Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Atividade 1
Leia os textos abaixo identificando as problemáticas que eles propõem como reflexão:
TEXTO I
Pausa
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro, fez a barba e
lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches,
quando a mulher apareceu, bocejando:
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram
espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto
era uma máscara escura.
— Temos muito trabalho no escritório — disse o marido, secamente. Ela olhou os sanduíches:
— Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche. A mulher coçava a axila esquerda.
Antes que voltasse à carga, Samuel pegou o chapéu:
— Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava
vagarosamente, ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas. Estacionou o
carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou
apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os
lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um
homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos,
pôs-se de pé.
— Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres
gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um aposento pequeno: uma
cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma bacia cheia d'água, sobre um tripé.
Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e
colocou-o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; comum suspiro, tirou o casaco os
sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou
os dedos no papel de embrulho, deitou-se e fechou os olhos.
Dormir.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido. Samuel
dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por índio montado a cavalo. No
quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as
pernas, corriam.
Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas.
Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a lança.
Esvaindo-se em sangue, molhado de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de
um vapor. Depois, silêncio.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-
se rapidamente e saiu.
Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou, um instante, ficou olhando os guindastes recortados
contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa."
SCLIAR, Moacyr. In: BOSI, Alfredo. O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cutrix, 1997.
TEXTO II
Há no texto uma quebra de lógica no que diz respeito às sonoridades. O silêncio e os ruídos bem
como a ausência de falas causam sensações que nos inquietam. Podemos chamar esses
procedimentos de movimentos aberrantes na arte? Provocam pensamentos? Fale sobre isso.
(...) os homens não deixam de fabricar um guarda-sol que os abriga, por baixo do qual traçam um
firmamento e escrevem suas convenções, suas opiniões; mas o poeta, o artista abre uma fenda
no guarda-sol, rasga até o firmamento, para fazer passar um pouco do caos livre e tempestuoso
e enquadrar numa luz brusca, uma visão que aparece através da fenda, primavera de
Wordsworth, ou maçã de Cézanne, silhueta de Macbeth ou de Ahab. Então, segue a massa dos
imitadores, que remendam o guarda-sol, com uma peça que parece vagamente com a visão; e a
massa dos glosadores que preenchem a fenda com opiniões: comunicação. Será preciso sempre
outros artistas para fazer outras fendas, operar as necessárias destruições, talvez cada vez
maiores, e restituir assim, a seus predecessores, a incomunicável novidade que não mais se
podia ver.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI. Félix. O que é a filosofia? São Paulo: Editora 34, 1997. p. 56.
Texto III.
Leia o trecho retirado do texto “Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral, de Nietzsche” e
relacione ao contexto abordado.
Veja que o filósofo considera metáforas esses modos de pensar que se solidificaram como
verdades. Nesse sentido, é possível considerar, de acordo com o pensamento de Nietzsche, que
tais situações são modos de ver que foram naturalizados e não verdades absolutas?
Elabore um comentário no qual faça uma reflexão sobre os textos lidos relacionando-os a ideia
de construção das subjetividades abordada por Suely Rolnik e o pensamento de Nietzsche
apresentado no item III: “Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral”. O mais importante é:
Referências:
DELEUZE, G; GUATTARI, F. O Que é filosofia? Tradução de Bento Prado Jr. e Alberto Alonso
Muñoz. São Paulo: Editora 34, 2010.
NIETZSCHE, F. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral. São Paulo: Hedra, 2007.
PELBART, P. P. Políticas da vida, produção do comum e a vida em jogo... Saúde soc., São
Paulo, v. 24, supl. 1, p. 19-26, jun. 2015. Disponível em: Políticas da vida, produção do comum
e a vida em jogo... (scielo.br). (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
12902015000500019&tlng=pt) Acesso em: 10 dez. 2020.
Atenção
- Verifique os critérios deste fórum e leia o documento ‘’Critérios do Fórum Avaliativo” disponível na abertura da
disciplina.
- As postagens devem ser autorais, podendo utilizar citações de acordo com a norma da ABNT.
- Em caso de plágio o comentário não será considerado para nota.
- Respostas como concordo/discordo sem embasamento não serão consideradas para nota.
- No caso de postagens agressivas ou desrespeitosas com os demais participantes, o aluno será advertido e a
postagem apagada.