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Uma família, composta por: uma mãe M (39 anos) e seus filhos A (15 anos), B (11 anos)
e C (6 anos). M rompeu seu último relacionamento com o pai de C (P) há seis meses,
após ter sofrido violência doméstica. Com o ocorrido, não tem conseguido levar os
filhos para a escola, nem aos acompanhamentos médicos agendados. A tem feito a
comida para a mãe e os irmãos, além de também levá-los à escola. A escola,
percebendo que adolescente e crianças estão chegando às aulas com roupas sujas e
com muita fome, acionou o Conselho Tutelar da região, que comunicou a Vara da
Infância e Juventude, considerando que a mãe tem sido negligente nos cuidados dos
filhos. A mãe, com as faltas no trabalho, perdeu seu emprego formal e não conseguiu
pagar o aluguel naquele mês. Para contribuir com a renda da família, B e C passaram a
realizar trabalho infantil, cuidando de carros quando não estão na escola. Há suspeitas
que os filhos tenham presenciado as brigas do casal nos últimos anos. M está
arrependida da separação, pois mesmo sofrendo violência, P provia as necessidades
dela e dos filhos. Como deve ser conduzido o estudo social dessa família?
Caso 02:
Uma família composta por pai, mãe e três filhos, fruto da união, conviveram juntos por
dez anos. O pai, alega ter descoberto traição da esposa, a impede de entrar em casa
pegar suas coisas e cria empecilhos para ver os filhos. Abre processo de guarda
unilateral e solicita que as visitas sejam feitas exclusivamente com sua presença e na
antiga moradia do casal. Foi determinado estudo social em caráter de urgência,
requisitando ao assistente social, dentre outros quesitos, a existência ou não de
alienação parental. A mulher nega a traição e acusa o ex-marido de ter abusado
sexualmente da filha mais velha do casal e diz ter saído de casa para buscar ajuda e
que voltaria para pegar os filhos, sendo impedida de vê-los ou entrar novamente na
casa. De acordo com as especificidades do estudo social em Varas de Família, como
deve ser direcionada a atuação do assistente social?
Alguns caminhos:
Conceito de parentalidade: A parentalidade designa o conjunto de modos de ser e de viver
o fato parental: de ser pai e de ser mãe.
O Serviço Social não considera a alienação parental como objeto profissional, mas sim
a convivência familiar e comunitária que é fundamental para a socialização de crianças
e de adolescentes.
Sugestão:
Gois e Oliveira (2019), em publicação que aborda as particularidades do exercício profissional
na Justiça de Família, ponderam que, nesse espaço, o conflito judicial se dá majoritariamente
entre pessoas, embora por vezes seja possível identificar que a ausência do Estado possa ter
sido determinante para a sua emergência. Por estarem veladas pela subjetividade decorrente
do conflito relacional-legal, as expressões da questão social nessa área não se revelam no
imediato. O desafio inicial da/o profissional na elaboração dos estudos/perícias sociais nesse
espaço é justamente o desvelamento dessas expressões e das dimensões sociais, de classe,
raça/etnia, gênero, que cabem à/ao assistente social trazer à tona.
Caso 03:
Uma família, composta por uma mãe F (30 anos), uma avó materna (55 anos), duas
crianças (4 e 3 anos) e dois adolescentes (12 e 13 anos), vivem em situação de
vulnerabilidade social.
Foi localizado um processo na Vara da Infância e Juventude arquivado, ocasião em que
a avó materna perdeu o poder familiar de todos os seus filhos. F foi a única filha que,
mesmo destituída, evadiu-se do serviço de acolhimento e continuou vivendo com a
mãe até a fase adulta, quando passou a ficar algumas vezes em situação de rua, em
razão do uso de drogas. F acaba de dar a luz em uma maternidade da região e a VIJ foi
acionada pelo Serviço Social do hospital em razão dela não ter feito o pré-natal.
No estudo social, o parecer técnico foi pelo acolhimento institucional da criança
recém-nascida em razão da história da família e em razão da avó materna já ter a
guarda dos 4 filhos de F e estar sobrecarregada. Você teria dado o mesmo parecer?
Caminhos:
Avaliar as condições que esta mãe, que acabou de dar à luz, tem para exercício da
parentalidade articuladas à rede de apoio socioassistencial, ou seja, o amparo que esta
mãe ou esta avó recebem do Estado e da sociedade para dar conta de seus membros.
A avaliação não pode ser somente individual – mãe ou avó que está sobrecarga – mas
articulada a rede social mais ampla – rede de apoio (família extensa ou instituições),
condições de trabalho e renda, acesso a política pública, etc. O acolhimento
institucional é medida excepcional quando esgotadas todas as outras possibilidades.
Caso 4:
Um adolescente de 15 anos foi abordado por policiais enquanto realizava grafite em
um muro de um prédio municipal. O adolescente esclareceu que aquilo era sua “arte”
e não uma pichação. O adolescente foi levado para a delegacia e lavrado boletim de
ocorrência de crime contra o patrimônio público (vandalismo). Sua família foi chamada
para que fosse liberado e sua mãe se negou a comparecer alegando achar ótimo que o
filho fique por lá uns dias para aprender a obedecê-la. No dia seguinte, foi apresentado
a Vara para estudo social solicitado para subsidiar a oitiva. Como iniciar esse estudo
social? O que deve ser garantido ao adolescente?
O adolescente deve ser ouvido e deve ser garantido seu protagonismo em todos
processo, ou seja, ele tem o direito de saber todo o trâmite processual, mais que isso,
de participar ativamente dos assuntos de seu interesse (ECA). Deve ser garantida a sua
defesa. As figuras parentais precisam ser ouvidas e orientadas. Se necessário realizar
abordagem institucional junto a escola e outras instituições que componham a rede de
apoio da família.
Caso 5:
Um hospital encaminha relatório para a Vara da Infância e Juventude, após uma
criança de 1 ano e meio ter dado entrada na emergência com 60% do corpo queimado.
Na ocasião, estava em seu berço que pegou fogo na moradia em que estavam
presentes: genitores, avó paterna, tio e primos. Em entrevista social, a avó materna,
convocada para estudo social, conta que a filha lhe disse que sentiram um cheiro de
carne queimada e foram até o fogão ver se o jantar estaria queimando. A criança
perdeu os movimentos dos dedos da mão direita e precisou fazer vários enxertos, pois
engatinhava no berço para fugir das chamas. Não há previsão de alta, mas não há risco
de morte. O assistente social, curioso, foi atrás do laudo policial que determinou a
natureza criminosa do incêndio e não acidental. Para onde a criança deverá ser
encaminhada após a alta hospitalar?
De antemão não cabe curiosidade ao assistente social que cumpre os preceitos éticos
da profissão. Somos profissionais do acesso à bens e serviços públicos, nossa atuação
deve se pautar na dimensão socioeducativa, no sentido de identificar as fragilidades
desta família para o cuidado parental protetivo. Nosso trabalho deve ser focado no
melhor interesse da criança, na compreensão do que é necessário para que a casa seja
um ambiente protetivo, ou se essas pessoas realmente não têm condições de cuidar
desta criança, esgotadas as possibilidades dela permanecer na família. Nós atuamos da
perspectiva da proteção e não da criminalização.
Caso 6:
Um processo em Vara de Família, foi aberto pelo genitor requerendo a guarda
compartilhada da filha de 11 anos. No momento, a criança vive com a mãe, após a
separação dos pais. Em entrevista com assistente social, a criança diz ter vergonha de
estar com o pai, pois está em processo transexualizador, inclusive requisitando que a
filha faça coisas que antes realizava com a mãe, como pintar as unhas e arrumar os
cabelos. Como conduzir o estudo social considerando o melhor interesse da criança e o
processo transexualizador do genitor?
Caso 7:
Em um processo de Vara de Família, foi determinado o estudo social de um homem,
empresário, 35 anos, após seu pai pedir sua interdição por dizer que o filho não
responde por si, em razão do uso abusivo de drogas. Existe a preocupação do pai, que
o filho acabe com o patrimônio da família, além da alegação dele usar seu
apartamento em bairro nobre de São Paulo, para consumo e venda de drogas. Quais
implicações desse estudo social?
A interdição é um processo no qual a pessoa perde seus direitos civis e políticos, não
podendo responder por si mesma, e a tomada de decisão é delegada integralmente ao
curador. Tal processo no Brasil é de dificílima reversão, ao contrário de alguns países
da Europa. O uso abusivo de substâncias psicoativas e álcool não se configura como
um motivo plausível para a interdição, exceto se tenha causado danos neurológicos.
Há instrumentos para o controle do patrimônio familiar, sem a necessidade da
interdição. Há instrumentos para que este senhor, caso seja do interesse dele, receber
ajuda profissional. Este estudo deve estar pautado por bibliografia de interdição
(MEDEIROS, 2013), literatura que discuta os direitos das pessoas com transtorno
mental (ainda que pelo uso de substâncias psicoativas/álcool), e os impactos para os
familiares. A questão central é: o cuidado deste familiar é para proteção do irmão ou
centrado no patrimônio? A prioridade de interesses faz toda diferença neste caso.