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EXERCÍCIOS SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM

(Unesp SP/2021)
Leia o trecho do conto- prefácio “Hipotrélico”, que integra o livro Tutameia, de João Guimarães Rosa.
Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em
todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prática, tome-
se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo
pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de
palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos,
começa ele por se negar nominalmente a própria existência.
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde,
confunde, quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada canto do espírito, e que se
refestela com os bons hábitos estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo a empinar
vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia
achar que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência relegar o progresso no passado.
[…]
Já outro, contudo, respeitável, é o caso — enfim — de “hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa,
e que vem do bom português. O bom português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente, mas que,
quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.
Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente:
— E ele é muito hiputrélico…
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto:
— Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
— Como?!… Ora… Pois se eu a estou a dizer?
— É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o
outro, peremptório:
— O senhor também é hiputrélico…
E ficou havendo.
(Tutameia, 1979.)
O efeito cômico do texto deriva, sobretudo, da ambiguidade da expressão
“indivíduo pedante”.
“necessidades íntimas”.
“indesejável maçante”.
“bom português”.
“homem-de-bem”.

(ENEM/2016/3ª Aplicação)
O adolescente

A vida é tão bela que chega a dar medo.

Não o medo que paralisa e gela,


estátua súbita,
mas

esse medo fascinante e fremente de curiosidade


[que faz
o jovem felino seguir para frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.

Medo que ofusca: luz!

Cumplicentemente,
as folhas contam-se um segredo
velho como o mundo:

Adolescente, olha! A vida é nova…


A vida é nova e anda nua
– vestida apenas com o teu desejo!
QUINTANA, M. Nariz de vidro. São Paulo: Moderna, 1998.
Ao abordar uma etapa do desenvolvimento humano, o poema mobiliza diferentes estratégias de
composição. O principal recurso expressivo empregado para a construção de uma imagem da
adolescência é a
hipérbole do medo.
personificação da vida.
antítese entre juventude e velhice.
metáfora da estátua.
comparação entre desejo e nudez.

(Unifor CE/2021)
Maniçoba, 19 de junho de 1911. Minha mãe: Aqui cheguei em paz e livramento, graças a Nosso
Senhor Jesus Cristo. Isto aqui é bom como o diabo; acorda-se às cinco da manhã, leva-se o dia lendo,
fumando, comendo e rezando; dorme-se às nove horas da noite. Uma vida de anjo. Quando chegar
aí – está compreendendo? – hei de ter o corpo pesando 70 quilos e a alma leve de pecados, tão leve
como vagons que levam material para a construção da estrada de ferro de Palmeira.
Graciliano Ramos DISCINI. Comunicação nos Textos. São Paulo: Contexto, 2005, p.180.
Analise as seguintes afirmações:
I. O emprego do itálico, na primeira linha, sugere que a expressão “paz e livramento” é um neologismo.
II. Na expressão “Isto aqui é bom como o diabo”, encontra-se uma comparação paradoxal.
III. No trecho “Em uma vida de anjo”, identifica-se uma ironia.
IV. Em “e a alma leve de pecados, tão leve como vagons…” encontra-se uma metonímia.
É correto apenas o que se afirma em
I, II e III.
II e IV.
II e III.
III e IV.
I e II.

(ENEM/2020)
Eu tenho empresas e sou digno do visto para ir a Nova York. O dinheiro que chove em Nova York é
para pessoas com poder de compra. Pessoas que tenham um visto do consulado americano. O
dinheiro que chove em Nova York também é para os nova-iorquinos. São milhares de dólares. […]
Estou indo para Nova York, onde está chovendo dinheiro. Sou um grande administrador. Sim, está
chovendo dinheiro em Nova York. Deu no rádio. Vejo que há pedestres invadindo a via onde trafega
o meu carro vermelho, importado da Alemanha. Vejo que há carros nacionais trafegando pela via onde
trafega o meu carro vermelho, importado da Alemanha. Ao chegar em Nova York, tomarei
providências.
SANT’ANNA, A. O importado vermelho de Noé. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
As repetições e as frases curtas constituem procedimentos linguísticos importantes para a
compreensão da temática do texto, pois
criticam os estereótipos sociais das visões de mundo elitistas.
expressam a futilidade do discurso de poder e de distinção do narrador.
disfarçam a falta de densidade das angústias existenciais narradas.
explicitam a ganância financeira do capitalismo contemporâneo.
ironizam a valorização da cultura norte-americana pelos brasileiros.

(PUC GO/2019)
Tanto na comunicação cotidiana quanto na produção de textos literários, o emprego da conotação,
em conjunto com a denotação, contribui para um uso mais eficiente da língua.
Considere o texto a seguir:
Os guerrilheiros dispersaram para avançar. A serra mecânica – abelha furando um morro de salalé –
continuava a sua tarefa. Havia o mecânico, que acionava a serra, e o ajudante, com a lata de gasolina
e de óleo; mais atrás, quatro operários com machados. Todos tão embebidos na tarefa que não
repararam nas sombras furtivas. Nem protestaram, quando viram os canos das pépéchás virados
para eles. Os olhos abriram-se, o imenso branco dos olhos comendo a cara toda, a boca aberta num
grito que não ousou sair e ficou vibrando interiormente. O Comissário e Ekuikui avançaram para a
serra. Ekuikui encostou o cano da arma às costas do mecânico:
— Não mexe!
O mecânico olhou por cima do ombro e compreendeu rapidamente a situação. Fez parar a serra. O
silêncio que se seguiu furou os ouvidos dos guerrilheiros, subiu às copas das árvores e ficou pairando,
misturado à neblina que encobria o Mayombe.
— Todos para aqui, vamos! – ordenou o Comissário.
Juntaram os prisioneiros, revistaram-nos para procurar armas: retiraram dois canivetes.
— Há outros? – perguntou o Comissário.
— Ali – murmurou o mecânico, apontando o sítio para onde se dirigira o Chefe de Operações.
— Soldados?
— Só no quartel. A dez quilómetros.
— O branco?
— Está no camião.
— Vamos. E não tentem fugir, ninguém vos fará mal.
O cortejo partiu em direção ao ponto de encontro. Muatiânvua vigiava o mecânico, que carregava a
serra. Os outros trabalhadores tremiam.
(PEPETELA, pseud. Mayombe. 5. ed. Lisboa: Publicações, Dom Quixote, 1993, p. 15.)
Analise atentamente a linguagem das informações apresentadas nos itens a seguir:
I. “Nem protestaram, quando viram os canos das pépéchás virados para eles. Os olhos abriram-se, o
imenso branco dos olhos comendo a cara toda, a boca aberta num grito que não ousou sair e ficou
vibrando interiormente.”
II. “Fez parar a serra. O silêncio que se seguiu furou os ouvidos dos guerrilheiros, subiu às copas das
árvores e ficou pairando, misturado à neblina que encobria o Mayombe.”
III. “— Ali – murmurou o mecânico, apontando o sítio para onde se dirigira o Chefe de Operações.”
IV. “O cortejo partiu em direção ao ponto de encontro. Muatiânvua vigiava o mecânico, que carregava
a serra. Os outros trabalhadores tremiam.”
Em quais dos trechos destacados o paroxismo das sensações é explorado conotativamente? Assinale
a opção correta:
III e IV.
II e III.
I e IV.
I e II.

(Unicamp SP/2021)
Entre todas as palavras do momento, a mais flamejante talvez seja desigualdade. E nem é uma boa
palavra, incomoda. Começa com des. Des de desalento, des de desespero, des de
desesperança. Des, definitivamente, não é um bom prefixo.
Desigualdade. A palavra do ano, talvez da década, não importa em que dicionário. Doravante
ouviremos falar muito nela.
De-si-gual-da-de. Há quem não veja nem soletre, mas está escrita no destino de todos os busões da
cidade, sentido centro/subúrbio, na linha reta de um trem. Solano Trindade, no sinal fechado, fez seu
primeiro rap, “tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome”, somente com esses
substantivos. Você ainda não conhece o Solano? Corra, dá tempo. Dá tempo para você entender que
vivemos essa desigualdade. Pegue um busão da Avenida Paulista para a Cidade Tiradentes, passe o
valetransporte na catraca e simbora – mais de 30 quilômetros. O patrão jardinesco vive 23 anos a
mais, em média, do que um humaníssimo habitante da Cidade Tiradentes, por todas as razões sociais
que a gente bem conhece.
Evitei as estatísticas nessa crônica. Podia matar de desesperança os leitores, os números rendem
manchete, mas carecem de rostos humanos. Pega a visão, imprensa, só há uma possibilidade de
fazer a grande cobertura: mire-se na desigualdade, talvez não haja mais jeito de achar que os pontos
da bolsa de valores signifiquem a ideia de fazer um país.
(Adaptado de Xico Sá, A vidinha sururu da desigualdade brasileira. Em El País,
28/10/2019. Disponível
em https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/28/opinion/1572287747_637859.html?fbclid=IwAR1VPA7
qDYs1Q0Ilcdy6UGAJTwBO_snMDUAw4yZpZ3zyA1ExQx_XB9Kq2qU. Acessado em 25/05/2020.)
A crônica instiga o leitor a ficar atento à desigualdade na cidade de São Paulo. Assinale a alternativa
que identifica corretamente os recursos expressivos (estilísticos e literários) de que se vale o autor.
A desigualdade se mostra na expectativa de vida dos moradores de bairros bem situados e
periferias: alusão.
A desigualdade está escrita nas linhas de trens e ressoa nos versos de Solano Trindade:
onomatopeia.
Na cobertura da imprensa, números da desigualdade perdem para pontos da bolsa de valores:
ambiguidade.
No destino dos transportes coletivos no sentido centro subúrbio é possível viver a desigualdade:
eufemismo.

(Unicamp SP/2021)
“Repartimos a vida em idades, em anos, em meses, em dias, em horas, mas todas estas partes são
tão duvidosas, e tão incertas, que não há idade tão florente, nem saúde tão robusta, nem vida tão
bem regrada, que tenha um só momento seguro.”
(Antonio Vieira, “Sermão de Quarta-feira de Cinza – ano de 1673”, em A arte de morrer. São Paulo:
Nova Alexandria, 1994, p. 79.)
Nesta passagem de um sermão proferido em 1673, Antônio Vieira retomou os argumentos da
pregação que fizera no ano anterior e acrescentou novas características à morte. Para comover os
ouvintes, recorreu ao uso de anáforas.
Assinale a alternativa que corresponde ao efeito produzido pelas repetições no sermão.
A repetição busca demonstrar aos fiéis o temor de uma vida longeva.
A repetição busca sensibilizar os fiéis para o desengano da passagem do tempo.
A repetição busca demonstrar aos fiéis a insegurança de uma vida cristã.
A repetição busca sensibilizar os fiéis para o valor de cada etapa da vida.

(FCM MG/2020)
DISTÂNCIA TEM CURA
Em quase trinta anos atendendo doentes em cadeias, jamais ouvi um desaforo, uma palavra áspera,
uma reivindicação mal-educada. Às vezes, fica difícil acreditar que pessoas tão respeitosas com o
médico tenham cometido os crimes que constam de seus prontuários. Profissão caprichosa a
medicina, capaz de criar empatia mútua entre dois estranhos em questão de minutos.
A tendência natural é a de nos aproximarmos de pessoas da mesma classe social, com gostos, ideias,
posições políticas e estilos de vida semelhantes aos nossos. Embora esse formato de convivência
nos traga conforto, não abre espaço para o contraditório nem dá acesso a modos de pensar e de viver
radicalmente diferentes. Impossível imaginar como eu chegaria aos 73 anos se não fosse a
experiência nos presídios, mas sei que saberia menos medicina e desconheceria aspectos da alma
humana aos quais só tive acesso porque me dispus a chegar perto daqueles que a sociedade tranca
atrás de grades.
O fascínio infantil pelo mundo marginal que me conduziu ao Carandiru ainda persiste. Não faço esse
trabalho voluntário que me toma um período da semana há tantos anos por motivações religiosas ou
engajamento ideológico de qualquer natureza — sou avesso a religiões e ideologias —, mas porque
posso dispor desse tempo e manter aceso o interesse pela complexidade das interações humanas,
sem o qual viver perde o encanto.
(VARELLA, Drauzio. Prisioneiras. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, ed. Ebook.)
Houve elipse de um verbo de ligação na alternativa:
“O fascínio infantil pelo mundo marginal que me conduziu ao Carandiru ainda persiste.”
“Profissão caprichosa a medicina, capaz de criar empatia mútua entre dois estranhos em questão
de minutos.”
“A tendência natural é a de nos aproximarmos de pessoas da mesma classe social, com gostos,
ideias, posições políticas e estilos de vida semelhantes aos nossos.”
“Às vezes, fica difícil acreditar que pessoas tão respeitosas com o médico tenham cometido os
crimes que constam de seus prontuários.”

(ENEM MEC/2012)

Disponível em: http://www.ivancabral.com.


Acesso em: 27 fev. 2012.
O efeito de sentido da charge é provocado pela combinação de informações visuais e recursos
linguísticos. No contexto da ilustração, a frase proferida recorre à
polissemia, ou seja, aos múltiplos sentidos da expressão “rede social” para transmitir a ideia que
pretende veicular.
ironia para conferir um novo significado ao termo “outra coisa”.
personificação para opor o mundo real pobre ao mundo virtual rico.
antonímia para comparar a rede mundial de computadores com a rede caseira de descanso da
família.
homonímia para opor, a partir do advérbio de lugar, o espaço da população pobre e o espaço da
população rica.

(ENEM/2019)
Há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para
a cortada. O jogo de tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo como
bolha de sabão. O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha,
sempre perde.
Já no frescobol é diferente. O sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois sabe-se
que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. Assim cresce o amor. Ninguém ganha para que os dois
ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim…
ALVES, R. Tênis X Frescobol. As melhores crônicas de Rubem Alves. Campinas: Papirus, 2012.
O texto de Rubem Alves faz uma analogia entre dois jogos que utilizam raquetes e as diferentes
formas de as pessoas se relacionarem afetivamente, de modo que
o frescobol e o tênis indicam, respectivamente, situações de competição e cooperação, o que
ilustra os diferentes sonhos das pessoas no relacionamento.
o frescobol indica um jogo em que a competição prevalece, o que simboliza um relacionamento
em que uma pessoa busca destruir o sonho da outra.
o frescobol indica um jogo em que a cooperação prevalece, o que simboliza o compartilhamento
de sonhos entre as pessoas no relacionamento.
o tênis indica um jogo em que a competição é predominante, o que representa um sonho comum
no relacionamento entre pessoas.
o tênis indica um jogo em que a cooperação predomina, o que representa o distanciamento na
relação entre as pessoas.

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