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emprego das técnicas p
rojetivas e expressivas no 
psicodiagnóstico

Aula 2

Profa. Dra. Larissa de Oliveira e


Ferreira
Psicodiagnóstico
É um procedimento científico de investigação e intervenção clínica,
limitado no tempo,
que emprega técnicas e/ou testes com o propósito de avaliar uma ou mais características
psicológicas,
visando um diagnóstico psicológico (descritivo e/ou dinâmico),
construído à luz de uma orientação teórica que subsidia a compreensão da situação
avaliada,
gerando uma ou mais indicações terapêuticas e encaminhamentos
(Hutz et al., 2016)
OPERACIONALIZAÇÃO

1. Determinar motivos do encaminamento, queixas e outros problemas iniciais;


2. Levantar dados de natureza psicológica, social, médica, profissional e/ou escolar
etc. sobre o sujeito e pessoas significativas, solicitando eventualmente
informações de fontes complementares;
3. Colher dados sobre a história clínica e história pessoal, procurando reconhecer
denominadores comuns com a situação atual, do ponto de vista psicopatológico e
dinâmico;
4. Realizar o exame do estado mental do paciente;
5. Levantar hipóteses iniciais e definir objetivos do exame;
6. Estabelecer um plano de avaliação;
7. Estabelecer um contrato de trabalho;
8. Administrar testes e técnicas psicológicas;
9. Levantar dados quatitativos e qualitativos;
10. Selecionar, organizar e integrar todos os dados significativos para os objetivos do
exame;
11. Comunicar resultados (entrevista devolutiva, relatório, laudo, parecer e outros
informes).
Cabe ao psicólogo
Realizar a avaliação da pertinência do diagnóstico
Realizar o diagnóstico diferencial
Identificar forças e fraquezas o paciente e de sua rede de atenção visando
subsidiar um projeto terapêutico
Ampliar a compreensão do caso por meio da elaboração de um entendimento
dinâmico, alicerçada em teoria psicológica
Refletir sobre encaminhamentos necessários ao caso.
Mas onde entra a técnica
projetiva?
Posso usar em casos de hipótese de TDAH?!

Hipóteses de Psicose?!

Hipóteses de Transtorno do Humor?!


Vamos estudar alguns
casos?!
Vinheta clínica
TM, 55 anos, solteira, ensino superior incompleto, separada, descendência europeia.

Vem trazida pela família, logo após alta de hospital psiquiátrico, com diagnóstico de
transtorno bipolar, em uso de lítio e clorpromazina.
Havia sido hospitalizada pela família, que achara que ela havia perdido o juízo e inventava
coisas (histórias), como, por exemplo, que membros de uma família de sua região e a Igreja
Católica queriam matar sua mãe e haviam colocado uma colostomia nesta e passado pó-de-
mico em seu corpo, que a vigiavam por câmeras, que não conseguia trabalhar devido a essa
perseguição.
Referia uso de Cannabis desde o final da adolescência e que haviaparado o uso havia um mês.
História da doença atual: Iniciou uso de Cannabis aos 18 anos, no começo do curso superior, que
abandonou aos 24 anos, sem conseguir se formar.
Trabalhou alguns meses como instrumentadora cirúrgica em um hospital de servidores públicos, tendo
abandonado o emprego para se casar com um dependente químico, que a levou para morar em outro país.
Dos 25 aos 31 anos, viveu nas ruas, fazendo trabalho ambulante de venda de incenso, e teve dois filhos, o
primeiro aos 29 anos e o segundo aos 31.
Nessa idade, a família foi buscá-la, depois de ela ter pedido, pois se sentia perseguida pelo marido, tendo
saído de casa para morar debaixo de uma ponte, abandonando os filhos e o marido. Sem levar os filhos, foi
morar em sua região natal, junto da família, onde retomou o comércio ambulante e casou-se com um pastor
evangélico, com o qual teve dois filhos.

Aos 40 anos, separou-se por iniciativa do marido, que alegava que ela mentia e usava maconha. Na época,
achava que o marido pensava que ela roubava papéis da igreja e por isso havia contratado gente para vigiá-
la e que ele dava ouvido a pessoas que “inventavam coisas” e que a deixaram com “má fama”.
Dos 40 aos 55 anos seguiu morando com a família (mãe e irmã), semconseguir mais trabalhar nem cuidar
dos filhos, consumindo Cannabisde forma regular, e sem tratamento psiquiátric
História passada: Nasceu em uma família de agricultores de origem italiana, sendo
a mais nova de quatro irmãos.
Sempre foi tida como tímida e quieta, e lembra que, aos 11 anos, sofreu abuso
sexual de um conhecido da família, com “toque” no corpo.
A partir dessa ocorrência, passou a ter medo de relações sexuais, o que perdurou ao
longo da adolescência.
Lembra que, na época, tinha dificuldade em entender metáforas e frases com
“segundo sentido”, o que dificultava que ficasse à vontade em situações sociais.
Também lembra que o uso de Cannabislhe dava mais tranquilidade para
seaproximar das pessoas.
Exame do estado mental: Alerta, com afeto embotado, baixo autocuidado em higiene e
vestimenta, pensamento de curso lento em alguns momentos da avaliação, desorganizado ao
tentar explicar a sensação de perseguição e as acusações da família, com perda de curso de
associações, ideias de conteúdo delirante de perseguição a ela e a mãe, sem entendimento da
gravidade e do prejuízo pessoal, minimizando o uso e o impacto do uso de Cannabis em sua
vida, mentindo arespeito e, quando confrontada, banalizando e minimizando o uso.

Exames: Sangue, eletrólitos, transaminases, triglicerídeos, hormônios de tireoide e


proteína C reativa normais. Cocaína negativa na urina, e duas amostras positivas de
Cannabis
Psicodiagnóstico:
Foram realizadas duas entrevistas clínicas, uma com a paciente junto com sua irmã, que a
acompanhou durante o processo de avaliação, e outra somente com TM.
Nesse primeiro momento, já foram identificados aspectos psicóticos paranoides, com
delírios de perseguição, que alteravam sua percepção da realidade e interferiam de forma
significativa no funcionamento familiar.

Na avaliação da cognição, realizada por meio da WAIS-III, a paciente apresentou


funcionamento cognitivo médio (QI total = 95), com maior habilidade na modalidade
verbal da inteligência (QI = 105), que diz respeito ao repertório de conhecimento
adquirido e à capacidade de fluência verbal, do que na área de execução (QI = 85), que é
uma medida de raciocínio fluido, processamento visuoespacial, atenção para detalhes
eintegração visuomotora.
No HTP, os desenhos da figura humana, da árvore e da casa apontaram para
dificuldades no ajustamento ao ambiente, relacionadas a fragilidade egoica e
alteração no contato com a realidade.

Os tamanhos aumentados dos desenhos e algumas características bizarras indicaram


aspectos psicóticos.

Os dados do inquérito apresentavam conteúdos paranoides e estavam contaminados


com delírios de perseguição, ao mesmo tempo em que remetiam a sentimentos de
desamparo e solidão e a dificuldades na autonomia compatíveis com a realidade da
paciente nesse momento de maior restrição e dependência.
Na técnica de Rorschach, a paciente apresentou aumento bastante significativo de
respostas de detalhe comum em detrimento de respostas globais, indicando dificuldade
importante na percepção objetiva da realidade e preocupação demasiada com minúcias
que prejudicam a visão de conjunto.

A ausência de respostas cromáticas remeteu a dificuldades nos relacionamentos sociais e


na adaptação ao meio ambiente. Por fim, a prevalência de conteúdos animais em
detrimento de conteúdos humanos apontou a presença de aspectos regressivos e
dificuldades no uso de recursos de controle emocional. Fenômenos especiais, como a
ideia de referência e autorreferência, indicaram confusão emocional e dificuldades na
percepção e contato com a realidade
Na integração dos domínios do NEO PI-R, TM apresentou escores altos no domínio de
neuroticismo, mais especificamente nas facetas de depressão, raiva/hostilidade e
vulnerabilidade, relacionadas a predisposição a tristeza e solidão, tendência a vivenciar e
expressar sentimentos de raiva e dificuldades de lidar com o estresse, tornando-se
dependente.

Os baixos escores em extroversão e conscienciosidade apontam para dificuldades


importantes nos relacionamentos interpessoais e na adaptação ao ambiente.
Discussão:
Chama atenção o caso de uma paciente com psicose paranoide de longa evolução e
deterioração progressiva, com múltiplos casamentos e filhos a despeito dos sintomas,
com uso de Cannabis antecedendo a psicose e mantido ao longo de toda a vida, o que
pode ter influenciado no desencadeamento e no agravamento do transtorno.
Adicionalmente, a família considerava que havia mais um problema de personalidade do
que uma doença psiquiátrica, o que resultou em muito pouca experiência com tratamento
psiquiátrico, a despeito da presença de psicopatologia grave, porém pouco
comportamento disruptivo, de agressividade ou agitação, e presença de um discurso
vago e restrito, junto com comportamento que parecia mais contestação de autoridade do
que perda de autocrítica.

Daí a importância da avaliação psiquiátrica unida ao psicodiagnóstico para maior


elucidação dos sintomas e identificação adequada do tipo de transtorno psicótico. Os
resultados do processo de avaliação foram fundamentais para posterior psicoeducação da
paciente e sua família e para o tratamento de forma a reduzir os sintomas psicóticos e
prejuízos associados e aumentar a qualidade de vida
Agora vocês !!!
Em grupos de 5 leiam os casos – 20 minutos

Discussão dos casos.

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