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ABSTRACT
Cognitive Behavior Therapy is based on the cognitive model that has as its basic principle
where people's emotions, behaviors and physiology are influenced by the way they think
and interpret about events. The entry of young people into higher education does not
always bring emotional stability, as desired, as they can still present doubts, concerns and
anxiety. In this sense, the present study aims to analyze a case report of a college entrance
exam student with anxious symptoms, assisted under the cognitive-behavioral approach,
as well as evaluating the techniques and results of the interventions performed. The
consultations were carried out by two interns from the 10th semester of the Psychology
course, at the Applied Psychology Service (SPA) of the Estácio University Center in
Ribeirão Preto. The results show that it is possible to obtain great gains in nine sessions
of individual psychotherapy in the cognitive-behavioral approach, associated with the
application of different techniques. It is evident that CBT is an effective approach and
helps to reduce anxiety symptoms, problem solving skills and changes in maladaptive
behaviors. As limits of this article, it is understood that as it is just a case report, it is
possible that the same results are not obtained in other contexts. In addition, it emphasizes
the importance of analyzing each case, understanding the individuality of each patient,
considering their subjectivity and seeking further studies that validate this practice.
2 METODOLOGIA
O presente artigo traz um delineamento qualitativo de um estudo de caso de uma
paciente de 22 anos atendida no Serviço de Psicologia Aplica (SPA) no Centro
Universitário Estácio de Ribeirão Preto. Os atendimentos foram realizados uma vez por
semana no semestre letivo, por duas estagiárias do 10º semestre do curso de Psicologia,
sob orientação e enfoque cognitivo comportamental, totalizando nove sessões. De acordo
com as questões éticas, apresenta-se um nome fictício para a paciente.
Os atendimentos da psicoterapia são realizados em até doze sessões e o paciente
tem a possibilidade de optar pelo retorno ou não. Inicialmente realizou-se o acolhimento
da demanda, com uma escuta ativa e acolhedora, colhemos informações sobre a demanda
do paciente e um breve relato sobre sua vida.
Durante os atendimentos foram utilizadas algumas técnicas para promover a
reestruturação cognitiva, como a psicoeducação, questionamento socrático, conceituação
cognitiva, registro de pensamentos disfuncionais (RPD), treino de habilidades sociais
(THS), role-plays, mindfulness, cartões de enfrentamento e o treino cognitivo do controle
da raiva.
3 RELATO DE CASO
Isabela, 22 anos, solteira, mora com os pais, filha única e trabalha como auxiliar
de contabilidade. Isabela procurou acompanhamento psicológico por indicação de um
amigo, relata que a 4 anos está prestando vestibular para o curso de medicina, sempre fica
para segunda chamada e sente que não está conseguindo realizar seu sonho de ser médica.
Sua mãe cobra excessivamente para que estude e consiga passar em um vestibular, sempre
que percebe que ela não está estudando faz comentários como: “assim não vai passar
mesmo”, “fulano estudava sem parar e passou”. Isabela sente que está sendo muito
cobrada pela mãe e sempre que não passa no vestibular, relata que está decepcionando-a.
Isabela conta que possui uma boa relação com sua mãe, sempre foram muito
apegadas e não conversa muito com seu pai, relata que frequentemente está bebendo em
bares e passa a maior parte do tempo fora de casa. Seu pai não apoia a ideia de Isabela ir
para uma faculdade, para ele o importante é a filha ter um trabalho e conseguir se manter
sozinha um dia. A mãe sempre apoiou nos estudos e cursar medicina, pois sabia que era
o sonho de sua filha, entretanto ela não apoiaria caso escolhesse outro curso, pois diz que
a filha sempre quis medicina e caso isto acontecesse não iria manter as despesas para
outro curso. Sua mãe trabalha como manicure para guardar dinheiro, a fim de ajudar a
filha quando passar em medicina.
A relação entre seus pais é bastante conflituosa, e Isabela sempre está no meio da
briga, pois ambos reclamão com ela e isso faz com que se sinta mal, mas prefere não
interferir. Sua mãe queria ser advogada e não realizou seu sonho, pois na época seu pai
não achava importante que mulher estudasse, e não deu o dinheiro para que ela pagasse a
matrícula, Isabela diz que pode ser um dos motivos da mãe a cobrar tanto, para realizar
nela o sonho que tinha, mas não conseguiu.
Quando está fazendo as provas, relata que em algumas situações consegue fazer
sem muitas dificuldades, mas que em outras, pensamentos vêm a sua cabeça de que não
vai conseguir e sente que está sendo pressionada para não decepcionar as pessoas mais
uma vez, fazendo com que ela perca a concentração na prova. Isabela tem questionado se
medicina é realmente o curso que deseja, pois está com 22 anos, ainda é vestibulanda e
está decepcionando sua mãe.
Isabela tem uma boa relação com sua mãe e são muito próximas, mas com o seu
pai sempre manteve um distanciamento por ele ser ausente e ingerir bebidas alcóolicas,
ele nunca apoia seus estudos e acredita que ela deveria apenas trabalhar. A mãe sempre
quis fazer faculdade, seu pai impediu que realizasse esse sonho, mas sempre apoiou
Isabela nos estudos e a seguir seu sonho de fazer medicina. Relata uma cobrança
excessiva da mãe em relação aos estudos e constantes pensamentos de que irá decepcioná-
la, pois sempre se preocupou com o futuro de Isabela.
Suas crenças centrais de que não é capaz e não vai conseguir, foram se
fortalecendo cada vez mais, pois a 4 anos tem prestado o vestibular e não conseguiu passar
e sua mãe sempre dizia que não estava se esforçando o suficiente. Quando estava
estudando, Isabela se sentia muito ansiosa e com dificuldade de concentrar e resolver
algum exercício, insistia e acreditava que estava perdendo tempo, como estratégia para
lidar com essas crenças, ela fugia ou se esquivava, evitando os estudos, acreditando não
ser capaz de realizar.
Isabela trabalha e estuda até o final da noite, faz pausas e caminhadas todos os
dias, mas possui poucos momentos de lazer, pois tem pensamentos automáticos de que
“se eu não me esforçar mais, não vou conseguir passar no vestibular”, “não deveria
estar aqui”, se sente frustrada e não consegue aproveitar o momento que tem para
descansar.
O diagrama a seguir ilustra a conceituação cognitiva da paciente Isabela.
CRENÇAS CENTRAIS
“Não sou capaz”
“Não vou conseguir”
“Não posso decepcionar as pessoas”
ESTRATÉGIAS COMPENSATÓRIAS
Fuga/esquiva;
Estudar em excesso;
4 RESULTADO
Há uma sequência de intervenções comportamentais realizadas no tratamento dos
transtornos de ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno obsessivo
compulsivo. Primeiramente o psicoterapeuta deve avaliar os sintomas e os gatilhos que
geram a ansiedade e quais são as estratégias de enfrentamento existentes, depois definir
os alvos específicos da intervenção que norteará o curso da terapia. Em seguida, a
psicoeducação, para que o paciente aprenda as habilidades básicas de como lidar com os
pensamentos, sentimentos e seus comportamentos (WRIGHT et al, 2019).
Na primeira sessão, Isabela apresentou um intenso sofrimento e choro constante
ao falar sobre sua frustração de não conseguir realizar seu sonho de passar em um
vestibular para cursar medicina, não conseguia concentrar nos estudos e a cobrança
excessiva de sua mãe. Durante o processo terapêutico realizamos o questionamento
socrático e identificamos que um dos principais motivos da falta de concentração nos
estudos, era sobre sua relação com a mãe, pois a mesma estava pagando o cursinho da
sua filha e todas as taxas de vestibulares, e sempre quando via Isabela fazendo alguma
pausa entre os estudos comentava “você não está se esforçando o suficiente”, gerando
pensamentos automáticos, como “não posso decepcionar a minha mãe”, “e se mais uma
vez não passar?”.
O comportamento assertivo produz uma imagem mais positiva de si mesmo e
resulta na expressão dos pensamentos, sentimentos e crenças de maneira mais direta e
apropriada e na afirmação dos próprios direitos, sem que viole o de outras pessoas. Há
vários conceitos sobre a assertividade e o comportamento assertivo, o mais comum é que
o indivíduo tem direitos de afirmações básicas e deve ser praticado durante as interações
sociais, a fim de que seus interesses sejam respeitados (TOMAS; CARVALHO, 2014).
Ao longo da sessão, observou-se dificuldades em estabelecer uma comunicação
assertiva, gerando alguns sintomas de ansiedade e falha na resolução de problemas.
Pontuamos sobre o treino de habilidades sociais para uma comunicação mais assertiva,
para que Isabela consiga expor o que sente e como a cobrança excessiva impactava nos
seus estudos, questionamos se conseguia enxergar o motivo de sua mãe agir de tal forma
e relata que sempre se preocupou com o futuro de sua filha e quando era mais nova tinha
desejo de fazer graduação em direito, mas o avô de Isabela impediu de realizar esse sonho
e acreditava que não queria que acontecesse o mesmo com ela.
O registro de pensamentos é apresentado no início do tratamento para que os
pacientes aprendam sobre os pensamentos automáticos, e o simples fato de ver seus
pensamentos escritos em um papel, facilita para que consiga rever ou corrigir cognições
desadaptativas. O registro de pensamentos disfuncionais (RPD) é um elemento chave na
TCC, pois incentiva os pacientes a reconhecer seus pensamentos automáticos, aplicar
métodos para flexibilizá-los e observar os resultados positivos (WRIGHT et al, 2019).
A paciente foi psicoeducada sobre os conceitos do modelo cognitivo e instruímos
a realizar o registro de pensamentos disfuncionais durante a sessão e fora dela, como
tarefa de casa. Durante o tratamento, foi possível identificar os principais pensamentos
automáticos, crenças disfuncionais e o que reforçavam seus comportamentos. Através da
reestruturação cognitiva a paciente aprendeu a identificar suas próprias cognições
disfuncionais, diminuindo o número de pensamentos automáticos disfuncionais e
flexibilizou regras e crenças centrais, conforme o Quadro 1.
Quadro 1 – Quadro de crenças disfuncionais e/ou flexibilizadas da paciente
Crenças Disfuncionais Crenças flexibilizadas e mais
funcionais
“Não sou capaz” “Tenho capacidade, mesmo que eu não
consiga passar no vestibular agora. Sou
capaz”
“Não vou conseguir” “Sou capaz, vou tentar, tenho chance de
passar, depende de mim”
“Não posso decepcionar as pessoas” “Tenho que focar no que é bom pra mim.
Se eu quiser uma mudança, tem que vir
de mim”
Evidências a favor: “Hoje vejo que se eu Evidências contra: “Um dia ela disse que
magoar ela, está tudo bem, tenho que tinha investido em mim, que foi algo em
suprir as minhas expectativas e não as vão e ameaçou que só pagaria mais um
delas, faço isso por mim! Estou no meu ano as taxas dos vestibulares, mas mesmo
tempo, se eu quiser dormir, vou dormir e assim esse ano ela me ajudou e sempre me
está tudo bem. Tenho conseguido ajuda. Antes pensava: nossa, será que vou
diferenciar o que é construtivo e o que me ter que passar por isso outra vez?
prejudica. Acredito que se não passar, ela
vai ficar triste, mas sempre vai me apoiar.
Sou muito nova!”
Pensamento alternativo e flexibilizado: “hoje entendo que tenho os meus limites, que
não devo agradar as pessoas, quero dar orgulho para a minha mãe, mas tenho que
fazer isso primeiro por mim!”
Elaboramos uma atividade que consiste em desenhar dois gráficos de pizza em
que a paciente no gráfico 01 coloca de 0 a 100% o quanto ela atribui nas áreas de trabalho,
estudo e autocuidado (lazer, esportes, passeio, etc.). O gráfico 02 corresponde às
mudanças que poderiam ser feitas em sua vida, atribuindo de 0 a 100% como ela gostaria
que sua rotina fosse estabelecida nestas áreas citadas. Os gráficos a seguir ilustram os
resultados obtidos.
A paciente relata que gostaria de não trabalhar para poder se dedicar mais aos
estudos, mas isso não é possível no momento pois está pagando seu cursinho preparatório
e pretende sair do emprego assim que passar em alguma faculdade. Analisamos seus
momentos de autocuidado e lazer, e Isabela relata que tem feito caminhadas, procura
reservar o domingo para descanso, sai com os amigos e dedica um tempo para leitura de
outros assuntos que não seja o estudo, mas que recentemente não consegue ter um tempo
para seu lazer, pois acredita que deveria estar estudando ao invés de descansar.
Na última sessão retomamos o Gráfico 2 com Isabela e construímos o Gráfico 3
para verificar se havia alterações das atribuições. É possível identificar uma mudança
significativa no quanto atribuiu para as horas de lazer e relata: “percebo que o estudo é
essencial, mas entendo que não adianta só estudar, que a preparação mental está no
lazer, deixar os estudos de lado em alguns momentos me faz bem”.
30%
40% Trabalho
Estudo
30%
Lazer
Gráfico 03
5 CONCLUSÃO
O presente estudo de caso mostrou que foi possível obter grandes ganhos em 9
sessões de psicoterapia individual na abordagem cognitivo comportamental, associada a
aplicação de diversas técnicas. Evidencia-se que a TCC corresponde a uma abordagem
eficaz, pois durante o processo, foram utilizadas o questionamento socrático, a
psicoeducação, registro de pensamentos disfuncionais (RPD), exame de evidências,
mindfulness e o treino cognitivo do controle da raiva, sendo essenciais para identificação
dos pensamentos automáticos disfuncionais, diminuição de sintomas ansiosos,
habilidades para resolução de problemas e mudanças nos comportamentos
desadaptativos.
A Terapia Cognitivo Comportamental tem como objetivo ensinar o paciente a ser
o seu próprio terapeuta e a paciente mostrou-se interessada em mudar seus
comportamentos desde o primeiro atendimento, não demonstrou resistência em nenhuma
das técnicas ou tarefas passadas, facilitando o curso do tratamento. Durante as sessões
conseguiu refletir e perceber suas mudanças, o quanto foram significativas, a importância
da psicoeducação e não ser dependente do terapeuta.
Como limites do presente artigo, entende-se que por se tratar de apenas um relato
de caso, é possível que os mesmos resultados não sejam obtidos em outros contextos.
Além disso, ressalta-se a importância de analisar cada caso, compreendendo a
individualidade de cada paciente, considerando sua subjetividade e buscar mais estudos
que validam essa prática.
REFERÊNCIAS
American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais – DSM 5 (5ª ed.), Porto Alegre: Artmed, 2014.