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TIUUIÇ()ES POPl-UkES DE SAl'\TO TIKSO

1\'a rt'\"i:.:.ta _.~ () .-j']'i' \ lt cU,ia. puhlicação foi interrompida,


1Inmwti oedicarMIIH' <'t collwita da;-.; tradiçút'~ populares da minha
tt'rra.
Comecei logo a del'Oelllpt:llharMllw um pnuco às cegas da
obri~a~',-10 cuntraída, apro\'eitando () pouco tem pu ,das férias.
:'\0 fim de Seh:'1l1lJro de Iq12. tinha rf':unido uma pequena
('olec\'ü(1 de rUnl,LnCe~, cunV IS tradicilmai~, ,Jita(!.}s, superstiçôe ....:,
vo<.:ábul()~ populare~. etc.
Tiv.f de \"encer granues dificuldades, hem compensadas pelo
prazer intenso dE' \'t~r aumentar dia a rlia ():-; meus me~quinhos
apontamento.....
Explorei apena.:o> trê" fregut:sias (Areias, Palmeira e S. Mar M

tinho de Hougado). e tenho a Certeza de que mei-'rno ai muitas ri-


quezas se cunservam ainda ignorada:-;.
~à() pude :-;er se~edll para ning:ut'lll a abundância enorme
de materiais percliuo:-; pelt I cuncelho dt' Santo Tirso,
Devem persistir no espíritu popular tradiçüe~ importantü.;.
sima:-; ligada.... aos factos qm·· o ... arqucülogos têm trazido á luz:
antas, castros 1 machados vre~histúricos, moedas romanas, etc.
E lá andam ainda os cíprianistas com os seus livros desgas-
tadísslmos á procura dt, tt':"I.(HlrOS, recitando a:-; rezas dentro do

ri) De~til f#\"Ú;IUL. '1111:' t)Úlll",~·I.llt H, pll!,Ii<._ ... r-~\· P1U jllllh'O d~ I\JJ:.!, !;IaJ.ll. a.p"'ll"'~
Hum ~-ri. ... seia IlIUnero". Pena foi 'iIi" SaJ1to TirHú niW pudesllf! sustentar tio hAJa
tlp
empr~'s::l, üm flUf\ PÔ!! t{)(lr! )1 sua alm-H Ü flH'l! ;tmigo ltr. JmH" C. dt' Andrad(j.
18 REVISTA LUSITANA

súw-saimão, e arriscando-se à fusilaria t' aos trovôes que afu-


gentam os medrosos.
~ As ruinas daR torres (I), as mmas que vão ter ao ... rios,
conservam-se povoadas de Moura~. que cantam !:->uavemente.
enquanto fiam as RU3!-O meada,,;;, de ouro e levam os cavalos a
beber.
~". Como nào deixariam vestígios os amaldiçoado::;. France:o'es.
:-i.e 0:-0; pobres lavradores. temerários. mas valentes, esboçaram
um arranco de defesa e foram implacavelmente e~mag:ados?
- Por iniciativa do inteligente e erudito abade da vila, Te\'.
Pedro~a, que se acoita atrás de uma invencivel modéstia, en-
quanto muitíssimas nulidades julgam roçar pelas estrêlas. pooe
ver-se na estrada de Santo Tirso a Famalicão um monumento,
que comemora um encontro éntn-' forças miguelistas e liberais;
e Camilo na Brasüeira dr Prazins. livro preclosíssinlo para
quem desejar conhecer ..I fundo a linguagem popular dos dois
concelho.... vizinhos. deixuu acorrentado· a um ridículo etenw.
talvez irnereddo, um ataque de populares. acaudilhados por um
miguelista 1 á vila df' Santo Tin.;o.
- Acrescente~st' a tudo is:-,;o a intiuência exterior. e poderá
fazer·se um cálculo aproximado da colheita su:o;,ceptiveJ de se fazer.
E' possiveL po]' exemplo, que \;leSSe de fóra a se~tUintf>
crença, colhida na Palmeira:
.- Estar o pão com o dehaixo paru ânJ,u r: ,. .·/flUI de ladrâo
ou. pessoa perigosa á me....a.
Segundo nos diz \V. Scott nc" Tale" 01 a Grand Father, d,·-
pois que o traidor Menteith entregou \Vallace, voltando um pão
com a base para cima. pas~ou a considt'rarMse como prova dt'
indelicadeza o voltar o pão assim, havendo entre- os conviva:-:.:
uma pessoa chamada Menteith.

Na falta de - O Avr - re~olvl recorrer á Re1'isfa Lu,-~itan(l


para nesta ir arquivando os materiais de~cobertos.
Não estabeleço progralna. TentouMme a principio () seguido
pelo meu malogrado amigo e grande investigador Gomes Pe-
rena (Revi..t" Lusitana v. IX pago 29'.

II) Em.pregu aqui eeJta (h~~ignaçáü por" 11<..>\""1,' lf'r NJn><ilfp"<H]ó) t~'nlll (J llOUll> <I.,
T(W1'fJ Alta um lugall' doe Ar~i .. ~ IlfHh' ni",t.hl l~m 1"~",t~lo. Trwrt' p. hHlo o Mifi(lio 01<"
~ltura respeitavilIt
TRADIÇÔES POPULARES DE SANTO TIRSO

Mas para ISSO preClgaVa demorar algun~ anos a puhlir:açào


das nota . . colhidas.
Preferi lançá-la~ um pouco desordenadarnente ao papel. I k-
pois talvez organize uma obra mais metódica e mai.'-' ,"a:-;ta.
Por feliz me darei se en.tre as notas puhlicada~ apan~('t~,r
alguma inedita~ capaz de utilisar àquele .. :. que mais trabalham
pe10 bem estar e pelo futuro da nossa pátria .


Ensalmos

Alguns padre ... movem guerra de morte ao..; ensalmadon.-; ....


Cl.HltolHne lima talhadeira de S. :Vlartinhu dI::' Bougadn
qUt" fúra obrigada ii fazer confissào !I.'h-ol rj~or()síssima por ter
manifestadu no ('(ln fes . . iunário habil'ídade tào pecilmino..:.a.
() :-'.ll ...;to foi tanto, qw' a pobre v(,lh,1 n .lo tornou a talhar

As palavras desapareceram da ""Ui;l mot.'mônu, ma;:.;.. <-l


crença na vírtude t1ela~ ficou.
Olltros sacerdotes, mais cOlldescendentt:.~~, nào i-I.tril ~Ut'.'lll Illal
ás n'l.ils. e. com os {)lhus pu,>;tos na sentem;a li j(; f~ qUi' no. .'

sah'll ---- cheg'am a suhmeter os achaqups prt'tprlo:--:, aos esconju-


ros milagrosos.
/\. crelH;a nàn ....;uhslstt> apena ... na:-. massas ig:noranh:'s: Indi-
\"iduos rdati\'umente ilustrados não duvidam I"t'corn-'T ({< j;, ft)iti~
ços: un .... pOnjlH" acredita..'! na t'-hcácia dn remédio; outros, in-
crêclulos, mas poueo seguro;, nas suas opini{,("s: t' muitos para
nào abalar as esperanças de parentt's e amigos.
~l11and() as ideas f:"stào assim f'nraizadas, mto lia proibi\'t'ws,
divinas ou hUl11i:.mas. que pus.sam destrui-Ias por completo t' de
pronto.
~a:-:-. minhas investig:a\'út's depararam-se-nw as f(JrI11ulas,
que abaixo reproduzo, conservandu algumas da.... quais u :-;ell
cunho antiquíssim()~ vendo-~t:.' Ilpla:-; palavras, que já nã!') apare-
cem na linguagem comuTll.
):--;to pode ter duas t-xplicat;ües: Ou as rezas n.1<) s,lll de 1lri-
g't'lll !-Hllju]ar. (Ill as I.alavra:-; de;.,;apan:ceram dos usus qlH1tidialH's.
Pan~ce~TlI',Js ser a última a explicação venla~eira,
lO REVISTA LUSITANA

Para talhar o sol (lI

Quando fi ~ol se ferrei (!~ na cabeça (ie alguem, pega~se num


copo de água fria e chajxt-se a bôca do copo num guardanapo
de 0lh08 dobrado. Pôe-se () aparelho ~obre a cabel;a, ficando ()
copo com {) fundo para (I ar.
Se ha :":01, a água começa a ferver.
E adei (fI}" fervendo a água a sradw!ar. reza-~e três n~le~ e
trê:-: por cada \'ez;

<lI Q'a'ndlJ S. Clt:mente andou pelo mundu
A talhar o sol,
Com que () talharia?
Com uma toalha d'olllO.s
E um copo d'auga fria.
Padrt' noss{), a:H~ maria.

hl Q'(1,lldo S. Clemente andou pelo mundo,


Sol e vento snào ~ -i ~ talharia
Com uma toalha d'olhos
E um '-'0»0 d'!J.UgiJ fria.
Pelo poder de Deus c da Virg;em Maria.
E apostolo S. Selil»estre I:'t
Tudo que eu fizer tudo preste,
::-.Josso Senhor .Iu...'w. Cristo, (6) seja a1tui q \'erdadeiro mestre,

~n hm reza-se um padre no~so e uma ave marli-L.

1'1 Cfr. Ue'l'. JAtN, \'. IX. P""/>!,. 117 .. Tratl. 1"-1J1, Ik Pul""_ pl>r L~h1" II" V81l11" Jl:ll.-I"' 14.
l'ortv. IH.R2.
,.r~,.\. minlH-i inforlUf1!11orll Ilh~sf'·In" 'iU€ a cnbeça.:t lIoil\ ás ve~(';>, IJI)I' (I lwl R. ter
cIJbt'(JrJ,r). JlllKO que ('obnulo ~>lta por qUI'hrado. efr. enórar um ()Ol'tko-tirll.r os favHI'!
arra,ncando ai< trancaH
Sa Farr'u itnl< Fh~ioo", d., CHI ViHellt.f; .lillgllOstka m", .. t"", Afinque:

,TieUfl el ""01 eu la. <',a;hf'<i\:\l.


IleJ venl.lw que IH\8Ú"

I~~ 1-:' vult(ar Huvir-,H": E miei: . entiio~, li que ha~; ,. ulleí ô!JJfoú<. depoi,; •..
(~t Aü \"ento 1'I,0ih. atrihllf' (j PO\'ü \'Ii. rio>; malefido:!!. ('.omn pod{' "I"r-!'!(' ,ln pru·
"",rllio: Vpnto .~0I1() tb'!~ vinho e mio rJ.r1 ptlf) erro Tl"'ad. pOj!. de 1'01'1. pf4l. 4K
1;'1 E' vulgar ü1tvir SelibefitTfi por Sih·~tl"e.
I'~~ ,humM jHillú .I" Cri;lto so,~ .!r"~'I" }I~eTlÚmf'no :,wn\elhllllti" \.!1lI c\.tnentadf) mn
III)ln do "I·h.fal NL ,1.-. gpH. dn Sih'll nill~ pR;\'. 14, K' Illlr"'''I'.lJlf'. tlm 4"H"" .Ii' jli~~i·
millt. ..·ã".
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 21

Para talhar o ar (',

Depois de fazer o sinal da cruz, pega í) talhador numa~


('onta~ t'
pas:-<a-a:". por cima (b cahe,,'a .do crrcjado tn":.~ \'t'ZC~, di-
zendo:
F. Deus te deu
E Deus te t'riou.
Deus te dn.enCllnh(' (::! 1
Se alguem te t'1JnmJum,
Est[l.S arrjado,
Ou é'nfeitiçado.
Ou apertado.
Ou em mal olhado?
Eu te df'sinl't>itiro,
Eu te df:'sinli/{o,
Eu te d~·saperto.
Talho o ar de noite e de dia,
Ar de cima e ar dt~ haixo.
Ar do norte e ar dn sul.
~\r da c.huva, ar de "ol.
.-.\r dt' ,,~.(1, ar dE" \'ento,
Ar .w:uro, ar de sfrêlas .
.~r ImrPÍro I'!) ar d'illrrilw/(J I J !
Tudo talht}. degrado
P'r'á.~' onda.s do mar c.oalhadn
Ond(> nào ouça ~alinha, nem ~alo
Se é mal eh:' inveja ('1,
Se é ciettl (fi).
Ou corrimento.
En k talho f' degr~do

11,1 Cfr. 1'-nui. jllJjI • .fi" l'"rt, pllg.2'!L Cma mulhf'r ,!ili, J""ho h,t,.r 1',>['11 ;la pU1'flt
"om um m,enino !lO ~'()J(j IW ln(tjlT dp,.; 'rrindade'''' E' I'r,wi!<l, II!H~·r·,,(' IlItrO! .j,'ntl·" til'
"lI"~ nu enlregar í'l ~1rian.:,'1t li um homoem, pllrJl imJHldil' " .. fH1H[lW ... 1" ar r11illl.
t~1 O ,VOV[) lJict{)}J. regi"I,1l I>.'IlNflt;wtadr) "-'J"'" 1'>Am eng"\Iit;n ---o \' 1110 lJieilm II.'
Jf(WOI"I< {II.' NIi~'Ao, l'nlh',1l ~lIH' 1(\n 1,.-, á mAu, ap:al'('('(' --~fl1,'anlw, I\H~harll~,1).
l~) Ar bo.,.eiro devI' ~ .. r " 'ltI~ VI'Ul do~ ladQ.. dfl. OVIU. rllrl"i,"o!it ",lO :fIqu.:I",,,
ll'w H'mlem ~ardinh.a. .. ü" (har. () IHJ\'O pronundll, -- do RUi"
II) (} EltU'irü11'ifl doe ViU'rhu \'onlf'1H " termo 1'1/('I"/1(j il!1'I'\'<!uln, j(lIJI:'\I. Iwreje
qUt' RJI''>fa ~(, y,~ nf\ .... (~g'1l111],1 "dÍl,"II" do S"r-o fJi('ifm-. ~" .. Il r"rllla ;'1('1'(1-/1 ~. ('mn fi
not,a d", (mI..
Co~t,u.uUl- l.rommd.a:r~l'w, ilH:ribh pllr inl':rivfll. e nAu III\" nll,ug'flll ,'1'e1' !!lI!>; im'rUud"
,;:~~ju
um caS(l t!t' <-·t-imnlngia popular por M' ter ()bbterado n VOH",lHll .. in·~t#". TRnto>
uUli~ t1lU'l o fIoIlulmo !!Ii> refere ta.mbem !:to a.r d,' .'xnomungado.
f'l rm pobrf" da mính[l H'rr~ pl1<.tia Il!i!,.jm: Aqu.I tJtltti I/lU })VbJ'I"Hillhl> 'fUI" pad"....p
dJl' mal de i1wr;in .
('l) Ue\"f' ,.-(". ,,('i;Ít.ka.
RI'VIST.~ I.OSITANA

Para as ondas do mar coalhadn


Onde não ouça galinha, nem g-aln.
Eu talho todos os males que estlvert."m t~111 ti.
Talho ar de excomungado)
Onde nào OU\'3 galinha nem galo 11).

Para talhar a erisipela

Poct~, talhar~se a erísípe1a rum um ramo d(' oliveira. COm


s(,~mprt'-\'I.'·rd(-" (>!'j. ('Illll terra (' úgua fria. t: com silva.

Q'ando Deus andou peln mundn


Pedro Paulo~::, encontrou,
E () Senhor le prt\I(Untor.r:
- Pedro Paulo, que vai por lã·~
Senhor, morn, muinfu gt'nk
De zipéla(l) e zipeliic)j:'I.
--- Pedro Paulo toma lá
Com tn)s raminll{lS ek oli\"eira
Qu'a zij)t'la secara.
Pelo poder de Deus e d<l \'irgem Mari;t
E apóstolo S. Tiago

~', Cr!,jfl P!ltal"em l'.oudensa".ia" IHjlli tr~!I fórmulas' HIIIH para O~ an';" o\ltra
).HU'-I< !UI JOf'nça~ " fi- tr,rN'irll l'R.nl O~ f'X\lOmlmgiuln'l.
Sfl.nlllllHa"i "'ltpli(·I.t~·õ(h 1'l!,I!"r"~HI tif":Rr·'1f· da infornwilorü. 'pH' teUi nUtl" ti"" (joj.
,lo (uffIJzf'l.
fNH.:1 !lno~, !I.'·;:;1'('.l1
F:' da fIlf'Rll"la o dito pie"n!" :

'ralha.r () ln·
Com pa1ha!ol ItlhR"i
J<: fr.emento {lrll
QUIlUl tivér dia.bo
Hota pelo (, ...

P) O llfOmpri'.v<il1"dl" empregndo t' o sabugueiro.


l~l \'. ~()hn' fi alit-~ra~'Ho IA~~JP.>I fI#! PhilQlogW Pnrtugtuum Ilf'!O Dr. ,1. i,('itf> d,·
\·:H",mHw!'\Js. pa~. :ln.
('f Como .. f' \.,~, o IHIH' al~ .... ntlut ('()M'ectamente a. pllla.YTR.
{"t U:.· .. {, llli (Jaz. rim. HnS'JI. d!) Porto. IV aDO, pag. 2;.); ,-Ainda hoj", " PO\'O th,
:\1jnho proll1uH',ia ~ i"ril!lip6111 .- dando f>!lSê llomê fi; variadll>i rl(\rmat.ose~. Km gêntl a
mole!'ltia. .;, fat!tmill por mna. mMlh,"l'. ma~ ha (\a.~o~ que resistem ú. ~ingular UWRpfltlriea
Trata·"'f' ('"tã,. dllm N'i.Hij);uii,f) mach.o. Ip.H' "'Ú des&.pari?'c~ "endn t-!l;lhado ror 11m hll~

SlI.hf'HWS 'l~l(> à infonnllí,':àü do redaNor da Gal'. foi ('01l1ida em Sant() TirJj;(j,


f~ O ri'stn eomo n(J (·n ..ahno I lo).
TRADlÇÕE;; POPl1t.'RfS [)E SANTO TIRSO 2'.l

Sempre~\-'eTtl~ venerado:
Na campa df" nosso Senhor fnste acbado.
~em foste prantatto.
~em samíadú,
Sara-me esta z4/H'}a,
'E."'lte ruboradú.
Pelo poder de Deus (~j, .

('I Com a )wra (' cltrua fria:

A zipda foi p"r'â monte


..\ chorar t' ii hrhiar 1:11.
Quem l'al'udiria?
Foi a hera
E a auga fria.
Pelo PÜd(!T de- Deus.

Eu t.J.lho a rosa \'em1clha.


QUI: l:ome. prá (~l e dúi.
Eu a talharia com sal do mar e au/{tl da fnote,
Azeite de ali,,!a {Ô, e erva do monte
E tudo quanto eu vir ele fronte ("L
Pelo poder de Deus e da Vir~em Marli\..
Que me ensinou que eu nada sahia.
Pelo poder de Deus e de S. Silvestr(: I; I,
~osso Senhor é (J vcrdadeím mestre.

('I Cfr. Tr'lJ-d. JrolJ, tl~ Port. pllg. 4~1 (\'I:'r~àn dt< Ffllllll,IillitOI f'" 112.
{~ O reJilt,1) como n<l anl(!(,A~t1enl.fl.
1~) err. Pre(ffJ:utoll rw folH'ahJlH :\ (1\). O!lvtnm" a nllliut~ p.e.<i:'!O&!'I: gbf'al, gWflrdo.
tI~rad(Ji-ro í=grav'itl~r.),
etu.
("} Naturalmentê- {'{)rrnl,~ã(; <1 ... J)ru~. jJf(J\,{;Clltl~ p-eolo ~om da ~H:LlavJ:'a d6i.
Não eQnhof'\'o outro ('a~u df' emprego popular dü l'erho pruir
Sn A,jf(l do Rm'f'lt do P~frnaff;rü, rI!- (~i1 Vi('ente. di.z 11m 1<1lvrador:

'-Qll'R mil'n jli 1'111" JU'Iurm 0" ]:I"'"


Partt \JW pfk"'"ar dallUi.

f'l :Sulwa ouvimo" '"mprf'-I!l'il' oliNI por azeillma mi por oHveiro. na lingu,ItKf'llI
pnpllhu de Santo Til"~,~,
tU) Ent.t't' os nuttl'riaí" nãü ll.pa.rO'\ce li fli!nl. HavBrá lapso do infoMnador?
,7, O informadJJr era um alfaia'!'.. de Ar-eias. Ora 06 ati'aiat.e!l, embora muito 8a·
tiril\\ndo~ pelo po,'o, 1,'OIT)j(; ;!imh(J-l(,~ d,- (~lIhar,-Hlt., IJresumam em falar bem. Dai o ao·
prego de Silvestre por Selh'efJtr.e.
REVISTA LUSITANA

Para talhar um ruborado (')

Sempre-verde, mi (2) honrado


Na campa de J"malem foste assinado.
Talha-me êste fogo, êste nlhorad(l~
Esta dada, êste ar,
Esta zipela, êste zijJelà(;,
E livTa~rn(; de todos os males que aqui estão,
Pelo poder dt." Deus, de S. Pedro e S. Silvestre.
Nosso Senhor (. () verdadeiro mestn'.

Para talhar uma dada (")

a) Deitam·~e cmco bocado..; de \,ides Je latu (.1) numa


malga ('um água e terra, dizt'nt1()-se:

Um hom.e bô me deu pousada,


Mulher má me tez ri canw.
Em vides, Jôdo e lama,
Ahaixa-te 11m/a. (:'1.

Mete-se a mão na água da malga pa:*i~a-se por Ctl1l;.l dn


t-'

peito doente, enquanto se dizem aquela~ palavras novt' vezes da


primeira, 01to da ~egunda, ~ete da terceira (' assim su('es~iva­
mente.
No fim passam-se uma:-: C'(Jnta~' (ii) por cirna do p~ito t' diz-se:
Jesus! Jesus! Jeio;us!

j1) Ruhorado t' t}llah.j\il1r "1iel'illf'lhif1.io,


"l Mui? Não m;> lembrll dr- N"r o\\\"id{) ao l'"vn mui por rI'Hj.it~r. I'nctilHHIH' J:.Itn·R
qu<'\ mi f'~tejft IJOf de mim.. a nãü 1o<{'r qnt· joj. forma nii{) l;Ieja popular, ma!õi ~im populari-
zada.. De.... o dh:er tamhem 'lu .. iii. pal1'lvrll, W*limuin llW foi ",ne-ofltra.illl. por mill) mlH.. "
sentido d(' assinala.do, fora. d;}l!!te ensalmo.
(II) A dada. ~ um abcf'Ssu no~ pf!:U()~ da!' lIlulherel!!. mt Ilas t?tal< rlos animais. err.
Trad. pop. dtl Port. pago 17fl.
Para o l{QPO DiciG-Il. a ;lada f' apêIUi"io um Ilb{"l'!O~o no uhere da.s ~"IH'MI.
t"') Latada, ramada.
ti} Cft. Trad. pap, ti,.. Pr.wf. pago 20;1.
('» Tel'çú ou l'O!iihio.
TR.\l)I<;ÔES POPllLARI'S DE SANTO TIRSO

b} Tambem ha quem talht, a:-; dadas com um pt'nte, f>1ll~


pregando uma fórmula que h~nnína:

,.,ti-h' desta mama (I)

Para os unheiros I') nos olhos

a) S. João, S. José e Santa Luzia,


Talhai-me êstf' linheiro t! e:;;tit /!olidll,
E j) milagroso S. ViCl'nk
Que nos dt"- vista correnk
E no" tine tlê:-.;k mal pant sempre.

)asus, nome (tl' }.(UiU,';.


Que f' nome de toda a virtudt:.
L:nheiro v("nk, :-<eqlte {'111 pan'dt',
Tarnhem ,,",,-,UI. a qUC'!n o l,ilhar,
S~', a Virgl'm !\i'O$S<l Senhnra (~ que o podcni tirar.
1'1'10 poder de Di;US e da Virgem Mari"

Para talhar abolida

Ba:-;talll tn~:-; J.[1'ciriu/w . ., dr trigo (' um COptl d'ou,4((/ ú há-r".


Depoi:-; do sinal da eruz, pr(lnl1nc!am-:-;t~ a~ palavra" ~t'-
~uintt'~ :

jCISUS, nOJ]H~
de jtlloilt!>.,
Qu'é nome de tod", a YirtlJ{Jt~,
S. Joào e Santél LU1.la,
:\1e sa-n' e.sta ho/ida,

I'r Cfr. Rf'I", l,ulf, \, 1X, I'flj.{, 111,.


I~~ Nem ,;tt', ao IlbN'",M; 011 rUL!', (ia~ Ulllla~ ehama (I lJUVIJ l.mJjfil"iM. Cfr. t:l-blll""
P€reira. Ling, JW}I. /ü! V. Hfml, PllJ':', 1i~. OUuâro. que não ~lonh.w(lm,,'" po.lia tramf1'Qf-
mar·'iot? (1m unluJiro. SlI"'rll Ulll ~,a«,(, Li., (llüutllOgla popular?
I") A minha informadorll. lli?, ql1.e <) Uith-mro apareee IlotlNl,jJ V{'Zl.'ló. MOIftl"ou-me
um :ro'llariu dI! .'onta", preraJ!, gran,jes, 'IIH" erlUl1 <t.alll tais da IHI.Il<l 1iI1"1!.".
2á REVISTA UlSITANA

Para talhar um treçogo 1'1

DeitaJn-~p num copo com au}:{o nove ,!;{t'rirr;s de trigo. talhan-


do-se ('om llrn ctt' cada \"{·Z.

S. José, Santa Ana, S. Joaquim e Santa Luzia,


Talho unJuriros (' rasgo bolidn,\'.
Em louvor de S, Silvestre,
Tudo u que eu faço tudo preste.
Que ~nsso Senbor ~{'.ia (I yerdadeiru mestn·,

Para talhar o pé aberto 1'1

a) Deita-se á~ua a ft'rn"r num pUlleli1fIUJ. culocando-se ê:'>te


dt' fundo para o ar. Sf' f{)T II mal de pi alJlTto, H panêlo assorl-w
a aU,{(a p'ra n'ba.
P{le-se depoi!-' IJ pé ('TTI cima, (" ~H"g-andl) () en ."almador nUII1
no\'t~líI t' numa agulha, v;:-w C(ht'IHlo (' preg-llntando:

Responde I) paciente:

- C'anlt' cobrada, til) stro.w) 1'1


-., E' issú mesmo que eu l"IlSO.
Pelo poder de Deus

~l) Treo;.'ol. erro


"''('(u1. I/Olr. d~, Pm"f. pa". '19 (. 411. 1'l'nlw id"8 ,k "tlvir nu lIIinhll
int'àndu AI/ue {fe>nd '1IlPH\ 1l",{)lh~ Ô fOf/(1 Ui! ,',a"'1{ <ln frf'('fJ110:'
(~f Fka .. pp nfwt'11), qUR1Hlo "'1" ,h., um ", .. , .. t"'_'l:1"ào, '1H(' ,!l-ixlI ()1\: t-l<)", d(-~Jrtt.>11ti­
.los. t) }jiON) J)ióm.L l'''I'I"j(It'1"H r. fJ*frti'p'''f!(;O n'II1<1 um h,·jj,.cào fort(' ~ "!<1otidn fJf'lo nw·
nol!lc in ..llfteil?nt-f'. No Ilwsmo ,lidouitri.-, n"tll ,le.Jll-iltPHUr "01"0 f. "rmf •. quando SI' pn;I.,
\"el' TlO lJiciotl. de .l/oru,,,, '!1i~' ..;<? t,tll,h' ,I;- ll1fl '·H,·~hllll} .-IA"~i,·,,,.
(tl) Cfr. R.e1!, 1,,/1/<. ,", X, pRg. tis.
(t) Varümtf> _Fio d.·,>l1wotido, If-rl ",r,I"'I-I'II) ,..'trmm .) .. " .... ,,;,'1' l'a,hn-NI formada J-lf'IR
rima. '1"sh"(\z Ilsti.t'~!l.oe I'lO f'n"laJmn -flI~tQrf(). :"Q Di,{";oll . •10> Mnrfii!il .,nvoutrfl.It(' 1>
ditadll: S(I Im-rhu lif) Iwmt>m f'-$l-r"..w, Il{lNmde I} Imrbf"ú"(j /HH'(L Aqui l-!'Itrú;o,o ;,. I-linó·
nimo d .. tolo. tUl1f(i 'IUfo (-'1I1 89_0tO Tiri'w "f) .Hw. X{l1i ImrlHl~ do 'ola ItJITNlde (j bar-
beiro tl(}VO.
TRADIÇÕES POPULARES Df SANTO TIRSO

h) Ptl-e-.. . e um púcaro de ~lgua (l(1 lume. Qua.ndo a -água


(,$.iit cru c(lchân, deita-...;~> num alguidar, flcandn. o púcaro f'mbor-
fado fll de fundo p'ra riha. Colocê\-..:.t' uma te ....oura t'111 cima do
fundo e {) nlt'mhro duentt' ..;nhre a tt'~oura. O talhador pega
então numa maç-aroca f' numa t-tJ;!ulha t'nfiada (" vR'i cosendo pela
maçaroca:

Eu (Iue coso?
-- Mào abert<t. "ho torto.
Isso mesmo I:' que co~o t" rtCo!o;(I
Pelo poder de Deus (' da Virgem Maria,
Apostolo S. Tiag-o.
l<iilagroso s. St'/~.,u,'styr
Tudo qu'eu fa(CI,

!O

Para talhar as bichas (")

aI Bichas,
Se comeis e não andais,
Gra(as a Deus não deis.
Séc as. mirradas sejais.
Pelo pode-r de Deus,

IH TalllO bichas h.wúws 1: 11


De toda a nação,
Grandes e pequenas.
Em l-ouvor de S. Silvestre

Começa-se por dizer " en:-õalmo nO\T vrze-s, scguindo-~e


depois a ordem do I1.H 4 (a),

Ilf Foi II primeirn. \'(-,j'. 'lUf' ouvi Plllllrf',g~r 1.~!'!;tll jJslavrli p~lo V(I\'(j,
(~. o povo exagera mlliti!il~hlll) 0>< mall'fh·.in"l das IliduM, Muit.IVi erilulça;'1IHH1"(!ll1
por falt,l'I o1f' trltT,lU11o!tntn NJl'IYl'rrientl'. f'uquantn O" paJ!iI " ,'llIinho!il valn rellf'tinlin: Soo
bichas . ..
Prendl.'!-!'\.oI" II, HN'nç'R ppr ~,Prt(} ii" ",'II;plk8~''''''"' <Ia'" riOf'nf}!V<, Ilada!>; I}elni'! antigo_~
úharlatãM.
im, 1<~sta formula uilo foi oudda por IlIÍI1l f' pOI' i,,"'-<l nilú P-()li!U) garantir qu .. fOM",",
lórinfl8 Q termo empregado pela informadora. M:Ili'l IIT"io que ~itn. V-ejo at~ n(~~~ll p.a-
iltta tll1Ul t-'6M,tl relação com lm'-ls,
REVISTA LUSITANA

II

Para talhar as impigens (')

ImpiJa', (1,1
Rab~fa, (:~I
Sai-te daqui,
Assim como e\l hojt:,
Não comi nem hehi.

12

Para talhar as inguas I')

Vira-:·;(' a g('ntt' para uma estréIa pequenina. Chega-foIt' o


(kdo Ú ~ali\'a (' anda-~'H:' com t-l(' Ct volta da íng-ua:

""'frela,
.-\ minha ingua,
Diz que seques tu
E (Jlum,pie da,
Eu digo que aluu1f"it'.'ii tu
E sequ(~ ela.

(Padre Nossu, :,\,ye Maria).

1.1

Para talhar o bicho ou cóbro 1")


Eu te talho,
Bicho, hichão,
C0hrn, cohràn /lIl.

1'1 Cfr. Tnuf. rmp. d€ Por/. pag. :!"W.


i~1 Pr()nUlld~I-,,"" ~ ..ral~lwntê impiflt'. l'fifJ/'. "lIll-rl'!If}1' (~f'h·J.lg"lll), 110m,.., Ht·~·. No
('nsalmo I'Ipll.rl"t'f' iHiJJi}a por inflnêndn. ;jp, rabij(J
(ltl S·ürú-~, pll.la...-rn rtlbiga. {IUl' a~,al'f'(l~' TI" \<111110 !)\'pular-- 011 ,"0\1 R formiga YIl-
fii.ou. moditkado 1.1m virtud .. dR rima ~ Nilo mI' ('usta a lH:Tf'ditIlT t,lIImbem {!ue dI'
nlbiar t'n1"mIlH'~~' ,', pnvn J'flhi.jfJ. \'i"'tn 'lU" :1'< impigt'fl", {·.o;j.lIUnlun pl'O\'(H'.Rl' um f·.t'll'hl
IJ>ru:rid(l.
(') Oh. 1"rfu.l. pop. III! Porl. pag: 29.
I"f erro Tntd. pop. d!! Pwt. pag, I2'J (' l4-t.
{61 O ",ôbro t' UlUa <f!l,"Jpét'.lf! d~ .,.:ri~itM"la. E1U 8. Ma.rtinho do Boqado ouvi 6m-
pre-gal' O~ termos f!'obt{j(J fi cibrflo C-olnO tllll,.l'uiilWI< <lB roo,," fi v;b01"II.
TRADiÇÕES POPULARf.5 DE SANTO TIRSO 19

Aranha aranhão.
Sapo, sap-ào,
Centopeia~ c-entopeiào lI!,
La.rgato. largafa, lar~..ati'w
E bicho de toda a nação.
E te talho e tomo ~ t,dh"'L
Em louvor de S. Silvestn>

Para ta.lhar o bichoco 1'1

Deitam-:;;.e e!l1eo raminho:-: de funcho em :lgua COI11 ~al ~'


cinza. Talha-st' com um raminho de cada \'(;'Z.

Pela ponlt; d'E...,tv passei


E ja...\'U Crt~"t() encontrei
E le j>rr)guntf'i I;":
{) qUt~ se faz /) hil..:.ho, hil'hll'l'o ?
Vai p'-ra. I.:.a..,a e tu/h' I)
Com funcho, t' cinza. t: sal,
E água da Fonff' H'drr_~1 Cll,
Que tlUH! cre,,~-as, nenl /l('lWra,,, 1:'1
E juntes os pés CO'(l cabe(;a.

11) Ha uma I'f.'pugnãlwlll e"IH;,.-ial 1'",1<1" r·"'ltHIJf'ia~,. atirHll1n~l(,"~(· 'I\H' nh,,.o ;'"Btll~
mam meter-",e flelol'1 uuyid{)~.
j~ O bieho.'.(. na'R ('TilO-nça,.; sAu 11.1'< fv1."'< ,\., er.r Ynrd~. SO>l 111"''''€''' (Ir· l:II,lol' pl'iu-
.'ripalm",nt,f) ha. uma, grande aW'ttJmdat!ó> pr", (l<'~J.(la IHda~ ",Ilt.l"ril'e,;. E n JHI"n Iimita-s!'
a talha.r.
{~> Ouve-se prilgwrhu·. prõguuiu,· " "n!flitntar.
I.) Não "IJllhe.çu IIí"nhllllla rl)lal" '~"Il! '~"I'~' !I(lm(~. n "II1'JH.JIIl .. ~'.>i" .k fur,. 11011"
.'{;rt',O, ta.lvez do Port<l.',
\.~ Ihllna \)rianNt tmfe1t<UUl \liz·se: /lum cre~,1t', !re1'Il iJe'UH,}i:1,
REVISTA LUSITANA
~~ ---------~--------

II

Medicina e cautelas supersticiosas

l -" J\~ mulherel"l ,!..,rrá\-·ida~ não podem cheirar ttores. Se ai·


guma o fizer. (I filho aparecerá com rosetas pelo corpo
IAreia'l í l ).

S't' uma mulher trouxer uma chavt' á cinta rlurante a


2 -
gntvide7.. sairá a criança com o heiço rachado (Areias) f),

3. ---- A:"'i crian~~a~ nascern com ti cordão pelo pe~c()çn, :-;t"


a~ mães ti\"t~rem passad.() em estado de gravidez por haixo ctt'
corda ou de arame (Santi) Tirso).

-4 Alcalll;ando, núo podem a:-; mulheres coser a nmpa no


corpo.
St· ~ i llzerem, a criança náll na . . . cerá enquanto a roupa nài)
fór dif'sco~ida (Santu Tirsol.

s-
E' illdispen~avel dar aos n·cem-na. . .cidos .tgua do pri~
rneiro hanho (Areia. . . ) (1 1.

6 __ Para hd\'t:,:r felicidade, é preciso deitar dinheiro na água


o

du primeiro banho (Areia.-;) ("-1-"

7 -" Enquantu 0'-; menmus nJo sào baptizados, '" preciso ter
ao pe dêle~ uma luz a arder durantf' a noite ~Areiasl.

x-- E' lTt'IH.,:a muito espalhada a de que a." lI1ulhere~ parem


ás vezes bichos qUE' saltam pelo quarto (Palmeira. Areias e San-
to Tirso, (').

i'. C1'T, I..;a.milo. fJ E~I!1Jt!hd<-, ;~ql. (,lri:. Jla~. tHH, '" Tnul. IlOl'. I"" Porto i'a~, :.'tll_
12) Gil', Rflt" Lu....-. V. x, p~. :m:-I, ;, l'ra.d. JWJI. dr. 1m/(. 21)1.

í'j efr. T"flll, }"'/', ,-ii .. paI{. ::!I~l, '" &,' IAM, \. L )Hlg. :1:_'1-\.
,:'f H61!onlo-me ,I .. dU'üUH"Rl" R 1IH''''Ul:l ,'ren\',1 I'W \''-'1'io-'" m:HlI.O." J.. ,p~!lltrf''''. Cr.. jn
'-)II!' a li J:101! "mito:>" dt, Ff'mlullle", Trant\Qt>o \' . •18 dIU/$? irmú~ inmrjflsllf<
TRADIÇOES rOrt:LARES DE SANTO TIRSO

l) - - Se a rnulher que amamenta oer I) re~t(l da caneca por


onde hebeu a outra, (} leik passa para e~ta (1,_

10 - Estando uma mulher a criar. t' deitando o"; restos da


sua comida a uma gata na:.; rne~mas ('ondiçúes. esta rouha~lht'" ~J
leite (Areias).

I f - ()s lavradores Cl)stumam deitar Agua nn lt"itt", ~ào n


fazem por fraude, dizem t,je:-;, Illas sinli para (-'vital' que outro aniw
mal lamha H leitt', puro, tirando as~im o !t:>ite da~ \'aca~ {Areias.
S. Martinho de 13ougado;.

12 Fica sem leite a m~le qUt" l)dn~r cum ii crian(.:a a 1ll'-I~


mar U\rt"ias e Santo Tirso,.

J.' Se (I leite seca, II n'lnédlo t:, ir ao Espirito Santo, ou


beher leitt, de màt~ \' filha (Santo Tirso/.

LI- - l::)ebel1rlo~st· com ii l"riaH~';~ ao peit(), ~ preciso aplicar


depois leite de màf' e tilha para qtlt' ii criança nào \'enha a ~ll­
frer de gota (Areias).

J 6 _,,_o ;.\~ cobra...: costumam ir dt, nnltt' aos peitos das Illulhe~
res. metendo (J rahu na hüca das criam,'a~ para a .. .: calar (PalT11t'ira).

I7 - HeijmHll.1~"':t, í tua:-- Crialll.,'<ls que ainda n<1l) fahulI, ticar,'ü I


mudas IAreias, (I,.

I~ -~. Se a criança nào fala. \'di íI padrinho pt'dir Cl fHl um folf'.


Recolhida:-; as \"'''':l'IlOlas, ('()nWI11~sl~ f'sta:-... t' ti crian<.-'a ('(mH~ça
log() a falar.
Com urna pessoa da familia dll infornkl.dur suct:'d{"lI ê ... tt, ca~o:
Q,ualldo estavam COlllt"lHll) a:-- esmnlas em cima dUI1Ul fonte,
U!Jl(l da.":' pe:-:.sua:-: pn~:;:;t'>nh-':-- tirou um piolho t' ptJ~l( I na palma

da mão. {) mudo gritou log:11: /lIlIllI.' í Palmeira).

1'1 Cfr. l'r/UJ, pOj). dI. I'l\,g'. lU'.!.


VI &Sl'IlJ fl-e~J.r:!1 tka Iltt fnlgue>lh, ,k H"ljuiã ... Coll"f'lIlo til' foI':Il11 H"lkií.\l, A d~j "'''
rf!'fefem" P ..\nf.oni.' Can·adIH' ti!. (~""'l~1. 11ft CO/"lIrJl'IIfü, 1'(JI'fllfJlIf!~!J. :;.~ I"t1 .. 1011110 I. pM,\(.
1""l/i, I' I~ . .-!{' \·a~..,'. 11ft;. Tnui. !Il)j! dr. I'll::. ~~:;.
~:]I CfT. Trad. pOJ'o dt., l'dlg-, :!H~.
32 REVISTA LUSlT ANA

() memno é levado dentrü dum fole e a pesSt.f3 que pede


esmolas diz:
.- Uma 'snwlinht.t para a crill'liça do fole
Qu.e quere falar t' fUlO pOll.e.

IL) -" Para quI:-' a:"i cnan-;a"" não fiquem oug(ula,',·~ deita-~e
holo untado em azeite por debaixo da porta ~Palmeira) 11,.

Quandu a eríaIH,,:a {', n~ndida. racha-se um c<ln"alho


20
cerqulnhíl.
Dum la(l~ ~ ('oloca-~t.> ii Ill.adrinha e d(~ outro o padrinho, que
passam (; atilhado pela aht:~rtur,1 um certo número de n'zes, an
dar a meia l10itr íAreias) (1).

ZI Par;-, ruim nào entre no~ menino:-õ all toque


qUl' {) III'
da~ Trindade~. preciso qut' a~ rnúes se recolham a ('asa com
t"·

éles ou ():-; passt'm para as 11là~~", tIl' lllll hlunem (Areias~.

22 ,.\ roupa do" meninos nitl ~ dn'{" estender-...;t·, na ~~rva


\'t'rde. Estendt'ndo-:-:t" \'('m (I hich()('(I tAn:ia:--J (I).

13 ~211and() a~ criaIH;,l~ l,rincam á Iloite (,'0111 IUllW, uri-


nam d~poi:, na cama (Art'la~, \ *).

24 (b menint),'" nÜ(J crt':~ct'm, ~t:' t1lf(->m medid():-, IS. Mar-


tinho de Bougadol.

2'=; Engui~:ando- ... ('


uma criança, t.:' ... ta não ere."'Ct' maL.... (}:-;
rapazel'\ costumam pa:o;,sar un~ por cimcl do ... outro:-; (cllj!.uirar,
dizem f>les), empregando e ... ta fórrnula:

/~u ti' t"IIKll'ÍÇ("


Pela porta dn caI'rií.:o
Para qUI' niio C'Yf".'icas tllais qu~~ issu 1 ArL"üt~ I 1:'1.

('I HlI.\'(\I"Ú ,,~",jUIll\ n-·l!ldiu ,<ntro' ",,,Ia, "prt'múllju (' it,ttwla '1111.' "-UI d~'",'ril~ 1100;
p(lJjtQI4. "ersão 11\" Ca,~ti1hn. " L, pago 11l1~
,'1 Of1'. RoélJ, l,lU/_ ,'. I, pago UI! I-' :Wli.
/h Cfr. Um'. Lw<. \'. 1)1:, pago l\t, .' I.. dt, \'H"". Ji'!fJ("ili~1< tlu J.w.itr;'tiu, Y. I.
pl-l4f. 11Ii.
(.) err. 1'l"(ul, 11<'1" "iI .. pago ;::,.
"~, Cfr. T;'nd. J)OP, dt., pag, :K',.,l t' :!."l!.
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO

26 ,,- Comer castanhas crua,,;: faz criar !)ichos na cabeça dn~


menino,'"' ~ATeia~).

27 <1-uem qui:-oer curar-st' de d(Ín'~ oe ouvido:-:, ha d~" levar


I,
a Santo Isidoro í uma telha roubada (Areias) ~:~!"t.

28 ~ Para tirar uma (~ol)ra da garganta de alguellL púe-s(>


leite ao pe da bôca. Como as cohra~ gostam muito ri€' leite. ~à.n
atraída:" logo pelo cheiro (Palmeira', (1).

29 ~- Aplicando-se uma tenaz em brasa, p puxando-se rapi-


damente, a cobra abandona () t~st{Jmago onde q' tpl1ha introdu-
zido (Areia'l (').

]0 -- Urina dI" mf'nino faz hem a lima cl(lt'I'H,:;'1 q uahlller


(cancro:) (Palmeiral. A urina emprega-~e vulgannente )lara cu-
rar ferida, tAreia,).

]1 ----- Sohr.... as ff-'rid.t..: P hom pélr teias de aranha (Art'ias).

.12 A to:-o.se du,,", po[cn:-; cura~st:' com pelt' dt~ cobra emhru-
lhada em folhas dt' couvt:' (Palmeira),

~B ..- Pa~sando~:-;e por um t~:-;p(llinhadoiro de burro. t": pn··


CISO cuspir três veze:..; para nào vín'1ll n~ sdc /'oiro,. ; (Palmt"ira) ('I,

54 E' remêdin ",egl1ro para anular ii peçonha da \"i1JOrfl:


ahrir um gato (-' colocar a:--: carnt':--: aincb palpitante;.; da dtirntl
:'\obre a mordedura ~Palmeira) (,i).

A doninha ferra na pe:--:-.;o({ qlH-' Bit-" chamar f("la, A


,)$ ..-
ferradela só se ("ura com n unto ria própria dúninha (i\reias).

(1)
:r;õa fr'-'g'lH'!'IiR dr- :\.'>[I]{.1"!, i'()W'E·l!1" .. jr FallHllintn.
OU'-! a unm IJ1nlhcT .h' "ih. Uia] 'lIJ<", fUl. 'wfl~iiio ,lo 1,,~rI". ali'\:iR ",uhir rl
(-'I
IlHuido ,. uma "111<" ~ ,U'ff\tWllr 1m]>! lf'lh>l I',flm n.; .1 .. n1b. efr. RI':l.'. {,lI«., \. X. pa",. :!1,
j ' Tt"au. lHJP_ dto pag, :!(ll '" T.1!1.

tal Cfr. Trltd_ JlliP_ dt. ]lltg~ 14:1 .' 17~, CH"tilhu. Uokl;qfi("(Uf. trI. 11a-g. I~I i\ :!Ol, v
l"OfitU/$ FfJpj/laJ·f'~ Po,.tU.gtf,êJ;'~H, el .• lígido",
I.or 1<'. Adolfr, GOl"lho. f\d, .II.> HI'7~J, 11:A.g. 46.
({) efr. Rfll" IAM•. ". LX. pag. IH"
,~I 0'" "de "()in;/>{ ';"0 \lma ,;sp":""i+' .J". Ilh(';.-~s .. u - lU!] bijfU:(j. Ufr. '/)'au_ Jm!'
.-iI. jHli--\. 1*l.
I<!J efr. U"I~" lAIS. \, IX, l,a;:" II:" Lt.,.." "lll I-krllardp~ z;Ja:f<rI:iCÜJH fjJ!;piriflwt'."
<,,1. de )l1H;l.'\"1 .-1', I, pll~. --l~I· J)itf>1Ir '1'11" ~, '-Ilhe':_!' Ih' vilol.Tfl. pir.:R..\9 purfl tllI .'<ll>1
lUfOi<!lllIl mordedura."
34 REVISTA LUSITANA

36 As dores de cóliC'Â curam-se com chás de colmo (1 k


ou com fricções de casca de pepino (Areia~).

37 -_.- Chá precioso que cura (L intiuenza (' outras d(}ença~ :


trAs folhas de laranjeira, três cabec;a~ de mareela. e três bocados
de r.:idreira Ct ). E' preciso que (} número ... eja sempre prcnito ("I).
A cidreira é para n nerV{l;-';o, a laranjeira para as cons.tipaçôe!'i t'
para atalhar a febre: p a marO;ül para a ... Iu::morródias (Areias) .

.,8 -.. O doente de bretoeja d~n' ~mbru)har-..;e numa baet.1


\'ermelha (Areias). Para :;;e curar depressa, despe-se n atacado
de brctoeja numa corte dt" cl'"vados e espolinha~se no ninho. No
fim embrulha-se num sai~)k \'f'rmelhn. Esst' remedio t' apro~
vOOo, êSSf:' sei ru -- afirmou-me:' categoricamente uma mu-
Ihersinha que ti tinha aphcadn a lima filha a quem n mal
atacara á volta da feiTa de Santo Tirso {S. Martinho dt' Bou-
gado) (4) .

.'9 Depois de se extrair um prego, que ~f' tenha introdu~


u_

zido em qualquer parte do eorpc), é preciso metê~lo numa cebola


para ü mal sair da carne (Areias) (6),

40 -~-, E' hom meter médo á pe~soa que tem _-.;oluços, ou ba-
ter-lhe nas costas (Areias) ("l.

4 I -. Deve fazer~se uma cruz com ct./-•..,'/)(' em Cima do pê


dormente (Areias) <"I.

42 ,,-- Quando uma pessoa delta sanglif' pelo nariz, faz-st'


uma cruz. e pôewse nas costas do doente (Areias) (:II}.

4.1 O reumatismo ('ura-~e com água de l'aliPe ('.... (S. Mar~


linho de Bougado).

('} }. virtudH exist,€' prinl.",ipahnentoe m> eolmü da RVf'il'i.


(~) A cidr-eira é- muito empregada para o !lato.
{Ii C01'TUçâ<1 de pa:rnilcl.
(') Cft'_ Trnd. pop. dt. IHt,g. 173 e m, e.Ra" Lux., \. IX. pag. IUi.
l~) Cfr. lleUgMmI da LWlitâniu. \>. I. pag. 115 e 117.
(ii} Cfr. Trad, pfJp. !.lit., pag. 239.
(li ct'r. Rev. ~ .. \'. lX, pago 1l:H.
{": Cfr. ltfw. Lua. '~'. IX. pag. 116.
("1 OOT1'UÇlilo fia palavra m.tcal1'-ptlJ.
TRADIÇOES POPCLARES DE SANTO TIRSO 35

-+4 A hexiga de porro é usada para ('prta~ dm"'nçaf' dos:


Jloi:-; (Areia:-;).

~5 - Be1wr CI111l uma luz na mà(1 t'a7 JlIl7,ll


(Areias) I').

4() A Iingu,(I da rapos.::t l'llvt'nt-'n.L ~211and(l ;HllIt'le anilnal


fica ferido. lTIorrr fataln1f'ntt>, porque vai la1111111:-'r a ft'rida. Pl'ln
contrário a língua do~ càps faz sarar (Areias) (:!).

47 O pão quente faz danar os gatos t Areias I CI~>

-t''-; Falando-s(:> em sapo. t> preCI:-iO cu:"plr trios vezes para


qll~'> nán crefOlçam sapinhos na húca (Areias) (-4).

4q Ahrindo~;-;.,~ a hóca a dois individllo~ ,!l) mesmo tempo,


ou serào compadres, ou morrerão no nwsmo dia. Muitas vezes
tenho visto fazer lima cruz com o dedo polegar. ao ahrir-s(' ,'I
hôca IAreia" (»_

SO (Jut'm tin"r ..;ono pesado t' qui,..:wr H\Tar-,.,w dê"st' de-


kito deve dar um abraço num gf'rico {Santo Tirso"

.::. J A,.; Inalva,.; :"iào ll1uit1.j t'lllprt>gada:-- para lavagt·n:-; do~


dentes, quvido,.... (.>te. tAreia:o;).

';2 - A vári{)~ hahilidos{ls ollvimo:-: indicar (J \"inho hran('o,


11chá dt' raizes ,de morango e de /w""Ja,\' cif· milho, t~m caso's ck
inchaçào e dificuldades de urinar (An~ja.'.;).

'=;5 - Os agriúes têm para algun:-. poder quase ~ollrenatllral.


A um velho jft falecido. filho dum cirurgião, ouvimll,"'; contar €'"te
caso: Um homem de t~uímaràe~ tinha o figado desfeito, Con-
~lIlt()U um medico. f' êste, por descargo dt' consciência.. receitoll
0:-'; agrit}es ao doente, O remt~di() reIlO\'OU (') figadn. f" o I1lt~dico,

levado pelo espanto. apunhalou () di('ntt' para li examinar hemo

I>' Cfr. R~j'_ 1._. \'. x. pag:o ,104, of' "l'nul, ,mp_ "11. }!&j.;:". -H.
( ~I eh. Rm:. fiw;, ,'. lX, pag"o 11;'). ,. '/"Tnd. Ifo", dI. pa.g, Hl~.
(-'I err. '/'1'(ul. JXIJI, dto pag, 17a.
!'J ('fi". 'f'l"fld, t"'p, dto j>llg. [42,
1") Cfr.
REVJSTA LUSITANA

() assassino foi perdoado. atendendo~se ri:.: bôa~ intenções


com que praticou o cnme.
~- Os agriôes indicam-~I;:" ordinariamente a pessoas coni'iti-
pada, (Areias).

:'4 A ~alva e usada para lavar us dt'ntes (Art:"ias~.

:"3 --- Empregam-se ás veze.-; os defumadoiros de cidreira t:'


de outras plantas. Os indivíduos que querem ser heneficiados
passam por cima (ATeias) .

.:;6 ~Untam-se com azeite a:-; patas dos gato~ que vem dt'
novo para uma casa. para que- êstt>:-; nào fujam (Palmeira) (1).

:;i Os g--atos tf~1ll asma f' pegam-na à gente {Areias I Cl~.

sH. Quando os rapazes hOIt'1ll no Ilinho das aves, t~las


vâo hll~car troYlsco t' dão-no ao:->. filhos para os envenenar
(Areias).

;=;;9 --- Um banho no dia de .\', Herfolam"" \'all;:" por set!:'


(Palmeira) CIJ. Antes dn hanho é costume fazer (l sinal da cruz
(Areias) (4).

60 --~ Quando ha t'spinIH'la caida, vai-se- ao endireita


I Areia,) (').

6J Para tirar u eSl'inhal<'11 da:-; cobras. qlle~ intr()duzindo-~t'


numa parte do corpo, ,,,,ae-m pela parte contrária, to óptimo reme-
. dio a língua de raposo l1uu'ho. A língua seca-se e pôe-se depois
de môlho quando se quere aplicar ao sítio onde se introduziu n
espinhaço.

j\j ctr. Trad. po-p_ dr. p~. t,L


I~I eh. Trrul. poJ), (lh. pago 171.
1:1) NQ dia U('I. S. BartolOlllf',U anda.m {lÍ'! di,3-hos todo'" a ,o."lt8 IArei\!'N-).
I~, Si.' o p-O'\'O lIi{) NHpl'egaS"€ o ,;inal da 1:ruz. sempl"(~ que pOllsa ha'\'cr prohll.
hi.lid&d()~ d .. verigü. ~lIn'iamo~ ~! ... reconhef'ler ne"ta prá.th"-M um 1oT~titri(ll !lo ":RrlVt"'r
'la,grad() dOI! riO1\! - V. HeUgii'm8 ItrJ lA~'1i1r1tlifJ,. \'01. II, I'Ri{. :!:};.
t", orr. Ret', !.H.S. \'.
I);, pago Hi).
TRAllIÇUES POPULARES OE': SANTO TIRSO 3i

III

Amuletos.-Bons e maus agouros

Prendem-:.a' nllgarmt'l1k tiga:"; ao pescoç\) das crian\'as .


.\ mãe duma velhinha dt· S. l'lartinho de Bougado trazia uma ti-
ga. que numa oca~ià(J e~talou em dois pedaços, por ter rt'..:ehido
mau olhadf I (!),

2 A_",
t1ga:-. (':-;t.l1 ~ ii -.;er :-.ul)stítuída:-; por medalha:-; l'
cruze;..;, :\";:11 I indo as criane;a:--. ao colo dos pais, de noite, d{'vem
lt'\'i:ir UIll terço (Art:'ia~~ (~).

:, Por causa do mau olhado, prt>gam-sf' muitas vezes fer-


raduras nas purta ... da:-; casas (Art-'ias, S. Martinho de Houga-
·do) ri). E' hüm encuntrar ferraduras t' ievá~las para t'asa ,Santu
Tirso),

-t ~O:-. flOri!", .... da nOTrira (~) dt·, S. ){artinho ("" S. Tiago


,k Bnugado. encontrei muito:-; t~SpelllOs. eneimado:-; por lima
cruz. Abaixo de:-:.ta aparecem ulll \lU dois ((wu(xJes. Ao fundo
\'ê-eTTl~~e dua:'. ou quatrll meias lua,"I'. ~() ('(~ntro de alguns nota-
-~e tamhem 1II11 disco. Na aldnJ"i1. onde ha por vezes ara-
hesc{)~ e outro corapJo, If~~:-,t' a data: Aqueles 4ut:" vi Íi.-un desde
1830 it 1K70. ()s l)()rt{Jt:"~ 111(}(h~rm;~ nà(J ()..,tentam aquele:-:. eSI)e-
lhu~ --- obra de qualquer ,:lrtl~ta j:' falecido (') .

Para que a:-:. bichas não ahafem o.., Tl1enino~. deitam ati
.=;
pt',";'CO\'1 ~
de~tt"~ UIn colar de allw:-, (~». :Xo..,; pt·s do porcn, depois
dt" pendurado, culoc.;utl-st' calJe(;'~t:-. de alhos para afastar as más
"ista~ (Areias) ('). 0:-. alho~ h\Tí.'lm das bruxas t' por is:--:.u usam

(') A ",1'f:'n.:u ,1;- 'IH" H ml'lU ,)II~.~"I(l ,." "'HI",PlItri-l !lO );I,lIIulél" n'm I,rat>ldll II' ....
Hpligiiíl!'X /ilt ],u,sit.anin. N",qo IIH' r~'('ú,>dv <lpora dr. pil~IW 'lul> I'Il' rp,f.'rf- <lU a~~llIliu.
(J) \", •• ,a,p, JJ. II." :21 1'1j'!~lI' trlthHHw.
t'f). erro Trtul. ,JOli. ('lI" pago, Ht:, iê He1ig-fij(')'r tio 1.1I8f.tán,üt. v. I. Vag, IW. !l." I.~,
lO) Ch,IUlII.IIH;;(' ~~!l:ilU 0-": l->ort,Õf>" di)" .eiraJ.oi\;.
(:') Cfr, &lif)i.f}& drJ [Awtrmio - \ . IlI, flag. ãWi- i' 004.
(11") Cfr. ReI'_ 1AH" \', IX. pago I Ui f> 'l'rati, p{lp. dt. paI!:. l!H,
l'l Cfr. Rf't.,_ LuIS, \", 1. pag. 11101.
alg-uma., pe."!'o<oa... /'o{,ço.·..: df-.h·· . . ao P("SCO{:I) {S. :\1artinho de Rotl-
g-ado),

6 Par;:ct n~ part.}.... co . . tuma ... er pedido um ro"ário mila-


'lu!:', lançado ao Pf's('j 1<:0 das parturiente",! facilita muito
gTO ... lI
o~ trabalho", (Areias) (',.

A an-uda livra do hruxt"do. (hl\'j cantar f'-:-;ta quadra:

r>t!st!-'-uu> U-UI ramo rlf' arrudn,"


FiZf',<;te dI:' mim diaho.
IJ('-j,Y{1 1,ir II IIWS díl~\- rosa ..",
CIIH' !l nll/w hu-tJ.- :!wr !u'#!.o
IAreiasl 1'1.

R A madeira dt' ',r""r,.. oll,k caíu raiu. tem ,·;rtude IAreiasl.

q E' costUllW deitar ao lume na vé",peTa do ~atal um co-


u/wto, que, ardentlo 11111 bocado todos o .... dia", ati' aol-Õ Reis, serve
t1t-'lHlis para afastar a~ trtJvoadas. Unde chegar () fumo do ca-
nhoto n;;)o acontece pt·rigo.
:\a me:-;ma noite as:-;am-:-:.e pinhas, cuja . . Gl:sca ... ficam tam-
bem ('11m aquf'la virtude (Art"ias) (~).

10 Quand. ~ ha tnJ"tKHla-.: acendem-se vela."': de cera que fo-


ram benzida ... no dia dois dt-' Fevereiro (Areias. S. ~artinhu dt'"
Bcrugado (' Palmeira) (J). Para se descobrir um afo~ado, leva-se
para (I p'é do rio uma vela benta. St'~ a vela ~e apaga, t' ~inal de
que u cadaver nào está; runs{'Tvando-,-,t" acesa. o cadaver encon~
tra- ....e Jlerto (Santo Tir:-;oJ.

11 O trt~VO dt'" quatro folha . . dá felicldadt' a quem o achar


(Cn~nça ~eral) (").

1:2 O primeiro que Vlr uma t'~plga roxa nas e~folhada~ to


afortunado (Areia~) (u,.

{') efl·_ Ret'. l~uf;. \'. lU. pag. 2.i'.


("!)efr, ,i"
Rf<UgüiflJ<! !sU.lii(.Mfi{l, ,'it. \'. I. p~. !'16.
!~l Cfr. Trmf. JmJl, eit., paj,f. 4-J, fi- Ileligille.,,< rio lAü.itanic. L I. l-'a.jl". 1'!t;.
I~I CIr. Rffl·. J.~""I .. L I, pago lS7, l' J':rad. pop. Bit.. pap'o ~l.
\~l Cft". Religiôe"", dfl Lmdtrmia. \". I. pago 14-\1. f' TI"afi. JiOj). -nit., Va.g. H4.
("'I efr, Religii'Jel'l tia uMUan-i-a. '". l. l'.a.g. 14lt e 1''/"Ild. pop. dt., pago 1000-Recor·
lÍ<Hnf' de "'&r Mt-8 ererU:;'li IIp:r;)n~it8d" pur Julio Dinis na", PftpUa;J dI) s"r. BdtiJT.
TRAnlÇÕES PCIVULARf:S l)[ SANTO TtRSn .N

15 - l)izt'm-me tlue alguma:-; I)es:-;(Ia:-. colocarn ao pe~coço


da:-:. crian\~as
saquinhos cnnl hncado:-- dt' pedra eh" ara, arranja-
do~ não :">ei ('OlHO, pois ~Ú os padres pOde,ll1 tocar aquela:-; pedras,
Conheço uma mu lht'l' que ainda ha pouco tempo anoou nnbru..xa-
da: Foram hu:">car a umH capela a pedra dI::" ara, t' It'vararn a
doentt' ú SnLil do Amparn lugar muito cfH1corrirlo pelos ende-
n10nlnhadt):-;.
Ia tambem a mulher dt' \'írtude, afastando a cousa n1lm para
uma grandt' distáncia Com úgua benta, e mandando-a para" nu
em toda .. a:-; pontt:":-; por nnd~). passavam (Arr'ias\ (I}.

'4 .·-X hústia t'lll1..;agrada serve tambem para qllalqu(~r ceri-


múnÍa cta~ bruxa:--. l'fna mulherzinha foi receber () Senhor, e
trouxe a hóstia embrulhada no dwilt. que apareceu cheio de
,.."on1/(II(, iS. :\1artlnho do ROl1gadn) P!l.

[.5 E' pn>ciso pôr lIfrw t1ta no rab-l ~ ua vaca que t{'11l a cria
ant(-'..; que aIguem a veJa ~An'ias) (,1'1.

16 As galinhas rira,. .· fr~ livram de fl::-itiçaria, iJuando nu:,,>


deitarem CI fl~jti<;u, a:-: pena . . da galinha caem: l~ (J mal ql_e deixa
de nos t'mpecer (An·ia:-;ll~»),

J7
Quando s(" perde algurna cousa, pega-se numa galinha
pelu lomho, leva-se â lareira. t' arrasta-Sí::' para um e outro lado,
ele modo qUE' :-;t"; forme uma cruz, <to me~mo tempü que ~e pro-
nunciam e~tas palavra:--:

.11inha galúr/w,
.'Weu Itw,
l)1u:mto f'14 pf'rtin',
(.,hu· t{)1'I'It' H (H"har,
(Palmeira I \1]1.

\'1 erro Religiõeii !lN l,uI1Umülf, L 1.", pago t\'" ;' 11;'1, € Trad. ,mI". de pHj(. 92 e \K~.
t~ T.alv""l! haja s.q ui rflmilli."H:(~nda Ih- al~ulll eXNnT)ü) J.I\:. Igreja S0br" () apart'·
dUHlUto .!() ~PllgUf' ('!l. "'"f.n. tradií;i'iO" :'\9. ,,('xt.fl·f\'irl< santa i" ar,,- 1ilUl.re,~fjr II. lIJeluia.
nã.o >l{' p-O.t.p ,'(n·.'\]' pão. O H\'Ô d.' UIH rl-lpll:r. llV'll ,·(ml!eddl) C'i.JZf!\t Tlaq1W\(· dik. (' v IJilu
"aill do forno ('0111 \111\11;' rrt.}a1f ,-",rnwlh.Hf< IS, ~artildHJ dc, RtmgHolül.
i~) l.'ir, Trr:ui. POJl- Ól., j.nll!. \"l, I";';). IT. I' 17!S.
\-) De- p."na,< eU('Ti'·>jPIHht..-I ••'r-g"1li'\I'''' p>lra dH1(_,
('1 Cfr. fu,jHl:l (I 11," I,
í~) {) llH"'''O ini'oflllal!Dr (·.\pli,·.an' .....- mal. AJWi'<l\f .1.,
n"pl'tJólllzirllw.~ é"H'rupulósu·
ment~ [) qUE' ouyimoi!.. " p""<i.Í\"f'1 qtH' R fúmmlll_ niln seja usada para tnclalOl s'" espe-c.ieli
de ll()USaS, Inf!>i ,;6 P_R1'~" 11>1 g:s.hnha~ "f' uih, penl"rem, (,'f:r, n"hlt,~ trahitolho cI elij.J. U

n." 54, e Trad. pop. dr.. pago I':;~l,


RF.VIST t\ LUSITANA

J;': ~,llland.o numa ca~a aparece urna galinha que canta de


galo, uma perua que :.:.e anna corno um ]wrú. nu qualquer outra
anomalia a ... r-;im, t:;' mau agouro, :vrOITt· dentro de pouco tempo
alguma pe!o\~oa nessa casa, Para que tal não ~lJceda, é prf"ci~o
matar o monstro Sf"m (It~mora (An-'ias! j l~.

19 Cantand(j um f.!a!o, ao l"f'coHwr tt ('apot:>ira, t- agouro, f:


preclsu matá-lo imediatamenh-', para n<lo morrer uma pt'~soa da
casa, Ainda, não ha muito se \'iu um homem fugir a toda a pressa
de ao pé da capoeira ol1dt." i~:'io sucf:,deu, lamentando não ter um
rl'\'úlver pant rnatar fJ galo, Citaram-me \'ári(J~ f'(t:-;O:-; de morte
apú~ tal agouro u\reias) (:!).

20 - -- ~a quinta de Transportda lima porc.rt pariu uma vez


UIl-; Ilá('oro:-; parecido,,", com t'àe-s, Os donos da porca. horroriza-
dl1s, mataram-no)"; imediatamente (Palmeiral (ti,

2r 0" g--•.do,..:. velhos pelem de sete em :-:etf' anu:-;. Do ovu


sal uma cobra. Como t"s:-:e Cd=-'U t'· natural para aqueles que nf~le
;lneditarn. talvez nüo ~·w.ia agouro ~ Areias) (-l;).

12 "- A:-. corujas (' CL" moclw:-. :-:<10 aves de mau agouro. O
~t'll canto (:. ouddn com terror por muita g'f'nte fAn:~iasl (,~"

23 Cacarejar pf'ga á porta duma casa i" anúnCio dt~ mork


(Palmeira I.

24 -- Embora d:-; andorinhas :-:ejam odiadas pelos abelheiros,


() povu em geral tem-lhes fi maior respt'itu, poupandu-Ihe:-i Os
ninhos, t~tc. \'oando ra::-;teÍra:-i, j.Jn~sagialll chu\·,.l. Tambem anun-
cia chuva u peto t" u con·\.) (Areias (-' S. Martinho do Bougado} fJ).

j') eh. ~obn' \lOl'''''~g'Hi~'õt;~ f('itR~ fto" ftnorllllli~ .J. A. l"'Ü'e," d., Lilll:1 -"otas d",
A.uafomill [\', pago :l--Tip. Ila Rn('ü~lopédia Pl.lrtUjllle"tl ":~"'Il;; .Yotflk -JJI(l HllIli .'1~JHJJ·Otfl
da "a(lZ dOM HOIrjl, do Pbru,. !I." 22 dI" 1911,.
I') Cfr. CI"sl,ilI1Ú·-Ftffliol> I, pft.A'. 4iL
el Sf)hr~' lJ)(}nstl'lI!õ1 atro\'f'!lJólatll.l.<l Il~ homem .' tifo ,mun ?ln.imaL \" lá' DOllbie f't
HOtlH"I~)'f' -].(>.>< Vel1/.,..-. pago 228. ed. li" P&MM-. HH:L 1'\11 HiNt. TI"llfI .•Varit. (Rt':taçiio da via-
jf'm f' .·W;~H/;!) '1Ui' fil~t:'nHII IIJf jj(U1JI Agfli~1 II- t:1or('o .• pelo padl"" Y1UlOeJ Hal't'odlfl!J
l'n.Jl{-st' ti" dois 1110Tl.~tros ~filh()s de n:m bngi.o (' dI" 1<.ml1 JlegNI" qlH' Frllnd>icu Rarrl'tu
'IIÜII trl<:t1'<r df' Qnilnll para of&l'«('j)<r a D. St"\n'lMi-llo),
(') ('fi. Trnd. pop. eit., p&Jt. 14ft
{sI Cfr. Trad, PQP, dt., l'Jag. ll%! e 162, e Religi,(;II-f< da ].l00ttH~ia, ... 1.", p-ag. 161,
lU} Gfr:._Rfliligiõt!'S da IA18it-anifl. Y. I, pago 34" Tmil. papo I'it., pago Itm e 156. - Os.
ROlnluw,," aürw-!.itavam (lU"" to gajo aTlunda\'a ehusa: V. Anw1''''''' d~ Ovfdil.!. Elegia XII.
TR/\!HÇÕI'.:s POPULARES Df: SANTO TIRSO

25 -- Qm--'m matar um gato desanda st"mpn' na \"ida (Santo


Tirso).

2Ó A hnrho!Ha branca rt'pre"enta 1)oa~ notícias (Santo


Tirso}.

27 Andando lima mosca Hln->,ia em \'olta dto nós, tf'rf"rno~


visitas (~anto Tir~o,.

2,H A aranha prf'ta é sinal dt' desgTaça: a aman:~la sinal dt:'


dinheiro ~ Areia:-; L

Estes exen1:plos e muito:-; outros quI:' tenho t'm meu poder, ('
que irei J-lublicando. le\'am-T1W ;:~ ('ondll~ào d~" que muitos do .. .;
meus (,fmterráneos passam um verdadein I martírio com () traba~
HlO de evitar ct"ntenas dto perigos, n:io podendt I con:-\iderar~se
muito acima do~ habitanh'..; da India a que se reff'"ft' João dr
Barros nêste passo:
"Pedrarl'arf's. por t'sta r a'l'l~w_uio fl'fl" todo ('sft <~:entio lu suh-
jt'.do fi muitos U/(O II 1'08, /' SI" atnl1'essa huma palha ou ijualqufT
nn(,,;;u quP ,,'{' Ih(' antolho., 10',\'0 tudo, dizendo 'llff: não hf-' boa hura
pera negociar. principalnu'llf/' flnamlo lIu' a rll('s nÔfJ CO/1·
tenta . . * l' ,I).
Temo:-;, porÉ'm, por certo qu(' q autor da~ Dt"!:ada...· é um
pouco inju="to para com O gentio, t' que muíta~ guerras poderiarn
ter ~ido E'vitadas, se o ...; Purtugue-se~ con hf'ces~em e respeitas~em
melhor as crença~ dos halJ-itantt',"; das terras de:-;cobprtal'i.

(') Dft-. L", 1.1\"1"'0 \', cap. \", Vago ·Bt;, ed. de Li~boa. IDCCLXX\'W.
REVISTA I.USIL\N,\

I \'

Bruxas, feitiçaria e Mouras encantadas

Contam I)S carrt·irll~ \"t~lho:-; qUt', !lI) caminho do Porto,


apareciam as hruxas. n~:-;tida~ de hrarlC1 J.
Era prt:''(-:i~o ter muita ("autt·la. poi:-- dt> t'ontrú.rio a:o' malditas
de~apullham 1 ~ carro, nca\'am o . . pohres honwn..; a dormir. t' os
hoi~ lá iam ... (Pahnciral (!),

2 Algun:--: rapaZt·;--; \'1l1hall1 di' lXilwirào r\ Víram no meiu


duma huu!,:a uma ...; mulht~n~..; ~'JIl \'olta duma fogueira. :-\0 aproxi M

marem-st", recelH'ram " ..;t'~uink conselho: \Qutnulu (! /U11U' S('


/âr a apaJ.?ur. lIi}.(ol/1: j)ola "'nha 110 lum,,', diaIM/;- ~a ausência
da..; mulhere:--., ()'-. rapaz~..; a~:-iilll iam dizt'nd1 >, 1..' U lume, quase a
ot'xtingujr~se. a('endia-~t.· de nO\'iI.
Att: que por tlm \,{,1taram elas {'11t'!1 l·\~1lljda..; l" tlzt:"ram BIll
'lOdário (S, :'vlartinhll de B(lIlgadol.

5 E' \'lIlgarisslma ;'1 CH"nc,:a lk' qUt' E>xi~tem ca~a~ onde anda
a f.pitíçaria.
Na quinta de ~ilva!dt" (I). antiganH:ntt' do:, fidalgo:-- das
Horta~, de Hral!a, t' hoje de nwu 1)ai. hUlI\"{' elll tempo:-; um caM
seiro que l1;h) dt>Si::'java ~air. Para aterrar 0:-0 rivai:-;. segundo pa-
rpCt\ COlneçou '-i estabelecer (I terror ern \"ulta riu casa: Caiam
ferraduras pela chaminé. etc.
Daí nasceu lima hi...:tória, q1.W foi publicada l'm folhetu,
pas;.;;ando depoi,...;, para I,) «(Jornal (h ,,'onto T'1',\,'(p.
Eis a lenda n'sunl'ída:
Um estudante dirigia·s(· para a \"íla de Santo Tirsu, num
dia de tf':mpt'stadt". A ('!leia dll . \ \'{' mli) lhe c{ Jt)selltiu a pas-
sagem.
\' o)tal1do para lrús, hatt' ú porta duma chuupana e ullla

I') Ct'r, 1'rad, JKtj;. dI .. pftft. 177,


MnilO"1 a('onAf'lh~,·1tll1 ('"mo J't'IHédi<.l J0iI1t1' ti fraldjj llt' ['J"IC
(~I F~Ii>)Oiu- ~i(, ,'_tHwplho df' F~lmabeã<J. e '1'1" '" !ol1"pllrD~l!l; <1", s. ~tllrlinhu dr,·
i30ugaJu pela pOlltt' pl7l1~il.
(\tJ A quinf.il. dO:' $íh'alJe deli UII freg-ui'l!iu dto' Ar ..ills..
TRADlÇÔf5 I'OPt'L\RES Dr S,\NTO TIRso 4,\

campnnt"za indicd-lhe para dormlda Sil"aldt", <1yis;-uli!n port'm (~


estudanh' do ... IH-'rij!íls qut' ~'j nTlalTi ~ fS h~\spt'(h,_'" da {'a~d enff'iti-
\'ada,
(l rapaz ",l" ln'"".: r:' pelo ('.bt~in I (' t~ntra nll
quarh). clPltandll-sc flt'l)lli ... dt, ~td1fe a lIu->"a dtla" pi~~
tolas.
Ador111t'("í' profundamt"nk c, ])llltc alta, e acordado por Ull1
ruictn forrnida\"c1. Cllllll) qtH" (1.-. CtllTt.'ntt'~ arrastando (I). Salta da
cama, e. Iwgand(l na ... pistolas, precipita-se para n corredor. l\'a
:-lua frente ha 11111 \'ultn hranco ('l1lll UIll lampiào t'n()rmt~ numa
da:.; mài)S.
Parte prillwiro tirlJ. c uma hala n'J1l nu'r aos p~s do ('~stu­
(l

dante, qw' (m\"í-' a,~ lllt'SmO tt-"mp~~ esta .. palavras dt, t'searniú:
PC!!'U lá a halo.'
Com (I st:gundl' tini -...:un'dt' a lIlesma sCt':na.
Então fi rapaz lan(:a-.;c au fanta~ma, qut', pe-rdendo a sert'-
nídadt', fogt" indo rf-'flll-!iar-,""" l1a ('(\sa do~ ('as~,·in~s, a cuja porta
é aJcant;ado pelo perseguidor.
U miseravel. vendo-st' perdido. conta t"nt:'lo corno tlruu as
halas ás pistolas t' 4) .;egn·do do pnlCt'';~o qUf' usava para arredar
c()Hlpetid()rps (1').

4 As bruxa:--: costU1l1<iVani soltar a pn'sa das Caldinhas (lt.


Cm proprií.."'tário, jú falecido, farto dt' perder a água, rI:'Snl\!f'll~se
uma noite a ir tapar a pre~'--l.
~() dia :-;eguinte, uma comadtT du prüprit'tárii ~ pede--lhf' um
favor (' aquele rt'('llsa. Entào a 11lttlher chama~lhe ingrato t' con-

«() Colhí !IR fre-1l11('~i>1 da Pll.lnwir:l >l tnuli~,ii,,,, ,1(' um nt~"il"n. qlll'. IlIJIlUhlllld ..
11m rllto. Iii .. d(·iwlI um gui"" ftO jV'''w''<''(I, I'~IJ'H "-'!l.RlIJttr t, ml-lr/(I.
(1) (; 111(-'11 irnliio Dr•• jnaquim A, Ph",,,, d,' I,illlll a .. ,,j,.lin '·ILI d~·~.I~mhr" .h" 19J;I, II"
Porto, a uma tltn ;'in.'nlll-log't"álir',~I. illtítulada-O Viii" '·Hj" "IH0do E>1lJ I}ar!.>! t'rlil ",e,JH'.•
IhlUltí' a.-. di< ]~'nda I) lJpmô,ti" d,' Sih'fl/rI,'.
rlJ) I',oronel, ('II! virtlHI,-. (!13m ,I'·'lól.rr:flllj" d1' lIl!tOIl!",,{·j. H·'-,· .II' II«"'p",d .. r.~f' nUlll11
lHlwrnll.
Vendo Ulll ,",a~I(·I" vizinlw. foi l,~, fH'rlu,jlar, lui" OhSU1HH' H" IIdH".,tflljl']K>< do tahl'r·
néíro .. ohrl:' os fantaSIJiaS '1\W l<pti-rh~iaJ'~ IlU ~' .. !lH' Nlifldil.
fi.!n.qUliIlIto \) ..,.,pinto foru· d .. rmiH, nlllfl ru.i'urif[H \'I-'~lid<1 "(iII, umlt túni,'1'< brtlJJ(~1l
rf't,jrO\j a>i hala"- da pi;!IOIR ,1t'i1l:1<"IH ii i·~l,,',·,·i!"a,
PlJU,'-Q de;poi~. " I"orou"'l !lN)rd"u ,'<>111 " fH,ido pro\,o('lIdi> plJr lllt>fHleiro!o fal!Hh
tjlle arra~t.-aYRm gro!l~a." ,',ort"j'nf{·.. II,· r.. rrf\ l"u,1 aremüri~ar. Ao V<?-f " f9UUl;SIUIl, o '~()l',)
uei flt>~fecboll it pilltolK \'itrbl~ "'"Zf''', .... l]. 1"'''lIIIK<!r" .' ~nl(ll1lpH"";' ao '-1',.H intpll~,",i1,i·
Jio1a.df' do fantaslnll .
.-\ fitR ,"ra da, n,'!a Ambros..i .. dE- 1'llrill.
Cfr. L'~I!Bgf'. ol..e J)iftfl!P "oit~I/_-r, S',uH'lIp f.ditiml \u~;·eJ.:!o.::v T. premier.
Chllp. 'cu. pag. ln.
(8) Gald-inha8 e (, nome '1\H" .. P()\'~' ,1"'11 !'Ielllprf-' ;t" magnifi0a\< águas jjulfur-víl .....
hoje cOllheddas {~f)mo Caldas tio ."iutldt, A llll!4c€>nte fica na fregue!!-ia ti .. Areia".
-14 REVISTA W,ITANA

ta-lht, quI"' Sf" pa:-;~ara rll:' noite: {,) compa.dre adormt'ct~ra junto
(I

da fontt', .':\S In'uxa ..;, que li tinham adonnecido, quiseram


arrast{I~Jn para ti afogar 1 ao (jlW oh~tflu a intt>rn-"nçàn da co-
madre,
Tinham pôsto nu dedo do embruxado ,uma linha vermelha,
e {'S~f' t('..;tt'nHmho CIlI1\""11C'(-'\1-0 de qU(' TPalnwnte rorrt>ra granoe
pt->-ngo (II.

:; \.Jut'rendo-se Illal a aJguem. COS{'1I1-st' 0:-; olho_", " a hôca


dum ~ap(l com Tt>trÚ..; \'pnnelho. A, criatura inüniga e {) ,..;aro
\'ào-~(' (:~anirnllulo ao mesmo tempo. () condf'nado ou qualquer
part'ntc, Vf'ndff (,I sap().. df'H' dt'st'fISi··ll' ilnediatallwntc::', a \'t>1" :-{"

{'I~> escapa (Arf'las, ('1).

fi () irmão duma tt'(,f,tkira fazia na 111 Ofí I a umil mulher


casada. A tecedeira Tt'"volta-se contra I) ca~ll. t' um hdo dia (>n-
contra a teia t,maranhada d{' tal forma qUt-" ii. pübrt> já conta,-a
n~r lHb mil rei:-ó pt"rdido:-:.. porque a cnnfu!'ião re:-ói:...:tia a 10(1as a ...
tentativas.
()s fi()s sú se deslindaram dPj)( tis que o pecador Iwdiu a in-
!eYvençúo da mulher inquietada. Feit., i:-;srl. a Ít'ia voltou ao anti,go
estado ,:"':f"Ill que ningtwll1 IIH' tiU'!'i"'l" po:-óto a..; 1I1;:j"s ,:--;. \1arttnhu
de Hougadn~.

7 - Uma n-'Ihinha, m,k da llH' .... nw tt'cedeira. nüo aCTPdit;:l


í'lH bruxa."" porqlH' O!'i padn'" n~)ll con:-,t~nteIll. ~1a .. ; ... contoU-I1H'
o !'ieguintf' ÜiCto: tOma noite, de ....;lIa ca:-ótl, ouviu grande ruido
(le ft--.~.;ta.
Saiu para n quintal. Suhia H caminhl1 tOm direC!,'úll alI ll1ontt"
de Paradf'la um grande grupo. Enquanto um \'ulto tocava, eh
outros {'antanllll e dançavam, caminhando sempre.
Con\'ence-u-se lli-' qlH' enl Ullla d;i11\~a de I n"uxa:-;, ]lorqUt', nu
dia seguintE'. conversando ('um vúrias IH'SSO':'I";, llin~u('11l lhe púde
dizer quem seriam 0:-; da fe:-::ta.
Alf'tl1 dis:-io, as dan..;a:-; nunca :-ól' H'"alizarum na aldeia nem
naquele dia, qtlt" era de semana, nem àquela hora IS. :\fartinhu
de Ron~ado) ('I),

(~l CfT. Trad. pOli. f'it" pago 17(1,


11-') efr. T-r-ad, pop. dI" plll{l. 1~1. .. F<lHtUIiJ, I. r. 1!a!4:. 1""1.
fi) t:fT. !lObl'fk t'spil"ito!! que pUHHlIl1 R IWitf": JU!!-igii'i".,. rIo LI4.'tiirllt1.l. t. II, pago :!()";
e 211.
TRADIÇÕES POPt:LARES DE SAI'TO TIRSO

X :\1IO'1a ca:,a morriu O~ filh(!~ todos, e dizia-:o'e que era


}.ruxaria.
A~ bruxas aconselharam (I pai a mett'I" numa panf"hI C0111
ág-ua e cinza as roupa:--: do prinwiro tllhn qUi:' lhe l11orrt'sst",
pondo tudo a fer\"er an IUTllt'.
() pai assim ff'z, t' \,t'io h'g1! Utna mulher ti g-ritar: lJi-rrollw,
lJl'rrolha, fJl'r"olha li !>tlJll'la.
Ficllu t-'ntàl~ a :-.atH'>r-st' '1111"'111 \'ra a culpada d~~ feiti{:n. a qll;~1
c,orna pengo se a panda nào fnss(' dt·'stapada ,~. "1artinhll do
Hougadol (1).

~) Ft'rranlt'nteiro cu4uma \'<-1 I H-'J1Zt'r


doentt's ('ulll /,iulio.... dentru dum ('<ln, ('('lll Illl)!/I t' cinza. Se f(l~St'
I IS

feitiçaria. o /)ill/w saia negro: H<I\'ia lJt1'tiidadl'. Se saisse branco,


nào havi.\ nada (:--;. ::\1artinho dt, HOllJ,.;~'Il1o).

Foram l'ollsultar UIII dia


10 mesmo Ft'rrallwntt'iro por
I)

cau~a dum homem, qlH' tinha no c(lrpo 11m,. alma do outro


mundo. A aíma. tinha--.;t' intfl.duzidn !l~ I corpo frat'(l do pa-
decen1t' lHllll;-1 n~rta IW<lSI;)O ali t\1t"lIl dia, quando {I ... mo
tocaY<l.
A alma penada pertelH,.'ia <I UIll padn:. qlH"...lO comungar na
mIssa, haixou I'~ I ,Iho~ para uma mullwr rS, Martinho de Hotl-
~ad{)l.

11 Contaram-nw muit(l:-, C'-I"-iJ:'- dt" lig-.u.;út':-. ("on~e~lIida ...


por meio J(. lH:'lwragen~, ondt" parec(' lontrar II mén4ruo mu- na
lher que dt"scja pn>nder a 19,-lW II I. ,\ IT('Il~'a t'· qLL;l:'t" ~t'ral t' firnw,
e apontam-:-,,~ IllJnH~:-. (k pe..;,,,o"I;-< \"i\'a-.;, qUt' heberam pela g-arrafa
fatal.
.\-luitu..;, rapaze;-< rt-'('llS<..lI11-St' a l'nIlWl" (lU a ht'lwr cousa ofen'-
cida pelas namorada:-..
Impressionou-nlt' um G-tSI) em que tigurava como principal
personagem um indivídwl (jLlt' eu t'nnht~ci: Era artista f' mtL"icll
de nomeada. Ape!";ar da ~ua PO'-ii({1JJ Illode ...;ta, quandu chegasse
a uma romaria, t'sfolhada /lU dan..;a, /)//1/l1a de /muda ('JS grandt,~
lavradoft's t' jidal!!:o,,' fI.

I') A .. hrllxa" ,'«, .. IUHUtm ,. I,,'<líl' uw>! ,'.rIl"í,.Jl do" dOf'tth' ....
Cl'r. Trm.f. PO}I. (·it. pR;:. 1-1-1,
REVISTA LUSITANA

Chegou a raptar uma lavradeira, que poderia trazer~lhe um hom


dote:, t' que o dei.xuu dep()i~ cip con\'encida da leviandade do rapaz.
Podia e~colher bt':tn. e afinal veio a ca~aT com uma pohre
rapariga. que tinha jurado n~ncer a~ mais ricas, e esperou sem-
prt' confiadamente.
Ante~ do CaSllmt'ntn, a \"itlma da heberagem, :-;egundo a
crença popular. jurllll quP J,a1'ia d(' SO' o maior frt;tUllfr." que Drus.
á mundo hotou.
Foi .Jogador. hf'hado, abandonou a mulht"f e uma filha etc.
,-';ú não foi ladrão dizia () de~graçado no fim da vida.
Tinha {li' . .'('1' repek cnnstanklTIf"nlt" Il lH)\'O, ft'\'elando l i
fundo acentuadamente fatali~ta (An"jéls) (II.

I2 Para perder lIlHa Iw:-;~oa ha:->.ta rugar-lhe uma praga


t'nln" a hóstÜt t-'" Il cálice.
l~ma ITIulhf':f acusa tllltl'a Ik h'I" f()1I1)adll uma~ tlofes. A acu-
sada, na uca~iào da missa, entp'" a fH) ...:.tia t:' o cálice, roga a praga:
f:'Hlrrl'cuia .w:jas tu assim n.l/llu (Ii roul,ú (/."' f1orf',ç .
E a vítima cai logo dt" cama COIll uma grande ,'mpri'!!(l{,'úo
I Areias) 1'1.

T., ~2uandil caem grande" gntas dt' ehu\·a. h~\'t"ndo sol aI)
mesmo tempo. dizem qu("' estão as hnlx3,,,", a pentear·";f· (Areias) ri).

14 ::'\a ponte de Tra\'a~s{ls, ,..;ôlm-' ~f riu Pele ri), aparecia


C() tl,SIl t"lIitu.

('I Tl~h ez IHl"~"K ti""",! "ff'Il,:a " !'uq,n"gn dOi ,-.mh""ld .. ilit>1,<!.' Sá', 'J'f'b(j~ ("(num
rfU/I' ~,",h) N!JfUj, Jwm (l.Nj••ilUlH ('(11'1"., ({1ft' /ltio jf'liaJ<.

Cfl'. Ufllirui('ul<. ,-,'r.. ã" ,I., Ca~tmll'. p<-l;!_ Ij!l:

l'ul \ fru~ <'n.~"", I" I) ,j"'f1vlllimL


;:lll'in!a, " l,J'''PI"I:<
lIiIJJ!OIlWIH.",j ~l' I'slih! HIU(O da nllvtl "qUhltl.
'Iuh .. rHilli ltl'tdnp<ltl :I hil'POIIJHh"" mi"'-tur!t

~)U\~ .,it,ar "" fJ"l" ",,';'H;~ ri." l"lH'lIra pro,-""a.lu.; I'ül" 1I11\n,~lI"1H'.
Snbrp Nlmi,lfl" O~I t,,,bhlg,. dada_ 1"11''' ~.' '111"«'1' ' ' 111
"11 ml11 fi ''tlltl'Nll-
I. C(m~t. do hiHIJ. d" EI:orll. C"n"'1. I. til. ,!", dl. 1'01' T. FlI"filt~l na H'iJlit. dll l'lwk;n p()jJ.,
1~67. pag, lI~i,

1'1 eh. lÚ'clifli';""" ,III 1.1/.'I(i.t.witl 11 !ti,.:


"A Im""fifl ("ta 111111' f'i·'I'fllll<.lllill r.'ligio';j; 'llll' .'(Jlhi~ljH "!II, pu I' !U,"i .. dI" formUla"
uYu'mlnu. t'€rbu i<oif!tm,iu, f'f!rlm I'fwtllf. púr ,I di.,;p""i\,lh, di' ,!ivin,bulh, Nublé'T"r,\nf"a."i IIU
inf"rhR;(','" , " '· ... rl'j' .. indiYidlll'" ,. <11l{,11~ ~f' ~111f'ril'l mal.,
iS) Ufr. Tl'ud. POli. "iI, 1'1l1.\. I~, ...~. '· ....'TIHIl!' dizt'r-"(~ !"~IlIH>IU: ....'.ti 1l1'!rm'l'J' (W (fl:Jf'.l·
11/,,1 m! 1~1I1UI #11 j·O'II,rilll>l.
t') .0\ VOTa.' ,ii> Trn~a"",,~ ti ... , 11" frf'j;!;IH,,,ll'l. ,I" I.HW!ilj,. '·"H<'t·l!W ,li· Vil,1 :-';""1\
Ilt' Fa.maJkào.
TRAOIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 47

Um homem i1tirl ftH.;e {t rOU,Wl ruim, t"' o harulbn foi tal que a
água suhiu ~~ altura d()~ /oink,. .' 11) (Palmeira).

15 - Tendo lima má!':' ...;,eh' rilha~ a ""eguir. a prm1t'lra km dI'"'


.. t'f madrinha da ~étima, SI,' nào \->~ta \',ll ,'OITO' o fúdu C-\Tt' ia ...;,
Santo Tirso) rt ),
16·-- Eis a hi:-:túría dt' :--:.. Cipriano. cl1ntada PIIT uma mulher-
sinha dt' S. ~'Iartinh() de Rougadll:
S. Cipriano \'t'TH"lt:u a ,tlr1l<l alI l)ialJIl para t'ste lhe t"n~inar
tudo, Mas um dia 1~ ...;antll quis l'asar ('(1m Ulll[l beata: () Diabo
('onf{>~s{)u a heatiL pn )meteu·Hw qut' iri," para (j ct'u. /fUI,>;" liào
arrm~iou l1!.lda. Foi dizer a Cipriano qUl' ainda 11;1\'la quem ti\'(·"~~t'
mais Pl)(jt"r. Entt1.11 ~. Cij)rianl' rail/ iJif ....' ('(w/a,,- t" nunca mais
andou com ii Diaho.

Ji - (b pe:--:qui:o'adon.-':--' dt, te:-.< rUíO:o' t':-;condidns ]eyam ,) livro


de ~, t~iprianq, procuram l1ma:--. n,-'Z(':o' lIlll lugar onde haja uma
feta madw, outro:-.. sitI1" olldí" H:l1 1r,1 ap,tfecido qualqufr r{)U~,\(l
dt' nUntrU8. fazt'm um l'Írcultl (' mekm·:o'(·· L'I dcntrll a rezar.
Comei.:'-j uma scen,i h'·trica com tro\'(,I:'."; t' relâmpago~, e. St'

alguem mostrar !ni"dn. ou :-:-air dll ('irruI1', tiea tudo perdido (Art:"ías.
S. Martinhl1 de BOllg-adl" (i).

l?< ?\a fregue:-:.ia de .\n·ia" hú um lug-ar chamado TOTH'.


() numt' veio dum peqtwno castelo. qUt' t'xistia outrora snhrt> LlfY1
I Hlteiro. (, cuja ]H.'dra fl:i (~llll)íegad<lll<1 ('(m4ruç,<1n de uma ponte.
As moura:-:- saían\ as porta..; par<t ir ao rio Avt, lavar cordôl:'s
f' meadas dI" l/uni ,lfl Illt'Slll() km!HI qut' {'<lntavam.

Uma minil punhd ('1/1 c'lllnunicilt,';lO fi ('astdo t~ () 1"1u. Havia


uma gradt' na entrada. t' lú dt'tHn ~ ~.(Tal1dt' ... jardins t:' ('avaln~ quI':
dnham beber ael riu" ~2Ut'1J1 -..:," ;tln-\T:o''';{" a entrar na mina (t\"i:-:.-
ta~'a ao longe uma darid~Hh·, n~\( I p~ ,(kndo \'oltar para tras,
Um homem que andava a nac1;:'lL cumeteu a imprudúncia di:"
~e meter nH mina, e Iii e~tf'\T um dia in!t·Jrll.

H,. ~ern..;ú nas ruina:--. du:--. l,<.t:...tt-'Io:--. hú moura;.; tAncantadas:


aparecem tambt'Tn em rIluita:-. mina ..:. antigas.

(') Vá-s", li nOllW d,· 1!!iniN< ,<tJ"; 1'.a,,!~IIJl,.'ír,,~ I.au\',,~.

(~) eh"" TnuJ. 'P0p. uil. p:~g, :'~H, (. Rf'ligU'J«"! da LWiliüuú" I, I'~/.:'. 1~1"
e, Cfr. R-pNgüiel< fifi IAI~'fH,f.;l -III, p~" :,,(1 11.~ '1.
REVISTA LUS1T ANA

();.; achado)::. arqueológicos sào considerados :"empre como


dt .Jlounx.:, e debaixo dfôles coloca sempre a imaginação
f'01t..WU·,'

popular tesouros escnndido:--; (Areias) (1,.

Várias superstições

Conht-"~'(1 dou...: casos dI::' almas pt"nada:->., lIut' \'oltaram a


pste mundo. Um,a pertencia a um fcinip dr j{ado. quI':' morreu
che-ill de dívidas .
..:\. alma. it noite. aparecia nas margem.; do rio Ave em forma
de CfJ~,'t(J í"2), g-ritando: Prr!ft1 fJ 'lu" df'"i'{',~'.' paJ.[a o que df'.1'cs.'
Foi uma t:'poca di.' terror para "a gente da aldeia, qllf" nàll :"\t-'
atrt'via a pôr os p~s fora da porta depois duma certa hora
(Areia,,) (I).

1 ~Jualldu morre urna pessoa duma familia, \"ai outra logo a


.;;pgmr. N'unc.a pode ficar no outro mundo número prc-mlo (Areias.
S. Martinho dt' Rougaoo).

j Quandu vai a :-iair um ("'nkrro. correm a levantar os ani~


maiS t> a dar-lhes de comer.
A.indí:t n.ào hú mUlto tempo tornuu-se notada uma mulherzi-
nha., que, ao levarem-lhe li cada\'er do marido, corria para a corte
dos porc(l~ com um lJaloe dt-' lavagf'm.
::-;ào se fazendn as~im, 1l1qrrt'~st' mais deprf'ssa. expliearalll~111(-,
iS. )1artinho t' S. Tiago de Bougadol ("',.

!') ·Cl'il.r~h, H\JrI",'~ AI-"" '1\11' >lPl,n',,~ad,h ('." .\1(!lln,~ l' ..:ahir ,\0" PürHlga~, "tlt(,-I'·
l\H,rAj, ,.t\11';' tIWi'H)lll'O!',: hüjl' l'ondAo ,,("1"" l1Iànf'~ Iwl\O;; j.aúgo,", ,la'luf'Ja,.:; h!.lhss., f'1H 1ig-ur~
olltl'a~ vollzf\s II" dUU1'lldaM ""lira'!', '1IH' "om 81iô!Hlhios f'. gaHtlTl_Ivi. €ngóllt\o 0"
<I .., nílhos.,
intri>pidos a r'el'ta'" 1·'>l).\'-'~"Ii'Yld('lH'iafii. prPt'o d .. 1.l1('·>(>Ul"O 'lIH' prnuwtTr'm d">ll'ührir·lh-f'.
Obra~ dI' Filitlfv E/.yftiO. f·,1. ,h· :tIIIU'tTXXX\'1. L II. pag', H lI.":t1.
f) r"lhdll t' Ufll Ill,>nsili" 1\'iH, ,.1 •• I'I".J":I" IHIf" ,) Iranspnrtl'" de un..... '·"l't'Ili't''', í'H' ..
,~" j>PSM, fl1lf" II ('1'"-"'(/ ,:.. Hl\li" p/''tII('l1a, lC!), H1U :U'('O '111,' vai de huI" a lall", I!lnnidn d{'
1Ul'1 gltne!-t" parI! ,.;t'l(l1l"1l..r no'" :>1',\111('" da.; l'~j H!ll(las. Ne, -- t:m ~, :\llLrt.inho olp llOllg'HI()
'!II.-~f' '" !l,mw tlí' 1'/!-8to :j.ptill1 '\w' >'liI "\rdll~ i't," dl~.ll1l; Cl!"",d~i. P l'_humIUI1 -ft'lu;>lf' fliO;l.
(;jC) crI'. R-(!:1iflir~,~.~ dll JAIJfitrHllíl---L pH{.,'". J(t.!, (> Tnld. Im}l, dt, !>Rg'. :){I!,
~ührl' 1)" 1·~1,,·{'.t.l'O" '!~H', 1",111 (i,,\il~\ll< ,la nüjt(" "11.("111 ,I" ";;;»HII<'_ro .. h-nn(>onuu'·",·
Y. F~. I, p,~g:. 1;;7,
PJ :São 'i"'i 1'\,' w,I:;t ..nq,(·",nj\~,l" ""lllr/,. lig-f<.\la ".,Im 'j \'0,.;11111J\· ,1" "t" dl1T um 10Rlj·
'111",.1-1:' 1"0 din "lo etlte1TlI ,·.10 <,f('rt,ól'j" '·-o~tnnl.· Ijtl1' ilHli('llTli'i ~H\i<1nlP --!<I~ ..... terlil ff'·
'.t·..;
IRI.. <'.0)111 ,>s 1l1'ltlX-H~ !;f<.;Tifi"i"" ,I\, 'Inill~"ii~.
'_;t'r. Uf/JigweIi 11<11 f-rUilitllJúll I p>-\.t". :tll', " Ti"lM!, ImJ'. d~ •. p~. '24:~: (,1ml-lIdo Imx>om
um rl.efu,do d~{lf:!IDfJ'" lfrl~(l:nf(ly·mM'. """'I' fifi m,/w,'HU()'''' (}"~fÚl
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TlRSO 49

4 - Contra os conselhos da mulher, passou um lavrador


com o gado antes do nascer do sol por um lugar, onde tinha
passado um cada ver no dia antecedente.
Os bois levantaram-se, nunca mais servindo para o trabalho
(Palmeira).

1
5 - A passagem dos entêrros, devemos desviar· nos da som-
bra do caixãi.\ porque a sombra dêlc aS5wtnbra (Palmeira),

6 - Passando um cada ver á porta de alguem. morrerá dai a


pouco gente na casa (Palmeiral.

7 - Quando se afoga um individuo no no Ave. costuma


dizer o povo:
O rio Aí!'c hadc comer um fôlego 7'i1'0 p()1' dia (Palmeira),

8 - Ao homem que lava não nasce () bigode (Santo Tirso) (').

9 - Não pode haver treze pes:-:;oa", á mesa. ~e nüo morre o


mais velho (Santo Tirso) ('l.

Ia - Uma orelha quente é sinal de que e~tao a dizer mal


de nós (Santo Tirso) ('I.

I I - E' costume dizer-~e de unia creança esperta e precoce:


Não 1jaz" a galhâro, i~to é morrerá cedo (Areias) (1-).
1

12-Saem adivinhos os menino,,;;, que falam no ventre da~


mães, quando estas guardam segredo. Falaram no ventre das
mães os vedores, que descobrem o ponto onde eXl~te água.
Contava o prégador P. Figueiras, hoje adorado como Santo,
que a avó o considerava menino hento por ter falado no ventre
da mãe (Areias) (').

(l'l Cfr. 1'rad. pvp. cit., pago 2513. oe Rf'v l,1/$. Hl, pag"o '2Ht
(li)afr. Trad. pop. eH., pago 2'2~.
M Cfr. RetI. LUf:!. X, pago 215.
(~) Na tragédia de Shakespear Richard II!, acto TIl, S{'. La, .;ncontra-8e e.sta fras<?:
&J wi8e 80 young, they sag, d-O neve:r live lOllg. A fra$B tá ilúnica, mas foi tirada dêcetto
d.a. tradiçAo popular.
(Ii) Cfr. Traa. pop. dto pago 209, e ReligilJes da Lu,~:tania I, pago 100.
01'. M.auw Bérm\rd.es-E.xercicios Esplrituai$. t. I, pago 393, refere-se á. tradh;-lo
dos matinos bento>!:
Regra- géral he qne nenhum meni1w TIO VenfT('l" de lN«! mdy seja $(lntificadfJ, e tenha
U8(I de ra.8ào: e cõ tudo dillpenlWtl-Be eo-m JeremiulJ', e com {) grande Bautil:lta.
50 REVISTA LUSITANA

13-Não é bom pôr os meninos em cima da mesa, ou pas~


sá-los por cima (Areias).

14 -- As crianças não devem passar por baixo da mesa


(San te. Ti<,ol.

15 - Andar para trás é ensmar o caminho ao demónio


(Areias) n.
16 - Pondo-.-.:e a mào ~{Jbre o coração duma pessoa que
dormf", da revela os ... eus st';l,rredos ('Areias) í?).

17 --- E' pecado cu'pir no lume (Areias) (").

] H-1\<10 se deve pôr dínheiro em cima da mesa (Areias).

] 9 ~- Sonhar com dentes é doença; com uvas brancas l lágri 4

ma,;; com ln"aS tintas, letra~; com () mar, felicidade; com co-
bras (~j~ gravidez f:Santü TjTSO).

20·-- Virar tinta é f-;inal de morte (Santo Tir~o).

2 I -~ Virar vinho na toalha é sinal de alegria; virar água é


sina] de tristeza. E' bom por isso deitar um pouco de vinho so-
bre a á~a (Areias).

22 ___ o Quando troveja é Deus que está a ralhar (Areias).'

23 ._- Os remoinhos são provocados pelo demónlo. Para os


afugentar fazem-s.e cruzes ao mesmo tempo que se diz: Cruz,
1

santo nome de 1aslts (Areias) (5).

2-.1- O vento soão dana os cães (Santo Tirso) (6).

25 - Quando se olha para a lua nova, deve bater-se no bôlso


(Santo Tirso).

(') err. Rev. !.tu. x, pag. !lIS:.


(") Cfr. Rec. Lus. XI, pago 258.
(3) Cfr. Trad. pop. cit., pago 34, ê R.ec. Las. x, pago 21&.
(') Recordo-me de ver numa. relação da HiBf.. Trag. Jlarlf. C&S08 de mulheres con-
ooberem de cohr&8.
(Z) Dfr. Trad. papo cit.. pag. 45.
(') efr. Tlrad. pop. cit., pago 48.
TRADiÇÕES POPVLARES DE SANTO TIRSO SI

26 - Nilo pode fazer~se a vindirna de modo que o vinho


venha a ferver em dua~ liias; f.;(:' não o \'inho ferverú na~ pipaf;
pela volta do lrwr (Areias I.

27 - 0:-:. (J\"OS nào dt'vem st>r deitados de modo que O~ PIIl-


tainhet... venham a nascer no intt'rluJl. Df" contrário a ninhada sai
fraca e morruJ(cJlta (Areia;.:.).

28-0s pore'lls sào mort()~ pela lua n,-lha. E' mdh()r um


dia de lua \"elha do que doi~ de nuva (Areias).

29- L'm cjrco em \"olta da lua to ",inal (lt': chuva (Areiai').

30 -~- ~o dia de S. Vicente \'ào fh moleiro" e os ahelheiros


ao montf' l'xaminar (k qUt': lado estJO 0:-; \·t'ntos, E pelo lado
donde ",opram ficam ~abendo donde soprarào daj por de ante
(Palmeiral ('I.

31 - Muita genk tira ainda (JS sorlt\'; para ficar "abendo se


os meses do ano no\'O scrào chu\'os\ IS ou nào.
Contam~sE'" doze dias nu ::\ata1. ante'", de Santa Luzia, e doze
dlas depoi~~ e pdó'! aspecto dt',";"t'~ di'b se faz (J proJ:;-nóstlco
(Palnwira).

32 - Pode lavrar~se na tardt" de sexta-feira ,.::anta, mas :-;e-


me ar só depois de aparecer a aleluía tS. Martinho de Bougado),

33 -- As sementeiras nàn devem ..;er começadas senào nas


terçaí'l quinta:-; ou súbados (S. Martinhu de Bougado).

34 - ~jelan("ias semeadas a oito de l\laio nào produzem


(S. Martinho de Bougado).

35 - Os ca:;;ame-ntos não devem realizar-se_ nem ás terças


nem ás sextas-feiras (Areias) (1).

36 - Estar o pào com o debaixo para dma é sinal de ladrão


ou pessoa perigosa á mesa {Palmeira).

{3) err. Troo.


pop. eit" pag, 3&,
f) V. FastOS-I, pag. 7 e 1:;17, e 11, pag. 45<.
REVISTA lOSI,. ANA

37 - Na sexta·feira santa e até aparecer a aleluia não se


pode cozer pão (S. !\fartinho de Bougado).

38 - Para () pão levedar faz· se uma cruz e diz-se:


S. Vicente te acrescente,
S. Mamede te levede (AteiaS,l (I),

39 - Quando se fecha a porta do forno diz·se:


Deus te abençoe,
Dentro do fomo.
E fora do fomo,
.Assim como Deu:::; andou pelo mundo tod(),
Em nome do Padre, do Filho e do E,qpiúto Santo.

40 -- O pão quente faz danar 0::0; gato~ (Areias).

41 - Partindo~ ... e os Llôlos quente ..., com faca, o pão sai do


forno inccnsado r)
{Areia~).

42 - Tapando-se a pmia do fnrno com bosta, ficará o pão


mais folhud,) (Areias) ("I.

43 - O porco le\'anta-~e trê:·; -.:ezes de nnite para comer o


dono (Palmeira).

44 _.- Gato apresullhado é bom, porque é caseirn. e os cães


apresu11hado,...· não se danam (Palmeira).

45 - Para que o gato seja bom, é preciso que seja roubado


(Palmeira).
Os gatos dado~ não sào bon~. E' preci~o cumprá~los por seis.
vintens, ou dar em troca uma franga (S. Martinho de Botlgado).

'" 46 - Para a carne de porco nào criar bicho~, passa~se por


ela um gravêto a arder (Areias).

47 - Diz-se de alguem que, visitando a "lia, fica a viver


nela: ,aquele hebeu da Fonte da !\faria Velha '. (Santo Tirso).

(I) Cfr. Júlio Dinis - Fidalgas da ('-asa Mourisca, 3.'" edi'i'ão. pag 1:32, f! RelI. Lus.
x, pago 2&3.
(t') Chama-se assim ao pilo luimido, pesado e sem olh-os.
(') Cfr. Trad. POJ!, eH. pago 178 oe 232.
TRADIÇÕES POPUlARES DE SANTO TIRSO 53

48 - Semel>ndo-se 1>" ervilhl>s em oCllsião de lua, I> coruja


vê e come-as (Areílis).

49 - Os porcos saem mais ou menos fortes, conforme ma-


mam nesla Ou naquela têlli (Areias) (').

50 -- Chami\m·se formiglls do Sel/hor as de côr preta, e que


anda.m á proclJ-ra de grãos em grandex fila~. A:-; outrq~ sào do
inferno (Areias) ("l.
5I - Quando se fala em ninhos) e preciso dizer saPinhos e
pedrt"nlws) senão vem o bi('ho. Fórmula para deitar () bichD:
Bichinho,
Vai àqueHe ninho:
Se ti,,'er avinhas,
C0me~lhe aR geminhas
E deixa-lhe as rasquinhas ;
Se tiver pafFdeljinJws,
Come. lhe a caminha
E deixa~lhe os OSSinhi')S.

No fim faz-se uma cruz ~obrt" () cu~po que se deitou na mào


e bate-se nê1t\ mandando-o: para aqui. para ali, ou f)ara acolá
(Areias) (").

52 - Os galos \'elho~ ao fim de :-:ete ano~ põem um OVD, e


dêle sai uma cobra (ATeias) (4).

53 - Para encantar a,,,,:; eObrqSl re,za~se um l'adre·nosso ou


uma salve-rainha ás ave~sas (Areia~) (').

54~Para desafiar ()S sanlôe~) costumam 0"' rapaze~ gritar:


Sardão\ pão quente;
Eu .com o pau!
E tu com o dente,
\'amos a ver
Quem é mais valente.

(') O P. Manu;:l Ba.rradas na ])CSI'JI"i(-rW da (!üla.dJl de CollJtrJ)() (Him. Trag. Marit.),


falandQ, a }YrujlÓBito da forç:a do~ ille!;1Ultell', nas lHas qUê as fêmeal'! tem nos pêitos,
escreve: "Si! i verdade o f]let; diz Aristóteles, (lUe O cadwrrinJw que ltu:t1tW IV! teta d.fJ peiW
i lIiais anintoSQ e fMçof!,O do que os ot,trOl'p,
(1) eh'. Religiões d" Lus1tiU~ia, UI, Jl9-g, 5(lH, n<a (I).
(li) Trad. papo cit., pago 138 e 1%.
(l) CiT. Trad. papo dt., pago HH.
(~) ctr. Trad. PQP. eit., pago 143.
(t) CfT. Trad. pop. (':]t., }lago 144.
54 REVI5T A LUSlTANA

55 - Os sardôe;;.; ~ão amigos dos homens e inimigos das mu-


lheres. Com as cobras dá-se I) contrário (Areias) (I).

S6 - E' um perigo dar tiros na;;.; cobras, não lhes acertando


(Areias). Contaram a meu pai em Viana do Ca~"itelo que um ca-
çador, não tendo alvejado hem uma cobra, fugiu a toda a pressa~
perHeguido por ela. e com tanta precipita~:ào que deixou C~lJr a
espingarda. A cobra enrolou-se na arma e torceu-a.

57 --- Se (J primeiro fruto duma {ln:ore fúr comido por uma


mulher! ficar{l a úrv()n~ autira, isto t', dando frutll ano "";11U, ano
não (Areia,) (').

58 - Quando a nOh'lleíra ch['g<:l {t grossura d(j la\Tador que


a plantou, (.:-;tt" morre (Palmeira).

Tenho a certeza de que ,.'. insig-nificante o núrnero dt." SlI-


perl'1tiç{)es colhidas, reh-tti\'amente ás 4U(' ainda obsernun nào ...;(;
os campont"ses. mas att~ as classes ilu...,tradas.
Ha pessoas que passam um n:rdadeir\) martírIo a des\"iar-st'
de perigo,.; imaginúrios) (' sentt'Tn verdadeiros remorsos nào cum~
prindo êste ou aquele preceito supersticio:-;o,
Não mt: parecem nada acima daqueJI.:" gentio el11 que nos
fala Joàu de Barro, ("J.
nos tnatertaís colhidos, a maior parte encontra-se em quase
todas as terras.
Algumas nIJsef\'açi>f's, porêlll, s:i.n ()riginais, ('[{-'iI) eu. e H'\'(>-
Iam ú cvidf'ncia .a origem pag-~'L
A essencia da alma portu.l!"llesa é eminentemente :->upersticiosa
e fataJistica. ():-; espíritos mais independent(:"s nào podem furtar~st'
muitas vezes ús tenci{>ncias adquiridas, (' \"ingam-:o;e .. , mudando
fi nome aos (":'!crúpulos~ ou n"pucliando uns para deixar suhsistir

outros da m{;~ma fim<' ....


E} curiosn o exempi() do P. Manuel Bernardes. que combatia
os agouros ('.l, (h~pois ele ter t:xaltado tV'; \-irtude:-; do número sete- ('),
(Continua).
\'ila l<enl, 24 de Fnereiru de HJl4·
Al:OUSTO C. PIRES DE LIMA.

(1) Cfr. U~r. l.U$!. XI. pago 211:!.


(', efr. TrarJ. l)(ljl, dt., pag, 115. Com os (lYO.,. ,Ia,,, g:alillha-s ol;~en·aw algun" (I

mo!lsmo eústumi'.
(~ Dec.1, Liv. v, c.al'. \", pag, UG.
{o) Exerc. FAllr/rit. dt., t. 1, pago -iS;:;.
(") Oura dt" pag. ;J(~J.
REVISTA LUSITANA
VOL. XVII! 1915 N."' 3-4

TRADIÇÕES POPULARES UE SANTO TIRSO

IX

Orações

Responso a Santo António

a) Bt~ndito e louvado seja


Santo António, sol brílhilUte~
Em Lisboa, França e Itália.
Deu luz ó mais rutilante;
Ó beato Santo Ant6nio~
Qu'o Monte Sinai subiste,
O teu santo breviario perdeste,
Em busca dêle moveste mui triste (1),
Uma voz do céu ou.viste:
- Ó António, torna atrás,
O teu santo breviário acharás,
Em dma dêle Jasus Cristo vivo;
Três cousas le: pediras;
Qu'um perdido seja achado,
O esqlwcido alem brado,
O t'it'o guardado (2).
(Areias).

(I) Esta oraçã.o foi colhida depois de t<ll' ê!~(:rito ao nota (2) di'> pago 24, "'01. xvnr
desta Revista..
(1) O vivo sã.o os anima.is domeukOIl. SAnto António (. objecto de veneração pro-
funda.. Nos templos, e junto da imagem dt;le que se v{, (} maior numero d~ prome8SaB:
v$t&.s, boi8 de cer!\, etc.
As promtm$a8 COUl flgura de animal" rêp:reS€ntam quasi sé-mpt'o& e. cura de alguma.
dOéllça que os tev.eo em perigo.
REVISTA LUSITANA

b) Santo António de Lisboa


Se vestiu e calçou,
Seu caminho caminhou;
O Senhor le preguntou:
- Onde vais, ó Antoninho?
- Senhor, eu consigo vou,
- Tu comigo nào irás~
Tu na terra ficarás;
Toda:s: as cousas perdidas,
Antol1inho, acharás.
(Areias),

Oração para quando troveja

a) S<inta Bárbora
Se \'t's;tiu e calçou,
Seu c<iminho camínhou,
Seu hordão na mào tomou,
jasus Cri,sto encontrO\l,
E le I)r~guntou :
Onde vais, Bárbora Virge?
- Meu Senhor, Ó céu me vou
Almmdar -êstes trovões
Que tam fortes êles sião.
-Ora vai, Bárbara Virge,
LelJ"ós r$ monte maninho,
Onde nào haja pão nem .... inho,
Nem bafinlw de menino,
Nem gente da Cristandade;
Valha~mn a Santissima Trindade.
(Areias).

b) Barborinha pequeninJm
Se YC!;tiu e calçou,
Keu caminho -caminhou,
O Senhor le preguutou:
- Onde vais, ó Barborinha-?
- Senhor, vou aqui ó céu
Abrandar uma trevoada
Que lá anda muito assanhada.
- Pois vai, 6 Bat"borinha,
Deita~a p'ro monte maninho,
Que não haja pão nem vinho,
Nem bafinho de meninho pe.qu.eninho.
(Areias).
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 18 5

3
Padre nosso pequenino

a) Padre nosso fteljuo.inho,


O Senhor e meu padrinho,
A Senhora minha madrinha:
Para que me féz ii cruz na testa?
Para que o IWC<ldo não me Íll1IWÇ,.·t:
Lavei trés vezes, lavei,
Meu Senhor, por onde- irei?
As portas do céu alwrta-s.,
As do infemo nàn verei:
Est;j S. Pedro à porta,
Com <l capa de re~'olta (I),
A prt'~untar aos menll10s
Se sabiil.m a oração,
A oração dos fJelil1grinos,
Quando Deus cra menino
Que andava pelo mar,
Com "s m(los a straqueja,y
E~os P!~~ a deitar sáingw'.
Trata, trata., Madtilen;t!
Com teu lenço de c'alor
Para limpar o Senhor.
-- T(!m-tt', tem·tf' i:!), Madalen",
N~o me quniras rllimpar;
A est<l1,;::10 das cincu chagas
Ainda tenho para passar;
A jwque-,lin!JtH' t: gr;mde~,
A todos hei-dt: salvM I:tl.

b) P<'ldn~ nosso p"-'i.juellhdlO,


O Senhor é meu padri.üw,
A Senhora minha m,Hlril1ha:
Para. que me pôs a l·nJZ na testa?
Para qlH~ o d{:mónio niiD me impeça,
Nem de noite1 nem de dia,
Nem no pino do meio dia.
(Areias).

(I) Numa veuã.o oolhüla em Montalegre pnlo all1no do I.,íceu ue Vila Rial, Mo-
rais Caldas, apareeem as palavras: ~Com uma capa mui devofa.* ~a. versil,o da Li/lU·
Pop. de V. Rial cit., pág. 87, -V~fIlts~{*'P4 !S'11f IdMívh I" &MiIltv.
(1) Umu versões trazem: tento tento; Qutras: lata tata.
(") efr. Ret,. L,rt8., IX, pago "231.
186 REVISTA LUSIT"'''A
----------

4
Oração do câo danado
a) Eu me encomendo a Deus e à luz,
E à Santa Bela Cruz (1),
E ao rei da Virgindade,
E à Santíssima Trindade:
Ao S. Romão milagroso
(Tem o corpo em Roma,
Cabeça em Portugal) (2}
Que Deus me queira guardar
De bicho achado, por achar,
Cão danado e l)or danar,
Homem mortol má encontro,
Homem vivo, mau perigo:
Que S. Romão milagroso
Seja minha guarda e meu desvio.

(S. Martinho de Bougado).

b) Eu me encomendo à luz,
E à Semta Bela Cruz,
E ao rei da Vírgindade,
,E à StU1tíssima Trindade:
Ao milagroso S. Romão,
Que me livre de cão)
Danado ou por danar,
De homem morto. mau encontro,
De homem vivo, mau rerigo~
S. Romão seja comigo,
(Areias).

5
Oração ao deitar (")
Com Deus me deito,
Com Deus me le\'anto)
Com a g-raça de Deus e do Espírito Santo;
O Senhor me cubra com o seu manto.
(Areias).

(I) Etimologia pop'llJar por 'Ve-ra Cruz.


e) Na fregu~8ja dê Co:nstantim. Mncalho de Vila Rial, há. uma Se:mta Cabeça mm-
to visitada poelos mordido!!; de do dt:\na~io.
As p1'<rogrinaQues à &mta Oa"~{'a te~m diminl.1ido m·uitt) 'DOS últimos t&mp08. POl'
um lado llbrButiau fi; :fe na.s virtudes ,lo crânio, por outro. parecêm M1' maÍf! raras as
mordeduras. V. P. Carvalho, OoroJ!1'afil.1 cit., Ql, pa.g. 459.
cal Cfr. Re:v. Lu8., v. IX, p.H.g. 283.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO

Oração à Senhora do Rosário


Virgem Santa do Rosário l Rainha da terra
Ouvi minha petição: E da g16ria~
Lembrai~vos da minha alma, Mulher que anda em guerra,
Ponde-ma da vossa mão; O mundo é tentadOr;
Se até agora andei errad~ Vrrgem, pedi ó Senhor
Com tamanho desatino Que me valha
Me perdia, PClra vencer esta batalha;
Sem nunca atinar caminho; Senhora, quero servir-vos,
Peç.o-vos) Virgem Maria, Nas vossas mãos deixo. tudo:
Que movei,- meu coração Fazei com que eu deixe o mundo,
Para que em vós ponha afeição, Nunca deu hom galardão,
E vos ame, Nem menos consohção,
E por vós chame; Senão f.,ruetra:
Quando me eu vir atentada Virg-em, nào quereis que eu perca
Da tentação do pecado C;lúria para que eu nasci:
E do inimigo, Virgem, lemhrai~v(ls de mím,
Senhora, dai-me sentido Sende minha advog,ula,
PaTa que en s~ga a salvação, Até à morte me deis fala
E me não perca, p'ra que eu siRa os mandamentos
Pois 'vós sois arca aberta, Contra os maus pensamentos,
Porta da misericórdia, De ~osso Senhor Jesus Cristo.

x
Costumes
I "'~ Alguns lavradores costumam apascentar () gado no cen~
teio 1 pouco crescido ainda) para evitar que êste aca'me (Areias) (I).
Considera·se como que uma maldjçào roer uma cabra
2 -
os rebentos da videira. A planta nunca mais se desenvolve em
termos, assinalada pelo dente envenenado em que fala Virgílio
(Areias) e).
3 ~ Quando é preciso desmamar os bezerros, usa~se uma
táboa munida de pregos (Areias) (').

(I) Cfr. Geôr{}lea.s, pág. 15:


<li"';;'''"~~;~:;-;~;::;;;;;indo d fIll/' do Hldcff () trigo,
«mette o gadfJ a e8'prmtal-o, ~ Q llalv(1 do J1~ri{)O,
«de lhe tlÍT (t acamar, quando pender tIloduro '
PJ efr. Geórgica8, n, pág. 133, e o curiol'!Iú passo dos Pastos I'lm que /lê u:pHca o
s.lII~:rír.icio do Cllbro-I. pago 39.
{I) Cfr. Ge6,.gica&~{ :ilIáMr''liI,, _ _ _ _ _ _ __
~'

.. AQ,8 chibo8 muita 9t'ute as bo:ca,s amordaça.


..qua,n40 08 quer desmamar com picantes ~arbHMS
.para qui! as propria$ mães fujam co'a teta (l'&8 fl1h.O$.
188 REVIST A l.USIT ANA

4-~
Alguns lavradores colocam nos campos um ramo de
pinheiro Com duas ordens de galhos. Entre os galhos metem
dous paus a que chamam rebolos. O espantalho, a que dão o
nome de galhci:'o ou fôrca 1 é um aviso para os donos das gali.
nhas. Se as aves entram no campo, matam-se Com os rebolos e
dependuram-se nestes.
Dizem-me que n costume é antiquíssimo (5. Martinho de
Bougado). Enl algumas casas dependuram as aves daninhas à
agricultura, para amedrontar as companheiras (Areias).
Nas figueiras. campos de painço, estacadas de feijões e
sementeiras de ervilhas, aparecem Inuitas vezes bonecos de
palha ou de pau, e <.\S vezes simples papéis, para afugentar Os
pardaii'. papa-figos, etc. (I).

5As esfolbada~ :-;ão um pretexto para festas~ namoros e


questõe~ em que pntram I"empre Of' varapaus. ?\as eiras, ouvem-
-se apupo::.;, \'ozes chamando, ditos em falsete: São os rapazes
que andam ao sento) e que às vezes se revestem de lençóis para
que. apresentando~ .... e junto dos esfolhaclores, não sejam conheci-
dos (S. Martinho dt~ Bougado e Areias).

() Com a introchtt;,i.o dos arados de ferro desapareceram


as grandes vessada:-- em que dous lavradores se as~()ciavam reu-
nindo os hois suficientes para anastar o antigo arado de pau.
As juntas de bois chamavam-se) a contar do arado: PI:! trilho,
pü:adouro e ,f{lÚa e),
1\<1 ocasião das \'essada~ (I lavrador dava um bom jantar.
Ouvi dizer que, depois de modernizada a sementeira~ as colhei-
ta~ começaram a ~eT piore:-i.
':\'1a5, se a cultura nào sofreu, foi indubitãvelmente prejudi-
cada a anil11a~'ão das aldeias. ondf', os brrito~: Ei.l... eh (aba-
no! ... auda, anda, anda.' ... ! se repetiam a todos os instantes
(Areias) (').

7 --" Os campos de milho são destruídos muitas vezes pela

(1) efr. sõbre espallta.lhos no!'! eampos-Re!igioes da I.usitanilJ, \'. ltl, pág . .596.
iZ) V. Jornal de Saltto Th!Jr8/J de 10 d-e Ju,nbo de 191á, artig" de. Sousa Cruz.
I!') As vêssada.s lembravam a.!! fe.stas sementina8 e paganais. V. Fastos, t. I, pág.
,l e 73.
Ba tambêlll 11m ba.nquete nas ear:readtui-tra.nspo-rtoA .imulUineo dt'!o pipa.!! de vinho,
madeira, etc., em tlarros do!', boi!!, <.~didos de gra..,.-a. p.elQfi lavradures amigos.
!Nas malha.s, depois da distribuiçã.o de vinho, os ma.lhadoru dAo \.-IV&'" aos donos
da caltl1i 1 acompanhados do VOZEIS prolonga.das: ih, ih, ih ... ; uh, uh, uh ...
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 18'1

bicha. Mas onde há as planta,--escalracho e n()zelha~·a hicha


não pega (Areias).

8 -- Quando a torga começa a secar no campo, a terra está


lavradoira (Areias).

9 - Quando a terra está húmida por cima\ havendo uma


camada inferior sêca, não se deve lavrar nem sachar) se nào o
campo ganha pêro. Ganhar p!:'co Lo vir a bicha. E desde que vem
a bicha) o milho morre e fica a terra estragada (Areias). "

10 --- Os lavradores ao fazerem a sementeira, marC3rn a


j

terra com ramo;.:, a que chamam baHzas. As hahzas devem ser


tiradas de árvore que dê fruto (Areias).
I [ .- A delmlha do milho faz-:-;e. por vcze:-;, obrigando os
boi~ a pL<.:.ar as espiga:;:.. (S. itoiartinho de Bougado {i).
12 _.- Os pedreiros (1) e carpinteiros tcem fama de honrados
- o que não sucede aos tro1ha:-; e ao~ mineiros tidos gE"ralmente J

na conta de preguiçu:-i,os e intrujúes. Como sucede noutras terras)


os pedreiros teeill um voealJUlãrio especial bastante rico com
que designam o pào, ti vinho) etc., f' que não ê compreendido
pelos estranhos à arte. O~ mineiros usam dumas frases ex quisi-
tas, que servem por exemplo para .:n'i:;;ar os culega'5 da chegada
do patrão (Palmeiral.

13 Quandn os carpinteiro~ ou pedreiros terminam a obra


numa casa, colucam sôllfe a construç;10 um ramo. Fica sabendo
o patrão que é preciso dar aos artistas a 'Jnolhadu'ra (Pal-
meira) (").
"",---
'4 - Grande capela.
Pequena capela,
Três voltas em redor dela.

!~l CIr. Rev. LU8 .. v. XI, pago '260.


('I) Por l:1inrple~ ct\riQsidnde, registo um dito de e~pirito dum aprendi:r, de p-e-
dreiro. Era He que dava ilempre {l sinal: tmeio dia! () Ilatrilo ficava furioso 6 uma
>;'tl21 bateu com uma. régua no espettil.lhão, gritando: QlJe m di; ,,$ e
meiQ~q,})ãO
sou eu! ... _""o outro dia, dlf~galla a hora, exdama. (). rj~pa."': ~Faz agora 2" horas que o
palrão mê deu (',om a régua. •.. ~
Á8 ",estas, ou de~('..a.nso do me.io di.n. ate &1'1 ':l horas da taru.t'l ptt.rQ, Oí§ jornaleirolil,
eomeçam em 25 lle Março e prolongam-se ate S de Setembro. Alguns lavradores demo~
raro (} ja.ntar, -roubando auim às sestas. err. RIl1'. LwI. v. 17.°, pag. wg, n." &1-
(') Crr. Tmd, pop. cit•. pag, 1201.
190 REVISTA LUSITANA

Significa o ditado: Quer a casa seja grande, quer pequena,


é preciso dar de beber aos artistas três vezes: no principio, no
travejamento e no fim (palmeira) (').

JS - Os alfaiateô servem de pretexto a muitos ditos satíri-


cos do povo. Eis alguns exemplos:

a) Quatrocentos alfaiates,
Todos postos em campanha,
Que gritavam: aquiMdel-rei!
Para matar uma aranha (2t
(Palmeira).

b J Carpinteiro é nobreza, c) Alfaiates num são home8 (3)


Tirado da biz,arria; ~em se!les pode chamar;
Alfaiate, sapateiro, Quando perde uma agulha)
E' uma piolharía. Põe-se logo a chorar.

(Palmeira). (Areias).

16- Vimos já que os sapateiros nào escapam tambêm à


IronIa:

a) Sap;~teiro é fraco gado,


E' C1l!lall1a muito reles;
Sempn' ca.utela co'êles,
Que éles dentro da porta tem peles.

b) Sapateiros depenados
Faz doming-o à segunda-feira,
P'ra na t0rça U"r vagar
De curar a borracheira.

(s. Martinho de Bougado).

(I) Cl'l". Q ditado,! A bom comer ou mau c()mer, t1'41'1" c-/'--t€S beber. Abilí-o Mont~iro,
Carader r!lIJ€lado, pa.go. 300.
{!) Cfr. Ret:. Lus., Y. 1. pa,g. 2:58; T1'ad. pop. cit.~ pago 1S3, e T. Pires. Canto8, Y. I,
pago 4l(J,
{~} O inforrnador, que êra alfaia.te, aCIes~nwu logo: Os a1fa.iat~s,-l'e-8p()nàe:

Alfaiatas bttm são homes 1 ,


:Mas alfaiat";-8 Mm&... .são;
Se num houvesse alfaia.tes,
Todos andavam em leitã.o.
TRAOlÇÔES POPULARES DE SANTO TIRSO 191

E' muito conhecida a fónnula:

Sapateiro) remendeiro
Come tripas de carneiro;
Bem lavadas, mallavadas f
Te corram pelas barbas (1).
(Areias).

17 - Aos moleiros atribuem espirito de ganância e poucos


escrúpulos (2).
a) -:\Iolt>iro! anda para o céu!
-Senhor, mio tenho lJàf:.ar,-
Tenho um fole na moe:ga,
A maquia por tirar.
(Areias),

b} Vem o moleiro. tira o seu maquieiro;


Vem a mulher. tira. Ú 'lue qutr;
Vem I) João, tira o quinhão:
Vem a Maria, tira a maquia;
Vem o rapaz:-Ó i;t;nhor meu amo,
L~ste fole úuJa não está m,:HjLliiJdo?
-Maqut:ia.(j p'r'ai que te leve o diabu (I).

18 - A barba e os harheiros servem d{~ tema a muita::.; can~


ligas e ditos:
d ~ ~:stes r"pilzes dt..-" .tgor:'I
S2io franguinhus de vinténl;
Promdc rh>rás ;is Rimas
p'ra ver se a barba lhe H;m li}.
I,Arei,ls).

bI Se tu \"lsst:s (I que PU vi
A' vinda de Gllimad.cs! , .
Cm barheiro de jr.oelhos,
A fazer a barba aos cães /,;').
(Areias).

c) Estava um homem a fazer a barba. A uma certa altura


diz ao barbeiro: ~~. Pare lá I

(1) Cfr. Re;!;. Lus.. 1(. 1, pág. 271. (\ Trod. jJOp. (~jt., pil.g. :lN\.
r, eh. Trad. püp. eiL pag;o 24'.~.
f") Gu-rth, p~rsGntlg""'1ll dD lranho€ ri!' V;rtltN g.'ott, dirigiTHlo-se a Mmêr, saltea-
dor, com qu.ell1 vai hatH-i!1Õ' em .i<\~o uE< pau, dlz~ ··Jftlj.(Jti be'!(t (J. miller ..• lhou art
doubiya thiet ... " Calledion oi briti!th 8.tllhúrg~ Taue,h:n,it2.. Chapo Xl, pa.g. 1St.
,,) Cfl'". Rev. LIM., ·L x, l'í.g. 14(1, n." r,~C.
("I Qua.nto a form.a, dr. T. Yite-g, Cafit(JfI, ". 1, pitg. 274., e R!1:. Lus., x, pág. 12&,
n." 353.
REV1ST A LUSlT ANA

E começou a tirar uma bota. Tirada ela, continuou o bar-


beiro o seu trabalho. Daí a um bocado, lama o freguês: Pare
lá i E tira a outra bota.
Feita a barba, pregunta o harbeiro: ~ Porque tirou v. as
botas?
- E' que prometi ir ao Senhor de Matozinhos, se escapasse
desta, e fui tirando as botas para ir mais depressa (1).

d) Quando um rapaz quere fazer a barba, sem a ler, di-


zem: Anda à demanda com o ôvo l ainda a não venceu.

J9 --~ Com () desaparecimento da caça vai diminuindo o nú~


mero dos caçadores~ que continuam gozando em toda a parte da
fama de fantasistas,
Na quinta da Capela (Palmeira)"- antiga casa dum crúzio
_." onde a paixão da caça se tem transmitido alravés de algu-
mas gerações, houve um galgo preto, afamado em muitas léguas
à volta. Um fidalgo de Barcelos quis oblê-lo, dando em troca
um Dom cavalo.
Como o contracto não foi aceito, houve tentativas de furto,
e o dono do cão fechava-o em casa. Por fim o galgo, na ânsia
da carreira, morreu rebentado contra urna parede.
Conheço ainda exemplares de caçadores furtivos: Não leem
licença. Conhecem muito bem os lugares por onde passam os
coelhos, e, em noites de luar, sobem às árvores e de lá dispa-
ram contra a caça.
Um dêles é tambêm pescador. Pega num redafol, entra nos
ribeiros, e, pondo o aparelho em frente dos buracos, obriga
com a mão o peixe a fugir para dentro do redafol (Areias).

20 ~ Quando se quere tirar o mel, desinxabelham·se os e)


cortiços, isto é, passam-se as abelhas (a inxabelha) dum cortiço
para outro. Tirar o mel a um cortiço chama-se - robrá--/o.
Para se tirar uma parte da cera (stinhação), faz·se um de-
fumadoiro com bosta queimada para as abelhas descerem.
Alguns abeJheiros importantes levam os cortiços em Março
para a Póvoa de Varzim, dai para Valongo, depois para o Ca-

ti) Esta anadota Coi colhida em Areias_ ma.s niLo parece popular. Contudo Te-
p1'odwdmo.l&, porque são frequentes 08 ditos a ceie,brat' 11 imp-erieia dos. ba.rbtlouo.s.
tI) pala.vra forma.da. talvez pelo processo da. etim-ologia popula.l': d.eit«n:tabel1tor
por ml!ln:.mlme/W.
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 193

brito, e finalmente para os montes de Paradela, e as abelhas vão


dando enxames sucessivos.
A necessidade da mudança est.á re-sumida no seguinte di~
tado: -
Disse a ahelha quando falou:
-- Quem quiser andar de bofas
É andar c011uKo às casta ..,.

A',s veze~, mesmo nào se mudando os cortiços de terra para


terra} dào} alêm do enxame c(j~tulllado, um f!.arfo ou ;:,ar.fito (I),
que de longe a longe escapa.
Começando as ahe1has a trabalhar. n:lo pode fazer-se a mu~
dança a nào ser para muito l()ll~e, pois de contr,irio 'I'cem ii fe-
rida (2), isto é, volta1n para í ~ sitio donde a:-o. levaram.
Morrendo a ahelha rnt':-:;tra, fica o cortiço machio: As ahe-
lhas comem () mel todo e morrem (I).
Havendo ameaça de mau tempo) as ahelha::; matam os ahe-
Ihôes, e até~ depois de fazerem (rianca, a geraç<1o nova.
Quando um cortiço fica de~ocupado, mas ainda com os fa-
vos, costuma vir alojar-se nele, atraidn pelo cheiro) algum enxa~
me perdido. E () antigo dono sú pode rcclamú-lo, :;;e vier a per-
segui-lo com um ramo ou com uma vide na mão.
Os abe1heiros atiram ramO:-i ou terra (lO ar para que os en~
xarnes desçam ('1).
O furto de al,t'ihas t: ~raví~s!lTw; e crime de mào cortada
(S. Martinho de BougadoJ.

21 - Quando (I linho e,.:.;tú maduro, arranca-se fa arrancada


ou linlwrada). Levado para casa, tiram-lhe os lavradores a se-
mente (ripar) no ripull{'o (var<-I de Ú'rro dentada).
Depois lan(l'am~no sC,hre um carro) adornado com flores, e
levam-no ao rio (aju,qar).

(', E:m ,\r0ift, d'RlnlUt\ ,I- ('''Si:' ~"g'1111<l" ó'1l-':Rltlf' f!(;/"!,j.


(1) FfTirta € a aIJerll1!'l\ !J(,r {lll<!0 OÍ'lHrillrl (\ !;Iafml !l>l ;d'I"·IIl!1.~.
l~) Cfr, Ge6,.gíc(lf!, 1\'.. ~iJl:

.Ernqllanto ri"" a ,'h(>f,'. 1\luwil!,f,~ il amig!i.s

..
.Sã0 irmã':! na :fd"4!ria !: IW~,j!l;; na.8 rft'\!ga~;

..
nnas aufltHH f,ÜfT<:, <l-kos llIliiiü, jl!stl';:-t!

(R. rNltlfVl\ 1!{):,! 1II<'t.~ jlA


!il.nda ~'a~ Tebatinh:a,,:
<a I~Te~IJ!;\'
fl1.,·aria, as caras N!lbtrlHhas
~.u.rrasarà:lHlc ... '

(.J) err. Ge{irgicnJl, I"" p;";g. 2~\5, fl Reli. LU8., \'. Xl, pag. '2~:! Jl.U I.
R~~v. Lçl>l.l'., \'001. X.... HI, fa;,c. ;,1-4.
194 REVISTA LUSITANA

Tirado o linho do rio, põe-,e no càradouro, e dai passa para


o engc1lho onde é moido.
Procede-se então ii "pade/ada motivo para nova festa ---
com a 8padela I e"pécie de fouce de madeira)_
Tiradas as arestas) passam~se os nos por um sedeil'o (asse-
dar), sendo depois fiados.
Depois déste último tralmlho, re;;;ta (urar n linho para êle
ficar branco IS, Martinho de floug-ado),

22 Nas tabernas f. vulgar ve-r·se o tradicional ramo de


loureiro {I) ou azevinho ú porta. O azevinho dá felicidade,
Os taberneirog costumam anunciar:

Hojt~ nào "'(~ ri;'!,


Amanhã sim:
Os maus poilgadmes
(') quist'ram assim (2).

Num nicho cavado nas estante;o.:. da.;;; 10.}as n~tenta·:;e uma


imagem de Santo António, ladeada de jarras (11,

23 -- Em frenk da igreja de Santo Tirso há duas leiras de


louça,
O cuco vem rom a~ 1out'elras de Março e vai com as de
Julho ('),

24 --- As saudaçües mai~ \'ulgare:-; ~ào: I .nuvado ~eja N. S.


J. Cristo! Para sempre ~f'ia lnu\"adn! Búas noites! O Senhor
Te dê As mesmas! ·---Bons dias! Br'élS tardes!~·-Vá com Deusl Vá
com Nossa Senhora! C'um muito hem passe a noite! --Bote-me
a sua bênção!
Ao;, pobres a quem não ;.;,e d,{ ei-Jmola f dizwse: Deus o ajude 1

tio~ Deus o favoreça! (Areias).

Cfr. Rdigfiíi',S da lAwitall-w, v. IH, p/til. :,.1. n." 4


(1)
No lugar dI\, Pousada, frt:'gué-;;úi da C'iU:np{>ji (V. Rial), encontrei numa. tabêtna
iTI
uma quadril um tanto diferent.e

MeU8 !!.{<111w,eQ,
Pfl~'O atençã{);
AIuanhã rio,
Hoj(l não.

\l) err. Rellgíõu da .lM.sltl11'l-W, V. lU, pág. 11M.


(4) Cfr. Trad. pop. cit., pág. 10W e 1'7.
TRADIÇÜES POPllLARES DE SANTO TIRSO Ilj5

25 - Quando casa um n:,lho é costUHW juntar-St' povo à


noite ao pê da porta do~ cít~ados-, e fazer uma grande assuada
com panelas velha~, yiolas e ferrinho~ {Are];".;;).

26 - Antes do casame-nto, 0,<':' lloiyus oferecem () püo lwan~


co e).
Aos prt"gõf:'S nào assistt'm aqlwle:"
No dia do caSanieI'llo, quando h;'l alg'um~h p(lS~{'S, os f(l·
guetes atroam os ares: cbon"m a:-; flore"" os umt'eitns (' a mis-
Ranga) sôbre a cahe\~a dos nul Jelltes) (' i-~ de rigor 11m grande
banquete.
NOE; ca~amento~ dl' p('s;-;oa~ m:lis al\i'lstada:.-; CYd ('ostum(~
construir arcos como os que se 1c\'anttllJ'l llas nlmarías.
No domingo seguinte \";-\(1 o....:. TW1\TIS ;:1 mis;-;a do dia, e na
segunda ;i feira de Santo Tirsu (Art'iasl (').

27 --- Quanrlo os rapaze:-'. sabt'iTl qU(' h:t haptizado, aproxi-


mam·se da igreja: t'n:-; querem repiGlr fJ ~ino, Clutro~ lH'~ar nafó.
tochas e na cruz.
Todos eSJ~pram qllt~ a 1l1adrinha (jfen'(,'<1 11 naco) flue (~ um
quarto de uma rú:.;ca de trig-r.l, A ..; rtl~t'a:; \';1.0 numa saca
(Areias) (3).

2H --- (h;. d(·funti~~ v;lo para <I c.,y;t de cara rapada (l),
Não devernofó. deitar fl(ln'~ no~ caix{;es d,)s anjinhos) se mio
êles tcem muito trabalho a efJnti.-las n~ I fim do mundo.
Morrendo um ])Oltlt'lll. IJ sino cU tft:' (urrclra:.,:, Se morre
uma mulher, h;:l apcna:..: dua:-;. Tn";s NJ)irJlll'.'" anunciam morte
dum menino l dois a duma menina: Toca a (jJ~jin.h()! diz o
povo (").
No domingo seguinte <lO ('ntt-'rro dum defunto\ hit {) ofertó-
rio: No ·corpo da ign:ja c(Jlocaln·:-;e doi~ to(:iH:~ir()s com velas a
arder, e o padre \"01i rezando tantos rc:-:ponsjJ:-;, qwlt1to~ os vin-
téns oferecidos pela casa, e pelos parentes e amigos. Cma mu-
lher lev~ um cêsto coberto com um pano negro. É o cêsto da
casa, onde se levam g:enf'fo.::i para o padre,
No fim do ofertório há um I.Janquete para () qual são convi-

I') É () pito de trit;o. A~ i'N<;f)Il,' <te rrlfl.ís iml,oTtânCl2. orvrêee.m pão fie 16, 'IU<l All
í'.hama arll'Jiar disso u pdG branl'ü .
• Z) eh. Trad. pt}/!. dt., pag, ~YO.
(~) erro Rf't'. Lu.s., , .. XI, pág', 2;":1, t Tntd. PO]!. ri:.. pág. '~1)4.
(t) Cfr. RfW. LUB., V. XI, fJ1<X ?5K
(e) eh. Trad. pQp, dt., pág, 2t()
1'}6 REVISTA tUSIT ANA

dados os parentes, a pessoa que oferta pela casa, e aquela que


faz (l rol dos ofertantes.
Pelo rol fica sabendo a família do morto que tem de corres-
ponder aos sufrágios num caso semelhante e). Nos enterros
tambêm se escreve Um rol dos assistentes.
A solidariedade entn~ -vizinhos manifesta-se quando 'l'ai o
Senhm~ a um moribundo. em que ~ costume encorporar-se uma
pessoa de cada ca~a; no caso de morte! em que todos vào apre-
sentar os sf:ntlmentosl repetindo com freqúência: cl'~nim
-'-,mrtttõ qUi;,
t'otidtl teili de pas.'mt' e)'l; nos enterros, nos ofertó-
rios) etc.
Nos enterros, a família do falecido oferece tarnl)t-:~m um ban-
qLete. A 1 s confrarias são distrihuídos nacos. de pã() e vinho.
Passando UIn entêrro por qualf]uer prédio, o público toma (3)
posse do caminho.
No:;; fiêis dt"funto:-:o andam gnmde:-o grup()~ a pt'dir com
criança~l às \'ezes emprf.'starlél~. Cada pessoa leva uma ~aca e
recehe pela.__ cas:·t." caneca~ de cereals.
() grupo canta:

D{',mc os flt:i~ (](> D"\I'"


P~~r ,1Il1f)T de Dnh,
l\S <llrninh,~s d~)s dcfllntns.
Estào no C{.~u todos jIl1l(O,~,
Ao pé tia nela Cruz
P'ra senlpn' ,Imém 1t1':,It.'.',

o~ doridos; ("ohrem cte Hores é-iS. campas L'. de madrugada,


acendem lampit)(';~ e colocam-no;.: no ('eTl1ih~rio, consf'rvando-os
acesos até à visita da pn1('issãO dos defuntos (Areias) (~").
Há pouco tempo ainda apareciam em Paradela IS. Martinho
de Bougado), por noite .. tenebrosas, uns vulto:.; com' um Iam-

(lI Cfr, Trod. pap. (""tL, pall:. '2::!. Li'nli>rü-l1le dr- w'r !I!t Cnjl'1jr>(.! de D. D!Uu'f.e uma
e81Jed,. de ofer!{lrio apto,; :FI mortl" d(> li..1r,;f<) I. (-, f'Hl (; \"ir,pnt" .41Ift) du Blxrf.'(l. do
lnferrw uma r",ferf'IIl'3R ii ... "ff'IIIl~. Y. Obo/8. hi. 4J" HalT«lü F!.'io,' !, pag". 22"6.
1'1 Cir. ,1l"Ugíàes da LUttUuuill. I', 111, 1'1'!,,", ,j:\" fê Cam., A'il(H' d~ 8I1h'I1,>ão, .j..,~ ed.
pá.~. 60.
(~l Cfr. R,p,liOiôes da IAJ.l.n"lrwll1. \'. II!, IJiIlg:. :!'l;l.
(4) A l'il'dQ~a romagem fH, l'i'IJlítt·n{J lt'lul.r1:l. a~ f'elltll/<J jlar.e,dllis:

Basta ao" Ilnadof> a l'Iin!!i'I& t('I'IUt


Onde os SeuiS ,ão lanÇ"lir-UH' ai!! florelU'I t;'roas.

Fastos, v. I, }Jâ.g. ):35.


TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 19i

pião na mão, Tocavan.l campaínha, gritando ao mesmo tempo


com voz lúgubre: Lembrai~\'os das ahnas!
Outras vezes. ouvia-se noite alta o badalar do sino.
Informam-me de que eram pt'nitência~ impostas em confis-
são pelos padres ('I.

29-Já me referi aos cepos e aos ca~cos das pinhas do


Natal, que servern d('poi~ para afastar tru\'oada;-.;. n processo t~
antigo e não exclusivo do no~so pa[~, como S(' vi:' por exemplu
dos };'a..9tOS, 'ii. 11 1 pág. 274 e l7H, Jfiréio de Mi~tr.all c. VIU, pág.
320 e 310 (").
1'\a noite df~ Natal há urna C(,ia. ()s pobres ~H1dam pelas ca-
sas dos lavradores, pedindo vinho (' hatata~.
No banquete entram !"elnlllT Llacalhau cum batatas e olhos
de couve: sew.ln {)s don;s prefí'ridus a.., sopas 81~((IS (I), llI('xido,\'
e rabmwdas.
Em algumas aldeias ai.nda ;-;f" diz de longe a longe a missa
do galu (Art'ia~J.

30-- Trazemlu~!"Ó-t' uma fIlH}J<l no dia clu ano L~om, continua~


rá a trazer-se pt'lo ano a(kantt', E' por i,,:.u que ~e ali da nesse
dia COIll roupa nova L\.reia,;) (1).

31 -- As fe;.;ta:-. são I,úas, ma,,, f'1ll casa dos outros.


E, para afugt'ntar as vi:->itas, que s~~ \'~1(J tornando aborreci-
das, tem u PO\'Ü dois meio~: ou pondo uma \'assoura com () cabo
para baixo, ou deitando cornos ao lume (Palmeiral (rJ).
Contudo. pt"las Janeiras e pdo,; Ã.'()is, recebem algumas ca-

(1) (Jfr. Rm;. JAiR., v. X, pú,.g. 213,


(2J Perdi a !lOTa da edj.;\10.
{ai As 1/0pa8 Hêc(UI stw fatiA!! dr'_ Hig() pr01':flratla" com 11<;'111'9;1', t~aJ\(,la, m .. 1. (" hor-
telã. Co~jnham·se no forno ""m g:rand",< :lJg1IHjar,,~.
E' o doe," da" j'i:M.ll~.
('I Crr. Fasfr!fr, ,', I. pág, 1(,'

}ll"az-m<', Ill11, O~ tempo~ ""m{>r;flfldo fwn,'o~,


~se aUl':pkiem j'j'(óuIHlu Itr:ti I'idade:
,T"dof> l-.or i~!w nn prirneirn dia
ta,O ôloHdto ('xAreióO a,.,: mãos e-ntrl~gam.

V. também ReligUJp8 da LIlJii1fUI1Ú, . •. Tal. pá!{, 5611, n." 2.


(I» O pfOC,"SSO da va.s><oura e <:EHlheddo nu P,)rto t~ a "I~ !te referem IUI TTlld.
pop. ait., pág. 252,
REVfSTA 1.. USrrANA

sas as pessoas amigas, que se cun:-.ervam dançando C' em des-


cantes até altas hora~ da noute.
Os rapazes munido:-; d(~ ferrill hos, canas denteadas) etc,)
j

andam pelas portas, cantando a~ Jtf1ltira,,'ii:

floj<.' ,:~ di", (11: J.HWllO


Por ser () dia rJllIlldl~l;
t: dia dus IlH.!lccil1lt'lltO~;,
Quando Deus passou os t(lrmt~ntn~:
Os tormentos estãn pa:s~ad(\""
Jesus Cristo já é nado:
Lá "em 3 Estrêla da Guia,
(.nde ,t Virg:em ll<lriri;\?
Foi parir fI Bel.t.'1ll
;-';UJllil pohre m,111j(·ll"JlJr;\
Onde o boi hento comi,!
li a mula remoia.
- ]"hldição te hOIO, n1\ll<l.
Que não paú'(l,,· vez JU'lIh;/a,
E al h,uma que p<1rires,
Nào vcjas slIl nem lii('l iI),
(Areias).

32 ~- Pelos Rei., os grupos ~ãn rnal~ numero"os. As canti-


gas variam muito. C(Jn~ei:!lIi colheI" tn~..; \'t"fsões;

aI Partiram os três Rei" Magos Era meia noute em ponto,


De noite pelo limr. ~Iinh<t port,l aberta ia,
Em bus('<l do Dens Menino, ~Ju\; fi. abrtram o." anjinhos
Nunca () puderam achar: E mais a Virgem :Maria (.1).
Foram dar com t'le t.'m I{OJ1D.
Revestido no altar, 11) Os Trt's Reis já são chegados
C'um coles ,j'ouro na mão) ,-\ lapinha. de Belém,
Missa nova quer cantar: Visitar o Deus Menino
Três anjinhos ~') ajudar, Que ~ossa
Senhora tem;
Outros três a alumi~tr; Senhora lhe disse:
;"\!OSSil.
Sobreirinho ram,,,lhudo. - Filho meu. que te farei?
Ao pé lhe cai a holota; Nilo tenho cama nem berço ...
~·Se nos quer dar os Reis, ~os braços te criarei:
Venlla-nos abrir a lJOrta. Ó Jesus) olhai p'ró céu,
- Minha porta não s;e ailwe Lá vereis 'star uma cruz;
iYenos que nào venha o dia, Já tenho cama e ber-ço

li) Cfr. Ht'.t.'. Lus, "~o IX, pilg. :!25, f.; Religiões da 1.~fiiitmtia, pag. 071.
Ja li'ilint.o Elisio atribui a c.a.r{J.ct(l!r po.gão ss JaneiraS':
~Canta ao s.om da viola que reclama
As slmples trovas das p&gias Janeiras.
Obras, v. n, pág, 1M.
(~) Cfr. T. Pires, Cmltos, v. II. pág. 15 é sego
TRADiÇÕES POPULARES DE SMno TIRSO

P'ró meu menino Jesus; )hnuou Deus dos altos céus,


Entrai\ pastores, entrai tamanho desatino;
('0111
Por ês!:'e port~11 sagrado; ~f;\lHI()n Dctls uma estréia
Lá veTeis um Deus Menino (,lne lhe ensill<lsse o caminho;
Numas palhinhas deitado: A estréia se foi pôr
As palhinhas botam mel Em Ull'\it duma cahana;
Ó divino Manuel, A cabana 1.."1';-\ pl'quena.
As palhinha~ botam Tnsas :\'ào cabiam todos três:
Ó divino das formosas.; Puseram-se em oração,
As palhinha,; tmt.dm fkll"l=s (:ada um por sua n"z;
Ó divíno dos amores; f:les. todos Ih'ofereceram,
As palhinb.,s botam ürios OllfO, itlCt"osl.l (' mirri1;
6 divino dos martírios: (i OUt,) (: como rei,
As palhinhas botam p<in Illcenso cumo ll.artíritl,
Ó divino S. Jnão~ ~!irra cumú Deus \'ivo-,
As palhinha,; botam u"n:üs tJue mnrrt'u para nos sah·ar:
Ós divinos Três ío!eis Maf;o:>. V,nnos ver a hitrca nova
Que se ,:ai lançar .;(\1 mal';
C) () tia casa llnhrt' gentt:\ S, JOSé vai pt:la prna,
Escutai e ouvireis :\o"sn Dt·Us, por Keneral:
Umas cantiguinhits nO\'lts A1Tiaram·~e as I:.lillldeiras,
Que St: cantam pelos Reis: \'h'.{ <.) rei de Portugal ~
S<'Intos Reis, santo'S. l:'ro,I(lllS, t;[,'.ria sl'ja a ~k Deus Pitdre,
Vinde ver quem \'os ,-"rnou, E a (11.: Deus Filho também:
E mais quem vos onh.'lhHl Glória seja o Sjwito Santo.
~o \"0,,5(1 santo >Ciil'llinhl1: P'n todo (I sempre ,HI1("m ii).

Viva lá II senhor F., Vint lá. _.


Onde põe o seu chapéu? Sapatinho de confeitos;
No meio da StHl ca,.,a. Em volta da sua cama
Parece um ilnju do céu. Tudo sãn amores profàtos.

Viva Já. Viva lá,


Casaquinha de pinhão; Raminho de Lt'IH querer;
pIra ser um 1/01111' honr,tdo, SI..' tem \'inlll) na infusa,
Hã·de me dar um testão. \'enhawnos dar de bober.

Viva lá, , , \<j,'a lá ...


Folhinhas da/tire um valado; karninho de salsa crua;
Estimo que case cedo Quando se põe à janela,
C'uma moça do seu <lgrado. .:\tnrmenta toda a rua.

Viva lá, , '


Raminho de roge~r0J.re;
Se m),,", quer dar de boitcr
Leve-nos abaixo d loge,
200 REVISTA LUSITANA

Despedidas:

Vou botar as espedidm'l Vou hotar ...


Vou botá-las e não pns!:>o; Por cima dê-ste tdhado;
Tenho o meu coração prês:o Dt.:iXfI-me fugir uepress,1,
Curo fto d'ouro ao '\'05S0. Se nào pre·rlll,p·1/le p'ra soldado,

Vou botar ... Vou botar .. '


Por cima de Guimarães: Por cima durn canivete;
Se o senhor não tem que dar, Eu suu rapaz novo,
Dê-nos sequer as maçães. ~Ias ioda (;he~ü p'ta sete.

Vou botar .. , Vou hotar ...


Por cima do limoeiro; Por cima desta cehnia:
Se o senhor nào tem que dai", Vi Vil. o patrão desta casa
Dê volta ao migalheiro. ;.lfa,'·la sua senlmra.

Vou botar ... VOlI botar ...


Por cima dêste colmal,.'{}: Por cima de meia rasa:
Deixil-me fug:ir depressa, Se o !-icnhor não tem que dar,
Se não chovt.-"-me !lO cachaço. Corra os cantos da ('asa.

Vou h0tar ...


Por cima d,'t flor d.1 ;.;c.'o'ia:
Acabar,ml-se-nos ;IS cantigas
TamhÍ'm se nos. acaba (\ fest,( \1).
(Areias).

33 - Das representa\;ü(:>s feitas em tablados em forma de


circo~ ('om um pano de chita ao fundo, por onde vão saindo os
actores) restam apena.., as reismia,\\ que v.l0 desaparecendo tam-
bêm.
o auto encontra-se em manuscritos. Eis parte da fala dum
personagem _. a Fa'ma Ligeira:
Eu sou a volante fama)
Mais ligeira que o vento,
QtlC \'05 venho anunciar
Êste santo nascimento:
Por fim 1 se quereis saber
Quem êle é, na verdade,
Êle é a segunda pessoa
Da Santissima Trindade.
E ' mais hwnilde qtt'a Isaque
E mais sábio qu'a Salomão;
Senhorl o tempo é pouco j

Nào me posso demorar (2), .,


(S. Martinho de Bougado).

{I) err, T. Pires, CanfoH., v. J, pág.42fl.


(1) A minha in:f()t'UlaLlora não se recordava do resto da fala.
TRADIÇÔES POPULARES DE SANTO TIRSO 201

34 - O entrudo vai de~ani1l1ando de ano para ano. Tudo


se limita hoje aos pós e lH"ilhantt'~ deitados na cabeça, tO(lUtS
de buzinas, e tiros durante a noite" Antigamente a lüucura era
maior: Sujavam~st' as m.tOS na pa1T{'ira do furno para manchar
as caras; havia verdadeiras L,atalhas ('um 1antnj~s; atiravam~st~
das janelas potes com úgua ~. cum matérias pouco cheirusa~­
costume que me nàl...l pan'C(' espel'lal do nosso pab pelo que se
pude depreendt'r da s('t~na IX, acto III, de L'l~toflnli de jlolii~re,
Dois jogos se US.;nll nu carnaval:
a}- Pendura-sI': num IU,l!;ar elevadu. nU1lla ramada por
exemplu) uma rósea dt> tri~o nu tk pã,) de lú, e enquanto al-
guns manceLo~ e rapariga:-; darH;an'l, homens com grandes vara-
paus, formam saltu:-> ~l. Tô:-;ca a ver se lhe tucam.
Atingindo-a. ficam ~('nhores df'la,
lJ) - Enterra-se um F!alo no dl~l.t) ("0111 ti caht:'ça de fora.
Uns procuram ganld-Jo. com uma n:nda ntJ~ 01110:-:' (', de-pui:; de
c(Jlocados a UIll n:rto nlllnero de pa~;-;():-: da pohre ave, bran-
dindu uma espt'~cie dp espada ~: ver se atin/,.;f'ltl a calH:\'a; outros
disparam tiros contra mn aI ,'I) cu!ocac1u a uma grand(' dist;1u-
CHI.
Ultimamente o CO:-:.tllnlf" (: menos (TlH:L U galn t'· :-;ubstituido
por um ohjecto eh:: pau, figurando aquele no fim conto premio.

35 - Alguns lnancf'hos colocarn ;\ porta das narnoradas, na


noite elo sábado anterior aCJs Ramos, flures e uma rú::.;ca de pão
de Ió. Ficam el~ls sItbendo que tt:em de retriIJuir a lemlm:mça com
o foJar. No dominJ,.;o de Ramos \",-10 O~ rapazes ú missa com
palmas e ramos de (Jliveira adornados com Hores. O:;; ramos são
benzidos e figuram numa proci3~ào. Com as [(,lhas de palma,
abertas em quatro) entrançam-se uns castelinhos que alguns
trazem ao peitu, servindo tamLêm para ofertas de namorados.
Os ramos queimam-se, como o cepo e os cascos das pinhas,
para afastar as trovoadas (Areias e S. Martinho de Bougado) (I).

36 - Na Páscoa, quando o comp(l$so f) visita as casas, lan-


çam-se à porta fôlha:-; de narcisos e de lírios) 11wutrastes (3) e
fiores.
Sôbre uma mesa estA uma maçã onde se espeta uma moeda

(1) Gfr. Trad. pap. cit.. pag. 12L


(2) o COnlpaJ,iím é a \'Í!!ita pa~taL :Kiú v~jo o termo registado no Novo Dieümr1ríQ.
(-) Al'Jsim pronuncia o povo a l'ab.vra mentraljÚI.
202 REVISTA UJ5lTANA

de prata~ e um ramo de flores naturais ou artificiais que o padre


arrecadaI deíxando outro em troca por \'ezes.
Em algumas freguesia~ acompanha (} padre um grande cor-
tejo de qut~ fazem parte homens munidos de cestas onde arre-
cadam os- folares: rúscas de pào de ló ou de trigo, ovos P, maçãs.
Trocadas impresstJ(~s súbre () tempo ~ assunto geral de to-
e
das as conversas J - e dep()i~ da oferta de doces e vinho~ lá
abala a cruz para outra casa.
Na vila de Santo Tirso O compa:-;~o re'lliza-se na segunda-
-feira. Í:;: um dia de festa animada: As ca.~as enchem-sé e des-
povoam-se constantemente. porque é da praxe assistir ú visita
f'1ll casa de todas as pes,... nas amiga:-;.

Há um el1tusja~mu 11JUCO e ramo,,,,; hclalnente dispostos em


que entrarn as IllPlhon~s jiorr:~ anelam dtO 111<10 em mão. Muitas
veze~ a oferta dllm ramo t·: lima prova ou declaração de amor.
A feira da seg-unda dt~ 1\'I...;coa ("111 :-;anto Tirtio (~ a feira dos
folares.

3i - 1\u prirneiru de )'laio eolocam-:..:l' tlores de giesta nas


portas e na~ jancla:-i.
Vi num portüo da Palrneira lima crl1Z formada de várias
flores.
Evita~~e assim que \·-cnila (I )iain a C<lV<J.IO num burro branco
a quehrar a lOll~~a.
Eis a eXI,lica\'Jo qUf' Ille (lf':ram do costume: ~üssa Senhora,
fugindo à perseglli\::1u de H~~rodcs, refugiou~s.e numa casa de
Jerusalém corn o Mpninu Jesus. :Marcaram a casa com uma rosa
para irem lá prendt~-lu...;. Mas) na manhã seguinte, apareCt~ram
todas as casas com rosas (Areias) \ ~-,.

3g~-
Na noite de S. João (' na de S. Pedro andam alguns
homens de noite a roubar V3:S0S) :sarilhos de poço~ escadas) car-
ros 1 e outros litensi1io~ ele lavoura que vào colocar ao pé das
IgreJas.
Há quem pendure nas silvas cabelo para êle engrossar na
manhã de S. João (Areias).

(1) Eis. um,a fraso(\ espirituosa .apanhada nu eouYó:',rllíl.ção:


.Ajudá fiU<UWM de 6hggif ('om de dIa a nÕft'e,.
PI crr. RfW. Lus" ,'. x, pig. '213.
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 20]

39 - Na~ ff'sta . . (le igreja co ... tumam nomt.~ar (lon' mord()~


mas: quatro ca~ada~, quatro Yill\'aS, t' quatro :-;olkira:-,. A juíza
toma ~t sua conta um andor ('omplt"tll.
::\'a proci",:-:I(I sq.!"uelll ~b m(Jni~\m:t:-; com lima "da orllalllen~
tada, que ~eguram com () klH:n mai:-: ril'o di-> qUf' podem dis~
por. ~o fim da festa as monhlBla:-: n-'celwln um ptTSt'ntf' --uma
rôsca ue trigo (Areia:;),
Nas ruas por onde pa:-.sam ~l:-: pHwi:-"::-:út':-: LHH,':llll-";'t· dift'ren~
tes en'as (Santo Tir~l)) j J).

40 _.-- Estão caindo em df':-:uso as proci-.:stu·g dt' ]leIlitt"I1cia.


Lemhro~nw duma qtH" saiu hit an(j:-; (li' l~lli\';lt'S (cunet'lho de
V. K. de Fama}ictlo) a pedir d1\lY;t. \'"jo fazendu t'sLa\\~lO em
todas as capelinhas do i'Cll1linlln at(" "\n~i;l:-;. 1\,-la Si' t'ncurpora-
ram as cruzes (' confraria:--: dt, muitas i~Tt'ia:-: "i/inhas. O~ alldo~
res entraram :t~ arnnills lla igreja t'stnmha. llt li:-: di' conlr;úio
ficariam pertencendo a ('4a.
Antiganwnte iam procis ..:.;(~,{':-: impre:-:-';lnnank:-, ,'I. St'nlwTa tlt·
Valinhas (na fn~gul'sia de :\-lollh" CC'inlonll lwdir ChllV;L :\ con-
corrência era enurme. ~Jllito:-: iam dt's('al~'I):-;.
A chegada havia um :'ienn~>IO,
E o céu cnmc\'av<l ltlg:o a t()ldar-s{'; lln,; ('htlYi~cos vinhan)
anunciar a rega ~aJvadura.
Os clamore:-. Ú \'olta da fr(;~llf:sia eram ndg-arc,;.
Com () de:-;apart'cillwnto dt':..;,.;a:-: tradi(J,('s, ,",ln as collwitas
sf'ndo cada \'ez lIlai-:-> e:-;('a:-:.:.;a~. diZt,1tl os VI·11IU:-\ (Areia",) (::).
Os romeiru:-; cantam (' dant,:alll <11.1 ";Olll da "lola. 1WITOITl:n-
00 di,.;tâncias enurlnt·s ~t~lIlpn' a darH,,'ar (I,.

efr. lhm. J.WI., v. Xl, pí',g. ~r;~.


(I)
Na Póvo~~ Ü(, Vatzim, lImk os marit1lJ)U~ ÍlnprirnNn um çarú.'ter inlf,rNlilantl,;;sim(l
as prochsi:'le~, ob~(\rn'i qUj, O~ andOrf'9 l'TlU[\ \·o!tallos eom a fa",,' pllra o mar t<Jdus

f:xpli"ütl.me um pmiW~ld(lr ,~U(' (J t~,,!Olallle .'ra mtlú,) \'<:'I1w' j} que tiuha pür fim
~om que as ímagells a"el\L:ufl~"e~l) U lTlIH.
fall,",r
j:!"f Cfr, Rev. LU8., \', Xl, pag. ::~:t
(3) As da.n~:lls srIo 11IlirnaJlt>l e t'ü",estr'lll um allpl."eto alégl'c pelas \'êstNiI jlllrrit.!a$
daI! rapa:rigas.
Muito tliferentf.'s siio as. dan';<l8 feitas i'tu \'üJt,a dar! (~a.llelaf'i. que obhl()l'\'ú algtJln:u
ve~e8 êtn Víla Rial. Ü;i rflpil.If.(,S váo r{),.ll'!uldú a. ('l'ijl(,la ao\! ./!aItÜ!I, <Jra aproximando<sê
ora a.fllstand-ohse uns dos outros, ao me"lIlO tempo quê. \'cdteiam TIO ar os varapaus
Ao ver s,[)melhantf' espeetá('ulo. hltllbrei·me- {lml antigos !{UêrrôiroB, qUê' caminha·
vatn para a gueTril a da.nçar e agit.and() ü!i """DtO/los. V, ReUoiões dn L!udtllnia, 'Ii, II
p.â.g. 307.
204 REV!ST A LUSlT ANA

Na romaria de Santa Eufêmia os romeiros costumam falar


mal e proferir obscenidades.
E' possivel que haja aqui um ves1igio dos antigos cantares
licenciosos, descritos nos Fastos (v. II, pág. 77).
A capela de Santa Eufêmia fica num monte de Alvarelhos
-freguesia muito explorada pelos arqueólogos, c onde tcem sido
encontrados vários dúlmenes.

At'I..~os'ro C. PIRES DE LIMA.


TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO
(2." série) (.)

Como deixava entrever o meu primeiro trabalho sõbre as I


tradições populares de Santo Tirso, o assunto ficou muito longe'
de ser esgotado. Acumulei mais algumas centenas de observa~
çôes, que ficam registadas agora e continuarei a tarefa até que,
l

tendo estudado melhor todas as. freguesias do concelho, possa


elaborar uma obra, de conjunto tam perfdta quanto o permitirem
as minhas fôrças.
Os elementos apresentadus nos vo!.e, 17 e 18 desta Re-
vt"sfa e OS que reuni depois demonstram a existência de cara~
cteres} que, de resto não são peculiares da minha terra.
1

O povo de Santo Tirso é extremamente fatalista. As fórnlU-


1a8-- Titrlza de serJ serei o que Deus quist:r, o Sellhor assim o
quis, se Deus quiser, é () qUt tem d(: ser~ andam na bôca de to-
dos os lavradores, libertando-os duma responsabilidade que os
borroriza. Dispensam-se assim de colaborar na vida pública, de
emitir o seu voto livremente, de chamar médico para doenças
graves, de aplicar certos cuidados na vida agrícola, etc.
Embora não sejam inteiramente como aqudes ij l'lu.m'a ou
%.

rara "llez pintàrão na. cDl1sirleraçt7o este horri'l.lcl moustro da l1wr~


te, antes jugião tanto das occasiõ" de lhes poder lembrar, que
Hetn enterros querido ver, uem dobrar sinos t e por isso 110 dia da
cO'1nm.emoraçã.o de todos os defuntos se ausenta'vão pa'ra as quil1~
tas; e de quebrar-se lui espelho) ou. pôr-se hiia 'vela fIO dul0, to~
mavão tristeza tão vil, como O seu agouro (2)llj pois que assistem
despreocupadamente a enterros e cerimônias de fiéis defuntos, a
verdade e que os tirsenses são profundamente supersticiosos,
povoando a noite de sêres agoureiros e fazendo daquilo que se
deve e não deve fazer um tratado completo que vão transmitin-
do fielmente de geração em geração.
Parece·me curioso transcrever aqui a parte das «Cons-
tituições Sinodaes do Arcebispado de Bra'ga. (ordenadas em 1639
pelo Arcebispo D. Sebastião de Matos) ("J que ainda hoje podia
aplicar-se plenamente a crenças que vigoram em Santo Tirso.
-Tit. XLIX, Consto I, pago 606:

{t~ CIr. Bev. Mt.Bit., voI. :s:vn, pág. 17 !li 2'82, e XVIII, 183.
lI) Bernardes, E:tJtwe. E8p{rlt., voI. I, p&.g. 393.
(3) Li.boa (1697J. Consultei .. obra no arquivo da paróquia de Aréiaà, perten.
cénte &,uim como outraa fr\':.gus.sia.s do eonc&1b.o, ao a.rc:ebll1pado dê Bl'age..
REviSTA LUSITANA

,Da graveza dos delitos da feitiçaria, suj>erstiçàfJ, e agolt-


ros) e conto se devem p1~ohibil' e detestar;},
3. Por varias vezes se pretende ad.ivinhar, alcançar o futu-
ro, como he por feitiçarias, nigrornancias prestygios, arte ma- 1

gica, a.gouros~ sortes, encantamentos, invocação dos espiritos


malignos, e por outros :.;emelhantes modos, ..
4. . .. mandamos ... que nenhíia pessoa ... faça conjectu-
ras, . . por sonhos, .... cantar das aves) e anímaes, . .. I ainda que
tudo se ordene a remediar alguns males, ou descobrir thesou-
ros, ou furtos: ou para saber algíia cousa passada, ou o que passa,
e acontece em outras partes remotas; porque sem ajuda, e obra
do demonio, não he passiveI saber-se (1).
5. E sob a mesma pena de excommunhão, prohibimos, que
pessoa algüa ... use de arte notoria, querendo por observanc.ias
vans, e ~upersticiosas ceremonias t ainda que seja por meyo de
oraçoens ... feitas a Deos nosso Senhor, com certas palavras,
ou sinaes exquisitos, e não usados, alcançar ao certo, ... , o
conhecimêto das cousas, que estão por vir ... para se livrarem de
algum infortunio, ou para não poderem ser feridos em briga algüa ,
ou para alcançarem saude os que estão enfermos.
6. E declaramos, que os que pedem aos Egypcios lhes
digão sua boa, ou ma fortuna, peccão gravemente, dando credi-
to ao que lhes dizem.
7. Prohibimos ... que nenhila pessoa deste Arcebispado
tenha agouros, e obs;erve , ou note os dias, e horas, em que CO~
meção os negocios, obra~l ou caminhos e serviços, e saem de
suas casas) esperando ou telnendo} por essa razão, bom ou máo
successo nas ditas ouras, caminhos, serviços, ou negocias .. .
8. Manllamos ... que nenhüa pessoa faça pacto com o De-
monio, nem o venere, nem o invoque por algum modo, para al-
gum elfeito: nem use de algüa bruxalidade, feitiçaria, ou seja
para bom ou máo fim, principalmente usando de pedras de Ara,
corporaes (utensilios de consagração) ou outras cousas sagradas,
ou bentas, para legar, ou deslegar, cõceber, ou fazer mover, ou
parir mulheres, ou usarem de beberagens~ ou outra cousa, para
querer bem, ou querer mal; nem de outros unguentos, e confei-
çoens supersticiosas para embruxar, ou para qualquer outra
cousa, ou effeito mâo ou bom.

(I) A explioaç:ito d4:!monatra. ser p.atléi.t&ment& l'lM!oA;vel o que diste iii; pl&g. 19 do
"01. l:.Vll d&sta Revista. O povo ..credite., mas ... é pecado.
TRADiÇÕES POPULARES DE: SANTO TIRSO

9, ... não he prohibido usar da ~:\.strología natural) que se


chama astronomia
I\em tarnhcm hc prohibido lI~ar da judiciaria Astrologia na-
tural, que nos !i\'ros approvados :-:e declara; (' assim st~rú licito
a qualquer pes~oa, pela:-; iurluenl'ia,.;) e con:-;tella\.~oens do:-; Ccos~
pelas estaçoens) ou mo\'imento~ do~ astros, :-'iuas conjunçoens, e
aspectos, conjecturar o.., effeitos futuro:'>, muy importantes) c ne-
cessarios para ajudarem as artes eh !vleLliclna, t\a\"egaçà()~ t' t\.gri-
cultura dos campos, e das anores.
10. Declaramos tambem não sef prohibido levantar figura
pelos astros, e aspecto~ dos Planeta~, e constellal,;l'ies sobre nas-
cimentos das pessoa~~ observando a hora do nascilnento) e tem-
peramentos e compleiçoens dos pays; o que então será licito,
quando se use desta sciencia para ~úmentt· conjecturar as iucli-
naçoens naturaes, e temperamento das pessoas.
E não se deve affirmar ne~ta materia C!Jll~a algua por cel1a)
antes se porá em De"s ... (')"
-O espirito religioso estú profundamente arreigado-o que
não impede TIluitos crentes de proferir ditos e narrar anedoctas
e orações irónicas em que 0:-; padres são objecto de escárneo e
de ironia.
Há tambêm fregueses) que ouvem miss;~l e aceitam todos os
serviços próprios dos sacerdotes, sem que tenham escrúpulos
de recusar o pagamento das ofertas e honorárius. consib'llUdos
no antigo Lh'Yo dos [-"sos c CO'""tUJliCS.
- A tendência para H criu\'ãu de alcunha::.; existe em Santo
Tirso 1 assim como em túdas as partes do pais 1 n:lü sendo vício
característico de Vila I~ial como poderia depreender~se dum tra·
balho publicado num dos volumes desta Revista pelo meu sau~
doso amigo P.\~ A. Gome-s Pereiral nem de 13arroso (V. o artigo
de Braga Barreiros no vaI. XVIII, pág. 224 da mesma puolicaçào).
Basta considerar uma lista incompleta de nomes colhidos
na freguesia de Areias, ernuora alguns indivíduos marcados pelo
povo pertençam a outras freguesias:
Alcunhas derivadas de profissôes:
Pàdei1'O ('l, Tecelâo ("l, Tamallql1elra ('), fó-reiro, ! 'etldei,

(I) Cfr. nOlJ ensalmo,~: «Pelo podei' de DelIS.,. ~ 'fiue nH: l!ltlifmw, que- 1m 1I-ada
sabia" f:.NOS80 Senhor l o l'erdadeiro .\fesire' .
.,., Teve uma padaria.
(") O Tombo da Igrl3ja de 8r.mtiag/w dart-afJ (lá4ri:lJ d&screve já umas ~casa$ "onde
vil'w Alies Teçelão ••
(I) Filha dum tamanqufllro.
llfVISTA LUSITANA

ras ('), Escola ("), Marinheiro, Borra-paredes ("), Foroeiro ('), Par-
teira, Manuel Cirurgião (5), Regedor (6), Fumel ('h Poluieia,
Bombo (S), Rabeea ("l, Cesteiro.
Alcunhas nascidas de qualidades ou defeitos físicos:
Manco ("'I, Maneta ("). Cego ('''), Fanado ('''), Cambada (14),
Fefe ('"), Squerdo (16), S. Pedro ("), Maria Grande (I"), Francis-
cão ("'), Pilão (""), Rabucho (21), Rompante (""), Comprido (21'), O
Gordo do Casal (24), !'e"..el/to ('''l, Russo (""), Maçãzinha (27),
Cara Linda, Maria do Menino (2") João dos VeJ'sos (29), Cheta (""l,
Corado, Vara e 1neia.
Sinais ou caracteres donde resultaram comparações:
Rato, Toupeira, Bicho, Morcego, Pulga, Papagaia, Chasco
(empregado por Camilo na Braz. de Praz.), Melro (id. ibid.), Car-
rifO, Mocho, Pomba, Róla.
Alcunhas transmitidas por pessoas da mesma casa (v. g. mu-
lher, marido e sogra):
O Benadifa (Benedita), Manuel da Júlia, Maria da Isabel,

(I) Fi1ha.s dllm VEmdeiro.


(') pa.:re.nt.e dum a.ntigo mestt'e.-escoln..
(~) Caiador ponao afamado na Bua arte.
It ) Paréce ter sido empregado DO fúmo dos frades de S. Benta (Sant(l Tirso),
(i) Pilho dum cirurgião antigü-. Mais tarde estab-etec6U uma padaria e- ficou
lIiénd,o o Pruuiro da. nuta t:lJ, de pág. 5.
,., Propriet1lrio. que gutOll OB seus hllvw:ss com a poHtica tl o!!;tentando B. SUft.
proBápia de autoridade. Encontra-se no Hospital do Conde Ferreira onde fi, ainda CQ-
nhecl.do p'6lo Dome de Regedor.
Pj Adquirido no tempo daljo lutu liberais.
(~I To>cava f!,ssa instrumento numa. filarmónica,.
'~l :Era musico muito COJlh~cido..
(~ Ferldo com um tiro dê espingarda numa. pérna t 60ÍEêu a a.mputa9/io dêate
mêmbro.
tU) Perdeu uma mão Dum deu,!ltre com uma bomua de. dinamite.
(lt) É eêgo dum olho.
(d) Tjnba. um d.afeito nas ore.lhas.
(...., Corcunda. Nome êmpregado por Camilo na. ~Brazileira de Prazim~.
(a, Tinha um deleito na fala.
("~ }'O1' Bel' I'lBqtuI:rdo.
(ll'J Era. um velho calvo qUê OOM-uma"a andar DO eOmpa8"Q .
• (II) Mulher muito alta.
(18) Homem alto, cluunado Franciseo.
("') NClmê pôsto ta.lveJ!. a quem andava mal vêBtidO, passando depois para os
tUbos, PUão o&m.pre.ga-s-& como sinónimo de ptllitrãQ em Sant-o Tjrso. crI'. no Fidaloo
Aprendiz o termo pelldo (Jom. II, Be. l1), ti no Dieian. de Moraêl! Pel/do >Elo Puldo.
('1, Homem baixo, dir-êito e empert,igado. (,,"fr., em Vila Rial, Cawtlo Sem Babo.
(III) A.plicado talvez. .. um individuo impétUO!llO.
(iii) Filho dum homem muito- pElqUtmo. {Il'onla.l')
(M) B:rulleiro muito gordo..
(II) HOnlêlu dê fa.c&t muito oond&1l.
(1M) T-&m () cabelo ruivo.
(r.) Pur ter IIJ!I maçAs do :rosto Baliente:8 e ro9-adas.
(l'I) NdmorDti--8e e «w& um filho.
(W) Pida monomania de rima.:r, tendo li'8l'vido de divêrlimento .. Camilo fnn Seide.
('O) Era o psi das Vendei,ras e tinha 1,) há.biro de mel: aos fteguestls; ytmhG .. cheta!
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 237

Zé da DI:as, O Engrácia, Mariquinhas do Padre, Jforgada da


Tõrre (dona da antiga casa do morgado), o Jerún,ma,
Nomes adquiridos nas terras~ lugares e casais por onde se
passou ou onde se vive:
O Brasileiro da Lama ('), Af,'icallo ("), Galego \"l, Maia ('),
Maiato (5), Luís do Pcsse{; Ue1l'O ("), Latas ('l, JO<lO de Sih'alde ("),
Joaquim dos Munhas' ("), Manuel de Cm'aB (li), Joaquim de Cara-
peros (11), João de AI""","a (,"l, O caseiro de Leigal (13), O Quin-
zinho do Bur{;o (") Zé dos A{;Iiciros ("), Çamados (''') António
de Caldelas (lõ), Z,' da G(wti"lta (,"l, Manuel de Casal de Vós ('"),
Q"intas ("), Joaquim de F(mtcla F'), Golpe/hei}'as (,'l, João do
'Mldrite (2'), Padre Paraal/os ("), ~fanllel da Capela ("') Bar-
roco (26), Ana Tapada (27).

(II Br-aslwiros !!Ião todos aqll~le!l ql.lf' \'ào !lO Burti!, prine.il'8.lmtmt~ lJuando tra-
.:em dinheiro.
(I) Estf)v~ na Afriea, Chama-sê tambêm o Benedila. Há outro AfricanQ 11 quem
eba.ma.m: Latas, Cambalhota e Ze das l'i1i{fuinll1ul.
t'l DMc-sndente de alguêm que fugiu para a Halir..a a f1m de stllinar d-ê-I!I-oldadn.
(t) Adquiriu a alcuuha na )'Laia ()nde I3A.tey(! a SNvir, Vito para a Maia multo1'l
criados que querem h{,a soldalla..
ti) Silo Maúrlf.l8 as raparigas da Mnia.
(IS) No Tombo dt. uescrevtHHl o casal do Pe8egueiro (Conce-tTêm no Tombo a!!l
formas atravi!sa, Tore é Torrel, O Livro d-o/i 1180lí e Co8trwles (I7:W) trn o nomé-l'eSBe--
guei'ro,
(1)Nome ja indicado no Tombo: .~4.lie8 da Lata,..porf]Ue perto havia urna .lala (1lta~.
(~)O Tanlbo de~(';rM'e ,,'ilvalde de Sima e 8ilva.lde de IJ{liJ-'o. Informa-me meu ir.
mão, Dr. António A. Pires de Lima ter lido em pra:r,(n'l antigos SilvaI de Sima e SUvai
de Baixo. O Livro dO$ [TifOS' é assinado por Riz de Silvude.
I.'J O PO\'O pronuncia. JlunhoB" êm lugar de .\l.oi~lIol!l.
(10) Casal antigo que tit'ou o nOme tfl.h'(lz dos muito!! Gomhroil', barrancos é pré
!iRS qUê contêm.
(li) O nom~ do cR.sal é moc1ernú; pareM ter vindo duma frl'guesia de Barcelos
(''1 O povo pronuncia. Almwlha, mas o Tombo de1jer(wo~Âlmo"lha.
(1') No Tombo c-oncorrem R.!I fonnas lA>,igall e Leigal, Ca.sal e Casall e Pr.t.. fdot
(de castanho), heiraU (de u\'einu).
(".I O Tombo cita ja um Anes- do Burgo. Rêlo !lê vêem a.9 fMmlt~ lOllgo e k"mguo.
('~} O TQmF}o da Augueiros. nOffiP '1ue o 1\'0110 Viciem. regi!i-t.a como pop, 8uptln'
do~o, parece, forma. moderna de lJ.(J1ieiro'f.
(1$) Da casa de ÇIlY1lado$. O Tombo -cita ;luas bouças qUI'! .. partNn com rarnado
t.& de Nãdim ... () pú-'ilO quer derh'ar çnrnados de sa.rna..
(I" OS nOnJês de Caldas e Caldelas encontram-se no Tombo designando terxu
próximas, tlC'ando na primeira. .a magnifica. Qg1.1.a sulfurosa das Culdrur da Ba11de- d.etllr·
paçli-o infeli~-'p()is as Cn.lrlu deviam ser di"! Sa'lde, ald-e.ig. onde brnt.. a água..
(l") Casal que tomou o nome de «tJii campo 'lu"," s-ê eh.aml\ a CQ7'tinhnli. V, Tombo.
t n ) CaRa! jl'lí descrito no Tombo,
t 70) Nom1':! derivado por certa do casal das Quil.tas.
{~I) Fontela e ho,ie uma. aldeia importante que Sê formou ~)J1 volta do cusl do
mêSmo nome desctíto no Tombo,
(~ O Tombo fala na devesa da GolpeYllrira, hoje transf(rrmada (1m. CJl.!u.Ll.
(~ C&9al moderno que r-e,cebE'u () nome da. eagra do Alr1r"it<@. (V. T(}mbQ).
{:UI Antigo dono da e!t,o;Q de Para'lho8.
(5) Da casa da. Capela fP.alméirll). Na quinta hã. reahmmtc uma capela qUlJ Ihê
deu o nome.
~.) Da cu& do Barroco!'
(r.") Do ~ciipo tt:tpado~? ~Tolllbo).
REV1STA LUSITANA

Alcunhas postas por motivos, hoje já esquecidos, embora


alguns se decifrem fácilmente:
Chucha, Cabeçuda, Alha, ltIafarrico, Ervilha, Fava, Pascoal,
POllte·l'v'()'1'a, ",Vabiceira, LanziHha, Rente) Pelado, Faros (Feroz),
Lmnbú, Pigarro, Catunucha, Viaje (Viajem), Bota, Pêssego,
Tratante, Branca, Rendilho, Santas, Carecas, Ca,,&a, Sm-dínha,
RemédIos, Bundallcla (Abundância), Petrecho! Bispo, Bouças,
Aguça, Sequeira, Vapor, :I1aria Menina, Zé Patrão, Bonaparte,
l1audan·a, Trinta} Tn:1'tta~.PiHtoB, Cachimarra l Fn:o. Latrão,
Trmm!Ca, Pilatos, Slre/ado (Estrelado), Rei de la Clúna, Cam-
halhota, Z,: da.s Pinguinhas, C'erailllPrefa, Joana das Facas J Pano,
Freguesia, Pându1o, ]o1'a\ Assenta, Caf'ago} Pt'S to la, Caniço!
Próspero, CarraPicho, Zumlho.
Sào curiosJssimos os processos psicológicos de que o povo
se serve prua a criação de centenas de a1cunbfls, que, aplicadas
por vezes na infância, acompanham 0::-; indivíduos até à velhice,
transmitindo-se aos Hlho~ e aderente!") e percorrendo gerações e
geraçôes.
- Outra tendência popular é () abandôno da terra que as
tradiçües colhidas denunciam, e que não vl!mos combatida se-
não por uma festa da árvore, instituição burocrática, sem raizes,
e absolutamente esteril. l~ doloroso ver as árvores plantadas hoje
à somhra dum ceremonial um tanto grotesco) sem carinho que
as rodeie amanhã, quando nào aparecem quebradas! ...
Enquanto O~ fogu-l!!-tes estol1ram~ as músicas e os hinos
atroam os ares,. e os carros se movem carreganclo símbolos às
vezes infelizes (já vi íigurar num cortejo um pipo com os dize~
res: Aqui VtlUle~SC 7 iuho), as matas; devastam~se Illetódicamente~
l

os rapazes que sabem ler procuram um emprêgo público, um


lugar nas fábricas, ou protecção que lhes permita emigrar,
Como conseqliências necessárias vão surgindo uma bajxa
na moralidade, a decadência da raça sob o ponto de vista físico,
e a ruína da agricultura, que os poderes públicos despre.zam,
colocando-a abaixo da indústria e do comércio _._. êrro que já vai
sendo expiado, embora ajnda se lhe nào descortinem tôdas as
consequências.
Restrigindo-me ii Literatura popular, devo dizer que as fá-
bricas a monomania do emprêgo público e a emigração exer~
1

c.em uma influência pemicioslssirna de que apresentarei bastan-


tes exemplos no decorrer dos meus trabalhos,
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO

Ensalmos
I. Para QS unheirQ!
Santa Luzia. A 'luem os tinha.
Três irmãs tinha: Em lOln'Of de S. Silv('strE',
Uma amassava, Tudo que te cu faço,
Outra massinhas fazia, Tudo te preste,
Outra talhava tmheiros ~osso Senhor é o yerdadeiro Mt'stn.'.
Pronuncia~se a fórmula nove (I") \'ezes. 1\0 fim de cada reza
deita-se um grão de trigo na água. Se aparecer o b'Tão com uma
bolhinha, é o unheiro 1'). efr. Dr. Leite de Vasconcelos. Ellsaios
Ethl1ogr., vol. III, pág. 202, n. r.
A doença talhada com o nome de u.nlu.'iro é () pferyp,io fé-
1WC, ou unha 1 indicado por Joaquim Jos(~ de Santa Anna nos Ele-
modos de cirul'gia oculal' (Lisboa, ~IDCLXXXX).

2. Para talhar uma dada (')


a) Bô home me deu POUS,H'Li, Vai·te emt.lora, dada.,
Má. mulher me fê-la cama, Foge-te desta mama.
Sôbre vides, stibre lama.

(') Sõhre lU celebrautU'1 'rirlndes do numerolllí'Vê, én('üntratn-/ie Nn Filinto NIÜll!.


palavras: _B pf'}~;lo qw 1Il'J(W em n1tfl1:l'I'o mal{W /15 AI"ICiW rio que 1M Jbl8IVf, rf<CA)/h,,;! II l'oélu (>
numero n6ilt', qlli' li symhQlú',I, fjW' é l'cr{ólQ {O(I1lH) wl1f(lonln doe frrs Vê':f8 j"f8, (' q~'" 1:ro,' lul ~.
uunlÚl IHI' üi.!ia.s EUypeUfS. "'" G-~laldaicIl8 rtl!'"""",,, follrl./J 11-01' virtude!! e Jl"nl~·içõ~@. ~ s.n-cta t.fm bem
p'JT illSo d~ bU8e It f.c;dos Q;'l mY<llt,..jJjB_ Obrr18, ,01. I, pag, 23-1, 11..(1 Hi) (erJ. dê lUH.·CCtXX\"I). ,,-
Dr_ Leit.(!, de Vasconcelos, t,.:m:_ ElhlH:'!W., \'01. HI, pitg. U~ (! !I~g-
(f) Cfr. Rev. LI/sil., vol. x .... n, PÓl;. 2b, e 1.Jr. Leite jle \'1l.~eoDc-e-l()s. E'III. Rihtl.ogr., "\""01
m, pág. :ZO-~_
-Na Cata.lunha usalO-s€< t:nsalm08 com formas par-e.cidas:
-1L'eucant-ement contra rilt(lor no os meu)"!! e8tra.mbótica:~

AI paradiw hi a tre81 damês;


l'una. fila, PaUra pIau1a,
l'altea deI botament gureix.

(Tanir nn bae-to BUg l'e!I'luena; de.I malait, i l!li d&rt'oera paraula al posar en tr:r;.·
ver!! per formau- la er-eu),

-Confra'is hum(»";!! freis: J el!lu~ éS mort,


AI camp deI bon Deu Jesn!! resucitat.
bi ha. tres ni.nêlt. QUtl la Santa Magestat i la SlLDta Trinital
L'una euseix, Gureixi uua LaIa. penuDa,
l'aUra fila, -com a.que8ta9 par.aulelJ
l'altr& les vive, guroHx. ijon la pura verit-at.
Jesús a@ nat,

V. .A1t(1l~ de L'AOCl'demia H Lab·l')f"al.ari dt ekm:i'l's MétiiqtUls rk C<1tal$1.ya - Any uté.


D.O -I-Abril de 1"\113.
~} err. Bert. LtUJU., voJ. X"Vll, pág. 24-, Eru. Efhnogr., vol. eH., pág. 200, Troei. Pop
de Port., pag, 203, e êste U"at.Hl.lho, cap. li, n .... 4.
RI!VISTA LUSITANA

b) Passa-se com à calça do homem, co", a fralda da camisa


já trazida, ou COm um pente em último caso, dizendo-se:
Bô 1tome pediu pousada,
Má mulher lhe fêz a cama
Sôbre vide, sObre grade, sôure lama.
Sai·te daqui Ô dada, desta mama!
j

Talha-se três Vezes e rezam-se Um Padre-Nosso e


uma Ave-Maria..
Explicaram-me as virtudes do ensalmo assim: "Uns pobres
foram pedir a uma casa. O homem (dono da casa) deixava-os
Ikar na barra. A mulher disse que não; deu-Ic (aos pobres) um
molho de vides. A mulher andava a cozer o pilo e deu·Te uma
dada. O !tome foi atrás dos pobres, e o Senhor (que era um de-
les) disse-Ie que dissesse ,aquelas palavras>.

3. Para talhar a erisipela (')


Pedro Paulo foi a Roma, E ervas do monte.,
lasu Cristo encontrou) Sal do mar
E êle le preguntou : E azeite de oliva.
-- Pedro Paulo, que vai lá? Pelo poder de Deus e da Virgem M<iria
- Morre muita gente E de S, Pedro e de S. Pa-ulo.
De ziPe'" (2) má )'JiJagroso S. Tiago,
-Vai p'ra lá Que tomes ao teu estado.
E talha-a com agua da fonte, ..
,
4. Para talhar o ruborado
o sempre~\'erdc foi criado, Para talhar o corrimento,
ás pés do Senhor baptizado, E a ziPela e o ruborado.

5· Para talhar o ar nas crianQa8

Mete-se lenha ou pruma no forno. A mãe segura a pá onde


se coloca a criança amparada por outra mulher que pregunta:
Tu que talhas?

Ao que a mãe responde:


Ar e vento
E tolhimento.

Em seguida tira-se a doente da pá e mete-se no fomo.

(II ctr. Em. EllmoZ,',. c.it., Y<J.1. lU, pj,g. 1113, 195 e 197.
(-') A minhA Informadora pronunciava & palavra oomo grave (lOntra 00 eottume
m:ais vulgar.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO

Repete-se a ceremónia duas vezes, terminando por se fazer


uma cruz em frente da porta do forno com a pá (').

6. Para talhar o bichoco

Lançam-se num pratinho três ramos pequenos de fundlO e


ao lado de cada ramo Ulna pedrinha de .sal. Dentro do prato
deita-se tambêm um pouco de úgua da fonte. A úgua do po~:o
não serve.
É melhor que a opera\~,10 s;,~ realize quando a criança estiver
no Lanho.
Toma-se uma pedrinha (le sal e um elOs, ramos, t\ passan~
do-se com êste em voHa do cm{'igo, diz-se:

Bichoco talhd Que não cresça,


Com fllncho e sal, Nt:m junte: o::; pé's com :1 (,.11('.;(\ (:1:).
Com água de pedr.:-t fn;dt'l.ll (:'!)f

Ditas estas palavras, bota-se fora o raminho e repete-se a


prática com os outros dois.
Deve talhar-se assim tn:.s vezes 1 ou entàu ulTla sú VCZ f mas
empregando-se nove raminhos e nove pedrinha::> de sal.

II

Medicina e cautelas supersticiosas

] -Se uma mulher grú\'ida puser a 111.:10, que tocou numa


tior, antes de a lavar, numa parte qualquer do corpo) a crianç'a
nascerá Com uma flor (na"lJus) pintada no sítio tocado.
A mulher grávida que pegar num haço de porco ou de ga-
linha, tocando com as mios sujas no corpo, fará Corn Ijue a
criança apare~,a com Laí'os (') pintados (S. Martinho de BOl1gado).
No Pôrto ouvi que nào era hom estarem as mulheres grávi-
das com gatos ao colo para que as crianç'as m10 nas~;alll com as
costas cheias de pêlo.
2-0s casos de [lolidactilia sào atribuídos pelo povo ao fa-
cto de a mãe do indivíduo deformado ter escarnecido dos vicios

(I) Clr. Dr. I.cite de VasoConc:elo;l, E1I8. E!-fmogr., vol. .!lI, fllig. 1\ffi ô 11)5, Ikv. L~8ít.,
yvl- XVlt, pág. 21 o 150, €o Alberto Pimentol, S',mt.o Thynw dlJ lliflll rJ'l\~r, Jlág. 21&
(li) Água corredia, expli-cou fi. talhadeira. err. Um,'. LW!j/., "o1. xV1I, pág. 29.
C') Junt&111l0 o bichoco os pés com II. eabfl~m., mornHIC.
ti) Os baços são rosetM "C!rmelba~. ("wci IJwterni) com fJuil naSOlJln algumu.R
crian~&8.

REv. LUSLT., vol. xrx) fa,'olC. 3-4.


24 2 REVISTA LUSITANA
------------
alheios, ou a pragas rogadas pelos inimigos ('). Na Póvoa de
Varzim é crença popular que as mulheres grávidas não devem
matar aves e atribuem-se casos de hiperdactilia à desobediência
a essa superstição (").
3 - Os tirsenses leem uma devoção especial por S. Bento-
devoção que nasceu do Mosteiro dos Beneditinos, cuja influên-
cia se nota nos costumes (v. g. feiras de S. Bento), e nos remé-
dios caseiros. Daí o acompanhar a Regra de S. Bento, como um
amuleto precioso l a maior parte daqueles que se ausentam da
vila.
Entre as muitas aplicaçu('s da Regra, nào é a menos impor*
tante o serviço prestado às parturientes.
Numa edição moderna, s. d., já gasta pelos muitos traba-
lhos sofridos nas mãos' dum meu conterraneo, lê-se a pág. 19: «:A
mesma Regra de S. Bento he terminante ,-,,,,edio para os partos
perigosos, tCJldo-se apertada tia mão} como o &"ttá dizendo foda a
ltalia, França, Hespauha, e o 110SS0 reino por experiencia bem
uotada .. , II

Em Viana aplicava-se a túnica de Fr. Bartolomeu dos Már-


tires às parturientes que 1 mal a vestiam 1 eram aliviadas (~).
Filinto refere-se à vela benta que se põe a arder quando
uma mulher está a parir (').
- TTatando~se de gravidez, parece-me interessante registar
aqui um costume de Ponte da Barca que me foi fornecido pelo
1

meu amigo) E. )'lachado Cruz 1 professor do Liceu de Braga:


Quando os filhos nascem mortos, e a mulher torna a ficar grá-
vida, vai postar-se numa ponte que separa dois concelhos (Pon-
te da Barca e Arcos de VaI de Vez); espera pela primeira pes-
soa que ali venha ter e pede-lhe que sirva de padrinho, bapti-
zando-se o filho na barriga da mãe.

tI) Dr. J. A. Pire~ di! Lima, PlJlidacti;io, pàg. 9, 2'9 EI;l1 :Pôrto, Ifr!*, Se-pal'ata
,los Ali., Scie-nt. da Fac. de Medic. do l'drto).'A pág. 2,') do mesrr, o traba.lho, oonta. o autot:
.-A miloê!, ('xentEl, como em rl!lgl"a e o povo do Minho, no pode? tflratog~nico daI:! praga8,
atribui o vício de {:onformao;ão do!'! seus tl.lhos ii:. seguinte frase que um dia. tev-ê II. le-
"iau.lI,lrle de pl'onundar: - TQdo9 os rap!i.J.es haviam de ser tlslllnaladns para não irem
pa.ra 801cllJ.do~ - Dai ê.m deanle todos os filnos ào sexo masculino lhe nasceram com
lIlll.Jforma\,ões nas milos ou nos pe!! .•. I.
Elfota. -ohllervaçAo foi coibida em S. Tia.go da Carrt'oin (Vila. Nova de Famlllicão).
t~) V. Dr. J. A. Piro(!>/I de Lima., Sfibre AI~GmaUa8 dDs Membros, pago 8 (Pôrto, BUS,
Sf'pilr. dos An. Scimt. cito, '1"01. m, n.'" 1).
II, pà,g. 001, (ed. dê 18S3).
(', rida de D. Fr. Bertol. dos ltl.arf_, vol.
A pag.300 do mesmo vo1. di:&-Be que (I acidente de eólitla se cura.va. com a mitra,
d-o santo, "o!tando a dor ... quando ao apro::tlw&V"ant os remédios da. boUoa. ctr. Re-v.
LfU'it.• voI. :1V1I, pág. 2-4, n.'" 86.
(.) O~ra8, '1'01. lU, P&s'. 19,
TRADIÇÕES POPUlARES DE SANTO TIRSO

o
meu inniio Dr. J. A. Pires de Lima colheu da mãe dum
rapaz aleijado) de Kespereira (Sinfães), outro remedia interes-
sante:
Aquela mulher teve sete filhos que lhe morreram tooos ao
nascer. Quando brravidou pela oíta\'a vez, resolveu-se a tassar
Pda 1mra do Pálio, Autorizada pelo abade da fH'gtlt'~ia, que ali:,:->
não acreditava na eficácia do 111t·todo! fêz () seguinte: !\um (lia
de fUJlriio r~ja! quando os padre~ est'::lYam debaixo do pálio,
atravessou por meio deles.
Dai a um mt~S~ h~\'e um filho, o ak'ijado, que Vlllg0t1 1 apesar
de nascer atravessado com os pt:'!' adeank. e o me~mo suce-
deu aos seguiptes.
A igual tratamento se sujeitou uma "jzlnba (ta informa-
dora l pessoa de ci.:limarüo, que perdeu tamht'~m oito liIhos a se-
guir. Acon~elharam-na a jm,.:;sar pela 1'111'r"1 do j,úlio. Como ti1.'t\\'Sr'
ftt10 de perlir autorizaç"to ao abade da sua freguesia, :-:ocorre.u-se
do pilTOCO de Ah'éll'enga (Iue a deixou realizar a Fr,hica aconse-
lhada ...
Daí em deante "lngoll todo,,> {IS tillws (I).
4-As dadas curalll-se, esfregando a mulher os peíto~ com
a fralda da camisa do homem (Areia~).
Em Dehles (concelho de Famalicão\ as mulheres que sofrem
daquela doença: ve:-;;tem com o detrás j>ara d(,({lIfr: a camísa dos
homens logo que este~ a tiram. Dízem que evita tambêm o
aparecimento dt~ dada:-:: o colocar atra\'essadas na cama da par-
turiente as calças do marido ('J.
S- A auguinlw do tU Tarado jmra o 1Jli'/llHO nâo correr o
fado nào eleve :-;er deitada na latrina ("'1).
6- A fl'nbiga de\'C ser deitada ao lume! porque. se um rato
a apanhaI as crianças :saem ladrôes (Trofa} C').
7-Quando uma criança nnda a cair de fl"(Hlueza (ougad,a,
ou a~'súIlL passam-se-lhe uma,s cal\'as por cima. O me~mo remédio
se aplica aos porcos (Areias). As calças sào empregadas vulgar-

(') Crr, Trad. Pop. dI:) Port., Jli~g. 20'2. v, Dr. J. A. l'ir(l~ de Lh'flB, SMfre alow1s
casos de HelllimeUa e de Ecrroduf'JtiUa, Idq('. 2, (Li!!h{)lt, S/Oparaia do \'01. lU, n," 1, dn
Archil'o de Anatomia e AnOlrojJok'Qía).
í:!) Esta informação foi colhiJl.rt 1'('\0 ln"" "r,
irmã-", ,1. A. Pirl'ls {Ie Lima, Cfr.
(".al'. I, n." "2.
(~j Cir. Ru'_ l.!/sil., \'01. XVII, IIÍlg . .30, () Alhérto riJII€'<ntel, Santo ThyrsD fIe Rib~
à'Ave, pág. 217. . .
(i) Nas l'rad, Pap, de Pur!" pag, 204, r(>gi1>~ou o ~nr. Dr. LllJtll rio "Q1H:(llle;,]Ol!l ,e.
seguinte sup-i'rgtiç·ão: «Nito e
bom dti:uu Ir."\'·!i.r aos !ratos B embiga \Sl(~) ou cordão uml>i"
JjcQ.l, porquê a cr('ança ficarâ llvita (I<~8ml\l.icãf)),".
A crença aqui agora r-égistada aproxima-!Hol 1Dsis de. compl\rllção "V1l1,g-s.r-ladrd9
como um rato.
244 REVISTA LUSITANA

mente como remédio, como pode ver-se do 11.° 4 dêste capitulo,


e das Trad. Pop. de Port., pág. 202.
8 - Quando um menino anda ougtJdo, isto é, arripiadinho,
doente, a desejar tudo, faz-se um bóio de crescente e deitam-se-
-lhe três pingas de azeite. Em seguida põe-se a gente atrás da
porta e dá-se o hãl" à criança, empregando-se as palavras:
Tonta lá ougado, fatta-te, e deita êsse ougamento fora (S.
Martinho de BOlIgado) (').
9--- Os primeiros dentes que arrancam ou caem às crian\--:as
devem ser lançados para cima do fon1o, Às criànças dá-se um
talo de couve, para elas coçarem as gengivas (Areias) (').
10 - () primeiro piolho catado na cal)eça dum menino deve
ser mortu dentro duma lata para que ês\e saia cantador (S. Mar-
tinho de Bougado) (").
II --O Jornal de ."anfo Thyrso, n.o 264, de 26 de Maio de
1887, noticia uma festa ao Espirito Santo: «Festeja-se o Espirito
Santo no proximo Domingo n\lma capel1a que existe no logar
ela Trofa, freg-llezia de S. Thiago de Búugado) d'este concelho,
havendo mis::;a cantada) sermão 1 etc. A e~ta festividade concor~
rem centellarcs de crean~'as, muitas ao colo das màes para se-
rem coroa cLu:;; , A coroação consiste em se collocar sol)rE'; a cabe-
ça dos meninos a coroa symllOlica do Espirito Santo, depois de
terem dado tres voltas em redor da capella i e livra) segundo
uma cren~:a popular muito arreigada, de serem atacadas de gota
as creanças que mamaram quando das mães bebiam} o que se
julga ser causa d'aquel1a motestia (1):0.
A mesma ceremónia se realiza hoje, não sô em S. Tiago de
Bougado , CGmo na capela da Senhora das Dores (S. l\lartinho
de Bougado)j e cm Fradelos (Famalicáo). Informaram-me que as
voltas em redor da capela eran1 nove, entrando, no fim de cada
uma) a criança dentro para beijar a coroa.

{') efr.Trila. Pop. de ['OTt., pág. 2M, e Rec. LusU., \'01. Xl'!!, Vág. 32, n,o 19.
(~efr. Trad. 1'01'. de J'ort., l1â.g. 2U5 C! Ejls. lWl1Iogr., ,'-l'1. llI, p:'4;'. 2'23.
(8) err. Hev. LlIsit, "oI. XVII, J1Rg, :.11, n.o lf!, (; Tra/t. l'op. d~ Porl, , púg:. 139. V[··,..e
(Iue o PO\'o ill\'ont.ou la. cCo!'cll1úuia, nflíwcianJo o esl.alido da morte do piolho à voz das
crllu\~':a.s.

(I) C'fr, lo.lherio Pim('nleJ, Saflto Thllrso de Riba li'Avof, I){Jg. 219, Ret!. Lusit., vol.
1\'11, p:'Jg, 31, lL{I H, o Tron. l'oP. de POf"t" pag. 203,
Na. diduí'iiQ da Prodigiosa 1<iavf'gaçam da NaQ d~(l1fu,da S. Pedro e S. JOtlJJl ..
undi> 8(; dã. conta da e:prodt.früo iIe todas 08 CObHl8 e 8erpe1J.ies~ IBis!. Trag. Marit.), relo-
I'íllrlo_sf:'l A fiu'm,t,,!a, ~eol:.lra na llpare-ncia dofl lagarto~ diz o autor:
...sondo n. Nua p"I!(I, m-edidnal para a 61lil-epr>ia, COlllO quem lIIal.H) <este remediu at~
de\'ora n. 51ua ml:'laIDll pene, para não ficar -eSSE! .seu rNllf',dio na têl'l'a:>.
A Arte de Fudar, ('ap, I.XIII, pago Mi (ed. de uuccxut') fala nuns cra\·o.s de fê.l'*
r .. dura de certo cal'alo existente no Crato, aproveitados para. 8lleis que .. crão remedio
pres(!ntil:isímo contra gota a.rtética.:t,
------
tRADIÇÔES POPULARES DE SANTO TIRSO 245

A coroa existente na capela da Senhora das Dores, Oft~Te·


cida por um mordomo) é de prata e tem no cimo nIna pom bin ha.
Em S. ~'lartinho de Bougado costumam coroar tôclas as
crianças, porque quási ningu~'m pode evitar as múltiplas causas
da gota: atravessar por debaixo da mesa, quando se c:-;1;.\ a co-
mer; passar por cima da n){'s<l ondl..' t' costume tomar as n.~fei­
ções) ir dum colo para outro por cima do lume, etc. (S, Marti-
nho de Bougado).
12-Era incompleta a notícia s()bre a ('ura dos rendidos, re-
gistada a pág. 32, n.n 30) \'01. XVII desta J(n'lsla. A pr;ttica t' a
seguinte:
Na noite de S. João aLre-se num carvalho c('rqllil1bo lIma
fenda por onde possa caber urna crian\':l. Dn'(' opprar-sp com
todo O cuidado, evitando-se que o carvalh{) abra nos dois (~xtrf··
mos da fenda, que :-ie descasque a ÚrVOH\ ou qualqner e~mllr­
mdela.
Ao dar a mela noite) ('ü}o('am-se dum f~ doutro lado os pa-
drinhos da criança rendida. O padrinho, ;)0 mesmo tem po que
passa o menino pela fenda para as tnJos da llwdrinh.J, diz:
Aceite, senhora comadre, E o milagroso S. Jo<\O
Í!:ste nosso oafilh:ldo, No.> f"p t:stc mílag:rc;
Que nasceu silo O carvaUw "'á soldando,
E é quebrado; E o menino V:l silr:mc!u.
Passemo-lo pelo carvalho)
A madrinha aceita a criança) e entrega-a de novo ao pa-
drinho, repetindo a mesma oraçào.
Volta o padrinho a passú-Ia através da fenda com o mesmo
aparato e a mad.rinha a seguir despe o doC':ntc, vestindo-lhe a
1

roupa melhor.
Entretanto os outros aSsIstentes apertam nlidadosampnte ()
carvalho com vimes, juntando os dois lados da fenda pelos bor-
dos, chegam à ferida barro amassado como se se tratas!-1.C de um
enxêrto e CErcam-na com a roupa velha tirada ú criança.
A junção deve fazer-se com a máxima cautda) pois, secan~
do o carvalho, o menino ntio sara.
No fim da ceremónja t! costume haver uma fel:lta e um Lan~
quete (Monte Córdova) (I).
13-0s rapazes, depois de comerem laranjas) e não quc~

(1) F'ol'neci 1'>sta. infomlllÇ!ã.o ao Jmr. Dr, Claudio Ih.!!t.tl qu,", Il a.prúvêitou num tt'a~
halbo muito importante e c-omplet>o sôbre 11u-ebradura1l, o qual foi publieauo na Terra
p()rtuguesa, u.o 3 (Abril de 191ó). erro Trad, Pop, de Port., pág. 112.
REVISTA LUSITANA

rendo cheirar a elas, costumam respirar junto duma parede caia.


da de fresco. A cal absorve o cheiro (Areias).
14-- Tendo entrado uma cobra na bôca dum rapaz, êste foÍ
à Senhora da Abadia com quem se apegou, e a cobra saiu (I).
As cobras perdem o veneno) se nós as virmos primeiro que
elas nos vejam (Areias) (').
15 - Produzia a c-ólera grandes estragos e~ Toulon e Marse·
lha, quando o Jornal de Santo Thyrso, n.O !IS, de 17 de Julho
de 1884, publicou a seguinte informação:
(( A ultima vez que o cholera invadiu este concelho, os fa-
cultativos que então eX1:stiarn aplicavam as seguintes receitas:
R.o. Misturam-se bem 3 colheres de mel e 3 colheres de \'i~
nagre bom, qne se juntam a uma liura de chá de salva} flor de
sabugueiro e folhas de larangeira. Esta lnü,tura toma-se quente
e é para fazer suar; mas deve usar-se da sangria antes se for
possiveI, e se não poder usar-se por causa do ffio r sangre~se o
doente logo que elle aqueça. O mais tratamento consiste só em
caldos de frangos nos primeiros dias. Tendo o doente secura,
usa-se de cosimento de cevada e grama, quatro vezes por dia,
um quarteirão cada vez. Quando são necessafias as fricçôes para
aquecer o corpo 00 doente, terno-nos dado bem dando-as com
vinagre quente bom.
Outra. R.'~-Logo que o doente s~ja atacado, deve-se-lhe
dar continuadas fricçües da cinta até aos pés, quando se sente
que arrefeceIn, e lançam-se~lhe synapismos nos pés e nas barri-
gas das pernas, quer se sangre ou não; mas podendo ser a san-
gria primeiro melhor. Tambem é muito util dar-sc-Ihe uma por-
ção de azeite bom com vinagre forte se o poder beber, pois 1

todo o ponto é conservar-se-Ihe o calor.


Elias ahi vão, sem que possamos dar grande credito ao seu
poder henefico, com quanto se ruga d'ellas que operaram excel-
lentes milagres'.
-O terror, de que se deixou apossar o povo quando a epi-
demia começou fazendo grandes estragos na Espanha, deu ori-
gem a procissões de penitência que tomarmll um carácter im·

1') CIr. llev. Lusit., vol. X"I1, pág. :3.3, n.t>. 28 oe, 29.
(') ..... bem cl)"mo (J basHiaco (dia Si.'WJ Ambrom:of S6 primeyro 'IUl visto do homem,
do QUI'! () ~'a, perd.e fi elftcncia do Sef, venelw, e não (I mata. Bem. Eurc. &pint., ".01. I,
pAgo ".u (ed. de 17OS}. ctt. B-fW. Lustt., v. 1:\'.0, pág. 185.
Lê-so nas }JetamorphoSfl:S, versão dê Castilho, pag. 29-4: INQl1lW, WI8 BUIlB DüJnll-
siaca,s, nol-fl8 dá (às Baeantae) por Mo tfirOina~. que por ~autelm' (l-8Baltos t!ntre fJ M-r-
mir, fM abraçavãD de hmna cobra viva •.
TRADIÇÕES POPUl.ARES DE SANTO TIRSO 247

press.ionante. Eis a descrição de uma, feita pelo i!iJornal de Sal1to


7"y,.80> , n.o 170, de 6 de Agosto de IB85:
A seguir às preces habituais realizada~ em Ribeirão, saiu o
cortejo para o Senhor des Perdões na Terra Negra cm qlle to IX w

maram parte as eonfrarias d'aquella freguezia da de LOl1sac1o) 1

Esmeriz, S. Julião do Calenclario. Fraclellos, S Thiago de Hou-


gado e S. 1Iartinho de Boug-ado (I). A procissão ]e\'ava sete an-
dores armados de preto) ha\Oendo um sermão â sahida, outro no
referido logar da Terra Negra, e ainda outro ú entrada. {) pres-
tito era imponente; cornpunha-se de mai~ de 3:0C)() pessoas ves-
tidas de rigoroso lucto e a maior parte descalças, não havendo
a menor desordem no trajecto da procl.'i,;tlo'o.
No n,o 173 descreve o meslno semanário outra procissJ.o ele
penitência (S, Thiago de Bougado) em que f'C ellCOl'pOraram
3 andores, 13 confrarias e 5:000 pessoas * não se dando o me-
nor incidente desagradaveh.
A nota final é significativa) porque raros eram os ajunta-
mentos (romarias) etc.} em que nào houvesse alguma desordem.
Os conflitos surgem ainda hoje, meS,plO nos enterros, por causa
da precedência exigida por certas confrarias.
16 - Para queimar os CI'a1'OS (verrugas cut.'ineas) é costume
dissolver beijos do mar em sumo de limão, aplicando-se depois
o soluto sôbre a excrecência (Areias).
17 -Para as bexigas não pas.sarem para a garganta dos
doentes, é bom colocar-lhes ao pescoço um cordão de Oiro
(Areias) e).
18 - A espinhela caída é uma fraqueza muito grande. Cu-
ra-se com o emplastro, chamado de espinhei a) na Lt;ca lIo estô~
mago (S. Martinlfo de Bougado) ('I).
I9- A queles que sofrem de fastio apegam-se com S. Cris~
tóvão (Freguesia de Cabeçudos - Famalicão) e levam-lhe um
molete. A devoção deu origem a uma quadra chocarreira, Hnl-
tando as canções que costumam ouvir-se às romeiras:
Menina, se tem fastio, Sen1io apegue-se a mim,
Apegue-se a S. OristO'lJo; Qu'eu ao pé do Santo mofO,
(Areias,.

(I) As quatro prim.eira!l freguesias, lI.!'!sim como ;[l Te.rra. Negra, pertencem fW
ooncaJ.bo d-e Fllmllliclio-, 118 duas ultimas 11,0 dt> Sa.ntv 'l'irso. crI'. Rltv. Lusit., v. :l"\'fU, pago
:wa, n,o fO,
r) v, Dr. Cláudio Ba.sto, Medicíl'l4 Popular ~BewifJM" pág. 9 (SepMllfa do n." I do
cPr>rlugal Médico)., .
(8) Ã,a pêsSOaiJ rraC8.R ~O!'l.t.umllm tambêm ir 1108 mlltadoíros be.ber o sanguê ainda,
qU-enté dOI! anim&is mortos (Santo Tirso)_ V. DI', Cláu,lio Buto, Medicino J'opma1' ~E8'
pinhda caída., pago, , (Viana do Cutelo, 19I:fi).
REVISTA LUSITANA

20- O funcho deita-se nas barrelas, com o umco fim, se-


gundo me informaram, de perfumar as roupas (Areias).
Nas EPanaPhoras de D. Francisco Manuel de Mello, pág. 331
(ed. de 1660), encontra-se uma referência às virtudes daquela
planta:
Funchal, de funcho «medicinal erva, até para as serpentes;
das qllaes se escre/ve, não pádem sem esta mesinha 11Utdar a pelle
antiga CQ1n que se remoçüo~' ij a ser concedida pm;a os hom.cs,
fora de singular preço •.
21 - Alêm das teias de aranha a que me referi (pâg. 33, n."
3J I voI. XVII desta Revista), colocam-se sôore as feridas para es-
tancar o sangue resina e açúcar mascavado (Areias) (1).
Os pedreiros colocam sóbre as pisaduras gerbão com ovo;
êste remédio 'tira o sangue pisado e apressa a cura (Areias)_
Deve untar-se o lngar da pisadura ou fractnra com um cozi-
mento) em vinho branco, de fôlha de cana, maçãs de aciprestc,
e murtinhos (S. Martinho de Bougado).
Sõure o sítio donde se extrai um prego deitam-se com uma
palheira gotas de água a ferver (S. Martinho de Bongado) (2).
A nrina que se aplica nas feridas não deve ser a primeira
que sai ("). Emprega-se tambêm a urina com bons resultados
para curar as doenças do estômago, e o meu infonnador indicou
uma pessoa muito conhecida que se restabeleceu usando de tal
processo (Areias). Sôbre a cura duma ,chaga pertinaz e corru-
pta» pela urina podem ver-se os Arquit'os de Historia de Medi-
c".a PmtugueBa, 1913, pág. 189.
Há quem use para tratar umas certas feridas de ôleo de
sapo (Areias) (4)_
22 - Apontam-se casos de loucura pro"oca~os pelo facto de
se dormir depois de tOlJ1{,do um purgante (Areias).
Bebe o juizo aquele que beber com uma luz na mão (S. Mar-
tinho de Bougado) (6).

(!) ctr. Gahriêle d'AnDunzio-La fiUe de Joriot traduiU!< plU' G60rgee Hê.rClUe (Pa.
ris, Calman Levl'). pago 78: .La pr.cmidre {oia, je me roupa-i la f'cimo, lá. DU t:d !a marq1lt.
A~ des (euillu broy&$ 1m éturtclta lI! cang qui eou1ait.. A pág. 187 da. mesma obra vê.-se o
l1omêntârio: .Les (e.ÜJf'$ qn'oem broie VOO'- arr~kr le sang deB ble$8iU'M 8O/'It celles de rerlm
mora. (morf'lif noirr?) et de la rOO(:e'.
t~ Cfr. IÍfW Lusil. 1 vo1. svrr, pago &4, n,o 3-9. PoJAeira, t. dado como Pro". TraBm. DO
l;(JfN) DiciotI. É eorrtlnte no Minho.. A definiçAo do Nf)VD DWjQIII., confrontada -com a de
Víll'tÍft, e mi, pois léva.r·nos·ia a eonclulr que 008 rapazes introduzem n:EUil covas dOi!
grilos ... molhos dê palha. par:a. 08 fazer sair.
(') Ofr. &v. I~usit., vol, X1TH, pág. s:J., n.O ao.
(4) o ó1M obt&mM86 fe-rvendo os sa.po.!! numa panela.. Orr. Ca.mUo, O &gicid(r, pág.
230 (LiSboa.. 18'N).
{~j Vid. Rev. Lusit, voI. xvn f pa.g. ~ n. 46, .r;. Troo. Pop. fk Prwt., pàg. U.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO l49

-A raspa da unha ou de chapéu, deitada no vinho, tira ()


juizo. Por ingerir es~a raspa foi um homem sacramentado há
tempos; outro apostou em como era capaz de faztr andar à nula
a cabeçll dw-n home que tilinta se tinha cmbf'bedado, e venceu a
aposta empregando aquela droga (Areia,).
23 -Das crenças populares sôbre os cà(~s danados, a maior
parte das quais registadas pelo ,m. Dr. Cláudio 13a,to (Medieina
Popu.lar <lRaf.·~!a'll, Sejmra!u do n.O 4 do «Portuf.[tll Jlfédi(o.) en-
contrei na minha terra as seguintes:
Os cães danam~se com o calor demasiado, fome, s('"ide p
vento soão. Depois de danados, n~io mordem no clono, se tiverem
dois presunhos j fogem de casa e VOlt3.111 passados três dias.
Os cães das primeiras ninhadas danam-se quási todos.
Na sua fúria correm desesperadamente com a cauda entre
as pernas e a bôca cheia de espuma; teem horror à úg-ua p não
podem saltar, livrando-se a gente deles desue que suha a uma
parede.
As pessoas danadas mordem 1 impedindo qne algntlH ddas
se aproxIme.
-O santo, advogado contra os cães danados, .' S. Romão (').
- A pág. 5 do trabalho do snr. Dr. Cláudio Basto transcreve-
~se um passo da PolyaHthea Medicinal de Curvo Semedo em que
se fala na <Safim (que) faz exilalar n """CitO dos bUI!OCIIS, C fu-
mores pcstile,,!es',
Numa transcrição da obra 1. 'Jude de.\' Rajahs por Louis
Rousselet li que os índios pretendem extrair a peçonha trans-
mitida pe1al!fmordedura das serpentes com uma pedra ou ússo
calcinado.
Muitos mordidos) pertencentes aos concelhos de Santo Tirso
e Famalicão, acorrp-ratn durante alguns anos a LOl1sado (dêste
último concelho) a pedir que lhe aplicassem umas célehres
pedras.
Tratei de averiguar que pedras seriaIn essas, e um parente
do indivíduo que as possuiu) homem muito inteligente e ilustra·
do, e 1 não obstante, crente em absoluto na eficácia da aplica\~ão,
narrOu-me o seguinte:
As pedras eram quatro, de um negro azeviclw, ohlongas, de
IS a 30 milímetros de comprimento, e, apesar de brilhantes, pi-
cadas de sinuosidades, que lhe davam a aparência de pcdra
pomes. Foi um brasileiro que as trouxe do Brasil, dando-as a

(I) V. Rel!, Lusit. vol. :nIJI, pág, 186.


REVISí A UJS!TANA

um indivíduo de Lousado, e acompanhando a oferta das neces-


sárias instruções. Contava o brasileiro que elas tinham sido ex-
traídas pelos indígenas do Alto Brasil da cabeça duma serpente,
c que eram eficazes na absorção do veneno das víboras e do
vírus da raiva.
Na vida do donatário as pedras só foram aplicadas a pes-
soas de família e amigos. Mas, morto aquele, e sucedendo-lhe
um filho, a fama estendeu-se ao longe, acudindo aLousado
muitos mordidos de víboras, e prindpalmente de cães raivosos
-aftuência que aumentava sempre no mês de Agôsto. O possui-
dor das pedras e os filhos começaram a aplicá-las com certa re-
lutância, mas por fim usavam de caridade para com todos, nunca
exigindo paga, e às vezes auxiliando até os mais pobres. Conta-
va~se na familia que, no país só havia mais duas pedras iguais:
j

uma em Lisboa e outra em Alcobaça.


Modo de aplicação:
Colocava-se a pedra ,ôpre a ferida do paciente, depois de
avivada esta com uma lancêta. Passada uma hora, se a pedra
não aderia aos bordos da ferida, era sinal de que não houvera
contágio. Se, pelo contrário, ela ia aderindo, insinuando-se nos
tecidos lesados, e tomando uma, côr láctea, a infecção era certa.
Neste caso, mantinha~se a pedra, até que, saturada, caía.
Durante a operação os lábios da ferida descoravam, e o
paciente mantinha-se numa sonolência profunda.
Terminados os trabalhos, levantavam-se as pedras cautelo·
samente, isolando-se' com algodão por exemplo, e lançavam-se
sucessivamente em leite e cinza. •
Na casa da Serra-onde estavam as pedras e se aplicavam
-talvez por falta de cuidado com o leite e com a cinza, dana-
ram-se três cevados e todos os cães de guarda que se iam arran-
jando.
O próprio dono das pedras fêz a experiência em coelhos,
danando-se todos (').
O tempo de prova era de um ano e um dia, e, findo êsse
prazo, quási todos os tratados davam novas, não constando que
nenhum - e foram numerosos os que se sujeitaram às pedras-
sucumbisse de raiva.
Entre os curados contam· se o conde de S. Bento, um me·
nino com um braço esfacelado por um cão raivoso, a quem o

(I) ]nrorma~o dum tio do nêgociante a quem foram apreendída.s .&8 pedras no
POrto, 8 que, já depois d& é8Cl'ito êste artigo, ma afirmou 111 aua crença absolllta na.
virtude d&8 pMrat.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO
--~

distinto médico Dr. Pedrosa, amigo de Camilo, aconselhou


aquele tratamento.
Ficando com as pedras um negociante do PiJI"to) apilcou~as
uma vez a uma senhora) portadora duma inff':ct;ào grads.sin1:a, e
já desenganada por um m(:,'dico, qU{\ ao vê-la curada, qllj~ com~
prá-Ias por um preço elevado qlle o proprietário H'CUS\H1. Daí
uma denúncia (' a aprecns.1u das pedras cujo destino se ignora.
Como se vê da narra\~àol resumida fielrnentc: a crença na
virtude das pedras era absuluta e ntw admira que a fama se ("S~
palhasse, porque o povo att:' se fhl\:a em simples benlt~dllras e)
e acudia a ConstautÍm (V. Ria!'! a visitar a santa calnya (:!): A
percentagem dos raivosos, mesln<.) mordidos por c~\es atacados
de raiva! é pequena; muitas vezes os cúe:-; SelO falsamente con.~
siderados Com a doença; outras! aplica~se mu ito a tempo o ferro
em brasa e a lancêta; sujeitam~se a tratamento us qu~ comem
carne de animais supostos com raiva, etc.
Dai a fama nos milagre ...; do rell1~dio) que de r['-""to é de.sills~
trada por alguns casos que descobri:
Em 188,2 um rapaz de Areias, para salvar uma irm.à, lança-
-se contra um cào danado e segura-o até que acode gente e o
mata. Pois êsse herói obscuro) hoje e~quecidol morreu pouco
tempo depois apesar de ser tratado com as pedras, comu noti~
ciou o It.Jornal de S'anto T"yrsoJt 11.° 28, de 16 de Novembro de
1882.
No mesmo semanáÃo, n.O 33, de 2 I de Dezembro de 1882)
lê~se que morreu hidrófobo um homern que se tinha tratado
com as pedras, aplicando tambêm outros medícamcntos.
- Desaparecidas as pedras) começou a e:-:palhar-se a fama
dum remédio antigo que se considerava , como conhecido .
em
Santo Tirso desde 171.)6. Os devotos das pedras pertenclam aos
concelhos vizinhos; os veneradores do outro especifico vieram
de todos os concelhos do Douro o Minho, a ponto de já em
1886 afirmar o 'Jornal de Sauto Th)'yso" (n. ú 2 I 5, de 17 de Ju-
nho) que nos últimos dez anos se tinham curado 403 pessoas.
Os médicos, advogados, farmacêuticos, presidente da câma-
ra, administrador do concelho, enfim, tôdas as pessoas mais
ilustradas do concelho sào unânimes em proclamar as virtudes
do remédio das Senhoras Ricardas, considerando-o como infalí-
vel. O -Jornal de S,mto Thyrso> pede a puhlicação da fórmula,

(lJ V. Trad. Pop. de Por/., pâ,g. 13!.


ei V. Rtw. L"N, vo1. 1\'HI, pág. IH6, IL" 2, e '2U.
REVIsr A LUSlT ANA

considera-o a par ou superior à vaciua de Pasteur (n."' 205, de


8 de Abril de 1886, e 127, de 9 de Outubro de 1884).
Médicos dos concelhos próximos, O .Jornal de l'.'oficias' , °
~Corre-io da A-fanluh, «O Dia» e «O Futuro»- chegam a censu-
rar o govêrno por fundar um lnstitnto l::)asteur, dando ao des~
prêzo um remédio nacional, de efeitos sobejamente reconhe~
cidos.
A interessantíssima questão pode h~r~se 110 opúsculo - Cura
da Raú'a pelo Remedia preparado pela ràmília Sousa de Santo
Thyrso (Santo Thyrso, 1893).
De 1886 a 1892 foram tratadas pela familia Sousa 255 pes-
soas e II animais. Segundo () mesmo opúsculo todos se teriam
salvado à excepção de um homem que tomou o remédio apenas
uma vez e se retirou logo.
O sm. Dr. Ricardo Jorge zombou muito do reméclio das Se-
nhoras Ricanlas, suas dl1ustrcs hOlllonimas tirante o :;;:;exo» nos
Ensaios Scúnfi!U'os e Crüicos, pág. 178 (Porto, 1886).
Não oustante as afinnações do opúsculo citado 1 feitas de
resto na melhor bôa fé por cert() (pois não me consta que a fa-
mília Sousa procedesse movida pela ganância), e a crença das
pessoas mais ilustradas da terra e do povo, o certo é que algu-
mas pessoas tratadas morreram de raiva.
A pág. 16 da f:Cura da Rai1'a .. " " cita~se urn homem de Baião
mordido nas mãos e numa coxa. Pois l':sse hom.em morreu hidrô-
fobo cinco meses após o tratamento, como se pode ver da cor-
respondência de Baião de 4 de Mar"o, publicada no .Com11ler-
cio do Porlo, de 8 do mesmo mês.
Mas qual seria o remédio, hoje quási completamente esque-
cido (vicissitude muito freqi"ite das glórias humanas ... )?
O sm. Alberto Pimentel (Santo T!tyrso de Riba d'Ave, pág.
210), considerando a fórmula das Senhoras Ricardas como efi-
caz, antes de declarada a cloença, julga que a receita é a mes-
ma que Frei Luís de Barros, último boticário do mosteiro dos Be-
neditinos, ensinou ao seu discípulo António José Machado do
Vale. A fórmula de Frei Luis era a seguinte:
«Toma-se a raiz de silvão branco, que se encontra nos com·
bros perto dos ribeiros, é como roseira, e (P esta raiz, sendo
grossa, tira-se um pedaço do tamanho cl'uma mão travessa (deve
regular por um decimetro). Pisa-se bem e depois junta-se: Rama
de salva. .. dois manipulos; rama de arruda, id.; margaça, id.;
sal... um manipulo; alhos... tres cabeças; escorcioueira ...
tres oitavas; raiz de terraxaco - .. duas a tres raizes.
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 253

Pisa~se tudo muito bem em almofariz ou tigella, e deita~se~


lhe em cima Hill quarteir;\o de vinho branco, e na falta d'este
pode substituir-se por vinho tinto. Depois ele tudo hem mexido,
espuma·se dentro d'um pucaro e dá-se a beher ao doente toda
esta porção em jejum, nove manhàs seguidas, não se comendo
sem passar duas horas. O remedi<\ f'endo para cües (lU porcos,
dá-se em leite no Jogar de vinho. Havcndo feridas, avi\'am-se e
applicam-se sollre estas as hervas espremida~) que ~e deixam
estar 24 hora;:;:j renov.and()-st~ esta nper<lsào todos os dias qne se
fizer e t0111ar () fe!1leclio. ,.
O snr. Alherto Pimentel , tirou, seguIH10 creio, a receita tio
«]ornal de Santo Thyr,'l'o} n,o 1 de IX;S2) embora nüo declare
donde ela foi copiada.
A crcl1(,.'a na idcnilchde das fónTlula~., deriva de três circuns·
tàncias: La FI. Luís de B.1rn)s viveu como i."/..!re:.:so e faleceu
em casa du pai das :-:.enhoras Ricanlas i 2. 0 a apliGH,'üo dos re·
médios é a mec:,rna., 3." \ a,.:, propriedad{>:'l physicas do remediu por
esta.'" (Senhora-s Ricarda~) emlJTegat!o, são idi-nticas ,'tS da for·
mula acÍm<l transcripta'.
Os argumentoc; n:lo parecem declslvos. Em primeiro lugar,
s{'ndo o renH~di() antigo e pertencendo a fl'~nnllla ans rrade:" era
natural que esta viesse regi:,;tada na Pharmacopúl dogma tira
medi(o-chimica .. do P. Fr. J0[lo de Je:-;us 1\huia, monge to. admi·
ni:-;trador da 1"otlca do ~1nsteiro de Santo Tllyrso (Porto)
MDCCLX,XII)l e não se encontra h't. E, se a i ])!wrmaCU!'C('{k não a
publicava para que o se-g:r('do se n;lO C:3palha:-;sc não iria Fr. 1

Luis ele Barros clesvclHU-la a v~'iria~ pe:-;soas. Núo se prova tam-


hêm que Fr. Luís de Barru:;;, tran~miti:-;~e a fúnllula l'uIJlicac1a.
Quanto ao modo de aplic<lr.::w\ deve notah'ie fIlie o avivar
das feridas se aconselha cm ,,:trios processos de atrtamento dos
mordidos.
Em Santo Tirso sào conllecida~ três receitas em qne se em·
pregam os mesmo", el{,Il1{~ntos em doses diver:-;a::..
De resto a familia Sow:::.a nega terminantemente (jlW o remé-
dio seja felto segundo as fórmulas puhli('ada~l e recusa-se a re-
velar o segn?:do, com.:iderandcH) como um património a legar aos
descendentes.
Salgado de Andrade (I) revela que: o rcnH~djo ~ foi experi-
{'i Li{:c:irn ronfrUmi(âo pnru o c,~tllflv ~ifl rai~tI rm Portllgal. T"f'<O (ln I'tlrlo ([901).
E~t:t. obra jnt('rC's~antr; {~OIlt\~IJl fonll'llaH (wpitulus de alltor(,m ulllig(l!!, dln, UIJla.
pedra (Jegra (;xistente Clll'l .Matol',inh')!I, o dento de S. Ftutu()sO di! Au-oím {'ila. Verde),
o dente sunto de Bouro e Illuit{)s fefllé"liOl!l IIO!ll.!lilré.q,
(Informação de meu irm$to Dr. J. A. l'i.res doa Lima).
254 REVISTA LUSITANA

mentado pelo ilustre director do Instituto Bacteriologico de Lis-


boa, que chegou à conclusão que poderiam escapar as testemu-
nhas, mas nunca os cães inoculados e tratados pelo remedia
Sousa!~
- f: tradição vulgar que os alhos realizam Curas m11agrosas.
Contaram a meu pai, há muitos anos~ em Vila de Conde) que foi
metido um cão raivoso num quarto onde havia alhos. O animal
atirou-se a êles com fúria e passados poucos dias~ começou a
1

alimentar-se, salvando-se.
Pela mesma época procuravam os doentes de Viana do
1

Castelo um dente santo existente em Aboim, corn o clua1 se


benzia pão para distribuir pelos mordidos de cão danado.
24 - O pallo do rosto desapareceI aplicando-se o mênstrtlO
(Santo Tirso).
25 - No vol. XV!!, pág. 35 da Re'/'. Lu"it., falei na cura duma
doença do figado pelos agriües. Meu irmão, Dr. J. A. Pires
de Lima, mostrou-me um caso similhante em Francisco da Fon~
seca Henriques, Ancora Medicillal, pág. 279 (Lisboa, 1731).
A diferença consiste em referir-se a Ancora J/edicinal a um
caso de tisica! em que os pulmões se reconstituiram pela acção
daquela planta.
26 - Para curar o teso-rclllO, põe-se na nuca dos doentes o
jugo dos bois ainda quente (Areias) (').
2i-Quando os veados iam beber com o gado em água
estagnada! metiam os chifres na água, ahscrvcndo assim todo o
"eI!enu. O gado podia depois beber à vontade (Areias).
(efr. Trad. Pop. de Porl., pág. 196).
28 - As ferroadas da vespa ou abelha curam-se, colocando
sôbre a parte ofendida uma faca de aço~ ou esprelnendo em
cima uvas brancas ainda verdes (Areias) (').
29 - Para tirar os argueiros dos olhos usam-se pedras lisas,
apanhadas nas praias (Areias (').
30-0 gato, para anular a peçonha das víboras (Rev. Lusit.,
vol. X'-II, pág. 33), deve ser preto. Quando se mata um 1'ibrão,
guarda-se a cabeça, que se aplica depois às mordeduras (S. Mar-
tinho de Bougado) (4).
3 I - Para se tirar o gôgo às galinhas, procura-se unla veia

('I efr. Irad. Pop. de Pr.11'l., pAgo J~7.


(~) Cfr. Cast. FalItolJ, vol., 2, pàg. 8'1' tl 317.
(") Crr. Ens. Ethnogr., voL m, pé.g. 216.
(') err. .DT. Cláudio Ba.m-Medl(. PQP. cRaiva~, pág . ., fi 5,
TRADIÇOES POPULARES DE SANTO TIRSO '55

escura debaixo da asa, fura-se e espreme-se, O resultado e ga-


rantido (Areias),
32 - As pombas não fogem, queimando-se incenso no pom-
bal (S, Simão de Navais, FamaliCão) ("),
33 - É dito proverbial: Está domlc de mal 'l"e se não sen-
te. .. Aplica-se o dito) quando :o;e não acredita na doença) ou
por simples gracejo,
34-Prolongando-se a doença de alguêm (só crianças?)
muito tempo sem que se decida a situação) \'ai-se buscar a Pom-
beiro erva de Santa Leocádia e ferve-se em ágil",
Com a água do cozimento Java-se o doente que 1I10rre ou
sara logo ~conforme o que tinha de suceder",

III

Amuletos e agouros

I -Quando se vaí para a feira 1 pede-se a Deus bôa sorte


nas vendas a fazer. A fim de se des\·iar a i111}é:iidadc pega-se j

num bocado de trovisco e mete-Be no bôlso. Antigamente as


galinbeiras levavam um ramo daquela planta na ccsta (Areias) ('),
2 - Para evitar cousa rzÚ11l\ coloca-se ao pescoço das crian-
ças e atê de pessoas grandes uma saquinha com uma alha {isto
é, um alho com uma só cabeça)) ou com um alho porro. Tam-
bêm pode servir um objecto de aço (Areias) (:1),
3-Muitos usam ao pesco\,o uma rel'a dc metal com ()
S. Solimã.o (Sino-Sai mão),
*4-0s corl1OS de vaca-loura são arrancados para com êles
se fazerem objectos de adômo (Areias) ('),
5 - Como já ficou registado no capítulo antecedente, a Re-
gra de S. Bmto acompanha muitos tirsenses para tôda a parte,
6 - 1\0 dia de S, João bú lavradores que cortam ramos de
castanheiro e metem-nos no melo dos campos) para o milho ser
acre.scentado. Le\'a-se também o melhor milheiro ao santo (ca-
pela de S, João dos Reis em Avidos, Famalicão), ou põe-se nas
cascatas (Areias) ("),
7 - Nunca devemos engei/ar as ferraduras, porque dão feli-

fi) efr. Rev. Lusfl" vol. XVII, pâg, <l6.


(!) Cfl':. Tnxd. PfJp. di! ParI., pàg. t'2O, "-' Roer'. L/mi., \'01. XUI, pag. :16, n." 58.
(t)Cfr. 1Wv. Lurit., vol. xYJI, pago 37, n.o 5, e Tmd. Pop. dI Pod., pdg. 100.
{'} eh. Trad. Pop. de. Pert., pág. 131t
(I) Cfr. Irad. Pop. de Port., pAg. 109-•


REVISTA LUSITANA

cidade. Há pessoas que não podem passar por elas, sem as le-
var para casa (Santo Tirso) (I).
S - Era costume (ainda hoje seguido por alguêm) introduzir
nos alicerces das casas dinheiro e um frasquinho de azougue.
O fim que os crendeiros tinham em vista era atraír a fortuna
(Santo Tirso).
9-Nos cadáveres dos anjinhos e das pessoas que morrem
com cheiro de santidade (isto é, naqueles, cujas almas vão para
o céu com certeza), prega-se um alfinete. Aquele que o prega
vai para o céu tamhêm (Santo Tirso) (").
Em Vila Rial guardam os solteiros como um talisman o al-
finete que esteve pregado no vestido da noiva.
10 - O homem que tiver lima cruz de cahelo nopeito fica
livre de lhe empecer cousa ruim (Areias) ("l.
11 - Os animais de pênas não devem enterrar~se; é melhor
oeitá-Ios fora quando morrem para se não desandar na vida
(S. Martinho de Bougado).
12 - Havendo uma chinela ou tamanco voltado para cima,
é sinal de que vai haver harulho na casa (Santo Tirso).
13 - Na noite do casamento o primeiro qne apagar a luz
é o primeiro que morre (Santo Tirso).
14 - Se as crianças brincarem de dia com lume urinam de
noite na cama (Santo Tirso) (').
15 - Vendo-se um preto pela manhã, em jejum, tem-se um
gôslo; vendo-se uma preta, um desgôsto (Santo Tirso)_
16 -Mulher que se molhe muito a lavar a roupa casare.
com um homem bêbado (Sauto Tirso).
17 - Desapertando-se ou ahrindo-se a saia ou avental a
uma mulher casada) é indício de que o marido anda metido com
outra (Santo Tirso).
18 - Bocejando duas pessoas ao mesmo tempo, hão-de ser
compadres (Santo Tirso).
19 - Sonhar que uma pessoa morreu é sinal de vida (Santo
Tirso) (').
20 - Varrendo-se os pés dum rapaz solteiro, varre-se-lhe o
casamento (Areias) ("l.
(I, efr. ReI!. tusif., V()1. XVII, pág. :l7, n." :1.
('.1) Cft'. Dr. Uite de Va.sc.. Rclil.'íõcS dil Lusilanfa, V(ll. I, lHí.g. 341, e Ens. Elhnog,.,
... 01. UI, pág. 81.
(", V. Dr. J. A. }'.ír.es dê Lima- Uma Santo. Barbada, pag. 12. (Pôrto, 1!)l6), Srpa-
rufa d<IB Arquivos d~ Hist. de Med. PO'rt., 7,u ano, n.C> I.
(~) Crr. Trod. Pop. di! Pert, pág. Sã.
(5) crr. Trad. P"p. de Port., pág. '211.
(~ err. Trfld. Pop. de Port' j pág. 224.


TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 257
-------
21 - O uivar dos cães denuncia a aproximação de outros
danados (Areias) (1).
22 - Uma pobre caseira de meu pai, muito agarrada à igre~
ja, exclamava um dia ao ver um rebanho de corvos. Louvado
seja Deus! Tantos corvos pretos e uenhu1n branco ... Lera, se-
gundo parece, que as mulheres casadas a sal"ar-se seriam tan-
tas como os corvos brancos~ e essa idea aterrava·a (:l

(Continua)
AUGUSTO C. PIRES DE LIMA .

~l) Crr. Ens. Etknogr., vol. III, pãg, ::41. Quita (Obrm, \'01. I, pág. 118, ed. de lS31)
fala. no uivar dOB- cã>&!f como agouro:

~O dia em qUê de, nós t-eo sêparaste Os melro$ fugindo dos rêb:anhos
Cantou na madrugada o triste- m.()cho, Uivâ.rão pelos cumes du montanha8~.

Oir. Sá. de :!\Hranda" Ceifa, ed. dB D. Carotina M. de Yue., pâg. 296.


~) Cfr. Casto Melam., pág. W (LiB-boa, 1840, e sôbre o cantu dos gre.Jhu como
"eIIgoQ,ro; Quita, Obras, vol. II, pago 14,8 e 157.

RE". LUSIT., ...01. xu:, fase. 3-4.


REVISTA LUSITANA
VOL. xx 1917 N."' 1-2

TRADI CÔES

POPULARES DE SANTO TIRSO
(2.' série)
~,C(lntinu.açii{) do "\'01. );IX da Rev. LJ/.,si!, pil.g. :UJ.257)

IV

Bruxas, feitiçaria e Mouras encantadas

O pai da tia Ana era muito afolllo (corajoso) e andava


1. -
aos carretes. Quando via as bruxas vestidas de branco\ deitava
a fralda de fora, ·e as bruxas não desapunham o cano, nem lhe
faziam mal (S. Martinho de Bougado).
.2 - Para que as bruxas nào venham a nossa caB,a devemos
dizer as seguintes palavras:

Nesta caS3 f contista, • entre ~osso Senhor jaslv.CristO}


S. João A'l.'angelísta, Assista l assista.
(Areias)

3 - Uma mulher deu um b(,10 ao conversado a fim de o


prender. O rapaz, adivinhando o perigo, passou o presente a
um burro, que, dai por deante, não largou mais a porta da esper-
talhona.
A tentativa deu origem a esta cantiga:

Tu c11arl1aste·me tolinho, Não quero que tu me faças


Eu joguei pelo seguro; O que fizestes ó burro ... ]
(Areias)

4 - Algnmas mulheres, em vez da tradicional beberagem,


seguem ontro sistema: Cortam com uma tesoura a camisa dos
homens que desejam seduzir. Se alguêm vestir a camisa, depois
de cosido o golpe, nunca mais poderá abandonar a autora do
feitiço a não ser qne descosa a costura (Santo Tirso) z.
Ctt. Rev. LU8it' J vo1. XVII, pág. 45, n.\! 11.
l! CiT. ReI). Lusit., velo :XVI1, pág. 30, D.'" ~, e +4, n. c '5.
6 REVISTA LUSITANA

.5 __ As crianças por baptizar são moiras I e conhecidas pe-


o

los nomes de Custódio ou Custódia '. Aquelas que nascem mor-


tas enterram-se por haixo da porta do forno, para receberem a
luz quando há cozedura, pois! como não foram baptizadas, VI~
vem na escuridão (5. Martinho de Bougado).
6 São interess:antes a~ lendas que-: correm em \'o/ta da
_m"

T6rre Alta (Areias) "~o


r\a mina que liga o rio Ave com as mina:; do antigo castro 1
entrou um dia o tio-a do informador, f: voltou de lá gelado
nA)

pelo frio e pelo terror, porque a wntania era medonha.


Cma moira muito linda aparecia sôbre um penedo a fiar, e
canta\"a que era uma mara\'ilha! 'TodDs tinhan1 mêdo de se apro·
Xlmar.
l" ma oca:-;iüo, w'n rapaz p&s~'S.e ~l cantar ao desafio com a
moira, a qual lhe disse ficar desencantada se êle f()sse animoso:
Ela havia dê transfon11ar~s;e numa serpente, .subir por êh" aClma,
dar-lhe um beijo na cara e abraçá-lo.
!\. hora marcada) apareceu a s.erpentt. com rugidos medo··
nhos. e o rapaz deixou-se abraçar e v(,jjar. A serpente ficou logo
numa mulher linda que o mandou Ln,Scar ferramenta, e êle foi.
Voltando, começou a cavar1 e leyantou urna pedra, vendo no
chão muitas meadas de oiro e peçar-. df:- diferentes qualidadeR,
estando a guardar a toca dois lt;fies, cada Ul.n com a sua espad_&.
O rapaz e a moira iicaram 'ílulit ricos e fn"re.ceberam-se. l_.

r\a Ttlrre Alta encontram-se f; ~uperficie da terra restos de


cerâmica. e de 1:1 saiu um fragmento de lucenla que o ilustre
arqueMogo de Santo Tirso! P.c Joaquim da Fonseca Pedrosa! cnn·
sen·a no Illuseu organizado nos c1aw4rús dOo mosteiro.
i -1\0 Jornal dl' Sm,to Thyn'''' d,· 15 de lI-brço de l88B,
encontrei desen".oldda em folhetinfo: uma lenda parecida. cuja
acçàn (~ posta no Penedo da Moir8. f'nl POItO::'. freguesia da
Lama.
O penedo assentanl súbre dois ealhau~, formando uma es··
pécie de gruta por onde os moiros traúam os cR\"alos a beber ao
rio A,·c. No alto do penedo via-se tôd~Sl as noites uma fOfl110··
síssima moira, que foi reques.tada por UlJI morgado de RilJa d'A'\ ::\
desaparecendo ambo,.
O 8nr. Alberto Pimentel regi,toll na :,ua obra -- ,'i'm/to Tllyr-

, err. Dr, Leítl:: di' V1.u,concdlo$, E~N!_ ,fí:th»<l;'> , t w. pág. :6, .. T1'ad, Pcp. de
rort., pig. 201 e 210.
lnt'o:rma.;1to dê mea amil:(ú. Dt. Dias d ... SI<, dê' T",l,ndim (F'amaUcí'iD)
~ Crr. Ret'. LtISft., "L'l. :1:\'11, pág. "'i, n·... 18.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 1

80 de Riba d'At'e, pág. 31l-uma tradição relati"a a Alvarelhos,


segundo a qual os mouros trariam os cavalos a beber por uma
passagem subterrânea entre o monte de S. Marçal e o rio Ave.

Várias superstições
r - Não se deye ir à horta colher couves no domingo de
Ramos, senão elas ganham piolho. Nesse dia é costume fazer-se
ao jantar caldo de castanhas (Areias\.
:;1- Em certos dias não se pode lavrar. t\o dia de Santo
António lavrou o caseiro de Carapeços (Areias), mas uma junta
levantou-se e os bois estragaram-se. tendo de ser vendidos por
metade do custo. t\ão se pode lavrar tambêm no dia de S. Pe-
dro de Rates (S. Simão de No,·ae,).
3 - O centeio não pode cortar-se no mesmo dia em que ca-
Ibarem os Santos Inocentes: Se os Santos Inocentes caírem ,\
segunda-feira, não pode ser a segada à segunda, se caírem t't
têrça, não pode fazer-se à têrça, etc. (Areias).
4 - Cozendo-se o pão na sexta-feira santa, aparece com
raios de sangue (Areias) 1
5 - Sôbre a superstição registada na RC1'. L/lsil., v. XV",
pág. 50, n." 2I, li em Filinto E/ysio uma nota curiosa: ,Dizem
as nossas 'l'é/lias que o 'l!i1lho entornado, é agouro de festa, (' d(;
alegria .. como o é de Pêrda e de disg"aca o d,w1'll11lado sal ""
".esa. Estas boas s!tpersticiJ,,, lhes 1'<111 de Mouros e Judeos, com
111.u'Ítas que fora 100lgo refen·r. e 11lais IOJlg0 ainda de arrancar', 2.
6 - As melancias não crescem se alguêm apontar para elas
(Areias).
7 - Quando se deita 3 uma galinha. é costume pronunciar
as pala,'ras:
Em lou\'or de S. Salva.dor,
Que nasçam todo" pitas
E um só galador,
ou
Em louvor de Santa Ríta,
Que nasçam tudo pitos
E utua só pita i.
tAreias)

I V. R~LU8'it.! vaI. S:\"11, pág. 39, n.O H.


$ Oõratl, tAsboa., 1836.
, Drltar ttma gaUllha ~ p,j..la II chONtr (JVO$,
, Crr. Dr. Lêite de Vuc'()ncelloll, Ens. Erhn?:J .... , L m. pág, 29-1, e Trad. Pcp. de
PC/ri .. pago 154.
8 REVISTA lUS!T ANA
--~------

8 - Não se devem matar as andorinhas e as boieirinhas,


porque levam agua para lavar os pés ao Senhor (Areias) '.
9 - Os sardões são amigos dos homens e inimigos das mu-
lheres, como se pode ver dos seguintes exemplos:
- Uma cobra ia a entrar pela bõca dum homem; o sardão
presenciou o perigo e salvou o dorminhoco, batendo-lhe com o
rabo na cara para o acordar.
- Uma mulher ia de cêsto à cabeça com o jantar para o
homem; um sardão perseguiu-a de tal modo que ela teve de gri-
tar por socõrro (Areias) '.
10 - Teem virtude, servindo para defumadoiros as ervas
(cidreira, salva, etc.) colhidas na manhã de S. João.
II - Para se descobrir a qualidade da pessoa com quem se
há-de casar, põe-se ao sol no S. João, um pouco antes da meia
noite, um copo com água.
Quebra-se um ôvo e deita-se a clara dentro do copo ao
mesmo tempo que se diz:
$. João, de Deus amado, Deparai~me a minha sorte
S. João, de Deus querit.lo., Neste copinho de vidro.

Pela manhã, antes do nascer do sol, vai examinar-se a figu-


ra formada pela clara: Se o futuro marido tiver de ser brasi-
leiro, ver-se há um navio com todos os seus traballios; se pe-
dreiro, um martelo; se alfaiate, uma agulha a coser; se lavra-
dor, uma vara. O tear representará uma tecedeira, a foucinha
uma lavradeira, etc.
A informadora botou a sorte e saiu-lhe um martelo, vindo
realmente a casar com um pedreiro '.

j Cfr. Refi. Lruit., Tol. ,.\lI, pag. 40, D,O U.


: crI'. Dr. Leite de VuooneaUo., Trad. Pop. de Part., :pago 1"; ê Re'C. LMi4
vo1. svu, pag. '3.1, n." 16, & 00 n.'" 54 eM.
:II Ao oolher a tradição referida, lembrei·mê dum paslO das Deeada$ de Joio doe.
Banos, (lUando 08 mouros de Calecut 8& oon.ultam flIôbl'$ a ida de Vasco da
<iama: « •• • hum deiüf8. tii.zm4o, que o anlt(l- pa88ttd.o sobra dU48 ndQ.B de Mica que tar-
davam. em qUI!! lhe vuma flUlJfUla, (bera pergunta 4 4lgttfBGB pessoas, que usam cf.o offi~
cio de ABtrologia, e d'outras am8, qm daqui depe'lIdem, hUm4 dM qt«l88 pu8CUl8. que
eUe liam por talem:unha, CO-QUJ autor da obra. e.... h.um M80 tragua lhe mOBtrdr.a M rufos
pe.rdlrlM, e ma" otart&8 d llBa, que dide partirem di!! mm: longe pera ·"ir d India, que a
,elite delltu: Uf'ia total destndçd.o d08 N01W"8' daqwlllaB parte.s.• ABta, Der.:. 1, Lh'. IV,
Cap. IX, pag. atI {ed. d-e lTiS). otr. LuBtadall', c. vm, e. Ü.
-No oomêntário da tra.gM.ia. pastoral de d'AnnUllzio-LQ: fiUe de Jorir> (Tra~
duçAo de GMl'ges Bérêille, Paris, CiÜmann~Lévy. pà.g. 18'i)-enôonuéi outro esemplo de
"isilo; ,La Pl4ia ut IUUJ peUte montagne li l'!!Bt di:ll'Introdacqua. Lu hAua.nt8 ti« paIf8
on! coutumtl d'y 1RQftUr- pt)Ur 14 8aint~JelJQ; l«t CMlJMJUJ8 n meUelu m marche I.IWB mi~
tuu't, el, lm".qUll le 80leU se za~, leB plua favorisú C{l18ut apparattre li rwh"ieur dfl dts-
qutt lfl ehf du BapUlde, t,out rtU8$6l4nt de BanD ••
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 9

- Para um rapaz saber a rapariga com quem há·de casar,


aproveita a meia noite de S. João para deitar num copo de
água vários bilhetinhos com os nomes das conversadas1 e expõe
o copo ao rol da noite.
Pela manhã, antes do nascer do sol, vai ver o copo, e en·
contra aberto o escrito com o nome daquela que lhe há·de caber
em sorte, pennanecendo todos por abrir, se o rapaz não tiver
de casar com nenhuma (Areias).
12 - Depois do dia de S. Bartolomeu não se podem comer
amoras; o diabo urina nelas IAreias).
13 - Ko dia 28 de Outubro (dia de S. Simão) há sempre
muito temporal: é S. Simão a varejar os castanheiros. Cfr. o di-
tado: Fugi, marinheiros, nào vos tome S. Sinuto no mar {S. Si~
mão de Novais) 1.
14 - A cabeceira da cama não deve púr-se para o lado do
mar (Areias) '.
15 - Em pequeninas (antes de terem um mês) as crianças
riem para os anjinhos (Areias).
r6 - Tenho ouvido narrar histôrias de cartas caídas do céu
(Areias) ii.
17 - Kenhuma mulher pode entrar virgem no céu; se lá
chega ness€! estado, é desflorada por Santo Hilário (Santo Tirso).
18 - A gente morre ii mesma hora que nasce (Santo Tirso).
I9 - Não é bom ter as cnanças a dormir} quando vai a
passar um entêlTo (Areias) '.
20 - Na passagem dum cadáver, nào devemos pôr-nos do
lado da sombra (Areias) ".
21 - Sonhar com porcaria é sinal de dinheiro (Santo Tirso).
2Z - Os pingos de leite que espilTam do peito da mulher
produzem sardas desde que caiam na cara (Santo Tirso).
23 - Matar sardoniscas faz chover (Reoordües) ".

J Freguesia próxtma de Santo Tirso, luas p€<rtencentê ao ôonCêlho de Fatnalicilo,


~ Em Vila Rial diss,Malll.me nio ser bom Mtar & cama de modo que OIJ pês fi·
quem \'olt&doSf: para. & porta da rua, por- ser essa a pOll-j~,iLo dos defuntos.
~ Entre T...... riO!l &g()-ur08 101-9é na Célia. de Si de ?Wran,da: ~.,. er caw I Dei nielo
UII. lJri!'Oe qlUJ /H) kai qu{el~ lo lea (Poesias, ed. de D. Cal'. Mich. de. Vasc", Hallf1, 1885.
pàg.200),
ol Nãn dev.emos conservAr·nos de.itados quando p:a.na um cadáver na rua (Yila

Rial). crI'. R-w. 1.U8., '\'01. XVII. Vag, 48, 12." 3.


: Cfr. Rer1, Lus., voi. X"lf, pã.g. <19, D,o 5,
t Inform.:I1\,à.o dn m~u amigo, snr. Juüo Padrã.o, professor ofici.al de Rebordõé8.
O tênn-o -o:sardonj'efl.>, com o tentiào de la.rgn.tixa, registado no .Varo Diciondrlo c<>mo t.
de Penafiel, é ul'Iado geralmente no Minho.
10 RE\'iSTA LUSITANA

24 - Matando-se uma saramela à sexta-feira. tira-se uma


alma do purgatório, (5, Tiago de Bougado)

VI

Provérbios e ditos populares


I - Primeiro, fi bôca to dirá;

Se!!undo~ guardarás;
Ter-ee1ru, irás a S. BrAs 1.

:2 - Se queres ser bom alheiro, pralda alhos. em Janeiro i\

3- Do cerejo ao cast.;mlw Do c<'Istanho ao cerejo


Bem me t:U amanho, É que me eu vejü .. " '.

4 -- A 20 de Jant~iro sobe ao iiciro; SE' \'ire,.. "erdegar, p()e~te


a chorar. se vires terrear, p'~1e·tE' a cantar r,.
5 - Se a Senhora das CandeiaR, estiver a rir. está o inverno
para "ir j se e.~tiyer a ('horar~ estú o inverno a acahar G.
6 - Em Fe\"ereiro fhje a mãe ao sõlhriro, e vem·lhe um CO~
risqueiro ;.
7 - Vinho, que nasce em Março. ya.i no regaço 8
8 - Entre Março e AhriL se o cuco não Yler, está a ~I fim
do mundo p 'ra "ir.
9 - Em ALril queima a "dha o carro e o carril, e lima
camba que lhe ficou ainda em Maio a queimou, e deixou ficar o
lnelhor tição para o mês de S. João LO.
10 - O chasco dct'e dar carne para a P:13coa (5. Sim'io de
Noyais) 11,

! Inf()l"mll\,Ho de meu !lllligo, sm. Julio Paddio,


E:tpHo_,,'Jo: l."-Jejüm na \'êslll"fa da. Senl,ora d~-'! Cilnd[,ia~: 2." - dia ~a!lto de
gllIU!l1l na: S-enhQra das. Cllndeias, qtle tem I'l.'J-nUU-Ül em Ln.nuim, ('oflcelllo d" Fan~ali·
cão; 3."'··," rowaria de- S. Brás na mésm& frl'lguesia, no dia segtt{nté il S"nhQt"a dAli Ca.n-
d~ias crI". Dr. r~it{> tla Yu('one ... Uo<l, Eng. EOuwOr., t. lll, pág. 2õ::t
~ Cfr. Erls. lliJmQtp., t. [V, pâ,g. l'.
" Outros diZEtm; Do eereju l\0 .castanho bem ~al ... : o pior f:- ào CflS~::Hl.lLO a ...
cet'ejo! O dit.ado aplica-aê ta.nto aos 1.,-rrtdore,!I como àiS llye" que lutam ('om {alta d~
r!:'lcunoli no inY~rno.
crr. Ens. Ethnogr .• t. {"{", pág. 17. W de jAneiro é Q dia de S Sêbuti:'io.
6 Crr. EU8. Ethnogr .• t. m, pàg. 73, e n°, pág. 15<.
Samh·eiro. ('fl'. En" EtlHJQgr., t. 1", pago 'S, ti Ret' ÚI8., .01. x"\'tr, p:Jg. ~J'2, U. 1l 129.
V. Rin". Lus., voL X\"II, vág, 283, n .... 11, e Em•• EOIII()gl·., t. n', rãg. 1'.
11 N"1l8 ('alan1l" fim do mundo, fim empr~ga.~se gêralmente corno do gênero f8-
minint..

n PtlrR qUe o te.mpl"l {'ort'.l rtOpí('IO IHl~ t~TInD0re~, (, pteci,;c+ qne baJ!l. ninko~
{'<)In I'I'I"u!"!rho,. p,",1:\ rÚ~('">('il"
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO II

II - Maio, maiola, Junho •.hmhet<"l.,


O mês que te reboLi; O ml!s que tt~ r~nwti\.

12 - Em Maio come o gaio a cereja ao borrai L,) ;,


13 - :M.aio pardo ... Não 11ú Maio sem tro\'\~)es, nem lwmem
sem ... 2,
14 - Chu\'a de 5, João quita yinhú E' n30 ci;'t p:1o :1.
IS - E melhor que chova ;;.;ete l\'lains que um Junho -1
ró - Queres yer () teu homem morto? - DJ-Ihe Ci \Lln.... :-; em
Agôsto "_
Ii - Em Agô~to a poupa prele\"a a perdiz no g,jsu.
18 -Em dia de S. Lourenço f', nem na:;cido, nem no lc:11l :O "i', 1

- Em dia de S. Lourenço, \'ai ~'l vinha e ench~ '-) lenço B,


19 - Em Setembro lC\'anta-se o nlar debaixo da p[1 dn remo
(Castelo de Neiva) !). Em Santo Tirso dizem: Fugi, marinheiros~
que não vos cace S. Simão nü mar FI, T",.I\:(,7: a êsse ditado se
ligue outro muito conhecido: Pur S. Sim.:lú e oS • .luda:; colhidas
são as uvas 11.
20- Logo que se pas;,;,t' S. ~lartinb(ô, c:LLl dr_! Uln C;\I-
rinho 12,

21- Pelo S, Martinho barra (J teLl 'i'inhn. e r:::.ata o teu l'IJr-


qllinllO '"_
22,- Dos Santos ao l\ataL (lU lJefH ('11 o \'f''1.", ou L'~'!~l nevar.
- Dos Santo,~ ao Natal) i~'n-erno natural : I.
23 - Pelo Natal, sacha o fa,-aI.
24 - Ano de nevf', paga o que deve (Vila J~i:l~) I"

2S .- Lua no\"a e lua cheia, prera-m3.1' ;'{S (LIas e lHei,a (Via-


na do Castelo) ,,_

I Cfr. l/el:, LlI.9. 'V(.1. X\'II. i,élg. 1(41, n. H; ? Em•. Efl/1l'lgr., L tI', ,·,iIlg. lC, e I.il; n" 1;1.i,.
j

~ 'l'ermiua o dit.ajo po:: uma pfllIH't1l oh'''.:€'nl~, '.'le ~U!r1i!l ,tvi I.J t~nn{) r:a':"Qe:s dOB
Ena. EtllIlOfI1·., t. n 1 pág. ri'.
" Cfr. Phj((uf(Jphill [Wp. (!!JI prOl' .. 2." Imo, 1P ,..~ri('. !.itg f. e E'p,~. t:!1nwgr., t.. lV,
p"- ,,- Cfr. E1l8. EIJ>IIo!lv" t. lY, pí.g-, ;;P.
err, Philo8l.1plda POJl" pilg, DI, €! H'jR. CtlJ/!:J!]',. t. ti pa.g. r"
O s. LQuren~'ú cai 11 Ji, d", Ag("HO.
Ensina o ditado qtl~ de.e s,"ulO':ar-SI:! {; nabll! n~;,~"" Ul1l.
~ Cft'. I'Mlo8opldn 1IoP., p-il.g. 6,
Informação d€! meu amigo, E. 1>l:le!.suo Cr~I~, pr{)Ft·..... ur ,L" LI" ').1L dr; Brll;rR.
I'" erro Ret!, L,trtlit, ••01. X\'1, pag, 2~:"
li v. Pltlloocphüt 'Púp., pltg. (l.!.
~ O dttado r",.ft::re-,ifé AO o-entf'io: S~ h0m COr'll)l"-E't<ndii, (J. ':i~mi'n,d,3 devf3. Ll1.f!!" SI}
até 8. Martinbo, h.a\'end-o, no C1UO de de.llloril, prejui:w de 11m Gat'f"O por dia
III Clr, PJdi.osoplâa pop., pag. {n, e net'o IA','i'n., '"01. :\\'lf, p:'-g. 2i-!i, ti." 21.
li Cfr. Pllt!osopllia pop .. pág. 6'!
M lnforma.r~'o de ffió:ltl Amigo, Pr. Ag:ds.r, m-édi,."; !.la arm:.da Cfl'. E11.'1, EthnOf)I'.,
t. III, pág .•2.
f;e Informaç';'io de meu l1"1i, F0l"nan.tú Pi.~C-i:I .ta L:r,:J~.
12 REVISTA LUSITANA

26 - Vento suão, chuva na mão 1.


27 - Vennelho ao mar, pega nos bois e vai lavrar.
- Vermelho ao nascente, chuva de repente.
- Vernlelho ao nascente, chuya no poente.
- Vermelho ao nascente, pega nos bois e foge sempre z.
28 - Quando aparecem os peneireiros, é costume dizer-se:
temos chuva! (Areias)
- Ouvi a mesma frase ao passar um amolador, tocando na
sua gaita (S. :llartinho de Bougado) ".
29 -- Ano de bogalhos, ano de trabalhos'.
30 - Galinha pedres, não a comas, nem a dês :;
31 - Criados e bois, um ano até dois.
:;2 -- A tranca ... atranca 1'\
33 -- ~ào sirvas a quem serviu, nem peças a quem pediu 7,
34 - !\ão batas no cão, que não sabes se ainda virás a ser
como êle &.
3.5 - Sete abogi"les matam um homem e oito um bl~gt.tez·ro 9.
_~6 - Aos seis assenta e aos sete indtllür_ 1ft.
37 - Três de cada vez, sete cada dia e uma cada mês n.
38 - Casa :Maria com Pedro ... e um casamento negro 12,
.39-Quem se não farta de comer, tallibê'm se não farta de
lamber "'.
40 - A ladrão de casa, nada se lhe fecha H.
41 - O q ue não mata. engorda 1'•.
42 - Os homens não se medem aos palmos j(}
43 - Mãe diligente, filha preguiceira.

crI'. Dr. Leittl de Vasconcello1i!, TraJ. pap.; pIl.g. 4S, fi Rev. I.llsU.., ,"oJ. XVI, pág. 28S.
Crr. Bits. b'1l1nQgr., t. IV, pago 12, (j Rev, LU$U., vo1. XV), plig. 1GB é 288.
efr. BAl!. EtJmogr., t. IV, plLg. 12.
Cfr. ReI!. Lusít" \'01. :XVI, pág, 285,
Cfr. 1':11.8. EthtWfl1"., t, IV, pago 7.
05 la'o'l1ldQres, W1 g~ra.l. poda.m lU víd~ da.!! uveiru f ano sim é ano nio., e
quê;ri'ln dü.er ('om o ditado qlH!I a. produçiio do "ínho é malar quando as vidéS nio 840
po<laülU!.
crI'. Rev, I.usit., \'01. :H'Il. pago 274.
O\lve-se €-ste dito, que ('xi~te em forma de pro'ierbio. V. Rev, Lusit., vol. xYn,
pâg.71.
(' O povo a.~redita. que os a.bog.()e~ podem matar l'aahni!Ute nm homem ê até um
buno.
,~ Aplica·se às erianou dê ,,-eis e sete mcsM
" Dev.amos be:~ trtS cOpos de vinho- ao jantar: um no principio, o- segundo no
mêio «, () outro no fim; dormir sete hú:r&s, e confes9ar~nos todo1J 011 mel!HM:I.
,: Cfr. EM. Ethllogr.• t. IV. vAg.19.
,~efr. E/IS', EtJul(J-gr. t t. lV, pag.20.
l' efr, EJls. BtJmogr .• t. n', pâg. 20.
I~ Cfr. Eml. EflmogT., t. 1\', pAg. ZOo
l(., «Les oru.e aM, lJre-pnd, por lSt:ntre S'i! la cano o au pan se dévon mesuraI
JUTUO, C. v.
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 13

44 - Quem faz a vontade ao sono, Nunca pode ter na cama


Tôda a -vez que êle quer vir, Bôs lençois para dormir.

45 - A direita de Deus Padre, ii esquerda do alfaiate, e do


sapateiro de nenhuma parte 1.
46 - Os sapateiros fede em "i,'os ".
47 - Quem mina, fica minado ~1.
48 - Quem canta antes de almoçar. ou é tolo. ou quer
casar.
- Quem canta antes do almôço, chorará antes do sol pôsto.
49 - De-vagar se "ai ao longe ... bem tolo é quem se mata.
50 -- Tanta vez ~:ai o cântaro à fonte, que de alguma vez lá
fica '
51- O que pelo diabo vem, pelo diabo vai C,.
52 - No tempo de figos, não há amigos ('.
53 - Honra. sem proveito) faz mal ao peito.
- Honra e proveito não cabem num saco 7.
54 - Quem todo o seu guarda, todo o alheio perde A
55 - Quem foi ao ar, perdeu o lugar.
- Quem fui ao vento perdeu o assento ~~.
1

56 - Mandamentos do demandista: Bôca calada, burra


aberta, e burra selada (Amarante) l".
57 - Quem compra sem poder, vende sem querer (pôrto).
- Quem adeante não olha, atrás torna ",
58 - Quem gasta tudo o que tem, é ladrão 12.
59 - Ninguêm é cheio senão do que tem em casa.
60 - O de baixo é meu e o de cima é dum judeu '"

J o alfaiate tr-abalhR. cem a mão diréita, o 8a.patei.r-o com a.mbas as mãos.


" Cha.m.s.m~llIe sapateiros aos carrapatos uo me.to, os qua.is t'l'>em um ~heiro di!l8&~
gradável.
I Ap()ntam-s.e a.lguma,e ca,sa*" I\rruina.das pelo facw de 08 proprietàrio!l terem
ma.ndado fa'Z6r varia.!! minas. e:fr. Rel:'. LU8it., vol. xvru, pago 189, n." 12.
- Cft. BeIJ. Lusit., vol. x'l/n, pág. 291, n.~ 110; Em). RUmog,-" t. IV, pág. to, e Philo-
.()ph~a pop., pág, 57.
lO Cfr. E,i8. Ethnogr., t. n', pag, iú.
e ctr. Kns. Elhnogy., t. n", pág. 1:1.
Idêntk,o na PhilolJophia pcp., pág. 41. Crr. !t)I$, BtkMfJY'., t. n', pág. l3.
lo Iaw€o, ninguém lhe dá nada.

, [dêntlCo na~ Trad. POJl, de Port., pág, l~ .


.. Itlf()t"ma-ção de meu amigo, snr. Belarmino de Vasconcelo;>, professor uo Liceu
de Alexandre llerculano..
II Ctr. P1ul{)80phia pop •• llilg. 42.
n Cfr. J'hilosophirt pop., pá". 37.
13 Diz-so quando se ê pisado por alg!l&m.
REVISTA lUSITANA

61 - Ainda hã-de comer muita ra.a de sal I!


62 - Pesa-te pelo que fica?! 2
63 - .lã mijou ossos .... "Já mijou no mar 4 Mijar fora
do têsto "~o
64 - Fica a perca pelo proveito ...
65 - São voltas que dá o mundo: Uns p"ra cima, outros
pJr)ú fundo.
66 - Abaixo da cama se quebram as pernas ".
67 __ Agora assobia-lhe às botas ... "I,
o

68 - Não é caso de morte de homem} nem de casa quei-


mada ".
6<) - Frases que exprimem uma ironia ou dúvida:

D'OtlTO do taba do touro .. .


De pT<1t<1, do rabo da gata .. .

70 - Doutor da mula ruça, tira o chapéu e pôe a carapuça.


7] - Gaba4~! cesta, que para o ano vais à-vindima 9,
72 - tromar os cãezinhos lO,
73 - É como a Maria Chiça: quauto vê, quanto cubiça!
74 - Que é dela (ca dela)?-Anda ós cães.
75 - O demónio é tendeiro, fêz a tenda sem dinheiro 11
76 - Fazer secar uma figueira em pé 12.
77 - Que fazes, que não danças 13? ••
78 - Ai, pipo, pipo, que nem a.s borras te fico! diziâ um
homenzinho, bebendo mesmo pela vasilha.
79 - Nem bonita que espante, nem feia que meta mêdo ...
80 - Quem não vai em novo, de velho não escapa ".

Lança-!c!f', êsstlo dito a pessoas n()vas e in-&%pHj(;ntê\Ôl.


Qu&-,", com'êr tndo? I
~ Ja mijou OSS08 Unla. nmlheT que tC\'.e rllho.~.
Já foi ao BruiL
Desmandar·slÔ ém comportamentQo
$ dr. P1dlosoplúa pop., pAgo M.
V. CamBio, Corja, l,âg. :'l3 (êdiç',:I!.o de 1001).
,s'empre me t-'€,as cam. hlms casos de morte de homens. Ant. Ferr. CUiso, pig.lOS
(PoemaB Ll/sitallOS', ed. de- 1'0'1).
9 Aplica..se n qu"m se .esta a. gahar.
I~ Zangar-se, cortar a.s relaçõas, virar a oa.ra..
II V. T. Pire6, Ca'IrtOIJ, 1. I, pâg. ll..'t O SOtW D!ctl'm. regi9-ta o t&mo como popu·
1,(1.1', oom (I sentido de diabo. aTa ten.1ei:ro aqui e noutras fraso(:')!J 'Significa enredador,
:a!lturo{)so.
I~ Dh;.~e doma pM!!oa. muit.o maça!la!A.
1~ p; li re~rO!fta quê se dá. 8. qU€'m pede um 8êrví~, (lU~ rodi:A. realizar Sem au-
x.1Ho.
,RADlÇÔES POPULARES DE SANTO ,mso 15

81 - Quem quiser roubar} vá para a Serra da ClUbitl. I,


82 - «Maia é terra de muita abelha; se o mel fôsse bom não
faltaria quem o lambesse ... , - dizia um rapaz da Maia a um
apaixonado de fora que lhe pedia informações s0bre lima rapa-
nga.
83 - Quem lá vai, lá vai .. , .2
84 - Bem jejua, quem ma] come ...

VII

Romanceiro e anfiguris

J. D. Martinho (eI)
Mal hajas tu, Tainha.
Mal haja a tua geração! - Ú meu pai, ú meu vaizinho,
De sete filhas que temos, En morro do coraç ão;
Nenhuma saiu varão. Os olhos de D. )'Iartinho
São os que me acabarão i
A filha mais nova diz:- Sou varJ:,), O corpo de homem ~,
Dê-me espada e cavalo, Os ülhos de mulher são.
Que eu sirvo de capitão. - Roga~a tu) ó meu filho.
- Tendes o pé pequeninho ... p 1ra contigo ir ferrar;
Por isso vos conhecerão. Pois ela, se mulher fôr.
- Veste-se sapatos de homem Ao ouro ha~de atentar:
Que êles grandes se farão. - Ó que licas prendas de oiro,
- Tendes os peitillhos grandes ... Para meninas gostar!
Por isso vos conhecerão. -Ó que rica espora de prata,
- Ó meu pa~ dê·me umas ligas, Para um homem montar!
Que eu meto-os no coração. - Ú meu pai, ó meu paizinho,
-Tendes os olhos pisqueiros ... Eu morro do coraç.ão~
Por isso vos conhecerão. Os olhos de D. MartinJlO,
- Quando passar por os homens, São os que me acabarão; /
Deito os olhos ao chão. O corpo de homem t\
- Tendes os cabelos grandes ... Os olhos de mulher são.
Por isso vos conhecerào. - Roga-a tu, 6 meu filho 1
- Meu pai, dê-me umas tes-ouras l p1ra contigo ir jardinar;
Que êles vão já ao chão '. Pois se ela mulher fôr.
As flores hã·de atentar:

1 Sena no extremo do concelho dú F.alllalici.o, aí&.lnada llelOS &uaJto9 que nela,.


davam _tigamente ()-$ la.dri).t$,
2 O pior e dos que morr(lJW; quem ftca. esquece d-epr€!!Is&. , .
, Êste r<>manee. apreu!lta algumu variantes àa,~uele que publiquei na Bfl!.
Lu~ vol. XVlT, pag. 29f!, Cf.r. a. mi)sma &lvi/da e vol' j pag. 51,
A Q>CQ!O passQu··se, segundo li informa.dor&, no tempo em qae todo! linha.u'l de
dar um filho para a guerra.
, D. Martinb-o andQu na guerra sete anos oe um nri\o at.e. 'J,u('J por da h a.pai-
xonou ú .c.pitão.
16 ~EVlSTA LUSITANA

- Ó que ricas limas doces .Minha mãe já não é viva!


Para as meninas gostar! De seis irmãs que lá tenho,
- 6 que rico limão verde Aqui as ouço chorar;
Fra um homem atirar~ Os sinos da freguesia.
- Ó meu pai, ú meu paizinho, Aqui os ouço tocar;
Eu morro do coração; A,,'ança, meu cavalo, avança,
Os olhos de D. Martinho Que ainda hoje lá "ais dar.
São os que me acabarão; Os sinos da freguesia
O corpo de homem é, Aqui os ouço tinir:
Os olhos de mulher são, Avan·ça, meu c3\'al0, a\+ança,
-Roga~a tu, ô meu filho, Que ainda hoje lá hi".de ir.
pIra contigo ir nadar:
Pois ela, se mulher fOr, Aqui tem, ó meu paizinho,
De ti se há·de acautelar 1, PÔS a sua filha varão,
O tempo que andou na guerra. -
- Ó que ao meu coração chega Sete anos e um verão-
Uma carta tam sentida; Ninguém me lá conheceu
Que o meu pai que é morto, Senão o senhor capitão 2.

2. O Conde d'Alemanha 3

Um conde tam bonito,


A morte que llie causaste!
-'sC'uita, 'scuita, minha mãe.
Enquanto que me eu calei;
- Eu te amaldiçoo, filha, A morte que o conde lev8 j

E o leite que mamaste: Não a le\'eis vós tam bêm ...

3 O cegO'
-Abre·me essa porta, -Acorde, minha mãe.
Abre..me o postigo; Do doce dormir;
Dá·me um lenço, Ana, Venha ouvir o cego
Que eu venho ferido. Cantar e pedir.
-Se você vem ferido, - Se êle canta e pe~,
,Vá-se dai embora; Dá-lhe pão e vinho,
A minha portinha Para o triste cego
Não se abre agora. Seguir seu caminho.
-Se ela não se abre, - Não quero o seu pão)
Ela se hã·de abrir ~ Nem quero o seu vinho;
Contigo1 menina, Quero que a menina
Quero ir dormir. Me ensine o caminho,

I Deixou~o mete-r na agua e dís8e o qUE! se 8êgU-e.


1 Havia outro episódio ~m que o pai aconselhava (I -filho e. ir dormi: com
D, Martinho, mas êste meU~ a espada. entre ambos.
Seria talv~ uma l'emineseência do pnnhal de ~ginaldo ou Gerinaldo.
8 Ouvi mate alguns venos pll.n1. aeN<Bc~nta.r a<lS publicados na. Bev. Lusit.,
.01. :Jxn, pág. 29'7•
• Oh.: a vêrsão qu.e. publiqUêi na Ret'. Llttn't" "01. xt'tt, pago 300:; Leite d~ Va.9oon·
MnO!!, RQmanC6iro Peri. pÍlg. 31: e PedrQ Fernandes T{lmas, Velhas Cant--'Ões e Rom. Pop.,
pAg.47 (Coimbra, 1913).
TRADlÇÔES POPULARES DE SANTO TIRSO 19
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7· Ag08tinha
-Agostinha, Agostinha, P'ra me livrar da rasctlda.
Que fazes a esta hora ~
Ou o teu pai te bateu, - Se ouviste, Augustinha,
Ou te êle mandou embora ... Vou·me deixar aqui 'star.
- Eu já estava dormindo, Aqui a tomar-te o mêdo;
Ascordei estremunhada ~ Vou-te levar a teu pai
OU\'l minha mãe gritar} Pela manhã muito cedo;
O meu pai a dar pancada; Eu te faço um protesto
Vesti~rnel vim p'r';\ rua De te não pôr mão nem dedo.

8. Emília 1

Emilia, negra Emili.'t,


Levanta~te, 6 desgraçada, Negra vida te hei-de dar,
E faz a tua confissão geral; Por me dares um punhal
Istã ali o teu filho à porta Para a minha mãe malar:
Guma faca p'ra te matar. Hei-de ir para a Africa,
E tu has-de-me acompanhar!

9· Beatriz '
Beatriz era filha dum conde, Meia noite no meu coração.
Sua mãe era D. Maria; - De Coimbra ~,f!-;()S dotltores
Quando sua filha se deu à disgrácúJ'1 Se inda sabe tocar violão.
Que paixão sua màe não teria!
- Beatriz. onde vai" esta hora?
. '.
10. o canário'
Certo dia fui :l caça, Tinha o seu divertimento;
Lindo c,m.-hio agarrei; O canário adoccf':u,
Fui levá-lo d~ nresente Foi duma cOl1stipação;
À filha do no:::~o rei; A filha do nosso rei
A filha do nosso rei, Encheu-se de raiva e paixão;
A princesa brasileira, Mandou chamar uma junta
Mandou fazer a gaiola De trinta um ptr,grâa;
Da n~ais fina madeira; À primeira lanCt..:tadil,
A gaiola 'stava pronta , O canário 'stremeceu:
O canário foi p'ra dentro; A segunda lancetadu\
Quer de noite, quer de dia, Deu às asa~ e morreu.

l :to um fragmlmto de toma.nc-&, cujo temo. é bas~ante cQcLedJo: Cma mulher


aconselha c mariclo ii. matar- a. mil.0.
11 Fragmento uê iroma,uce?
o.
a -Cclhi mais algumas palavras dMordena~I&I!. A infol"ma'iora lli8ge~me que
VM'$Q!!l êram para. cantar, àa.nçando.
, Çfr. R~v. Lugit., vol. :lVI, pág. U!}, -ê xvm, pago 281.
2
20 REVISTA LUSITANA

II. Entre canas e caninhas. .. 1

_Antre canas e caninhas Cum penas de te 1wm ber


Auga debe de nascer~ Uma carta te 'screbi.
Menina, que 'stá na fonte, - A carta que me 'screbeste:s,
,Benha--rne dar de bober. [Ilda cá me 1Wltl chegouj
-Eu a auga num la nego, Se me queres algüa cousa,
Pucarinho 1mm le dou; Fala~mt': que eu aqui ,:),tau.
Num quero que o senhor se gabe -Eu te beijo a['star,
Do que ninguêm se gabou. Bonitinha e pro/eita;
O pucarinho é de bidro, Só desefllba saber
Tocadinho do amor1 Se serás a minha sujeita.
Por ditosa me daria -A tua suji'ita num sou,
Dar auga a tal senhor. Que o meu p~ü 1'Ium é contente 6;
Dar auga a tal senhor Pode·me deixar no mundo
E à Senhora da Guia; Uma fama piU3 sempre.
Diga lá, seu manatinlJa 2, -Quanto respeito à fama,
Se bem cá por minha bia. 3, Agora te bou f",Iar;
- Por sua bia num benho Se eu cá chegar a bir,
P'ra le falar a berdadf!; Meu sogro rhei-de chamar '.
Renho por passar o tempo -Como rhás~d: chamar sogro
Na forma da mocid.;.de. Se são falas escusadas?
- Na fonna da mocidade. Que eu sou rapariga noba,
Eu s6 queria saber: Eu num pos~o 1'emir cena s.
Nem todos os letrados - Oitras más 1Iobas qu'a ti
Se tornam im saber ler ". Rem.e casa e tem marido;
-Eu sei ler e sei 'scriber, Pôra·lo mesmo, menina,
Tamém sei locar bt"ola; Se tu casasses comigo 9,
Itlda 'spero de aprelHler, -Já oubi tua pfllal;ra~
Menina, na tua 'scala, Repara o que dt<s.'wsfes ..
-Na 'scala de Cupido 1) Se num sabe-lo caminho,
p'ra te amar, aprendi; Torna por onde bie.stts.

err. Dr. Le.itê d~ Vueonoellos, EIM, Etlinogr., t. IV, pág. :1:17.


EmprEl1ra~:!I&1nanat,(J no sentido de- CI)nV(1r"a.:!o. O SOt'O Dicilm. regista. nillMta.
,. Por minhll !'ia-, por minha C1U1S8..
Variante:
se € manato ou 'scri-bào
!-'cnçarra im saber ler,
Sôbre Oup-ido na P0(!.Si!l pOlmtar, Y. En.s. li:thnDgr., t. fV, pág. lal.
Ser .contente, c()nc{)r<,hu, c.on1õ~mtir. j.~ ;Jü:.-ar clâ,iljsko: V. MflHo, Epanap"oraa,
1'Ilg, \.t:) (ed. de IS6()~, i'! Ant.... F-sl"reira, Drisla, pág. 44 (ed. cit.).
Va.-riante:
Menina, num (frreceie, Má fama Hum na tenho,
Ne-m tel~ha que arredar; Mas e1a rue lwdê bir;
Se eu !\ meter N11 fama, Fuli) baixI), llUm alJ~OI'de
EIl dela. a h.ei-de lil)J'ar. Mí'lu pai, que 'siff 11 dormir.
Remir casa, gúvornar 01101>&. E costume clh.i!r·se: ~Nltm se rime e-o il'ue oanJla!J
• VariR.Dt;'J:

Assim tê hã·de acontel'e.r, mtninll,


Sim qUe tu cua.res comigo.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 17

-Pega daí em 'stôpa, Quero que a menina


Pega dai em linho; Venha mais alêrn.
E ao triste cego - De condes e duques
Ensina o caminho. Eu fui perseguida;
Agora dum cego t
-Acabou~se~me o linho, Me vejo vencida!
Acabou~se·me a lstôpaj
Siga o triste cego Adeus, minha mãe,
Por essa c:aldrosfa I, Adeus, minha tia;
-Acabou·se-me a 'stôp~ Adeus, minha mãe,
Acabou-se-me o linho; Que bem no sabia.
Siga o triste cego Adeus, minha mã~,
Por êsse caminbo. Adeus, minha terra;
- Sou curto da vista, Adeus, minha mãe,
Já não vejo bem; Que tam falsa me era.

4· Santa Iria 2

- Estando eu a coser Pegou num cutelo


Na minha almofada, E ali me matou;
Minha agulha d'ouro, Coberta de ramos,
Meu dedal de prata, Ali me deixou;
Veio um cavaleiro, Dali a sete anos
Pediu-me pousada. Por ali passou:
Se meu pai lha desse, -Pastorinhos novos,
Muito lhe pesava; Que olhais 0 gado,
Meu pai não lha deu, Que ermida é aquela,
Não lhe pesou nada. Que está naquele adl'o?
Deu-lha minha mãe - É Santa lria,
Por ser confiada: Que o traidor matou.
Entrou para dentro, - Ó Santa Iria,
Pousou sua espada. Meu amor primeiro;
Perdoai-me a morte,
De três que nós éramos Sou vosso romeiro,
Só a mim levou; -Como te hei~de perdoar,
Por essa terra larga Ladrão carniceiro,
tle me preguntou Que da minha garganta,
Como me chamava. Fizeste carneiro,
Eu lhe respondi E do meu cabelo
Que na minha terra: Fizeste dinheiro?! .
Iria, fidalga) Veste~te de azul,
E na terra alheia: Que é da côr do céu;
Triste, malfadada. Farás penítênóa,
- Pelas fahas que tu dás Irás. para o céu.
Deves de ser degoiada.

1 Como ft. palavra NnJ}!)gta ou cangl)sta não é eropregaJa pelo povo, foi fltDil-
m~nt,e oorrolUpiclo. Nn cal/lnuda.
~ Fica completa com alguma:! ~·a.riallteo1J curio:las a Yúrilão Ilublicada Da ReI'.
LusJt., \'01. x.nr, pág. ~Y)1.
Cfr. Leite de Vasco Romallt't!iro POrl., p::'g. ãO, B RCL\ L-usU, 'V01. XVIU, pág. 281.
REv. Lus.I'!. '1"01. xx, ra~c. 1-2. 2
18 REVISTA Ll<SIT ANA

5· Rosa 1

- Deus te sal,'e, Rosa, Ó bem agastada;


Claro serafim; Falavas comigo,
Linda pastorinha, Já me não dizes nada ...
Que fazeis aqui? - Se SOl1 agastada,
- Eu guardo o meu gado, Faço muito bem ;
Que an1';' ·-r Quero ser ingrata,
- Se aqui o perdestes. Que assim me convêm.
Aqui o ha·íles achar; - Se queres ser ingrata~
Linda pastorinha, Sejas bem, embora;
Vamo-lo precurar; \' ou tocar teu gado
Tam gentil senhora, Pela serra fora.
A guardar seu gado! ... - Torna ali, ~l.mor,
- Eu nasci, senhor, Torna ali, correndo;
Para êste fado; Que o amor é firme,
Olhe como vem gran~ Já se está rendendo;
De meia de sêda; Quando diz que não quer
Olhe que a não rompa É que está querendo;
Por essa resteva. Vamos para a sombra,
- Sapatos e meias Que o mundo está ardendo,
Tudo romperei, -Se eu fôr para a sombra,
Só p'ra lhe dar gôsto, Nào \'OU na má tenção;
Meu pai, minha mãe m. Juro-te, menina,
- Vá·se dai embora, Que sou teu irmão.
Não me dê mais pêna; - Se és meu irmão,
Aí veem meus amos Mil perdões te peço
Trazer~me a merenda. Que não c-ontes nada
- Se ai "eem seus amos Do nosso processo.
Trazer a merenda;
Êles não são lobos, Tam grande calor
Que coma a gente. Por éste deserto!
- Vá·se dai embora, Ó gente da aldeia,
Não me dê tormento; Acudi ao gado,
lá o não pOS~H \'er Que foge a pastora
Nem por pensamento. Com seu pa,stoyado.
- Ó bela 1{usinha 1

6. A filha do Rei de Espanha •


Meu pal tem jinelas de oiro,
\'idraças de prata nna.
Sou filha do rei de Espanha,
Da rainha COl1stantina i
j Cir. a Pasforinha na Rtl,t', Lusit., 'foi. XYll, pag. sro, é Le!!e de Vas-coneello9,
R()'rlu:l:Jlclti,-o Porl .. pago 41.
~ Encontrei entre AS {,Jlnçôes colhidRs (li! vergos $eguint-es, que e-videntementê
perteT:c~m a um romance já diluido.
Davam ser da. Enfeitiçada do Bonum~e,1'O de GarrMt. V. T. Bnl.gll, Romllneeiro
Gteral \ RCnrHl.n-e~$ da Infanta de Franfa}, e A filha de Rei de Hespanha na ,Bee. LU8it,~
vol. IX. :p:l.g". 285.
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 23

Onde 1 teve a maldição Já a Virgem parido tinha;


Que nenbuma pariria. Pariu num pobre deserto,
Ai chegaram pastores, Nem um só paninho hada.
Com seu festejo e canto, Desceu um anjo do céu,
Festejar a Deus Menino Paninhos de ouro trazia;
Naquele lugar tam santo, Tomou a subir ao (eU,
Aí chegaram os anjos) Cantando: Avé, Maria.
Todos cheios d~ alegria; La no Cett lhe pregl1ntaram
Visitaram a Jesus, Como ficou a Maria.
S. José e mais Maria. -A Maria ficou boa,
(Areias) Numa sab recolhida.
ldandoli fazer três conventos,
b) Lá na noite de Ndtal~ Todos de pedra ladrilha:
Noite de tanta alegria, O primeiro e o inferno
Caminharam p.;ua Belêrn p'r'onde vilo os -cú11denados;
S. José e mais Maria. O segundo é pn:gatório
Quando a Belém chegara.m) Onde se pena os pecados;
Já tôda ,'I. gente dormi;;.: O terceiro é o céu
S. José foi buscar lume Para os hem.aventurados 2.
Para .,.lumiar a 1-La1'ia.
Quando S. José chegou. (Areias)

2. Reis
O{;) Reia Grandes 0:1 Reis Velho e

Ó da casa nobre gente, Que ispiraSSi' 3 os coraçues


Escutai e ouvir-nos heis; Dos três Reis do Oriente;
\"jmos dar as boas fest~\s' Eles, que já espera\'am
Na vinda dos Santos Rús,: Por êsse grande Amor,
Em \-er que em nasciJo
Depois das culpas de Ad3.o) Seu eterno Criador t
Rezavam as profecias Encheram-se de alegria
Que havia de vir ao mundo E, cheios de amor divino,
O "'erdadeiro Messias. Com seus humildes \'asSi:1los,
Chegando àquele tempo, Se puseram ao caminho -'.
Que estava determinado, Chegaram à c6rte de Herodes,
Nasceu a mais linda flor Com gnnde poder de gente;
Naquele jardim sagrado. Pregl1ntaram onúe era
Naquela noite ditosa, Nascido o olllj,ote'Ute.
Que ao mundo deu alegria, Herodes, que já estav ....
Nasceu o Ve-ruo divino Com soberba e rigor,
Das entranhas de Maria. Em ver que era nascido
Mandou o Padre Eterno, O monarca superior;
Com poder onipotente~ Herodes, como malvado\

s Ond." p~.üo qUfl. E -.ulgar o empr&go desu. ?:\Iana. com tal .s~ntirlo, ê signLfi-
eando tambêm-nês!!la ocuíAo.•. ; .Estávamos w58 a pol"I.rt, ollde chegou ali uma mulher .. ••
~ Cfl'. Leite de Vasconcello:!l, Rom!tneei'I'Q Port., pág. SB, o P. F. Tomás, lIelh!'18
Canções ê Bom., l'ág. 6l.
, !n"piras1li(>.
... Varia.nt4l-: Se expu3eram ao- ca.minho.
REVISTA LUSITANA

Com seu intento malino, b) Deus vos dê festas felizeSt


Às avessas ensinnu Estimados moradores;
Aos Santos Reis o caminho l~ A benção de Deus YOS cubra
Mas o alto Deus pod'roso De virtudes e favores.
Le dava luz e sciênci,a~ Deixai as vossas moradas
Para atinar com a estrada E marchai aleçemente;
Da verdade onipotGncia. lde buscar a Jesus,
Guiados por uma estréIa, Como os Reis do Oriente,
Lá foram ter a Belêm, Que os seus tronos deixaram
Onde estava o Deus Menino, Sem nisso sentir pesar,
Que é todo o nosso bem. Pela grande fé lJ.ue tinham
Ficaram admirados De Jasus ir adorar.
Em ver tamanha pobreza,
Sendo êle o Rei dos reis, Os três Reis do Oriente
Senhor de tam gr;t.nde alteza. Já foram para Belêm
Vinde, grandes e pequenos) Adorar a Deus ~[enino
Trazei todos na memória: E à Virgem mãe tam bêm ;
Nüas palhinhas deitado Ficaram ademirados
Um sob'rano Rei da Glória! Daquele infante divino,
Vinde, grandes e pequenos, Cobtrto com pobres panos,
Vinde, soberbos do mundo, Figurando de pelingritl<J.
Nuas palhinhas deitado Sendo do céu a beleza
Um sob'rano Deus profundo 2! Mais do que os querubins,
Fizeram~le seus presentes, Merecendo ter panos de oiro
Tiveram grande alegria; E o leito de marfim.
S. José é que aceitava, Ajoelharam em terra
E a Senhora aguardeda. Suát'eis hinos cantaram;
Estas dábitas 3 e presentes) Suas vozes maravilhosas
Vós, Senhor, tudo nos destes, Até aos céus agradaram.
Em desc.onto de nOssas culpa~t Aceitai, disseram êles,
Quanto faço que nos preste. Os três Reis do Oriente~
Duas cousas \'os pedimos Oiro, incenso e mirra,
Humildes do coração"'; Que vos damos de presente j
O perdão das nossas culpas 5 Oiro! incenso e mirra}
E por fim a sah,'ação. Mirra e oiro e incenso;
GlórJa seja a de Deus Padre, Não lhe ofereceram mais nada
E a de Deus Filho tambêm ; Porque êle era um Deus imenso :
Glória seja o Espírito Santo - Dai-nos, meu Deus Menino~
Para todo o sempre. Amêm. D::tl-nos do céu a palma,

I Numa .. ere.ilo que colhi B~eIll 08 ver$os:

Herodes-, téndo consigo COtnflten mil d&liIa.tinos,


Os <sentidos bem dif'rent~5, " Matou cinco m.i1 meninos.
Desamb&inha o l!Ieu enteio Só para haver fa-Ue luz (falta dê •.. )
No 8EUlgue dOEI inocent-es. E parll morrer J&8ue.
~ No Jornal th Santo Thy7S0, n.e 296, de lS8Et, VtlID uma vers:lI.o d. Dha de
S. JOl'g-e. butante dü~rent9.
I nt\.diva:s.
Va.ria.nte: Com humilde cora.;,ão.
S VarIante: Que nos deis a VOS" vaça.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 21

- Eu de d01rdc Istou bem beijo Nisso faço muito gôst(l~


Ca,miohos por donde eu bim; -Se tu fazes muito gusto,
Ioda 'spero de lobar Eu 6 pai o bOJl dezer,
Esta rosa para mim. Qne fiá ..::hamar o padre~cur:a
- Esta TOsa para ti, Qt.1e nos l,t.'uha. fIITccebet'.
Ou a lobarás, ou não;
Eu "um quero nem por q'íUlfo, Padre~cllJa, l;enha cAi
Que tu me ponlw-l,J.. miio. E benha S{.'n1 demora;
-Pois eu a m.ão num ta ponho, Renbl arrecel)er os 1!OI'bos
Nem sequer bolir comboscü; Já nesta pr:';pt·a hora 2.
Só im lsfar D<I bossa auscnça 1,

12

A vinte e um de Fe'o.'treiro, p'r'à min"ha me acompanhou.


Dia de entrudo chamado) Quando eu cheguei a casa,
Dia tam infeliz, Que a mulher me pressentiu,
P'ra mim tam desgra.;ado! Depressa, bem contente,
Eu fui ter uma desordem Logo a porta me abriu;
Com um (bem quieto que ':,;tava!); Mas quando ela viu
Por minha triste sorte, No 'stadü em que eu fstava,
Por minhas mãos me matava: Dava ais de quando em quando,
Veio·me um tiro de canhão Desgraçada se chamava:
Disparado à mioll" sorte; - Triste sorte foi a minha,
Por muitos poucos Pilatos, Quem me dera em S. ).famede "
Terrível a minha morte~ Alnda hoje solteitinha ~
Assim me fui arrastando,
Trepolando :I pelo caminho1 () pais, que tendes os filhos,
Pedindo socôrro por 'smola Educai~os capazmente
À porta de um vizinho; Na salvação do Senhor,
E .ele, como benfeitor, P'ra que ôles não padeçam
Da cama se levantou, Uma tam cruel dor !I.
Da casa dê1e saiu,

I Por comodiualle do vt:r!!ô DlO.turalmentê, lIubstituiu-se a palawa. prtl8enra por


o/lu8ência, nAo sendo d~ admira.r que o povo empregue êste ultimo termo impróllria.
mente, porfJu'& e de uso p.ouco comum.
~ Conse"ei tôda.s as partieu'laridades da linguagem da tena:
Entre ·canaa ••• dâ·noll conta das principailt, de U80 mal! geral.
! Trepemr, tropeçar, De.rivarÍl. da trlpo?
• S. Mamed.tt de Con'IUldQ, freguesia. do cl)neelho d~ Santo Tirso.
~ O caso foi êst-e: t"m h0mem de S. Tiago de Bougn.do embri&g'ou-s.e, e meteu·
"8~ com outro que o Elspa.neou. Um historiador anónimo contou o ("aBO nUr:1spaaquins,
que se ouvem ja com várias forma.s. Ag minhas informadornil!, Ctnanç9.s de 11 e 12 ano II,
d1ueram-me que o herói tinha morrido a.fogado DO rio AYe !la anos.
A moralid.ade foi já &cr9scentada. a08 pasquill8 pelos narradores. crr. Reo.
LuBit., vol. II, pág. 252.
H .... de o facto eBquec.e:r e 011 PaBqttí~ viverão muito t~po aitlda modificado.
ê ~esc-enUl.dos, Assim deviam ter·SE! formado muit{)$ romancu.
21 REVISTA LUSITANA

13. Senhora Aninhas 1

Fui a casa da senhora Aninhas Botei-me duma jineZa abaixo,


Com tenções de lã entrar; 'scorreguei, caí no chão;
Saiu·me o senhor Zêzltthl): Logo meu coração disse:
- Vúcê 1 que vem cá btlscar? 'stá prêso, seu maganão!
- Trago fitas iugal-esas, Eu meti a mão ao bôl:s.o,
Se a senhora quiser comprar; Peguei em meio tostão;
Tambêm trago o meu pintinho, Dei trinta réis ao barqueiro,
Para com ela gastar. Qu.inze reis ao 'scrivão;
Fiquei cá com cinco réis,
\'i as gàtas peio ar, F 01 a minha perdição.

Quando em Bel~m se formou Menina, não endoudeça,


Palkio de gtétmk altun, Pode-se dar por feliz,
Muita gente lá p::',~50U, Que tem tamanho nariz,
Outra foi p'r\'! sepultura: Nariz ue palm.o e meio;
Casa ric.:( tem fartura, Tôda a gente passa e diz:
E quem du'u~t tel-:C seu sarilho; Ó que homem tam feio!
As galinha.s vào ao mLlho, Tem calcanhar de trombeta
Enche o papo como os nwis; E nariz de murrãü .
Tôda-los aves come c befx. DlZ o povo: SilOto llOme de Jasus,
Quem paga são os parnais; 6 que grande figurão!
O pente é para a ('abeça,

VlII
Janeiras e Reis
I. Janeiras
11: Lá na noute de Nltal =', 1\ào lhe deram agasalho,
Noute de tanta alegria, lnda foram mais além.
Caminhavam para Belém Foram ter a um cülTill,
S. José e mais Maria. Que de longe já se .ia)
Quando a Belôl1: c'begaram Onde estaxa o boi e mula
Já tôda a gente dormit\ ~< Que nesse lugar jazia.
- PLlrteiro, abri a porta, A horas de meia lloutc
Porteiro da portaria! Nasceu aquele menino;
.t;:Je preguntou quem eram: S. José e mais Maria,
- É S. José e m,üs Maria. Dando graças ao divino;
Lá pediram agasalho O boi bento baftjílva.
Na cidade de Belém; E a mula remoÍà 1

Cir. Leite de Vll!Jconc~llos, &maneeil"G Port., pago 12.


eh-. Ret!'. Lw!!ít., voI. X~"ln, pág. 2~, e A. Gomes Pê1'Clra., LinD. Papo de V. &al,
pág. \13.
C-fr. Ens. Ethn0Gr" t. IV, pago 24l.l.
Variante.: Nem meia noute :eeria.
TRADlÇOES POPULARES DE SANTO TIRSO
. _ - - 27
Despedidas :

Vou botar as espedidas Vou bot~ir as espedidas


Por cima da. carvalheira; Vou botA-las a Bdt'm;
Deixei o gato ao lume Adeus1 meus senhores toJos
E o caldo na borralheira. Até o ano que Yem.

IX

Orações e Romanees religiosos


Orações para o deitar
a) A Deus Padre me encomendo Que me livre a m;llbt ",1m",
E o 'Sprito Santo me de luz; Que não morr,~ em peCJuo.
Encomendo a ml.nha alma
Ao Santo Nome de Ja.ms. c) Meu Senhor CTl1cific<'ldo,
Anjo da minha guarda, 'Êle se deite a meu lado,
Semelhança dô ,senhor, E me tire a minha: alma de penas
Que do céu fostes mandado E o C0l110 d<..\ pe-c.ado.
P'ra nosso amparo e gllard;,uorj
Peço-\'OS, anjo bendito, d} Meu Senhür crucificadD,
Pelo vosso santo poder 1 Filho da Virgem 1\I:!ria f
Que das obras do maldito l\Ie g1.lé1rde esta noite,
Me ajudeis a defender. E amanhã por todo o djól,
Encomendo-me a Deus Padre, p'ra rJ.ueo m·:u C()rp0Ilàü seja pr.t~s-ol
E ao filho que me gani~J Nem mil1ln alma perJiJa.
A Virge, ~o:;:;a Senhora,
E à Santíssialél Trindade, e) Com D<:us me deito,
E à arbe da Bela Cnlz, Co:n Deus me levanto,
Que é bandeira de Ja,ms, COln a gra.:a Ui:! D .... u:-::
Onde foi cnlcificado, E Jo E'5-pírito Santu:
P'ra me livrar do diabo. A Virgem .s-o;:;'::i~l. Sel1hDOl
lnda os mortos p;)r morrer, QL1C me cabra com seu manto;
E nada poderá ser, Se Cll com ük.., cobert0 fôr 1
Baptizado1 por baptizar, Não terei mi}do, lwm pavor,
Do mais pequeno inte rninual z. Nem. çoisa flue ma iDr;
Em louvor d~ Nossa s.a do Cum0, Senhor, deitar·l~1e 'luero,
Que me livre das penas do Inferno, Minba alma "0:> cntrl..'g;};
E más tentações do diabo. Se eu dorm.ir mcan.lai·me,
j

Se eu morrer, alumÍ.iü-me
bt Com Jesus me deito l Com as três tod1a,; da S.a Trindade.
Com Jesus cYUfUficado, Três vezes me deitar,
Que se deitt': no meu peito, E três ve-zes me alevantar.
Que me meta no seu lado, E, se a morte pur mim chamar,

1 InclÚimoi'J nMte capitulo vários romances t'edta.do3 CGm,) QI';l.!;'õ~!J.


, Maioral.
REVISTA lUSITANA

E eu nào puder falar, A piedade divina!


Diga () meu coração três vezes: Sempre me rege, guarda e ilumina.
Jasus, Maria José,
Lá no dia da má (?) companhia, h) Persigno-me com três cravos.,
Cm Padre~Nosso e uma A \'é.Maria 1, Abraço-me numa cruz;
Venha uma cruz do céu,
Anjinho da minha guarda, Lance-se em cima de mim
Semelhança do Senhor, Para que o Anjo Custódio
Que do -céu fostes mandado, Fale e responda por mim !lo
Meu amparo e guardador;
Guardai~me) 6 Anjo bendito, .) Amorosissimo lasus,
Por o vosso santo poder; Amor do l1l.eu coração.
Daquele laço maldito, 2 Perdoai~me os meus pecados,
Ajudai·me a defender. Vós sabeis quais êles são;
Deus comigo e eu com êle, Da.i-me nesta vida paz
Deus adeante e eu atrAs dele. E na outra a salvação i
l~ota.i-nos a vossa bençi1o,
g) Santo anjo d(l Senhor! Dai-me a vossa aus!Jolvição;
Meu zeloso guan:lado:-, Pejas vossas cinco chagas,
Se cm ti me confiou Pela vossa sagrada morte e paixão ".

fi Senhor meu .lasu-Cristo) livrai-nos de todos os demó-


nios1 mortos, vivos, grandes e pequenos e do moral 5 do in-
ferno, por VOssa infinita misericórdia 6.

2. Oração para o levantar

Bendita seja a luz uo dia\ Bendito seja o Santo ou Santadêste dia.


Bendito seja quem na cria~ Padre-Nosso) Avé-Maria. 7,

El!ta orRÇAo dô:u &tig~m fi, nma anfluota muito gencra!Ü':a.da.: "Foi -O homém
eOllfesSRr-!!e e. c1i"$i! $1.(> (,Qnfe.s"8or:
- Eu wu Deus! - Porquê? prf,guntnu o confessor-Pois a mulher tôdas as noi-
tes diz: C(lm Deus me. dcito •.. e flla deit&-8e oomigo; te porque eu sou Deus. Outros
dizem; .Com a8 cinco toehUl de Nosso S.en,hor Je.sus-t."'risto !
C1'r. Ret'. LIU'U., 'Vol IX:, pág. m, e XVUI, pág, lRiJ..
, Variante: QUê do del.ace do demónio. ctt'. Ca.rd050 Marth.a. e Augusto Pillto.
FolclÓTe da Jl'ig. da Foz, t. 1, pâ,g. 23 (Espounde, 1'913).
• Re,Za-.8tl ao mesmo- tempo que se faz o sinal da. ct'u%.
• Esta. oraçã.D tem um grandê: vwor, com!) se conclui do seguinte caso: ..Estava.
uma pc!»llloa a <~ú-llfellsar·se e acul!lava-se de nAo se t'3r confeuado há muito t-empo,
N-eSS8 oc&siiW ouviu uma \""oz do lado :-Ainda boj(o! Ainda. hoje! É quê e. confessada.
costuma" .. dizêr todos 08 dia. aq"llela ora.ç-lio,'
~ M&iorat
~ A grande quanti-lade clê ora.-çõe1! para (I deitar- indiea.·nos o terror que le a.po-
dera. dê muita. gentel ao B.l)I'oxima:r-$f!I a noite.
'; Este hino 8. luz era in~aria.ytllmente re:zado por meu avó, homem do po'Vo, 6-
arquivo du mais beJ.u tra.diçôoett, que o ensinou a todos os tUhos. Representa bem ..
alegria. dos homens ao romper do dia, que afa8ta para longe aI' trevfII;I! ehei ... de mia-
t.éri.o e de terror.
TRADIÇÕES POPULARES DE S~NTO TlRõO 25

Levai-nos ao celeste império Daquele ente divino)


Nosso coração e alma; Coberto com pobres panos,
Botai-nos a vossa bt'nça~ Figurando de peregrino;
Virgem, mãe dos pecadores; Sendo dos céus a beleza,
Brilhe no c.éu com os anjos, Mais belo que 'luembim.
Na terra com as flores. Deviam seT pano<; de oiro
E o leito de marfim:
Leyantai-vos, pombas brancas, Entenderam os três Reis1
Dêsse leito em que estais; Que eram senhores de grandtu,
Vinde·nos dar os Reis, 1tostrou naquele mistério
bulas que não nos conheçais; Que nào amava riqueza;
Qué-los deis, qutA·!os não deis, :\! Fizeram suas ofertas

Sempre com alma ficais. Naquela gmta feliz,


Glória seja ... Ouro1 incenso e mirra,
Produção do seu país;
c} Deus vos dê festas felizes, Aceitai} disseram êles,
Estimados moradores: Os três Reis do Oriente,
A betJçiio de Deus vos cubra Ouro, incenso e mirra,
De virtuJes e {axores; Que ,"'os damos de presente;
Deixai as vossas moradas Aceitaí~ meu Deus Menino)
E marchai alegrementel E dai-nos do ceu a palma;
Vamos visitar JlUUS. Levai ao celeste império
Nosso coração e alma;
Os três Reis do Oriente Assim como vôs nos destes
)<1 chegaram a BeJúm; Uma 'strela p?ra guia,
Já adorara.m Deus :\fenino Daj~nos eterno uescanw
E à Virgem 11àe também; E a \'OSSéi compa.nhia.
Admirados de verdade, Glória seja ...

di Reis galegos 1

No portal de BeJêm, A mula mochila come,


Cidade de Galileia, E o boi tJwchila l'erga s.
Como lstais, 1'irgerl parida? Ah, »li amigo, ali, mi amado)
Como 'stais, virgt'1l- dOl1cdla? Pois a morte assim se ordena,
Como 'sta.is~ vú"gen parida 7 Se fores ó monte Calvário!
Pedeni:~e a S. Gonçalo, Lá vereis 'star t1a 'scalera,
Não de\'e de tengHir pena} O crucero é o letre1·o,
Por vê~lo tillio de Dios Que dirá de tal 11Uftlera:
Nado em tanta miséria. Aqui morreu jasu-Cristo,
Não tem nada em que O envolviI , Rei do céu e rei di a terra;
Senão uma pouca d'elva 2. Morreu pelos pecadores,

, A mu!hoer qUê me oanbJu e:Ates R.f!is é de Areia.s e diese-mê qu-IJ. a veni.o era.
muito antiga.. A cantadeira pronunciava.: Virxem, Xuda.8, miciria, qlticera, etc. Oir. Rev.
Lwit., 'foI. 11, pag. 23-3.
:a CorruÇlllo de huba Otl erba (ant.,. Hoje yerba. Dicciún. EapM!.QI Porl. de Mu-
oaHlnhas Valdez, Lisboa, lSII».
3 Mochila, sa(\o de pano ou de couro Bacer nwchüa, fazer alfoTgoe, proviMIto.
V. DicWn. eít. ondé se regista tambêm o termo erger, levant&l', u!ado s-ó na Galiza. Sêra.
- ..go-oonu~o de Uega, eh.ecgB?
A minha. informa.dora. u.plicolJ ~ .A. muja <comia a éna e o boi chegava.a. parA. !lo
beira do méniDO.
26 REVISTA LUSITANA

A todos Te deu renlédiQ; Hoje é dia de los Reis,


Pilatos le te"\'e a culpa, É principio de bom ajo
Pilatos culpa tivera; Onde donas e doncellas
Judas foi que o vendeu D'EI-rei pediu Aguinaldo,
Por trinta dinheiros de prata, Que nos dê indulgência,
Porque éle mais não quisera; Aquelas qne Dios nOs Java.

:-':outro estilo:
PC1'dixi, Senhor, Bem cantados, mal cantados,
Pelos bern cantados. Bem haja quem os cantou i
Pelos mal cantados; Eu 'stava nmÍto rouquinho f
'stava noite és-cur.a j Bem haja quem me ajudou.
'stava encatarrado.

Alêm das cantigas publicadas nesta Re1'isfa (\'01. XVlll, pág.


199) ouvem-se muitas mais. Nos Reis do ano corrente cantaram..
-se à porta de meus paIS as seguintes:
Viva lã o senhor F ...• \'iva lá o senhor F, .. ,
Alfi~lete
de oiro .:to peito; Raminho da oliveira;
Quando passa pelas môças Eu espero que inda case
Empis-ca-lhe o olho direito, eda princesa primeira.

Viva lá o senhor F ... , Viva lá o senhor F ... ,


Garrafinha de licor; A flor da peonia;
Venho-!he fazer a festa, Foi o mais profeito cravo,
Em nome do seu C1:1Wr. Que nasceu na íreguesiCL

Vh'il l:í. o senhor F. ". Viva lá o !'\cnhur F ""


Onde põe as suas hctas? Correntes de oiro ao peito;
No meio tb sua sala, Quando 'Vai p'ra qualquer partc~
Parecem duas caniwtas. Todos lhe garcIa respeito,
Vi,·a lá a senhora D. F ... , \Ti\'a lá () senhor F ... 1

Raminho de pconi:, ; Raminho de bem t"luerer;


f: honita como o sol, Quando se pi)e à janela,
E data como o dia, As pedrinhas faz tremer.
Viva iá a senhora D, F .. , ! Viva lá o senhor F ""
É profeitillJw em tudo; Alfinete de oim ao peito;
A boquinha redondinha, É o hottte da nossa terra,
Os bdclnhos de \'eludo. Que eu entendo de mais respeito.

Viva lá o senhor F •..• Vi\'a lá o senhor F ... ,


Raminho de salsa branca; V ()u~lhe pedir um favor;
O seu corpo é de ne\'c, Que trate a sua senhora
E a saa alma 'stá santa, Com carinho e a~or.
Viva lá o senhor Fernando,
Os anos que Deus qmje1',
E a senhora D. Clementina
Que Deus lhe deu por mulher.
1RADIÇOES POPULARES DE SANTO TIRSO 31

- As cinco são as cinco chagas de Nosso Senhor Jasu-


·Cristo, as quatro são as quatro Patriarcas) etc.) etc.
- Anjo Custódio, quereis ser santo?
- Sim, Senhor, quero.
- Dizei-me as seis.
- As seis são os seis drios de Bento que Hascera no monte
Sinal 1 plra alumiar a Nossa Senhora, as cinco são as cinco
chagas, etc.
- Anjo Custódio, quereis ser santo?
- Sim, Senhor, quero.
- Dízei-me as sete.
- As sete são as sete dores de Nossa Senhora, as seis são
os seis c:írios, etc.
- Anjo Custódio; quereis ser santo?
- Sim, SpnhoT, quero.
- Dizei-me as oito.
- As oÍto são as oito do Corpo Santo, as sete são as sete
dores, etc.
-- Anjo Custódio, quereis ser santo?
- Sim, Senhor} quero.
- Dizei·me as nove.
- As no\'e sào as nove horas dos anjos, as oito sào as oito
do Corpo Santo. etc.
- Anjo Cm;túdiO l quereis ser santo?
- Sim, Se.nhor, quero.
- Dizei-me as dez.
- As dez são os dez mandamentos, as nove: etc.
- Anjo Custódio, quereis ser santo?
- Sim~ Senhor 1 quero.
- Dizei-me as onze.
- As onze sào ~1.S onze mjl rirgcs, etc. etc.
- An.io Custódio, quereis ser santo?
- Sim, Senhor. quero.
- Dizei-ule as doze.
- As doze sào os doze apóstolos, etc.
- Anjo Custi',dio) quereis ser santo?
- Sim, Senhor, quero.
- Dizei-me as treze.

I Sinai.
32 REVISTA LUSITANA

- As treze são os treze raios de sol, que arrebenta o diabo


maIs pequeno até ao maior, as doze ... 1.

8. Oração para a coisa ruim


Nossa Senhora me assista, Valha-me o Pddre Eterno
Nosso Senhor me dê luz, E o Santissimo Nome de Jesus 2.

9. Orações e romances de Nossa Senhora


a) Valha-me a Virgem Maria, Neste mundo será rei,
Valha-me a Virgem Sagrada, E no oitro rei c'roado;
Valha-me a cruz do Senhor, Três dias antes que morra
Valha-me o Anjo da Guarda. L'aparecerá Nossa Senhora,
-Para que nasceste, filho? Dizendo-lhe.; Filho. ou filha,
Para ser crucificado; Confessa os tens pecados,
Quando '-leste ao mundo, Que eu sou a Virge Maria
Tudo foi alumiado j Que vos venho alembrar;
A btu co'as estrf!las, Vou pedir a ]asu-Cristo
Tudo foi remanguado 3: Que \'os queira perJoar;
Os panos que te envolviam Tua alma será salva
Era de fina hohl1lda 4~ E posta em bom lugar.
Os peitos que leite davo
Era da V'irge sagrada j b) Estando a Senhora naquele iteiro 1
Que desceu do céu à terra F;.\zendo oração,
No dia da Ascençãü, Chegou Madanela e mais S. João.
Para ver 05 Santos Padres -Senhora, que fazeis aí?
Co divino sâiugue. hom; Vosso filho vai ali.
Dente 5 daquele pundão r, - A Senhora a:!.sHbú~ àquele ifeiro
Vai um cruzt'iro armado; E ja o nu". viu;
A vi.rtude que êle leva Botou de porta em porta]
É Jasus crucificado, De rua em rua
Co seu sáinglU" derramado) ln.tf! à rua da Amargura.
Seu coração 'sfref){lssado. -Ó cabeça sagrada, coroada
Quem esta oração disser, de espinhos\
Um ano continuado, Atravessada com juncos marinhos;

I Erita. oração dAve dir.B.r-8é quando a g1mte f!lai de casa.


I À velhinha qu~ m.' ensinou a ()ra~1to i!!U~'erleu o seguinte: _Uma. n.oitê ia por
um c-a.millho fura e viu uma lu", a mefer,slJ Q ela, Di.siJ:e as palavras li ti. coisa. deu um
6stoiro 6 d-éIUlpllri'Ceu •.
A informadnra, já paralitica, dhia.-me isso com uma C<ln"lcção profun~!a, act'e8·
centand() que 11 Il'·r:. dda anegara."a poder-se ir a tôda a parte, sem mêdo, dizendO-Sê
a oraçilo .
• Aterrado, a8!'iombradot'-A minha informadora explicava: Tudo foi iluminado
com os raios. TaJvf\1it seja (ls!a 11 interpretaçiio mais Erx:act!\~·ofuscn,do atê pél."der 09 sen-
tidos-, pois qu.ando alguém ca.i. sem sentidos, o que ~ 'Vulgar nas igrejas, di!;-!!!)): re·
m.IUlgO!f 1fura /) lado,
I Nunea ou\"1 êmpr-e:;nl' ./Jste termo !lO PO\'O-Q que mo lev.'. a S!lpOt: Ou a orn~
çilo é muito antiga, ou teu, ,,:rigem Htll'l'ária,
De.anté,
~ PeuJilo.
Outeiro. eh. Rel'. Luslf" vo1. XVI, pag. 200.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO

3· OraQão de S. Gregório
Padre nosso, S. Greg6rio, P'ra alcançar as cinco chagas.,
Assubiu d prega tório .. , Do divino Manuel;
Üa. era Santa Ana, Manuel 'stá no céu,
Outra era Santa Catarina; Embanando {) S. José,
Usava de penitência, Os anjinhos 'stão cantando:
Vestidinhas de burel, Palre no.st,,€ dominé.

4. Oração para quando se está a morrer


Santo Inãcio de L,'ó 1, Vallla-me a Virge e a Virgindade,
A fromatura de Jasus . Valha-me a Santíssima Trindade,
Valha-me a luz da luz, Vao os demónios todos p'r'ó inferno
Valha-me o Santo Nome de Jasus! E mais o màral.

s· Oração para a trovoada


Santos Deus) Coraçc)es feridos,
Santos Fortes, Sangue derramado,
Santos Imortais) Nosso Senhor Jasu-Cristo
Miserere nobis; Se meta entre nós e o p'rigo 2,

6. Oração do Santíssimo Sacramento'


Por aquela noite escura, Trouxe-te na outra vida,
Morreu uma criatura Não me foste de proveito;
Sem arreceber o Sacramento, Ensinei-te a benzer,
Mas com grande arrependimento; Não quiseste aprender;
Com culpas e pecados, Ensinei-te a rezar,
Foi dar à face de Cristo. Não me quiseste honrar;
Lá te deixei os meus calvários)
Diz a alma: E sempre te ",i correndo;
Lá te deixei o.') meus jE'juns,
- Ó Senhor meu Jaslt-Cristo, E sempre te \'i comendo;
Eu visitar-vos venho; Vai-te, alma condenada!
Sou a oyelha mais perdida, Foi-se a alminha muito triste:
Que do vosso reLanlH) venho.
- S. Miguel) 'Vinde abaixo)
Diz Jasu-Crist.): Botai pesos à b~\lança;
Os pecados enun tantos,
-E'Scu#a-me, ó alma dezelosa) A balança ia ao chão!
Que eu prímeiro te e.scuitei;

1 Loiola.
~Cfr. Bel!. L-!.ufi!., vo1. XVII, pago ilH. A ora'Çã,-. d!:;:,·~" 'l'land.o (> trovão estala e
após o gri1o-S, Jen'lIlimo, Santa Bdrbora 1/iJ"[Jf!:
Cllagd.S abertas.
9 Cfr. I.oit\) de. Vasconoel.1o!li, Romanceiro Port" l,;lg. ~,Q 63B.
30 REVISTA LUSITANA

Vem a Senhora e diz: Por milagre da Senhora,


Ficou a alma contente.
- 6 meu filho bem i'lmado,
() meu filbo bem criado, Quem esta oração disser 1
Pelo leite que mamastes, Doze anos continuan'.ente,
Pelo sangue que derrcimastes, Será t3m certo salvar-se. , .
Salvai-me essa <illminha1 E iúi pa.ra o céu eternamente~
Ql1i> i/t . . ," 1,,(" vili perdendo. Quem a sabe e não a diz,
-Minha mãe )11C manda Quem a ouve e não a aprende,
Que passe o "no correndo. Lá no dia do juizo
A Senhora tiwu a SUil touquinha, Verá como se arrepende!
Ficou o pt:w inceleate;

7. Oração do Anjo CUstódio 2

- Anjo Custódio, quereis ser santo?


- Sim, Senhor, quero.
- Dizei-me a uma.
- É a hora em que Deus nasceu sem nunca ter fim. Amêm,
las"s. '
- Anjo Custódio, quereis ser santo?
- Sim, Senhor, quero.
- Dizei-me as duas.
- As duas são as duas tabuinhas de Moisés, a uma é a hora
em que Deus nasceu sem nunca ter fim. Amêm, Ja8us~
- Anjo Custódio, quereis ser santo?
- Sim, Senhor, quero.
- Dizei~me as trt:s.
- As três são as tr2s Af/angelistas1 as duas são as duas ta-
buinhas ... , a Uln:! .••
- Anjo Custódio, quereis ser santo?
- Sim, Senhor, quero.
- Dizei-me as quatro.
- As quatro são as quatro Patríarcas, as três as três Avall-
gflistas etc.) etc.
1

Anjo Custódio) quereis ser santo?


- Sim) Senhor, quero.
- Dizei-me as cincD.

Variante do fim:
Devoto~, reztd o rosnir{), Quem uta ora.ç.[o dissêr
Nilo o 1rllglte{s pelo cllão, Se:l:ta·f~i1ft
da pldXiLo.
Que a. rirge é piedli8.f1, lndo na proeissilo,
Dtl nós tem compaixã.o. Tirará quatro almas do fogo do purgatório.
I crI'. Ens. EfÂn,Qgr., t. m, pag. 20G, Retr. LusU., vol. 1\'1, pág. 282, e xvu, pág. 287.
TRADIÇÕES POPULARES OE SANTO TIRSO 33
-----
Se num quereis crer, Co'a Santa DivindaJt~
Assubidc àquele ;feiro, Correrei lõda a cidade.
Vereis a rua regada e'o tamanho pêso ,-la l:ruz,
C'o sáingtte verdadeiro; btftf os caminhos da'vo luz,
Mais adente vai o cordeiro, E as pedras (l-tromcntm'um;
Amarrado à quelun..a ; E }tlSUS ia entrando
-Ajuda~me aqui, Simão. Pdas portas de Jerusah~m ,.
- Sim, Senhor, ajudarei, Para todo o sempre. Amem.
Quinta-feira ue
endúelll;as,

c) Indo indo a Scuhüra


PeIa rua da Amarb,'1.lra,
Pela rua de Tristura,
lncontrou filhas de fiéis,
Muças de j?rusalêm:
Senh-oril le jWt:!{ul'ltrm:
-- Vistes por aqui meu filhu?
- Vosso filho não conhecenms,
Mas dai·nos sinais certos,
Resposta ·vos tornaremos.
A senhora foi andando,
Encontrou uma mulher
(Pilafnma 1 se chama"va)
E l.e preguntolt :
- Vistes por a.í meu filho f
- Vosso filho aí vai,
Cercauínho de inimigos,
E le vão chamando:
G.'1l.ilól , Galilélt,
Sapateado malvado!
E eu a êle me cheguei
Co esta toalha o alimpei 2.
-Bendita sejais) mulher)
Que três nobrezas tendes.
Bendita sejais, mulher,
Que tam anwraUlc é1:>!
A Senhora foi andando
Até ó Monte Calvário;
Qu.;mcio lá chegou,
Já viu o Senhor crucifit::ado:
·-Ó meu filho tam amado,
Ó meu filho tam querido,
Pelo leite que mamastes,
E o sáitl,r;ue que derram"lstcs ...
-Não importa, minha mãe,
Tudo tinha de passar,
A pequeninlws e grandes,

f Dove esta.r por peUtreM, rôta, mal ananjaua.


I cEra. a Madane!4 quo 1,,1.,,'9, fi estendia li toalha. a Senhor!u.
REv. LtTSIT. vol. n, fase. 1·2. 3
34 REVISTA LUSITANA

A todos hei~de salvar;


Venha cál minha mãe,
Que quero fazer testamento
Dos meus alqueridos 1 hens:
A S. Miguel {) Anjo deixo as balanças
ptra pesar as almas p1r'à bem-av'cnturança;
A S. Pedro deixo as chaves
pIra abrir as portas do céu a quem o merecer;
E a vós1 Minha Mãe Santíssima,
Deixo-vos essa santa oração)
Quem se qui'jer aproveitar dela
Tirará quatro aurmas do fogo purgatório:
A primeira será a sua,
A segcnda de seu pai!
A terceira de sua mãe,
A quarta por quem mais bem qui.;er
Ou no coração trouxer.
Quem esta oraçào disser
Um ano continuamente,
É tam certo salvar-se
E ir p'rfó céu iufemamente z;
Quem tia sabe, não na diz 3,
Quem tUl ouve, não uu aprende,
Lá no dia do Juizo verá como se arrepende.

d) Pus-me a pé de madrugada ", Domingo da >Surre;çào,


Fui varrer a Conceição; Que me deu o seu lencinho,
Encontrei Nossa Senhora Bordado por sua mão;
Com um ritmo de oiro na m;lo; Numa ponta tem Sant'Ana i,
Eu pedi·lt~ um bocadinho) Noutra teru S.joão;
Ela me disse que não; No meio tem o retrato
Eu tomei-lo a pedir, Da Virgem da Conceição.
Ela deu-me seu cordão l Amêm. Kirie leif:.01L'
Que me dava nove 5 voltas
DerredOl' do coração, e) Confissão da Benhora
Que me dava outras no'\'c
Da caue{;,a até ao chão. A Vú'gc se confessou
Ó meu padre S. Francisco 6, Numa mú/hão ao domingo;
Ó meu padre S. João, Não era por ter pecados,
Aceital-me este cordão, Nem pc-los ter cometido,
Que me deu Nossa Senhora Nem era por dar honras
Sexta-feira da paixão, Ao seu ingénito filho;
Sábado da Aleluia, O padre se assentou

Adquiridos.
, Eterna.mênW. Cfr. incelell!!" por -e:tc~lênte. V. E11$. EthllQgt'.,t. m, pág. 208:,
• O sentido 06; Qllem 9. sabe e não a di" ..
etr. FolclOre da Figuei~ra da Fo~. t. I, pag. 209.
Va.ria.nte: SfJte volta.s ..•
V..riante; Ó meu padre. S. DilÚfl!
Va.riante; Duma banda tem S. Bento. Aa bandu pê.tteneém ao cordão.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 35

E a Viyge se ajoelhou; Senhor 1 lembrai· vos de mim;


O que a Vitge trazia no seu ventre Son al1uela Mcu/anela
Tóda i1 terra ahulliml, Que sempre vos o[~ndi;
E o padre seu sentido duvidou. No alto cruelm\.'llk,
- Não vos actmlreis, padre, ~\T"a cmz tam dil.ig:ente;
Que nós semos todos do mistério Se me chegarà a paixão)
Da Santíssima Trindade; Meus cahelos tirarão
O primeiro que eu amei Por dOlldr> me arrastarào,
Foi a Deus, Nosso ScnllOf; Por c<Hl1inhos e por aldeia!';
A(llll o trago em meu ventre Do;! snutdâoso e candeias
Criado a meu f;wor; E companhia
O s-L"gl1ndo que eu roguei Enquanto noto vem o dia,
Foi iJ vossos pais mais que a \'6s; (ATeias)
Eu não sei se pecaria.
Em rogar ii Deus por vós; gJ A\'l\ Maria, de ~~rallde v.dor,
O terceiro '<lU!..' eu matei l\:,únha dos Anjos,
Foi um "dragtio infernal, Do Ct::U rc.~·phwdOf-;
pIra conseguir o meu menino Muitas maravilhas
Sem pecado original. Aquek Senhor;
-AIL"'lJauta+tc, pomba briltlC;\, Oraçilt:s divinas
Olhos do Cristianisl'uo, A \'irgem M .. ria;
ESi)ÔSa do Espírito Santo, A Vir!-!:t:Tn Mari<l,
E mãe do Verbo di\'ino, Deus a escolhcu ;
- Fi<:.n+te daí, padrl', P'ra ser mfie sua,
Que cu "OU p'ra Belém, Pois ela nasceu;
Que é nascido o meu menino, Dela nasceu
p'r" imparo de todo ü bem. O n1JSSO bom ./as"""
Sah:;ldor do nmndo,
f) - Mnlllt'r cheia de prisadn \ ESj)(::lho dI.: Inz;
Mulher chei;l de tristura, Espelho de luz,
Que ....os cai, l>eh~ 1lilltura .. P nos Deus salvou;
f~ um /wmc flue l'i 1000H!Y E nós tam iugrahls,
Pela rua da amargurai Sempre a pecar ...
Ês~e home era jl"''>US1 Que cont.-lS hilvelllos de d.n
E las.tls IOVíIVa. a cruz.; Aquele divino Senhor,
A cml. era tam pesaua, Que nos hj~de julgar,
Que ncm sete a lova1!O j Nos juiganí bem?
E cada pa<;sada que d~wa Pedimos a Deus pdo reino do céu
Ajoelhava ao chão1 diz.endo: [l'ra sempre. Amt:m.
-Assim} àssim,
Senhor mel1~ e Senhor mim, (Areia-s)

h) Doze excelências quo dou o Sonhol' à Senhora da Graça 2

Ua Avé~Maria. Ó de graça cheia!


Cheia de graça; Quando o mar abr"md;t,
Oleia de graça, O sol a!umeút;

1 Desprezada?
I Canta.m~na. a.s rom!:liraEl, primei.ro urna. vez; a .seguir ~()meçam: Duas ex<ceUn~
cla8, etc. e cantam· na. dua.s vozes; depois: Tr€s exalêndas, I.lt"", trôs vêzes , o a88im por
d.e.ante até doze. E pecado começ·l1r a. oraçã.o, nâ<l acabando.
36 REVISTA LUSITANA
~---------------
Se êle alumeia, Se êle se p,õe,
Deixá-lo alllmiar; Deixá-lo Já pôr;
Nasce na serra São as cinco chagas
Põc~se n-o mar i De Nosso SenllOr.

.'( Doze excelências da. Senhorn do Rosário

Ua excelência, que deu a Senhora., Visitar ita alma


A Virgem do Rosairo; Que vai para a glória,
Filho do vosso ventre, p'r'ó céu, triunfar,
Se fez um sac!oiro; Dar as uoas contas
SlIclairo auerto, Do bem e do mal
Vai o Senhor fora; (Areias)

10. Romance de Santa Catarina de Siene


Santa Catarkta do Sena Anda) Jasus que te chama;
Era filh;'1 dum rei moiro; Anda contar ltllL"ô contos
Ela matou a seu pai, Da tua vida passada;
Ela com uma lspada de oiro; - Os meus contos são Lcm poucos~
Seu pai era um tnrco, A minha vida é bem larga;
Sua l'nãe arrenegada; Dt:sceu um anjo à terra,
A tótl<ls as horas C!O di,., S. Gabriel se ch<tmava.
Muito castigo lI.! da\'a, Ú que bodas hão no céu,
Com Etas conbs grossas ~j que bodas haveria!
E outras mais delgadas, Que se Y di arreceber
A ver se Catarina 'SCfatln'lIf C!7'a; A ditosa Catarina.
C]tarina o (lue dizia: O Senhor por esposo,
-~Com }(l.~'HS er.1 C'asdda. A Senhora por madrinha.
-Anda cá, ó Cat.nina) (Areias)

II. Oração de S. Francisco


Meu terceiro S. Francisco, E feridas no seu coração.
Confessor foste de Cristo,
Pelo livrinho que abristes, Quem esta oraç tio disser
Pelo coruào que cingi~tes .. Sev; anos continuados,
<,Jue Iin<b Senhora vós vistes! Sexta-feira da paixão,
Seu amado lhe preguntou Terú cem mil anos de perdão
Se por aquela rua passou, P~\ra a sua. salvação.
Cheio de iragHila-s~

, De Siellà ll1\tunllmcnle. PHo ClJIltexlO da oração parece tratar-g.c d;:, Santa Ca-
tr~rina do;) Alexan,lria e não da misLica. rflligiu~" it.a.lirma. V, l.es NauvfJUes Fleurs dea
Vies dt'-8 Sailltls pAr un Solitaire, Lyon, 1[DCCLX. TOlfl{\ Stlcúnu, pAg. 391.
-O llmqwnf/O de Sania Helena, public&do a pãg. 2~ dos Ens. Etlmogy., começa:
Santa Relem).
Raillha de Bona,
Moira fostes,

V. Ens. EtlwlJ{}r., t. IV, l)&.g. 200 oe aog.-Sl'lJ'Ita Catarina é Leite de. Va&concelo8:,
BQmanCtH~rO l'ort' f pág. -fl:l.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 37

x
Orações irónicas

Os Sacramentos
a) O primeiro ~ baptismo1 li) O primeiro é baptismo,
Onde foste baptizado? Creio que és baptizada;
Que saiste tam perfeito Se assim fi"ir, quero que sejas
Dessa água stlgr''l.da. P<1T3 sempre minha amada.

o segundo é confirmilção\ o segundo {~ confirmação,


Olha o que vais confirmar! Confinna, amor, ii yerdade;
Dos pés do confessor Tamhêm quero que me dj~as
Ao inferno vais pMar. Se me tn tens amizade.

o terceiro c comunhão, o terceiro é -comungar


Olha o que vais comungar! Pela Páscoa da 'Surreicilo;
Uma h6stia consagrada, Tambêm quero que me di~as
Um corpo particular. Se me tu queres hem ó não.

o quarto é penitência, o quarto é penitênci.a,


Que penitência tem; feito? Eu algrm tenho feito;
Ainda não fiz só uma Tenho cometido mil faltas
Que a De\lS guardasse respeito. S6 para te andar ó geito.

o quinto é 'stremunção, o quinto é 'stremftnçli-o,


'stremece o sangue na,s veias:; (t um sacramento forte 1
'stremece a alma no corpo, Que se dá 11 pendente
Se Deus a falseia. Na hora da sua morte.

o sexto é arde, o sexto são ordcs,


Sacerdote à bela palma; Que tu tens p'ra me prender;
Arranjais por vossa mão Na cadeia dos teus braços
Perdição da vossa illm.a. Não se me dá de morrer ...

o sétimo é matrimónio, o sétimo é matrimónio


Matrimónio da memória;
Fazei-nos filhos de Deus
E herdeiros da glória I,

I Ne$!te:!l sa.c-rsmentolt Ob!U",-rVA"I'IO'l nmll (l8rtn. {',ompoll>tnrn., não ca.hen,lo, púrtanto ,


.sob o Utulo - Orações irónicas - mas coloco·oE fl.fllli para 8Me.m eon(l'ontadn$ com ()R
segUintes.
Por aquilo que vai 11'1....90 oonc.Inir~.ê há -o tlegll1ntê: Algumu oraçõêA el'J\m pró-
prias para -rezas; It egog:A.fI opôs \') povo canções burlilselts; tj finalmente miBturam-l'Ie
por v6zNl as ol'9.-ções com as paródias, stmdo jà dHicH sap&rá.-Ias.
err. R8v. Lusit .• TOI. XVIII, pág. 282.
REVISTA LUSITANA

Os Mandamentos da Santa Madre Igreja


o primeiro (~ ouvir missa, o t(êTcciro é cOlmmgar
Eu nunca fiquei sem c]i-I; Pela Páscoa da 'Surreiçi'io .•.
Só daque1.'\ vez, menina 1 Mcninil, husca a Igreja,
Que cu 'stive ii. tua janela. Se não corr-es 'scomunlu10.

o segundo é confessar, o quarto é frjimr,


Eu sempre me confessei; Bcm Jf>jita quem mal come ..
Só não dísse ao confessor Os beijos (bi.a menina
O que contigo passei. S:'io nos sustentos dum Iwme.

o quinto é pag;ar dízimos,


Eu 11UI1(:.1: os fiquei devenJo ;
Só () ano que acabou
E êste que vai correndo.

3
Mandamentos do Padre
Primeiro, amar a Deus por dillheiro;
Segundo, eng'ul.íu todo o mundo j
Terceiro, comer uoa vaca e Mi canleiro;
Quarto, j(~jill.lr depois de farto j
Quinlo bobt'y vinho hranco e qne não lP faurte CD tinto I;
Sexto, que, se assim fÔf, tudo te. corre tI'rei/o;
Sétim.o, nunca faconteça c.omer nahos sem cabeça 2;
Oitavo, comer bacalhau sem lspinha nem rauo 3;
Núno 1 dormir quando tem son.o;
Décimo

Êstes dez mandamentos se encerram em n6s:


Tudo p'ra mim e 11<1.,1:1 }.l'ra \>bs '.

4
Os cinco sentidos
a) Amar e saber amar, Amar e saber amar
Ama,r e saber a quem ~ São pontinh.os delicados;
En amo a.o meu amor) Estes meus cinco sentidos
Não amo a mais OlO;"rtlêm. Em ti andam empregados.

NIlo f1llttt,,. oom Otlllsa mmJmma 11 al{Jtlêm é dn.T·lht~ 'ludo quanto pl'ôCisa.
Nab08 s..m cabeça silo a~ nabiça!t.
Brl-C'alhau sem fi'Rpilma ti"""/- rabo, isto é, do melhor.
efr. Ens. Etlmogr., t, l\', pAgo IS:!, e Rtw. L'~8i-t., vo1. X\'III, pa.g. 2fl!.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO T1RSO 39
------. -------
o primeíro diz que é ver b) O primeiro diz que é ver j

As culpas que cometemosj Só em te ,,"er me alegro i


Confessá-las e dizê-las São os cinco sentidos
Ao confessor que escolhemos. Que eu lU menina emprego.

o segundo é ouvir, o segundo é ouvir missa,


E eu que gosto de 'scuitar Pois eu nunca fiquei sem ela;
Tua conversa, menina, Súmell1'cs aquela \'ez
Que é cap'lZ de me encantar 1. Que eu lstive à tua jineZa.

o terceiro é cheirar o terceiro é cheirar


Falsos gostos desta \'ida; O raminho de alecrim;
Cega e eterna gl6ria As falas que dás a outro
Já ta Deus tem prometida 2. S:10 facadas pard lnim.

o quarto t:: gostar o quarto é gostHr,


Do Divino Sacramento; Bem desgostoso fico;
Recebê-lo em graça Desculpe-me, menina,
Dá paz e acatamento. De quanto le tenho dito,

o qnll1to é apalPar o quinto é apalpar,


a corpo à abstinência; Não apalpo, mas passeio;
Abrangê-lo com cilkios Diga-me, menina,
E sofrê-los com pacéucia 3, Se vive com arreccío.

(Continua)
AUGIlSTO C. PIRES DE LIMA.

I Variant&:

Estar fllt-nto a Ella.


A mis.sa com aHmt;.'ão • Fugir ia. murmuração.

1 Variante:
Com!iu'r&1' na etêrns. glória
Ql1e p't'ÓS llonfl 'stâ promHida,
Va.riante:

o quinbo .& apalpar L"ht'rio de '!lUcio!!,


O corpo com peliet8ncia, E sofrer com paciência.


4
TRADIÇÜES POPULARES DE SA~TTO TIRSO
(2." série)
r,CúnHnuar,lIo ~o ,01. ::1:1: da Ret'. LU»i!" pAgo &-311;

XI
Cancioneiro

Ó ponte do Ave, recreio, Aúeus, Senhor da Cana Verde,


Adeus, capela dos Passos;: Adeus, Largo dos Carvalhai.s ';
Adeus, Igreja de Cristo, Hei ...de "irar as costas ao mundo,
Onde se formam os laços I, Adeus, para nunca mais.
Adeus~ rua de S. Bento, Adeus, Lugar do Tapado \
Onde o meu amor passeia, Auens, Casa do RetLro;
Grades do Campo Novo 2 Eu não posso ir acabar
Onde o sol arredonde ia. A minha "vida contigo.
Grades do Campo ~O'"O Adeus, lugar do t:rgal ",
Onde o sol arredondl'itt, 'Me deixas a minha paixão,
E mais acima se avista: Onde eu tenho e nào nego
Adeus, Largo da Cadeia 3. em amOr do coração.
Adeus, Largo da Cadei.. ~ Adeus, lugar do Fial 7,
No meio tem a Relação ~ Onde formei meu intento;
Mais acima se a\'ista Agora dera dinheiro
O largo da Feira do Plo. E n10 me viesses ao pensamento_
Adeus. largo da Feira do Pào, Até às pedras da rua
Adeus, Senhor da Cana Verde; Eu devo obrígaç0es,
Hei.de virar as costas ao mundo Que guardaram meus segredos
E o coração para êle. Em certas ocasiões,

Ai li.
Ai lé.
Raparigas d() Picoto s,
l.ambareiras do café.

j A descrição da. vila. de Sa.nto Tirso, qub "'I"ai le!'-S'1l, ê que nM d:â pr-«t(\i(}!I.a.I! infol"
mlLçõM ,~ôbre a.ntigo/! nomo/ts di! lugares, foi colliida por mim na fl'e§nélSt& de- A.reia.a:'
Cfr. A. Pimentoe.l, Santo ThyJ"w de R. o'At:e, pag. 72,
1 O Campo Novo flca.va no lugar do a.ctual jar-dim,
I A nadeis. aca.ba. de ser mudada,
• A feira. do ga.do realiza:va·se no Campo ~o ..o, mudando depois plUa o Largo
dos Carvalhais, hoj~ ID-:lito m~lhorado,
~ O l.uga.: do Tapado fica. no caminho que -des>ce dos Car>;,alhllis para. o M ....
tadoir-o.
& O lugar de ergal fica. entl'~ Santo TiNo e :a freguesia da Santa. Cristina do
Couto.
o lugil.T do Fillll f.ca tarnbiim para 0'8 lall()-!l de Santa Cl'i~tina.
• Lugar 11a "ii!'\. di!< Santll Tirs\),
TRADIÇOES POPULARES DE SANTO TIRSO

, Em Santo Tirso anda a morte, II Freguesia de A \'idos 6,


Na Palmeira a sepultura; Cercada de cravos brancos,
Em Avidos anda a chança, Onde o meu amor passr.ia
Em Areias a fernr08ura. Domingos e dias santos 7.
3 Adeus, Igreja de Areias, 12 Aldeia de S. Martinho,
Cercada de pinheirais: De pequenina tem grnça;
No meio tem um castelo, Tem a fonte no caminho,
Onde combatem meus ais 1. Dá de beber a quem passa.

4 Adeus, freguesia de Areias, 13 Eu pintei a cana verde


Deixar-te muito me pis.a , Na Igreja de Bongado;
Ainda espero de voltar Pjntei~11 da cur da rosa,
Ao centro da natureza ? Saiu~me da CÔ! do cravo.

5 As rap'arigas de Areias
São bonita.s e donzelas: Na ponta do teu nariz;
E os rapazes de Avidos Eu pintei a cana verde,
Dão a vida por elas. Eu pintei~a como eu quis.
6 As raparigas de Areias
São baixinhas e c;ôradas ~ N'o Santo António da Maia;
As da freguesia da Palmeira Tambêm a hei~de pintar
São compridas e romeladas. No lli"o~da tua saia.
7 Ó raparigas de Areias,
Encostai o c. ao valo; Eu pintei. a em Lordelo;
Aí veem as da Palmeira, Também a hei~de pintar
Ferradoras de cavalo. ~as ondas do teu cabelo.

8 Trigueiritlha engraçada, I4 Atiraste~me pedúnhas


Mulhereira (f) afamada; Ao fõrro da minha saia;
Lama, SequeirD, Landim, Minha màe n.10 me criou
Não há oitra coma mim 3, Para os garotos da .l1aia.
9 Freguesia da Palmeira, 15 TOda a mõça que ê janota,
É muito aduladeira i Lá da banda de Valongo,
De inverno tudo é lama, Veste saia sôbre saia
De verão tudo é poeira ". P'ra fazer o c. redondo.
Ia O casar anda em modal 16 Dizeis que viva a RemaldIJ. fi,
'stá a chegar à Palmeira: Não sei que graça lhe achais! ...
Raparigas de Lousada '\ Terra de milho miúdo)
já podeis botar bandeira. A.limento dos panlaís.

! etr. Santo ThyrBo de H. d'At-'e, pág. 68.


; efr. Rl:fflista }.U8it., v. n, pag. 3CI4•
• Atribui-se () dito a uma. mulLer vaidOSA, que o rêpetla. 1i0 \'IH se- no e~pC!lho.
Tambêm ouvi: P'reglll"siu de S. MarlhlhG.
II LoUI!lRodo e uma fl'-eguesia. di:! Famalicão, vitinha da fr(loge~1lia (lê. PJ(.lmeira.
Do concelho de Fl'!.JHali'Üão, !falldO viúnna. de Au'!ias e P,dmcira.
T Oh. ReJ:itda Lusii., \". 17, pago 005. e Santo Thyr~f) d8 R. ;l' A t'e, pago SB.
Ramalde~
66 REVISTA LUSITANA

17 De Lisboa me mandaram Senhora das Doreb,


Um guisado com seu môlbo.- Que taro alta 'stais;
As costelas duma pulga, No céu e na terra,
O coração dum piolho J, Bendita sejais.
IS Se o mar tivesse ,'arandas., Bendita sejaiSt
Ia·te ver ao Brasil; Senhora chIs Dores;
O mar varandas não tem, Ouvi nossos rogos,
Meu amor, por onde hei-de ir 2? Mãe dos pecadores.
19 Aqui-deI·rei! quem acode Mãe dos pecadores,
À rua de Salamanca? :Mãe da piedade j
A mulher a dar nD home Pedi ao Senhor
Às mãos ambas c'uma tranca. Péla cristandade.
20 Eu passei o rio Ave Pêla cristandade
Numa maçã vermelhinha j Não la sei pedir;
Rio A\'e, não moe leves, Não sou mer'ecedora
Que eu sou muito pequeninha! Do Senhor me ouvir.
Do Senhor me cuvir
Nllma maçã camQêsj Estas poucas palavras;
Rio Ave) não me leves, Minha alma se alegra
Deixa-me p'ra outra ve:-, Em ve.r que se sa1\'a.
21 Caneiro do Rio Ave, Senhora das Dores,
Alagado sejas tu! O ...osso telhado
Era meia noitt: em ponto, Ao longe parece
Escorreguei, caí de c ... Ourinho lavrado 3.

Senhora das Dores da Maia,


Deixa passar os peixinhos; Na verdade vo~to digoj
Quem namora às escondidas Não torno cá outro ano
Dá abraços e beijinhos. Sem trazer amores comigo.
22 No tempo das romarias Senhora das Dores,
Andam as mulheres contentes: Vós não permitais
Elas fora e elas dentro, Que eu viva, nem morra,
Arreganhando os dentes. Em pecados mortais.
2} SenIl ora das Dores, 24 Senhora da Livração,
O vosso meDino; Abri os portais p'ró la.do;
As nautes são grandes~ Livraste o vosso filho
tle é pequenino. Das correias de soldado.
tle é pequenino.
Mas é bem criado; Tende-lo pilar de pedra;
Filho duma rosa Bem o puderas ter de ouro l
E neto dum cravol Ou de prata. se qüiseras.

I Cfr. Ensaios Erhnogr•• v, IV, pAg. M.


, Cir. RetJ'ilita LltIt'U., v. 17, pág. 307, D. e 87, e 10, pág. 141, n.O 600; e Tomas PiTeS,
Ccnt.os, p agg. 3'1 e 342,
! A romaria. da Senhora. das D01:6s re&llita-se- na capelinha do mesmo Dome em
S. Martinho d-e Bougado.
TRADiÇÕES POPULARES OE SANTO TIRSO

:8 A treze de Jucho o Santo António j

Tem uma âncora na mão, Por ser a festa mais nova,


Que lhe deram os anjir:.hos S. João aos vinte-e-qnatro,
Na manhã de S. João. S. Pedro aos 't'inte-e-nove.
29 Se fores ao S. João,
Tende-lo pilar de vidro, Trazei-me um S. Joãozinho;
Que vos deu um marinheiro Se não puderes co'ê1e grande,
Que se viu no mar perdido. Trazei-me um pequeninbo 5.

S. João! de Deus amado,


Que é do vosso guião verde? Santinho, de Deus queridoj
Fleotl em Santa Clara Deparai a minha sorte 6
Encostado à parede. Neste copinho de vidro.

30 O Carvalho Santo
De roda de \"ÔS andei; Dá catro castas ue fruito:
Por causa de vosso filho Búgalhos e bogalhinhas,
Muita lágrima chorei 1, Lalldres e maçãs de cuco 7.

25 Santa Luzia, na Trofa, 3 I O meu anwr diz que vinha


Sant'Ana, em Ribeirão 2; Quando a lua viesse;
Santo OU'l,ido, no Castêlo 3, A lua já cá vem vindo,
Santa Olaia, em S. Romão. :tfeu amor não me aparece.
26 Ó milagrosa Sant'Ana,
Ó milagrosa santinha; Quando viesse o luar;
Hei-de vos beíjar a mão, O luar já vai bem alto~
Hei-de vos chamar madrinha. )leu amor não "::iuer chegar 8,

27 Santo Amaro de Paredes, J2 lleü coração é um reloijol


Tem uns sapatinhos brancos, Meu peito da tí(td(1.ada~·l
Para dançar co'as mõças Os dias que te nào vejo,
Domingos e dias santos '. Trago-tas horas contadas 9.

I A Senhora da. Livração tem uma capelinha em S. Tiago do Bougado onde ,6


muíto veneracla. A romaria. ii em ftn!l de Junho.
Con~lho da- Vila. Nova. de FllJnalicão.
Trata·se a.qui do Castêl.o da Maia.. Há tambêm o,lugar de Ca.stêlo em Bougado.
efr. BIJvi8ta Lusit" v. 17, pá.g. 3D8.
Cfr. Trad. PGp. d:e Port., pàg. 216, e Retri8!r~ Lrtsit., v. 17, pág. 310.
Creio quG haveria equivoco na qua.dra n.~ 713 da llevisfa IAlsit., v. 11, pág.3tO,
.onde s>& lê 8aúde em v-&z dE'! sort.e.
1 Cir. Trad. PQP. de l'art., pág. 1'28. Va.riant.e de Monta.l~gre colhida. por A. J. Mo-
.rais Caldas:
o carvalho é mimoso, Da bogalho9 e bQgalhas,
Dá no ano quat.ro frutos; SaUII.palha8 e maçãs -c.uca.s.

SaUa~palha8 são bogalhas pequenas. V. A. C. Pires dê Lima, Jog 08 -e allpúe:8 l'i~


fantas, pago 130.
<I Variante;
o m-êU amor ui:. que vinha. o lUBl'" jâ lâ 'vem dndo,
Quando vies.se o luar; !lleu amoI' 8fl<1tl ta chegar.

Cfr. Folclóre da Figueira da F()~, cit., t. 1. pag. 13~.


68 REVISTA LUSITANA

33 Meu amor, anda-me Ver 42 Da tua janela à minha,


Ao portelinho da horta; Do teu coracão ao meu
O meu pai não me diz nada, É um tiro de espingarda,
Minha mãe não se l'importa. Quem o dispara sou eu.

34 Minha mãe tanto me ralba 43 Hei~de amar tantos anos


Do que lhe vieram dizer; Como fôlhas tem o vime;
Falo quantas vezes eu quero. bulas que eu seja criança,
Minha mãe sem no saber. };ão achas amor mais finne.

'i-,. 35 Q'antos morre e t1U111 s'illterro, 44 O alecrim kO pé da água


Eu sem morrer m'interrei: Cresce de noute e de dic.. ;
Q'antos pr6Curo e 1JUm acho, Meu coração sem a teu
Eu, sem procurar, achei. Não pode lsfar nem um dia.

36 A entrada desta \"ila, 45 O sol é que alegra o mundo


A saida desta terra, Pé/a manhã ao nascer:
Pr.ometeram-me uma rosa. Meu coração anda triste.
Eu não vou daqui sem ela. Só se alegra em te ver.

37 Chora José no Egito 46 Ó vida da minha vida,


Seu pai que era lacob ~ Ó vida do meu bem todo:
Eu tanu'im choro e grito Quando te eu vejo, me alegro,
Por andar no mundo 80. Quando te não vejo, morro.

38 Os meus olhos eram pretos, 47 Tenho pênas de pavão,


Troquei-os acastanhados; Tenho pênas de escrever;
Agora todos me chamo Mas nenhuma e maior
Amor dos olhos trocados. Como a pêqa de te não ver.

39 'Os sete-estreias caíram, 48 Salsa da beira do rio


Deram na beira do tanque: Qualquer raminho tempera;
Quem vem aqui p!ra te ver Mais vale um amor de fora
Jã te tem amor bastante. Que vinte·e~cinco da terra.

40 Subi ao ceu e sentei-me, 49 Amores ao longe ao longe,


Duma nuvem fiz encOsto: Ao perto quem quer os tem;
Dei um beijo numa estréia, Quanto m~~is ao longe ao longe,
Julguei.a ser o teu rosto. Muito mais lhe quero bem I.

41 Graç.as a Deus para sempre, 50 Amores ao pé da porta,


Jã cheguei onde eu queria; Amá-los Com toJo o risco;
Já me saiu uma nuvem, lnda que a bOca nào fale,
Que no meu peito trazia, Os olhos sempre f)disco.

Quem tem amor na aldei",


Já ouvi a tua voz; Amá~l-ocom todo o risco;
Julguei que estava metida Inda qu~
a bôca n:1.0 fali'!,
Na casc<l de alguma noz. Os olhos semrre cmpÜico.

I efr, r/jk16i"~ lia rivlleira da Foz, dt., t. 1, }Jág. 1:'i1.


TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO Ó9

51 É um regalo {la vida 59 Quem te pôs o nome-Rosa,


Quem tem um amor na aldeia j Devia de adivinhar:
Se não lhe falar de dia, Rosa no céu e na terra,
Fa1a~lhe depois da ceia. Rosa em todo o lugar.

52 6 meu amor, anda, anda, 60 Eu quero~te um bem tamanho,


Mete raiva a qu,::m a tem; Que nào sei onde te meta:
Quanto mais o mundo fala~ Dentro no meu coração,
Muito mais te eu quero hemo Que é verdadeira gavêta.

............................... 61 Eu quero-te um bem tam grande


Que eu quero-te ver andarj Com outro mais pequeninho;
Eu quero ver o teu brio Quero-te como a mim mesmo ...
E mais o teu passear. ºue mais queres, meu anjinho '1

53 Dei um nó na fita verde, 6:: O coração e os olhos


Outro no preto rigor; São uois amantes liais;
Ioda espero de dar outro Quando o coração tem pimas,
Na mào d'rdta ó meu amor. Os olhos dão os sinais 2,

54 Atiraste-me com um cravo t 63 Aqui tens meu coração,


Com uma fôlha me feriste; Retalha-o como o marmelo;
Viste-me correr o sangue! Depois dêle retalhado,
Xem por isso me acudiste. Verás o bem que te eu quero 3.

55 Quem me dera, dera, dera, ('4 Quando O sol nasce, inclina


Estar sempre a dar l a dar: Nas pedras do meu anel;
Beijinhos até morrer, Tambtim sou inclinada
Abraços até acabar 1. Aos teus olhos~ Manuel.

56 Aquela menina é minha, 65 Eu hei-de te amar) amar,


Aqueles olhos são meus; Ou tu queiras, ou não queiras:
Aquele corpo bem feito Tenho pela minha banda
Era o que eu pedia a Deus. Duzentas mil feiticeiras.

Si Lindos olhinhos p'ra ver, ................... ~ .........


Linda carinha p'ra amar, Que te tenho prometido;
Linda boquinha p'ra beijos Cagar contigo ... l/li; dó!
Que eu tinha p'ra te dar. Tira dai o sentido ".

58 Os olhos do meu amor 6ó Maria, minha Maria,


São dois navios de guerra; 'Meu pucarinho de Aveiro;
Quando vào pelo mar fora, Vamos todos à porfia
Deitam 'velas para a terra. Qu.ais te logrará primeiro.

1 V, Cantíga8 Populare.s collooeionadaa por Francisco Xa.vier da Silva, pág. ú2


(Portú, 1871}.
~ Cfr. RetJiata LII8'it., v. 16, pag. 3(6) D.O 59.
li Crr. Bel'lata LIMit" v. 17, pág, 329, n/' 326 •
.. Cfr. Retl~ttJ Lusit" v. 17, pag. 322, n. Q 237. Vai dó!, segundo a. informadOl'a,
significa (} mesmo qne-T6 ,.ôlal, iS80 simJ
7°- - - - - - - REV!ST A LUSlTANA

67 As pedras do meu anel i4 O meu amor é um anjo,


E as pedrinhas do teu muTO, Eu por anjo o venero;
Essas é que hão-de jurar Se o chego a lograr,
As vezes que te eu precuro 1, Nada maia do mundo quero 3.

68 Da minha j anela rezo 75 Passei pela tua p<>rta,


A Senhora das Areias, Pedi-te água, deste "",tuho;
Que me tra.ga o meu ame!, Quando passares pela minha 1
Que anda por terras alheias 2. Fala, que eu não adivinho' ...
6r) Quem me dera a liberdade, j6 Assenta-te aqui, António,
Que tem a pulga de noite; Nos bancos do meu tear;
Anda de cama em cama, Enche canelas., António,
Sabendo segredos d'oitre. O pm;ro deixa-o falar.
77 Assenta.tc aqui1 amo!,
Que tem o pano de linho; Eu numa pedra e tu noutra;
Que andara no teu pescoço, Aqui choraremos ambos,
Servindo de colarinho. A nossa ventura é pouca ...
70 tsses teus olhos, amor, 78 Eu 'screvi na branca areia
São confeitos, nào se '1H!!nde.- Que te queria muito bem;
SAo balas com que me atiras, Eu 'screvi e risquei logo
Cadeias com que me prendes. Antes que viesse alguêm.
~sses teus olhos, José, 79 Eu hei-de subir ó alto,
São confeitos, não se vende; 6 mais alto que eu puder;
Slo balas com que me atiras, Ó mais alto ramalhinho
Cadeias com que me prendes. Que a oliveira tiver.
71 Da janela do meu quarto
Vejo eu a de meu sagroi Botar fitas a voar;
Eu do pai não se me i"mporta. O meu amor é caixeiro.
Pelo fIlho é que eu morro. Tem muitas para me dar.
i2 Só tu, meu amor, só tu, 80 Pus~me a contar as estrêlas,
Só tu tiveste~ a dita S6 a do Norte deixei;
De entrar no meu coração1 Por ser a mais bonitinha,
Nessa sala tam bonita. Contigo a comparei 5.

73 Quem me dera dar um ai,


Que se ouvisse na Baía •.. Com a ponta da espada; •
O meu amor lá dissera: Comecei logo à noite,
Êste ai donde viria? Acabei de madrugada.

ctr, RtI'tlá.stG LU81t., v. 17, pág. 321;, n." m.


Cir. Rlt'Viata LWlit., v. 16, pàg. 323, n.o. !!73.
I Vuiante:
Canta. minha vos dum &njo.
Eu por IUljo te. vene.rCl ;

efr. Tomas PIres. CaJl~08. 1. I, pag. 85.


.. Cfr, Revista Luft"t., v. 16. pag. 319, D.o MO, e Y. l'l'~ pág. 330, D.e. 331·334.
to Ctt. Revista Lusit., v. 17, pág, 324, n.-) 262, e C4ntigtJB PQpultu"U, cit., pago f6.
rRADlÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO j I
----
81 Venho aqui de tam l-onge,
Não venho p'ra ver paredes; Eu mesmo António queria;
Venho p'ra vé-Jos teus olhos, O Senhor fêz·me a vontade
Que os vejo poucas vezes. Em tudo que lhe eu p~àja..

82 Se a oliveira falasse, 90 Se fores domingo à missa,


Ela diria o que viu: Fica em sitio que te eu veja;
Debaixo da ·verde rama Não faças andar meus olhos
Dois amantes encobriu.. Em leilão pela igreja s.

83 Tenho à minha jine/a 91 O meu amor é um cravo,


O que tu não tens à tua: É um cravo por abrir;
Uma candeia de prata, Também eu sou uma rosa
Que alumeia tôda a rua 1. Que o faço aqui vir.

84 Da minha jinda à tua 92 O meu amor e o teu


É uma vara medida; Andam no cms da Ribeira;
Do meu coração ó teu O meu anda à erva uoce,
É uma 'suada seguida. O teu ii. erva cidreira '.

85 Limoeiro da calçada, 93 Salsa da beira do rio,


Já num daides mais limi)es; Alecrim da ontra banda;
Qui le cortaro-las guias Hei·de vencer os teus olhos
Para unir corações. lndas que eu cOITa demanda.

86 O sol cai Pêla Iloule 94 Adeu~ meu amor, adeus 1


Na flor do alecrim i Adeus intê quinta-feira;
Mas eu 'spero de colhêr Eu não passo sem te ver
Esta rosa pera mim. Uma semana inteira !l.

87 O meu amor é Domingos .. " 95 6 meu amor, a chorar,


Tirando-lhe os dias santos, A chorar, te hei·de pedir
Eu çomo te hei-de apartar, Que me guardes lialdade,
Dominguinhos, entre tantos? Que eu vou, mas torno a vir,

88 Manuel, pano fino, 96 ~sses teus olhos, amor,


Todo picado da traça i São cadeias de bom ferro;
Todo o mundo me aborrece, De tal sorte me pre,~dero,
Manuel cai~me em graça. Que eu outro amor não quero.

89 O meu amor é António, 97 Apagaste a candeia,


Eu quería-o ]osézinhoj Que estava no abanador (7);
Agora na mão o tenho, Agora vai·te deitar
Caiu~me a sopa no vinho ? Às escuras, meu amor.

I Cfr. RerJiBta Lwtit., v, 11, pá.g. 311, n.1:! 88, e 812,. 11.°.99-.
• ctt. R~(J Lu8il., Y. 1'1, pàg. 32&, D.I:! 2.0. l'
I Ofr. Bni8ttJ LUlJit., v. 17, péog. 323, n." m.
• Ofr. 1levlBta LUBit., v. 17, pàg. 32'8, n .... 308; Tomá9 Pires, Úlnto" pâg. 301. É
curiOIO ver como o povo pa-seou naquela ribeira pa-r-a-no cai, da ~íbeira,
, Ofr. Bftti8ta- Lu.it,. v. 17, pig. 323, n.~ 2il .


72 jlltEVlSTA LUSITANA

98 Eu hei-de amar o luar, r06 Atirei com a pedra ao arl


Deixar o 'scuro traidor; Caiu ao chão e fez I;
Hei-de amar quem eu quiser, Ande lá por onde andar,
De mim ninguêm é senhor. Nunca me esqueço de ti.

99 Eu hei-de amar uma pedra, 107 Chamaste-me pequeninha,


DeixaT o teu coração; Sou tamanha como vós;
Uma pedra não se queixa, Delgadinha como a linha,
Tu queixas-te sem rezdo. Fininha corno o retrós.

IDO Eu donde !stÚtI bem vejo lOS Os nossos dois corações


Olhos que me fstão matando; Sempre unidos hão-de ser;
Matai-me devajotarinho, Separá-los ninguêm pode,
Eu quero morrer penando, Só se algum dêles morrer.

109 No mar anda um peixinho,


Uma rosa branca a abrir; Que se chama tubarão;
Quem me dera sel" orvalho Se êle não comesse a gente,
Para nela ir cair. Dava-lhe o meu coração.

101 Os meus olhos Pêlos teus 110 Glorinha, diz-1U€ adeus,


Choram de noite e de dia; Para sêres glória acabada:
A laranja <::o'a tôna Uma alma sem glória
É uma galantaria. Não e alma, nem é nada.

102 Os meus olhos, de chorar, I IJ Caçador, que vai à caça,


Já nenhüa graça tem; Não vai por caçar a lebre;
.la os tenho repr'endido Vai por caçar a menina
Que não chore por ninguêm '. Do coletinho alegre.

103 Tendes olhos, mercais olho~ ..................... ......


~ ~

Andais na mercadoria; Não vai por caçar coelho;


:Mercai-me também os meus Vai por caçar a menina
Para a vossa companhia. Do coletinho vermelho '.

104 Não posso, amor, não posso, I IZ Tenho vinho na pipa,


Não posso, indas que eu queira; Carne na salgadeira;
Não posso colhêr a rosa Reservo~te um bocadinho
Sem bolir com a roseira. Por s-êres boa tecedeira.

lOS Hei~de 'screver uma carta, Ir3 Queria ser como a hera
Hei-de-a deitar na areia; Para pela parede subir;
"em o vento que a leva, Havia de ir ao teu quarto,
O meu amor que a leia. Havia de te ver dormir a.

l V. RfWWa IAlsit., v. I~ pág. :BOS.


, ctt. Em/'ai-08 ElhnQ/f. cit., t. IV, plg. M.
,. :E uma modifica.çio popula.r da conhecida. quadra literària, e que () pavo canta.
ta.mb~m:
Q:uem me. d8Ta ser a Il.e:ra. Para chégal' â janela
Pêla paude & subir; Do teu qulll10 de dormir.
TRADIÇÔES POPULARES DE SANTO TIRSO 73
--
114 Atirei com a azeitona 1.22 Papagaio de ouro,
A menina da janela; De bico dourado,
A azeitona caiu dentro, Le"a-me esta carta
A menina quem ma dera 1! Ao meu nall'wrado.
115 Muito brilha o branco, branco, tle não é frade,
Ao pé do branco lavrado; Xem homem casado;
Muito brilha uma. menina f: um rapaz no\"o,
Ao pé do seu namorado ~. Lindo como um cravo.
116 Menina, não se namore I23 'stou presa nesta cadeia,
De homem casado que é p'rigo; As g-rades de Sflrajinl;
Namorewse dum solteirinho, 'stou prêsa nas mãos de António,
Que possa casar consigo 3. !~'Qrta-m(' tu, J'Jaquim.

124 Olba o passarinho,


Dum criado de servir: Lá na janela;
Acaba o ano, vai-se embora, Vai o pa~s.arinho,
Meninas, vêde-lo ir. Põe-se ao pé dela.
1I7 Daqui para a tua rua
Tudo é caminho chão; Lâ na varanda;
Tudo são cravos e rosas Vai o passarinho,
Premiadas por tua mão t. Põe-se de banua.
118 Fala, fala, minha filha.,. Olba a pombinha,
Que eu tamuêm falei; Lá no penedo;
Quem me dera, solteirinha, Yai o pombinho,
Saber o que agora sei ... 5 Mete-lhe médo.
119 Tanto limão, tanta lima, 1.25 Onde vais, ó padeirinba,
Tanta laranja 'no chão; Onde vais tam asseada?
Tanta menina bonita, Só te queria dizer:
Nenhuma na minha mão. Vai a saia enfarinhada.
120 Semeei no meu quintal u:6 O amar os estudantes
O brio das raparigas; São dois pecados mortais:
Nasceu-me uma Tosa branca, Cm é tlrá·los dos estudos,
Cercada de margaridas G. Outro é dar paixão aos pais ,_
121 Lá 'vem o comboio, 127 Quem diz que o amor que mata)
Lá vem a apitar; Dece'rto que nunca amou:
Lá vem o amor EIl amei e fui amado,
Xas ondas do mar. Xunca o amor me matou s.

I Cfr'. EnJl'C/{os Ethnogr. cit., t. lV, pa.g. 55, ê. Revista LU$it., v. 17, pago au, n.'> 265.
Cir. Cantiga8 Populares cit., pá.g. 13, onde a Quadra no segundo 'Verso termina.
~
em-lavado.
Crr. Ensaios Ethtwgr. cito, t. IV, pág. 71.
Cir. Ensaios EtlmQg1'. cit., t. rv, pág. 81-
, E a cOl'ltinuaçãn da quadra n." 240 de pago 323, Y. 17, àa &t-iatã LfIIfU.
SCfr. Revista Lu8ít., v. 17, pág. 319, n." J~. V. Trad. l'op. de Po-rt. cit., pâ.g. 125.
Toma aqui uma forma um taato dife_ renUil '" vuiga.rísaima. c,ançiLo já l'êgistada
nQ CancúmeirQ Popular d.e T&ótllo Braga.
~ Cfr. Revista LI1,Bit, v. a, pàg~ ·U7. Va.ria-nte:
Quem diz que o amor que ênla.da,
B-em deeert.<J. nunca amou:
I

74 REVISTA LUSITANA

118 O mar tambêm é casado, 13Ó Se cada vez que te chamo!


Tambêm tem sua mulher; Fôsse por ti sempre ouvida,
É casado co'as ondas, Constantemente ouvirias
Dá-lhe abraços quando quer '. Chamar por ti tôda a vida.

J29 A vinte-c-quatro de AgOsto, 137 Depois que os meus olhos ,-iram


Ai, é oS. Bertolameu; Tôda a graç,a que os teus tem:
Menina, fuja ô seu pai, Nunca mais foram senhores
Que eu tamém fujo ó meu " De olhar para ninguém.

J30 Ó 'streJi'iha do Norte, 138 Tu és COrno o sol ardente,


Alumia cá p'ra balxo; Que cresta as fiores mimosas;
Eu perdi o meu amor~ Eu sou o orvalho da noite
Ás escuras não o acho 3, Que vem chorar sôbre .as rosas.

131 Eu tenho quatro nomes, 139 Tenho agora dois amores,


Que os tenho de obrigação; A quem ando a namorar;
É Manoe! e António, Um amor é o teu sorriso.
E Francisco e João. Outro é a luz do teu olhar ~.

132 Antoninho pede a Deus, 140 Já passei o mar a nado


Que eu peço às almas ::->antas, Nas ondas do teu cabelo;
Que nos aju,ttemvs ambos, Agora posso dizer:
As saudades já são tantas ".,. Já passei O mar sem mêdo G.

133 Esta noite que passou, 141 Não sei que puga te rogue,
Dentro dQ meu coração, Que te vá empece'r;
São sete letras de amor Rogo que caias do alto
Que eu leio com devoção. E aos meus braços venhas ter 7.

134 Tu és a imagem formosa, 142. O amar e querer bem


Freira do meu pensamer:to; Tude deve ser igual:
Mas ninguêm mais do que tu Foi a primeira cantiga
Pode entrar neste convento. Que eu ouvi em Portugal.

13$ Os teus olhos são <.lois lagos, 143 Amanhã é dia santo,
Onde se reflecte o céu; Hei~de ir à missa do dia;
As estrêlas que lá brilham, Quero ·ver o meu amor
São amores do peito meu. À porta da sacristia.

I Apa.r(lOO aqui mais populari:uda. 8. cantiga.. Cfr. Retúta Lu.sit" v. '9. pag. 258, ê
17, pago 817; Tom&a Pins, Úilnto8, t. I, p-ag.812.
~ ". TomAs i re$, CantoB, t. I, pág-. J25.
I Va.ria.nte:
Ó lampilo da. 6equina.,

, etr. Tomé.8 Pirês, Onn108, 'OV. 1, págg. 7, .u, 94 e 126.


a Ali quadras n. es I-tS II!. 100 são de. origem literária. A. minha informadct'a a.pren~
deu·... em pequella ao ouvi-lu eantar a. UlUI Cl--8J'01I 11& romaria da. 8enbor-1\ das Dores.
8 V. llfltlluto. LuBit., 'V. '9, pág. 129, n.tI 420, e 16, P .... S11; Tom6.a Pires, Canto., t. I
P.... I...
2 eh, Tomas Pirê8, Canfos, t. I, pág. 186.
TRAD1ÇOES POPULARES DE SANTO TIRSO iS
------
144 Ó luar da meia neute, 152 Amanhã é dia santo,
Tu és o meu inimigo; Hei-de ir à missa primeir:t;
Estou à porta da que amo, Quero ver o meu amor
Não posso entrar contigo I. A sombra da oliveira.
145 Dizes que não tenho cam.a~ 153 Adeus, que me vou embor.a,
Que durmo no chão varrido; lnguento da botica:
Tenho cama e tenho roupa, Ainda que eu me vá f'1ll!Jora ,
Tenho quem durma comigo 1. O meu pensamento ti fica.

146 Quem me dera ver agora 154 Bota-te daí .abaixo,


A quem a mim me alembrou: Cara de limão maduro;
Os olhos do meu amor, En te apararei nos braços
Que tam ICllge dêle estou :l. Ou no chão que é mRis st':g:uro.

147 Ó vida da minha vida, 155 :Mcnln8, peça a Deus,


6 vida do meu bem todo: Que eu peço às almas. santas,
Quando te eu vejo, me alegro, Que nos juntemos amul1s,
Quando te nào vejo, morro. Já que as lágrimas são tantas 6.

148 Delicado é o fumo J56 Já fuimar, já. fUl navio,


Que passa a telha dobrada: Já fui
ao Brasil e vim;
Delicados são teus olhos Já fuiamada dum anjn,
Que namora.m e,n paHcada 4. Querida dum serafim ;.

]49 O meu amor e soldado, 157 O sol vira e desv.ira.


Hei-de-lhe atirar dois tiros Dá voltas para se Pl.r;
Guma pistola de prata, Tambêm eu viro e des.viro,
Carregada de suspiros. Sou lia! ao meu amor H-.

ISO As telhas do teu telhado, 158 Dá-me da pêra um quarto!


Parte delas tcem virtude; Da maçã um bocadinho,
Quando doente me achei, Da laranja um só gomo,
Elas deram-me saúde 5. Da tua bôca um beijinho.

151 Aí vem o meu amor, 159 Quando te eu vi, logo d:sse:


Eu no andar o conheço; Linda carinha p 'ra amar,
Tem o andar miudinho Linda boquinha p'ra beijos ...
Como a fõ lha do codesso. Quem mos dera a ti dar!

1 efr. RM!iI!ta I,IUlit., v. 17, pág. 328, n.O 319.


C!r. &tti8ta Lu.sit., v. 17, rág. 333, n.O 383.
a efr. Revi8tG Lturlt., .... 17, pág. 325-. n. o 271}.
Em pancada, deprêssa. efr. pancada d'águ4, agUae~iro violento.
I- err. Reflisfu LuBit., v. 17, 'Pag. 326! D. O 286, e CallUgtl8 Populares elt., l'Inde a
quadra vem publicada sob a forma:

As tMbas do teu t-elhado Eu passM por lá doente,


ÀS mais delas tem virtude; Agora Ulnbo sande.

• Ofr. 1àm1.81.a LuBit., v. 16, pag. 300, n .•O' 3 & ,.


1 Ctr. RmBta Lu8'U .• v. I&. pâg. 3'12, n.'l 258 •
• ctr. ~ Luait., v. 17, pág. 320t n.1l' 20:1.
Rl':VIS"rA LUSITANA

160 Se as lágrimas fôssem pedras 169 Já lá vai pelo


mar fora
Que eu tenho por ti chm:ado j Quem Deus criou para mim;
Mandava fazer um castelo O mar se lhe tome em rosas,
~o meio do mar quadrado 1. O navio em jardim.
161 ~Ia.ria, minha Maria, 170 Meu amor, não botes dó,
O pecado te a.ttmtou; ~em dês tua roupa à tinta;
Estavas como o peixe na agua, Eu morro. vou para o céu,
O mimo te derrancou. Tu ficas na tua quinta 3.
ltJ2 ~ào chores, amor, não chores, I jI Menina, nào te namores
Que eu inda aqui 'slou contigo; De homem c~sado que é perigo;
Chorarás quando me vires Xamora·te dUtn solteiro,
~o mar largo &,em abrigo. Que pode -casar contigo.
J63 Eu hei-de~te amar, menina, Ii2 6 minha costureirinha,
Ao saltar duma parede; Tens a.g-111ha, tens dedal;
Ta.nto te hei-de andar ao geito, A primeira picadela,
Que me há-de,'; caír na rede '. Olha, logo foi p'ra mal.

lÚ.+ Deste-me alecrim por prenda, ........................ , .....


Por ter a fôlha miúda; Dá o ponto miudinho;
Quiseste-me experimentar ..• lnda 'spero de romper
::.reu coraçà~ não se muda. Xa tua mão um colarinho.
165 Olh.1 que eu por ti suspiro,
Olha que cu por ti dou ais; A tua agulha picon-te;
Olha que ~u por ti, meu cravo, A primeira picadela,
Hoje nilo suspiro mais. 'st<lxas a dormir, acordou-te.

166 Co'a pêna de pal'ão, 173 ~1i.nha mãe, logo à noite~


Súiugue da cotovia; Ú filha, vai-te deitar;
Hci·de escrever 'Uma carta Ela pensa que eu que durmo,
Ao meu amor de algum dia. Eu ando a ílassear.

167 );3,0 sei que tenho nos olhos, 174 ~linhamãe mandou-me à erva,
Que não posso ver os lIomes; À erva não quero ir;
Ó luar da meia noite O lameiro tem buracos,
Tu és o que me consomes. Tenho mêdo de cair.
Ij5 Se passares à ennida,
Que não posso ver a noite; Depois da lâmpada apagad~
Não posso ver meu amor Lá verás uma fantasma
LOIl~e de mim) perto d'oitre. De branco amortalhada.

Eu hei· de amar a quem me ama, 176 Se eu soubesse que morria


Deixar o escuro traidor: Sem êsse teu corpo lograr,
Eu amo a quem eu quero, Já me tinha enfadado
De mim ninguêrn é senhor. ~ De êsse teu corpo beijar '.

CoalhadQ?
~ Cfr. Revista LUlÚl" T. 17, pig. m, D,o 200.
',1' " ]1l"fê}jr"fla"'WI'l-~ifl-ua aqui I) mesmo'que itcar u1Lr1iMiiiff"qBaai.
Pot' E'xig,incia da rima p, expl'e&flão u"' .....e, contra. o costume, no singular.
• Esta c&lll,'ã-O toi colhida na. Póvoa. do Va.rzim.
TRADIÇÔES POPULARES DE SANTO TIRSO ii
-------~

177 Quando eu comecei a amar,


Inda não era pecado: 'stá um tanque de flg-ua fria;
Nem o mundo era mundo, F: a água donde me eu lavQ,
Nem o mar era sagrado. 'spelho dondf' me eu via,

178 Quando Deus for~ou o mundo, r83 A á~utl da fonte é fria,


De barro formou Adão; Ela faz constipaç,'io ~
Tambêm formou a mulher, O \'lnho é venenm.o.
Dos homens a perdiç10. Faz tremer (') COHIÇ3.0.

Ii9 Eu de la e tu de cá, 184 Tôda a \'ida tró.'.:(' ç trago


:Mete-se o rio a meio; Fita \'enle no chap(>tt:
Tem lá mão da tua b;tnda, Agora trago cilki()~,
Que eu da minha nào arrt!Ío. Para ver se alcanço fI céu.

180 Papagaio da janela, ISS Eu hei-de-me ,Willfuy"r,


Dá-me uma pênll da aSil: Eu hei-de perder " m(~do ~
Quero 'scre\'er uma carta, Hei-de çolht~r uma r(J~a
Ficou-me a pênll em casa. Na roseira de S, Pedro.

I8! Margarida foi ~ fonte, JS6 Cham<:lste-me trigueirinild,


Foi à fonte e foi súzinha: Sou mulher de minha casa:
Margarida foi à fonte Para ch'~gar :\ m?sseira.
E quebrou a cantC',rinha 1, Ponho~me em cim."'. da rasa ~.

182 No meio daquele mar IS7 Ó minha m;ie, vinho, vinho,


'slã uma pombinha yerde; Que eu água ni?w sei beber;
Não é pomba, não ê nada. A ág-u<l. te!:) sanguessug:as,
É o rei da cana \'crde ~. Tenho mêdo de morrer ~.

............................... I R3 Ú que f!raça,


Anda uma pombinha bnnca: Ú que ri:;;o me (',\ ~
Não é pomba, não é nada, Tu gostas de beijos,
É o mar que se alevanta. Meu amor, ningllt::IU .tos dei •••

189 Fala~me, rula, a mim sózinha,


'sta uma peJrinha verde: Verás como tlC<-IS ~unldillha;
~ão é peixe) não é nada, Coradinha, li linlb, ó lindi'l,
É a raiz da cana verde. Côradinha do verde limi1o;
Eu prometo de ser tl1a
Mas por ora aineb n50.
lstá uma pedrinha branca~
Não é pedra, não é nada,
É o mar que se alel'aufd.

Cfr. Ton:dt"! PirCR, C.fIntG-8, t. I, pág. 28.4.


Ofr, Revista Lllsit., v. 1., pág. al2, n," Hm.
3 eir. nevUr!(! Lmrd., \'. I:, pà~, ,~12, n. OS 10~ e 109.
Cfl'. Ret,t,.::fa Lwdt., Y. 17, pág, :J24., n." 2f1.;),
Numa estolha,1i!, 'Ouvi a uma rapariga. um gran,j1l Ilumero de qnaJnu!I amorosas.
li-
No fim dos dois primeiros "orsos, as OLltl'a9 cantavam f!m cL'>:ro o "'.!Hr;.bl!tw; - D' que
graça, e:c .

REVISTA LUSITANA

190 Quando () sobreiro der ba~ 199 Disseste quê me não querias
O loureiro der cortiça; Pelas marcas das bexigas;
Então é (lue te hei~de amar, lsto são letrinhas de ouro
Err~ antes tenho preguiç_a 1. Pela mão de Deus servidas..

J9J E'.1 rH~i-d(' morrer dum tiro j zoo Eu sou s.ol ~tu és sombra,
Ou duma faca de ponta ~ Qual de nós será máis firme?
Quem eu guero nào me quer, Eu sou sol a, procurar-te,
(Juem me quer nào me faz conta. Tu és sombra a fugir~me '.

J!)Z f: desgraç_ado quem ama 201 Hei-de assubir altas tôrres,


Sem primeiro ser amado; Hei-de arrasá-las com ais;
Fica c'o tempo perdido, Eu guero que o mundo saiba
O conH;:Jo magoado. A paixãD que vús dais 5,

193 }\:ào me ponha o pé na saia, 202 Quando eu quis, não quiseste ...
Nem a mão na minha cinta; Tiveste tua opiniã(j~
Tem crime de mão cortada Agora. tu queres, eu não quero ...
Quem com amores doutro brinca. Tenho minha presunção 8.

194 Eu sou como a bl'rl~oleta, 103 Vai~te embora, amor ingrato,


Que a~l>'U.bo à. luz tirana; Eu não sou o teu amor;
De cansada cai morta, Eu nâo sou como a figueira,
É desgraçado quem ama. Que dá fruto sem flor.

195 A~,,,ubo ao altar-mór, ::04 Eu e mais o meu amor,


Acender velas ao trono; O meu amor e mais eu,
Coitadinbo de quem ama Audel1Jos ambos dzj'rentes)
Amores que já teem doria! Xem êle fala, nem eu,

I<)Ó Atiraste ao meu peito, 20':; Prusastes por mí1U, cOrastes


A parte mais delicada; Como pano na imprensa;
Quem ao m~u peito atira Fala para quem quiseres,
POUC0 bem me tiucr ou nada. Que eu dou~te tôda a licença.

197 Atirei e nào matei, 206 Passas por mim, não me salvas,
Foi mal empregado tiro; ~e1U o teu chapéu me tiras;
Minha pólvora está gasta. Certo foi que te di::iseram
Meu chumbo )stá derretido 2. De mim algumas mentiras.

198 O' oliveira do adro, :207 Graças a Deus para sempre,


Não assombres a igreja, Já clú'guei adonde eu qu'ria;
Que bem assombrado anda Já se me foi uma nube
Quem não logra o que deseja .:l. Que eu no meu peito trazia.

I Cfr. E'l$!tios Elhuogr." t. m, págg. 31 ~ 395. e Re~ -$~a Ltrsit, v. 17, pé.g. 331, n. Q "37.
OUTi cantar €stQ. qua.dra. na. Póvoa. d-e Varzim tambêm. Cfr. Revista LUlU.,
1;'. !l, pà~. 4l.
Cfr. Rel'ist'l L!I~it" v. 17, pág. 330, n.'" S3.G, oe- v. 10, pág. 20!.
Cfr. Ens«ül./l EtJHWOT., t. IV, págg. 100 -e 12.. , 0& RerJiBla LU1!l'it., v. lB, pago SOO.
I; Clr. Tomas Pires, CalltQJJ, t. I. pág. 317 e 3tH •
• crI'. Tomás PirM, OWt08, t. r, pa.g. 3-01.
TRAOIÇOES POPULARes OE SANTO TIRSO 79

208 A lua tem quatro quadrru, :217 >;'ing:uêm se fie nos homens1
Cada quadro tem seu S; Nem nas falas que êles dão:
Tu de mim nunca te lembras, ema hora de alegria)
Eu de ti nunca me esquece. Tr['s e quatro de paixão.

209 Passei pela tua porta, 2IR Ninguém se fie nos hotnes1
Pedi.te água) não ma deste; Xem no seu doce falar;
Nem os moiros da )Joirama ~Ies teem falinhas doces,
Faziam o que tu fizeste 1. Coração de rosalgar 3.

210 Dizes que me queres bem, 219 ::'\ào sei que tenho nos olhos
Não entendo tal qucrer; Que não posso yer os IIomes;
Só p'ra dizer - bem te quero- () luar da meia noite,
Quem quer o pode dizer. Tu .&s o que me consomes.

21 I O qu:.nto onde tu ficas 220 Subi ao ceu por uma ameixa,


Tem ao janela de vidro; Desci por um cacho de uvas;
Quem me dera adivinhar Ninguêm se fie nos home.~~,
Onde tin1m-Ia sentido. Que são falsos como Judas.

212 Trazes c.abelo atado, 22 I Quando eu aqui cheguei,


Oiro debaixo da trança: Deitei os olhos e vi
Quem de oiro faz rodilha, Meu amor nos l.mt\~os doutra ..•
Do amor faz muuança. :;ào sei como não morri '!

213 110m em cima da ponte, 222 Dizes qu.e me queres bem,


~ão sei se vá, se não vá; O querer bem 11<10 é assim:
O meu triste coração, Tu falas quando me encontras,
Em que balanços não 'stã! Xào dás p.assadas por mim 5.

21"4 Ó meu amor, dá-lne lume, 223 Ó coração, li pombinha,


Que eu bem no vejo luzir; Ú cara cheia de enganos;
Bota cá o frade fora, Olha o pag-o que me destes
Que eu bem no vi p'ra lá ir. De cu te itmar tanlos anos r

2r5 Eu amar· te foi um sonho, 224 :Moça quê se deixa enganar,


Foi uma \'ariedade; () que sorte tam tirana!
Foi enquanto ndo achei Quantas vezes ela chora
Amores à minha vontade 2. Ao pe de quem a engana ..•

216 Os homens são como o lobo, 225 Incosta-se à verde cana,


Só lhe falta ter o rabo; Inliada nela vai:
Para enganar as mulheres, Cum falso prometimento
Teem carinhos do diabo. Qualquer fina cai.

I Cir. Revilda I.ft.'rit., v. 17, pág. 33.~, n.<>~ 332-]34, e Tomás Pires, Cantos, t. 1, pago 267.
~ Cir, Revútla Lu~it., v. I, pAgo 1'1,. -ê Abilio Monteiro, POf:l.8jas e Canções PQP. do
Cone. da Maja, pago 60.
~ err. Rel.'i.sta Lusit., v. 17, pã.gg. 315, n.~ 145·, e 322, n.n 228:, e Ensaios Ethnogr., v. Iv,
P.... OO.
4 Cfr. REviBta LtuJit., v. 17, pág. 331, 0.°356.
j; efr. Revi8fa LUSit., v. 17, pág. 330, 0.° 337.
80 REVISTA LUSITANA
-------- -----------
• 226 Desenrola o teu cahelo, 234 Tenho um amor, tenho dois,
Não o tragas enrolado: Tenho três, não quero mais:
Desengana o teu amor, Eu p'ra que quero amores!
!\ão o tragas enganado. Se êles me não são liais ~?

22i Candeia, que não dá. luz, 235 ~em no mundo há dois mundos,
Não se es~tana p.arede; ~em no ceu há dois Senhores:
Amor, que não é finne, Nem há. coração que possa
N"ão se faz mais caso dêle. Ser"lial a dois amores 3.

228 Se eu soubesse quem tu elas, 236 Quem me dera tinta roxa,


Ou quem tu vinhas a ser, Que a pêna tellho~a eu,
h;Jandava vir da botica Pra escrever ao meu amor
Remédio para morrer. Que de mim se esquecet:.

"9 Eu passei o mar a nado 237 \"ou viver de ti, querida,


Cuma vela branca acesa: Tres anos de ti ausente:
Em todo o mar achei fundo, Não possa ser esqul'cida 1
Só em ti pouca firmez<l. Quem te ama eternamente.

23° Desaperta o teu cnlete 23 8 Laranjeira de pé de ouro)


Quero ·ver o teu Citn1Í$ote; Bota laranjas oe prata:
Quero "'er o teu peito ingrat0 Tomar étmores não custa,
Causador ua minha morte. Deixá-los é que me maL".

13 1 Promeiesft:s-me e f(i.!ta"tes-11If:', =39 O meu amor, coitadillhn.


Amor de pouca palana; Chora de noite na cama:
Se tal me acontecia, Chora que já foi amado
Por minhas màes me matava, E agora já ninguém o ama.

232 Chapéu de meia moeda, 240 Ó alecrim da janela,


~lnguêm o tem seni.lo eu: Jã te podes ir secando;
Agora ando fazenuo n~as Já morreu quem te regava,
A um amor que mo ueu. Eu já me vou acabando s.

........................... 241 Meu amor, viestes tarde~


Bom dinheiro me custou; Não te estou agradecido:
Com abraços e beijinhos J"íestes por outra banda,
Teu corpo mo pag:ou. Tens o teu amor perdido.

233 O reú:'Úwl do lóreim .2·12 Trocaste a mim por outra.


Tem o cantar SOlOtâ.1'1·O; Bem se sabe que trocaste:
Como pode ter juiz(. E só qllero que me digas
Quem t0dJ. a vi,.la f,.)i vário? j Quanto na tw...:a g311h~~s.te.

~--_._~-" .. _''''''-

I Cfr. Trad. l'op. de Port" pu.g. 161.


eh. Rl';jll.-c;fll Lwdt., v. 9, pág. 2'i2, e Toma!! Pire~. Canlm~. t. l. pálio -'01.
crI". Ret'i",I(~ LI/sit., v. 9, pâg. ::52', e Toma~ Pir;;!!, üm-to8. t. I, pago c.
, O goled.snlu foi pro\"'oeadQ pela atraeç-ão da r;m~. Com ~Ie f!Hl~l a ca:::~'ão
quadrada.
s err. Ret'l/j(a LIi<'i/., '1:.1:, pág. 313, D." ll:B, e Cnn/iflas P{)pu'ar~,,~ ci~, pag. 19.
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 81

... ..............
~
247 Saudades são securas,
~âosentiste minha falta; Elas em mim reverdece;
Bem de-certo te assentas.te Causá-las, quem quer as causa. , .
~uma cadeira mais alta. Triste de quem as padecel
Deixaste-me a mim por outra, 24 8 Passarinhos, que cantais!
A mim por outra deixaste; Nos ramos dependurados.,
Tambem quero que me digas Cantai ..,õs, chorarei eu
Quanto no trôco ganhaste. Os meus dias desgraçados.
24 3 O anel que tu me deste 249 Quando os passarinhos cantam
Era de ~idro) quebrou, Numa manhã tam serena,
O amor que tu me tinhas A todos dão alegria,
Era pouco, acabou " Só a mim me causam pêna.

244 Pensavas, por me deixares, 25° Quando os passarinhos choram,


Que tristezas me fazias i Que não teem infendimenfo,
V ilo uns amores e vcem outros, Pois. que fará quem não viu
Vivo ue. mesma alegria 2. Seu amor há tanto tempo?
........................ . '" 25] Quando o lume se apaga,
Que me estalava o meu peito; Na cinza fica o çalor;
Foi favor que me fizeste, Quando o amor se ausenta,
.lã mo puderas ter feito ... No coração fica a dor.

245 Toma l:í fste limão, Ainda que o lume se apague,


Que eu p'ra ti mandei colhêr; Na cinza fi,ca o calor;
Tiveste algum ousia. Ai.nda que o amor se ausente,
........ ........ ........ .. , No coração fica a dor -t •

O limão tira o fastiO,


Zj2 As saudades s{i() o pão
A laranja (} bem querer,
Trocaste a mim por outra1.. Dá ausência do meu amor;
lndil te hás-de arrepender :\ Um pão feito de mágoas,
Amassado CO}ll a dor.
AJeus, amor, adeus vida f
253, Nào chores, amor, nào chores,
Adeus, cruel espedidfl;
Nada ,'ale o teu chorar i
~ã0 posso com jJÓut porte (forte?)
Sabes que vou p'ra soldado
Na bora da sua morte
Dar alivio a teus tl.i~; Por me não poder IiV!i\r.
Bem sei (lue sou teu amor, 254 Adeus, janela. da eira,
:\1as é na falt.a da..., mais~ Adeus, casa de meu pai;
Adeus, Ó amor infame, Algum dia morei neL:t,
Tu pri:cu'f'a a quem fi ame; f:sse tempo jã Iii "<lÍ .••
J2I se COriraro os laços
Com qw:: me prêsa til'e~tes, Adeus) casa de meu pai,
Toma~tc) novos amores Adeus, trinque de ág-ua fría:
Fa\"or foi que me .F~estes, Ag-ua adOluh, me eu lavo,
Espe1ho adonde me eu via.

Cfr. Ret'is!a LI/sil.• 'V. li, pág, 2!YJ, n." IJ).


C:r. Rét'isia Luaif, "" 17, pago. 3:13, n." :r;2.
err. RedE/Ia LW'Jii .• \.. 17, pago 3:n, n. O J;17.
CIr. T(lmA~ Pires, CIHI(('8, L I, pü.g, 2ZI, e Reçisfn '-liSa, Y. ln, :l~'~

REV. Lt:5, ,'01, :XXI, fll;:"_'. l<l


REVISTA LUSITANA

Ó que rico pé de salsa 262 Quando eu era solteirinha,.


Tem meu pai ao pé da eira! Usava fitas e laços;
Onde me eu adeverlia, Agora que JJQU c.asada,
Quando eu era solteira. Trago meus filhos nos braços.
255 Oliveira det-orada, 263 Nana, nana t meu menino,
Sempre fica oliveira; Que a mãezinha logo vem;
A mõça, casada nova, Foi lavar os teus paninhos
Pensa sempre que é solteira. Ao reguinho de Belêm 3,
'256 Menina, que vai no barco, ZÓ-1 Qaem tem meninos pequenos
Tire o pê. que molha a meia; Sempre lhe há,..de cantar;
V á casar a sua terra, Quantas vezes a mãe canta
Não case na terra alheia 1. Com vontade de chorar"! .. ,

257 Minha mãe, case-me cedo, 265 Quando e\l era solteira,
Enquanto sou rapariga; Trazia fitas e laços;
O milho, sachad() tarde, Agora que sou casada,
Nem dá palha, nem dá lspiga. Trago meus filhos nos braços ::..
266 Triste vida leva o bUHOt
258 - Minha mãe, quero casar; Má vida leva o moleiro;
- Minha filha, diz com quem; Anda de porta em porta
-Minha mãe, ç'um sapateiro; Por causa do maquieiro.
-Minha filha, não vais bem:
Olha que êle bate a sola, Mais triste é a do moleiro;
Bate~te em ti também. Antes de carregar -o burro,
Carrega-se a si primeiro.
259 Quem tem carneiro, tem lã, 267 Menina do chapéu novo,
Quem tem porco 1 tem presunto; Por amor de Deus mo venda;
Não quero mulher viúva, Sou uma pobre tendeira,
Que é sobras de defunto. Quero começar a tenda.

260 Eu casei-mel cati\'ei-me) 268 Quem me dera ser oli'l.feS 6


Tirei o vivo à saia; Uma hora depois da ceiaj
Enquanto o mundo fOr mundo, Fazía brinquinhos de ouro
Não temas que eu noutra caia 2. Às eSCltras~ sem candeia.
261 Minha mãe, minha mãezinha, 269 Se oUl'ires assobiar,
Minha mãezinha do céu, Não julgues que é capador;
Que me trouxe nove meses É urna moda que anda agora
Debaixo do seu mantéu. De assobiar ao amor 7.

eh-. Uevi&/a Lt!8it., v. 1•. pág. a:J3, D.o 385, e ... II. pag. 2.
CIr. Rt>lnst-ll LI/sil., ,'. 17, pág. 334-, n." 3f«:I.
Cir. Trf1d. PciP' ((6 Port., pAg. 207, ~ Re"is/a LrMil., v. lO, pâ.gg. 12, 15.9 .e- 19$
Cfr. Rf!'f}~!a 1.//8il., v. Hl, pAg-g. 2\i, .ui
e I(}9.
~ Cfr. Iltrvi$ta l.usiI., "i'. {{I, 1'1lg. 27.
OUdV~8.
O sr. Alherto Pimenuü 1San.lo Thll"80 de Riba d'A:tle, pág. ~l) r.egista uma qua4
dra quási id~ntka, ao dtar (! anúncio dos capadores por meio dllma gaita. Crr. Revista
N;jài~ \I. )" piig. :)2,']:, n." 2;;2, ont.le ooçrrdo" está por capador, e o ditado: Quando 8e-
- "',,'r+>)j;%;1T0N0!If!',0Jl ',~ Eml'aios Eth1W'gr., t. IV. p-ãg. 5.
TRAD1ÇÕES POPULARES D~ SANTO T1RSO

~70 Ó ..<ida da minha vida,


Minha vida atrapalhada; Nem nesta terra parentes;
Todos arranjam a vida, Sou filha das tristes ervas,
Só eu não arranjo nada. Neta das águas cOrrentes.

277 O sete-estrélo vai alto.


271 A morte é feia, horrenda, :\Iais alto vai () luar,
À morte ninguêm esca"pa; llais alta vai a fortuna l
Em anles de vir Que Deus tem para me dar 3,
Mostra a pintura;
Desse dinheiro ou fazenda 278 Ondas do mar, abrandai.
E deixasse a criatura ... Que eu quero pilhar um peixe;
Leva o riço e leva o pobre, Eu quero deiJtar o mundo
Leva o rei e leva o conde Antes que o mundo me deixe ':
E Já vai não sei por onde,
Vai p'ra deuaixo duma lata; 2j9 Grande desgraça {< nascer,
A Deus ninguêm se 'sconde Quando se segue o pecar;
E â morte ninguêm 'scapa. Depois de pecar) rr,orrer,
Depois de morrer, penar.

272 Quando eu nascí~ chorava 1, 280 Erva -:idreira no monte


Chorava por ter nascido: Nasce ao pé de qualquer pedra;
Parece que adivinhava. Môça solteira sem fama
A sorte que tenho tido. f2 novidade na terra.
273 Quando eu nasci no mundo, 281 Agua do rio vai turva,
1'\asceram quatro num dia: Eu n.l0 foi que a tun'ei;
Nasci eu, nasceu disgrácia, ~inguêm diga neste mnndo:
Tristeza, nJ(HWIlConia. Destil água nào beberei 5.

274 Esta noite chorei tanto, ~82 A vli\'cira do adro


Que amolentei o sobrado; f= mais alta que o padrão;
Coraç<'to que assim chora Quem não quer que O mundo fale,
Deve de estar magoado. Não lhe dê ocasião.

275 6 minha pombinha branca, 283 Meu an,OT1 anda e \'amos


Empresta-me o teu vestido; À igreja dar a mào;
lnda que de seja ue pênas) Quem não quer que o mundo fale)
Eu tambêm em pênas vivo 2. Não lhe dê ocasião.

276 Eu não tenho pai) nem mãe, 284 O amor e o dinheiro


Nem padrinho, nem madrinha; Não jwde mular em:obertiJ,'
Sou filha das tristes ervas, O dinheiro é chucalheiro,
Vivo desamparadinha. O amor e desinquieto 6.

I Variante: Q',lan,jo eu era. pequeninbll. €t.8/'1, Lusa., ... fi. pago 24L
~ Cfl", Re'l'i~da LUBil., v. 17, pago 31), n." f1(;.
~ Cir. Ensaios Eflmf'/{j"., t. IV, pãg. 51, e Tomu~ Pi• .,,,, Crmlo8, t. f. pâg. "217.
Cfr. Revisfa LIIslr., ':. 9, pág. -:;47, e Túmáfl Pire'S, Cal.los, t. I, pagg, 3,13 e 265.
Cir. Reui.\lta LI/BiI., v.!''. pág. 3:H, D." 38-'7.
~ Cfr. I!:Jl.8flÚJ1l El1mo()l"., t. IV, pág. 5-, e T{)mil.~ Fíre3, Om/os, t. 1, pág, 4J3.
REVISTA LUSITANA

285 Namorados, falai baixo, Z94 Fec.hei a porta a dis!frácia,


Que as paredes: teem oU'4'idos; IJ'l;tf'ou~me pila jinela;
Os segredos encobertos Foí sorte que Deus me deu.
São os mais sabidos I. Não pôde fugtr a ela.

z86 Do meu colete amarelo 295 Quem fé~la casa na praça,


Fiz um jaqué ao meu home; A muito se avinturou;
Cada qual é obrigado Uns dirão que ela que é baixa,
A coçar onde lhe come. Outros de alta qtle passou.

zS7 Eu amar~te! eu a querer-te ... 296 O c.ravo, depois de séco,


Sempre mal agradecid3.! Foi-se queixar ao jardim;
Por hem fazer. mal han~r A rosa lhe respondeu:
S30 os pagos desta vida. Tudo que nasce tem fim.

288 Rolinha, que vais rolando, 29i Tudo que é verde seca
Co biquinho pê/a :uela; Lá no pino dêsse v'rào;
b; lial o meio mundo, Tudo que nasceu, morreu,
Outro meio nos f"lseia. SI:) a graça de Deus não.

2~ Eu hei.ue assu!u'y Ó alto,


() alto bei·de ass!!l)'ir; Lá no pino dêsse v'rão,
Quem () mais alto (f..'iiSlAIC Tudo toma a ren(l-\-ar,
() mais b;aixo vem cair Sr'l a mocidade n:l0.

21)0 A cantar ganhei dinhei:'o, ;;:93 Quem tem amores nào dorme,
A cantar se me acalJou: Quem os não tem adormece;
Dinheiro mal ~anh"do, Eu nunca perdi o sono
ÁgUd o deu) ;'t!:!.;tJil o h::Y'~,,~L Por mais amores que tivesse 2.

24)1 A silvi', CtWJ seu enleio, 299 O sono e a preguiça


Prende a gente j>tla roupa; Teem~me dado nmita perda;
Na l;ra em que BI'li; 'stanlOS, Hei·de lev{iAos a Brag-a
Tôd;. a c<'Iuteb é pouc:\. A rasto per uma \"{~r~a.

292 O ladri'l.o do milho verde 300 Ó mar largo, ó mar largo,


A manha que iSle sabia: Ó mar largo, sem ter fundo:
{~'arda'l:fl n orvalho da noite Mais vale cair no m,u lar.g'o
P'ra (I')[;f>r cm t0JO o dia. Que andar na lJt;uL do mundo,

293 \'~I:ic]jzeis que n500, qne nJo, 301 Canta o mocho no penedo,
lnda havós Üe ~'ir a q'rer: A c'ruja no carr"sc:al 3;
Tanto d,i ii '-lgua lli1 pcur.-t., Quem se meh~ com canalha
~Jlle a fdZ :l.tnllkccr. Sujeit;,:.se a ü(',;'1r l1l::l.\.

) CIr. 'fom,l" P>")S, ("1'1\:'.'5', t. I, pág. :IS,), Rt'~'j8t,1 Llcsit" v, ]il, pag, Fl, e C,u1.iiJas
l'opn!-are,''I. P!\,{, lS.
Cfr. ec!Jj!1l i,l/,.',I., v, j'7, I,à.;. 3HJ, n (> fB9.
~ Fica assim Nnf'nJJ.'t v {} "eri'!O da Rel'..sla J.llsil_) v. 17, p..ig. ~i::, n." l'G.
TRAD1ÇOES POPULARES DE SANTO TlRSO

302 Eu hei·de amar a cereja 31 I )oJão queiras amor casado,


Que é primeira novidade; N,lo queiras mnor nenhum,
Quem mlldruga nào akança~ ~ào queiras amor :;olteiro,
Que fará quem segue tarde? (Jue o diabo t~ todo um.

303 TOda a vida trabalhando) 3'::2 Tóda a mulher, que se casa


Sempre morrendo de fome; Com homem que tem seu êrro.
Hei-de dar em ser malandro, Puxa-lhe pelas orelhas:
Quem não trabalha tambêm come. -Arre, cabano, ao rêgo!

3:l4 Tôda a viJa trabalbei, 313 },Iinha mãe, p'ra H,€ casar,
E sempre morri à fome; Prometeu-me três ovelbas:
Vou·me ptlr a brincar, Uma manca e outra cega,
Quem brinca tam bêm come. Outra j.1 não tem orelhas I,

3DS Sou um pobre sapateiro, 314 () que pinheiro tam alto,


Leyo a vida a uar, a dar; Bt?1It bJ é para ilS; colheres;
Quem nasce para ser pobre} Agua choca pina os homens,
rouco vale () trabalhar. Vinho 1>0 para a~ mu!herl':'s.

Vejo o meu vízinho barbeiro! 3JS Estes rapazes de agora,


Leva a vida a]egre à porta; Estes flue de agora são.
Eu trabalho noute e dia, Tcem qn.ltro 'stacas n.a cara,
Nunca passo da cepa torta, )felidas ao sabo/ão 2.

30Ú Senhor mestre sapateiro, .)16 Rosinha) tens tens erros,


Bote-me aqui um tacão; Pensas que ningllf~m o s3.be;
Mas que iique hem butado, Tu ja tiveste um filho
Que o dinheiro \'em na mão. Dum fadista da cidade.

Não me namora o seu paleio, 317 Etl bem sei que tens llm filho,
Nem tam pouco a sua treta ; ?Jão foi de nenhum judeu ~
Se não quer ter o dinheiro na mi'io, Foi dum rapaz tam galante
É metê-lo à minha gavêta. De melhor nariz que o teu.

Agarrado ao tira-pé, 3)g Bota~te clHí ahaixo,


Assim passo um dia todo; Ao fundo (h~sse quinteiro,
Trabalho de noite e dia l Jlesco~'o de galga negrã,
'stou sempre c'o pé no lôdo. Olhos de cão perdiguéiro.
309 A salsa vende-se aos molhos, 319 Nào cortes a \'ideirinha,
O alecrim as mãos cheias; Nem a rajz à carvalha,
Tanto custaram a Deus Que é o sustento dos homens
As bonitas como as feias. ::-.Jos anos de pouca palha :.l.
3JO Menina, não te namores, 320 Menina, case comigo)
De homem casado nenhum; Não tenha mêdo ii. fome;
Nem solteiro, nem viúvo: O meu pai é brasileiro
Todo o diabo é um. Que sustenta quem não come.

I OIr. RI!H!Wa Lutl'íl., v. 11, pAgo 333, n." 377, Call1jgas Fí-plIlo.r€s cit., pago D.
:II Sovelã.o. Cfr. RelJista [,';'8j/" v. 18, pág. 191.
5 Cfr. En8aiol.i Elhnagr., t .. IV, -pág. 70.

86 REVISTA LUSITA!<A

32 I Careca caiu ao poço, 330 lnda. nlo é meia noute,


Outro careca o botou; lnda o galo não cantou;
Outro careca lhe disse: Êle como há-<le cantar,
Carecd, quem te empurrou? Se êle no 'spêto andou?

3Z2 Quem tem um amor careca, 331 Fui à fonte beber água,
Tem~na morte à cabeceira; Bebi águ.a como terra;
Quando acorda de noite, 'stava lá uma menina,
D;1 t:'os olhos na caveira 1. Atirou-me c'uma pedra.

323 Ó "ida da minha vida l 33'2 Eu vou por aqui abaixo,


Três c'um burro ando bem; Não faco mal a ninguém;
Cm carrega, outro tem mão) Se alguém me quiser bater,
Outro olha se "ai bem 2. Eu puxo pelo meu cacete.

324 Minha mãe pariu-me ao lume, 333 O velho diz que morre,
Debaixo duma tijela ; Eu digo que Deus o queira:
Os gatos dt!fam comigo O \+elho morto na cova,
Cuidimdo que era vitela. Outro já à minha beira.

325 Homens e mulheres, Ó meu velho, ó meu velho,


Rapazes e tudo, Ó meu velho, digo, digo;
Vinde ver o dote Ou tu hás~de morrer, velho,
Que minha mãe me deixou: Ou te hei~de enterrar vivo.
Uma cabra cega,
Um cabrito coxo, Fui dar c'o ,'elho morto
Uma manta velha, AufJ'c as pedrinhas da foje;
Que metia nojo. Atb-ei-lhe c'um fueiro,
Olha o velho como foge!

326 O piolho e mais a pulga Fui dar e'o '\"elho morto


Foram p'ró campo lavrar; Antre as pedras do meu lar;
O ladrão do pet-set'ellw :Fui chamar a vizinhança
la atrás a somar. P'ra me ajudar a chorar.

327 Pus-me a pé de madrugada, 334 Tenho o m~u pão pIra amassar,


lnda com muitas estIHas; E meu marido p'ra morrer j.
lute 19ora me levou Antes meu marido morra,
A f/fit'elií~las fivelas. Que meu pão se me perder.

328 Esta noite fui à caça, Se meu velho morrer,


Ao pinheiral da arein.; Alguêm o há~de enterrar;
Encontrei a lebre na cama, Se meu pão se estragar,
Fi-la mira e ruatei-a~ Ningl.1êm cá mo \"em pagar.

329 Aqui.del.ret quem acode~ 335 Ó meu velho, ó meu velho,


A rua dos alfaiates! Fôra·te melhor morrer;
As formigas andam prenhas Te1n.na mulher bem bonita1
Para parir os mamfa.tes. Os ... 'stão·te a na.scer"

l Cfr. Ret7iltltJ. Lu.il., V. IS, pág. 2ft, a,o 58.


= CIto.Rtwilll-!J Ltt8lt•• v. 18, pág. 266, no'" %79.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO

Ó meu velho, ó meu velho, ,342 Quatrocentos guardanapos,


Três ... te hei.de Ispetar: Seis vintêns em cada p.onla ;
Três pjra baixo, três p'ra riba, Menina, se é muito fina,
Outro virado. p'ró ar. Some lá essa cOnta.

336 Uma velha, muito velha, 343 Pus-me a contar as estrêlas


lIais velha que minha ,n'ô; Na pedra duma tribuna;
Que tinha o nariz comprido Nove e oito, sete e seis,
E na ponta dá um nó. Cinco, quatro, três) dois, uma.

Cma velha, muito velha, 344 Pus-me a contar pêlí, lei


Em <ii-ma duma figueira ~ As pedras duma coluna;
/uté os "figos dançavam Quatro com cinco sào nove,
De a velha ser tam gaiteira. Cinco e quatro, três, dois, uma.

337 Casei.me c'uma velha 345 Graçds a Deus já ouvi,


Por causa da filharada; Carminda, tua fala;
Vem no diabo da velha~ Só devia a vir do CL"U,
Trouxe dez duma ninhada. Na terra não .se crial'a.

338 Eu, quando era mais novo, Canla, minha voz dum anjo,
Usava as minhas chancas; Pareces um clarim;
Agora, que já sou velho, Por ditosa me daria,
Uso vêrgas nas tamancas. Se eu tinha uma voz assim.

339 Dizes que canto mal. }46 \. ós cantais, que regalais,


Que é por ter a fala grossa; Temle-la fala tardeira;
CQm ela me arremedáo, Quando ca·ntai-la segunda,
Não vos vou pedir a vossa 1. Já vos nio lembra a primeira.
340 Eu hei·de aprender a ler 347 Mandaste-me segar erva
No lh'TO da vedoria, Ao lameiro da amargura;
P'ra te saber responder Podia cortar um dedo,
À tua sabedoria !, P'ra nunca mais ter cura.

341 Eu hei·de aprender a ler 348 Mandaste~me segar erva,


No livro dos enganos; Eu erva não sei segar ~
Eu quero que me tu digas; Mandaste~me falar de amores,
Quantos dias teem trinta anos. Eu de amores não sei falar.

- Teem dez e novecentos, 349 Vou cantar uma cantiga,


Se eu na conta não errar, Não sei o que irei fazer;
Com quinhentos e setenta e cinco Não sei se vou agradar,
Sem uma hora lhe faltar. Se irei aborrecer.

Ch'. &J1i8m Lum., v. 17, pág. 335, n~ 1.02.


11 efr. Trad. Pop. de Port, pág. 137.
Ou1Í cantar um grande númllno de '1u&dnJJ amoros... num.. esfolhada .. tlDIA
xaparip. Ao fim doa dois primeiro! v6r.o~, a8 outr•• repetiam em coro o ~bUho :
Ú que ".tl~, ete.
350 Agora que vou cantar, 3S I ~sse St:"nhor que me pede
Agora é o meu tempo ; Que eu cante uma cantiga ...
Quem me não quiser ouvir, Cantarei duas ou três
Vire os ou\1i,dos ao vento. Que uma não é cortesia.

352 Algum dia, neste celeiro1


Havia uma gaiola;
Agora que a não há,
Digo-te adeus, vou-me emhora.

Na sua grande maioria as cantigas coleccionadas liDr mim


são perfeitamente populares: Denuncia-se essa qualidade pela
idea, pela forma e por vícios de construção que não podem
deixar dúvidas no espirito do leitor.
Outras são popularizadas, nada perdendo muitas vezes ...
em abandonar o cunho literário.
Há-as !ambêni literárias, ainda não tendo sofrido o trabalho
dos cantadores. Publico-as tambêm, revelando os agentes que
ordináriamente as transmitem ao povo - os cegos.

(Continua)
AeGUSTO C. PlIlES DE LIMA.
Tradições populares de Santo Tirso
(3." série) 1

Na disposição dos matenrus colhidos ' seguirei quás; sem-


pre o método adoptado na segunda série, suprimindo, porêm,
alguns capítulos e acrescentando outros.
Reunindo os vocábulos dispersos pelos trabalhos já publica-
dos às notas que fui lançando à margem do Novo Diccionário
da Língua Portuguesa pelo sr. Dr. Cândido de Figueiredo, hei-de
tentar no fim desta terceira série um esbôço da linguagem po-
pular da minha terra '.

Ensolmos

]. PARA TAlHAR O AR 2. PARA TALliAR O BICHO •

Eu te talho, Eu te t:llho)
Ar da porta, Bicho, bichoco,
Ar da horta, Com funcho, cinza e saI,
Ar debaixo da boeira \ E água da fonte Pedral,
Ar das encruzilhadas, Que nem cresças, nem peneças,
Ar debaixo da figueira II, E jnntes os pés com a cabeça.
Ar das nllbcs ccurrutas "

Cfr~ Revista Lusitana, 1'\'"11, 17 ss I XVI1I, 183 SS., XIX, 233 85., xx, 5
55" XXI, 64 e 233 ss.
2 A colheita. foi re<ilizada geralmente em S;mto Tirso. Desde que a tra~
dição sejii fom~,cida P,"lf pessoas cstra!1has a Este concelho, indicarei a terra
respectlY,L
Muitas notas foram-me tran:;.mitiJas por meu irmão) Dr. Joaquim A. Pires
de Lim:J.
a- Foi a tarefa a que me arrojei, de um modo um pouco m;-lis largo, na
Revista cos Liceus~ AnotG('rJes ao ~l,lovú Diccio!làrio. (pôrto, H}!Ú).
4 Cfr. KCPlsta Lusitana, XVII, 29, e XlX, 241.
t> Boeiro ou boeira. CHiO de e~gôto, que do eiclo ou d;t's cortes do g-ado
dá para C>5 campus ou qu:nLIIs. O étimD d,~\'c ser boa nus . .t\ü Novo Dicir!n.
ueri\'a-s<e o t. de blla- () (í1J,~ me parece tl~ll;t L,nt;7Si7t:-t:fr. n 1. hU1l.uf"im (de
huccariu"i) na i. ..ing. pop. do }l. Real por A. fiDmes l'ercirR {Lisboa, I91O}.
Separata f13. lú:v'is!a lusitana.
f:l A t;Q-uca rt'si~!é!1cia do'!. ramos !ln. 6~lleira dil orig-ern a desastres,
mortais .à~ vezes. O,d tain;:z éI superstiçàu li;u~da <l eSsa á:rv<lre.
"1 1\:i."H"lS cm rupL... ", efr. <iS ú.'lwlUL1S [J~Jr mim publicadas na Revista
Lusitana, XVII. 21, e XIX. 2AO.
l:'. Concelbo de VILa 1';0'\>':1. dt~ FamdÍl..:ào.
REVISTA LUSITANA

II

Medicina e cantelas supersticiosas

I. - O ar "tt'm, como se vê das variadas fórm ulas de talhar)


dos materiais que entram no ceremonial, e dos complicados lu-
gares por onde vem até nós, continua sendo um dos veiculos
mais perigosos de doenças_
O mal-ruúft é sem cura, se ataca as crianças na eira, depois
das Trindades, e, passada essa hora fatidica, toma-se um perigo
tambêm deixá-las olhar por uma peneira '_
Conta FT_ João dos Santos na Ethiopia Oriental 2 que, es-
tando no mar, junto da ilha das Cabras,
&Cümü ... fosse ainda fraco, e debilitado da doença
«passada .. , (lhe) deu o ar no rosto, e em uma
"perna; ... de que (ficou) mui mal tratado ... l'.
Ao outro dia desembarcaram-no em Quirimba, onde foi CU~
rado do ma.l) .rmui ordinario:. naquelas terras) por uma moura
velha, chamada Manafua_
Els os remédios aplicados por essa ccgrande mestra) :
-« Outro pau ha, flue os cafres chamam matuvi,
'«nome que significa esterCO do homem, e a causa
«de lhe porem este nome é por que tem o mesmo
Huim cheiro) tão nogento que não ha pessoa que
<o possa sofIrer. Na India tambem ha deste pau,
«sua arvore é como espinheiro. Dizem os cafres e
.. a gente da lndia, que tem grande virtude contra
~o ar, e por esse respeito (} trazem muitas pes-
«soas enfiado como contas e atado no braço, junto
<da carne e particularmente os meninos de tenra
{'edade !l ••. lI'.
Descrevendo as ilhas de Quirimba " pondera:
.. Todas estas ilhas são muito sadias, e de mui
.. bons ares, particulannente Quirimba e a ilha de
,Cabo Delgado, e a das Cabras; ainda que por

1 Cfr. Revista Lusitana, vol. X\'lI. pâg-. 32. n. o 2.


:li Sirvo-me da if"dição da Biblioteca dos Class;cos Portugueses {Lisboa
°
J892). Vid. vo1. 11. liv, terceiro, cap. XIII. J

:li Valo lt li\>'. primeiro, cap. IV (Snhla}.


l Vol. l, liv. terceiro, cap. \'.
TRADIÇOES POPULARES DE SANTO TIRSO 37

.. serem os ares muito subtis e penetrantes, morre


,n'ellas muita gente de ar, particularmente velhos
.. e meninos. Para esta enfermidade tem muitos re-
,-medios e a sabem muito bem cnrar ... a toda a
'pessoa que dá o ar, logo a defumam com esterco
<de elephante) mostarda, ca~cas d'alhos, e uma
"certa semente a que chamam lngo) que t' como
«tlzirào verde, de cheiro mui fortum. E com tuda
«:isto junto. deitado em braseiros, vão defumando O
"doente duas ou tres vezes no dia, e a cabo de
«quatro ou cinco dias que continuam isto, fazem
«um exceHente unguento de meia canada de azeite
.:.de oliveira, e um quartilho de vinho branco de
uvas e pouco mais de uma quarta de pão da
II J

.China desfeito em migalhas e tudo junto ferve no


(fogo atf~ que se gasta o vinho, ficando sômente
G:um quartilho d'azeite; no qual coado deitam uma
<l:pequena porção de cera beBa, para .'-'e coalhar; e
'I3ssim fica feito o unguento, e com elle untam
"toda a parte tomada de ar, pela manhã e ao mejo~
.. dia e á noute. E d'esta maneira em breve tempo
t:saram os doentes d ' este mal, e ficam tão sãos
<1 como se nunca lhe dera o ar. De outra mezinha

(usam tambem mui excellente, que e uma certa raiz


"de páo, a que chamam coto, moida e desfeita em
«agoa morna, conl a qual untam a parte lesa, e
"saram em breve tempo).
A influência maometana em 'Moçambique persiste bem, viva,
COmo se prova pelo papel desempenhado pelos mónh.'s. (Vid. Dr.
Américo Pires ele Lima, Notas Etnográficas do Norte de Moçam-
biqt,e-Porto, 1918).
2-a) Não se deve ocultar a gravidez. Encobrindo-se, as
crianças saem feias.
h) As mulheres paridas não devem mudar de roupa branca
durante um mês.
c) Eis a ,,"xplicação popular de vários casos de malforma-
ções nas mãos 1:
- Em Santa Marta de Penaguião Z uma mulher grávida co-

1 Cfr. Revista Lusitana, vols. xvn, pág. 30; e XIX, pág. 241.
2 Na freguesia de Sever.
REVISTA LUSITANA

meu mão de vaca. Pois deu à luz um menino com seis dedos
em cada mão, e outros tantos em cada pé '.
-Em Vila Nova de Famalicão' uma mulher, enquanto
grávida. pegou nas unhas de um porco que estava a ser cha-
muscado. Lembrou-se logo que alguma cousa aconteceria ao
filho:
Efectivamente nasceu com seis dedos na mão direita 3,
--Os trabalhos de lavoura não se podem realizar em dias
dedicados a certos santos (Santo António, S. Pedro de Rates.
etc.) ':
Em Viana-do-Castelo, um homem pegou num martelo no
dia de S. Pedro de Rates. e nasceu-lhe de castigo uma filha com
um dedo a mais &, Vê-se que os santos se vingam como os an·
tigos deuses da mitologia ...
-Na póvoa·de-Varzim caiu uma janela sôbre a mào es-
querda de uma senhora, grávida de dois meses: sete meses de-
pois nascia· lhe um filho com dois dedos apenas na mão direita ".
- Duas senhoras de Braga viram numa romaria a mendi-
gar uma criança com ausência congénita de um dos membros
superiores. Estavam ambas grá\'idas,
Mais tarde llma delas deu li luz uma criança hemímela (de-
feituosa como a mendiga). A outra senhora esperava aterrada o
seu parto, mas o seu filho nasceu normal.
António G. S., de 23 anos. natural de S. Vicente-do-Pinheiro
(Penafiel). é polidáctilo nas quatro extremidades: Dizem na sua
aldeia ser a anomalia devida a um castigo por algum dos seus
ascendentes ter escarnecido do próximo.
d) Desde que a fatalidade nos persegue, não devemos ir
contra ela:
-JOSé F. S. de Valongo nasceu com oito dedos no pé es-
querdo. Em criança aconselharam a família a que fôssem corta-
dos os dedos a mais. °pai não consentiu, alegando: ,0 que
Deus dá é um espelho>.
- Alexandre S. G. de Lordelo (Pôrto) tem um dedo supra-

I Dr. Joaquim A. Pires de Lima, Cantrib. para o estudo da PoJidacti~


lia (An. Scient. da Facald. de Med. do Porto, '\'01. I, n.O 3. 1914).
., Na freguesia de Requião.
,I Dr. loaquim A. Pires de Lima, Sobre anomalias dos membros, in An.
Scicnf. da Fãculdad. de Medic. do Porto, vol. I1f, n.O l.
" Vid. Revista Lusitana, \'01. xx, pág 7. nY 2.
-5 "Faria Vasconce:os1 Três casas de PolidactiUa (in Medicina Moderna,
Abril de 1915).
6. Dr. Joaquim A. Pires de Lima, Anoma!ias cito
TRADlçôES POPULARES DE SANTO TIRSO 39
--
-numerano, embaraçoso e inútil. A família opõe-se à amputação
daquele dedo, dizendo: ,O que Deus deu não se corta •.
3-Elltre as muitas causas que provocam a gota nas crian-
ças \ cita-se a de as mães lhe dareln de mamar entre a hóstia
e o cálice (S. Simão-de-Novais).
A doença torna-se então das mais perig-osas, como sucede
COm os males provocados pelas pragas rogadas durante êsse es-
paço de tempo '.
4 - Enquanto as crianças não teem um ano, as unhas só
lhes podem ser cortadas com os dentes ".
Quem corta as unhas) à noite~ corta a fortuna.
!\ão se devem cortar as unhas, à sexta-feira, porque foi
nesse dia que os judeus as cortaram ao Senhor.
S-No tratamento da paralisia infantil e de outras doenças
que produzem fraqueza de membros, aplicam-se banhos ele vinho
em fennentaçào, vinho mosto (S. Simão-de-Novais, Pôrto) etc.).
6- Contei na Reuista Lusz'tana .( que era costume dar ás
crianças ougadas um bUlO untado com azeite.
Informaram·me dois rapazes (um de Braga e outro do Pórto)
que a criança come metade do bóio, sendo a outra lançada a
um cão, naturalmente para absorver o mal 5.
7 - Quem tem ruins 6 acode a Carrascos '. Fabricam lá
uma pomada milagrosa~ que cura as feridas em dois dias.
Para queitnadelas, úlceras das pernas 1 etc.) vão alguns a
Santo Tirso (vila) buscar pomada de um ferrador.
Empregam-se tambêm contra as feridas as f"lhas do semfwe-
-verde (sabugueiro).
As feridas curam~se, empregando+se ortigas com farelos, tri~
gos e vinagre \S. João-da-Pesqueira).
8- Para as doenças do peito toma-se o leite de jumenta,
ou o sangue de boi seguido de um cálice de vinho maduro 6.
Quando se sofre de esPinhela caída vai-se a Toane ", onde

l Vid. Revista Lusitana, vaIs. XIX, -pág. 244, n,(lo II, e XVH, pág. 31, n.-o 14.
:! Vid. Revista Lusitana, '"'01. XYIl, pág. 46, n.o I2.
3 Cir. Revista Lusitana, vol. XIX, pág. 9I.
.. \'01. XIX, pág. 24-1.
õ Cfr. Dr. Leite de Vasconcellos, Trad. Pop. de Port., pág. 204.
6 c Designação que abrange o cancróide, vequenos tumort:s malií{l1os e
pequenas úlceras atónicas; às vezes é aplicada a pequenos cistos., (Lingua·
gem Medica Popular por Alberto Saavedra (Pôrto, 1919).
7 Em Tadim, concelho de Braga.
S Vid. Revista Lusitana. vol. xrx, pág. 247, n. O 18, e Francisco Gonçal-
ves1 Breves Considerações sobre Medicina Popular, pág. 70 (POrto, 1917J.
9 Famalicão.
Rl':V1STA LUSITANA

um habilidoso põe sôbre o apêndice xifoideo e epigastro do


doente o emplastro da espinhela "
Quando o baço está deslocado, penduram-se as pessoas
pelas pernas, sacudíndo-as (pesqueira),
9 - Remédio para soldar partes quebradas:
Na Arábí~, as areias, levantadas pekJs ventos, caem por ve-
zes em fonna de chuva, enterrando os passageiros
<1 e não lhes comendo os corpos, fazem deHes carne

emornia ou rnirrha, .. Esta minha f> provadissima


1para soldar partes quebradas) bebi.da em vinho, .. 2,.
10- Desmanchando-se um braço ou urna perna, recorre-se
a Rio~Tinto, onde os endireitas, desde muitos anos. vão trans-
mitindo as habilidades a novas geraçôes,
Em 1850, deu o monge secularizado de S, Bento, Fc. José
Joaquim de Santa Rosa, uma queda abaixo de um cavalo, "
<de que resultou andar em cura alguns mezes! es-
,tar ligado por mão do algebrista de Rio Tinto,
(',;que o veio endireitar a Covas 3, que pela visita
.lbe levou 12$000 alem dos curativos dos Cimr-
fi. gioens, e Boticarios ..... »

I I - Na Revú-ta Lusifan,a & referi~me ao remédio contra o


trasorelho: Um jugo de bois ainda quente pôsto sõbre a nuca,
Uma mulher de Rio-Tinto, indicou outro: Deitar ao pescoço
do doente um nagalho de corda de capar touros (É uma corda
com nós).
12 - Para o reumatismo fazem ao lume uma papa com
urnas contas (bagas) vermelhas duma planta trepadeira que apa-
rece pelos valados 6.

1 Vid. Dr, Cláudio Basto, Medicina Popular, I, Esplnhela-calda (Viana-


-do·Castelo, 1915}.
:I Padre Manuel Godinho, Retaçdo do novo caminho que fez por te"a
e mar, vindo da India"' l pág. 131 {:l.a edição. Lisboa, J842}.
Cfr. Revista Lusitana vol. XIX1 pág. 245, e Dr. Cláudio Basto, Medicina
j

Popular, Quebradura, pág. 28 (Pôrto, 1916).


Sôbre o emprêgo do óleo humano, como ungàento .. para viver mUlto,
para evitar feitiços e para os fazer~ vid. a Ethiopia Oriental, voi. I, pág. 225
(Manamotapa). Não há muítos anos que o l,lelho empregado Ferreira, do Tea~
tro Anatómico da Escola Médica do Pôrto, fazia largo negócio com 6leo hu~
mano, que era empregado no tratamento da calvicie.
B Quinta da freguesia de Areias.
, Do manuscrito: Livro da Razão I sobre alguas particu1aridades I per~
tencentes ã. Casa de Real. e I de Covas, e ,-rida do P.· Preg.>OJ' Fr. joze Joaq~­
de S ...... Roza, Monge de ! S. Bento. e Secularizado por Decreto I do S.r D. Pe-
dro IV no anno de 1834-
fi VaI. XIX, pág. 254, n.o 2.6.
II A planta deve ser a bodan.ha da Revista Lusitana, vol. XIX, pág. IÇ»8.
TRADlÇOES POPULARES DE SANTO TIRSO
-------'--- .... _-----------
A Arte de Furtar (edição de 1744, pág. 361) fala nuns anéis
feito-s dos cravos que tinham servido a um certo cavalo. Êsses
anéis <póstos em qualquer dedo da mão) erão remed.io presen-
tissimo para gota arterica •.
13-Em qualquer doença, mas muito especialmente quando,
homens ou mulheres, sofrem de dores. de cabeça, apertam esta
com um lenço e assim andam a trabalhar.
O lenço faz o papel da corda ou correia de que usam os
indígenas de Moçambique para apertarem a barriga ou cabeça,
quando sentem dores I,
I4-Chás. para a tosse: de avenca,' de erva terre,..'itrc: z~ de
chintaRB (chantaffem), tanchagem (I); de raiz de cravo do monte
(venenoso, diz o N01..JO Dicio11ario. Será?).
É vulgar a frase: F. viu a raposa, está rouco, Cfr.' • Lors-
qu~un Arabe est enrhurné jusqu'à l'extinction de 5a voix! 011 pré~
tend qu'il est enlouvé qU'll a bu dans un vase qui a\"ait servi à
1

un loup ... > ".


15 - Tratamento da dor de cólú;a ':
1.°- Tomar chás de côlmo;
2.·-Nào dando resultado o côlmo, recorrer ao chá de cas-
cas de pepino branco;
3.°- Se nem assim passarem as dores, fazwse um chá de
caganitas de rato,
Se esta medicação heroica não produzir efeito, então ...
vai-se a um médico (S. Simào-de-Novais).
A Ethiopia Oriental (vo1. I, pág. 147) dá-nos conta de um
remédio ueado em Sofala: ,Dizem os naturaes que da peUe
d'este peixe (tremedor para os portugueses, e para os cafres
thinta) se fazem feitiços, e lambem que é mui medicinal contra
a cólica, torrada e moida e bebida em um copo de vinho ».
1

16-Para poupar a mostarda, orligam as pernas como um


revulslvo.
17-Para estancar uma hemorragia nasal (epistaxis) [', pôe-se
na nuca uma cruz de côlmo (Delàes) .. Tambêm se fabrica a
cruz de fetos: Outros chegam-nos ao nariz (Areias),

1 Vid. Fr. João dos Santos, Ethiopia Oriental. vol. I. li\.'. 3-'\ cap. XII,
e Dr. AméTico Pires de Limal Notas Etnogrdftcas cit., pág. 25.
2 Muito conhecida entre o povo do Norte, apesar de o Novo Diccion. a
dizer da serra de Sintra ...
S Causer!e. Médlcales d Uttéralres, Novembro ('919), pág. 6 (paris).
Viti Revista Lusitana, vol. XVII, pág. 34, n.O 36.
to \tido Revista Lusitana, vols. XVII, pág. 3~ n.<' 41 e XIX pág, 94.
• Famalicão.
REVISTA LUSITAN A

Há pessoas que, perante a hemorragia, pegam numa chave


e conservam-se durante algum tempo com O braço estendido
para o alto (Pôrto).
IS-Registei na Revista Lusitana 1 um processo de impe-
dir que as pombas fujam: queimar incenso nos pombais.
Depois disso li em BIuteau ':
,Orna a pomba a imagem do Ar puro, e sa-
.dio, porque (segundo Pierío Valeríano, lib. 22) a
.pomba he jeroglifico do ar, e he a carne desta
«ave tão salutifera que aos que em tempo d.e peste
j

<l:não comem outra came que a de pombo, não


1

«chega o contagio; tanto assim, que quando este


«mal começava a lavrar, aos Reys do Egypto não
«se dava outro guizado, que de pombos; sem ern-
.bargo de que escreve Diodoro Siculo, que os di-
«tos Principes não comiào senão vitella, e pato.
• Vid. Aldovrando. OfIlitholog. tom. 2. pago 450. Tam-
.bem Cardono ln C'omme,,!. I. Aphoris. 10. gaba
oIImuito a carne de pombo em tempo de peste>.
Ora, sendo as pombas a imagem do ar puro e sadio, natu-
ral é que os pombais sejam incensados para as atrair.
19-Continnando no estudo sôbre os remédios contra a
raiva ;';:
Os animais mordidos devem tomar o banho das sete ondas
(Viana-da. Castelo) 4.
Madame de Sévigné õ dá-nos conta de banhos do mar para
as pessoas:
<II Y a huit jours que madame de Ludre, Coetlo-
<gon et la petite de Rauvroi, furent mordues d'une
• petite chienne qui étoit à Théobon; cette petite
«chienne est morte enrag~e; de sorte que Ludre,
• Coetlogon et Rouvroi sont parties ce matin pour
.aller à Dieppe, et se faire jeter trais fois dans la
-mer ... Théobon n'a pas voulu y aller, quoiqu'elle
,ait été mordillée. La Reine ne veut pas qu'elle la
c: serve, qu'on ne sache ce qui arrivera de toute
flcette aventure ... ».

1 Vol. XiX. pág. 255.


, Prosa 5ymbolica t pág. SI (Lisboa, J728}.
S Vid. Revista Lusitana,. vol XIX, pág. 249.
, Informação de meu pai, natural de Carreçol à beira-mar.
!> Lettres cJwisies, tome premier, pág. 67 (Paris, 1812).
TRADlÇÔES POPULARES DE SANTO TIRSO 43

Em vez do numero 7, aparece aqui O numero j, tambêm


simbólico, mas é muito possível que os banhos fôssem três, e que
as mordidas tivessem de submeter· se em cada um a sete ondas.
E, peJo visto, tomavam o banho em estado de nudez, por-
que, maliciosamente, e acentuando o defeito na faJa de Ludre,
Madame de Sévigné, pôe-Ihe na bôca estas palavras: ,AIt, Zcsu'
matame te Grigllan, l'étran::e sose t-'êire zetUc foutc nue tans; la
mer.>
Sendo os mais horrorosos dos espasmos sofridos pelas pes~
soas atacadas de rai\"a os hidrofóbicos, nada mais natural do
que o povo se lembrasse dos banhos para combater o apareci-
mento do sintoma que mais impressiona a imaginação.
Verdade é sustentar-se que, dos animais atacados de raiva,
só o Homem é hidrófobo J, mas é inclinação natural do povo,
pouco apto para observar, a generalização.
Os números 3. j e 9 aparecem não só na receita já publi-
cadat como naquelas que copiei de um manuscrito de um frade
beneditino 2 que peregrinou pelos mosteiros de Tib:.les, Ren-
dute) Pendurada, Bustelo e Pombeiro, fixando-se por fim no de
Travanca.
Não esteve no con\-'ento de Santo~Tirso) mas é possível que
conhecesse a fórmula nele usada a, e que esta se encontrasse
em uso noutras casas da congregação.
Passo a transcrever do manuscrito Ij,:
a) • Receita da Hydrophobia ou mordedura de cão da-
mnado.
~Lavai immediatamente a ferida resultante da
«mordedura em abundancia de agua pura, ou com
.hum pouco de sal dissolvido na dita agoa- De-
~pois! para que ella sangre bem, e com o sangue
«saya o veneno l applicay-lhe hua ventoza, que se
~pode fazer com hum pequeno copo, ou caneca,
<em que se introduzão estopas inflammadas. De-
«pois de ter sahido algum sangue, tira~se a ven-
«toza} lava·se de novo a ferida para limpar o san-

1 \'id. Dr. Cláudio Basto, Medicina Popular. Raíl'a (pOrto, 19J 5), pág. 3.
Tenho uma reminíscéncia.de me contarem em criança êste facto: Um
homem atacado de hidroL)bia foi metido na cadeia e, perante o sofrimento
horroroso do prêso~ os médicos resolveram abrevi,u-lhe a vida, deixalldo~lhc
cair sübre a cabeça e a intervalos regulares uma gota de água.
2 Lívro da RaziJo, eH.
:I Revista Lusitana, voI. XIX, pág, 253.
• F.61.
REVISTA LUSITANA

egue, e cauteriza-se a ferida com manteiga de


cantimonio (na botica), que com hua penna se
,appelica em toda a sua profundidade, e em todas
«as sinuosidades».
A preocupação aqui é extrair o virus inoculado, objectivo
que se julgou atingir empregando umas pedras especiais 1
Que a infonnação dada acêrca das pedras trazidas do Bra-
sil) oe empregadas em Lousado 2, era segura, prova-se com êste
recorte do ,Commercio do Porto' :
"No municipio de Pitanguay appareceu uma
'pedra que tem a \~rtude de curar mordedura de
«cobras. Pedras iguais foram ha annos adquiridas
'em S. Paulo pelos indios. Deitando dentro do
.aleite de vacca este muda de côr, pois todo o ve~
1

-c:neno fica no liquido .. 3.


A virtude da pedra e o modo àe a usar ajustam ao que se
fazia em Lousado aonde concomam há anos muitos mordidos
de Santo-Tirso e Famalicão.
Ka ,Lusa. " referi-me à ,Relação da Viagem da fadiG.'
que fêz o Padre :\13noel Godinho, a propósito das 'pedras de
cobra .. :
•... quem tem uma pedra daquelas escapa:
'pomio.a sobre a mordedura (de qualquer bicho
'peçonhento), pega logo a pedra e não cahe sem
<primeiro chupar toda a peçonha, da qual se limpa
«a pedra deitando~a em leite» r,.
A prãtica era usada, como se vê, tanto na índia como no
Brasil, e ainda hoje domina, tendo a noticia dela entrado no
nosso pais em diferentes épocas.
b) ,Outro remedio ":
,Tomaõ-se Ires punhados de folhas de Da-
c.tura stramonium = ou em Francez pomme epi-
<nense (sic): chamada-Figueira do inferno = Fa-
<zem-se ferver em pouco mais de quartilho e meio
,de agua, ate que fique quasi em metade, e da-se

1 ReVista Lusitana, vol. xo.:, pág. 149.


li Famalicão.
S Correspondência do Rio-de-Janeiro, no mesmo jornal de 10 de Dezem-
bro de 19'9.
, '9 19. p;l.g. 7°·
~ Edição cit, pág. 38.
II Manuscrito cit., f. 61.
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 4S

.a tomar ao doente tudo d'hua vez. Logo em se-


'guida o doente he accomettido de hum violento
.accesso de raiva, porem he de pouca duração; e
.termina com hum abundante súor, ficando o doente
i:inteiramente curado.
«Deve~se advertir que a fi~TUeira do inferno ou
«sb'amonitttn he remedio violento, e a sua acção
«principalmente no cerebro he perigosa, e assim
"he tida como substancia venenosa e narcotica.
cA formula não diz se as folhas devem ser seccas,
4:.011 verdes; mas em vista da forte dose, he pru~

-edencia usar das folhas seccaSi>.


Aqui associam~se os dois processos: a provocação do suor
para a saída dos humores peçonhentas, e a de um ataque espas-
módico similhante ao da raiva e que obrará como uma espécie
de preventivo.
c) -Remedia para os damnados 1. Tomão-se
<itres gemroas d'ovos e a quantidade de azeite, que
«'pode ser contida dentro de ovo e meio. Mistura-se
1:esta composição, e poem-se enl cima d'hull1 fogo
'I moderado em hum vazo de barro limpo, e move-se
«este mixto continuamente com hua faca ate que
'se faça pegadiço, e então se reduz á quantidade
«d'hua chicara das de chá. A hua pessoa mordida
c.:de cão damnado se lhe dará COln toda a pressa, e
.. de ilua vez a quantidade mencionada e se repe-
1

.,-tirá por mais dous dias consecuti\.'OS, e não se lhe


«concedera nem cornida, nem hebida algua. seis
~_horas antes, e seis horas depois de ter tomado o
o:remedio. No cazo que haja ft~rjda será precizo
,abri-Ia duas vezes cada dia com bum pedacinho
Q;de pao~ e se continuará esta operação por espaço
<7.de nove dias; durante este tempo se terá aberta a
«ferida e se medicará com a dita composição de
l

((gemmas, e azeite. Os que tiverem brincado com


«algum cão damnado~ ou os que por elle forão
dambidos 1 tomarào hua dos-e de remedia hua so
<vez por percaução (sic). A hum animal damnado
,de qualquer casta que seja se lhe dará hua dose

1 Manuscrito cit) f. 92.


RfVIST A LUSITANA

.dobrada por espaço de dous dias e tambem sem


<comer seis horas autes, e seis depois. A efficacia
.desta receita be muito iocem, passando nove, ou
<mais dias depois da mordedura. Foi applicada por
.bum Conde Allemão viajante e tirada d'bum livro
«moderno) l.
Verifica-se que a última receita, pela nota final do frade e
pela variante tirada do folheto Cautela com os medicos, não saiu
de qualguer farmacopeia adoptada em boticas de conventos.
Há dois pontos em que se aproxima daq uela q ue foi publi-
cada na Revista Lusitana ': no avivar das feridas, e na aplica-
ção simultáneamente interna e externa do unguento.
Afastam-se, porêm, no espaço de tempo Como intervalo das
refeições, e nos dias de curativo: Trés num caso e nove no outro:
- O sr. Dr. Francisco Gonçalves (Breves Considerações sôbre
Medicina Popular, pág. 83) transcreve duas cartas, uma de 153Z
e outra de 1538, passadas a favor de pessoas que, pelas suas
benzeduras~ tinham virtude contra o mal da raiva 8-.
Não se podiam benzer .. cães ou bichos} nem outras alima-
rias ... sem primeiro haver nossa (do rei) auctoridade, ou dos
Prelados. (Ordenações Filippinas, quinto livro, til IV).
20 - Os porcos teem às vezes no céu da bõca tra.nelo, que
os não deixa comer. É preciso queimâ~lo com um ferro quente,
e esfregar depois o sítio dorido com vinagre e cebola.
21 - Receita para lançar fora a noz do gado (?):

'4 Cana das de vinagre bom-


1 arratel de cebo-

t aproximadJ,mente a receita que fUl encontrar no folheto; • Caa-


lda com os medicos ...• Pelo Padre JQzé de Souza Amado (Li~boa, 18SS),
a pág. 19, n. a 1:
• Rt:ceita para a hydn:'phobia, ou mor.iedura de cães damnados:
Tr,'s ;!:e-m!lv!5 d'ov,)~, 1)('111 IUT ros de cLu;~, e ünça e !~ eia de azeite bem
pllro, deitem-se. em uma frigidéra de barro vidrado batem-se muito bem com
,:oih:~r de paú; ponfwm·st sohre CII17AS lH~m qut:nks, ou fogc) mui br ..mdo,
medwnJo-se sempít:~ com :t me.~llHI. coilwr: em formando gr<'lllltos, oe tomando
a cnn~istenciéi do md tIre-sI" pLlrd flll'a. Havt'ndo ftlida, esgravôt"·,,e (om \lm
pAü :!!!udu atê fazer s,lngcll~~ enxuhJ e:;te ensopam-se fios nu l'emedio, p"el11-se
Hd felilb, e lig:(\~se pi'lrá núu c,\hlrcltl.' h,:h",·se ü l't:sto do rf:Hlt::diü: não ba~
vendo ú,rLh, hebe-se o retrH:,dio todo: E'Ste remediO e cur;:ni\'o deve repe-
tir-se por tres tli,,:-; succeSsn us as sei:;: horas lia manham, e ';g seis da tarde,
c.nnH~:-;do Sl' ao ll11'io dia. e á meti-!. H"iL', de dit'tJ, F,1Zf'11do-se antt's de se
tledarar a hydn'llh<,I,ia l~àn COll-.;ta, qt1<:" estl'.': rt>rlledio t<"nh>;; falhado. Ahna-
nak famil1Gt do Sr. p/ \'icente FereH'il pMa o arm_o de ISS4 ll'~
:: \"01. XiX, 1'(1.:( 2,::'3
,,\ Vhi. Nevista Ll1~!tana, \"01. UI, pág. 329.
TRADiÇÕES POPULARES De SANTO TIRSO 47

Hua mão cheia de .a1-


Hum punhado d'alecrim-
Hum punhado de mortinho.-
Hum punhado d'entrecasco de carvalho cer-
quinho- •.
Ferva·se tudo em vinagre e unte-se depois de estar morno
por 3 vezes ao dia a parte doente por espaço de 12 ou ]5 dias ' •.
22 - Cortam-se as orelhas e o rabo aos gatinhos para que
o pai os não vá comer (S. Simão-de-Novais) 2.
A tal costume se refere Camilo, em A Brazileira de Pra-
sins 8,
23- São conhecidas várias substâncias que, ingeridas, tiram
o juizo '.
Aqui, como em muitos outros casos, aproximam-se os nossos
camponeses dos selvagens da costa de Melinde.
Ora leiam Fr. João dos Santos .:
.Em muitas partes d'esta Ethiopia se cria uma
«herva a que os portuguezes chamam dutrô, e ai..
«guns cafres banguini, e por outro nome lhe cha-
tomam machaya moroy, que é o mesmo que h~rva
«feiticeira ... a qual moida, e deitada no comer ou
«beber, tira totalmente o juizo a quem a torna; e
,de qualquer modo que está quando come, ou bebe
ca tal semente) do mesmo modo anda vinte e qua-
.. tro horas; quero dizer, que se a pessoa quando
-tcome está alegre, tal fica, rindo sempre, e se está
ottriste, chora todas as vir.te e quatro horas e de~ 1

i. pois que torna em sÍ) nada lhe lembra do que fez,

4nem disso em todo o tempo, nem menos dú fé do


'l'i:que lhe fizeram; e com esta semente dizem que
«se fazem muitos feitiços) e cousas muito mal
-«feitas».

1Manuscrito cit., f 88 \'.


~Tenho ouvido citar casos de gatas que comem os filhüs, mas não me
consta que isso Be considdc como a.g()uro.
Qilita aproveita urna u)Ü!lstruo",idade similhante corno .,gollro:
• }bma ovelha pario f{'ra de Lua
Suhre uma aspt ra, e fria penha nua,
E qual faminta loba irada os der:tes
Ensanguentou nos filbus innocentesJo.
Obras .....01. I, pág. 29 (edição de 1831;.
3 Edição de lH.831 r;ig-. 12.
!lo Vld. Revista Lusitana, '-'01. XIX1 pAgo :'48.
~ Etlliopta Grienti1!~ ':01. I, pág:. 43 t.
R/!VISTA LUSITANA

24 - Do mesmo modo que as crianças rendidas se curam, fa-


zendo-as passar através de uma abertura feita num carvalho novo,
e os ougados deitam fora o ougamento, comendo metade de um
bÓIo, e atirando-se a outra metade a um cão, tambêm reina a
crença de que os homens se podem livrar de certos males secre-
tos, mantendo relações com uma virgem.
Falando de Moçambique, conta-nos Fr. João dos Santos que
as negras usam uma beberagem para moverem. Mas, depois do
mõvito, ficam em peçonhentadas, e <se não pegam aquelle mal a
algum homem por meio de ajuntamento, vão-se seccando ...
até que morrem,.
Transmitida a peçonbs a Um homem, morrerá êste se -não
beber o Summo de outra herva contra-peçonha da que tomam
as negras para mover •. Ma., para aproveitar, esta mézinha há-de
ser tomada no mesmo dia em que o mal se pegou.
.. A e."ta enfermidade chamam entaca,.
2S - Quem tiver bruxaria não deve ir consultar médico, nem
tomar remédios de botica, sem primeiro ir ouvir uma bruxa.
z6-Quando dói a barriga a alguêm, esfrega-se-Ihe com
enxúndia de galinha, a qual costuma pôr-se a secar, colada no
friso duma porta da cozinha (Cfr. Camilo, Cavar em Ruinas, XIII).
27 - Quando as doenças se tornam crónicas, dão no hospi-
tal aos doentes o remédio do desempata e estes morrem logo 1.

III

Amuletos e agouros

I - É geral a crença na virtude do trevo de quatro fôlhas '


Na noite de S. João reúnem-se as raparigas e vão procurá-lo,
A êsse costume fazem referência as cantigas:
Fui ao trevo colher tre'vo, Já lá vai ° S. João,
Achei o trevo c.olhido; Agora vem o S. Pedro;
Ó trevo) que eu não me atrevo Ajuntai-vos, raparigas,
A ler amores contigo. Pra C'olhêr a fOlha ao trevo.

1 Crr. Revista Lusitana. voI. xx, pág. 255. n.O 34.


Num entremez manuscrito, intitulado os Medicos Arranchados (Anno de
]806-.-\ 8Cena passa-se no POrto) há uma fala de criada (Henriqueta), que
resume a medicina caseira da aldeia: c .•. Pois não sabes fI violetas e Avenc3,
papoilas) xá de carqueja, agoa d'unto. e xarope d'ervas dos nossos campos
colhidas, e por SN<:1n em caza feitos, dinheiro nos nio custavão (?) 'I,
~ Cfr. Revista Lusitana, vol. xYU, pág. 38.
TRADIÇÕES POPULARf:'<; DE SANTO TIRSO 49

2-Para impedir que as aves vão ao milho alvo e ao painço,


enterra-se no campo fel de vaca "
3-É tradição corrente a maldição lançada à mula no cur-
ral onde nasceu o Menino-Jesus, Dizem as Janúms,

' ..... .
Maldição te boto, mula,
Que não pairas vez nenhüa.
E algúa que apar1~res.
Não haja sol nem [;ia.

Ora Garcia de Resende na sua .L~Jiscellanea ;;) entre os anún-


cios de grandes desgraças (terramoto, inundaç0es) apresenta ()
aparecimento de um cometa (crença vulgar») e o fenómeno se-
guinte:

• Em Lisboa entam St' vi 0, e ho tUho, que cl'iaua,


e vimos mula parj(h, perante t()dos mam.i\ll<i:
para isso ahy trazida no n-:~sio\ na rib('ira
de punhete, onde pario, foy vista de:;;ta manetra
de todos vista e sabida; de muita gente q olhauJ ~.
(No ano de ISJO)

4-..-Ainda há poucos anos o aparecimento d.e um comf'"ta


provocou um alarme geral ~~.
Veja.se a descrição de Garcia de l<esendf>

28 9
.E depoi.s dparcceo cousa branc~:) nmy (úpriJiI,
hüo cometa mu)' famoso, directa com ~ram medida,
que ni'j min;.'Uou, nê cresceo, bem quinze noctes se vil),
nê andou, nü se moueo, pouco e pouco se sumio,
e non era luminosü: tee ser desaparesáda •.

Os poetas não podiam deixar de beber em tal receie!' a ms·


prração:
« Bem prometteo <Ii tUa morte o cruel cometa,
Que vimos, niIlguem soube então senti~lo,
Ah rusticos, quI". O:ii eeos nunca entendemos.•

Cfr. Revista Lusitana) voL XXI, pág. 2:;0.


',) Edição do Sr. Doutor Mendes dos Rem.::':diDs' p:'lg. 100. Cfr. TrQ({ Pop.
de Port., pág, 176, ,
a efr. Dr. Antbnio Pires de Lima, O Caracter ScientifÍl'o da !#s(oria,
pág. 59 (Famalicão} 190-1).
~ Antonio Ferreira, Obras, l, pág. lb1S (edição de 177!).
50 REVISTA lUSITANA
----------------------------------------
o
grande desastre de Alcácer aparece tambêm anunciado
por um cometa:
c: ••• DO anno de 1577, aos nove de Dezembro,
cappareceo do Ponente hum cometa tão grande e
ce.pantoso, que bem mostrava em sua significação
-os males que prognosticava, e estendendo hum
'grande rabo ao meio-dia, estava demostrando a
.região de Africa, aonde promettia fazer seus effei-
.tos; e quanto foi de mais dura (que appareceo
.espaço de dous mezes) tanto mais continuos e
-«maiores ameaçava que serião seus effeitos 1 ••
5 - As trevas que se formam por ocasião dos grandes ecli-
pses do sol, o silêncio dos bosques, o recolher das aves domés-
ticas para as capoeiras, provocam uma certa ansiedade. Dai
maus agouros 2,
Entre os muitos exemplos tirados dos nossos cronistas, ci~
tarei um mais frisante ~
•... no qual dia do seu Ide D. João 1) falleci-
<menta ho Sol foi crys em grande parte de sua cla-
4:ridade; e assi tambem foy ho Sol clJ:'s, ho dia
«que a Rainha Dona Felipa sua molher falleceo
(primeiro que el1e em Sacavem; e assi ho dia em
'que seu filho ElRey D. Duarte ... falleceo depois
~ern Tomar 3».
6 - Quando um galo canta pt"fdoso} há morte em ca:-;a.
Já salientei o caso de perseg-uiçües feitas a anormais (gali~
nhas que cantam de galo; peruas que se armam como os perus ~
galos que cantam, qc.ando \'.10 a recolher à capoeira, etc.) 4.
Entre as provas de mau agouro apresentadas na Cdia de
Sá de Miranda '\ yem esta:
1~1 :til_ .Como gallos nos cantam las galJinas .. ~ •

Sob a Impressão pnng{'nte de uma dor profundissima, a fa~

1 Fr. Bernardo da Cruz. Chroll. de E/-R'!!.!' D. SebastiOo, pãg. 30j (edi~


çãú ue I~:r;). \';[\ 1'1'0.;. Fap Je Port. p;íg:. 31.
~ Vid. Trad. Pup. (k Pori cit .. pá:z. 2~.
:1 Nny de I'mA, Cl!ronica (f'E.;-ftei D Dna:te. cap. I, p::ig-, 75 (Edição do
sr. Dr. Alfredo de Mi-If:!;:dlhãr:s-Renllsc<::nça IJnrtugueF.!oi).
l eh. Dr. J. A. Plrl'S de Limi!, A Ectrodactllia na Lenda, pág. 2 (Pôrto,
191~).
Vh:L Revista Lu<:itana, \'0[:;::. XVII, pá~. 40, e XXI, págs. 37 e 44.
5 Poesia",', l!(1!.;ào ti" EX.1U1< Sm,a D. Carolina Micbaêhs de Vilsconcel-
los, pág. 29b.
TRADIçõES POPULARES DE SANTO TIRSO 51

mília do doente ou os parentes do morto não podem conven-


cer-se de que o meio não sofra tambêm:
a) Os cães uivam, anunciando o passamento 1 e deixam
de ladrar enquanto há gente sôbre terra (PÔrto);
b) Os mochos piam: O pio é sinal de que há numero
pre1'lão 2 no céu; vai morrer alguêm para o número ser par
(S. Simào) 3;
c) Como anúncio aparecem mortas pelas capoeiras aves
estimadas, e nas gaiolas morrem tambêm misteriosamente pin~
tassilgos, canários} etc. (Pôrto);
d) Estalam espelhos e quebra o vidro que vela uma foto-
grafia de um casal próximo a dissolve"-"e (pórto);
e) Quebram-se imagens de gesso l cuja permanência numa
casa já é sinal de infelicidade - (Peirto);
7 - Não se deve ter em casa um vaso de Tradescància: Pro~
,"oca desarmonia na familia (pôrto).
8-Na Póvoa-de-Varzim há o costume de pendurarem uma
planta. Enquanto esta se consen"a verde, r.:: sinal de que a pes·
~oa ausenk no Brasil tem saúde; secando, é porque morreu.
Em Santo-Tirso há if!,uai pr:(tica. A planta. é a erl'a de
~Vossa Senhora.
q-Quando o 1ume estala muito, e~ti~n a dizer mal de nós.
Deita-se-Ihe sal paTa a linJ:;ua dos maldizentes: Í.:: que assim
trincarão a Hngua ú.
E:;;talanc1o um~ porta~ nüo devemos dizer; -- o; Quem C'stá}
entre ... '" porque pode entrar () demónio.

Cfr, Rtvisfa Lusitana, voL XIX, p:íg. 257.


t P;lrn:l(>.
:l Crr. Re}'isfa Lusihma, v: l. XHL p/q:..:, "+0.
E~n B('rn~tTdllll Rih'iro, O,'ITliS. 1,,'t',:..~,;! d diiJio de ,F,52), há referencia
às aves « que hU'm medos". Cf!'. Cil·;u!h,'" ,'<,1efClmorphoscs, pág:. 260:

<[ )"v',' lle,linnd,-t I que ;,nnlll1ci:'. os luctos,

Inérte ~Wcho elllim, d,; <i~':;U\lro iolOS homE'!1s.,."

F,diln,lo tks indi]!,U1élói de S,r,L!I!, !'snf've Fr. dos S,lntüs (Ethiopla


Odenta!, \'01. I, pi'q,?;. I 121: <l ••• Sl~ ~tlvnn
gnt<1f "!g-UIO.-l cowjet de noite jUllto
c!e Sll" dbll, ou lhe !';',S:,il ",ia!),]o r·or cinH d'd!,~ ou l-j()n~;(l 110 seu tei!I:Hio,
acodt"ln Irl!!;O com IIHút.l !,rc:.:,-;,t a t"'!Hr <iS t;r<>,l1H;a,'i IHJ!,; braço!';, e ,Jt'J'fois
d'i!o;tn ;:n,',~am rOl- tc',,]cI .) {':bd com u:n i1il.l1nél (Ill r,uno 1'1" má ... , SaC1H~l!;do o
ar TMl"<I lura de Ci-IS;I. C'1fi)O I!ut'"m ~t)xnrfl :l:OSC,jS, r0rqlle h~f'rn para ;i1 que (;
brado e voz ua coruj" (kixi\ll o dr ,fdq\H"Il.:. ~:.hd lI'Iiicciülli-ldo, de modu que
lhes m<it-it ii., c!'cnnç;.;s, (','(:1. ";f; f '~::;;"TlI l:rnIJ1UX,td,'iS"
CtT. Revista LusitaníJ, \,.,). XIX, pá~. 9S.
[. Cfr. Hti!isfa Lusitarzu, \CoI. XIX, P'{f(. (}V Aqui são os h,>iços do ln:!!·
dizfnte que rebent,~Jn.
52 REVISTA UJSITANA

lo--Não deve varrer~'e quando toca as Trindades: varre-se


o futuro 1.
II - A calCjjl:é diz com o canto se o ano deve ser bom ali
mau de milho. Se a série de canladel.., fôr grande, o pão será
muito caro. Cada cantadela" um cento pela rasa: -- Se dá qua-
tro de cada vez~ a rasa custara 400 rs.; se cinco~ 500 rs .. e assim
por deante.
IZ-OS sonhos preocupam grandemente o povo. Podem
aplicar-se a ele as palavras de Fr. João dos Santos: •... se so-
nham em cousas boa,',:;} andam Inui alegre.., e contentes, espe 4

rando que lhe .uceeela alguma cousa boa, ou lhe venha alguma
boa nova; e peJo contrario se sonham ruins sonho:.;~ andam
muito tristes e pensativos, cuidando no mal que lhes pode suc-
ceder .. ,:.':».

IV

nrulUIi'ia e feitiçaria

] - A FiaRe vdJu1-, que tinha fama de bruxaI ao morrer,


andava conl as m~~os; :'t volta da cama como quem e~tá a dobar,
e preguntava atlita:
--A quenl deixo? a quem deixo?
Respondiam os que a..;sí~tiam ;J. l':lOrte:
- Ao mar coalhado ... ao mar coalhado. , . '
2 - f: vlllg-ar a crença no aparecimento de fantasma:-;;. Co·
nheço um caso de loucura provocado pelo aparecimento de um
cão.
A vitimaI um Koldado~ tem sido exorcismada. mas a alma
estranha não sai por já vir do :m_ar coalhado.
V árias casos me teem referido de pess-oas, que) desejand\)
bater nas apariçües, apenas encontram deante do pau o vazio ...
ReferindcH;e às virtudes do S. Solinzão, me contou uma pô·
veira ter o irmão sofrido o choque de uma cabra (o dem{mio)
ao sair de casa durante a noite 4.
3 - Dá-se grande importiincia as pragas '.

I Cfr. Revista Lusitana~ vol. XIX,pág. 2S' 1


1 Ethiopia Oriental, vol. I, pag. Il2 (Sofala, h~_-·f,~ó(eM:;.e ii todos os natu.
rais da terra: momos, gentios e cristãos).
u: Cft. ReWsla Lusitana, vol. XXI pág. 5S~
;j, Cfr. Rnista Lusitana;o- vo1. Xl::t, pág* 225, e xx, pág. 65.
!) Vii!. Revista Lusitana. voJ. X"'l, pág". 4?
TRADiÇÕES POPULARES Df. SA~TO TIRSO 53
._-
Bluteau 1 refere ingénuarnente () ca~o da Condessa ~farga~
rida. sepultada perto da Haya. na Holanda, 'em hum Mo<teiTO
de ReliRjosas cistercienst's;) que no anno de 12:76 pario de hUIU
ventre treze-nto~ e sessenta e cinco filhos $ por castigo de Deus
e "effeito da praga de huma pobre mulher. que injuriada da
dita Condessa em materia de honestidade\ pedio li 1)eos. que a
dita Senhora) a flual então estava pejada, paris~f~ tanto-; tlIhos,
(luanto~ erão os dias do anno',.
4 - Os endemoninhados costumam ir às I\ecessidades :~ para
lhE"f' lerem os exorciRlnos.
Liarn~se1 há muitos anos .iá, na ig-reja de Areias:
Um dia apresentou~se uma mulherzinha que in:-;inUi'iVEl. ter
dentro em ~i a alma dum tio. O meu avt) matemo não acredi-
tava: ApTe!o>entandn~se a ela na ocasião do ataque! preguntou:
~- Se (~::-; F" r('pett~ n qlk me pedi:::te à hora da morte ...
A endemuninhada nwteo 0:-" p/'~ peb-..;:: mJos t~ na.o respondeu.
Há a crenl;a dr' que os endem(Jninhado~~ lahml \"~lria;-; lín-
guas: que te em I1m'·l F)rç'.:I. .'-,d\renatnral: que, !<ervindo-se de
uma palha df': mill:o..", são capazes de delTul"n· cum eh'!. urn ho~
mem. etc.
,f: curioso estahelecer o parak·lo entrE' essas crenças e as
dos negros da costa ocidenta.l de Africa:
"Depois que () n.~i (o <.!.uite\.'(', de Sufala) tem
"festejado !Jito dias. enttt·j se púe ern ft'içào de
"chorar os defuntos, que ali! est'tO eHterrado~l no
"qual pranto juntamente quantn..; ali. esL1.tJ conti-
;(nuam dois dias ou tre~. ab~ que se mete I.) diabo
~em um cafre d'aq~le11e ajuntamento. dizendo que
itt~ a alma do rei cJr;·fnnto, pae do rel vivo que': ali
«e~t;'l fazj~ndo aq'.J.f'llas exeql,1ias, e que vem fallar
«a seu 1·11110, O cafre endemoninhado lica logo tal
«corno quem telTI o diabo no corpo~ estirado no
i·chão, feio, mal assombrado, e fóra de seu juiz()~
«(e (i'esta m,aneira falia o diabo pela sua hoca toda:.:
~as linguas estrangeiras d'outras nações de cafres,
«que muitos dos que estão presente:.> entendem .
."E alem d'isso começa logo de escarrar ("' faUar
~como fanava o rei llefunto que f('presenta .... Sa~
fi bido isto pelo rei ... l vem hgo acompanhado de

l Prosa Symbolica cit, pág. 8o.


Ban:""elos:.
54 REVISTA LUSITANA

<todos os grandes ao logar onde está o endemo-


,ninhado, e postram-se todos diante d'elIe ... , e
clogo se apartam ... , e fica o rei só Com o ende·
'moninhado, fallando amigavelmente como quem
,falIa com seu pae, que é defunto, e ali lhe per-
'gunta Se ha de ter guerras, e se vencerá n'ellas
(seus inimigos se haverá fomes ... \ e o diabo lhe
1

<responde .. '. e lhe aconselha o que ha de fazer


t: mintindo·lhe ordinariamente, no mais do que lhe

«diz, como falso e inimigo que e do genero hu-


c:rnano, e nem isto basta para estes cegos deiXe:·
<tfem de lhe dar credito ... Depois d~esta pratica)
'sae-se o diabo d'aquelle corvo deixando o negro
«endemoninhado muito cansado, moido l e sempre
f,:mal assombrado ... 1;

v
Vãrias superstições

] -- As ervilhas devem semear-se de noite, mas em ocasião


que não haja lua. De contrário a coruja vai comê-las 2,
2 Oração para quando se deita uma galinha a chocar
ovos:
Em Iam'or de S. Rolad-ay 3.,
Que nasçêlm tudo pitinhas,
E um Só galador.
(5. Simão~de-Kovais).

3 - Para que o pào levede hem , de\'em dizer-se estas pa-


lavras;

o Senhor te acrescente Assim como DeUS


~a lnasseira e no forno Acrescelltou o mm:do todo.
E fora do forno

Cfr. as fórmulas:
a) S. Vicente te acrescente,
S. João te faça bom;

1 E!hiopia Oriental, \'01. I, pãg. 65· eh. o me:':LllO vol., pág. 254: Des.-
coberta de furtos por ludo das endemolllnhadas. ~
~ Vid. Revista Lusitana} \'01. X"Il, pág. 53·
;) Cfr. Revista 1.usitana, \'01. xx, }l:ig. 7.
TRADIÇÕES POPULARES DI! SANTO TIRSO S5
Nós a comer e tu a crescer,
Tudo Deus pode fazer ..•
Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo, Amêm I.

b) Deus te acrescente
No fomo e fora do fomo
A...ssim com.o Deus
.Andou pelo mundo todo.

4 - Quem é trémulo das màos é porque pegou num carriço.


Num exercício de um aluno do Pôrto, colhi as seguintes
infonnaçües:
a) Quando dizemos ao pavão que tem as penas feias, éle
desarma-se logo.
b) O melro macho distingue-se da fêmea. porque, agarran-
do-se aquele pela cabeçu 1 põe as patas no bico e a fêmea não.
c) Algumas pessoas dizem que o morcego se agarra aos
cabelos das mulheres. e que vai beber o leite no úbere dos
animais 2,
S - Encolhe a carne de porco) matando-se êste pela lua
nova ou quarto minguante 3, Ao cozer-se o sangue do porco,
deve chamar-se por 2ste, como se esth:esse vivo t para que o
sangue fique bem folhado (não compacto). (Informação do meu
sobrinho Fernando A. Pires de Lima).
,,- ü diabo aparece às vezes sob a forma de uma porca de
sete bácoros e uma ninhada de pitas '.
7 - Registei já o perigo de se comerem amoras depois d,)
dia de S. Bartolomeu, porque o diabo urina nelas c,.
E\ para que as couves não ganheln piolho, não devemos ir
colhê~las no domingo de J-(amos ('.
Conta Amato Lusitano o prejuízo das mulheres da Penín-
sula) que,. depois da chegada do cuco, não mais servem rabaças l

porque as julgam afectadas pela ave '.


S - A marmelada deve fazer-se no quarto crescente: Sendo
assim, as tigelas ficam cheínhas; no quarto minguante) as tigelas
1n111gam.

1 Informação do Ex. mo Snr. Doutor :l\Iaximiano Lemos. efr. Revista


Lusitana, vols.XVI1! pág. 52j xx, r.ág. 72, e Ensaios Ethnogr., voL lU, pág. 161.
'j efr. Revista Lusitana, vo. X\"TI, pág. 31. '
3 Cfr. Revista Lusitana~ vols. XIX l pág. 97, e xx, pâg~ 68.
, Cfr. Trad. Papo do Porl., pág. 'í+
Revista Lusitana, vol. xx, pág. 9.
II Revista Lusitana, vol. xx, pág. 7.
Dr. Ricardo Jorge, Archivos da Hist. da Medic., 1916, pág. lí4.
REVI!IT A LUSIT ANA

"J

Provérbios e ditos populares

-I - Minlwlães,

39 fregue,e,
e quaren ta ladrões 1
_ 2 - No mêR de Janeiro
Cada pinga um centieÍro ...
~~ 3-Março, Marção,
De manhã cara de cão.
À tarde cara de 110m e honrado,
À noite molha a raposa o rabo 2 (Montalegre),
4 -" Porco que naSCe em Abri}
Vai ao chambaril.
:5 - Cbovendo no dia da Ascenção ;\
Até as pedrinhas dão pão.
6-,1ulho claro como fí!ho de g;alo (Múnlalcf.>Te).
7 - '~empo C)U~ tempera de noite
E como o amor (ou mulher) que é d'oitre 4,
"-=,,-~- H - Lua com circo,
Agua no bico.
_~",,'_,"" q -, Menina faz por ser boa,
Que a tua fama ao longe toa (Moimema-da-8eira),
_ 10-· Quem o ral,o tem de beijar
Nãf) tem mais que lhe esperar.
-- 1 1 - Em casa cheia,
Depressa se arranja a ceia;
Em casa ,"'azia.
:Mai~ depressa se avia ...
.."J2-Homem sem barba todo o mundo é seu "
-13-0 descanso tambê.lX!. é mantença.
14- Vale mai" cair em graça do que ser engraçado,

l Minbot:ies pertence ao concelho de Barcelos. Gir. .Revista Lusitana,


-..rols. XIX, pai!_ l02 e IV ,artigü de T. Pires). -
• err. Revista Lusitana,vo!. XIX,
pâg, 111.
3 A 29 de Maio.
~ Isto é: quando o tempo melhora só para a tardinha, as melhoras não
duram mnito._.
fi efr. Quem não tem vergonha todo o mundo é seu. Ota~~bas
são o apanágio da vergonha, da honestidade ... Cfr. a Revista Lusitana, vol.
XIX, pág. ó6.
TRAD!ÇÕES POFULAR1:S DE SANTO TlllSO 57

J5 - Aos seis assenta,


Aos sete i1tdtmfa,
Ao ano andante,
Aos dois falante 1
__ 16 ~-- Pai g"alego,
Filho nobre,
l'\eto pobre '.
~_'" 17 -- Não t~ rias do vizinho,
Que o teu mal vem pelo caminho li (P/)voa"de~Varzim~.
_ _o rR - A acha sai ú racha,
~1aria ~'t sua tia 4,
~"'_ ln Que1n qui:'>€r um cao de caça
i-: procurar-lhe a raça.
20 -- Quem tem dinheiro lU1"1a,
Quem o não tem ,,,'cuita .
•- 2 r -' Contos não enchern barriga, nem adubam sopas.
22-Tropeçar não é cair. mas t~ melo caminho andado.
23 -- 1'\ unca Deus criou uma panela

-
Que não cria~se logo o tês.to p}ra da !;,
24 - Ande eu quente
E riaMse a gente.
25 - Não peças a quem pe-diu,
Nem sirvas a queln serviu.
4_ 2Ó-- Não dar por burro, nem por alharda 6.
27-Estar às portas da morte, estar entre a vida e a morte.
_ 28- Vai pela somhra ... '.
-29- Pegar de e:staca ".
30--Dar uma büca, uma boquinha íl•
.. ]1 --".". Santo Ant(mio ... e a varinha aos bois ,1'

1 Diz..se das crianç.<ts para indicar o desenvolvimento.


-: CfT. Dinheiro de padre e de brasileiro
Não chega a terceiro.
S Cir. o pro,\'érbío francês: Rira bien qui rira ie dernier.
Há in~os provérbios com o mesmo sentido: Tal pai, tal filho; tal
amo, tal criado) etc., etc .• et..:.
5 Cfr. Revista Lusitana, vai. XVIl, pág. 28t!.
f, Estar iru;enshieI.
7 Revela o prazer que sente quem se vê livre de algum importuno.
" Ser muito maç.ador.
8
Um "beijo. O Novo Dicion. re~ista apenas boquinha c como Bras.
!3
Or(,t a palavra é vulgar na aldeia, dirigmdo~se o pedido às erianças:-Dá cti
uma boquinha!
tO Cfr. Fia.te na Virgem e não çorras e verás o pontapé qne levas ... -
S.w António é,' como se sabeI o advogado dos animals.-São vulg;arcs 115
frases: S.w António guarde o gado que n(Jo se bofe ao mar ... S.f<) A.niónio
lhe guarde os selJS bichinhos e quem os tiver! ...
58 RI!VISTA LUSITANA

-- 32 - Vai haver sennão e missa cantada 1.


33 - F. e F. acusam quarenta (~São lé com Zé, cré com cre).
.~ 34-Em minha casa somos cinco e gastamos tambêm uma
rasa de pão só =É dizer que o meu home come pouco ...
35 - É uma suposição ...
36- Fazer das tripas coração.
·37 - Ficar-se em trinta ... (Ficar a ver navios. _. l.
58-Estavas bom para ir huscar a morte 2
••0 39-Cair pela pereira abaixo ".
·40- Você é o mestre da poda '1
,AI-Fazer alguêm de fel e vinagre ... )) •
42 - Ser useiro e vezeiro ... 1\,
43 - J~usso de mau pêlo ... '.
44 - Prometer mundos e fundos ... '
4s-Andar de candeias às: avessas ... H
46·- Deitar pérülas a porcos ... !O
4i - Pintar O diabo a quatro ... lI,
48 - Falo eu, ou chia um carro 12!
~)'I'R'0\""~."tA~Y"-n'M'l#*"'.)ti~"'"~~'11étm~'ft~ domingo ...

- Ainda que chova ...


$Cl- T6!rte ct'11r d~l!'t'1!1!tas 13!
" 5I - Sabe-me a bõca a chapéu \'elho ... 14
! 52- Meter a fome em casa ... 10.
53- Muita festa p'rá festa ... HI.
54 - Escrever direito por linhas tortas ...
55-Importo-me tanto disso como do meu avô torto (OU de
minha avó torta)!
56- Visto i.."80 e os autos, ..

1 Vai ha,:er g-rande descompostura.


2 Di7.~se a um VRgaroso.
3 Deixélr-se lograr.
~Z.mg<lm·st' os podadores, quando lhes fazem o elogio, porque ... o
primeiro podador foi um burro.
fi Arreliá-lo.
fi Vid. CamiUo. Duas horas de leitura. pág. 134 (edição de 1858).
'7 Frase insultuosa. Cfr. Revista Lusitana, vol. XIX, pág. 41.
~ Vicio eamiHo, Corja, pág, 23 tedição de 11)03).
1l Andar de relações cortadas.
1° Vid. Camilto, Corja, pág. 37, e Revista Lusitana, \'01. XXI, pág. J.6.
II Vid. Camillo, Corja, pág. 3~.
J2 Repreensão dada às crianças que fazem barulho1 quando os mais
velhos estão a falar.
13 :Frase irónica.
H Quando há mau gDsto na bôca pela manhã.
t:J Causar embaraços.
pi Tratando bem uma pessoal mas acautelando-se ...
TRADIçõES POPULARES DE SANTO TIRSO 59
----
c.c.~57-Quem lã vai, lã vai ...
58-Meter o nariz onde não é chamado 1.
59- V. é de Braga 2/
60- Valha-me Nossa Senhora da Agrela "
Que não há outra corno ela ...
61 - Decorava~se antigamente na escola:
-O moio tem IS fangas; a fanga 4 al'jueires; o alqueire
4 quartos; o' quarto 4 maquias ... '.
62 - Kão ter eira, nem beira, nem ramo de figueira . ~.
63 -Misturar alhos com baga lhos. ,. '.
64-Já cá canta ü!
65 - Pagar com língua de palmo ... 7.
66 - Fazê-los e baptizá-los ...
67 - Fazer a festa e deitar os foguetes B.
68 - Engasg-andoNse aJguêm ao beber, d.iz para o vizinho:
- Choraste-mo! ...
E alguns antecipam-se a observar:-Nào to chorei, ..
- AO-:-i bêbedos dizem: - Ó vinho, deixa o hom.e,l.
69 - Vi-me e desejei-me', "
7o-Benza~te Deus) não te lamba o gato ...
7I-Chuva de grelos, chuva de molha-tolos ".
.-H 72 - Quem andou não tem para andar ~ depois de sol p(}sto,

é noite.
73- Tirar os barbos, tirar o fastio {«isto he que fazia tirar
os barbos aos filhos dos lavradores".') lO,
'--""74- Yai haver sermào e missa cantada! ...
75- P ariu a galega! (Diz-se quando se vêem muitas crian·
ças juntas),

Ser infromcildo.
Deixou a porta aberta!
:i Acompanhando nm gesto de impaciência.
Alguns velhos ainda recitam de cor a lenga-lenga.
5- Confundir tudo.
f, Consegui o que desejava.
Sem apelação nem ag-raVI), sem protesto. "
k Rir do próprio gracejo.
\) Mou/ar. Cfl". Rabular na Revista Lusitana, '\'01. XIX, pág. 189.
JI) Manuscrito das fi Dec1araçoenes ... » de um soldado mlguehsta {José
Bento Femandes).
1<f\IJSTA LUSITANA

VlI

Comparações e metãforlls

~'t"'''''~''h\'ói,*,~~,,0(''i1i%y<0VtJ'~H''f'i;t\1Ib\Ntl!Ie: 8. G 'Gins c n .....llielte4 :esmO' carvão, como um


tição, como iii prégua 11 como um prego Z, como breu.
0<i0%\1'M,,j~'4""*"AfJ+",,,W0,\,;t~_· !fltw"fah~ \!fJfftO ,t@jtit,i&1!Oih<9 .. itIAC; UAiKl .m" cal~ como
jaspe, ilOmo foierca folheca) .
.3 - Vermelho como um pimento) como um tomate, como
umii cereja, como uma romã.
4 --- Amarelo como um defunto. como a cera,
- ::; --- y"(":0;0 corno- um pau. como um Vlrote.
.
()- Direitn como um fuso, como uma e::;;tátua .
..... 7 _. __. Torto como rnn arrocho :l.
B - Alto ou grande (,(l!l'iO um pinheiro) como um eucnliptb,
como limas casas, CO!TlO uma tôrre.
()-_.- Tamanho como n chão 4,
10 -- G·:'rdo ('Cl1nu um texng{_~, como um jm~ho ~, como um
r e-J ,H como 111"n batoque; parece um tramholho; P um j\otc da
,!;J'{v':a I,: inchado como um cepo; cheio como um odre) como
um ti\'O 'I.
I T ~.
fi.lagro C(J1TW um cão. como um pa'!!Iiin ~. como um
1;!ãlo à~ sardanú,'ras: ~2:co como as palhas; está mesmo um res~
picio !l; pan:~ce Ulll eS.f.Jicho; f., uma semelhança lU; é m€RmO um
pau dt' \"irar trip,1:-: u; parece ou e;:;tá que neTn um r'aH,!;YaçO l2
12 - Le\'e CO:ll() uma pêna.
13 Pesad() corno chumbo,

IS - São conio um p(;ro; valente como


.y,.rl"''''''''' ;1,":; arm.i,~" ter ft")rça
como 'Um hurro.

Pedr.l.ou.l0ns:t sC"Jhrc () L'ir. ~)e '\\(:rgula~ Yid.l.usc l .:"\nu.1, peig. 154"


Ebmol.ogla I)('llu!a. por pregua. 'Id. LUMJ Clt. , ,\,
;:1 Aplica-se mais ao T1wraJ. '
t Ironia dirigida a pessoa:~ tu'x""c:,
r. !\ão tenho oU'ôrido emprega! ,', ;,,':,,'"" i,:;Qi:;'>'··:W;1tC. Cir. Como um
o:po .•.
G Designêl, como nQme pr6prio ,1té, indivíduos baixos e àWracados.
Farto.
~ Palito.
'!I Criança magra~ raquftica. Cfr. resquício,
10 Criança bem form"da, mas enfezada.
11 efr. CamH1o, Brazildra dI! Prazin.s r p:~g. 38 (ewção de 1883).
l2 Esqueleto.
J2 Diz-se- das mulheres que teern os peitos pouco desenvoh.'idos.
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 6 ..

_ 16 - Fresco como uma alface.


"~~""',*';"fJ,7'4::::;,,~,~t,,*~,J,un.,,A&rtt'aS+f)f 'lln a eatarÜatmlEr:
"."...... ,. ". : ..JJ;·.:;.J..i!i.<i.~,9&.~.~~.cravo, como um Jas-
mim, como uma rosa ...
19- Feio ~ o diabo, como um bode ...
~ ___'" 20 - Fino cri~o um rato, como uma raposa, como UHl coral;
esperto como um a,lho; aquilo é um azougue; bebe azeite.
2 ~-.:;:!~I)!!() ..c:;gl!ill•• !lm.,iI.Wm!!l.~,.l.l!ll.. \ii WI<tÍ~P" como uma
couçoeira) como uma porta.
-- 22 -- Alegre como um pintas8ilgü; ficou como um cuco; e,,~
tar cumo o peixe na 'igua.
- - 23 - Triste COlno a noite: tem cara de quem nào matou porco,
24 _.- Rico como um porco; por djnheiro e como O diabo por
alma~.
25 '"".- p()l.Jrt~ COlHO Jolj,
- 26 -- I\lais manh,)so que Ul'B jumento ~ tem mais manha do
qut' f\)rça; teimo."u cumo um jumento, como um burro.
,,_27--~~ U111 sant~llh(1 de pau carunchento: sêriocomu ü burro
por entre as COUV·l.~:.:; ruim como'··~hs. cobras (efr. assobiar como
uma cobra j, ('omo () dial)(j ~ tam bom e o diabo como a màe ~
escamado corno uma barata furioso como uma bicha.
'f

~_2R - l~ como o pohre da má resposta 1; pareceU1 sete pobres


num palheiro ~; andar sempre como o cão e o gato :'i; p0·\1)
mais ra:;o que (J chàu que ú pó da rua 4.
1

zé) -- J'.:ste llOmerntem cara de poucosânllgos' ":falso coiilO


Judas .
.. e",.,Jo-s.er conlO a galinha farta de erva (j~ parece um cavalo
de cem ll)oedas
~I - Ter um coração de púmua; é mesmo uma pornhinha
sem fel: aquilo ,:, trigo sem joio.
_ .... ~)2 - Dar~se como Deus com os anjos i não pode andar ()
flaco sem o atilho f<; são como a unha e a carne; aos pares Corno
os frades ~j: conhecer alguôm corno as suas màos.

1 ');,to i'; resmunga sempre) protesta eontra ftlCIo e cor;lra t,.dos.


2 ,Fazem muita al~azarra; andam em altercaçôes.
<I Andar sempre t;.()m tes.tilhas.
lnsulJjá..lo, descompô.lo.
eir. -IScmblante de poucas pazes. Nicolau 'Çolentino, Obras1 pã!;. 1}1
(ediçllo de I !\6~I.
!) Ser soberho, orgulhoso.
1 É pessoa amiga de ostentações.
~ Andam sempre juntos..
\! .Vid. Decreto de.3 de Agôsto de lóçl: Mandav:a~"prenJer os frades
que Íôs~.cm achados sem companheiro.
REVISTA LUSITANA

33 - Berracomo'qtÍent'ó"~mâta;'ê'~umã'gâítã;'berrar como
,t,!ma 91bt:ij".,.. "'~"'''''''.
. , 34- f-ste rapaz é umscNlvellw '.
35 - É para ali um mosqnÍnhá ;;;~rta 2.
36 - Atirar-se a alguêm como S. Tiago 'os Moiros; pô-lo
num frangalho 8; deitar·se a éle como gato a bofes; malhar
como em centeio verde; precisa de pau como pão para a bõca;
puseram-no como um Cristo; parece um Santo-Cristo.
37-Ficar como um bôlo como um sapo, como um Lázaro;
1

_ dar um estoiro como uma castanha.


38 - Ter sete fôlegos como os gatos assanhados; aquilo é
o diabo em figura de homem.
~'-!!~-- f!."'oto.
40 - Espernear como um cabrito.
41-Andar d~ rast~s como ~ma cobra.
42 - Trepar que nemmn~to.
-.....+" - Correr como uma lebre .

.~~-'-"-'~"~;~;~:ê~~~?u~ii;~a~~~ como um peão, como um


prego.
46 - Passar como gato por cima de brasas, como cão por
vinha vindimada.
47 Cantar como um rouxinol.
48- Chorar como urna vide; aquela é uma Maria Chora-
deira .
...... 4l)" t\adar como um preg9' ...
50- Fugir dele como do diabo, como o da cruz.
5 I - Tremer como urll ranlo, tomo 't'àfas verdes 4.
52 - Entrar como Pilatos no Credo.
53 -,,- Passar ou morrer como um pa:-:sarinho; cair como
tordos,
54 - Firme ccmo uma rocha.
~~', "'
55 --1-:, como o yento ... [l.

56 - Tam certo como eu estar aqui.


57 - Mente como um cão, como uma cesta róta, como quan~
tos dentes tem na bôca. 'O"""~_,,,,~-"--"
58 ·-Claro ciJ'ttn:l"" Sol; alumia como o Sol.

1 TLH'CS!';(),traquina.
2 DI:.;"i!1lll1.H.lo~
fin/;!'Ido.
g Rt'fen:-:;e ó:t coi,;as c a animaiS,
4. C()mo a verga. Antonio Ferrei: a, Bristo, pAg, 39 (edição de 177I)~
!) lncOllsLUlte.
TRADlçôES POPULARES DE SANTO TIRSO
'o,,,,,, ,"'''''''~

59 - Comer cwn;(í:_"frielra, como um lôbo, até lhe che-


gar com o dedo, como um danado, como um alarve.
6o-Bêbado como um carro, como um cacho, como um
~il'
odre, como uma cal, como uma cales, como uma esponja; aquele
por vinho II (lODlO~ por almas; o vinho está conto pólvora.
61-Ê como O morcego ... '.
62 - Doce como mel; sabe que nem canela, que nem leitão,
que rabeia.
63 - Cair como a sopa no mel.
64-SaIg!a<Ia_o pilha "; azêdo Como rabo de gato;
amargo como fel, como trovIsco; verde como ervas.
65 - Mo1e como papas; podré como um cabaço .
...... 66-Duro como ossos, como ferro, como um corno .
.,,""'" 67-_PegarA~t\mQ_-,,_go,

.-68 - Quente como um rijiio. , ComO lume, como um borra..


lho; quente que péla; fazer um calor de rachar.
6<) - Frio- como gêlo 1 come-, a neve, como ferro.
'" 7o-l\-lulhado como um pinto, como um frango como uma J

sopa, até aos ossos; vem como um gualdrapo iI,


71 - Tera~_·tlm chtitrrlço ' .
..,_72 - Estar como o carrapato na latJta r).
73 -Assenta·~<>_·_""'a.
74 - Parece um andor, um prumito ti; é um paninho de armar.
75-PaTece 'um entrudo 'I; parece um boneco de fogo, unl
boneco de engonços; é- um canhoto (pessoa desageitada).
16- Aquela ea",a ~l"UTn ~'t):;TI1e;r..; isto estú um chiqueiro;
pôr a casa numa felga {<:.
77 ~ ImportarMse tanto disso como da primeira camisa que
vestiu, como do dia deonlem que já palisou, como de nada.
'~78- Vai com êles na r;:~ão como o\'OS",~lp PCl:H;lríl ü.
79- É fogo \iÍsfe 1 linguiça ... 10; é como o lume de bruxas.
80 - Ser como as cerejas ".

1 Isto~: g-osta de <izeik. t conht'ci(la a crença de que os morcegos e


as corujas vào Lt;ütr o ,1Zelk d,ss iÚlHp'H.la.::;..
1 J)!z~se du b:IC.-l.ih;-m, S(j,dlDh,t~. etc.
3 EllRaldrapüdo, mnlhMlo e sujo,
Enchounçada, ,enro(JIJh<H:a.
,;; Em vez de M
l:\ VEstem-se todos como pa.'mitos. Arti" de Furtar~ cap. XXUJ, p;íg. 162.
'; Uma ti~ura de ellttCl'lleZ carnava!!;'"!;co.
,. Nml1a d,,:sordern.
, D;z se de uma Ci)i~a que se leva com muito geito.
~"""" ..lO. Dlz~se qlld!1 10 s,~ c()mprel uma cOisa que de,;;-Jparece imHHatamenre.
Clr. ~As mar;-)telfas são como os trefllo\~;~~; que-n1 (;omc um come
um cento. CamiHo) A Cm:eira da Martyr, pág. ZS4 p,u eJlção).
REViSTA LUSITANA

, _ 1$1 - Aquilo to um céu aberto .. , com as portas fechadas.


Velho como a Sé de Braga; tO do tempo dos Ajonsi-
" ... Xl --
1'I.lws~ do arroz de 15.
K3-Caro comü fogo.
___ :S4 - Trabalhar como mil negro. como lun mouro; meter-se
como piolho por costura~ êle sempre me saiu um fura 1.
'fiS-fi,~ parece uma lesma: é um monte de eg-
têrco, uma pata choca ?; não vale uma pontã de eigarro) um
cigarro depois de Tum ado, um chavo galeg:o; l\ um aranha (t;'J~1
pouca agilidade).
R6~Ep!Irlt""lf"""",'_àêupalh". um arrcJcito '; tratar
algnê-m COlHO um ciu.
87··- f: COlHO o ferreiru da ma1dição: Quando tem ferro, fai*
ta-lhe carvào.
""." :iB --- Casa unde o patrão não \'igia o pessoal l~ como o harcr;
~em remo~.

_ SI) -,--- Entender tanto disso como de lagares de azeite.


"'_ \JO-- Tantos como mosquito.B, como a praga; aquilo era uma
nuvem.
", ''''·t",""'# "jG,~-,;. ;;:;,:-->~,.$~"j_lIIi tia t .iII
tnp:ingard.a.
02- 'Verter como uma cesta.
"~"-"ll:"'fl!'ef~~a ,I

!J4-A'luilo era uma coma O,!


95 -·tcSm!'>'ll'I\fmif!~~;
Quanl<> vê. ,!uanl<> cubiça.

VIl!

Fórmulas rimadas e entretimentos infantis

1- Vintt' e vmte? 3 - Quantos an08 tem?


- Quarenta. -- Metade com outros tantos.
- Br.:ija f' \' . •\ nossa jimenta,
Qn",' ,'. tua pan:nta. 4- Chicote atrás, que lá vai rapaz ....

.l - Doutor da mula russa, :3 - Que se há-de fazer?


Tira () chap.;!u e pfk a carapuça ... - '.llijar nas mãos e pô-las a lscorrer.

Fara-ridas. ~idci{;_
Pessoa mole! oheso;, ~';:n, ,wtivjdadc.
!l Pe:s,soa desprezada.
Está cheia de b-{kas~
.., Referia~SÇ: assim um lavrador a uma uvcira bem armada, coberta de
vide e cheia de cachos,
TRADiÇÕES POPULARES D~ SANTO TIRSO

6 - Francisco, q - Ó Lucas, vais.ao eerIo?


Varre a casa - Eu vou. E tu?
E dei!r:a o clseo. -Uh ... '

7 -Joaquim! 10 - Rapado, quem te rapou


Come peras de a:morim Que nem orelhas te deiEo:?

Mas RS melhores são p1ra mim. I I - Minha mãe tem, tem,


Tripinhas a cozer,
g Sarame1a pinta, E, ó do tripó-pó,
De rabo alçadó". , Que me hei-de encht~r .

•~""""'~ que O' assinalou


I;~ porque algum êtro lhe achou

13 - Muito bem se canta na Sé,


..", Mas é quem é ...

14 - Que horas silo?


- Falia dé-réis p'r" meio tostão~
- Bota ca o pataco, que os dé-réis já cá Istão.

15 - Vamos à deita, 19 - Não tem vista,


Que tst,! o sono à 'spreita ... Nem crista,
Nem cOisa que lhe assista.
16 -- Dente fora,
Outro mais bonito p'rá cova 3. 20 - Zé Carramé,
Leva os porcos à maré,
17 - Preto, mulato, Enfiados numa linha}
Cabeç,a de gato.". pIra tocar a campainha.

18 - E depois? 21 - Azanga, azanga1


-- Vacas não são bois, Da porta da franga
IIas teem cornos como Nes.

22 - Eu te cnguiç,o,
Da porta do Carriço,
Pra que não çresças
Mais do que isso 5.

23 - Tens frio?
- Mete~te no rio
E cobre-te com a capa do teu tio!

1 Linguagem dos sapos. Cfr. Revista Lusitana, vo1.. IXl, pág. 223.
, Diz-se de uma pessoa que tem um defeito fisico. Variante: ... algum
defeito lhe encontrou.
li ctr. Revista Lusitana, vot xx, pág. 74.
.. Para perturbar alguêm no jôgo.
õ Fórmula eXei:rat6ria dita ao passar uma criança por cima doutra que
está agachada no chão.

RmSTA LUSITANA

24 - Tens fome? Z7 - Cameirlnho amuou, 1


Come um honre. Foi ao monte e não tomou.
Deixou os feijies ao lume,
Quando veio, não os achou.
2S - Bí a b~ fugiu a burra;
Bi e be, manca dum pé; z8 - Arre, lmninho,
Bi i bi, eu bem na vi; Pra S. Martinho ... '.
Bi o bÓ t é tua avó,
Bi u bu, beíj a·lhe o ... 29 - F emandiubÔ foi ao vinho,
Quebrou o copo p'lo caminhoi
Ai do copo, ai do vinho,
26 - Um, dois três,
j Ai do c. do Femandinho!
Já lá vem o In~lê:s,
Pela barra de Viana, 30- Rei,
C'uma gata castelhana, Capitão,
Schriu, biu, biu, Soldado,
Aqui faz os vinte e três. Ladrão ~.

31 - Quando as estrêlas (brinquedo) ficam encastalhadas


numa árvore ou numa casa, para as desenredarem, os rapazes
atiram-lhes uma pedra atada a um fio, e dizem:

Réu, réu, - Qui-que-ri*qui!


Vai p1ró ceu} De cordovão,
Buscar o meu chapéu; - Qui·que-ri-quil
Se fór novo, trá-lo cá, Casou Joào.
Se fór velho, deixa~o lá. (Pôrto).
33 - l)elo sinal,
32 - Qlli-que~r1-qui! Bico rial;
Carotl Maria. Comi toucinho~
- Qu1.que-ri~qui! Fêz-me malj
Com quem seria? Se mais me dessem,
- Qui-que.ri·qui1 Mais comia;
Curo sapateiro. Adeus, compadre,
- Qui·que-ri-quil Ate outro dia' t
Que lhe daria?
- Qui·que--ri.qui! 34 - Ana, Magan~
Umas chinelas. Rabeca, Susana;
- Qui...que-ri-qui! Lázaro l Ramos,
De que seriam? Na Páscoa estamos 1J..

Para arreliar os rapazes que amuam.


~Esta fórmula vai-se dizendo enquanto se fazem dançar as crian9as
lóbre o joelho.
s. Vão-se seguindo os botões com os dedos.
• Cir. Trad. Pop. de Porl., pág. '53.
!o Variante:
....... '...
Pariu um menino
Debaixo da cama.
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO

35 - Colher de pau, Pão do Viga/ro


Colher de ferro, Com a brogaslinha;
Quem. mentir Tu vais a correr,
Vai p'ro inferno. Eu vou a saltaTi
Deixa estar, meu maroto,
Colher de pau, Que as hás-de pagar!
Colher de areia;
Quem mentir
Vai p'rá cadeia. 37 -~ Mão tela:
Mão morta,
36 - Salvé) Rainha, Mão morta!
Mãe da Bainha; Vai dar àquela porta ...

38 - Um rapaz toma as orelhas de outro como que a puxar-


-lhas e pregunta-lhe:
- Foste ao nabal alheio?
-Fui.
- Viste lá o clono?
- Vi.
- Então} agacha, agacha) agacha ...
E puxa-lhe pelas orelbas para baixo.
-- Foste ao nabal alheio?
-Fui.
- Viste lá o clono?
-Nào.
- Então, arrincu, aJ'riHca) arriuca ...
Puxa-lhe então as orelhas para cima.

IX

Costumes

I - Ainda esw na memúria das pessoas mais idosas ocos·


tume de botar a 'vara.
O regedor de __ . foi a casa de F., que estava grávida e era
acusada de querer provocar um aLôrto; botou,·lJte a vara para
ela apresentar no fim do tempo o filho vivo ou morto_
Um regedor de Landím \ por malicia, encarregou de tal ce-
remónia junto duma mulherzinha o cabo que era precisamente
o pai da criança: O caso deu origem a grande chacota.
As raízes de tal sistema encontram-se nas Ordenaçiies Fili-
pinas no livro primeiro, título LXXIII (Dos QUlldrilheiros):

1 Concelho de Famalicão.
68 IIEVISTA LUSITANA

< ... 4. E saberão se em suas quadrilhas !la


,casas de alcouces ou de tabolagens, ou em que se
<I'ecolhão furtos, Barregados casados, AlCoviteiras,
t:Feiticeiras, para que visitarão as estalagens, e ven·
,das de suas quadrilhas, ou mulheres ii estejão in-
'i.famadas de faze,"cnt mover outras~ ou sr: andando
,alguma preuhc se suspeite ",ai do parto, ,,,io dando
,..delle conta- 1,
Para punir o crime de exposição de infantes, necp..ssário era
invocar essa disposição, aliada ~l rio liv. 5.°) tit. 35. 0 sôbre homi~
cid.io comum, fazendo ta) silêncio um contraste com a lei roma~
na) ri.gorosa nessa matéria.
Os nossos: antepassadus mostravam-se benévolos) quando a
mãe) não por malignidade de coração) mas com o fim de enco-
brir a natura] fragilidade, matava de propósito o seu próprio
filho 2.
E a benevolência aumenta no~ casos seguintes:
•Não será porém castigada pelo justiça, ex-
tpondo-o na.';; rua~ públicas ou á porta elos visi-
n1hos, no caso de alguem o receber e tomar á sua
",conta; e muito menos expondo-o nos hospitaes e
(- casas destinadas para a criação dos enjeitados;
(nem pela morte lnesperadit, acontecida contra sua
,intenção por occasião do parto occulto, solitarjo e
~;clandestino, a que se vio obrlgada para salvar a
dama),
Essa doutrina, sustentada por Paschoal com argumento3
n1uito para ponderar. influenciou ainda o Codigo Penal de 1852
e o de 1886 (art."' 345 e segs).
A sociedade actual t muito mais severa :'l contra os crimes
repugnantes de ,,),ôrto provocado, filicidio e exposição de in-
fantes.
Mas eu desejaria preguntar aos mais puritanos: Onde se en-
contram as medidas práticas e rápidas contra os que violentam
e s"duzem as mulheres, e que cantam em seguida as suas vitó·
rias, enquanto a.s miseráveis se arrastam, esfomeadas, sob as
violências dos pais e os escámeos dos vizinhos, até que dão à
luz sêres condenados ao abandôno, à doença e à morte? Os se-

1 SirvQ-me da ediçJo de !747.


I Codigo Criminal, intentado pela D Maria I. .. por Paschoal José de
)lella Freire, tit. XXX'I, § 30. (Terceira edição).
3 Escrevíamos isto em 1919_
TRAOlçOes POPULARES OE SANTO TIRSO

dutores teem hoie tõdas as facilidades da lei e dos tribunais, o


que não sucedia no regímen antigo, pelo menos quanto ii lei
(Orden .• quinto livro, tit. XViii).
Condenar e simples; o pior é descobrir o remédio" apli-
cà~lo. f: o grande problema da Ressurreiriio de Tolstoi.
Não digo isto para defender as exposiçües antig-as, mas ape~
nas com o fim de exprimir a idea de que os nossos a"ús, crueis
por certo) eram mais francos,
E) postas estas ideas 1 passo a transcrever do:-õ Li1TOS dw. .
a.~entl)s de baPfl"sadas da freguesia de Areias, algumas notas das
mais cuílosas acêrca dos inúmeros expostos que lú figuram:
ai 3 de Junho de 176j: .Ios(· Bernardino. en·
<geitado, apareceo a porta de Antonio da Silva do
clugar de Sande ... , e trazia coatro· camizas, hüa
~,saca com mostarda) hum rosario) e hum escripto j

«que dezia=este menino vai por baptisar, o nome


sern Jose Bernardino, e padrinho quen1 (1 hapti-
<zar.,.~.

b) 26 de Abril de 17bq: ,Manoe! Engeitado ...•


• appareceo na Boute do dito dia ... a porta de Ma·
.noeI Gomes do Rego do logar do Barreiro .... e
-trazia dous pedaços de baeta azul baixa (?) nova.
~e hum com coatro cOltadellas ao meio, que parf.-
$;ciam ser feitas com thezoura, e mais hl'1a vara de
-dita e hua camisa uzada feita de emendas, e hum
1

"'pedaço de estopa ja usado) e hum pedaço de cai-


.braia (sic) velha na cabeça ... ~.
c) 4 de Dezembro de 1790: ' ... aparecerão
",duas mulheres desconhecidas buma destntura me·
~diana~ e outra mais alta) e magra~ com hum me·
-nino nascido segundo eUas o dicerli,o na noite ano
«tecedente e ainda vinha çujo~ e involto etn hum
<pedaço de baeta azul, e pedirome flue lho bati·
oCzace) o qual. ~. eu batisei ... :!l.
d) 19 de Dezembro de 1791: •... veio a esta
Hesidencia huma mulher desconhecida de estatura
,mediana gorda, e branca do rosto de idade de
"'"quarenta annos pouco mais ou menos COll1 huma
.criança que lhe puserão a porta na noite antece·
• dente embrulhada em dois cobados de baeta azul
,fina, e meyo cobado de baetão, e huma camiza
.desguião e apertada Com duas varas de liga azul,
REVISTA LUSITANA

'e hum lenço na cabeça de talagaje (?) pedindo-me


.lha batizasse, a qual eu batisei ... , por ella dizer
-que estava por bati,ar, que assim lhe diceTa, quem
.lha pus aporta ... "
ti 13 de Janeiro de 1794: 'Jose e"posto a
'porta de Maria Lameira do lugar de Freixieiro. ,.
,'embrulbado em hum pedaço de huma manta de
{"borei, e huma camlsa helha ainda por lavar como
,'sua ;'vfay o pario nacido naquella hora, e sem tra-
~zer mais cousa algUl11a, e quem o trouce dice, que
~ não estava batisado .. , ".
f) 4J\,laria exposta a porta de Antonio Correa
,do l\lgar do Sernado desta freguesia. , ' emlJmlha-
~ da em hum pedaço de pano branco ... , nacirla
'l"naquella hora) porque estava por lavar como
-( quando sua May o pario~ e não trazia sinal de ser
.q batisada .. , :t.

;:!) 20 de Maio de I ~o6: '." puserão a porta


~de Custodio de Sam Payo elo lugar Barreiro ..
para as dez boras da noite hum menino nacido
(·de fresco em sim a de huma cortiça pequena em~
(bolto em huma cami:-::.a mUlto velha, e dois pano?;,
.. azuis) c hum preto, e outro branco e de cor todos
(,velhos, e rotos, e hum atilho azul atado ao redor
<"[.t cinta, e hum pano branco velho atado na cabeça 1

·c dois atilhos pretos atados na mão, e pé esquer-


dos, cujo menino tronce a esta Igreja o dito Cus-
,!odio .. , , dizendo que. quando lho pu serão a porta
-lhe dicerão recolhese aquillo, que ali licava, e
(' não trasia escrito algum) que dicese fora batisado,
"porisso foi batisado condidonalm,rnfe . .. ,>.
ii) IS de Novembro de 1808: ,Andre Exposto
«a porta de JOSé Rodrigues, do lugar de Freixieiro,
(na noute do dia ... emvolto em hua camiza velha,
1

'e metade de hum abantal amarelo e dois panos


,brancos velhos, e hum lençinho velho singido na
<cabeça e hum cinto, com huns escapularios da
,Senhora do Carmo, e hum cordão de São Fran·
,cisco, e hum a Veron;ca de São Bento, e sem çe-
,dula alguma ... ,.
,) 21 de Junho de r816: ' ... batisei ... hum
-menino ao qual lhe pus o nome Roque que puse-
TRADIçõES POPULARES DE SANTO TIRSO 71

<rão na noite ... a porta de Manoel Jose da Costa,


,do lugar da Fontella ... emçolto em hum pedaço
,de manta velha branco, e dois trapos azuis, e hum
digadoiro de chita, e hum lencinho venho (velho)
<na cabeça branco e ainda tras;" a imbiga pe-
o:gada ...•.
jl 25 de Julho de 1820: ,Christina Exposta
,nascida de fresco segundo mostrava a porta de
ll(Josefa )'faría.,. dizendo quem o pus garde isso)
.que ahi fica e ponham-lhe o nome Christina, a
..,qual estava embrulhada em huns poucos de farra-
«pos brancos, pretos, e pardos, e hum cinto ver-
<mclho velho Com huma cruz ao meyo da fita
otazul ... ),
k) 19 de JlInho de 1823' 'pella meya noite,
.::puserào hum menÍno nascido de fresco a porta de
«Maria Luisa viuva por alcunha=Lisboa::::':::embru-
«Ihado em hum pano 1Je11ho de estopa, hurna ca-
«rnisa 'l'C11ha de estopa vestida, apertado com hum
ol!ourello roido graço e hum rllarotinho fraco atado
~ na caoeça . .. .
l) 25 de Setembro de 1B23: ' ... p"ser;1o a
'!: porta de Anna Maria Preira a Letras viuva do lu-

«gar das Caldas ... huma menina com hum escrito


,cujo o geu theor he o seguinte = Aqui hllma sem
'cam'" (sacramento) de Baptismo ponho nome=
eNastacia=e he para signal huma fita marella na
«mam squerda de seda, e leva tres nozes, e leva
,hum manteo de baeta de piscas (I) jit usado leva
<lltlm pertadoiro de hum aurelIo branco aheirado
.de azul hoje 25 de sbr.o=e não continha mais o
,dito escrito, que aqui copiei na verdade para
"constar ... '.
m) 5 de Março de 1832: , ... poserão a porta
.de ... e dice quem a pôs que a batisá-se ... a qual
"tinha duas camisas ... , e tudo isto feito e posto
«no dia ... t.
n) 3 para 4 de Outubro de 1835: ' ... pose-
,rão huma menina emhrulhada em farrapos de es-

1 Num assento logo a seguir acrescenta~se: gardasse isso c: que havia


tIt dtu <Mta deJla • .•••
.topa., e outras cores ím) a porta de Anna Maria
• das Pedras... dizendo garde, o que aro fica, o
• qual Menino era nascido de pouco, portanto o ba-
«tisei subconditione . .. '.
o) 25 pa.ra 26 de Outubro de IB41: •... pu-
.zerão hum menino embrulhado em huns farrapos
,de estopa, e a estes hum bilhete pregado com li-
.nhas brancas. o que continha as palavras seguin-
.te. ~ Não está baptizado, farão o favor de lhe por
.0 nome Fellis ... '.
O último assento sôbre expostos que encontrei tem a data
de IS de Fevereiro de 186}:
c .• • cuja crianca appareceo emyolta em uns
"'pobres panos de chita de varias cores, e sem si-
'gnal algum de que tivesse sido haptisada ... -.
Serviu de padrinho, como era vulgar, o pároco da freguesia,
Manuel Joaquim de Azevedo, que eu ainda conheci.
- Quanto aos abortos, as Ordenações tambêm não eram cla-
ras: Liv. quinto. til. xxv, 2:
.E toda a pessoa, que a outra dér peçonha
'para a matar, ou lha mandar dar, posto que de
.. tomar a peçonha se não siga a morte) morra morte
«naturall.
Seguindo-se o direito romano, eram compreendidos neste
crime aqueles que dessem drogas às mulheres para o feto mor-
rer, ou para elas parirem antes do tempo, e nas mesmas penas
incorriam as ditas mulheres que as tomassem.
2 - As batatas devem plantar-se na lua eheia para darem
muito fruto e pouca rama. Plantando-se na lua nova. sueede o
contrário.
Sr- A sementeira do milho costuma fazer-se ai por 10 de
Abril. O trabalho deve realizar-se entre as dez e as onze horas
da manhã, quando o dia cresce. De tarde não dá resultado.
Outros sustentam que a melhor hora é a das oito da manhã,
quando a terra está coberta de teias de aranha cheias de gotas
de orvalho.
O milho, depois de debulhado, em geral à fõrça de malho,
estende-se sôbre a eira para limpar.
Em Vila-do-Conde a debulha faz-se na eira com os pés do
gado e o milho põe-se a secar sôhre panos das velas.
-- Se o pão cai ao chão, beija-se antes de o apanhar.
4 - Além de uma fouce no cimo de um grande cabo.
TRADlÇÔES POPULARES DE SANTO TIRSO 73

usa-se para afugentar os minhotos um cántaro caiado de branco


sõbre uma árvore.
S - Usos gerais dos criados de lavoura - Homens: Umas cal-
ças, colete, chapeu, uns socos novos, que o patrão tem de mao""
dar tachar tôdas as vezes que se romperem, e duas camisas de
estõpa, pedindo tambêm os criados grandes uma camisa de linho.
Mulheres: Uma saia, colete, avental) uns socos novos, que
o patrão terá de mandar tachar, e duas ou três camisas.
A soldada compreende sempre uma certa quantia e os liSOS.
ti - Os velhos fazem o rapé num caco, ao lume, servindo-se
de charutos ordinários e de fôlhas de nogueira.
7 - Como ja frisei no voJ. XXl da Rel'/sta Lusita/w, os pe-
dreiros teem um vocabulário próprio para se entenderem sem
que os outros percebam.
O mesmo sucede com os mineiros. Para estes) balo é vinho
(chusnto ou ChUS1ni'ira - pedreiros'), _"'epar se moca! t·:· o aviso
de que o patrão se aproxima.
8 - Quando se ausenta uma pessoa de família para o Brasil,
para a África, etc., costumam na aldeia deitar luto-o qual se
limita geralmente ao uso de um lenço preto (Areias).
O meu amigo, Dr. José Coelho ele Andrade, deu-no, conta
no semanário fiO Povo» I, do mesmo costume existente nas fre-
guesias de Refojos, Monte-Córdova, Lamelas, I~eguenga, S. Paio
e S. Tiago da Carreira: O luto é rigoroso e conserva-se até que
chegue a primeira carta datada do lugar elo destine> do ausente.
Era costume antigo também, acrescenta-se no mesmo sema·
nmo, ir a mulher à missa, durante a ausência do marido, com
o chaile 2 a cobrir-lhe a cabeça; e ainda hoje não vestem de
vermelho durante êsse período.
9-Algumas notas a acrescentar ii festa do Natal:
No Penedo dos Castelhanos ", durante a noite, trazem lenha
para uma praça. À tarde vestem um homem, conhecido como o
mais engraçado, com um capote até aos pcs e um chocalho à
cinta, o qual, seguido pela garotada, anda pela aldeia às cabrio-
las, pedindo numa voz de falsete: -- Uma esmolinha, uma esmo-
linha para Nossa Senhora da Glória ...
À noite, na praça, acende·se uma fogueira monumental, e

I 25 de Agôsto de '9'7.
:I Devia ser a ca.pa preta, de grande roda, já. caída -em desuso, mas que
há uns trinta anos era o luxo, mesmo das raparigas solteiras,
II Freguesia perto da Barca d'A1va~ Infonnação de um aluno.
74 REVISTA LUSITANA
---------

em volta dela junta.-se a população sentada em troncos, fôlhas,


ramos) bancos e cadeiras que trazem de casa.
Em Felgar (Moncorvo) 1 é costume tambêm o mordomo do
Menino -Jesus acender de noite uma fogueira para a qual os
rapazes andam a roubar grande quanttdade de lenha. Depois
da ceia, cantam pelas portas e, quando vão para a missa do galo}
tocam gaitas, etc.
O costume foi-me confirmado pelo meu amigo Professor
João Ferreit;a Guedes. do Liceu de Rodrigues de Freitas, quanto
a Espinhosa (Pesqueira) e freguesias próximas: Juntam-se ho-
mens com chuços e espingardas, e ve'-i..o com um carro roubar
uma árvore ord,ináriamente fora da terra; pelo caminho dão tiro:;
para que ninguém se aproxime da janela e possa servir de tes-
temunba.
Chegados ao adro, IeÚne·se o povo) queimando~se a árvore
com grande feeta.
10 - Serração da ,'elha
Ai pelo meio da Quare.ma. uma quarta-feira, preparam al-
guns homens um serrào de madeira a que tcem o cuidado de
abrir os dente!' e um cortiço dos que servem para as abelhas.
Em volta deles vai-se reunindo uma multidão de rapazes, que
se armam de assobios, ferrinhos e latas velhas.
Preparado o cortejol abala para casa da mulher mais velha
da freguesia. Chegando lá, adeanta-se um homem mais atrevido
e chama:
- () senhora F. I
-Quem está ai?
- Prepare-se,
Faça o acto da contrição,
Que está aqui a serra e o serrão .
. . . E começa o serrão a ranger sõbre o cortiço, e os asso-
bios, folhetas e demais instrumentos, desatam numa música in-
femal. ,. cercada com os apupos e dichotes.
Se a velha é gaiteira, humaniza-se, vem para {ora, dirige
graças a um e a outro, e até manifesta o desejo de que voltem
no ano seguinte-sinal de que ainda está viva.
Desarmada assim a multidão, lá vai debandando ..
Se a velha te brava, barafusta, insulta, atira pedras, despeja
àgua e porcarias. Então a festa é completa: o populacho au-
menta a vazaria e, só depois de cansado, se vai embora.

I Infonnação de um aluno.
TRADiçõES POPULARES DE SANTO TIRSO 75

Era assim a Serração da Velha em algumas freguesias do


concelho de Santo Tirso ...
Hoje. porêm, o caso mndou um tanto: na vila, chegado o
dia próprio. andaram êste ano (1919) grupos, cantando aqui e
acolá versos sensaoorôes, com sobrescrito politico 1.
1 I -Antigamente, na Páscoa, a cruz que ia no Compasso
era adornada com fitas e com ricos cordues de ouro pedidos
peja freguesia e arredores. Era tambêm perfumada com espirito
de cravo.
]2 - Assim C0i11Q sucede na Púvoa-de Varzill1, tambf.m na
w

praia de Furadouro (Ovar) os pescadores fazem uma procis$10


que) depois de dar a volta aos palheiros, se dirige até à praia
Aj voltam os andores para o mar1 pedindo a Deus o abençoe a
fim de que êle dê mais peixe '.

x
Lendas

1 ---A mãe de S. Pedro era muito soLerba: nunca dava.


nada.
Um dia, ao lavar umas nabiças. foi~lhe uma pela água abaixo
e ela disse:
- Pelas almas ...
Foi isso que a salvou, pois não tinha outros merecimentos,
2 - As cabras berravam quando Nossa Senhora ia a fugir
para o Egito. Por isso foram amaldiçoadas.
As ovelhas, como estavam mansas e caladas pela mesma
ocasião, receberam a bênção de Nossa Senbora n.
3 - A capela de S. João dos I~eis " hoje num outeirozinho,
ficava antigamente nuu) terreno mais baixo.
Depois de mudada, nunca mais houve "o"sêgo naquele ca-
sal: caiu sôbre os habitantes uma praga de doen\,as, casos de
1oucura, nlortes.
A imagem apareceu no luga; da antiga ermida. Queriam
levá-la para a Igreja paroquial de Avidos, mas ela voltava sem-
pre a aparecer no sitio onde fura descoberta.

1 Esta nota foi por mim publicada em O Tripeiro de 15 de Abnl


d. '9'9.
t Informação de um aluno.
S Cfr. Revista Lusitana, vaI. XXI, pág. 222 •
." Em Al'idos (Famalicão).
REVISTA LUSITANA

Citei casos semelhantes nesta Revista, vo!, XXI, pág. 2;l4.


Em Gemunde 1 ainda () povo venera a chamada Campa M
Preto. Diz a tradição que o tinham amarrado à cauda de Um
cavalo nas terras de uns fidalgos, vindo a morrer em Gemunde,
onde a piedade do povo deu sepultura piedosa ao cadáver, ar-
vorando mais tarde em santo O supliciado.
Teve em tempo uma capela exposta ao culto púlAico, con-
denado em 1841 como idólatra pelo bispo. Oai a intervenção da
autoridade administrativa t que principiou por fazer um discurso.
,No fim deste discurso mandou entregar ao
d~everendo Parocho a Imagem de Christo. as velas
«de cer3 l e tudo o mais que pertencia, ou podia ter
t: serventia no culto da Parochia, e ordenou que o

«Hegedor toma~se conta dos castlçaes, jarra:;;, se-


.. das, e outras similhante::-; cousas, para entregar a
,,-seus donos, detenninando que se principiasse a
(demolição da barraca, havendo previamente feito
<ret.irar as quatro pequenas pedra~ :! para fôra (sic),
.. e principiar a escavação no terreno que ellas CO~
.brião; mandando que as ditas pedras fossem pos-
",tas em hum carro, que o Regedor apromptou para
~êsse fim e fossem d-'atli cunduzidas â l'ista de
1

i fadas, t' d'cstc modo de.struir a falsa urigem da

~crimi"Uosa 'ZJcllcrarào, fa.zelldo conhecer que nenhum


«podê" oculto embaraçava a ..ma remoção, CQ11tO en·
'Il,ganadaJltentc se dizia ter aco1deczâo com hum mo-
crador d'aquella Fregut'sía, Removidas as p"dras
<com a facilidade tlatural e demolida a harraca,
«continuou-se a escavação) sem que apparecesse o
mais ligeiro vestigio de cousa ~stranha á terra do
-«solo ... » ".
Findo o que, houve novo discurso do administrador sôbre a
leviandade como o povo se deixara iludir, e expondo os emba·
raças à continuação da idolatria praticada ...
Mas não valeu a Pastoral do bispo e inúteis se mostraram
as práticas eruditas da autoridade.

1 Na Maia.
li Marcavam, :segundo o po ....o, a sepultura.
S c Documentos o/fieiaes I do que publicamente se passou em I Oeman-
de, I aldeia do concelho da MaYa I em 22 de Junho de /841, a respeito dos
boato. da ex/s/enela do I Santo Preto., pág. 7 (porto, '14').
TRADIções POFULARES DE SANTO TIRSO 17
------------------~-

A sepultura lá está, exposta à veneração dos fi';;s e o Santo


Preto tem a sua festa todos os anos I
No caminho ue Landim a Seide, onde viveu e morreu Ca-
milo, há um lugar chamado-As Campas de Seide-·em que,
segundo a tradição se acha enterrado um preto. Terá culto tam-
bém I Ainda o não pude averiguar. Mas não se vêem no sitio
vestig:ios de sepultura.
Xl

CanCioneiro

I ~ A vila de Santo Tirso -; - Adeus, 6 luga.r da Igreja,


De pequenina tem graça; Cercadinho de flores,
Tem um chafariz no meio, Donde passeiam os cravos
Dil de beber a quem passa. A procura dos amores.
2 - (', vila de Santo Tirso, ~ - Adeus, rua de S. Bento,
A subir e a descer; Te hei-de manda.(ca1cetar,
Quem neia tomar amores Em pedrinha oe brilhante
Nuncil -se há-de arrepender. P'rú meu alrlor passear.

.) - A yila de Santo Tirso, 9 - Adeus, tua de S. Bento,


Não é vila nem aldeia; TiuteiTO, pêna de prata;
É uma nobre cidade, Ando de mal com o amor,
Onde o meu amor passeia. Vou..lhe escre\"er uma carta.

4 No Urgal não há mi\ças, tO - Chorai, chorai,


Em Denu. há fome delas; Que a mim não se me dá,
Em Vilahra e o refugo, Santo Tirso, 6·la·ri·lo-le~l,t.,
Na vila t: um ramo uelas. Santo Tirso, ó·la·ri~lo-lá.

s- O meu amor é da vila, Chorai, ChOf<li,


Mora à beira LÍa cadeia; Que a mim não se me deu;
Mais vale um amor da vila, ,s;·mto Tirso) 6-1a·ri·lo-le-l~
Que quatro ou cinco da aldeía. Santo Tirso, ú-la-ré, sou eu.

6- 6 vila ele Santo Tirso, 1r - 6 meu amor, anda) anda,


Ao centro ua natureza; A VHalva que é tam lindo
Tu és a minha alegria, Uma vez cada. semana,
Quando eu tenho tristeza. Quantas possas ao domingo.

12 - Lá p'ra fOTa, Lá, p'ra -dentro.


Raparigas, Raparigas,
Lá p'ra fora; Lá p'ra dentro;
É tam lindo, É tam lindo,
Vamos embora. Vamos ao S. Bento.

1 Informações do meu amigo Oliveira, professor do liceu de Rodrigues


de Freitas.
Rl!VlSTA LUSITANA

13 - Tomei amores em Sande, 23 - As meninas da Carreira


Cc'a filha do Flores; Tôdas têm a fralda rôta;
Já todos de mim teem raiva, Só as irmãs do .•.
Já não faltam a.margares. Têm uma fralda de s'tl)pa.

14 - A igreja de Areias 24 - As meninas de Ruivães


Quer ganhar à da Lama; São bruxas e feiticeiras;
Estas raparigas de agora
São cheira.$. da Labitaua 1.

]5 - Ó Terras Negras da Trofa, 25 - Meninas do Bairro Alto)


Vem O ••• , 6 que ladrão! Descei à Cordoaria;
Chora, Ferreira, comigo1 Vinde ver () regimento
Os tempos que já lá vão. De tropa da Infantaria.

16 - Tu dizes: que tens, que tens, 26 - Adeus, cidade do Pôrto;


Na macieira tnaçdes; Adeus) do Pôrto cidade;
Eu tambêm digo que tenho Adeus, raparigas tôdas,
O meu amor cm Burgães. Adeus~ minha liberdade.

17 - Estes rapazes de agora 2.7 - Meu amor é do Pôrto,


São um bando de chouriços; Cá fora ninguêm no sabe;
Colarinho de ida e volta 1 Anna vestido de azul
Da estaç;'\o até Caniços. À modil1ha da cidade.

J8 - Se eu souhesse que morria, 2.8 - Men,na, se quer saber


Mandava fazer a cúva, A moda que anda na Maia:
Forrndinha de hera branca Lenço preto ao pescoço,
No adro de Vila·Nova. Vivo vermelho na saia.

19 - 6 igreja de Delães 29 - A moda da Mouraria,


Onde se ('"ferro os anjinhos; Dançada, e bem bonita j
Ó terra, que est~\s comendo, P'ra dançar a Mouraria,
Corpos tam delicadinhos. Môças de saias de chita.

20 - Na igreja de DeHl.es, 30 - En venho de Santa Marta,


Tenho quem me queira bem: Mas receio ao calor;
A Senhora das Candeias Emprest.a~me o teu chapéu,
E seu filhinho tam bêm. Antoninho, meu amor.

;2,1 - Freguesia de Delães, 31 - Menina do banlai curto1


Deixar~te muito me pésa; Parece-me uma doceira;
Inda 'spero de tornar Se eu a via na Falperra,
Ao centro da natureza. Fugia para a sua beira!

22 - Freguesia de Delãe~, 3-2 - Ó adro, 6 lindo adro,


Ao longe parece vila; Da nossa igreja;
Tem um cravo na entrada, Ó do bailarico. venho de Viana,
Rosa branca na saída. Trago bailarico p'ra tOda a semana.

) De-/abita?
TRADlçôfS POPULARfS DE SANTO TIRSO 79

33 - ,. S. Gonçalo de Amarante,
Feito de pito (pau) de amieiro1 De longe vos venho verf
Irmão destes meus tamancos, Vós destes a saúde
Criado no meu lameiro 1,. A quem Istava pIra morrer~

34 - Senhora da Assunç_ão,
As costas vos vou virar; Dai saude a meu irmão,
Adeus, santa milagrosa, Que êle vos vem visit.ar
Até quando eu cá tornar. Curn cales de ouro na mílo.

De longe vos venho ver, Inda cá hei·de tornar,


Que vós destes a saúde Esqueceram·me as miuh<'.g contas
A quem 'stava a padecer. Em cima do seu a.ltar.

A Senhora da Assunção Senhora da Assunção)


E bonita e airosa i Bota fitas a voar;
Vimos aqui de tam longe Que aí vêm os anjinhos
Para ver tam linda rosa. Ajudd-las a apanhar.

Senhora da Assunção, A Senhora da Assun\~ào


Vós de dentro e eu de fora; Diz que me há~dc dar um dote;
Deite-me a sua benção, Se mo há-de dar em vida,
Que me quero ir embora. Dê-mo na hora da morte.

Quando aSS1lbiu ao monte; Diz que me há-de dar um veu;


Quando se ela assentou, Se mo há-de dar em vida)
Nasceu logo uma fonte. Dê-mo no reino do céu.

A Senhora da Assunção
Tem uma fita num pé, Tem uma fita ao pescoço :I
Que lhe deram os anjinhos Que lhe deram os anjinhos
No día de S. José. A vinte e quatro de Agôsto.

Ó Senhora da Assunção,
Dêsse alto donde estais1 Tem uma fita no braço!
Tendes uma luz no peito, Que 1he deram os anjinhos
Que a todos alumiais. A vinte e quatro de Março.

35 - Senhora das Dores da Maia1


Vós que dais a quem cá vem? Eu p'ró ano lá hei-de iri
Auguinha da vossa fonte, Ou casada, ou solteira,
Saúde a quem na não tem. Ou criada de servir.

Filinto Etysio, Obras} vol. VI, pág. 546 (edição de Paris, 1818}.
Não ouvi esta quadra ao povo) embora êste fale muito em S. Gonçalo,
como casamenteiro das velhas. O santo tem romaria na freguesia de Covelas.
I Variante: •.• no rosto.
80 RevlUA LUSITANA

Minha mãe eanta, Santo Ant6nio é dos porcos '.


Senhora das Dores, S. José dos carpinteiros,
Lá no trono em que 'stais" Santa Luzia dos trolh....
Rogai pelos pecadores. O diaho dos pedreiros.

36- A Senhora de Valinha.1J 40 - H~i·de ir ao Senhor da Serra.,


Tem um fillio surrador, I ndas que me leve um ano;
Para sarrar a madeira Quem vai ao Senhor da Serra
Para () altar do Senhor. De lá. traz o desengano.

Senhora de Valinhas Bendito Senhor da Serra,


Tem uma fita na testa, Bendito, Senhor, sejais;
Que le muudaro os anjos Não tenho nada de meu,
No dia da sua festa. Vós, Senhor, tudo me dais.

Bendito Senhor da Serra,


Tem uma fita na c'roa, Lá do a1to do Padrão i
Que le maudaf'o os anjos Quem não quer que o mundo fale,
Da cidade de Lisboa. Não lhe dê ocasião.

4I - Milagroso S. Torcato,
Quem sois \'68? e quem sou eu? Que 'stais lá na capelinha;
Sou uma grande pecadora, St: não fôsses milagroso,
Minha alma por vós morreu. No dia 's1avas sozinho.

37 - O coração de Maria 42 - Ó Senhora d:'. Abadia,


'stá dentro duma vidraça, Eu para o ano vou lá;
A pedir aos pecadores Se eu lá não chegar a ir,
Co'as mãos cheias de graça. Não faltará quem lá \'á..

38 - Minha Mãe Santissima, Senhora da Abadia,


Não quero senão Apalpai.me esta uarriga j
Que viva Jesus Dizei-me o que eu trago nela.
No meu coração. Se é rapaz, se é rapariga.

39 - Ó bendito Santo António, 43 - Senhora Santa Luúa,


Qlle fazeis ao que ganhais? Senhora do meu coraçito;
Trazeis a mulher descalça, Dai-me a ....ista dos meus olhos
Nem um sapato lhe dais 1... Por mór da 'scuridão.

Santo António leve António, 44 - Sabasfião pedroso,


Na copa do seu chapéu; Patrialca sagrado;
Santo António leve a mim Das pestes, aflições, gUerra,.
Para o caminho do céu. Seis nosso adevogado.

Santo António é M santo, 45 - S. Pedro era careca,


Que livrou seu pai da mortej Pediu ao Senhor cabelo;
Tamém me há-de livrar O Senhor lhe resr ondeu:
Nesta batalha tam forte. - Pra que queres cabelo, Pedro?

1 Santo António é advogado contra as doenças dos animais..


TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO 81

46 - 6 minha costureirinha) S. João da Beira~Marf


Que é da cruz do teu cordão? Casai-me que bem podeis;
- Perdiaa na brincadeira, V ôs casais as de dez anos,
Na noite de S. João. Eu já tenbo dezasseis.

S. João adormeceu Que quereis ao S. João,


No atali" das Moreiras; Que por êle preguntais?
Foi·lhe posta a vida ao sol Esperai-o na Falperra1
Pelas suas costureiras. Que de vem de Guimarães.

Donde vindes, S. João, S. João adormeceu


Que vindes tam molhadinho? Nas escadinhas do caro;
- Vimos dantre aquela horta Deram as: freiras com êle,
De colhêr ú rosmaninho. Derenicaram~no todo.

S. João a vinte e quatro, S. João adormeceu


S. Pedro a vinte e nove, No regaço de Maria;
O Santo António a treze Acorda, João, acorda,
Por ser o S21nto mais nobre. Que está a chegar o teu dia.

S. João p'ra ver as m0~'!lS S. João adonneceu


Fêz uma fonte de prata; Atrás da parede nova;
As mõças não vão à água, Acorda, João, acorda,
S. João todo se mata. Que te roubam a viola.

S. João da Beira·Mar S. João adormeceu


Pôs S. Pedro a vendeiro; Debaixo dos pinheirais;
Olha que pouca vergonha: Acordou, ficotl~se a rir
Dum santo fazer tasqueirol plr;ls móças dos Carvalhais I.

S. João adormeceu
Debaixo da laranjeira;
Caiu-lhe a flor por cima:
S. João que tam bem cheiral

S. João l de Deus amado,


S. Joio, de Deus querido ~
Deparai-me a minha sorte,
Neste capinha de vidro:
Se eu tiver de ser casada
Amastrai.me o meu marido 2.

Vamos ver o S. João Fui ao S. João a Braga,


Dentro da sua capela, De Braga fui ao Bonfim;
Todo vestido de sMa, Vi tudo embandeirado
Ó que figura tlm bela! Com bandeiras de ""tim.

, Lugar d. Santo Tirso.


• CtT. Revista Lusittma, ""', xx, pág. 8.
BInlIT.. LnIT........01. UIl, faeo. J-4 •
82 Rl!VlSTA LUSITANA

..... ............. .
~ 49 - Menina, se quer saber,
Como é que se namora:
Tudo eram bandeirinhas, É um lencinho no Mlso
Que S. João tem ganhado. Co'a pontinha de fora~

Se S. João bem soubesse 50 - Se fores domingo à missa,


Quando era o seu dia, Vai para as escadinhas do côro;
Descera do céu à Terra Do sítio donde eu estiver
Com prazer e alegria~ De lá te faço narnôro.

S. João quer fazer casa, SI - Nas ondas do teu cabelo,


Ê pobre, nilo tem dinheiro; Vou~roe deitar a afogar;
Fazei casa, S. João, F. para que o mundo saiba
Que eu serei vosso pedreiro. Que há ondas sem ser no mar I.

() meu S. João Baptista, 52 - Dei o coração às mõças


O meu santo pequeuinho; Para elas mo guardi."tr,-
Tu hás--de ser o compadre Agora peç-o a tôd.a.s,
Do meu primeiro menino. Jã nenhuma mo quer dar.
Ó S. João de Landim, 53 - Se queres que eu te ame,
A porta tende·la dança i Mata a tua cachorrinha,
Nunca dei ponto sem nó, Que anda sempre lcudnwdo
Nem fala sem con6anç,a. Da s<l.la para li cozinba.

5.:+ - Os olhos da CarrOHtUl


Empresta}~me as vossas vacas j Estào eDterrados na areia:
Eu quero lavrar a terra., Quem os fDr desenterrar
p'ra sameá·ltI8-lmtaias. Tem um allO de cadei,,'.

A Carrolina namora,
Empresta-me os teus bois, Ela namorada está;
Para eu lavrar a terra, Dança agorf!, Ca-rrolúw, agora,
p 1 ra samcar os fajt;es. Dança agora, Carrolina, olá '.

47 - És bela, mulher, és bela, Os olhos da Carroliua


Como tn não há ninguêm; Estão enterrados no chão;
Rs a S~1nta da capela, Quem os fôr desenterrar
És o meu queridD bem. Tem cem anos de perdão.

48 - Adeus. areias do rio) 55 - Adeus, ó campo das mal\tas.


Adeus, pedras de lavar; Adeus terra das ortigas;
Adeus, amor de algum dia, Olhai o que o rapaz faz
Donde eu te ia falar. Por causa das raparigas!

, Cfr. Revista Lusiftma. vol. xx~ pág. 74. n." '40.


Variante:

............. .. ~ ~ '.
Dança agora, CaroIIna"oIéi
TRADiÇÕES POPULARES DE SANTO nRSO

56 - Tenho uma laranja de oiro 63 - Os teus olhos nliQ são olhos,


No fundo do meu baú, São duas continhas pretas;
Para dar ao meu amor: Colhidas pelo luar
Deus queira que sejas tu ••• !. :!'Jo jardim das violetas a.
5j - Eu aqui, e YÓ';; defronte, 64 - Quando eu em ti considero,
~em eu falo, nem ....ós falaL~; Vou à j:mela e digo:
Dai*llle um acêno c'os olhos Donde estarás tu agora?
Já que não pode ser mais. Diz, belo do meu s(~ntido~
58 - .\ten:ina~
que está à janela, 65 - Quem qUd bem dorme na rua
Com seu relógio à cinta; .\. porta do seu amor;
Diga·me que horas são, Di1.S pedr<'!8 ÍilZ travesseiro,
Fale verdade, não mint.il. Das estrt:!as cobertor.

50 - A Amélia tecedeira 66 - Laranjinha) quando nasce,


Tem o te,-,r e não tece; ~,lsce tôd:t redondinha;
Oll é por falta de ;:mwl', Tnmbêm tu, minha menina)
011 o tear lhe ahorrece. Nasc~J.';te para ser lnillha.

Ah! ah! ah: eu est01H11e rindo, (J7 - Vai~tf;embotd, mctl amor,


\'ai bonita a briucadeir;l; Que ii meia"!~oite esLi dada;
() Amélia, ó Amelia, V,tis cmúr da tua m.i\e
O Amélia tcu.:Lleira. Sermão e missd cantad:t.
Co - 'St011 prêsa nesta câtleia, 68 _. Vai-te. embora, meu '\111Of,
As grades S~lO de m,anIH; Vai dÜHllir1 que e,H j,.'t (lormi;
r:Stüu prêsa :'ts màü$ de António, Agor,'l vai-te ~d.bar
SohóHne ttl, joaquit:1 ~. Que eu dt, inocel1t-::: caí.

Estou pttsa nesta cadci<'l. &) - \'on-rne li.\. que tenho pressa,
As chaves tem*nas mt:'..1 pai; Lt-'vO ii.g;ua d,.": reg;ilr,
Qu~m 'stá de fora nãD entra, Que ama!Jh<~l ~ dht sdnto,
Quem 'stá de dentro não saí. Temo,", kmpo de falar.

61 - Quem me dera ",divinhar 70 - Silva verde, não me prendas,


Donde o meu amor 'stá agora; ::-.l'íl0 faças Je mim vaiado;
'stá pert.o de quem o \:ê, Para prender meu c()ração,
Longe de quem o adora. Não faz minga cadeado.

6.2 - Levantawte, ó )'lariquinhas, 71 - Aleninas do rio triste.


Corre a mão pela vidraça; Vinde lavar ao alegre,
Pareces Nossa Senhora Que a água do nosso rio
Cheia de luz e de graça. Põe a roupa cOr de neve.

Cfr. Revista Lusitana. vol. XVII, pág. 329, !l.0 331.


2 efr. Revista LusitJ:ma, vaI. XXI, pág. 73. n,O 123.
3 Estas duas últimas quadras teem uma feição erudita, Para mais,
ouvi~as juntamente com a conhecida canção;
Os teus olhos não são olhos,
São duas Avé-Marias:
Um rosário de amarguras
Que eu rezo todos os dias.
REVISTA LUSITANA

72 - Vai, carta1 feliz "''úando,


j 81 - Adeus, 6 lugar daqui,
Por êss.e mundo alêm; Neste lugar cantei ...
Quem te leva sabe aonde, Quem me dera adivinhar
Quem te manda sabe a quem. Se namorada serei.
73 - Se tu queres e eu quero, 82 - Eu gosto muito de peras)
Que nos importa os parentes? Sendo elas -de amoriru:
É um i no mais ou menos Eu g'osto de amores Ant6nios
Que nós andamos dtferf"ntes. Mas muito mais de Joaquim.

74 - O meu amor é um tolo, Gosto muito de pef<l.s!


r!: meio acidadlir!,' Sendo elas cab,H;ais:
Vem afeito ao molete, Gosto de Amores Ant6nios r
Nárj me quer comer (I pilo 1. Afmwcles muito mais.

75 - Chamaste~me Fal,a-só, 83 - AfJuela janela,


Ú que falsa opinião! Àquela do meio,
Estava falando contigo, 'stá llmR mel:ina
F,'llando (lO meu coração .•• Com todo o <'\sseiü.

76 -I{ua abaixo, n,11:1 acima. Àrplela jimeJa,


Tl\da li g;cl1te me quer bem; Àquela mais alta,
Só a mãe do meu arn-or, lstá uma menina
Não sei flue raiva me tem! Tocando flauta.

77 - () acipreste do adro, 8,1 - No al.to daquela serra,


Ag'3salho dos passarinbos~ EstA um lenço a acenar;
Tambêm foste <lgasalho Esttl dizendo:-Vival Vi\'a!
De me roubar dois beijinhos. Morra quem não sabe amar!

78 _. Eu hei-de ir, eu hei·de vir No alto daquela serra,


Pelas ueinnhas do mar: Está um lenço de mil cõres;
Hei·de pedir ao barqueiro Est,-~ dizendo:- Viva! Viva!
Ervinhas de namorar 2. Morra quem não tem amoresl

79- Que lindo luar )stá hoje 85 - Lindos olhos tem Anl6nio,
Para colhêr a ntarcela I rrem cabelos aos a,néis:
Colhemo-la nós ambinhos, Se quiseres casar comigo,
FaZiHno.'Ç a cama nela. Manda correr os papéis.

80 - António, lindo António, 86 - O meu amor não é aquele


Lindo amor tenho eu; Que o meu amor traz chapéu;
Quem tem um amor António Meu amor é mais bonito,
Tem uma quinta de seu. Parece um anjo do céu.

1 Cfr. Revlsla Lrnilana. voL XVIl, pág. 3<Y1. n.· 47.


:I Variante:

~~t~f~~~~' .
Como o navio no :snar.
Cir. a eanç-lo n.· 11::.
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO

87 - Nào quero (I amor pedreiro, 94 - Amor, fau'JWS a paz'l


Que atira pedra p'ró ar; Como foi da outra vez;
Qut:ro um amor picJti1:ei"o Quem quer bem sempre perdoa
Que anda sempre a Pichilar, Cma, dua~ até três.

Xão quero amor pedreiro, 95 -!\ú alto da c"pelinh.a


Que sempre pica na pedra; 'stá uma silva nascid<l.
Quero um amor alfaiate, }'<lr3 dar ao meu amor
Trabalha na primavera. Que anda de beiça caída.

bS - Salsa de ao pé do rio, 96 - ~[eu aOlor diz; que vinha


Dá~Jhe o vento, cai· lhe a fOlha; Diz que vinha e não 'd/i;
A salsa do tio é minha, Se nào havia de yir,
Se nào houver quem na colha. Para que me prometeu?

:Sq - Ó minha costLlreirit'lh a, 97 - O meu amor amtlOl1,


Tens agulha, teus dedí'tl; Foi às amoras a-o ruMO;
Ti1mbêm tens a tesourinha Vai-te embora meu amor!
~o bôlso do avental. Das amoras já vais farto.

90 - Sou picada das bexigas, 98 - Se tu soubesses, t'1 lida,


Deus mas deu, nasci sem elas; Quanto eu sofro por ti,
?\ão bá coisa mais brilhante ~ão fechavas a janela
Que o céu c.om suas estréIas. Quando eu passo por aqui.

91 - Quem quiser que a úgua corra 99 - Janela, que te fechaste,


D'2 um golpe na levada; Com meu respeito te abrisse;
Quem quiser um Clmor iirme Tor.ua~te a fechar, janela,
Cale-se, não diga nada. 1ura, amor, que me não viste.

92 - Meu coletinho de linho f 100 - Bcm~rne'(lueres! maj~me·{luereS,


Feito por detrás das paredes; Eu tenho no meu jardim i
Quem escuta de si ouve, Os bem-me· queres acabaram-se,
Acontece o m ais das vezes" Os mal~me-queres não têm tim.

Coração perto da bôca JOI - Meu amor! ontem à noite,


Faz um peito que regala; Pela \ida me jurou
Em certas ocasiões, Que se ia botar ao mar!
-Arrebenta, se não fala. Eu atrás dele não \'ou .•.

93 - Fui-me deitar a donnir Meu amor me disse ontem


Ao pé da água que corre; Que por êle nilo chorasse,
Uma voz me respondeu: Que se ia deitar ao mar,
-Quem tem amores não donne. Que me não apaixonasse 1.

Quem tem amores não donne, 102 - Quando eu q~ não quisestes,


Quem nos não tem adormece; Tivestes opinião;
Eu não perdia meu sono Agora queres, eu não quero,
Por mil amores que tivesse. Tenho minha presunção.

Cfr. Revista Lusitana, 1'oL nu, pág. 326, DoO 280.


86 REVlST 1\ LUSITANA

103 - Passaste por mim, côraste loS - Pus-me a brincar c'uma rosa,
Como o pano na imJwensa ; Piquei-me nos seus espinhos;
Fala para quem quiseres, Quem me manda a mim ser tMa}
Que eu dou~te tOda a licença. À rosa fazer carinhos?

104 - Suspirei) tu não ouviste, 109 - Hei·de assubir ao alto,


Dei um ai, não deste fé; Que do alto \"ej o bem;
Se o meu coração é teu, Quero ver o meu amor
O teu não sei de quem é. Se queda com alguém.

105 - Toma lá que te dou eu lIO - Aqui d01ule estou bem vejo
E será tua fortuna: Olhinhos por quem me eu perco;
Uma mão cheia de nada, Se êles me fôssern liais,
Outra de cousa nenhuma. Eu am3va-os, era certo.

106- Gosto muito da padeira II I - O meu amor tem um cravo.


Por andar enfarinhada; Eu nem uma rosa tenho;
Inda mais gosto do pão, Andavas pira me enganar,
Que da faz de madrugada I, Quando tu vais, eu já venho ...

107 - Ó meu amor, meu amor, 112 - São tretas por t~ ó Rosa,
Que e do lenço das pintinhas? Causadas por ti, ó Rita;
Com quem reparüste tu Por causa da tua treta
A amizade que me tinhas? Tens~te feito menina bonita ...

113 - Estas pobres raparigas,


Que se fiam em cantigas
E andam no mundo sós)
Sã,o por todos desprezadas,
Do mundo abandonadas,
Mas a mim não me faz dó.

114 - O amor do },ome 116 - Ó rosa maravilhosa,


Não foi, nem é; Amargosa na raiz;
É como o sapato Tu dizes que me não queres,
A sair do pé. Eu fui a que te não quis,.

o amor do Jwme 117 - Deixastes*ffI€ de amar a mim


É de pouca dura; Para amar a quem mais tem;
É como a cereja Eu por dinheiro não deixo
Depois de madura. De amar a quem quero bem.

IlS - O meu amor me enjeitou, 118 - Se algum dia era eu


Eu agora sou da roda; No teu prato a melhor sopa,
A culpa tive-a eu Agora sou um veneno,
Em tomar amores tam nova. Resaurgar na tua bôca 2,

Cfr. Revi8ta Lusitana, "01. XXI, pãg. 73, n.i) 125.


2 Cfr. Revista Lusitana, vol. xvu, pág. 320, n.· 204.
TRADIções POPULARES DE SANTO TIRSO

1J9-Acbei~me enfelis no mundo, [28 - Meu amor, nilo vivas triste,


Fu.i p'rõ deserto chorar; Nem morras apaixonado;
Uma voz ouvi dizer: O lugar que tu procuras
- Ê bem feito, torna a amar ... Inda 'stá desocupado.
Pus-me a chorar saudades 129 - Quem canta seu mal espanta,
Ao pé duma. sepultura; Quem chora 0 seu mal aumenta;
Uma voz me respondeu; Eu por ti tenho chorado
- Mal de amor niio tem cura. Lágrirnn.s mais de sessenta.

IZO - Ó meu amor de a1gum dia,. 130 - Passarinhos, meus irmãos,


Ou de alguma ocasião, Ouviae minha canção;
Espalha as tuas saÍld3des Vós tendes- pênas nas asas,
Que as minhas espalhadas 'stilo. Eu tenho-as no coração.

1:2.1 - O meu amor, coitadinho, Passarinhos- inocentes,


A maleita que o leve! Que p~lo ar esvoaçais,
Que me fêz andar bem triste, Suspendei os vossos vôos,
Sendo eu uastante alegre ~ .. Vinde ouvir meus ternos ais.

122 - Meu amor me enjeitou, [31 - Dizeis que o chorar que tira
Eu me dou por enjeitada; As pênas do coração;
Não se me dá que êle me chame Eu ta.nto tenho chorado,
Viúva, sem ser casada. As minhas inda cá 'stão.

123 - Pensavas em me deixares 132 - Papagaio, pêna verde,


Para mim que era desgOsto ... Empresta.me o teu vestido;
Enches~me até de vaidade O teu vestido são pênas,
Serem todos do meu gôsto 1, Em pênas ando metido 2.

124 - Não choro por ti, 6 Rosa, 133 - Tantos "is) tantos suspiros,
Que o jardim mais rosas tem; Que se dão pela calada;
Eu choro -por não encontrar Meu coraç.ão sente tudo,
Quem te queira tanto bem. Minha bôca não diz nada.

125 - Minha maçã vermelhinha, 134 - Água do rio vai turva,


Pícadinha da saraiva; Não fui eu que a turvei;
Se algum dia te quis bem, Agora pOT meus pecados,
Agora tenho-te raiva. Água turva beberei a.

126- No mar largo anda a guerra, [35 - Esta carta foi notada
Que eu bem ouço dar os tiros; Entre a hera e o serpão~,
Eu bem ouço combater Foi escrita com lágrimas,
Os teus ais com meus S\l1i!Ipiros. Um suspiro a fechou.
127 - Deste-me um beijo, choraste, 136-Não chores, amor, não chores]
Que me molhaste meu rosto i Não chores, amor, meu bem;
l>ega lã, já to não quero, A morte da desgraçada
Que mo não deste com gôsto~ Não causa pêna a ninguêm.

1 Cfr. Rnista LWJilana, voL XXI, pág. SI, n.· 244-


• Cfr. Revista Lusitana, vol XXI, pág. 83, n.' '75.
• Cfr. Revista Lusttana, vol XVI~ pág. 334. n.O 387.
88 ReVISTA LIJSITANA

'37 - Não cl>ores, ó des,uçado, 147 - Minha miie mandou·me à fonte,


Que teu chóro nada vale; Eu quebrei a cantarinba;
As lâgrimas que tu cl>oras Ó minha mie, não me bata,
N 110 dã<> remédio a teu mal. Que eu inda sou J1equmi'lllia.
J 38 - Nasci p'ra ser desgraçada, 148 - Três dias antes que eu morra,
Triste, foi a trrin.ha sorte; Hei~de ir p,assear ao adro;
Nasci plra ser desgr~adal Quero ver a sepultura"
Antes Deus me desse a morte. Donde hei.-de ser enterrado.
139 - Já lã vai () sol abaixo, 149 - Já morreu a Delaidinha~
Já lá vai a luz do dia; Já Já vai p'ra se enterrar;
Já lá. vai o meu amor, A quem deixaria ela
Já lá vai minha alegria 1. Seu estôjo de bordar?
140 - As ondas do mar são brancas, Seu estôjo de bordar,
No centro são amarelas i Deixou..o a uma minha mana,
Coitadinho do António, Que lhe rezasse por alma
Que se viu no meio delas! Uma vez cada semana"
14 I - Como te vai, casadinhs, 150 - Já morri, já me enterrei
Ao outro dia da boda? Debaixo de dois torrões i
-Solteirinha quem me dera, Játomei a reótar
Casada nunca eu fôral ••. Co'as tuas orações..
142 - Rapariga, não te cases, Já morri, já me enterrei
Goza~te da boa vida; Debaixo das pedras friasj
Eu já- vi uma casada Jãtomei a racitar 3
A chorar de arrependida. Colas tuas Avé·Marias.

143 - Se quereis casar comigo, '51 - Rapazes, quando eu morrer,


Meu dote são trinta réis j Enterrai·me na capela j
P'ra quem não souber de contas, E botai·me p"r água benta
É um vintêm com dé-rm. Lágrimas duma donzela~
J44 - Para domingo que vem 152 - Meu amor, não morras hoje,
VãQ..se ler os meus pregões; Marre antes segu.nda~feira,
Agora estou resolvida" Que eu quero. andar de lato
Leve o diabo paixões. Vma semana inteira.
145- Minha mie p'ra me casar, '53- Falais de mim, falais doutras,
Prometeu-me quanto tinba; Todes sempre que dizer;
Quando me viu casada: Assim vós te..has a Imgua
- Filha, vai pela som.brinha :a. Como tinta de escrever.
I4/> - Quando eu era pequeninA", 154 - Esta noite choveu oiro,
Inda não engatinbavB, Diamantes orvalhou j
Tinha olhos e Dã<> via, Velo o sol com seus raios
Tinha bôca e Dilo falava. Enxugar quem ae molhou.

, Cfr. Revista Lnsitana, voL xvII, pág. 332, n'';..374-


• Cfr. Revista Lailano, voJ. XVII, Páa. 3330 n. 376. 377·
a Ouvi as duas quadras a pessoas diferentes. Dai as forma.: rttitar e
totitar.
TRADIÇÕES POPULARES DE SANTO TIRSO

155 - Esta noite clwveu papas, 163 - O carvalho que é umdreiro


Trabalharam .as colheres j Dá quatro CM'tas de fruito:
Quem quiser usar de manha Bogalhas e bogalhinhas,
É falar com as mulheres. La",{rils e maçàes de cuco.

156 - Tu pen,sas que és mais do que eu. 164 - Olba o veUlO olha o velho t
j

Por andar roais asseada; Olha o velho, digo, d:igOj


O meu pai nào é tam rico Deixa a porta mal fechada,
Que me traga afidalgad.a. Deixa~me ir dormir contigo.

Tu pensas que es mais do que eu Olha o velho, olha o velho,


Por andar mais asseada; Olha o velho asseado:
\' ai levar a roupa ao dono, Hei-de-te IJYaattw um corno,
~ào na tragas emprestada. Muito bem revolteado.
- Se a trago emprestada, o meu velho diz que tem ...
Não é com o teu dinheiro; Pois êle que há·de ter?
Tenho meu pai no Brasil, P(':e·se a coçar na cabeç<'!,
Sou filha dum b,"asileiro. Acha comos a nascer.
J57 - Se a Espanha fôsse minha Fui dar com o velho morto
Como Ç- dos conspiradores, AI/ire as pedras do lagar;
Mandava-lhe pOr no meio Atirei·lhe c'um fuetro
Uma coroa com flores. Olha o velho ii chorar!
158 - Ó Senhora da Assunção, o men velho era g-rl'sso,
Ó Senhora de Valinhas, Eu mandei~o cavacnr;
Dai fôrças ao Paiva Couceiro O primeiro cavaquinho
P'ra que venha a monarquia. Deu-me lenha p'ró jantar.
159 - Se não fôsse o meu marido 165 - Devagar, devagarinho,
(~le de mim gosta mais), É ben1 tolo quem se lnata i
Eu já lhe teria fugido Vrna noite dá um dia,
P'ró Doutor Sidónio Pais. Não há coisa mais barata.
160- Se não fôsse o meu marido 166 - Ague-ele-rei) peixe frito,
Gostar de mim como gosta, Acode-me aqui, pão branco j
Eu já lhe tinha fugido ComêAo quem quer o come,
Pró Doutor Afonso Costa~ Pagá-lo, custa-me tan10 r
161 - A Senhora Dona Amélia, " me há-de dar
r&; - Você diz que
É uma grande caloteira; Curo pau da sua ramada;
Mandou fazer um vestido, tsse tempo acabou
Não pagou à costureira. Que eu era sua criada .•.
Pagou, pagou, pagou, 168 - O meu pai é cantador
Agora, agora, agora; Minha mãe é cantadeira;
Pagou há um bocadinho, Eu sou filha deles ambos,
Inda não há meia hora. Sigo a mesma carreira.
16:1- Acabaram--se as laranjas, lÓ9 - Se eu soubesse cantar bem,
Agora vêm 08 limões; Como sei estudar cantigas,
O meu amor foi p'rá guerra Fazia ea-pantar os anjos
Combater os alimões. !fanto mais u raparigas.
REVISTA LUSITANA'

[70 - Ó minha «ninha verde, 175 - Minha mie mandou-me à erva


Castanhas do assador; Ao lameira da água doce,
Quem nas quiser- bem assadas, Ó minha mãe, eu feri-me.
Ande-lhes ao redor. Quem me mandou melhor fôsse,

171 - Pu&-:me a contar e contei 176 - Â viola quer que eu ca,nte,


ÂIS~dras duma coluna: A prima quer que eu padeç,a;
Nove e oito, sete e seis, O tocador da viola
Cinco e quatro, três, dois, uma 1. Quer qlle eu por êle endoudeça.

172 - Eu hei~de ir, eu hei-de vir, Iii - Deixa-te estar


Falas te não hei-de dar; Sempre, sempre aqui;
Hei-de-te fazer moer Deixa·te estar,
Como o navio no mar II, Amor, ao pé de mim 3.

173 - Ó minlla c<lninha verde, 178 - Chora, 6 videira,


Verde cana no botão; Chora, 6 \'ide.írinha;
Eu p'ra mim quero quem tenha Chora. ó videira,
Bom génio e bom coração. Chora, ó prima minha.

174 - Ó minha caninha verde, 179 - Desan.ot desafio,


() 'verde cana 16-16-; Desafio à navalha;
Eu son filha da poeira, Nunca desafiei
Onde chego faço pó. Com semelhante canalha.

*
Algumas canções desta colecção aparecem já nos meus
trabalhos auteriores com pequenas variantes.
O povo aplica a diferentes terras as mesmas quadras, subs-
tituindo apenas uma ou outra palavra. E, nas cantigas das ro-
marias, repetem-se muitas vezes as palavras, mudando-se ape-
nas o nome do Santo. Mas tive o maior cuidado em evitar as
repetições, e parece-me que poucas passariam.
Finalizarei, como disse, êste trabalho com um vocabulário
que saírá noutro volume da Revista Lusitana.

Pôrto, 22 de Fevereiro de r919.

AUGUSTO C. PIRES DE LIMA.

1 C/r. Revista Lusitana, ~oL XXI, pág. 87. n.' 344.


li Cfr. a canção n.. 78.
B Estribilho de uma canção.

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