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Aula - Breve histórico sobre a TCC

INTRODUÇÃO

● A Terapia Cognitiva foi criada pelo psiquiatra Aaron Beck, depois de perceber
que os seus pacientes deprimidos apresentavam um certo modo de pensar
que se repetia, bem como uma falta de esperança e rigidez em relação aos
eventos do futuro.
● Assim, seu principal objetivo era construir uma teoria que pudesse
reestruturar o pensamento rígido, trazendo flexibilidade para esses
pensamentos.

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● A frase que resume bem a premissa básica da TCC vem de Epíteto que diz
“os homens não se perturbam pelas coisas que acontecem, mas sim pelas
opiniões sobre as coisas” (EPICTETUS, 1991, p. 14).

HIPÓTESES DE AARON BECK

● O portador de um transtorno emocional tem a tendência aumentada para


distorcer eventos e rigidez cognitiva.

● As cognições têm primazia sobre as emoções e comportamentos, embora


não de uma forma rigidamente causal e de ordem temporal.

● A maneira como as pessoas interpretam os eventos influencia diretamente a


emoção e o comportamento.

MODELO COGNITIVO DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC)

Pensamento → Emoção → Comportamento

● O modelo cognitivo propõe relação direta entre uma situação, um


pensamento, uma emoção e um comportamento.

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● Esse modelo “levanta a hipótese de que as emoções, os comportamentos e a
fisiologia das pessoas são influenciados pela sua percepção dos
acontecimentos” (BECK, 2022, p. 27).
● Assim, a TCC é caracterizada pela influência do pensamento sobre a causa e
a manutenção dos transtornos psiquiátricos e não por suas técnicas, pois
diferente do que muitos pensam, a TCC não é mera aplicação de técnicas.
● A TCC é uma terapia estruturada, focada no presente, orientada por metas
(que precisam ser claras, mensuráveis e reais), baseada na conceituação
cognitiva (que direciona o tratamento), com ênfase na resolução de
problemas e direcionada para a ação, que não busca estabelecer relação de
causalidade entre os eventos do passado e as situações atuais.
● Os dados relevantes da vida do indivíduo são compreendidos como fatores
predisponentes que apresentam correlação com a queixa atual e que, por
isso, devem ser levados em consideração também.

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● A TCC também trabalha com o que chamamos de empirismo colaborativo,
que é a capacidade do terapeuta de envolver o cliente ao longo de todo o
processo, dividindo com esse a responsabilidade do sucesso ou fracasso da
terapia.
● Um dos objetivos finais da TCC é tornar cada cliente seu próprio terapeuta.

AS COGNIÇÕES PELO MODELO DO ICEBERG

Imagem 1 - Modelo do iceberg

Disponível em: https://tccpsi.tumblr.com/. Acesso em: 16 ago. 2022.

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● Pensamentos Automáticos (PAs)

○ Os pensamentos automáticos surgem espontaneamente e são


ativados por eventos externos ou internos.
○ São cognições mais fáceis de modificar, avaliar e acessar.
○ Eles consistem no nível mais superficial dos pensamentos e, diante
das situações, eles aparecem de forma rápida e espontânea.
○ Os PAs podem ser positivos ou negativos.
○ Normalmente são aceitos como verdadeiros e dificilmente
questionamos a sua veracidade.
○ Tais pensamentos acontecem com todos os indivíduos e podem surgir
de forma verbal (como numa frase), visual (imagens) ou das duas
maneiras.

● Crenças Intermediárias (CI)

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○ São regras, padrões, normas, premissas e atitudes que adotamos e
que guiam a nossa conduta.
○ Podem ser mais facilmente identificadas através de afirmações do tipo
"se... então" ou "deveria".
○ Elas norteiam os comportamentos do sujeito, são muito imperativas e
estão diretamente ligadas às crenças centrais.
○ Para lidar com as CI, desenvolvemos estratégias compensatórias, que
são comportamentos sistemáticos que tem como objetivo confirmar
nossas crenças. É uma forma segura de continuar perpetuando o que
acredita ser.

Para fins didáticos, podemos classificar as estratégias compensatórias em 3 grupos.

1. Manutenção: maneira de reforçar diretamente as crenças centrais.

2. Evitação: evita as sensações relacionadas a cada crença.

3. Hipercompensação: vai na direção oposta e “ataca” a crença.

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● Crenças nucleares (centrais)

○ São ideias e conceitos mais enraizados e fundamentais acerca de nós


mesmos, das pessoas e do mundo.
○ Se apresentam na forma de "eu sou".
○ São formadas desde a infância, se solidificam e se fortalecem ao longo
da vida.
○ Elas são o nível cognitivo mais profundo, consistem em ideias globais,
absolutistas e rígidas.
○ Podem ser sobre a pessoa, os outros ou o mundo, o que forma a
chamada tríade cognitiva.

ESTRUTURA DAS SESSÕES NA TCC

● As sessões são estruturadas e as primeiras sessões acontecem de forma


semelhante e incluem:

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○ agenda com o paciente
○ checagem de humor
○ breve revisão sobre o problema e possíveis atualizações sobre o caso
○ estabelecimento de metas
○ educar o paciente no modelo cognitivo
○ identificação de expectativas do paciente sobre o tratamento,
○ psicoeducação sobre o transtorno
○ estabelecer planos de ação
○ promover um resumo da sessão
○ pedir feedback do paciente ao final da sessão
● As sessões iniciais têm como objetivo estabelecer vínculo com o paciente,
socializar o paciente na TCC, psicoeducação da demanda do paciente e
instilar1 esperança.
● Nessas sessões também é importante coletar informações sobre o paciente,
fazer uma anamnese e estabelecer metas do tratamento.

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esse é um termo que foi utilizado por Aaron Beck et al. (1997) quando ele se referia ao tratamento
dos pacientes depressivos. Segundo ele, uma das funções do terapeuta, nesse processo, era instilar
esperança no paciente, ou seja, introduzir, promover esperança.

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● Dentre as técnicas utilizadas, destaca-se o RPD que é principal técnica para
reestruturação do pensamento automático e que pode ser encontrado em
dois modelos: o primeiro modelo é o RPD da Judith Beck (apresentado no
seu livro Terapia Cognitiva Teoria e Prática) e possui 5 colunas e o segundo é
uma versão sugerida por Christine Padesky no livro A Mente Vencendo o
Humor, onde foram inseridas mais 2 colunas que auxiliam no exame de
evidências do pensamento automático.

Tabela 1 - Registro de pensamentos

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Fonte: Adaptado de Greenberger; Padesky (1999)

● O Registro de Pensamentos Disfuncionais (ou RPD) é uma tabela onde o


paciente monitora e anota os seus pensamentos durante a semana com o
objetivo de que esses sejam reestruturados durante as sessões.
● Para tanto, é importante identificar os erros cognitivos que são frequentes e
que geram interpretações distorcidas e desadaptativas na vida dos pacientes.
● Sendo assim, a lista de Distorções Cognitivas tem como objetivo categorizar
os erros cognitivos frequentes, a fim de ajudar na identificação deles no
processo de examinar as evidências do pensamento automático, como pede
o RPD apresentado acima.

Tabela 2 - Exemplos de distorções cognitivas

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Fonte: Adaptado de Knapp; Beck (2008)

● E por fim, durante o processo terapêutico, busca-se desenvolver no paciente


a metacognição, uma capacidade apenas dos seres humanos e que
corresponde a ação de pensar sobre o próprio pensamento.
● A partir da metacognição é buscado um pensamento alternativo mais flexível,
o que melhora o estado de humor do paciente e possibilita um
comportamento mais funcional, coerente com as próprias metas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECK, A. T. Cognitive therapy and the emotional disorders. New York:


International Universities Press, 1976.

BECK, A. T. Thinking and depression: II. Theory and therapy. Archives of General
Psychiatry, v. 10, n. 6. p. 561-571, 1964.

BECK, J. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 3 ed. Porto Alegre:


Artmed, 2022.

6
BECK, J. S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Trad. Sandra Costa. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1997.

BECK, A. T. et al. Terapia cognitiva da depressão. Porto Alegre: Artes Médicas,


1997.

Epictetus: Enchiridion. Translated by George Long. Amherst, NY, Prometheus


Books, 1991.

GREENBERGER, D.; A. PADESKY, C. A mente vencendo o humor: mude como


você se sente mudando como você pensa. Porto Alegre: Editora Artes Médicas,
1999.

KNAPP, P. Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Psiquiátrica. Porto


Alegre: Artmed, 2004.

KNAPP, P.; BECK, A. T. Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa

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da terapia cognitiva. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. v. 30, p. 54-64.
2008. Disponível em: https://abrir.link/0zRuP. Acesso em: 16 out. 2023.

WRIGHT, J. H. Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: um guia


ilustrado. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.

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