será que cste clicntc
acrcditaria que, apesar de tudo, seria capaz de 1m"ciar contatos
satls'fatóríos com outras pessoas, que até scn'a capaz dc falar abcr-
tamente com seu pai resoluto, se snm'plcsmente não cedessc à sua
ansiedade 1n'lerior, mas tentasse superá-la? Reccío que ele não
saberá d1$'so, mas esta é a verdade. Tantas vezes ta15' atitudes cora-
josas se man1f'estam em situações extremas, quando pcssoas blo~
Depois da Terapia queadas superam facnlm'ente suas 1m"biçõcs, porque dc repente a
' Cordiais agradecimentos à paciente pela doação das fotos de seus quadros situação o exige dclas. Assm1', sugu'o estruturar o mesmo diálogo de
que, como eIa mesma diz, devem dar aos leitores em semelhantes situações
forma d1f'crente por parte do terapeuta; por excmplo, da segum'te
coragem e esperança.
manekaz
Contudo, 0 fato de o medroso a1n'da tcr a liberdade para a Clicntez As pcssoas mc amedrontam.
coragcm é um reconhecun'ento recente da psicologia, que antcs de
Frankl era pratícamentc desconhecida Por 15'so, até agora a psico- Terapeutaz Todas as pcssoas? Também os aborígmcs da Austrá-
logia fez em esforço enorme para espemñcar muito detalhadamente lia...?
as possívc15' ansiedadcs patológicas dos pacicntcs, fazendo com que, Clíentez Não, não são todas as pessoas.
assun', os pacientes se sentls'sem cada vez com menos coragem,
Terapeutaz QuaJs' as pessoas que não 0 amedrontam?
parccendo corroborax sua própria hipótese fatahs'tica de “nã0 p0-
der agü de forma d1f'crente”. Exammemos o segumtc diálogo brcve Clientez As crianças, por excmplo.
entre um clicnte c seu terapcutm
Tcrapeutaz E por que não?
Clientez As pcssoas me amedrontam
Clientcz Porque não gritam comigo.
Terapcutaz Quc pessoas?

164 165
Tcrapeutaz O fato de alguém falar muito alto com o sr. pode fato dc renunciar à sua libcrdade, mas, sobretudo, no ímo dc clc não
bloqucar sua própria d1s'posição de falar? se sentk livrc para fazer aquüo que acha ter scntido. Por outro lado,
Clientc: Snm,' é exatamente 1s'to que acontece. o surg1m'ento de um projcto, que tenha sentido, poderá trazer dc
volta a liberdadc de superar quals'qucr rcccios, c reahzar' o projclo.
Terapeulaz Que pena, c sc alguém um dia lhc ñzer uma declaração /Conformc m'diquei no 1ní'cio, a ansicdadc cslá a scrviço do homem,
dc amor em voz alta... ,/ mas nunca o homem deve se tomarservo de sua ansiedade. O homcm
Cliente (r1n'do): Neste caso, acrcdito que vcnceria o bloqueiol \\ precxs'a permaneccr senhor dc si mesmo, para depoxs' dcdicar~se a
uma tarcfa plcna dc sentido; somente assm' podcrá rcahzar' suavida.
Imagm'emos novamcnte o quc um clientc possa pcnsar ao
voltar paxa casa dcp01s' de um diálogo terapêutico deste tipo. Não Lcmbremos cntão que, apcsar de scnhrm°os ansicdade, pode-
seria correta a suposição dc que, após cste diálogo, cle estaña ma¡s' mos ser corajosos. Não cstamos nos refcrm'do aqui à coragcm
conscientc da liberdade que am'da está à sua d15'posição, apcsar dc decorrente do desespero, mas à coragem de um ser que entende a
seus bloqueios, do que apÓs o diálogo anterior? É até possível que ansiedade oomoumdesaño à sua capacidade cspm"tual, e accita cstc
dcsaño.
ele próprio comccc a se achar tolo, por se denxar' 1m"tar pela m'ten-
sidade de uma voz, c tentc vencer sua fraqueza. Seria pclo menos
um proced1m'ento com ma15' possib111"dade de sucesso do que a
atribuição de culpa ao pai e a automms'craça'o.
Uma vcz atcndi umajovem, que 1m"ciou nossa conversa dlze'n-
do: “Não consigo saü de casa.” Entrc 100 terapeutas, 99 dcles teriam
perguntado então: “Por que não?” ou “O que a segura em casa?”,
tendo como hipótese a pressão dos pa15', o ciúme dos 1rm'ãos ou algo
scmelhante. Eu, porém, pensei em outra coxs'a. Peguntcí à jovem:
“Se pudesse 1r' embora, para onde m"a?” E vejam, ela não tlnh'a a
mm1m"a idéia sobre aonde gostaria dc 1r'. Dci-lhc então a tarcfa de
reñeür' até a prónm°a sessão paxa onde, añnaL gostaria de 1r', se
pudcsse sun'plcsmente delxar' a casa dos pa15' por um período mals'
prolongado; também lhe assegurei que, uma vez que surgls'se um
descjo oricntado para um objetivo, sua capacidade de rcahzá'-lo
também sc man1f'estaria 1m'ediatamentc. Na próxml'a sessão, cla
sabia para onde gostaria de 1r': nas férias queria passar duas semanas
oom sua tia no campo. Redig1m'os oonjuntamente uma caxtmh'a para
a tia, tclcfonei para os pals' da jovem, e quando as férias se aproxi-
maram, preparei-me para Ihe dar coragem de ams'car o pcqucno
passo para fora da casa dos pals'. Ela, porém, não aparcceu para a
últIm'a sessão, po¡s' não agüentou mals' csperar, e d015' dias antes da
data marcada já tmh'a ido viajar para a casa da tia...
Vemos que não foi necessáño m'vest1g'ax detalhadamcnte as
ansiedadcs desta jovem. O quc, porém, foi extremamente nocessá~
rio, foi mostrar-lhe a liberdade que possuía, apesar de seus receios,
e como ela pudessc un1r' csta liberdade a um objetivo que tivesse
sentido. A grandc humllh'ação do homem que cle próprío se mfhg"e,
no dccorrer de suas ansiedades 1rr'eahs'ticas, não con515'te apenas no

166
167
. -_ _.m1

- ñrv
de”2 diante das condiçõcs que o ccrcam, sabc da sua culpab1h"dadc

,.,v
d1an'tc dc muitas dccàõcs quc tomou, e am'da vai tomar, no dcoorrcr

.,,.
da sua vida.

-,\
No fundo, qualqucr dec15'ão, 1n'dcpendcntemcntc de como se

...
formou, é uma deas'ão própria, para a qual o úIUm'o “51m'” é dado

.
pela respectiva pessoa. Às vezes, por exemplo, casaxs' divorciados
2.
que procuram orientação d1zc'm: “Nosso casamento tmh'a mcsmo
A culpa como possibilidade para mudança de que fracassar porquc foi reahza'do somcntc pela prcssão dos nossos
pensamento pals'.” Não há dúvida dc quc os pa15' possam cxcrccr prcssão, mesmo
em ñlhos adultos. Contndo, uma situação como csta a1n°da enccrra
possib1h"dades de opção para pcssoas maduras e emandpadas. Sc a
pcssoa não cstiver convcncida de que uma vida a d01s' seria adcqua-
da, não prems'a ceder à pressão do ambientc; c, em nossa cultura, a
geração de adultos jovcns de hoje, em geraL não se dmxa' mesmo
m'tlm1"daI por “pals' m'tromls'sores”. Quando, porém, m'vchg'a-sç
mclhor a situação, geralmentc ap_arecem outros fatores, por exem~
plo, uma casa, cuja escñtura só seria passada medíante 0 casamento;
ou a rejeição social, quc prcc1s'aria ser cnfrentada, se sxm'plesmcnte
Só exkte uma c015'a pior do quc a dor por um sofr1m'ento que passassem a viver juntos sem casar. Eles, porém, querem tudoz ñcar
nos foi causadoz é a dor de ter provocado um soEnm'ento. Fricdrich juntos, ter casa e aceitação soc1'al, c assun' optam pclo casamcnto.
von Schmer dcsignou a culpa como o “mal maior”, e creio quc não Não um casamento por amor, mas por cobíça de ter tudo, para
tenha exagerado com csta añrmação, embora muitas pcssoas atual~ segmr' o cammh'o mals' fác1L' para não rcccber mcnos que os outros,
mente gostariam de abohr' o conceito de culpa. Porém, ls'to não é etc. Houve um “s¡m'” que foi dado, mas não o verdadcu'o “s¡m'” para
tão fác11' assnm,' pms' um mal comctido e a culpa decorrente “pesam o parccu'0; foi um “s1m'” qucstionável para vantagens próprias. E,
na alma” de uma pessoa por longo tempo, às vezes até a morte. O quando depons' o casamento não dá certo, não pela m'ex15'tência do
anseio pelo perdão, e a esperança de uma rernlss'ão da culpa, “s¡m'”, mas pcla falta de amor ao parccxr'o, a dcsm'tegração do
também se mamf'estam em todos os mitos de redenção, como rcflexo casamcnto podc ser comodamente atribuída à pressão dos pals', que
de um anseio básioo da humam'dade. Além dls'so, a culpab1h"dade seriam os culpados dc tud0.
do homcm é considerada por quase todas as rcllg1"o'es como a ong'cm Eventos como estes são comun5; não podemos delxar' de ver,
da dcsgraça humana, sun'bohza'da dc divcrsas manckas através da porém, que não há decisões forçadas quando se Lrata de pcssoas
“expu]são do parals'o”. adultas c sadlas'. Ao se tomar dems'ões, há h'berdade, e se houver
A psicologh d15'punha de um um"oo meio para o restabc- realmente pressões, não há mals' poss1'b1h"dadc dc tomar decxs'ões.
lec1m'ento da condição paradls'1a'ca da m'ocência, sob a forma de um Qualquer dec¡s'ão sempre pressupõe uma situação de escolha, e
“atcstado de dependência” para o homem. Se a psicologia o decla- onde ex15'tem possíbxh"dades dc escolha pode ser fcita uma escolha
rar cientlñ'camcnte como depcndente das condições da sua vida, errada, podem ser feitos crros c pode-se m'correr numa culpa.
pode também considerar todo seu comportamento como condici~ Trata-se, enta'o, da própn'a dccEão e da própria culpa. Se, por outro
onado, c todos os seus sentxm'entos de culpa como ncuróticos. lado, não houvcr possibmdade de cscolha, nunca seria uma dcc¡s'ão

. . ,.-
Duvido que este seja realmentc o cammh'o para o parals'o; é muito própria, c sc ocorrer algo negativo, jamals' a culpa é da própria
mals' o cammh'o para a neurose. Apenas um ncurótico acredita, ou pessoa.
qucr acrcditar, que é condicionado pelas cu'cunstan^cxas' do ambicn- Portanto, na psicologia não prec1$'amos de hípóteses dc da-
te, 0 que parece lhe dar um alívio. Uma pessoa sa,' porém, jamals' pendência, mas de cn'tén'os de dzs'nn'ção para a t'dent¡ft'caça'0 de
acredita mss'o, p01s', bem no fundo, sabe da sua “m'condicio'nah'da- sentimentos de cupla Jus't1jí'cados e m'¡us't¡jí'cados. Na prática, ambos

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mf'ehzm'cntc sc mcsclam; além d1$'so, são d1f1"cels' de serem julgados mcnto das consequ"ênc1as' dc sua ação. Sc, numa rua mowm'cntada,
objelivamente por uma pessoa de fora. Mas, ass1m' mesmo, é ncces- uma criança m'espcradamcnlc corrcr na frcntc dc um automóvcl c
sário separá-los, da mesma forma que é 1m'p0rtantc an- o motons'ta não mals' puder frear, ele não terá culpa pelo acidcnte,
siedades rcahs'ticas e u'rcahs'ticas, conforme dls'cut1m'os no capítulo por pior que cste tcnha sido. Trala-se, ncste caso, de um mf'ortúnio
antcrion Prcasam'os lidar d1f'crentemcntc com os sent1m'entos de do destm'o, que precm'a ser accito como um sofnm'cnto m'cvitável,
culpa jusuñ'cados e m'jusuñ'cados. que tcm que ser supcrado através de uma corajosa atitude m°tema;
Há pessoas ms'eguras, melancólicas e com pouca aut0-est1m'a, não necessita, portanto, de um arrcpendm'ento no scntido de uma
que muitas vezes se sentem culpadas por algo pelo qual absoluta- mudança de pensamento. No caso de uma doença, os senüm'entos
mentc não têm culpa. E, por outro lado, conhcccmos um bom de culpa m'jusuñ'cados devem ser tratados junto com os outros
num'ero de pessoas que cometeram graves crros em sua vida, mas sm't0mas, de acordo com o quadro patológico.Sent1m'cntos de culpa
que não querem ou não podcm admitü suas falhas. Na prática 1rr'aciona¡s', de ordem compulsíva, se m'clucm na categoria daquelas
chm"ca, sempre encontramos também a segum'te combm'ação: pcs~ ansiedadcs psíquicas que podem ser tratadas com sucesso através
soas quc reconheccm sua culpa por algo que ñzeram, mas quc, no da “1n'tenção paradoxal”. Um sennm'ento de culpa 1rr'acional de
mesmo ms'tante, cnumcram todas as razõcs pelas quaís não podc- ordem depressiva, por sua ve2, prems'a ser entendido com uma
n'am tcr agido dc forma d1f'erente. É possívcl dcduzu' dcsta atitude sensação equívocada, lcvando o pacientc a 1gn'0rar estas scnsações
que estão buscando uma conñrmação de sua m'ocência por parte do falsas através da “derrctlexão”.
terapeuta. Por que Elo seria 1m'portantc para elas? Ccrtamenle sentlm'entos de culpa inj.ust1fí'cados
porquc sentem profundamente uma culpa verdadcu'a, que não

Íã
querem admitü nem perante si mcsmas. Ass¡m', como tcrapeutas, / surgem \
prec15'amos ter cuidado para não emítk 1n'discnmm"adamente estes de um de uma
“atcstados dc m'ocência”, que não 1r1"am rcsolvet o problcma de um engano docnça
delito verdadelr'o. Parece-me ma15' sensato avaliar as cücunstan^cias l l
objetivas e eventualmentc ms'cr1r' “contrapesos” à culpa no dial'og0 Esclarecxm'cnto do Iromzar' os
lerapêutico. Se, por exemplo, um clíente dlz': “...não tratei bem a engan0, senüm'cntos dc culpa
mmh'a mãe, também não sabia quc ela 1r1a" morrer tão de reâentq e abordagcm apontando seu caráter oriundos de
que nunca mals' 1r'ía vê-la”, não rcsponderia, por cxemplo, “ lógico terapêutica 1n'voluntán'o ansicdades; ignorar os
que o sr. não sabia d15°so, como poderia adivmh'ar que este scria o ou a falta de senüm'entos
últh'o enconlro com sua mãc...”, p015' aSSIm' também não poderia compreensão de culpa oriundos de
apagar o fato de o clicntc “não ter tratado bem sua mãe”. Preñro das conseqüências de depressões.
de1xar' cm pé a culpa do “nã0 tê-la tratado bcm” c d1r1"a 51m'plesmen- suas ações.
tez “Sun', é uma pena que seu ul't1m'o encontro não foi agradáveL Mas
certamente houve muitas ocasiões na sua vida cm que seus contatos Agora voltemos aos senüm'cntos dc culpajusttfí'cados, àquela
com a mãe transcorreram de forma harmoniosa, não é ...?” voz mals' m't1ma' de toda pessoa, que nas horas ma15' sm'ceras e

í
A segulr', gostaria de abordar a mancu'a dc sc lidar com os soütárias de auto-reflexão m'evitavelmente sc man1f'esta c busca no
senüm'entos dc culpajusnjí'cados, que é especialmente d1f1"c¡l,' tanto passado aqu11'o que não dcvcna' tcr sido delxa'do no passado. É
na orientação de outras pessoa5, quanto na própria vida, que tam- aqucla vcrdade nua quc surgc quando desmoronam as hipóteses de
bém não é poupada dc situações deste tipo. Quanto aos sent1m'cntos dependênaa,' levantadas como proteção para dclegar a respon-
de culpa injustifícados, gostaríamos dc obscrvar quc são rclativa- sab1h"dade para o extcrion A úm'ca coxs'a a fazcr, ncstc caso, é a
meme fáccxs' dc serem tratados em síluação de terapia. Ou eles se reparaçao".
orig1n'am dc um engano, ou de uma doença. No caso de um engan0, Para orientar os espcciahs'tas neste senüdo, a logotcrapia
é prec15'o mostrar claramente ao paciente que a culpa só é cabível 1n'vcstigou o amplo domml"o de reparações possívcxs,' c cncontrou
em situações ondc estão prcsentes a voluntariedadc e o conheci- três possib1h"dadcs dc como a culpa poderia psíquícamcnte ser

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elaborada. A pnm'c¡r'a é a reparação no' próprio objeto, a segunda, de fallas 1r'remediávels', sem possib1h"dade dc rcparação d1r'ela, está
a rcparação em outro objeto, e a tercelr'a, através dc uma “mudança muito d1mm"uída.
de pensamento”, o que praticamente equivalc a uma repaxação a Exammcmos por úlLIm'o o lipo de repaxação “mais 11'ógica”,
“nível mora1”. Espccialmente a últ1m'a é uma idéia psicotcrapêutica que só pode ser entendida mctañsicamente, m45' quc, a mcu vcr, é
m'comum, p015' ousa cntrar d1r'ctamcntc no campo da “cura rclígiosa extremamente preciosa: a modifzcaçâo de pensamento. A pcssoa
da alma”; como, porém, poderíamos nos proib1r' de cruzax uma quc se tornou culpada é responsávcl por algo sem possuü a 1ibcrda~
pontc que atravcssa um precipício? de para poder compensá-lo3. Ncstc caso, dcpendc de sua aütude
Tratcmos m1"cialmente da rcpaxação no 0bjeto, que é a ma15' m'terior, depcnde daquüo que ela pcnsa. Talvez a pessoa esteja
ev1'dcnte. Espccialmcnte a reparaçao' no próprio objeto quc foi pre- m'ternada na Unidade de Tcrapia Intcnsiva de um hospítal, olha
judicado é a maneüa ma15' 31m'ples e “mals' lógica” de extm'gmr' uma para sua vida, mas não tem ma15' tempo para fazer qualquer repara-
culpa. Por excmplo, uma pessoa tüou algo de alguém e o devolve; ção. Talvez csleja na cela de uma prisão, e perdeu grandcmcnte sua
ou fez algum estrago e conserta-o; ou ofendeu um amigo e pede-lhe libcrdadc de mov1m'cnto e ação. Talvez scja tão pobre ou dcñm'entc,
perdão. Este tipo de rcparação tem geralmente um preço adíciona.l, que as possib1h"dades de fazer o bem sejam hm1"tadas. Porém, ela
pons' exige uma certa humüdade ao confessar uma falta, ao pcdk pode arrcpcnder-se e o arrepend1m'ento, dc alguma forma, anula a
perdão. Mas, em compensação, o senüm'ento de culpa desaparece culpa. O arrepend1m'ento pcrmcia aquüo que aconleccu com o
totalmente. Além d15°to, dcsta reparação não resulta hum11h'ação, scntido dc quc, pelo menos, chcgou-sc ao reconhecimento do crro,
p015' a fraqueza, à qual se ccdeu, foi compcnsada por uma força e qualquer processo de reconheam°cnto é um proccsso de amadu~
ulterior. recun'ent0.
A reparaçao' num outro objet0, a não ser aquele que foi lesado, “Amadurec1m'cnto” não sigmñ'ca auto-recnm1n"açõcs tortu-
é um pouco “ma1$' 11'ógica”. Além de ser “mals' üógica”, é também rantes, de caráter masoquista. Trata-se muito mals" do reconhe~
ma15' amarga, po¡s' somente se cogita desta solução quando a repa- c1m'ento do bem, que liberta a pessoa da m'ut111"dade de quercr
ração no mesmo objeto não (mals') for possíveL Alguém cegou uma mudar aqu1l'o, que não pode mals' ser mudado. A pessoa que “muda
outra pessoa 1r'reversivelmente com um golpe - nunca mals' poderá seu pensamento” por causa de uma culpa afasta-se um pouco do seu
restitmr'-lhe a v15'ão. Alguém seviciou uma criança que agora se “eu” an'teri0r, ela não é mals' a mesma após ter mudado seu pensa-
tornou adulto - nunca poderá fazer desaparecer este trauma de sua mento, tornou-se outra pcssoa, talvcz uma pcssoa melhor. E se esta
mf'an^cia. Porérn, nm°guém nos 1m'pede de, em situaçõcs futuras, mudança for possíveL a culpa e o sofr1m'ento dela decorrente não
demonstrar cspecial consideração c atenção, de fazer prevalecer 0 foram em vão, po¡s', à luz de um senüdo mais profundo, a culpa se
bem onde antigamente 1m'peravam o ódio e o mal. Conheci uma transforma em metamorfose.
mulher que conseguiu psiquicamente elaborar um aborto que pra~
sentlm'cntos de culpa1'ust1ñ'cados
ticara, accitando uma criança adotiva problcmática que n1n'guém
queria. Sob scus cuidados, esta criança conseguiu se desenvolver exigem reparação
bem. Esta não foi uma mancu'a barata dc aplacar o seu remorso,
mas uma rcahza'ção louvável desta mulher, que deu à culpa, em que no mesmo num outro a “nívcl
sentiu ter m'com'do, um scntido mals' profundo. Há assassmos que objeto objeto moral”
voluntariamentc se oferecem como cobaias para testes médícos, a
ñm de retribmr' à humanidade um serviço que outrora delxar'am dc
l l 1
O dano será O dano será O dano pcrdc sua
lhc prcstar, por causa de seu comportamento m'umano. Estas repa- compcnsado, compensado, condíção dc náo tcr
raçõcs em outros objetos exigem um alto grau de força e autodomí- praticando~se praticando~sc scntido, aLravés dc
ni0, mas têm um efeito muito saüs'fatório e curativo, não apenas por voluntariamente voluntariamcme uma mudança dc
o bem perantc a(s) o bem perante as pcnsamento, que
rcstituk à pcssoa a scnsação de valor próprio, mas também por vít1m'a(s). não-v1'tun'as. lcva ao reconhecmento
aumcntar a sua scnsação dc valor da vida, a qual, cm dccorrência do bem.

172 173
Para 11'usr.rar que, da “tríadc trágicaz sofnm'cnto, culpa e mor- Iado, aofazer ts'to, havelia o perigo de estannos amb'umdo' a este fato
te” (Frankl), justamente a cupla pode marcar uma pessoa por toda um valor eIevado demats'; além dzs'so, como elafalou de um pnm'e1r'o
sua vida, muito mals' até do que uma experiência de sofnm'ento ou casamento, deve ter havido um segundo, e então precu°amos nos
um cncontro com a morte, gostaria de reproduzü um diálogo muílo pelguntar se seria bom trazer à tona tantas memórias em relaçdo ao
comovcnte com uma paciente que atendi em meu centro de acon- pnm'ezro' palceim Decidi então fazer m'icíalmente um levantamento
selhamcnto. A mulher, de aprox1m'adamente 60 anos, foi encami- geral da vida desta mulher.
nhada para m1m' pelo médico da chm"ca dc uma estação termaL Eu: E antes, antes de seu casamento, teve uma vida boa?
porque o estado psíquico dcploráveL pelo qual foi mandada para a
chm"ca, não aprcsentou mclhora alguma. Desde então, tive algumas D.X: Bem, mcus paJ5' ñzeram muito por m1m'. Mas nunca conhcci
sessõcs dc terapia com e1a, mas 0 pr1m°cüo encontxo terapêutico, amor e calor humano. O casamento deles também na'o era
que gostaria dc rclatar aqui cm hnh'as gcrals', ocupou uma posição- nada bom. A551m' que term1n'ci a cscola, clcs mc mandaram
chave, po¡s' ncle a pacícnte conscguiu ser motivada para uma mu- para o trabalho. Mmh'a mna" mals' nova pod^c aprender um
dança cm seu pensamento. ofício, mas, quanto a m1m,' queriam que saísse decasa logo.

Para que se possa acompanhar 0 diálogo não só quanto ao Eu: Onde a sra. trabalhou?
conteúdo, mas também quanto aos scus proccd1m'cntos técnicos, D.X: Na fábrica. Dep015' na companhia de bondes, achei este traba-
farei comentários ao longo dele. lho m'tercssante.
D.X: Sm'to tanta ansiedade, parecc que algo está me apertando... Eu: Então o trabalho na'o lhc dcsagradava?
Eu: Pcnse bcm, exatamente do que tcm mcdo? D.X: Não, pelo contrário, sempre gostei dc trabalhar (Conta a rcs-
D.X: Justamente 1s'to eu não sei. Não há motivo algum. Talvez o mo- peito de seus empregos).
tivo esteja no passado... umpassado que na'o consigo suportaL Eu: Então seus pa15' talvcz na'o üvcssem tomado uma dec1sa"o tão
Quando um paciente sofre de ansiedade, recomenda-se investi- crrada quando a mandaram trabalhar?
gar do que ele tem medo. Se ele conseguir apontar um motivo, e se a D.X: Não, até que na'o...
ansiedade na'o estiver adequada ao motivo (p0r exemp10, medo de
bacilos, medo de se machucar em objetos coxtantes, etc.), pode-se Ficamos sabendo, assim, que nao' só 0 casamento, como tam-
suspeitar de uma reaçao' neurática de ansiedade, para a qual o método bém a infância da paciente, na'0 foram épocas boas. E novamente
da “m'tençao' paradaxal”poden'a trazer alívio. Se, porém, o paciente haveria a possibilidade de fazer um trabalho íntenso de ñhvestigaçab
na'o souber de um motivo para sua ansiedade, trata-se de outra psicológica”. Mesmo assim, nada do que aconteceu poderia ser apa-
problema'tica, swpreendentemente, muitas vezes de uma proble- gado. A un'ica coisa a sermudada é a atitude dapaciente diante destes
fatos. Foi 0 que tentei fazer neste ponto: tentar a mconcíliação com 0
mática da consciência. Pelo menos, é algo que sempre deve ser
m'vestigado mals' a fundo. comportamento dos pais.

Eu: Há algo trágico no seu passado...? Eu: D. X., a sra. começou cntão a trabalhar ccd0. Também casou-se
cedo?
D.X: (1m'pctuosamente) Foi um mf'erno, um verdadeu'o mf°crno,
com mcu pnm'elr'o marido. Só bebia e andava com mulheres D.X: Slm,' ccdo demals'. Mas cra o ano dc 1942, c nessa época
- e depoxs' sumiu, s¡m'plesmente foi embora. mngu'ém sabia o que aconteceria no dia segum°te. Muitos
homens mom'am na guerra; ao despedu'-se, nunca se sabia sc
Eu: Quantos anos durou o casamcnto? haveria um reencontro.
D.X: 14 anos. Eu: Posso entender ls'to muito bem. Seu marido, porém, voltou da
Nesteponto, poderíamos explorarintensivamente este casamen- guerra. Será que as experiências da guerra o modücaram
to fmcassado, que certamente dezx°ou marcas na paciente. Por outro tanto?

174 175
D.X: Certamenlc foi a551m'. De repentc, tornou-se oulra pessoa. Eu: Então a sra. tmh'a um outro ñlho, c scu marido a abandonou?
Mas cm 1945 nasccu nosso Jorgc... (chora)
D.X: Slm'. Em 1954, nasceu Marcos, e no mcsmo ano meu marido
Eu: (após uma pausa) Jorgc é seu ñlho? saiu dc casa e desaparcccu. Ele fazia ncgócios dcsoncstos, c a
políciajá cstava atrás delc. E cntão ñquci sozinha com as duas
D.X: Elc era 0 mals' velho... (chora) crianças. Não sei o quc teria acontccido se não tivessc tido o
Até aqu1,' a paciente falou sobre situações penosas de sua vida, Jorgc. E clc unh'a apenas 9 anos... Elc não tcvc m'fan^cia...
mas deu a impressao' depoder conviver com elas. Até a reconciliaçao' (chora)
com 0 çomponamento do primeiro man'do parecia possível diante
Quando ocorrem relatos de pacientes com um canteúdo emo-
daqueles anos traumâticos da guerra. Porém, ao mencionar Jorge,
cional tão fone, é preciso prestar atenção a certas nuanças para
deparamo-nos com uma violenta reação em0cz'anal.
perceber o núcleo patogênica 0 sofrimento em si não faz a pessaa
Eu: Creio, d. X, que não é propnam"entc o casamento péssnn'o com adoecer, ao contrân'o, pode até contribuirpara o fonalecimento mi-
seu prun'e¡r'o marido ou a mf'an^cia mf'chz' quc a añ1g'e tant0, quico de uma pessoa. Somente se no sofrímenlo estiver contido algo
mas há algo quefaifeito “contra o sentido” ou “contra a consciência”, istopoderâ
D.X: (sussurrando) O meu Jorge morreu aos 16 anos. ter conseqüências neuronzan'tes na vida futura. Ao “atentar para as
nuanças',' chamou minha atenção a sentença "Ele não teve infância”.
Eu: Sm'to muito, d. X, esta realmente é uma dor muito grande para Esta sentença se repetiu e parecia causarmais dor do que a frase “Ele
uma mãc! morreu”.
D.X: Já faz ma15' de 20 anos. Prec15°o superar esta morte; outras Eu: A sra. realmente passou por uma situação muito d1f1"c1l,' meu
pessoas também oonseguem Deus! Prec15'ava ganhar d1nh'cn"0 para suslcntar a famíha,' c seu
Além do sofn'ment0, a paciente também foi confrontada com ñlho de nove anos teve que cuidar do bebê. A sra. e seu ñlho mals'
velho foram muito corajosos!
uma morre muito trágica, com a morte de um de seus jílhos. Porém,
como ela mesma dzz,' isto aconteceu há 20 anos atrás. Certamente, D.X: (pára de chorar, seu relato torna-se ma15' coerente e até fala
uma mae~ jamaispoderá aceitar totalmente algo assim, pois a ferida é com um ccrto orgulho) O Jorge trocava as fraldas do bebê,
muitoprofundm Neste caso, porém, ela não cicatnzo'u, como demons- dava-lhe comida, banho, sempre tmh'a paciência com ele, accitava
tram as Iâgn'mas. Por que nao'? Precisamos falar mais a respeito. tudo quc o lrma"o menor fazia. E o mcnor muitas vczcs cra
Eu: Algo assm' não se esquecc, d. X, mesmo que tenha acontecido endiabrado; uma vcz, por exemplo, elc mordeu o ümão na bamg'a
há tanto tempo. Contc-mc alguma cons'a arcspcito descu ñlho, da perna. Quando então falava: “Jorge, dê um tapa nele”, o Jorge
que cn°ança cra elc? só ria e d121"a: “Mamãc, elc a1n'da não cntendc.” Ele praticamente
criou o 1r'mão menor e 15't0 foi uma ajuda muito grandc para mnn'.
D.X: (comcçou a relatar dc modo fragmentado) É justamentc ls'so! Mmh'a mãe nunca me ajudou, mas cla também morreu logo...
Ele era tão bom, não era como uma criança, cle não tevc Ma15' tardc, conscgui uma mãe de criação para 0 Marcos, já foi
mf'an^cia! Ele semprc cuidou do um'ão mcnor, praticamentc o uma época melhor para nós. E então casci pcla segunda vez, para
criou; logo de manha,' já o lcvava paIa a creche, po¡s' eu era que os memn'os tivcssem novamente um pai; era um homem
sozmh'a, mn'guém mc ajudou, precàava comcçar a trabalhar rcalmcntc muito bom, também gostava muito do Jorgc (sua voz
às quatro horas da madrugadq no correio, também trabalhava começa a tremer).
à tardc - naqucla época, a correspondênch am'da cra d15'tri-
buída duas vczcs ao dia... Mmh'a mãc não mc ajudou a cuidar Eu: (calmamente) O que aconteceu depms'?
do meu ñlho mals' novo, o serviço social também não ajudou, D.X: Aos 16 anos, meu ñlho contraiu poh'omíeh'te. Morreu dentro
po¡s' lá me dxss'eram que, no caso de ñlhos lcgítlm'os, o pai de três dias. Somente um anos dep01s' comcçaram a vacm'ar
prccns'ana' cuidar delcs, mas o pai sumiu, nem sabia ondc cle todas as crianças contra a pólio.
estava... Não tmh'a dmh'elr'o!
Eu: Seu ñlho menor também correu per1g'o?

176 177
D.X: Sxm,' foi na época em que ele já havia voltado a vivcr com1g'o. D.X: Não, 15'to não. Elc cra um anjo, que vcio à Tcrra, fez o bem e
Elc ñcou cm quarentcna, mas não pegou a doença. Nunca me se foí...
rclacionei com o mcnor tão bcm quanto com o maíor... Fal-
tam-me os anos em que estivemos separados, quando tive que Eu: cha bem, d. X, isto também permanece, não só o fato dc sua
cntrcgá-lo a uma outra pcssoa que cuidassc delc... morte! Toda sua vida e suas ações serão para sempre boas,
por ma15' curta que tenha sido sua vida. A sra. acha que a
Eu: Então pcrdcu justamentc aquele ñlho que lhe cstava ma15' extensão de uma vida humana é o aspecto mals' 1m'porlante?
próx1m'o. E 1s'to numa época em que o pior já havia passado, Scrá que não cxns'tem vidas humanas que duram muito, mas
quando podia tcr a esperança de que v1r1"am alguns anos de cujos conteúdos de senlido são poucos, enquanto que ouKras
fch'cidade... pcssoas consegucm prcencher sua vida com um grandc núme-
D.X: Exatamente. Mas nada mals' pode ser feito. Nada pode ser ro dc boas ações, no pouco tcmpo que lhcs é conccdido?
modücadq mn'guém pode mudar nada. Não há maJs' possibi- D.X: Snn,' xs'to é vcrdade. Mcu ñlho Jorge mc trouxe muitas alegrías
lidade de ajuda, porque o tempo não volta atrás, tudo está ncsta sua vida tão curta, ele era tão sensat0, amáveL m'teligen-
1r'remediavelmente perdido! te...
A transitoriedade do tempo4 nao~ pode tirar o sentido daquilo Eu: Mas ls'to permanccc, não é? Nlngu'ém podcrá ür'ar-lhc a alcgria
que aconteceu. E uma axistência sem sentido também não adquiriria que ele lhc Lrouxe; o encontro com seu anjmh'o, como a sra.
sentido, se pudesse serprolongado etemamente. 0 valor de uma vida dls'sc, pcrtence para semprc à sua vida, não pode ser apagado.
não depende da sua duração, assim como a qualidade de um jílme Se hoje a sra. pensar no seu ñlho falecido, dcvcria sentü
de viagem nao' depende de sua extensãa Se 0 filme mostrar durante gratidão por tcr tido um ñlho assxm'...
duas horas o percurso do automóvel por estradas poeirentas, é um
jílmepior do que aquele que dura somente meia hora, mas que mostra D.X: Se a gente olhar paIa a situação dessc jeito...
os aspectos mais bonitos da paisagem pela qual se passa. Uma conversa que toma este mmo ilustra na Iogoterapia a
Se contm'uarmos comparando o transcorrer da vida com um chamada “modulaça0' de atitudes”. Nao' é verdade que, conforme a
ñlme, podemos entendcr que avida, ou o ñlme, somente é “comple- paciente pensa, nada mais pode ser mudad0. Pelo menos am'da
to”, quando chegar ao seu ñnaL Cada ccna estará então fixada podemos mudar a atitude espm"tua1 diante de um evento ocom'do, 0
1n'dclevclmente para sempre, e projeta-se na tela do passado, onde quefaz uma dzf'erença enorme do ponto de vista da higienepsíquíca.
nada ma15' poderá ser mudado, ncm fa151ñ'cado. O que foi ncgativ0, Eu: Como será que seu ñlho Jorge gostaxia que a sra. encaxasse a
contmuará ncgativ0, e o que foi positivo, contmuaxá deñmtivamcntc situaçã0?
positivo.*
D.X: Bem, ele certamente não gostaria dc me ver aSSIm,' tão ator~
Eu: D. X, a sra. dlz' que nada pode ser mudado. Por outro lad0, a mcntada c com tanto desgosto. Suas últlm'as palavras no hos-
sra. me contou tantas c015'as positivas sobre seu ñlho Jorge, pital foramz “Ajudem a mmh'a mãe!” Nunca pensou ncle
como ele ajudou quando era necessário, como cuidou cari- próprio; quando t1nh'a algum dmh'e1rmh"o no bolso, logo com-
nhosamente do 1rm'ãozmh'o; a sra. gostaria de mudar tudo prava alguma cms'a para o mn'ão, nunca para cle mcsmo - elc
ls'to? não tcve mf'an^cia... (chora)
Aqui novamente apareceu a sentença que já chamou minha
atençao' e, de repente, percebo intuitivamente o núcleo do problema,
aquilo que estápor trâs da af7içao' dapaciente: não é o sofrímentopelo
' Nesta comparação, além do “arqu¡v'o” do passado, onde estão armazcna- que passou, pela mone do fílho; trata-se de um sentimento de culpa
dos todos os “ñlmcs" dc vidas humanas concluídas, a pcssoa religiosa pode am'da
1m'aginar o “arquiv1'sta", aquela instância que é a única a conhecar todos os “ñlmcs", nunca superadol
nas mínimas cenas. O estado dc comciêncza' durante uma vida humana transformar- Eu: D. X, tenho a 1m'pressão de que se tratade algo muito cspccíñco
se-ia cntão num cstado de ter conhccunen'to, após a morte.
que está afhg1n"do a sra. Crcio que não seja propriamente a

178 179
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mortc trágica de seu ñlho que lhc parece tão d1f1"c¡l' de superar. para criar seus dons' íilhos. Dc tudo ls'so deduzo que também
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Sua morte repentm'a deve ter sido um choque muito grande seria capaz dc suportar ñrme e corajosamenlc a mortc trágica
para a sra., prm'cipalmcnte porque foi tão m'espcrada; nos de seu ñlho ma15' velho. O que não lhe pcrmite voltar à sua
. .-_.-

muitos anos, porém, que já se passaram, este choque deve ter tranth""dade psíquica é a questão se, cm relação ao seu ñlho,
d1mm"uído. Contudo, há algo que a sra. sempre repete; é a tornou-se culpada.
.- v›_.*._u.

sentcnça “Ele não teve mf'an^cia”. Poder1a' ser que a sra. a1n'da
Vamos rcfletüjunlasz o que teria acontccido se seu ñlho Jorgc
hoje ñw pensando se não deveria tcr proporcionado ao mc-
'-m'*

mn'o uma mf'an^cia mals' bom'ta, se, da sua parte, não dcveria tivesse sobrevivido?
ter lhe dado maJs' alegrias, se não ex15'te alguma oportunídade D.X: Ah, então mms' tarde poderia tcr lhe dado ma15' cms'as...
que a sra. delx'0u passar e que agora jama15' poderá voltar? Eu: E os seus senüm'entos dc culpa?
D.X: (pega nas m1nh'as ma'os, muito emocionada) É 15'so, é exata-
D.X: Provavclmente não os teria tido, pms' tcria dito para m1m'
mcnte 1s's0, dra. Por exemplo, da escola faziam excuxsões c o mesmaz eu consegui compensar aquüo que lhe faltouna mf'an^-
Jorge era o um"co que não podia 1r° junto, p015' não tmh'amos o c¡a...
dmh'cu"o para a passagem de trcm. Talvcz pudcsse ter dado
um jeito dc arranjar esse d1nh'e¡r'o...? Ou então, 0 professor Defat0, para o observador de fora é questionável até que ponto
n. .» mu.:mu1~sm_wv_m

Ihe recomendou um h'vro, com hls'tórias sobre amm'a15', a1n'da os sentimentos de culpa desta pacie_nte seriam justzfcados ou não.
mc lembro bem, mas eu não podia comprá-lo. Mas talvez o Pela minha intuiçao~ espontânea, diria (e também disse à paciente)
livro ens'tls'sc numa biblioteca, para emprésüm'o? Muitas vc- que a mulher linha sido muito corajosa e quase não havia mais
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v_zç\

zes voltava para casa tão cansada do trabalho, estava em pé possibilidades para ela agir dfierentemente. Contudo, existe nela este
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desde as quatro horas, que não queria saber muito de suas mal~estar há 20 anos, e, como ela não parece ser do tIp'o escrupu1050,
pcqucnas preocupações e desejos (soluça). sen'apossível que existisse alguma base realística. 0 aspecto trâgico é
que qualquer tipo de “cup1a”perante a criança jamais podeña ser
Então era este o motivo de sua doença psíquica, tão resistente reparada. Mesmo que se tratasse de coisas z'nsignt_fi'cantes, nem estas
à cura. Não eram os grandes goples do destino de sua vida dfíicil que poderão jamais ser reparadas na mesma pessoa.
ameaçavam despedaçá-la. Eram os pequenos espaços de liberdade
remanescentes, que a torturavam com a pelgunta se realmente havia Eu: Ccrto. Pcnscmos um pouco maJs': o que teria acontecido sc seu
aproveitado ou nao' aquele último espaço livre, que lhe restara, com ñlho Jorge tivesse sido uma criança antipática, um arruaccu'o
responsabilidade. E, na opiniao~ dela, a resposta era “nao'”. que ñcasse na rua ao m'vés de ajudá-la?
Eu: (após uma pausa) Seus senüm'entos de culpasão a causa dc suas D.X: Ah, neste caso...? Bem, também teria chorado por cle, mas não
ansiedades, d. X. A sra. sofre dc uma dor de consciência. Seu teria me afligido por tanto tempo por causa dcle, não ten'a mc
filho lhc ajudava aondc podia, e a sra. questiona hoje se fez o torlurado a551m'.
mesmo por elc, não é? Eu: E os sent1m'entos dc culpa?
D.X: (em voz balxa') Slm'. D.X: Talvez estes também leriam sido menores. Slm', certamente,
Aqui termina a fase diagnóstica da conversa; neste pont0, é acredito que s¡m'.
preciso iniciar a fase terapêutica. Eu: A sra. percebe, então, como sua dor de consciência está m'L1m°a-
Eu: ch, d. X, encontramos o foco da sua doença. Na mmh'a mentc h'gada à naturcza muito espccial de seu ñlho? A expe~
op1m"ão, a sra. é uma mulher extremamente forte e corajosa. riência mals' bom'ta de sua vida foi jusntamente a bondade, a
Superou bem uma mf'an^cia razoáveL trabalhou muito em sua abnegação e a precocidadc dcsta criança. E, ao mesmo tempo,
vida, lutou para atravcssar os an'os de guerra e pós- cste é 0 motivo pelo qual a sra. se sente culpadaz para usar suas
guerra. Além dls'so, na sua situação desesperada, aband0nada próprias palavras, comparada a um “anjo”, a sra. permaneceu
pelo marido c pcla mãe, am'da encontrou forças suñcientes um ser human0.

180 181
Agora, porém, delx'e de olhar para si própria. O que fez com cm outras palavras, seu ñlho falccido foí tão grandioso p0r-
que Jorgc se tornasse um jovcm tão extraordm'án'o? Não foi quc, entrc oquos fatorcs, a sra. sc tomou culpada pcrantc cle.
exalamente a situação de cns'e, que fez com que amadurccessc
D.X: Compreendo, posso me orgulhar dcle. Ele cra mclhor que seu
precocementc? Não foijuslamcnte o fato de que cra nccessá~
pai e sua mãe. Não posso añrmar lss'o do meu segundo ñlho...
rio paxa sua mãc, a qual podia lhc dar tão pouco, que preci-
mas a vida dcle am'da não lermm'ou. A sra. tem razão, comcti
sou-se dele como ajudante em tcmpos d1f1'”ccis, não foi cstc fato
erros e meus d01$' ñlhos reagüam d1f'erentemente a elcs. Jorgc
que fcz surg1r' o mclhor dc dcntro delc? Se pudcssc tcr lhe
provavclmente cresccu com eles...
oferccido uma mf'an^cia scm pteocupações, será que seu ñlho
teria sido a mesma pessoa? Eu: Até mesmo nos seus últlm'os momentos elc cresceu, quando seu
pensamcnto c preocupação se d1r'igu'am à sra. Scu úlum'o
D.X: A sra. acha que ele amadureccu devido às ckcunstan^cias?
dcsejo foi que a sra. estivessc bem, e não que vivcssc sc
Eu: Cerlamente. Amadureceu também naqueles momentos em que torturando com dúvidas e ansiedades...
sua mãc estava fraca e cansada, chegava em casa cxausta, não
Desde nosso pn'meiro encontro terapêutico, a paciente estâ em
tmh'a d1nh'e¡r'o para diversõcs. Scu caráter nobre formou-sc
boas condições e, com base em noxsas conversas subsequ"entes, tam-
naquelas horas amargas e sua morte prccow evitou que algo
bém melhorou seu relacionamento com seu outro fílho, que já tem
pudesse se mod¡ñ'car nele.
uma família própn'a, mas que provavelmente jicou por muito tempo
Não é tão 1m'portante o que alguém tem na vida, o que apro-
à sombra do 1rm'ao' mona '
veita dela, mas rudo depende do que a pessoa serâ na vida - o
ser é mals' un'portante que o terl E mesmo que seu ñlho não 0 provérbio antigo de que devemos oferecer onres durante a
lenha aproveitado muito da vida, tornou-se um jovem gran- vida, pois no túmuloflorescerão “inutilmente',' contém uma verdade
dioso. muito profimdzg que foi aprendida não só por esta mulher, num
processo doloroso, mas que todox nós devemos relembrar ocasio-
Sem dúvida, apaciente idealzza' umpouco seufílha Certamente nalmentel.
eIe nao'fora um “anjopuro',” embora muitas das coisas que ela contou
a seu respeitofossem realmente nota'veís. Mas a idealização em nada , Scr humano sigmñ'ca que sempre estamos devendo algo para
prejudica, porque nao' está Iigada a quaisquer expectativas em relaçao' nós próprios c para as outras pessoas, o que sigmñca sun'plesmente
ao fílho; ela simplesmente glonjí'ca um valor que, também sem glon'- que de1xam'os passar possib1h"dades de scntido sem a roveitá-las, ou
fícaça',0 é e pennanece um valor elevado. Assim, não remexo nesta sem fazer a escolha correta no momcnto ccrto. Ê o preço que
idealização (pois istopoden'afaci1mente reverter em desvalon'zaça'o), pagamos por nós, seres humanos, termos rcccbido algo que não foi
masprefiro usá~la defonnapositiva, para iniciarjunto àpaciente uma dado a ncnhuma outra criatura que conhecemosz a h'berdadc da
“mudança terapêutica de pensamento”. vontadlmFoi Martm' Buber quem dls'sc tão oportunamentc:

D.X: Slm', ele realmentc foi extraordm'ário! A grande culpa do homem


não são os pecados que comete -
Euz Talvez um pouco mals' “extraord1n'ário” do que sua mãc! Dci- a tentação é poderosa
xe-lhe esta posição, admita que cm vários aspcctos clc foi a e sua força pequenal
“parte mclhor” dos dons'; as falhas que a sra. cometeu fizeram A grande culpa do homcm
com que ele se transformasse em herói! Pcssoalmente não é que a cada momenlo
acredito que a sra. tenha realmcnte falhado, cstou convicta de podcrá dar a volta - mas não o faz!
que fez todo o humanamcnte possível para ambos os ñlhos.
Os pcquenos erros, porém, que ccrtamente a sra. também Gostaría dc acrescentar que a volta comcça com a mudança
comeleu, po¡s', añnaL a sra. não é um anjo, fazem com que ele, de pensamenta
por contraste, apareça numa luz cspecíalmcntc positiva. Ou,

182 183
3.

_ ~. n.
Pensamentos sobre prevenção de suícídios*

..-
Para a concretlza'ção de um suícídio é preciso quc ocorram
dons' cventos tcmporalmentc consccutivosz
1. a idéia da possib1h"dade dc cometer suicídio, e
2. o ato concrcto para reahzax' esta idéia.
Não ocorrendo o n° 1, Is'to é, quando a pessoa não pensa em
suicídio, praticamente não há pcrigo dc suicídio. Se, porém, o ato
de negação da vida já foi antccipado em pensamcntos, há sempre
um certo ns'co, quc, conforme as cu'cunstan^c¡'as pessoms', podc ser
ma15' acentuado, ou mals' reduzido; ba51'camcnte, porém, o ns'co
ems'te. Naturalmente, há muito mals' pcssoas que de vcz em quando
“bnn'cam” com a idéia de suicídio, do que aquelas que rcalmente
chegam à sua consumação. Graças a Deus é ass¡m'. Contudo, 1am-
bém o 51m'plcs “br1n'car" já tem um cfeito dcstrutivo, dc certo modo
“1nortlñ'cante”, por redunr' a consciência do valor da vida, estabe~
leccndo-sc automaticamente uma sensação dc falta de scntido da
ems'tência e das ações; trata-se de uma sensação que, por sua vez,
faz a concretlza'ção da idéia dc suícídío paxeccr como um ato “pleno
de sentido”.
Quando, portanto, se trata da questão de prcvenção de suicí-
dios, a c16nc1a dcve tcr cm xmr'a não somentc a prcvenção da

' Este cnsaio foí origjnalmente cscrito por solícitaçáo do Mxmstérío Alcmáo
para a Juvcntude, Famnja c Sau'dc, e publicado pcla Sociedadc Alemã de Prevcnçao
do Suicídio.

185
W-'dosumho."'msumlfmdcwandar'da“pn\uçao'dc hexúm dramáticm ou à adoçao" dc mna dn°pm"çao° hlst'én'ca dc hm'
nkm'"" dc WWR lnfrlmncnl'c. as optm<Z°Wcs dns apcanlnt"'u mm dc mundu
qxnmo a Ncu mcdnskx _.h*a.*uando-.~c* zm paradnm dc, por Akm dcsl.›.›'" mñ'uências sxm"u'* c s:x(°ío-cmnuau." há nm"da um
mn hckx ammnr" Wadeu_' dc ptücçah w pomcs ckxndn tomcs c ourm modclo quc pxic facitmcnlc dmmcadcar um stúcídim o
Wa pm chñàmy aos cwnnmk mndxda'los modclo fnmüian L'm suiddio na fuúlía póc em rL°~\\\ cnormc lodm
ôcsmiwtopubpammmv'\tnquanloquc,moumladg\mmcxcs' os outms fannüms c csmimmcmc s mançme dwa tn'm¡1¡'a. Um
dz mmmW dc mm* noumm" dctalhadamcmr Iodo pulo para cwmlo láo tcle c chocantc jAm~aL\* sxm csqucddo por ncnhum
3 monc amtuzzm prodtmnde' noms andidalus cm pmencm mcmbm dn tnm'11ia.' muitas \\Y:t$ lcndo cfcilu dc pnm'cntc c mhb
aoM"'\nodn'_ukarumsnk"n' qmumoummolcilonmhtra lmm'lc dumnte gemsñcs .-\s wzm m hl°hu\' c ncms dc ~:m'uda›._"
do daaspcw pmu unhza:" para sí pmpna" mmpuümmcmn Iumm a vida m'tcu"a mntra a ideia scmprc mxm
Xcse oamcnq \'íhor Frsnkl am mmnr um cwnto rcnrc dc umn “c.m'n*ag'o radical dc todas as prcmumüwsí Eüas
mmcndcm.'*.cmDmuL'dL1'qualm'uu›3'bcnd\Ldmmc umadt pcsoas prm'nm otr'rccer uma rc\xL~'“¡éncia extrrmamcntc mmor' à
m- \m_"em dc mnfercnass°' nm EL'.›\. Na época a quannda'dc dc rdéla" do suicídio do quc Nuclas em cujas nunca sc pncmHu
c lcnmuñs dc dc rcpcnzt abrupm- ncm umn “›xxluçâo de pmhlemas" dc.~\“c n'po.
mcma pura dcpoà ck .xmnn.1<'* aumcnlarun da msm funna Em cnãmlus famüiams ha até correntes dc stúddim
mr faxo cmtmmtmc m'1mum Ao 1n'“:.›n§.“"m mclhor o axm quc mmeçm com o beHwú têm sua mntinunçào macabm com a
xmg düxtñlm qnc. na éçxu havh uma um“plm mvw das m' e texmmm mm o sm'c1°d1'o da cnlmça mm mmL Ccrtamcntc
ügam'° da nnpnnsa' dumntc rà stmnas o quc nzn'pcdiu m'chsiw podcríamos considemr quc m elcmcmm dccàhm dc~x;.L\~' corremns
a àfmañ" dc noüm anbrc ›'111cí<in"wa.~ Eslü mrrelaçm nxs preocu- dc suiddío ~~c*'jznn dL~'*pu"5\'\cs dc carálex umdhnnlcs ou prnthpo
pmn e mm aquehs repcuda›" mamTatagixs dc proteüo por snçacs" gnêukwm náo há dúvidm ponénp que também :\ idéia dc
putcdmcsgxxnhm*'*qumdaporcxcmplqpasgumnhe nos sm°ddio é dea dc gexmçáo cm gmnçâxx ñcando dL~";x'-m'w1 pm
ancm'* m quc o hcrüi wam mmclc suiddiq kmndo em sua époms dc cmc*°\ u qua~5.' cm pnn'c1'ph',\ omnrm a qualqucr momcn~
cstuh algum Jthns quc sc smadnm" de mrclack~ muitas vezcs por m na vida dc qualqucr pxwm normaL
A logotempia qu entre outms a›.›\*untm.i abordou cmme
Pamnd'o de dc que a qmp.'les íde'm' da pm"bxh"dade mcnlc os mnanm*"cs dcjhdhuk c m damvs íamgêmknx mnccm
desmizo""épem_\'m parmrtm=*'pe&oa›“*que ñmmpmssacsta lnrsc agum cm dms prmapím pun agü pmñlaúcamcnte conlra os
-: a arquam rnemalmcme mmo uma pumwl amuçáo de efcàos camsnúñus de Lm'* modclgnà a mbcn
probkmag rcmand'o-.1 nommcnlc do comparuhtmo amvhkn un
m'w' dc at< pm mmxdcrà"-la acnam-"enle. vemoynm fxrçagdos a) chmmar”' Izmlo quamo pxxüwl o modclo ncgnüux c
a mmxr nuw amvm de presenção de stúcídio mak ampla do b) Lm°unrznr' mntm mxdclos mgañxm
que <e. mumag" mm denrro do eaqucma um de m'lcnençáo cm
O modclo Famman infclmcnm nào podc scr climmada ptü
A ideh pretcde o ala ponamo ramtúm a prohl'ana' dc idém
dme pmrda a ml'cntn~afa na cnbsà scmpre ammccc de um mcmbro dn famúin limr sua próprín vida
Já o modelo axxü t mubwulluml má mast tàcilmcme cvitñmL
O qm camn"ula a idéh dc sm'dd1'o é o maida Cumo modelos mnforme demmmm a referida mw dn imprumm Nalumlmcmc
mun mnlo o pxm hcrói an'.ma=-Imñb'ax com- o quxl m jovens uao' ac* uma mduçâo lão drm'*'cn da líberdadc dc un'prcn&:
ss mu qnanlo o lmmcm acuado ou a mulher mt"e_lxz.. mb're mn a prcwnção dc sukidiuxâ Nsmña quc os mcim dc mmuni~
ayos' Ls Jornm" publitam mportmzebmt mmo o permvcm Ylgxúü dc mnm aboniawm Nc tcma mm mmmr ñrqüêncim quc
do mmnmia pclo qual são dcmmandas lágmas qumlo o tantor nao' tramt*'L\rmmc“'.m 0 lema do smcídio rm rqxwt ngns smucixm
que lamm m unpam*' da nda' num hü melmmlim dc múáca e quc a litcmmm a art~c c o ciuema não uúmxmçxcm jusmmcme
populaL anto menor a m'bthda"dc çm"qm'ca dc urna pcsau maà sm'cidas mmo hcn\'xL'* no mmm da atcngüa Por um ladxx a imprcm
apab e xne~'mnção cla procura no ›e'u ambienm c mab susceüwl tem a mmb dc transnútü noddas c cultum dc mmxlmr o munda
dascmmaamñm~~'"negnm'm'dm'um'àaccilação dc papék

186
mockàporomro,háarespomabíh'dadepelamñnmaa“"sobre sma"das,jnmamemcoomsrepcramocs'pan'uwas'mm'üáws"quc
oamlacnz'=cpclamamp'ulaçao'dasAmasawdnhedméum produzcngpodcmscrelaboradosmptmumucdcmlmanah

v ._, N4._
_en~nnosuporque astrdadc>a1a"oan'éno'mánmo'dcqualquer qucseanulammavésdcumaamwdcañadmcmrdaçaba
uansnmao*" dc tnf'ormaçocs,' po¡s' quamo mak 'T8'rdadcs” sobre copoamo"na
anoadadq" cazástrofeg W="'Us e suicídios farem publiadag wda,'aosmg¡r'oncgam'1›.F.stc""oum1smo''trág1oo'msmmeg,espoaahncue'
maxs'dñados.xá=oscunúrncro,dcmodoqucasmf'ormag›cs'da qnando am'da cslá bascado cm prmc"p¡cs' ñlcxsóãwadcolfpm"
nnpr-'..ma' mmca _con›emm-a"'o alcangr a verdade, neste scu em- podesclmnaradcfesamaxs'podcrmaconxralcndcnaas"endézas"

_ .-_ -.
pvndnmmw'o mrr°ogem"oo de mf'eczar "”aquño quc am'da cstá sadio” suícídagoomonmbaluanedcsegmançaquencmnmhorasmak
m "aquílo quc 3á' m docnlc”_ d1f1"cc¡s'dau'dapodsráscr Uansposto.Apswolc'rap1a' dntrhctcm
qucoonnibuu'paraer1g1r"baluancswm0'cstccmsempaacnms,'
Quamo à fannh é uma tIpa“ca axgtnncnlaçáo logolerapéutica
masparalst'opreasa'dcnmaconocpço'dohomcmedomundoquc
Kmtàwnsacüaàdmpcsoassobmdcsúddxbahmcca
texrñel quc ›c'n alo para cs dcmak membros da famíha.' sejaposmmnformcapossm'ak›gotmp1a.'Umampçao'dc
me mm" wm depressão grave pudemm scr convendda5, dcsta homemquepermalelíberdadeerüponsabüidadqeumamccpgb
mammdedcmm"'totahnzmedesuazdéxa"dcsm'ddio, comomna dcmundoqueacena'acnsl'enaa"dcnmlogos,emmdocaama'dc
renímaa' wãca realm'da comúcnle e mhnzanamc°nte ao assnmn' mdo,pormals'qucestcas“smsccsqmw'cdamprecmao'humana.
omaWe uma n'da._ qnc Ihes pareaa° d_csurm"da dc valor, a ñm ch, dmsc'mos amenbrmcntc qnc devenm oumbarcx mna
dc pnoumr~ csñlhosdaWdíáo dannn"a@'0”. E umarenun'c¡a° quc, idéza' ds suicídio assxh quc surgtr', mzs qne, por ouIro 1ado, hastrh
nao' rammumitY lcm o efdo dc trazzr novamema sentido à sua n'da, fchzm'eme am'da nm longo mmmho' enrre a tdé“1a' e o alo. GeraL
a qm dc repeme._ não pareaá mas tão dcssalorm'da. mcmesesupoe'qnc oammhdc umdaencademeamaLou
sq'a._dcumdcsespcroprcscmc.lstorcalmcmeocorremmuma
Êo que qucnmasmmcmar arcspen'odapos§¡vel'elnnma"áo
dc modelos nezamv'm Como._ pOIÉnL csla ptxsíhmdadt é hmlm"da, parüladossüddagquandqporcxemplqmnapesmprónm
annnnzza"ção oamra cs aama' aIa'd05 modclos tem uma unpo'nan'aa' abandonou aoutra., mn ncgódo foi à falcnaa_“' um obyem"t› reselowsc
comomanngn"'tl, clc.0 homcmesli cmao',d.¡am'edeumdcsum'
pmñlañca não menos 1m'ensa. De acardo com a conoepção logote-
¡m'uLá\el, aem,' no enlamq perder lotalmenre sua líberdade. Amda'
rapêum há forçzu üprruuab"" no homcm quc podem >e° posicíonar
poderá dea'du' oomo rcspondcrá B “quesxocs' dc examc da nda"";
mmn a mñwahgáo psíqm'ca, mas o_uc, por sua ve2, não sâo
oonnn'uam ensund"o vánas' rüpostag porquc cnnc as qucsmcs' do
pelo menos não conrra a vonlade da respecxm pes-
dcsun'o sobram °^'hnhas'vazzas'”, qnc somenle podcm scr preenchM
soa. São aquàlas forças que praxícameme conrrolam as própnas'
pelapessoa'àqualapcrgumafm'dmg1”'da,;cm-nmgucm"paragmar'
cmom" c detcrmm o grau dc poder que Ihcs é ooncedido. É
sua mão. (Tahez o que Im'pon.a na vida ›.'=mm' justamcme m<
uma nao' subordma'da ao prm'c1p'io do prazer, oomo o são
lmhas' preenchidas e não as pergumag quc as precerdcm da mesma
as ncmaa“' emoçoes,' mã segue um prm'c¡p1"o de scnlída
forma que também num exame só coma a quahda'de das rcspom“
Se um estado psqm"co, como ansa'edadc, mst'cza ou mseguran'- dadas.«?) Para mda dmmdcame arual ha,' m lodo czm aritudes
ça._ amad0' par modelos nsgam°=os, espmrualm"eme não for consi- saudáseà e docnlm conformc o rüpecmo prm'cípio dc uda.' Se
dcradocomotcndoscnn'do,apcs›oa'podcsedlslan'aax'ml'ema~ predommar' o pnn'cípío do prazcr, qualqucr golpe do dàmo repre-
meme dw emdq cnan'do oondiçoes' para quc “na"'o preczsc' scma um golpe cm d1r'eção ao “dcsprazer", podcndo chcaaxb até um
agm mdo cLla° própna'”, conforme dxz' \'íh'or FrankL que a eae csxado dc dcscspcro. Ao dommar' o prm'cíp10' do smtídq qualqucr
respeüo fala dc mn “pod.r"= dcsañador do esp1m"o”. Evidcmemcmg golpe do destm'o represcma um dcmo para procurax o aennd0°'
preumm aqui oâmícapnos dc quc a d¡m'.n›a=-'o cspmtual" de uma mak profundo da 51n1a'g'o, e respondcr gà vída de acordo cum ek,
pesoa cstcja realmems mLa'cta, qne ela não esteja reduzída por assummdo a vida com resgwn-sabí1id.:ad:z.J
mwsoes" o quc dúorcenã mnsideravelmeme sua per-
Combasenwaxm"'osmgulax'napácotcrapa,'oob3em“b
Lrpção da plcnmde dc aennd"o de mn posidonamemo cspmrual"
mnualdalogotcrapxa'émndunr'aspcssoaswbnsm'paramn
díanle dñ reahdadcs' ¡;xsíquíca=.~ Prmmpondq porém, a em'ênaa' dc
pensamemoon'cnladopclosenn'do, cdcspenarnclxamudts'ñr~
mna relaçao' amplameme normal com a rcah'dade, m modelos
mcs que possam ser conñávexs' também em épocas dc aflição e suicídio. Os “neuróticos noogênicos” são predominanlcmcnle pos-
cns'es. A atitude forçada de dlze'r “O prm'cipa1 é que eu esteja bem”, soas em situações de vida descomph'cadas, tcndo mlútas vczcs
muíto comum nas pcssoas, e quc freqücntcmente acaba num bcco bcm-cstar materiaL succsso proñssionaL dm1"gos agradáv015' c saúdc
scm saída, porquc o bcm-cstar não pode scr forçado, scrá cuidado- física, scm, contudo, saber quc scntido poderiam cxuaü dc ludo
samcnte transposto para a atitudc “O prm'cipa1 é quc cu seja bom 1s'to. Estc fato, cmbora ms'te, corresponde exatamcnte aos lcvanla-
para algo”. Após um exame ma15' detalhado, venñ'camos que todo mentos estatístícos, dc acordo com os quals' aproximadamcnle 20%
m'divíduo pode scr bom para algo ou alguém, por mais precária que de todos os suicidas possuem um perñl de vida bastante posiliva
talvcz seja a situação dc vida cm quc sc encontre. Porém, no
Enquanto quc a prevcnção de suicídios, no caso de situações
momento em que surge estc “ser-bom-para-algo”, como um cle-
de desespero, deve oferecer solução para os problemas e conflitos,
mento de sentido da própria ems'tência, já eslá respondida a per-
assm' como desenvolvcr atítudes quc possam scr resns'tcntes a uma
gunta “pa.ra quc vivcr?”, ou “para que contmuar a viver?”, uma
situação cm que não houver mals' soluçõcs poss¡'vc1$', a prcvençâo dc
pergunta que estará diametralmente oposta à m'tenção dc morrer, suicídios, no caso de atos de m'd1f'erença, de conotação noogênica,
assnm' que sun'p1csmente cstiver respondida. (Consideremos, por
dcve se concentrar na demonstração da pleniludc dc scntido ems'-
excmplo, aquelas crianças que, após a tentativa de suicídio, dlzc'm
tente cm qualqucr cücunstan^cia, o que, há décadas, conslitui o
“quc queriam quc alguém chorassc por elas”. São crianças que, ccntro dc gravidadc do trabalho logo_terapêutico. Podcmos presu-
aparentcmcntc, não achavam quc eram boas para algo ou alguém, m1r' que esta ul't1m'a m'tervenção tem prioridadc sobre a pnm'eu"a,
e quc queriam, pelo menos, comprovar pelas lágnm'as de alguém
poxs', enquanto que situaçõcs problemáticas, numa cm'tência plcna
que, añnaL eram boas para algo!)
de sentido, geralmente são resolvidas c supcradas relativamenle
Agora passaremos das d1f1'culdades atuals', como molivo paIa bcm, numa exxs'tência scm scntido, ncm mesmo pcríodos dc feh'ci-
um ato dc dcscspcro, para um outro aspccto da vida quc podç dadc e bem-cstar parcccm scr suñcicntes para dar à pcssoa a
favoreccr a atratividade dc um suicídio e que é a indtf'erença total. E sensação dc tcr o d1r'eito de viver. O conoeito genéríco de toda
o vazio m'terior, a suposta falta de valor dc toda cms'tência, a prcvenção dc suicídios se condcnsa, assnm', na presença de uma
scnsação dc falta de sentido da vida. Justamente aqucla 1ns'tan^cia resposta d15'ponível para toda pcssoa, a qualqucr hora, para a
espu'1'tual no homcm, quc mencionamos anteriormente como fator pergunta “para que viver?”, que, ao mesmo tempo, saus'faz a per-
dc desaño poderoso contra mñ'uências ncgativas externas ou m'tcr- gunta “para que morrcr?”
nas, caractenza'-sc por uma asp1r'ação e busca dc algo que tenha Na psiquiatria, conhecemos am'da um segundo campo dentro
scntido; e se cssa busca não tiver pelo menos algum sucesso, ocor- do qual é cssencm1' ajudax o paciente a encontrar uma rcsposta
rerá uma “frustração cms'tcncial”, descoberta e descrita por V1k'tor positíva para apcrgunta básíca davida: é o âmbito cxtenso daquelas
E. Frankl, quc cnccrra em si um gcrme de desespero am'da ma15'
mamf'estaçõcs patológicas que anüg'amcnte cram denommadas co-
perigoso do quc qualquer desencadeantc trágico do destm'o. O mo “hls'téricas”. Neste caso, a pergunta será “por que rccupcrar a
grande perigo da “frustração cx15'tencial” não é tanto o fato de
saúdc?”, que scria novamente 0 equivalente para a pergunta “por
causar suicídios, mas a m'capacidade dela dccorrcnte dc contrapor que não contmuar doente?” Infchzm'cnte, cms'lc muilas vezes um
algo à idéia de suicídio. Numa vida vazía e sem sentido falta o porquê “motivo”, um ganho, que faz com que estes pacientes mmtcnham
de viver, e sem uma resposta para a pergunta “por quc viver?”,
sua doença de modo relativamentc consciente. Muitas vezcs, o
também não há resposta para a pcrgunta “por que não morrer?” “motivo” é um dcstmatário no meio cxtcrno, do qual' o pacientc quer
Na logoterapia, estabeleccu-se o diagnóstico d1f'ercncial de extorquk ocrtas rcações mediante detcrmm'ados sintomas. É do
“ncurose noogênica”* quando há uma “frustração ems'tencial” ma~ conhcc1m'ento geral que este quadro patológico pode m'tens¡ñ'car-se
ciça, que necessita de uma tcrap1a' especüca para afastar o ns'co de até chegaI a ameaças e lentativas de suicídio, qucrcndo o paciente
dcmonstrar, com 15'so, ao destm'atárío o dcsastre quc este causou.
Também não é novidadc quc estas tentativas funestas às vezes
' A palavra “noogêm'co” dcnva'-sc do vocábulo grcgo nous, que sigmñ'ca rcsultam em morte.
“espfrito", “sentido".

190 191
quals' é co-rcsponsávcl, quando têm sua origem nclc. chamos um
Neste caso, não se trata de um dcsespero reaL nem de uma
cxcmplo ñctício.
“frustração ems'tencial”, mas de uma delegação de culpa muito
especialz é a s¡m'plcs recusa em assumir a responsabilidade própn'a. Imagm'emos um homem tchaplégico, parahs'ado da cabcça
É que a pergunta “por quc recuperar a saúde?” só poderá ser para b_a1x'o,', e que pcdc aos scus médi|cos_ que seja “1íbcrtado”. Elc
rcspondida com sentido através da tecupcração plena do podcr de lula por c'ste seu suposto d1r'eito, alegando não ter csperança alguma
d15'por de si próprio, da libcrdade humana c da rcsponsabmdade dc que um dia valesse novamente a pena vivcr. Que mcnsagcm
própria. Contudo, a pcssoa que não considcrar csta como uma transmite este homem?
resposta atraentc, não daxá 1m'portan^cia ao fato dc se tornar um
“co-formador” do próprio destm'o, p015' agrada-lhe mals' o papel de
“vít1m'a” passiva do seu dest1n'o, mesmo quc para ls'so tcnha que
“sacnñ'car” rcalmcntc sua vida.
Como poderíamos prevcmr° estas tentativas dc suicídio “hls'-
téricas”? Certamcnte só será possível através dc um apclo contínuo
dc qualquer dênc1a' para a responsablll"dadc, um emprcendmcnto modelo íamiliar influências sociais e
no qual a logoterapia é a píoneña entrc as ciências humanas. Por sócio-culturais
outro lado, uma psicologia que apóia a tendênch para atribmr' a
culpa aos outros, ao considerar culpados mãe, pa1,' um'ãos, profes- o caminho possível eliminação de modelos negativos
sores e, por últ1m'0, a socicdade toda, pclos dls'túrbios psíquicos de Iogoterapêutico imunízação contra modelos negatívos
um m'divíduo, nem poderia esüm'u1ar a vontade de rccupcrar a
saúdc, poxs', dentro desta concepção, as emoções liberadas contra
os “culpados” m'cluem a docnça, como constante pano de fundo. A B) A EXECUÇÃO DO SUICÍDIO
Á\ç
reconc1h"ação com a vida não é possívcl no campo das acusações.
Ou, de acordo com Sõren Kierkegaardz “Só podemos entender a
vida rctrospecüvamente, viver, porém, precxs'amos prospccüvamen-
te”.
O esquema da págm'a 193 resume mals' uma vez as abordagens
1
Wm
da logoterapia quanto à problemática do suicídio e quanto às suas
¡y
medidas proñláticas.
Í. componentes situações de oomponentes
Para concluu', gostaria de abordar um tema polêmico que, "histérioos" aflição e crise "noogênioos"
1

quando surge, costuma cxaltar os amm^'os - é a questão sobre o (tendênc¡a para (desespero atual) (vazio interior)
direito à eutanâsia. Como gcralmcnte ocorre em assuntos palpitan- atribuir a culpa
tcs deste tipo, cada lado tcm sua argumentação just1.ñ'cada. No aos outros)
entanto, como logotcrapeuta, posso acrescentar um argumento apelar para demonstrar
despenar
adicionaL que alé agora quasc não foi levado em considcração, que o caminho assumir a plenitude
atitudes
é o argumento da plenitude de sentido objetiva. Até agora, todos os logoterapêutico responsabilidade de sentido da
positivas
prós e contras estavam centrahza'dos no próprío doentez 0 que a1n'da própria vida
podería aproveitar da vida, se o prolongamento do seu sofr1m'ento
seria just1ñ'cável, se não teria o du°cito a uma morte humana, etc. O 1. Ele qucr forçar um médico a matá-lo. Scrá que ele sabe o
homem, porém, não vive sozmh'o, não vive numa 11h'a como Robms'on quc 1s'to s¡'ganl'ca, o que eslá ex1gm"do deste médico, o que cstá
Crusoé, ele é uma parte xnm'úscula dc um todo, entrc ele c o todo exigm'do de uma outra pcssoa, a qual prcc15'a viver com csta reali-
há uma corrente dc ações e reações, de mfl'uências rccíprocas, pclas dadc por toda sua vida? Scrá que os suicidas, que resolvem morrer

192
na lmh°a férrea, sabem o quc cstão causando aos maqumls"tas do
trem, que são obrigados a passar por c1m'a delcs? Aquela mulher,
quc pulou da Torrc E1ff'cl, e acidentalmente caiu cm c1m'a dc uma
tuns'ta canadensc, será que ela sabia o quc cstava fazend0? A1n'da
podcríamos cntendcr quc alguém queüa voluntariamentc delxar'
csta vida, mas scrá quc realmcnte qucr partü com uma culpa 4.
m'eparável? Lívros com poder terapêutíco
2. O tclraplégico sabe que sua luta e eventual vitória serão
divulgadas pcla 1m'prcnsa. Inúmcras pessoas lerão a rcspcito, c
podemos presumu' que uma certa porccntagem entre cles também
vê pouca csperança de mclhorax suas condições dc vida. Quantas
pessoas ele arrastará consigo para a morte? Quantos segukão seu
exemplo? Será quc ele quer mesmo h'derar tantas pessoas para
cometerem um ato 1rr'ecuperável? E se para algumas dcstas pcssoas
am'da houvesse espcranças...? Ele luta pelo seu d1r'eito de morrer,
mas, na verdade, tüa de outras pessoas a coragem de vivcr.|
Num dos livros didáticos, uuhza"dos nos cuxsos de segundo
Façamos agora a pergunta contráxiaz que mensagem este
grau da Alemanha para o ensm'o da língua alema,' encontra-se uma
homcm parahs'ado poderia transm1't1r', apesar de sua gravc hm1"ta-
cxcclente anáhs'c do “romancc modern0”, escríto por Paul K. Kurz.
ção? Exs' um exccrloz
1. Se pudesse ser partidário da vida, cstaria dando um teste-
Considera-se como “romancc moderno”, quanto ao conteú-
munho daquüo que o espm"to humano é capaz. Ele estaria fazendo
do, aquela composição em que a busca pelo sentido da vida não
o bem, 51m'plesmentc por ems't1r". Sua “cx1$'tência-apcsar-de-tudo”
tcrmma ma15' com o cnconlro do sentido, cm que a possx'b¡h"dadc de
seria uma demonstração ao vivo para outras pessoas, de quc a vida
cncontrar o sentido é polcmicamentc ncgada, ou então - c esta é a
am'da é possívcl sob as condições mals' d1f1"ccis, e que, portanto, é
forma ma15' moderna -, cm que nem mais é feita a pcrgunta sobrc o
possível domm'ar a própria vida, não 1m'portando seu estado. Sem
sentido do todo. O romancEta “clássico” ou, cm scntído gcnérico,
fazer nada, elc podcria transmiür' força, dar coragem, ser excmplo
o romanms'ta tradicional, estava dc acordo com o mundo basicamen-
c m'centivo.
tc desde o 1m"cio. Como resultado, havía a concordan^cia do seu
2. Não ex1$'te apenas uma responsabüdade pela vida em si, herói, conñrmada no dccorrcr do romance. O romanc15'ta moderno
mas também pela mancüa como se vivc. E no modo como suportar e suas “ñguras” dcsw't1x'am desta aceitação do mundo com basc em
seu sofnm'ento, 0 tetraplégico am'da teria m'úmeras possib1h"dades cxperiêncms' antecipadas. Ao m'vés do “51m'” básico, suxgiu um
de se expressar, dc desenvolver sua personah'dade, de contm'uar “não” básico, 0u, pclo mcnos, um cctias'm0 fundamcntaL A vida c
desenvolvendo a sm°gularidadc de sua eüstêncía Conhecemos um a accitação do mundo só parcccm ser possívcis de modo fragmcn-
caso verídico de um homem totalmente parahs'ado que, com um tário; onde e até quc grau isto é possível, prems'a scr m'vestigado em
1áp15° preso cntre os dentes, escrevia cartas, consolando pessoas cada caso particular. Todas as totalidadcs dc sentído da vida de~
dcsesperadas de sua cidadc; c cstas cartas tivcram um eoo muíto monstradas publicamente pela sociedade das três últ1m'as gcraçõcs
ma15' profundo junto a estas pessoas mf°ehze's do que jamals' um - seja a da Prússia 1m'perial, do Império Austríaco, da República dc
orientador com formação psicológica pudesse obter... Wmmar', do Nazxs'mo, ou da atual sociedade do bem-estar - foram
Na d15'cussão sobre a eutanásia, não csqueçamos dc que cada desmascaradas no romance moderno, ora ma15', ora menos, como
vida humana tcm scu sentido m'condicional, e que aquele, cuja mão rcivmdicaçõcs totalmcntc 11'usórias. A vida d1f1"c¡l' de cada m'divíduo
extmguü esta vida, também delxar'á eternamente 1r'reahza'do este médio não transcorre sob a cúpula dourada dc uma socicdade
senlido enooberto.

195
194
compromts°sada, e de uma crença na totah'dade. O m'divíduo se sente cm sua d1r'cção, na esperança de que nenhuma, por acaso, alravcsse
preso a ex1g'ências particulares, ls'oladas e muitas vezes contradiló- seu coração. Estc não é um papcl apropríado paxa uma cn'atura
rias. Como a pcssoa poderá cuidar da sua alma, se nunca acaba de dotada dc dons esplr'1'tuals'; sxm'plesmente não eslamos no mcio de
prcstar atenção a regulamentos de comporlamentos c dc trans^ito, uma porção de mtl'uências, que vêm dc todos os lados e nos aung'em,
que são úte15' somente para o momcnto scgum'te, e dc absorver mesmo que os escritorcs modernos freqüentemcntc nos dêem esta
fragmentos de notíc1as', que pertencem todas ao momento passado? 1m'pressão. Mctabohs'mo é troca de substância, é reccber o quc é de
Como poderá buscar a lotalidade, se a sua vida é composta de outro c dar o quc sc tcm, é elabom e dar forma àquüo que cxns'lc.
m'úmeras ondas de associação e 1m'pu]sos dls'sociados, de ligações e O mesmo ocorrc por ocasião da lula espm"lual com nossa vida c com
1n'terrupço'es abruptas, de tantas pílulas de cnvenenamento c desm'- o mundo em que vivcmos. Não corrcspondc à verdadc quc quasc só
toxicação momentan^cas, de tcntativas 15'oladas de libertação e fuga ems'tcm mfl'uêncías ncgativas ao nosso redor, po¡s' além das facas
de um ccrco om'prcscnte, e d1r'igido anon1m°amcntc? Por ls'so, o também rcccbemos o pão; c não corrcspondc à realidadc dc que
romancc modcmo, dc mancu'a gcraL é um lamcnto sobrc a totali- nós apenas somos os rcceptores das mfl'uências, p015' cada um de
dadc pcrdida, uma crítica e um protcsto contra condições de vida nós segura na mão uma faca, pronta para 0 golpe; mas também
1m'possívels', uma profunda melancolía por causa da 1m'potência de possmm'os o pão, para com ela cortá-lo e reparti-10. As mñ'uências
cada m°dívíduo e da 1m'possib1h"dadc de alcançar qualquer ideal, uma espm"tuals' prec15'am com'cid1r' com um “snm'” pcssoal para sc torna-
reñexão 1n'tcrmm'ávcl e uma série de perguntas sobre os fragmentos rem eñcazes, somcntc ass¡m' a semente brotaxá, tanto no sanido
mímm'os de uma verdade que possa ser vivida. positivo, quanto negativ0.
O romance modcrno é um espelho da sociedade moderna, Na sua essência, um livro não é papel ou un'ta, mas substan^cia
mas este espelho reñete dc volta aquüo que recebeu; ele não só espüituaL Ele transmite uma ideologia que, cm casos extremos,
rcpresenta a socicdade moderna, como ele próprio a mfl'ucncia pode até scr a faca ou o pã0, por scr Épcaaz de cortar um apoio
novamcnte. Tudo quc é cspm"tual se propaga c tem rcssonan^c1a'; espm"tual ou oferecer ahm°ento cspm"rual. que, com sua mfl'uência,
também não há comum'cação m'tcrpessoa.l scm um componcnte at1n'gc pessoas com grande diversidade quanto à dls'posição de
cspm"tua1 - e o Iivro é um mcio de comunicação podcroso. Podería- serem 1n11'uenciadas: há aquclas que praticamentc agarram o pu~
mos até d1ze'r que, da mesma forma que o orgams'mo somente se nhaL da mesma forma que há aquelas que quebram 0 pã0. Assun,'
mantém vivo através dc um constantc metabohsm'o, há necessidade vale a pena refletk dc vcz cm quando sobre a responsab1h"dade que
de um metabolismo espin'tual, uma constante troca de pcnsamento pcsa sobre as diversas etapas de uma publicaçã0. São os autores,
entre seres pensantes, para manter a ex15'tência da vida espm"tual. como fontes de mfl'uência, as cditoras quc aproveitam eslas 1nfl'uên-
Isto não sigmñ°ca, porém, que a pcrsonalidade dc uma pessoa cias c as divulgam, os livrelr'05, como “ccntral de mediação de
é sun'plesmente o produto dos 1m'pulsos espüítuak que a mfl'uen- idéias”, e, ñnalmente, os comptadores, que ou se entregam passiva-
ciam. Conformc já foi esboçado na anáhs'c acxm'a, atualmcntc temos mentc à mfl'uência dc idéias alhcias, ou enfrcntam esta mñ'uência
através dc atividade espüituaL Um livro, para se tornm cñcazjunto
uma forte tcndêncía para perccbcr as lnfl'uências do ambiente no
scntido negativo, e considcrá-las como bode cxpiatório para tudo a uma pcssoa, percorrc um longo cam1nh'o, desdc sau' da pcna do
que fracassou na vida. Comcçando pcla poluição ambíentaL passan- autor até alcançar a alma do lcitor, para ncla causar o bem ou o mal.
do pela problemática do armamento, até o horror dc uma era Sem dúvida, há livros bons ou rums'; além d15°so, é questionável
computadonza'da, rcgls'tram-se mñ'uências que criam uma atmosfe- até que ponto com'cídem os critérios de qualidade c vcndabllx"dadc.
ra de pam^'co; são mñ°uências às quals' o m'divíduo aparcntementc No am^bito psicológíco e psicoterapêutico, certamcntc a superposi-
está enuegue, c que são consideradas como responsávcb pelo fato ção é pequcna. É que todo dcsvío do comportamento normaL tudo
de sua vida não poder dar certo. Com esle pressuposto, atribuun'os quc é pcrvcrso, problemático c sm15"tro possui sobrc os consumido-
ao homem um papel que, pcla sua essêncía, nem sería capaz de res uma atração muito forte, da qual também se aproveitm os
dcscmpenhat; nós o colocamos contra a parcde do dcsnn'0, como produtores dc ñlmes poh'cia15' e de horror. Para muitas pessoas, dc
no cu'co um atkador dc facas põc sua parceu'a contra a parcde, e algum modo, é prazeroso assxs'ür' a palpilanlcs cenas de horror,
dexxa' a cargo dela, com o rosto 1m'passívcl, vcr as lamm^'as voarem segura e confortavelmcntc ms'ta1adas em sua sala de cslar, sabendo

196 197
muito bem quc nada d1$'so as atm'g1:'á pessoalmentc. Com ls'to não
leítores; a segunda é quc lambém a pcrsonalidadc do lcitor lcm uma
cstou m1mm"12an'do o ns'co quc os ñlmes de vídeo de má qualidade
oferccem, especialmcntc aos jovens, pois hoje já cstá ma15' do que 1m'portan'cia accntuada na dccxs'ão se um livro é “acolhido” por clc
comprovada a esnm'ulação cmocional pcla brutalidadc na tela. O c até que ponto. Quanto mais uma pcssoa estívcr íntcriormcntc num
que gostaria de demonstrar aqui é que o anormal e oonflitivo, como período dc transformação, numa cns'c, na busca dc sua idcntidadc
conteúdo de um meio de comum'caçã0, m'clusívc o romance moder- ou do senlido dc sua vida, maís av¡'damenlc, em gcral, ouvírá a
n0, tem a sua m'tcnsidade de mfl'uêncía Ianto mais reduzida quanto palavra do outro, mais mfl'uenciávcl ela sc tornará e mab o livro
maior for a dls'tan'cia entre aquelas situações conflilívas e a prcsente representará para cla um perígo ou uma oportunidadc posilivalO
situação dc vida do consumidor. A pcssoa globalmcntc saüs'feita quc decide se o ligro a mf'ectará com descspcro, ou a imumzar'á
d61x'a-sc cativaI por um ñlme ou livro dramático, mas sem maiorcs contra o desespero , ls'to é, se será “contagíoso" no scnlído ncgativo
conscqüências. Ela sentc-se Uanqüüa cm sua própria segurança, ou positivo, não é tamo o assunto dc quc lrata seu conteúdo, mas,
tornando~sc apenas um obscrvador m'teressado do palco do mundo. ac1m'a dc tudo, a concepção de homcm quc m'du'clamcnlc transmile.
Muitos livros de psicologia, por exemplo, apresentam quase uníca-
Quanlo à mídia psicológica, scu círculo dc m'tcressados é mente conexões palológicas e condiçõcs lraumatxzan°tcs na vída do
muito especmcq caraclenzan'do-se por uma porcentagem alarman- homem, o que, contudo, am'da não é o pi0r. O ns'co concrcto dcslas
tc de pcssoas que justamcnle carccem da tranth""dade e segurança tcscs começa somentc a parlü do momenlo cm que, categoricwcn-
próprias acxm°a mencionadas. Mlútas pessoas querem aprender a se te, o h'vro añrma que, sob tals' c1r'cunstan^ciaS' e condições ncgativas,
cntender com a ajuda da psicologia, por ex15'ur' nelas algo m'com- uma pessoa prec1s'ariaforçosamente ler scu d'esenvolv1m'ento preju-
preensíveL com o qual não sabcm 1idar, por exemplo, uma fraqueza dicado, que rcalmente tcria motívo para a “mclancolia profunda por
pessoaL uma m'scgurança, uma ansicdadc ou a sensação de mf'crio- causa da 1m'potência dc cada m'divíduo e da 1m'poasib1h"dadc dc
ridadc, quc as fazem sofreL Tanto cstudantes, que optam por alcançar qualquer ideal" (Kurz). Estas tescs só produzcm desespe-
estudar psícologia, quanto leigos, que consomem literatura psícoló- ranças e tentam forçax o homcm naqucle papcl de parceria do
gíca, fazem-no a pamr' de tais moüvaçõcs eg015't1'cas. Naturalmentc, at1r'ador de facas, que, na verdadc, não é um papel quc lhc cabe.
não podemos gencrahzar', po¡s' é evídentc que ems'tc também um
Contudo, gostaria aqui de discorrcr menos sobre a litcratura
m'teresse genum'o, especiallza'do e objetivo pela psicologia, que não
psicológica questionáveL e mais sobrc aquela que possui um ccrlo
se origm'a numa 1ab1h"dade psíquíca, consu'tu1n'do, porém, uma mi-
podcr tcrapêutico. Partirei do prm'cípio dc quc pcssoas psíquica-
n0r1a.
mente m'stáveis, com certa propensão à neurose, eslão ma1s' abcrtas
Naturalmente, em pnn'cípio, nada há contra o fato de uma à mñ'uência psicológica do quc oulros leítores. Com isto, teriam a
pessoa coÉpmrar um livro sobrc psicologia por cla própria ler um oportum'dadc, ao selccionarem livros apropríados a elas, dc dm uma
problema. até um raciocuu"o muito sensato, c a exprcssão dc uma oonlribuição m'dividua1 c pcssoal para a renovação e manutcnção
tendência para a pessoa procurar curar-se a si mesma. Sc, porém, dc sua saúde psíquica. Como, porém, podem d1f'crcncíar cntrc os
cak nas mãos desta pessoa um livro errado, um típico “r0mance h'vros dos quais emana ou não um podcr terapêutico?
moderno" com scu lamcnto sobrc o scntido pcrdido da vida, ou um
Creio quc para resolver cste problcma é suñcientc quc sc lhcs
livro que, como os ñlmes anteriormentc citados, se orienta pelo
anormaL pcrverso e patológico, esta pcssoa não terá um dls'tancm'- dê um csquema de du45' perguntas, quc poderão usar como pmâ-
mctro aprox1m'ado para aprccndcr 0 tom básico dc um livro, c suas
mcnto m'terior suñciente para suportar sua mensagem ncgatíva c
pcrspectivas quanto aos objctivos.
relaüv12á'-la; cla acaba sendo afetada, reconhcccndo c rcencontran-
do a si própria em cada lmh'a, passando dc uma dúvída à outra. Um Cada época tem suas próprias dlñ'culdades, e a época modcr-
livro deste tipo, para uma pessoa assun', não é um meío terapêutico, na lem uma dJñ'culdade muito especíñca, quc é a 1ns'atisfação mun-
mas um fator patogêm'co adicionaL dial que 1r'rompeu cntrc os povos civ1hza"dos, uma sensação dc vazio
e falta de sentido que se alastra enlre a geraçãojovem, uma mñ'açã0
Resumm'do, podemos nr'ar duas conclusões do que foi exposto
éLica, ou seja, uma constanle perda de valores, quc anteccde a
até aqui. A pnm'elr'a é quc tudo quc é espm"tual tem uma mñ'uência
mtl'ação cconômica c fmanccu'a, afctando a cstablll”dadc da cultura
r

recíproca e quc, a551m', os livros m'evitavelmente mfl'uenciam seus


toda. Como um livro responde a csta dLñ'culdadc, como se posiciona

198
199
diante das perguntas añitivas do presente? Este é o pnm'e¡r'o ponto Já mencionci que cstamos bcm trcm'ados para a pcrccpção do
quc dcve scr levado cm consideração no exame do efeito “terapêu-
ncgativo, e que o negativo, o pcrvcrso e o trágico cxcrccm uma
tico” de um livro. A enumeração de aspectos negativos não d1mm"ui atração cstranha. Para os ídolos da aluah'dade, o 1m'portanlc é o
o ncgativo. Causar ansiedade não cura. Não podemos fechar os número dc parccüas sexuaxs', para os gângslcrcs do prcscnlc o quc
olhos diante do fato de que, até um certo ponto, está semprc nas conta é o númcro de mortes quc dmxam' para trás, para os best-sellem
nossas mãos transformar o mal em bcm, mcsmo quc seja apenas em catastróñcos é 1m'prcscm'dível que revelcm o maior númcro possívcl
nosso m'tcrior. V1k'tor Frankl exprcssa 15't0 na sentença “O mundo de aLrocidadcs. Uma das origcns desta lendência modcrna é o
não está são, mas cle é curávcl”. Como prun'cn"a sugcstão, gostaria excesso de cuidado e csforço, por parle da maioria dos cspec1'alls'tas
de d120'r cntão que o saber da curabilidade já é uma parte da cura. e escritores do nosso século, para não rcpresentarcm um “mund0
Ao mesmo tcmpo, este saber reprcsenta um pouco dc respon~
são”, que não corresponderia à rcah'dadc. Até mcsmo dos livros
sab111"dade própria, um pouco de desaño ao espm"to humano, e um dídáticos foí chmm"ada categoricamente qualquer referência a um
pouco de comprccnsão daquüo para o qual talvcz cstejamos no “¡nundo são”, para não estar dls'farçando algo que mals' tardc pu-
mundo. Enquanto quc, nas lmh'as dc um 1ivro, encontramos a cura- dessc se revclar como mcnos agradáveL Precxs'amos rcconhcccr
bilidade, cle podc até rclatar desgraças, scrn apagar a esperança. quc, por detrás desta campanha contra o chamado “mundo são”,
Mesmo quc não faça a pessoa sc lcvantaI, pclo mcnos não lcva a ex15°tía, em grande parte, o dcsejo genuíno de sm'cerídade, às vezes
pessoa a resignar. talvez até a esperança de poder despertar a humam'dade através da
0 podcr tcrapêutico de um livro é espccialmente m'tenso denunciação dos males ems'tentes, para uma conscíennza'ção e reo-
quando dcsm'te de procurar c acusar o culpado pela desgraça, c, ao rientaçãa Infehzm'ente, não deu certo, nem em escala grandc, nem
m'vés dls'so, prefere dar a ênfasc pnn'cipal cm tentar novamente pequena. Se colocarmos à dls'posição de uma críança exclusivamen-
encontrar o scntido, também em nosso mundo atuaL apesar de todo te brm'quedos quebrados, cla não se dedicará a consertá-los cuida-
o ceticxs'mo moderno. Ao m'vés de apontar os supostos causadorcs dosamente; ao contrário, ela cntrará numa verdadeüa orgia dc
do caos, devem ser colocadas placas dc orientação no caos para destruição, po¡s' do seu ponto dc v1$'ta tudo é sem valor, tudo cstá
mostrar o cam1nh'o. Por exemplo, verlñ'quei muitas vezes a 1nfl'uência damf1'cado, não valcndo a pena, portanto, tomar cuidado.
negativa causada por livros dc psicologia, que atribuem os dls'túrbios Novamente devcmos à logotcrapia o fato de tcrmos chcgado
psíquicos de pessoas doentes totalmente a erros educac1'ona15' e à comprccnsão de como é 1m'portante conservar a idéia dc um
comportamcntos dos pals'. Esta litcratura não só reforça enormc-
“mundo são” em nossos corações e mentes. V1k'tor Frankl descreve
mente as tensões normalmentc cx15'tentes cntrc os membros da a ems'tência humana como scndo aquela que prec15°a vibrax constan-
família, mas também parahs'a qualquer 1m"ciativa própria do doentc temente num arco de tensão entre ser e dever-ser, tomando-se
para resolver sozmh'o suas d1f1'culdades. Também sabe-se que livros totalmente m'umana sc o arco de tensão 1m'plod1r'. Isto sigmñca que
sobrc m'terpretaçã0 dos sonhos podem produzü dls'túrbios de sono, uma ems'têncía dignamente humana pressupõe quc o cstado dc ser
e que livros sobre “autoconhe01m'cnto” geralmente costumam m'di- c o de dever-ser estejam espm"tualmentc prcscntes e que, por
car 0 cam1nh'o mals' scguro para sc °°dcsencontrar” a si mcsmo. É conscgum'tc, sejam mob1hza"das forças para que o cstado dc dever-
muíto mals' humano c mals' adcquado, do ponto de v1s'ta tcrapêutico, scr se transformc em scr. Voltamos aqui à conccpção noodm'a1m^'ca,
v15'ar a naturalidade 1r'retletida da relação famlhar" c da maneüa a qual foí abordada na discussão dc quasc todos os temas deste livro,
pessoal dc scr, m'dependentementc do quc acontcceu, pons' cicatri- e que, repctidamentc, enfaüz'ou que o homcm não sc basta a si
zes antigas não sc fecham, sc a todo momento mexemos nelas. Além mcsmo, mas pre015'a de algopara que viver, e não apenas algo de que
d15'so, praticamente não há paJs' que não tenham feito algum sacri- viver. O “para quc” corresponde ao devcr-scr, do qual tem uma
fício cm prol dc seus ñlhos, mesmo que uma ou outra vez tenham idéía vaga, ao objctivo que dará sentído às suas asp1r'açõcs. E o “dc
falhado; c o próprio eu muitas vezes já foi encontrado cspontanea-
que” é o ser, sua respectiva base, a parm' da qual nascem suas
mente, se o delxarm'os cm paz. Assm,' chcgamos ao segundo ponto asp1r'ações e ondc se locahzam' suas forças.
de nosso csquema dc duas perguntas, quc é cxamm'ar se num livro
sc faz rcferêncna' ao positivo, ao agradách Fazendo um paralelo entre o que foi dito ac1m'a e o tema
“mundo são", podcmos d12'er que o “mundo sã0” é 51m'plesmcnlc

201
um estado de dcver-scr no pensamcnto da pessoa. 0 mundo, con- agem em s¡l'êncio. Nunca, nem mesmo nos tempos ma15' amargos, o
forme é na realidade, é um estado dc ser. Contudo, para que o “mundo são” esteve totalmente pcrdído, c mcsmo nos diálogos
mundo, conformc cle rCalmente é, possa ser pelo menos um pouco terapêuticos com pacicntcs muilo pcrturbados, am'da é possívcl
“ma15' são”, é 1m'prescm'dívcl que ambos os cstados sejam rcpre- encontrar vestígios de árcas de vida m'tactas. Encontra-se aIgo são
scntados no pcnsamento da humanl'dade, p015'jamals' podc-sc tcntar em toda pane e, assim, rambém em todas aspessoas - estc conhcci-
alcançar um objetivo, que não scja conhecido m'tcríormente. Da mento, por si só, já é consolador! E não deveria havcr livro sobre
mcsma forma que o m'divíduo prccm'a viver num constante arco de psicología quc não se enquadrasse nesle lema.
tcnsão entrc ser c dever-ser, para expcricnciar suavida e suas ações
como plenas dc sentido, a humanidade como um todo precrs'a Arrolamos, assun', alguns critérios apropriados para acionar
rccncontrar o arco de tensão entre o ser e o dever-ser, para que, o poder terapêutico da leitura. A reconcú1"aça'o com o passado, a
quando onavio cstiver à dcriva nas ondas dc um ser presente, possa cura-bi1idade do presentc c um “mundo são” como antccipação dc
d1r°ccionar a roda do leme para um dcver-scr comsentido, no futuro. um futuro dcscjávcl são os püaxes básicos dc qualqucr obra bib1io-
Um “mundo são” é o motivo mals' pnm'ário de nossos anseios, é terapêutica, ass¡m' como também são cstes os conteúdos de uma
51m'plcsmente o sonho humano da redenção. Se alguém tcntar eli- psicoterapía ccntrada no sentido. Talvcz poderíamos dlze'r que, se
m1n'ar cste anseio, destruü este sonho, nr'ará do mundo aquüo que o romance moderno deveria ser cntendido como reñexo da cns'e do
tem scntido, c priva a ems'tência humana de sua mls'são ma15' espc- homem moderno, um livro com poder lerapêutico seria aquele que
cíñca. A este respcito, Hcrmann Hesse escreve: “Não faltam auto- ajudar o homem modcrno a superar. sua cns'c, o quc sigmñca
tes, cujo desespero pela nossa época e cujo medo do caos são alcançar o sentido da sua vida... Ncste pont0, qucro mc rcferü mais
genum'os. Faltam, por6m, aquelcs cuja fé c amor scjam suñcientcs uma vcz a Hermann Hcsse, que d12' em oulro trcchoz “Também o
para quc eles mesmos se mantenham ac1m'a do caos”. homem não-m'telectual c superñcíaL avesso ao pensamento, am°da
tem aquela necessidade antiqm"'ssm'a de conhecer o sentido de sua
VoltCmos à pcrgunta sobre o poder tcrapêutico dos livros, c vida, e se não mals' o encontrar, sua vida pessoal estará sob o signo
espccíalmente dos h'vros de psicolog1a'. O pnm'elr'o ponto no esque- dc um egoísmo cxacerbado e medo da morte exagerado.” Bem,
ma dc duas pcrguntas que recomendci foi examm'ar se 0 livro cg015'mo c medo da mortc certamente não faltam em nossa socieda-
cnfaüza' a cura-bilidade de diversas afliçõcs ou problcmas, ou se se dc moderna.
hm1"ta a descrevê-los. O scgundo ponto seria cxannn'ar se o “mundo
são”, dentro e acun'a da nossa realidade, é conoebido como uma Gostaria dc acrcsccntar algo quanto àirradiaçãoprojilática dc
livros que possam acompanhar positivamente o leitor na sua busca
possib1h"dade, ou sc é ncgado u'om'camente. Na mmh'a op1m"ão, um
livro só podc scr tcrapcuticamentc cñcaz sc abordar tanto o estado de sentido. Estes livros podcriam evitar muito mals' desgraças hu-
do scr, quanto o de dcvcr-ser, da vida humana; se o livro se concen- manas antcs da cns'e, do que nós espcciahs'tas seremos capazes de
trar apenas no rcspecrivo ser, causa resignação; se sc concentrar curar após o mí'cio de doenças psíquicas. Não csqueçamos de que
somcnte num devcr-ser desejáveL causa 11'usõcs. Apcnas a combi- muitas pessoas em nossa sociedade cstão ms'eguras, 51m'plesmente
nação de ambos csboça uma reah'dadc, que pode ser questionável porque se auto-observam demals', foram enfraquecidas pelo bem-
em muitos aspectos, mas que vale a pena viver, m'terfenn'do-se nela estar, não sabem o que fazcr com seu tempo 1ivre, e constantemente
através de uma m'tensa vida espm"tual; enñm, uma reaüdade à qual são m'undadas pelos meios de comunicação de massa com a “cons-
valc a pena dlz'er “s¡m'”. ciennza'ção dc problemas”. Todas cstas pcssoas ñcariam realmcntc
psiquicamentc doentcs se aplicarmos nelas proccd1m'cntos terapêu-
Além d15'so, o que é bom e “sa'o”, muitas vezes não é um Iicos d1r1g1"'dos, porquc a dosagcm das terapias, oferecidas usual-
longínquo dever-ser quc apareoc somente no honz'ontc dc nossos mcnte, scria elevada demais para clas. Assim que fosscm
anscios, mas, dc divcrsas formas, jaz d1r'etamente sob nossos pés. diagnosticadas como “pacientes”, já se tornarão “pacientes”. Junto
A1n'da hojc há famílias unidas, casa15' que sc mantêm ñéls', pals' quc a csta clientela, o livro certo no momenlo cerlo poder1a' fazer
têm um relacíonamcnto harmonioso com seus ñlhos; há ajuda recí-
v

m11a'gres, levando estas pcssoas à conscicnüza'ção, esuhulando sua


proca entrc vmnh"os, há bondade e altruls'mo; há até paz cntrc os
v

capacidadc dc aut0-ajuda c fortalccendo sua alegna° dc vivcr, lor-


1

homens scm precxs'ar falar sobre ls'so. Há hcróls' cm nossa época que
|

nando desneccssária a 1n'tervença'o psicotcrapêutica.

202
Porém, é 1m'portante lembrax que um tratamento metódico livros, m'dependenlemcntc de scu gêncro ou cspcciah'dadc, são
por m'dicação médiwpsicológica não pode ser substituído por um amigos da alma. Da mesma forma,' porém, quc a caraclcr15'u'ca
livro, no máxlm'o pode ser complementado por clc. Infehzm'cntc sm'gular do am1g'o verdadcüo é não abandonar o oulro na aflição, a
prec15'amos admiür' quc as opm1"õcs dos especíahs'tas quanto à m'd.i- caractcrístíca sm'gular dc todo bom livro é quc tcnha podcr lcrapêu-
cação para terapía são muito divergentes. Os melhores cspccialístaS, tico na aflição. Os livros b1'bh'olcrapêutioos, dc fundo psicológico,
porém, concordam que, se uma terapia reaJmentc for necessária, talvcz sejam cspeciahza'dos para serem não só “amígos”, mas tam-
cla prccm'a, sem dúvida, ser rcahza'da, mas quc uma dose excessiva bém “ajudantes” da alma; cm caso dc neccssidadc, porém, todo
de terapia não é mcnos pcng'osa do quc uma dose pequcna dcmals'. amigo é um ajudante, e todo bom livro, um prescntc gcnu1n”o.
Da mesma forma quc atualmentc cstamos cada vcz mals' críticos Aqucle que, numa hora d1f1"c11', estendcr a mão para o gma' “livro",
quanto ao uso m'dls'cnmm"ado c não-controlado dc mcdicamentos scmpre será beneñciado.
farmacológicos, estamos aos poucos ñcando céticos d1an'te do uso
não-controlado dc ajudas terapôuticas, especialmente nós da psico-
logia humams'ta. Prm'cipalmcnte a logotcrapia quc, dc modo geraL
é cnquadrada na psicologia humams'ta*, há muito tempo está pre-
vemn'do contra o dano de qualquer “uso exagcrado da terapia”,
sempre enfatlzan'do o sngnlñ"cado de um bom lívro como “terapêu-
lica prévia”. A dls'tan^cia quc separa o homem do desespero abls'mal,
às vezcs, é de apenas um passo na vida, e se houver pelo menos um
comm'ão pequeno sob a forma de um livro honesto e presnm'oso,
ls'to scria ma1s' útü do quc se mals' tardc um pelotão de tcrapeutas
precxs'ar puxar para c1m'a o homcm que despencou no abls'mo.
Poeücamente, os livros dignos de serem h'dos scmpre foram
chamados dc “am1g'os”. É justamcnte assun' quc são todos os bons

' A logotcrapia sc d1f'crencía da psicologia humanisla por não rcconhecer a


“auto-rcahza'ção" do homcm como o objctrvo' máx1m'o da sua cxns'téncia. De acondo
com a logoterapia, a “autotranscendéncia" do homcm, ls'to é, sua dedicação a uma
tarcfa quc tenha scntído, ou a um relacionamento amomso, no sentído amplo,
constitui o grau ma¡s' alto dc dcscnvolvmcma
Gostaria dc üustrar, atravcs' de um pcqueno epxsód'ío ocorrido num dos mcus
scmm'ários um°vexsitán'os, o fato dc quc a busca dc autolranscendéncia náo exclui
absolutamente a auto-rcahza'ção, ao contrán'o, a auto-reahza'ção é o corrclato
automático, c não-m'tcncíonado, da autotransccndéncia. Uma das mm'has cstudan-
tcs cra cspecialmcntc tímída para falar durante mmh'as aulas. Era meu costumc
ofcreceraos alunos a oportumdadc de redígue'm pmtocolos das aulas dadas, os qua15'
eram lcvados cm considcraçáo nos exames fmals', quando cntão podiam rcsponder
uma qucstão a mcnos por cada pmtocolo redígida Um dia, porém, csqucci dc
perguntar no m'1'cio da aula quem qucría fazcr o protocolo naquclc dia. Ncstc
momcnto, a aluna ac1m'a supcrou sua timjdcz, mamf'cstou-sc c lcmbmu-me da mm'ha
omxssã'o. Pmntamemc perguntci-lhe se ela nào queria fazer o pmtocolo e cla, quc
d1ñ'c11m'ente tcria sc man1f'cstado voluntariamcnte, aceitou. Alguns meses mais
tarde, por ocasiao do exame ñnaL ela teria sido rcprovada por causa de uma questào
à qual não sabia respondcr, mas por tcr cscrito o protocolo, ela foi apmvada.
¡¡. A autotransccndéncia dc quc foi capaz por mmh'a causa, para mc poupar dc
uma omxssã'o, trouxc-lhe, no fmaL a aprovaçáo no cuxso que, sem du'vída, ncpre-
scntou um passo no cammh'o de sua auto-reahm'ção.

205
5.
Dignidade humana e psícoterapia

É possível que alguns lcitorcs não'tenham percebido muito


claramentc há quanto tcmpo a dignidadc humana e a psicotcrapia
esüveram separadas, c que outros não estejam conscientes da 1m'-
portan^cia dc quc a dignidadc, através da logoterapia, foi rcm'trodu-
zida na psícoterap1'a.* Por 1s'so, com base em dons' relatos de delitos
cr1mm"osos, gostaría dc demonstrar o que realmcnte sígmñ'ca csta
separação de ambas.
O pnm'elr'o relato se refere a um evento ocorrido no verão
passado numa das piscm'as públicas de Mum'que. Um homemjovem
entrou no recm'to, andando devagar pelas áreas dcstm'adas ao banho
de sol cm volta das pxs'cm'as. Estava completamente vestido, com
sapatos e tudo. De repente, levantou o pé e p15'ou com toda força no
rosto dc um jovem, que lhe cra totalmcnte desconhecído, e quc
estava deitado na relva, em trajcs de banho, com os olhos fechados.
O jovem sofreu traumatismos sérios, cntre outros, uma fratura do
osso malar, quc, apcsar da cu'urg1'a un'ediata a que foi submetído,
teve uma recuperação deñciente, e foi prec1s'o operá-lo novamente.
Durante meses submeteu-se a tratamentos os mals' diversos, c até
hoje guarda as marcas dos maus tratos quc recebeu.
Num caso como este, surge naturalmentc a pergunta sobre o
motivo para um ato tão cruel c scm sentido. O autor do cr1m'c foi

' A cstc mspcito, centenas de cspecx'ahs'tas, provcmcntes dc cmco connn'en-


tes, dlsc'utiram no 49 Congrcsso Mundíal de Logotcrapía cm São Franc1sco', no ano
dc 1984.

207
m'terrogado mm'uciosamente a rcspeito, mas o motivo que ele for- dc aut0-añrmação c fortalccimcnlo do cgo. Dc acordo com cslc
neceu produziu um mal-estar lão grande, que elc foi submctido a dls'curso, os doxs' homcns cstariam alé bem ajuslados, dcvcria cntão
uma avaliação psicológica, razão pcla qual 0 homem veío ao nosso havcr algo dc errado com suas v1'l1m'as... Scrá quc o lcítor pcrccbc o
centro de aconsclhamenlo. Sua explicação cra quc, 1m'ediatamentc que está acontcccndo? Dcsenvolvcmos uma psicologia dc cnm1n"0-
antes do ato, elc tivera uma bríga com a namorada, a qual o mf'ormou sos, uma psicologia dos motívos dos cnm'cs, não só dc sua revclação,
de que seu relacíonamenlo não u'ia durar muito. Como conseqüên- mas também dc seu perdão, mas não tcmos uma psicologia das
cia, clc sentiu uma raiva tão enormc que prcc¡s'ou ab-rcagí-la de v1't1m'as, uma psicologia par'a lidar com um sofr1m'enlo m'justlñ'cado,
alguma forma. Era só o quc elc tmh'a a d12'er. e muito menos sabcmos como evitá-lo. Somcntc a logolcrapia tem
uma resposta ncste sentido.
O outro rclato quc gostaria dc reproduzu' é a rcspeito de uma
ocorrência quc, no outono dc 1983, foi assunto da 1m'prensa alcmã. Todo estc d1l'cma devc-se única c exclusivamcntc a um crro
Um motons'ta lcvou consigo uma moça que pcd1r'a carona, molcs- que os patñarcas da psicología comctcram há muilo tcmpo, ao
tando-a sexualmente durante a viagem Ela reagiu, e quando o desligar a dimensao' espin'tua1 da dimensão psíquica na conccpção
vcículo teve quc parar num semáforo, a moça abriu a porta do carro do homem, equívalcndo ao desligamento entre dígnidade humana e
para fug1r'. Ao saltar do carro, cla tevc a mf'elicidade de ñcar presa psicoterapia. A d1m'ensão psíquica do homem foi estudada,' m'vcsti-
na alça do cm'to de segurança, e caiu na rua. Alguns pedeslres, que gada e analls'ada em cxccsso, resultando na concepção dc um scr
prcsenciaram a cena, qu15'eram ajudá-la, mas o motorista rapida- regulado psicodm'amicamentc, c d1r'ecionado quase que só m'cons-
mente fechou a porta e, embora a moça am'da estivcsse prcsa à alça cíentemcnte, cujo prm'cipal motívo na e_›dstência parecia c0n51$'ur' na
do c1n'to de segurança, o qual peadia da porta, o motorista acelerou satbfação de suas necessidades. A d1m'cnsão psíquica tornou-sc a
0 carro e partiu a toda veloc1'dadc. A moça foi arrastada por vários d1m'ensão humana por excclência.
quüômetros c estava morta quando a polícia fmalmentc conseguiu Diante desta concepção do homem, não é de admkm quc a
alcançar 0 carro. Também neste caso as pessoas encontravam-se emoção de “raiva” se transformc naturalmenle cm pontapés, a
diante de um cnm'e 1gu'almente absurdo e sem sentido, c pergunta- emoção dc “cobiça” em molestação scxual m'espcmñ'ca, c a sensação
vam pelo motivo. E novamente as pessoas sentüam um mal-cstar de “ansiedade” em atos 1m'pulsivos sem rcsponsablh"dade. AñnaL as
diante da rcsposta. O homem explicou que não tmh'a “tido” uma emoções prec¡s'am ser canahza'das para algum lugar. Será que have-
mulhcr há bastanle tcmpo, por xs'so prec15'ou urgentcmente de uma ria necessidade de um controle das emoçõcs, de um domm1"0, de
ab-reação sexuaL c quando csta não dcu ccrto ñcou com tanto mcdo uma autodls'cip11n'a? Arrcpendidos, hoje reoonheccmos que as cm0-
quc foi levado a f11gu' com o carro. Da moça, que estava pendurada ções ens'tem, mas não podem predom1n'ar, não podem domm'ar o
no seu carro, ele havia se esquecida homem. Algo dcvc, cm ul't1m'a m'slan^cia, domm'ar as emoções, scrn
O que nos dxz'em os do¡s' rclatos, ao anahs'á-los psicolo- ' ncccssariamentc repr1m1"-las, algo prec15'a v1g1"ar c até a di-
g1'camcntc? Temos doxs' homcns, dom1n'ados por emoções de grande mcnsão psíquica do homem, impor hm1"les élicos à sua ms'tm'-
m'tensidade, que sentem ncccssidades básicas que os 1m'pulsíonam tividade; cstc algo é a dimensão espin'tua1do homem.
para uma saüs°façãoz a agressão e a libido. E ambos os homens não Hoje, portanto, cstamos diante da larcfa d1f1"01l' de enquadrar
têm qualquer 1m"bição ao procurar, e até forçar, esta satls'fação. Será novamentc a d1m'ensão espüilual na concepção psicológíca do ho-
quenada chama a atenção dc nós, espec1'ahs'tas, quando formulamos mcm, e também de dar~lhc aqucla posição supcríor que lhc cabe, e
desta manexr'a os antccedentes de ambos os cr1mm"osos? Parece quc dcve caber, para que a socicdade humana contmue cms't1n'do. Em-
já conhecemos o dls'curso sobre os 1m'pulsos e necessidades, quc bora d1f'ícü, é uma tarefa m15°ericordiosa para com a psicoterapia, a
precm'am scr extravasados, ab-reagidos, que não podem ser repri~ qual, baseando-se em sua respectiva concepção do homem, geral-
midos para não causar danos ncuróticos; nós o conhecemos dos mcntc seguc uma psicologia “não-espm"tual”, e constantemcnlc
livros didáticos de psicologia! Conhecemos até um objctivo de corre o perigo dc degenerar para uma terapêutica mccam^'ca “m'd1g'-
terapia quc cons¡s'tc cm rcduzü as 1m"bições dos pacientcs; são na". Para facmtar a comprcensão do quc acaba de scr dito, moslra-
1m"bições quc 1m'pedem a saüs'fação de suas necessidades. Conhe- rcmos um cxemplo de abordagem terapêutica de um mesmo
ccmos bem as manchetes sobre líberação de cmoções, capacidade

208
Pcrguntci cntão à clicntc sc alguma vcz chcgou a pcnsar cm
problema, confrontando uma terapia de grupo convencional com
rcconcnll"aça'o, ao quc cla rcspondcu lns'lcmcnlc quc lhc cra prali-
uma terapia logolerapêutica m'dividual.
camente impossível conduw° uma conversa séria com o pai Quando
A problemática do exemplo é a raiva de uma paciente cm o ws'ítava, geralmcntc cle cstava diantc da tclcvisão, c quando cla
relação ao seu pai, que, segundo sua m'terpretação, maltratava-a começava a falar do passado e daquüo quc ems'tia entrc elcs, man-
quando cra criança. Pelo fato de que a geração de pa15' dcsta mulhcr dava-a calar-sc, para que ele não pcrdcssc alguma pane do ñlmc. E
adulta, dc mals' de 40 anos, am'da usava com frcqüência os castigos também depo¡s' do ñlme scmpre havía um assunto mals' atual, quc
f15'icos na educação de seus ñlhos, cabendo ao pai o papel mals' ativo 1m'pedia uma conversa sobrc outros tcmas. Assxm', há muito tcmpo
neste senlido, o problema da “raiva em relação ao pai” não é ela rcsignou cm relação ao scu pai.
m'comum na prática psíootcrapêutica. Na scssão dc psicoterapia de
grupo, cuja descrição me foi fomecida por uma mulher que partici- Em seguida, dissc à mulhcrz “Seu pai eslá vclho, cle não
mudará maLS'. O que pode mudar é sua atitudc cm relação a ele.
pava da scssão c foi afetada pessoalmentc pelo problema, o assunto
Assxm', o diálogo entrc vocês do¡s', que nem scría muilo frutífero, não
foi abordado da segmn'le manelr°a:
é tão 1m'portantc. O 1m'portanle scria um diálogo consigo própria,
Depom° que a pacicnte lcvantou as acusações conLra o pai, o um diálogo entre scus sent1m'entos e sua consciência. Os senüm'en-
lerapeuta explicou para a paciente que a forte repressão de suas tos rejeitam o pai, possivelmente com razão; a consciêncía, porém,
cmoções, durante anos, seria a causa de seus dls'tur'bios psíquicos, advoga por um pcrdão, porquc a consciência, quando cla própna'
dos qua15' só poderia livrar~sc ao reativax sua raiva m'terior c colo- cometc crros, depende do perdão de outras pessoas. Até estc ponto,
cá-la para fora. Para ls'to, um cobcrtor foi enrolado num formato domm'aram seus sent1m'cntos. Que tal s'e delx'assc, dc repentc, quc
comprido e colocado no sofá, reprcsentando o pai-substituto. De- sua conscíência assum15'se o papcl domm'antc?”
pms' o terapeuta deu à paciente um bastão e dls'se-1he paIa bater no
“É o uc gostaria dc fazer”, suspüou a mulhcr, “mas como
cobertor com toda força, gritando “Eu o odcio, cu o odcio!” Desta
forma, suas emoções armazenadas poderiam extravasar e scu trau- fazê-lo?” “Ê muito sxm'plcs”, respondi-lhe, “da próx1m'a vez que
ma psfquico estaria “elaborado” para sempre. A mulher seguiu as visitar seu pai e elc estívcr na sala, cm frentc da televxs'ão, e não lhe
der atenção, apromm'e-se dele c dê-lhe um beijo no rosto, scm
1ns'truções, mas no decorrer da cena leve um choro convulsivo
hls'téríco, o qual só ccssou quando um médico, que foi chamado às qualquer comcntárío. Não 1m°porta o quc elc d15°ser ou ñzer, para a
prcssas, lhe aplicou uma m'jcçáo, m'tcrnando-a numa clml"ca ncur0- sra. scrá um símbolo dc rcconcxh"ação, uma rcconcú1"ação dc suas
lógica por alguns dias. emoções com sua consciência. Um gesto de perdão perante um
velh0. Através de seu gcsto, a sra. tüará de seu pai a culpa que ele
A cste relato autêntico de uma sessão dc tcrapia dc grupo - tem, e se aliviará de seu próprio ódio”. A mulhcr seguíu mcu
um tipo de sessão não m'comum« gostaria de contrapor a orientação conselho e não só encontrou a paz m°terior, mas também se sur-
que dei uma vez paxa uma mulhcr de meia idade que atcndi, e quc preendeu com a reação do pai que, conforme me contou ao telefonc,
se que1xa'va de seu desgosto em relação ao pai durante toda suavida. abraçou sua ñlha adulta, também sem comcntários.
Como logoterapeuta especiahza'da, nunca vejo a pessoa somente na
sua d1m'ensão psíquica, mas também m'c1uo os aspectos csp1r'ituals' Prec15'o confessar que anligamente era ma15' vacüante do que
dc sua ex1$'tência nas mmh'as observaçõcs. Assun,' cxammcí o pro- sou hojc ao cxigü renúncias de mcus pacicntes. Somcnlc dcpoís que
blema dc uma outra pctspcctiva do que o ac1m'a mencionado tcra- compreendi que, dentro da dun'cnsão esp1r'ilual, o 1m'p0rlan'te são
peuta de grupo. Não quc eu ncgue que a raiva, que se scnte por um os valores e não a satisfação, e que os valores muitas vezes têm algo
pa1,' possa envenenax a vida toda de uma pessoa; só que ¡s'to acon- a ver com uma contenção dos descjos, enquanlo que a saüs°fação
tece, não porquc uma emoção repnm1"da esteja constantementc sempre está Iigada a uma reahza'ção de desejos, é quc enconlrei a
forçmdo sua Iibcração, mas porquc com ódio no coração não sc coragcm dc cxigk sacr1f'ícios de meus pacicntes, se forem necessá-
pode viver bcm, muito mcnos morrer cm paz. O ódio é algo total- rios. A este respeito, V1k'tor Frankl, em seu livro “Homo patiens”9,
mente comrário à busca espm"tual de sentido do homem, algo que escrcveu a notável frascz
pressiona a pessoa cm d1r'eça'o à rcconcm"aça'o, e que somente podc
ser “elaborado” através de um amor que perdoa.

210 211
Não é aquüo que guardo anos, em prol do bem~cstar da críança. Dc mancu'a semelhante, o
quc mantém seu valor, objctivo, a longo prazo, dc conclusão dc uma formação proñssionaL
mas o que sacnñ'co, exigc uma séric de renúncias a curto prazo, durantc anos, a favor do
ganha em valor. estudo e trem'amcnto constantcs. Por outro lado, obscrvamos quc o
oposto destas renúncias a curto prazo, que é a busca dc vantagcns
e no mesmo trecho fala dc “dar sentido”, como um üpo de c de prazer a curto prazo, muitas vezcs não só 1m'pcd1r'á os ganhos
“renun'cía”, que prccm'a ser feita a favor de um scntido a ser rcah'-
dc valores a longo prazo, como também pode acarretar problemas
zado. ms'olúvexs' a longo prazo. Quando paxs' constantemcnte negligencíam
É verdade quc para nós, que estamos acostumados a um seus ñlhos, para que eles próprios possam nr'ar da vida o máxnm'o
bem-estar cxccssivo, é extremamentc de'íc11'fazer sacrlf1"cios, mcsmo de prazer c d1'vert1m'cntos, a longo prazo, seus ñlhos podcrão lhe
quc sejam plcnos dc senüdo, e que os valores a serem alcançados trazer grandes desgostos, o que ma1s' tarde poderá atormentar csscs
através deles scjam elevados. O hm1"ar da dor, em nossa era tecno- pa1$'. Algo scmelhante podc acontecer com os jovcns quc m'tcr-
lógica, está cada vez ñcando mais ba1x'o, o que favorece os consul- rompem scus estudos, em tmca dc avcnturas a curto prazo c que, a
tórios psicológicos, quc são procurados pelos problemas mais longo prazo, poderão scr punidos com desemprcgo ou ativídades
ms'igmñ'cantcs, mas quc é muito perigoso para a população cm geral, proñssionab 1n'desejadas. Na psicoterapía, a d15'posição de fazcr
p015' uma um"ca catástrofe verdadeüa seria suñciente para ocasionar renúncias a curto prazo, paIa certos pacíentes, é uma questão de
um colapso dc proporções cnormes. Isto mc lembra a observação recuperação ou m15'éria para o resto da vida. Ass1m,' não haverá
do meu denns'ta, quc me contou quc há 40 anos a1n'da podja extra1r' solução para os alcoólatras, se não cbnseguüem dxzc'r o “s¡m'” a
dentes sem anestcsia, há 30 anos usava para isto apenas um leve cuxto prazo para evitar o próxxm'o trago, ou para os neuróticos
resfriamento da região cxr'cundante, há 20 anos usava anestcsía local compulsivos, se não conscguu'em renunciaI, a curto prazo, aos seus
para a cxtração dos dcntes, há 10 anos usa narcóticos potcntcs para comportamcntos de esquiva, os quals' lhes trariam am'da ma15' ansie-
ls'to, e que hoje os pacientes gritam ai! somente ao ouv1r'em o som dadc.
da broca. Conformc ele dlz', contra esta últ1m'a mamf°estação am°da Reforçar a d15'posição ao sacr1fí'cio nas pessoas não constitui,
não encontrou remédío... portanto, objetivo terapêutico despropositado, contanto que o sa-
Nós logotcrapeutas não somos absolutamcnte a favor da an- cr1fí'cio tenha scntido. Pclo menos, é um objetivo mals' d1gn'o do
toñagclação, ou contra a alegria de viver, ao contrário, consíde- homem do que aquelc de uma psicologia sem conotação cspm"tual,
ramos patológicas tanto as torturas mñ1"gidas a si própri0, quanto a segundo a qual a pessoa pre015'an'a ab-reag1r' seus 1m'pulsos e agu'
repressão sem sentido da alegria de viver. Sc a dor puder ser conforme eles, o que já causou muitos danos.
ah'víada, c o sofnm'ento evitado, esta scrá a pr1'oridade. O quc O leitor que seguiu nosso raciocm1"o até aqui dcve ter concluí-
queremos dlz'er com o conceito de sacr1f1"cio é 0 “para quê” a quc do quc a soleira da liberdade espin'tualjâfoi lransposta. O dctermi~
está ligado, e somente este “para quê” dctcrmm'ará se um sacr1f1"cio nismo tradicional, próprio do psicologismo, foi superado no
tem sentido ou nãoz quanto maís elevado o valor de um 'p'ara quê',” momento em que a noção de sacr1f'ício foi m'troduz¡dana psicologia,
mais profimdo é o sentido do sacnfcio a serfeíto a favor do rp'ara 0 que ocorreu através da logoterapia. Um sacr1f1"ci0 não pressupõe
que^”.
apenas um “para quê”, mas também um ato voluntário, a libcrdade
Precm'o acrescentar aquüo que a psícología do cotidiano nos para dccid1r'-sc por elc. É uma opção cm quc também o não-sacri-
cnsm'a, a sabcr, que ex1$'te uma relação recíproca entrc ganhos e fício é levado em consíderação. Num caso cm que as pessoas se
perdas pessoaLS' a curto e a longo prazo. Muitas vezes são somente encontram sob coação e prcssão, e somentc teriam uma úm'ca
as renun'cias a curto prazo, também chamadas dc “sacr1f1"cios”, quc cscolha para ag1r', o que na rcalidadc não constiuú opção, não se
possib111"tam ganhos de valores a longo prazo, que não poderiam ser pode falar dc sacnf1"cio. Pode envolvcr aflíção e sofnm'ento, mas não
conseguídos de outra forma. Por cxcmplo, a fch'c1'dade, a longo se trata daquela renun'cía m'terior, que foi reahza'da afavor de algum
prazo, de tcr criado um ñlho, com saúdc e capacidadc de scguü sua sentido.
própria vida, exige, a curto prazo, uma série de renun'cias durante

212 213
Portanto, um sacr1f1"cio pressupõc quc a pcssoa o faça volun-
CORPO ALMA
tan'amcnte. O oontrário, porém, também é verdadeüoz o fato de que
os homens podem fazer sacr1f1"cios, c numa basc totalmentc volun-
tária, para uma causa ou para outras pessoas que valham cstc visíveL
l l
invisiveL
diferenciação
sacr1fí'cio, comprova quc exns'te a liberdadc da vontadc, e quc nós \material imaterial
antiga
homcns não somos escravos dc nossa psíque, nem cúmpliccs da (ooncreção) (abstração)
“hidráulica dos ms'tm'tos” (Petcr R. Hofstactter). Tornaram-se 1n'-
sustcntávcm' o dxs'curso de quc somos 0br1g'ados a ag1r' dc uma certa
mancxr'a, e a desculpa de quc há necessidade de ab-rcação, a551m'
como as várias tcorias bascadas ncsses pressupostos, que se preo-
cupam em anahs'ar a d1m'ensão psíquica do homem e acreditam quc,
com lss'o, alcançam a “alma” do homem.
ESPÍRITO

l
Há m11'êm'os a humanidade conhccc os vários estratos da nossa
ex1$'tência e, desdc então, sc prcocupa com 0 mls'tério chamado sem
“alma”. Nem mesmo os maiores ñlósofos puderam resolver o pro- diferenciação liberdade livre
nova (destíno) (Iiberdade)
blema “corpo-alma”, só conseguüam descrevê-lo. As d1f'eren-
ciaçõcs ma15' comuns eramz o corpo é v15'ível, a alma é m'v15'ível; 0
corpo é materiaL a alma é 1m'atcrial. As religiões am'da acrescenta~ A jovem mulher scmpre d121"a “Tcnho nojo dc m1m' mcsma”,
o quc, segundo a médica, era preocupante, poxs' a moça não tmh'a
ram: o corpo é mortal, a alma é 1m'ortal. Quando, no começo do
nosso século, a psicologia sc tomou uma ciência humana séria, família quc pudesse lhe dar apoio nesta d1ñ°culdade. Além d15'so, por
sun'plcsmente transformou o conceito de alma no conceito de “psi- causa da rcpugnan^cia que sentia de si própria, a paciente tornou-se
quc”, dcclarando csta úIUm'a a sede de todas as cmoções e o muito ncgligente ao fazer o tratamento neccssário, não havendo
dcpósito dc todas as cxperiências dc aprendlza'gem, sendo que possib1h"dadc de succsso se o tratamento não fosse feíto rcgularmcn-
ambos se combm'ariam para formar a base de nossos 1m°pulsos vitals'. tc. Um psicólogo chm"co tentou m'tcrprctar a rcpugnan^cia dajovcm,
Suxgiu então a caricatura de um homúnculo, scm vontade própria, refcnn'do-se a uma “bnn'cade¡r'a dc médico” na sua mf'an^cia, quando
um menm'o da vmnh"ança lhc mostrou seu pênis; porém, a paciente,
d1n"gido pclas suas experiências mf'anns' e pelos seus 1m'pulsos, como
m'dígnada, recusou esta m'tcrpretação; de qualquer mancu'a, não
sc fossc um fantoche.
deu resultado algum. Para m1m,' desde o 1m"cio, a questão não era a
Somcntc com Frankl foi com'gida csta Lransformação m°com- ong'em da repugnan^cia, p01s' algo feio c deformante pode sxm'ples-
plcta da “alma" em “psiquc”, ao complcmentar a psiquc com o mente repehr' as pessoas sensívels', e o seu eczema, de fato, era nada
clcmcnto da liberdade da vontadc c da dignidadc humana, clcmento b0m'to. Para m1m', a questão central era como uma pessoa de 20 anos
que constitui o cspm"to humano. Consequ"cntcmente, a d1f'eren- pudcsse viver com este dest1n'o, e opor-se a cle com todas as suas
cza'ção antiga entrc corpo c alma, rclacíonada à concrcção e abstra- forças. E a551m' chcgamos à palavra-chave “deslm'o”. No nosso caso,
ção, deu lugar a um novo critério de d1f'erenciação: o critério da qual era o destm'0? Ou, pcrguntando às avessasz scrá quc, dentro
liberdade e do destino. dcsta problemática, am'da ems'tm"a uma área de h'berdade, dentro
Talvez novamente um exemplo da prática cl1n1"ca possa de~ da qual a pacicnte pudesse fazcr opções?
monstrar melhor o sigmñ'cado revolucionário deste novo critério de A sua d1m'cnsão)7sica estava afetada por uma docnça, a qual
d1f'crenciação para a psicologia. Há alguns meses uma médica da- era seu destm'o. A sua d1m'ensãops[quica estava afetada pela repug-
Chm"ca Dermatológica dc Munique pediu mmh'a colaboração quan- nan^cia, quc também era seu dcstm'o. Mas havia a d1m'cnsão espin'-
to a uma paciente de 20 anos, que há muito tempo sofria dc um tual, em nada afetada, mas conclamada para se posicionar conlra a
eczcma deformantc. docnça e a repugnan^cia. E estc posicionamento poderia scr feilo
das manekas mals' variadas, nada e nm°guém podcriam forçá-la a

214 215
uma aliludc cspkítual espcc1fi'ca. Com 15't0, foí descoberta a área de mcnto. Um futuro pelo qual valia a pcna superw sua rcpugnância e
libcrdade ex15'tente, o que precns'ava ser rcvelado à pac1'entc. A levar até o ñm as prescrições e recomcndações médicas. Revclou-sc
pnm'e1r'a 0015'a que aprendeu foi que a sentcnça “Tcnho nojode m1m' o “para quê” e cxigia um sacnfl"cio, numa basc voluntária,' o sacnfí'cio
mesma” estava errada, porquc ex1$'tia nela um eu espu'1'tual, diante da dom1n'ação das emoções ncgalivas. Um sacrlTícío com que a
do qual a repugnan^cía não cra adcquada. A sentcnça devetia ser mulher concordou sem qualqucr coação de fora. A parür' dcslc
enlã0: “Tenho nojo do meu eczema”, o que ela aceitou. momento seu lratamento comcçou a surtir efcíto, como sc o “51m'”
Em segundo lugar, aprendeu a rcumr' a repugnan^cia e o cspm"tual para a sua saúdc também fosse válido para o corpo c a
eczema para formar um um"co dcsaño psicofísíco que o dcsLm'o lhe psiquc.
aprcsenlava. Para accitar este desaño, ajudou-a um pcnsamento de Dcste excmplo, podemos t1r'ar algumas conclusoe's. O psícó~
V1kt'or FrankL que muitas vczcs lransmito aos pacicntes que preci- logo chm"co, de acordo com sua formação, lentou dcscobru' por que
sam dialogar com suas próprias ansiedades e fraquezas. Eí-lo: a pacicntc forçosamentc tinha que ter rcpugnan^cia de si própña c
Há algo que vocês responsablhzo"u por ls'so um choque ocorrido na sua mf'an^cía. Eu,
não podem t1r'ar de m1m': como logoterapcuta, de acordo com mmh'a formação, lcntei desco-
mmh'a liberdade para decidk bnr' até que ponlo a pacicnte seria livre para dcsañar sua rcpugnan”-
como vou reag1r' cia, e auibuí a cla a rcsponsabmdade pelos scus atos dentro dcsta
àquüo que vocês pequcna árca dc libcrdade. O fato dc que ela “tmh'a que tcr”
me fazem! repugnância txr'ou-lhe a culpa pela falta de cooperação com os
médicos, mas dcgradou-a a um ser 1ma'turo, cntrcgue a suas emo-
Sempre que a desesperança, 0 ódío de si própria e a sensação ções. O “ser livre” exigia dela responsabüídadc c dls'posição para
de repugndn'”cia ameaçavam m'stalar-sc na pacíente, ela respondia a fazcr sacan"cios, mas dcu-lhe um status de malun'dade. Não csque~
eles com as palavras ac1m°a e as sensações negaüvas perdiam seu çamos, portanto, a lição que dxs'so podcmos cxtralr':
domínio sobre ela. Mostrarpara um homem a sua área de Iiberdade, confomze as
Fm'almente rcstava fortalecer sua vontade de recuperar a cimunstâncias, talvez a última que lhe resta, é um ato de dignidade
saúde. Mas será que a vontade pode scr trcm'ada? Esta é uma humana, acima de qualquer técnica psicoterapêutical
polêmica antiga, que nunca poderá scr satisfatoriamcnte resolvida,
Com ls'to, gostaria de retornar ao meu ponto de partida, que
se mls'turannos a d1m'ensão csp1r'itual ou noética da ex1$'tência hu-
é a rcm'tegração da d1m'cnsão espm"lual na d1m'ensão psíquica, na
mana com a “subnoética". Na d1m'ensão subnoétia, é perfeitamcntc
concepção dc homcm da logoterapia, e o novo cn'lén'o de d1f'eren-
possível fazer um trem°amento da vontade, como o conhecemos na
ciação daí resultante para 0 antigo problema corpo-alma, que hoje
pedagogia e no trabalho com dcñcíentcs e víciados. Na d1m'ensão
se apresenta mals' como dialética psicof15'ic0-espírito. Repetidas
noética, p0rém, não é possível, ncm necessário, chm'ar a fotça de
vczcs, em contatos com particípantcs de grupos dc estudo ou estu-
vontade, pois toda pessoa pode conñar cm sua vontade, contanlo
dantes, perccbo como am'da é estranho pensar de acordo com o
que saiba o que quer. A vontade, sab1'damenle, pertcncc àqueles
novo crítério, e como estc am'da tcm pouca m11'uência sobrc a nossa
fenômenos que não podemos qucrer m'tencionalmente, mas que
autocomprcensão, ao dar a elcs um cxercício escrito para saber
automaticamcnlc estão disponíveü em quantidadcs suñcientcs
aqu11'o que am°bum"am ao dcstm'o, ou à liberdade humana. Sob o
quando se deseja algo totalmente diferente.
conceito dc “dest1n'o”, são colocados dctermm'antes flsx"cos, como
Por este motivo, também não poderia ser sugerido à paciente estado dc saúde, idade ou sexo da pessoa, além de eventualidades
que ela dcsejasse ter o dcsejo de recuperar a saúde. Contudo, foi positivas ou negativas, ou seja, casos de sortc ou azar, e am'da fatores
feílo junlo com cla um levantamento daqu1l°o que ela, se estivesse do mcio ambicnte sobrc os qua15' a pessoa não tcm controlc du'elo,
bem dc saúde, pudesse reahzar' na sua vida algo que tivesse sentido. como guerra ou paz, bem-estar ou dcscmprcgo, paxemcs agradávexs'
E hav1a' uma porção de planos para o futuro que jorravam dela, e ou desagradávels', ctc. Sob o conceito de “liberdade", geralmcutc é
pelos qua15' valia a pena suportar corajosamcnte a época trls'te de descñta a liberdade de mov1m'cnto de uma pessoa, sua atividade e
sua cstadia na chm"ca e os proced1m'cntos neccssáríos para o trata- passividade no cotidiano.

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Quando pctgunw cm scguida “E ondc scrim wlowdu as wnaoq"u"ência.s' daí dw"›rrcnlcs, pouR cbw é inogavclmcmc noua
cmoçoc's?”, surgc uma longa rcflcxãq mé quc sc chcga à wnclusão rcal'u"4'çd"'o c nom culpa. Dcslc ponlo dc wm a prcfcré'naa" pcla
dc quc 4.s' cmoçoc's pcncnwm w dcslm'0, porquc, wmo é sabído, urlca dc libcrdadc msumc uma oulra pcrspoctivaz wrlmcnlc a
nós nâo cswlhcmos num cmoçúm Alóm dmso", (: un'¡x›ssívcl, por libcrdadc é uma dádívag m também -(, a 'wndcn4ç40"' para a rcspon-
cxcmplo, ordcw a algu*6m quc, dumtc os próximos 5 minulos, tcrá sabilidadc, c uwtmcnlc o dcsütw é uma wc-r<,4"'o, M lmbém a
quc scnür 'alogru," ou 4b0'rrcc1m'cnlo, o quc dcmonmra quc as abwlvição da rcsponsabilidada
cmoçtks são cfcitos colal'er415" automahl'c05, conscicntcs ou m'w'n5- DESTINO LIBERDADE
cwn'lcs, dc que as mu5m, c quc náo cslão dlr'cla-
(dcñnido wmo alg'o, (dcñnida mo 4J'go,
mcntc subordinadm à vonud'c. Az cmoçoç"'s surgcm, 4as"im, wmo
pcnmlc o qual' não tcmos díulc do qum podcmos
cfcno' do dcshn'o, o quc n40" 51gn'1ñ'ca quc náo posaa haver molivos
op(,4"'o, num dctcrminado dccidir Iivrcmcntc, num
para c141›,' quc o porlad0'r tcnha aLé sun'plcsmcnlc
momcnto), dclcrminado momcnto),
quc, no momcnto cm quc surgju uma dclcrmma'da cmow'0, não
por cxcmplo, por cxcmplo,
havh uma cmlha m'tcm'›r livrc pma quc csla cmoçaxü dcvcm" surgir
falorcs do mcio amblc'ntc cstruluração própnA" do
ou não. ambtc'nlc
cu'cun514n"0i45" positivazw c
Conlm"uu pcrguntmdoz “E pua undc vão 45' alitwdcs?” c ncgalivas rcaçoc's comcicntcs díanlc
novmcnlc há uma longa rcflcxáu Scrá quc 45' 4l'i1udcs são pr6-for- dctcrminwtcs físiws das
m4d45" por modclos, cxpcr1ê'nc141›"', ctc.? Mcus csludwtcs pcsm dclcrmíndn'tes psíquioos c1r'cunstan'cna5°
md4"dM'cntc os prós c os conan c flnaImC'nlc ncgm csLa (emoçóes) atos voluntüios
possib¡'hda"dc. ÇL'*n4mL'~nle 4s' alüudcs do pmado ou do 4m'bicntc NENHUMA posicionamcnlos cspüiluak
socnal' podem 51m'plcsmcme scr adotad45', mws elas ndoprecísam ser RESPONSABILI DADE (au'tudes)
aceilas e adaladas. Pwa toda M alitudcs prwxxs'lcntcs, há scmprc RESPONSABILIDADE
um posiciomenlo pcswalq uma docxs"ã0 da oU'n1›cíênc1a'; mcbmo
quc uma pcssoa wja cxlxcmmmc m'f1ucnc¡4"vcl pcla 0pm'm"0 dos Através da rcinlcgração da d1m'cn5a'o cspirilual na dimcnsão
ouuos, scmprc Lcm a opçãg dc como sc posícionw dmtc dc sua psíqu1'ca,' dcnlro da conccpção dc homcm da logolcrap1a,' o homún-
própña 1nf1'u-(,n(:m"blh''dadc1 . As au'tudcb, port4n'lo, são livrc5. culo üpo fmlochc dc uma p51'colog14" ullrapmada nâo somcnlc foi
Após tcrmos chcgado a csm concluso'cs, mlumo lmw uma dcslíluído dc suas funçoc's, ao chchI'-sc à rcdcscobcrta dc uma árca
oqua pcrguma pua dm"'u:›sa"'0, quc, dc ¡'mcd14"t0, pwccc íácü dc dc libcrdadc cms'tcntc pma qualqucr pcsso4,' praticwcmc cm qual-
rcspondcr. Pergunto ao grupcx “Ounl' dr*'ca da vida humam dgr'ada- qucr situação, m45' tmbém foi normdhta"'do o rclacionamcnto lotal-
lhcs m4L5", a árca do dcstmo ou a da libcrdadc?" Rcspondcm un'c- mcntc pcrlurbado entre ética e psícología, porquc a rctomada dc
dhlmcnlcz “A ar'ca da libcrdadc, é clwo, pow' ncla podcmos uma libcrdadc pcssoal nada mzns' é do quc a rclomada da rcspon-
p4m"cipcu' d45' dctc^rmm490t"-"s c dLCIbUL-""5, podcmos tomar a vída cm sab1h"dadc pessoal de cada um. Aqui senüm'os muito claxamcme a
nosu mãos e dm"gi-la pwa ondc qumc'*rmos!" Sun', isto é vcrdadc, ligação com a rcimrodução da dígnídadc humana na psicolcrapla,'
a hbc'rdadc wmprc auúu magncücmcnlc o homcm, é wu sonho poís sc lirarmos do scr humano sua respon5'dblh"dadc, lambém
dcsdc Adão c Eva. lümos dclc sua d1'gnidadc, conformc dü FrankL Islo SIgmñ"ca quc
uma psíwlerapia dc dcsculpdsu é uma ps¡'cotcrap1a' do avütamcmo,
Entrctan'to, cx1.5"tc um 45"pcc10 quc, por wim du"x:r, compcnsa
ou, cxprcsso dc outra forma, a condenação para a libcrdadc é a
o ponlo ncgalivo do dcstino com um ponlo posítiv0, poxs' cslá ligado
à 4r'ca da libcrdade hum4n'4,' wmo um ônus do qum não podc sc 1n'cv1t4"b1h"dadc dc podcrmos nos tornar culpados.
hvr'ar, o 45'pccto da rexponsabilidada Aquilo quc é prcdctcrmma'do Por oulro lado, lambém exxs'te a absolvição da respon-
pclo deslm'o, quc não podc ser cscolhido por nós, cswpa dc nossa sabüidade por causa do dcstm'o, cabendo à psicoleraph djss'olvet
rcsponsabilidadc c, assim, tmbém das num fdlh'45'. Por aquilo, os scnt1m'cntos dc culpa In'jusnñ'cados para restaurax novamente a
porém, quc é cswlhido h'vremcntc, cstruturado 1ivrcmcnte, dccídí~ d1gm"dade. Como cxcmplo, gostana' dc mencionar o caso dc um
do 1m'cmcnlc cm nossa vida, preas'amos rcspondcr até as últimas

218 219
homcm quc me procurou e estava cxtremamcntc cnvergonhado ao por consegum'tc, era livre para escolhcr seus atos, mas elc, lcviana-
me relatar seu problema. Ele se sentia fortcmente atraído por mcntc, optou por um ato negativo. A única abordagcm psicolc-
cnan'ças, quc cxcitavam sua fantasia sexual, cspecialmcntc nas vár- rapêutica possívcl ncsle caso scria aquela quc lhe mosltassc cslas
zcas do Rio Isar em Munique, onde no verão brm'cam muitas conexões.
crianças sem roupa. O mcdo dc que pudessc ceder a seus 1m'pulsos
A logotcrapia não tem m'teresse em alribuk culpa a seus
e molestar as crianças o atormenlava a tal ponto quc, durante todo
pacientes, e nem m'ar-lhes sua culpa. A logotcrapia se prcocupa
o verão, não la' nadar e evitava todos os loca15' onde pudesse ñcar a
com a compreensão dc nossa liberdadc e responsablll"dade, ls'to é,
sós com crianças que estivcssem brm°cando. Na reah'dade, nada
jamais aconteccu neste sentido, o homem tmha' controle absoluto até que ponto somos h'vres e, portanto, rcsponsáveis, c até quc ponto
somos um joglelc do nosso destm'o, e, portanto, ls'entos dc culpa.
sobre si, mas cle se scntia culpado por causa dc seus pensamentos
Contm'ua em abcrto a questão sobre qual alternativa nos parcce
c descjos m'op0rrunos.
mals' snm'pática. Dependendo das cu'cunstânc1'as, a últIm'a allernati-
Ncste pont0, pudc lhe m'ar toda culpa, p015' cmoções c idéías va pode até ser a mals' fácü de suportar, mcsmo quc não tcnhamos
compulsivas pertenccm à área do destm'o, não são escolhídos livre- suspeitado disso. Imag1n'e o leitor quc cstcja diamc da allemativa
mente, mas 51m'plcsmentc aparccem sem quc se saiba de onde. de ser ou aquele que, andando dls'lraído na calçada, é atropelado
Porlanto, o homcm não tmh'a culpa alguma por suas tendências por detrás por um carro, ou aqucle quc cstá na d1r'eção de um carro,
pedofílicas e sua hiperreñcxão angustiante Iigada a clas. Ele era e, num momcnto de dcscuido, atropela um pcdestrc d15'traído; não
rcsponsávcl um'camcntc pelo cspaço entre ceder às suas tendências, sei qual será sua preferência. Se ele for a v1't1m'a, tem o sofnm'cnto,
ou ofcrecer-lhes resxs'tência. Dentro de sua área de liberdade, po- mas pelo menos não tem culpa; 0 carro vm'do por detrás foi cntão
rém, scmpre escolhcu a rcsistência, tendo, portanto, agido com seu destm'0. Se, no entanto, ele for o motons'ta imprudenle, não lerá
consciêncía dc sua rcsponsabú1"dade, o que, sem dúvida, cra uma dor f15'ica, mas sofrerá de uma aflição dc outro tipo, poxs' sua falha
rcahza'ção digna de louvor. Pude então d126'r-lhe o segumtez “O sr. estava dentro de sua área de h'berdade. Convenhamos, é uma opção
não tcm motivo paxa se cnvcrgonhar, ao contrário, dcveria sc orgu- d1f'íc11'. Ela lcmbra um provérbio que d12': “A mãc dc qucm foi
lhar de sí. O sr. é um homcm decente, nem a sua compulsão de assassm'ado dorme, a do assassm'o, não.”
pensamcntos dc ordcm ncurótico-sexual pode mudar ls'to. Seria
Tenho um motivo especial para d¡s'cuur' tão detalhadamentc
apenas uma questão de como o sr. pudcsse aprcndcr a lidar am'da
este tema. Acontecc que em ccntenas dc pacientes ñz a obscrvação
melhor com esta 1r'ritação provem'ente de suas cmoções. E há mé-
dc que há aqueles, cuja atcnção está d1r'1g1"da predommantemcnte
todos psícoterapêuticos que 1r'ão ajudá-lo.” Eu havía pensado numa
para aquüo que pertcnce ao dcstm'o, enquanlo quc ex15'tem aqueles,
combm'ação de m'tenção paradoxal e derrcflexão, mas ambos os
cuja atcnção se focahza' pnm'ariamcntc na sua rcspcctiva área dc
proced1m'entos revelaram-se desncccssários, porque o ah'vio do
1iberdade. Certamente há flutuações na concenlração espu'1'tual nos
homcm, por causa do que lhe expliquei sobre sua decência funda-
respcctivos oonteúdos, mas parccc quc os doxs' centros de gravídadc
J
l
mental c sua ls'ença'o de culpa, teve um cfcito de feedback tão
d1f'erentcs ex15'tem.
positivo quc cle conseguíu sc dls'tancíar cada vez ma1s' dc scu
problema. Ele até voltou a freqüentar as var'zeas do Río Isar; ma15' Há pcssoas dcpress¡'vas, que sc desesperam por causa de sua
tarde rclatou-mc que, ao obscrvar crianças brm'cando, 51m'plesmen- depressão, e há outras quc pensam naquüo que a1n'da podem reah'-
tc lmh'a a consciêncía profunda e fehz' dc sua ñdelídade a si próprio. zaI, apesar de sua dcpressão. As pnm'cu'as percebem seu destm'o,
as outras, sua área de liberdade que o destm'o lhes delx'0u. Há
Quc d1f'ercnça observamos entre este caso e aquele do homem
pessoas que vivem constantemente no scu passado, repleto de lcm-
jovem, cujo cnm'e rclatei logo no m1"ci0 dcste capítulo, como exem-
branças dolorosas, a parür' das quais surgem as quc1xa's do prcsente.
plo de uma brutalidade desmesurada sob o d15'farcc de uma neces-
E há pessoas que buscam nas rem1m"scências dolorosas do passado
sidade de ab-reação! Este homcm não era torturado por
a vontadc dc rcnovar c mudar o prcscnlc. As pnm'cu'as dcsgastam
sennm'entos de culpa após ter pxs'ado no rosto de um banhls'ta que
suas forças no confronto com o desun'o, poxs' o passado da vida de
nada unh'a a vcr com clc, mas deveria sentlr' culpa, p015', apesar dc
uma pcssoa, na sua 1m'ulab111"dade, pertence absolulamentc à área
seus aborrec1m'entos prévios, não era m'telectualmente hm1"tado e,
do desnn'o; as outras derivam forças dcste confronto com o dcsün'o,

220 221
quc poderão scrvk até para a cstruturação dc sua área de liberdade forma, suas possib1h"dades m'dividuais de escolha cstañam incxls'-
aluaL tcntcs.
Usando novamcnlc um gráñco simbólico, podcmos também É lógíco que a árca do dcslmo c a da libcrdade pcssoal na
classmcar as áreas do “dcst1n'o” e da “libcrdade” de acordo com as nossa vída (c especialmcnle no diagnóslico dc dls'túrbios psíquicos!)
possib1h"dades nelas cns'tentes. Dcscobrkemos que na área do des- mlútas vezes se m15'turam, mas justamcnle por 15'so é tão importantc
tino não há uma única possibmdade à nossa d15'posição, pons' nela,
que saibamos separar amba5' as áreas e, prm'cipalmemc, quc possa-
por deñm'ção, não há cscolhas, enquanto que na respectiva área dc mos concentrar-nos espu'1'tualmente, cada vez ma15', na área dc
11'bcrdade, a qualquer momcnto, cm qualqucr situação dc nossa liberdade exns'lente. Os pacientcs que conscguem sc conccntrar
vida, há todo um céu estrelado dc p0551'b1h"dadcs disponívels', das nesta área de liberdade têm uma vantagem 1n1"gualável sobrc aquclcs
quaxs' podçmos, e prec15'amos, escolhcr uma. Assm1' quc tcnhamos que não o consegucm. Aquclc que m1r'a o dcstíno, olhará para o
cscolhido uma dclcs, com a sua rcahza'ção, dcsaparccem subitamen- vazio, como podcmos dcduzü do gráñco anterior; vivc num mundo
tc todas as outras possib1l1"dades dcsta situação, para nunca maLs' c1m'entado em que cle nada pode movcr ou mudan Para aquclc,
voltar. Cerlamente, surg1r°ão novas síluações com novas possibi- porém, quc m1r'a sua área dc h'bcrdade, por menor que scja, abrcm-
lidades, enquanto cstivermos vivos, mas o céu eerelado de um se as possib111"dades de sua situação, m'clusivc as possibilidades de
determmado momento desaparece com a concretlza'ção de uma sentido desta situação. Repetidas vczcs usei o trocadllh'o dc Frankl
úm'ca dc suas estrelas. sobre o “órgão do sentido”, para caracterizar aquelc m'strument0
ÁREA DA de precisão no homem para perceber o “sentido scmpre prcsente”
ÁREA DO LIBERDADE PESSOAL cm qualquer cu'cunstan^cía. Com base em nosso gráñco podcmos
também denomm°ar a consciôncia como a capacidade do homcm
DESTINO X ao seleci_on_a_r-se
X X para 1'dcnt1ñ'car a cstrcla mals' bnlh'ante no céu dc estrelas dc um
X X
uma DOSSIbIIIdad8, dado momento, ou seja, dcscobnr' a opção que tcnha ma15' scnüdo,
todas_ .a_s outras
X X poss¡bllldades dentrc todas as possib1h"dades, de uma dctcrmmada árca dc liber-
X X X desta situação dade.
x X apagam-se para
Qual seria então a vantagem quc teriam aquelcs pacientes,
X X X X x sempre que perccbem prcdomm'antemcnte sua árca dc libcrdade, sobrc os
\__v____/X
XX
outros? A resposta é snm'plcs: trata-se da oportunidade para a saus'-
cada situação tem todo um "céu faça'o. Se alguém puder ter a certeza dc que, dcntro de sua área de
libcrdade, fez tudo quc foi possível, cspecialmcnte tudo aquüo que
estrelado" de possibilidades tevc uma possib1h"dadc dc sentido, cntão, pma cle, tudo está bem,
Alguém que, por cxcmplo, acorda num domm'g0 de manha,~ cle podc ñcar satxs'feito consigo próprio, m'dependentcmente de
tem m'úmeras possib1h"dades dc como passar esta manhã. Se, porém, como for o seu destm'o. A sensação de “tudo está bem", añnal, nada
decidh u' a uma exposição dc arte, snm'ultaneamente todas as outras ma15' é do que 0 reconhecxmcnto de quc “ñz tudo quc foi possíveL
possib1h"dades dcsta manhã delxam' de ems't1r' e nunca mals', nem em tudo que t1nh'a sentido”. Este rcconhecm'ento não teríamos, se
m11h'oes' de anos, terá novamente a mesma situação de escolha somcnte v15'armos o destm'o, pois o dcstm'o nos fomcce quasc que
daqucle dommg'o de manhã que passou. Mas também sua mcolha exclusivamentc um motivo para estar ms'ahs'feito com algo.
de v¡s'ítar a exposição nunca mals' podcrá ser _anulada, p015' a parür' Para ajudar mcus pacienles a cnconLrar esta cxperiência dc
deste momcnto esta v1$1"ta constitui uma paxtc m'tegrantc c 1m'utável “tudobem”, apesar dc suas hm1"taço'cs c afliçõcs pcssoais, dcsenvolvi
dc sua vida. Nanualmcntc, se, após lcvantar-se, essa pcssoa tivcssc durantc Incu ul't1m'o grupo de tcrapia um conjunto dc cm°co cartões
desmaiad0, sua árca de liberdade estaria temporariamente fechada dc lembretcs humons'ticos, que cada participante levou para casa.
c o destm'o tomará a d1r'eção. Talvez alguém a leria levado ao Tratava-se de um grupo de acompanhamento após as terapias
hospitaL talvez cla contmuaria deitada no cha'o, mas, de qualquer m'dividuals', do tipo dc um “c1r'culo de meditação logotcrapêuu'ca”,
conforme expüquei detalhadamente no meu livro “Von der Tiefen-

223
zur Hochcnpsychologic” (“Da psícologia profunda para a psicolo-
gia das alturas”). Era composto de participantcs que, cm geraL
haviam passado por um período de doenças durantc décadas; entrc
eles, havia duas mulheres quc foram mnsidcradas m'curávels' pelo
hospital psíquiátríco de Haar, perlo de Munique, antes de me
procurarem Todosjá passaram por uma terapia m'dividual e tmh'am
alcançado uma relativa establll"dade, mas, de algumaforma, estavam
diante de alguns “fragmentos” de sua vída, dexxa'dos pela doença.
No grupo, convcrsamos muito sobre os pcnsamentos expres-
sos nesle livro, e os particípantes mamf'estaram o desejo dc ter um
material cscrito que, em tempos de cn'se, pudcsse lembrá-los dc
procurar oricntação nas possib111"dades dc scntido dc sua cns'tência.
Tivc então a idéia dos cm'co cartõcs, que sabia pertenccr a um
programa pcdagógico-tcrapêutico para crianças, onde se mostra-
ram eñcazes. Por quc não poderiam também aumh"ar os adultos,
com um tcxto mod1ñ'cado? Dei então novas legendas a cstes cartões,
com cm'co ursmh'os da autoria de Meichenbaum, c obtive cm'co
passos dc um proccsso para lidar idealmente com problcmas da vida
quc possam surg1r', sob a forma de uma lns'tória cngraçada dc ursos,
quc, justamcntc pela sua mf'ant1h"dadc, tem um cfeilo du'eto sobrc
nosso amm^'o, podendo fac1lm'ente produzü uma mudança terapêu-
tim dc pcnsamento.
Na pág1n'a 225 cstão representados os 5 ursmh'os, os quais
ccrtamentc ficariam contcntcs sc pudcssem serv1r' a um ou outro
leitor...
Examm'emos cada um dos cartõcs. A pr1m'c¡r'a pergunta éz
“Qual o meu problema?” Esta não é uma pcrgunta logoterapêutíca,
mas uma pergunta psícológica propriamente dita, que prec15'a ser
feita sempre que a pessoa, de alguma forma, não se senür' bem
psiqu1'camcnte. Toca-se, ass¡m,' na dimensão psíquica do homcm,
p01$' é ela que causa a conotação emocíonal desagradávcl de uma
reah'dade. Um problcma, na verdadc, é sempre um problcma emo-
cionaL Aquüo que perturba nossos pacicntes é a tns'teza, a ansieda-
de, a agressão, a cobiça, a decepça'o, etc.; de qualquer forma, é a “Até que enñm posso descansar um poucol”, cntão o dcsemprego
emoção quc cstá hg'ada ao fato da rcah°dade, e não o fato em 51,' que para elc também não é problcma. Novamentc, o desemprego se
m'comoda. tornará problema, se a pessoa dcscnvolver scnüm'entos dc mf'erio-
Se, por exemplo, alguém se divorciar e pensarz “Quc bom que ridadc, medo do futuro, ctc. Isto sxgmñ"ca que a carga emocional dc
me livrei delc”, então o divórcío, para esta pcssoa, não constitui umproblcma éo vcrdadcu'o problema na psicologia, levando, a551m',
problema. A situação torna-sc problemátíca, se a pessoa lamentar a psicologia tradicional a daI ao aspccto emocional do homcm uma
a ausência do outro, se não suportar a solidão, se tiver ódío do 1m'portan^cia desproporcíonalmente grandc, ao cquipwáJo erro-
parceüo perdido, ctc. Ou se alguém pcrder o emprcgo e pensar: neamente à alma, conforme já expliquei.

224 225
Nosso pnm'en"o ursmh°o encontra-se diantc de um sm'al de 1n'troduz¡r' um pouco dc humor em nossas convcrsas sérias, pois a
parada, que é uma barreüa emocionaL que o segura na sua vida, e logoterapia, por motivos tcrapêuticos, gosta de apelar para o scnso
cuja problemática precxs°a esclarecer. Após esse csclarcc1m'cnto, o dc humor das pessoas. Os particípantes unhzar"am os caxtões das
ursmh'o do segundo cartão efetua uma mudança; poderíamos dlze'r maneüas ma15' diversas; alguns colocaram-nos na larelr'a, para olhá-
que rcpetc a mudança quc a logoterapia m'troduzíu na psícologia. los todos os dias; outros somente ur'avam-nos da gaveta quando
Ao lado da d1m'cnsão psíquíca, mostra a dimensao~ espírítual do estavam diamc dc algum problcmaverdadexr'o. Uma scnhora dcu-os
homcm, quc, além de todos os sm°als' dc parada e barrcu'as cx15'ten- de prescnte para sua ñlha, que estava muito cstressada por se
tes, semprc permitc uma certa área de 1iberdade, através dc atitudcs encontrar diante de scu exame ñnal de qua11f1'caçã0 como profcsso-
m'tcriores, de posicionamentos diantc das próprias emoções e da ra c que, com a ajuda dos ursmh'os, conseguiu mantcr a calma c
avaha'ção da rcalidade presente. “Onde esrá m1nh'a área de Iiberda- satxs'fazcr uma cxigência após a outra. Dcp015' quc tcrminou este
de?” O pacicnte que a procura vai encontrá-la. E se tiver cncontrado gxupo, todos os participantcs, scm cxccção, contaram-mc uma “hJs'-
sua área de h'berdade, também terá diante de si todo o céu estrelado tória de urso” pessoaL rclatando, com base nas palavras-chave dos
de possib1h"dadcs, às quaxs' se refcre a pergunta do nosso ursmh'o do cartões, como conseguüam sc ajudar numa situação crítica.
terceüo cartão. Agora não domm'am ma15' as emoções, a palavra
agora está com a cognição, a fantasía, a riqueza de idéias, a criati- Gostaria dc reproduzü aqui a ma15' bom'ta destas “h15'tórias de
vidade de uma pessoa. A pessoa que m'vest1g'ar suas possib1h"dades urso”, para, com isso, também voltar ao nosso tcma cc'ntral, que é a
de cscolha encontrará muito ma15' opções do que acredita, mcsmo conservação da dignidade humana na psicoterapía. A participante
em_situaçõcs de vida muito do grupo, que me mandou esta h15'tória por carta, redigíu com suas
lmh'as um documento comovcnte do “humaníssxm'o” no scr humano,
Porém, saber das varíadas possib111"dadcs de escolha am'da não diante do qual a nós, psicoterapcutas, cabe tcr respeito e admu'aça'o.
é suñciente, ma15' uma vez a d1m'ensão cspm"tual do homem precEa Ela escrcvem
man1f'estaI-se, levantar sua voz, que é a voz do “órgão do scntido”,
a consciência. As emoções ou cogniçõcs facdm'ente poderiam fazer “Sofria de uma série de sm'tomas. ASSIm' que um desaparecia,
uma opção errada, uma opção contIa o scntido. As emoções esco- aparecia o scgum'te. A sra., dra., foi a nona terapeuta quc consultei.
Muitas vczes rclateí como o meu passado fora tns'te, rccebi m'ter-
lhem de acordo com o prm'cípio de “querer atuar” cegamente, o que
já mencionamos, e as cogníções escolhem de acordo com 0 pnn'cípio prctaçõcs e diagnósticos para aquüo que sentiaz que eu era narci-
da máx1m'a vantagem pCSSoal possíveL são calcuhs'tas c cegas para sista, mf'ant11', quc meu cu-criança domm'ava. A sra. passou a
trabalhar comigo de uma forma d1f'crcntc, ensm'ou-me a dar mcnos
os valores. A consciêncía, porém, é autotranscendente, faz com quc
o homem possa olhar para além delc próprio, para o mundo em que 1m'p0rtan^cia aos meus sm'tomas, transmítm'do-me coragem e amo-
vivc, para “aqu11'o quc nele seria necessário fazcr”, aqui e agora. conñança. Tornei-me muito mals' solta durante m1nh'a terapia com
Somentc a consciência podc dcscobrü qua1, de todas as possibi- a sra. Porém, há algo sobrc o qual nunca falei com terapeuta
lidadcs de cscolha, é a que tem ma15' sentido. Quem rcconheccu esta nenhum, nem com a sra. Engraçado, nem cu sei por quê. É algo que
possib1h"dade tem apenas uma escolhaz scgmr' a consciência ou não. me m'comoda bem lá no fundo, desde que posso pensan Recebo
muito pouco amor. Não me amam. Nm'guém me ama tanto quanto
Nosso ursmh'o do qmn'to cartão defcndc as consequ"ências, a m'ten-
ção dc rcahzar' aquüo que foi reconhccído. gostaria c precxs'aria. Amor! Por que elc está fechado para m1m', meu
Dcus, por quê? Nunca d15'se ls't0 a nm'guém, mas é m1nh'a úm'ca dor
Certamcnte surgüá a pergunta se, com ls'so, o problema ori- verdadelr'a, o resto é quase só sxm'ulação. Não, não é bem ass¡m'. Ou
gm'al foi resolvido. Diantc dls°to, añrmo quc não sc tratará mals' do será quc s¡m'? Dcpoxs' dc tanto tempo dc lerapía, devcria me com-
mesmo problema de antes. Um paciente, que seguiu 1n°teriormente prcender a m1m' mesma, mas fui mc tomando cada vez maís uma
0 cammh'o dos ursmh'os, delx'ou para trás o sm'al de parada; é estranha para m1m'.
possível que am'da tenha uma carga cmocional pesada, mas cle
conhcce scu cammh'o, e cstc cam1nh'o cstá Iivrc. Outro dia peguei novamente os cartões dos ursos. Estava
sozmh'a em casa, e já era noite. Chorei quando pcguei o pnm°cu'o
Conforme dlss'e, d15'tríbuí os cartõcs com as üustrações para carta'0. Dcpons' peguei o segundo. Mmh'a ar'ca dc libcrdade... não
os partícipantes de um dos meus grupos de terapia, talvcz até para conseguia lembrar de nada. Mas ela devc exist1r'. Tive então uma

227
í
idéia. O quc estou csperando? Se não posso ter amor, podería ser dos pals', docnças sofridas, ctc.) com maior ou menor frcqüência, dc
amor. Ser amor... idéia cstranha. E totalmentc nova. Como é 15'to, acordo com o pensamcnto do ch'cnte, quc pode scr orientado mals'
quando há amor dentro de nós, quando nós o 1r'radiamos? Uma vez pelo desnn'o, ou mals' pcla liberdadc? Como conscqu"êna'a, dc duas
a sra. d¡s'sc ano sobre o ter e o serz quc 0 ter pode ser perdido, pcssoas com uma hls'tória de vida scmclhante, uma dclas contaria
cnquanto que o ser nunca se perdc, nem mesmo naquüo que passou. ao tcrapeuta quc sua mãe não lhe dcra atcnção suñciente, c quc
Olhei para o terceüo cartão e agora sei o que a sra. quis d12'er com levou um choque quando seu cão predüeto fora atropelado, 1s'to é,
o *céu estrclado cheio de possíb1h"dadcs*. Dc rcpentc, suxgüam colocaria em pnm'elr'o plano sua condição de vílima, enquanto que
m'um'eras idéias. Eu podcria scr amável para com todas as pessoas o outro talvcz rclataria que sua mãe lhe dera a chancc de cscolhcr
quc encontro dian'amente, muito mais do quc fui até agora. Elas h'vrcmcnte sua proñssão, e que sempre tívera xmúto m'teresse por
poderiam sentü amor na mmh'a presença. Mas seria ls'to possível? amm'als', ou seja, ressaltaria sua partiap'ação nos acontecxm'cmos.
Pcnetrado pelo amor - que idéia! Dcp015' ñz planos e 1m'ag1n'ci Poderia scr quc, durantc três quartos dc século, a psícologia aceitou
muitas cotMs Como me aprox1m'arci das pessoas, sem tcr vergonha, como vcrdadeüas as hls'tórias de vida reconstruídas a partu' de
como convidarei meus conhecidos, e como todos agradecem Mas relatos dos pacicntes, tlr'ando conclusões sobrc o cstado prcsentc

l
o quarto cartão dcm'ou-me séria. Mmh'a consciência foi brutal. do clientc, quando, na verdade, ambos, ou seja, a seleção dos
'Você se 11'udc”, disse ela, 'não tem sentido querer comprar 51m'pa- eventos relatados da h15'tória de vida, assun' como o estado atual de
tias. Se quiser amar, dcverá fazê-lo com as pcssoas tal como elas são. uma pcssoa, representam única e exclusivamente o grau de sua
Sem csperar por retribuição. Por exemplo, aquela mulher idosa do on'entaçao' mentalpelo destino, o grau em que um paciente se sente
terceüo andar, que é scmpre tão pouco amáveL che flores para ela, privado da 11'bcrdade, cmbora cxistam áreas de libcrdade cms'ten-
mas aceíte sua falta de amab1h"dadc, só a551m' será capaz de amar." cials' para ele? Scrá que a docnça psíquica ou, ma15' cautclosamente,
Acredite ou não, mas é o quc m1nh'a consciência d15'se. No dia a docnça neurótica, nada mais é do que um bcco mental sem saída,
scgmn'tc, fui à Horicultura perto do mcrcado e comprei um buquê uma atenção crônica d1r'ccíonada àquüo que não pode scr mudado,
de ñores da pnm'avera. chci-o para a mulher. Ela não díssc palavra e uma falta de atenção àquüo que seria possívcl muda:?
alguma, só olhou para as flores e para m1m'. Aí senti que de agora Se assm' fosse, poderíamos resolver a contradição rcsultante
em diantc mdo mudaxia. Não vou ma15' mc lamentar que não reccbo do fato de que m'úmeros manua1s' de psicologia, no mundo todo,
amor suñc1'ente. Rcalmente, o que 1m'porta não é o reccbcr. Dcntro añrmam quc a ncurose sc dcscnvolve a partü de frustrações da
dc m1m,' havia pouco amor, mas ts'to eu posso mudar. Cada dia mudo pnm'c¡r'a mf'an^cia, de privações e de modelos parentajs uegativos,

l
um pouco. O qum'to cartão está na mmh'a bolsa e me acompanha quando, ao mesmo tcmpo, há m11h'õcs de pcssoas, no mundo lodo,
para onde for. De alguma forma, estou fchz'. Não é a felicídade com que tiveram uma mf'an^cia d1fí'c11' c sofrida, e se transformaram em
que sonth mas é uma fclicidade boa. Sxm,' agora tudo está bem.” adultos pcrfeitamcntc normals'. É claro que qucm não utlhza" sua
A carta desta SCnhora, que publiquci com sua pcrnns'são, liberdade de forma responsách parque nem a pcrcebe, pode fra~
despertou em m1m' uma suposição geraL Uma suposição que pode- cassar na sua vida adulta, da mesma forma que pode fracassar cm
ria levar a umatcoria sensacionaL sefôssemos segui~la. Suponhamos sua retrospectiva subjctiva com rclação ao seu passado; elc não
que realmcntc haja pessoas que sc conccntram espm"tualmcnte, percebc suas oportunidadcs da vida prescnte, nem aquelas de sua
com todas as suas forças, nos determmantcs do seu destm'o, e que mf'an^cia. Elc só se lembra daquüo que o mcio ambicntc lhe causa
haja outras pessoas que, predomm'antemente, v15'uahzam' sua árca ou causou, porque não sc identxñ'ca com um ser que, por sua vcz,
de h'berdadc. Isto não sígmñ'caria que as pessoas cítadas em prlm'ei- pode rcspondcr àquüo quc lhe é mfh"gido dc várias mancu'as, não
ro lugar tambémfalariam mals' freqüentcmente sobre os determí- pcrcebc quc é um ser que pode rcspondcr livrcmcnte, dc acordo
nantes do seu destm'o do que as outras, po¡s' cada um fala daquüo com suas próprias escolhas. Um ser quc, na verdade, cle é, apesar
com que se ocupa seu espln"to? Isto não 1m'p1icaria no fato de que, de tudo.
nas anamnescs quc nós psicotcrapcutas lcvantamos, e nas quals' se Ass¡m', gostaria de concluü que a dignidade humana é algo
baseia em grande parte nossa m'tervcnção terapêutica, apareccm que, segundo acrcditamos, até 0 homem mals' pobre, mais doente e
fatorcs do dcstmo (com0 mñ'uências do mcio, padrão de educação mals' 1n'út11' a1n'da possui. A psicotcrapia é algo que, conformc acrc-

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T
í
ditamos, a1n'da devcria ser possívcl para o homem mms' pobrc, mais EDITORA uo. Jutzchon
caeom R Espno" Sanu ssa
doente e ma1s° m'únl'. Se qukermos umr' ambos, preas'amos opcrar
na d1m'cnsão daquele ul'nm'o “bem” do hOmcm, que somcnte dcsa-
VOZES Tel: mztmt
06010)Av. Batào do Rb anca 4516
parecerá com sua morte. E cste “bem” é a Iiberdade espm"rua1 do TeL: (032)21 1-rssz
MATHZ
homem.A logoterapía é a um"ca psicoterapia quc conscguiu 1n'tcgrar RS,PonoAlogn
RJ. Potrópolb (90210) R Ram Baroaloa 390
harmom'osamentc a libcrdade espm"tual do homem no scu csqucma (25689) R Fnai Luns.' 100 TeLz (0512)216522
méd1'co-p51'cológ1'co. Na mmh'a op1m"ão, a ela cabe, com razão, o C>mxa' PostnL 90023
mmm R Ractnnlo'. 1280
título de uma psicoterapía digna do homem. Tel.: m42)435112
Faxz (0242)42«0692
w. (0512)26-39H
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