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Aula - TCC: pressupostos básicos do emagrecimento

INTRODUÇÃO À TCC E TRATAMENTO

Aaron Beck desenvolveu uma forma de psicoterapia, no início da década de 1960, a


qual denominou originalmente “terapia cognitiva”. O termo “terapia cognitiva” hoje é
usado por muitos profissionais da área como sinônimo de “Terapia
Cognitivo-Comportamental”. Para o tratamento da depressão, Beck concebeu uma
psicoterapia estruturada, de curta duração, voltada para o presente, direcionada
para a solução de problemas atuais e a modificação de pensamentos e
comportamentos disfuncionais (inadequados e/ou inúteis) (BECK, 1964).

Desde aquela época, ele e outros autores tiveram sucesso na adaptação dessa
terapia a populações surpreendentemente diversas e com uma ampla abrangência
de transtornos e problemas. Essas adaptações alteraram o foco, as técnicas e a
duração do tratamento. Porém, os pressupostos teóricos em si permaneceram
constantes.

Em todas as formas de Terapia Cognitivo-Comportamental, derivadas do modelo de


Beck, o tratamento está baseado em uma formulação cognitiva, nas crenças e
estratégias comportamentais que caracterizam um transtorno específico (ALFORD;
BECK, 1997). O terapeuta procura produzir de várias formas uma mudança
cognitiva (modificação no pensamento e no sistema de crenças do paciente) para
produzir uma mudança emocional e comportamental duradoura. Beck lançou mão
de inúmeras e diferentes fontes quando desenvolveu essa forma de psicoterapia,
incluindo os primeiros filósofos, como Epiteto, e teóricos como Karen Horney, Alfred
Adler, George Kelly, Albert Ellis, Richard Lazarus e Albert Bandura.

O trabalho de Beck, por sua vez, foi ampliado por pesquisadores e teóricos atuais,
dos Estados Unidos e do exterior, numerosos demais para serem aqui
mencionados. Existem muitas formas de Terapia Cognitivo-Comportamental que
compartilham características da terapia de Beck, mas suas conceitualizações e
ênfases no tratamento variam até certo ponto. Elas incluem a Terapia
Racional-Emotiva Comportamental (ELLIS, 1962), a terapia Comportamental
Dialética (LINEHAN, 1993), a Terapia de Solução de Problemas (D’ZURILLA; NEZU,
2006), a Terapia de Aceitação e Compromisso (HAYES, FOLLETTE E LINEHAN,
2004), a Terapia de Exposição (FOA; ROTHBAUM, 1998), a Terapia de
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Processamento Cognitivo (RESICK; SCHNICKE, 1993), o Sistema de Psicoterapia


de Análise Cognitivo-Comportamental (MCCULLOUGH, 1999), a Ativação
Comportamental (LEWINSOHN, SULLIVAN; GROSSCUP, 1980; MARTELL, ADDIS;
JACOBSON, 2001), a Modificação Cognitivo-Comportamental (MEICHENBAUM,
1977) e outras (BECK, 2013)

A terapia cognitivo-comportamental de Beck frequentemente incorpora técnicas de


todas essas e outras psicoterapias, dentro de uma estrutura cognitiva. De acordo
com Beck (2022), o panorama histórico da área apresenta uma descrição rica de
como se originaram e se desenvolveram as diferentes correntes da terapia
cognitivo-comportamental.

A terapia cognitivo-comportamental tem sido adaptada a pacientes com diferentes


níveis de educação e renda, bem como a uma variedade de culturas e idades,
desde crianças pequenas até adultos com idade mais avançada. É usada
atualmente em cuidados primários e outras especializações da saúde, escolas,
programas vocacionais e prisões, entre outros contextos. É utilizada nos formatos
de grupo, casal e família. Embora o tratamento descrito esteja focado nas sessões
individuais de 45 minutos a 1 hora de duração, elas podem ser mais curtas. Alguns
pacientes, como os que sofrem de esquizofrenia, frequentemente não conseguem
tolerar uma sessão inteira, e certos profissionais podem vir a utilizar técnicas da
terapia cognitiva sem realizar uma sessão completa de terapia, seja durante uma
consulta clínica ou de reabilitação, seja na revisão da medicação (BECK, 2013).

Em poucas palavras, o modelo cognitivo propõe que o pensamento disfuncional


(que influencia o humor e o pensamento do paciente) é comum a todos os
transtornos psicológicos. Quando as pessoas aprendem a avaliar seu pensamento
de forma mais realista e adaptativa, elas obtêm uma melhora em seu estado
emocional e no comportamento. Por exemplo, se você estivesse muito deprimido e
emitisse alguns cheques sem fundos, poderia ter um pensamento automático, uma
ideia que simplesmente apareceria em sua mente: “Eu não faço nada direito”. Esse
pensamento poderia, então, conduzir a uma reação específica: você se sentiria
triste (emoção) e se refugiaria na cama (comportamento). Se você examinasse a
validade dessa ideia, poderia concluir que fez uma generalização e que, na verdade,
você faz muitas coisas bem. Encarar a sua experiência a partir dessa nova
perspectiva, provavelmente, faria você se sentir melhor e levaria a um
comportamento mais funcional (BECK, 2013).
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Para que haja melhora duradoura no humor e no comportamento do paciente, os


terapeutas cognitivos trabalham em um nível mais profundo de cognição: as crenças
básicas do paciente sobre si mesmo, seu mundo e as outras pessoas. A
modificação das crenças disfuncionais subjacentes produz uma mudança mais
duradoura. Por exemplo, se você continuamente subestima suas habilidades, pode
ser que tenha uma crença subjacente de incompetência. A modificação dessa
crença geral (isto é, ver a si mesmo de forma mais realista, como alguém que tem
pontos fortes e pontos fracos) pode alterar a sua percepção de situações
específicas com que se defronta diariamente. Você não terá mais tantos
pensamentos com o tema: “eu não faço nada direito”. Em vez disso, em situações
específicas em que comete erros, você provavelmente pensará: “Eu não sou bom
nisto… (tarefa específica)” (BECK, 2013).

Os princípios básicos da Terapia Cognitivo-Comportamental (BECK, 2013)

● Princípio 1. A terapia cognitivo-comportamental está baseada em uma


formulação, em desenvolvimento contínuo, dos problemas dos pacientes e
em uma conceituação individual de cada paciente, em termos cognitivos.

● Princípio 2. A terapia cognitivo-comportamental requer uma aliança


terapêutica sólida.

● Princípio 3. A terapia cognitivo-comportamental enfatiza a colaboração e a


participação ativa.

● Princípio 4. A terapia cognitivo-comportamental é orientada para os objetivos


e focada nos problemas.

● Princípio 5. A terapia cognitivo-comportamental enfatiza inicialmente o


presente. O tratamento da maioria dos pacientes envolve um foco intenso
nos problemas atuais e em situações específicas que são angustiantes para
eles.

● Princípio 6. A terapia cognitivo-comportamental é educativa, tem como


objetivo ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza a prevenção
de recaídas.
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● Princípio 7. A terapia cognitivo-comportamental visa ser limitada no tempo.


Sendo assim, os objetivos do terapeuta são promover o alívio dos sintomas,
facilitar a remissão do transtorno, ajudar o paciente a resolver seus
problemas mais urgentes e ensinar habilidades para evitar a recaída.

● Princípio 8. As sessões de terapia cognitivo-comportamental são


estruturadas. Independentemente do diagnóstico ou do estágio do
tratamento, seguir uma determinada estrutura em cada sessão maximiza a
eficiência e a eficácia. Essa estrutura inclui uma parte introdutória (fazer uma
verificação do humor, examinar rapidamente a semana, definir
colaborativamente uma pauta para a sessão), uma parte intermediária
(examinar o exercício de casa, discutir os problemas da pauta, definir um
novo exercício de casa, fazer resumos) e uma parte final (emitir um
feedback). Seguir esse formato faz o processo da terapia ser mais
compreensível para os pacientes e aumenta a probabilidade de eles serem
capazes de fazer a autoterapia após o término.

● Princípio 9. A terapia cognitivo-comportamental ensina os pacientes a


identificar, avaliar e responder aos seus pensamentos e crenças
disfuncionais. Os pacientes podem ter dúzias ou até mesmo centenas de
pensamentos automáticos por dia que afetam seu humor, comportamento
e/ou fisiologia (a última é especialmente pertinente para a ansiedade). O
terapeuta ajuda o paciente a identificar as principais cognições e a adotar
perspectivas mais realistas e adaptativas, o que leva o paciente a se sentir
melhor emocionalmente, se comportar com mais funcionalidade e/ou diminuir
sua excitação psicológica. Isso é feito por meio do processo de técnicas
cognitivas e experimentos comportamentais, para que o paciente teste
diretamente seu pensamento.

● Princípio 10. A terapia cognitivo-comportamental usa uma variedade de


técnicas para mudar o pensamento, o humor e o comportamento.

Embora estratégias cognitivas sejam centrais para a Terapia


Cognitivo-comportamental, as técnicas comportamentais e de solução de problemas
são essenciais, assim como as técnicas de outras orientações que são
implementadas dentro de uma estrutura cognitiva. No entanto, conforme Beck
(2013) a terapia varia consideravelmente de acordo com cada paciente, com a
natureza das suas dificuldades e seu momento de vida, assim como seu nível
intelectual e de desenvolvimento, seu gênero e origem cultural.
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O tratamento também varia dependendo dos objetivos do paciente, da sua


capacidade para desenvolver um vínculo terapêutico consistente, da sua motivação
para mudar, sua experiência prévia com terapia e suas preferências de tratamento,
entre outros fatores (BECK, 2013).

MINDFUL EATING

No cenário da abordagem da obesidade e transtornos alimentares, estratégias


inovadoras têm despontado, com destaque para o mindfulness e mindful eating. O
mindfulness (ou atenção plena) é descrito como um estado de consciência que
emerge por meio da atenção que se tem, de forma intencional, ao momento
presente, sem julgamento. Por ser um estado de consciência, o mindfulness pode
ser desenvolvido e treinado, por meio de práticas formais e informais (BARBOSA et
al., 2020).

Dentro do mindfulness, com olhar especial para a atenção aos aspectos


relacionados ao comer e a comida, emerge o mindful eating (ME) ou “comer com
atenção plena”. O ME preconiza que os sujeitos façam suas escolhas alimentares
de forma consciente e atenta aos sinais físicos de fome e saciedade (DALEN et al.,
2010). Outra premissa importante do ME é a atenção a toda experiência envolvida
no comer, notando os efeitos da comida nos sentidos e nas sensações físicas e
emocionais que ocorrem antes, durante e após a alimentação, com abertura e sem
julgamentos (KRISTELLER et al.; WOLEVER, 2010).

Por se tratar de abordagens inovadoras, a sistematização do conhecimento, no que


tange aos resultados dessas abordagens para a saúde dos sujeitos com sobrepeso
e obesidade e com TA, é pouco numerosa, apesar de crescente. Algumas revisões
foram conduzidas com o objetivo de avaliar os efeitos de abordagens baseadas no
mindfulness na perda de peso (CARRIÈRE et al., 2017; ROGERS et al., 2016), no
tratamento da obesidade e dos transtornos alimentares (KATTERMAN et al., 2014;
WANDEN-BERGHE et al., 2010), ou no tratamento específico de transtornos
alimentares. Outras revisões buscaram verificar os efeitos especificamente do
mindful eating na perda de peso (ARTILES et al., 2019) ou na abordagem da
obesidade e dos transtornos alimentares (ALMEIDA; ASSUMPÇÃO, 2018). Dentro
desses estudos, a associação do comer com atenção plena, dentro da abordagem
da TCC, tem tido bons resultados.
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O Mindful eating consiste na habilidade da atenção plena ao comer, sem julgamento


ou crítica, considerando as sensações físicas e emocionais sentidas (FRAMSON et
al., 2009). Essa ferramenta utiliza técnicas, como a meditação e mindfulness, para
exercitar a atenção plena quanto a quantidade de comida ingerida, a frequência, aos
sabores, aos horários e ao modo como as pessoas se sentem após comerem, para
que os indivíduos possam usar a comida como satisfação de suas necessidades
fisiológicas, obtendo bons resultados para o tratamento dos transtornos compulsivos
relacionados à alimentação (GERMER; SIEGEL; FULTON, 2016; KABAT-ZINN,
1990).

Os estudos demonstram a eficácia da utilização dos protocolos de mindful eating


nos indivíduos com excesso de peso como intervenção de promoção à saúde,
apresentando melhorias na manutenção ou redução do peso corporal, no
comportamento alimentar, na autoaceitação corporal, bem como na diminuição dos
episódios compulsivos (BEZERRA et al., 2021).

Contudo, embora o mindful eating promova a melhora da relação dos indivíduos


com a alimentação e com o seu corpo, são necessários investimentos em estudos
clínicos com adequados controle metodológico, para que possam ratificar a sua
utilização como uma estratégia para melhora da qualidade de vida das pessoas com
excesso de peso, em vários cenários e contextos, como em diferentes populações e
ciclos de vida, etnias e situações clínicas (BEZERRA et al., 2021).

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