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Seção I

Fundamentos da
terapia cognitiva

O desenvolvimento
histórico da terapia
cognitiva

Aaron T. Beck e Albert Ellis descreveram os conceitos fundamentais da


terapia cognitivo-comportamental (TCC) na década de 1960. Com mais de
300 testes controlados em favor da compreensão de sua eficácia, a terapia
cognitiva, conforme definida por Judith Beck (Butler e Beck, 2000), é o trata-
mento psicoterapêutico que tem o maior amparo empírico. Embora o trata-
mento original tenha sido desenvolvido para a depressão, a orientação práti-
ca de resolução de problemas e a utilidade da terapia cognitivo-comporta-
mental levaram muitos pesquisadores a adaptá-la a partir do modelo original
e usá-la para outras condições psiquiátricas, incluindo hipocondria, bulimia
nervosa, transtorno de pânico, fobia social e transtorno de ansiedade gene-
ralizada. A terapia comportamental dialética, uma forma de terapia cogniti-
vo-comportamental, tem um grande amparo empírico no tratamento dos sig-
nificativos sintomas do transtorno da personalidade borderline. A esquizo-
frenia e o transtorno bipolar têm resultados significativamente melhores
quando se adiciona uma terapia cognitiva auxiliar à farmacoterapia usada
normalmente. A terapia cognitivo-comportamental também foi testada e
considerada efetiva como tratamento para o transtorno obsessivo-compulsi-
vo, transtorno de estresse pós-traumático e fobia específica. A ênfase no trata-
mento cognitivo-comportamental para esses transtornos é mais comporta-
mental, com uma compreensão das perturbações mantidas no pensamento do
paciente. Muitos terapeutas usam o modelo da terapia cognitivo-comporta-
mental para identificar e questionar percepções mal-adaptativas e inválidas e
modificar a perturbação comportamental que as acompanha. Conforme defi-
nido por Beck, o modelo terapêutico exige que o terapeuta conceitue cada
paciente com base nas experiências específicas do seu desenvolvimento, e
& Donna M. Sudak

incorpore as causas genéticas e biológicas das referidas perturbações. A tera-


pia cognitiva enfatiza testar a precisão dos modelos para vários transtornos
psiquiátricos e avaliar a eficácia dos protocolos de tratamento. As experiên-
cias dos terapeutas com o uso do modelo levam ao refinamento e à expansão
do arcabouço teórico e a novos protocolos para o tratamento dos diferentes
transtornos. A terapia cognitiva continua a crescer e evoluir como um trata-
mento psicológico e em sua conceituação da psicopatologia.
Todas as terapias cognitivas pressupõem, fundamentalmente, que o com-
portamento é influenciado pelos pensamentos. Beck começou a desenvolver a
terapia cognitiva porque observou que as explicações para o comportamento
humano que os psicanalistas promulgavam não eram satisfatórias para explicar
o que realmente ocorria nas sessões com pacientes deprimidos. Os pensamentos
conscientes e as avaliações do paciente deprimido sobre a sua experiência eram
visivelmente negativos e passíveis de mudança. De maneira semelhante, os te-
rapeutas comportamentais (Mahoney, 1974) observavam que a terapia com-
portamental tinha limites em sua capacidade de explicar e tratar certos pacien-
tes. Ao mesmo tempo em que Beck estava desenvolvendo a abordagem da te-
rapia cognitiva para a depressão, Seligman e Abramson (1979) testavam a teo-
ria de que um estilo explicativo negativo aumentava o risco de depressão (ver
Capítulo 9). Na forma desenvolvida por Beck, a terapia cognitiva enfatiza a
observação dos comportamentos e pensamentos atuais do paciente, e o tera-
peuta trabalha para descobrir as regras, os valores e os pressupostos que foram
desenvolvidos ao longo da sua vida para então avaliar e mudar qualquer ele-
mento que possa predispor o paciente a um transtorno subjacente.
Todas as terapias de foco cognitivo têm uma teoria específica que enfa-
tiza a psicopatologia e um determinado foco de mudança. Elas variam no tipo
de relação que o terapeuta tem com o paciente e nos objetivos e na estrutura
do tratamento. Várias formas envolvem tratamentos de tempo limitado com
resultados específicos e orientados para objetivos – por exemplo, o treina-
mento de inoculação do estresse e a terapia de resolução de problemas. Aque-
las que têm resultados mensuráveis mais definidos são mais influenciadas
pelos primeiros tratamentos de terapia comportamental. Todas as terapias
cognitivas enfatizam a instrução do paciente e compartilham a idéia central
de que o paciente pode minimizar o impacto de outros episódios de disfunção
empregando as ferramentas da terapia. Todas as terapias cognitivas compar-
tilham uma posição filosófica que enfatiza a capacidade dos seres humanos
de controlar as próprias crenças e ações e de que as nossas emoções e ações
dependem de como compreendemos a nossa experiência.
Mahoney e Ainkoff (1978) propuseram uma classificação dos tipos de
terapia cognitiva, que se organiza em três tipos, incluindo terapias de reestru-
turação cognitiva, terapias para habilidades de enfrentamento e terapias de
Terapia cognitivo-comportamental na prática '

resolução de problemas. A principal diferença entre os tipos é o grau em que


a terapia promove a mudança cognitiva ou comportamental.
As terapias de reestruturação cognitiva seguem a filosofia básica de que a
dor emocional e a perturbação comportamental resultam de perturbações no
pensamento. Elas também ajudam o paciente a aprender a pensar de forma mais
racional e adaptativa. A terapia cognitiva, conforme definida por Beck, e a
terapia comportamental racional emotiva (TCRE), desenvolvida por Albert Ellis,
representam dois paradigmas que têm a reestruturação cognitiva no centro da
terapia. A TCRE, outro tratamento que pressupõe que o pensamento, as emo-
ções e os comportamentos humanos estão inter-relacionados, foi desenvolvida
na mesma época em que a terapia cognitiva. Ela ainda não foi avaliada de forma
rigorosa e, assim, tem menos amparo para comprovar a sua eficácia. Ellis
desenvolveu uma abordagem mais geral e filosófica de psicoterapia, propondo
que todos os seres humanos têm vulnerabilidades comuns à psicopatologia –
por causa de imperativos racionais (comandos que o pensamento exerce) ma-
nifestos através de crenças do tipo should (deveria) e must (tenho que), ou se-
ja, idéias irracionais e ilógicas presentes no pensamento desses pacientes. Na
TCRE, o terapeuta trabalha para influenciar o paciente diretamente a mudar o
seu sistema de crenças e agir de forma mais racional (Dryden e Ellis, 2001).
As terapias de treinamento de habilidades de enfrentamento são trata-
mentos que implicam treinar as pessoas para executar um conjunto de ha-
bilidades que visam ajudá-las a enfrentar situações externas que sejam es-
tressantes ou que considerem problemáticas. Os pensamentos não são espe-
cificamente visados, a menos que interfiram na resposta ao evento estres-
sante ou exacerbem a resposta negativa da pessoa ao acontecimento. Exem-
plos de treinamento de habilidades de enfrentamento incluem o treinamen-
to de inoculação do estresse (Meichenbaum, 1977) e a reestruturação racio-
nal sistemática (Goldfried e Davison, 1976).
As terapias de resolução de problemas têm o objetivo de ensinar o paciente
a empregar um conjunto de estratégias em diversas situações problemáticas,
que podem ser cognitivas ou comportamentais. O terapeuta trabalha ativamente
com o paciente para desenvolver soluções para problemas, com a premissa de
que isso levará a uma melhora subseqüente no humor e no comportamento. A
terapia de resolução de problemas de D’Zurilla e Goldfried (1976) e as aplica-
ções posteriores de Nezu (2001) e outros são exemplos dessa abordagem.

REFERÊNCIAS

Butler, A. C., & Beck, J. S. (2000). Cognitive therapy outcomes: A review of meta-
analyses. Journal of the Norwegian Psychological Association, 37, 1-9.
 Donna M. Sudak

Dobson, K. S. (Ed.). (2001). Handbook of cognitive-behavioral therapies (2nd ed.).


New York: The Guilford Press. (Publicado pela Artmed, 2006.)
Dryden, W., & Ellis, A. (2001). Rational Emotive Behavior Therapy. In K. Dobson
(Ed.), Handbook of cognitive behavior therapies (2nd ed., p. 295-341). New York: The
Guilford Press.
D’Zurilla, T. J., & Nezu, A. M. (2001). Problem-solving therapies. In K. Dobson (Ed.),
Handbook of cognitive behavior therapies (2nd ed., p. 211-245). New York: The
Guilford Press.
Goldfried, M. R., & Davison, G. C. (1976). Clinical behavior therapy. New York: Holt,
Rinehart & Winston.
Mahoney, M. J. (1974). Cognition and behavior modification. Cambridge, MA:
Ballinger.
Mahoney, M. J., & Ainkoff, D. B. (1978). Cognitive and self-control therapies. In S. L.
Garfield & A. E. Bergin (Eds.), Handbook of psychotherapy and behavioral change: An
empirical analysis (2nd ed., p. 689-722). New York: Wiley.
Meichenbaum, D. H. (1977). Cognitive-behavior modification. New York: Plenum
Press.
Seligman, M. E. P., Abramson, L. Y., Semmel, A., Vonbaeyer, C. (1979). Depressive
attributional style. Journal of Abnormal Psychology, 88, 242-247.

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