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Prontuário: nº XXX
Nome: A. M. B.
Sexo: Feminino
Idade: 62 anos
Estado Civil: Divorciada
Profissão: Aposentada
Início do atendimento: XX de XXX de XXXX
Término do atendimento: XX de XXX de XXX
Número de sessões: X
Número de faltas: X
Estagiário responsável pelas observações: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
PARTE II
1. Problemas apresentados
A paciente foi encaminhada para a clínica de psicologia por uma médica da unidade de
saúde, devido a presença de sintomas ansiosos e depressivos, sem remissão total com uso de
medicação (amitriptilina e fluoxetina). Sua queixa é de sentimentos de angústia e solidão,
apresentando vontade de chorar sem motivo aparente, e perda do interesse por atividades que
antes fazia, como por exemplo, dirigir para visitar a filha em São Paulo, fazer compras, ir ao
supermercado, caminhar, participar de grupos e excursões.
Além disso, relata sentir-se nervosa em lugares fechados, como supermercados e
bancos, provocando descontrole de sua glicemia, tontura, desmaio e convulsão. Também
apresenta preocupação com a doença diabetes, já que existem casos na família em que houve
complicações sérias em decorrência da mesma, como amputação de membros.
A paciente relata que os sintomas anteriormente descritos tiveram início há cinco ou seis
anos, mas se agravaram há dois anos, apresentando instalação progressiva. Pode-se citar como
fator precipitante dos sintomas a independência de suas duas filhas, já que as mesmas saíram de
casa, estando casadas e não dependendo mais da mãe. Um fator predisponente para o
aparecimento das tonturas, desmaios e convulsões foi o seu trabalho com menores infratores, no
qual “via muitas coisas feias” (sic), sendo que em seu próximo trabalho, em outra escola, voltou
a apresentar esses sintomas, devido ao fato de sentir rejeitada, sem muitas atividades.
As condições que melhoram os sintomas são o uso de fluoxetina, e energético quando
está muito triste; e as condições mantenedoras ou que pioram os sintomas são ter pensamentos
sobre o passado, assistir notícias catastróficas, bem como os finais de tarde.
Diante disso, a paciente foi ao médico, que a encaminhou. Relatou ter realizado
tratamentos com neurocirurgião e neuropsicanalista, sem maiores detalhes.
A paciente apresenta uma boa compreensão dos seus problemas, uma vez que tem ideia
do que está vivenciando, bem como consegue fazer relações com fatores precipitantes e
mantenedores.
3. Desenvolvimento
a. História familiar
Pais já falecidos, a mãe há 32 anos e o pai há 20. Afirma que possuía um bom
relacionamento com sua mãe, com bastante diálogo e incentivo para os estudos. Já com o pai e
os irmãos o relacionamento era difícil, pois os mesmos faziam muitos comentários sobre sua cor
de pele e seu cabelo. O pai não registrou a paciente, fazendo com que a mesma questionasse se
fazia mesmo parte daquela família, em sua adolescência. Hoje, não possui mais essas dúvidas.
A paciente vem de uma família de nove irmãos, sendo que três já faleceram. Mantém
contato com os mesmos, referindo insatisfação quando os irmãos se reúnem e não a chamam.
b. História escolar/ocupacional
Foi atleta, velocista, o que despertou o desejo de conhecer a parte psicológica dos
atletas, cursando dois anos de Psicologia, mas não satisfazendo suas expectativas. Cursou
também dois anos de engenharia, antes da psicologia. Por fim, escolheu Educação Física,
ficando satisfeita com a escolha da profissão.
Teve como ocupação treinar atletas, e ser professora de Educação Física, trabalhando
em escolas e no CIP (Centro de Internação Provisória) com menores infratores. Manteve-se
satisfeita com sua profissão, mas apresentou problemas de saúde em seus últimos trabalhos, o
que a levou a aposentadoria.
c. História social
Na escola, a paciente era líder, não se sentindo rejeitada pelos colegas. Teve apenas um
namoro antes do casamento, o qual durou 6 anos, e terminou por questões familiares, não
explicitadas, sendo que quando casou ainda tinha sentimentos pelo namorado anterior. Foi
casada por 16 anos, e está separada há 23, devido a um relacionamento extraconjugal do
marido.
Desse casamento, a paciente teve duas filhas, ambas casadas, sendo que uma reside
próxima a paciente e a outra em São Paulo; possui dois netos, e uma de suas filhas está grávida.
Afirma sentir orgulho das mesmas, sendo que estas são amigas e não têm ciúmes uma da outra.
Após o divórcio teve um namoro de um ano e meio, que terminou devido a ida da
paciente para São Paulo, em ocasião em que sua filha estava doente. Teve também um amigo
com quem passeava, mas não era um relacionamento amoroso, visto que essa pessoa havia
terminado um relacionamento recentemente e ainda tinha sentimentos pela ex.
Atualmente possui contato apenas com familiares, as filhas e os irmãos. Vai à igreja
católica duas vezes por semana, mas não estabelece relações com pessoas que encontra nesse
local.
4. Experiências traumáticas
A paciente aponta que sua separação pode ser considerada como um evento traumático,
pois depois desse fato, ficou com medo de enfrentar a vida. Outro evento apontado como
traumático, refere-se a independência das filhas em decorrência do casamento e saída de casa
com o intuito de constituírem suas famílias.
O início das suas crises de convulsão foi quando trabalhava num Centro de Internações
Provisórias e começou a receber ameaças de seus ex-alunos, sendo isso outro ponto traumático.
Acredita-se que para a paciente pode ser traumático também a experiência de ter perdido a mãe
e dois irmãos de diabetes e mais dois irmãos de câncer, pois a mesma também possui diabetes.
5. História médica
A paciente não teve nenhuma internação psiquiátrica anterior, sendo que essa é a
primeira vez que realiza um tratamento psicológico. A mesma só relatou brevemente que fez um
tratamento com um neurocirurgião e com um neuropsicanalista, sendo que não trouxe mais
detalhes sobre isso.
A. foi encaminhada à Clínica de Psicologia pela médica da Unidade de Saúde Familiar e
Comunitária (USFC).
7. Status Psicológico
8. Rapport
A paciente apresenta grande abertura para responder as perguntas, revelando sua
situação passada e atual de vida, sem resistências, sendo que demonstra estar bastante motivada
para a terapia e com disposição para auxiliar no seu processo terapêutico.
Percebe-se um bom nível de compreensão da paciente acerca de seus problemas, sendo
que a mesma compreende as situações que precipitaram seus problemas, bem como tem um
bom nível de insight de situações que os mantém. A paciente desperta sentimentos de afeto, pois
a sua motivação e colaboração com a terapia são reforçadores.
Devido ao fato de suas filhas terem adquirido sua independência, saindo de casa, se
casando e estando empregadas, bem como pelo fato de sua aposentadoria, a paciente sente que
não tem mais utilidade, afirmando que antes tinha várias atividades, mas agora não tem o que
fazer. A ausência de uma vida social composta por outras pessoas que não a família contribui
para a manutenção dos sintomas de depressão, já que a paciente não possui outras atividades, ou
outras pessoas com quem conversar. Neste sentido, Katz e Rubin (2000 apud CARNEIRO,
2007) afirmam que a falta de convívio social traz consequências negativas na cognição geral e
depressão.
A paciente apresenta alguns pensamentos recorrentes, tais como: “eu não sou tão boa
quanto as outras pessoas”, “eu não agrado as pessoas” e “a culpa de tudo é minha”. Esses
pensamentos podem ser caracterizados como distorções cognitivas, que são maneiras
equivocadas de interpretar experiências (KNAPP, 2004), e podem ser classificados como
pensamentos automáticos, já que acontecem rapidamente, involuntariamente e
automaticamente, sendo “mais fáceis de acessar e modificar” (KNAPP, 2004, p. 25).
Pensamentos como esses demonstram a percepção distorcida da paciente em relação a si
mesma, que vai ao encontro do que POWELL (2008) afirma sobre as características de
indivíduos com depressão, os quais apresentam uma visão negativa de si mesmo, do mundo e do
futuro, sendo isto considerado para a Terapia Cognitiva como tríade cognitiva negativa. Esse
padrão de pensamento é prejudicial, pois contribuem para a vontade rebaixada e baixa auto-
estima da paciente (GREENBERGER; PADESKY, 1999).
De acordo com o relato da paciente, os sintomas tiveram inicio há cinco ou seis anos
intensificando-se progressivamente há dois anos. Percebe-se que o relacionamento pregresso da
paciente com o pai e os irmãos contribuiu para o modo como a paciente se sente hoje, pois o
que os mesmos falavam fazia com que ela se sentisse rejeitada, como se não fizesse parte da
família. Deste modo, sugere-se que a paciente tenha uma crença central de inferioridade, ou
seja, de que não é tão boa quanto as outras pessoas, construída a partir destes relacionamentos.
Segundo Knapp (2004) a crença acerca de si é moldada a partir de experiências e aprendizados.
Além disso, o autor enfatiza que “pacientes deprimidos percebem-se como inferiores” (p. 174).
Outro aspecto que vale ressaltar, é que a paciente apresenta nervosismo ao ficar em
ambientes fechados, o que acarreta consequências como o descontrole na glicemia, tonturas,
desmaios e convulsão. Para Ballone e Moura (2008) o estresse pode fazer com que a glicemia
aumente, ou seja, a ansiedade pode levar a uma hiperglicemia, já que os hormônios liberados
pelo estresse fazem com que a concentração de glicose no sangue aumente (hiperglicemia). Para
Fuentes (2008), as crises epilépticas podem ser precipitadas pela hipoglicemia. Acredita-se que
a paciente passou por situações onde a sua glicemia descontrolou e ela teve alterações físicas.
Logo, pode-se inferir que a paciente tem medo de perder o controle nessas situações e necessitar
de ajuda. Deste modo, surgem pensamentos como: “estou incomodando as pessoas” e “não
agrado as pessoas”. Estes pensamentos também demonstram a visão negativa da paciente acerca
de si mesma, já que para Knapp (2004) na depressão os pacientes percebem-se também como
indesejados e inadequados. Além disso, essas situações e pensamentos contribuem para um
comportamento inseguro e de autodesvalorização, o que leva a uma piora no quadro de
depressão, pois a paciente evita sair de casa para ir a alguns locais.
O aparecimento dessas crises está vinculado ao trabalho realizado com menores
infratores e com a rejeição nas atividades na última escola em que trabalhou.
Como pontos fortes e vantagens, a paciente apresenta consciência acerca do seu
problema, memória preservada, humor normotímico, estabilidade financeira e motivação para
terapia.
12. Procedimentos Clínicos