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Ervin Goffman, Manicómios, prisões e conventos (1961)

Erving Goffman, sociólogo canadense, procurou ao longo da sua obra estudar a


construção e a manutenção do «eu» no contexto social. O autor procurava compreender
melhor como era o funcionamento das instituições a que toda a gente pertence e/ou frequenta,
como, por exemplo, na família ou escola. (Apresentação de Goffman)
Durante o seu estudo, Goffman foi assistente do diretor de Educação Física do
hospital psiquiátrico de St. Elizabeths Hospital, localizado em Washington, D.C. (USA).
Como assistente, Goffman era capaz de observar (método qualitativo; observação
participante) o funcionamento da instituição médica, assim como as ações dos pacientes e dos
respetivos funcionários destacados. A escolha do autor em focar o seu estudo num hospital
psiquiátrico, e não noutra instituição, provinha do facto de os processos sociais surgirem mais
claramente e de forma mais acentuada nos casos extremos. Ainda mais é que o hospital
psiquiátrico não lhe interessava como uma instituição médica, mas sim como uma estrutura
social e instituição total. (Método e objetivo de estudo)
Instituição total define-se por um lugar de residência e de trabalho onde um grande número de
indivíduos, colocados na mesma situação, cortados do mundo exterior por um período relativamente longo,
levam em conjunto uma vida reclusa cujas modalidades são explicita e minuciosamente reguladas. (Santos,
slide nº 5) (Definição de instituição total)
Das observações de Goffman surgem 2 conclusões. A primeira seria, a partir da
definição de instituição total, a estrutura social e arquitetónica do hospital. Por um lado,
tínhamos os pacientes que tinham atividades reguladas por um programa rigoroso. Por outro
lado, tínhamos os funcionários e médicos que tinham o trabalho de tratar, vigiar e de ajudar
todos os pacientes ali presentes. Duas realidades distintas que coexistiam na mesma realidade
social. (Duas realidades da instituição total)
A segunda conclusão retirada a partir das observações de Goffman fora que o próprio
sistema instituição negava a construção e manutenção do «eu» individual após a entrada do
indivíduo na instituição total. Todo o indivíduo que ali entrava e permanecia era alvo de
técnicas de despersonalização e de mortificação. Ou seja, por outras palavras, eram-lhes
atribuídos números de paciente e retirada a própria identidade. A instituição pretendia a
construção do «eu» no coletivo. Todos são iguais. (Técnicas de despersonalização e de
mortificação)
Todo o indivíduo tem necessidade de ser o «eu» próprio. Todos são diferentes. E, no
decorrer dessas técnicas, existiram dois tipos de indivíduos adaptados ao sistema: os de
adaptações primárias e secundárias. O indivíduo da adaptação primária decide colaborar com
as ordens que lhe são impostas. Este tipo de comportamento levará a que se torne o paciente
modelo. O indivíduo sabe que se for o paciente modelo será beneficiado. (Adaptação
primária)
O indivíduo de adaptação secundária é, por norma, o paciente modelo. Por outro lado,
o indivíduo reconhece que, embora seja reconhecido por um número e que esteja a cumprir as
ordens impostas, ele não é igual aos outros. Existe uma procura na construção do «eu».
(Adaptação secundária)
Ainda dentro do estudo de Goffman, vale a pena ter em conta o conceito de carreira.
Goffman compara o tempo de permanência de um paciente dentro da instituição com o tempo
de uma carreira profissional. Ambos os lados são apresentados a longa duração, podendo
tomar vários anos da nossa própria vida. A vida que um paciente leva desde o momento em
que entra na instituição, é reabilitado/curado e que sai da mesma pode ser visto como uma
carreira. (Conceito de carreira)
Howard Becker, Outsiders (1963)

Howard Becker, sociólogo americano, procura ao longo da sua obra estudar as


dinâmicas sociais do conceito de desviância. Ou, por outras palavras, analisar socialmente o
conceito do desvio. (Apresentação de Becker)

Hipótese inicial: não são as motivações desviantes que produzem o


comportamento desviante, mas o inverso. A desviância é uma aprendizagem
num jogo de interações.

A par do seu estudo, Becker incidiu sobre uma cultura de fumadores de marijuana
dentro do conjunto de músicos de jazz. Foram realizadas cerca de 50 entrevistas dentro do
conjunto, para além da recorrente observação participante (método qualitativo). (Modo e
método de estudo)
Segundo Becker, todo fumador de marijuana seguia uma linha progressiva na qual a
chamava de a teoria das 3 fases de um fumador de marijuana: fumador principiante,
utilizador ocasional e o utilizador regular. O fumador principiante é o estado inicial a todo o
fumador de marijuana. Por vezes, este tipo de fumador nem gosta de fumar, pois não domina
a técnica. É trabalho do grupo no qual está inserido de ensinar ao fumador principiante como
deve fazer e de assegurar que fumar marijuana não é errado. A transição do fumador
principiante é um processo progressivo de aprendizagem na qual vai dominando a técnica e
aprendendo a gostar. O utilizador ocasional, como o nome indica, é aquele tipo de fumador
que fuma ocasionalmente e que, por norma, já domina parte da técnica. E, por fim, o
utilizador regular é visto como o que fuma regularmente e que detém de maior técnica. É, por
norma, este tipo de fumador que ajuda no progresso do fumador principiante. (3 fases do
fumador de marijuana)
Afirma também que o progresso pode ser interrompido em qualquer momento e o seu resultado
é, portanto sempre incerto. Dependerá sobretudo da força das interações que se tecem no decurso do tempo no
interior do grupo dos fumadores. (Becker, p. 84) (Comentário de Becker sobre as 3 fases)

Dos estudos feitos dentro do grupo de fumadores de marijuana, Becker notou que, por
vezes, o grupo de fumadores de marijuana era visto como algo que a sociedade desejava
afastar. O ato de fumar marijuana em si era visto, de certa forma, como um comportamento
desviante. Para Becker, um comportamento considerado desvio é todo o comportamento que
transgrida as normas sociais estabelecidas pelo grupo ou sociedade. Fundamenta, ainda, que
existem dois tipos de normas: as de regra legal e não-legal. Ambas as normas afirmam o que
está certo ou errado num grupo ou sociedade. Porém, por outro lado, quando um indivíduo
transgride uma norma legal, tal indivíduo deixará de cometer apenas um desvio e estará,
também, a cometer uma infração ou crime. (Conceito de desvio e de normas)
Notou também que a própria sociedade tende a colocar rótulos sociais nos indivíduos
que nela vivem. Por exemplo, no caso dos fumadores de marijuana, todos os indivíduos que
fumem marijuana serão rotulados como fumadores de marijuana. O problema em si não está
no que fora acabado de comentar. O problema está na parte negativa da teoria da rotulagem
social: toda a ação negativa cometida por tais indivíduos rotulados será apontada como causa
direta da rotulagem. Por exemplo, imaginem um jovem de 19 anos que fuma marijuana há já
2 anos. Durante esses dois anos, tal jovem acabou, dentro da comunidade, por ser rotulado

o tal jovem teve uma discussão grave com os seus pais porque um professor da sua escola
denunciou-o por faltar às últimas aulas da tarde. A ver da comunidade, a partir do rótulo
imposto naquele jovem, a razão de ter faltado às aulas da parte de tarde e de ter discutido com
os pais foi tudo por causa de fumar marijuana. Segundo a comunidade, o ato de fumar
marijuana desencadeou nos outros dois comportamentos. Becker comenta ainda que após um
indivíduo ser rotulado socialmente é muito difícil que ele se livre do rótulo. Apenas uma ação
tão ou mais forte socialmente será capaz de quebrar o rótulo atual ou de o substituir. (Teoria
da rotulagem social)
Becker conclui que o conceito de desviância (o estar de fora) é algo que tem um
sentido bilateral: é uma exterioridade recíproca. O comportamento desviante é tido como uma
cópia negativa do comportamento adequado e no qual nunca se colocam questões. A
desviância é uma propriedade, não do comportamento, mas da interação entre a pessoa que
comete o ato e as que reagem ao ato. (Conclusão do estudo de Becker)

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