Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
pensamento, em busca de explicações que são mais
adequadas para os fenômenos de seus pacientes; também
adaptam práticas de "role playing", originadas no
psicodrama de Moreno; ou práticas derivadas das teorias
de aprendizagem social de Bandura, da teoria cognitiva de
Piaget, ou de Vygotsky e das demais teorias de
aprendizado.
15/06/1985
Jorge Forbes
Esta história se passou entre duas pessoas que hoje repartem essa mesa, o
Professor Carol Sonnenreich e eu.
“É claro que o jovem era ele e que o psiquiatra era eu...”.
Junto essa pequena história com outra, com o que Lacan diz numa
conferência intitulada “Freud no século”. Essa conferência foi por ele dada
em um Serviço de Psiquiatria em Paris, no ano de 1956, comemorando os
100 anos de nascimento de Freud. Lacan ali se dirigia aos jovens
psiquiatras e diz que o fazia com muito prazer, sobretudo porque eles não
haviam ainda sido analisados, pois uma vez que o fossem, rapidamente
aprenderiam que suas inteligências nada mais eram que “resistências” e
que, inclusive, certa psicanálise havia para isso cunhado um termo:
intelectualização. Faço esse pequeno preâmbulo a título de gancho do que
me proponho tratar. Alguns aspectos das relações Psicanálise e Psiquiatria.
Tomarei pelo viés da clínica psicanalítica, tentando definir certos pontos
fundamentais. Não me preocuparei no cotejo minucioso com a clínica
psiquiátrica, não é essa minha intenção e entre outros motivos, dado o
grande número de psiquiatras aqui presentes, se for o caso, que o façamos
de viva voz. Se fiz esse preâmbulo, foi para ajudar a pensar que podemos
falar em clínica psicanalítica, sem que para tanto ataquemos a nossa
inteligência. Há razão na psicanálise, conforme Sonnenreich e Lacan, em
momentos diversos anunciaram.
É óbvio que entendo isso falso pelos dois lados. Como já disse, continuo
pelo lado da psicanálise. Entendo que hajam claras diferenças entre
psicanálise e psiquiatria, mas não por isso deveria escamotear que a
psicanálise é herdeira da psiquiatria. Talvez, uma filha pródiga, talvez uma
filha querida, a opinião dos pais varia, mas herdeira da psiquiatria. Lacan,
ao abrir seu mais famoso livro, os “Escritos”, faz uma homenagem a uma
só pessoa, à que se refere como “meu mestre”, Clérambault, que conceituou
o automatismo mental, que Lacan pode desenvolver o seu tão conhecido
“Outro que fala em mim”. Durante toda sua vida, ao contrário do que
alguns poderiam imaginar, Lacan nunca abandonou o hospital psiquiátrico
e mesmo até o recomendava aos que se pretendiam analistas; esse defrontar
com a loucura, momento maior do inconsciente a céu aberto.
Poderíamos, é claro, também falar de Freud, que chega à psicanálise pelos
pontos interrogantes que a medicina em que estava inscrito lhe apresentava.
As diferenças, portanto, entre psicanálise e psiquiatria, a meu ver, não
podem ser feitas sumariamente, numa partição consultório e hospital. Não
me estendo mais sobre os exemplos de Freud, ou Lacan, gostaria agora de
voltar a abordar, o que de genérico pode ser pensado em relação à clínica
psicanalítica, ou clínica do significante, como antes referida; certos pontos
que a serem precisados, talvez possam por vocês ser cotejados, com a
clínica psiquiátrica. Me referirei a três momentos da análise: a entrada, o
percurso e o fim.
A Entrada em Análise
A entrada em análise é feita por uma demanda, por uma demanda dirigida
ao analista. Normalmente, essa demanda se apresenta como um pedido de
restituição de um saber, que falta para aliviar o do que a pessoa sofre.
Talvez seja essa a forma mais simples de introduzir para vocês, o que
Lacan chamou, que sob a transferência, o analista ocupa a posição de
Sujeito Suposto Saber. Essa falta desse saber, que gera o sofrimento, é que
podemos juntar com a famosa concepção, que a clínica é o “real” enquanto
o impossível a suportar. O impossível a suportar que se articula em sintoma
e daí o sofrimento.
O termo “psi”, bastante utilizado pelas pessoas, muitas vezes pode ser
permeado de confusão quanto aos significados, principalmente quando se
refere aos profissionais indicados por este termo: psiquiatra, psicólogo ou
psicanalista.
O psiquiatra é um profissional da medicina que após ter concluído sua
formação, opta pela especialização em psiquiatria. Esta é realizada em 2 ou
3 anos e abrange estudos em neurologia, psicofarmacologia e treinamento
específico para diferentes modalidades de atendimento, tendo por objetivo
tratar as doenças mentais.