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Mauss, Ensaio sobre a Dádiva (1925)

Marcel Mauss, durante o seu estudo, Ensaio sobre a Dádiva, considerado um texto
pioneiro para a compreensão do simbólico, procura perceber o domínio do simbólico por de
trás da dádiva (o ato de dar). De modo a obter conhecimento pretendido, Mauss decide
estudar duas civilizações/povos: os Kwakiutl e os Maoris. Mauss decide recorrer a métodos
qualitativos, no uso de material bibliográfico e comparativo; a informação fora recolhida
posteriormente por terceiros. (Apresentação do estudo de Mauss)

Hipótese inicial: a dádiva tem uma lógica social e simbólica que lhe
subjacente.

Nos Kwakiutl, povo situado no Noroeste Americano, Mauss estudou o fenómeno e


evento de potlatch, um dos exemplos de dádiva. Potlatch pode definir-se por um evento,
casamento, feiras, ritos religiosos, entre outros, no qual seriam convidadas inúmeras aldeias
para serem recebidas pelo chefe da aldeia que segurava o evento naquele momento. O chefe
da aldeia teria a responsabilidade de dar as suas posses aos seus convidados. Este
comportamento implicava um trabalho duro e quase sem descanso na produção de posses por
parte da aldeia que estaria a administrar o evento. (Definição de potlatch)
Para estes povos, o conceito de dádiva era definido por três pontos importantes
dependentes: o ato de dar ao outro, o ato de receber do outro e o ato de retribuir o outro.
Mauss ainda explica que negar-se a um dos três pontos é o mesmo que perder a alma, posição
social. Todo o indivíduo é obrigado a aceitar a dádiva. (Conceito de dádiva)
Todo este processo tem um carácter quase que infinito. Todo o processo começa com
um indivíduo singular que presenteia outro, ato de dar. Esse outro indivíduo, não podendo
recusar a oferenda, tendo recebido tal oferenda (objeto físico ou não) fica predestinado a
retribuir. Esse indivíduo de segunda cadeia terá que retribuir o que lhe foi dado com
oferendas superiores numericamente ao primeiro indivíduo. Ou seja, imaginem que o
primeiro indivíduo deu um pedaço de pão ao segundo indivíduo. Esse segundo indivíduo
receberá o pedaço de pão e será o novo dono dele. Mais tarde, possivelmente num próximo
potlatch, o segundo indivíduo ver-se-á obrigado a retribuir com o pão inteiro (um pão inteiro
é superior a um pedaço de pão). (Explicação dos três pontos principais da dádiva)
Todo esse processo é visto no chefe de aldeia que se encontra no topo da posição
social. Como dito anteriormente, o chefe de aldeia que assegura o evento tem que dar as suas
posses aos seus convidados. Não é um trabalho fácil reunir inúmeras quantias de produtos
para tanto indivíduo envolvido. O chefe de aldeia de topo é todo aquele que conseguir dar
mais, pois, deste modo, estará a obrigar que os tais segundos indivíduos tenham uma
obrigação maior para com ele. Não conseguindo retribuir o favor tão facilmente ao tal chefe
da aldeia, tais indivíduos ver-se-ão obrigados a retribuir de qualquer forma possível. Neste
momento, o chefe de aldeia de topo detém também de inúmeros indivíduos que têm uma
grande obrigação de lhe retribuir. (Questões de prestígios e posição social)
Com toda esta informação, Mauss chega a uma conclusão lógica: a dádiva do potlatch
não é apenas a troca de algo (físico ou não), mas sim a implicação de questões de prestígios e
de posição social. Estes dois fatores remetem para a sua dimensão simbólica. (Conclusão
sobre a dádiva em potlatch)
Potlatch veio a ser proibido pelo governo Canadiano a 1885, uma vez que não
entendia a essência da sua realização. Sucedia-se também o aparecimento da inflamação do
produto dentro do país. Dado que cada indivíduo que recebia tinha que retribuir com mais do
que recebeu, este processo levou à produção em massa de produto para tão pouco consumidor
do mesmo. Por outras palavras, muito produto para pouco consumidor. (Proibição do
potlatch)
Nos Maoris, outro povo estudado pelo autor, detinham também do conceito de dádiva.
Estes povos definiam a dádiva como, a dádiva implica questões de prestígio e de posição sua dimensão
simbólica. As trocas não incidem sobre simples inertes, pois as coisas possuem um espírito . (Mauss, p. 140);
esse espírito é denominado por hau. Hau está presente nos objetos da dádiva, assim como na
floresta e nos animais. Todo o dono que alguma vez tenha sido dono de tal objeto terá
consigo, e para sempre, parte dessa magia. Acreditam ainda que todo o objeto contém
energias do seu doador, energias tais que só serão esquecidas após o donatário retribuir o
doador. Enquanto o ato retribuir não for concretizado, o doador terá influência mágica sobre
o donatário. Se o donatário nunca retribuir o que lhe fora dado, o donatário viverá sempre
com uma força sobre si. (Conceitos de hau)
Segundo os Maoris, todo ser humano possui uma força mágica, um poder espiritual
que é o sinónimo de honra, de autoridade e riqueza. Essa força é chamada de mana. Para os
Maoris, um indivíduo com um grande ou bom mana é todo aquele que mais dá e retribui;
através da dádiva. É a partir desta força mágica que se definem as pessoas magicamente,
religiosamente e socialmente. A posição social dos indivíduos está na razão direta da
importância do seu mana. (Conceito de mana)
Mauss refere ainda que os Maoris são muito parecidos com os Kwakiutl neste aspeto.
Os Kwakiutl vêem o chefe maioral das aldeias como aquele que mais dá aos seus convidados,
pois é o de maior prestígio. Os Maoris, a partir do mesmo pensamento inicial, vêem o chefe
maioral das aldeias como aquele que detém do maior mana. (Funcionamento de mana)
Mauss, a partir das informações recolhidas dos dois povos estudados, conclui que o
símbolo da dádiva remete para uma estrutura de laços através do objeto trocado. É também
uma questão de prestígio social, assim como de posição social e, por vezes, de componente
mágica. O símbolo não é o simples reflexo de uma realidade social que estaria já realizada antes dele. Esta
realidade realiza-se através da própria atividade simbólica que é dele constitutiva. Aquilo a que se chama a
simbólica remete para essa constante atividade pela qual os humanos reorganizam e estendem
permanentemente a sua consciência do mundo. A totalidade é portanto simbólica. (Mauss, p. 142)
(Conclusão do estudo de Mauss)
Émile Durkheim, O Suicídio (1897)

Émile Durkheim, discípulo de Auguste Conte, procurou entender ao longo da sua obra
as causas sociais do suicídio. O autor não entendia o porquê de existirem diferentes taxas de
suicídio em diferentes tipos de sociedades/países. Durkheim não procura estudar o suicídio a
partir de fatores da mente ou referentes à medicina legal. Procura apenas entender a sua
componente social. (Apresentação de Durkheim)

Hipótese inicial: a taxa de suicídio resulta da maior ou menor ligação entre os


indivíduos singulares (fora do coletivo) e do seu meio social imediato e da
sociedade em geral.

Desse modo, e para estudo, decide recolher vários conjuntos de registos de óbitos que
tinham sido anteriormente recolhidos por terceiros, de três países diferentes: da França,
Inglaterra e Dinamarca. Dentro desses registos estariam informações, como, nacionalidade,
religião, género, idade, estado civil, família, assim como a própria profissão que exercia antes
do cometer do ato. Interessava-lhe acima de tudo, dentro destes pontos referidos, a religião do
país onde recolhera tais registos de óbitos. A religião principal do país em estudo e em
comparação seria um fator dominante para a compreensão social do seu estudo. (Método de
estudo. Bibliográfico)
Ora então, Durkheim nota que em países em que a religião de estado era
proeminentemente católica, como era, por exemplo, a França, era notório um número muito
elevado de suicídios por ano. A taxa de suicídio era então elevada dentro de tais sociedades.
Por outro lado, o autor nota que em sociedades cuja a religião de estado era
proeminentemente protestante, como era, por exemplo, a Inglaterra, o número de suicídios
era bem menor, comparando com os números da França no mesmo ano. E, no fim da tabela,
tínhamos as sociedades que cuja a religião de estado era proeminentemente luterana, como
era, por exemplo, a Dinamarca, em que o número de óbitos por suicídio por ano não se
comparava nem um pouco aos exemplos anteriores. (Dados da sua pesquisa)

França: 3.903 óbitos por suicídio no ano de 1858.


Inglaterra: 1.275 óbitos por suicídio no ano de 1858.
Dinamarca: 426 óbitos por suicídio no ano de 1858.

Dos pensamentos de Durkheim surgem ideias base para a compreensão do seu estudo:
Durkheim começa a ter em mente que o suicídio dava-se por culpa da própria sociedade ou
ambiente em que o indivíduo estava presente. A sociedade era o fator predominante da causa
do suicídio. Formula, então, que quanto maior for a taxa de suicídio numa determinada
sociedade, maior são as certezas de que algo dentro da sociedade não está certo ou funcionar
como devia funcionar. O suicídio é, então, um indicador do estado de uma sociedade. (Causa
social do suicídio)
No caso da França nos anos de 1858, o número de óbitos por suicídio foi muito
elevado comparado com os restantes países em estudo. Se seguirmos o pensamento de
Durkheim comentado anteriormente, podemos afirmar que a França como sociedade não
estava a funcionar corretamente. Algo dentro da própria sociedade estaria errado ou
construído de tal modo errado que levaria a uma elevação na taxa de suicídio do país. Como
dito anteriormente, o suicídio é um indicador do estado de uma sociedade. (Exemplo)
A segunda ideia base para a compreensão do estudo de Durkheim é a formulação de
quatro tipos de suicidas. Primeiramente, o autor estabelece o conceito de anomia social. Ou
seja, por outras palavras, a falta de normas/regras. Afirma também que todo o ser humano,
ser consciente e racional, depende de normas sociais para viver. Caso seja submetido a
ambientes anómicos (sem regras), o ser humano não terá por onde se guiar. Por outro lado,
quando submetido a ambientes em que as regras são inúmeras e de grande peso social, o ser
humano vê-se tentado a libertar-se das mesmas. (Quatro tipos de suicidas. Anomia social)

Altruísta: integração social muito forte. Indivíduo procura beneficiar o grupo


ou sociedade a que pertence, não tendo medo de sacrificar a sua vida de modo
a os beneficiar. (ex: kamikazes japoneses na segunda guerra mundial que
procuravam afundar os navios americanos. Questão de honra social)

Egoísta: integração social fraca. Ao contrário do ponto anterior, neste o


indivíduo beneficia apenas o próprio. No caso de um desajuste, o indivíduo vê
o suicídio como a única forma de concertar os seus problemas. (ex: Os Maias)

Anómico: integração social fraca. Como escrito anteriormente, Durkheim


acredita que o estado anómico (falta de regras) não beneficia o indivíduo
presente. O indivíduo, uma vez sem forma de se guiar, decide retirar a própria
vida. (ex: numa situação de pós-guerra, todas as regras estabelecidas parecem
cair ou fragilizar. Nestes casos anómicos, o indivíduo pode acabar por retirar a
sua própria vida)

Fatalista: integração social muito forte. Ao contrário do ponto anterior, neste

possivelmente, muito restritas. Embora as regras sejam fundamentais para a


sobrevivência do ser humano, o exagerar das mesmas é também prejudicial ao
mesmo. (ex: taxas de suicídio nas ditaduras)
No seu livro, Durkheim discute ainda sobre os factos sociais e a forma como aponta o
suicídio como facto social. Facto social são forças coletivas exteriores ao indivíduo que são
para serem estudadas de modo empírico (experiência) e não filosófico. Para Durkheim
existem dois tipos de factos sociais: os materiais, que são o corpo de leis, e os não materiais,
ou seja, as normas e valores. Deve-se estudar primeiro os factos sociais materiais pois
refletem a natureza dos factos sociais, assim como a sua mudança. Deste modo, Durkheim
afirma que para entender o próprio suicídio é necessário entendermos também a própria
sociedade. (Suicídio como facto social)
Durkheim conclui que o suicídio é resultado da maior ou menor integração social
individual dentro de um grupo ou sociedade. O suicídio é também um indicador do estado de
uma sociedade. (Conclusão do estudo de Durkheim)

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