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Unidade Letiva 1 – Criminalidade Sexual

1.1. A criminalidade sexual enquanto fenómeno social


Top crimes e outras formas de violência:
• Violência Doméstica (77.4%)
• Crimes Sexuais contra crianças e jovens (4.9%)
• Ameaças/coação (2.8%)
• Ofensas à integridade física (2.6%)
• Difamação/Injúrias (2.2%)
• Crimes sexuais contra adultos (1.4%)
• Perseguição/Stalking (0.9%)
• Burla (0.8%)
• Discriminação e incitamento ao ódio (0.8%)

1.2. Perspetiva etiológica da agressão sexual


O modelo resulta de anos de investigação e prática clínica com agressores sexuais. O autor identifica o
papel específicos de vários fatores nomeadamente:
• Vínculos paterno-filiais
• Relações próximas entre adultos
• Solidão
• Estilos de vinculação
• História sexual juvenil
• Influências socioculturais
• Pornografia
• Processos de condicionamento
• Auto-estima
• Empatia
Para Marshall, os homens devem aprender a controlar a sua tendência inata para satisfazer os seus
desejos, especificamente no que diz respeito à associação entre sexo e agressão. Embora as questões
ambientais e a aprendizagem exerçam um grande controlo sobre o comportamento, esse controlo atua
sobre disposições inatas. Deste modo, o comportamento é determinado pela interação entre o inato
e o adquirido.

1.2.1. Influências biológicas


Para Marshall, a evolução dotou o Homem com a capacidade de colocar em prática certos
comportamentos para conseguir os seus objetivos sexuais, nomeadamente:
• A agressão
• A ameaça
• A coação
Claro que, apesar do prazer e da gratificação que lhes poderia trazer o recurso à violência, nem
todas as pessoas a utilizam. Na verdade, se as respostas agressiva e sexual fossem claramente
distintas, quer do ponto de vista fisiológico que do ponto de vista subjetivo, poderiam ser facilmente
distinguidas pelo sujeito.
Contudo, os substratos neuronais que atuam na agressão são os mesmo que atuam no sexo. Estes
comportamentos têm por base um sistema endócrino complexo que inclui diversos mediadores
bioquímicos.
Os esteróides sexuais têm 2 funções primordiais no comportamento sexual agressivo: i) uma
organizativa; e outra ii) motivacional. Antes da puberdade, os seus efeitos ativadores parecem
mínimos, mas, uma vez ativados, os níveis hormonais aumentam pelo menos 4 vezes ao longo dos
primeiros 10 meses, alcançando os níveis de um adulto em apenas 2 anos. É o momento em que se
produz um aumento da atividade sexual e do comportamento agressivo. Por conseguinte, a
puberdade e os primeiros anos da adolescência são épocas importantes para aprender a expressar e
a canalizar o sexo e a agressão.
Marshall demonstrou que os comportamentos sexuais nas primeiras etapas da adolescência são
preditores fiáveis da delinquência sexual na idade adulta. Por isso, a aquisição de atitudes e
comportamentos durante a infância preparam o ser humano para responder adequada ou
inadequadamente à ativação provocada pelos fortes desejos que caracterizam a etapa da
puberdade.

1.2.2. Experiências na infância


Para Marshall, a relação entre pai e filho é muito importante. O autor considera que uma relação
paterno-filial pobre pode (não garante) resultar num comportamento sexual desviante e deduz que os
delinquentes sexuais devem ter tido problemas com os pais quando eram crianças. As crianças que se
tornam violadores vivem, regra geral, num contexto familiar de abuso, onde são frequentemente e
severamente castigadas de forma aleatória, por motivos que, raramente, se relacionam com o seu mau
comportamento. Existe ainda evidência empírica de que o comportamento antissocial na infância, que
se produz no seio de uma família hostil, muito provavelmente induz a criança a violar quando se torna
adulto. Em geral, a delinquência juvenil e o comportamento antissocial em adulto estão estreitamente
relacionados com a baixa qualidade das relações familiares na infância.
Os problemas de apego entre mãe e filho predizem um comportamento antissocial na idade adulta,
enquanto os problemas entre pai e filho predizem a agressão sexual. Estas relações problemáticas
entre pai e filhos são consideradas vínculos paterno-filiais destrutivos.

1.2.3. Vínculos paterno-filiais


Bowlby foi um dos primeiros autores a destacar a importância dos laços entre pais e filhos no
desenvolvimento normal da criança. Afirmou que a qualidade desses vínculos proporciona à criança
um modelo para futuras relações. Para Bowlby, se a relação com os pais é boa, a criança pensará que
as relações com os outros também o podem ser; se, pelo contrário, esses vínculos são pobres, a criança
partirá do princípio de que as relações interpessoais podem ser problemáticas. As relações entre pais
e filhos facilitam ou impedem a aquisição da segurança e das competências necessárias para funcionar
com eficiência, particularmente no que concerne ao relacionamento com os outros.
Através dos seus pais, as crianças aprendem não só o que podem esperar das relações com os outros,
mas também quais as atitudes e os comportamentos que facilitam ou impedem o estabelecimento
deste tipo de laços afetivos. Os pais disfuncionais podem exteriorizar todos o tipo de comportamentos
desadequados ou mesmo antissociais, que a criança vulnerável pode imitar.
Ainsworth descreveu 3 tipos de vínculos afetivos que refletem a sensibilidade do cuidador face à
criança: i) seguro, ii) evitante e iii) ansioso-ambivalente. Quando um dos pais é carinhoso e sensível
para com a criança, esta desenvolve uma forma segura de se relacionar com os outros: tem mais
amigos, é mais sociável e empatiza mais com os que a rodeiam do que com as crianças com um vínculo
afetivo inseguro. Se a qualidade da relação pai-filho é pobre, a criança desenvolve um estilo evitante
ou ansioso-ambivalente na sua relação com os outros.
Consideram-se relações pobres aquelas em que os pais estão ausentes, rejeitam os filhos, são
insensíveis às suas necessidades, não são carinhosos ou têm dificuldades em demonstrar afeto e
respondem de modo incoerente ao comportamento dos seus filhos.
As crianças que revelam um estilo evitante durante a infância, ao atingir a idade adulta não se
apaixonam, nem evidenciam fortes vínculos amorosos com ninguém. Crianças com historial ansioso-
ambivalente repetem o mesmo padrão nos seus relacionamentos amorosos, que tendem a ser curtos
e superficiais. A capacidade para estabelecer relações íntimas e maduras depende da qualidade das
relações entre o cuidador e a criança durante os primeiros anos da infância. O tipo de experiências é,
nesse sentido, muito importante.
Marshall salienta que os delinquentes sexuais carecem de relações próximas nas suas vidas e, como
consequência, sentem-se sós. A solidão emocional é um forte preditor da ida e da hostilidade em geral,
da hostilidade para com as mulheres e da agressão não sexual.
Bartholomew distingue 4 estilos de vinculação entre adultos. Os indivíduos que apresentam um
estilo seguro confiam mais na sua capacidade para dar e receber amor, relacionam-se adequadamente
com os demais e acreditam que os outros também são capazes de amar. Para Bartholomew os
indivíduos que apresentam um estilo inseguro manifestam um de três estilos: i) preocupado, ii)
temeroso ou iii) depreciativo.
O preocupado define alguém que não se considera digno de receber amor, embora reconheça nos
outros essa qualidade. Estes indivíduos desejam estabelecer vínculos emocionais próximos, mas
acabam por se retrair, por medo da rejeição.
O temeroso define alguém que acredita que não merece ser amado e, por sua vez, duvida da
capacidade que os outros têm para amar; por conseguinte, procura relacionamentos superficiais.
O depreciativo caracteriza-se por um elevado autoconceito, mas subvaloriza os outros, explorando-
os nas suas relações.
Os delinquentes sexuais têm uma maior probabilidade que os restantes indivíduos de desenvolver
um destes 3 tipos de vinculação insegura. Um vínculos emocional inseguro entre pai e filho torna este
último vulnerável, fazendo dele um sujeito com baixa autoestima e reduzidas competências de coping,
egocêntrico e com escassas e pobres relações sociais, devido à sua falta de empatia.

1.2.4. Fatores sócio-culturais


Esta vulnerabilidade estimula i) a curiosidade da criança por certos termas que surgem nos meios
de comunicação social, ii) que enfatizam o poder e o controlo dos homens. Esta forma de ver as coisas
atinge o seu expoente máximo na pornografia. Essas representações de relações distorcidas entre
homens e mulheres:
i. São particularmente atrativas para os jovens
ii. Que carecem de segurança entre si próprios e que, consequentemente,
iii. Não se sentem suficientemente viris.
Fantasiar com a passagem ao ato desses papéis masculinos distorcidos:
i. Pode ser a única forma que estes jovens encontram de sentir que exercem poder e controlo
sobre as suas vidas,
ii. Encarando este tipo de comportamentos como garantia de satisfação dos seus desejos
iii. Que não encontram em comportamentos socialmente adequados.
A investigação chama a atenção para 3 características gerais da sociedade e que parecem influir na
frequência com que se produzem violações, a saber:
i. A violência interpessoal,
ii. O domínio masculino
iii. A atitude negativa face à mulher.
1.2.5. Experiências juvenis
Um número muito elevado de delinquentes sexuais manifestaram ter sido vítimas de abuso sexual
durante a infância. É sabido que os agressores sexuais começam a masturbar-se mais precocemente e
com maior frequência que os outros rapazes. É possível que a masturbação constitua a única forma
que este jovens mais vulneráveis têm de se sentir bem num mundo percebido como ingrato. Quando
o sexo, no caso, a masturbação, é utilizado como uma forma de escapar à felicidade, cedo se converte
numa forma de resolver todos os problemas. Tal sucede porque, em termos de condicionamento o
sexo é reforçado tanto negativa (modo de escapar aos problemas), como positivamente (prazer do
orgasmo).
O sexo converte-se num modo habitual de resolver todo o tipo de dificuldades, incluindo o mal-estar
emocional. Os agressores sexuais utilizam o sexo como principal mecanismo de resolução de
problemas. Um jovem que é constantemente rejeitado pelas raparigas da sua idade pode começar a
fantasiar com encontros sexuais com raparigas que se submetem aos seus desejos. Nessas fantasias o
jovem pode ser poderoso e intimidador e a rapariga submissa e obediente. Também a observação do
comportamento do pai e das suas atitudes para com as mulheres, assim como as imagens veiculadas
pelos media podem alimentar esse tipo de fantasias.

1.2.6. Desinibição e oportunidade


Uma vez consolidada a disposição para agredir, qualquer reserva que possa existir face à mesma
pode desaparecer sob uma série de influências, tais como a depressão, a ansiedade e a sensação de
solidão. Estas influências aumentam as tendências desviantes dos agressores sexuais. Também a
intoxicação alcoólica e a ira aliviam a repressão dos atos sexualmente desviantes. Sentimentos como
a vergonha e determinas atitudes, crenças e perceções distorcidas facilitam a execução de agressões
sexuais por parte de indivíduos com predisposição para este tipo de comportamentos.
Apenas os indivíduos predispostos para agredir sexualmente aproveitam a oportunidade quando
esta surge. Uma vez consumada a violação, é muito provável que o agressor a repita em fantasia,
recordando apenas os aspetos que correram de acordo com o planeado, e muito provavelmente
acrescentando detalhes que aumentam a sua satisfação. A repetição das fantasias durante a
masturbação reforça os aspetos gratificantes da violação, enquanto os aspetos negativos, tais como o
medo de ser apanhado ou a resistência da vítima, tendem a ser eliminados. Desta forma, a
predisposição para violar vai-se consolidando.
Em suma:
Os aspetos biológicos, relacionais, sócio-culturais e situacionais conjugam-se de forma clara e
fornecem uma explicação lógica, credível e clinicamente fundamentada para um fenómeno tão
complexo e polémico como a violação.

1.3. Abordagens tipológicas da violação


A progressão da Ciência opera-se mediante a simplificação de domínios complexos e diversos do
conhecimento. Tal simplificação é conseguida através de um processo metódico de distribuição dos
elementos de um grande grupo heterogéneo em subgrupos que possuam características comuns,
conferindo assim alguma ordem à diversidade. A ciência da classificação, a Taxonomia, é fundamental
a toda a Ciência. A sua tarefa consiste em estabelecer as leis e os princípios subjacentes à diferenciação
de um domínio em subgrupos que, teoricamente, apresentam similaridades importantes. Quando
mais heterogéneo o domínio em questão, mais crítica a classificação.
A classificação é uma operação cognitiva fundamental. Desde o primeiro contacto com o estímulo
percebido até à integração e armazenamento da informação na memória a longo prazo, a
identificação, a organização e integração dos elementos que partilham características comuns são,
comprovadamente, componentes essenciais da perceção e da cognição. A função crítica da
classificação na investigação científica reflete o seu papel central na cognição: constitui um precursor
e um alicerce de todo o progresso científico. Na compreensão da estrutura taxonómica de uma
população desviante reside a chave para a elaboração teórica e a pedra basilar de qualquer
intervenção.
Tal estrutura fornece uma base para a investigação e constituiu um pré-requisito essencial para a
determinação da resposta ideal da sociedade ao desvio. Seja o objetivo final a tomada de decisões
relativas à intervenção, o estudo do desenvolvimento de determinado padrão comportamental
desviante ou o acompanhamento do curso de vida desse mesmo padrão, a estrutura taxonómica da
população deve ter sida em consideração, sob pena de serem cometidos erros de ordem prática,
metodológica e teórica.
No estudo da agressão sexual, a importância da abordagem taxonómica tem sido extensamente
reconhecida na literatura clínica. Os investigadores que trabalham com agressores sexuais têm vindo
a registar as constâncias que observam entre estes agressores e a propor diversas tipologias, cujo
objetivo primordial é aumentar a homogeneidade dos grupos e permitir uma melhor fundamentação
das decisões clínicas.

1.3.1. O modelo de Groth


A violação constituiu sempre e principalmente um ato agressivo. Em cada violação estão envolvidas
tanto a agressividade como a sexualidade, mas esta última torna-se o meio através do qual são
expressas as necessidades e sentimentos de carácter agressivo que operam no ofensor e estão
subjacentes ao seu comportamento criminoso. A violação é um fenómeno complexo e
multideterminado, servindo uma série de objetivos e propósitos. Quaisquer que sejam as diversas
necessidades e fatores envolvidos na prática da violação, Groth considera notória a presença constante
e proeminente das componentes da raiva, do poder e da sexualidade.
Baseado na sua experiência clínica, o autor afirma que a raiva ou o poder se assumem como
componente dominante e que a violação, mais do que uma expressão primária de desejo sexual,
constitui, na realidade a utilização da sexualidade como meio para expressar a problemática
subjacente associada ao poder ou à raiva.
A violação constitui, assim, um ato pseudosexual, um padrão de comportamento sexual relacionado
com o estatuto, a hostilidade, o controlo e o domínio, mais do que com o prazer ou a satisfação sexual.
É, no entender de Groth, o comportamento sexual ao serviço de necessidades não sexuais.

Violação por Raiva


Neste tipo de violação é notório que a sexualidade se torna um meio de expressão e descarga de
raiva e fúria acumuladas. A violação é caracterizada pela brutalidade física – é empregue muito mais
força do que aquela que seria necessária se a intenção fosse apenas subjugar a vítima e conseguir a
penetração.
Este tipo de ofensor ataca a sua vítima, agarra-a, agride-a, atira-a ao chão, espanca-a, rasga-lhe as
roupas e viola-a. Podendo utilizar um estilo de ataque repentino, com uma ofensiva surpresa que
apanha a vítima desprevenida, ou uma abordagem baseada na confiança para ganhar acesso à vítima
seguida de um ataque súbito e avassalador.
Groth considera que a vivência da violação para este tipo de ofensor é marcada pela consciência da
raiva e da fúria, que são expressas física e verbalmente. O objetivo do ofensor consiste em lesar e
humilhar a vítima, sendo que o desprezo que sente por esta é expresso mediante o uso de linguagem
abusiva e profana. O sexo torna-se numa arma e a violação na expressão da sua raiva. Para Groth,
muitas vezes, este tipo de ofensor obriga a vítima a submeter-se ou a praticar atos sexuais adicionais
que considera particularmente degradantes, tais como o sexo anal ou oral. Noutros casos, a expressão
do desprezo pela vítima envolve atos como urinar ou masturbar-se e ejacular sobre esta.
Geralmente, este tipo de ofensor não relata estados de excitação ou desejo sexual, sendo que, a
própria sexualidade é encarada como algo “sujo” e ofensivo e, por conseguinte, torna-se uma arma,
um meio de corromper, degradar e humilhar a vítima. O violador motivado por raiva obtém pouca ou
nenhuma satisfação sexual com a violação, muitas vezes a sua reação ao ato sexual em si é de repulsa
e nojo e a satisfação e o alívio derivam da descarga da raiva. Tipicamente, este tipo de ofensor relata
não ter premeditado a violação: não foi algo que fantasiasse ou ponderasse, mas sim algo que surgiu
no calor do momento. Mesmo durante o curso da violação, o ofensor pode dissociar-se
psicologicamente da agressão, como se estivesse em transe ou se fosse um observador, mais que um
participante; os acontecimentos são experienciados como irreais e o ofensor pode não ter noção dos
atos cometidos.
A duração deste tipo de violação é relativamente curta.
O ofensor ataca, agride e foge. São atos de caracter impulsivo ou espontâneo, não premeditados, e
o ofensor tem dificuldade em relatar o sucedido, optando pela negação e pela racionalização.
Ao descrever o curso dos acontecimentos, o ofensor relata um estado de espírito que combina a
raiva, a agitação, a frustração e a depressão, sendo a ofensa habitualmente precedida por um
acontecimento desagradável que, frequente, mas não invariavelmente, envolve uma figura feminina
significativa na vida do sujeito. A violação surge em resposta a um stressor precipitante que pode ser
identificado. As relações deste tipo de violador com as pessoas importantes da sua vida são
tipicamente pautadas pelo conflito, pela irritabilidade e pela provocação. A raiva, o ressentimento, a
hostilidade e a frustração acumuladas nestas relações são frequentemente deslocadas para outras
pessoas e, assim, a vítima pode ser desconhecida do ofensor, alguém que teve o infortúnio de estar
presente quando o seu autocontrolo começa a falhar e a sua raiva a eclodir. Em alguns casos, a vítima
do violador motivado pela raiva é a própria pessoa por quem o ofensor nutre tal raiva, mas em outros
casos, trata-se simplesmente de uma substituta dessa pessoa, um objeto simbólico e disponível em
que o ofensor vai descarregar a sua ira e fúria. A vítima não tem qualquer significado, direto ou
simbólico, para o ofensor, mas torna-se um alvo devido à sua relação com a pessoa contra quem o
ofensor procura vingança.
Este tipo de ofensor ataca de forma esporádica e pouco frequente: a acumulação das frustrações e
dos conflitos até ao ponto de erupção demora algum tempo. A incidência deste tipo de violador é,
segundo o autor, de 44%.

Violação por Poder


De acordo com Groth, neste tipo de agressão o poder é o principal fator da violação. A intenção do
ofensor não é lesar a sua vítima, mas sim possuí-la sexualmente. A sexualidade converte-se num meio
para compensar sentimentos latentes de inadequação e para expressar questões relacionadas com a
mestria, a força, o controlo, a autoridade, a identidade e a capacidade.
O objetivo é a conquista sexual e o ofensor usa apenas a força necessária para o atingir, para capturar
e controlar a vítima. Tal controlo pode ser atingido mediante a ameaça verbal, a intimidação com
armas brancas ou de fogo e/ou o uso da força física. A agressão física é usada para dominar e subjugar
a vítima, e é orientada para a obtenção da submissão sexual.
A intenção do ofensor é conseguir uma relação sexual com a vítima, como prova de conquista, e para
o conseguir recorre à força que considerar necessária para superar a resistência da vítima e para a
tornar indefesa. Muitas vezes a vítima é raptada ou mantida presa e pode ser submetida a violações
repetidas ao longo de um período mais ou menos prolongado.
Segundo Groth, este tipo de violador experiencia pensamentos obsessivos e fantasias masturbatórias
relacionadas com a conquista sexual e a violação, sendo característico o cenário em que a vítima opõe
resistência aos avanços do sujeito que, apesar disso, a domina e a penetra. É então que a vítima,
incapaz de resistir à destreza sexual do ofensor, cede à excitação sexual e se torna recetiva. Encarada
como um teste à sua competência, a experiência da violação para este tipo de ofensor é uma mistura
de excitação, ansiedade, antecipação do prazer e medo.
Na realidade, o ofensor obtém pouca satisfação sexual através da violação – esta constitui uma
desilusão, dado que nunca consegue corresponder à fantasia. O ofensor sente que não encontrou
aquilo que procurava, algo que não consegue identificar nem definir claramente, não se sente
confortado pelo seu desempenho nem pela resposta da vítima e, por conseguinte, sente necessidade
de procurar outra vítima, “a tal”. Assim, as violações tornam-se repetitivas e compulsivas, podendo
ocorrer em grande número num período de tempo relativamente curto.
A quantidade de força utilizada na violação pode variar de acordo com fatores situacionais e pode
verificar-se um aumento na agressão ao longo do tempo, à medida que o ofensor se torna cada vez
mais desesperado na busca daquela experiência indefinível que continua a escapar-lhe. A violação
pode ser premeditada – o ofensor sai em busca de uma vítima com a clara intenção de a violar – ou
oportunista – surge uma situação em que o ofensor se vê, inesperadamente, com acesso a uma vítima
e é essa acessibilidade que vai desencadear a violação. De acordo com Groth, a vítima do violador
motivado pelo poder tende a ser da mesma idade que o ofensor ou mais nova. A seleção da vítima é
predominantemente determinada pela sua disponibilidade, acessibilidade e vulnerabilidade.
Embora este tipo de violador possa contribuir o crime ao desejo de obter gratificação sexual, um
exame mais detalhado ao seu comportamento tende a revelar a ausência de quaisquer esforços no
sentido de determinar a recetividade da vítima a uma aproximação sexual, de negociar o encontro
sexual, de iniciar preliminares ou relações sexuais consensuais com a vítima. De acordo com Groth, o
objetivo do agressor é capturar, conquistar e controlar a sua vítima, sendo que o desejo sexual não
desempenha qualquer papel neste tipo de violação. Na verdade, as agressões sexuais coexistem com
as relações sexuais consensuais na vida do sujeito. Groth afirma nunca ter encontrado nenhum caso
em que a violação fosse a primeira ou a única experiência sexual na vida do sujeito, ou em que o sujeito
não tivesse quaisquer outras alternativas ou escapes para os seus desejos sexuais.
Uma das dinâmicas subjacentes a este tipo de violação é a reafirmação da masculinidade do ofensor.
Este tende a sentir-se inseguro relativamente à sua masculinidade ou em conflito no que concerne a
sua identidade, razão pela qual consideram a homossexualidade particularmente perturbante ou
assustadora e, muitas vezes, adotam atitudes de oposição. A violação torna-se uma forma de acalmar
tais receios, de reafirmar a sua heterossexualidade e de preservar o seu sentimento de masculinidade.
Mesmo atos heterossexuais que não a cópula, podem ser considerados “pervertidos” assim como a
masturbação. Na realidade todos os tipos de sexualidade são encarados como ameaçadores e as suas
investidas heterossexuais têm um carácter compulsivo e contrafóbico. As ansiedades do sujeito podem
ser convertidas numa postura dura, assertiva e machista, ou refletir-se numa curiosa necessária de
validação e confirmação ao que diz respeito às suas vítimas.
Este tipo de violador tende a entabular conversa de natureza sexual com a vítima, mostrando-se
simultaneamente assertivo (dando instruções, ordens ou expressando exigências) e inquisitivo
(questionando-a acerca dos seus interesses sexuais ou solicitando-lhe uma avaliação do seu
desempenho sexual. Refletindo tanto as questões associadas ao poder como as necessidades de
confirmação. Para Groth, a busca do poder, da mestria e do controlo apresenta-se como uma questão
por resolver na vida do sujeito, que se materializa nas violações por ele perpetradas. Por um lado, a
vítima pode simbolizar tudo aquilo de que o ofensor não gosta em si mesmo, o ser fraco, impotente,
efeminado. Por outro, a sua necessidade desesperada de se assegurar da sua virilidade e competência
sexual resulta muitas vezes na atribuição dos seus próprios desejos à vítima, distorcendo a sua
perceção desta e interpretando o seu comportamento de forma errónea. É frequente neste tipo de
ofensor a negação do caráter forçado da relação sexual. Ele necessita de acreditar que a vítima o
desejava e desfrutou da relação. Após a violação, o ofensor pode insistir em pagar uma bebida ou um
jantar à vítima, e expressar o desejo de a voltar a ver. Em alguns casos, esta atuação pode ser entendida
como um gesto de amizade ou como uma forma de desacreditar uma posterior queixa de violação por
parte da vítima. Noutros casos, este comportamento por parte do ofensor reflete a sua expectativa
fantasiosa que a conquista sexual tenha despertado na vítima um desejo por ele. O ofensor não pode
aceitar que a vítima não se tenha sentido atraída por ele, e racionaliza que a alegação de violação foi
feita para proteger a reputação dela.
A violação pode ser desencadeada por algo que o ofensor interpreta como um desafio por parte de
uma mulher ou uma ameaça de um homem, algo que compromete o seu sentimento de competência
e auto-estima e ativa sentimentos latentes de inadequação, insegurança e vulnerabilidade. Nesse
sentido, o ofensor procura restaurar o seu sentimento de poder, de controlo, de identidade e de valor
através da violação. Este é o mais frequente tipo de violação descrito por Groth, com uma incidência
de 55%.

Violação Sádica
De acordo com Groth, neste tipo de violação, a sexualidade e a agressão fundem-se numa
experiência psicológica unitária denominada de Sadismo. Verifica-se uma transformação sexualizante
da raiva e do poder, de tal forma que a agressão em si se torna erotizada.
Este tipo de ofensor obtém uma intensa gratificação ao maltratar a vítima e tem prazer com o seu
tormento, angústia, aflição, desespero e sofrimento. A violação envolve geralmente, bondage e
tortura, frequentemente associadas a uma componente bizarra ou ritualista. O ofensor pode sujeitar
a vítima a atividades invulgares (ex: cortar-lhe o cabelo, banhá-la ou limpar-lhe o corpo, forçá-la a
vestir-se ou a comportar-se de determinada forma). Tais comportamentos são acompanhados de
outros explicitamente abusivos (ex: mordeduras, queimaduras com cigarros ou flagelação). As zonas
sexuais do corpo da vítima (seios, nádegas, órgãos genitais) constituem alvos privilegiados de agressão.
Em alguns casos, o ofensor pode servir-se de objetos como paus e garrafas para penetrar a vítima. Nos
casos mais extremos, nomeadamente naqueles que envolvem homicídio, podem ocorrer
comportamentos grotescos, tais como a mutilação sexual do corpo da vítima ou a cópula com o seu
cadáver.
As prostitutas ou mulheres que o ofensor considere promíscuas podem converter-se em alvos
particularmente apetecíveis. Habitualmente as vítimas são desconhecidas do ofensor e partilham uma
ou mais características comuns, como a idade, a aparência física ou a profissão. Estas mulheres
tornam-se símbolos que o ofensor deseja punir ou destruir. A violação é deliberada, calculada e
premeditada, e o ofensor toma precauções contra a deteção, como o uso de disfarce ou o vendar dos
olhos da vítima. A vítima é perseguida, raptada, agredida e, por vezes, assassinada.
O violador sádico, contrariamente ao violador por raiva, planeia ao pormenor as suas ofensas, não
se verificando qualquer libertação explosiva da fúria. Geralmente este ofensor captura a vítima e só
depois atinge estados de excitação, à medida que a agride. Para o violador sádico, a experiência da
violação é marcada pela intensidade da excitação e pelo seu aumento progressivo. Tal excitação está
associada ao sofrimento infligido à vítima, sofrimento este de natureza física e psicológica. O ódio e o
controlo são erotizados, de tal forma que o ofensor obtém satisfação ao agredir, humilhar e, em alguns
casos, destruir a sua vítima. Para alguns violadores sádicos, o infligir de sofrimento, por si só, constitui
uma fonte de gratificação; para outros, constitui um comportamento preliminar para outras formas de
atividade sexual. A excitação sexual é função da agressão: quanto mais agressivos são, mais poderosos
se sentem; e quanto mais poderosos se sentem, mais excitados se tornam. O ofensor sádico revela
frequentemente sentir-se excitado com a resistência fútil da vítima, que vivencia como uma
experiência excitante e erótica. Pode, inclusive, estar impotente no início da agressão, até que a vítima
lhe resiste fisicamente, ou sofrer uma ejaculação espontânea durante a agressão.
A natureza ritualista e potencialmente letal das ofensas perpetradas pelo violador sádico leva, muitas
vezes, a que este seja estereotipado como um indivíduo claramente perturbado ou psicótico quando,
na verdade, esta oculta com sucesso os seus impulsos daqueles que o rodeiam. Uma das características
mais desconcertantes deste tipo de violador é a sua aparência afável, em clara contradição com o
estereótipo do predador sexual, característica esta que é rentabilizada na obtenção de acesso à vítima
insuspeita. O imaginário deste tipo de violador é povoado por pensamentos mórbidos, ligados ao
oculto, violentos e bizarros, centrando-se as suas fantasias sexuais em temáticas sádicas. Geralmente,
estes indivíduos interessam-se por pornografia sadomasoquista e colecionam recordações das vítimas,
tais como fotografias e peças de vestuário. As suas violações sádicas são repetitivas e intercaladas com
outras violações menos dramáticas, assim como encontros sexuais consensuais. Pode, ainda, verificar-
se uma escalada ao longo do tempo, sendo cada violação mais violenta que a anterior.
Os impulsos sexuais podem tornar-se aparentes noutros contextos, desde as suas relações sexuais
consensuais até outras atividades não explicitamente sexuais, tais como envolvimento em lutas ou
atos cruéis para com animais.
Em síntese, Groth considera que a intenção do violador sádico é abusar e torturar a vítima, o seu
instrumento é o sexo e a sua motivação é a punição e a destruição. Dos três tipos, este é o menos
frequente, correspondendo a cerca de 5% dos casos examinados pelo autor.

1.3.2. O Modelo de Hazelwood (1995)


Elaborou o seu modelo a partir da tipologia de Groth, Burgess e Holmstrom, distinguindo seis
categorias:
• Validação de Poder
• Asserção de Poder
• Raiva-Retaliação
• Raiva – Excitação
• Oportunista
• Violação em Grupo
a. Violador por validação de poder
Apresenta muitas das características de um indivíduo sexualmente perturbado, tais como
sentimentos de inadequação no que respeita ao desempenho sexual, disfunção sexual, problemas
relacionados com a masculinidade e com a orientação sexual.
Geralmente não há uma intenção de infligir sofrimento à vítima. A força usada é limitada, procurando
apenas conseguir a submissão e, por vezes, o agressor chega mesmo a pedir perdão pela agressão. O
ataque ocorre ao anoitecer ou durante a noite e é premeditado.
A vítima, selecionada com antecedência, é desconhecida e situa-se na mesma faixa etária que o
ofensor. Muitas vezes o ofensor retira a roupa da vítima, de forma a incorporar uma fantasia de desejo
por parte da vítima.
b. No caso do violador por Asserção de Poder
A violação constitui uma expressão da necessidade de controlar e dominar uma mulher. É utilizada
alguma força no ataque e não há qualquer preocupação com o estado emocional da vítima. O ofensor
tende a selecionar vítimas com idades semelhantes à sua, e locais preferencialmente isolados para a
prática do crime.
As roupas podem ser arrancadas ou rasgadas como parte da fantasia, demonstrando a virilidade do
agressor. O ato sexual pode ser repetido. Para evitar a comunicação às autoridades, as vítimas são por
vezes abandonadas despidas e sem meio de transporte.
c. O violador motivado pela raiva-retaliação
Utiliza a violação como uma expressão da sua ira para com as mulheres. Este sentimento é
demonstrado abertamente durante a agressão, que pode ser impulsiva e não planeada. É utlizada
bastante força para dominar rapidamente a vítima e ganhar o controlo da situação, podendo ocorrer
agressão física e espancamento.
As vítimas são da mesma idade que o agressor ou mais velhas, e a disponibilidade da vítima é um
fator preponderante na seleção. O agressor pode selecionar outras vítimas para representar
sentimentos não resolvidos de hostilidade para com determinada mulher. As roupas da vítima podem
ser rasgadas ou arrancadas, e é frequente o uso de linguagem ofensiva. Após a agressão, o ofensor
vivencia um sentimento de calma.
d. Quando a motivação é a Raiva – Excitação
O agressor apresenta características de sadismo, obtendo prazer sexual ao infligir dor aos outros. A
excitação depende do sofrimento físico e emocional da vítima, e o medo vivenciado pela vítima é
sexualmente excitante para o agressor.
Os ataques são premeditados e as vítimas são geralmente desconhecidas. Atos sexuais humilhantes
e bondage são característicos destas ofensas, sendo as vítimas muitas vezes feridas ou torturadas. O
ofensor pode registar parte da agressão sexual. Não há qualquer expressão de empatia para com a
vítima ou qualquer tipo de remorso. Este tipo de violador é raro.
e. A violação de tipo Oportunista
Ocorre enquanto o ofensor está a cometer outro tipo de crime, como é o caso da invasão de
propriedade e assalto a residência. Ao encontrar uma mulher sozinha decide agredi-la sexualmente. A
motivação é sexual.
f. A violação em grupo
Acontece quando dois ou mais indivíduos estão envolvidos na agressão sexual a uma vítima.
Habitualmente existe um líder e, nos casos em que existem três ou mais agressores, um deles tende a
comportar-se de forma algo protetora para com a vítima.

1.4. Abuso sexual de crianças e menores


1.4.1. Caracterização dos abusadores sexuais de crianças e jovens

Abuso sexual de crianças e pedofilia não são a mesma coisa. A população de abusadores sexuais
constitui um grupo heterogéneo, com diversas características pessoais e referentes ao delito. Há
pedófilos que nunca abusaram sexualmente de um menor. Há abusadores sexuais de crianças que
não são pedófilos.
Abusadores Primários ou Preferenciais
Indivíduos com uma orientação sexual dirigida primariamente para crianças, sem interesse por
adultos e com condutas compulsivas não despoletadas por situações de stresse. Possuem um campo
limitado de interesses e atividades, o que os leva a uma vida solitária. São, no sentido estrido do termo,
pedófilos.
Consideram as suas condutas sexuais apropriadas e planificam-nas com antecedência. É muito
frequente a existência de distorções cognitivas, como atribuir a conduta à sedução dos menores ou
considerar que este tipo de comportamento é uma forma de educação sexual adequada. Não revelam
sentimentos reais de culpa ou vergonha pelas suas atividades pedófilas.
Podem evidenciar uma fobia ou rejeição do sexo com mulheres. A origem desta tendência pode estar
relacionada com:
• a aprendizagem de atitudes extremas negativas face à sexualidade;
• abusos sexuais sofridos na infância;
• sentimentos de inferioridade;
• incapacidade para estabelecer relações sociais heterossexuais.
Alguns deste abusadores selecionam mulheres com crianças com o propósito primário de ganhar
acesso a estas. Os contactos sexuais que possam ter com adultos visam o objetivo final de facilitar o
acesso às crianças.
As características mais salientes deste grupo são a exclusividade das interações, a atração pelas
crianças e a ausência de remorsos. Inserem-se ainda neste grupo pessoas que se sentem atraídas por
menores, cujos desejos não se concretizam ou se valem da masturbação com fantasias em que figuram
crianças.

Pedofilia
Aproximação sexual por parte de um adulto a uma criança, rapaz ou rapariga.
Em alguns casos, o pedófilo cinge-se a despir e observar a criança, exibindo-se a si próprio e/ou
masturbando-se na presença desta, além de a tocar e acariciar. Noutros casos, a sua atividade implica
sexo oral, vaginal ou anal, bem como a penetração com as mãos ou outros objetos, empregando por
vezes a força física.
Estas atividades podem ter como um pano de fundo material pornográfico. Raramente os pedófilos
atacam uma criança de forma violenta, fazendo antes uso da manipulação para se servirem da
ingenuidade das crianças com o intuito de terem atos sexuais.
O suborno é mais comum do que as outras formas de coerção mais violentas. Habitualmente, os
pedófilos usam como estratégias de aproximação a ameaça, o tráfico organizado de crianças, o rapto
a estrangeiros ou estranhos, a sedução e o aliciamento de crianças vizinhas, amigas ou familiares.
Habitualmente, os pedófilos comportam-se de forma generosa e atenciosa, à exceção dos casos de
sadismo sexual. Importa considerar que existem pedófilos que nunca abusaram sexualmente de
crianças, recorrendo apenas a fotografias com crianças.
A personalidade dos pedófilos é caracterizada pela:
• Introversão
• Timidez e Sensibilidade
• Tratando-se de indivíduos solitários, depressivos e com fraco sentido de humor.
A relação entre a pedofilia e orientação sexual:
1. O pedófilo é atraído igualmente por ambos os sexos visto o seu objeto serem crianças
impúberes;
2. Existem pedófilos hétero e homossexuais, sendo a sua orientação sexual a determinar a
escolha. – Esta tem reunido maior consenso.
Abusadores secundários ou situacionais
São indivíduos que têm contatos sexuais isolados com crianças, os quais são, regra geral, reflexo de
uma situação de solidão ou stress. As condutas habituais destes indivíduos são relações sexuais com
adultos, normalmente heterossexuais.
Este tipo de abusador comete um ato abusivo em consequência de uma crise existencial e pessoal.
O comportamento abusivo é também a consequência de uma crise de identidade .
Na esfera cognitiva podem perceber este tipo de condutas como anómalas e executarem-na de
forma episódica e impulsiva, em detrimento de um modo premeditado e persistente. É comum o
surgimento posterior de intensos sentimentos de culpa e vergonha, bem como a inexistência de
distorções cognitivas.
As condutas de abuso podem ser um meio para compensar a auto-estima deficiente dos indivíduos
ou para libertar uma hostilidade que não se pode exteriorizar por outras vias.
Geralmente, estes abusadores não são pedófilos, isto é, não têm uma preferência sexual por crianças.
São mais velhos, com uma idade média superior aos 35 anos e com uma profissão mais qualificada
dos que os violadores. Estes indivíduos abusam frequentemente de crianças da própria família,
desejando na relação com a criança compensar as lacunas nas relações com os outros.

Incesto
Significa abuso sexual intrafamiliar. É o tipo de abuso mais comum. São familiares diretos. Mais
esporadicamente podem ser a figura materna.
Os abusadores intrafamiliares revelam preferências sexuais menos desviantes, dado que mantêm
relacionamentos convencionais. O padrão tende a entrar num escalamento no que toca à frequência
e à gravidade dos abusos.
O pai incestuoso costuma passar mais tempo com a vítima do que com os restantes filhos, dando-
lhe mais afeto. Em casos mais extremos de incesto, a vítima pode ser proibida de ter amigos ou
relacionamentos amorosos.
Características familiares:
• Deterioração do relacionamento marital
• Família numerosa
• Isolamento social
• Excessiva coesão familiar
• Comunicação familiar disfuncional
Características pessoais:
• Conduta violenta
• Autoconceito diminuído
• Autoritarismo
• Défice de assertividade
É típico no incesto familiar o abusador querer fazer crer à vítima que o tipo de relação é normal em
todas as famílias. Quanto deste é descoberto, já ser perpetrado há muito tempo, devido à intimidade
e confiança existentes entre a criança e o abusador.
O incesto é o espelho do fracasso do casal parental no dever de cuidar dos filhos, na medida em que
o progenitor causa danos, sobretudo à filha, e a figura materna não consegue impedi-lo. É reflexo da
disfuncionalidade, desestruturação e inversão hierárquica pois a filha (ou o filho) substitui a mãe nas
atividades sexuais com o pai.
1.4.2. Indicadores de abuso em crianças e jovens
• Ansiedade
• Depressão
• Baixa autoestima
• Ataque de pânico
• Sentimentos de desânimo e impotência
• Sentimentos de insegurança e desconfiança relativamente aos adultos em geral
• Isolamento social
• Ambivalência afetiva
• Desenvolvimento de uma sexualização traumática – procura excessiva, insistente e
inadequada de contato físico de forma erotizada, masturbação compulsiva, insistência em
tocar nos genitais dos pares ou dos adultos ou, pelo contrário, rejeição ao toque, evitamento
da proximidade física
• Mentira compulsiva
• Redução do rendimento escolar
• Comportamentos regressivos
• Comportamentos de violência auto-dirigida (auto-mutilação)
• Ideação e/ou tentativas de suicídio
• Alterações de natureza psicossomática (anorexia, cefaleias)

1.4.3. Consequências dos abusos em crianças e jovens


Fatores que agravam os efeitos dos abusos sexuais
• Reação do meio
o Posturas familiares adequadas para diminuir o impacto do abuso:
▪ Acreditar na criança
▪ Valorizar o seu sofrimento
▪ Fazê-la sentir-se como vítima e não responsável pelo abuso
▪ Tomar iniciativa da denúncia
• Tipos de atividade sexual
o As atividades sexuais que envolvam penetração (oral, vaginal e/ou anal) e a
masturbação contribuem para agravar os efeitos negativos do abuso.
• Relação com o agressor
o Os abusos perpetrados por familiares são considerados mais graves que os abusos
extrafamiliares.
• Estratégia utilizada pelo agressor
o Não está claro se o abuso sexual conseguido por violência física é mais grave do que
aqueles abusos onde outras estratégias são utilizadas.
• Duração e frequência
o Ainda que a maioria dos estudos considere que a natureza crónica do abuso está
diretamente relacionada com a gravidade do mesmo, os outros abusos defendem o
caracter grave de uma experiência isolada.
• Idade da vítima (fase de desenvolvimento)
o Não está clara a sua influência no agravamento dos efeitos. Alguns autores defendem
que quanto mais pequena é a criança maior será o impacto do abuso. Outros afirmam
que crianças em idades mais próximas da adolescência sofrem consequências mais
graves.
• Idade do agressor
o Os abusos por iguais ou pessoas de idade próximas da vítima tendem a ser menos
graves do que os perpetrados por pessoas adultas.
• Segredo
o Há autores que sustentam que a revelação pode significar um dano secundário.
Outros defendem que a revelação é sempre melhor do que o silêncio. Importa
considerar as características da revelação e a reação do meio (familiar, social e
profissional).
• Sexo do agressor e da vítima
o Há alguns indicadores de que o abuso é mais grave se o agressor for do mesmo sexo
que a vítima e de que os rapazes apresentam mais problemas sociais com as
disfunções sexuais.
• Número de agressores
o Neste caso, a revitimização é um indicador de maior gravidade.

1.5. Comportamento predatório de ofensores sexuais


1.5.1. O modelo de classificação de Rossmo
“os criminosos violentos são predadores – procuram vítimas humanas de forma semelhante à busca
dos carnívoros por presas animais. E, tal como os animais selvagens, empregam vários estilos
predatórios nos seus esforços para procurar e atacar vítimas” – Rossmo
Subjacente ao processo predatório do ofensor, está um complexo processo de tomada de decisão,
composto por várias etapas, cada uma das quais exige uma série de avaliações e escolhas. Todo este
processo é influenciado a cada passo, não apenas pelas características individuais e atividades do
ofensor, mas também pelas características individuais e atividades da vítima, pelo ambiente e pelas
circunstâncias situacionais. A análise da caça criminal deve, portanto, considerar todos estes fatores e
a interação entre os mesmos.
Segundo Rossmo, a caça de humanos é muito semelhante à busca de outros alvos criminais, mas o
ofensor é confrontado com dois fatores de complexidade acrescida: as pessoas movimentam-se e, por
isso, têm de ser controladas. Deste modo, o ofensor necessita de empregar métodos de busca e de
ataque que respondam a estas necessidades.
Rossmo desenvolveu uma tipologia predatória onde identificou 4 métodos de busca de vítimas:
1. Hunter
Os hunters partem especificamente em busca de vítimas, baseando a sua busca na sua
base/residência, e buscando pelas áreas no seu espaço consciente onde acreditam que possam existir
alvos adequados. Os seus crimes estão confinados à cidade de residência do ofensor.
2. Poacher
Os poachers, por outro lado, partem especificamente em busca de vítimas, mas viajam dentro ou
para fora da sua cidade de residência, ou baseiam a sua busca de alvos num centro de atividade que
não a sua residência.
3. Troller
Os trollers são ofensores oportunistas que não procuram especificamente vítimas, mas que as
encontram no decurso das suas atividades rotineiras. Os seus crimes são frequentemente
espontâneos, mas muitos ofensores fantasiaram ou planearam os seus crimes, de forma a estarem
preparados quando a oportunidade surge (oportunismo premeditado).
4. Trapper
Os trappers têm um emprego ou uma ocupação em que as vítimas vêm ter com eles ou, por via de
subterfúgios, aliciam as vítimas para a sua casa ou outro locar sobre o qual exerce grande poder.
Na sua tipologia predatória, Rossmo isolou 3 métodos de ataque às vítimas:
1. Raptor
Atacam as suas vítimas de forma quase imediata, logo que as encontram.
2. Stalker
Perseguem e vigiam os seus alvos, e aguardam um momento oportuno para atacar.
3. Ambusher
Atacam vítimas que trouxeram para um local que controlam, tal como a sua residência ou local
de trabalho.
Embora os ofensores possam empregar diferentes métodos predatórios, verifica-se uma tendência
para adotarem e manterem um, no máximo dois. Para além disto, os métodos de busca e de ataque
estão correlacionados, pelo que alguns estilos predatórios são mais frequentes que outros
(Hunter/raptor ou trapper/ambusher são mais frequentes que Hunter/ambusher ou trapper/raptor).
O conceito de padrão predatório proposto por Rossmo toma em consideração quer a componente
comportamental, quer a componente geográfica inerentes a qualquer crime, reconhecendo, portanto,
a natureza dinâmica e adaptativa da criminalidade sexual.

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