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Sociológicos da Educação
INTRODUÇÃO
Nesta aula, vamos estudar a contribuição que Émile Durkheim deu para uma visão sociológica da educação. Durkheim, Max Weber e Karl Marx são
chamados autores clássicos da Sociologia, porque forneceram as linhas mestras de explicação da realidade social que fundamentaram grande
parte das obras elaboradas por autores posteriores.
As explicações sobre os fenômenos sociais diferem segundo os autores. Émile Durkheim, autor que mais produziu estudos sobre o tema da
educação, propõe uma explicação funcionalista; já Weber opta por uma Sociologia compreensiva e Karl Marx vai em direção à dialética, conforme
você verá nas próximas aulas.
Bons estudos!
OBJETIVOS
Caracterizar a concepção de ciência que orientou Émile Durkheim na sistematização da sociologia;
De nir o conceito de fato social, identi cando as suas características e como o sociólogo deve estudá-lo;
1858
1858
Nasceu em 15 de abril em Épinal, França.
1879
1879
Entrou para a École Normale Supérieure, quando conheceu as obras de pensadores como Auguste Comte e Herbert Spencer, intelectuais que o in uenciaram na
busca por dotar a Sociologia de um caráter cientí co.
1887
1887
Foi nomeado professor de Pedagogia e Ciência Social na Faculdade de Letras da Universidade de Bordeaux, onde ministrou o primeiro curso de Sociologia das
universidades francesas.
1895
1895
Lançou As Regras do Método Sociológico.
1897
1897
Publicou O Suicídio.
1912
1912
Publicou As Formas Elementares da Vida Religiosa.
1913
1913
A cadeira de que era titular passou a se chamar Cadeira de Sociologia da Sorbonne.
1915
1915
Em meio à Primeira Guerra Mundial, seu único lho morreu no front de Salonique.
1917
1917
Em 15 de novembro, muito abalado pela perda de seu lho, faleceu em Paris.
Durkheim tratou de de nir a Sociologia, seu objeto de estudo, seu método de trabalho e seus conceitos fundamentais. Transformou temas como o
Direito, a Educação, a Religião, o Suicídio e a Moral em objetos de análise sociológica.
Fonte da Imagem:
Preocupado com os problemas de seu tempo e convicto de que a sociedade europeia passava por um período de anomia (glossário), Durkheim
sentia a necessidade de construir as novas formas sociais e, na sua concepção, a Sociologia tinha importante papel nesta tarefa, pois apenas ela
estava habilitada a restaurar a noção de unidade orgânica (glossário) da sociedade.
Dessa forma, a preocupação com a moral e a manutenção da ordem social foi constante em seu pensamento, o que resultou em críticas, aceitas por
uns e questionadas por outros, que o caracterizaram como um sociólogo conservador, avesso mesmo às mudanças, interessado em ensinar aos
homens a obedecer à ordem vigente.
Consciente de que a França atribuía um peso muito grande ao senso comum (consciência coletiva difusa), Durkheim procurou criar uma nova
ciência elaborada na universidade. Muito preocupado com a objetividade (glossário), o autor advertia que, a exemplo de cientistas de áreas como a
Biologia e a Química, o sociólogo não devia fazer concessões às opiniões baseadas no senso comum.
Exterioridade
Os fatos sociais agem sobre os indivíduos independentemente de suas vontades particulares. São maneiras de
pensar, de agir e sentir que existem fora das consciências individuais.
Antes de nascermos, as regras morais, os costumes e as leis já existiam e, a despeito de nossas vontades,
continuarão existindo. Por exemplo, um devoto, ao nascer, já encontra prontas as crenças e as práticas da vida
religiosa. Da mesma forma, o sistema de moedas que utilizamos para fazer as transações comerciais e as práticas
seguidas nas diferentes pro ssões funcionam independentemente do uso que cada indivíduo faz delas.
Durkheim ressalta que, embora a exterioridade seja condição necessária, não é condição su ciente para transformar
os fenômenos em fatos sociais.
Coercitividade
Para que o fato seja considerado social, deve também exercer algum poder de coerção sobre os indivíduos. Nem
sempre a coercitividade é sentida quando me conformo com ela, mas se tento resistir, sinto seu peso. Em outras
palavras, quando eu infrinjo uma regra, sofro algum tipo de punição. O grau de coerção do fenômeno torna-se
evidente pelas sanções a que o indivíduo é submetido ao ir contra o fato social. As sanções podem ser de dois tipos:
Legais: ocorrem quando, ao “violar as leis do direito, estas reagem contra mim de maneira a impedir meu ato se ainda
é tempo; com o m de anulá-lo e restabelecê-lo em sua forma normal se já se realizou e é reparável; ou então que eu
o expie se não há outra possibilidade de reparação” (As Regras do Método Sociológico, p. 2). Por exemplo, a
legislação eleitoral prevê multa e outras sanções ao eleitor brasileiro que não comparecer para votar nem justi car a
sua ausência.
Espontâneas: ocorrem quando deixo de seguir as convenções “mundanas”. Por exemplo, se, ao escolher minhas
roupas, não levo em consideração os costumes do meu país ou da minha classe, posso provocar riso ou
afastamento, o que funciona como uma pena. Pense na reação das pessoas ao verem um homem usando saia no
Brasil.
A educação possui um papel relevante na conformação do indivíduo à sociedade em que vive, fazendo com que,
depois de algum tempo, as regras se internalizem e se transformem em hábitos.
Generalidade
Todo fato social é geral, mas, não podemos dizer que todo fato geral é social. Para ser assim considerado, ele precisa
ser coletivo (isto é, mais ou menos obrigatório). Daí decorre que este tipo de fenômeno deve ser estudado apenas em
suas manifestações coletivas, como as crenças, as tendências e as práticas do grupo tomadas coletivamente, pois a
sociedade não é o mero agregado dos comportamentos individuais. As tendências da moda e o idioma servem aqui
como bons exemplos.
Agora que você já sabe o que é fato social e quais são suas características veja, a seguir, como o sociólogo deve estudá-lo.
No início do terceiro capítulo de As Regras do Método Sociológico, Durkheim a rma que os fenômenos normais são “os que são como deviam ser”, e
os patológicos são aqueles que “deveriam ser diferentes do que são”.
, Durkheim alerta para o fato de o sociólogo se expor a erros quando não toma as devidas precauções metodológicas quanto à distinção entre normal e
patológico. Uma falha desse tipo seria classi car o crime como algo patológico., , É necessário, entender que o autor concebe crime como “um ato que ofende
certos sentimentos coletivos dotados de energia e de nitidez particulares” (1972: p. 58), não se restringindo ao sentido jurídico., , Se, à primeira vista, o crime
parece patológico, após uma análise meticulosa pode-se a rmar que o crime é normal e isso se deve a dois motivos. Em primeiro lugar, porque é universal, isto é,
acontece em todas as espécies sociais e em todos os estágios de desenvolvimento. Em segundo lugar, porque reforça sentimentos contrários, de repulsa ao
agressor e aos fatores que o motivaram a cometer o crime., , Há ainda um outro aspecto muito importante: em alguns casos, o criminoso é visto como agente de
mudança e a ausência do crime tornaria a sociedade estática. Isso permitiu ao autor concluir que, além de normal, o crime é necessário e tem a sua utilidade.
A consciência coletiva (glossário) é o nível mais profundo da realidade social. É a soma de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de
certa comunidade, constituindo um determinado sistema que possui vida própria, persiste no tempo e une as gerações. É, em outras palavras, o
sistema de Representações coletivas (glossário) presente em determinada sociedade.
Para Durkheim, não são os indivíduos que geram a consciência coletiva, ao contrário, é a consciência coletiva que molda as consciências individuais.
A força que a consciência coletiva exerce sobre os indivíduos varia com o tipo de sociedade dependendo do seu estágio de evolução.
SOLIDARIEDADE SOCIAL
Em sua tese de doutorado A Divisão do Trabalho Social, Durkheim propõe-se a investigar a função da Divisão do Trabalho. O autor se preocupou em
analisar, à luz da Morfologia Social, a evolução das sociedades e a coesão social que dela resulta, que o fez concluir que as sociedades caminham,
natural e necessariamente, do estado mecânico em direção ao estado orgânico, apresentando uma solidariedade característica para cada um
desses estágios. Veja a seguir:
Fonte da Imagem:
Sociedades Mecânicas
São aquelas de tipo pré-capitalista, muito “simples”, dotadas de forte consciência coletiva, onde a divisão do trabalho se baseia principalmente nos
critérios de sexo e idade.
Nesse tipo de sociedade, a identi cação entre os indivíduos se dá por meio da família, da religião, da tradição e dos costumes. A autoridade coletiva
é absoluta e a consciência coletiva é tão forte que se sobrepõe à consciência individual. A solidariedade social de tipo mecânica é gerada pelas
semelhanças entre os indivíduos que, partilhando os mesmos sentimentos e valores, diferem pouco entre si.
Fonte da Imagem:
Sociedades Orgânicas
São mais extensas, mais complexas. Por possuírem estruturas econômicas avançadas, exigiam uma divisão do trabalho não mais baseada em sexo
e idade, mas, na diversidade de funções que torna os indivíduos interdependentes.
Se nas sociedades mecânicas a consciência coletiva gerava uma irresistível coesão social, nas sociedades orgânicas a divisão do trabalho social
tem por função criar a solidariedade social, pois a complexidade da vida e a ausência de semelhanças acabam por aproximar as pessoas, fazendo
com que se completem.
Em sociedades com forte divisão do trabalho, as relações sociais se baseiam na especialização de tarefas (glossário). Assim, a educação tem
caráter duplo, pois, ensina aos novos membros valores, crenças e conhecimentos que devem ser gerais à massa da sociedade e, por outro lado,
fornece conhecimentos especí cos da área pro ssional em que a pessoa deverá atuar.
5; 4; 3; 2; 1
4; 2; 5; 1; 3
1; 4; 3; 2; 5
2; 3; 1; 5; 4
Justi cativa
Glossário
SAINT-SIMON
AUGUSTE COMTE
HERBERT SPENCER
ANOMIA
ORGÂNICA
Durkheim via a sociedade como um organismo constituído por órgãos que devem se integrar garantindo um funcionamento harmônico. Para tanto, nenhuma das
partes pode agir como se fosse o todo, sob pena de fazer adoecer o corpo social.
OBJETIVIDADE
DURKHEIM
“Toda maneira de agir xa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada,
apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter.” (1893, p. 11).
CONSCIÊNCIA COLETIVA
Esse tipo de consciência não tem origem nas consciências individuais e está espalhada, difusa por toda a sociedade.
REPRESENTAÇÕES COLETIVAS
ESPECIALIZAÇÃO DE TAREFAS
A formação que um futuro médico recebe é diferente daquela recebida pelo futuro engenheiro, que difere também da dispensada ao futuro advogado. Não
podemos hoje, em nossa sociedade, conceber que só se formem ou engenheiros, ou advogados ou médicos. Advogados precisam dos serviços dos engenheiros,
que precisam dos cuidados dos médicos e, assim por diante.
É isso que garante a nossa coesão social: a especialização em uma área e o fato de ser leigo nas outras faz com que os pro ssionais de um campo dependam de
outros pro ssionais. Durkheim utiliza o exemplo da paixão que ocorre entre o homem e a mulher que, por serem diferentes, se complementam, formando um
todo.