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CONCEITUALIZAÇÃO

COGNITIVA (PARTE I)

Autora: Maria de Fátima Gaspar Vasques

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INTRODUÇÃO

A conceitualização cognitiva é um mapa que orienta o terapeuta na


explicação dos problemas do paciente, favorecendo a elaboração de
um tratamento focado, organizado e eficaz. Ela tem início no começo
do tratamento e passa por formulações até o final. Por meio da
conceitualização, são desenvolvidas hipóteses sobre as razões do
comportamento do paciente e sobre o que sustenta aquela maneira de
pensar e agir (Freeman, 1998).

Para que uma conceitualização de caso seja eficaz, é necessário que o


terapeuta investigue determinados aspectos do cliente, tais como
diagnóstico, problemas atuais, fatores precipitantes, predisposições
genéticas e familiares, pensamentos automáticos (PAs), crenças
centrais e intermediárias e comportamento.

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BASES PARA A
CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA

O processo de conceitualização de caso está embasado na premissa


básica do modelo cognitivo, segundo a qual o comportamento e as
emoções das pessoas são influenciados pela forma como apreendem
as situações. São as interpretações que o sujeito faz dos eventos que
determinam como ele se sente, e não o evento em si (Beck, 1997).
Pessoas com transtornos psicológicos, com frequência, interpretam
erroneamente situações neutras ou mesmo positivas.

Os PAs dessas pessoas são tendenciosos. Examinando e corrigindo


erros de pensamento, muitas vezes o paciente sente-se melhor.

Pensamentos automáticos são um fluxo de pensamentos que coexiste


com um pensamento mais manifesto. Esses pensamentos não são
peculiares a pessoas com angústia. Trata-se de uma experiência
comum a todos (Beck, 1997).

Os PAs são usualmente breves, e o paciente está mais ciente da emoção


do que do pensamento em si. Eles parecem surgir espontaneamente e
não estão embasados em reflexão ou deliberação, podendo ser
verbalizados ou manifestar-se apenas mentalmente. Os pacientes
normalmente aceitam esses pensamentos como verdadeiros, sem
reflexão ou avaliação, mas eles devem ser analisados de acordo com
sua validade e sua utilidade.

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Os PAs surgem de fenômenos cognitivos mais duradouros, os
quais chamamos de crenças . Na relação com os cuidadores, as
pessoas desenvolvem determinadas crenças — que surgem na
infância — sobre si mesmas, as outras pessoas e o mundo.

As crenças centrais são entendimentos tão fundamentais e profundos


que as pessoas frequentemente não as mencionam sequer para si
mesmas. Essas crenças são globais, rígidas e supergeneralizadas. As
crenças centrais influenciam o desenvolvimento de uma classe
intermediária de crenças, que consiste em atitudes, regras e suposições
chamadas de crenças intermediárias. As crenças intermediárias
influenciam a visão que o paciente tem da situação, que, por sua vez,
influencia como ele pensa, sente e se comporta (Figura 1).

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Figura 1: Modelo cognitivo.
Fonte: Adaptada de Beck (1997).

O terapeuta cognitivo está particularmente interessado no nível


de pensamento que opera simultaneamente com o nível mais
óbvio e superficial do pensamento (Beck, 1997).

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DIAGRAMA DE
CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA

É fundamental conceituar um paciente em termos cognitivos para


determinar a trajetória mais eficiente e efetiva no tratamento. O
diagrama da conceitualização cognitiva, apresentado na Figura 2,
fornece uma base de previsibilidade sobre o paciente.

Toda a construção do diagrama é fundamentada no raciocínio


hipotético-dedutivo, pois ele tentará explicar todo o funcionamento do
paciente a partir de hipóteses que serão geradas durante os
atendimentos.

Figura 2: Diagrama de conceitualização cognitiva.


Fonte: Beck (1997).

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Para iniciar a elaboração do diagrama de conceitualização, é necessário
fazer uma avaliação adequada da problemática do paciente. Assim,
recomenda-se escolher três situações, que serão o foco inicial do
tratamento. Ao avaliar essas situações, deve-se prestar atenção às
interpretações que o paciente faz de cada uma delas, verificando os
PAs que promovem a eliciação do padrão disfuncional.

A partir dos PAs, verificam-se as respostas emocionais, fisiológicas e


comportamentais. Por meio desse processo, o terapeuta poderá
identificar as principais estratégias compensatórias do paciente e
perceber suas crenças intermediárias para chegar às crenças centrais.

Segundo Knapp (2004) e Wright et al (2008), para a conceitualização


cognitiva, é necessário identificar:

• Diagnóstico e sintomas.
• Aprendizagens e experiências da infância, bem como outras
influências do desenvolvimento que contribuem para os
problemas atuais.
• Problemas atuais, fatores estressores e questões situacionais e
interpessoais.
• Fatores biológicos, genéticos e familiares.
• PAs, crenças intermediárias e centrais, emoções e
comportamento.
• Visão de si, do outro e do mundo.

7
CONCLUSÃO

O processo de conceitualização cognitiva envolve uma ampla avaliação


do paciente, a qual permite organizar todos os dados provenientes de
suas dificuldades atuais, a fim de estruturar um tratamento focado,
organizado e eficaz para as situações problemáticas.

A conceitualização cognitiva é uma ferramenta terapêutica eficaz para


a mudança cognitiva, comportamental e afetiva. Ela possibilita o
raciocínio hipotético-dedutivo com relação ao paciente, permitindo
gerar hipóteses sobre o caso do paciente e testá-las.

Esse mapa permite estabelecer a relação terapêutica ou, em outras


palavras, o empirismo colaborativo.

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REFERÊNCIAS

Beck JS. Terapia cognitiva: teoria e prática. porto Alegre: Artmed; 1997.

Freeman A. O desenvolvimento da conceitualização de tratamento na


terapia cognitiva. In: Freeman A, Dattilio FM. Compreendendo a
terapia cognitiva. São Paulo: Psy; 1998. p. 29–40.

Knapp P. Princípios fundamentais da terapia cognitiva. In: Knapp P,


organizador. Terapia cognitiva comportamental na prática
psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed; 2004. p. 19–41.

Wright JH, Basco MR, Thase ME. Aprendendo a terapia cognitivo-


comportamental. Porto Alegre: Artmed; 2008.

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