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Manejo de Pensamentos Automáticos: um estudo sobre bem


estar emocional na perspectiva da teoria cognitivo
comportamental
Sheila Rosendo Sanches Monteiro – sheilarsmonteiro@gmail.com
Terapia Cognitivo - Comportamental
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Goiânia, GO, (16 de abril de 2022)

Resumo
Este estudo está amparado na área da psicologia; para sua construção foi utilizado o
método de pesquisa bibliográfica, baseada na leitura de livros e artigos, através de
material impresso e recurso eletrônico. O objetivo é explorar a Teoria Cognitivo
Comportamental quanto a seu referencial teórico e métodos para o desenvolvimento
de mentes mais saudáveis. De forma a avaliar se mentes mais saudáveis podem ser
desenvolvidas por meio das técnicas cognitivo comportamental aplicadas ao manejo
de pensamentos automáticos. Se faz relevante, por permear a área da saúde mental
de forma geral, e por sua validação de que a TCC é um modelo de intervenção,
focado no modo de pensar das pessoas, baseada na primícia de que pensamentos
realistas, e evidentes referentes a realidade vivenciada, geram emoções e
comportamentos mais saudáveis. Nesta perspectiva verifica-se que a TCC se
evidencia e é eficaz na utilização de técnicas para manejo dos pensamentos
automáticos. Que por vez tem a função de promover as pessoas a disfrutar de
momentos mais saudáveis, e manutenção do bem estar. Conclui-se que a TCC
apresenta repertório teórico, métodos e técnicas, para intervenção e prevenção, ou
outra demanda que leve o indivíduo a procurar pela psicoterapia.

Palavras-chave: Pensamentos Automáticos. Identificação. Modificação. Pesquisa.

1.Introdução
No Brasil os transtornos mentais e demais quadros de saúde psíquica, tem
representado grande proporção das causas de adoecimento e incapacidade na
população, ultrapassando os quadros de doenças cardiovasculares e câncer. Desde
os anos 60, o país tem se caracterizado pela predominância de doenças não-
transmissíveis, em substituição aos adoecimentos e mortes relacionadas às doenças
transmissíveis, o que caracteriza grande proporção de adoecimentos psíquicos.
(FAGUNDES; CAMPOS; FORTES, 2019)

A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que mais de 450 milhões de


pessoas sofrem de algum quadro de transtorno mental, com representatividade
significativa dentre as principais causas de incapacidade no mundo, e que uma a
cada quatro pessoas no mundo desenvolverão desordens mentais em algum estágio
da vida. (FAGUNDES; CAMPOS; FORTES, 2019)

Com o avanço dos estudos pela área da psicologia, as diversas abordagem de


psicoterapia, oferecem métodos que podem auxiliar pacientes no tratamento de
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adoecimentos mentais e emocionais, no entanto a Terapia Cognitivo


Comportamental, tem se destacado pela eficácia nos tratamentos ofertados a
quadros de transtornos mentais, e qualquer outra demanda de tratamento
intervenções de autoconhecimento.

A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) vêm se estendendo em influência e


alcance, tornada reconhecida como uma das teorias e um dos métodos centrais
para o tratamento de desordens mentais. Pesquisas demonstram a efetividade da
associação da TCC com o uso da medicação em tratamento de pessoas com
transtornos psiquiátricos graves, como depressão refratária, transtorno bipolar e
esquizofrenia. (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008)
“Atualmente, é a forma de psicoterapia mais praticada no mundo, em grande parte
porque o tratamento tem demonstrado produzir resultados positivos e
frequentemente rápidos e com efeitos duradouros.” (GREENBERGER; PADESKY,
2017)

“Aaron T. Beck foi a primeira pessoa a desenvolver completamente teorias e


métodos para aplicar as intervenções cognitivas e comportamentais a transtornos
emocionais (Beck, 1963, 1964)”. (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008)
A proposta da teoria apresentada pelo precursor da TCC é orientada ao objetivo de
reverter cognições disfuncionais e comportamentos relacionados; as teorias e os
métodos descritos por este autor e muitos outros colaboradores do modelo
cognitivo- comportamental estenderam-se a uma série de transtornos psiquiátricos e
uma grande variedade de quadros clínicos. (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008)
O termo “Cognitivo” refere-se ao que se pensa e como se pensa. A Teoria Cognitivo
Comportamental (TCC), tem foco nas cognições (pensamentos), afetos
(sentimentos), e comportamento (ação); seu objetivo é buscar pela compreensão de
como eventos e experiências são interpretados por cada indivíduo, e promover a
identificação e mudança de distorções ou déficits no processamento cognitivo.
(STALLARD, 2009)
“Uma ideia central na TCC é que os pensamentos sobre um evento ou experiência
influenciam fortemente as respostas emocionais, comportamentais e físicas a tal
evento ou experiência.” (GREENBERGER; PADESKY, 2017)

Desta forma a TCC é direcionada a ajudar o indivíduo em tratamento, no processo


de reconhecimento e modificação de esquemas e pensamentos automáticos
desadaptativos; a este processo foi atribuído o termo Restruturação Cognitiva. A
reestruturação cognitiva propõe o desenvolvimento de habilidades para modificar
cognições desadaptativas; os métodos utilizados para esse processo compreendem
o cerne da abordagem cognitivo comportamental. (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008)
A TCC tem em sua base dois princípios centrais, primeiro, que os pensamentos têm
influência controladora sobre as emoções e comportamentos; segundo, o
comportamento pode afetar intensamente os padrões de pensamentos e emoções.
Partindo do primeiro princípio, a Teoria Cognitivo Comportamental, utiliza-se do
método da identificação e modificação de pensamentos automáticos, um dos
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principais métodos apresentados por esta frente teórica. (WRIGHT; BASCO;


THASE, 2008)

Os autores (FROESELER; SANTOS; TEODORO, 2015) conceituam os


Pensamentos Automáticos como cognições breves e espontâneas, que acontecem
no nível cognitivo mais superficial, podem ser tanto positivos quanto negativos e, se
relacionam funcionalmente à ativação de crenças e esquemas mais profundos do
indivíduo (Beck, & Dozois, 2011). Estes pensamentos ocorrem de forma rápida e
espontânea, e se fazem presentes no dia a dia de todos os indivíduos, de forma que
as perceções são geralmente da emoção relacionada ao pensamento do que o
conteúdo do pensamento em si (Beck, 1997).

De acordo com (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008) pensamentos automáticos são


cognições que passam rapidamente pela mente; que embora as pessoas são
conscientes da presença de pensamentos automáticos, normalmente essas
cognições não estão sujeitas à avaliação racional cuidadosa.
Para (GREENBERGER; PADESKY, 2017) pensamentos automáticos podem ocorrer
por via de palavras, imagens ou recordações, que perpassam pela mente de forma
intrusiva no decorrer do dia a dia

É possível compreender que a uma compreensão similar dos autores quanto a


definição dos Pensamentos Automáticos. Verifica-se que que é comum a todos a
compreensão de que os sentimentos e comportamentos via de regra são
influenciados pelos pensamentos. Estes autores defendem que não são os eventos
e situações que provocaram as emoções e comportamentos, mas sim, o
pensamento emergido diante a situação.

Estes três fatores são ligados um ao outro, de forma que cada um tem impacto
sobre o outro, no entanto, o foco deste estudo será limitado a ideia de que os
pensamentos impactam emoções e comportamentos.

Este estudo tem por objetivo o levantamento da literatura, referente saúde mental,
teoria cognitivo comportamental, pensamentos automáticos; e consequentemente a
análise da relação entre ambos quanto ao viés da construção e promoção de
mentes de saudáveis. A exposição do presente estudo será conduzida pela
conceituação de cada umas destas esferas, de forma a compreender se o manejo
de pensamentos automáticos, um dos métodos da TCC, é eficaz para a promoção
do bem estar emocional, individual.

2. Desenvolvimento
O adoecimento pode envolver as estancias física, mental e emocional, e embora o
comprometimento físico seja mais visível, o adoecimento da psiquê vem sendo
reconhecido e compreendido, ao passo que desajustes emocionais leves e
transtornos mentais graves vem ocorrendo em grande proporção na população
geral. No entanto, uma parcela da sociedade apresenta ainda o movimento de tratar
essa demanda como um tabu, e a falta de conhecimento se torna um impulsionador
ao comportamento de invalidação do próprio sofrimento e, ou, do sofrimento do
outro.
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Equiparado ao aumento de adoecimento no campo da saúde psíquica, os espaços


tem se ampliado para debates e palestras sobre saúde mental, de forma a expôr a
relevância de falar sobre o assunto, na construção da promoção de mecanismos
voltados para prevenção e cuidado na área da saúde mental.

O cuidado em saúde mental, segundo (CARDOSO; GALERA, 2011) não se limita ao


controle de sintomas e, ou, redução de risco de internação em quadros de
comprometimentos mentais de níveis graves; [... ]o cuidado envolve a atenção
voltada aos sinais leves e despercebidos de desajustes e, ou, desequilíbrios
emocionais, fatores estes, de risco ao bem-estar psíquico.

Na perspectiva da psicologia, pessoas mentalmente saudáveis, possuem recursos


mais saudáveis, para administrar os desafios da vida de forma equilibrada. Estar
mentalmente saudável não é um luxo, mas sim uma necessidade inerente ao
desenvolvimento humano. No entanto, poucas pessoas tem a oportunidade de
acesso aos profissionais da área da saúde mental, geralmente o acesso se dá por
meio de intervenções da medicina, quando já se necessita de um tratamento
farmacológico devido a intensidade do comprometimento mental. Os fármacos vão
auxiliar nos sintomas, no entanto, a melhora pode ser parcial, e os sintomas virem a
retornar, devido não ofertar tratamento de psicoterapia associado, para mediar as
causas do adoecimento.

Neste sentido (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008) implementa que o avanço no


campo de pesquisas em psicologia, tem evoluído em teorias empiricamente testadas
e comprovadas, quanto a efetividade do tratamento psicoterapêutico associado a
fármacos em quadros graves de transtornos mentais, como depressão crônica ou
resistente ao tratamento, esquizofrenia, e outras condições. Os estudos apontam
que o tratamento combinado de Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), e
medicação aumenta a eficácia nos tratamentos, incluídos os quadros mais graves;
esta abordagem tem se tornado uma das formas mais amplamente praticadas de
psicoterapia para transtornos psiquiátricos.
Stallard (2009) em sua definição se refere que a Terapia Cognitivo-Comportamental
é um modelo de intervenções psicoterapêuticas que visam reduzir o sofrimento
psicológico e o comportamento desajustado, através da alteração de processos
cognitivos (Kaplan et al., 1995). É uma abordagem determinada teoricamente, com
base em modelos testáveis empiricamente, os quais fornecem os fundamentos para
sua intervenção.
“A TCC se tornou a abordagem psicoterápica independente mais importante e com
melhor validação científica. Com o movimento recente em direção à prática baseada
em evidências, a TCC recebeu atenção destacada.”(KNAPP; BECK, 2008)

A TCC é uma abordagem da psicologia, e o que a difere de outros tipos de Terapias


Cognitivo Comportamentais é a base no Modelo Cognitivo de que crenças e
pensamentos, influenciam as emoções, ações e sintomas físicos, da pessoa.
(PEREIRA, 2006)

Alusivo ao modelo cognitivo, Beck (2014) explica que este modelo propõe que o
pensamento disfuncional, é comum a todos os transtornos psicológicos; e que ao
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passo que as pessoas aprendem a avaliar seu pensamento de forma realista e


adaptativa, elas obtêm melhora no campo emocional e no comportamento.

A Terapia Cognitivo Comportamental, tem por base a ideia de que pessoas com
estresse têm repetidamente pensamentos distorcidos e/ou disfuncional; o que por
consequência gera impacto negativo no estado de humor, no comportamento e, em
sua fisiologia. (PEREIRA, 2006)

Nesta perspectiva, a proposta terapêutica da TCC se torna referência, pela


construção de ferramentas altamente eficazes direcionadas a avaliação de
pensamentos, de forma consciente e estruturada. (BECK, 2014)

Conforme (FREEMAN; DEWOLF, 2006) assinalam, a TCC é uma abordagem em


psicoterapia de alta influência, desenvolvida para confrontar e combater equívocos
mentais. Para este autor, ao passo que a pessoa modifica os padrões mentais, e
aprende a lidar com os erros comuns do pensamento, consequentemente haverá
mudança no padrão de sentimos em relação si mesmo, aos outros e ao mundo;
tornando a forma de lidar com os problemas e dificuldades de maneira mais
produtiva e aquisição de mecanismos para tomar as medidas necessárias para a
melhora da condição de vida.

A TCC é uma abordagem psicoterapêutica objetiva e estruturada, com foco de


averiguação, formulação de problemas, intervenção, monitoramento e avaliação; é
baseada no processo de descoberta orientada durante o qual pressupostos e
pensamentos são desafiados e testados. (STALLARD, 2009)
A Teoria Cognitivo Comportamental identifica os pensamentos ocupam três níveis
diferentes. Estes níveis descritos pelos autores (GREENBERGER; PADESKY,
2017): pensamentos automáticos, pressupostos subjacentes e crenças nucleares.
Estes autores assinalam que cada nível está conectado aos outros dois, e ao
trabalhar qualquer nível estará impactando nos demais; os pensamentos
automáticos e os pressupostos, estão no nível de mais fácil acesso e identificação,
já as crenças são pensamentos que estão no nível de mais difíceis identificação.

Conforme a literatura aponta, o pensamento automático ocupa o nível de mais fácil


acesso, no entanto, você apesar de ser de mais fácil identificação comparado aos
demais níveis de pensamentos, necessita de investimento no autoconhecimento,
psicoeducação para o reconhecimento dos Pensamentos Automáticos, e
treinamento constante, conforme será exposto pela literatura.

Até aqui é possível verificar que a Teoria Cognitivo Comportamental tem


proporcionado eficácia nos tratamentos de diversos estados de adoecimento mental;
que a sua efetividade não está restrita ao tratamento de transtornos, e tem
alcançado com assertividade uma diversidade de demandas no campo mental e
emocional, no tratamento interventivo, e preventivo (autoconhecimento). Desta
forma busca-se pela investigação de mecanismos validados para a prevenção e
manutenção da saúde mental; através da compreensão dos Pensamentos
Automáticos.
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Segundo (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008) os principais métodos da Teoria


Cognitivo Comportamental são: Foco voltado para o problema; Conceitualização de
caso individualizada; Relacionamento terapêutico empírico colaborativo;
Questionamento socrático; Uso de estruturação, psicoeducação e ensaio para
melhorar a aprendizagem ;Evocação e modificação de pensamentos
automáticos; Descoberta e modificação de esquemas; Métodos comportamentais
para reverter padrões de desamparo, comportamento autodestrutivo e evitação;
Desenvolvimento de habilidades de TCC para ajudar a evitar a recaída.
Conforme descrito por este autor os Pensamentos Automáticos estão incluídos nos
principais métodos da Terapia Cognitivo Comportamental, este método tem o
objetivo de provocar o reconhecimento e a modificação dos pensamentos
disfuncionais.

De acordo com (GREENBERGER; PADESKY, 2017) pesquisas tem apresentado o


impacto dos pensamentos, crenças e atitudes para a saúde de modo geral; como
exemplo explica o método efeito- placebo, método em que a expectativa de que o
medicamento ou tratamento irá ajudar, aumenta a probabilidade de que ele de fato
ajude, mesmo que “medicamento” seja simplesmente água [...]. Este autor conclui
que pesquisas atualizadas sobre o cérebro identificaram que o efeito-placebo em
parte ocorre porque as crenças são um tipo de atividade cerebral e podem provocar
mudanças reais nas respostas físicas.

Até aqui foi abordado sobre a compreensão geral da Teoria Cognitiva


Comportamental e dos Pensamentos Automáticos; a proposta a seguir é de afunilar
a compreensão dos Pensamentos Automáticos, e apresentar as ferramentas
utilizadas pela TCC para a intervenção nesta perspectiva, afim de avaliar sua
efetividade para a promoção do bem estar na saúde mental.

Cognição
Os autores (FREEMAN; DEWOLF, 2006) explicam o conceito de Cognição, na
definição destes Cognição significa Pensamento, e assim complementam que o
pensamento é a porta de entrada para as emoções, e as emoções são a porta de
entrada os comportamentos. Para estes autores cada pensamento produz uma
emoção diferente, o que o indivíduo pensa acerca de determinado evento é que vai
determinar o tipo de sentimento e a ação. Acrescentam ainda, que não faz diferença
se o evento ocorrido que precede as ideias de raiva, vergonha, desilusão ou tristeza
foi vivenciada de forma breve ou a maior tempo, a questão exposta por eles
defendida é que são os pensamentos imediatos que vão determinar como a pessoa
irá se sentir, e o sentimento, vai direcionar o comportamento.

Os estudos de (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008) também acrescentam construtos


referente as cognições, estes autores apresentam que as tradições filosóficas
orientais, consideram a cognição como força primária na determinação do
comportamento humano (Beck et al., 1979; Campos, 2002). [...] Estes autores
também destacam que “o estoico grego Epíteto escreveu em seu Enchiridion que os
homens não se perturbam pelas coisas que acontecem, mas sim pelas opiniões
sobre as coisas (Epitectus 1991, p. 14).”
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Desta forma pode-se compreender que a concepção de que os pensamentos são


fatores determinantes quanto ao que o ser humano senti e se comporta, se encontra
fundamentada pela Teoria Cognitivo Comportamental, mas também é reconhecido
por tradições distintas.

Pensamentos Automáticos (PAs)


Para (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008) pensamentos automáticos faz parte do fluxo
de processamento cognitivo, e acontece logo abaixo da superfície da mente, no
nível da consciência. Geralmente os Pensamentos Automáticos são privativos ou
não-declarados, ou seja, ocorrem no nível da consciência, mas geralmente não
acontecem de forma consciente; estes pensamentos ocorrem diariamente e de
maneira inesperada, são breves e, podem ser verdadeiros, ter percepção adequada
referente a situação/evento, e podem ser uma percepção distorcida da realidade.
O modelo de Beck propõe que pensamentos automáticos acontecem de forma
automática e frequente sem ser examinados ou avaliados. Os PAs podem ser
categorizados como distorções ou vieses, incluindo leitura mental, pensamento
dicotômico, previsão do futuro, personalização e rotulação. (LEAHY; TIRCH;
NAPOLITANO, 2013)
Segundo Stallard (2009) pensamentos automáticos são pensamentos que invadem
a cabeça de forma rápida, no decorrer do dia; são pensamentos que fornecem um
comentário passageiro, os quais surgem o tempo todo, e são importantes por afetar
diretamente os sentimentos e as ações.
Na definição de Beck (2014) os pensamentos automáticos são pensamentos mais
manifesto (Beck, 1964); os quais não acontecem de forma exclusiva a pessoas em
quadro de sofrimento psicológico, sendo uma experiência comum a todos as
pessoas. São pensamentos não resultantes de deliberação ou raciocínio; de forma
que surgem espontaneamente, e são breves. Geralmente esses pensamentos não
são percebidos, é muito mais provável que seja notado a emoção e/ou o
comportamento que o sucede.

Para (GREENBERGER; PADESKY, 2017) depois que um estado de humor for


ativado, frequentemente será adicionado outros pensamentos que, venham a apoiar
e fortalecer o pensamento que gerou a emoção, podendo gerar emoções intensas.
Este autor ressalta que quando a estados de humor intensos, a maior probabilidade
da pessoa em distorcer, descontar ou desconsiderar informações que contradigam a
validade do estado de humor e do pensamento. Via de regra quanto mais intenso for
o estado de humor, mais extremo será os pensamentos que surgiram.

As pessoas se comportam, sentem e pensam de diferentes maneiras diante a


mesma situação, pessoas comportam de maneiras diferentes de acordo com o
ambiente, e assim compreendemos a ideia de que o evento não é a causa das
emoções; e que emoções são vivenciadas por cada pessoa de acordo com diversos
fatores que permeiam a vida de cada indivíduo. No entanto é previsível, que
algumas pessoas apresentam características latentes de pensamentos e moções
mais positivas, enquanto outras se apresentam mais pessimistas, negativas; estas
características são abordadas pela psicologia como padrões de pensamentos.
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Nesse sentido, (GREENBERGER; PADESKY, 2017) validam a compreensão de


que, as pessoas possuem um padrão de pensamentos, e explica por que algumas
pessoas são mais propensas a certos pensamentos do que outras. Estes autores
ressaltam que em parte, as diferenças podem ser biológicas ou geneticamente
herdadas; mas também inclui a interferência pelo ambiente e as experiências na
vida. Ou seja, a influência poderá ocorrer permeada por experiências em qualquer
época, e fase de desenvolvimento da pessoa.

De acordo Stallard (2009) os pensamentos automáticos estão ligados ao que a


pessoa pensa sobre si, como julga a si, e o que espera do futuro. Expõe também
que os pensamentos podem ser positivos, os quais podem encorajar a pessoa; e
podem ser também negativos, podendo interferir de forma não saudável ao seu
funcionamento diário.
Beck (2014) reforça a ideia de que a resposta de onde surgem os pensamentos
automáticos, o que faz com que uma pessoa interprete uma situação de modo
diferente de outra, tem a ver com fenômenos cognitivos mais permanentes: as
crenças. No entanto, não será aprofundado sobre esse nível de cognição, por não
ser considerado objeto de análise neste estudo.

Para (GREENBERGER; PADESKY, 2017) a denominação “pensamentos


automáticos”, é delimitada pelo juízo de que os pensamentos aparecem de modo
automático na mente, desta forma, não é planejado, e intencional e geralmente não
são conscientes. Estes autores avisam que, uma das propostas da Teoria Cognitivo
Comportamental é trazer à consciência os pensamentos automáticos.

Os pensamentos automáticos são cognições presente na vida de qualquer pessoa;


são considerados de mais fácil acesso, em comparação aos outros dois níveis de
cognições, pressupostos subjacentes e as crenças. Os pensamentos podem ocorrer
por diversas formas, como palavras, imagens; eles surgem de forma espontânea e
rápida, não são planejados, e geralmente não são conscientes. A TCC em seu
arsenal teórico descreve o método de evocação e modificação dos pensamentos,
através de técnica validadas por essa frente teórica. A etapa de reconhecimento é o
primeiro passo para a promoção da reestruturação das cognições.

Identificação de Pensamentos Automáticos (PAs):


De acordo com Stallard (2009) os pensamentos automáticos ocorrem diariamente e
é preciso aprender a identificar e desafia-los, com foco aos que ocorrem com
frequência e são mais intensos, chamados de pensamentos “quentes”. Em sua visão
aprender a identificar Pensamentos Automáticos torna as pessoas mais aptas a
obter uma visão mais equilibrada de sua realidade.
Segundo Beck (2014) a habilidade para aprender a identificar pensamentos
automáticos é comparável a aprendizagem de qualquer outra habilidade; algumas
pessoas conseguem fazer com facilidade, e outros necessitam de maior tempo de
orientação e prática para conseguir identificar. Este autor defende que, as pessoas
tem o hábito de compreender seus pensamentos automáticos como verdade, sem
um fundo de reflexão ou avaliação. Adverte ainda, que a identificação, avaliação e
resposta de pensamentos automáticos, de forma mais adaptativa, em regra
produzirá mudanças mais positiva nas emoções.
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A Teoria Cognitivo Comportamental apresenta recursos que auxiliam no processo de


identificação de pensamentos disfuncionais negativos, enviesados e autocríticos. O
foco de tratamento é a substituição desses pensamentos prejudiciais por cognições
mais positivas, equilibradas e funcionais. (STALLARD, 2009)
Os autores (GREENBERGER; PADESKY, 2017) descrevem que quanto mais atento
e consciente estiver de seus pensamentos, mais fácil acesso terá na identificação
dos diversos pensamentos agregados a um estado de humor. Identificar
pensamentos automáticos é um processo de autoconhecimento significativo,
identificar os pensamentos auxiliará na compreensão dos sentimentos e
comportamentos em diferentes situações.

Conforme exposto por Beck (2014) segue apresentação de modelo de técnica


utilizada pela TCC para evocar pensamentos automáticos; essa técnica é composta
por questionamentos durante o processo de aprendizagem que é conduzido pelo
terapeuta, até que a pessoa treine e se habilite para conduzir sem ajuda terapêutica
no seu dia a dia.

Para identificar pensamentos automáticos: 1)Faça esta pergunta quando você notar
uma alteração no (ou intensificação do) afeto do paciente durante uma sessão.
2)Faça o paciente descrever uma situação problemática ou um momento durante o
qual ele vivenciou uma alteração no afeto e faça a pergunta acima. 3) Se
necessário, faça o paciente usar imagens mentais para descrever em detalhes a
situação ou o momento específico (como se estivesse acontecendo agora) e depois
faça a pergunta acima. 4)Se necessário ou indicado, faça o paciente dramatizar uma
interação específica com você e depois faça a pergunta acima. (BECK, 2014)

Este autor ainda descreve outras perguntas para evocar pensamentos automáticos:
1)Em que você acha que estava pensando? 2)Você acha que poderia ter pensado
sobre ______ ou ______? (O terapeuta apresenta duas possibilidades plausíveis.)
3) Você estava imaginando alguma coisa que poderia acontecer ou lembrando de
alguma coisa que aconteceu? 4)O que essa situação significou para você? (Ou
sobre você.) 5) Você estava pensando? (aqui o terapeuta apresenta um pensamento
oposto à resposta esperada.) (BECK, 2014)

Segundo (GREENBERGER; PADESKY, 2017) as pessoas pensam e imaginam


constantemente, obtém pensamentos automáticos o tempo todo. Eles podem
ocorrer por exemplo, por meio de devaneios sobre amigos e, ou sobre um dia
qualquer, e por preocupações com tarefas a realizar; todos são pensamentos
automáticos, e podem acontecer via palavras, imagens ou figuras imaginárias.
[...]Para este autor uma das formas de identificar pensamentos automáticos, é estar
atento e notar o que passa pela mente no momento em que surgir um sentimento e,
ou reação de forma intensa.

Muitos dos pensamentos não contribuem para o bem estar; estes podem levar a
diversos sentimentos desagradáveis como ansiedade e preocupação, e
consequentemente gerar pensamentos negativos e pessimistas referente realidade.
Aprender a identificar e a substituir esses pensamentos é fundamental para a
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prevenção de adoecimentos emocionais e para a manutenção de bem estar


individual e coletivo.

Técnicas Cognitivo Comportamental


A TCC utiliza técnicas que visam auxiliar o processo de identificação e modificação
das cognições. Ensinar os pacientes a “pensar sobre o pensamento” compõe o
plano de tratamento a fim de tornar as cognições mais conscientes, e sob o controle
do indivíduo. (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008)
Estes mesmos autores sugerem sete métodos, estes propostos pela Teoria
Cognitivo Comportamental, para a identificar de pensamentos automáticos: 1)
Reconhecimento das mudanças de humor; 2) Psicoeducação; 3) Descoberta guiada;
4) Registro de pensamentos; 5) Exercícios de imagens mentais; 6) Exercícios de
role-play; e por último 7) Uso de inventários. ( WRIGHT; BASCO; THASE, 2008)
Ainda pela visão destes autores, a descoberta guiada é identificada como a técnica
mais importante e utilizada para o processo de identificação de Pensamentos
Automáticos, no entanto, todos os sete métodos são valiosos para a efetividade no
processo de identificação. Após essa a conclusão desta etapa o trabalho terapêutico
pode evoluir para intervenções de modificação das cognições. (WRIGHT; BASCO;
THASE, 2008)
Consequentemente estes autores apresentam os métodos utilizados pela Teoria
Cognitivo Comportamental, para a modificação dos pensamentos automáticos,
conforme detalha abaixo: 1) Questionamento socrático; 2) Uso de registros de
mudança de pensamento; 3) Geração de alternativas racionais; 4) Identificação de
erros cognitivos; 5) Exame das evidências; 6) Descatastrofização;7) Retribuição; 8)
Ensaio cognitivo; 9) Uso de cartões de enfrentamento. (WRIGHT; BASCO; THASE,
2008)
De acordo com o seguimento das colocações dos autores acima mencionados, O
questionamento socrático é avaliado pela TCC como a técnica fundamental neste
processo, é a primeira técnica designada para o percurso da modificação de
pensamentos automáticos; esta técnica é considerada a espinha dorsal das
intervenções cognitivas para mudança dos pensamentos disfuncionais. (WRIGHT;
BASCO; THASE, 2008)
Conforme a pessoa vivencia os processos de identificação e modificação através da
Terapia Cognitivo Comportamental, ela vai adquirindo habilidades para poder aplicar
no seu dia a dia de forma autônoma, praticar o autocontrole dos pensamentos
automáticos é fundamental para a manutenção do bem estar, de forma a reduzir as
possibilidades de recaída.

E concluindo (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008) descrevem que além dos métodos
cognitivos apresenta a “Parada de Pensamentos”, uma técnica comportamental, é
diferente das intervenções cognitivas, por não envolver a análise dos pensamentos.
O objetivo da técnica comportamental é interromper o processo de pensar
disfuncional e substituir por pensamentos mais adaptativos. No entanto, a parada de
pensamentos é um exemplo de técnica comportamental, se a mesma não for útil
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para ajudar o paciente a reduzir os pensamentos de preocupação, busque por


outras técnicas.
3. Conclusão
Pode-se inferir a partir da literatura aqui estuda, que a Teoria Cognitivo
Comportamental vem sendo utilizada de forma eficaz no tratamento de todos os
tipos de transtornos psíquicos, e qualquer outra condição que leve a pessoa a
procurar pelo processo de psicoterapia. O diferencial desta abordagem quanto as
demais bases teórias da psicologia, está no foco dado as cognições. Conforme visto
Cognições são pensamentos, e os pensamentos acontecem por meio de três níveis,
dos quais, os pensamentos automáticos ocupam o primeiro nível, classificado como
de mais fácil acesso.

Observa-se que embora este nível de Cognição esteja classificado pelo primeiro
nível, a teoria não aponta como um processo fácil de identificação; esses
pensamentos ocorrem no nível da consciência, mas não ocorrem de forma
consciente; são pensamentos que surgem de forma breve, e automática, na mente,
sem nenhum tipo de intenção para que ocorram. Geralmente estes pensamentos
são disfuncionais, e por isso a Teoria Cognitivo Comportamental deposita atenção
ao tratamento destes pensamentos.

A literatura define que a Terapia Cognitivo Comportamental tem por um de seus


principais métodos de intervenção, a identificação e modificação dos pensamentos
automáticos. Este seguimento teórico se fundamenta na primícia de que
pensamentos são responsáveis pelas reações emocionais e comportamentais; ou
seja, para a TCC os eventos e situações não são responsáveis pelas emoções e
pelos atos, o que ocorre é que os pensamentos atribuídos a situação é que os
determina.

Neste sentido é possível avaliar que os pensamentos automáticos são mecanismos


diretamente ligados ao bem estar emocional, e estão diretamente associados a base
da Teoria Cognitivo Comportamental. Identifica-se que “a invocação e modificação
dos pensamentos automáticos” é considerada um dos principais métodos da TCC; e
os construtos teóricos desta abordagem evidenciam a utilização de técnicas
altamente eficazes para o manejo consciente das cognições.

A Teoria Cognitivo Comportamental propõe a técnica de identificação e modificação,


um processo divido em duas etapas, primeiro a pessoa aprendera a identificar, e
depois a modificar. Este processo ocorre sob a orientação do Terapeuta Cognição
Comportamento, no entanto para sua efetividade a resposta e comprometimento do
indivíduo no processo é determinante. O que é previsto por um dos pilares desta
abordagem, o modelo colaborativo.

Conclui-se que a TCC apresenta de forma autêntica, em sua base teórica, conceitos,
métodos e técnicas cognitivas e comportamentais, voltadas para o tratamento de
quadros leves a graves, e prevenção, bem como para o processo de
autoconhecimento, ou outra demanda que leve o indivíduo a procurar pela
psicoterapia.

Este estudo se torna relevante, por permear a área da saúde mental de forma geral,
e por sua construção da ideia de que, a TCC é um modelo de intervenção em
12

psicoterapia, com atenção voltada ao modo de pensar das pensar, baseada na


primícia de que pensamentos realistas, e evidentes referentes a realidade
vivenciada, geram emoções e comportamentos mais saudáveis. Nesta perspectiva
verifica-se que a TCC se evidencia e é eficaz na utilização de técnicas para manejo
dos pensamentos automáticos. Que por vez tem a função de promover as pessoas a
disfrutar de momentos mais saudáveis, e manutenção do bem estar.

4. Referências

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